ARTIGO
NATUREZA, SAÚDE E SUSTENTABILIDADE
FIBRA ALIMENTAR COMO
MECANISMO PREVENTIVO DE
DOENÇAS CRÔNICAS
E DISTÚRBIOS METABÓLICOS
Thamires Moraes Brito Macedo¹
Gracilene Schmourlo²
Kátia Danielle Araújo Lourenço Viana³
Resumo
A fibra alimentar (FA) desempenha papel regulador e remissivo
nos distúrbios gastrointestinais e nas doenças crônicas não transmissíveis. O efeito benéfico da FA tem gerado aprovação em seu
uso para fins preventivos e terapêuticos. Fibra alimentar é a parede
celular dos vegetais, que não é digerida pelo organismo humano,
por não possuir enzima específica, e tem propriedades funcionais
importantes no organismo humano. Portanto, são inegáveis os benefícios que a FA associada à dieta desempenha na saúde humana.
Palavras-chave: fibra alimentar, constipação, doenças crônicas não
transmissíveis.
Abstract
The dietary fiber (DF) acts as a digestion regulator and also in the
treatment of common and chronic non-communicable disorders
in the human gastrointestinal tract. The DF beneficial effects have
been proven to be useful for preventive and therapeutic purposes.
The DF is the plant cell wall, it is not digested by the human body
due to a lack of gastrointestinal specific enzymes, with important
functional properties for the human gastrointestinal tract. Therefore, the DF benefits associated with human diet are undeniable.
Keywords: dietary fiber, constipation, chronic non communicable
diseases.
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As autoras
¹Thamires Moraes Brito Macedo
Acadêmica do curso de Nutrição da Unisulma – ([email protected]).
²Gracilene Schmourlo
Bioquímica, professora do curso de Nutrição da Unisulma
– ([email protected]).
³Kátia Danielle Araújo Lourenço Viana
Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal da Paraíba
– ([email protected]).
1. INTRODUÇÃO
As fibras alimentares, como alimento funcional, têm tido relevância nesse aspecto, uma vez que atuam diretamente na
prevenção de doenças. Elas atualmente são foco de grande
atenção devido aos inúmeros distúrbios metabólicos e doenças
crônicas não transmissíveis geradas pelo mau hábito alimentar enfrentados pela sociedade atual. Elas têm sido apontadas
como substâncias preventivas de doenças, evitando ou minimizando os efeitos dos alimentos industrializados ou daqueles
sem propriedades benéficas ao organismo, promovendo uma
melhor qualidade alimentar e, consequentemente, uma melhor
qualidade de vida.
A fibra alimentar (FA) desempenha papel regulador e remissivo nos distúrbios do trato gastrointestinal (TGI), além de evitar
prisão de ventre. Distúrbios esses gerados por modificações dietéticas, principalmente pela diminuição, na dieta, de alimentos
ricos em fibras. Estudos mostram que a ocidentalização propiciou o aumento dessas moléstias, já que a alimentação ocidental é pobre em fibras e rica em alimentos refinados.
FIBRA ALIMENTAR COMO MECANISMO PREVENTIVO DE DOENÇAS CRÔNICAS...
A alimentação tem desempenhado um papel fundamental na
prevenção e possível cura de algumas doenças da pós-modernidade. Frente a essa sociedade que suporta um grande número
de patologias relacionadas à alimentação, vê-se a necessidade
de se trabalhar uma alimentação que previna tais transtornos.
Dentre muitas doenças que assolam a sociedade moderna, temse a constipação intestinal, fruto principalmente da má alimentação, que tem cada vez mais se intensificado entre homens e
mulheres. Apesar de o universo feminino sofrer, visivelmente,
mais de constipação, a grande maioria da sociedade, constituída por trabalhadores e estudantes que passam a maior parte do
seu tempo fora de casa, atualmente apresenta distúrbios relacionados à constipação (JAIME et al., 2009).
