Conselho Editorial Av. Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100 11 4521-6315 | 2449-0740 [email protected] Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt ©2015 Diogo da Silva Roiz (Org.) Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. R7413 Roiz, Diogo da Silva. A História Intelectual: Entre instituições e letrados na historiografia brasileira/ Diogo da Silva Roiz (Org.). Jundiaí, Paco Editorial: 2015. 408 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-8148-646-8 1. Historiografia brasileira 2. História intelectual 3. Procedimentos de pesquisa 4. Intelectuais. I. Roiz, Diogo da Silva. CDD: 907.2 Índices para catálogo sistemático: Historiografia Intelectuais 907.2 305.552 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi Feito Depósito Legal Sumário Apresentação..............................................................................7 Prefácio.............................................................................................11 Introdução.......................................................................................19 Parte 1. Entre Representações Intelectuais......................23 Capítulo 1 Cássio Augusto Samogin Almeida Guilherme A recepção de Antônio Gramsci no Brasil..................................25 Capítulo 2 Fabrício Deffacci Os intelectuais e a crise no mundo moderno: revisitando o pensamento de Karl Mannheim....................................................43 Capítulo 3 Diogo da Silva Roiz A dialética entre o “intelectual-letrado” e o “letrado-intelectual” nas trajetórias de Alfredo Ellis Jr. e Sérgio Buarque de Holanda..........................................................................................73 Capítulo 4 Paulo R. Souto Maior Júnior Janaína dos Santos Maia Regina Coelli Gomes Nascimento A Pesquisa em História através de Michel Foucault..................97 Capítulo 5 Federico Alvez Cavanna O Conceito de Laicidade no Uruguai do “Caminho Democrático à Ditadura”.............................................................109 Capítulo 6 Fábio Luiz de Arruda Herrig Hernâni Donato e o Caráter Social da Literatura Brasileira.........................................................................................131 Parte 2. ...E Práticas Institucionais................................153 Capítulo 7 Luiz Antonio de Oliveira. João Marcos Vitorino dos Santos Natália Cristina de Oliveira Abílio César Borges e a Instrução da Criança do Século XIX: Contribuições para a análise do estado da arte...............155 Capítulo 8 Álvaro Nonato Franco Ribeiro Sônia Aparecida Siquelli Ana Eugênia Nunes de Andrade Historiografia Brasileira e Sala de Aula: Possibilidades de Trabalho com a reforma urbana do Rio de Janeiro.................177 Capítulo 9 Cristiane dos Santos Souza Estratégias de Projeção Pública dos Intelectuais Vinculados ao Debate Educacional no Estado do Paraná nas Primeiras Décadas do Século XX.................................................................197 Capítulo 10 Alessandro Augusto de Barros Façanha A História das Ciências no Liceu do Ceará: Entre Atos e Fatos – Denúncias do Professor Rodolfo Teófilo....................221 Capítulo 11 Mauro Castilho Gonçalves Educação, Higiene e Eugenia no Estado Novo: as palestras de Savino Gasparini transmitidas pela Rádio Tupi (1939-1940)....................................................................................243 Capítulo 12 Dyeinne Cristina Tomé Raquel Quadros Maria Cristina Gomes Machado O Papel Social da Mulher e da Família no pensamento do intelectual Gustavo Capanema (1934-1945).............................271 Capítulo 13 Névio de Campos Ensino Superior no Paraná: avanço da ação estatal (1950-1970).....................................................................................287 Capítulo 14 João Paulo de Souza Silva Entre expectativas e representações: a constituição da Escola Experimental Maria Montessori (1952-1953)..............317 Capítulo 15 Renata Lourenço Os “novos movimentos sociais” e a luta por educação dos