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Se as formas de inlcra\ao entre os homens mudam de acordo com as necessidades de cada sociedadc, C 0,1' as formas de interac;:ao entre as pessoas sao influenciadas pelo desenvolvilllcllio tecnol6gico, 0 primeiro conceito que merece ser revisto e 0 conccilo Illletramento. 0 termo letramento esta aqui sendo empregado em sentido ,1I11plo, abrangendo as variedades terminol6gicas como letramento cientfjlco, 1/01'0 letramento: .letramento visual, letramento mididtico etc. A noc;:ao de I~lralllcllio como hablhdade de ler e escrever nao abrange todos os diferentes tipos dc n' presentac;:ao_ do conhecimento existentes em nossa sociedade. Na alualidadl', ul~la pessoa letr~d.a deve ser uma pessoa capaz de atribuir sentidos a 1l11'lIsagl'II" ol'lundas de.multIplas fontes de linguagem, bem como ser capaz dc produ/il Illcilsagens, I11corporando multiplas fontes de linguagem . , I . fl~lagelll e palavra man tern uma relac;:ao cada vel, maio, pr(lxilll,l, 1"1l1.1VI'/ 111,110, Illtegrada. Com 0 advento de novas tecnologias, com Illuila t:lcilid,llk ,',(' Il'i,1111l10vas illlagens, novos layouts, bem como sc divlligalll lilis nia\lll's p,II,1 1111101 ilillpl:,alldicilcia. 'flldos os rccllrsos ulilizados lIa l'Ol1sll'll\'aO do,,, I'/IH' roo, ll'xlllalS CXl'l'CCIlluma 1'1111\':10 rl'l(Jrica lIil l'(ll1sll'll\'aO dl' sl'lIlidno, do,,, 11'\ 1,.'0,.(:ada Vl'Z Illais Sl' ohscrva a COllihilla\'ilO Ik Illilll'l'iill ViSII,II10111011',"llil.l; ~IV"IIIOS,0,1'111 dllVidil, 111111101 ,,,olil'dillk \.111.1Vl'1 111.11,', Vi,,,",II, Hl'l'n',"l'III.I\.I0 1IlllIW'IlS 11.111 Silo 1111'l'illlH'111l' /()nllilo, tic ('XIII1',,,,0,,10 pM.I divlllp,il\il0 tI(. ill/Ol 11111\1\('0,,011 lI'IIII'S,'III,I\(II',S 11111111011'" 111110,0,,111, ", ill", tIl' Illdll, Inln', ("SI'I'1I,d IIIt'll II' '"I1~I' IIhlll" tI"l' n'vI,l,1I1I "ll 11m",,,, 1('11'\01'" 111111" III II kdl,dl' " 111111" I' tI"I' I' ~11l ,,·dllt Iv H'l'h"wllt ~ o letramento visual esta direlaml'n!L' n'lacionado COllia orgal1i/"a\.lo Silli al das comunidades e, consequentemente, com a organiziH;ao dos g('llt'l'll', textuais. Basta lembrarmos, por exemplo, as pinturas das eavernas, olllie m homens registravam a hist6ria de sua comunidade. Certament~, os 1nl'1~J1~l'm d aque 1e grupo po d·lam "ler" os desenhos aIi registrados " No Eglto e l1aChlll,\, as pictogravuras eram utilizadas para transmitir informa<;:6~sde forma d,lI"l' ta. Estas culturas apresentavam urn dos mais sistematicos mews de comllllll'~ ao visual. As grandes catedrais da Europa Medieval simbolizavam verdadel ~os livros didaticos sobre a teologia crista, como ainda se obsen:a atualn1l',llll' no interior de algumas igrejas. Neste contexto, 0 letramento Visual conslstl' numa forma de acesso a religiao. . A revisita<;:aodo conceito de letramento esta atrelada ao desenvolvlml'lllo de tais pesquisas e a expansao da midia eletronica (cf. ~ankshear e Knobel, 2003; Kress, 2003; Barton, Hamilton e Ivanic, 2000; Levme e Scollo~, 200·1). Consequentemente, os conceitos de escrita e de leitura tambem precIs am SI'1 revisitados, bem como as praticas pedag6gicas que lhes san decorrentes ~d, Hawisher e Selfe, 1999; Pailliotet e Mosenthal, 2000; Fleckenstein, Calendnll,o e Worley, 2002; Jewitt e Kress, 2003; Bazerman, 2004). Er.nbora ja ~aja pesqlll sas bastante significativas no campo dos generos textualS no BraSil (Brandal I 2000, Marcuschi, 