PATRÍCIA OLIVEIRA DA SILVA A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS EM ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE LONDRINA (2007 A 2010) Londrina 2011 PATRÍCIA OLIVEIRA DA SILVA A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS EM ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE LONDRINA (2007-2010) Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina. Orientador: Prof. Dra. Silvia Márcia Ferreira Meletti Londrina 2011 1 PATRÍCIA OLIVEIRA DA SILVA A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS EM ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE LONDRINA (2007-2010) Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina. BANCA EXAMINADORA ____________________________________ Prof. Orientador Universidade Estadual de Londrina ____________________________________ Prof. Componente da Banca Universidade Estadual de Londrina ____________________________________ Prof. Componente da Banca Universidade Estadual de Londrina Londrina, _____de ___________de _____. 2 Toda honra e glória seja dada a Deus! 3 AGRADECIMENTOS A Deus, base da minha vida, meu refúgio nos momentos de aflições, meu auxiliador. Se não fosse pela sua sublime misericórdia não teria condições nenhuma de chegar até aqui. Por toda saberia, conhecimento, inteligência, forças, condições, paciência e vitórias dispensadas do céu sobre mim. A meu papai Reginaldo e minha mamãe Nadir, que depois de Deus são os pilares que me sustentam. Pessoas magníficas que Deus enviou na minha vida. A quem observei durante meu desenvolvimento e me serviram como modelo para ser o que sou hoje, ensinando-me coisas que instituição escolar nenhuma poderia me ensinar. Que de forma especial me deram força e coragem, me apoiando nos momentos de dificuldade. Se cheguei até aqui, sou grata a vocês por isso. Obrigada pelo amor incondicional dedicado a mim. Eu amo muito vocês! Ao meu noivo amado Luiz Henrique, que com sua presença amorosa, faz meu dia a dia ser repleto de felicidade. Quem me ajudou a acreditar que eu era capaz. Por todos os conselhos sábios nos momentos difíceis, todo carinho, cumplicidade e compreensão. Nas horas em que mais precisei de vitalidade, foi no seu amor que encontrei inspiração para seguir em frente. Obrigado por ser um modelo de coragem, força e sabedoria para mim. Essa vitória também te pertence! Também te amo muito. Ao meu irmão Rinaldo, pessoa que amo e admiro muito. Que sempre me incentivou a estudar e a prosseguir nos meus estudos. A Fundação Araucária e ao grupo de pesquisa ao qual faço parte, pelo auxilio na pesquisa dos dados. Por fim, a pessoa sem a qual esse trabalho não teria se realizado, minha orientadora Silvia Meletti. Que com sua imensa sabedoria, de forma exemplar, soube guiar meus passos para a construção dessa pesquisa. Agradeço de coração a essa pessoa de inteligência admirável, que me inspira desde o início da minha graduação. 4 “Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu” (Fernando Pessoa) 5 SILVA, Patrícia Oliveira da. A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em escolas da rede municipal de Londrina (2007-2010). 2011. 37f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011. RESUMO A inclusão dos alunos com necessidades educacionais no sistema regular de ensino é uma questão bem delicada que necessita de profundas análises e estudos para sua concretização. Considerando este contexto, tem-se como finalidade nesse trabalho, analisar como vem ocorrendo o movimento de inclusão educacional de 2007 a 2010, especificamente nas escolas da rede municipal de Londrina/PR. Para tanto se adotou como metodologia um levantamento de dados apresentados pelo INEP (nos anos estabelecidos) e análises de indicadores dos sociais acerca das condições de vida da pessoa com deficiência. O tema será discutido abordado por análises estatísticas dos números de matrículas, mediante cruzamentos pelo programa SPSS. O estudo demonstrou que ocorreu sim uma melhoria no atendimento educacional dos alunos com necessidades especiais no ensino regular, porém muitos desses alunos continuam sendo matriculados em instituições especiais e EJA (educação de jovens e adultos). Palavras-chave: Educação Especial, Necessidades Educacionais Especiais, Indicadores Educacionais, Matrículas. 6 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Total geral de matrículas e total de alunos com necessidades educacionais especiais (2007 – 2010) ..................................................................... 17 Tabela 2 – Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais por modalidade de ensino e por dependência administrativa (2007 – 2010) ................. 19 Tabela 3 – Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais por modalidade de ensino e por tipo de deficiência nas escolas municipais de Londrina (2007 – 2010) ........................................................................................................... 21 Tabela 4 – Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino de 8 anos em escolas municipais de Londrina (2007 – 2010)...................... 22 7 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS NEE – Necessidades Educacionais Especiais INEP – Instituto de Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira DM – Deficiência Mental DA – Deficiência Auditiva DF – Deficiência Física DV – Deficiência Visual 8 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ....................................................................................................01 EDUCAÇÃO ESPECIAL E A ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL ......................................................................................04 PROBLEMA .............................................................................................................14 OBJETIVOS .............................................................................................................14 Objetivo geral ....................................................................................14 Objetivos específicos .......................................................................14 METODOLOGIA ......................................................................................................16 OS INDICADORES DE MATRÍCULAS DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE LONDRINA ...............................................................18 CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................26 1 APRESENTAÇÃO No ano de 2008 iniciei a graduação do curso de Pedagogia na Universidade Estadual de Londrina. No decorrer desse ano letivo tive como uma das disciplinas que compõem a grade curricular, a disciplina Educação e Diversidade que despertou meu interesse por aprofundar meus estudos sobre as questões que envolvem a escolarização de pessoas com deficiência. Outro fator que intensificou meu interesse pela área da Educação Especial foi minha inserção no Grupo de Pesquisa Estudos e Pesquisas em Educação Especial, em 2008, por meio da participação no projeto de pesquisa “Inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais (NEE) no sistema regular de ensino no município de Londrina”. Neste projeto foram realizadas análises sobre como estava ocorrendo o movimento de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas de educação infantil e ensino fundamental de Londrina. A coleta dos dados foi feita por meio de entrevistas (gravadas em áudio gravador para garantir a fidedignidade dos dados e posterior transcrição dos mesmos) com gestoras e professoras das instituições de ensino foi realizado um levantamento do percentual de alunos com NEE nas referidas escolas. As dimensões que guiaram as entrevistas foram: se a escola possuía aluno com NEE e questões pertinentes a educação especial, deficiência e escola inclusiva. Para a análise, os dados foram organizados por: realidade sócio-político-econômica do município; histórico da rede de ensino municipal; caracterização da educação no município de Londrina; indicadores de atendimento no ensino regular e especial; histórico da educação especial no município e; perfil do aluno atendido e tipos de atendimentos ofertados. No ano de 2009, iniciei a participação no projeto “Escolarização de alunos com deficiência: uma análise dos indicadores sociais do Estado no Paraná e do Município de Londrina (1997-2007)” e, nele, desenvolvi meu projeto de Iniciação Científica. Nesse projeto, os objetivos são: 1- Identificar e analisar o crescimento demográfico da população com deficiência segundo suas diferentes manifestações e faixa etária; 2- Caracterizar e analisar o atendimento escolar da população com deficiência no estado do Paraná e no município de Londrina; 3- Caracterizar e analisar o crescimento demográfico e o atendimento escolar da população com deficiência segundo distribuição pelo estado do Paraná e município de Londrina; 4- 2 Caracterizar e analisar as matrículas em educação especial no município de Londrina segundo distribuição pelas unidades escolares dos sistemas estadual, municipal e privado. 5-Delimitar critérios para a construção de um Sistema de Indicadores Sociais referente às condições de vida da pessoa com deficiência segundo a combinação orientada das estatísticas do crescimento demográfico e do acesso ao atendimento educacional desta população. Perante essas experiências, e na apropriação do referencial teórico do Grupo de Pesquisa e do curso de Pedagogia, percebi que os alunos classificados com necessidades especiais têm sua trajetória de escolarização marcada por processos de segregação, discriminação, raramente estão incluídos do sistema regular de ensino e, quando ocorre, é de maneira perversa e desumana, não obtendo aquilo que é seu por direito. Isso porque, segundo Martins (2002, p.11), a sociedade exclui o diferente a todo o momento, concedendo formas desumanas de participação. A escola numa visão de renovação, “coloca” a criança com deficiência em um constante “preparo para”, pois marginaliza, “prepara” e após perceber que a criança está apta a acompanhar os ditos “normais” ela integra (MELETTI, 2009). Mas essa integração está se realizando em formas desumanas, pois não a vêem como um direito da criança e sim privilégios que caridosamente estão concedendo aos deficientes. Com base nesta trajetória optei por desenvolver meu Trabalho de Conclusão de Curso por meio da realização de uma pesquisa que teve por objetivo identificar e analisar as alterações quantitativas referentes ao acesso de alunos com deficiência no sistema municipal de ensino de Londrina. O presente trabalho é o relatório desta pesquisa e está organizado da seguinte forma: O Capítulo 1 constitui-se no Referencial Teórico, no qual abordamos questões a respeito da exclusão social, exclusão escolar, escolarização de alunos com NEE, as políticas públicas a cerca da escolarização desse alunado. No Capítulo 2 descrevemos passo a passo a metodologia que utilizamos para a realização dessa pesquisa, No Capítulo 3 apresentamos os resultados da pesquisa, por meio de tabelas construídas a partir dos dados coletados no INEP. 3 Por último tecemos algumas considerações finais nas quais identificamos uma forma mais ou menos mascarada de inclusão. 4 EDUCAÇÃO ESPECIAL E DEFICIÊNCIA NO BRASIL A ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM Observando o histórico da educação especial no Brasil, verifica-se que esta se constituiu desde seus primórdios como um sistema de ensino paralelo ao ensino regular, ou seja, um sistema de ensino que atende separadamente as crianças com deficiência. Fato firmado pelas políticas públicas que incentivam (técnica e financeiramente) as instituições privadas de caráter filantrópico assumirem a educação desses alunos. Esta condição se consolida submersa em um contexto social e econômico mais amplo que sustentou o desenvolvimento de nosso país atrelado à intensa desigualdade social, com a propagação da pobreza e da precarização e da perversidade da situação de vida de grande parte da população. A realidade que se constituiu não foi apenas a de uma perversidade econômica como pensavam muitos, mas também uma perversidade social, cultural e política, pois as populações carentes eram tolhidas a qualquer tipo de participação. Nesse contexto, há uma ação mascarada que indica a inclusão como uma forma de ruptura e de transformação da sociedade excludente em seu contrário. Sintetizando esse pensamento temos as contribuições de Martins (2002), apresentando a concepção de que a sociedade que clama por formas de inclusão é a mesma sociedade que exclui e coisifica o sujeito em todo momento, desta maneira “[...] a sociedade que exclui é a mesma sociedade que inclui e integra, que cria formas também desumanas de