XVIII ENCONTRO NACIONAL DOS GRUPOS PET – ENAPET – RECIFE – PE 1º A 6º DE OUTUBRO 2013 – UFPE/UFRPE Avaliação microbiológica de alicates de cutícula e intervenção educativa para manicures. VEIGA Sandra Maria Oliveira Morais1, SIQUEIRA Nadielle Gonçalves2, GERMANO Jaqueline de Lima2, MAJEWSKI Anna², DIONIZIO, Jaqueline Angélica2; ALBUQUERQUE, Ana Carolina Campos2; GOMES, Ana Helena2; ALCÂNTARA, Bianca Gonçalves Vasconcelos de2; MARCHIONI Camila2; ALVARENGA, Dalila Junqueira2; RIBEIRO, Fernanda Reis2; GONÇALVES, Gustavo Bruno2; OLIVEIRA, Jéssica Cristina2; GONCALVES, Jéssica Fernanda2; NERY, Joyce Oliveira2, SOUZA, Larissa Rocha Arruda de2. Introdução Atualmente, constata-se uma grande procura por salões de beleza e esses estabelecimentos têm-se multiplicado no meio urbano. Entretanto, os profissionais e técnicos da área ainda têm carência de informação sobre higiene e boas práticas, especialmente no que tange os processos de desinfecção e esterilização (BORGES & SANTOS, 2007). Segundo levantamento da Associação Nacional do Comércio de Artigos de Higiene Pessoal e Beleza (Anabel), o número de novos salões de beleza abertos no país registrou crescimento de 78% em cinco anos, tendo passado de 309 mil em 2005, para 550 mil em 2010 (FONSECA et al., 2013). Muitas são as doenças que podem ser transmitidas por meio de instrumentos utilizados no salão de beleza, as mais frequentes são as onicomicoses, onicólise, onicodistrofia, dentre outras (ABELAN; ZANGARO; KOZUSNY-ANDREANI, 2013). Outra preocupação são as doenças relacionadas aos acidentes com material perfurocortante, destacando os vírus das Hepatites B e C e o HIV, pois eles são transmitidos pelo sangue. Assim, o uso compartilhado de alicates, tesouras, palitos, lixas e espátulas de unhas contaminadas pode contribuir para a disseminação destas doenças (VARELLA, 2012). Segundo dados da OMS, cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo já se infectaram com o vírus da Hepatite B e 3% da população mundial se encontram infectadas pelo HCV; somente no Brasil, as estimativas do Ministério da Saúde apontam para um contingente de 4,5 milhões de brasileiros infectados (HCVIDA, 2012). Nos estabelecimentos de beleza, os profissionais devem seguir as normas de boas práticas, garantindo a segurança e qualidade nos serviços, evitando riscos à saúde (CARVALHO et al, 20011). Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi realizar a avaliação microbiológica de alicates de cutícula e a intervenção educativa para manicures por meio de minicursos de capacitação. Material e métodos Para análise microbiológica dos alicates, foram convidadas 30 profissionais manicures do município de Alfenas, MG, que foram esclarecidas sobre a importância da pesquisa e àquelas que concordaram em participar assinaram o Termo de Livre Consentimento. Assim, inicialmente, elas responderam a um questionário sobre seus hábitos no trabalho, instrumentos utilizados e formas de esterilização/desinfecção/limpeza dos mesmos. Na sequência iniciou-se a análise dos alicates pelos pesquisadores no próprio local de trabalho das profissionais. Primeiramente, foi solicitado à manicure que disponibilizasse um alicate já utilizado e não esterilizado. O material aderido nos alicates foi removido por meio de Swab e a partir deste, fez-se uma suspensão microbiana em 9mL de solução salina estéril. Após esse procedimento, solicitou às manicures que realizassem a higienização desse mesmo alicate de forma rotineira para que o mesmo fosse novamente amostrado e analisado. Para estimular a adesão das manicures ao estudo, propôs-se a troca do alicate usado e higienizado por um novo de marca reconhecida. Os Alicates higienizados foram coletados em sacos plásticos estéreis e conduzidos até ao Laboratório de Microbiologia da Universidade Federal de Alfenas, onde se desenvolveram os ensaios microbiológicos. 