Comissão Permanente de Economia e Turismo Visita ao Cais do Sodré e Bairro Alto Relatório Cais do Sodré A Comissão Permanente de Economia e Turismo, reuniu por duas vezes na sede da Junta de Freguesia da Misericórdia por volta das 21:30, a primeira no dia 5-de Junho de 2014 e a segunda no dia 9 julho de 2014. Em 5 -6-14 com a Associação de Comerciantes do Cais do Sodré e Comissão de Moradores do Cais do Sodré e em 9-7-14 com a Associação de Comerciantes do Bairro Alto, a fim de analisar a situação naquelas zonas de Lisboa e poder promover iniciativas com vista a resolver ou a minimizar, os problemas e conflitos de interesse que desde há muito se verificam entre comerciantes e moradores, bem como melhorar a própria utilização pelos frequentadores daquelas zonas da cidade e assim potenciar o seu interesse turístico e económico Na primeira reunião, o Presidente da Associação de Comerciantes do Cais do Sodré pronunciou-se longamente sobre o Cais do Sodré, a sua evolução histórica, social e humana. "O Cais do Sodré mítico dos tempos de marinheiros e cabarés, dos conflitos e das rixas ligadas ao fenómeno da prostituição é uma imagem bastante ultrapassada. Aquela típica zona de Lisboa não deixando de ter uma conotação boémia evoluiu, e desde há cerca de uma década tem sido palco de manifestações de natureza cultural, de novos movimentos artísticos e com uma população de frequentadores de nível social, etário e especialmente cultural, muito diferente daquele que eram nos anos 60 e 70. Os novos espaços que foram abrindo, a transformação de outros que se foram adaptando aos novos movimentos, vieram tornar o Cais de Sodré num local de frequência obrigatória para lisboetas e turistas, amantes da noite de Lisboa. O fecho da Rua Nova de Carvalho, popularizada como “rua Rosa”, pela nova coloração do seu piso, fez aumentar em grande número os seus frequentadores, por transformar em espaço comercial o anterior espaço publico. 1 A "movida" de Lisboa tem os seus pontos mais altos e populares no Bairro Alto e Cais do Sodré, havendo como que um movimento que se inicia no Bairro Alto e termina já depois do dia nascer no Cais do Sodré . É inegável o êxito comercial e o reflexo no movimento turístico dos novos estabelecimentos comerciais, mas este êxito convive ainda com muitos problemas, derivados das dificuldades ao desenvolvimento da própria atividade, nomeadamente relacionadas com a limpeza e a segurança, mas também pela intrusão de comerciantes sem escrúpulos, que abrem estabelecimentos, sem o mínimo de condições. Este comércio oportunista, no fundo apenas visa utilizar um diminuto espaço comercial, antes uma mercearia ou papelaria para venda de bebidas alcoólicas para a rua, prejudicando a imagem do Bairro e a própria atividade dos comerciantes mais interessados em defenderem o seu bom nome e o seu futuro". Os responsáveis pela Associação também reconhecem que subsistem alguns prejuízos causados aos moradores por toda a atividade noturna e até matinal que se desenvolve no Cais do Sodré. Tudo isto foi amplo e entusiasticamente relatado pelos representantes dos comerciantes. Outra visão têm os representantes dos moradores que relataram à Comissão uma vivência de total perturbação, pelo barulho que se faz sentir noite e madrugada, bem com a sensação de insegurança e falta de limpeza , com vasilhame espalhado em enormes quantidade, cheiro nauseabundo a urina e a outros dejetos, especialmente num espaço que antes era de usufruto publico e que passou a ser um espaço aberto ao consumo de bebidas alcoólicas, sendo frequentes os comportamentos social e higienicamente deploráveis. "Abrem todos os dias novos estabelecimentos de pequenas dimensões, mas com música voltada para a rua em alto volume, para satisfação dos seus clientes, pois é na rua que se consome o que estes estabelecimentos vendem. Verifica-se ainda falta de policiamento e fiscalização, pois tudo é permitido e nada acontece para verdadeiramente atenuar o massacre dia a dia, semana a semana durante todo o ano." Foi em seguida dada a palavra aos deputados municipais da 2ª Comissão Permanente de Economia e Turismo pelo Sr. Presidente da Comissão que antes agradeceu à Sra. Presidente da Freguesia da Misericórdia, Deputada Carla Madeira, por receber a comissão na Sede da Junta de Freguesia. Pronunciaram-se os deputados municipais Simonetta luz Afonso, Irene Lopes, Carla Madeira, Victor Pereira Gonçalves, Manuel Lage, Hugo Xambre, Rosa Carvalho da Silva e Ana Gaspar Marques. 