Logic, Language and Knowledge. Essays on Chateauriand’s Logical Forms
Walter A. Carnielli and Jairo J. da Silva (eds
CDD: 185
Substâncias Sensíveis em Z 16: faxina ousiológica em
Aristóteles?
MARCO ZINGANO
Departamento de Filosofia
Universidade de São Paulo
SÃO PAULO, SP
Resumo: A interpretação tradicional de Metafísica Z 16 1040b5-16 é defendida aqui, contra a nova
leitura, segundo a qual devem ser eliminadas da lista de substâncias sobre as quais há comum acordo em
Z 2 não somente as partes dos seres vivos, mas também os corpos simples.
Palavras-chave: Substância. Corpos simples. Aristotelismo.
Abstract: The old reading of Met. Z 16 1040b5-16 is vindicated, against the new approach, according
to which the parts of living beings and the simple bodies should be expurgated from the list of the commonly
accepted substances in Z2.
Gostaria de examinar aqui alguns problemas menores de texto
referentes à Metafísica Z 16, ou, mais precisamente, à primeira parte deste
capítulo. O que quero defender é uma volta à compreensão antiga, a
saber, que Aristóteles faz uma restrição bem limitada à sua lista de
substâncias sensíveis, retirando dela somente as partes dos animais. Nas
leituras mais recentes, Aristóteles estaria fazendo uma restrição bem
maior, retirando da lista não somente as partes dos corpos vivos, mas
também os corpos simples (e, eventualmente, mais coisas). É contra esta
faxina ousiológica que vou propor uma leitura mais contida desta passagem.
Darei esta defesa na forma de uma curta análise de texto.
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Metafísica Z 16 pode ser dividido em três partes: (i) 1040b5-16, que
é a parte que quero examinar, a qual versa sobre as substâncias sensíveis;
(ii) 1040b16-27, em que é reafirmado que ser e um não são substâncias, e
(iii) 1040b27-41a3, a respeito do platonismo e de sua atitude correta de
separar as Idéias, se forem substâncias, mas de seu erro de as tomar
como substâncias. A unidade não é muito clara, mas pode ser defendida
do seguinte modo. A seção (i) examina uma conseqüência a partir de uma
das duas teses centrais expostas em Z 13, a saber, que nenhuma
substância pode ser composta de outras substâncias em ato. A parte (ii)
retoma a outra destas duas teses centrais apresentadas em Z 13, a saber,
que nenhum universal é substância, o que tem por conseqüência que
tampouco o ser e o um, que são os termos mais universais, são
substância. Finalmente, a parte (iii) está conectada com (ii), pois ambas
lidam com problemas diretamente ligados à doutrina platônica do que é
propriamente substância. Deste modo, Z 16 se liga claramente a Z 13;
não é assim um acaso que as linhas finais de Z 16 (1041a3-5) reapresentam aquelas duas teses básicas de Z 13, fechando assim um grupo
temático Z 13 – 16 (Z 14 sustenta que as Idéias não são substâncias, em
direta linha com a recusa do universal ser substância, e isso é ligado
também, em Z 15, à impossibilidade de definir o indivíduo e à
conseqüente impossibilidade de definir as Idéias, pois elas contam como
indivíduos, quando deveriam, justamente, em contraste com os indivíduos sensíveis, poder ser definidas). Esse grupo temático examina, assim,
a candidatura do universal a substância (e, por esta via, também a do
gênero), respondendo, deste modo, ao programa lançado em Z 3. Com
efeito, em Z 3 são apresentados quatro candidatos: Z3 uJpokeivmenon ou
substrato, examinado no próprio Z 3; to; ti; h\n ei\nai ou a qüididade,
examinada ao longo de Z 4 – 12 (com a intervenção de Z 7-9 sobre o vira-ser); cabe assim ao grupo Z 13 – 16 examinar a candidatura do
universal, to; kaqovlou, o terceiro candidato, ao qual está diretamente
vinculado o sucesso (ou fracasso) do quarto candidato, to; gevno~, o
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gênero (como o próprio Aristóteles ressalta em H 1 1042a14-16: o
mesmo argumento que garantiria o estatuto de substância ao universal o
garantiria também para o gênero, mais do que para a espécie, e de modo
similar às Idéias). O livro Z ou livro VII da Metafísica se conclui, então,
por um último capítulo, Z 17, o qual inicia anunciando uma nova linha
de abordagem, segundo a qual a substância de algo (que se revelou ser a
qüididade deste algo) é a causa primeira do ser aquilo que uma
determinada coisa (essencialmente) é.
Passemos ao exame da parte (i) de Z 16, a que unicamente nos
interessa aqui. Aristóteles nos fornece três listas das substâncias sensíveis.
