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©2015 Diogo da Silva Roiz (Org.)
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permissão da editora e/ou autor.
R7413 Roiz, Diogo da Silva.
A História Intelectual: Entre instituições e letrados na historiografia brasileira/
Diogo da Silva Roiz (Org.). Jundiaí, Paco Editorial: 2015.
408 p. Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-8148-646-8
1. Historiografia brasileira 2. História intelectual 3. Procedimentos de
pesquisa 4. Intelectuais. I. Roiz, Diogo da Silva.
CDD: 907.2
Índices para catálogo sistemático:
Historiografia
Intelectuais
907.2
305.552
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Foi Feito Depósito Legal
Sumário
Apresentação..............................................................................7
Prefácio.............................................................................................11
Introdução.......................................................................................19
Parte 1. Entre Representações Intelectuais......................23
Capítulo 1
Cássio Augusto Samogin Almeida Guilherme
A recepção de Antônio Gramsci no Brasil..................................25
Capítulo 2
Fabrício Deffacci
Os intelectuais e a crise no mundo moderno: revisitando o
pensamento de Karl Mannheim....................................................43
Capítulo 3
Diogo da Silva Roiz
A dialética entre o “intelectual-letrado” e o “letrado-intelectual”
nas trajetórias de Alfredo Ellis Jr. e Sérgio Buarque de
Holanda..........................................................................................73
Capítulo 4
Paulo R. Souto Maior Júnior
Janaína dos Santos Maia
Regina Coelli Gomes Nascimento
A Pesquisa em História através de Michel Foucault..................97
Capítulo 5
Federico Alvez Cavanna
O Conceito de Laicidade no Uruguai do “Caminho
Democrático à Ditadura”.............................................................109
Capítulo 6
Fábio Luiz de Arruda Herrig
Hernâni Donato e o Caráter Social da Literatura
Brasileira.........................................................................................131
Parte 2. ...E Práticas Institucionais................................153
Capítulo 7
Luiz Antonio de Oliveira.
João Marcos Vitorino dos Santos
Natália Cristina de Oliveira
Abílio César Borges e a Instrução da Criança do Século
XIX: Contribuições para a análise do estado da arte...............155
Capítulo 8
Álvaro Nonato Franco Ribeiro
Sônia Aparecida Siquelli
Ana Eugênia Nunes de Andrade
Historiografia Brasileira e Sala de Aula: Possibilidades de
Trabalho com a reforma urbana do Rio de Janeiro.................177
Capítulo 9
Cristiane dos Santos Souza
Estratégias de Projeção Pública dos Intelectuais Vinculados
ao Debate Educacional no Estado do Paraná nas Primeiras
Décadas do Século XX.................................................................197
Capítulo 10
Alessandro Augusto de Barros Façanha
A História das Ciências no Liceu do Ceará: Entre Atos e
Fatos – Denúncias do Professor Rodolfo Teófilo....................221
Capítulo 11
Mauro Castilho Gonçalves
Educação, Higiene e Eugenia no Estado Novo: as palestras
de Savino Gasparini transmitidas pela Rádio Tupi
(1939-1940)....................................................................................243
Capítulo 12
Dyeinne Cristina Tomé
Raquel Quadros
Maria Cristina Gomes Machado
O Papel Social da Mulher e da Família no pensamento do
intelectual Gustavo Capanema (1934-1945).............................271
Capítulo 13
Névio de Campos
Ensino Superior no Paraná: avanço da ação estatal
(1950-1970).....................................................................................287
Capítulo 14
João Paulo de Souza Silva
Entre expectativas e representações: a constituição da
Escola Experimental Maria Montessori (1952-1953)..............317
Capítulo 15
Renata Lourenço
Os “novos movimentos sociais” e a luta por educação dos
professores indígenas....................................................................337
Capítulo 16
Marcelo Pereira Rocha
A Equiparação dos Primeiros Estabelecimentos de Ensino
Secundário em Campo Grande...................................................361
Capítulo 17
Célia Maria Foster Silvestre
