1º Ten Al MARCIO PEREIRA CARNEIRO APOIO LOGÍSTICO DE SAÚDE EM OPERAÇÕES DE SELVA RIO DE JANEIRO 2009 2 1º Ten Al MARCIO PEREIRA CARNEIRO APOIO LOGÍSTICO DE SAÚDE NAS OPERAÇÕES DE SELVA Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola de Saúde de Exército como requisito parcial para aprovação no Curso de Formação de Oficiais do Serviço de Saúde, especialização em Aplicações Complementares às Ciências Militares Orientador(a): Drª Aline Moreira Nabuco de Oliveira Co-Orientador: Maj Inf – Fabio L. F. Florindo Moreira RIO DE JANEIRO 2009 3 C289a Carneiro, Marcio Pereira Apoio logístico de saúde nas operações de selva / Marcio Pereira Carneiro. - Rio de Janeiro, 2009. 42 f ; 30 cm Orientadora: Aline Moreira Nabuco de Oliveira Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) – Escola de Saúde do Exército, Programa de Pós-Graduação em Aplicações Complementares às Ciências Militares, 2009. Referências: f. 41 1. Brasil - Exército. 2. Logística – Saúde. I. Oliveira, Aline Moreira Nabuco de. II. Escola de Saúde do Exército. III. Título. CDD 355 4 APOIO LOGISTÍCO DE SAÚDE NAS OPERAÇÕES DE SELVA COMISSÃO DE AVALIAÇÃO Dra ALINE MOREIRA NABUCO DE OLIVEIRA - HUCFF Orientadora FABIO LUIS FIGUEIREDO FLORINDO MOREIRA - Maj Inf / EsSEx Avaliador CARLOS EDUARDO LOUREIRO BELARDO – Maj Art / EsSEx Avaliador RIO DE JANEIRO 2009 5 RESUMO As operações militares realizadas pelo Exército Brasileiro na Região Amazônica são de fundamental importância para manutenção da soberania nacional assim como na implementação de projetos de integração social, levando ajuda infra-estrutural, sanitária e assistência médica a populações extremamente carentes que lá habitam e na maioria das vezes, dependem dos serviços prestados pelo Exército. O vazio demográfico da região é um dos grandes problemas encontrados e, a medida estratégica adotada pelo Exército consiste na ocupação do espaço Amazônico com presença constante, seja em grandes unidades, batalhões de selva e pelotões especiais de fronteira. Essa presença constante do Exército Brasileiro na Amazônia só é possível com o apoio logístico adequado, que através do Comando Militar da Amazônia, planeja, organiza e implementa todas as atividades lá realizadas. Dentro deste universo, o Apoio Logístico de Saúde merece posição de destaque, uma vez que o ambiente inóspito da selva, endemias regionais, adversidades meteorológicas e dificuldades de aclimatação acarretam inúmeras baixas, que necessitarão de atendimento médico eficaz. Além disso, a manutenção da saúde nesse ambiente, através de medidas preventivas individuais e coletivas, são fundamentais para o êxito das operações. O presente trabalho tem por finalidade demonstrar a atividade e importância do Serviço de Saúde do Exército, destacando a figura do médico militar nas operações em áreas de selva . Palavras chave: selva, logística, saúde, Amazônia. 6 ABSTRACT The military operations accomplished by the Brazilian Army in the Amazonian Area are of fundamental importance for maintenance of the national sovereingnty as well as in the implementation of projects of social integration, taking help infra-structural, sanitary and medical aid to extremely lacking populations that there inhabit and most of the time, they depend on the services rendered by the Army. The demographic emptiness of the area is one of the great found problems and, the strategic measure adopted by the Army consists of the occupation of the Amazonian space with constant presence, be in great units, jungle battalions and special platoons of border. That constant presence of the Brazilian Army in the Amazonian is only possible with the support appropriate logistico, that through the Military Command of the Amazonian, it drifts, it organizes and it implements all there of the activities accomplished. Inside of this universe, the Support Logistico of Health deserves prominence position, once the inhospitable atmosphere of the jungle, regional endemias, meteorological adversities and difficulties of acclimatization cart countless low, that will need effective medical service. Besides, the maintenance of the health in that adapts, through individual and collective preventive measures, they are fundamental for the success of the operations. The present work has for purpose to demonstrate the activity and importance of the Service of Health of the Army, detaching the military doctor’s illustration in the operations in jungle areas. Key words: jungle, logistic, health, Amazonian. 7 SUMÁRIO 1 - INTROUDÇÃO.........................................................................................................08 2 - CONCEITOS E MÉTODOS................................................................................09 2.1 - TEMA...............................................................................................................09 2.2 - PROBLEMA.....................................................................................................09 2.3 - JUSTIFICATIVA...............................................................................................09 2.4 – OBJETIVO.......................................................................................................09 2.5 – REFERENCIAL TEÓRICO..............................................................................10 2.5.1 – O Ambiente da Selva Amazônica..............................................................10 2.5.1a – As Macropaisagens da Amazônia.................................................10 2.5.1b – Características Fisiográficas..........................................................11 2.5.1c – Características políticas e sócio-econômicas................................13 2.5.1d – Aspectos Militares..........................................................................14 2.5.2 – A Estruturação do Exército Brasileiro na Amazônia...............................15 2.5.2a – Comando Militar da Amazônia........................................................15 2.5.3 – Apoio Logístico de Saúde em Operações de Selva.................................17 2.5.3a – Princípios de Emprego....................................................................18 2.5.3b – Atividades de Saúde........................................................................19 a) Seleção de Pessoal...................................................................20 b) Medicina Preventiva..................................................................21 b1) Malária.................................................................................21 b2) Leishmaniose.......................................................................22 b3) Hepatite B............................................................................22 b4) Tuberculose.........................................................................23 b5) Hanseníase..........................................................................23 b6) Febre Amarela.....................................................................24 b7) Cólera..................................................................................24 b8) Acidentes com animais peçonhentos..................................25 c) Higiene Militar e Cuidados Pessoais........ ................................27 c1) Uniformes............. ..............................................................27 c2) Equipamentos de proteção e higiene individual............ .....28 c3) Alimentação e Água............................................................28 c4) Aclimatação.........................................................................28 d) Prestação de Primeiros Socorros..............................................29 d1) Primeiro Escalão.................................................................29 d2) Segundo Escalão................................................................30 d3) Peculiaridades do Atendimento de Primeiros Socorros em operações descentralizadas......................................................30 e) Triagem......................................................................................32 f) Evacuação.................................................................................32 g) Hospitalização...........................................................................35 h) Suprimentos Classe VIII............................................................36 2.6 – METODOLOGIA...............................................................................................37 2.6.1 – Método, tipo de pesquisa e técnica...........................................................38 8 3 – DISCUSSÃO.......................................................................................................39 4 – CONCLUSÃO.....................................................................................................39 5 – REFERÊNCIAS..................................................................................................41 1 INTRODUÇÃO A Amazônia Legal brasileira é uma extensa área constituída por nove estados brasileiros, com uma grande área de fronteiras, porém com a densidade demográfica mais baixa do país. Isso faz com que a Amazônia seja considerada 9 uma região estratégica de alta prioridade nacional, tornando essencial a sua ocupação e integração com outras regiões do país. Devido as condições inóspitas de grande parte de sua extensão e a falta de atrativos para grande parte da população brasileira, o papel das Forças Armadas, em especial, do Exército, é essencial na integridade da soberania nacional. Diante das mudanças econômicas mundiais ocorridas com o final da Guerra Fria, o Exército Brasileiro, representado pelo Comando Militar da Amazônia (CMA), passou a priorizar a região, a partir, principalmente da estratégia da presença constante. Por isso, frente as características especiais da Amazônia Brasileira, que serão abordadas no presente trabalho, faz-se necessário também, um importante apoio logístico nas operações lá realizadas, principalmente nas áreas de selva e especialmente no que tange a área de saúde, uma vez que o Serviço de Saúde do Exército, além de prestar assistência a tropa, muitas vezes torna-se a única opção de algumas populações que vivem em total isolamento na região, evidenciando portanto, uma importante função de integração social realizada pelo Exército naquela região. 2 CONCEITOS E MÉTODOS 2.1 TEMA Estudo de revisão bibliográfica a respeito do apoio logístico de saúde nas operações de selva da região Amazônica. 10 2.2 PROBLEMA A região de selva sempre remonta ao combatente, seja ele de qualquer arma, quadro ou serviço, o temor inicial do desconhecido. Como sobreviver em uma região praticamente desabitada, com condições geográficas desfavoráveis, dificuldade de acesso e falta de tecnologia, dentre outros problemas? Com certeza é uma dúvida constante que surge, principalmente no combatente mais moderno que acabou de ingressar nas fileiras do Exército. Outra dúvida também constante, principalmente no serviço de saúde, é como prestar assistência médica de qualidade nesse tipo de região? Existe algum suporte para essas atividades? São questões que tentaremos responder ao longo deste trabalho. 2.3 JUSTIFICATIVA Frente a falta de informações precisas por grande parte dos jovens médicos, a respeito do trabalho em áreas inóspitas, principalmente na região Amazônica, o presente projeto visa demonstrar com clareza que tipo de trabalho é esse e o que o Exército espera do médico militar nessas situações, evidenciando aspectos a respeito da geografia local, população e operações militares na região. 2.4 OBJETIVO O objetivo do presente estudo é demonstrar através de revisão bibliográfica, a importância do Serviço de Saúde do Exército como peça de apoio logístico fundamental nas operações de selva da região Amazônica, evidenciando os aspectos positivos e negativos para o médico militar, com finalidade informativa, identificando problemas e propondo possíveis soluções. 2.5 REFERENCIAL TEÓRICO 2.5.1 O Ambiente da Selva Amazônica 11 A Amazônia Legal brasileira possui uma área aproximada de 5,2 milhões de Km2 e engloba nove estados da federação, dentre eles: Amazonas (AM), Pará (PA), Acre (AC), Amapá (AP), Roraima (RR), Rondônia (RO), Tocantins (TO), Goiás (GO) e Maranhão (MA), com uma área de cerca de 11.000km de fronteiras com os países circunvizinhos. Além da extensão territorial, é importante também destacarmos outros aspectos geográficos e ecológicos, como a escala espacial dos fenômenos meteorológicos, vias de acesso predominantemente fluviais, grande diversidade biológica e social e a relativa preservação dos ecossistemas naturais. A extensão da área total de ambientes aquáticos na Amazônia Brasileira chega a cerca de 300 mil Km2, fato de extrema importância para a saúde da população, uma vez que vários processos infecciosos, são de veiculação hídrica, como a cólera e as gastroenterites microbianas. A distribuição da água determina ainda os locais de proliferação de insetos vetores de doenças, principalmente o mosquito transmissor da malária. O clima em geral é quente e úmido com pouca variação de temperatura, fato importante para regular os processos biológicos, principalmente àqueles relacionados as doenças infecciosas. 2.5.1a As Macropaisagens da Amazônia A macropaisagem da Amazônia pode ser classificada em três categorias principais (CONFALONIERI, 2005): • paisagens naturais; • paisagens antropizadas; • paisagens construídas. Cada uma das três grandes categorias de paisagens associa-se a um conjunto bem delimitado de agravos a saúde, dentre eles, aqueles oriundos da própria paisagem natural, acometendo populações tradicionais; agravos relacionados a antropização, que estão relacionados principalmente com a atividade migratória das populações e os agravos típicos de aglomerados urbanos. 12 2.5.1b Características Fisiográficas O conhecimento dos aspectos fisiográficos da região Amazônica influencia significativamente em todas as operações militares e de apoio logístico que são efetuadas nessa área (BRITO, 2002), sendo de suma importância para o militar brasileiro o seu amplo conhecimento. Dentre as principais características fisiográficas podemos destacar o relevo, a hidrografia, a vegetação e o clima. O relevo é caracterizado por áreas de terra firme e outras alagadiças, constituindo a planície Amazônica, entre o maciço das Guianas ao norte, o planalto brasileiro ao sul e a cordilheira dos Andes a oeste. Vales conhecidos como “socavões” apresentam desníveis de até 40 metros, dificultando a progressão pela selva (BRITO, 2002). A hidrografia da Amazônia é a característica mais marcante deste complexo regional. Contém a maior bacia hidrográfica do planeta, que se estende por mais de 7.000.000 Km2 sendo 4.000.000 Km2 no Brasil, conforme observamos na figura 1. A bacia Amazônica possui cerca de 23.000km de vias navegáveis, sendo o Amazonas o seu rio principal, com cerca de 500 afluentes. Devido a inexistência de documentos hidrográficos confiáveis, a sinuosidade dos rios e a variação da topografia dos seus leitos, uma série de condicionantes são impostas à navegação nos rios amazônicos, como por exemplo a utilização dos barcos regionais, restrição no comprimento das embarcações e dificuldade de acesso a pontos afastados na calha principal dos rios, configurando obstáculos à tropa de qualquer natureza. Além disso, a Amazônia possui a maior reserva de água doce do mundo, sendo esse possivelmente, um motivo de disputa dos países no futuro. 13 Figura 01 – Hidrografia Amazônica Fonte: disponível em http://www.infoescola.com/Modules/Articles.com, em junho de 2009. A vegetação da floresta equatorial pode ser dividida basicamente em duas porções: a de terra firme e a de terras inundáveis. Nas terras inundáveis encontraremos a mata de igapó e a mata de várzea, em geral com vegetação bastante densa e com árvores não muito altas. Em sua composição principal podemos destacar as seringueiras e as palmáceas. Já a floresta de terra firme, que ocupa áreas mais distantes das inundações, apresenta árvores de grande porte, cuja as copas entrelaçadas dificultam a penetração dos raios solares no interior da selva. Pode ser dividida em floresta úmida primária e floresta úmida secundária, esta caracterizada por possuir vegetação mais densa, impedindo o deslocamento de tropas (BRITO, 2002). O clima equatorial é o que predomina na região, com temperaturas médias oscilando entre 24ºC no inverno e 36ºC no verão, com alta umidade relativa do ar. O índice pluviométrico é bastante elevado, podendo em determinadas situações comprometer a transitabilidade, principalmente nos escassos eixos rodoviários existentes, transformando as estradas em verdadeiras armadilhas, impedindo até 14 mesmo o tráfego de veículos especiais. 