INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA CAMPUS EUNÁPOLIS DEPARTAMENTO DE ENSINO - DEPEN COLEGIADO DE MATAMÉTICA –COMAT GIVALDO SOARES DOS SANTOS FILHO O Teorema de Hahn-Banach e aplicações em espaços separáveis Eunápolis 2012 GIVALDO SOARES DOS SANTOS FILHO O Teorema de Hahn-Banach e aplicações em espaços separáveis Monogra…a apresentada ao Curso de Licenciatura em Matemática do IFBA/Campus Eunápolis como requisito parcial para obtenção do grau de licenciado emMatemática, elaborada sob a orientação do Prof. Ms. Marcos dos Santos Ferreira Eunápolis 2012 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA CAMPUS EUNÁPOLIS DEPARTAMENTO DE ENSINO - DEPEN COLEGIADO DE MATAMÉTICA –COMAT O Teorema de Hahn-Banach e aplicações em espaços separáveis por Givaldo Soares dos Santos Filho Apresentação da monogra…a para o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do diploma de Licenciado em Matemática. Prof. Ms. Marcos dos Santos Ferreira - IFBA (Orientador) Prof. Ms. Alex Santana dos Santos - UFRB Prof. Ms. Claudemir Mota da Cruz - UESC Nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar, mas o que sai dele isso é que contamina o homem. (...) Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem. (Marcos 7 v.15;21-23) Agradecimentos A Deus pelo dom da vida. A minha mãe pelo seu ótimo papel como o meu anjo da guarda! As minhas irmãs que, devido as brigas de casa, …zeram da faculdade um recanto de paz! Ao meu pai. Aos meus professores especialmente ao Professor Adílson Correia por ter depositado fé em mim! Professor Marcos Ferreira pelas orientações que me encaminharam até aqui! Aos meus colegas especialmente a Eraldo Gonçalves, a minha eterna dupla! Elaine Santos, a minha companhia nas conversas de corredores! Resumo Neste trabalho apresentamos a demonstração, consequências e algumas aplicações de um dos resultados centrais da Análise Funcional: O Teorema de Hahn-Banach. Salientamos que a ferramenta, dentre algumas existentes, que iremos utilizar na demonstração será o Lema de Zorn. Além disso, apresentamos duas aplicações do referido teorema em espaços separáveis. Palavras-Chave: Lema de Zorn, Teorema de Hahn-Banach, Espaços Separáveis. Sumário Introdução 1 Preliminares 1.1 Espaços vetoriais normados 1.2 Operadores lineares . . . . . 1.3 Espaços de sequências . . . 1.4 Espaços separáveis . . . . . 8 . . . . 9 9 13 20 28 2 O Teorema de Hahn-Banach 2.1 Lema de Zorn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 O Teorema de Hahn-Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3 Algumas aplicações em espaços separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . 32 32 33 40 Indicação de estudos 43 Referências Bibliográ…cas 45 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Introdução O Teorema de Hahn-Banach é um dos resultados centrais da Análise Funcional assim como os Teoremas de Banach-Steinhaus, da Aplicação Aberta e do Grá…co Fechado. O foco deste trabalho será apresentar e demonstrar o Teorema de Hahn-Banach trazendo algumas consequências e aplicações. O tema do trabalho faz parte da Análise Funcional. A grosso modo, a Análise Funcional é a junção de conceitos da Álgebra Linear, Análise e Topologia e é o ramo da matemática que estuda os espaços de funções. Esta teve sua origem no século XX decorrente a vários problemas envolvendo equações diferenciais e integrais, os quais requeriam o uso de espaços vetoriais de dimensão in…nita. O seu desenvolvimento se deve aos trabalhos de S. Banach (1892 - 1945), M. Fréchet (1878 - 1973), E. Helly (1884 - 1943), D. Hilbert (1862 - 1943), F. Riesz (1880 - 1956), E. Schmidt (1876 - 1959) dentre outros. Hans Hahn (1879 - 1934) e Stefan Banach demonstraram o teorema, separadamente, nos anos 1922 e 1923, respectivamente. Hahn utilizou ordinais para demonstrar o teorema, enquanto Banach usou a boa-ordenação e a indução trans…nita como ferramenta para a demonstração. Neste trabalho, usaremos o Lema de Zorn como ferramenta na demonstração do Teorema de Hahn-Banach. Toda a pesquisa do trabalho foi realizada através de revisões bibliográ…cas em um estudo de…nido por Fiorentini e Lorenzato [3] como metanálise, no qual os documentos pesquisados como livros, trabalhos acadêmicos e artigos cientí…cos, foram estudados visando apresentar uma síntese dos conceitos que fundamentam o Teorema de HahnBanach. O trabalho será exposto ao longo de três capítulos. No capítulo inicial, trataremos dos conceitos que determinam os espaços de Banach. Discutiremos também resultados que serão importantes para o desenvolvimento deste trabalho como os espaços normados, espaços de sequências e separáveis, além de demonstramos alguns dos principais resultados referentes a estes conceitos. No segundo capítulo, apresentamos a demonstração do teorema central do nosso trabalho, precedido do Lema de Zorn e seguido de algumas aplicações em espaços separáveis. Por …m, concluiremos o trabalho dando algumas indicações de estudos baseado no artigo de Narici e Beckenstein [7]. O trabalho teve como principal referência as notas de aulas do professor Pellegrino [9] e o trabalho de monogra…a de Aguiar [1]. No entanto, resultados de Análise Real, Espaços Métricos e Topologia foram obtidos dos livros de Lima, [5] e [6], Kreyszig [4], Coelho [2] e Oliveira [8]. 8 Capítulo 1 Preliminares 1.1 Espaços vetoriais normados De…nição 1.1.1 Sejam E um conjunto não-vazio e K um corpo, que denotará R ou C. De…nimos em E as seguintes operações: +:E :K E ! E; (x; y) 7! x + y (soma de vetores) E ! E; ( ; x) 7! x (multiplicação por escalar). Diz-se que (E; +; K) é um espaço vetorial sobre K se, para x; y; z 2 E e ocorrer: ; 2 K, 1. (x + y) + z = x + (y + z); 2. x + y = y + x; 3. x + 0 = x; 4. x + ( x) = 0; 5. ( )x = ( x); 6. 