Nas doenças crônicas não transmissíveis pós-modernas mais comuns, como o diabetes mellitus, a obesidade, as doenças cardiovasculares e o câncer, o efeito benéfico causado pela fibra
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A FIBRA
ALIMENTAR É
ENCONTRADA
EM GRÃOS COMO
SOJA, AVEIA
E EM CASCAS
DE ALIMENTOS
tem gerado aprovação em seu uso para fins preventivos e
terapêuticos, uma vez que tem efeito hipocolesterolêmico
frente à gordura e efeito hipoglicemiante, beneficiando os
diabéticos; além de prevenir o câncer de intestino, pela
diminuição do contato das fezes com a mucosa intestinal,
e consequentemente o contato com carcinógenos e, de
um modo geral, promover o desenvolvimento da mucosa
intestinal (OLIVEIRA; MARCHINI, 2008).
THAMIRES M. BRITO MACEDO, GRACILENE SCHMOURLO, KÁTIA D. A. LOURENÇO VIANA
O objetivo da presente revisão é apresentar os benefícios
da fibra alimentar como mecanismo preventivo de doenças crônicas não transmissíveis e de distúrbios metabólicos.
2. FIBRA ALIMENTAR
A fibra alimentar nada mais é do que a parede celular dos
vegetais, que não é digerida pelo organismo humano, por não
possuir enzima específica. É geralmente um carboidrato – exceto
a lignina – e atua com propriedades funcionais no organismo
humano (OLIVEIRA; MARCHINI, 2008).
A American Association Cereal Chemistry (2001 apud OLIVEIRA
e MARCHINI, 2008) define que fibra da dieta é a parte comestível das plantas ou carboidratos análogos que são resistentes à
digestão e à absorção no intestino delgado de humanos, com
fermentação completa ou parcial no intestino grosso. A fibra
da dieta inclui polissacarídeo, oligossacarídeos, lignina e substâncias associadas às plantas. A fibra da dieta promove efeitos
fisiológicos, benéficos, incluindo laxação, atenuação do colesterol no sangue e/ou atenuação da glicose no sangue.
Já Waitzberg (2006) define, de forma mais simples, fibra alimentar como todos os polissacarídeos vegetais da dieta (celulose, hemicelulose, pectinas, gomas e mucilagens), mais a lignina, que
não são hidrolisados pelas enzimas do trato digestivo humano.
Recentemente, o conceito de fibra foi estruturado de forma a
incluir substâncias semelhantes a elas, como a inulina, frutooligossacarídeos (FOS ) e o amido-resistente, que por alguns são
considerados prebióticos (CUKIER et al., 2005).
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NATUREZA, SAÚDE E SUSTENTABILIDADE
Estudos recentes mostram que a fibra alimentar tem sido aliada
na terapia de doenças, sendo assim considerada modernamente como alimento funcional. Intitula-se a fibra dietética como
alimento funcional porque
desempenha no organismo funções importantes, como intervir no metabolismo dos lipídeos e carboidratos e na fisiologia do trato gastrointestinal, além
de assegurar uma absorção mais lenta dos nutrientes e promover a sensação
de saciedade (CUKIER et al., 2005, p. 142).
2.1 Classificação das fibras alimentares
De acordo com diversos autores, as fibras dietéticas têm diversas formas de classificação. Salinas (2002) classifica-as em
quatro grupos distintos, conforme a digestibilidade que elas desenvolvem no tubo digestivo humano. Segundo ele, o grupo I
corresponde às fibras não digeríveis, pertencendo a este grupo
a celulose e a lignina; grupo II engloba as semidigeríveis, grupo
das hemiceluloses; o grupo III é o das fibras que retardam a digestão, composta da pectina e da goma-guar; e o grupo VI são
fibras viscosas de efeito ainda não determinado.
Schneeman (1986 apud Salinas, 2002) classifica as fibras segundo o papel que elas cumprem nos vegetais: I) polissacarídeos
estruturais (celulose, hemicelulose, pectina e amido resistente);
II) não polissacarídeos estruturais (lignina e outras substâncias);
III) polissacarídeos não estruturais (gomas e mucilagens).
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A fibra é de grande relevância para a comunidade em geral,
sendo facilmente encontrada em grãos como soja, aveia e em
cascas dos alimentos em geral.