Estas listas são decisivas, pois, por uma questão de método, precisamos
entrar em um acordo prévio sobre que coisas são substâncias para tomálas como ponto de partida para a investigação sobre o que é ser
substância. Com efeito, à luz destes itens, podemos estudar de que modo
e como são todas elas substâncias e, munidos destes resultados, podemos
então dirimir a questão se há outras substâncias do que as sensíveis e
quais seriam elas. Muito, portanto, depende deste ponto de partida: os
itens que, de comum acordo, aceitamos todos como substâncias. As listas
não precisam nem devem apresentar itens que são sobretudo substância,
mas somente itens a respeito dos quais todos concordam que são
substâncias, ainda que postulem um grau inferior ou subalterno de
substancialidade a estes itens. Platônicos, por exemplo, postulam que as
Idéias são sobretudo substância, mas aceitam também que, em um grau
degradado, corpos sensíveis são substância. As listas são as seguintes:
T 1. Met. Z 2 1028b8-13: “a substância parece pertencer de modo mais
evidente aos corpos (por esta razão dizemos que são substância os
animais, as plantas e suas partes, bem como os corpos naturais, como
fogo, água, terra e tudo o mais deste tipo, assim como o que é ou parte
deles ou é composto por eles, seja de partes seja de todos, como o
universo e suas partes, as estrelas, a lua e o sol)”;
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T 2. Met. H 1 1042a7-11: “as substâncias sobre as quais estamos de
acordo são as naturais, como fogo, terra, água, ar e outros – os corpos
simples; em seguida, as plantas e suas partes e os animais e as partes dos
animais, e, por fim, o universo e as partes do universo”;
T 3. De Caelo III 1 298a29-32: “(tomo como substâncias os corpos
simples, como o fogo, a terra e os outros itens de sua série, e todos os
itens compostos deles, como o inteiro universo e suas partes e, por sua
vez, os animais, as plantas e suas partes)”.
A estas listas das substâncias sensíveis, que são singularmente
muito próximas e que fornecem os mesmos itens, Aristóteles parece em
Z 16 aportar uma correção. O problema é que a correção proposta pode
ser lida de dois modos. Segundo o comentário antigo (Asclépio, PseudoAlexandre) até Bekker, Schwegler e Bonitz, lia-se o texto de modo a ver
aí uma exclusão limitada às partes dos animais:
T 4. Met. Z 16 1040b5-10 (Bekker): “É evidente que, entre os itens que
parecem ser substância, a maior parte são potências – as partes dos
animais: pois nenhuma delas o é separada, mas, quando são separadas,
são então todas entidades a título de matéria – terra, fogo e ar; com
efeito, nenhuma delas constitui uma unidade, mas são como o soro antes
que haja cocção e uma unidade se engendre deles”.
T 5. Ps.-Alexandre in Metaph. 534, 23-28; 535, 14-16: “Dado que
chamamos de substância todos os itens que, sendo por si, são capazes de
realizar sua função própria (pois substância não é outra coisa senão
aquilo pelo qual se cumpre a função de cada coisa: com efeito, a alma de
Sócrates é a substância e a forma de Sócrates, alma pela qual se cumpre
para ele a função do homem enquanto homem), <Aristóteles> diz que as
partes dos animais – mãos e pés –, as quais sobretudo parecem ser
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substância, é evidente com base nestas coisas que não são substâncias,
mas potências <...> afirma que, quando as partes do todo são separadas
e existem por si, são todas elas a título de matéria: a título de terra, de
fogo e de ar”;
T 6. Asclépio in Metaph. 445, 32 – 446, 6: “Aristóteles afirma que é
evidente que, dos itens que parecem ser substância, isto é, dos universais
a título de partes, a maioria é potência – as partes dos animais; com
efeito, nenhuma delas o é separada ela própria *** no estudo, mas ??,
sobra então que se descobre como matéria. Sendo terra, fogo, água e ar.
Com efeito, nenhum deles é uma unidade, mas são como um
amontoado, antes que haja cocção e se engendre algo destas partes”.
O texto de Asclépio está em um estado precário: depois de aujtov
há uma lacuna entre 12 e 22 letras. Hayduck sugere, com muita
plausibilidade, kaq j auJtov, w{sper ei]rhtai ejn th`/ qewriva, o que faz a
frase inteira ser vertida por “com efeito, nenhuma delas separada é por si,
como diz em seu estudo”. Depois de tou` faltam cerca de 17 letras; a
sugestão de Hayduck é ler nesta passagem algo como ajll j ejan; ajpo; tou`
oJristou` pravgmato~ cwrisqh/, o que daria: “mas quando são
separadas da coisa determinada”, o que é novamente plausível. Na linha
446,4, Hayduck lê u{lh no lugar de u{lhn e acrescenta aujtw`n (faltam
cerca de 7 letras aí) com base no texto de Aristóteles; na última linha,
gevnh é seguido de uma lacuna de 4 letras, de onde a proposta de
Hayduck de ler gevnhtaiv ti, novamente muito plausivelmente.