1x = x; 7. ( + )x = x + x; 8. (x + y) = x + y: Por convenção, chamamos os elementos de um espaço vetorial E de vetores e os elementos do corpo K de escalares. De…nição 1.1.2 Sejam fx1 ; x2 ; : : : ; xn g e f 1 ; 2 ; : : : ; n g subconjuntos de E e K; respectivamente. Se para toda combinação linear de vetores nula n X i xi i=1 9 =0 1.1. ESPAÇOS VETORIAIS NORMADOS tivermos todos i nulos, dizemos que fx1 ; x2 ; : : : ; xn g é linearmente independente (li). Se pelo menos um i for não nulo, então dizemos que fx1 ; x2 ; : : : ; xn g é linearmente dependente (ld). De…nição 1.1.3 Seja E um espaço vetorial sobre K. Uma norma em E é uma função jj jj : E ! R que satisfaz as seguintes propriedades: 1. jjxjj 0; para todo x em E; e jjxjj = 0 , x = 0; 2. jj xjj = j jjjxj; j para todos 3. jjx + yjj em K e x em E; jjxjj + jjyjj para todos x; y em E: Um espaço vetorial munido de uma norma será chamado de espaço vetorial normado (evn). Um evn pode ser sempre considerado um espaço métrico, com a métrica induizida pela norma, isto é d(x; y) = jjx yjj: Dizemos que uma seqüência (xn )1 n=1 em um espaço métrico M converge para x quando lim d (xn ; x) = 0: Neste caso, escrevemos xn ! x: É claro que podemos garantir n!1 a convergência se lim d(xn ; x) = 0. n!1 De…nição 1.1.4 Uma sequência (xn )1 n=1 em um espaço métrico M é de Cauchy se dado " > 0; existe n0 2 N tal que n; m n0 ) d (xn ; xm ) < ": Não há di…culdades mostrar que em espaços métricos, toda sequência convergente é de Cauchy. A recíproca, porém, desse fato não necessariamente é verdadeira. Isso nos motiva a seguinte de…nição: De…nição 1.1.5 Um espaço métrico M é dito ser completo se toda sequência de Cauchy for convergente no espaço (isto é, seu limite é um elemento de M ). Observação 1.1.6 Como em R uma sequência é convergente se, e só se, é de Cauchy, segue-se que R é completo. De…nição 1.1.7 Um espaço de Banach é um evn que é completo com a métrica induzida pela norma. Proposição 1.1.8 Kn é um espaço de Banach. 10 1.1. ESPAÇOS VETORIAIS NORMADOS Demonstração: Mostraremos apenas que Rn é Banach. O caso K = C é análogo. n Seja (xm )1 m=1 uma sequência de Cauchy em R : Observe que os elementos xm podem serem escritos da forma (1) (1) (2) (2) x1 = x1 ; x2 ; : : : ; x(1) n x2 = x1 ; x2 ; : : : ; x(2) n .. . (m) (m) xm = x1 ; x2 ; : : : ; x(m) : n .. . Como (xm )1 m=1 é de Cauchy, dado " > 0 existe n0 2 N tal que s n P (r) (m) xj m; r n0 ) jjxm xr jj = xj 2 <": (1.1) j=1 Elevando a desigualdade anterior ao quadrado, obtemos n X (m) (xj (r) xj )2 < "2 j=1 sempre que m; r n0 : Em particular, para cada j = 1; : : : ; n …xo, temos (m) (xj para m; r (r) xj )2 < "2 n0 , donde (m) xj (r) xj (m) < ": (1.2) De (1.2), segue que (xj )1 m=1 é uma sequência de Cauchy de números reais e portanto (m) convergente. Seja xj = limm!1 xj : Considere agora x = (x1 ; : : : ; xn ) o vetor formado (m) pelos limites das n sequências (xj )1 m=1 : 11 1.1. ESPAÇOS VETORIAIS NORMADOS Fazendo r ! 1 em (1.1) obtemos lim kxm " n P = lim r!1 = = = sempre que m xr k r!1 " " " j=1 lim 1 2 (m) (xj n P r7 !1 j=1 n P (m) (xj (m) lim (xj j=1 r!1 n P j=1 = kxm (m) xj )2 (xj (r) xj )2 (r) xj )2 (r) xj )2 # 21 # 21 # 12 xk n n0 : Isso mostra que (xm )1 m=1 converge para x 2 R : Veremos adiante que todo evn de dimensão …nita é completo. Para tanto, precisamos do seguinte lema técnico: Lema 1.1.9 Para um conjunto li fx1 ; x2 ; : : : ; xn g de vetores em um evn E, existe um número real c > 0 tal que, para qualquer escolha de escalares a1 ; a2 ; : : : ; an vale a desigualdade ka1 x1 + : : : + an xn k c (ja1 j + : : : + jan j) : (1.3) Demonstração: Por simplicidade, faremos v = ja1 j+: : :+jan j. Sendo assim, se v = 0 o resultado é imediato. Logo, vamos supor v > 0. Então, fazendo bj = aj =v, para cada j = 1; : : : n, provar (1.3) equivale provar a existência de c > 0 tal que para quaisquer escalares b1 ; : : : ; bn tem-se jjb1 x1 + : : : + bn xn jj c; (1.4) onde n X j=1 jbj j = j an 1 a1 j + : : : + j j = (ja1 j + : : : + jan j) = 1: v v v Suponha, por absurdo, que isso não ocorra. Dessa forma teríamos (1) (1) (1) Para c1 = 1; existem b1 ; : : : ; b(1) n tais que jjb1 x1 + : : : + bn xn jj < 1 1 1 (2) (2) (2) Para c2 = ; existem b1 ; : : : ; b(2) n tais que jjb1 x1 + : : : + bn xn jj < 2 2 .. . Para cm = 1 1 (m) (m) ; existem b1 ; : : : ; b(m) tais que jjb1 x1 + : : : + b(m) : n n xn jj < m m .. . 12 1.2. OPERADORES LINEARES (m) (m) Seja a sequência ym = b1 x1 + + bn xn : Observe que, para cada m 2 N, Pn (m) (m) = 1 e que kym k ! 0: Dessa forma, para cada j, jbj j 1: Isso mostra que j=1 bj (m) (1) (2) cada sequência (bj ) = (bj ; bj ; : : :) é limitada, e portanto, pelo teorema de BolzanoWeierstrass, possui uma subsequência convergente. Seja c1 o limite da subsequência (m) 1 1 (b1 )1 m=1 . Chame (y1 ;m )m=1 a subsequência correspondente de (ym )m=1 : Procedendo dessa forma n vezes, obtemos uma subsequência yn ;m = n X (m) dj xj ; com j=1 (m) e, para cada j, lim dj m7 !1 n X j=1 (m) jdj j = 1 = cj : Portanto, (m) lim yn ;m = lim (d1 x1 + : : : + d(m) n xn ) m!1 m!1 (1.5) (m) = lim d1 x1 + : : : + lim d(m) n xn m!1 m!1 = c1 x1 + : : : + cn xn := y: Veja que n X j=1 jcj j = lim m!1 n X j=1 (m) jdj j = lim 1 = 1: Assim, nem todos os cj são nulos e, m!1 como fx1 ; x2 ; : : : ; xn g é li, segue que y= n X j=1 cj xj 6= 0: (1.6) Segue de (1.5) que lim jjyn ;m jj = jjyjj: m!1 (1.7) 1 De (1.7) e dos fatos de kym k ! 0 e (yn ;m )1 m=1 ser subsequência de (ym )m=1 temos que jjyjj = 0: Mas isso contradiz (1.6). Logo, existe c > 0 que satisfaz a desigualdade (1.4) para quaisquer escalares b1 ; : : : ; bn : 1.2 Operadores lineares De…nição 1.2.1 Sejam E e F espaços vetoriais sobre K. Uma aplicação T : E ! F é um operador linear (ou transformação linear) se T (x + y) = T (x) + T (y); 8 2 K; 8x; y 2 E: O conjunto formado por todos operadores lineares de E em F é denotado por L(E; F ). Se F = K, dizemos que T é um funcional linear sobre F e denotamos L(E; F ) por E ou E 0 : Chamamos E 0 o espaço dual ou dual de E. 13 1.2. OPERADORES LINEARES De…nição 1.2.2 Sejam E e F espaços vetoriais normados sobre K e T : E ! F um operador linear. De…nimos a norma de T por jjT jj = supfjjT (x)jj; jjxjj 1g: No Exemplo 1.2.13 veremos que L(E; F ) é um evn com a norma dada acima. Se jjT jj < 1, dizemos que T é limitado. De…nição 1.2.3 Sejam E e F espaços vetoriais normados sobre K e T : E ! F um operador linear. Dizemos que T é contínuo em x0 2 E se, para cada " > 0 existir > 0 tal que jjx x0 jj < ) jjT (x) T (x0 )jj < ": Proposição 1.2.4 A norma em um evn é uma função contínua. Demonstração: veja que Sejam (E; k k) um evn e x0 2 E qualquer. Dados " > 0 e x 2 E d (x; x0 ) < ) kx x0 k < ; d (kxk ; kx0 k) = kkxk kx0 kk kx donde x0 k < := "; o que mostra o resultado. O conjunto formado por todas as transformações lineares contínuas de E em F é denotado por L(E; F ). De…nição 1.2.5 Sejam E e F espaços vetoriais normados. Se existir um operador T : E ! F bijetivo, contínuo e com inversa contínua dizemos que E e F são topologicamente isomorfos (isomorfos). Neste caso, dizemos que T é um isomor…smo topológico (isomor…smo) de E em F: Quando o isomor…smo for tal que kT (x)k = kxk ; 8x 2 E, dizemos que E e F são isometricamente isomorfos e que T é uma isometria. Exemplo 1.2.6 O operador identidade de qualquer evn é uma isometria. Proposição 1.2.7 Sejam E e F espaços vetoriais normados sobre K. Dado T 2 L(E; F ), as seguintes a…rmações são equivalentes: (i) T é contínuo. (ii) T é contínuo na origem. (iii) T é limitado. 