André Silva Franco Eletroquímica A eletroquímica é a parte da química que estuda, na maior parte, a transferência de elétrons em reações e suas aplicações. Encontramos a eletroquímica em nosso corpo, por exemplo, reações que ocorrem no cérebro, no ciclo de Krebs e de Calvin; no funcionamento de um carro; na síntese de uma jóia; entre outros diversos casos. Semi-reações: Para facilitar o estudo das reações, as dividimos em semi-reações de oxidação e redução. É importante ressaltar que todas as semi-reações e reações devem ter um balanceamento de massa e carga. Oxidação: Oxidar é perder elétrons, havendo então, um aumento algébrico do NOX. 2 oxidação Por exemplo: Mg Mg 2e 0 2 Neste caso, o metal magnésio vai a cátion magnésio perdendo dois elétrons. Redução: Reduzir é ganhar elétrons, havendo então uma diminuição algébrica do NOX. redução Por exemplo: I 2 2e 2 I 0 1 Neste caso, o iodo vai a iodeto ganhando dois elétrons. Equação Global: Quando somamos as duas semi-reações, obtemos uma equação de uma reação completa. Nela, não pode haver elétrons. Então, quando procedemos a soma, devemos balancear os elétrons de formar a cancelá-los. As espécies que oxidam e reduzem formam um par redox, que é representado por Ox/Red. No exemplo específico, temos: par redox Mg 2 / Mg e I 2 / I E a equação global é representada por: equação global : Mg I 2 MgI 2 Definições: O reagente que sofre oxidação é chamado de redutor, pois promove a redução. De forma análoga, o reagente que sofre redução é chamado de oxidante, pois promove a oxidação. Métodos de Balanceamento de Equações redox: Balanceamento por elétrons: Para tal, precisamos de uma equação global, e a partir da variação do NOX, balanceamos a equação: P4 H N O3 H 2O H3 PO4 N O 0 5 5 2 Oxidação Redução Para o cálculo do , multiplicamos a variação do NOX pela maior atomicidade. Daí, podemos simplificar os números ao máximo. O número obtido na oxidação é utilizado como coeficiente daquele que usamos a atomicidade para o cálculo na redução; de maneira análoga, o número obtido no cálculo da redução é utilizado como coeficiente daquele que usamos a atomicidade para o cálculo da oxidação. Ou seja: 3P4 20HNO3 H 2O 12H3 PO4 20 NO Observe que tanto como o monóxido de nitrogênio, como o ácido nítrico, possuem atomicidade um para o elemento nitrogênio, e, portanto usamos o número nos dois. Já no caso do fósforo branco, ele possui a maior atomicidade, e recebe o número, e assim, o ácido fosfórico tem que ter 4.3=12 como coeficiente. Eletroquímica – feito por ASF Página 1 André Silva Franco O restante, no caso, a água, balanceamos por tentativa e erro. Vale lembrar que a carga sempre se conserva. 3P4 20HNO3 8H 2O 12H3 PO4 20 NO Método Íon-Elétron: Método um pouco mais complexo, utilizado para reações que ocorrem num meio aquoso, ou com íons. Para tal, devemos saber os principais reagentes e produtos. Para tal, seguimos alguns passos: 1. Identifique as espécies que sofrem oxidação e as que sofrem redução a partir das mudanças dos NOX. 2. Escreva as duas equações simplificadas das semi-reações. 3. Balanceie todos os elementos das semi-reações, salvo O e H. 4. Em caso de solução ácida, utilize água para balancear O, e depois, H+ para balancear os H; Em caso de solução básica, utilize água para balancear O, e depois, OH- e água para os H. 5. Balanceie as cargas elétricas adicionando elétrons do lado esquerdo nas reduções e do lado direito nas oxidações. 6. Balanceie os elétrons para obter a equação global ao somar as duas semi-reações. 