participação, na medida em que delas faz condições de privilégios e não de direitos” (p.11). Por conseguinte, a inclusão constituiu-se em um movimento de todos em prol daqueles que estão à margem das condições sociais, como se na expansão desse movimento inclusivo acabariam com todas as exclusões há muito vividas. A escola passa a ser considerada prioridade, pois através da educação o indivíduo teria condições de usufruir de todos os benefícios que os demais desfrutam, ou seja, “[...] a inclusão escolar seria a garantia de inclusão social posterior [...]” (MELETTI, 2009, p.3). E segundo Meletti (2009, p.3), no caso da pessoa com deficiência, a inclusão em ambientes regulares de educação aparece como o grande objetivo da área de educação especial. A indicação é a de que o acesso e permanência 5 na escola regular são a via de ruptura com a condição de segregação e de exclusão social historicamente impostas a essa população. Outro intuito foi o de amenizar o atraso cultural que o país se encontrava e busca por uma sociedade mais civilizada, constituindo-se desta maneira como um direito ao cidadão, para que pudessem exercer plenamente sua cidadania. De acordo com Cury (2008, p.208), mediante lutas sociais, a escola tornou-se um espaço de direito ao saber e a cidadania, devendo ser ofertada e garantida pelo Estado. Por outro lado, desde seu surgimento, a escola constituiu-se em um espaço segregador, onde só teriam acesso àquela população privilegiada, ou seja, aqueles que detinham um poder econômico elevado e aqueles que não fugissem do padrão pré-estabelecido (de sujeitos “perfeitos”), capazes de aproveitar de todos os recursos que nela dispõem. Os indivíduos que não se enquadram nesses padrões eram os ditos excluídos, isto é, aqueles que sofriam de privação ora econômica, ora social. Sob as lentes do direito humano e no movimento de pensar alternativas que modifiquem as práticas discriminatórias, em 1948, é assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, garantindo o direito de todos à educação, sem restrição de origem, cor, sexo e idade. Podemos dizer que pela primeira vez, em documentos legais o direito de todos a educação foi demarcado, porém a especificidade de alunos com necessidades educacionais especiais ainda não foi mencionada. No Brasil, até a década de 1960 vemos que a educação especial não detinha lugar central nas discussões sobre educação e o mínimo que se constituiu foi em um sistema paralelo, ou seja, fora da escola, por esta razão que propiciava uma segregação. Ao invés de incluir excluía-se ainda mais, de maneira a “guardar” esse aluno em local mais adequado a suas necessidades. Amaral (apud Meletti, 2009), aponta a desvalorização que a pessoa com deficiência sofria, sendo quase invisível para a sociedade, chegava a ser considerada desumana. [...] invisíveis para a sociedade em geral, pois guardados a “sete chaves” em instituições ou em suas casas; invisíveis para a legislação, que deles só se ocupava em termos de restrições ou sanções; invisíveis para as instituições educacionais regulares, que 6 sequer os viam como sujeitos da educação; [...] E mais: quando tomados visíveis o eram, muitas e muitas vezes, com tonalidades e características drasticamente estereotipadas e des-humanizadas (1999, p.36, grifos meus). De acordo com Magalhães (2000?), na tentativa de consertar o desvio/ “defeito” da pessoa com deficiência, a sociedade discriminava e excluía, com um discurso de bem-estar do desviante. “Há um processo de ‘normalização’ da pessoa, por essa razão surgem manicômios, hospitais, presídios, escolas especiais onde se procurava apagar/amenizar os atributos diferenciadores” (s/p). Nesse período, no Brasil, não havia políticas públicas que assegurem o acesso a educação especial, havia apenas políticas especiais reafirmando a omissão do Estado e abrindo espaço para instituições privadas de caráter filantrópico assumirem o atendimento desses alunos, responsabilidade (esta) que deveria ser assegurada pelo Estado (direito determinado desde 1988 na Constituição). Na década de 1980 a escolarização dos alunos com deficiência não passou por muitas modificações, permanecendo permeada por segregação. No final dessa década ocorreram movimentos em prol desse atendimento, desta maneira ocorreu o início de formulações de aparatos legais normativos estabelecendo e reafirmando o direito da educação de todos. Por esta razão que a segregação cedeu lugar a integração. O movimento de atendimento ao aluno com deficiência que passou a ser ofertado a partir desse período foi sustentado pelos princípios de integração e de normalização, ou seja, O entendimento era o de que a educação especial deveria proporcionar ao indivíduo com deficiência condições de vida tão semelhantes quanto a de pessoas não deficientes, seja na escola, no trabalho ou no contexto social geral. Para isso, defendia-se a normalização das condições de vida e não do deficiente, a quem deveria ser ensinado beneficiar-se daquilo que a sociedade poderia lhe oferecer (MELETTI, 2009 p. 01) As políticas públicas e a preocupação pedagógica voltam-se para o sentido de normalização, ou seja, criar ambientes sociais onde o deficiente possa ter condições de vida tão semelhantes quanto aos ditos “normais”. E podemos ver que a escola constituiu-se em um ambiente propício a essa normalização. 7 O discurso que ocorreu mediante esse movimento foi o de que essa prática favoreceria uma melhor integração, porque tirariam o aluno de um ambiente excludente, o “consertariam” e devolveriam apto a essa nova forma de vida, consequentemente menos estigmatizadora (FERREIRA, apud MELETTI, 2009). De acordo com Meletti (2009) tratam o deficiente como se ele estivesse em um constante “preparo para”. Houve, a partir dos discursos de integração, um aumento significativo das classes especiais nas escolas públicas. Esse fato mostrou que preparar um local e colocar os alunos dentro, não garantiria uma inclusão, e segundo Ferreira (1995, apud MELETTI, 2009) foi o que realmente aconteceu esses ambientes favoreceram ainda mais a segregação. Pensava-se que a integração no sistema regular de ensino proporcionaria ao individuo excluído o fim de uma segregação a muito vivida. E também amenizaria as mazelas que ocorriam na sociedade, pois uma educação escolar garantiria uma posterior integração social. Nesse espírito, constitui-se o novo