ROBERTA SÁ LANÇA SEU NOVO DISCO: “SEGUNDA PELE” Selecionada no Edital Nacional 2010 do Natura Musical, a cantora lança álbum inédito e fará turnê de shows passando por várias capitais brasileiras Consagrada como a melhor cantora de MPB no último Prêmio da Música Brasileira, Roberta Sá lança, no dia 24 de janeiro, seu quinto disco, Segunda Pele (MP,B Discos e Universal Music). Das 12 canções do álbum, sete são inéditas e uma delas - No Bolso - foi composta por Roberta em parceria com Pedro Luís. Com direção musical de Rodrigo Campello, grande parceiro de Roberta, o disco conta com direção vocal e de coro de Felipe Abreu. No repertório há canções de Caetano Veloso (Deixa Sangrar), João Cavalcanti (O Nego e Eu), Rubinho Jacobina (Bem a Sós), Dudu Falcão (Você Não Poderia Surgir Agora), Carlos Rennó e Gustavo Ruiz (Segunda Pele), Pedro Luís e Mário Sève (Lua), Lula Queiroga (Altos e Baixos e Pavilhão de Espelhos) Moreno Veloso, Quito Ribeiro e Domenico Lancellotti (A Brincadeira), Wilson Moreira (No Arrebol) e Jorge Drexler (Esquirlas). O preço médio do disco é R$ 24,90. A turnê de lançamento de “Segunda Pele” começa no dia 1º de março, em Salvador, seguindo para Recife (dia 3), Rio de Janeiro (dia 10, na Fundição Progresso), Porto Alegre (dia 16) e Curitiba (17/03); mais datas serão anunciadas em breve. Com patrocínio da Natura, Roberta Sá vai percorrer as cinco regiões do país. “Roberta Sá é uma das grandes cantoras da nova geração da música brasileira e, para nós, é muito especial poder contribuir para esse novo trabalho, incluindo a temporada de shows que ela irá fazer em todo o Brasil e com ingressos a preços populares. Para o Natura Musical seu trabalho traz frescor para nossa música e dialoga com diversos públicos, e isso vem ao encontro do conceito do programa”, destaca Karen Cavalcanti, gerente de marketing institucional da Natura e responsável pelo Natura Musical. A nova pele que habita Roberta Sá “Calor, desejo, flerte, feminino e tropical”. Um disco com esses predicados enunciados por sua própria solista só poderia ter um título como Segunda Pele. Com licença de Almodóvar, a pele que Roberta Sá habita em seu quinto disco é mesmo de arrepiar os poros. E por muitos outros motivos, além da faixa-título de Carlos Rennó e Gustavo Ruiz, considerada “bem sensual” pela cantora (“quando ele vem/ faço dele minha luva, o meu collant”), assim como a sapeca Bem a Sós, de Rubinho Jacobina (“se eu me vejo nua/ ninguém pode reparar”) e o rastro de perfume deixado pelos requebros do samba O Nego e Eu, onde o autor João Cavalcanti, do Casuarina, delineia uma personagem feminina de traços melífluos: “Gosto de ser vista pelas festas/ ser seguida pelas frestas/ protagonista do sonho alheio”. Roberta reconhece essas características em trabalhos anteriores, “mas tudo era mais delicado e discreto, e nesse é mais explícito”, diferencia. E acrescenta à lista a exuberante abertura, Lua (“faz o sóbrio enlouquecer/ todo ébrio é poeta/ quando olha pra você”), de Mário Sève e Pedro Luís. Ela nasce mansa e ganha a percussão massiva de A Parede, forrada pelos sopros orquestrados pelo perito Mario Adnet, pós-graduado na matéria nos trabalhos com Moacir Santos. “Lua não deixa de ser uma declaração de amor. Acho que todas têm essa pegada”, anuncia Roberta. Gravado entre julho e novembro de 2011, o disco produz outro arrepio que não é de frio, como frisa a letra de Segunda Pele. Num repertório tecido preferencialmente com inéditas de contemporâneos (“não queria fazer muitas regravações desta vez”), chama atenção a diversificação de timbres e texturas das orquestrações. “Conversei muito com o Rodrigo Campello (arranjador e