14 1.2. OPERADORES LINEARES Demonstração: (i) ) (ii) É obvio. (ii) ) (iii) Suponha que (iii) não ocorra. Então, sendo BE a bola unitária fechada de E, temos Para c1 = 1; 9 x1 2 BE ; jjT (x1 )jj > 1 Para c2 = 2; 9 x2 2 BE ; jjT (x2 )jj > 2 .. . Para ck = k; 9 xk 2 BE ; jjT (xk )jj > k: .. . k, para cada Dessa forma, existe uma sequência (xk )1 k=1 em BE tal que jjT (xk )jj xk k 2 N. Considere zk = jjT (xk )jj . Então lim zk = 0, pois xk é limitado e jjT (x1 k )jj ! 0: k!1 Temos ainda jjT (zk ) T (0)jj = jjT (zk )jj = jjT ( xk 1 1 )jj = jj T (xk )jj = jjT (xk )jj = 1; jjT (xk )jj jjT (xk )jj jjT (xk )jj o que fere a continuidade de T na origem. (iii) ) (i) A…rmamos que jjT (x)jj jjT jjjjxjj para todo x em E: Com efeito, se x = 0 não há o que provar. Suponha então x 6= 0. Assim jjT (x)jj x = jjT ( )jj jjxjj jjxjj jjT jj ) jjT (x)j jjT jjjjxjj: Seja jjT jj = c: Observe que, para x1 ; x2 2 E; temos jjT (x1 ) T (x2 )jj = jjT (x1 x2 )jj jjT jjjjx1 x2 jj = cjjx1 x2 jj; donde T é lipschtziana e portanto (uniformemente) contínua. Corolário 1.2.8 Todo operador linear cujo domínio tem dimensão …nita é contínuo. Demonstração: Sejam E; F espaços vetoriais normados com dim E = n e T : E ! F um operador linear. Considere = fe1 ; : : : ; en g uma base de E: Veja que ! n n n n P P P P jjT (x)jj = T aj ej = aj T (ej ) jaj j kT (ej )k max kT (ek )k jaj j: j=1 j=1 j=1 1 k n j=1 Faça k = max kT (ek )k e observe que, pelo Lema (1.1.9), existe c > 0 tal que n P j=1 1 k n jaj j kxk =c. Logo kT (x)k k c kxk. Portanto kT k = sup kT (x)k jjxjj 1 k k k kxk = sup kxk = ; c jjxjj 1 c 1 c sup jjxjj 15 1.2. OPERADORES LINEARES e o resultado segue. Duas normas k k1 e k k2 em um espaço vetorial E são equivalentes se existirem constantes positivas c1 ; c2 tais que c1 kxk1 kxk2 c2 kxk1 ; 8x 2 E: Como consequência do corolário anterior, veremos a seguir que quaisquer normas em um espaço vetorial de dimensão …nita são equivalentes. Corolário 1.2.9 Se E é um espaço vetorial normado de dimensão …nita, quaisquer duas normas são equivalentes. Demonstração: Sejam k k1 e k k2 normas em E. Considere a aplicação identidade id : (E; k k1 ) ! (E; k k2 ) Como id é bijetiva e o domínio e contradomínio tem dimensão …nita, tem-se que id e id 1 são contínuas. Daí, existem c1 ; c2 constantes tais que kid (x)k2 c1 kxk1 e id 1 (x) 1 c2 kxk2 : Logo 1 kxk1 c2 kxk2 c1 kxk1 : Veremos agora que quaisquer espaços vetoriais normados de mesma dimensão (…nita) são isomorfos. Corolário 1.2.10 Sejam n 2 N, E e F espaços vetoriais normados sobre K com dim E = dim F = n. Nessas condições E e F são isomorfos. Demonstração: Sejam B = fe1 ; : : : ; en g e C = ff1 ; : : : ; fn g bases de E e F , respectivamente. De…na T : E!F : ej 7! fj A…rmação 1. T é linear. De fato, para u; v 2 E e 2 K temos T ( u + v) = T ( ( 1 e1 + : : : + n en ) + ( 1 e1 + : : : + n en )) = T (( 1 + 1 )e1 + : : : + ( n + n )en ) = T (( 1 + 1 )e1 ) + : : : + T (( n + n )en ) = T ( 1 e1 ) + T ( 1 e1 ) + : : : + T ( n en ) + T ( n en ) = T ( 1 e1 ) + : : : + T ( n en ) + T ( 1 e1 ) + : : : + T ( n en ) = T ( 1 e1 + : : : + n en ) + T ( 1 e1 + : : : + n en ) = T (u) + T (v): 16 1.2. OPERADORES LINEARES A…rmação 2. T é injetiva. Sejam u; v 2 E tais que T (u) = T (v): Assim T ( 1 e1 + : : : + n en ) = T ( 1 e1 + : : : + n en ) 1 T (e1 ) + : : : + n T (en ) = 1 T (e1 ) + : : : + n T (en ) 1 f1 + : : : + n fn = 1 f1 + : : : + n fn : Como ff1 ; : : : ; fn g é li e ( 1 1 )f1 + ::: + ( n )fn n = 0; segue que 1 = 1; : : : ; n = n; donde u = v: A…rmação 3. T é sobrejetora. De fato, se y 2 F então y = 1 f1 + : : : + n fn = 1 T (e1 ) + : : : + n T (en ) = T ( 1 e1 + : : : + n en ) = T (x); onde x 2 E. A…rmação 4. T e T 1 são contínuas. Como dim E = dim F = n, pelo Colorário (1.2.8), a a…rmação está provada. Portanto, E e F são isomorfos. Teorema 1.2.11 Sejam E e F espaços vetoriais normados com E completo. T : E ! F é um isomor…smo, então F é completo. Se Demonstração: Seja (xn )1 n=1 uma sequência de Cauchy em F . Considere yn = 1 T (xn ) ; 8n 2 N. 1 A…rmação 1. (yn )1 n=1 é uma sequência de Cauchyem E. Como (xn )n=1 é de Cauchy, dado " > 0 existe n0 2 N tal que n; m n0 ) kxn xm k < ": Veja que kyn ym k = T 1 (xn ) T = T 1 (xn xm ) T 1 T 1 kxn ": 1 (xm ) xm k Como T 1 é contínua, segue que (yn )1 n=1 é de Cauchy e portanto convergente. Seja y o limite em questão. A…rmação 2. xn é convergente. De fato, como yn ! y e T é contínua, segue que T (yn ) ! T (y), donde xn ! T (y) 2 F: O resultado segue. 17 1.2. OPERADORES LINEARES Corolário 1.2.12 Todo evn de dimensão …nita sobre K é um espaço de Banach. Demonstração: Seja E um evn sobre K com dim E = n. Pelo Colorário (1.2.10), E é isomorfo a Kn . Usando o teorema anterior e o fato de Kn ser Banach temos o resultado. Exemplo 1.2.13 L(E:F ) é um evn com a norma kT k = supfjjT (x)jj; jjxjj 1g: De fato, é fácil mostrar que L(E:F ) é um espaço vetorial. Resta-nos mostrar que kT k = supfjjT (x)jj; jjxjj 1g é norma. Sejam T1 ; T2 2 L(E:F ) e 2 K. Observe que (i) kT k 0; 8T 2 L(E:F ). Agora, se T = 0 é claro que kT k = 0. Por outro, se kT k = 0 então sup kT (x)k = 0 ) T (x) = 0; 8x 2 BE : kxk 1 Assim, T x kxk =0) 1 T (x) = 0 ) T (x) = 0; 8x 2 E: kxk (ii) k T1 k = sup k T1 (x)k = sup j j kT1 (x)k = j j sup kT1 (x)k = j j kT1 k. (iii) kxk 1 kxk 1 kxk 1 kT1 + T2 k = sup k(T1 + T2 ) (x)k kxk 1 sup kT1 (x)k + sup kT2 (x)k kxk 1 kxk 1 = kT1 k + kT2 k : Exemplo 1.2.14 Se E é um evn e F Banach, então L(E:F ) é um espaço de Banach. Seja (Tn )1 n=1 uma sequência de Cauchy em L(E:F ). Assim, dado " > 0 existe n0 2 N tal que n; m n0 ) kTn Tm k < ": Daí, observe que n; m n0 ) (Tn Tm ) x kxk kTn Tm k < " ) k(Tn Tm ) (x)k < " kxk ; 8x 2 E: (1.8) Logo, para cada x 2 E, (Tn (x))1 é uma sequência de Cauchy em F . Como F n=1 1 é Banach segue que (Tn (x))n=1 é convergente. De…na T : E ! F por T (x) = limn!1 Tn (x) : A…rmação 1: T é linear. De fato, se x; y 2 E e 2 K então T (x + y) = lim Tn (x + y) n!1 = lim (Tn (x) + Tn ( y)) n!1 = lim Tn (x) + n!1 = T (x) + T (y) 18 lim Tn (y) n!1 1.2. OPERADORES LINEARES A…rmação 2: T é limitada. Com efeito, como Tn (x) ! T (x), fazendo n ! 