paradigma da inclusão, o de resolver todos os problemas da sociedade. Nos discursos de integração destacava-se a questão pertinente a quem deveria ser atendido em locais especiais (classes e instituições) e quem deveria estar no ensino regular. Aqueles alunos com alto grau de deficiência, considerada severa, deveria estar em locais especializados e os demais deveriam receber apoio em classes comuns. Desta forma “nas escolas comuns, públicas, as classes especiais eram para os deficientes mentais educáveis ou de Inteligência limítrofe” e “as salas de recursos para os deficientes sensoriais [...]”, “nas escolas especiais, filantrópicas, estavam os alunos [...] portadores de deficiências leves: os ‘treináveis’, os ‘dependentes’ e uma parcela dos ‘educáveis’ (FERREIRA, 2006, p.89). Todavia verificou-se que esse movimento de integração não atendia as expectativas que uma educação de todos os alunos em instituições regulares, mas que estava gerando mais rotulação, estigmatização e exclusão. É na década de 1980, com a promulgação da Constituição Brasileira de 1988, que observamos o reconhecimento legal desse atendimento, demarcando o direito de escolarização pública a todos, inclusive ao aluno com algum tipo de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. 8 Fica estabelecido que a educação é um direito de todos e cabe ao Estado e a família assegurar esse direito, garantindo para toda criança “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” e também “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (Constituição de 1988). Em análises tecidas por Ferreira (2006, p.92) sobre a Constituição de 1988 (art. 208) há três aspectos que marcam com destreza os discursos sobre inclusão/exclusão. A primeira referência feita pelo autor é sobre o termo “atendimento especializado” conduzindo o leitor a uma análise de exclusão, ou seja, “que a educação dos alunos a que se refere o artigo é responsabilidade [...] dos serviços de educação especial”. A segunda menção é ao termo “portadores de deficiência” gerando uma extrema falta de foco no que tange a quem são esses alunos. E por fim, o autor faz alusão ao termo “preferencialmente”, “aqui vêm às questões acerca de como se configura e decide (e quem decide) tal preferência”. Entretanto, estar em lei não garante que esse movimento realmente acontecerá com êxito, pois há muitas barreiras preconceituosas que impedem o acesso dessa população ao ensino escolar, por mais que a legislação contemple tal direito a maioria dos alunos com necessidades educacionais especiais continua sendo matriculados em ambientes segregados, como classes e instituições especiais. Historicamente, vemos que a educação especial no Brasil se constituiu (quase que) exclusivamente em locais segregados. O Estado se omitiu perante a educação das crianças com necessidades educacionais especiais e incentivou (financeiramente) as instituições privadas de caráter filantrópico a assumirem tal trabalho, ofertando atendimento em locais não regulares as crianças com deficiência. Desta maneira que ocorreu a estruturação da educação das crianças com necessidades educacionais especiais ao longo dos tempos, em locais segregados, sendo classes e instituições especiais. A realidade não se constituiu tão bela quanto almejavam os discursos, pois surgiram barreiras para impedir o acesso amplo à educação. Desta maneira estruturou a partir do final de 1980 e início de 1990 um conjunto de aparatos legais normativos, em que complementava o outro, no sentido de garantia do direito de todos à educação básica (inclusive do aluno com deficiência que deve 9 estar matriculado no ensino regular) e reafirmando a obrigatoriedade do Estado em ofertar esse serviço. Somente da década de 1990 com a adesão do país a Declaração de Salamanca (1994) e a partir das orientações internacionais é que o discurso da educação especial passou a incorporar uma perspectiva mais inclusiva. A Declaração passou a influenciar na formação das políticas públicas de educação inclusiva, no Brasil. Proclamava como princípio fundamental que [...] as escolas devem acolher todas as crianças, independentes das suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. [...] As escolas têm que encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças, inclusive com deficiências graves. (apud DUTRA, 2006, p.68). Como marco da legislação brasileira que contempla um caráter inclusivo e estabelecendo uma perspectiva mais educacional a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96 aponta que [...] os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: currículo, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender as suas necessidades; terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; (CURY, 2002, p.47). Na LDB/96 apesar de conter de forma mais clara uma perspectiva educativa não há a definição de quem são os alunos que deverão ser atendidos pela educação especial. Mas afirma que é direito de todos a uma educação pública, gratuita e de qualidade. As leis anteriores como a 4.024/61 marca o descompromisso com essa modalidade (educação especial) e a 5.692/71 traz que para essa população, isto é, alunos portadores de deficiência (alvo da educação especial) deva haver atendimento especializado. Segundo Ferreira (1998), a LDB/96 aponta que educação especial constituiu-se como modalidade da educação básica que deve ser ofertada, preferencialmente, no sistema regular de ensino, e somente quando o aluno apresentar características que o impeça de acompanhar os demais deve receber atendimento especializado. Como no Brasil não há uma estrutura adequada e 10 políticas esclarecedoras surgem cada vez mais ambientes “restritivo” e segregadores. Dessa maneira, a escola começa a abrir suas portas a todos, garantindo educação a alunos com necessidades educacionais especiais nas classes regulares, ou seja, a compreensão da escola que se passa a ter é de uma escola inclusiva, que não elege, classifica ou segrega, “mas que modifica ambientes, atitudes e estruturas para tornar-se acessível a todos” (DUTRA, 2006, p.69). Iniciase o paradigma da inclusão. O termo deficiência, bem como suas inúmeras nomenclaturas no decorrer dos tempos, é substituído por necessidade educacional especial a partir de 1994 com a Declaração de Salamanca. De acordo com Bueno (1997, apud MELETTI e BUENO, 2010), essa abrangência do termo tem