15. Propriedades distintivas
15.1. Propriedade ou tra os
.
A fala é um contínuo ~e especifica:t0res dos segmentos:
segmentos, devido às caracterísqo' po~e ser Interpretado em função de
'd d
cas artlculatórias
;.
um a es (segmentos) que
d
' acustIcas e auditivas e
no
tempo
C
b
't'
se
suce
em
au d I Iva, a decomposição d f I '
. om, ase na saliência
a a a mats comum
\h representados por letras dos alfabetos fo 'f
,gera os segmentos
'iI
blocos e linear. Todavia cada um d
~~ ICOS. E uma segmentação por
i,·f':~ camadas
que os compõ;m P
d esses ocos pode ser decomposto nas
- d
. roce endo assim t
~
nao as coisas que se suced
' em-se uma segmentação
";.; determinad bl
em no tempo, mas que coe . t
,
o oco ou segment
d'
XIS em num
fala. Essas camadas que como~ num etermInado tempo da corrente-da,.
' poem os_ segmentos sao
fionetlcas
dos sons da f I
as propriedades
.
a a, mas sao usada
1 fi
.
l!roprzedades distintivas ou não ( d nd
s pe a onologia como
Informação fonológica.
re u antes) - com relação ao valor de
"
Assim, um [p] é um bloco ue ode
propriedades fonéticas: oclusivaq b.r b. ser decomposto nas seguintes
, propriedades pode servir para esta'b II a lal, surda. Cada uma dessas
- a outros segmentos qu
. - fionológica com
reIaçao
_e ecer uma opoSIçao
exemplo, as oclusivas opõem_:en~o ~ssu~rn essas propriedades. Por
opõem-se às alveolares as surd as _ cativas e nasais, as bilabiais
diante.
, a s opoem-se às sonoras, e assim por
'
O mesmo vale para as vog'ais' rê] ,
propriedades fonéticas' vogal
t' .
e. um bloco com as seguintes
oral, sonora. Do mes~o mod a~enor, melO-aberta, não arredondada
o,
vogal opõem-se às demais que nã~
tiverem tais propriedad
fi
es, por exemplo às
.
echadas, arredondadas nasalizad d '
vogaIS posteriores, meioas, esvozeadas etc
T d
'
•
.
o a característica fonética (a d' Ao.'
na, acústica, auditiva etc) con ti't ' ero Inamlca, fonatória, articulatóf I '
.
s UI-se numa
.
a a. A prática fonológica (sobret d
.
propnedade dos sons da
mente as propriedades am' I ,u. o maIs antiga) tem usado principalcu atonas e acústi
. _
OPOSIçoes fonológicas. Propriedades,
; ~as para a definição das
atenção especial nos últimos
ProsodIcas têm recebido uma
anos.
Ri storicament . ; fi
.
e, Ja oram propostos ,.
.
propnedades distintivas (ou t
d" v~os tIpos de inventários de
raços lstmtlvoS), com o objetivo de
64
\
sistematização das unidades fonológicas e com vistas a uma maior ou
menor correlação com a realidade fonética. Três obras fundamentais são:
Preliminaries to Speech Analysis, de Jakobson, Fant e Halle "(1952),
Sound Pattem of English, de Chomsky and Halle (1968), e Preliminaries
to Linguistic Phonetics, de Ladefoged (1971). Estes foram trabalhos que
inspiraram muitas outras obras importantes. As propriedades distintivas
estão ligadas a pressupostos teóricos específicos, dependendo do modelo
que as adota, O modelo do SPE (Sound Pattern of English) se definia
como uma fonologia g~rativa (transformacional), uma vez que fazia parte
da Gramática Gerativa Transformacional de Chomsky, quando fora
proposto. O modelo de Ladefoged já é completamente diferente. Além
disto, é preciso ficar atento para o fato de algumas propriedades serem
definidas fqnologicamente de maneiras diferentes por diferentes autores.
Alguns autores optaram por um sistema binário ( O : 1 ou + : - ),
outros por propriedades n-árias (multi-árias ou escalonadas). Neste
último caso, as propriedades apresentam graus (por exemplo, o acento).
Embora todo sistema n-ário possa se reduzir a um sistema binário (e
vice-versa), o modo de ser de cada modelo é diferente, representa pontos
de vista diferentes com relação aos processos de produção e percepção da
fala e ao modo como a fonologia lida com essas questões. Muitos acham
que os sistemas binários são altamente desejáveis, pois facilitariam uma
interface com programas de computação. Outros acham que os sistemas
n-ários se adequam com maior rigor à realidade fonética da fala nas
descrições lingüísticas.
Ao estudar as oposições fonológicas entre sons foneticamente
semelhantes, já foi apontado o fato de existir sempre um atributo ou
propriedade que era responsável pela diferença entre esses sons e,
conseqüentemente, dos itens lexicais. Em outras palavras, nos pares
mínimos, o que carreia a oposição de significados são as propriedades
diferentes que ocorrem nos pares de sons suspeitos. Portanto, todo par de
sons suspeitos caracteriza-se por ter uma base comum ou conjunto de
propriedades em comum, e uma (ou mais) propriedade distintiva, ou
seja, uma propriedade que não é compartilhada pelosdois sons, mas que
é específica de um deles. A base comum de propriedades compartilhadas
por dois ou mais sons forma uma classe natural. Veja a tabela abaixo:
65
,
I,
•
Propriedades
distintivas
base
comum
s
P
b
surda
sonora alveolar
oclusiva
bilabial
S
t
Y
palato- oclusiva
alveolar alveolar
surda
fricativas surdas
consoantes
fricativa
velar
sonora
A base comum de um conjunto de segmentos, como se disse,
forma uma classe natural desses sons. Os processos fonológicos
aplicam-se de maneira preferencial sobre as classes naturais, formando
regras mais abrangentes do que aquelas que se aplicam apenas sobre
propriedades distintivas individuais. O número de propriedades
necessário para a especificação de uma classe natural sugere uma
simplicidade métrica. Deste modo, uma classe será tanto mais geral
quanto menos propriedades forem necessárias para sua definição. Isto
significa, por outro lado, que quanto menos propriedades tiver uma
classe, mais abrangente ela será, isto é, conterá um número maior de
elementos e a formalização dos processo será mais simples. Portanto, a
complexidade da notação das regras irá refletir a complexidade do
. fenômeno que ela interpreta.
As propriedades vêm escritas entre parênteses quadrados como os
símbolos fonéticos, com a valência (marcas de + ou -) no início. As
propriedades com o sinal (+) são marcadas e as com o sinal (-) são não
marcadas. Há implicações teóricas fortes que se baseiam no fato de
certas regras atingirem elementos marcados ou não-marcados (teorias das
marcas fonológicas). Em urna notação como [+sonoro] não se lê a
valência (o sinal de +), mas se diz apenas sonoro. Na notação [-sonoro],
por exemplo, diz-se não-sonoro ou surdo, não sendo costume dizer
menos sonoro.
.
. . .. . . . -...... . . . . . .. . .