1 2 Tutora do PET-Farmácia da Universidade Federal de Alfenas Graduando do curso de Farmácia da Universidade Federal de Alfenas , Membro do grupo PET-Farmácia/UNIFAL. XVIII ENCONTRO NACIONAL DOS GRUPOS PET – ENAPET 2013 – UFPE/UFRPE: RECIFE - PE, 1º A 6º DE OUTUBRO. No referido laboratório, por meio de swab, coletou-se o material desse alicate como anteriormente descrito e a partir das suspensões microbianas (alicate usado e alicate higienizado) realizaram-se diluições seriadas decimais para a quantificação dos seguintes microrganismos: aeróbios mesófilos, fungos filamentosos e leveduras e Staphyylococcus sp., utilizando respectivamente, os seguintes meios de cultura: Agar para Contagem Padrão em Placa, Agar Sabourand e Agar Manitol. Após cultivo em condições adequadas de tempo e temperatura, efetivaram-se as provas morfotintoriais e bioquímicas para as colônias sugestivas dos microrganismos pesquisados (ANDRADE, 2008). No momento da coleta, as manicures foram convidadas a participar de um minicurso sobre “Hepatites virais e técnicas de limpeza, desinfecção e esterilização aplicadas aos salões de beleza”. Resultados e Discussão Por meio dos questionários aplicados pode-se observar que todas as manicures entrevistadas utilizam de material próprio e/ou da cliente, variando de acordo com o público atendido e a disponibilidade da cliente em levar seu próprio material. Cada manicure deve ter no mínimo, 6 (seis) jogos de alicates e espátulas de metal em seu salão. Porém, aproximadamente 53,3% dispõem kits completos ou não para cada cliente. Além disso, 50% delas não disponibilizam palitos, lixas e toalhas descartáveis e 100% destas profissionais utilizam esmaltes disponíveis no salão para todas as clientes. Quanto ao uso de luvas, 80% delas afirmaram não utilizar, entretanto apenas uma manicure relatou o fato de ter contraído onicomicose no trabalho. A utilização de luvas pela profissional é essencial para a sua proteção das clientes, lembrando que é necessária a higienização das mãos e a troca de luvas a cada atendimento. De forma semelhante, em trabalho realizado na cidade de Itaúna-MG, com 127 manicures, 87,4% delas afirmaram não utilizar luvas descartáveis no atendimento às clientes (MORAES ET AL., 2012). A esterilização é um processo que realizado de forma correta, elimina bactérias, fungos e vírus. Entre as 30 manicures avaliadas nesta pesquisa, 15 (50%) utilizavam o forninho (não tem controle de temperatura) como forma de esterilização, 12 (40%) a estufa (tem controle de temperatura), 01 (3,33%) a Autoclave e 02 (6,66%) não souberam informar. Entretanto, nenhuma delas empregavam tempo e o/ou temperatura corretamente (170ºC por 1hr ou 160º C por 2h), conforme preconizado em Brasil (1994) e Brasil (2011). Em uma pesquisa com manicures e/ou pedicuros nos salões de beleza da cidade de São Paulo, constatou-se que a adesão às normas de biossegurança foi relativamente baixa e inadequada. Verificou-se, ainda, que o método de esterilização mais utilizado nos salões localizados em bairros de periferia é a estufa (72%) e nos shopping Center, o uso de autoclave (36%) é o majoritário (OLIVEIRA; FOCACCIA, 2008). Para a desinfecção ou esterilização apresentaram efeitos satisfatórios, o material deve ser descontaminado previamente e limpo (álcool, água e sabão). No estudo apresentado, somente 02 (6,66%) das manicures procediam a descontaminação prévia de forma correta. De acordo com a Tabela 1, verifica-se que nas lâminas dos alicates recém-utilizados foram detectadas elevadas contagens de aeróbios mesófilos, fungos filamentosos e leveduras, Staphylococcus sp e Staphylococcus aureus (todas na ordem de 104 UFC/alicate). Na tabela 2 estão apresentados os resultados dos alicates após higienização e pode-se constatar que o número de Aeróbios mesófilos, fungos filamentosos e leveduras e Staphylococcus sp diminui; entretanto, o número de Staphylococcus aureus aumenta. Este fato pode estar associado às medidas de esterilização ineficientes que eliminam parte dos competidores, mas não este microrganismo, que é muito resistente. Em 100% dos alicates avaliados, o processamento de esterilização foi insuficiente para a redução dos micro-organismos presentes, sendo que em nenhum dos casos inativação da microbiota foi igual a 100% (Tabela 3). Conclui-se que a maioria das manicures não tem equipamentos adequados e não sabem conduzir as técnicas de descontaminação, desinfecção ou esterilização corretamente. Em consequência disso, suas XVIII ENCONTRO NACIONAL DOS GRUPOS PET – ENAPET 2013 – UFPE/UFRPE: RECIFE - PE, 1º A 6º DE OUTUBRO. clientes podem estar correndo sérios riscos de