O repórter estava lá
Um dia em cheio
Após uma semana de muito mau tempo, aproximava-se o Domingo dia 9 de
Janeiro de 2011. Para esse dia estava marcado um passeio à Serra da
Estrela, integrado nas comemorações do 30º Aniversário do Clube Náutico
de Crestuma. A cheia do Douro já estava nas ruas da Régua e a passagem
para as instalações do C. Náutico em Crestuma, começava a perigar.
Chegou-se a pensar em adiar o passeio. Mesmo assim, havia gente inscrita
para 2 autocarros.
Eram 7h30, do dia 9, e o mau tempo parecia continuar. Porém, como ainda
estavam cerca de 80 pessoas com a determinação para seguir, não havia
nada a fazer senão: - Rumar ao ponto mais alto de Portugal. E, se há uns
anos, o Clube já lá tinha estado tão solidamente, no cimo de Portugal, agora,
só com o apoio da Senhora dos Navegantes, as coisas se poderiam alterar.
Parece que a dita santa, ouviu algumas preces, e interveio junto do S. Pedro,
para nos proteger. Continuemos a acreditar nela.
E foi assim, unidos por uma fé inabalável de que os objectivos iriam ser
atingidos, que partimos para uma subida inevitável às alturas.
Com farnel ou seu farnel, chegámos a Viseu por volta das 10 horas, onde
houve tempo para meter os mais novos no carrossel, a trabalhar
propositadamente
para o Clube N.
de Crestuma e os
mais velhos a
dar uns passinhos
pelo
centro
enquanto
as
madames já se
empanturravam,
com bolinhos e
outras
guloseimas, nas
pastelarias locais.
Aí, tivemos o primeiro caso de realce. O Ferreira lembrou-se de engraxar as
botas, comme il faut, coisa que já não fazia há 40 anos . Já toda a gente se
sentava no autocarro, para avançar, quando se notou a sua ausência. A sua
mulher, excessivamente interventora, como sempre, foi ao seu encontro, para
o massacrar com impropérios.
Ora o Ferreira estava a
ouvir a história do
engraxador e ao mesmo
tempo
a
pedir-lhe
rapidez no trabalho.
Estava o engraxador a
lamentar-se que a sua
companheira de Gaia o
havia preterido em favor
de
um
casamento
contratual de 2 anos,
com
um
brasileiro
desconhecido
para
poder imigrar, (mais
um) para Portugal.
Assistia a tudo um polícia bonacheirão que, em lugar de intervir a favor do
desgraçado, sorria ao mesmo tempo que parecia lamentar a sorte do velho.
Este não se conteve e logo que se abeirou do seu vizinho advogado, pôs-lhe
o problema manifestando os seus prejuízos evidentes, largamente
consagrados nos direitos abrangidos pela nova lei da violência doméstica.
O tempo melhorava a olhos vistos, de tal forma que o trânsito estava fluente
nos dois sentidos da serra. E quando chegámos ao Sabugueiro já havia
simpatizantes do Náutico, vindos da Covilhã e de Grijó a juntar-se a nós para
o almoço. Quem levou farnel consolou-se, porque comeu e bebeu do que
quis, mas os outros tiveram que ir dar uso aos dentes, sujeitando-se ao que
havia nos restaurantes locais. Por mim, tudo bem, até porque encostei com
um parceiro que me facilitou a manutenção da média habitual; - 2 garrafas
para 2. Parece muito mas não é verdade porque algumas senhoras,
sorrateiramente, fazem o que não querem que se saiba. e daí, zás: castigam
os desgraçados que já nem podem beber descansadamente. A chanfana
estava boa e apurada. Olhem que foi preciso um digestivo para auxiliar o
trabalho estomacal.
O frio aumentava mas o entusiasmo dos mais novos aquecia qualquer
ambiente. Quando estes avistaram neve, foi uma algazarra imensa.
E logo que parámos na Torre, era vê-los a fugir aos pais, para promoverem
as mais variadas façanhas, acompanhando os atletas do Náutico. Os pais
tiveram que os seguir e os mais velhos tomaram outras opções.