produtor do disco, em cujo estúdio MiniStereo foram feitas as principais gravações) e nos inspiramos nos arranjos do Rogério Duprat, nos bons tempos em que as gravadoras tinham orquestras contratadas. A gente sonhava com um disco cheio de sopros desde o ‘Braseiro’ (o da estreia, em 2004). Pela primeira vez tivemos a chance de colocar todas as ideias em prática com conforto, algo finalmente possível por causa do patrocínio da Natura. Eles não interferem em nada no processo criativo e querem ver a música acontecer. Chegamos aos arranjadores muito diferentes e igualmente talentosos com os quais gostaríamos de trabalhar”, conta, extasiada com o timaço de músicos arregimentados para a gravação. “Isso tudo é pra mim?” Claro, e é preciso ser a grande cantora que é Roberta Sá para dar conta de tão sedutora moldura. Além de Campello (“ele é do mundo”), autor da maioria dos arranjos, e Adnet (“luxuoso, elegante”), há a Orquestra Criôla de Humberto Araújo (“eles são da rua, da gafieira, do baile”), uma mistura explosiva que acentua a intensa pulsação do roteiro. Há espaço até para uma epitelial bossa nova, Você Não Poderia Surgir Agora (Dudu Falcão) com direito a um piano jobiniano, do neto do homem, Daniel Jobim. Moreno Veloso, Quito Ribeiro e Domenico Lancellotti customizaram o maxixe na saborosa A Brincadeira, cerzida por acordeom, tuba e euphonium. Lula Queiroga assina duas faixas do disco. A irônica Altos e Baixos (“eu sou Jesus/ tirando férias no inferno/ pobre feliz de mim”), com o sobrinho Yuri Queiroga, e o insinuante Pavilhão de Espelhos, a dos timbres mais inusitados, com a kora tocada por Ballaké Sissoko, do Mali, e o cello do francês Vincent Segal, dupla do consagrado disco “Chamber music”. “Um casal de amigos, o brasileiro Marcello Bueno e a francesa Corinne, em Paris, nos apresentou este disco. Eles são produtores de um monte de gente bacana no circuito europeu”, conta Roberta. Para que a dupla fosse incluída, a gravação teve que ser realizada em Recife, onde eles tinham ido participar do festival MIMO. “Ficamos encantados com essa sonoridade diferente e deslumbrante. Além disso, o encontro com músicos do mundo me interessa muito. A gente tinha outra ideia pro ‘Pavilhão’, mas quando eles entraram para gravar levaram a música a um lugar totalmente inesperado. A beleza de fazer um disco mora aí. Há de se abrir espaço para a novidade e a surpresa”, prega. E eis mais uma: Esquirlas, onde ela dueta com o autor, o uruguaio Jorge Drexler. “Achei que havia chegado a hora de me lançar nesse desafio como intérprete, o de gravar em outra língua. Drexler faz parte dos compositores contemporâneos que admiro e ele me veio com essa inédita. ‘Ahi vá mi voz buscándote muerta de fiebre’ poderia ser o título do disco. ‘Esquirlas’ são estilhaços de bombas, o que forma uma imagem, infelizmente muito corriqueira nos dias de hoje”, conclui. É um momento de reflexão do enredo, onde impera a gandaia. Como no dub/frevo incendiado por sopros No Bolso (“faça silêncio/ a pausa é sua/ que o caos é logo depois da curva”), uma parceria da cantora com o marido Pedro Luís, exceção em sua proposta inicial: “eu não estava compondo o que queria cantar”. A música surgiu de uma conversa caseira. “Trocamos uma ideia e ele veio com essa letra duas horas depois. Sentamos no sofá e terminamos a música juntos. É feita pra pular, para tirar a loucura do mundo do nosso sistema”, define. Ela antecede uma das duas regravações do repertório, o frevo trieletrizado Deixa Sangrar, de Caetano Veloso, lançado por Gal Costa no carnaval baiano de 1970. “O carnaval de rua sempre fez parte da minha história. Criança, eu saía pintada nos blocos de rua