2000), Dionisio, Machado e Bezerra (2002), Me~rer e ~olta Roth (2002), Dionisio e Bezerra (2003) entre outros), a multlmodahdadl' discursiva da escrita ainda e uma area carente de investiga<;:6es.. , Na sociedade contempof<lnea, a pratica de letramento da escnta, ~o, slg no verbal, deve ser incorporada a pr<itica de letramento da imagem, do SI.glll) visual. Necessitamos, entao, falar em letramentos, no plural mesmo, pOlS, iI multimodalidade e urn tra<;:oconstitutivo do discurso oral e escrito. Faz-sl' necessaria ressaltar, tambem, a diversidade de arranjos nao-padr6e,s que :1 escrita vem apresentando na midia em fun<;:ao do desenvolvlmen 10 tecnol6gico. Em consequencia, os nossos habituais ~odos d~ ler urn tex,l,o estao sendo re-elaborados constantemente. Nao se sahenta aqm a supre~aCl,\ da imagem ou da palavra na organiza<;:aodo texto, mas sim a harmoma (Oil nao) visual estabelecida entre ambos. Este capitulo esta organizado em tres momentos, assim di~ididos: 1. Multimodalidade: traro constitutivo do texto falado e escnto. 2. Informatividade visual nos generos textuais escritos: variaroes nil/II continuo. . 3. Gcneros multimodais e multiletramento: algumas reflexoes metodo16g1CIIs, Multlmodolldode: tro90 conlUtutivo do texto folodo e escrlto (h pl\'SSlIpo.slosqlle I'('spaldalll a fillha al'gllllll'1I1alivadl'sia dislllSS,lo s,ltl: as al;Ol',Ssociais SilOfCllomellos muftimodais; (ii) gcncros texluais orais c cscritos sao multil1lodais; (i) (iii)o grau de informatividade processa num continuo; e visual dos generos tcxluais da ('snil" ~,(' (iv) ha novas formas de intera<;:aoentre 0 leitor e 0 texto, rl'slIllall!l's d,1 estreita rela<;:aoentre 0 discurso e as inovay6es tecnologiG1S. Se as ay6es sociais san fenomenos multimodais, consequentemellll', o,sg(i I~cros textuais falados e escritos san tambem multimodais porqul', ljualHlo !alamos ou escrevemos urn texto, estamos usando no minimo dois Illodos dl' representayao: palavras e gestos, palavras e entona<;:6es, palavras e illlagl'lls, palavras e tipograficas, palavras e sorrisos, palavras e anima<;:6es etc. Quando nos usamos linguagem, estamos realizando a<;:6esindividllai.s (' sociais que san manifesta<;:6es socio-culturais, materializadas em gCIll'ros ll'X luais. Seguindo Bazerman (1997, 2004), estamos definindo generos wnw Ii pos de enunciados que estao associados a urn tipo de situa<;:aoret6rica (' qlll' "estao associados com os tipos de atividades que as pessoas dizcm, 1;11'('111 I' pcnsam como partes dos enunciados. (...) Desta forma, em algum mOlllellltl, em uma interayao, em urn enunciado, muitas coisas san de1imitadas em pall tcs tipicamente reconhedveis" (1997, p. 14). I Generos "nao sao apenas formas': mas ''frames de ay6es sociais'~ WI110 Bazerman (1997, p. 19) menciona; por isso 0 escritor pode jogar COllI111l1,1 variedade de formas em diferentes situa<;:oessociais e com diferentes objl'l ivo'" As formas visuais destas ayoes sociais, resultantes das infinitas possibilidadl'" de orquestra<;:ao entre imagem e palavra, surpreendem 0 leitor, agradalldtl II ou nao. Observemos uma narrativa conversacional produzida numa COlllllllid" de rural paraibana, extraida de Dionisio (1998, p. 20-23): NC 01: Versao A (versao Com apagamento pesquisadora -transcri tora) de algumas inforllla\Ol's d,1 129:M02 (...) ai a mule veii de Campina dana: Denise 130. [ ] 13l.M02 ai cade subi a ladera ... arente fico olhano ela butava carro ... 