A despeito dos problemas de texto referentes a esta última
passagem, o importante é ver a concordância desta leitura: trata-se de
excluir da lista das substâncias as partes dos animais, e somente isto. A
faxina, digamos assim, é bem contida, limitando-se a expurgar um item
que, erradamente, tinha antes aparecido em uma lista que deveria ser
consensual.
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Convém assinalar alguns detalhes. Em primeiro lugar, o fanerovn
(“evidente”) se refere a uma das lições de Z 13, a saber, que uma
substância não pode ser composta de outras substâncias: se as partes são
elas próprias substâncias, então os todos compostos por estas partes
seriam compostos de substâncias. Ou bem somente as partes são
substâncias, ou bem somente os todos, mas não é possível que ambos o
sejam simultaneamente. Contrariamente à aposta atomista, Aristóteles
não tem dúvida em escolher os todos, no caso, os animais. Outro detalhe
a observar neste sentido é que Aristóteles canonicamente apresenta o
dedo cortado (Z 10 1035b25) ou a mão decepada (Z 11 1036b30) como
dedo e mão unicamente por homonímia, respectivamente (a homonímia
estando fundada em uma semelhança física), em contraste com o dedo e
a mão que cumprem a função pela qual são definidos como partes em
um corpo. Por fim, convém assinalar a hesitação entre swrov~, “amontoado”, e ojrrov~ (que Ps.-Alex. conhece), “soro”: o primeiro termo é
comumente usado quando não há unidade orgânica; o segundo deve terse introduzido provavelmente em função da noção de cocção, que é
mencionada a seguir. É difícil decidir entre os dois termos, mas prefiro a
versão de Bekker, em função do termo ojrrov~ ser mais raro e das razões
que apresentarei ao final deste texto.
No entanto, quando lemos as versões editadas por Ross e por
Jaeger, a passagem estaria sugerindo uma exclusão bem maior:
T 7. Met. Z 16 1040b5-10 (Jaeger, Ross): “é evidente que, entre os itens
que parecem ser substância, a maior parte são potências: as partes dos
animais (pois nenhuma delas o é separada, mas, quando são separadas,
são então todas seres a título de matéria), a terra, o fogo e o ar; com
efeito, nenhuma deles constitui uma unidade, mas são como um
amontoado, antes que haja cocção e uma unidade se engendre deles”.
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Deste texto, segue-se não somente que as partes dos animais não
são substâncias (em ato), mas também que tampouco o são os corpos
simples. A exclusão seria assim bem maior, pois concerne, além das
partes dos animais, (pelo menos) também aos corpos simples. A tradução
de Ross deixa pressagiar, na verdade, uma faxina bem mais severa: “of
the things that are thought to be substances, most are only potentialities,
– e.g. the parts of animals <...> and earth and fire and air” (em seu
comentário, porém, limita-se a expurgar as partes dos seres vivos e os
corpos simples). As partes dos animais e os corpos simples seriam
somente exemplos do que deve ser retirado da lista, e talvez haja ainda
mais itens a serem repudiados. Em um certo sentido, dá-se peso
filosófico ao “a maior parte”: a limpeza não pode ser lateral ou mínima,
ela deve dizer a um grande número dos itens listados inicialmente como
sendo consensualmente substâncias.
O que poderia ter motivado Aristóteles a proceder a uma faxina
ousiológica tão severa? Podemos indicar certas motivações. Uma primeira diz respeito a problemas de identidade ligados aos corpos homeômeros e, similarmente, aos corpos simples. Nos Tópicos I 7, Aristóteles
reconhece três tipos de identidade: a numérica, a específica e a genérica,
ao mesmo tempo em que assinala que a identidade numérica (ou
individual) é o que mais aceitamos como o sentido de identidade
(103a23-24). No entanto, quando nos referimos a uma mesma água pelo
fato de provir da mesma fonte, trata-se de um sentido prima facie distinto
destes três sentidos de identidade, mas que Aristóteles termina por
localizar entre os tipos de identidade específica, pois esta porção de água
e aquela porção ali têm uma similaridade de espécie, a qual é justamente
(mas somente isso) reforçada no caso da água que provém de uma
mesma fonte. Para individuar porções de água, dever-se-á recorrer a
parâmetros espaciais e/ou temporais, mas isso, fundamentalmente, não é
tão distinto do apelo à matéria própria na individuação de lagos ou
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mesmo no caso de membros de uma mesma espécie animal (o que é
evidente no caso, por exemplo, de gêmeos univitelinos).
No De generatione et corruptione II 8, Aristóteles afirma que todos os
corpos compostos que estão ao redor do ponto mediano (ao redor da
terra, portanto) se constituem de todos os corpos simples, a saber, terra,
ar e fogo. Que contenham terra é evidente, pois é aqui seu lugar próprio.