no veraneio em Muriú, no Rio Grande do Norte”, lembra a potiguar radicada no Rio. “Adolescente, gastei muita sola de tênis atrás do trio elétrico. Casei com um dos maiores representantes do carnaval carioca e amo ver o Monobloco. Vou a Recife quase todo ano e o carnaval de rua no Rio cresce a olhos vistos. Adoro essa atmosfera de luxúria, beleza e fantasia com a elegância e o glamour que só existem no carnaval do Brasil”, elogia. “Essa sonoridade do frevo, da marcha é pouco explorada fora do carnaval. E há tempos eu queria gravar algo do Caetano, uma grande referência para mim, principalmente quando se trata de sonoridade em disco. Essa música me foi apresentada pelo Zé Renato. Cantávamos juntos nos bailes pré-carnavalescos com o Trio Madeira Brasil no Clube Democráticos, na Lapa, em 2006 e 2007”, lembra. Outra regravação é a belíssima No Arrebol, “um jongo com jeito de reggae”, como define Roberta, do mestre do samba e da cultura afrobrasileira Wilson Moreira. “Sou fã do Seu Wilson e queria gravar alguma coisa dele de qualquer jeito. Em 2010, nos aproximamos, fui a casa dele e dona Ângela, sua mulher e anjo da guarda, fez um bobó de camarão pra mim. Tomamos uma cervejinha, ele me mostrou essa pérola e disse que adoraria ouvi-la na minha voz. Foi a primeira música que escolhi. Para mim, é o oásis do disco. No meio do deserto, do mundano, do calor, da agonia, vem essa água fresca. É o lugar que eu almejo, o arrebol é onde eu quero chegar”, suspira. Roberta Sá veste com prazer esta “Segunda Pele”, reveladora e luminosa até para a própria protagonista. “É um disco transformador. Acho que estou mais direta, segura, clara”. Tárik de Souza Janeiro 2012 REPERTÓRIO "SEGUNDA PELE" Lua (Pedro Luís e Mário Sève) – Participação especial de A Parede Segunda Pele (Carlos Rennó e Gustavo Ruiz) Bem a Sós (Rubinho Jacobina) O Nego e Eu (João Cavalcanti) Altos e Baixos (Lula Queiroga e Yuri Queiroga) Você não Poderia Surgir Agora (Dudu Falcão) Esquirlas (Jorge Drexler) – Participação especial de Jorge Drexler Pavilhão de Espelhos (Lula Queiroga) – Participação especial de Ballaké Sissoko & Vincent Segal No Bolso (Roberta Sá e Pedro Luís) Deixa Sangrar (Caetano Veloso) A Brincadeira (Moreno Veloso, Quito Ribeiro e Domenico Lancellotti) No Arrebol (Wilson Moreira) CRÉDITOS “SEGUNDA PELE” Uma produção MP, B Discos e Universal Music dirigida por Rodrigo Campello Direção Artística: João Mario Linhares Direção de Produção: Roberta Sá Direção de Voz e Coros: Felipe Abreu Produção Executiva: Fernanda David Assistente de Produção: Heloisa Marinho Elaboração e Administração do Projeto: Mariza Adnet Assistente de Produção Musical: Antonia Adnet Gravado nos estúdios: MiniStereo (RJ) por Rodrigo Campello, Eber Pinheiro, Renato Alscher, Guilherme Medeiros e Felipe Medeiros; Biscoito Fino (RJ) por Gabriel Pinheiro; Carranca (PE) por Junior Evangelista Assistentes: Anderson Pumba (MiniStereo), Lucas Ariel (Biscoito Fino) e Jorge Romão (Carranca) Mixado por: Renato Alscher no estúdio Corredor 5 (RJ) Assistente: Paulo Aiello Edição Digital por: Mauro Araújo e Fabiano França Programação de Efeitos: Eber Pinheiro e Renato Alscher Masterizado no Classic Master por: Carlos Freitas Imprensa: Palavra Assessoria em Comunicação Capa: GB65 Direção de Arte: Giovanni Bianco Fotografia: Gui Paganini Styling: Daniel Ueda Make-up: Daniel Hernandez Tratamento de Imagem: Alex Wink Produção Executiva: Piera Paula / Studio 65 Mais informações: Site: www.robertasa.com.br Facebook: facebook.com/RobertaSaOficial Twitter: @_robertasa Youtube: http://www.youtube.com/canalrobertasa Sobre Roberta Sá Nasceu em Natal (RN) em 19 de dezembro de 1980. Aos nove anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde mora até hoje. Aos 16, começou a frequentar aulas de canto. Aos 20 anos, tornou-se aluna de Vera Maria do Canto e Melo. O marco zero de sua carreira foi um show no Mistura Fina, no Rio, em 2002. O preparador vocal Felipe Abreu estava lá e virou seu parceiro e amigo. Felipe indicou o músico Rodrigo Campello para produzir uma primeira “demo” da cantora, com o arranjador Paulo Malaguti. O trabalho chegou às mãos de Gilberto Braga, que a convidou para gravar “A Vizinha do Lado”, de Dorival Caymmi, como tema da novela “Celebridade”. Em 2004 veio o primeiro disco, “Braseiro”, com produção de Rodrigo Campello e a direção de voz e coro de Felipe Abreu. “O repertório é uma declaração de amor à música popular brasileira. Pelo menos a que eu conhecia até aquele momento. É um álbum de memórias musicais afetivas. Foi aí que começou minha formação profissional, através do convívio com músicos e artistas fabulosos”, diz Roberta. Ney Matogrosso, MPB-4 e Pedro Luís e A Parede foram os convidados. “Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria”, o segundo disco, foi lançado em 2007. Lenine, Carlos Malta e Pife Muderno, Hamilton de Holanda Silvério Pontes e Zé da Velha foram os convidados especiais. “Tenho a sorte de ter gravado os discos que quis, com as pessoas que escolhi”, diz ela. Dois anos depois, Roberta Sá reuniu o repertório dos dois primeiros álbuns no show “Pra Se Ter Alegria”, que contou com a direção do cantor e compositor Pedro Luís e da jornalista Bianca Ramoneda. A apresentação resultou em um DVD dirigido pela Samba Filmes e um CD que reúne sucessos como “Alô Fevereiro”, “Interessa?”, “Janeiros”, “Mais Alguém”, “Eu Sambo Mesmo” e “Agora Sim”. Um ano após o lançamento, Roberta ganhou o prêmio de DVD de Ouro. O projeto seguinte de Roberta Sá nasceu numa conversa na Lapa. Em 2010, ela se juntou ao Trio Madeira Brasil (de Marcello Gonçalves, Zé Paulo Becker e Ronaldo do Bandolim) e gravou “Quando o Canto é Reza”, homenagem ao compositor baiano Roque Ferreira. O disco tem coco, maxixe, samba carioca, maracatu, samba-deroda e 13 canções do compositor – oito delas, inéditas. No final de 2011, Roberta ultrapassou a marca de 200 mil discos vendidos, com dois CDs e um DVD de Ouro. Apresentou, no ano passado, mais de 100 shows em vários estados brasileiros e em Portugal. “Segunda Pele”, de 2012, é seu quinto disco. Sobre o Natura Musical É o programa nacional de apoio à cultura brasileira da Natura com foco em música. Atua por meio de frentes como: os Editais Públicos que visam selecionar projetos de diferentes formatos e estágios da produção cultural por meio das Leis Rouanet ou do Audiovisual; a Seleção Direta que contempla propostas adequadas ao conceito do programa e que são de grande relevância e inovação, sem a obrigatoriedade das leis de incentivo; as Turnês Nacionais de artistas reconhecidos do grande público e da crítica especializada; além dos Festivais em São Paulo e Belo Horizonte e a Plataforma Digital do Natura Musical que proporcionam uma conexão e experiência concreta do público com a música, além de interatividade. Lançado em 2005, o Natura Musical beneficiou projetos de diferentes estágios e processos da música brasileira patrocinando mais de 150 projetos em todas as edições de edital público e seleção direta. Ao todo, 17 estados das cinco regiões do Brasil foram contemplados e mais de 600 mil pessoas beneficiadas. Saiba mais no Portal www.naturamusical.com.br ou nas Redes Sociais do Programa. Faixa a faixa Roberta Sá VÍDEOS: Lua - http://youtu.be/DaeOzT27f84 Segunda Pele - http://youtu.be/oHGwUyAOcTk Bem a Sós - http://youtu.be/5bcY1w0tTB4 O Nego e Eu - http://youtu.be/DbOY08C30Ak Altos e Baixos - http://youtu.be/mcCY27PN3R8 Você Não Poderia Surgir Agora - http://youtu.be/j4HTysmczmI Esquirlas - http://youtu.be/AsjZVZhrgdw Pavilhão de Espelhos - http://youtu.be/lX1r_ftLTVY No Bolso - http://youtu.be/7Ugk4fFMTvE Deixa Sangrar - http://youtu.be/KbKNKsHfSHA A Brincadeira - http://youtu.be/XgiMQo8bCxY No Arrebol - http://youtu.be/NTTzhYaQqg4 TRANSCRIÇÃO: Lua (Mário Sève / Pedro Luís) Lua é uma música de Mário Sève e Pedro Luís. O Mário gravou um disco chamado Casa de Todo Mundo e chamou vários parceiros. O Pedro fez a letra para essa música e cantou junto com ele nesse disco. Desde a primeira vez que eu ouvi, sabia que queria fazer alguma coisa com ela. Mas é uma música esquisita. Eu gostei de primeira, mas eu sei que as pessoas vão gostando dela no meio. Ela nunca tinha se encaixado nos meus trabalhos anteriores e nesse eu insisti um pouco para que ela entrasse. Aí gravei e chamei A Parede pra fazer os arranjos de percussão e ficou maravilhoso. Foi engraçado que eles gravaram na versão original da música com o Pedro. Dessa vez ficou um pouco Roberta Sá e A Parede, sem o Pedro, rsrs. Eu e Rodrigo Campello assim que ouvimos a canção sabíamos que seria muito bem arranjada pelo Mario Adnet. E há muito tempo eu queria fazer esse encontro do peso d’A Parede com a sofisticação do Mario, que fez os arranjos de sopro. Então eu acho que deu uma mistura bastante interessante. É uma explosão que eu queria começar o disco. Sem falar que ela fala da lua, uma música que é toda feita de amor para a lua. É poético! Segunda Pele (Carlos Rennó / Gustavo Ruiz) Segunda Pele chegou pra mim através do Carlos Rennó. Eu não conhecia muito o trabalho do Gustavo e o Rennó me mandou várias canções como sempre. Eu adoro as letras dele e sempre peço as composições mais recentes, inéditas. E aí ele me mandou essa música e ela bateu de cara. Adorei, vou gravar! Depois fiquei na dúvida. Foi uma coisa engraçada que aconteceu. Porque na hora que eu recebi me veio um filme na cabeça. Eu estava muito com essa ideia do nordestino, fazer um disco voltado com o olhar para o Nordeste. E essa música quando chegou, pra mim ela fala de um amor que está longe, que vem de vez em quando. Eu não sei porque, mas eu achei que a personagem dessa música tem a ver com o nordestino que muda para São Paulo. E foi muito legal conhecer o trabalho do Gustavo Ruiz, primeira vez que eu gravo uma canção dele. Fiquei muito feliz de estrear com um compositor. Achei muito bacana! E ela acabou virando nome do disco. Eu acho esse disco muito diferente de todos os meus trabalhos anteriores. E aí quando chegou essa canção e esse nome, Segunda Pele, bom, é o nome do disco, né? Porque parece que é uma renovação da minha pele. É a Roberta de sempre, com uma pele nova. Bem a Sós (Rubinho Jacobina) Eu gosto muito de encontrar com os compositores pessoalmente. E aí liguei para o Rubinho (Jacobina). Não o conhecia, só de camarim, de passar e falar: Oi, tudo bom? E ele super tímido. Então a gente não tinha trocado mais do que três palavras na vida. Liguei pra ele e falei: Oi Rubinho, é a Roberta, queria muito gravar uma música sua. Já conhecia os discos dele, estava atenta ao trabalho do Rubinho. Estava muito nessa busca de gravar compositores que fossem meus contemporâneos. E aí liguei para o Rubinho e falei: Você prefere mandar por email, se encontrar? Eu gosto de encontrar, mas se você quiser mandar por e-mail não tem problema. E ele falou: Não, eu posso te encontrar! Quando pode ser? E eu falei: Pode ser hoje! E ele: Estou indo em um almoço, daqui a pouco eu passo aí. Ele foi lá em