0 carro '" II 132. descia logo novinha na hora tinha feito ... e butava nada '" ai: saIl(' quantas \.n. Ilega e Ilego cheg() la? ((risos)) uns tinta e dlllll ... '111111111111 bq},A pra IYl. impurra 0 carro poi levan) 0 carro quaji na mao f1ill eI di d,1 Illllk ... US. (( )) 136. ((todos riem bastante)) ai a felicidade que ela conhecia eu ... MUlto ... Certamente, os que estao lendo este artigo e nao conhecem essa narrativa, ll'rao lacunas no processamento textual da narrativa, visto que apenas a transcric,:ao dos recursos verbais nao se faz suficiente para a construc,:ao de urn sentido mais global do fato narrado. 0 apagamento das informac,:oes da pesquisadora-transcritora recai exatamente na transcric,:ao de urn gesto. Desta forma, 0 humor que parece haver, uma vez que todos os interlocutores riem l11uito nao pode ser percebido. A incompletude semantic a decorre, portanto, da ausencia de informac,:oes oriundas de urn outro modo de representac,:ao do conhecimento, ou seja, do modo pictorial. Aspectos verbais e pictoriais se complementam de tal forma que a ausencia de urn dell's, mesmo sendo 0 de menor incidencia, afeta a unidade global do texto. Vejamos agora a mesma narrativa com a informac,:ao captada do gesto, ou seja, a linguagem verbal a servic,:oda retextualizac,:ao da linguagem visual: NC 01: Versao B 129.M02 (...) ai a mule veii de Campina dana: Denise 130. [ ] 131.M02 ai cade subi a ladera ... arente fico olhano ela butava 0 carro ...'0 carro ... 132. descia logo novinha na hora tinha feito ... e butava nada ... ai: sabe quantas 133. nega e nego chego1<i? ((risos)) uns tinta e cinco ... quando chego pra 134. impumi 0 carro poi levaro 0 carro quaji na mao pia 0 oi da mule .., 135. ((M02 junta os dedos indicadores e os do is polegares formando urn drculo)) 136. ((todos riem bastante)) ai a felicidade que ela conhecia eu ... MUlto ... Nesta narrativa, as emoc,:oes da personagem (Dona Denise) foram representadas pela narradora, concomitantemente, pOl' uma expressao lingUistic;, "pia 0 oi da mule" e pOI' urn elemento cinesico - 0 gesto ((M02 junta os (Icelels indicadores e os dois polegares formando um circulo)) - car;1l'1crizando 0 espa II to da personagel11, face i\ ac,:aodos l11oradores dc eIITI'!',;lrII St'll carro L,deir:1 acima pr;ll icaIllt'llIt' nas 11l;IOS. POI MACAU I)A ()S IIWIII',III' I OlllllllicH,:aode massa eSl'l'i· LEWIS CI\NIUJII [os e a lilt'I'.I[lIra san do is espac,:os sociais de grande prodlllividade para a experimentac,:ao Dissc 0 ~a Co de arranjos visuais. Importante mencionar que ao conceber os generos textuais como pro rato: Fa~amos um multimodais, nao estou atrelando os aspectrato. Pl'tos visuais meramente a fotografias, telas de pinnlllfl' 0 turas, desenhos, caricaturas, pOl' exemplo, mas trihunal tambem a propria disposic,:ao grafica do texto no ('u fl' ("'papel ou na tela de computador. Como exemplos Ilundada literatura, basta pensarmos nos poemas conrd. ()II(' cretos. Vejamos, a titulo de ilustrac,:ao, urn texto a .iusfi~·a de Lewis Carroll, traduzido pOl' Augusto de se t~I~·a. Campos (1986, p.130-13l). Tipografia e disVem, ddxa posic,:ao grafica sao semioticamente signifide oega.;a, cativos para 0 enquadre semantico~ e preciso, cognitivo do titulo do texto Poema-Cauda. aftoal, Cauda do gato? Cauda do rato? Ou dos que cumdois? Nao importa! Fundamental e percepramos a lei. bel' que a imagem de uma cauda de aniDisse 0 mal, gato