Por outro lado, todo corpo precisa estar delimitado, e para isso é
necessário que contenha água, pois a terra sem umidade não tem força de
coesão. Por outro lado, como as gerações se dão pelos contrários, é
preciso que contenham os elementos contrários a terra e água, a saber, ar
e fogo, respectivamente. Aristóteles escreve em 335a6 wJ~ ejndevcetai
oujsivan oujsiva/ ejnantivan ei\nai, “como é possível que uma substância
seja contrária a outra substância”. Tal cláusula de salvaguarda se faz
necessária, pois, segundo o tratado das Categorias, nenhuma substância
tem contrário. No entanto, deve-se observar que as qualidades têm
contrários; ora, os corpos simples se constituem de pares de qualidade, e
a qualidade aceita contrariedade, o que permite falar, nesta medida, de uma
substância contrária a outra em função dos pares de contrários: terra e
água, de um lado; ar e fogo, de outro. Isso é verdade, mas não é forte o
suficiente para bancar o expurgo pretendido. Com efeito, a tese diz que
os corpos compostos que estão na terra se compõem de todos os corpos
simples; não exclui, porém, que haja, mesmo em torno do ponto
mediano, corpos simples, o mais evidente deles sendo a própria terra, que
está em seu lugar próprio. Com efeito, mesmo que todos os corpos no
mundo sub-lunar estejam misturados (incluindo os corpos simples), isso
não impede que porções de ar ocorram, ainda que contendo os outros
elementos, pois os contêm sob a forma de mistura por justaposição, na
qual ar e os outros elementos existem como tais em ato, e não sob a
forma de uma nova composição propriamente dita (mivxi~), como ocorre
com a água salgada (na qual o sal e água constituem um novo elemento,
terra e água existindo nela somente em potência).
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Obviamente os corpos simples apresentam uma dificuldade para
sua individuação, mas ela não parece diferir fundamentalmente da dos
corpos homeômeros, como os metais: a pepita Canaã, encontrada em 13
de setembro de 1983 em Serra Pelada, com 60,8 kg., parte de uma pepita
maior, de 150 kg, que se quebrou, e a pepita Désirée, encontrada na
Austrália em 1870, com 68,8 kg, são porções distintas de ouro, assim
como o diamante Stewart, encontrado em 1872 na África do Sul, com
295,61 quilates, se distingue do diamante Darcy Vargas, encontrado em
1939, na cidade de Coromandel (MG), de 460 quilates, com as dimensões
de 53mm x 39,9 mm x 26,6 mm. Pepitas de ouro não contêm outros
elementos químicos, mas diamantes apresentam como inclusão mais
freqüente a olivina e, em cristais euédricos, o zircão também pode ser visto,
estas mesmas inclusões contribuindo para sua identificação individual.
Alguém poderia, no entanto, objetar que, no caso dos corpos
simples, além destas dificuldades de individuação, há as que estão ligadas
a uma concepção hilemórfica: não é o caso que, para os casos simples,
estaríamos diante da pura matéria, se os aceitássemos como substâncias
plenas? Em Meteorologica IV, Aristóteles nos indica uma resposta, não
inteiramente isenta de ambigüidade, porém:
T 8. Meteorologica IV 12 389b28-390a9: “Todos os corpos <homeômeros> se constituem dos elementos descritos, a título de matéria, mas
quanto à essência o são pela definição. Isto é sempre mais claro a respeito
dos últimos, a saber, dos que em geral são como instrumentos e com
vista a algo, pois é bem claro que o cadáver é um homem por
homonímia. E assim também a mão de um homem morto é mão por
homonímia, assim como flautas de pedra também seriam ditas por
homonímia flautas, pois estas também parecem ser como certos
instrumentos. Mas tais coisas são menos visíveis no caso de carne e osso,
e menos ainda no caso de fogo e água, pois lá onde predomina a matéria
o em-vista-de-quê é minime visível. Com efeito, se se tomar os extremos,
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de um lado a matéria não seria nada mais além dela mesma; de outro, a
essência não seria outra coisa senão a definição, mas os itens
intermediários o são proporcionalmente em função da proximidade de
cada um, pois qualquer um deles é em vista de algo e de modo algum são
água ou fogo, como tampouco o são carne ou vísceras”.
A frase central é: pois lá onde predomina a matéria o em-vista-de-quê é
minime visível. Não é claro a que exatamente se refere esta observação:
aos corpos simples somente (exemplificados por fogo e água) ou também
a homeômeros como carne e sangue? A construção parece favorecer o
primeiro caso, pois eles constituem o membro último da lista: com os
corpos simples o em-vista-de-quê é minime visível. Mas como entender
minime? Como “minimamente” ou como “de modo algum”? Tudo indica
que devemos entendê-lo como “minimamente”, pois fogo e água aparecem em uma lista em que a visibilidade está cada vez mais diminuta, em
um evidente decrescendo, mas não que não haja nenhuma visibilidade. O
texto nos diz, assim, que, a despeito das dificuldades, mesmo lá onde
predomina a matéria há minimamente a forma – no caso dos corpos simples, sob o registro dos pares de contrários (frio-quente, seco- úmido). É
somente hipoteticamente que podemos ter os extremos: de um lado,
matéria como simples matéria; de outro, pura forma (no mundo sublunar). Com efeito, os corpos simples são a matéria dos corpos
compostos, mas, quando tomados por si mesmos, eles voltam a se
revestir de uma forma, ainda que minimamente. A passagem, portanto,
mantém os corpos simples no rol das substâncias sensíveis, a respeito das
quais estamos todos de acordo.