2.5.1c Características políticas e sócio-econômicas A região Amazônica caracteriza-se pela baixa densidade demográfica, apresentando grandes vazios espaciais, com concentração da população nas capitais e em cidades próximas dos grandes rios e algumas poucas rodovias. O povo da Amazônia encontra-se bem adaptado ao ambiente de selva, sendo uma grande parcela da população de origem indígena, em geral com padrão de vida bastante modesto, exercendo profissões típicas da região como mateiros, garimpeiros, caçador, pescador, madeireiro e extrator de produtos da selva. Porém, a assistência à saúde dessa população ainda é extremamente precária, com grande carência de profissionais na região, excetuando-se as capitais. Outras situações de bastante interesse do Exército se devem a presença de guerrilha em países vizinhos, muitas vezes apoiada por entidades internacionais, podendo constituir ameaça a soberania nacional, interesse estrangeiro pela área da Amazônia, tráfico de drogas nas áreas de fronteira, invasões de reservas indígenas por “grileiros”, além da ausência do poder público em várias regiões. A economia da região Amazônica é condicionada basicamente pelo transporte, principalmente através dos cursos d’água, onde os portos fluviais de Belém, Manaus, Porto Velho, Macapá e Santarém são de grande importância na realização de operações militares. Aeroportos de nível internacional só são encontrados nas grandes capitais e algumas cidades possuem aeroportos que prestam serviço a linhas aéreas regionais. O transporte terrestre é bastante comprometido, uma vez que as poucas rodovias que existem, apresentam precárias condições de trafegabilidade, onde na época das chuvas o trânsito de veículos é praticamente impossível. Dentre as principais rodovias temos a BR-153 (Belém-Brasília), Transamazônica, BR-364 (Cuiabá-Porto Velho; Rio Branco e Cruzeiro do Sul), além de outras conforme a figura 2. 15 Figura 02 – Rodovias da Amazônia Fonte: disponível em http://www.jungleadventures.com.br/adv_br_ro.htlm , em junho de 2009. 2.5.1d Aspectos Militares Algumas conclusões de interesse militar podem ser tiradas a partir das características fisiográficas da região Amazônica, principalmente as relacionadas ao estudo do terreno e das condições meteorológicas (SILVA, 1993). Com relação ao terreno, pode-se concluir que a observação é bastante prejudicada, pois o relevo é pouco movimentado, com dobras que não oferecem pontos de observação favorável, com limitada visibilidade em virtude da vegetação densa. Da mesma forma, o tiro visado, só é possível a curtas distâncias, sendo melhor realizado em locais onde não exista cobertura vegetal muito densa como cortes de estrada e cursos d’água. Porém, se a observação é prejudicada, temos como vantagem a dissimulação, a camuflagem e a ocultação de tropas e equipamentos para grandes efetivos, favorecendo as cobertas e abrigos nos deslocamentos. A elevada pluviosidade da região, já relatada nas condições meteorológicas, 16 pode afetar as operações, diminuindo ainda mais a visibilidade, retardando o movimento e podendo comprometer as comunicações e os equipamentos. Outro fator de importância estratégica é o conhecimento dos principais acidentes capitais, que estão representados pelas pequenas localidades existentes, estradas e linhas de comunicação. Temos ainda que considerar como acidentes capitais importantes os portos, campos de pouso e regiões que favorecem a movimentação como vaus, pontes e confluências de rios. 2.5.2 Estruturação do Exército Brasileiro na Amazônia O Exército Brasileiro na Amazônia é representado principalmente pelo Comando Militar da Amazônia (CMA) e algumas áreas sob o Comando Militar do Oeste (CMO), Comando Militar do Planalto (CMP) e do Comando Militar do Nordeste (CMN), sendo subdivido em duas Regiões Militares (8ª e 12ª RM). A 8ª Região Militar tem jurisdição sobre a chamada Amazônia Oriental, constituída pelos estados do Pará, Amapá, parte do Tocantins e município de Imperatriz, no Maranhão, ocupando uma área aproximada de 1.500.000 km2 . Já a área de jurisdição da 12º Região Militar é constituída pela Amazônia Ocidental, abrangendo os estados do Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre, ocupando uma área de aproximadamente 2.190.200 Km2 (ASSIS, 1995). 2.5.2a Comando Militar da Amazônia O CMA é composto por quatro Brigadas de Infantaria de Selva (Bda Inf Slv), sendo as seguintes: 1ª Bda Inf Slv (Boa Vista, RR), 16ª Bda Inf Slv (Tefé, AM), 17ª Bda Inf Slv (Porto Velho, RO) e a 23ª Bda Inf Slv (Marabá, PA). A brigada de infantaria de selva é uma guarnição organizada, treinada e equipada para realizar operações neste ambiente, onde seu elemento básico de emprego é o Batalhão de Infantaria de Selva. Na figura 03 podemos observar o quartel general do CMA, sediado em Manaus e, na figura 04 as Organizações Militares (OM) subordinadas ao 17 CMA. Além das brigadas já citadas, também fazem parte do CMA: - Centro de Embarcações do Comando Militar da Amazônia (CECMA) em Manaus; - 4º Esquadrão de Aviação do Exército (4º Esqd Av Ex) em Manaus; - 8ª e 12ª Região Militar, em Belém e Manaus, respectivamente; - 2º Grupamento de Engenharia e construção (2ºGEC), com o grande comando sediado em Manaus. Figura 03 – Quartel General do CMA (Manaus) Fonte: disponível em <http://www.exercito.gov.br/06OMs/Comandos/CMA/indice.htm> 18 Figura 04 – OM subordinadas ao CMA Fonte: CMA, (BRITO, 2002) Embora a Bda Inf Slv possa atuar independentemente, é previsto uma forma de emprego onde ela integra um grande comando, atuando junto a elementos da Força Aérea (I e VII Comando Aéreo Regional) e da Marinha de Guerra (Comando da Amazônia Ocidental e 4º Distrito Naval), em Operações Conjuntas ou Combinadas, variando de acordo com o escalão (SILVA, 1993). 2.5.3 Apoio Logístico de Saúde em Operações de Selva Devido ao inóspito ambiente operacional da selva amazônica, existe uma grande dependência do apoio logístico para o sucesso das missões. Sem ele, nenhuma operação nessa região, consegue manter-se pelo tempo necessário para sua conclusão com êxito. Para a organização do apoio logístico de saúde, um planejamento detalhado deve ser empreendido, iniciando-se após o recebimento da missão, com o estudo e entendimento da manobra e da natureza da operação que deverá ser apoiada (SADAUSKAS, 2003). As missões em áreas de selva são 19 iminentemente táticas e, podem combinar todas ou algumas das seguintes operações: ribeirinhas, aeromóveis e aeroterrestres. As operações em área de selva têm por características o emprego em amplas frentes, condução das operações por pequenas frações, emprego descentralizado dos elementos de combate, indefinição dos limites da área de operações, poucos recursos locais, grandes distâncias para o apoio, limitada observação aérea e terrestre e grande dificuldade para transporte da tropa e de material, sendo mais apropriada para operações do tipo guerrilha (BRITO, 2002). Enfatizando a logística para área de saúde, é importante a realização de um levantamento eco-epidemiológico da área, para o estabelecimento de um programa de medicina preventiva, podendo influenciar no desfecho da missão. O levantamento das doenças prevalentes na região cresce de importância, devido a uma significativa redução das condições sanitárias da área. As unidades sempre deverão receber instruções e orientações quanto aos hábitos de higiene individual e coletiva, tratamento da água de consumo e cozinha, higiene no preparo e consumo dos alimentos, necessidade de imunização contra as doenças prevalentes na área e uso de repelentes contra insetos vetores de doenças endêmicas na região. Outros fatores que também podem influenciar o planejamento das ações do Serviço de Saúde, são as possíveis lesões à tropa, sejam elas decorrentes de armamentos ou estilhaços de artefatos explosivo, lesões em decorrência do terreno acidentado ou doenças orgânicas, advindas do próprio ambiente hostil da selva. 