Pro Jriedades
alta
baixa
•
;>ostenor
arredondada
+
-
-
-
-
+
+
-
-
Os elementos (ou segmentos) são analisados em propriedades
distintivas através de matrizes ou de gráficos emforma de,árvore. Este
último tipo serve para tirar as redundâncias que costumam aparecer
quando se faz urna matriz. Vejas os exemplos, a seguir:
-
-
-
+
+
+
+
-
+.
distintivos
os
Matriz de propnedade( (traç )
•
,
om as propriedades distintivas da
O gráfico em forma de arvore c . " mostra que a propriedade
] ,
.
t da logo aCIma
matriz das vogaiS apr~sen a
.
osteriores] e a propriedade (alta e
r]
é
redundante
para
as
vogaIS
(=p
mesmo
tempo
(+posterio
aixa]
(b
. que sao ao
damento] é redundante para t~da~ ~s
redundante para ~s vogaIS
(~edon b
e dependendo da distnbUlçao
(+baixa]. A propneda~e
.
de
.
E preCISO lem rar qu ,
vogais neste SIstema.
resultado será de um tIpO
das pr~priedades ná árvore (esco~~~~deo(arredondamento] tivesse si~o
sistema ou de outro. Se a ~rop I d como vogais, o resultado tena
baixo
do
no
rotu
a
o
d oposições fonológicas.
colocada Iogo a .
gerado um sistema dIferente e
Vogais
-----~----~(-posterior]
(+posterior]
(-baixa]
(+baixa]
(a]
15.2. Matrizes e árvores:
e
I
Segmentos
u
o
a
(+alta]
I
(u]
(-alta]
\
(o]
•
\
(i]
\
(e]
15 3. Matrizes de traços distintivods: t'ntI'voS o mais notável foi o
,
.
alh
m traços IS 1
De todos os trab os co
eh msky e Morris Halle.
E 1" h) de Noam
o
SPE (Sound Patterns of ng IS
I de matrizes com propriedades
.
I uns exemp os
á
Apresentam-se, abaIXO, a g
P
m estudo mais detalhado, ser
.
d
modelo. ara u
distintivas, segun o esse.
preciso consultar a obra CItada.
67
66
(+alta] (-alta]
Classes naturais:
obstruintes nasais
•
e
consoantes sons
(oclusivas, 1fqüidas
•
•
senuvogaI
silábicas
fricativas,
glotais vogaI• s
(sons do (nasais
e
africadas,
s
LedoR) líqüidas)
sons lotais
-
•
silábico
sonorante
consonantal
-
-
+
+
+
+
+
+
Anterior e coronaI :
anterior
coronal
+
-
LW[w]
-
-
-
+
-
+
+
-
I
I
,I
!
•
I
•
Sonorante
consonantal
contínua
-
t"
+
+
-
delaYed release
africadas
estridente
e
-
s
-
+
-
+
+
t
-
-
+
+
-
-
h
+
•
sonorantes
consonantal
nasal
lateral
+
-
-
•
•
vogaIS
altas
vogaIS
médias
vogaIS
baixas
I
+
-
-
+
.
-
+
-
•
y
U
t
+
+
+
- +
+ +
+
-
.
••
•
•
+
.
As casas não preenchidas significam que a propriedade ru'io
se aplica,
isto é, não faz sentido, por exemplo, dizer Se um [tJ é estridente ou não.
As propriedades
[cootinuoJ, [delaYe<! releaseJ e [estridenteJ aplicam-se
somente
a consoantes.
Sonorantes (ou soantes):
+
•
.
.
-
+
+
+
-
•
alta
•
baIxa
•
postenor
arredondada
.
7.
-
VogaIs:
•
f•
-
•
I
•
Obstruintes:
s
k
.
onsoantes produzIdas
na parte da frente da boca e
m a lâmina da língua.
[anterior] refere-se ~ c
[corona1] , às produZIdas co
.
t
c
•
Nas
!fnguas
em
que
não
há
consoantes
silábicas,
[+silábicoJ
representa
as
vogais e [-silábico], as consoantes.
I
t
+
+
~
I
Vo ais e SemivogaIS:
•
•
I
J
silábico
+
consonantal
- alto
+
+
•
postenor
arredondado
.
-
Os segmentos
m,
•
II
Y
w
U
•
-
+
+ +
+
- + +
+ +
+
•
[q] e [w] são semivogals •
+
+
+
•
•
•
- secundárias:
Articulaçoes
n
I
r
+
+
+
+
+
+
+
-
+
•
anterior
coronal
alto
posterior
arredondado
.
P
pJ
pW
t
+
-
+
+
-
+
+
+
+
+
+
l'
W
t
k
kl
kW
q
+
+
+
+
+
+
+
-
-
-
-
-
+
+
-
-
+
+
+
+
- - .
+
68
69
-
.
-
15.5. Resumo do Sistema de Jakobso n, Fant e Halle (1963):
[r] = [-tenso]
sonoro:
aspirado:
glotalizado:
acento:
. longo:
z n S
- - - - + - - - - + - - - - - - - -. + + + + + + + + + + +
P b
.
soante
silábico
consonântico
alto
baixo
recuado
arredondado
anterior
coronal
contínuo
estridente
vozeado
nasai
latera!
f
v
m
t
d s
3
Á
- +
-
- -
J1
k
g
+ -
r
+
- - - -
I
+
-
+ +
+ + + +
+
- - - - - +
- - - - - - - - - - - -
+ +
+ + + -
-
- -
- - - -
-
-
-
•
.-
- - - -
-
+ + +
- +
- +
+ + - -
- -
.
- - - - - - - - - - - - •
- - - - -
•
•
+ + + + + +
- - - - - +
- - + + - - - + + - - + - + + - - - - + -
+ + +
+ + +
- + +
- + +
+ •
- - ""- - - - - - - - .
+
+
+
+
-
+
±
+
+
+ + -
- - + - -
-
- - • - + - + +
+ - • -
- - - -
Vogais:
silábico
consonântico
soante
alto
baixo
recuado
arredondado
•
1
e
E
a
:l
o
u
+
+
+ +
+
+
-
- -
-
+
-
-
-
-
+
-
+
+
+
+
-
+
+
+
+
+
-
-
-
+
-
+
-.
+
+
-
+
-
-
+
+
-
+
+
+
+
+
70
•
J
w
- +
-
+
+
+
+
.+
p.
+
-
+
+
+
-
+
-
- +
-
+
-
+
+
±
-
vogais e líquidas.
os glides e as obstruintes.
Vocálico:
Não-vocálico:
obstruintes e líquidas.
Consonântico:
vogais e glides.
Não_consonântico:
frieativas e laterais.
oclusivas, vibrantes e afrieadas.
Contínuo:
ejectivas, implosivas e cliques.
Não-contínuo:
frieativas [f,sS,v,3] (também africadas).
Bloqueado / Não-bloqueado:
\
fricativas [~,8.x,~J,'i1 (também africadas).
Estridente:
Mate (Não_estridentes):
sonoros.
- sonoros.
Vozeado:
sons nao
cons. velares e palatais, vogo baixas (::: [a]).
Não-vozeados:
cons. labiais, dentais, alveolares, vg. altas.
Compacto:
consoantes labiais e velares.
Difuso:
consoantes
dentais,
alveolares
e
palatais.