Movimento de professores Guarani e Kaiowá e suas lutas
por direitos.....................................................................................389
APRESENTAÇÃO
Foi com muito prazer que recebi o convite para fazer um
pequeno comentário à obra A História Intelectual: entre instituições
e letrados na historiografia brasileira. Em primeiro lugar, porque conheço e admiro o organizador da coletânea, Professor Diogo da
Silva Roiz, e parte dos autores, tendo inclusive participado, com
maior ou menor intensidade, dos seus processos de formação
como pesquisadores no campo da história. Em segundo lugar,
porque tenho dedicado minha carreira acadêmica ao tema da
história intelectual e dos intelectuais, logo a proposta contida
nesse livro muito me interessa. Para além do tema em comum,
agrada-me, sobremaneira, a concepção que balizou a seleção e a
organização dos textos, uma vez que estes combinam: por um
lado, a reflexão metodológica e, por outro, análises envolvendo
trajetórias intelectuais, redes de sociabilidade, processos de apropriação e de circulação de ideias, organização de instituições de
cultura, deslocamentos de sentidos e usos de conceitos normativos. Em síntese, temos aqui exemplos de diferentes enquadramentos de problemas que habitam as mentes dos historiadores
dedicados à interpretação da esfera intelectual da vida social.
A compreensão desse projeto editorial exige situar o lugar
dessa enunciação coletiva. Ou seja, o compartilhamento de uma
concepção de história intelectual e dos intelectuais que ressignificou a tradicional história das ideias, com seus procedimentos
muito mais filosóficos, do que históricos, reinserindo na cultura historiográfica problemas que, em tempos recentes, foram
relegados, tais como: o indivíduo, o evento, a curta duração, o
pensamento, as elites letradas, os intelectuais, etc. A reavaliação
dessas questões exigiu aproximá-las de dimensões contextuais
antes ignoradas ou trabalhadas ilustrativamente, particularmente
o cultural, o social e o político. Em outros termos, para citar a
já consagrada posição de Quentin Skinner, a história intelectual
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Diogo da Silva Roiz (Org.)
necessitou superar o textualismo da história da filosofia, que enclausura o texto ao círculo hermenêutico, sem adotar uma posição contextualista, que impõe de forma causal e mecânica o contexto aos textos que materializam os sentidos que caracterizam
os discursos políticos, científicos ou filosóficos1. Para isso, buscou-se inspiração nos estudos sobre o funcionamento da linguagem, formação dos sentidos, das práticas e das representações
sociais, sem observar rígidos limites disciplinares, transgredindo
fronteiras e produzindo, efetivamente, experiências de pesquisa
e de publicação que unem pesquisadores com formações e trajetórias diferenciadas.
Posto este contexto, que reúne premissas teóricas e comportamentos acadêmicos, identificamos o desafio que esta coletânea
e outras que estão circulando encontram pela frente: escrever, a
um só tempo, a história intelectual e dos intelectuais, interpretando a singularidade dos seus problemas, da mesma forma que
os articulam a movimentos, tendências e cenários mais amplos,
evitando tanto o determinismo do contextualismo, como o a-historicismo do textualismo. A ideia é simples e, provavelmente,
todos nós já a formulamos em alguma medida e circunstância.
Sendo assim, o problema é passar dessa condição de formulação
abstrata para a estruturação da narrativa histórica. Para isso, não
existe, a priori, fórmula ou método que conduza o historiador
ao porto seguro, pois seguir os preceitos do contextualismo linguístico ou da história dos conceitos, para citar apenas duas das
teorias em voga no campo, não garante o sucesso do empreendimento. A narrativa histórica segue como uma artesania que
depende da maestria do seu produtor, de maneira que boa teoria
pode resultar em péssima história; da mesma maneira que teorias
heuristicamente limitadas, em boas mãos, podem render bons
frutos. A rigor, tudo depende da competência do intérprete que,
1. Para a compreensão da crítica de Q. Skinner ao textualismo e ao contextualismo
ver, deste autor, Meaning and understanding in the History of Ideas. History and
Theory, v. 8, n. 1, p. 3-53, 1969.