casa, sentou no sofá, pegou o violão e tocou oito músicas, olhando pra mim direto. E eu achei tão engraçado como a música é transformadora. Achei bonito isso. A pessoa com violão vira outra pessoa. Bem a sós foi a última. Se não me engano ele disse que fez quando era adolescente. O Rubinho tem essa coisa da composição que eu acho muito divertida, que sempre tem um duplo sentido. Eu acho que essa música fala do momento. Quando eu canto me imagino no meio do trio elétrico dando beijo na boca. Quando todo mundo vai passando pra frente e aquele beijo paralisa os dois no meio da muvuca. A música fala dessa delícia do encontro, desse beijo no meio da multidão. Ele fala: Olha todo mundo ao nosso lado, corre para chegar na frente, é nós dois aqui atrás. Para mim é essa cena. Se a música fosse um filme, seria essa a cena. E aí para fazê-la ficar esse carnaval a gente chamou a Orquestra Criôla, formada por vários músicos cariocas comandada pelo Humberto Araújo, que é um super músico e que eu conheço há muito tempo. Esse grupo é maravilhoso, toca em gafieira, é uma massa sonora popular, dá essa característica de baile, de carnaval. Nego e Eu (João Cavalcanti) O João Cavalcanti é um compositor muito especial. E eu queria gravar alguma música dele de qualquer maneira no disco. E aí começamos uma conversa. Eu falava que não queria samba, não queria cantar samba. E ele ficou nessa, mas o que você quer? Eu estava com a ideia fixa de que o disco não tivesse samba. Falava pra todo mundo porque virou uma coisa meio óbvia de mim. E, às vezes, não necessariamente, eu adoro samba, mas, às vezes, não necessariamente é o que eu quero gravar. E um dia o João me convidou para fazer uma participação especial no show do Casuariana. Roda de samba do Casuarina na Fundição Progresso, vamos cantar samba! Quando entrei no palco, cantei Pressentimento, do Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho. O público veio abaixo, cantando tudo. Fiquei muito emocionada, foi lindo! Daí pensei: Eu não posso perder isso, essa coisa que tem o samba. Me deu um arrepio. Cantar samba me dá um prazer tão grande, então por que abrir mão desse prazer que sinto? E aí no dia seguinte eu mandei um e-mail para o João falando do samba e o tema. Falei que queria algo dessa mulher que vai para o samba. Eu tinha escutado aquela música do Chico Buarque, que ele fez para o Diogo Nogueira (Sou Eu) e desde que escutei eu queria uma resposta para essa música. Porque a mulher também pode ir para o baile. Cadê o ponto de vista dessa mulher que vai para o baile, que deixa tudo, mas que prefere o homem dela? Aí mandei esse briefing e o João mandou esse samba sensacional. E tem muito a ver com essa minha história com o samba. Eu posso flertar com outros ritmos, experimentar outras coisas, mas só tem sentindo Nego e Eu no samba. Parece que pra mim é uma volta para casa. Ainda continuei um pouco na dúvida porque eu e o Rodrigo (Campello, produtor) não queríamos samba no disco. E aí, moral da história: Quando uma canção boa chega, todos os seus preconceitos vão por água abaixo. Ela chega de uma maneira tão avassaladora que é irresistível. Altos e Baixos (Lula Queiroga / Yuri Queiroga) Essa música está no disco do Lula Queiroga e, desde que eu ouvi a primeira vez, sabia que queria dizer aquilo. O Lula tem muito isso quando ele me manda uma música, eu acho que aquilo precisa ser dito. Ele tem esse dom de escrever perfeitamente o que eu sinto em relação ao mundo. É perfeito pra mim e cabe dentro de mim como se eu tivesse feito. Então eu precisava dizer aquilo para as pessoas e para mim também. Ela fala disso, dessa corrida por uma coisa que a gente nem sabe mais o