H.4.1 - Linguística Compreensão das dificuldades em interpretação de enunciados matemáticos por meio de um estudo semântico e cognitivo Jéssica Rodrigues Rosa1, Dirceu Cleber Conde2. 1. Estudante de IC da Universidade Federal de São Carlos - UFSCar; *[email protected] 2. Pesquisador do Departamento de Letras, UFSCar, São Carlos/SP Palavras Chave: semântica, matemática, interpretação de texto. Introdução Há muita discussão e controversas quando o assunto é a dificuldade apresentada pelos estudantes em interpretar enunciados de problemas matemáticos. Muitas são as hipóteses, mas o fato é que mesmo após anos de estudos, ainda é recorrente encontrar alunos com dificuldades na matéria. Após algumas pesquisas sobre o tema, notamos que pouca coisa se tem em termos de estudos que relacionem esse problema com questões linguísticas e de dificuldades com a linguagem. Isso, portanto, nos incentivou a analisar nosso objeto por meio de um ponto de vista linguístico e cognitivo, pois, apesar de reconhecermos que muitos podem ser os problemas do ensino da matéria, acreditamos que não podemos ignorar as influências que um déficit lógico e linguístico durante o processo de aprendizagem infantil pode proporcionar. Partimos inicialmente seguindo a lógica Fregeana, e ao considerarmos que os enunciados de matemática são desenvolvidos em Linguagem Natural e que os alunos são levados a traduzi-los para Linguagem LógicoMatemática para sua resolução, algumas perguntas nos parecem pertinentes: Durante a leitura e interpretação dos enunciados matemáticos, qual é o papel da interpretação do sentido e a compreensão da referência? Se é estabelecida uma relação de sentido e referência entre a Linguagem Natural e Linguagem Lógico-Matemática, como esses valores entram nas estratégias interpretativas desses enunciados? Resultados e Discussão Realizamos a pesquisa com alunos frequentadores do Ensino Fundamental II, entre 12 e 14 anos, pois acreditamos que eles já possuem significativo conhecimento dos conceitos básicos da matemática, assim como uma competência linguística estabilizada. Antes do início da pesquisa o projeto passou por aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), tendo o número de CAAE 31644014.8.0000.5504 e de parecer 740.107. Foram aplicados testes orais e escritos com quatro enunciados com situações-problema de matemática os quais exigem apenas operações básicas para suas resoluções. Durante os testes os alunos foram solicitados a responder algumas questões como tentativa de parafrasear os enunciados e observações sobre o nível de dificuldade e conhecimento de cada questão. Os testes foram gravados e os dados foram analisados em busca de padrões de resolução e raciocínio, dificuldades de interpretação e falhas na leitura. Dez alunos participaram dos testes, sendo que nenhum conseguiu acertar todos os quatro problemas, apenas um acertou três, dois alunos acertaram dois, quatro acertaram um e três tiveram insucesso em todas as resoluções. Apesar disso, dois dos alunos mostraram não conseguir resolver os problemas no papel, mas explicaram verbalmente como deveria ser sua resolução, enquanto cinco dos alunos que obtiveram sucesso de resolução no quarto enunciado e, portanto, obteriam nota se fossem avaliados em uma prova, não conseguiram interpretar corretamente um dos dados presentes, o que não necessariamente prejudicaria o resultado, mas transforma totalmente o enunciado. Oito dos alunos utilizaram contas aleatórias em pelo menos dois dos problemas e apenas quatro alunos fizeram menção à necessidade de formulas para a resolução. Nove dos alunos conseguiram obter um nível mediano de leitura, com bom desempenho de pronunciação de cada palavra, entretanto, todos os dez entrevistados obtiveram erros quanto à entonação de cada frase, criando assim orações e enunciados diferentes a cada leitura. Com todos os alunos ocorreram pausas recorrentes durante a leitura de algumas palavras, o que pode indicar um estranhamento provocado durante a leitura. Conclusões Com todos os dados citados até aqui, parece-nos que a dificuldade que os alunos apresentam com os enunciados matemáticos vai muito além do que um problema de assimilação de conteúdo e de interpretação de texto. As causas para esse problema parecem provir de vários lugares, mas podemos notar que uma delas deriva de dificuldades com a linguagem e falta de desenvolvimento de raciocínio lógico desde o início da aquisição dos conceitos matemáticos. As crianças que passaram pelos nossos testes parecem mostrar em nossa visão inicial que não obtiveram sucesso na hora de notar estruturas semânticas distintas que correspondiam a outras já conhecidas, apesar de aparentemente os enunciados matemáticos seguirem uma mesma estrutura e de o professor resolver problemas semelhantes durante as aulas. Parece-nos, portanto, que a forma com que essas estruturas são apresentadas para os alunos não é capaz de proporcionar um ganho cognitivo eficiente. Agradecimentos Agradecemos às escolas “E. E. Orlando Perez” e “E. E. Dona Aracy Leite Pereira Lopes” por permitir que os testes e entrevistas fossem aplicados com seus alunos e pelo fornecimento do livro didático de matemática para a retirada dos problemas que foram aplicados. Instituição de fomento: CNPq. ____________________ Referências Bibliográficas: FREGE, Friedrich Ludwig Gottlob. Lógica e filosofia da linguagem. São Paulo: Cultrix, 1978. OLIVEIRA, Roberta Pires de. Semântica formal: uma breve introdução. Campinas: Mercado de Letras, 2001. 67ª Reunião Anual da SBPC