2 Todos, naturalmente à exceção da própria , começaram por agradecer à Presidente da Junta Carla Madeira o acolhimento e de uma forma generalizada, considerando que a atividade desenvolvida no Cais do Sodré tem inegável importância, turística, cultural e económica, a mesma não deixa de acontecer num espaço habitacional com evidentes prejuízos para a qualidade de vida dos seus habitantes que têm obviamente direito ao descanso e à segurança . Reconheceram os deputados da 2ª Comissão que embora tenha havido intenção e algum esforço da CML em tentar conciliar os interesses em choque e garantir melhor e mais eficaz limpeza e segurança, o resultado está longe de ser satisfatório e a prova é o que tínhamos acabado de ouvir nesta reunião. Foram feitos apelos para que a Junta de Freguesia da Misericórdia continue o seu esforços de aproximação dos diferentes interesses através do diálogo e de uma permanente ação junto da Câmara e das autoridades policiais e de fiscalização das atividades económicas Igualmente resultou das várias intervenções a necessidade de adaptar a legislação municipal e de âmbito nacional à especificidade desta zona como de outras que sofrem do mesmo problema, concedendo aos municípios competências específicas excecionais para atuarem em áreas urbanas habitacionais, centrais e históricas, alvo de uma atratividade turística e de animação noturna muito elevada, na conciliação dos interesses econômicos e turísticos, com a qualidade de vida habitacional dos munícipes aí residentes. Depois do Sr. Presidente da 2ª Comissão ter dado por encerrada a reunião, os presentes foram convidados a visitar o Cais do Sodré na companhia dos responsáveis associativos. Na visita que resultou num agradável convívio entre todos os participantes, houve oportunidade de constatar "in loco" todos os argumentos que foram referidos na reunião quer pela Associação dos Comerciantes do Cais do Sodré, um local de grande animação e de convívio especialmente de jovens, mas também algumas das intervenções da Associação de Moradores, nomeadamente quanto ao barulho para a via pública, e a perspetiva de outros efeitos negativos com o correr da noite e madrugada, já que a visita terminou cerca das uma e trinta da madrugada. Bairro Alto Na segunda reunião em 9 de Julho, com os representantes da Associação de Comerciantes do Bairro Alto, os membros da comissão começaram por ouvir uma longa intervenção do Presidente da Associação de Comerciantes sobre o Bairro Alto a sua 3 história e evolução aos longo dos séculos e aquilo que hoje é o Bairro Alto e a sua importância na animação e economia da cidade, com especial ênfase nos problemas que os comerciantes enfrentam quanto à falta de higiene urbana, segurança, horários de abertura e fecho, dificuldades nas mudanças de uso nomeadamente nos 1ºs andares de habitação e ainda a concorrência desleal de alguns comerciantes oportunistas que prejudicam o comércio em geral e dão mau nome ao bairro. Acentuou ainda a abissal diferença em termos de frequentadores durante o dia e a noite, considerando o Bairro Alto uma zona quase deserta durante o dia, sem atividade comercial significativa . Também se referiu à existência de atividades comerciais de grande prestígio nacional e internacional no Bairro. Todos os membros da Comissão tiveram oportunidade de usar da palavra e depois de agradecerem mais uma vez o convite da Sra. Presidente da Junta da Misericórdia e a presença dos representantes da Associação abordaram o interesse desta zona de Lisboa para a economia e o turismo. Referiram a grande frequência noturna, e os muitos problemas que enfrentam as famílias residentes no seu dia a dia, com o barulho noturno exagerado até altas horas da madrugada, a falta de segurança, de limpeza, o cheiro nauseabundo a dejetos humanos todas as noites e manhãs. Um dos aspetos focados por todos os deputados foi a necessidade absoluta em melhorar as atitudes de muitos dos comerciantes e em especial dos serviços da CML, das autoridades policiais e de fiscalização de atividades económicas, sob pena de se perder o principal ativo do bairro, a sua população. Foi ainda referido, à semelhança da audição anterior, a necessidade da adaptação da legislação comercial às especiais caraterísticas destas zonas históricas habitacionais. A encerrar , o Sr. Presidente da 2ª Comissão agradeceu mais uma vez à Srª. Presidente da Junta e aos dirigentes associativos, informando que a Associação nos tinha convidado para uma visita guiada ao Bairro Alto. Já cerca das 24:00 os responsáveis pela Associação de Comerciantes do Bairro Alto proporcionaram aos membros da 2ª Comissão uma visita ao Bairro Alto nos típicos Tuc-Tucs. Neste agradável passeio noturno pelas estreitas ruas do Bairro, tiveram os membros da Comissão a oportunidade de ver a grande frequência do bairro, mesmo num dia de semana, a total ocupação da rua como local de convívio, o consumo na rua de bebidas 4 alcoólicas, e a frequência predominante de jovens turistas, pelo menos aquela hora da noite sem qualquer problema de excesso de consumo ou da ordem pública. Seguiu-se a visita a algumas atividades comerciais de referência, como uma Galeria de Arte, um moderno estabelecimento de peças de design em cortiça , uma loja de antiguidades de referência e de nível Internacional e finalmente uma antiga casa de fados totalmente remodelada, a Adega Machado, transformada num moderno e magnífico restaurante sem perder as genuínas caraterísticas fadistas, com o