ou rata, ou ambos, abriga 0 dirato pro alogo entre 0 gato e 0 rato. gato: Podemos afirmar que maior liberdade na manipulac,:ao dos generos textuais esta atrelada a uma relac,:aodireta com a audiencia e com 0 meio fisico que transmite 0 genera. "Generos moldam os pensamentos que nos formamos e as comunicac,:oespelas quais interagimos. Generas sao espac,:osfamiliares nos quais nos criamos ac,:oescomunicativas inteligiveis uns com os outros e sao guias que usamos para explorar 0 nao familiar", destaca Bazerman (1997, p. 14). -Urn julgarnen(o tal, S('III j II iz 1ll'lII jllnulo, seria 11111 dispartl' - 0 jlliz co jurado sc- rei CU, dissc () ~a(o~ l" 1'11- lu, 1'('11 11111tl, 4'11 rUIl·· clt'lUI Informatlvldade visual nos g~neros textual. IIcrllol. v8rl8foes num continuo l'arlindo da premissa de que todos os generos lexluais e~critos e f~lados SIlol1lullimodais, teremos que salientar que ha diferentes nivelS de malllfesla~ \',10 dn orgnniza~ao multimodal, que se estendem do nivel de repr.esenta~{io IIwis padronizado de acordo com as instancias a que 0 text.o se ~estma~ como por exemplo uma palestra em rela~ao a outros generos oralS da l~tera~~o face a face. Os gestos, as express6es faciais, os movimento~ corporals, o. bpo d.e sorriso, que 0 evento comunicativo congresso academlCo me permlte realI~ . " de uma banca de defesa de douzar, cerlnmente, encontram-se malS proxlmos . IOrlldo, pOI'exemplo, do que de um bate papo, com um grupo de .amlgos para os quais eu esteja relatando a viagem a Uniao da Vit6ria. Alem dISSO,pode-~e tidal' na existencia de um continuo informativo visual dos generos te~tuals escrilos que vai do menos visualmente informativo ao mais visualmente tnfor como veremos a seguir. Nas palavras de Wysocki (2004, p. 123-126), "todos os textos com. bas.e IIl1ma tela do computador e numa pagina sao visuais e seus elementos VIS:laIS l' arranjos podem ser analisados". Para a referida autora, a apresentac;:ao Vl:1I III de uma pagina ou de uma tela de computador da ao leitor ~m s.e~t~d~) illll'diato do genero textual ali assentado. Observemos duas pagmas mICl<lIS /lllI/ivo, de dois textos: Allalisllllllll () prillll'iro excmplo, Intera~'(10 em Artigos Cientijicos e de Di(:it'lllllle'll, 0 Idtor familiarizado com textos academicos identificara, ccrlamcnk, 0 g~nero textual em foco, um artigo cientifico, pois, a disposi~ao grMlca do titulo, seguido do nome da autora e da institui~ao de ensino superior a que pertence; 0 destaque visual dado ao resumo, 0 asterisco ap6s 0 nome da autora, remetendo para uma nota de rodape e a organiza~ao em par<igrafos regulares representam aspectos da materializa~ao de urn artigo llcademico atual. 0 layout auxilia na identifica~ao do genero, e dependendo da familiaridade do leitor com 0 suporte textual, 0 leitor podeni tambem rcconhece-Io. Neste caso, trata-se de um artigo publicado na revista Ao Pe da Letra, volume 4, numero 1, em julho de 2002. No texto Ciencia nas Prateleiras, nenhum de n6s, leitor desse artigo, diria que se trata de um artigo cientifico, academico, pois, a profusao de cores e imagens que constitui a pagina em analise foge ao padrao do "aceitavel" para simbolizar a seriedade academica. Entao, menor ocorrencia de l'Icmentos visuais e arranjos implica maior credibilidade cientifica? Certa vez, um aluno de doutorado, ao fazer uma apresenta~ao em sala de aula, lIsou papel de cor verde para 0 handout. Quase todos os