Uma terceira motivação, porém, pode ser fornecida ao pretendido
enxugamento das substâncias. Os seres vivos constituem por excelência
o que é substância no mundo sensível. Eles estão claramente estruturados
mediante uma combinação de matéria e forma. Mais ainda, como a
planta gera planta; o homem; homem (um mote que Aristóteles não se
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cansa de repetir), eles evidenciam que a forma é uma forma própria que
não se realiza em qualquer matéria, mas requer certas condições materiais
específicas para poder aí se realizar. Uma evidência a favor é o fato
mesmo que o termo que designa a forma (ei\do~), que é a substância
primeira, é precisamente o mesmo que designa a espécie (ei\do~). Tudo
isso é verdade; porém, por maior que tenha sido o valor heurístico da
espécie animal para a reflexão aristotélica sobre a forma como substância
primeira, tudo isso é perfeitamente compatível com casos menos perfeitos de substância, sem implicar sua exclusão do campo da substancialidade.
Parte importante desta disputa reside em torno de como entender
tav te movria tw`n zwvw
/ n em 1040b6 de T 4 / 7. Para Bonitz, te tem
como correspondente mavlista dev em b10. Neste caso, kai; gh` kai;
pu`r kai; ajhrv estão ligados sintaticamente a wJ~ u{lh pavnta. Para Ross
(seguido por Frede/Patzig), tav te movria está coordenado a kai; gh` kai;
pu`r kai; ajhrv da linha b8, e ele conseqüentemente coloca entre
parênteses o que os separa. Ross alega que Z 2 1028b9-10 mostraria que
kai; gh` kai; pu`r kai; ajhrv está coordenado a tav te movria (trata-se de
nosso T 1). Isso é possível, mas não é necessário, pois te pode estar
acoplando intimamente somente animais, plantas e suas partes, separando-se por um sintagma do outro grupo, que compreende os corpos
simples; Met. H 1 (T 2 ) e De caelo III 1 (T 3) favorecem esta última
direção. A solução de Bonitz parece forçada (ele mesmo reconhece isso:
mutata paulum constructione), mas há um modo mais simples de a
compreender: simples aposição (como o faz claramente Asclépio em T 7;
um bom exemplo ocorre no Agamênon de Ésquilo, vv. 1525 – 1529).
Penso que se deve, assim, voltar à leitura tradicional: não há razão
para excluir os corpos simples da lista das substâncias sensíveis a respeito
das quais há comum acordo. Para concluir, gostaria de fazer três
observações. Primeiramente: (i) a que remete aujtw`n da linha 1040b8 de
T 4? Há três opções: (a) às partes, (b) aos corpos simples e (c) às partes e
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aos corpos simples. Na leitura de Bonitz, o termo remete (a) às partes.
Nesta leitura, pefqh`/ da linha b9 é típico para “digerir”, “elaborar”,
“cozer”. Na perspectiva de Ross, pode ser a (b); neste caso, oujde;n gavr
de b8-10 daria a razão de excluir os elementos, enquanto oujqe;n gavr de
b6-8 forneceria a razão para excluir as partes dos seres vivos. O melhor,
porém, para essa leitura, é tomar (c) como valendo para as partes e para
os corpos simples. Quanto à objeção que pevttein dificilmente se pode
usar com os elementos, Ross remete a A8 989a16, onde to; de;
pepemmevnon kai; sugkekrimevnon são usados para os elementos
(novamente, porém, não é necessário que se leia assim: pode haver duas
referências aqui, uma para as partes – pelo pepemmevnon –, outra para
os elementos – pelo sugkekrimevnon). Por enquanto, não há como
decidir.
Segunda observação: na seqüência, é feita alusão à experiência de
seccionar alguns animais (insetos), que vivem por um certo período:
T 9. Met. Z 16 1040b10-16: “Poder-se-ia supor que, sobretudo, as partes
dos seres vivos e as partes da alma a elas conexas se tornam as duas
coisas, entidades em ato e em potência, pelo fato de terem os princípios
do movimento a partir de um ponto em suas articulações; por esta razão
alguns animais permanecem em vida quando seccionados. Contudo,
todas elas são em potência, quando formam algo uno e naturalmente
contínuo, e não contínuo por coerção ou por enxerto, pois tal coisa é
uma malformação”.