1 em (1.8) obtemos kTm (x) T (x)k " kxk , sempre que m kT (x)k n0 : Deste modo kT (x) Tn0 (x)k + kTn0 (x)k " kxk + kTn0 k kxk (" + kTn0 k) kxk : Passando sup na desigualdade anterior temos x2BE kT k sup [(" + kTn0 k) kxk] = " + kTn0 k ; x2BE donde kT k < 1: A…rmação 3: Tn ! T . De fato, lim kTn n!1 T k = lim sup k(Tn T ) (x)k n!1 x2BE = sup lim kTn (x) x2BE n!1 = sup x2BE lim Tn (x) n!1 = sup kT (x) T (x)k lim T (x) n!1 T (x)k = 0: x2BE Portanto L(E:F ) é Banach. O Corolário (1.2.8) a…rma que todo operador lineae de…nido num evn de dimensão …nita é contínuo. O próximo exemplo mostra que em dimensão in…nita o mesmo não ocorre: Exemplo 1.2.15 Para todo evn de dimensão in…nita E e todo evn F 6= f0g, existe um operador linear T : E ! F não contínuo. De fato, seja B uma base de E: Considere B 0 = fx1 ; x2 ; : : :g um subconjunto enumerável de B e y 2 F não nulo. De…na a seguinte aplicação y ; x 2 B0 n kyk : T : B ! F dada por T (x) := 0; x 2 B n B 0 É claro que T acima é linear. Agora veja que kT (xn )k = n ) sup kT (xn )k = 1; kxn k 1 donde kT k = 1: 19 1.3. ESPAÇOS DE SEQUÊNCIAS 1.3 Espaços de sequências Nesta seção veremos alguns espaços de Banach de dimensão in…nita cujos vetores são sequências. Para tanto, será necessário estudarmos alguns resultados precursores, a saber as desigualdades de Hölder e Minkowski. Daremos início demostrando um lema necessário para a prova da desigualdade de Hölder. Lema 1.3.1 Sejam a; b números reais positivos e p; q > 1 tais que ap bq Demonstração: Considere, para cada 0 < por f (t) = t t. Observe que f 0 (t) = t + 1 q = 1: Então a b + : p q 1 1 1 p < 1, a função f = f : (0; 1) ! R dada 1 = t 1 1 : Veja que f 0 (t) > 0; se 0 < t < 1 f 0 (t) < 0; se t > 1: Como f é derivável em t = 1, pelo Teste da 1a Derivada, segue que f tem um máximo local nesse ponto, isto é f (t) f (1) em algum intervalo contendo 1. Desse modo t Fazendo t = a b e t )t 1 + t; 8t > 0. 1 = p1 , obtemos 1 p a b a 1 + : p pb 1 Multiplicando b em ambos os lados da desigualdade anterior temos 1 ap b Como 1 q =1 1 ; p 1 p b 1 1 p b+ 1 a ) a p b1 p 1 p 1 1 p a b+ : p concluímos que 1 1 ap bq a b + : p q Teorema 1.3.2 (Desigualdade de Hölder) Sejam p; q > 1 tais que n 2 N. Então ! p1 ! 1q n n n P P P jyj jq jxj yj j jxj jp j=1 j=1 j=1 para quaisquer escalares xj ; yj com j = 1; : : : ; n. 20 1 p + 1 q = 1 e 1.3. ESPAÇOS DE SEQUÊNCIAS Demonstração: O caso em que que n P j=1 jxj jp 6= 0 e n P j=1 n P j=1 jxj jp = 0 ou 1 j=1 jxj jp jyj jq aj = P e bj = P n n p jxk j jyk jq temos que 1 jyj jq = 0 é trivial. Suponha então jyj jq 6= 0. Usando o Lema (1.3.1) com k=1 ajp bjq n P aj bj + ) p q k=1 n P jxj j 1 p jxk jp k=1 n P jyj j k=1 aj b j + : p q 1 q jyk jq Repetindo o procedimento acima e somando as n desigualdades, obtemos n P j=1 n P k=1 Observe que n X j=1 jxj j jyj j jxk jp aj b j + p q = 1 p n P k=1 n X aj p j=1 1 q jyk jq + n X j=1 : n X bj q j=1 1X 1X = aj + bj p j=1 q j=1 0 1 n aj b j + p q n 0 1 p C X B jyj jq C 1 XB B jxj j C + 1 B C = n n A q @P A p j=1 @ P p q j=1 jxk j jyk j n n k=1 = n P 1 j=1 n pP k=1 Logo n P j=1 o que prova o resultado. jxj j jyj j jxj jp k=1 n P 1 j=1 n qP + jxk jp n P k=1 k=1 p jxk j 21 1 p jyj jq 1 1 + = 1: p q = jyk jq n P k=1 q jyk j 1 q ; 1.3. ESPAÇOS DE SEQUÊNCIAS Teorema 1.3.3 (Desigualdade de Minkowski) Sejam n 2 N e p n P k=1 p 1 p jxk + yk j 1 P 1 p p k=1 jxk j + 1 P k=1 quaisquer que sejam os escalares xk ; yk com k = 1; : : : ; n. 1. Então 1 p p (1.9) jyk j Demonstração: Para p = 1 temos n X k=1 jxk + yk j = jx1 + y1 j + : : : + jxn + yn j (jx1 j + jy1 j) + : : : + (jxn j + jyn j) = (jx1 j + : : : + jxn j) + (jy1 j + : : : + jyn j) n n X X = jxk j + jyk j : k=1 k=1 Suponha agora p > 1. Pela desigualdade triangular, para mostrarmos (1.9) é su…ciente garantirmos n X k=1 Se n P k=1 p (jxk j + jyk j) ! p1 n X k=1 p jxk j ! p1 n X + k=1 p jyk j (jxk j + jyk j)p = 0; o resultado segue facilmente. Seja então ! p1 n P k=1 : (jxk j + jyk j)p > 0. Nosso objetivo aqui será utilizar a desigualdade de Hölder. Veja que (jxk j + jyk j)p = (jxk j + jyk j) (jxk j + jyk j)p p 1 = jxk j (jxk j + jyk j) Observe que p = (p 1 (1.10) p 1 + jyk j (jxk j + jyk j) : 1) q. De fato, 1 1 p+q + =1) = 1 ) p + q = pq ) p = pq p q pq Agora, fazendo em (1.10) ak = jxk j e bk = (jxk j + jyk j)p n P Hölder em jak bk j ; obtemos 1 q = (p 1) q: e aplicado a Desigualdade de k=1 n X k=1 jxk j (jxk j + jyk j)p n X 1 k=1 = n X k=1 jxk jp jxk jp ! p1 " ! p1 " 22 n X k=1 n X k=1 (jxk j + jyk j)(p (jxk j + jyk j)p 1)q # 1q : # 1q (1.11) 1.3. ESPAÇOS DE SEQUÊNCIAS De modo análogo, concluímos que n X k=1 jyk j (jxk j + jyk j)p n X 1 k=1 jyk jp ! p1 " Somando (1.11) e (1.12), obtemos 2 ! p1 n n X X + (jxk j + jyk j) (jxk j + jyk j)p 1 4 jxk jp k=1 k=1 Logo n P k=1 n P k=1 donde n P k=1 (jxk j + jyk j)p (jxk j + jyk j)p p n X 1 q k=1 (jxk j + jyk j) 1 p = n P k=1 (jxk j + jyk j)p x := (xj )1 j=1 Observe que xn = 1 n l2 = Nesse caso, temos que xn = 1 n (xj )1 j=1 1 q k=1 n X k=1 jyk jp + n X k=1 n X k=1 ! p1 3 " 5 p jyk j jxk jp ! p1 n X k=1 ! p1 + 1 P j=1 (jxk j + jyk j)p n X k=1 ) jxj j < 1 : 1 n2 2 l1 . Por outro lado, temos ) 1 P 2 RN ; jxj j2 < 1 : 2 l2 e yn = j=1 p1 n 23 2 = l2 . (1.12) : ; j=1 N (xj )1 j=1 2 R ; 2 = l1 , enquanto yn = ( ! p1 (jxk j + jyk j)p # 1q p < 1 de…nimos o conjunto ) 1 P 2 KN ; jxj jp < 1 : Exemplo 1.3.5 Se K = R; então ( l1 = jxk j 1 De…nição 1.3.4 Para cada p 2 R com 1 ( lp = p n X jyk jp ! p1 : # 1q : 1.3. ESPAÇOS DE SEQUÊNCIAS Observação 1.3.6 A Desigualdade de Hölder é ainda válida se n ! 1. De fato, tomando x; y 2 lp temos que 1 P j=1 donde 1 P j=1 jxj jp < 1 e jxj jp ! p1 1 P j=1 jyj jq < 1; 1 P <1e j=1 jyj jq ! 1q < 1: Dessa forma, fazendo n ! 1 na Desigualdade de Hölder, obtemos 1 P j=1 1 P jxj yj j j=1 p jxj j ! p1 1 P j=1 q jyj j ! 1q : Usando um raciocínio análogo, obtemos a Desigualdade de Minkowski para n ! 