2.5.3a Princípios de Emprego Os princípios gerais de apoio de saúde às operações de selva são os mesmos dos outros tipos de operações, com algumas particularidades, principalmente em uma região de grandes dimensões, com uma floresta tropical densa e escassa rede de estradas como a Amazônia. Os princípios de emprego são baseados na flexibilidade, simplicidade, adequabilidade, continuidade e mobilidade (SILVA,1993). A flexibilidade se relaciona ao desenvolvimento de ações fundamentadas em estudos de situação de conduta, pressionados pelo fator tempo, com necessidade de proporcionar um apoio contínuo, no tempo e no espaço, sob variadas circunstâncias, ressalta de importância esse princípio. A flexibilidade implica na 20 previsão de uma estrutura capaz de sofrer alterações em sua magnitude, dispositivo e composição, prevendo a necessidade de fabricação de materiais e equipamentos que possam ser empregados em diferentes situações, por diferentes níveis ou escalões. A simplicidade consiste na eliminação do supérfluo, conferindo objetividade e facilidade para a realização das tarefas a serem executadas. Permite sob condições extremas, a execução de tarefas por pessoal não especializado, com poucos prejuízos em termos de funcionalidade. Adequabilidade é a característica de se criarem meios que satisfaçam as necessidades daquele ambiente. Portanto, para o bom trabalho na região, principalmente em operações de saúde, necessitamos de pessoal aclimatado ou oriundo de regiões próximas, fardamento compatível com o clima, rações de campanha com conteúdo calórico e compatíveis com as necessidades impostas pelo esforço físico que as ações de combate demandam, equipamentos adequados às restrições impostas ao movimento pelo terreno e métodos de manutenção e conservação de suprimentos apropriados. A continuidade consiste no desdobramento conveniente do apoio, assegurando a existência de frações deste apoio junto a cada Unidade ou Subunidade empregada, para que não haja riscos de interrupção na cadeia de suprimentos e evacuação. Finalmente, a mobilidade, que é um princípio de extrema importância na área de selva, devido as dificuldades impostas ao movimento. A mobilidade proporcionada pelos meios aéreos, quando disponíveis, dependerá da situação militar, das condições atmosféricas e da conquista da superioridade aérea local. Na selva amazônica, é de suma importância a mobilidade através de meios fluviais, como alternativa para complementar a evacuação terrestre. De forma geral, devemos considerar que os elementos de saúde deverão possuir mobilidade igual ao da tropa apoiada. A pronta evacuação dos feridos pelo escalão superior permitirá que a mobilidade dos elementos e instalações de saúde dos pequenos escalões seja preservada. Portanto deve existir interdependência entre mobilidade e continuidade. 2.5.3b Atividades de Saúde 21 a) Seleção de Pessoal para oServiço na Região Amazônica A seleção de pessoal irá proporcionar um efetivo com perfil físico compatível com as tarefas atribuídas, sendo capaz de adaptar-se rapidamente ao ambiente operacional adverso. Atualmente, o biotipo considerado ideal para o trabalho na Região Amazônica pode ser definido pelas seguintes características físicas: robustez, estatura mediana, pele morena, coordenação motora e reflexos indenes, órgãos e sentidos sem comprometimento de nenhuma espécie e sistema ósteo articular sem restrições. O pessoal mobilizado sempre deve ser submetido a rigorosa inspeção de saúde e, devemos dar preferência a indivíduos cuja origem sejam o mais próximo possível de regiões que possuem clima e relevo semelhantes. Além disso, também devemos nos preocupar com a possibilidade de indivíduos já portadores de doenças endêmicas da região, sendo indispensável sua detecção e diagnóstico precoce, para o efetivo controle e tratamento dessas doenças. O perfil psicológico considerado ideal para o combatente de selva deve conter certo grau de iniciativa, perseverança, criatividade e decisão. Com relação as equipes de saúde, atualmente vários estudos têm sido realizados, no Hospital de Campanha do Exército Brasileiro, sobre a composição e os tipos de treinamento necessário às equipes especializadas de saúde que devem compô-lo em caso de operações (SADAUSKAS, 2003). Tais estudos e treinamentos, realizados anualmente com apoio do Hospital Central do Exército e do Hospital de Guarnição da Vila Militar, que cedem os profissionais de saúde para tal treinamento, visam o preparo das equipes, que no Hospital de Campanha atuarão em caso de seu emprego. É fundamental o estabelecimento de padrões de especialização e treinamento desejáveis para cada elemento de saúde empregado no atendimento aos feridos em áreas inóspitas, distinguindo-se o limite das ações efetuadas pelos praças de saúde, que se destinam a prestação dos primeiros socorros e preparo adequado para posterior evacuação. Os oficiais médicos em geral atuam de forma centralizada, em locais pré-determinados ou nos Postos de Socorro, proporcionando o atendimento especializado. Para as praças, a especialização mais adequada é, como no caso do que se aplica hoje nos Corpos de Bombeiros, a realização do curso no nível básico (Basic Trauma Life Support – BTLS) e para os oficiais médicos o curso avançado (Advanced Trauma Life Support – ATLS). 22 b) Medicina Preventiva Como o nome já sugere, esta atividade do Serviço de Saúde visa principalmente a profilaxia das doenças mais comuns da região, através de estudos epidemiológicos e práticas corretas de higiene pessoal e coletiva. As doenças mais importantes, sob o ponto de vista epidemiológico na região Amazônica são: malária, leishmaniose, hepatite B, tuberculose, hanseníase e a febre amarela. Apesar dos esforços, esse quadro endêmico da região permanece praticamente imutável ao longo dos últimos dez anos, acrescido recentemente de surtos epidêmicos de cólera. Outro aspecto de grande importância na região são os acidentes com animais e insetos peçonhentos, nativos da área de selva, sendo imprescindível o seu conhecimento pelo profissional médico que lá irá atuar. b1) Malária A malária é uma doença infecciosa potencialmente grave causada por protozoários do gênero Plasmodium que são transmitidos de uma pessoa para outra pela picada de mosquitos do gênero Anopheles. No Brasil a existência de malária em suas formas de febres terçãs e quartãs é registrada de forma esporádica desde de 1587. A partir de 1947, com uso do DDT, foi possível uma redução no número de casos através do controle do vetor. Porém, a migração interna relacionada a projetos agropecuários, à construção de rodovias e hidrelétricas e às atividades de garimpo e mineração desenvolvidos na Região Amazônica, foi o principal fator responsável pelo agravamento, pois o movimento migratório dificultou o controle da malária, permitindo um enorme afluxo de pessoas não imunes para áreas de transmissão. Atualmente a transmissão de malária no Brasil está restrita a Amazônia Legal e dados estatísticos de 2006 mostraram que os municípios de Cruzeiro do Sul (AC), Manaus (AM), e Porto Velho (RO) foram responsáveis por 22,59% do total de casos de malária na Amazônia (MARTINS et. al., 2009). As principais medidas que podemos adotar na prevenção desta doença é a utilização de roupas impregnadas com substâncias a base de permetrina ou deltametrina, com calças e camisas de maga comprida. Nas áreas expostas do corpo utilizar repelentes contra insetos a base de dietiltoluamida (DEET). Devem ser 23 utilizadas telas de proteção contra mosquitos nos alojamentos. b2) Leishmaniose A leishmaniose tegumentar americana é igualmente transmitida através da picada de um vetor, o mosquito do gênero Phlebotomus, tendo como principais reservatórios naturais o cão, a paca, a cotia e o rato silvestre. A doença se caracteriza por lesões ulceradas da pele e das mucosas, que podem ser únicas ou múltiplas, com difícil cicatrização e tendendo a cronicidade (figura 05). Pelo desconforto que causam, dificultam o uso do uniforme e do equipamento militar de uso individual, dependendo da área lesada. As medidas de prevenção são parecidas com as utilizadas para a malária, devido ao mecanismo de transmissão semelhante, acrescido do cuidado com animais domésticos e avaliação veterinária de lesões suspeitas. Dados estatísticos do Ministério da Saúde realizados em 2004, evidenciaram os maiores coeficientes de detecção localizam-se na região