professores indígenas....................................................................337 Capítulo 16 Marcelo Pereira Rocha A Equiparação dos Primeiros Estabelecimentos de Ensino Secundário em Campo Grande...................................................361 Capítulo 17 Célia Maria Foster Silvestre Movimento de professores Guarani e Kaiowá e suas lutas por direitos.....................................................................................389 APRESENTAÇÃO Foi com muito prazer que recebi o convite para fazer um pequeno comentário à obra A História Intelectual: entre instituições e letrados na historiografia brasileira. Em primeiro lugar, porque conheço e admiro o organizador da coletânea, Professor Diogo da Silva Roiz, e parte dos autores, tendo inclusive participado, com maior ou menor intensidade, dos seus processos de formação como pesquisadores no campo da história. Em segundo lugar, porque tenho dedicado minha carreira acadêmica ao tema da história intelectual e dos intelectuais, logo a proposta contida nesse livro muito me interessa. Para além do tema em comum, agrada-me, sobremaneira, a concepção que balizou a seleção e a organização dos textos, uma vez que estes combinam: por um lado, a reflexão metodológica e, por outro, análises envolvendo trajetórias intelectuais, redes de sociabilidade, processos de apropriação e de circulação de ideias, organização de instituições de cultura, deslocamentos de sentidos e usos de conceitos normativos. Em síntese, temos aqui exemplos de diferentes enquadramentos de problemas que habitam as mentes dos historiadores dedicados à interpretação da esfera intelectual da vida social. A compreensão desse projeto editorial exige situar o lugar dessa enunciação coletiva. Ou seja, o compartilhamento de uma concepção de história intelectual e dos intelectuais que ressignificou a tradicional história das ideias, com seus procedimentos muito mais filosóficos, do que históricos, reinserindo na cultura historiográfica problemas que, em tempos recentes, foram relegados, tais como: o indivíduo, o evento, a curta duração, o pensamento, as elites letradas, os intelectuais, etc. A reavaliação dessas questões exigiu aproximá-las de dimensões contextuais antes ignoradas ou trabalhadas ilustrativamente, particularmente o cultural, o social e o político. Em outros termos, para citar a já consagrada posição de Quentin Skinner, a história intelectual 7 Diogo da Silva Roiz (Org.) necessitou superar o textualismo da história da filosofia, que enclausura o texto ao círculo hermenêutico, sem adotar uma posição contextualista, que impõe de forma causal e mecânica o contexto aos textos que materializam os sentidos que caracterizam os discursos políticos, científicos ou filosóficos1. Para isso, buscou-se inspiração nos estudos sobre o funcionamento da linguagem, formação dos sentidos, das práticas e das representações sociais, sem observar rígidos limites disciplinares, transgredindo fronteiras e produzindo, efetivamente, experiências de pesquisa e de publicação que unem pesquisadores com formações e trajetórias diferenciadas. Posto este contexto, que reúne premissas teóricas e comportamentos acadêmicos, identificamos o desafio que esta coletânea e outras que estão circulando encontram pela frente: escrever, a um só tempo, a história intelectual e dos intelectuais, interpretando a singularidade dos seus problemas, da mesma forma que os articulam a movimentos, tendências e cenários mais amplos, evitando tanto o determinismo do contextualismo, como o a-historicismo do textualismo. A ideia é simples e, provavelmente, todos nós já a formulamos em alguma medida e circunstância. Sendo assim, o problema é passar dessa condição de formulação abstrata para a estruturação da narrativa histórica. Para isso, não existe, a priori, fórmula ou método que conduza o historiador ao porto seguro, pois seguir os preceitos do contextualismo linguístico ou da história dos conceitos, para citar apenas duas das teorias em voga no campo, não garante o sucesso do empreendimento. A narrativa histórica segue como uma artesania que depende da maestria do seu produtor, de maneira que boa teoria pode resultar em péssima história; da mesma maneira que teorias heuristicamente limitadas, em boas mãos, podem render bons frutos. A rigor, tudo depende da competência do intérprete que, 1. Para a compreensão da crítica de Q. Skinner ao textualismo e ao contextualismo ver, deste autor, Meaning and understanding in the History of Ideas. History and Theory, v. 8, n. 1, p. 3-53, 1969. 