1. Proposição 1.3.7 Se 1 por p < 1, lp é um espaço vetorial normado com a norma dada (xj )1 j=1 1 P := p Demonstração: Tomando x; y 2 lp e j=1 jxj jp ! p1 (1.13) : 2 K, de…nimos 1 x + y = (xj )1 j=1 + (yj )j=1 = (x1 + y1 ; : : : ; xj + yj ; : : :) x= (xj )1 j=1 = ( x1 ; : : : ; xj ; : : :) : Mostraremos que as operações estão bem de…nidas. Inicialmente observe que, pela desigualdade de Minkowski, tem-se 1 X j=1 jxj + yj jp ! p1 1 X j=1 jxj jp ! p1 + 1 X j=1 jyj jp ! p1 < 1; donde x + y 2 lp . Por outro lado, veja que 1 X j=1 p p j xj j = j j 1 X j=1 jxj jp < 1 portanto x 2 lp . As propriedades de espaço vetorial não oferecem di…culdades. Provaremos agora que a função (1.13) é uma norma em lp . De fato, vejamos as condições: (i) É claro que (xj )1 j=1 p 1 > 0. Agora veja que, sendo (xj )1 j=1 = 0 temos (xj )j=1 24 = 0. p 1.3. ESPAÇOS DE SEQUÊNCIAS Por outro lado, se (ii) Veja que (xj )1 j=1 p P1 1 p p j=1 jxj j = ( xj )1 j=1 1 P = p P1 = 0 então j=1 j xj jp j=1 ! p1 jxj jp = 0 e portanto xj = 0; 8j 2 N. n P jxj jp j jp = j=1 ! p1 = j j (xj )1 j=1 : p (iii) Como 1 (xj )1 j=1 + (yj )j=1 p = (xj + yj )1 j=1 1 X = p j=1 jxj + yj jp ! p1 segue da Desigualdade de Minkowski que 1 (xj )1 j=1 + (yj )j=1 = p 1 P j=1 1 P j=1 jxj + yj jp jxj jp = (xj )1 j=1 ! p1 p ! p1 + 1 P j=1 jyj jp + (yj )1 j=1 ! p1 ; p o que prova o resultado. Proposição 1.3.8 Se 1 p < 1, então lp é um espaço de Banach. Demonstração: Seja (xn )1 n=1 uma sequência de Cauchy em lp . Consideremos a seguinte denotação x1 = (x11 ; x12 ; : : :) x2 = (x21 ; x22 ; : : :) .. . xn = (xn1 ; xn2 ; : : :) : .. . Como (xn )1 n=1 é de Cauchy, dado " > 0 existe n0 2 N tal que n; m n0 ) " > kxn x m kp = 1 X j=1 jxnj xmj jp ! p1 jxnj xmj j ; (1.14) para cada j 2 N: Dessa forma, para cada j, (xnj )1 n=1 é uma sequência de Cauchy em K. Como K é Banach, temos que cada (xnj )1 converge, digamos para yj 2 K. Seja j=1 25 1.3. ESPAÇOS DE SEQUÊNCIAS N x = (yj )1 j=1 2 K . Vamos mostrar que x 2 lp e xn ! x. De (1.14) segue, para cada N natural, que ! p1 N X < "; (1.15) jxmj xnj jp j=1 sempre que n; m n0 : Fazendo n ! 1 em (1.15), obtemos ! p1 N X "; jxmj yj jp j=1 para n; m n0 e todo N natural. Fazendo agora N ! 1; temos ! p1 1 X n; m n0 ) kxm xk = jxmj yj jp "; j=1 donde, xn ! x: Por outro lado, como xn0 x = xn0 (xn0 x); segue que x 2 lp . x e xn0 pertencem ao espaço vetorial lp e De…nição 1.3.9 Se p = 1, de…nimos o espaço vetorial l1 = N x := (xj )1 j=1 2 K ; sup jxj j < 1 j2N munida da norma kxk1 := sup jxj j : j2N Em l1 ; consideramos os seguintes subespaços c= j!1 (xj )1 j=1 x= 2 KN ; lim xj = 0 j!1 n 1 N = x = (xj )j=1 2 K ; xj = 0 para j c0 = c00 N x = (xj )1 j=1 2 K ; lim xj existe o n0 2 N : Exemplo 1.3.10 c é fechado em l1 : De fato, seja (xn )1 n=1 uma sequência em c tal que lim xn = x. Mostraremos que x 2 c: Primeiro cosideremos n!1 (1) (1) (2) (2) (n) (n) x 1 = x 1 ; x2 ; : : : x 2 = x 1 ; x2 ; : : : .. . x n = x 1 ; x2 ; : : : .. . 26 1.3. ESPAÇOS DE SEQUÊNCIAS e x = (x1 ; x2 ; : : :) :Como xn ! x; dado " > 0 existe n1 2 N tal que n (n) xj = kxn (n) xj < "; n1 ) sup xj j2N Logo, para cada j 2 N, temos sempre que n xj xk1 < ": (1.16) n1 . Isso mostra que cada sequência de escalares (n) (n) xj 1 converge n=1 (n) para xj : Por outro lado, como cada xn = x1 ; x2 ; : : : é convergente em K, e portanto de Cauhy, temos que existe n2 2 N de modo que k; j (n) (n) n2 ) xk xj (1.17) < ": Considerando n0 = max fn1 ; n2 g ; segue de (1.16) e (1.17) que k; j n0 ) jxk xj j xk (n0 ) xk (n0 ) + xk (n0 ) xj (n0 ) + xj xj < 3" Dessa forma, x = (xj )1 j=1 é uma sequência de Cauchy em K, donde x 2 c: Exemplo 1.3.11 c0 é fechado em l1 . De fato, seja (xn )1 n=1 uma sequência em c0 tal que xn ! x. Devemos mostrar que x 2 c0 : Usaremos a mesma notação para xn e x como no exemplo anterior. Como xn ! x, dado " > 0 existe n1 2 N tal que n (n) xj = kxn (n) xj < " n1 ) sup xj j2N xk1 < ": Dessa forma xj (n) para todo n n1 e cada j 2 N. Isso mostra que lim xj n!1 n2 2 N de modo que (n ) j n2 ) xj 1 < ": = xj : Como xn1 2 c0 existe Considerando n0 = max fn1 ; n2 g temos que j n0 ) jxj j (n1 ) xj xj (n1 ) + xj < 2": Portanto xj ! 0; donde x = (xj )1 j=1 2 c0 . Exercício 1.3.12 Mostraremos agora que c00 não fechado em l1 . De fato, seja xn = 1 1 1 1; ; ; : : : ; ; 0; 0; : : : 2 3 n 27 2 c00 : 1.4. ESPAÇOS SEPARÁVEIS Agora, considere x= 1 1 1 1 ;::: 1; ; ; : : : ; ; 2 3 n n+1 e observe que x 2 l1 ncoo . Por outro lado, veja que lim kxn n!1 xk1 = lim n!1 0; : : : ; 0; 1 ; n+1 1 ;::: n+2 1 =0 n!1 n + 1 = lim 1 donde xn ! x: 1.4 Espaços separáveis De…nição 1.4.1 Sejam (M; d) um espaço métrico e X em M se, dados y 2 M e " > 0; existir x 2 X tal que M: Dizemos que X é denso d (x; y) < ": De…nição 1.4.2 Um espaço métrico M é dito separável se existir D enumerável. M denso e Proposição 1.4.3 Sejam E e F evn com E separável. Se E e F são isomorfos, então F é separável. Demonstração: Seja T : E ! F o isomor…smo em questão e considere D e enumerável. E denso A…rmação 1: T (D) é enumerável. De fato, sendo f : N ! D uma bijeção segue que a aplicação T f : N ! T (D) é bijetora. Logo, T (D) é enumerável A…rmação 2: T (D) é denso em F . Com efeito, sejam y 2 F e " > 0. Como T é um isomor…smo, existe z 2 E tal que T (z) = y. Como D é denso em E, existe x 2 D tal que kx zkE < ": Como kT (x) ykF = kT (x) T (z)kF = kT (x segue nossa a…rmação, donde F é separável. Proposição 1.4.4 Kn ; k kp é separável. 28 z)kF kT k kx zkE < kT k "; 1.4. ESPAÇOS SEPARÁVEIS Demonstração: Façamos inicialmente para K = R. A…rmamos que Qn é denso em Rn . Com efeito, seja x = (x1 ; : : : ; xn ) 2 Rn . Como Q é denso em R, dado " > 0; existem y1 ; : : : ; yn 2 Q tais que jxi 1 yi j < "=n p ; com i = 1; : : : ; n: Considere y = (y1 ; : : : ; yn ) 2 Qn e observe que kx ykp = n X i=1 jxi p yi j ! p1 < n"p n 1 p = "; o que prova nossa a…rmação. É claro que Qn é enumerável. Logo Rn é separável. Para termos Cn separável, basta lembrar que Rn+1 é isomorfo a Cn . O próximo resultado nos diz mais que a proposição anterior. Proposição 1.4.5 Todo evn de dimensão …nita é separável. Demonstração: Seja E um evn com dim E = n: Pelo Corolário 1.2.10, temos que E é isomorfo a Kn . As Proposições 1.4.3 e 1.4.4 nos garantem a separabilidade de E. Proposição 1.4.6 Se 1 p < 1, então lp é separável. Demonstração: Faremos apenas o caso K = R. Com as devidas modi…cações, o caso K = R é análogo. Seja n o N D = y = (yj )1 2 Q ; 9 j 2 N de modo que y = 0; 8j > j : 0 j 0 j=1 Observe que D lp : A…rmamos que D é denso em lp . De fato, sejam x = (x1 ; x2 ; : : :) 2 lp e " > 0. Como 1 P jxj jp < 1, existe n0 2 N tal que j=1 1 P " jxj jp < : 2 j=n0 Como