Uns ficaram dentro do carro de onde a tudo assistiam. Não é por acaso que o
Molas pai, parece que não envelhece. Houve um que vinha juntando liquido
desde manhã para, segundo ele, escrever o nome no gelo, enquanto mijava,
coisa que já era hábito antigo. Coitado, queixou-se que não passou da
primeira letra. Gaguejou um bocado a justificar o insucesso mas pensamos
que o problema foi da caneta.
Acompanhei os jovens que fugiam facilmente por lá abaixo mas, logo que
senti dificuldades, refugiei-me na grande loja dos recuerdos. Aí, seguindo o
exemplo dos locais, enfiei 2 ginjinhas que me reactivaram. Vim a saber que,
afinal, também houve senhoras que discretamente lá tinham ido a pretexto do
WC mas que se desviaram para o canto das procuradas ginjinhas. Quando lá
voltei, tive ainda a sorte de beber uma outra que já me foi gentilmente cedida
por uma brasileira (que monstro!) que já havia negociado a última garrafa e
que a exibia debaixo do braço.
Antes da saída, assistimos a uma cena de paixão comovente: - A jovem
Beatriz, que nos vinha acompanhando em carro próprio, cismou que queria
regressar no autocarro dos atletas. Concedida essa facilidade, ela entrou
cheia de felicidade no autocarro. Porém, inebriada pela paisagem
surpreendente a cada curva, ela rápidamente gritou em soluços,
demonstrando que afinal havia outra paixão. Tivemos que parar no
Sabugueiro e devolvê-la, porque ela não aguentava mais sem a sua chupeta.
Descemos para Seia, onde o horário foi escandalosamente alterado. De um
simples quarto de hora de paragem, atrasaram para uma hora e dezassete
minutos. Vamos ver o resultado desta reclamação.
Daí para casa, como já era noite, concentrámo-nos no espectáculo de
variedades, promovido pela senhora do casal Marmelada que contratou os
mais variados artistas. Julgo que devemos destacar a interpretação do pastor
e seus animais e a sessão de anedotas picantes contadas pelo trio
Kica/Lídia/Maria. Cheguei a escandalizar-me com aquela do peixe tubarão e
da estrela do mar.
Com os aplausos acordou o
Dudu que dormia ao colo do
avô. Primeiramente queixou-se
do
barulho
mas
logo
demonstrou vontade de entrar
em cena com a canção
Xinderela, que havia decorado
há quinze dias quando dos
festejos do seu 3º aniversário
Graças ao coro, foi um
sucesso. Saiu do palco aos
ombros dos fãs para logo
retomar o aconchego no colo
da avó.
Entretanto, O João e a Ana Rute lembraram-se de sacrificar as mentes mais
activas e há que trazer processos de crimes misteriosos para ali serem
resolvidos. Não tiveram sucesso. É que toda a gente está farta de saber de
crimes colossais que vêem acontecendo e que ninguém quer resolver. Os
juristas que trabalhem, até porque ganham bem.
Em
Crestuma,
abriram-se as
instalações
antigas e as
garrafas de
Espumante;
cantaram-se
os parabéns,
comeu-se o
bolo dos 30,
deitaram-se
foguetes,
ouviu-se
o
discurso
presidencial e cantou-se
emotivamente o Hino do
Clube Náutico
de
Crestuma.
Ferreira, Romualdo, Eduardo, Élio, Eugénia, Marinho, Dário, Vieira e Gena
Molas estavam comovidos. Eles, os dirigentes e atletas mais antigos,
pareciam sentir mais que os outros uma alegria inolvidável, pelo dia
conseguido.
O Ferreira ainda procurou que alguns jovens lhe prometessem que daqui a
30 anos estariam ali a festejar. Enquanto que Kica, Maria, Rodrigo, Joana e
todos os interrogados já não prescindem do clube, a Lídia, filha da Primeira
Dama, está em dúvidas. Mas o Dudu, está de pedra e cal. Quando viu os
foguetes virou o polegar para cima e gritou “isté muto fixe”. Quando o
Presidente falou, ele disse à avó “segura no bolo” e pôs-se ruidosamente a
bater palmas. E quando o avô lhe perguntou: - este é o teu clube? Ele
respondeu : - Xim, é o noxo!
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O repórter estava lá - Clube Náutico de Crestuma