especial e magnífico complemento de uma sessão de fados de Lisboa interpretados e acompanhados por artistas de grande mérito que todos os membros da Comissão aplaudiram vivamente. CONCLUSÃO Foram muito úteis estas visitas e audições, pena foi não termos tido, na audição de 9 de Julho, a opinião da Associação de Moradores do Bairro Alto, que apesar de convidados pela Sra. Presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, não puderam comparecer, pois dariam à Comissão a oportunidade de uma opinião direta do outro lado da realidade, tantas vezes referida, para o bem e para o mal, e com a qual a Assembleia Municipal de Lisboa tem que se preocupar. Torna-se pois necessário apresentar soluções e recomendações que sejam realistas e possam de facto contribuir para a melhoria das condições de vida da populações e da atividade económica destes bairros históricos de Lisboa. Se a atração turística representa para Lisboa um dos seus maiores recursos económicos, e estes bairros têm nessa atração um especial significado, não podem os responsáveis políticos ao nível municipal e nacional deixar de os considerar também de forma muito especial. A CML deve pois, ter em consideração a sua real responsabilidade com estas zonas da cidade alvo de uma grande atratividade pela juventude e com uma permanente utilização do espaço publico durante praticamente todas as noites do ano. Por outro lado estes bairros, localizados nas zonas mais típicas e históricas de Lisboa, devem ter uma atividade comercial e cultural durante todo o dia e não quase exclusivamente à noite e predominantemente ligadas ao consumo de bebidas alcoólicas. Com algum exagero, no Bairro Alto e Cais do Sodré acontece um Festival de Verão todas as noites. PROPOSTA AO PLENÁRIO DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL A Comissão de Economia e Turismo propõe à Exma. Sra. Presidente da Assembleia Municipal que leve a Plenário da Assembleia Municipal as seguintes recomendações à Câmara Municipal de Lisboa: 5 1-A Câmara Municipal de Lisboa com o apoio institucional da Assembleia Municipal de Lisboa, deve diligenciar junto de todos os grupos políticos representados na Assembleia da República e também junto do Ministério da Economia, para que sejam tomadas medidas excecionais, para a atividade comercial nos Centros Históricos Habitacionais, que permitam aos municípios atuar em termos de licenciamento e horários de abertura e fecho de acordo com os interesses específicos de cada município e de cada zona histórica. 2-A Câmara Municipal de Lisboa deve considerar formas excecionais de atuação na área da higiene e segurança, constituindo brigadas de cantoneiros de limpeza em número e permanência suficiente para que o espaço publico apresente as condições de dignidade que uma cidade capital exige, bem como dotar toda a área com vigilância policial para a segurança das pessoas e dos comerciantes; 3-A Câmara Municipal de Lisboa deverá garantir o controle dos horários por parte do comércio e exigir o rigoroso cumprimento das atividades desenvolvidas de acordo com as licenças de cada um; 4-A Câmara Municipal de Lisboa deve, por ações de fiscalização continuadas, evitar, que os estabelecimentos com aparelhagem sonora, emitam som para fora do espaço comercial, obrigando-se a impedir, através de isolamento acústico apropriado, que a música que emitem seja audível na rua ou ruas adjacentes. 5-O licenciamento de novos ou alteração dos usos existentes deve obedecer a um rigoroso controle municipal, no cumprimento da lei e dos regulamentos municipais. 6- A Câmara Municipal de Lisboa deve, nomeadamente no Bairro Alto, estimular o estabelecimento de comércio de qualidade através de ações de marketing, valorizando a sua extraordinária localização e tradições culturais e da garantia de melhores condições de higiene e segurança. 7- A Câmara Municipal de Lisboa deve providenciar no sentido de virem a ser instalados sanitários especiais para os utilizadores noturnos, quer, criando-os em edifícios estrategicamente situados e adaptados para esse efeito, quer procedendo à semelhança do utilizado em festivais, colocando sanitários amovíveis em locais e número correspondentes às necessidades, sempre acautelando os interesses dos habitantes; 8- A Câmara Municipal de Lisboa deve, após parecer da Junta de Freguesia da Misericórdia, considerar, em situações especiais, a hipótese de condicionar o trânsito e o estacionamento entre as 22h e as 06h algumas das ruas ou trechos de rua de forma dar-lhes o uso que realmente têm, espaço público de utilização noturna. 6 9- A Junta de Freguesia da Misericórdia, deve continuar a ser um espaço de diálogo entre comerciantes, moradores, autoridades de segurança e fiscalização económica, de forma a atenuar conflitos de interesses e a garantir uma permanente monitorização de todas as medidas implementadas e propor a sua atualização. Lisboa 16-07-14 O Relator. Victor Pereira Gonçalves. O Presidente da 2ª Comissão Carlos Silva Santos 7