Q é denso em R, existem z1 ; z2 ; : : : ; zn0 1 (1.18) 2 Q, tais que 1 jzi yi j < 29 "p 2 i+1 p ; (1.19) 1.4. ESPAÇOS SEPARÁVEIS onde i = 1; : : : ; n0 (1.19) que 1: Tomando z = (z1 ; z2 ; : : : ; zn0 1 ; 0; 0; : : :) 2 D, segue de (1.18) e kx zkp = 1 X j=1 = nX 0 1 j=1 < 2j+1 nX 0 1 2j+1 j=1 = " 2n0 " " 1 p 1 X zj jp + jxj nX 0 1 j=1 < zj jp jxj ! p1 + 1 X j=n0 + " 2 j=n0 jxj jp jxj zj jp ! p1 ! p1 ! p1 1 < " p < "; o que mostra nossa a…rmação. Por …m, para vermos que D é enumerável, basta observar que D= 1 S Di i=1 onde cada Di = f(x1 ; x2 ; : : : ; xi ; 0; : : :) ; xi 2 Qg é enumerável. Exemplo 1.4.7 l1 não é separável. De fato, seja n o C = (xj )1 ; x = 0 ou x = 1 j j j=1 l1 : Do processo de diagonalização de Cantor, segue que C não é enumerável. Observe que para x; y 2 C, com x 6= y, tem-se d (x; y) = kx yk1 = sup jxj j2N yj j = 1: Agora, para cada x 2 C considere a bola B 1 (x) e veja que 3 B 1 (x) \ B 1 (y) 6= ?: 3 3 Se M é qualquer subconjunto denso em l1 , então cada bola B 1 (x) ; x 2 C; contém 3 algum m 2 M . Isso mostra que M é não enumerável. Proposição 1.4.8 Se E é um espaço de Banach separável, então a esfera unitária SE é separável. 30 1.4. ESPAÇOS SEPARÁVEIS Demonstração: Seja D de SE E denso e enumerável. Considere o seguinte subconjunto D1 = x ; x 2 D n f0g : kxk A…rmamos que D1 é denso em SE . De fato, sejam y 2 SE e " > 0. Não há perda de generalidade supor " < 21 . Por hípótese, existe x0 2 D tal que " x0 k < : 2 ky Observe que x0 6= 0, visto que " < 12 . Dessa forma y x0 kx0 k ky " 2 " < 2 " = 2 " 2 " < 2 < x0 k + x0 + 1 1 kx0 k kx0 k + jkx0 k 1j + jkx0 k kykj + kx0 yk " + = "; 2 o que prova a a…rmação. É claro que D1 é enumerável. 31 x0 kx0 k Capítulo 2 O Teorema de Hahn-Banach O Teorema de Hahn-Banach é, sem dúvida, um dos resultados centrais da Análise Funcional. Ele nos fornece condições para estendermos funcionais lineares sem alterarmos as propriedades dos mesmos. 2.1 Lema de Zorn O Lema de Zorn (LZ) é um axioma da Teoria de Conjuntos que trata de famílias de conjuntos. O LZ se consagrou como peça fundamental em várias demonstrações de diversos resultados clássicos da matemática, como por exemplo Teorema de BishopPhelps, que todo espaço vetorial possui base de Hamel, Teorema de Tychono¤ dentre outros. A seguir, apresentamos alguns resultados necessários para de…nirmos o Lema de Zorn. De…nição 2.1.1 Dado um conjunto X e uma relação binária sobre ele, dizemos que (X; ) é um conjunto parcialmente ordenado se valem as seguintes propriedades: 1. ; 8 2 X (re‡exiva). 2. e ) 3. e ) (transitiva). = (antissimétrica). Observação 2.1.2 Chamamos (X; ) de conjunto "parcialmente"ordenado porque podem existir elementos em X não comparáveis de acordo com a ordenação dada. Se quaisquer dois elementos de (X; ) são comparáveis, então dizemos que (X; ) é totalmente ordenado. De…nição 2.1.3 Seja (X; ) um conjunto parcialmente ordenado. Um elemento a 2 X é dito maximal se, para todo x 2 X com a x, tem-se que x = a. Por outro lado, um elemento b 2 X é chamado limite superior de Y X se y b; 8y 2 Y . 32 2.2. O TEOREMA DE HAHN-BANACH Exemplo 2.1.4 Seja X = fX g 2 uma família de conjuntos: A inclusão de conjuntos S é uma relação de ordem parcial em X: Observe que X é um elemento maximal 2 de X: Exemplo 2.1.5 A ordem natural R não possui elemento maximal. de R é uma relação de ordem total. Observe que Agora estamos em condições de enunciar o Lema de Zorn. Lema 2.1.6 (LZ) Um conjunto não-vazio parcialmente ordenado, no qual todo subconjunto totalmente ordenado possui um limite superior, possui um elemento maximal. 2.2 O Teorema de Hahn-Banach A seguir, apresentamos o teorema de Hahn-Banch em sua forma analítica. Apresentamos duas versões, uma para os espaços vetorias reais e outra para os espaços vetoriais complexos. Teorema 2.2.1 (Hahn-Banach (caso real) ) Seja E um espaço vetorial sobre o corpo dos reais e p : E ! R uma aplicação que satisfaz p (ax) = ap (x) para todo a > 0 e todo x 2 E e p (x + y) Se G p (x) + p (y) para quaisquer x; y 2 E: E e g : G ! R é um funcional linear tal que g (x) p (x) para todo x em G; então existe um funcional linear T : E ! R que estende g e que satisfaz T (x) p (x) para todo x em E: Demonstração: Considere o conjunto P = h : D (h) E ! R; D (h) h estende g e h (x) E; h é linear; G D (h) ; p (x) ; 8x 2 D (h) É claro que P é não-vazio, pois g 2 P . A…rmação 1: A seguinte relação h1 h2 sse D (h1 ) D (h2 ) e h2 estende h1 33 2.2. O TEOREMA DE HAHN-BANACH de…ne uma ordenação parcial em P . De fato, 1. Claramente h h; 8h 2 P . 2. Se h1 h2 e h2 h1 , então D (h1 ) = D (h2 ) e portanto h1 = h2 . 3. Se h1 h2 e h2 h3 , então D (h1 ) D (h2 ) D (h3 ). É claro que h3 estende h1 . A…rmação 2: Todo subconjunto totalmente ordenado de P possui um limite superior. Com efeito, seja Q P totalmente ordenado. De…na S h : D (h) ! R com D (h) = D (f ) e h (x) = f (x) ; 8x 2 D (f ) : f 2Q Note que h está bem de…nida, pois se x 2 D (h) então existe f0 2 Q tal que x 2 D (f0 ).Caso exista f1 2 Q com x 2 D (f1 ), pela ordenação total de Q devemos ter f0 f1 ou f1 f0 Caso f0 f1 , então D (f0 ) D (f1 ) e f1 estende f0 : Nesse caso, basta considerar h (x) = f0 (x). Por outro lado, se f1 f0 ; então D (f1 ) D (f0 ) e f0 estende f1 Dessa forma, basta considerar h (x) = f1 (x). Isso mostra que h está bem de…nida. É claro que h 2 P e h é limite superior de Q. Nessas condições, o Lema de Zorn garante que P possui um elemento maximal, que denotaremos por T . A…rmação 3: D (T ) = E. Suponha por absurdo que D (T ) 6= E. Assim, considere x0 2 EnD (T ) e de…na e h:D e h ! R pondo D e h = D (T ) + [x0 ] e e h (x + tx0 ) = T (x) + t ; onde é uma constante que será de…nida depois de modo que e h 2 P . No momento, desejamos mostrar que satisfaça as seguintes desigualdades T (x) + T (x) Para tanto, basta escolher sup fT (x) =e h (x + x0 ) =e h (x x0 ) p (x + x0 ) e p (x x0 ) ; 8x 2 D (T ) : de modo que p (x inf fp (x + x0 ) x0 )g x2D(T ) x2D(T ) Felizmente, tal escolha é possível pois se x; y 2 D (T ) então T (x) + T (y) = T (x + y) p (x + y) = p (x + x0 + y x0 ) p (x + x0 ) + p (y x0 ) 34 T (x)g : 2.2. O TEOREMA DE HAHN-BANACH e, consequentemente T (y) p (y y0 ) T (x) ; 8x; y 2 D (T ) : p (x + x0 ) Cosideremos agora os seguintes casos: Caso 1: t > 0. Neste caso, temos x e + x0 h (x + tx0 ) = e h t t x + x0 = te h t x =t T + t x tp + x0 t = p (x + tx0 ) : Caso 