norte do Brasil, principalmente no Amazonas, Pará, Rondônia, Acre e Mato Grosso. Dos 28.569 casos registrados em 2004, 75% deles foram na Região Amazônica (http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_lta_2ed.pdf). Figura 05 – lesão característica da leishmaniose tegumentar Fonte:< http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_lta_2ed.pdf>, disponível em julho/2009. b3) Hepatite B 24 A hepatite B é uma doença infecciosa causada por um vírus, manifestando sinais e sintomas de comprometimento funcional hepático, após um período de incubação relativamente longo, que varia entre 08 e 16 semanas. Sua freqüência vem aumentando de forma preocupante nos últimos anos, em núcleos populacionais da Região Amazônica. Dados do Ministério da Saúde referentes ao ano de 2007, indicavam que cerca de 20% da população da Região Amazônica pode estar infectada, principalmente por contaminação intrafamiliar em populações indígenas, uma vez que as principais formas de contágio se dão através da relação sexual promíscua sem proteção, e também através de transfusão sangüínea ou inoculação acidental por agulhas ou objetos perfuro-cortantes contaminados. b4) Tuberculose A tuberculose é uma doença endêmica na região norte, principalmente no estado do Amazonas. Segundo o Sistema de Informações de Agravos de Notificações (SINAM) o coeficiente estadual de incidência superou a média nacional entre 1995 e 2004. As taxas mais altas atingem os municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Tabatinga, que têm elevados contingentes indígenas. São Gabriel da Cachoeira apresenta uma taxa de 350 casos por 100 mil habitantes, sendo considerado o maior coeficiente do país (LEVINE, 2007). Como a rede de assistência a saúde indígena é formada basicamente pelo hospital militar e poucas unidades da Secretaria Municipal de Saúde, é de suma importância para o médico militar o reconhecimento da doença para seu correto tratamento. b5) Hanseníase Devido a sua alta prevalência, a hanseníase também possui importância epidemiológica na região. Em 1990, de todos os casos notificados no Brasil, cerca de 25% ocorreram na Amazônia, com maior incidência nos estados do Pará, Maranhão e Amazonas. No ano de 2002, foram registrados cerca 77.000 casos novos e o coeficiente de detecção nar região norte foi o mais alto do país, com cerca de 7,73 casos para cada 10.000 habitantes (MAGALHÃES, 2007). O médico atuante nessas regiões deve conhecer os seu principais sinais e sintomas para o diagnóstico precoce e início do tratamento. Os principais sinais e sintomas são manchas dormentes de cor vermelha ou esbranquiçada em qualquer região do corpo, como podemos observar na figura 06. Placas, caroços, inchaço e fraqueza muscular 25 podem ser outros sintomas. Na situação da tropa, o indivíduo que apresentar sinais da doença, deve ser isolado até o início do tratamento, que consiste no uso de antibióticos por um tempo médio de 6 a 9 meses. Após o início do tratamento, ocorre importante melhora dos sintomas e o indíviduo não necessita manter-se mais em isolamento. Figura 06 – sinais típicos de Hanseníase Disponível em: http://www.robynet.psi.br/~pnovaera/saude_campanhas.htm em julho de 2009 b6) Febre Amarela A febre amarela é uma doença causada por um Flavivírus e pode ocorrer em áreas urbanas, silvestres e rurais. Em áreas silvestres, sua transmissão é feita através do mosquito do gênero Haemagogus, diferentemente das áreas urbanas, onde a transmissão é feita geralmente através do Aedes aegypti. Seu controle em áreas de selva é extremamente difícil, uma vez que o ciclo do vírus é mantido através da infecção de macacos e transmissão transovariana no próprio mosquito. Os sintomas da febre amarela aparecem cerca de 3 a 6 dias após a contaminação e aproximadamente 15% das pessoas evoluem para a forma grave da doença, com manifestações hemorrágicas, insuficiência hepática e renal, apresentando alta letalidade. Sua profilaxia consiste nas medidas de proteção individual contra vetores já citadas, além da vacina contra a febre amarela, que é altamente eficaz, desde que seja tomada cerca de 10 dias antes da viagem para áreas de risco. b7) Cólera A cólera é uma infecção intestinal aguda causada pelo vibrião colérico, que é uma bactéria capaz de produzir uma enterotoxina que causa diarréia grave capaz de 26 levar o indivíduo a desidratação e morte se não for tratado a tempo. Está muito relacionada a falta de saneamento básico, comum na Região Amazônica, uma vez que a contaminação ocorre principalmente através da ingestão de água contaminada por fezes de indivíduos previamente infectados. Dados estatísticos de 1996 a 2006 mostram um total de 146 casos confirmados na região norte, perdendo para região nordeste que apresentou 11.705 casos (MARTINS, 2009). b8) Acidentes com animais peçonhentos São freqüentes na Amazônia os acidentes causados por ofídios, escorpiões e aranhas. Em alguns casos os acidentes podem ser graves, requerendo condutas de atendimento urgente em virtude do risco de morte iminente. É importante o médico reconhecer o tipo de animal causador do acidente, para que possa instituir o tratamento mais adequado possível. Com relação as serpentes, as mais envolvidas em acidente são as do gênero Bothrops (jararaca e caiçara), Micrurus (coral), Lachesis (surucucu pico-de-jaca) e Crotalus (cascavel), como observamos na figura 07. jararaca cascavel coral surucucu pico-de-jaca Figura 07 – serpentes mais comuns da Amazônia Disponível em: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/surucucu.htm http://www.achetudoeregiao.com.br/animais/cobracoral.htm julho/2009 27 O escorpionismo também é bastante comum na Região Amazônica e a espécie mais encontrada é o Tityus cambridgei (figura 08), que produz acidente do tipo neurotóxico, com dor em grande intensidade no local da picada. Figura 08 – Tityus camridgei – escorpião preto da Amazônia Disponível em: http://www.cit.ufam.edu.br/prevencao/animais/escorpioes.htm Julho/2009 Os acidentes causados por aracnídeos também são comuns e as principais espécies que merece destaque são: Lycosa (tarântula), Phoneutria (viúva negra) e Loxosceles (aranha-marrom), como vemos na figura 09. Dentre elas, a única que pode ter efeito letal no homem é a viúva-negra, cuja peçonha possui ação neurotóxica. As demais possuem peçonha com ação proteolítica, causando destruição tecidual e dor no local da picada. Figura 09 - viúva-negra, aranha-marrom e tarântula Fonte: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/araneideos.htm julho/2009 Visando a manutenção da saúde de seu efetivo e a prevenção das doenças e acidentes expostos nesse estudo, o Exército Brasileiro adota medidas profiláticas de diversos tipos, destacando-se a imunização obrigatória, controle de reservatórios e do meio ambiente, erradicação de vetores das doenças transmissíveis, 28 quimioprofilaxia e utilização de equipamentos individuais de proteção (SILVA,1993). No que concerne a imunizações obrigatórias, são realizadas vacinações contra a febre amarela e a hepatite B nos efetivos que servem na Amazônia ou que para ela se deslocam, além daquelas realizadas nos efetivos em geral (tifo e tétano). A imunização com a vacina BCG é realizada rotineiramente na infância e, a revacinação só se faz necessária nos indivíduos que possuem níveis de imunidade insatisfatórios. Com relação a malária, ainda não existe vacina eficaz, restando a quimioprofilaxia, utilizando medicamentos como a cloroquina e primaquina, em situações de risco, por indivíduos susceptíveis, tendo em vista impedir o ciclo reprodutivo do protozoário e, conseqüentemente a instalação da doença. A prevenção do cólera ainda não é possível através de vacinas e seu controle é feito através da higiene pessoal e dos alimentos e adequado tratamento da água. Com relação a leishmaniose, as medidas mais importantes consistem no diagnóstico precoce, tratamento dos doentes, eliminação dos reservatórios infectados e combate ao vetor. A vigilância sanitária, controle dos pacientes, diagnóstico precoce são os recursos disponíveis para o controle da hanseníase. c) Higiene Militar e Cuidados Pessoais Alguns aspectos higiênicos inerentes a atividade militar merecem comentários especiais devido a sua importância, sendo eles: c1) Uniformes