7. Por fim, simplifique a equação global, cancelando as espécies que aparecem tanto nos reagentes como nos produtos. Exemplo: permanganato virando cátion manganês (II) e ácido oxálico virando gás carbônico. MnO4 Mn 2 H 2C2O4 CO2 MnO4 Mn 2 4 H 2O H 2C2O4 2CO2 MnO4 Mn 2 4 H 2O H 2C2O4 2CO2 2 H MnO4 8H Mn 2 4 H 2O oxidação H 2C2O4 2CO2 2 H 2e redução MnO4 8H 5e Mn 2 4 H 2O Temos então, as semi-reações balanceadas: redução MnO4 8H 5e Mn 2 4 H 2O (x2) oxidação H 2C2O4 2CO2 2 H 2e (x5) equação global : 2 MnO4 16 H 5 H 2C2O 2 Mn 2 8 H 2O 10CO2 10 H equação global : 2 MnO4 6 H 5 H 2C2O 2Mn 2 8 H 2O 10CO2 Nesta reação, o permanganato é oxidante, e o ácido oxálico é redutor. Casos especiais: Em caso de reações em que um mesmo composto sofre redução e oxidação (auto-redox ou desproporcionamento), é preferível usar o primeiro método e utilizar as atomicidades dos elementos nos produtos; Quando não há oxidação ou redução completa do composto, utilize o primeiro método usando a atomicidade dos elementos nos produtos. Termodinâmica na Eletroquímica: Reações espontâneas apresentam G 0 , e reações não-espontâneas apresentam G 0 . Pode-se demonstrar que G nFE , onde E é o potencial elétrico (ou tensão, ou ddp, ou força eletromotriz-fem), n é o coeficiente dos elétrons balanceados e F é a constante de Faraday ( F e.N A ): 1,602.10 19 C 6,022.10 23elétrons F . 9,6485.10 4 C mol e 1 elétron 1 mol elétrons Eletroquímica – feito por ASF Página 2 André Silva Franco G nFE e G nFE Ainda, podemos relacionar a constante de equilíbrio das reações com o potencial: G RT ln K nFE RT ln K ln K nFE RT Equação de Nernst: Como sabemos, G G RT ln Q nFE nFE RT ln Q E E RT ln Q nF Esta equação é fundamental para um estudo de reações que não estão em condições padrões (25 °C e soluções 1 mol/L). Na forma de logaritmo decimal e nas condições ambientes, temos: E E 0, 0592 log Q n A partir das três equações em destaque, que são de extrema importância, podemos prosseguir nos estudos das pilhas e da eletrólise. Vale destacar que para saber se uma reação é espontânea, podemos analisar sua energia livre de Gibbs, ou seu potencial, ou a constante de equilíbrio. Pilhas-Reação Espontânea G 0, E 0, K 1 : Pilhas são reações que envolvem transferência de elétrons para gerar corrente, e assim, equipamentos elétricos podem funcionar. Pilhas são frequentemente chamadas de células galvânicas e células. Vale ressaltar que nossa célula apresenta um potencial elétrico, e funciona como uma pilha. Uma bateria seria um conjunto de pilhas ligadas em série. Uma pilha é formada, de maneira simplificada, por dois eletrodos. Devemos ter uma solução eletrolítica e algo que mantenha o balanço de carga, como uma ponte salina. Um exemplo clássico é a Pilha da Daniell: oxidação Ânodo() : Zn Zn 2 2e E 0, 76 V redução Cátodo() : Cu 2 2e Cu E 0,34 V equação global : Zn Cu 2 Zn 2 Cu E 1,10 V Redutor: Zn Oxidante: Cu2+ No eletrodo que ocorre a oxidação temos, sempre, o ânodo. E naquele em que ocorre a redução temos, sempre, o cátodo. Observe também que a tensão da reação global é a soma dos potenciais de cada semi-reação. Quando invertemos uma equação, o sinal do potencial é também muda. E quando multiplicamos uma reação por um número, o potencial não se altera. Sofrerá redução aquele que possuir o maior potencial padrão. Por exemplo, Caso fosse feita uma pilha utilizando Cl2/Cl- e Ag+/Ag, sendo que o primeiro par possui potencial padrão igual a +1,36V e o segundo +0,80, o primeiro formaria a semi-reação de redução, e o segundo deveria ser invertido, formando a semi reação de oxidação. A tensão pode ser facilmente calculada como: E Ecátodo Eânodo Eletroquímica – feito por ASF Página 3 André Silva Franco Daí, concluímos que quanto maior for o potencial padrão, maior será a força oxidante do composto. De forma análoga, quanto menor for o potencial padrão, maior será a força redutora do composto. Eletrólise-Reação Não-Espontânea G 0, E 0, K 1 : Eletrólise pode ser considerada a reação inversa à da pilha, e, portanto, não são espontâneas. Só ocorrem sob fornecimento de tensão, ou seja, consumem energia para ocorrer. A fem necessária deve ser no mínimo igual à oposta daquela calculada nas pilhas, ou seja, E Eânodo . Ecátodo Também necessitam de um meio condutor de eletricidade, sendo então possíveis dois tipos: Eletrólise ígnea: onde ocorre a fundição do composto iônico, havendo íons com mobilidade, sendo possível a passagem de corrente elétrica. Eletrólise aquosa: onde os íons estão livres por estarem dissolvidos em água, e assim, há condução de corrente elétrica. Assim, é necessário memorizar uma série de preferência de oxidação e redução, já que a água pode sofrer redução e/ou oxidação no