Grave:
cons. faringalizadas, labializadas, vogo [:),0, u).
Agudo:
Bemolizado (não bemol.)
cons. palatalizadas (/ não_palatalizadas).
longas/breves, aspiradas/não-aspiradas.
Diesado (/ Não-diesado):
cons. nasais, vogais e glides nasalizados.
Tenso / Não-tenso:
Nasal/ Não-nasal:
•
•
\
,;
•
•
Nota: velares são agudas diante de [i].
15.6. O Sistema de Traços de Chomsky e Halle (1968):
+
+
Soante (/ Não-soante):
Silábico (/ Não-silábico):
Consonântico:
Não_consonântico:
Coronal:
Não-coronal:
Anterior:
Não-anterior:
vogais, glides e nasais, líquidas.
vogais _nasais, laterais, vibrantes silábicas.
obstruintes, soantes, nasais e líquidas.
vogais e glides.
alvéoloalveolares,
dentais,
consoantes
palatais, retroflexas.
ais
es
labiais, velares, uvular e faring .
consoantes labiais, dentais, alveolares.
demais consoantes não anteriores e todas as
•
vogaIs.
71
.
Alto (/ Não-alto):
Baixo (/ Não-baixo):
Não-alto e Não-baixo:
Recuado (/ Não-recuado):
cons. alvéolo-palatais, palatais, palatalizadas, velares, velarizadas e as vogais [i,~,u]
e os glides [j,w). Os demais são não-alto.
consoantes faringais e faringalizadas e as
vogais [e,a,J].
vogais [e,p.,o].
consoantes velares, uvulares, faringais,
velarizadas faringalizadas, vogais centrais e
posteriores.
Arredondado (/ Não-arred.): sons produzidos com protrusão dos lábios.
consoantes bilabiais e laminais.
Distribuído:
cons. labiodentais, apicais e retroflexas.
Não-distribuído:
Coberto (/ Não-coberto):
vogais com estreitamento da faringe e maior tensão.
cons. implosivas, ejectivas, glotalizadas,
. Constrição Glotal:
faringalizadas e as vogais laringalizadas.
Nasal (/ Não-nasal):
cons. nasais, vogais e glides nasalizados.
Lateral (I Não-lateral):
cons. laterais que são coronais (fricativas,
africadas).
(Contínuo I) Não-contínuo: cons. africadas, nasais, oclusivas, ejectivas,
implosivas (as laterais podem ser ou [cont]
ou [-cont]).
Distensão Retardada
consoantes africadas.
(/ Distensão Instantânea):
Sucção (/ Não-sucção):
consoantes implosivas e cliques.
sons egressivos por elevação da glote
Pressão (/ Não-pressão):
(depois abaixamento).
Tenso (/ Não-tenso):
articulação firme, clara, prolongada, oposta
à articulação indistinta. Tanto as vogais
como as consoantes podem ser tensas ou
relaxadas.
Aumento da Pressão Subglotal (/ Não Aum. da Preso
Subglotal):
sons aspirados e. tensos ou oclusivas
vozeadas e aspiradas - (simultaneamente).
Vozeado (/ Não-vozeado):
sons sonoros.
72
s obstruintes contínuas e
te
- es t 'd nte)' conso an
Estridente (/ Nao- ri e
. das com fricção forte .
africa-
•
•
15.7. Modificações posteriores do sistema:
.
d Hz do Fo - elevação da laringe.
Vocais Tensas [+/-]: aumento a
d
oclusivas
surdas,
Cordas
Vogais
vozea , as,
.
aspiradas, [hl e Ul·
murmuradas.
lusivas sonoras,
d
]
as[+/- : oc. _ Vog desvozeadas, murmura as,
Vocais
Relaxa4
Cord•
asplraçao.
.
[hl
I . as aspiradas, murmuradas e
.
Abertura Glotai [+/-]:
oc U S I V '
,
vogais laringalizadas e [l].
Constrição Glotal [+/-].:
_ entre os dois sistemaS de traçoS: .
15.8. Comparaçao
Chomsky e Halle (1968)
Jakobson , Fant e. Halle (1963)
.''". ,
I _Traços de classes principais
+/- soante
+/_ vocálico
" .
+/_ consonantlco
+/_ vocálico
+/_ consonantlco
A
•
l
~
,,
I•
\
•i•
II - Traços de cavidade
+/_ coronal
+/- anterior
+/- alto
+/- baixo
+/- recuado
+/_ arredondado
+/_ distribuído
+/- coberto
+/_ constrição glotal
+/- nasal
+/- lateral
compacto / difuso
grave / agudo
+/_ diesado
+/_ bemolizado
nasal/ oral
73
."
• • • .-;0-.
=
.. _.=
.... =_.. =
...
.
alatal diante de uma vogal palatal (ou
Uma consoante velar torna-se P . 'f hada (alta ou meio-alta - ou,
.
seja, vogal anterior fechada ou melO- ec
III - Traços de modo de articuLação
+/+/+/+/+/-
interrompido / contínuo
+/- bloqueado
tenso / relaxado
contínuo
distenção retardada
sucção
pressão
tenso
ainda, média).
.ml.L ao·
-
16.2. DesaSSl
Fenômeno com
.
caaçrac~erísticas contrárias à assimilação.
-silábico
+alto
•
-postenor
_arredondado
V2
Regra:
•
-postenpr
IV - Traços de fonte
+/- aumento da pressão glotal
+/- vozeado
+/- estridente
+/- vozeado
estridente / mate
(From: Fonética, Fonologia e Morfologia do Português, por Maria Helena M. Mateus et
alii, Lisboa: Universidade Aberta, 1990, p. 240).
As alterações sonoras que ocorrem nas fonnas básicas dos
morfemas, ao se realizarem foneticamente, são explicadas através de
regras que caracterizam processos fonológicos. Esses fenômenos têm
nomes tradicionais e, via de regra, apresentam um conteúdo que é aceito
sem restrições pelos estudiosos. Apresentam-se, a seguir, os mais
comuns, ilustrados com exemplos:
A assimilação ocorre quando um som torna-se mais semelhante a
outro, que lhe está próximo, adquirindo uma propriedade fonética que ele
não tinha.
[+posterior]---1•.. [-posterior]
C
[k]-. [c] /
[x] • [ç] /
•
ExempI o:
• aI,
aa
ee
-+
•
•
el,
16.3. Inserção (ou epêntese): ,
Acontece inserção quando h a o
forma básica de um morfema.
Regra:
0-.-1·
16.1. Assimilação:
Exemplo:
Condição:
ee'--'. el
.
tr m fundem-se em um
. .'. nteriores iguais se encon a ,
Quando duas vogaIS a
.,'
ditongo, cujo segundo elemento e [I).
.
16. Processos fonológicos
Regra:
V2 dev-e ser igual a VI'
C
•
e
•
1, e
1,
/
[-posterior]
-silábico
_consonantal
+alto
-posterior
_arredondado
V
+acento
-sonorante
+consonanta
,
#
+contínuo
+estridente
uida de umafricativa alveolar surda [s), em
Uma vogal acentuada, seg
.
d com o acréscimo do segundo
sílaba final de palavra, torna-se dItonga a
segmento, que é um [i).