adquirir infecções ao fazer unhas. Ainda, foi ofertado pelo Grupo PET farmácia, um minicurso para as manicures que participaram do estudo. Mas, apenas 26,7% (n=8) delas compareceram. Assim, se tornou necessária uma intervenção individualizada, no próprio local de trabalho, reforçando a importância da esterilização dos instrumentos, em temperatura e tempo adequados, além da biossegurança necessária para a própria profissional. Observou-se que as próprias manicures possuem dificuldade em identificar os equipamentos adequados para a esterilização ideal dos instrumentos, sendo este um dos principais assuntos abordados no curso coletivo e nas intervenções individuais. Estes resultados estão sendo divulgados para as manicures, com as devidas orientações. Também serão divulgados para a comunidade científica e para o público em geral. Referências ABELAN, U. S. ; ZANGARO, R.A ; KOZUSNY-ANDREANI, D. I. Avaliação da atividade antimicrobiana da água ozonizada em Alicates utilizados por manicures. Encontro de Pós-Graduação e Iniciação Científica. Universidade Camilo Castelo Branco, 2013. ANDRADE, N. J. Higiene na indústria de alimentos; avaliação e controle da adesão e formação de biofilmes bacterianos. São Paulo: Varela, 2008. 412p. BORGES, C. M.; SANTOS, G. C. Avaliação da efetividade de Métodos de desinfecção e esterilização em alicates de manicuro. Monografia Curso de Cosmetologia e Estética. Universidade do Vale do Itajaí. Balneário Camboriu, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde . Secretaria de Assistência à Saúde, Departamento de Assistência e Promoção à Saúde, Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar. Processamento de Artigos e Superfícies em Estabelecimentos de Saúde. 2.ed. Brasília: Ministério da Saúde, 1994. BRASIL. Ministério da Saúde. Folheto publicitário: Hepatite B e C são doenças silenciosas – veja como deixar as hepatites longes do seu salão de beleza [internet] [vinculada em Jul./Ago. 2011; acesso em 19 Set 2011]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=137&pagina=dspDetalheCampanha&co_seq_ campanha=4365 CARVALHO, K. B.; SANTOS, I. B.; TAMADA, A.; MONTES, E. G.; BORGES, C. L. Percepção de manicures e pedicures frente à hepatite b em salões de beleza no município de ponta grossa. Resumo Expandido. 9° CONEX . Universidade Estadual de Ponta Grossa, 01, 02 e 03 de Junho de 2011. HCVIDA- Grupo de apoio aos portadores de Hepatite C – SP. Disponível em <http://www.hcvida.com.br>. Acesso em 10 de maio de 2012. MORAES, J. T.; BARBOSA, F. I.; COSTA, T. R. S.; FERREIRA, A. F. Hepatite B: conhecimento dos riscos e adoção de medidas de biossegurança por manicures/pedicures de Itaúna-MG. Revista de Enfermagem do Centro Oeste Mineiro. 2012 set/dez; 2(3):347-357. OLIVEIRA, A.C.D.S.; FOCACCIA, R. Prevalência das hepatites B e C em profissionais manicures e pedicures do município de São Paulo. BEPA, Boletim epidemiológico paulista(Online), v.6, n.61, jan. 2009. VARELLA, Dráuzio. Tratamento da Hepatite C. Disponível em: <www.drauziovarella.com.br>. Acesso em: 14 de maio de 2012. XVIII ENCONTRO NACIONAL DOS GRUPOS PET – ENAPET 2013 – UFPE/UFRPE: RECIFE - PE, 1º A 6º DE OUTUBRO. Tabela 1. Número e percentual de alicates contaminados após o uso e média de UFC do Micro-organismo indicador quantificado. Micro-organismo Aeróbios mesófilos F. Filam e leveduras Staphylococcus sp S. aureus n. de alicates positivos 26 23 21 14 percentual 87 77 70 47 UFC/alicate 60897 27013 32357 19125 • UFC: Unidade Formadora de Colônia Tabela 2. Número e percentual de alicates contaminados após medidas de higienização empregadas pelas manicures e média de UFC do Micro-organismo indicador quantificado. Micro-organismo Aeróbios mesófilos F. Filam e leveduras Staphylococcus sp S. aureus n. de alicates positivos 12 10 12 10 percentual 40 33,3 40 33 UFC/alicate 1243 1534 25324 27513 • UFC: Unidade Formadora de Colônia Tabela 3. Número de micro-organismos em UFC/alicate detectado antes e após medidas de higienização e análise. Micro-organismo Aeróbios mesófilos F. Filam e leveduras Staphylococcus sp S. aureus antes 60897 27013 32357 19125 • UFC: Unidade Formadora de Colônia após 1243 1534 25324 27513 Análise Redução de 97,96% Redução de 94,32% Redução de 78,26% *Aumento de 43,85%