Devem ser confeccionados usando tecidos que permitam a livre circulação de ar, auxliando na transpiração. Com relação as cores, a utilização do padrão camuflado é impositiva, apesar de não ser a ideal na região. Os uniformes devem ser suficientemente folgados, permitindo adequada liberdade, sem prejudicar o deslocamento em terrenos de difícil progressão, além de não deixar exposta nenhuma parte do corpo desnecessariamente, a fim de evitar o contato da pele com plantas que provoquem reações urticariformes, além de conferir relativa proteção contra insetos, inclusive os peçonhentos. O uso do capacete de aço-fibra no interior da selva, dificulta a liberdade de movimentos, não sendo prático o seu uso pelas tropas de Infantaria de Selva, a 29 despeito da proteção que poderia conferir. O calçado deve possuir solado de borracha leve, flexível e de alta resistência, com tecido sintético permeável, favorecendo a drenagem de seu interior após a locomoção em terrenos alagados, devendo cobrir as pernas até a altura aproximada de 25 a 30 cm, a fim de assegurar algum grau de proteção contra acidentes causados por ofídios. c2) Equipamentos de proteção e higiene individual Curativos individuais, repelente contra insetos, mosquiteiros, pomadas antialérgicas, medicação anti-malárica, comprimidos ou ampolas para tratamento individual da água e utensílios de higiene pessoal devem fazer parte do equipamento individual. c3) Alimentação e Água O Exército Brasileiro dispõe de uma ração operacional (R-2A/91) com conteúdo calórico e características adequadas ao consumo, consideradas as particularidades regionais e atividades físicas exigidas ao combatente de selva. A ração é composta por alimentos desidratados, evitando assim a sua rápida deterioração. Em relação à água, formas alternativas para o tratamento individual e coletivo da água para consumo são implementadas. A forma utilizada pelo Exército Brasileiro consiste no método clássico de decantação, seguido de desinfecção química pela adição hipoclorito de cálcio (em comprimidos ou ampolas) ou iodo (comprimidos). Existem ainda os equipamentos portáteis para uso individual. Esses equipamentos utilizam elementos filtrantes a base de carvão ativado e complexos de iodo-resina como agente de desinfecção, porém são de fabricação estrangeira, não fazendo parte de nossa dotação. c4) Aclimatação A adaptação fisiológica individual às condições climáticas adversas é de fundamental importância para o desempenho satisfatório das funções do combatente de selva. As atividades físicas devem ser incrementadas progressivamente ao longo das primeiras semanas de instrução e a aclimatação em geral é obtida no decorrer de aproximadamente 2 semanas. O grau de aclimatação 30 deve ser monitorado pelo Serviço de Saúde, para eventuais necessidades de reajustes. d) Prestação de Primeiros Socorros No ambiente de selva é de extrema importância a aplicação imediata de medidas de primeiros socorros às vítimas de ferimentos, sejam decorrentes do combate ou não. Esse procedimento tem por finalidade o rápido restabelecimento das condições físicas do combatente ou propiciar melhores condições para posterior evacuação. A prestação de primeiros socorros deve ser realizada a nível de primeiro escalão e, para isso, deve existir uma confiança no auto-socorro e no socorro prestado pelo companheiro combatente. Isso pode ser obtido através da implementação nos níveis de padioleiros de saúde. instrução básica, qualificando atendentes e Os aspectos específicos a cerca de problemas médicos- sanitários da região, doenças endêmicas e epidêmicas mais prevalentes também devem ser abordados. Outro ponto de extrema importância na instrução do combatente é o estabelecimento de uma rotina de abordagem em caso de necessidade de socorro urgente, seguindo a seqüência de procedimentos estabelecidos nos protocolos vigentes (BTLS). Podemos destacar algumas condições que freqüentemente irão requerer medidas de primeiros socorros ou atendimento por parte do pessoal de saúde, ligadas principalmente ao ambiente operacional da selva. Dentre elas podemos citar: os ferimentos por projéteis e fragmentos de explosivos, intoxicações, queimaduras, desidratação pelo calor, intermação, fadiga e cãimbras musculares, distúrbios neuropsiquiátricos de natureza fóbica, picadas de animais peçonhentos, lesões causadas por animais de pequeno porte, reações alérgicas e urticariformes, diarréias, fraturas, entorses e luxações e envenamentos. d1) Primeiro Escalão A atividade de primeiros socorros é realizada a nível de primeiro escalão pelos integrantes do Pelotão de Saúde (PelS) do Batalhão de Infantaria de Selva. Os atendentes e padioleiros do PelS acompanham a tropa nas infiltrações e patrulhas, realizam o primeiro atendimento e providenciam a evacuação das baixas, caso necessário para o Refúgio de Feridos (RF) da respectiva companhia. Do RF 31 as baixas são evacuadas normalmente para o Posto de Socorro do Batalhão, onde as medidas de primeiros socorros serão revistas e complementadas. Esse atendimento limita-se a manter o ferido em condições de equilíbrio hemodinâmico, com prevenção do choque, liberação de vias aéreas e estabilização de lesões músculo-esqueléticas, visando a preparação para progressão na cadeia de evacuação. d2) Segundo Escalão Nesse nível, as possibilidades de atendimento já são um pouco melhores, podendo incluir procedimentos médico-cirúrgicos de pequeno porte, porém ainda de caráter transitório, visando a situação de emergência. Em geral é realizado pelo Posto de Triagem do Batalhão Logístico da Brigada de Infantaria de Selva, podendo contar com o apoio do Hospital Portátil, normalmente desdobrado nas proximidades das instalações logísticas da guarnição em reforço. d3) Peculiaridades do Atendimento de Primeiros Socorros em Operações Descentralizadas Devido as dificuldades impostas pelo ambiente de selva, o Serviço de Saúde deve ser dotado de pessoal especializado nos escalões que operam mais descentralizados, proporcionando condições de relativa autonomia. Porém, a nível de batalhão, de acordo com o quadro de dotação orgânica de pessoal, existem apenas dois médicos, permitindo apenas a supervisão nos Postos de Socorro e supervisão e controle da atividade de evacuação dos Refúgios de Feridos das companhias para esta instalação. Podemos concluir que esse número de profissionais capacitados é insuficiente para prestação de um bom serviço. Portanto a capacitação de pessoal de enfermagem, com habilidades médico-cirúrgicas seria fundamental para o desenvolvimento dessa autonomia desejada Com relação ao material para prestação de primeiros socorros nessas áreas, devemos lembrar sempre do essencial para manter o combatente vivo, até que possa ser evacuado para locais de maiores recursos. Por isso, os conjuntos de primeiros socorros devem ser constituídos por itens com especificidade e quantidades compatíveis com as estimativas de baixas, não apenas quanto ao número, mas também quanto ao tipo de lesão. Atualmente, o material ainda carece de padronização, no que se refere a cadeia de apoio logístico. No que concerne ao 32 planejamento de saúde nas operações em área de selva, faz-se necessário a confecção de uma planilha que padronize os materiais necessários, para que se possa contar com um mesmo material a ser empregado, facilitando não somente o suprimento pela cadeia de apoio logístico, mas sobretudo a uniformização dos materiais disponíveis para as equipes que prestarão o primeiro socorro com material adequado aos procedimentos de emergência, dentro do padrão estabelecido (SADAUSKAS, 2003). As maiores necessidades em material de emergência são relacionadas aos seguintes aspectos: - material para manutenção das vias aéreas pérvias – cânula de Guedel, cânula orofaríngea, laringoscópio, tubos orotraqueais, cânulas de traqueostomia, ambú, aspirador; - material para imobilização – colar cervical, suporte para estabilização cervical, tala para membro superior e inferior; - material para transporte – prancha para imobilização espinhal, maca tipo cesto; - materiais diversos – correias para fixação, manta aluminizada, tesouras e canivetes, etc, como observamos na figura 10. Os medicamentos a serem empregados no atendimento, devem restringir-se àqueles utilizados para atendimento