Exemplos:
•
Ixapas/
Ivosesl
/n~sl
[xapais)
[voseis)
[n~is)
75
74
acréscimo de um segmen
to à
16.4. Eliminação (ou a
Ocorre quando há a s
de um morfema.
Regra:
pagamento, queda, truncamento)'
- d
.
upressao e um segmento da forma básica
+silábico
-consonantal
+alto
-posterior
-arredondado
-acento
-sonorante
+consonantal
+delayed release
+alto
•
-antenor
-sonoro
Exemplo:
_#
Apaga-se o [i] átono em final de alavras
africada palatoalveolar [tD.
p
, quando precedido por uma
Ip:)til
Exemplo:
[pJtfi]
[pJtfr]
Uma consoante bilabial sonora [b] toma-se uma fricativa bilabial sonora
[P] em início de palavra, diante de vogal.
.
[pJtD
16.5. Comutação (ou metátese)'
Fenômeno que troca um s~gmento
morfemas.
de posição dentro de
/buml
[buru]
[punq]
(bW ro ) .
16.7. Fortalecimento:
Trata-se de um fenômeno com as características contrárias do
enfraquecimento. Por exemplo, quando uma fricativa toma-se oclusiva;
tem-se um fortalecimento. O caso de uma vogal que se toma uma
consoante também pode ser interpretado como um fenômeno de
fortalecimento.
Exemplo:
Ipia/
[pi ia]
[pilja]
[piÃa]
(pia)
16.8. Pala~alização:
Um segmento toma-se palatal ou mais semelhante a um som
palatal ao adquirir uma articulação secundária palatalizada (do tipo [ti]),
•
Regra: C". r ... I ...]
IdeNtrul
[d
- - . C". I '" r...] na palavra pirulito.
et
r u] ----,.
12345
[d r
e tu]
14235
16.6. Enfraquecimento (ou redução):
Certas mudanças fogem do adrão'd
'
, .
formas mais explícitas (enfáticas) ~ são 1 eal. da lmgua, tIplCO das
enfraquecimento, por causa da artic I _ consl,d~rados processos de
considerada como uma arti I _ u açao fonetíca- resultante que é
esforço (sic!). Na prática tal cr~ açao ~ais frouxa (sic!) ou. de menor
oclusiva toma-se uma fri~ativ gra ap lca-se: por exemplo, quando uma
a ou uma aproxlmante.
.
Regra: +consoantal
-silábico
+anterior
+sonoro
,
-contmuo
---.
+consonantal
-silábico
+anterior
+sonoro
+contínuo
76
ou africativizada (do tipo [tD ou um deslocamento articulatório em
direção ao lugar de articulação palatal (como uma velar anteriorizada [~].
Regra: +consonantal
-silábico
-alto
-estridente
+consoantal
-silábico
+alto
+estridente
-delayed release
+delayed releas
-palatalizado
•
+antenor
+palatal izado
-consonantal
+silábico
+alto
-posterior
-arredondad
Uma consoante oclusiva alveolar [t] toma-se uma africada palatoalveolar
[tSl, quando se encontra diante de uma vogal anterior fechada [i].
# ---..:... V
Exemplos:
Itial
/dial
[tIia]
[d3 ia]
77
(tia)
(dia)
•
16.9. Labialização:
Acontece a labialização quando uma art' I arredondamento é acrescentada à art' I _
ICU açao secundária de
ICU açao prim' .
.
há a troca de um segmento não I b' I
ana ou, amda, quando
a la por outro labial.
Regra:
-alto
+posterior
-baixa
ICI
v
v
+arredondada
+arredondada
+arredondada
Uma consoante
torna-se labializada, quando Ocorre entre duas
arredondadas.
vogais
Exemplo:
16.11. Harmonia vocálica:
A harmonia vocálica é um tipo especial de assimilação que faz
com que vogais tornem-se mais semelhantes entre si, em geral, por
alguma razão morfológica (regra morfofonológica). Em turco, por
exemplo, as vogais altas de um sufixo concordam em posterioridade e
em arredondamento com a vogal da raiz. As letras gregas alfa (u) e beta
(~) representam os valores (+ / -). Uma vez marcado uma dessas letras
com um valor (por exemplo, +), todas as ocorrências dessa letra terão
esse valor (+). Para I ficar com valor invertido (no caso, -), coloca-se o
sinal na frente da letra grega (-a). O mesmo vale para a letra beta.
V
+alto
Regra:
los ui
(osso)
a posterior
~
16.10. Retroflexão:
A retroflexão acontece quando h'
,.
secundária retroflexa à articulaça-o . ~ ~ acreSClmo de uma articulação
pnmmadeums
de um segmento não retroflexo
egmento ou a troca
por outro retroflexo.
Regra:
+sonorante
+coronal
+anterior
+distribuído
-nasal
-lateral
----.
-anterior
-distribuído
.
Exemplo:
Ip::lctal
[p::l1ta]
"
(porta)
arredondado
Regra-l
Exemplo:
V
-alta
+baixa
V
#
-alta
+baixa
a estrutura [oo. C Vi # V 2 C oo.] fica [oo. C V 2 # C ...]
Ikaza # amarEla!
[ka za ma rela] (casa amarela)
17. Símbolos usados na fonologia
Apresentam-se, a seguir, de fonna sucinta, os principais símbolos
usados nas regras fonológicas. São fonnas que simplificam a escrita e
que têm um uso muito generalizado. Muitos" dos símbolos já foram
,"
•
+-
15.12. Sândi:
O sândi é um fenômeno que ocorre nas fronteiras de palavras
Guntura intervocabular) que consiste na transfonnação de estruturas
silábicas nesse contexto, causada, em geral, pela queda de vogais ou pela
fonnação de ditongos ou mesmo pela ocorrência peculiar de certos sons.
Regra-2:
Uma consoante líqüida não lateral (o
.
[1, .(l. Observar'
u seja, [r, r]) torna-se retrofléxa
que e costume colocar à d' .
I'"
lrelta da seta apenas as
propriedades que mudam de
va encla ou as q
' ,
Tam bem
e comum escrever
.
. ue sao acrescentadas.
sonorante, [cor] coronal e assal·smProprdl~dades na fonna abreviada: [son]
.,
por lante._
V
a posterior
~ arredondad
79
"
apresentados antes, neste trabalho mas
.
,
a comparação entre eles e a cons -l't
estao aqm reumdos para facilitar
u a aos mesmos.
17.1. Barras inclinadas:
/kazal
As barras inclinadas servem ar . di
elas representam fonemas Q' d P a III car que os segmentos entre
. d'
. uan o encerram um morf
III Icam a forma básica do morfem
ema ou palavra,
,
a ou d a pa1avra.
,
17.2. Colchetes:
[kaza]
Toda representação que parte da forma bá .
.
SICa de um Item lexical
passa a ser representada por colchetes uad
q
r~d~s.
De um modo geral,
eles representam alofones dos t
onemas, transcnçoes fonéticas.
17.3. Barras verticais'.
IkazaI
{kaza}
,
Os segmentos entre barra
"itens lexicais É uma outra
s .vertidCaIS sao formas morfológicas dos
~
.
