COMUNICAÇÕES SOBRE OCORRÊNCIA DE ESPÉCIES EXÓTICAS
INVASORAS
VIBRIO CHOLERAE: MICRORGANISMO EXÓTICO NO BRASIL?
Lívia Martins Bueno Hasegawa1
Claudiana Paula de Souza2
Bianca Caetano de Almeida3
Edith Mariela Burbano Rosero4
Rubens Lopes5
Irma Nelly Gutierrez Rivera6
Vibrio cholerae não-O1 e não-O139 são bactérias autóctones do ambiente
aquático, sendo altamente abundantes em águas costeiras marinhas, estuários, e
sedimentos e ainda podem ser encontrados associados com organismos marinhos,
como zooplâncton. No entanto, somente os dois sorogrupos, O1 e O139 dos 200
sorogrupos existentes são os agentes responsáveis pela cólera endêmica e epidêmica,
doença que ainda causa inúmeras mortes em várias partes do mundo, principalmente
na Ásia e África.
A cólera estava restrita a Ásia até o ano de 1800, no entanto a partir desta data
sete pandemias de cólera foram registradas, porém não se conhece o agente etiológico
das primeiras quatro pandemias e quanto às outras três pandemias, duas foram
causadas pelo V.cholerae O1 biótipo clássico, e a última pelo V.cholerae O1 biotipo El
Tor. A sétima pandemia iniciou-se em 1961 com um foco epidêmico em Sulawesi, exCélebes (Indonésia) a qual se espalhou por países da Ásia, Oriente Médio, África e
regiões da Europa. No ano de 1991, a cólera chegou ao Brasil, que até então era uma
área com ausência dessa doença.
A sétima pandemia de cólera atingiu o continente sul-americano pelo litoral do
Peru, em janeiro de 1991, estendendo-se, logo em seguida por todo o país e em
seguida para o Brasil e para mais 14 países da América do Sul. No Brasil, a cólera
chegou pela selva amazônica, no Alto Solimões e então, alastrou-se progressivamente
pela região Norte, seguindo o curso do Rio Solimões/Amazonas e seus afluentes,
principal via de deslocamento de pessoas na região, e no ano seguinte para as regiões
Nordeste e Sudeste através dos principais eixos rodoviários. A região sudeste
apresentou o maior número de casos da doença entre o final de 1992 e o início de
1993. E no ano de 1999, foram confirmados 467 casos de cólera em Paranaguá, litoral
do Paraná, local que até o momento não havia relatos de nenhum caso de cólera.
Possivelmente os surtos de cólera foram causados por um microrganismo
invasor, pois já havia a presença do V. cholerae O1 não toxigênico e V. cholerae nãoO1 nas praias do litoral de São Paulo (1978) e nas águas do mar de Sepetiba, RJ
(1981) antes mesmo do surgimento da epidemia na América Latina. Assim, a epidemia
colérica ocorreu pela presença de V.cholerae O1 patogênico, uma espécie invasora
diferente das que já existiam na América Latina e no Brasil, e que se adaptou a este
novo ambiente. Uma das teorias que sustenta a chegada da cepa patogênica ao
continente Latino-americano é que poderia ter sido transportado através da água de
lastro de navios vindos de regiões endêmicas. A Gerência de Portos, Aeroportos e
Fronteiras da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) preocupada com o fato, em
2001, promoveu a pesquisa intitulada: “Estudo exploratório para a identificação e
caracterização de Espécies Patogênicas em Águas de Lastro em portos selecionados no
Brasil”. Após a análise de 105 amostras de água de lastro, sete amostras
transportavam V. cholerae O1 e somente duas delas continham V. cholerae O1
toxigênico mostrando o risco de invasão dos ambientes portuários e a possível
ocorrência de epidemias.
Então, diante desses fatos estamos propondo que o Vibrio cholerae O1 seja
considerado um microrganismo exótico modelo no Brasil, pois como está descrito na
literatura científica, até 1991 não existia relatos da ocorrência de cólera no Brasil,
sendo assim, possivelmente o Vibrio cholerae O1 toxigênico não estava presente no
ambiente aquático brasileiro e foi introduzido aqui após essa data, pois sabe-se que
espécies invasoras de microrganismos
introduzidos em um ambiente podem
desenvolver ou potencializar a patogenicidades das espécies locais, aumentando a
população de microrganismos patogênicos já existentes e/ou desenvolver populações
exóticas, levando ao surgimento de algumas doenças que anteriormente não existiam
nesses locais.
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comunicações sobre ocorrência de espécies exóticas invasoras