e medidas de suporte básico de vida, de conhecimento de todo e qualquer Serviço de Emergência. Figura 10 – equipamento para suporte básico de vida 33 Fonte: SADAUSKAS, 2003. e) Triagem A atividade de triagem é obrigatória, sob quaisquer circunstâncias, em todas as instalações e níveis de atendimento do Serviço de Saúde. A classificação das baixas segundo a gravidade do seu quadro clínico, tipos de lesões, níveis de consciência e diagnóstico permitem caracterizar a precedência de atendimento. Além disso, proporciona subsídios para a decisão quanto as possibilidades de tratamento na instalação onde está sendo feita a triagem e a necessidade ou não de evacuação. Nas operações na Região Amazônica, como em qualquer área de selva, a dificuldade oferecida pelo terreno à evacuação, irão impor a necessidade de uma triagem criteriosa, buscando evitar a sobrecarga do sistema de evacuação, sem perder de vista as conseqüências para o atendimento nas instalações mais avançadas e os reflexos sobre a mobilidade e a continuidade do apoio em relação aos elementos do combate (SILVA, 1993). A atividade de triagem existe em todos os níveis e instalações previstas para o desdobramento do Apoio de Saúde, sendo exercida com mais intensidade, via de regra, pelos elementos responsáveis pelo atendimento nos Postos de Triagem (PTrg) das Brigadas de Infantaria de Selva, responsáveis pela prestação do Apoio de Saúde de segundo escalão. Os PTrg localizados nas áreas ou sub-áreas de Apoio Logístico das Brigadas tem possibilidade de realizar a triagem de todas as baixas da respectiva guarnição. f) Evacuação As grandes distâncias, a vegetação e o terreno tornam a evacuação de feridos lenta e desconfortável. A escassez de vias de circulação terrestre, a precariedade das estradas existentes, a limitada infra-estrutura de portos e campos de pouso, meios aéreos insuficientes e inadequados, são apenas algumas das dificuldades que restringem a evacuação na Amazônia. Experiências vividas na selva amazônica indicaram que 4 a 6 combatentes transportam um ferido a uma distância de 400 metros em 1 hora (BRITO,2003). 34 O atendimento e os primeiros socorros devem ser o mais a frente possível, com realização de uma rigorosa triagem de feridos, não devendo ultrapassar a primeira instalação de saúde apta a atender e reter o paciente, como previsto na norma de evacuação, a menos que a capacidade desta instalação esteja esgotada, ou a situação tática, ou as condições do paciente imponham outro procedimento. A evacuação de doentes e de feridos é uma atividade muito importante na selva, tendo em vista as dificuldades enfrentadas para sua realização. A padiola, muitas vezes, é o mais viável meio de evacuação desde a linha de contato até a base de combate. Daí para a retaguarda, a evacuação se processará por intermédio de meios aquáticos ou por evacuação aeromédica, que oferecem maior segurança e conforto ao ferido, sendo que esta última, pela sua rapidez e eficácia, permite o pronto atendimento dos casos mais complicados. Porém, a evacuação aeromédica avançada é limitada pela densidade das florestas e pela copa das árvores, que chega a atingir cerca de 50 metros de altura. O emprego de aeronaves fica também condicionado à obtenção de superioridade aérea local e de condições meteorológicas favoráveis. A maioria dos helicópteros existentes no Exército Brasileiro são impróprios para evacuação aeromédica, pelo limitado espaço interno (figura 11 e 12). Figura 11 – Helicóptero Esquilo/Exército Brasileiro Fonte: http://www.cnor.org.br/forum/viewtopic.php?p=933 disponível em julho de 2009. 35 Figura 12 – Helicópteros Pantera e Cougar/Exército Brasileiro Fonte: http://defesabrasil.com/site/index.php/Artigos/Aviacao-do-Exercito/Page-2.html, disponível em julho de 2009. Quaisquer tipos de transporte, terrestres, aquáticos ou aéreos, orgânicos ou não, devem ser aproveitados para evacuação das baixas para a retaguarda. É comum a combinação de vários meios de transporte num mesmo eixo de evacuação. No interior da floresta, o emprego de nativos e animais de carga também pode ser considerado, para complementar os meios existentes. A evacuação utilizando redes é uma alternativa para o emprego de padiolas convencionais. Balsas, botes e lanchas são largamente empregados nos trechos onde a evacuação é exeqüível por via fluvial. A cadeia de evacuação atende ao escalonamento do Serviço de Saúde no Teatro de Operações. Assim, o doente ou ferido em ação, atendido a nível de Pelotão ou Grupo de Combate, é conduzido para o Refúgio de Feridos, sendo a partir daí evacuado para o Posto de Socorro (PS) por meio de padiolas, redes, meios fluviais, aéreos ou ambulâncias do Pelotão de Saúde. O Pelotão de Ambulâncias, Companhia de Saúde e o Batalhão Logístico, dotados de meios de evacuação por via fluvial, são os responsáveis pela evacuação de feridos dos PS para os Ptrg/Bda, normalmente desdobrados no interior das bases de combate das brigadas. A evacuação aeromédica poderá alterar o escalonamento, promovendo a evacuação a partir do Refúgio de Feridos, ou qualquer outra instalação de saúde, 36 diretamente para o Batalhão Logístico. Em geral, as vias de evacuação correspondem às mesmas utilizadas para transportar o suprimento. Pela importância que representam para as operações, as vias de suprimento e evacuação tornam-se alvos compensadores para atuação de sabotadores, forças irregulares e guerrilheiros, ficando claro a necessidade de reforço nos elementos de segurança, principalmente nos deslocamento de frotas. g) Hospitalização Deve ser feita a máxima utilização dos recursos hospitalares locais sem o prejuízo da população ou a segurança dos militares baixados. Um ou mais hospitais portáteis e/ou flutuantes ou lanchas-ambulâncias devem ser distribuídos à brigada pelo escalão superior, podendo-se ainda, contar com o apoio da Marinha. O Batalhão Logístico de Selva recebe, em reforço, um Hospital Portátil (HPor), em substituição ao Posto Cirúrgico Móvel, que as brigadas normalmente recebem quando em operações. O HPor estará localizado na Área de Apoio Logístico, ficando inclusive embarcado, facilitando a evacuação. Este receberá dos PTrg as baixas que necessitam de cuidados cirúrgicos. O HPor tem condições, inclusive de prover recursos cirúrgicos e hospitalização em regiões de difícil acesso ou isoladas. Doutrinariamente, o HPor é dotado de capacidade de hospitalização de 25 leitos. As experiências com o HPor na Região Amazônica, optando pelo desdobramento em balsas, de instalações do tipo “barracas”, revelaram tal opção como sendo uma alternativa bastante viável, levando-se em consideração as vantagens da mobilidade intrínseca, aliada a conveniência das facilidades oferecidas aos elementos encarregados da evacuação, quando são empregados os meios de transporte fluvial (SILVA, 1993). A utilização de estruturas tipo “mista”, com contêineres e barracas apresenta algumas vantagens, como a flexibilidade, a facilidade para transporte por meios aquáticos e rodo-ferroviários, rapidez para entrar em operação, funcionalidade, fácil adaptação a instalações fixas, segurança “técnica” para procedimentos cirúrgicos e relativa proteção contra ataques químicos, biológicos e fenômenos naturais. As maiores desvantagens em relação aos contêineres são a dificuldade para o transporte em aeronaves, devido ao peso e dimensões e a necessidade de equipes permanentes de manutenção, devido a complexidade das instalações. 