.
maneIra e se escrev
. pode-se usar
er achaves.
orma básIca dos
morfemas. Em lugar das
, barras vert'IcalS,
17.4.
Colchetes
para
os
traços;
As'ed
.
[+c]
[
or -ant]
propn ades distintivas (ou tr
d'"
dentro de colchetes quadrado
aços IStllltIVOS) são anotados
s com as marcas da v IA •
e dentro do colchete. '
a enCIa antes do nome
17.5. Flecha:
~
s
S
A flecha é usada nas regras
..
esquerda transforma-se no 1
para sIgmficar que o elemento à '
.
e emento da d' eI't É
especIficação à direita contenha apenas as lll
.
a. _ comum que a
ou modificadas, com relação ao
à ormaçoes novas, inseridas
indicar a ocorrência doalofone ,q~~ :em esquerda. Um uso comum é
leituras da seta são do tipo' x tra(a :relta) de um fonema (à esquerda). As
l'
.
nSlorma-se em Y'
' x rea Iza-se como y; x
toma-se y; x é y . '
t
17.6. Barra inclinada à direita: x
~
x
17.7. Traço horizontal:
~y Iz
W
Um traço horizontal (ou um travessão) é empregado para indicar
o lugar exato no enunciado em que uma regra deve atuar. Uma regra do
tipo: "/sl
~
I V
" lê-se: "o fonema Isl realiza-se como
no
•
m
m
•
contexto pós-vocálico".
ka + za ou ka. za
A fronteira de, sílaba é anotada com o sinal de mais (+) ou com '
um ponto (.). O sinal de mais pode ficar reservado para a indicação de
fronteira de morfema e o sinal de ponto, para a marcação de sílabas.
17.8. Sinal de mais (fronteira de sílaba):
17.9. Cerquinha (fronteira de palavra): ka.z + a # a.ma.rd + a
O sinal (#) (indicação de número ou cerquinha) é usado para
indicar as fronteiras de palavras. Duas cerquinhas podem ser usadas para
indicar limites de palavras e uma, limite de morfemas.
•
17.10. Chaves: { ... } ,
,
As chaves são empregadas nas regras para significar a disjunção
ou formas alternativas; ou seja, uma coisa ou outra, mas não ambas ao
mesmo tempo. As chaves são usada apenas no eixo paradigmático da
corrente da fala. Este símbolo (e alguns outros) são usados para
simplificar a formulação de regras, tomando-as mais abrangentes. Em
outras palavras, costumam servir para juntar duas regras em uma única.
,
Exemplo:
Ix.!
Ix.!
[S] I V _ #
O fonema Isl ou o fonema Ixl - dependendo de qual deles ocorrer no caso
(alofone de ambos), no contexto
específico _ realiza-se com o alofone
m
final de palavras, após vogal.
17.11. Colchetes nas regras: [ ... ]
I'
. . Uma barra inclinada à direita é usad Y z
w.
dIreIta, será feita a especificaça-o d
a para se dIzer que, à sua
d
.
.
o contexto em qu
regra regIstrada à esquerda da barra.
e se eve aplIcar a
Quando os colchetes quadrados são usados em regras, não se
referindo especificamente a segmentos individuais, significam o mesmo
que as chaves com uma restrição de respectividade: as formas alternadas
,
'
81
80
•
I,
-
-
s6 se aplicam seguindo a linha horizontal d
_
Isto significa que há uma orden - h ' as representaçoes na regra.
elementos constitutivos das regras~çao onzontal nas relações entre os
Regra: .
Isl
Ix!
[f]
V_#
V
C
A regra acima diz qu
+'
e, quer o lonema Isl quer o fonema Ix!
l'
com o alofone [f]
, ,
rea Izam-se
, porem, Isto acontece com o Isl somente
no contexto
Posvoc ál'ICO em final de palavras' e ar
posvocálico antes de consoante'
p ~ o Ixl, somente no contexto
palavras, entre uma vogal e uma c~n~~a:'IO de palavras - em outras
17.12. Parênteses:
(...)
.
Os parênteses sempre significa
ou conjuntos de elementos que
d m ocorr~nClas optatIvas, elementos
apresentam a opcionalidade ap po em o~ nao aparecer. Os parênteses
,
enas no eIXO sintag 'ti
.
lmha horizontal das regras. Por exem
ma co, ou seja, na
. contexto de sílabas é co
"
pIo, nas regras que definem o
. 'fi
,mum mdlcar elementos optativos' C (C) V
sIgm Ica que podem ocorrer duas consoantes ou apenas a pri~eira.
A.
17.13. Colchetes angulados:
-
ê
a-
[5]
,
•
17.14.
Convenção
alfa
(beta,
gama...
):
a,~,
y
,
As vezes, uma propriedade pode ter a marca "+" ou "_", .
condicionada à marca "+" ou "-" de outra propriedade especificada na
regra. As letras gregas são usadas para manter o valor em ambos os casos
de tal modo que, se alfa for "-" num caso, manterá esse valor em todas as
ocorrências que tiver na regra; se tiver o valor "+", esse será o valor do
,
alfa sempre que aparecer - junto a qualquer propriedade dessa regra. As
vezes, pode-se pôr uma marca "+" ou "_" antes da letra grega. Neste
caso, isto significa que os valores "+" ou "-" ocorrem sempre com
valências (+1-) opostos. Assim, se ex eqüivale a "-", a ocorrência de -ex
eqüivalerá a "+". Por outro lado, se ex representa "+", -ex representará "_",
e assim por diante..
Regra:
-baixa
ex posterior
V
ex arredondado
----~
+posterior
-arredondado
<-baixo>
-.
.
j
,
,,
I
1
•
83
V
ocorrência de
regra - tambem notada com
1
J
I
82
+baixo
<+nasal>
~u~~a;;ea~~ntece, obnga ~
I
•
Toda vogal baixa é também posterior e não
vogal baixa for também nasal aI' d
arr~dondada; porém, se a
deverá ser, ainda, não baixa. E~ta ~~m~ ::r poste?or e não arredondada,
o seguinte resultado nessa língua:
gra da lmgua Nupe que produz
Regra:
I
< '" >
e
Exemplo: As vogais [i, e] e [o, u] não concordam quanto ao
arredondamento nem quanto à propriedade anterior. Em vez de se fazer
duas regras, uma para caso, pode-se reduzi-las a uma, usando a
convenção alfa, comó se mostrou acima. Portanto, a regra acima diz que,
se a vogal for anterior (a posterior eqüivale a [-posteriorD, será também
não arredondada (ex arredondada eqüivale a [-arredondada]; se a vogal
for posterior (a posterior eqüivale a [+posterior], será também
arredondada (a arredondada eqüivale a [+arredondada]). Em outras
palavras, se ex posterior valer [-posterior] o a de arredondado deverá ter a
mesma valência do ex de posterior, ou seja, deverá ser [-arredondado]. Se
a valência ex de posterior for [+posterior] a valência de arredondado
deverá ser [+arredondado].
uma especificação em uma
colchetes angulados.
•
. ,
[a]
,!'IJ,
17.15. Outros símbolos:
C : representa a categoria geral de consoantes.