8 A História Intelectual: Entre instituições e letrados na historiografia brasileira imaginando, testando hipótese, contrastando suas fontes e problemas com as teorias disponíveis, encontra um caminho plausível e intersubjetivamente compartilhado para estruturar a sua narrativa, despertando interesse, encontro de horizontes, críticas ou indiferença. Da minha parte, a obra que nesse momento vai a público, à exceção da indiferença, suscita interesse, convergência e, claro, críticas pontuais em relação às análises apresentadas. Bem ... são estas poucas e desarrumadas palavras que dedico a esta coletânea tão promissora, não que ela não mereça uma análise mais detalhada, mas sim porque não acredito em apresentações que antecipem ao leitor conclusões pretensamente definitivas. Se o mundo social é o espaço do sentido, somos todos intérpretes, logo, sigamos então para a leitura. Carlos Eduardo Vieira 2 Curitiba, verão de 2014 2. Carlos Eduardo Vieira é pesquisador do CNPQ, professor do Programa de PósGraduação em Educação, Linha de Pesquisa História e Historiografia da Educação, da Universidade Federal do Paraná, atuando como coordenador do Grupo de Pesquisa História Intelectual e Educação (GPHIE) e do Núcleo de Estudos e Pesquisas História, Educação e Modernidade (NEPHEM). E-mail: [email protected]. 9 PREFÁCIO Este primeiro volume do projeto “História intelectual, instituições e letrados na historiografia brasileira”, dirigido por Diogo Roiz, propõe uma fascinante viagem pelos meandros da História Intelectual: nele destaca-se os resultados da aplicação pragmática dos métodos da História dos Intelectuais e da História Intelectual. Há neste volume exemplos de História dos Intelectuais. Este é o caso de Diogo Roiz, ao mostrar que a dialética entre o “intelectual-letrado” (autodidata) e o “letrado-intelectual” (historiador profissional) foi a base para a formação do “homo academicus” no campo da pesquisa histórica brasileira a partir de 1930. Para chegar a tal constatação Diogo Roiz delimita o campo de trabalho de duas gerações de intelectuais paulistas: dois professores da USP, Alfredo Ellis Jr. e Sérgio Buarque de Holanda. Mostra assim a passagem do autodidatismo do “homem de letras”, os “historiadores por vocação” (Alfredo Ellis Jr.), para a profissionalização do historiador como “pesquisador profissional”, exemplificado pela trajetória de Sérgio Buarque de Holanda. Tal processo teve seu auge entre 1930 e 1950, com a criação dos primeiros cursos de Geografia e História e de universidades no Brasil. Luiz Oliveira, João Santos e Natália Oliveira fazem também um tipo de História dos intelectuais. Os autores procuram situar “Abílio Cesar Borges e a instrução da criança do século XIX” no contexto do segundo Reinado. Como teria esse erudito do século XIX, que recebeu a comenda de Barão de Macahúbas, abordado o problema da educação para crianças? A concepção pedagógica do Barão buscou novos recursos, como selecionar os melhores professores para educar os filhos da aristocracia. O Barão sintetizou suas ideias em livro ainda hoje raro: A Lei nova do ensino infantil, 1884, Bruxelas. A obra questiona a memorização por prejudicar a expressão, a criatividade, e até mesmo a saúde. Pois a memorização acarretaria a imobilidade, a 11 Diogo da Silva Roiz (Org.) inferioridade, o desânimo, e a falta de interesse. No livro o Barão defende o sentir livre da criança e sua iniciativa em dialogar com o professor, explorando sua criatividade, reflexão, método que despertaria a curiosidade dos alunos. João Paulo Silva