2: t < 0. Para este caso, segue que e h (x + tx0 ) = e h = = x t t te h t T x t x0 x0 x t x x0 t = p (x + tx0 ) : tp Caso 3: t = 0. Temos que e h (x + tx0 ) = e h (x) = T (x) p (x) = p (x + tx0 ) : Isso mostra que e h (x) p (x) ; 8x 2 D e h : Daí, como e h estende g, segue que e h 2 P. Ora, T e h e T 6= e h, mas isso fere a maximilidade de T . Logo D (E) = T e o resultado segue. O próximo corolário é às vezes enunciado como Teorema de Hahn-Banach. Corolário 2.2.2 Sejam G um subespaço de um espaço vetorial normado E (sobre R) e g : G ! R um funcional linear contínuo. Nessas condições, existe um funcional linear contínuo T : E ! R que estende g tal que kT k = kgk. 35 2.2. O TEOREMA DE HAHN-BANACH Demonstração: De…na p : E ! R pondo p (x) = kgk kxk. Observe que, se a > 0, então p (x) = kgk kaxk = a kgk kxk = ap (x). Por outro lado, para x; y 2 E temos p (x + y) = kgk kx + yk kgk (kxk + kxk) = kgk kxk + kgk kyk = p (x) + p (y) : Agora, veja que x 2 G ) g (x) jg (x)j kgk kxk = p (x) ) g (x) p (x) : Logo, pelo Teorema de Hahn-Banach, existe T : E ! R linear que estende g e T (x) p (x) ; 8x 2 E. Resta-nos mostrar que T é contínuo e que kT k = kgk. Com efeito, por hipótese kgk kxk ; 8x 2 G: T (x) (2.1) Logo, para todo x 2 Gn f0g temos que T (x) kxk kgk ) T x kxk kgk ) kT k kgk < 1; donde T é limitado. Por …m, observe que kgk = sup jg (x)j = sup jT (x)j x2BG x2BG sup jT (x)j = kT k x2BE o que prova que kT k = kgk : Demonstraremos agora a versão generalizada do Teorema de Hanh-Banach. Teorema 2.2.3 (Hahn-Banach (caso complexo)) Seja E um espaço vetorial sobre K (R ou C) e p : E ! R uma aplicação que satisfaz p (ax) = jaj p (x) para todo a 2 K e todo x 2 E e p (x + y) Se G p (x) + p (y) para quaisquer x; y 2 E: E e g : G ! K é uma aplicação linear tal que jg (x)j p (x) para todo x em G; então existe um funcional linear T : E ! K que estende g e que satisfaz jT (x)j p (x) para todo x em E: 36 (2.2) 2.2. O TEOREMA DE HAHN-BANACH Demonstração: A…rmação 1: p (x) 0; 8x 2 E. De fato, primeiro veja que 0 = p (0) = p (0 + 0) e portanto p (0) 2p (0) ; 0. Por outro lado, como p (x) = p ( x) então 2p (x) = p (x) + p ( x) p (x x) = p (0) 0 donde p (x) 0: Se E é um espaço vetorial real, de (2.2), temos que g (x) p (x) ; 8x 2 G. Logo, pelo Teorema de Hahn-Banach (caso real) para espaços vetoriais reais, existe T : E ! R que estende g tal que T (x) p (x) ; 8x 2 E: Como T (x) = T ( x) p ( x) = p (x) segue que T (x) p (x) ; donde jT (x)j p (x) ; 8x 2 E: Seja agora E um espaço vetorial sobre C. Então, podemos considerar g (x) = g1 (x) + ig2 (x) ; onde g1 e g2 são funcionais lineares sobre R. Como artifício, no momento, restringiremos E e G como espaços vetoriais sobre R, que denotaremos, respectivamente, por ER e GR . Como g1 (x) jg (x)j p (x) ; 8x 2 GR ; oTeorema de Hahn-Banach (caso real) garante a existência de T1 : ER ! R linear que estende g1 e tal que T1 (x) p (x) ; 8GR : Agora, note que x 2 G ) i [g1 (x) + ig2 (x)] = ig (x) = g (ix) = g1 (ix) + ig2 (ix) ) g2 (x) + ig1 (x) = g1 (ix) + ig2 (ix) ; e portanto x 2 G ) g2 (x) = g1 (ix) : (2.3) Dessa forma, de…na T : E ! C pondo T (x) = T1 (x) 37 iT1 (ix) : (2.4) 2.2. O TEOREMA DE HAHN-BANACH De (2.3) e (2.4) segue que T (x) = g1 (x) ig (ix) = g1 (x) + i [g2 (x)] = g (x) ; 8x 2 G: Mostraremos que T é um funcional linear em EC . Com efeito, veja que T (y + (a + ib) x) = T1 (y + (a + ib) x) iT1 (y + i (a + ib) x) = T1 (y) + T1 (ax + ibx) iT (y) iT1 (iax bx) = aT1 (x) + bT1 (ix) i [aT1 (ix) bT1 (x)] + [T1 (y) = (a + ib) [T1 (x) iT1 (ix)] + T (y) = (a + ib) T (x) + T (y) : iT1 (y)] Por …m, provaremos que jT (x)j p (x) para todo x em E. O caso T (x) = 0 é imediato, pois p (x) 0. Suponha então T (x) = 6 0. Assim T (x) = jT (x)j ei ) jT (x)j = e i T (x) = T e i x = e i x : Como jT (x)j é real, vale jT (x)j = T e i x = T1 e i x p e i p (x) = p (x) : O mais natural agora, é apresentarmos um corolário que generalize o Corolário 2.2.2 para o caso complexo. Corolário 2.2.4 Seja G um subespaço de um espaço vetorial normado E e seja g : G ! K um funcional linear contínuo. Então existe um funcional linear contínuo T : E ! K que estende g e kT k = kgk. Demonstração: Considere p : E ! K pondo p (x) = kgk kxk : Veja que p satisfaz p ((a + ib) x) = kgk k(a + ib) xk = ja + ibj kgk kxk = ja + ibj p (x) e p (x + y) = kgk kx + yk Veja também que jg (x)j kgk kxk + kgk kyk = p (x) + p (y) : kgk kxk = p (x) ; 8x 2 G: Logo, por Teorema de Hahn-Banach (caso complexo), existe T : E ! K linear, que estende g satisfazendo jT (x)j p (x) ; 8x 2 E. A…rmação 1: T é contínuo. De fato, observe que x 2 E ) jT (x)j p (x) = kgk kxk ) kT k kgk < 1: A…rmação 2: kT k = kgk. Com efeito, basta observarmos que kT k = sup jT (x)j x2BE sup jT (x)j = sup jg (x)j = kgk : x2BG x2BG 38 2.2. O TEOREMA DE HAHN-BANACH Corolário 2.2.5 Seja E um espaço vetorial normado. Dado x0 2 En f0g ; existe ' 2 E 0 tal que k'k = 1 e ' (x0 ) = kx0 k : Demonstração: Seja p : E ! R dada por p (x) = kxk : Note que p satisfaz p (ax) = jaj p (x) ; 8a > 0 e p (x + y) = kx + yk kx k+k yk = p (x) + p (y) : Considere g : [x0 ] ! K dada por g (tx0 ) = t kx0 k e veja que jg (tx0 )j = jtj kx0 k = ktx0 k : Logo, pelo Teorema de Hahn-Banach, existe um funcional linear ' : E ! K que estende g, tal que j' (x)j p (x) = kxk ; 8x 2 E: Por …m, como k'k = sup j' (x)j sup p (x) = sup kxk = 1 kxk 1 e k'k ' temos o resultado. kxk 1 x0 kx0 k = g kxk 1 x0 kx0 k = 1; Corolário 2.2.6 Seja E um evn não trivial. Mostre que, para todo x em E vale kxk = sup fj' (x)j ; ' 2 E 0 com k'k 1g ; onde o supremo é atingido. Demonstração: Se x = 0 o resultado é claro. Suponha então x 6= 0. Como sup j' (x)j sup k'k kxk ; 8' 2 E 0 ; segue que sup j' (x)j '2BE 0 sup k'k kxk = kxk : (2.5) '2BE 0 Por outro lado, de…na '0 : [x] ! R, pondo '0 ( x) = kxk. Assim j'0 (x)j = kxk ) sup j'0 (x)j = sup kxk = 1: kxk 1 kxk 1 Dessa forma, o Teorema de Hahn-Banach garante a existência de '1 2 E 0 que estende '0 tal que k'1 k = k'0 k = 1. Logo, fazendo = 1, obtemos '0 (x) = kxk = k'1 k sup fj' (x)j ; ' 2 E 0 com k'k De (2.5) e (2.6) segue que kxk = sup fj' (x)j ; ' 2 E 0 com k'k e o resultado segue. 