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A História Intelectual: Entre instituições e letrados na historiografia brasileira
imaginando, testando hipótese, contrastando suas fontes e problemas com as teorias disponíveis, encontra um caminho plausível e intersubjetivamente compartilhado para estruturar a sua
narrativa, despertando interesse, encontro de horizontes, críticas
ou indiferença. Da minha parte, a obra que nesse momento vai a
público, à exceção da indiferença, suscita interesse, convergência
e, claro, críticas pontuais em relação às análises apresentadas.
Bem ... são estas poucas e desarrumadas palavras que dedico a esta coletânea tão promissora, não que ela não mereça
uma análise mais detalhada, mas sim porque não acredito em
apresentações que antecipem ao leitor conclusões pretensamente definitivas.
Se o mundo social é o espaço do sentido, somos todos intérpretes, logo, sigamos então para a leitura.
Carlos Eduardo Vieira 2
Curitiba, verão de 2014
2. Carlos Eduardo Vieira é pesquisador do CNPQ, professor do Programa de PósGraduação em Educação, Linha de Pesquisa História e Historiografia da Educação,
da Universidade Federal do Paraná, atuando como coordenador do Grupo de Pesquisa História Intelectual e Educação (GPHIE) e do Núcleo de Estudos e Pesquisas História, Educação e Modernidade (NEPHEM). E-mail: [email protected].
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PREFÁCIO
Este primeiro volume do projeto “História intelectual, instituições e letrados na historiografia brasileira”, dirigido por Diogo Roiz,
propõe uma fascinante viagem pelos meandros da História Intelectual: nele destaca-se os resultados da aplicação pragmática dos
métodos da História dos Intelectuais e da História Intelectual.
Há neste volume exemplos de História dos Intelectuais. Este
é o caso de Diogo Roiz, ao mostrar que a dialética entre o “intelectual-letrado” (autodidata) e o “letrado-intelectual” (historiador
profissional) foi a base para a formação do “homo academicus”
no campo da pesquisa histórica brasileira a partir de 1930. Para
chegar a tal constatação Diogo Roiz delimita o campo de trabalho de duas gerações de intelectuais paulistas: dois professores da
USP, Alfredo Ellis Jr. e Sérgio Buarque de Holanda. Mostra assim
a passagem do autodidatismo do “homem de letras”, os “historiadores por vocação” (Alfredo Ellis Jr.), para a profissionalização
do historiador como “pesquisador profissional”, exemplificado
pela trajetória de Sérgio Buarque de Holanda. Tal processo teve
seu auge entre 1930 e 1950, com a criação dos primeiros cursos
de Geografia e História e de universidades no Brasil.
Luiz Oliveira, João Santos e Natália Oliveira fazem também
um tipo de História dos intelectuais. Os autores procuram situar
“Abílio Cesar Borges e a instrução da criança do século XIX”
no contexto do segundo Reinado. Como teria esse erudito do
século XIX, que recebeu a comenda de Barão de Macahúbas,
abordado o problema da educação para crianças?
A concepção pedagógica do Barão buscou novos recursos,
como selecionar os melhores professores para educar os filhos
da aristocracia. O Barão sintetizou suas ideias em livro ainda hoje
raro: A Lei nova do ensino infantil, 1884, Bruxelas. A obra questiona
a memorização por prejudicar a expressão, a criatividade, e até
mesmo a saúde. Pois a memorização acarretaria a imobilidade, a
11
Diogo da Silva Roiz (Org.)
inferioridade, o desânimo, e a falta de interesse. No livro o Barão
defende o sentir livre da criança e sua iniciativa em dialogar com
o professor, explorando sua criatividade, reflexão, método que
despertaria a curiosidade dos alunos.