~ : representa a categoria geral de vogal.
v : representa qualquer vogal nasalizada.
N : representa qualquer consoante nasal.
O : representa qualquer consoante oclusiva
.D : representa qualquer ditongo
Dj :. representa qualquer d~tongo terminado por üJ.
wD. representa qualquer dItongo iniciado por [wJ.
0: representa a não ocorrência, nada, nenhum elemento.
o
No cas C _: :
t.i~o de fónnula usada na especificação de padrões silábicos
o, s~gm lca a ocorrência de nenhuma consoante de uma d d .
"
e uas
ou de três Isto ' 0 C cc
.
.'
e",
ou CCC. Algo equivalente pode-se fazer para
;~;oO;g:~: por exemplo: VO-3 - 0, V (monotongo), VV (ditongo), VVV
Regra:
t.:
V I -3
sílaba deve ~empre ter uma vogal que pode ser um monoton
duItongo ou hum trltongo, a qual pode vir precedida ou seguida p;ro~~:
d as ou nen uma consoante.
ma
•
18. Variação lingüística e análise fonológica
•
'd
.
Convém lembrar aqui algu
dos d d
(
mas conSI eraçoes básicas a respeito
'
. a o~ corpus) para a análise fonológica. Em rimeiro lu
~recISo dIzer que é impossível fazer uma análise fo~oló ic gar, e .
hngua pretendendo incorporar todas as dife
g a de uma
, 0;r:tar um conjunto relativamente restrito para u
_.
entrem na a~~Ise estágios, níveis e fatores tão diferent;s da lín~u: nao
tornem a a~áhse contraditória e, portanto, impossível.
.
que
ASSIm como se separa uma língua como o Po
.
Pr6ximas, como o Espanhol, Francês, o Italiano, etc :g~::mdoe mouotrdaos
d evemos separar de tr d L'
.,
,
n
a mgua Portuguesa aquelas facções da língua
A
°
que constituem por si um todo orgânico, com uma identidade lingüística
particular. Consegue-se isto com relativa facilidade quando se trabalha
com dados reais, obtidos diretamente dos falantes. Ao analisar 'a fala de
uma pessoa, obtém-se uma representação da língua bem definida,
embora restrita a um falante. Como ele não é um ser
isolado
•
lingüisticamente, sua fala revelará infalivelmente a maneira como a
comunidade a que pertence usa a língua portuguesa, pelo menos com
relação à maioria dos fatos. Essa indicação já pennite estender os limites
da análise aos falant~s de uma comunidade bem definida, sem perder a·
homogeneidade do sistema lingüístico que se quer descrever. Quando a
análise abrange um número maior de falantes, notar-se-á um aumento
nas diferenças estrutur~is no sistema que se descreve. A homogeneidade
do sistema depende muito de fatores históricos, geográficos e sociais.
Por exemplo, ao estudar a fala de pescadores paulistas com mais de
cinqüenta anos, que vivem numa aldeia isolada, provavelmente, vamos
descobrir que eles apresentarão não somente um modo de vida, mas
também um modó de fala semelhante entre si. Se a esses dados forem
juntados dados da fala de escriturários baianos, certamente, as diferenças
no corpus assim constituído serão bastante grandes. Em certas
comunidades, mais do que outras, as diferenças de idade também podem
revelar grandes
diferenças
de
pronúncia
entre
os
falantes.
,
E difícil (senão impossível) estabelecer a priori os limites ideais
para se fazer uma boa análise fonológica de uma língua, seja ela qual for.
Por isso, quando se tem muitos falantes, convém começar a análise dos
dados não comparando fatos isolados, mas agrupando-os em função de
fatores históricos, geográficos, sociais, estilísticos, etc. Certos falantes
podem apresentar sistemas tão diferentes a ponto de comprometer a
fonnulação de regras. Estas podem gerar contradições internas no
sistema, podem revelar fatos mal explicados, podem produzir regras que
necessitam de uma quantidade muito grande de exceções, e coisas deste
tipo. Por exemplo, em Português, há pessoas que produzem as africadas
[tn e [d3] diante de vogal IiI, mas, há outras pessoas que não fazem uso
dessa regra. Se misturarmos os dois tipos de falantes, chegaremos à
conclusão que se trata de uma regra de variação livre - o que é falso.
Porque nenhum dos dois tipos de falante mistura os fatos. A saída é
°
84
85
"''I
..,,
•
dividir o corpus em duas partes e caracterizar quem são os falantes de
um conjunto e quem, do outro.
É preciso tornar muito cuidado com os julgamentos que os
informantes não treinados lingüisticamente podem ter a respeito da
pronúncia da própria língua. A intuição do sujeito falante opera com
relativa facilidade nos casos em que ele se vê diante de um fato
agramatical ou até mesmo de um fenômeno básico do sistema. Porém, os
falantes costumam ter pouca consciência das variações, sobretudo das
variações livres. Variações dialetais podem chamar mais a atenção do
que variações que ocorrem dentro do próprio sistema do informante. Por
exemplo, pode parecer claro que alguns falantes do Português usam as
africadas [tJ] [d3], mas pode não ser muito claro que todos os falantes do
português usam consoantes sonoras diante de consoantes sonoras e
consoantes surdas diante de consoantes surdas, em palavras como deste,
desde, visconde, visgo, mesmo, etc. Estudar a pronúncia dos elementos
nasais e nasalizados em Português é uma tarefa para especialista, uma
vez que os falantes não têm consciência muito clara dos detalhes de sua
própria pronúncia. Não raramente, respondem baseando-se mais em
. idéias que têm a partir do sistema de escrita do que da verdadeira
observação da pronúncia,
O exposto acima diz que uma língua como o Português é, na
verdade, uma' somatória de muitos subsistemas lingüísticos,
caracterizando as diferentes variedades da língua - ou os dialetos, falares,
etc. A. análise fonológica deve, de preferência, ater-se a uma variedade
por vez e através de comparações possíveis procurar a visão mais
abrangente da língua.
.
.
A variação pode ter um aspecto diacrônico (ao longo do tempo)
ou sincrônico (em um determinado momento da história). Pode ter um
aspecto geográfico: pessoas de lugares diferentes apresentam modos de
falar diferentes. Pode, ainda, ter um aspecto social: pessoas de classes
sociais diferentes costumam apresentar modos de falar diferentes. O
mesmo pode se encontrado entre pessoas de sexos diferentes
(principalmente em certas comunidades). Pessoas de grupos étnicos
diferentes (emigrantes, por exemplo) também costumam apresentar
características próprias (sotaques). Além disto, a variação pode ter um
aspecto individual: uma mesma pessoa fala de maneiras diferentes
86
.
. _
endendo da velocidade de fala, das
&
•
d uso da linguagem (estilos
(apresenta vanaçoes), dep
ou menos 10rmals e
. .
circunstanCIas maIS
d d das condições emocionaIS do
"
.
diferentes) e até mesmo depen en o
A'
•
Por causa a rea I a
t le'
, .
relativamente complexo. Sem um con ro
análise fonologlca torna-~e ão a interpretação fonológica pode per~er
sobre o problema da v~aç,
d do mesmo gerar interpretaçoes
muito de seu valor e mteresse, po en
.
equivocadas, incompletas ou falsas.