lados positivos e negativos, pois ao mesmo tempo em que contribui para diminuir a estigmatização, ela se torna ampla demais, ficando de difícil identificação quem são os alunos alvo dessa educação, bem como transformando a deficiência em uma esfera da necessidade educacional especial. Desta forma o documento apresenta como alvo dessa educação as crianças com deficiências e crianças bem dotadas; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações distantes e nômades; crianças de minorias lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidos ou marginalizados (MELETTI e BUENO, 2010). A Política Nacional de Educação Especial (1994) expõe como alvo da educação especial os “[...] portadores de deficiência (mental, visual, auditiva, física, múltipla), os portadores de condutas típicas (problema de conduta) e os portadores de altas habilidades (superdotação)” (MELETTI e BUENO, 2010, p.3). Um conceito mais amplo sobre quem os alunos atendidos pela educação especial aparecem nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (CNE/2001), que em seu art. 5º expõe: consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem: Idificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; aquelas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II- dificuldades de comunicação e sinalização diferenciada dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III- 11 altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes. Estar em lei não assegura que esse direito seja garantido, até porque o ambiente (maior) que englobará esse indivíduo é rico em discriminações e segregação. A inclusão que tanto proclamam a esse sujeito, segundo Martins (2002), é uma inclusão perversa e marginal, pois tentam o incluir em um ambiente (como já foi dito) propício a descartar essas pessoas e tratá-las como coisas. Para que esse movimento de inclusão possa obter resultados mais satisfatórios é necessária uma adequação por parte das escolas a heterogeneidade dos alunos, pois cada um (independente de deficiência ou não) possui suas particularidades que precisam ser respeitadas. Ferreira (1998) atenta para a necessidade, que se faz extremamente necessária, de uma reflexão por parte dos sistemas educacionais (estaduais e municipais) a respeito da responsabilidade pela educação dos alunos que estão no sistema paralelo, criando desta forma um ambiente menos segregador. “[...] Tal necessidade se coloca para esses sistemas no momento em que muitos deles têm reavaliado e mesmo desativado os serviços de ensino especial, até para reduzir processos de estigmatização [...]” (s/p). A “materialidade” da educação especial como modalidade da educação básica, que deve ser oferecida na rede regular de ensino e apenas em casos extremos o aluno deverá ser atendido em outras instituições (classes ou escolas), é definida em 2001 nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica: Por educação especial, modalidade de educação escolar [...] entende-se um processo educacional definido em uma proposta pedagógica, assegurando um conjunto de recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e em alguns casos substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todos os níveis, etapas e modalidades da educação. (MEC/SEESP, 2001, p.27-28, apud MELETTI, 2009). Nesse sentido temos a contribuição de Garcia (2004) que realiza uma análise no âmbito de “proposições” políticas nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Segundo a autora, nesse documento a 12 realização da inclusão escolar pode ocorrer de três formas: mantendo-a como uma “rede paralela ao ensino regular, pela incorporação de certificação relativa ao ensino fundamental e profissionalizante de seus alunos, ou ainda por serviços de apoio ao professor de classe regular” (p.6). Para a autora, essa política não contemplou uma proposta única para a educação especial, mas normatizou a existências de vários projetos, isto é, permitiu a “flexibilização das modalidades de atendimento” (p.6). Garcia (2004) expõe um fato muito pertinente: que os discursos sobre inclusão vieram à tona justamente em um tempo de extrema desigualdade social. E mostra o que as agências internacionais dizem a respeito desse tema. No topo das discussões está a questão de criar mais abertura ao setor privado, assim como às famílias e às ONGs em detrimento do setor público, no qual refere a “direitos sociais, em especial a educação”. “A concepção de ‘educação inclusiva’ que emerge destes posicionamentos é aquela que considera as escolas como espaços comunitários de prestação de serviços sociais, dentro os quais os educacionais” (GARCIA, 2004, p.9). Com esse pensamento fica evidente o tão praticado repasse de responsabilidades. Mediante o avanço tecnológico que o mundo sofreu as políticas recomendam uma educação que prepare o cidadão a esse novo tempo. No âmbito da “inclusão clamam por métodos mais ativos e flexibilizados” (p.11) que podem ser ofertados, até mesmo, por ações comunitárias o que garantiria menor custo. Por isso que para Garcia (2004) o “slogan: educação para todos” encobre uma proposta de “política educacional compensatória” (p.11). As políticas apresentam a educação inclusiva como saída para a proposta educacional a todos, pois dessa forma todos os alunos terão acesso ao conhecimento de maneira não segregada e não excludente. Para a política nacional a educação inclusiva constituiu-se em um serviço que deve ser responsabilidade do sistema de ensino público ou privado, reforçando uma ideia defendida, a da flexibilização do serviço e da “flexibilização no currículo” (p.14) para que o ensino possa contempla todos os sujeitos. Porém, prescrevem uma organização no trabalho pedagógico no sentido de oposição ao modelo clínico que prevalece na educação inclusiva, retirando o foco do diagnóstico e aplicando “sobre as necessidades de aprendizagens”. Pois até a década de 1980 o que predominou na educação do deficiente foi uma visão psicologizada e 13 reducionista desenvolvida pela medicina, e somente a partir da década de 1990 é que ocorreram mudanças no atendimento educacional desses alunos, originando uma visão de cunho educacional. Todavia o que vem ocorrendo nas escolas para que possam contemplar uma educação a todos, é uma distorção do termo “flexibilização”, pelo fato de sua amplitude não estão modificando estratégias e métodos pedagógicos, mas