Esta passagem contém duas dificuldades. (a) Qual é o sentido de
kaiv em b11: aditivo ou epexegético? Se for aditivo, então teríamos
também partes da alma (aquelas conexas às partes do corpo) que seriam
em potência e em ato. Porém daí a dificuldade: qualquer parte da alma é,
para Aristóteles, necessariamente em ato; além disso, não está em
discussão aqui nenhuma parte da alma. Se for epexegético, então seriam
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em potência e em ato aquelas partes corporais às quais partes anímicas
estão intimamente conectadas (como o coração, sede das sensações).
Frede e Patzig propõem mesmo atetizar o kaiv, o que nos parece muito
plausível.
A segunda dificuldade: (b) qual é o sentido de pavreggu~? Deve
ele ser tomado como adjetivo (caracterizando as partes) ou como advérbio (ligado a a[mfw givgnesqai). No último sentido o toma PseudoAlexandre:
T 10. Ps.-Alex. in Metaph. 535, 27 – 34: “Aristóteles diz que se poderia
supor que, sobretudo, as partes dos seres vivos, e destas não todas, mas
algumas, assim como da alma, se dizem substâncias como sendo em ato
com o todo e em potência, pois, dado que, após serem seccionadas e
estarem por si, são capazes de se movimentar e sentir, parecem ser em
ato e em potência: em potência, de um lado, quando estão com o todo;
em ato, de outro lado, porque, visto que, seccionadas, se movem e
sentem, parecem que, quando estão com o todo, também são em si e não
estão em continuidade com o todo”.
O mesmo em Bonitz: ele comenta que (Commentarius, p. 357)
“post givgnesqai comma omisi, quia enunciatum sic puto construendum
esse: givgnesqai pavreggu~ a[mfw o[nta kai; ejnteleceiva/ kai;
dunavmei, quasi dicat: givgnesqai scedo;n o[nta ajmfotevrw~ kai;
ejnteleceiva/ kai; dunavmei”. Segundo sua sugestão, a frase estaria
dizendo: “se tornam como que entidades de dois modos, em ato e em
potência”. Ross protesta contra esta leitura, alegando que pavreggu~ não
pode funcionar adverbialmente, mas somente como adjetivo. Teríamos
então duas leituras possíveis, em função do que qualifica pavreggu~: (a)
“as partes dos seres vivos e as partes da alma conexas a elas”, pavreggu~
qualificando as partes da alma em questão, ou, alternativamente, (b) “as
partes dos animais vêm a ser aproximadamente de mesma entidade que
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as partes da alma”, pavreggu~ qualificando as partes dos seres vivos em
relação às da alma. Adotei a leitura (a) de Ross.
Minha terceira e última observação: não é clara a expressão inicial
em b5-6 tw`n dokousw`n ei\nai oujsiw`n aiJ plei`stai dunavmei~ eijsiv.
Na interpretação de Bonitz, a frase diria algo como: multa, quae videntur
actu substantiae esse, non actu, sed potentia sunt substantiae. São muitas, mas isso
ainda nos permite ficar com um grupo só (no caso, as partes dos
animais). A tradução de Ross é mais forte: “of the things that are thought
to be substances, most are only potentialities, – e.g. the parts of animals
<...> and earth and fire and air”. Nesta última versão, devemos nos
preparar para um enxugamento ousiológico eventualmente de porte (as
partes dos animais e os corpos simples são somente exemplos de uma tal
faxina). Porém, tampouco na versão de Bonitz fica claro por que multa.
E, em certo sentido, também em sua interpretação podemos esperar por
um enxugamento amplo (ainda que não necessário). No entanto, talvez a
limpeza seja muito pequena. No modo como estou propondo de ler esta
passagem, trata-se de retirar somente as partes dos seres vivos da lista de
substâncias sensíveis acreditadas por todos. E, dentre estas partes, a
expressão “a maior parte” é uma cláusula de reserva, pois é possível que
algumas partes, quando segmentadas, mantenham-se em vida, como é o
caso para as plantas e insetos, à diferença do resto dos seres vivos. O ato
de seccionar é referido em dois momentos no de anima: em I 5 411b19-27
é dito que plantas seccionadas sobrevivem, bem como, entre os animais,
certos insetos (kai; tw`n zwvw
/ n e[nia tw`n ejntovmwn); em II 2 413b16-24 é
dito que certas plantas seccionadas sobrevivem (tw`n futw`n e[nia), bem
como os insetos (mas eles não duram muito tempo porque não possuem
os outros órgãos necessários à conservação da vida). Estas são as
exceções do que é somente em potência: as partes das plantas e certos
animais, os insetos. É assim que, em de long. 6, Aristóteles volta a observar
que plantas e insetos sobrevivem quando seccionados: aquelas porque
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Substâncias Sensíveis em Z 16
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têm esta possibilidade em todas as partes, estes por pouco tempo, pois os
órgãos são separados e eles não têm como os refazer. “A maior parte”
não diz respeito, portanto, à lista de itens que contam como substância,
mas somente ao fato que, entre as partes dos seres vivos, parece haver
exceções ao fato de serem somente em potência, pois plantas e insetos,
quando seccionados, preservam o princípio da vida. Mesmo assim,
Aristóteles insiste que, na medida em que estão naturalmente em um
todo (e não como enxerto ou algo similar), então são somente em
potência e não em ato no todo em que se encontram.
