EVOLUÇÃO DOS MODELOS ATÔMICOS: DA TEORIA DOS ELEMENTOS AO MODELO DE RUTHERFORD Prof. Ronaldo DS Rodrigues Apesar de todo o avanço científico do mundo moderno não é possível descrever precisamente a constituição da matéria, ou seja, do quê ela é feita. Uma das razões dessa dificuldade tem relação com o tamanho dos constituintes da matéria (escala nanométrica). Assim, são utilizados modelos explicativos que se propõem a representar esse universo com base nas propriedades e comportamentos dos diferentes materiais. Entretanto, estes modelos não podem ser considerados como verdades absolutas. A História da Ciência demonstra que esses modelos são aprimorados ou mesmo substituídos com o passar do tempo. A seguir estudaremos alguns modelos que servem para entender diferentes fenômenos da natureza, os chamados modelos atômicos. OS GREGOS E A IDÉIA DE ÁTOMO: Na Grécia Antiga diferentes escolas filosóficas propunham distintas explicações para a existência da matéria. Algumas dessas escolas, por exemplo, consideravam a matéria como algo contínuo. De acordo com essa ideia, se certa quantidade de água, por exemplo, fosse dividida em partes cada vez menores não resultaria em outra coisa senão a própria água. Por outro lado, em outras escolas filosóficas, considerava-se que a matéria fosse algo descontínuo, ou seja, ao ser divida em partes cada vez menores resultaria em uma partícula que não seria mais passível de divisão e que seria diferente da matéria da qual se originou. Leucipo e seu discípulo Demócrito são os maiores representantes dessa ideia e denominavam essa partícula indivisível com o nome de átomo. Como o modelo atômico proposto pelos gregos não era um modelo científico, não foi capaz de superar as ideias predominantes que consideravam ser a matéria formada pelos elementos, terra, água, ar e fogo. Modelo atômico de Dalton: John Dalton foi um cientista inglês que, no começo do século XIX, propôs uma explicação para os resultados experimentais obtidos em trabalhos desenvolvidos em laboratórios de química, de forma independente, por ele mesmo e pelos cientistas Lavoisier e Proust1. Segundo Dalton, os átomos seriam as partículas esféricas, maciças e indivisíveis que comporiam todas as formas de matéria. Para Dalton, cada elemento químico seria representado por um tipo de átomo específico. Seu modelo atômico ficou conhecido como Modelo Atômico da Bola de Bilhar. De forma geral, Dalton propôs o seguinte: • • • Os átomos são partículas indivisíveis, esféricas e maciças e formam todo tipo de matéria. Átomos de elementos químicos diferentes possuem propriedades diferentes. Átomos pertencentes a um mesmo elemento possuem massa e propriedades iguais. 1 Esses trabalhos experimentais deram origem às chamadas Leis Ponderais que serão estudadas nos capítulos posteriores. • • Nas reações químicas, os átomos não sofrem alteração em sua estrutura. A massa total de um material é igual a soma das massas dos átomos dos elementos que o constituem. Modelo atômico de Thomson (1897): No final do século XIX muitos cientistas realizavam experiências com um aparato chamado tubo de raios catódicos ou tubo de Crookes, nome de seu inventor. Esse aparato consistia em um tubo de vidro no interior do qual se produzia vácuo ou se introduzia um gás específico para depois, submetê-lo à passagem de uma corrente elétrica pela diferença de tensão elétrica entre dois eletrodos de metal convenientemente posicionados. No interior do tubo, portanto, era possível notar um raio que partia de um eletrodo para o outro. Esse raio foi chamado de raio catódico. Tubo de Crookes ou tubo de raios catódicos. O cátodo e o ânodo são os eletrodos. Thomson verificou que os raios catódicos faziam uma ventoinha se mover no interior do tubo e conclui que esses raios eram formados por partículas. Pesquisando de forma metódica os raios catódicos, o cientista inglês J. J. Thomson propôs que esses raios podiam ser interpretados como sendo um feixe de partículas com massa e com carga elétrica negativa, as quais foram chamadas de elétrons. Ele conclui que os elétrons (raios catódicos) deveriam fazer parte de todo tipo de matéria, pois observou que a relação carga/massa do elétron era a mesma para qualquer gás que fosse colocado na Ampola de Crookes. Com base em suas conclusões, Thomson superou o modelo de átomo indivisível e maciço de Dalton e apresentou seu modelo atômico, conhecido também como o "modelo de pudim com passas" segundo o qual o átomo seria divisível e constituído de uma massa positiva na qual estariam dispersos os elétrons com carga negativa. Modelo de Thomsom: "pudim com passas". O pudim é toda a esfera positiva e as passas são os elétrons, de carga negativa. Esse foi o modelo atômico proposto por Thomson. Modelo atômico de Rutherford (1911): No começo do século XX os materiais radioativos intrigavam muitos estudiosos que realizaram experiências com o objetivo de entender esse fenômeno. O neozelandês Ernest Rutherford foi um desses cientistas e, ao investigar a radioatividade, identificou a presença de uma radiação que chamou de radiação alfa. De acordo com os estudos de Rutherford a radiação alfa apresentava massa e possuía carga elétrica positiva. Rutherford e seus colaboradores resolveram então bombardear uma lâmina muito fina (delgada) de ouro com partículas alfa (que eram positivas). Sua intenção era sondar o átomo com uma partícula que possuísse tamanho similar. O esquema abaixo ilustra o experimento de Rutherford. Ao realizar seu experimento, Rutherford notou que a maior parte das partículas alfa passava pela folha de ouro sem sofrer desvio algum. Entretanto, algumas partículas se desviavam e outras até mesmo colidiam com a folha e voltavam. É importante ressaltar que naquela mesma época já eram conhecidos os elétrons – partículas atômicas com carga negativa estudadas em 1897 por Thomson, e os prótons – partículas de carga positiva estudadas em 1886 por Goldstein. Rutherford e seus colaboradores verificaram que, para cada 10.000 partículas alfa que incidiam na lâmina de ouro, apenas uma era desviada ou refletida. Com isso, concluíram que o raio do átomo era 10.000 vezes maior que o raio do núcleo. Comparando, se o núcleo de um átomo tivesse o tamanho de uma azeitona, o átomo teria o tamanho do estádio do Maracanã. Esquema explicativo, proposto por Rutherford, para representar o resultado obtido com o experimento. Surgiu então em 1911, o modelo do átomo nucleado constituído por duas regiões principais: um núcleo central positivo (devido à presença dos prótons) muito pequeno em relação ao tamanho total do átomo, porém com grande massa e, ao seu redor, a eletrosfera onde estariam os elétrons com carga negativa e com pequena massa, o que torna o átomo um conjunto eletricamente neutro. Modelo atômico de Rutherford: átomo formado por um núcleo muito pequeno em relação ao próprio átomo, com carga positiva, no qual se concentra praticamente toda a massa. Ao redor do núcleo localizam-se os elétrons, negativos, neutralizando a carga positiva. Nessa figura, a representação do núcleo foi ampliada para fins didáticos. Posteriormente, em 1932, o cientista inglês James Chadwick descobriu uma nova partícula nuclear com massa praticamente igual à do próton e sem carga elétrica, sendo por essa razão, denominada nêutron. Dessa forma, concluiu-se que a massa do átomo se devia, principalmente, à presença dos prótons e dos nêutrons no núcleo, uma vez que a massa de um elétron é cerca de 1836 vezes menor que a massa de um próton ou de um nêutron.