diminuindo conteúdos que ditam ser complexo demais ou encaminhando esse alunado a educação de jovens e adultos, fato que contempla outro componente (também expresso em lei), a terminalidade específica. Na educação especial no contexto paranaense, assim como no município de Londrina, pois este segue a legislação educacional do Estado do Paraná, vemos no histórico educacional de atendimento ao aluno com NEE do Estado que 1939 ocorreu a abertura da primeira escola especial (Instituto Paranaense de Cegos) e em 1958 a primeira classe especial em escola pública. “Assim, desde o inicio, a educação escolar de pessoas com deficiência estendeu-se aos dois contextos: as escolas especiais e os então denominados programas especializados na rede pública” (SEED/2006, p.31). Mediante a não prestação de serviços pelos órgãos públicos, entidades não-governamentais (geralmente dirigidas por pais de crianças deficientes) mobilizavam-se em prol de atendimento/serviços especializados, disseminando-se assim os números de instituições por todo o Estado. A falta de investimento do poder público para com a modalidade de ensino da Educação Especial dá abertura para as instituições privadas de caráter filantrópico assumirem tal educação. A partir da década de 1970 é que ocorreu uma expansão da Educação Especial em âmbito público, ou seja, abertura em vários municípios do Estado de classes especiais em escolas regulares. O ponto central das discussões tecidas até aqui é o dualismo que reina na educação especial, concernente ao atendimento no sistema regular ou em instituições filantrópicas/assistencialistas, já que esses locais recebem muito apoio (financeiro) do governo obtendo o maior número de recursos destinados para área, mantendo desta forma uma política muito forte. 14 Como vimos a LDB/96 expressa a importância do direito de todos à educação, mas as Diretrizes/2001 denominam as instituições como escolas, com isso há o movimento de encobertar os alunos que deveriam estar no ensino regular e não estão. Fato expresso em nossas análises que mostram que houve um aumento significativo desses alunos no sistema regular, sem uma diminuição similar nas instituições especiais. Mediante toda essa discussão referente à garantia de uma educação de qualidade aos alunos da educação inclusiva em um sistema regular de ensino e não em ambientes excludentes, faz-se necessário uma análise das matrículas desses educandos no sistema regular, “já que é lá que a educação desta população deve ocorrer preferencialmente e que são as escolas que tem que se transformar e se adequar às necessidades especiais de seus alunos” (MELETTI, 2009), não ao contrário como vem ocorrendo, isto é, os alunos que estão tendo que adequar as escolas. Com base nesta referência, delimitamos o problema e os objetivos da presente pesquisa, conforme apresentado a seguir. PROBLEMA: De que modo o atendimento educacional para o aluno com deficiência está evoluindo no sistema regular do município de Londrina em termos de acesso? OBJETIVOS: Objetivo geral: Identificar e analisar as alterações quantitativas referentes ao acesso e à permanência de alunos com deficiência no sistema educacional do município de Londrina. Objetivos específicos: - Caracterizar e analisar o atendimento escolar da população com deficiência no município de Londrina. - Caracterizar e analisar o crescimento demográfico e o atendimento escolar da população com deficiência segundo distribuição pelo município de Londrina. 15 - Caracterizar e analisar as matrículas em educação especial no município de Londrina segundo distribuição pelas unidades escolares do sistema municipal. 16 METODOLOGIA Para identificar como a inclusão de alunos com deficiência está sendo implementada nas escolas da rede municipal do município de Londrina/PR, os dados serão coletados a partir do banco de microdados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (INEP), nos anos de 2007 a 2010. Para tratamento e análise dos dados, utilizamos como recurso, o software de estatística PASW Statistics (SPSS/17). A análise dos microdados foi realizada da seguinte maneira: primeiramente coletamos os dados das matrículas, ano a ano, no site do INEP, posteriormente com auxilio do software tratamos essas matrículas de acordo com as variáveis1 que foram estabelecidas, sendo: - Modalidade de ensino: . regular: refere-se às matrículas em classes regulares, com ou sem sala de recurso ou apoio especializado e educação especial; . especial: refere-se às matrículas em classes especiais e em instituições especiais; . EJA: refere-se às matrículas na educação de jovens e adultos, com ou sem apoio especializado; - Tipo de deficiência: . deficiência mental: refere-se à soma das matrículas de alunos com deficiência intelectual e com Síndrome de Down, nos anos de 2007 e 2008, e dos alunos com deficiência intelectual nos anos de 2009 e 2010. A coleta de dados do Censo Escolar separou a Síndrome de Down da deficiência mental nos anos de 2005 a 2008. . deficiência física; . deficiência auditiva: refere-se à soma das matrículas de alunos surdos e com deficiência auditiva . deficiência visual: refere-se à soma das matrículas de alunos cegos e com baixa visão; - Dependência administrativa: refere-se às estabelecimentos de ensino das redes estadual, municipal e privada. 1 As nomenclaturas das variáveis são de acordo com o INEP. matrículas em 19 631 matrículas, em 2009, embora tenha ocorrido um decréscimo de 11,5% (computando 558), se relacionado a 2008 o aumento ocorrido em 2010 foi expressivo, 809 matrículas, sendo 44,9% a mais que em 2009. Verifica-se que na modalidade especial houve uma redução ano a ano, chegando a uma redução geral de 51,1%. Em 2007 havia 1.319 matrículas, em 2008 ocorreu uma queda de 41,5% (computando 771), em 2009 aconteceu um declive de 4,7% (contando 734) e em 2010 houve um decréscimo de 12,2% no total de alunos com NEE (sendo 644). Vale destacar que no início de 2010 as classes especiais da rede municipal de ensino foram fechadas e o atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais foi reestruturado em salas de recursos multifuncional. Na modalidade da educação de jovens e adultos também aconteceu uma redução, tanto no total de alunos que não possui NEE, quanto dos alunos que possuem necessidade educacional especial. No ano de 2007 havia 81 alunos matriculados, no ano de 2008 aconteceu um acréscimo de 13,5%, mas em 2009 uma redução de 34,7% (60 alunos) e em 2010 um aumento de 30% (78 alunos), se comparado ao ano de 2009. Entretanto, um dado chama atenção nesses números, o decréscimo que aconteceu ano a ano no sistema segregado e na EJA não foi compatível ao acréscimo ocorrido na modalidade regular indicando a possibilidade de vários alunos com NEE estarem sem participar de qualquer processo de escolarização. Se somarmos a redução nas modalidades especial e EJA teremos, em 2010, 678 matrículas a menos que no ano de 2007, ao passo que o aumento na modalidade regular de ensino foi de 294 matrículas. A tabela 2 apresenta os dados relativos à modalidade de ensino versus dependência administrativa (Estadual, Municipal e Privada). 