caso da eletrólise aquosa. Na eletrólise ígnea isto não ocorre. O cátion e o ânion sofrerão, respectivamente, redução e oxidação. Tendência a sofrer redução Tendência a sofrer oxidação Cátion qualquer Ânion qualquer H+ OH- H2O H2O Cátions da família 1A, 2A, e Al3+ Ânion oxigenado, F- Exemplo 1: Eletrólise ígnea de cloreto de sódio. oxidação Ânodo : 2Cl Cl2 2e redução Cátodo : Na e Na x 2 Equação Global : 2 Na 2Cl Na Cl2 Exemplo 2: Eletrólise aquosa de solução de cloreto de sódio concentrada. oxidação Ânodo : 2Cl Cl2 2e redução Cátodo : 2 H 2O 2e H 2 +2OH Equação Global : 2 H 2O 2Cl H 2 Cl2 2OH Exemplo 3: Eletrolise aquosa de solução concentrada de sulfato de magnésio. oxidação Ânodo : 2 H 2O O2 4 H 4e redução Cátodo : 4 H 2O 4e 2 H 2 +4OH Equação Global : 6 H 2O 2 H 2 O2 4 H 4OH ou seja 2H 2O 2 H 2 O2 4 H 2O Eletroquímica – feito por ASF Página 4 André Silva Franco Exemplo 4: Calcule o tempo necessário para produzir 10L de hidrogênio, nas CNTP, sob corrente de 10 A no exemplo 2. 10 L H 2 . 1 mol H 2 2 mol e- 96500 C 1 s . . . 22, 4 L H 2 1 mol H 2 1 mol e- 10 C Lei de Faraday da Eletrólise: m 2h24 min Mit nF Onde m é a massa de composto produzido ou corroído, M é a massa molar, i a corrente, t o tempo, n o coeficiente dos elétrons na reação balanceada, e F a constante de Faraday, em geral aproximada para 96500C/mol. Tal fórmula é desnecessária, já que é possível resolver os problemas por simples análise estequiométrica. Pilha de concentração: Tendo em ambos os eletrodos soluções iguais, utilizando eletrodos inertes, ou, pelo menos, iguais, º o potencial padrão da célula é 0: E Ecátodo Eânodo 0 . Porém, se as concentrações forem diferentes, pela equação de Nernst, teremos um potencial dado por: RT RT E E ln Q ln Q . Dessa forma, temos tensão por diferença de concentração das nF nF soluções: uma pilha de concentração. Um exemplo parecido com este é o de uma pilha sólida. Cristais de óxidos são fundidos. Por apresentarem vacâncias, é possível a movimentação iônica. Usa-se então diferença de pressão dos gases em cada eletrodo para que ocorra a diferença de potencial, tendo assim uma pilha. Curiosidades: Camada Passivadora: camada que se forma sobre um metal por reagir com o oxigênio do ar. Tal camada impede que o metal reaja, não havendo o funcionamento da pilha. Metal de sacrifício – Proteção catódica: ao se utilizar um metal com potencial de redução inferior a outro, o primeiro sofrerá oxidação, sendo corroído no lugar do último. Eletrodos inertes: são eletrodos feitos, em geral, de platina ou grafite. São pouco reativos, e não participam das reações. São mais utilizados na eletrólise, mas numa pilha, podem compor o cátodo. Para cálculo do potencial de reações do tipo: M x e M ( x 1) E1 , G1 M ( x 1) e M ( x 2) E2 , G2 M x 2e M ( x 2) E , G Procedemos da seguinte forma: G G1 G2 nF E n1FE1 n2 FE2 E n1E1 n2 E2 n Em eletrolises de soluções aquosas super-diluídas, o soluto serve somente para fornecer íons livres, havendo a eletrólise da água. Eletroquímica – feito por ASF Página 5 André Silva Franco Resumo: Para balanceamento de reações redox, utilize o método de balanceamento por elétron ou o método íon-elétron. Pilhas são reações espontâneas e, portanto, suas tensões são positivas. Eletrólises são reações não-espontâneas e, portanto, suas tensões são negativas. No cátodo, sempre ocorre a redução, e no ânodo, sempre ocorre a oxidação. Numa pilha, a polaridade do cátodo é positiva, e do ânodo negativa. Numa eletrolise, a polaridade segue a polaridade do gerador: cátodo é negativa, e ânodo é positiva. Equação de Nernst é utilizada para reações que não mais estão nas condições padrões: E E RT 0,0592 ln Q E log Q Nas condições ambientes nF n É possível, a partir da Equação de Nernst, em muitas reações, calcular o pH por rearranjo dela. A constante de equilíbrio está relacionada com a tensão por: ln K nFE RT Quanto maior o potencial padrão, maior é a tendência de reduzir. De forma análoga, quanto menor, maior será a tendência de oxidar. “A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento” Platão Eletroquímica – feito por ASF Página 6