colegas de sala comentaram 0 fato, ao receberem 0 handout, com observa~6es do tipo: 1)l/lgIII'I/O Ili/tou papel na hora de imprimir?; verde e a sua esperant;a em fazer um bom deIllonstram que aIterar 0 suporte em que se convencionou a circula~ao dos g6neros pode causal' rea~6es diversas nos leitores, antes mesmo que estes illlerajam com 0 genero em si. VoItando ao texto Ciencia nas Prateleiras, 0 leitor disp6e de um maior 1111ll1erO de elementos e arranjos visuais para ser lido que em Interat;iio em IIrligos Cientificos e de Divulgac;iio Cientifica, pois, a pagina toda representa U1llacena numa loja (a funcionaria, menina atras do balcao, a cliente, menina ~'Ollluma cesta com alguns produtos; 0 gesto da cliente ao seguraI' uma caixa dl' lTClI1edental, mostrando-a a funcionaria da loja, sinalizando um ato de Ullllprll; 0 sin,~1CAlXA, perto da funcionaria, algumas cedulas no balcao, l'Sll!l1lccom produtos). Esta cena de uma loja apresenta algumas imagens, IIlglllls reclirsos pictoriais, nao familiares a um cenario comercial, tais como: IIl'illll! dll cahc<;a da cliente, ha um balao-fala com imita~6es de elementos lillilllicos l' algulI1as bolhas flutuando no ar. Esta nao e uma loja onde se lOllll'rcializal1l prodlllos, mas sim uma loja onde se comercializam conheci111C'l1los, r·: 1I1ll11lojll cimtUlca! f.: 0 Armazclll do Cicnlista! A clienlc niio cst,i prrp,lIl1tlllldo 0 11I'l\'Odo lTt'I11l'dl'III11I,Ill11Spedilldo illl()l'Ill11\'()CS sohrc COIllO U (/'('1111'd('I1I111 ilp,l'('Ill 110SS11S hOCllS.() tilllill H( :il1l/cill IIIIS PI'lIll'Il';ms 1111111 sC/IIinario?; comprou em liquidac;iio? Nossa, que chique! Tais comentarios H (; tradU<rao metaforica do pr6prio armazl'l11, Oll Sejil da iIlWHl'll1.Trala Sl' dl' urn artigo cientffico tambem, mas escrito para ser pllhlicado Illlilla revisla de divulgac;:ao cientffica destinada ao publico infantil: Cicncia Ilojc dos eriol/Cos, abril de 2003. l Neste momento, retorno a ideia de Bazerman de que generos sao espa<;os familiares que usamos para aprender 0 nao-familiar. Como ja afirmamos, a variedade de recursos tecnologicos a servic;:o da comunicac;:ao humana, na sociedade atual, permite nao so a criac;:aode uma infinidade de manipula<;:iio grafica em computadores, mas tambem a rapida propaga<;:ao da informa<;:ao, e conseqtientemente de novas formas de apresentac;:ao da escrita. Passarei a focalizar agora uma das criac;:6esgraficas em alto crescimento no jomalismo impresso, telejomalismo e webjomalismo, que esta alterando a forma de apresentac;:aoda escrita na nossa sociedade. Trata-se do infografico, isto e, de uma "cria<;:aografica que utiliza recursos visuais (desenho, fotografias, tabelas etc.), conjugados a textos curtos, para apresentar informaC;:6esjomalfsticas de forma sucinta e atraente" (RABAC;::Ae BARBOSA, 2001, p. 388). Para Harris e Lester (2002, p. 205), infografico, ou grafico informativo, e uma das mais sofisticadas formas de explicar complexas historias ou procedimentos, porque combina palavras com imagens, quando palavras apenas poderia ser cansativo para os leitores e a imagem apenas seria insuficiente. Com 0 intuito de observar os movimentos oculares de leitores no processamento de generos com diferentes graus de informatividade visual, Dionisio (2004b) realizou uma pesquisa com 10 leitores (3 crian<;:as,entre 7 e 10 anos; 2 adolescentes, 18 anos e 5 adultos, entre 21 e 55 anos, dentre eles 3 professores