Nota Técnica
Monica Baumgarten de Bolle
Pedro H. de Castro Simões
o
N 3/13
30 de setembro de 2013
3
A Renda dos Trabalhadores Brasileiros
O IBGE acaba de divulgar os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a
PNAD, de 2012. Os jornais estão repletos de reportagens sobre o tema, salientando algumas
características nefastas da última pesquisa domiciliar como o aumento do analfabetismo no
País. Contudo, o que nos interessa nessa Nota é analisar como evoluiu a renda per capita por
domicílio no Brasil na comparação com o PIB.
Na primeira metade de 2013, esse tema gerou um debate acalorado depois que o atual
Presidente do IPEA, Marcelo Neri, dissera que uma das maiores conquistas dos governos
petistas fora o inusitado aumento da renda per capita domiciliar, mais elevado do que o
aumento da renda per capita medido pelas Contas Nacionais. Abordamos esse debate no
artigo para a Carta Econômica Galanto de abril de 20131. Na ocasião, mostramos que as
divergências entre a renda per capita da PNAD e a das Contas Nacionais provinham de dois
fatores:
1. A base de comparação: o período utilizado para comparar os dados e constatar que o
aumento da renda pela PNAD fora de 40% enquanto o medido pelas Contas Nacionais
fora de 29% era o compreendido entre 2003 e 2011. Argumentamos que o uso desse
período desprezava a recomposição da renda que ocorrera após a perda sofrida entre
1998 e 2002 em decorrência das crises cambiais e inflacionárias que assolaram o País.
2. Os deflatores: quando comparávamos as duas séries utilizando os mesmos deflatores
para cada uma, constatávamos que, na realidade, tal divergência inexistia. Ou seja, a
divergência apenas se apresentava quando deflatores distintos eram usados, o que
significava que o problema residia nos índices usados para calcular as séries em termos
reais. Observamos que o INPC, o deflator da renda da PNAD, fora mais influenciado
pelos movimentos do câmbio entre 1998 e 2002 do que o deflator do PIB. Assim,
concluímos que não havia nada de especial no aparente crescimento díspare da renda
per capita da PNAD e das Contas Nacionais.
Analisando os dados da PNAD de 2012, no entanto, observamos que a diferença dramática
retornou. A Figura abaixo mostra a evolução da renda per capita domiciliar da PNAD e de uma
medida equivalente da renda obtida das Contas Nacionais desde 2001, ambas deflacionadas
pelo deflator implícito do PIB. Como se vê, a renda da PNAD cresceu espantosamente no ano
passado.
1
Ver BOLLE e SIMÕES (2013).
Galanto | MBB Consultoria
1
Nota Técnica
30/09/13
Figura 1: PNAD e PIB – Renda per Capita (deflator: Deflator do PIB)
Fonte: IBGE e Galanto | MBB Consultoria
Enquanto a renda per capita das Contas Nacionais – feitos os devidos ajustes para compará-la
com a PNAD – estagnou no ano passado, a renda domiciliar per capita da Pesquisa aumentou
cerca de 8% em termos reais, usando o INPC como deflator. O aumento nominal da renda da
PNAD foi de 14,3% em 2012.
O descolamento parece estranho à primeira vista, mas a causa é evidente. Em 2012 o salário
mínimo teve um aumento de 14%, de acordo com a regra de indexação vigente. Ou seja, o
aumento do salário mínimo foi determinado pelos 7,5% de crescimento de 2010 acrescido dos
6,5% de inflação de 2011. São as distorções causadas por essa regra inercial e anacrônica –
afinal, que sentido há em usar o crescimento do PIB como indexador do salário mínimo – que
provocam as divergências entre os diversos indicadores da renda do trabalhador. Notem que o
aumento da renda da PNAD corresponde exatamente ao reajuste do salário mínimo.
A atual regra de reajuste do salário mínimo é um problema em si. Ela retroalimenta o diferencial
crescente entre salários e produtividade no País, dando mais combustível para a inflação,
enquanto piora as contas públicas devido aos seus efeitos sobre os benefícios previdenciários.
Além disso, a regra do salário mínimo tende a reduzir os retornos à educação no País, isto é,
aqueles cujos rendimentos mais sobem são os que têm menos anos de escolaridade. A
associação entre a queda dos retornos à educação e as regras atuais de reajuste do salário
mínimo foi apontada por Ricardo Paes e Barros, da Secretaria de Assuntos Estratégicos do
governo. Diante das distorções profundas que causa, mais cedo ou mais tarde, terá de ser
alterada. Difícil ver quem falará sobre isso durante a campanha eleitoral...
Referência Bibliográfica
BOLLE, M. B. e SIMÕES, P. H. C. O Crescimento da Renda das Famílias é Sustentável? Carta
Econômica Galanto, nº 158. Abr. 2013.
Galanto | MBB Consultoria
2
Download

Nota Técnica