XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS COM GÊNEROS DISCURSIVOS: UM OLHAR SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO Josenaldo Oliveira Lucas Júnior1, Juliene da Silva Barros-Gomes2, Juliene Silva de Barros3, Simone de Souza Silva4, Valdelino Lourenço da Silva5 Introdução Neste trabalho há uma sucinta abordagem envolvendo a relação existente entre sequências didáticas compostas por gêneros discursivos. Para tanto, foram tomados como arcabouço teórico os conceitos e perspectivas já discutidos nos estudos de Bakhtin (2003), Schneuwly e Dolz (2004) e Silva (2009). Ademais, observar-se-ão aspectos pertinentes ao tema em questão, tratados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), como, por exemplo, a recomendação da utilização de sequências didáticas com gêneros discursivos em sala de aula com auxílio dos livros didáticos. E, por fim, será desenvolvida, ainda, uma análise sobre como essa metodologia se dá na prática, em um livro didático de língua portuguesa do ensino fundamental. Material e métodos O livro adotado para a análise (Projeto Pitanguá – Português, 3ª série, 2007, organizado pela Editora Moderna, 240 páginas) é composto por nove unidades, que tratam de temas específicos – embora com gêneros diversos – estando cada unidade estruturada em nove seções (Leitura; Estudo da língua; Produção de texto; Oficina de criação; Para ler mais; Estudo da língua [2]; Texto...; E por falar em...; e, por fim, Projeto em equipe). Ao final do livro, a organizadora disponibiliza ainda, uma seção com sugestões de leitura sobre as temáticas abordadas no livro. Tomando como base para este trabalho a teoria desenvolvida por Schneuwly e Dolz (2004), tem-se que sequência didática é “uma sequência de módulos de ensino, organizados conjuntamente para melhorar uma determinada prática de linguagem” (2004, p. 51). Assim, ao se organizar um livro didático dispondo-o em tais sequências, permite-se uma classificação dos gêneros discursivos, em grupos, pelo tema, pela natureza e pelo tipo, por exemplo, proporcionando-se aos alunos o melhoramento de suas práticas da linguagem, pois, (...) o enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais –, mas também, e sobretudo, por sua construção composicional. (...) Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso. (BAKHTIN, 2003, p. 279) A este respeito, nos PCNs (3º e 4º ciclos do ensino fundamental) salienta-se também que, os textos organizam-se sempre dentro de certas restrições de natureza temática, composicional e estilística, que os caracterizam como pertencentes a este ou aquele gênero. Desse modo, a noção de gênero, constitutiva do texto, precisa ser tomada como objeto de ensino. (BRASIL, 1998, p. 23) Dessa forma, a inclusão dos gêneros discursivos nos livros didáticos por meio de sequências didáticas é, de fato, uma via de mão dupla, pois, ao passo em que organiza melhor o livro, também proporciona aos alunos uma melhor estruturação do conhecimento adquirido no decorrer do seu processo de ensino/aprendizagem. Estreitando mais a noção de gêneros, interessa-nos aqui a ideia dos gêneros discursivos, tendo em vista a sua utilização cotidiana e a incorporação desses gêneros nos livros didáticos do ensino fundamental. Para Bakhtin (2003, p. 1 Josenaldo Oliveira Lucas Júnior é aluno da Graduação em Letras, Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, S/N, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55292-270. E-mail: [email protected] 2 Juliene da Silva Barros-Gomes é Doutora pela Unicamp e Professora Adjunta da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns. Av. Bom Pastor, S/N, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55292-270. 3 Juliene Silva de Barros é aluna da Graduação em Letras, Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, S/N, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55292-270. 4 Simone de Souza Silva é aluna da Graduação em Letras, Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, S/N, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55292-270. 5 Valdelino Lourenço da Silva é aluno da Graduação em Letras, Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, S/N, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55292-270. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. 