Porém, em nossa prática cotidiana podemos visualizar duas formas diferentes de fibra dietética, devido a sua solubilidade em
água: fibra solúvel e insolúvel.
2.1.1 Fibra Alimentar Solúvel (FAS)
As fibras solúveis são encontradas mais frequentemente no interior da fruta ou do grão, ao contrário da fibra insolúvel que está
presente principalmente na casca e entrecasca dos alimentos.
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Algumas fibras solúveis são pectinas, gomas, mucilagens e hemicelulose tipo A. Caracterizam-se por formarem um gel, em contato com a água, geleificando-se a mistura (CUKIER et al., 2005).
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São facilmente fermentadas no cólon pelas bactérias da flora
banal. Como resultado da fermentação colônica, têm-se os Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCC) e gases (CO2, H2 e CH4),
que são obtidos pela fermentação de fibras e amido, principalmente, no cólon. Uma vez formados, esses são rapidamente
absorvidos no jejuno, íleo, cólon e reto (ROYALL et al., 1990 apud
WATZBERG, 2006). Dentre os AGCC mais abundantes estão o acetato, seguido do propionato e do butirato (WATZBERG, 2006).
Os AGCC são responsáveis pelo fornecimento de energia ao
hospedeiro, o que é benéfico em caso de má absorção; pela
modulação da motilidade gastrointestinal; pelo estímulo do desenvolvimento das células epiteliais do íleo e do cólon; pela possível proteção contra o câncer do cólon; e pelos efeitos benéficos sobre a homeostase da glicose e metabolismo dos lipídeos
(CUKIER et al., 2005).
A fibra solúvel também atua intensamente no retardamento
do esvaziamento gástrico e no trânsito do intestino delgado,
aumenta o volume e a maciez das fezes (pelo seu efeito de geleificação), reduz a diarreia, diminui o potencial hidrogeniônico
(pH) do cólon, aumenta a tolerância à glicose por diminuir e
retardar o contato do bolo fecal com a superfície da mucosa e
diminui os níveis elevados de colesterol total e de LDL - colesterol, pelo seu efeito “esponja”, capturando assim os lipídeos e
eliminando juntamente com as fezes (CUKIER et al., 2005).
2.1.2 Fibra Alimentar Insolúvel (FAI)
A fibra alimentar insolúvel compreende a parte mais externa e
resistente dos vegetais, ou seja, constitui elemento estrutural da
parede celular dos vegetais. Também é a parte da fibra que é
pouco fermentável e capta pouca água, formando misturas de
pouca viscosidade. É a parte da fibra responsável por aumentar
o volume das fezes, o que irá provocar uma eliminação pelo
organismo, diminuindo o risco de doenças intestinais. Por aumentar a massa e maciez fecal, apresenta um efeito mecânico
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NATUREZA, SAÚDE E SUSTENTABILIDADE
A AUSÊNCIA DE
FIBRA ALIMENTAR NO
A FAI é constituída pela celulose, hemicelulose tipo B e, principalmente, lignina. Esta é a mais hidrofóbica e, à medida
que a planta amadurece, vai se tornando mais rica em lignina
e perdendo seu conteúdo em água (OLIVEIRA; MARCHINI, 2008).
Existem autores que intitulam a FAI como antioxidante por
sua capacidade de excreção de algumas substâncias. Ela
aumenta a excreção de moléculas de colesterol através dos ácidos biliares nas fezes. Aumenta também a excreção de alguns
minerais como o zinco, cálcio, ferro e magnésio por ter efeito
competidor com esses minerais, daí a necessidade de controlar
a ingestão de fibras a fim de prevenir essa competição na absorção de nutrientes (CUKIER et al., 2005).
Segundo a American Dietetic Association (ADA) apud Cukier et
al. (2005), a ingestão recomendada é de 20-35g de fibras ao dia
para adultos e 5g ao dia para crianças.
3. CONSTIPAÇÃO INTESTINAL
A constipação pode ocorrer em qualquer idade e vai desde fezes
duras, esforço para defecar e ausência/diminuição de movimentos intestinais até fezes diárias com menos de 35g, defecações
inferiores a três vezes por semana ou espaço de três dias ou
mais sem defecar (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005). Apesar de haver conceitos subjetivos e objetivos a respeito de constipação, o
mais apropriado para se identificar tal patologia ainda é baseado nesses estados acima citados.