reconstrói a trajetória intelectual da educadora Eny Caldeira. O autor analisa a criação da Escola Experimental Maria Montessori (1952), exemplo de modernização e ensino rural em Curitiba. A professora Eny Caldeira e seus pares aproveitaram-se da modernização econômico-cultural do pós-guerra, e buscaram uma educação moderna como modelo para a Escola Experimental Maria Montessori. Eny Caldeira, com passagem pela USP e pelos centros educacionais europeus, defendeu a educação como mecanismo de superação das carências dos indivíduos pobres, excluídos dos seus direitos pela desigualdade perpetuada pelo próprio Estado. Também nesse caso está o estudo de Névio de Campos que discute a ação de uma geração de intelectuais e grupos políticos para organizar o ensino superior no interior do Paraná, entre 1950 e 1970. A peculiaridade daqueles anos é de que existiu uma ênfase no ensino superior estatizado (faculdades e universidades), conforme pode ser observado no processo de federalização de instituições privadas. No Estado do Paraná, a partir dos anos de 1950, foram criadas inúmeras faculdades estaduais. Já no final da década de 1960 surgiram as três primeiras universidades estaduais. A própria federalização da antiga Universidade do Paraná (UP) foi defendida sob a alegação de que a iniciativa particular não apresentava força para expandir o alcance do ensino superior. A interiorização do ensino universitário estava associada ao avanço das ações do Estado, seja federal ou estadual. As faculdades e universidades estaduais devem ser compreendidas no contexto do desenvolvimentismo em forma de intervenção do Estado no mundo social. Tal interiorização do ensino superior é resultante da ação e militância dos intelectuais paranaenses. Trata-se de uma ativa geração de personagens que 12 A História Intelectual: Entre instituições e letrados na historiografia brasileira protagonizaram a criação de inúmeros centros de cultura e ocupavam funções públicas no magistério, na magistratura ou em outras esferas do Estado. Essa camada social que, além de estar organicamente imbricada aos grupos políticos, “compartilhava ideais que elegiam instituições culturais como lócus específicos para viabilizar o processo histórico de formação de um ethos condizente com os novos tempos e enxergava nesses espaços como estratégicos para distinguir-se dos demais estratos sociais e projetar-se como principais agentes da sociedade”. O livro também traz reflexões da perspectiva da Historia Intelectual. Fabricio Deffacci, por exemplo, procura reconstruir o contexto intelectual de Karl Mannheim através do conceito de crise. Deffacci parte da constatação que a “alteração no sentido da história ocupa um espaço privilegiado no pensamento de [Karl] Mannheim”, uma vez que Mannheim se vê pressionado pelo contexto de crise do início do século XX. Para Mannheim, o historicismo tornou-se o princípio que organiza a reflexão intelectual e as ciências culturais. Diante da perda dos referenciais humanistas da tradição, a crise serve para restabelecer a capacidade de atuação dos intelectuais. Cássio Guilherme propõe uma espécie de biografia intelectual de Antonio Gramsci, ao tratar da recepção, interpretação e “usos” do pensamento de Gramsci pela academia e pelos comunistas brasileiros no século XX. A recepção de Gramsci é dividida em três períodos: 1] Uma fase “pré-histórica” entre 19201965; 2] Da tímida introdução do pensamento gramsciano no PCB, ate a tradução por Carlos Nelson Coutinho, dos “Cadernos do Cárcere” (1940-1966). 