279), os gêneros discursivos são “tipos relativamente estáveis de enunciados”, extremamente essenciais na comunicação entre os membros de determinado grupo social, seja na modalidade oral ou escrita da língua. Por fim, com o propósito de proporcionar o aperfeiçoamento do processo de ensino/aprendizagem, o uso de sequências didáticas com gêneros discursivos já vem sendo indicado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), desde 1998, como nos mostra Silva (2008). Entretanto, caberia, na atualidade, uma exploração mais aprofundada acerca da utilização dessas sequências, pois há indícios de que este tipo de metodologia ainda não é totalmente incorporado na prática, na sala de aula. Embora os livros didáticos tragam sequências didáticas, como será visto mais adiante, ainda lhes parece faltar uma exploração mais efetiva no ambiente escolar. É neste sentido que, para Silva (2008, p. 3), “essa não inclusão dos gêneros ao ensino de língua materna se deve, principalmente, pelo desconhecimento por parte dos professores de sua concepção teórica e transposição didática”. Resultados e Discussão Após a apresentação do livro didático e a explanação da base teórica utilizada na análise, partamos para a discussão e exploração dos resultados obtidos nas sequências analisadas. Num contexto sócio-interacional, na Unidade 8 (Figura 1) – seção Produção de texto – encontra-se uma sequência didática com o gênero discursivo carta, na qual a organizadora propõe aos alunos o estudo, a elaboração, a exposição e a análise do gênero para favorecer a construção e aquisição do conhecimento, por parte dos alunos. Embora a carta tenha cedido espaço à utilização dos ambientes virtuais para a comunicação, ela ainda é um gênero utilizado no dia-a-dia das pessoas. Nesta sequência, o assunto foi abordado por meio da apresentação de um texto do gênero carta, seguido de propostas de discussões e instruções para a elaboração e o estudo mais aprofundado do gênero discursivo em questão. Observe-se que o gênero abordado em toda a sequência destacada é o mesmo, consequentemente, conclui-se que a intenção da organizadora, nesta seção, foi estruturá-la em um único gênero discursivo, todavia, com temáticas distintas. Na Unidade 5 (Figura 2), ao tratar da temática Convivência por meio de uma sequência didática complementar na seção E por falar em Convivência, a organizadora traz à tona a questão dos ambientes da web em que se proporciona a interação sócio-comunicativa através de conversas virtuais, nos chatters e bate-papos – gêneros discursivos que, na atualidade, são utilizados cotidianamente por grande parte da população mundial. Como se percebe no fragmento da referida seção, a organizadora optou por elaborar uma sequência didática com os gêneros discursivos classificados por tema, natureza e espaço de circulação. Assim, para tratar da inovação dos meios de comunicação com a evolução tecnológica, foram selecionados gêneros discursivos distintos: o fragmento de uma espécie de artigo de opinião e um texto informativo topicalizado, respectivamente, com o mesmo eixo temático. Na seção Texto expositivo, da Unidade 9 (Figura 3), como se pode verificar no fragmento, a editora põe em relevância a questão da interferência humana na natureza, fazendo uso de um gênero secundário do discurso – o texto expositivo – classificado como discurso científico, de acordo com Bakhtin (2003, p.281), além de utilizar, para tanto, a linguagem não-verbal, que dá mais autenticidade ao discurso quando se junta à linguagem verbal. Em suma, a utilização das sequências didáticas com gêneros discursivos, em sala de aula, organizadas sob os diversos aspectos destacados, favorece a adequação dos gêneros, por parte dos alunos, à ocasião discursiva, tendo em vista a inevitável utilização diária desses gêneros. Assim, ao final da análise, pode-se perceber que, pelo menos no material didático analisado, isso se dá de maneira bastante aproveitável. No entanto, cabe ao professor explorar as sequências com vistas ao aperfeiçoamento do processo de ensino/aprendizagem dos alunos. Dessa forma, compreendese que, além das sequências didáticas, leva-se em conta “a formação do professor, sua concepção de língua e, em decorrência dessas, as teorias subjacentes ao seu trabalho docente e a organização do trabalho didático” (SILVA, 2009, p. 2), para que o trabalho com os gêneros discursivos por intermédio dessas sequências seja, de fato, satisfatório. Referências BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal, tradução de: Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BRASIL. SEF. MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa – 3º e 4º ciclos do ensino fundamental. 1998. PROJETO PITANGUÁ. Português. Componente curricular: Língua Portuguesa. 3ª série. Editora Moderna, 2007. SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução e organização Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004. SILVA, Luciana Pereira. Incorporação dos gêneros textuais e das sequências didáticas ao cotidiano escolar. Caxias do Sul, RS: V SIGET, agosto de 2009. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Figura 1. Produção de Texto Figura 2. Convivência Figura 3. Texto Expositivo