ORGANISMO
É UMA DAS RAZÕES
PARA OCORRER
CONSTIPAÇÃO
FIBRA ALIMENTAR COMO MECANISMO PREVENTIVO DE DOENÇAS CRÔNICAS...
no trato gastrointestinal, reduzindo consideravelmente a
constipação (CUKIER et al., 2005).
Com exceção de períodos fisiológicos especiais, como na gestação e no envelhecimento, a constipação na fase adulta não é
considerada como normalidade, a não ser por algum distúrbio
secundário. Na gestação há um aumento do hormônio progesterona, que leva ao relaxamento da musculatura do útero
provocando uma pressão sobre os intestinos, o que irá diminuir os estímulos contráteis do intestino e, consequentemente,
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THAMIRES M. BRITO MACEDO, GRACILENE SCHMOURLO, KÁTIA D. A. LOURENÇO VIANA
também aumentar a absorção de água gerando constipação
na gestante. No envelhecimento, a musculatura do intestino
torna-se mais flácida, ocasionando diminuição dos movimentos
peristálticos.
Apesar de não ser normal a constipação em adultos, nota-se
um aumento gradual e constante dessa patologia. Em suas
diretrizes, a American Gastroenterological Association define
constipação como frequência de eliminação de fezes menor
que três vezes por semana, sensação de esvaziamento retal
incompleto, fezes endurecidas, esforço para eliminar fezes e
necessidade de toque para esvaziamento retal. Estes critérios,
conhecidos como critérios de Roma, são pouco práticos e, por
consequência, pouco aplicáveis a pacientes graves (AZEVEDO,
2009).
A ausência de fibra na alimentação é apontada como uma das
principais causas da constipação intestinal. A FA, por ajudar a
estimular movimentos peristálticos, tem se tornado uma aliada
na prevenção da constipação. Além da ausência de fibra alimentar no organismo, outras razões para a constipação podem
ser: falta de exercício físico, uso progressivo de laxantes, pouca
ingestão hídrica, além de doenças sistêmicas e gastrintestinais
(MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
4. ATUAÇÃO
DAS FIBRAS COMO MECANISMO PREVENTIVO DE
DISTÚRBIOS METABÓLICOS E DOENÇAS DO TRATO GASTROINTESTINAL
Mediante todos os efeitos da FA no organismo, seu papel como
alimento funcional preventivo de várias doenças tem despertado interesse científico na comprovação de sua atuação (OLIVEIRA;
MARCHINI, 2008).
No que tange ao diabetes mellitus, a fibra atua de forma positiva ao diminuir os níveis glicêmicos, além de a ingestão de
fibras também prevenir o aparecimento do diabetes. A terapia
nutricional no diabetes mellitus é parte fundamental do cuidado terapêutico (CUPPARI, 2005). O diabetes mellitus é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina e/
ou da incapacidade da insulina de exercer adequadamente seus
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NATUREZA, SAÚDE E SUSTENTABILIDADE
efeitos no organismo. Na composição do plano alimentar para
diabetes mellitus, procura-se dar preferência aos carboidratos
complexos e ricos em fibras.
Uma evolução positiva na prevalência da obesidade vem sendo
observada em homens e mulheres (SARTORELLI; FRANCO, 2003). A
obesidade também pode ser vista como um sinal de falta de
fibras na dieta. Estudos têm apontado que a grande ingestão
de fibra, aliada à atividade física, diminui o risco de obesidade. Isso se dá devido ao estímulo à perda de peso, aliado a
uma alimentação equilibrada, além do fato de que alimentos
que têm FA geralmente proporcionam baixo índice glicêmico devido à concentração de carboidratos não disponíveis, o
que proporciona baixa resposta glicêmica pós-prandial. Não se
pode esquecer também de que certas fibras têm a capacidade
de diminuir a absorção de colesterol (LDL - colesterol) e triglicérides, diminuindo os níveis de gordura no sangue (OLIVEIRA;
MARCHINI, 2008).