de l~ngua portuguesa). Foram utilizados generos textuais publicados nas sec;:6esPerguntas do Leitor e Noticias das revistas de divulgac;:aocientffica Superlnteressante, Galileu e Ciencia Hoje das Crian~as. A selec;:aodestas revistas se justifica por serem uma boa fonte de pesquisa para professores de varias disciplinas extrafrem textos para suas aulas no ensino fundamental e medio, como complemento ou substitui<;:ao aos textos dos livros did<iticos, como ja fazem algumas colec;:6esdidaticas, e por serem jn lllna {imle de lcitllra entre crian<;:ase jovens, fora do ambiente escolar. A escolha das SI\(h'S [>CI:l?,I/I/tas do Leitor e Noticias decorre do fato destas rqm.'sl'IlIIl/'l'1l1,r("~I'I'(livilllll'llll', cllriosidadelinleresse do leilor I' inliJrJlla(;(ks /'l'n'IIII'Ndo 1I1111ldo (il'llIi(im/ aUldl'mil'O. Vdill110S11111 dos Il'xlos IIlilil.l\doN1111 1''''Ujll hilII Durante as entrevistas sobre Como funciona 0 Pit Stop de form 1110 I?, pl'!' cebemos que a utilizac;:ao do infografico para descrever as a<;:6esrealizadil,~ durante urn Pit Stop agradou a todos: "Puxa vida. Me senti na prciprio I,i,,,", como integrante da equipe"; "Eu gosto pois chama a aten~ao da gente"; "f:' II/Ililo criativo pOl' as informa~oes numa pista de corrida";":"Meus olhos co 1'1'('/'111 1/ 1/11 pista do primeiro componente ao ultimo, criando rapidamente a imagelll dll l,i''''11 de corrida!': Ja a localizac;:aodo trecho Paradas Desastrosas, escrito el11linlwN diagonais, progressivamente inclinadas de cima para baixo, foi rejeitado: "h'/I achei um pouco desorganizado. As informa~oes em "Paradas Desaslrosos" (> dill cil de leI',porque nao esta na posi~ao vertical'; "Eu nao gostei do lugar tillS 'HI/wIll," Desastrosas: Parece que nao havia mais espa~o, entao ele (0 jornalislll) jogoll It/, Foi necessario eu quebrar 0 pesco~o para leI'. Isto nao estimula a leilllm ". A leitura de urn genero textual que contem infografico pode ser realil.l\dll de varias formas, como por exemplo: (a) Pode-se ler texto como urn to do, isto e, 0 texto verbal principal I 0 infografico. (b) Pode-se ler apenas 0 texto verbal principal e olha I' as imagl'ns. (c) Pode-se ler apenas 0 infografico, que possui seu pr6prio Iillilo l'sohrl'lllllio Scglll/llos Valiosos - Cada instante a mais no boxe pode dccidir /11/11/ mr"idll. /\ k'illlrade l1l11infognHico exige a Ieillira sil11l1lt{lllea de illlagl'lls I' pilill VI'lIS.No (il.~Ol'speciflco do exemplo de .'·;cglll/rlosVolio.~o.~.a lcillint Sl'llil dll plll'h' lllll'!'ior do canto esqllerdo dOlpi'tgina ('sqllerda, para II pilrll' SIII'I' 1'1111 ".1 !,11Killll dirl'ila, IlllIlHIprogl'l'ssilOvl'I'lkal I' ilSIl'lllll'IIll', Dc acordo com as !O el1lrevislas, 0 comporlal11l'lllo dos ill/ill'IlHlIllt'1I1111 leitura de generos com infograficos foi 0 seguil1le: 1. As crian<;:asselecionaram 0 fragmento do texto verbal a Sl'r lido de III or do com os textos visuais, quer sejam fotografias, quer sejal1l lalll'las, 2. Os adolescentes leram os textos visuais, depois a mandwle l" l'Il1segui da, leram 0 texto verbal principal. 3. Os adultos leram 0 titulo, depois 0 texto verbal e, so ap6s 0 ll'rlllillo da leitura, olharam mais atentamente para as imagens. 4. Os adolescentes e os adultos rejeitaram, em sua maioria, textos Illera mente verbais que estivessem escritos em forma diferente da posi<;,\odil escrita no Mundo Ocidental. 