39 1g ; 1g (2.6) 2.3. ALGUMAS APLICAÇÕES EM ESPAÇOS SEPARÁVEIS 2.3 Algumas aplicações em espaços separáveis Nesta seção, iremos aplicar o Teorema de Hahn-Banach na construção de dois resultados envolvendo espaços separáveis. Antes desses resultados, precisamos da seguinte proposição. Proposição 2.3.1 Sejam E um evn, M um subespaço fechado de E, y0 2 EnM e d = dist (y0 ; M ). Então existe ' 2 E 0 tal que k'k = 1, ' (y0 ) = d e ' (x) = 0; 8x 2 M . Demonstração: Seja N = M + [y0 ]. Se z 2 N , então z = x + ay0 ; com a 2 K e x 2 M . De…na '0 : N ! K pondo '0 (x + ay0 ) = ad. A…rmamos que '0 é linear. Com efeito, para z1 ; z2 2 N e 2 K temos '0 (z1 + z2 ) = '0 ((x1 + a1 y0 ) + (x2 + a2 y0 )) = '0 ((x1 + x2 ) + (a1 + a2 ) y0 ) = (a1 + a2 ) d = a1 d + a2 d = '0 (z1 ) + '0 (z2 ) : Veja ainda que '0 (M ) = f0g e que '0 (y0 ) = d. Mostraremos agora que k'0 k = 1. Para tanto, seja z = x + ay0 e observemos que, se a 6= 0 então x a kzk = kx + ay0 k = jaj y0 jaj d = j'0 (z)j e, se a = 0 então kzk = kxk 0 = 0 d = j'0 (z)j : Logo k'0 k = sup j'0 (z)j = sup kzk = 1: kzk 1 kzk 1 Como d = dist (y0 ; M ) ; por propriedade de ín…mo, dado " > 0 existe x" 2 M tal que d Seja z" = y 0 x" . ky0 x" k ky0 x" k d + ": Então z" 2 N , kz" k = 1 e k'0 k j'0 (z" )j = d ky0 x" k d ; d+" donde k'0 k 1; e portanto k'0 k = 1. Pelo Teorema de Hahn-Banach, existe ' 2 E 0 que estende '0 e tal que k'k = k'0 k : O resultado segue. 40 2.3. ALGUMAS APLICAÇÕES EM ESPAÇOS SEPARÁVEIS Teorema 2.3.2 Se E 0 for separável, então E também é separável. Demonstração: Visto que E 0 é separável, a Proposição 1.4.8 garante a separabilidade de SE 0 = f' 2 E 0 ; k'k = 1g. Seja então f'n ; n 2 Ng SE 0 denso e enumerável. Logo k'n k = sup j'n (x)j = 1 x2SE para cada n 2 N. Dessa forma, para cada n, existe xn 2 SE de modo que j'n (xn )j 1 : 2 Seja M = [x1 ; x2 ; : : :]. Vamos provar que M = E. Suponhamos por absurdo que M 6= E: Seja então y0 2 EnM . Pela proposição (2.3.1), existe ' 2 E 0 com k'k = 1 tal que ' (y0 ) = d := dist (y0 ; M ) e ' (x) = 0; 8x 2 M: Dessa forma k' 'n k = sup j(' 'n ) (x)j kxk 1 j(' 'n ) (xn )j = j' (xn ) 'n (xn )j = j'n (xn )j 1 ; 2 que é absurdo pois f'n ; n 2 Ng é denso em SE 0 . Assim M = E e portanto, o conjunto ( ) n X x= ai xi ; n 2 N e ai 2 Q (no caso real) i=1 ou o conjunto ( x= n X j=1 ) (aj + ibj ) xj ; n 2 N e ai ; bj 2 Q (no caso complexo) é enumerável e denso em E. O resultado segue. Observação 2.3.3 A recíproca do teorema anterior não vale, pois l1 é separável e l1 não é, entretanto l1 = (l1 )0 . Para uma demonstração detalhada do último fato, veja ([9, pág. 40]). Teorema 2.3.4 Todo evn separável é isometricamente isomorfo a um subespaço de l1 : Demonstração: Sejam E um evn separável e D = fxn ; n 2 Ng um subconjunto denso em E: Observe que podemos supor 0 62 D: Assim, pelo Corolário 2.2.5, para cada n 2 N, existe 'n 2 E 0 tal que k'n k = 1 e 'n (xn ) = kxn k : De…na a seguinte aplicação T : E ! l1 : x 7! ('n (x))1 n=1 41 2.3. ALGUMAS APLICAÇÕES EM ESPAÇOS SEPARÁVEIS Como j'n (x)j k'n k kxk = kxk ; segue que T está bem de…nida, visto que ('n (x))1 n=1 2 l1 : Da linearidade de cada 'n ; temos que T é linear. Temos ainda que kT (x)k = sup fj'n (x)j ; n 2 Ng kxk ; (2.7) donde T é contínua. Por outro lado, veja que kT (xk )k = sup fj'n (xk )j ; n 2 Ng j'n (xk )j = kxk k : (2.8) Segue de (2.7) e (2.8) que, para cada k; kT (xk ) k=k xk k : (2.9) Visto que D = fxn ; n 2 Ng é denso em E; dado x 2 E existe (xn )1 k=1 em D de modo que xn ! x; donde kxn k ! kxk. Como T é contínua, segue que T (xk ) ! T (x) e portanto kT (xk )k ! kT (x)k : Dessa forma, de (2.9) concluímos que kT (x)k = kxk para todo x 2 E: Isso mostra que T é injetiva, e consequentemente, T : E ! T (E) é uma isometria. 42 Indicação de estudos O Teorema de Hahn-Banach, também formulado como teorema de separação e teorema de extensão, é um teorema cuja forma é particularmente apropriado para aplicações em problemas lineares. Na Análise Funcional podemos aplicá-lo em: Dualidade. O Teorema Integral de Cauchy para funções analíticas vetoriais. Critério de Helly para resolver sistemas de equações lineares em espaços normados re‡exivos. E, se o estendermos para além da análise funcional, encontraremos aplicações como: A prova da existência de funções de Green; Solução de Banach do problema "fácil"de medida; Aplicação de programações convexas; Aplicação para teoria de jogos; A formulação da termodinâmica; O estudo do teorema de Hahn-Banach é um "tesouro"para o desenvolvimento de outros teoremas importantes. Alguns desses desenvolvimentos recentes incluem: Plewnia [1993]: Em vez de um subespaço linear de um espaço real X. Seja C um subconjunto não-vazio convexo de X. Seja p : X ! R uma função convexa e deixe f : C ! R uma função côncava com f (x) p(x) em C. Então existe uma linear função g : X ! R e uma constante real a tal que g(x)+a p(x); para x 2 X e f (x) p(x) + a; para x 2 C. Ruan [1992]: Um teorema de Hahn-Banach para bisublineares funcionais. Ding [1992]: Algumas condições para um espaço não-localmente convexo, como o lp , 0 < p < 1, para ter a propriedade de extensão Hahn-Banach. 43 2.3. ALGUMAS APLICAÇÕES EM ESPAÇOS SEPARÁVEIS Burgin [1991]: Usando a análise fora do padrão, um análogo do teorema de HahnBanach para obtenção de "hiperfuncionais". Su [1990]: Um teorema de Hahn-Banach para uma classe de funcionais lineares em espaços normados probabilísticas. E o melhor de tudo, ainda não se tem uma idéia se as descobertas extraidas desse teorema se esgotarão. 44 Referências Bibliográ…cas [1] AGUIAR, T. dos S. Uma Introdução à Análise Funcional: O Teorema de Hahn-Banach. Ilhéus: UESC, 2008. (Monogra…a de Graduação) [2] COELHO, F. U. LOURENÇO, M. L. Um Curso de Álgebra Linear. São Paulo: Edusp, 2007. [3] FIORENTINI, D.; LORENZATO, S. Processo de Coleta de Informações e de Constituição do Material de Estudo. In:______. Investigação em Educação Matemática: percursos teóricos e metodológicos. Campinas: São Paulo, 2006. p. 101 –131.(Coleção Formação de Professores). [4] KREYSZIG, E. Introductory Functional Analysis With Applications. Délhi: Wiley Classics Library, 1989. [5] LIMA, E. L. Curso de Análise vol. 1. Rio de Janeiro: IMPA, 2011. (Coleção Projeto Euclides) [6] LIMA, E. L. Espaços Métricos. Rio de Janeiro: IMPA, 2007. (Coleção Projeto Euclides) [7] NARICI, L.; BECKENSTEIN, E. The Hahn-Banach Theorem: The Life and Times. Nova York: St. John’s University, 2002. [8] OLIVEIRA, C. R. Introdução à Análise Funcional. Rio de Janeiro: IMPA, 2010. (Coleção Projeto Euclides) [9] PELLEGRINO, D. M. Notas de Aula de Introdução à Análise Funcional. João Pessoa: UFPB, 2008. 45