As doenças cardiovasculares originam-se, principalmente, devido à grande ingestão de gorduras e estão intimamente ligadas
à obesidade. Dessa forma, os mecanismos das fibras que agem
nas doenças cardiovasculares também estão associados aos mecanismos que agem na obesidade.
FIBRA ALIMENTAR COMO MECANISMO PREVENTIVO DE DOENÇAS CRÔNICAS...
A fibra alimentar age beneficamente no diabetes mellitus porque os alimentos com elevado teor de fibras têm geralmente a
absorção mais lenta, devido ao retardamento do esvaziamento
gástrico (efeito fisiológico da fibra), evitando assim picos glicêmicos. O menor contato da glicose com a mucosa do intestino
também é fator desencadeante para isso, devido à competição
na hora da absorção dos nutrientes (OLIVEIRA; MARCHINi, 2008).
No caso do câncer, existem várias hipóteses que substanciam o
aparecimento de câncer e o consumo precário de fibra, como
a produção de AGCC e a acidificação do ceco, resultado da fermentação, podem diminuir o risco de câncer coloretal. A fermentação também age pela produção de ácidos voláteis que
diminuem o pH, além do ácido butírico produzido poder inibir
o crescimento e a proliferação de células cancerígenas (OLIVEIRA;
MARCHINI, 2008).
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A FIBRA ALIMENTAR
PARTICIPA
EFETIVAMENTE
DA PREVENÇÃO
DE DOENÇAS
CRÔNICAS E
DISTÚRBIOS
THAMIRES M. BRITO MACEDO, GRACILENE SCHMOURLO, KÁTIA D. A. LOURENÇO VIANA
METABÓLICOS
A alta exposição da mucosa às fezes pode também aumentar a exposição a fatores cancerígenos. A ingestão
adequada de fibras pode prevenir esse problema por aumentar o volume fecal e reduzir o tempo de trânsito intestinal (OLIVEIRA; MARCHINI, 2008). Acredita-se que as fibras
diminuam o risco de câncer porque as fibras insolúveis
movem o alimento mais rápido pelo trato gastrointestinal
e este decréscimo no tempo de trânsito do alimento diminui a quantidade de tempo em que carcinógenos estão
em contato com a mucosa gastrointestinal (PECKENPAUGH;
POLEMAN, 2007).
Nos demais casos de doenças do TGI, como o megacólon e a
diverticulose, a falta de fibra em geral é que ocasiona a enfermidade. A diverticulose, por exemplo, é uma doença de maior
prevalência em países onde a dieta com baixo teor em fibra faz
parte do padrão alimentar. Quando as fibras alimentares estão
ausentes na alimentação, como acontece nas dietas à base de
carboidratos refinados e proteínas, a pressão dentro do intestino aumenta e facilita a herniação. Isso também é crescente
onde a “ocidentalização” da dieta e ingestão aumentada de
alimentos refinados é frequente (SALINAS, 2002; CARUSO et al.,
2005). Em geral, a doença diverticular é: primeiro, relativamente rara em países onde a dieta de alto teor de fibra é parte do
padrão de vida; e segundo, crescente onde a “ocidentalização”
da dieta e ingestão aumentada de alimentos refinados da dieta
começaram (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
São inegáveis os benefícios que a FA, associada à dieta, desempenha na saúde humana. A qualidade de vida tem sofrido mudanças importantes durante muitos anos, fruto do fato de que
grande parte da população tem se mobilizado na busca por
alcançá-la.
Percebe-se que o espectro de ação da FA não se limita somente
às funções fisiológicas e estruturais, mas atua de forma conjunta no organismo como um todo, participando efetivamente na
prevenção de doenças crônicas e distúrbios metabólicos.
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NATUREZA, SAÚDE E SUSTENTABILIDADE
Apesar de as fibras alimentares ainda serem objeto de constantes pesquisas, a ingestão adequada e suficiente mostra resultados positivos, que já são mais que comprobatórios para uma
vida alimentar saudável. Portanto, faz-se imprescindível usar
dos benefícios promovidos pela FA no trato gastrointestinal e
tentar inseri-la no manejo terapêutico do nutricionista.
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