20 Tabela 2 – Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais por modalidade de ensino e por dependência administrativa (2007 – 2010) Dependência Administrativa Estadual Municipal Privada Ano Modalidade Possui Possui Possui Total Total Total NEE NEE NEE Regular 54 011 222 32 292 235 26 702 58 Especial -------60 -------147 -------1 112 2007 EJA 6 601 12 1 672 69 224 0 Total 60 612 294 33 964 451 26 926 1 170 Regular 53 106 284 30 569 279 27 951 68 Especial -------54 -------149 -------568 2008 EJA 5 427 18 1 394 72 256 2 Total 58 533 356 31 963 500 28 207 638 Regular 53 539 248 28 940 264 28 576 46 Especial ------155 ------105 ------474 2009 EJA 4 886 14 1 280 46 272 0 Total 58 425 417 30 220 415 28 848 520 Regular 52 494 320 28 633 403 29 433 86 Especial ------155 ------105 ------474 2010 EJA 4 117 16 1 144 62 301 0 Total 56 611 491 29 777 570 29 734 560 Fonte: MEC/INEP. Censo Escolar da Educação Básica. Microdados: 2007, 2008, 2009 e 2010. No ano de 2007 podemos analisar que de um total de 60.612 alunos matriculados na rede estadual de ensino, 294 possuem necessidades educacionais especiais (NEE). Destes 294 alunos, 24,4% (222 alunos) estão na modalidade regular, 79,5% (60 alunos) na modalidade especial e 12 na educação de jovens e adultos (EJA). Na dependência municipal, igualmente em 2007, vemos que houve um acréscimo similar nas três modalidades, mas podemos notar um expressivo aumento das matrículas em NEE, em todas as modalidades. De um total de 33.964 matrículas, 451 alunos possuem NEE e estão subdivididos em: 47,8% (235 alunos) na modalidade regular, 67,4% (147 alunos) na especial e 84,7% (69 alunos) na EJA. Na esfera privada há um considerável percentual na modalidade especial de ensino, de um total de 1.170 matrículas, 1.112 estão no sistema segregado de ensino. No ano de 2008 a proporção na rede estadual e municipal mantevese similar. Na dependência estadual, de um total de 58.533 matrículas, 356 21 possuam NEE, e na dependência municipal de um total de 31.963 alunos matriculados, 500 possuem NEE. Destas 500, 55,8% (279 alunos) estão no ensino regular. Desse total de 500 matrículas, 149 alunos estão na modalidade especial. No âmbito da esfera privada ocorreu um decréscimo, pois de 1.170 em 2007, há um total de 45,4% (638 matrículas) em 2008. Em 2009, por mais que tenha ocorrido um decréscimo de matrículas de alunos com NEE na rede privada, a concentração continua nessa dependência, sendo que de um total de 520 matrículas, 474 matrículas estão na modalidade especial. Já na rede estadual e municipal a concentração está na modalidade regular, sendo que de 53.539 alunos na modalidade regular em escolas estaduais, 248 possuem NEE. E de um total de 28.940, 264 possuem NEE. Em 2010 o movimento ocorrido foi semelhante ao ano de 2009. Na esfera privada há concentração na modalidade especial, pois de um total de 560, 474 matrículas estão na modalidade mencionada. E nas dependências estadual e municipal as matrículas de alunos com NEE concentram-se na modalidade regular. De um total de 52.494 matrículas na modalidade regular em escolas estaduais, 320 possuem NEE, e no âmbito das escolas municipais de um total de 28.633, 403 alunos possuem NEE. A esfera privada registra o maior percentual de matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais na modalidade especial, nos quatro anos de análise, merece atenção o fato de que em 2007, 95,6% (1.170) das matrículas de alunos com NEE estavam nesta condição. A rede municipal é a segunda dependência administrativa que apresenta maior número de matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais, mas ao contrário da modalidade privada, a municipal apresenta um expressivo percentual no ensino regular, não deixando de ser elevada a proporção de matrículas na modalidade especial. A educação de jovens e adultos possui matrículas na modalidade municipal e o número de alunos matriculados na modalidade estadual e privada é ínfimo. A tabela 3 apresenta os dados referentes às modalidades de ensino (regular, especial e EJA), por tipo de deficiência (deficiência mental, visual, auditiva e física) das escolas municipais de Londrina. 22 Tabela 3 – Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais por modalidade de ensino e por tipo de deficiência nas escolas municipais de Londrina (2007 – 2010) Ano 2007 2008 2009 2010 Modalidade Regular Especial EJA Total Regular Especial EJA Total Regular Especial EJA Total Regular Especial EJA Total DM 68 124 60 252 104 117 64 285 175 97 42 314 299 97 58 454 Tipo de deficiência DV DA 24 14 1 3 2 2 27 19 27 15 0 2 4 2 31 19 18 20 0 2 3 2 21 24 31 17 0 2 2 2 33 21 DF 55 6 1 62 63 4 1 68 55 2 2 59 61 2 3 66 Fonte: MEC/INEP. Censo Escolar da Educação Básica: Microdados (2007, 2008, 2009 e 2010). Quando analisamos os dados referentes à modalidade de ensino versus tipo de deficiência, verificamos a tendência crescente das matrículas de alunos com deficiência mental nas três modalidades nos quatro anos de análise. Somando o total dos quatro tipos de deficiências em 2007 havia 360 matrículas, destas 30% eram deficiência mental, em 2008 de 403 matrículas 29,2% eram de alunos com deficiência mental, em 2009 de 418 matrículas 24,8% eram referentes a tal deficiência e em 2010 de um total de 574 20,9% possuía deficiência mental. Nos anos 2007 e 2008 a concentração de alunos com deficiência mental estava na modalidade especial, seguida da regular. A partir de 2009 ocorreu uma inversão, sendo que o foco de alunos com deficiência mental estava no ensino regular. Computando o total de matrículas de alunos com deficiência mental nas três modalidades, verificamos que dos 252 alunos 50,7% estavam na modalidade especial em 2007, em 2008 de 285 alunos 58,9% estavam no ensino especial, em 2009 de 314 69,1% eram de escolas especiais e em 2010 de 454 matrículas 78,6% estavam na modalidade especial. 