João Paulo Silva reconstrói a trajetória intelectual da educadora Eny Caldeira. O autor analisa a criação da Escola Experimental Maria Montessori (1952), exemplo de modernização e
ensino rural em Curitiba. A professora Eny Caldeira e seus pares
aproveitaram-se da modernização econômico-cultural do pós-guerra, e buscaram uma educação moderna como modelo para
a Escola Experimental Maria Montessori. Eny Caldeira, com
passagem pela USP e pelos centros educacionais europeus, defendeu a educação como mecanismo de superação das carências
dos indivíduos pobres, excluídos dos seus direitos pela desigualdade perpetuada pelo próprio Estado.
Também nesse caso está o estudo de Névio de Campos que
discute a ação de uma geração de intelectuais e grupos políticos
para organizar o ensino superior no interior do Paraná, entre
1950 e 1970. A peculiaridade daqueles anos é de que existiu uma
ênfase no ensino superior estatizado (faculdades e universidades), conforme pode ser observado no processo de federalização de instituições privadas. No Estado do Paraná, a partir dos
anos de 1950, foram criadas inúmeras faculdades estaduais. Já
no final da década de 1960 surgiram as três primeiras universidades estaduais. A própria federalização da antiga Universidade
do Paraná (UP) foi defendida sob a alegação de que a iniciativa particular não apresentava força para expandir o alcance do
ensino superior. A interiorização do ensino universitário estava
associada ao avanço das ações do Estado, seja federal ou estadual. As faculdades e universidades estaduais devem ser compreendidas no contexto do desenvolvimentismo em forma de
intervenção do Estado no mundo social. Tal interiorização do
ensino superior é resultante da ação e militância dos intelectuais
paranaenses. Trata-se de uma ativa geração de personagens que
12
A História Intelectual: Entre instituições e letrados na historiografia brasileira
protagonizaram a criação de inúmeros centros de cultura e ocupavam funções públicas no magistério, na magistratura ou em
outras esferas do Estado. Essa camada social que, além de estar
organicamente imbricada aos grupos políticos, “compartilhava
ideais que elegiam instituições culturais como lócus específicos
para viabilizar o processo histórico de formação de um ethos
condizente com os novos tempos e enxergava nesses espaços
como estratégicos para distinguir-se dos demais estratos sociais
e projetar-se como principais agentes da sociedade”.
O livro também traz reflexões da perspectiva da Historia
Intelectual. Fabricio Deffacci, por exemplo, procura reconstruir
o contexto intelectual de Karl Mannheim através do conceito
de crise. Deffacci parte da constatação que a “alteração no sentido da história ocupa um espaço privilegiado no pensamento de
[Karl] Mannheim”, uma vez que Mannheim se vê pressionado
pelo contexto de crise do início do século XX. Para Mannheim,
o historicismo tornou-se o princípio que organiza a reflexão intelectual e as ciências culturais. Diante da perda dos referenciais
humanistas da tradição, a crise serve para restabelecer a capacidade de atuação dos intelectuais.
Cássio Guilherme propõe uma espécie de biografia intelectual de Antonio Gramsci, ao tratar da recepção, interpretação e
“usos” do pensamento de Gramsci pela academia e pelos comunistas brasileiros no século XX. A recepção de Gramsci é dividida em três períodos: 1] Uma fase “pré-histórica” entre 19201965; 2] Da tímida introdução do pensamento gramsciano no
PCB, ate a tradução por Carlos Nelson Coutinho, dos “Cadernos
do Cárcere” (1940-1966). 3] Com o declínio da ditadura, no fim de
1970 Gramsci passa a ser referência.
No final dos anos 1950 a Revista Brasiliense rompeu a
interpretação do PCB, dialogando com outros intérpretes,
notadamente argentinos, como Hector Agosti. A década de
1960 foi a época de “vários marxismos”, dentre eles o Gramsci
dos Cadernos do Cárcere (mas a leitura italiana de Togliatti o
13
Diogo da Silva Roiz (Org.)
interpretava como discípulo e continuador de Lênin). Mas somente em 1980 há difusão do “Eurocomunismo” de Enrico
Berlinguer e do PC italiano. Carlos Nelson Coutinho escreve,
em A democracia como valor universal: “Antonio Gramsci … lança
as bases para uma refundação da teoria marxista da transição
ao socialismo, colocando a questão democrática no centro
dessa transição”. Na redemocratização talvez a repercussão
de Gramsci tenha sido maior na academia que em partidos
políticos (como o PT), numa perspectiva que situava Gramsci
entre liberalismo e socialismo (Weffort).