TEXTOS EXAMINADOS
T 1 Met. Z 2 1028b8-13: Dokei` dÆ hJ oujsiva uJpavrcein fanerwvtata
me;n toi`~ swvmasin (dio; tav te zw`a
æ kai; ta; futa; kai; ta; movria
aujtw`n oujsiva~ ei\naiv famen, kai; ta; fusika; swvmata, oi|on pu`r kai;
u{dwr kai; gh`n kai; tw`n toiouvtwn e{kaston, kai; o{sa h] movria
touvtwn h] ejk touvtwn ejstivn, h] morivwn h] pavntwn, oi|on o{ te
oujrano;~ kai; ta; movria aujtou`, a[stra kai; selhvnh kai; h{lio~).
T 2 Met. H 1 1042a7-11: oJmologouvmenai me;n aiJ fusikaiv, oi|on pu`r
gh` u{dwr ajhr; kai; ta\lla ta; aJpla` swvmata, e[peita ta; futa; kai;
ta; movria aujtw`n, kai; ta; zw`a
æ kai; ta; movria tw`n zwvw
æ n, kai; tevlo~ oJ
oujrano;~ kai; ta; movria tou` oujranou`.
T 3 De caelo III 1 298a29-32: (levgw dÆ oujsiva~ me;n tav te aJpla`
swvmata, oi|on pu`r kai; gh`n kai; ta; suvstoica touvtoi~, kai; o{sa ejk
touvtwn, oi\on tovn te suvnolon oujrano;n kai; ta; movria aujtou`, kai;
pavlin tav te zw`a
æ kai; ta; futa; kai; ta; movria touvtwn, <…>).
T 4 Met. Z 16 1040b5-10 (Bekker): fanero;n d j o{ti kai; tw`n dokousw`n
ei\nai oujsiw`n aiJ plei`stai dunavmei~ eijsiv, tav te movria tw`n zwvw
æ n:
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oujqe;n ga;r kecwrismevnon aujtw`n ejstivn: o{tan de; cwrisqh`,æ kai;
tovte o[nta wJ~ u{lh pavnta, kai; gh` kai; pu`r kai; ajhrv : oujde;n ga;r
aujtw`n e{n ejstin, ajllÆ oi|on oJ ojrro;~ pri;n h] pefqh`æ kai; gevnhtaiv ti
ejx aujtw`n e{n.
T 5 Ps.-Alex. in Met. 534, 23-28; 535, 14-16: ÆEpeidh; ga;r oujsiva~
ejkei`nav famen o{as kaqÆ auJta; o[nta duvnatai to; oijkei`on e[rgon
ajpotelei`n (oujsiva ga;r oujde;n a[llo ejsti;n h] to; ajfÆ ou| to; eJkavstou
e[rgon ejkplhrou`tai: oujsiva ga;r kai; ei\do~ Swkravtou~ hJ tou`
Swkravtou~ yuchv, ajfÆ h|~ aujtw`æ to; tou` ajnqrwvpou h|/ a[nqrwpo~
e[rgon ejkplhrou`n), levgei o{ti kai; ta; mevrh tw`n zwvw
æ n, ou`re~ kai;
povde~, a{per mavlista dokou`sin ei\nai oujsivai, fanerovn ejstin ejk
touvtwn wJ~ ou[k eijsin oujsivai ajlla; dunavmei~. <…> o{tan ou\n,
fhsiv, cwrisqh`æ ta; movria tou` o{lou kai; w\si kaqÆ auJtav, wJ~ u{lh
pavnta eijsiv, kai; wJ~ gh` kai; pu`r kai; ajhrv .
T 6 Asclépio in Met 445,32-446,6: fhsi;n ou\n o{ti fanero;n o{ti kai;
tw`n dokousw`n ei\nai oujsiw`n, toutevsti tw`n kaqovlou wJ~ merw`n, aiJ
plei`stai dunavmei~ eijsiv, tav te movria tw`n zwvw
æ n: oujde;n ga;r
aujtw`n kecwrismevnon ejsti;n aujto; *** qewriva,æ ajllÆ ÿ uJpo; tou`
***risqh`,æ tovte loipo;n wJ~ u{lh euJrivsketai, o[nta gh` kai; pu`r kai;
u{dwr kai; ajhrv . oujde;n ga;r <aujtw`n> e}n ajllÆ oi|on swrov~, pri;n h]
pefqh`/ kai; gevnetaiv ti ejx aujtw`n tw`n morivwn.