23 A segunda deficiência com maior expressividade no computo das matrículas é a deficiência física, concentrada na modalidade regular. Verificando a soma total da deficiência física nas três modalidades em 2007, 11,2% (55 alunos) estão no sistema regular, em 2008 havia 7,3% (63 alunos) no sistema regular, 6,7% (55 alunos) em 2009 e 7,5% (61 alunos) em 2010. Não há uma concentração significativa das matrículas de deficiência visual e auditiva, principalmente, na modalidade especial e na EJA, mas apesar do número ser ínfimo (em relação às deficiências acima apresentadas), há uma maior concentração dessas deficiências na modalidade regular. Em 2007 houve 24 matrículas de deficiência visual e 14 de deficiência auditiva, em 2008 27 e 15 concomitantemente, em 2009 18 e 20, e em 2010 31 para deficiência visual e 17 para deficiência auditiva. Assim como nas demais modalidades, na EJA, a deficiência mental está mais presente (60 matrículas em 2007, 64 em 2008, 42 em 2009 e 58 em 2010), e as demais o número é ínfimo. A tabela 4 apresenta os dados de matrículas nas escolas municipais de Londrina, referente às quatro primeiras séries do ensino fundamental de oito anos. Tabela 4 – Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino de 8 anos em escolas municipais de Londrina (2007 – 2010) Ano 1ª série Possui Total NEE 2ª série Possui Total NEE 3ª série Possui Total NEE 4ª série Possui Total NEE 2007 8 194 33 9 087 87 8 403 83 8 347 72 2008 6 342 44 8 992 101 8 302 83 8 146 98 2009 919 1 7 396 84 8 438 78 8 242 67 2010 119 0 912 3 7 896 196 8 345 95 Fonte: MEC/INEP. Censo Escolar da Educação Básica: Microdados 2007, 2008, 2009 e 2010. As matrículas de alunos com NEE nas escolas municipais apresentam que de 2007 a 2009 ocorreram grande percentual na 2ª série do ensino fundamental. Já em 2010 houve um expressivo número de matrículas na 3ª série do ensino fundamental. 24 Os números mostram a evidência de aumento de matrículas dos alunos com NEE ano a ano. Em 2007 entraram 33 alunos na 1ª série, em 2008 havia 101 na 2ª série, em 2009 havia 78 alunos na 3ª série e em 2010 na 4ª série havia 95 alunos com NEE. Se analisarmos o movimento gradual e pela lógica do nível de escolarização, vemos um expressivo acréscimo de matrículas. Mas não podemos esquecer que nas escolas municipais há classes especiais e salas de recursos e esse fato não é especificado pelos dados, os alunos com NEE que estão matriculados na rede municipal e esse aumento das matrículas, estão nas classes regulas ou especiais? No ano de 2008 entraram na 1ª série 44 alunos com NEE, na 2ª série em 2009 havia 84 alunos e em 2010 na 3ª série 196 alunos diagnosticados com NEE. Dois dados chamam atenção no número de matrículas do ensino fundamental no município de Londrina e ambos contemplam certa discrepância. No ano de 2010 havia 196 alunos com NEE matriculados na 3ª série (97,5% do total de matrículas), ao mesmo tempo em que na 1ª série, do mesmo ano, não consta nenhuma matrícula desse alunado. Onde estão os alunos com NEE? Um fato importante que merece ser destacado é que no ano de 2010 não há classes especiais nas escolas municipais, desta forma, necessariamente esses alunos deveriam estar matriculados nas salas regulares, mesmo assim não há alunos com NEE matriculados nessa determinada série. Um fator de suma relevância em nossa analise é o fato da transição que vem ocorrendo no município na estruturação do ensino fundamental, até 2009 e início de 2010 o ensino fundamental era estruturado em 8 anos de duração, a partir do ano referido há uma nova estrutura, sendo que agora possui uma duração de 9 anos. Esse dado é importante no momento de analisar os dados de matricula do município, porque nos anos de 2009 e 2010 as matrículas sofreram uma redução, principalmente as de alunos NEE. Assim percebemos que em 2009 sendo o início da transição já não havia muitos alunos na 2ª série do ensino fundamental e sim no 1º ano dessa mesma etapa de ensino. Dessa maneira os alunos que deveriam estar matriculados na 2ª em 2010 estariam no 3º do ensino fundamental. 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho teve por objetivo analisar as alterações quantitativas das matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais na rede municipal de ensino de Londrina. Os dados indicam que tal alteração ocorre de modo expressivo em duas esferas: rede regular de ensino e na modalidade de educação especial, prioritariamente nas classes especiais. Um fator que muito se destacou em nossa análise foi a questão de que por mais que as matrículas tenham aumento na modalidade regular de ensino, ao mesmo tempo não diminuíram, na mesma proporção, na modalidade especial, demarcando a manutenção da segregação desses educandos. Fato marcado por uma especificidade ocorrida no município de análise no final de 2009 e início de 2010, houve um decréscimo no número de matrículas da educação especial porque as classes especiais nas escolas municipais foram fechadas, cedendo lugar as salas de recurso, assim os alunos que recebiam atendimento educacional nessas classes migraram para as classes regulares, aumentando o computo das matrículas no ensino regular. Vale destacar que alterações na estrutura do atendimento deveria desencadear uma mudança radical no trabalho pedagógico destinado a esta população. Isso nos remete à necessidade de investigações futuras que busquem conhecer o alcance das proposições políticas nos processos de escolarização de pessoas com deficiência. Por mais que a legislação determine que é direito do aluno com necessidade educacional especial estar matriculado no sistema regular de ensino, esse dever pode não estar sendo assegurado de maneira sensata. Não podemos ignorar que a inclusão deve contemplar: acesso, permanência e inserção em processos efetivos de escolarização. 26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL.CASA CIVIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/constituicao1988>. Acesso em: 17/08/2010. BRASIL. MEC/SEESP. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, MEC/SEESP, 2008. BRASIL. 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