Fábio Herrig também propõe um estudo no âmbito da
biografia intelectual em “Hernâni Donato e o caráter social da
literatura brasileira”. O autor privilegia a relação da literatura
de Hernâni Donato com a cultura brasileira. Trata-se de uma
produção literária de caráter social, isto é, os tipos e heróis de
Hernâni Donato representam aquele ser a quem roubaram
horizontes, mas que aspira a ser íntegro numa sociedade que
o mutila. É a história literária do Brasil das minorias e seus
problemas, o Brasil erigido sobre o sangue e o suor do trabalhador, aqueles que já não têm esperanças.
Paulo Júnior, Janaína Maia e Regina Nascimento, em “A pesquisa histórica através de Michel Foucault”, propõem um estudo
de importação e adaptação de conceitos. Fazem uma análise de
como o pensamento de Foucault foi lido por Gilles Deleuze, e
salientam uma prática de pesquisa essencial para a historiografia.
Deleuze lê a obra de Foucault em três momentos: a arqueologia, a genealogia e a subjetividade. Ou, nas palavras de Deleuze,
o que posso saber, o que posso fazer, e quem sou eu. Deleuze pensa enunciados e conceitos, ou seja, a relação das palavras
com a história. A reflexão sobre os enunciados tira o foco do
óbvio e do evidente mostrando a interpretação histórica como
uma constante luta, como uma guerra. Os enunciados são, antes
de tudo, palavras que compõem textos, são sempre o motor da
história. O manusear das palavras recebe uma nova imagem por14
A História Intelectual: Entre instituições e letrados na historiografia brasileira
que a relação significado e significante é quebrada, em favor de
inúmeros significados numa rede sem fim.
Já Alessandro Façanha faz um estudo de caso da trajetória
intelectual de Rodolfo Teófilo, professor de História da Ciência
do Liceu do Ceará no início do século XX. Trata-se de erudito,
farmacêutico e inventor (erradicou a varíola no Ceará) que foi
perseguido pelos clãs cearenses pelo seu espírito crítico e livre.
Federico Cavanna faz um estudo de História dos conceitos
com base em Koselleck, em “O conceito de Laicidade no Uruguai” do século XX. Cavanna mostra que o significado de laicidade sofre uma inflexão no contexto da ditadura militar-civil
Uruguaia (1973-1985), quando passa a adquir um sentido reacionário. Ainda no início de 1970 as características “ilustradas”, republicanas e anticlericais do conceito de laicismo perdem preeminência. Laico passa a ser tudo aquilo que não é, ou não pareça
ser, marxismo. O sentido de neutralidade religiosa do conceito
não desaparece, mas começa a ser compartilhado com o “antimarxismo” (sentidos que permanecem ainda hoje).
Renata Lourenço também trabalha inflexões de sentido do
conceito de “novos movimentos sociais”. A definição de movimentos sociais na América Latina das ditaduras dos anos 1970
foi centrada em lutas histórico-nacional-populares. Com o fim
das ditaduras, a. tomada revolucionária do poder por um partido
cedeu lugar à análise da hegemonia e da possibilidade de criação de uma “vontade coletiva nacional popular”. (Passou-se a
utilizar autores como Gramsci, Laclau, Casanova, Portantiero e
Wefort.) Cultura e identidade passaram a ser o sentido dos novos
movimentos sociais dos anos 1980-1990. Passou-se a articular o
macro e o micro, o local e o global, o espaço de pluralismo social
e cultural na intercomunicação das diversidades (étnicas, raciais,
culturais), as redes de movimentos. Das lutas da sociedade civil
surge o conceito de cidadania coletiva, isto é, favelados, mães,
excluídos do campo, homossexuais, mulheres, ecologistas, grupos étnicos e povos indígenas.
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