T 7 Met. Z 16 1040b5-10 (Ross, Jaeger): fanero;n de; o{ti kai; tw`n
dokousw`n ei\nai oujsiw`n aiJ plei`stai dunavmei~ eijsiv, tav te movria
tw`n zwvw
æ n (oujqe;n ga;r kecwrismevnon aujtw`n ejstivn: o{tan de;
cwrisqh`,æ kai; tovte o[nta wJ~ u{lh pavnta) kai; gh` kai; pu`r kai; ajhrv :
oujde;n ga;r aujtw`n e{n ejstin, ajllÆ oi|on swrov~, pri;n h] pefqh`æ kai;
gevnhtaiv ti ejx aujtw`n e{n.
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T 8 Meteorologica IV 12 389b28-390a9: e[stin dÆ a{panta wJ~ me;n ejx
u{lh~ ejk tw`n eijrhmevnwn, wJ~ de; katÆ oujsivan tw`æ lovgwó. ajei; de;
ma`llon dh`lon ejpi; tw`n uJstevrwn kai; o{lw~ o{sa oi|on o[rgana kai;
e{nekav tou. ma`llon ga;r dh`lon o{ti oJ nekro;~ a[nqrwpo~ oJmwnuvmw~.
ou{tw toivnun kai; cei;r teleuthvsanto~ oJmwnuvmw~, kaqavper kai;
aujloi; livqinoi lecqeivhsan: oi|on ga;r kai; tau`ta o[rgana a[tta
e[oiken ei\nai. h\tton dÆ ejpi; sarko;~ kai; ojstou` ta; toiau`ta dh`la.
e[ti dÆ ejpi; puro;~ kai; u{dato~ h\tton: to; ga;r ou| e{neka h{kista
ejntau`qa dh`lon, o{pou dh; plei`ston th`~ u{lh~: w{sper ga;r eij kai;
ta; e[scata lhfqeivh, hJ me;n u{lh oujde;n a[llo parÆ aujthvn, hJ dÆ
oujsiva oujde;n a[llo h] lovgo~, ta; de; metaxu; ajnavlogon tw`æ ejggu;~
ei\nai e{kaston, ejpei; kai; touvtwn oJtiou`n ejstin e{nekav tou, kai; ouj
pavntw~ e[con u{dwr h] pu`r, w{sper oujde; sa;rx oujde; splavgcnon.
T 9 Met. Z 16 1040b10-16: mavlista dÆ a[n ti~ ta; tw`n ejmyuvcwn
uJpolavboi movria kai; ta; th`~ yuch`~ pavreggu~ a[mfw givgnesqai,
o[nta kai; ejnteleceivaæ kai; dunavmei, tw`æ ajrca;~ e[cein kinhvsew~
ajpov tino~ ejn tai`~ kampai`~: dio; e[nia zw`a
æ diairouvmena zh`.æ ajllÆ
o{mw~ dunavmei pavntÆ e[stai, o{tan h\æ e}n kai; sunece;~ fuvsei, ajlla;
mh; bivaæ h] sumfuvsei: to; ga;r toiou`ton phvrwsi~.
T 10: Ps.-Alex. in Metaph. 535, 27-34 : mavlista dev, fhsivn, uJpolavboi
a[n ti~ ta; tw`n ejmyuvcwn movria, kai; touvtwn ouj pavntwn ajllav
tinwn, oJmoivw~ de; kai; th`~ yuch`~, pavreggu~ tou` kai; ejnergeivaæ
meta; tou` o{lou o[nta oujsiva~ aujta; levgein kai; dunavmei: ejpeidh;
ga;r kai; meta; to; cwrisqh`nai kai; kaqÆ auJta; ei\nai duvnatai
kinei`sqai kai; aijsqavnesqai, dovxeien a]n ei\nai kai; ejnergeivaæ kai;
dunavmei: dunavmei me;n ga;r o{te meta; tou` o{lou eijsivn, ejnergeivaæ de;
o{ti, ejpeidh; cwrisqevnta kinei`tai kai; aijsqavnetai, dokei` wJ~ kai;
meta; tou` o{lou o{tan h\æ kaqÆ auJtav ejsti kai; ouj sunevcei tw`æ o{lwó.
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BIBLIOGRAFIA
BARNES, J. The Complete Works of Aristotle. Princeton, 1984. (2v.)
BONITZ, H. Commentarius in Aristotelis Metaphysicam. Olms, 1992.
FREDE, M., PATZIG, G. Aristoteles Metaphysik Z. Munique, 1988. (2v.)
ROSS, W.D. Aristotle: Parva Naturalia. Oxford, 1955.
——. Aristotle’s Metaphysics. Oxford, 1924. (2v.)
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