ABEDI Rio 2009 Oficina Direito e Arte – Música e Caricatura Relatórios dos Laboratórios 1° laboratório (24/03) – Unisinos, na aula de Jânia Maria Lopes Saldanha, Teoria Geral do Processo, 3° semestre do Curso de Direito O laboratório teve por temática a segurança pública, por meio da apresentação de caricaturas de Angeli previamente selecionadas. Como metodologia, adotamos num primeiro momento a apresentação da caricatura e após a incitação ao debate. Tentamos fazer com que os alunos se manifestassem em relação à caricatura a partir da suas próprias experiências profissionais e teóricas. Houve uma preocupação mínima com a estrutura do laboratório: decidimos a ordem das caricaturas e tentamos dar uma lógica também ordenada aos assuntos que surgiram entre a projeção de uma e outra caricatura. Foi criado um ambiente horizontal de diálogo entre os participantes da oficina: sentamos em círculo e combinamos com os alunos que o processo seria uma construção coletiva através da caricatura da temática “segurança pública”. Tentamos fazer o laboratório, rompendo com a metodologia tradicional de ensino do direito. Importante ressaltar que nenhum aluno conhecia a obra do Angeli; entretanto, mostraram-se bastante interessados. Problemáticas centrais: - Observamos uma pluralidade nos discursos – alguns discursos que questionaram a estrutura estatal, outros versaram sobre a ausência do estado, totalitarismos, papel da polícia, entre outros...portanto, as caricaturas cumpriram seu papel de incitar o 1 ABEDI Rio 2009 Oficina Direito e Arte – Música e Caricatura Relatórios dos Laboratórios debate; porém, pensamos que talvez tenha faltado mais organização (“equilíbrio”) da nossa parte em “levar a discussão” para além do senso comum, ou seja, faltou dar uma forma na temática. Faltaram manifestações mais jurídicas e não tanto fáticas do problema. - Observamos que os graduandos não conseguem fazer uma sistematização das suas posições e, por isso, a maioria dos discursos se apresentam de forma contraditória e sem fundamentação, ou seja, os alunos apenas opinaram, pois não se reconheceram como protagonistas do problema exposto nas caricaturas, no caso, a segurança pública (encararam o problema como observadores externos). - Observamos a dificuldade dos graduandos em relacionar os conteúdos jurídicos adquiridos com a realidade social em que eles se inserem como sujeitos – desse modo, pode-se perceber que o ensino jurídico está bastante desvinculado das temáticas sociais mais latentes como a segurança pública. 2° laboratório (27/03) - Restinga, periferia da cidade de Porto Alegre - turma da oitava série do colégio Nossa Senhora do Carmo, alunos entre 13 e 15 anos. A escolha da Escola Nossa Senhora do Carmo se deu pelo contato de uma das integrantes do grupo com a Professora Hiroxima, que desenvolve um trabalho com arte e ministra a disciplina de História. O laboratório foi ministrado em uma Escola Pública, pois tínhamos a intenção de aproximar a Educação Popular dos Direitos Humanos à realidade em que os jovens estão inseridos. 2 ABEDI Rio 2009 Oficina Direito e Arte – Música e Caricatura Relatórios dos Laboratórios A professora previamente teve contato com as caricaturas selecionadas e já havia discutido com os alunos o teor da nossa apresentação. A exemplo do primeiro laboratório, este também teve por temática o ensino sobre segurança pública por meio da apresentação das mesmas caricaturas já trabalhadas na Unisinos. Do mesmo modo que na Unisinos, houve uma preocupação mínima com a estrutura do laboratório. Como são adolescentes, tentamos utilizar uma linguagem mais acessível e, da mesma forma, fazer com que os alunos se manifestassem em relação à caricatura a partir da suas próprias experiências com a temática. Assim como na Unisinos, criou-se um ambiente horizontal de diálogo entre os participantes da oficina, sentamos em círculo e combinamos com os alunos que o processo seria uma construção coletiva através da caricatura da temática “segurança pública”, rompendo com a metodologia tradicional de ensino. Importante ressaltar que nenhum aluno conhecia a obra do Angeli; entretanto, também se mostraram bastante interessados. Problemáticas centrais: - Observamos que as caricaturas cumpriram o seu papel, pois houve uma identificação imediata dos adolescentes com aquelas situações cotidianas descritas nas caricaturas. Porém, também não conseguimos chegar à construção de alternativas com os alunos, no caso um dos objetivos que a educação popular pretende. 