20 Quinta-feira, 14.11.2013 / JORNAL NH A EXUMAÇÃO DE UMA DÚVI DA “De acordo com o esperado” Às 11h10, três peritos concederam entrevista coletiva. Coordenador do grupo, Amaury Allan Martins de Souza Júnior (à esquerda na foto ao lado), dizia que já havia sido identificado o local dos restos mortais de Jango. “Está de acordo com o esperado”, resumiu. Naquele momento era feita a coleta de material gasoso para evitar danos aos restos mortais do ex-presidente. Participavam dos trabalhos peritos da Argentina, Uruguai e Cuba, além de brasileiros e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que acompanha como observador internacional. Um longo d Retirada dos restos mortais do ex-presidente não havia ocorrido pelo menos até antes da meia-noite de ontem Acesso ao cemitério ficou restrito a peritos, autoridades e parentes Amigos temiam pelo pior Entre os conhecidos da família Goulart que aguardavam em frente ao portão principal do Cemitério Jardim da Paz estava o aposentado Artur Evany Guedes Dorneles, 77 anos. De bombacha e camisa azul clara ele disse que visitava o ex-presidente no Uruguai e na Argentina, no período do exílio. Para chegar ao outro lado da fronteira, usava um barco. Chegou a levar documentos e até dinheiro, afirma. Se Jango foi vítima de um crime, Dorneles prefere aguardar os exames. “Os amigos de Jango tinham medo que acontecesse algo com ele. Queremos apenas a verdade.” Enviados a São Borja Éder Kurz textos Diego da Rosa fotos e vídeo A retirada dos restos mortais do expresidente João Goulart do jazigo demorou muito mais do que o esperado e se estendeu noite adentro. Após mais de 12 horas de expectativa pela saída da urna mortuária de Jango, a chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, anunciou às 20h30 de ontem que os trabalhos dos peritos só iriam terminar por volta da meia-noite. Mais tarde, o prazo foi ampliado para a 1h30 de hoje. Antes das 23 horas, os familiares do ex-presidente já haviam deixado o cemitério, indicando que a exumação ainda iria demorar. Houve também uma mudança de roteiro. A proposta inicial era que urna mortuária de Jango fosse colocada no caminhão furgão da Defesa Civil do Estado e transportada para o aero- porto de São Borja, de onde seria levada em um avião para a Base Aérea de Santa Maria ainda na manhã de hoje. De lá seria transportada por um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para Brasília. Foi decidido, entretanto, que o veículo oficial saísse do cemitério e seguisse diretamente à Base de Santa Maria durante esta madrugada. Durante todo o dia, o clima nos arredores do Cemitério Jardim da Paz foi de tensão e expectativa entre jornalistas e curiosos. Ao anoitecer, surgiu o boato de que a gaveta aberta pelos peritos não seria a de Jango e que isso provocou o atraso. No entanto, quando questionada sobre o fato, Maria do Rosário negou. “Em hipótese alguma isso ocorreu. Os peritos tiveram zelo e determinação para realizar o trabalho”, afirmou. Ao lado de familiares de Jango, como o neto Christopher Goulart, a ministra limitou-se a salientar que os peritos atuaram com “êxito, ética e seguindo o protocolo”. O entra e sai de dentro do cemitério foi a tônica do dia. As informações sobre o trabalho dos peritos foram escassas na maior parte do tempo. Ao lado do perito cubano Jorge Perez, Rosário já havia Juventude na causa João Vicente Goulart entra no Jardim da Paz acompanhado de sua esposa Segurando cartazes com pedidos de justiça, um grupo de estudantes passou praticamente a manhã inteira no cordão de isolamento montado pela Brigada Militar em uma das esquinas do Cemitério Jardim da Paz. “Nosso compromisso é com a verdade. Não queremos mais a ditadura”, disse o estudante Vinícius Lara, 20 anos, do grupo Levante Popular da Juventude. conversado com a imprensa por voltas das 17 horas. Ambos não estipularam prazo para a saída da urna mortuária com o caixão do ex-presidente. Naquela ocasião, ela já havia enaltecido o