Variação
Sincrônica
Dlacromca
Social
Geográfica
,
"
Hlstonca
- sexoS diferentes
lugares
' .
_épocas diferentes
SOCIaIS
classes
diferentes
bastante
- idades
diferentes
•
diferentes
•
- grupos étnicos
.
diferentes
•
A'
•
Individual
- diferentes velocidades de fala
_ diferentes estilos:
•
maiS ou menos
formais
-diferentes situações
•
emocionaIS
19. Novas tendências da fonologia atual
•
•
"
d'r
aprendiz na maneIra
O objetivo deste trabalho e mtr° uuZlm aOlíngua A metodologia
'1
sistema sonoro de
.
como um fono. ogo ~e. o
or ue tal abordagem ajuda a se ter
privilegiada fOl a analls: fonemlca P lq de um sistema fonológico, com
. - . I s porem bastante rea ,
.
d
I C
a introdução das propneda es
uma Vlsao sImp e ,
mente o processo de formalização
relação ao seu aspecto segmenta., tOm
,
"
& •
,
1 mostrar sucm a
' f sem contudo incorporar de
dlstmtlvas 101 posslve
já numa abordagem da fonologia geratI::icas 'dessa teoria. A reflexão
forma completa os pressupoS~os, e as, : CI'as teo'ricas de determinada
.
b - aqUI as eXigen
fonológIca se so repoe, . 'lh'd
mo forma didática e não como
I ti mo fOl esco lOCO
,
O
abordagem.
~c e , S
fonólo o deverá, em seu trabalho cientifico,
procedimento clenti~C? O
. g
metodologia coerente e adequada
definir seu campo teonco e segUIr urna
, .
à sua postura teonca.
87
A
A'
I
,
,!
;,
!
i
!
;
f,
:.i
!,
Os elementos constitutivos das sílabas foram estruturados em
forma de árvore, conforme se vê na página anterior. A primeira parte da
sílaba (consoante) chama-se Onset e a segunda (vogal mais consoante)
chama-se Rima. A parte da rima que identifica a vogal chama-se Núcleo
e a que identifica a consoante, chama-se Cada. Estrutu~as mais
complexas ou mais simples podem ser formadas a partir desse padrão..
Com esse esquema fica mais fácil fazer regras fonotáticas e definir
contextos. Os arquifonemas do Português IS, N, L, RI ocorrem somente
como Coda. Os ditongos crescentes, apresentam uma consoante velar no
Onset: quatro, água, etc. Uma regra de sândi passa a ser definida corno
d~, tl~O
Convém lembrar que uma abord
.
estrutu:alista
(fonêmica), como usada aqui na maioria d agem
nos trabalhos fonológicos que se f
h ~ vezes, Ja nao tem maiS vez
da ciência. A Fonologia Gerativa :::a f,0Je, s~n~~ um fato da história
sido mais usada Apart' d
'.
orma mIclal, também não tem
.
Ir as contríbuiç- d
.
chegou-se, hoje a novas aborda
oes os estudIoSOS do passado,
modo geral p~de-se d'
gens nos estudos fonológicos. De um
d'
,
Izer que o que
derivadas da Fonologia Gerativ
pr~ ?mma sao abordagens
. .
a, com caractensticas próprias.
A fonol'
definindo fone~;~a~:a:~:~~:~ ~:a I~nea:~o~que ~e~ui~ a linha do tempo,
a fonologia tem uma visão não-li: opn a es dIstmtl:as. Atualmente,
ear, porque suas umdades de trabalho
vão além dos lim' t d &
•
1 es o lonema e das matrizes d
.
dIStO, .os elementos paradl'gma't'lCOS dessas unidad e propnedades.
Além
b am
tendo uma
orgamzação própria, com uma hierar uia
es aca cu:
rumos que tomou a Fonologia nos últi':nos ~em estabelecl.da. Os vários
em áreas internas da Fonolo '
empos produzuam trabalhos
ge~an~o abo~dagens específicas, como a
Fonologia Auto-segmentai
Fonologia Prosódica De'ntr ondo ogla lexIcal, a Fonologia Métrica, a
.
o esse quadro
.
I
maIS g~ra, podem-se
encontrar modelos fonológicos variados c
de Traços, a Optimalidade em F I " orno a FonologIa de Geometria
.
ono ogla, etc..
segue:
\
•
•
•
\
a
Is
t rus
,
I
•
uma sílaba pesada.
89
88
•
C
N
•
Essa estruturação das sílabas é chamada de planilha silábica, Há
vários fenômenos fonológicos ligados a isto, corno a ambissilabicidade,
os elementos flutuantes, o peso silábico, a extrametricidade, etc. O
,,, .'
exemplo de sândi acima, num primeiro momento, mostra um caso de
~!
ambissilabicidade: um segmento ligado a dois pontos na estrutura
1
,,
silábica, Num segundo momento, ele foi cortado 1= da Coda da primeira
!
sílaba e re-ligado (.....) ao Onset da sílaba seguinte, mostrando o processo
de re-silabificação. Todo segmento tem um lugar na planilha silábica.
Porém, alguns podem ficar desligados temporariamente: são os
chamados elementos flutuantes. Depois, serão re-ligados ou
simplesmente apagados. Sílabas que têm um segmento ligado à Coda
("coda preenchida") são consideradas sílabas travadas, assim como
aquelas que têm o Núcleo ramificado, como acontece com os ditongos.
Alguns interpretam o segundo elemento (semivogal) de ditongos como
segmentos ligados à Coda. O peso silábico é um fator importante para
regras de acento. Uma sílaba longa tem o Núcleo ramificado, indicando
coda
s
t... .
•
•
•
z
onset
p
I
•
•
•
C ....
19.1. FONOLOGIA MÉTRICA:
A Fonologia Métrica, como as dern 'f,
.
- .
.
des~nvolveu a partir do final dos anos 70 aIS onologlas nao-Imeares, se .
vários tipos de Fonologia M 'tri
. e, sobretudo, nos anos 80. Há
voltada para os fenômenos de :n;:~tecuJa preoc~~ação principal está
P
sílaba e dos fenômenos rítmico s,~g~a.
sIda fonotatlca, em
particular
da
.
.
núcleo
"
R
;1;,
•
a.
I
I
As relações entre as sílabas são de
.
saliências, definidas como sílabas f, rt (termmadas em função de suas
O
weak). As saliências das íl b eds s - strong) e sílabas fracas (w _
SI a as e um e
. d
representadas em forma de árv
nunCla o podem ser
ore, como se mostra a seguir:
expressão como thirteen men, que deveria ter uma colisão de acentos,
acaba sendo pronunciada com o acento da palavra thirtéen deslocado:
thírteen mén.
.
No estudo do acento, tem sido proposto que algumas sílabas (ou
elementos) são extramétricas, ou seja, não contam na formulação de
regras de atribuição de acento, como acontece com o latim, cuja regra de
atribuição de acento é a seguinte:
W
W
A
s
I
•
mI
~"-.
w
S
A
s
I
I
nha . che
w
s
w
/\
s
w
I
fe
I
foi
I
a
Regra: A última sílabji é sempre extramétrica (não existem palavras
oxítonas). Se a penúltima sílaba for pesada, o acento cai nessa sílaba; se
for leve, o acento cai na sílaba anterior.