3 ABEDI Rio 2009 Oficina Direito e Arte – Música e Caricatura Relatórios dos Laboratórios - Observamos que não houve uma participação mais efetiva das meninas da turma. - Observamos que pela proximidade com as questões da temática “Segurança Pública” (violência) dos alunos, faltou um distanciamento para que os mesmos pudessem analisar criticamente o assunto e opinar. Diferentemente do laboratório na Unisinos, nesse caso, os alunos se reconheciam nas caricaturas, como observadores “internos” e por isso seus discursos não se mostravam contraditórios. - Observamos que houve da mesma forma uma pluralidade nos discursos – estrutura estatal, outros versaram sobre a ausência do estado, totalitarismos, papel da polícia, entre outros... porém, pensamos que talvez tenha faltado mais organização (“equilíbrio”) da nossa parte em levá-los a esse distanciamento necessário para sua análise crítica. - Observamos que para chegar a essa análise crítica dos alunos, necessitaríamos de um instrumento complementar à caricatura, para que os adolescentes obtivessem esse distanciamento e opinassem sobre a temática trabalhada. Uma possível solução seria a dos alunos desenvolverem sua opinião, se utilizando da própria caricatura (de repente, eles poderiam criar imagens que opinassem sobre a temática discutida), assim, a mesma poderia servir como um instrumento para incitar o debate, mas também, no caso, para possibilitar a análise crítica dos alunos. 3° laboratório (1/04) – Unisinos, na aula de José Carlos Moreira da Silva Filho (Zk), Hermenêutica Jurídica, 5° semestre do Curso de Direito 4 ABEDI Rio 2009 Oficina Direito e Arte – Música e Caricatura Relatórios dos Laboratórios O laboratório ministrado pretendeu relacionar o pluralismo jurídico com as músicas do Bezerra da Silva. Para este laboratório, utilizamos o datashow para mostrar algumas das letras que seriam abordadas durante o laboratório. Num primeiro momento, fizemos uma fala introdutória sobre o Bezerra da Silva, para explicitar o porquê da escolha das músicas interpretadas por ele. Esta fala foi feita com base no texto de Emiliano Maldonado, disponível no blog, do mesmo modo que a escolha das músicas e sua ordem para o laboratório (a primeira seleção continha oito músicas, no final, ficamos com apenas quatro músicas, em função do tempo). Após essa fala, executamos a música “Produto do Morro” e por meio da sua letra contextualizamos juntamente com os alunos a história de Bezerra e sua relação com a favela. Após essa discussão, executamos a música “Se não fosse o samba” com o objetivo de discutir com os alunos e introduzir a relação do samba na favela carioca como um elemento de emancipação social. Para finalizar, colocamos as músicas “Raiva de Tudo” e “Lei do Morro” para justamente debater com os alunos até que ponto seria possível vislumbrar as interpretações de Bezerra como uma forma de revelar a produção normativa (além da estatal) existente na favela e, principalmente, quais as regras dessa organização. Organizamos a turma em círculo com a intenção de suprimir quaisquer resquícios de hierarquia, salientando que o laboratório era uma construção coletiva e que seria essencial a participação de todos. Naturalmente, as provocações geradas pelas músicas fizeram com que os alunos participassem, enfatizando, principalmente, os problemas das políticas sociais brasileiras. 5 ABEDI Rio 2009 Oficina Direito e Arte – Música e Caricatura Relatórios dos Laboratórios Problemáticas centrais: Apesar da música de Bezerra da Silva perturbar e causar a participação dos alunos, eles identificaram mais facilmente como uma realidade do Rio de Janeiro, mas tiveram dificuldades de relacionar com o que acontece na região metropolitana de Porto Alegre; Diferente dos outros laboratórios, nesse foi possível estabelecer um conteúdo ao debate, pois a temática “pluralismo jurídico” foi recorrente em todas as intervenções. Quando os alunos distanciavam-se nas intervenções, procurávamos retomar a linha de debate. Percebemos que aprofundamos mais a temática pretendida nesse laboratório, pois tínhamos o recurso do texto e, principalmente, pelo fato de termos preparado um plano em Power Point, com a seqüência pré-estabelecida do que pretendíamos desenvolver. De toda sorte, novamente, observamos a dificuldade dos graduandos em relacionar os conteúdos jurídicos adquiridos com a realidade social em que eles se inserem como sujeitos. Esse distanciamento dos alunos se percebe também em certos discursos preconceituosos sobre a realidade social das periferias. Porto Alegre, 12 de abril de 2009. Emiliano Maldonado (graduação Unisinos), Hector Soares (mestrado Unisinos) e Luciana de Paula (graduação Unisinos/UFRGS) 6