trabalho realizado durante todo o dia em São Borja. “O trabalho dos peritos segue protocolos internacionais”, salientou. Perez, por sua vez, ressaltou que os peritos precisam aprovar um protocolo em que todos concordam com as condições nas quais o caixão for retirado do túmulo. Caso contrário, eles interrompem o serviço, abrem diálogo sobre o andamento até encontrar a melhor saída. Perez pediu paciência e confiança no trabalho que era realizado pelo grupo. Se tudo correr dentro do planejado, o corpo do ex-presidente será recepcionado nesta manhã em Brasília com honras de Chefe de Estado. Conforme o Palácio do Planalto, essa será uma forma de homenagear Jango, que não contou com esse ritual concedido aos chefes da Nação. Devem participar da cerimônia os ex-presidentes Lula, Fernando Collor de Mello e José Sarney – em recuperação de uma diverticulite, Fernando Henrique Cardoso não deverá comparecer. Éder Kurz/GES-Especial Quinta-feira, 14.11.2013 / JORNAL NH 21 “Jango foi derrubado por suas virtudes” O governador Tarso Genro foi a São Borja prestar homenagem ao ex-presidente e “estabelecer uma relação com a família de Jango”. Ao sair do cemitério, o chefe do Executivo gaúcho disse que o ex-presidente João Goulart “foi derrubado por suas virtudes, não pelos seus defeitos”. Na visão do governador, a exumação de Jango vai esclarecer se foi acidente ou objeto de ação criminosa. Tarso afirmou que tem razões pessoais para acompanhar a exumação de Jango. “Eu fui acolhido pelo presidente no exílio. Meu pai tinha relações políticas e de amizade”, ressaltou o governador. “De outra parte é um resgate histórico. A atenção que o poder público dá, que a imprensa dá, que a sociedade dá, a uma pessoa que foi um grande presidente do Brasil. E que na sua época levantou reformas importantíssimas, algumas delas que o País ainda tem que fazer. Jango foi o pioneiro no processo de transformações do Brasil que redundou na Constituição de 1988”, disse. Questionado sobre a revisão da Lei da Anistia, Tarso afirmou que não defendeu essa ideia. Disse que esse é um mito criado por parte da imprensa que queria abrigar os torturadores. reportagem multimídia Governador Tarso Genro falou à imprensa ontem, depois de sair do cemitério Use seu smartphone e um aplicativo leitor de códigos QR para ler a imagem ao lado e acessar conteúdo exclusivo no site do Jornal NH. VEJA REPORTAGEM EM VÍDEO NO jornalnh.com.br dia para a história Expectativas frustradas Maria do Rosário, junto com Christopher Goulart, confirmou que exumação terminaria muito além do previsto De Novo Hamburgo a São Borja O capitão da Brigada Militar (BM) de São Borja, Hélio Soares dos Santos Júnior, era um dos responsáveis pela segurança no entorno do cemitério e comandava 39 policiais do 2o Batalhão de Policiamento de Áreas de Fronteira. Natural de Santa Maria, foi tenente em Novo Hamburgo entre 2001 e 2009. Deixou o Vale do Sinos para ser o capitão Hélio na fronteira do Brasil com a Argentina. “Um dia pretendo voltar”, diz. Prevista inicialmente para encerrar no meio da tarde de ontem, a exumação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart não encerrou nem mesmo antes do anoitecer. E seguiu além. No final da tarde, a Brigada Militar (BM) chegou a ensaiar a saída do Cemitério Jardim da Paz com a urna mortuária de Jango. E isso trouxe a expectativa de que tudo estaria encerrado nos próximos minutos. Jornalistas do Brasil inteiro disputavam espaço junto às grades de ferro colocadas pelos policiais. Parecia que tudo corria de acordo com o protocolo, palavra repetida várias vezes por peritos, inclusive Jorge Perez. Os peritos abriram o jazigo. Antes do meio-dia, informaram que os trabalhos transcorriam normalmente. Estavam retirando gases do caixão de Jango, material que também será levado para análise. Porém, no começo da noite, barulhos de cerra cortando pedra podiam ser ouvidos do lado de fora do cemitério. O mesmo som seguiu até por volta das 21 horas.