A
s
w
I
Sou
I
sas
Exemplos:
.
. Em vez da representação em forma de '
, .
usar-se uma representação na f,
d
arvore, e comum também
orma e grade, como se mostra abaixo:
x
x
•
mr
x
nha
x
x
x
che
x
fe
x
x
foi
.
x
a
x
x
x
x
Sou
,
dó - ml- nus
ma - gls - ter
Em Inglês, a regra de atribuição de acento diz que a última
consoante da última ,sílaba é extramétrica. A última sílaba será acentuada
se for pesada, caso contrário, o acento cairá na sílaba anterior. Veja as
palavras atén(d) e astóni(sh).
Da organização das sílabas de um enunciado em função da
relativa saliência acentual cria-se uma padrão rítmico. Em vez das sílabas
serem marcadas como fortes (s) e fracas (w), marca-se o pé (foot) métrico
que pode ser basicamente um troqueu (longa - breve) ou um iambo
(breve - longa). Isto mostra que os pés são interpretados como unidades
binárias. (Algumas línguas admitem pés não binários.) Os pés métricos
são representados pelo sigma maiúsculo: L, e os elementos constitutivos
aparecem entre parênteses, às vezes, com marcas do tipo troqueu (x .) ou
iambo (. x).
x
sas
~o
esquema arbóreo, a sílaba Sou- é mar
"
.
SIgnifica que é a sílaba mais f, rt N
cada tres vezes com s, o que
, I
o e. o esquema de gr d
'.
mve , todas as sílabas recebe
a e, no pnmelro
.
m uma marca Dep .
,
arti d .
aIS, o esquema assmala
apenas as saliências. Neste caso
recebe três marcas de sal'" '. a PE r o segundo nível, a sílaba Sou.
lenCla. sta é a íl b
.
.
enu~clado, a que carreia o acento frasaI.
SI a a maiS sahente do
plamlha métrica do enunciado d
I Desse modo, constata-se que a
Uma regra rítmica mUi~oc~n~;~:~atos rí~~icos da língua.
clashing). Este fenômeno já f h
. a e a colzsao de acentos (stress
literatura ao estudar a metr'fi ln.. a SIdo detectado por teóricos da
.
I Icaçao como
I ' por exemplo, António de
CastIlho. Algumas línguas
'ta
,
.
eVI m co ocar du
'1 b
as SI a as acentuadas
contíguas. Quando isto pode
acontecer aplica
uma sílaba à esquerda o prim '
'
m uma regra que move
elro acento em colisão . Em Ing'"
les, uma
(x
•
mI
.)
nha
(x
che
.)
fe
(x
foi
.)
a
(x
.)
Sou sas
•
90
91
,
I
_._--_._----19.2. FONOLOGIAPROSÓDICA'
Diante de um enunciado, além das síl b
'
pode-se constatar outras unidades
. a as e do~ pes métricos,
fenômenos rítmicos e entoac'
. E maIOr~s, envolvIdas com os
·....
.
IOnaIS.
ssas
umdades
t
b'
saIIenClas fortes (marcadas) ou f:
( _
am em podem ter
modelo de árvore para mostr:a~as nao .marcadas). Em geraI, usa-se o
também a Part.ir de uma estrutura d:~::d~~ldades, mas pode-se obtê-Ias
O conjunto de unidades acima d íl
.
estudo, constituindo a Fonologia P .,~. SI aba é ?bJ~to especial de
prosódicas comumente estabelec'd ~o~o Ica. Os mveIS ou unidades
são:
I os oJe, com os respectivos símbolos ,
U
I
fI>
C
00
L
enunciado fonológico
grupo entoacional
grupo fonológico
grupo clítico
palavra fonológica
pé (métrico)
sílaba
•
O'
••••• o.
•• • • • •• • • ••• •• • • • ••• • • • ••• •••••••
w
s
w·
A
s
I
•
Illi
w
I
nha
phonological utterance
•
zntonational phrase
phonological phrase
clitic group
phonological word
foot
syllable
s
A
s
I
che
w
•• • • o • • • • • • • • • • o • • • • • •
w
s
/\
s
A
s
w
I
I
w
I
fe
foi
a
•••••••••••••
I
I
Sou
sas
•••••••
U enunc. fon.
I gr. entoac.
fI> gr.fonol.
L
pé
O'
sílaba
Dentro da Fonologia Prosódia
.
fonológica é uma unidade com t
"p~r exemplo, uma palavra
específicas. Por exemplo pod s atus propno, à qual aplicam-se regras
.
,
e-se ter uma regra de
umdade palavra fonológica e acento que se aplica à
nao aos morfemas separadamente.
92
A fonologia moderna tem inúmeras regras, princípios, condições
para os processos fonológicos e para a boa formação fonológica dos
enunciados. A regra de colisão de acento, vista antes, é um exemplo. Tal
regra aplica-se a todos os níveis prosódicos também. É por essa razão
que uma palavra como cafezinho tem acento secundário na primeira
sílaba e não na segunda, na fala das pessoas. As regras de eurritmia da
língua exigem o deslocamento do acento que, na forma básica da palavra
café, cai na última sílaba.
,
19.3. FONOLOGIA LEXICAL:
As regras fonológicas têm muito a ver com a formação de
palavras. Essa relação ~ntre o sistema sonoro e o sistema lexical das
línguas é tratada através da Fonologia Lexical. Há várias propostas de
organização do léxico. Um modelo proposto por Seung-Hwa Lee para o
Português pode ser apresentado muito sucintamente, como segue.
O léxico é um componente da gramática que se estrutura em
estratos ou níveis e contém regras ligadas ao componente fonológico
propriamente dito e à sintaxe (A morfologia como tal é mais abrangente).
A Fonologia Lexical apresenta dois grandes níveis: o nível lexical
e o nível pós-lexical. No nível lexical há dois estratos: o nível 1 (a.) em
que são definidas as formas básicas dos morfemas e onde ocorrem os
fenômenos de derivação, um tipo especial de composição (i) e as flexões
irregulares. Por exemplo, a paIavrafelicidade é derivada defeliz + idade
e sua formação se dá nesse primeiro nível do léxico do Português. Outro
caso seria a palavra descoberta, de flexão irregular, e uma palavra como
rádio-taxista, cuja forma de composição pertence a esse nível.
No nível 2 (~), ocorrem todas as formações produtivas e as
flexões regulares da língua (verbo, número, -(z)inho, -mente, -íssimo).
Palavras como falo, falava, flor, flores, cafezinho, etc. são formadas
nesse segundo nível.
O terceiro nível (00) já está na parte pós-lexical e representa a
saída do léxico e entrada para a sintaxe. Daí em diante, as regras não
podem mais ser cíclicas, como acontecia nos estágios anteriores e
também não afetam as operações morfológicas.
O último nível é o nível pós-lexical, em que acontece um tipo
especial de composição (ii), que irá tratar de palavras do tipo homem-rã,
93
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