5. Os adult os nao se mostraram receptivos a textos com novos layouls, 6. As express6es que estabelecem rela<;ao entre 0 texto verbal principal l' as imagens, tais como Veja a tabela, Confira no quadro ao lado, foral1l ignoradas totalmente pelas crian<;as, foram seguidas fielmente pe!os adolescentes e foram aceitas pelos adultos, mas apos uma nipida kilu ra do texto visual sugerido, uns decidiram le-lo e outros nao. 7. Os entrevistados usaram diferentes verb os para descrever seus movimentos oculares: ao falarem de imagens, usaram os verbos OLHAR e VER e ao falarem sobre os textos verbais, usaram 0 vel' LER. Generos multimodais e multiletramento: algumas reflexoes metodol6gicas Cada vez mais e frequente a preocupa<;ao dos professores em inserir generos textuais diversos e recurs os tecnologicos da sociedade moderna nas atividades realizadas em sala de aula. Lemke (2000, p. 269) ressalta que multiletramentos e generos multimodais podem ser ensinados, mas e necess,irio que "professores e alunos estejam plenamente conscientes da existencia de tais aspectos: 0 que ell'Ssao, para que ell'Ssao usados, que recursos empregam, como ell'S podem ser integrados um ao outro, como ell'S sao tipicamente formatados, quais seus valores e limita<;6es:' Diante de tal cenario, uma questao se apresenta como fUlldamental: estar{] 0 professor consciente de que uma aula ministrada COIll0 mlxilio de slides, power poinl, video, au um simples gnifico l1a Ve!hilrolliweidil 1r;1I1Spa r(\ncia rl'quer do alullo uma alividade baslanle complt'xll, poiN ilk-III dt' Il1lll'dl'Ilill' d iVlTsas pdt icas de lei ra IIIell los, de ('OpiilI' l{~I1('rO/I('III1l'1 IIIIo,~ PI'OI('SSilllos pOI' Illodoli d(· 1'l'I'I'C'NC'nlil'ilo difel'l'l1ll's (viscJo (' III/di\,tlo, pOl' ('xI'mplo), 0 Ilill no esli] diilllll' (11'11111 IOlllpkxo sistema de alividades 110qual dever,] Sl' inl(' grar, buscillllio IOllslruir sentidos para 0 tcxto verbal oral (lit/II do I'm/I'sso/', I/lIrrar;iio do video), para 0 texto verbal escrito (textos na tfllllsp£ln1/Icill, /III It'll I do computador ou da tv), para 0 texto visual (esquemas, gnif/cos, jill'l/I/I/II,\ I/latemdticas, quimicas), bem como para 0 seu proprio texto ({I/IOIII\,OI'S 1'1" bais elou visuais)? Todo professor tem convic<;ao de que imagens ajudam a aprendil'"lgl'IlI, quer seja como recurso para prender a aten<;ao dos alunos, quer seja rolllO portador de informa<;ao complemental' ao texto verbal. Da ilustra<;ilOde his tarias infantis ao diagram a cientifico, os textos visuais, na era de aVilll,'O,~ tecnologicos como a que vivemos, nos cercam em todos os contextos sol'iilis, Os materiais didciticos utilizam cada vez mais esta diversidade de gelH'l'Os, assim como recorrem a textos publicados em revistas e jornais na mOlllilgell1 das unidades tematicas de ensino, nas mais diversas disciplinas no ensillo fUll dam ental e medio. Neste ponto nos deparamos com uma questao ll'l'lI'im metodologica: como estao relacionadas as informa<;oes veiculadas atravl's dll palavra e da imagem nos livros didciticos? Quais as orienta<;oes apreselltadils pOl' estes livros para a leitura destas duas formas de representa<;ao de collhl'li mentos? A pesquisa que no momenta estou desenvolvendo no Deparlilllll'lllo de Letras da UFPE procura responder a estas questoes. Registra-se aqui a necessidade de um intercambio da Teoria dos (;elH'ros com a Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimidia, a fim de que POSSilillm tel' subsidios para um uso mais