37 O Exército Brasileiro não possui outros tipos de hospitais de terceiro escalão. Os hospitais militares existentes na Amazônia correspondem àqueles previstos para a Zona de Administração (ZA), sendo eles: Hospital Geral de Belém e Hospital de Guarnição de Marabá, na oitava Região Militar; Hospital de Guarnição de Porto Velho, na nona Região Militar; Hospital Geral de Manaus, Hospital de Guarnição de Tabatinga e Hospital da Guarnição de São Gabriel da Cachoeira, na décima segunda Região Militar. h) Suprimentos Classe VIII A viabilização da atividade de suprimentos classe VIII (Cl VIII) para apoio às operações na Amazônia requer do planejador a integração de informações relativas a efetivos, estimativas de consumo, métodos, técnicas e processos especiais de transporte, conservação e distribuição do material. O ambiente e o tipo de operação acarretam maior consumo de medicamentos e o aumento das baixas fora de combate. A alta temperatura e sua variação brusca, mais o excesso de umidade tornam o combatente mais vulnerável às chamadas doenças tropicais. Portanto, deve ser dado ênfase especial aos medicamentos, desde antes do combate, na profilaxia das endemias como a malária, febre amarela, hepatite B e outras. Durante as operações, devemos ter atenção com medicamentos para picadas de animais peçonhentos e ferimentos provocados pelo inimigo. O nível de estoque de suprimentos Cl VIII será mais elevado que nas operações convencionais. Há necessidade de aumento da dotação nos pequenos escalões, a fim de atender as emergências e, também, para amenizar as dificuldades de evacuação e o efeito negativo no moral da tropa. Com relação às possibilidades do inimigo, as informações mais importantes para o planejamento das atividade de suprimentos são o tipo de operação ou ação mais provável a ser empreendida e os sistemas de arma de que dispõe, em particular as probabilidades de emprego de agentes químicos, biológicos e nucleares (QBN) contra nossas forças. A conservação dos suprimentos na Região Amazônica também é um grande problema, uma vez que o clima quente e úmido acaba reduzindo os prazos de validade, causando, conseqüentemente a deterioração precoce de medicamentos e 38 materiais de aplicação como adesivos de curativos e materiais que utilizam a borracha como matéria prima. Uma alternativa para prolongar a vida útil dos suprimentos é a adoção de embalagens e estojos resistentes à umidade e que apresentem algum grau de proteção térmica. Para os medicamentos e produtos imunobiológicos, podem ser aplicados os processos de liofilização quando for possível. O tempo de transporte de suprimentos também é outra consideração bastante importante e, este deve ser abreviado ao máximo para evitar a sua deterioração prematura. O fluxo de suprimentos vai utilizar freqüentemente as oportunidades de evacuação para atingir a amplitude máxima, com sistema de troca de materiais, visando não prejudicar o conforto e a segurança das baixas, entretanto, devendo ser enfatizada a importância do controle dos níveis operacionais e de segurança dos itens que utilizam desta sistemática. Em circunstâncias especiais, por serem considerados itens de importância crítica, os medicamentos e materiais de saúde devem ser destruídos ou inutilizados, evitando o seu uso pelo inimigo, quando tivermos que abandonar quantidades significativas deste tipo de suprimento. 2.6 METODOLOGIA 2.6.1 Método, tipo de pesquisa e técnica Pesquisa de revisão bibliográfica e documental através de palavras chave: saúde, logística, operações na selva, Amazônia e endemias. A coleta do material foi realizada através de literatura publicada e informatizada, de publicações nacionais e estrangeiras e sites nacionais e estrangeiros. 39 3 DISCUSSÃO A Amazônia Brasileira representa uma extensa área do território brasileiro, dotada de inúmeros recursos naturais, incluindo aí grandes reservas minerais, hídricas e vegetais, além de sua posição estratégica na América Latina, gerando grande interesse internacional. É de importância vital para a soberania nacional, que o vazio demográfico lá encontrado seja preenchido, principalmente nas áreas de fronteiras, estando o Exército Brasileiro incumbido desta difícil missão. O Comando do Exército em conjunto com o Comando Militar da Amazônia, são os responsáveis em traçar as estratégias e linhas de ações a serem tomadas, visando o desenvolvimento e proteção dessa área. Atualmente, a metodologia adotada pelo Exército Brasileiro, consiste na estratégia de “presença constante”, onde o Exército atua não somente como a força armada que protege nossas fronteiras, mas também como importante elo de integração social da população mais carente da região, levando na medida do possível, tecnologia, apoio infra-estrutural e principalmente atendimento às necessidades de saúde. É de suma importância para o Exército, o conhecimento do perfil fisiográfico da região onde irá executar operações. características eco- geográficas Por isso, um constante estudo das e sociais da região é fundamental para o sucesso das operações. O militar designado a trabalhar nessa área, além do aspecto servil característico da profissão, deve possuir também um espírito aventureiro, capaz de enfrentar e vencer grandes desafios. O estudo constante e o aprofundamento no conhecimento da região onde irá atuar, é que o ajudarão a vencer esses desafios com mais facilidade. O apoio logístico nas operações de selva é uma atividade de alta complexidade na Região Amazônica, dada a dificuldade de acesso a inúmeros locais, devido a falta de estradas ou devido a presença de mata fechada, impedindo muitas vezes até mesmo o acesso aéreo. Como o transporte fluvial, sem dúvida é o mais importante e eficaz na Amazônia, o Exército Brasileiro procura adaptar suas atividades logísticas a esse meio de transporte, seja no que diz respeito a distribuição de suprimentos, deslocamento de tropas e evacuação de baixas. No que concerne ao Serviço de Saúde, sem o apoio logístico, torna-se inviável sua execução. Portanto, como parte do planejamento e do emprego da Força Terrestre, o Apoio Logístico constitui outro desafio a vencer, frente as 40 dificuldades econômico-financeiras vividas atualmente no âmbito interno e das peculiaridades e adversidades regionais. O médico que vai prestar apoio de saúde em operações de selva, deve receber treinamento individualizado, visando inicialmente a sua própria sobrevivência. Além disso, deve possuir conhecimento técnico atualizado a respeito das endemias da região e principais problemas que poderá encontrar, assim como de todas as atividades que poderá exercer. Como vimos, tais atividades incluem a seleção de pessoal, medicina preventiva, prestação de primeiros socorros, evacuação, triagem, hospitalização e suprimento de saúde. Como podemos perceber, o trabalho do Serviço de Saúde do Exército, é peça fundamental para o bom desenvolvimento das operações na Região Amazônica, uma vez que militar que atua nessa área, está sujeito a uma série de riscos, inerentes ao trabalho, ao ambiente e a falta de recursos. A simples presença do médico, já é capaz de elevar o moral da tropa. Por isso, o Exército Brasileiro conta com todos que tenham espírito ousado, não tenham medo de desafios e cultivem o senso de patriotismo e cumprimento do dever na defesa de nossa Amazônia, onde todos, sem exceção, desde o soldado raso ao general, dentro de nossas funções, somos peças importantes para o desenvolvimento e defesa da soberania nacional. 41 4 CONCLUSÃO Pode-se concluir a partir do estudo realizado, que a Amazônia Legal brasileira ainda é uma área com grande carência de profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros, odontólogos, farmacêuticos e veterinários. O Exército Brasileiro, com grande dificuldade, tenta suprir essas carências com médicos militares de carreira e médicos convocados para o serviço militar obrigatório. O trabalho realizado pelo Serviço de Saúde do Exército é vital para as populações locais, onde procura levar atendimento médico em regiões inóspitas e de difícil acesso. Atua também no controle e tratamento das principais endemias da região, uma vez que o único serviço de saúde existente, é o que é prestado pelo Exército. Daí o caráter de integração social desta atividade. Considerando as atuais deficiências e sabendo que na atual conjuntura, o emprego de recursos a nível nacional podem não privilegiar os orçamentos para fins militares, devemos refletir a respeito da importância da pesquisa de processos alternativos dentro da própria força, que visem viabilizar uma estrutura de Apoio Logístico à altura das necessidades existentes, para que cada vez mais, o Exército atue não somente como o braço forte, mas como a mão amiga, sempre pronta a ser estendida a população que necessitar. GRÁFICO 4 – Satisfação com a vida geral GRÁFICO 4 – Satisfação com a vida pessoal 42 REFERÊNCIAS ASSIS, PAULO ROBERTO CORREA. O Comando Militar da Amazônia. Military Review, Kansas, p. 4 – 17, 4 trim 1995. BRITO, ELISÁRIO. Apoio Logístico nas Operações em Áreas de Selva. 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