3] Com o declínio da ditadura, no fim de 1970 Gramsci passa a ser referência. No final dos anos 1950 a Revista Brasiliense rompeu a interpretação do PCB, dialogando com outros intérpretes, notadamente argentinos, como Hector Agosti. A década de 1960 foi a época de “vários marxismos”, dentre eles o Gramsci dos Cadernos do Cárcere (mas a leitura italiana de Togliatti o 13 Diogo da Silva Roiz (Org.) interpretava como discípulo e continuador de Lênin). Mas somente em 1980 há difusão do “Eurocomunismo” de Enrico Berlinguer e do PC italiano. Carlos Nelson Coutinho escreve, em A democracia como valor universal: “Antonio Gramsci … lança as bases para uma refundação da teoria marxista da transição ao socialismo, colocando a questão democrática no centro dessa transição”. Na redemocratização talvez a repercussão de Gramsci tenha sido maior na academia que em partidos políticos (como o PT), numa perspectiva que situava Gramsci entre liberalismo e socialismo (Weffort). Fábio Herrig também propõe um estudo no âmbito da biografia intelectual em “Hernâni Donato e o caráter social da literatura brasileira”. O autor privilegia a relação da literatura de Hernâni Donato com a cultura brasileira. Trata-se de uma produção literária de caráter social, isto é, os tipos e heróis de Hernâni Donato representam aquele ser a quem roubaram horizontes, mas que aspira a ser íntegro numa sociedade que o mutila. É a história literária do Brasil das minorias e seus problemas, o Brasil erigido sobre o sangue e o suor do trabalhador, aqueles que já não têm esperanças. Paulo Júnior, Janaína Maia e Regina Nascimento, em “A pesquisa histórica através de Michel Foucault”, propõem um estudo de importação e adaptação de conceitos. Fazem uma análise de como o pensamento de Foucault foi lido por Gilles Deleuze, e salientam uma prática de pesquisa essencial para a historiografia. Deleuze lê a obra de Foucault em três momentos: a arqueologia, a genealogia e a subjetividade. Ou, nas palavras de Deleuze, o que posso saber, o que posso fazer, e quem sou eu. Deleuze pensa enunciados e conceitos, ou seja, a relação das palavras com a história. A reflexão sobre os enunciados tira o foco do óbvio e do evidente mostrando a interpretação histórica como uma constante luta, como uma guerra. Os enunciados são, antes de tudo, palavras que compõem textos, são sempre o motor da história. O manusear das palavras recebe uma nova imagem por14 A História Intelectual: Entre instituições e letrados na historiografia brasileira que a relação significado e significante é quebrada, em favor de inúmeros significados numa rede sem fim. Já Alessandro Façanha faz um estudo de caso da trajetória intelectual de Rodolfo Teófilo, professor de História da Ciência do Liceu do Ceará no início do século XX. Trata-se de erudito, farmacêutico e inventor (erradicou a varíola no Ceará) que foi perseguido pelos clãs cearenses pelo seu espírito crítico e livre. Federico Cavanna faz um estudo de História dos conceitos com base em Koselleck, em “O conceito de Laicidade no Uruguai” do século XX. Cavanna mostra que o significado de laicidade sofre uma inflexão no contexto da ditadura militar-civil Uruguaia (1973-1985), quando passa a adquir um sentido reacionário. Ainda no início de 1970 as características “ilustradas”, republicanas e anticlericais do conceito de laicismo perdem preeminência. Laico passa a ser tudo aquilo que não é, ou não pareça ser, marxismo. O sentido de neutralidade religiosa do conceito não desaparece, mas começa a ser compartilhado com o “antimarxismo” (sentidos que permanecem ainda hoje). Renata Lourenço também trabalha inflexões de sentido do conceito de “novos movimentos sociais”. A definição de movimentos sociais na América Latina das ditaduras dos anos 1970 foi centrada em lutas histórico-nacional-populares. Com o fim das ditaduras, a. tomada revolucionária do poder por um partido cedeu lugar à análise da hegemonia e da possibilidade de criação de uma “vontade coletiva nacional popular”. (Passou-se a utilizar autores como Gramsci, Laclau, Casanova, Portantiero e Wefort.) Cultura e identidade passaram a ser o sentido dos novos movimentos sociais dos anos 1980-1990. Passou-se a articular o macro e o micro, o local e o global, o espaço de pluralismo social e cultural na intercomunicação das diversidades (étnicas, raciais, culturais), as redes de movimentos. Das lutas da sociedade civil surge o conceito de cidadania coletiva, isto é, favelados, mães, excluídos do campo, homossexuais, mulheres, ecologistas, grupos étnicos e povos indígenas. 15