consciente da multimodalidade textuill IIll contexto de ensino-aprendizagem. De acordo com a Teoria da Cogni,',l0 dil Aprendizagem Multimidia, "os alunos aprendem melhor atraves de palavl'i1s e imagens que de palavras apenas" (MAYER, 2001, p. 184), porque palavril,~I' imagens sao sistemas diferentes de representa<;ao do conhecimento, ljualilal i vamente diferentes. Porem, e fundamental que se ressalte 0 seguintl' ilslH'llo: nao se trata de apenas pOI'juntas palavras e imagens num texto, mas Silll qUI' se observem certos principios de organiza<;ao de textos multimodais. Hsdill'l' cemos aqui que os termos multimodal e multimidia estao sendo lIsados l'OilIO sinonimos para designar os modos de apresenta<;ao, ou seja, represenl,l~ilo verbal e pictorial da informa<;ao. A Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimidia (TeAM) pode sn inserida llil l'IilhOl'il,';\Oc analise de matcriais didMicos como supOl'll' Pill'il II Iral,lIlll'lllo dl' IlIldlilllOdalidade dos g['llCros lexluais 110COllll'xlo dl' l'I1Sil10 ilPI'l'lllll~It~"IIl, 1\111)'('1 (.',00 I) realiwu illllpia s{'I'iede l'Sllldos I'Xpt'l'illll'lllili.~ hilst'lllllllll'lIl h'llh' Ill' n'II'1I~,10 I' IrilllSrl'l'i\lIliil dt' iIlI0l'1I1il,()('Sil I'ililil dl' It'Xlos i/lslruciollais. dos alcslaram Os testes foram baseados em sete principios e as resulta- que: Estudantes aprendem melhor a partir de palavras e imagens que de apenas palavras. 2. Principia de Cantiguidade Espacial: Estudantes aprendem melhor quando palavras e imagens correspondentes sao apresentadas pr6ximas do que quando estao afastadas umas das outras na pagina ou na tela de computador. 3. Principia da Cantiguidade Temparal: Estudantes aprendem melhor quando palavras e imagens correspondentes sao apresentadas simultaneamente do que sucessivamente. 4. Principia da Caerencia: Estudantes aprendem melhor quando palavras, imagens e sons sao excluidos do que quando sao incluidos. 5. Principia da Madalidade: Estudantes aprendem melhor de animas;ao e narras;ao que de animas;ao e texto na tela. 6. Principia da Redundancia: Estudantes aprendem melhor de animas:ao e narras;ao que de animas:ao, narras;ao e texto na tela. 7. Principia das Diferen<;as Individuais: Efeitos do design sao mais fortes para os aprendizes com menor conhecimento e menor nos;ao de espas;o do que para aqueles com maior conhecimento e maior nos;ao de espas;o. Enfim, faz-se necessaria que a professor esteja atento para 0 seguinte fato: de acordo com a sofisticas;ao e a especializas;ao dos generos de cada disciplina, diferentes especificas;6es de multimodalidade textual sao apresentadas e, conseqiientemente, diferentes letramentos sao exigidos. I. Principia Multimidia: M. & IVANIC,R. BARTON, D., HAMILTON, in context. New York: Routledge, C. Constructing BAZERMAN, (ed.) Situated literacies: readingalltl wrilil/g 2000. experience. Carbondale: Southern Illinois Univt'I'.~i1y Press, 1994. __ . The life of genre, the life in the classroom. In: W. BISHOP Genre and writing: issues, arguments, alternatives. Portsmouth: y IIlid (ed.) What writing does and how it dO"$ il: III/ texts and textual practices. New York: Lawrence Hdhlllllll & PRIOR, In: BAZERMAN introduction (cd) 11)07. C. Speech acts, genres, and activity systems: how texts organize activil BAZERMAN, people. & H. OSTROM Heinemann, to analyzing Associates, 2004. BRANDA-O, H. N. 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