que é. Eu vejo todo mundo correndo, buscando, indo atrás de uma coisa que nem sabe o que é. Então o Lula põe uma lente de aumento nas coisas e faz a gente enxergar tudo com mais clareza. Ela fala de um monte de coisas: Eu tô botando dúvida / Eu tô botando defeito / Eu tô prestando pra nada Tô ficando obsoleto de mim. Tem o contraponto disso com: Eu sou o herói do momento / Eu sou a capa da veja / Sou o tampa de Crush / Sou a loura da cerveja Schin. Acho muito interessante. E chegou um momento em que eu estava um pouco assim mesmo, tava quase que não querendo muito fazer um disco. Estava meio que sem sentido aquilo ali. E quando chegou essa música... Sempre acontece nos meus discos, quando chega uma música do Lula, ele amarra pra mim, dá o sentido muito forte para o meu trabalho. E a gente chamou de novo o Mario Adnet para fazer os arranjos de sopro porque queríamos que fosse lindo, que falasse as coisas da maneira mais linda possível, para ficar com essa ironia que a música tem o tempo inteiro. O Lula é genial! Você não poderia surgir agora (Dudu Falcão) Teve uma semana no processo desse disco que eu achei que não tinha o repertório completo. Como a gente tinha patrocínio, pela primeira vez eu tinha que entregar um disco no prazo que eu tinha me comprometido. Fazer disco sempre foi uma coisa muito fácil pra mim, conceituar e juntar repertório. Mas dessa vez, chegavam coisas maravilhosa pra mim e eu não estava conseguindo uma unidade. Aí liguei para o Lula Queiroga, liguei para os meus amigos para eles me salvarem (rsrs). Lula, por favor, me ajuda, eu preciso de repertório. Estou aqui sem saber o que eu vou gravar. Queria saber se você tem mais alguma coisa. E o Lula falou: Vamos encontrar! Eu estou aqui no Rio. Me liga mais tarde. Liguei depois e ele falou que estava na casa do Dudu Falcão com o irmão Lucky Luciano. Estamos aqui escrevendo, fazendo música e conversando. Vem aqui que de repente você dá um tema e a gente consegue fazer alguma coisa inspirada no que você está dizendo. Assim fica mais fácil pra gente. E aí eu fui lá. E foi muito engraçado porque a gente começou a tomar vinho e a falar barbaridades, e anotar o que estávamos falando. E quando a gente já estava completamente bêbados, ainda tínhamos que sair para um show da Plap no [Centro Cultural] Sérgio Porto, o Dudu Falcão vira - eu não tinha conhecido o Dudu, só obviamente de nome porque ele é um compositor super conhecido, um hitmaker de primeira - e fala: Eu tenho uma música para você! Eu já gravei em um disco meu, mas ninguém ouviu... Eu acho que vai ficar linda na sua voz. Eu quero que você grave essa canção. Me passou aquela cantada de compositor, tipo “tem várias cantoras me pedindo, mas eu vou dar para você”. E eu obviamente acreditei e acredito até hoje. Tomara que ninguém me desminta! Pois eu acho ótima essa sensação. E aí ele me deu essa canção que foi um presente, eu não conseguia parar de ouvir. Acho o ponto de vista do amor muito diferente nela, gosto muito. Acho que esse disco tem muitos pontos de vista diferentes dos que normalmente são tratados nas canções. É uma música que fala de uma pessoa que tem um relacionamento e que chega uma outra pessoa. E ela se envolve e tal e diz que ela não poderia surgir agora. É uma música linda de amor, dessas que faz chorar. E foi a primeira vez que eu tive vontade de gravar uma balada, é a primeira balada que eu gravo. E aí para ficar tudo mais romântico, mais lindo e mais perfumado, a gente chamou o Daniel Jobim para gravar o piano. Porque ela é uma bossa e a gente queria aquele piano do Jobim que toca aquelas notas econômicas e certas. Daniel tocou lindamente. E era muito engraçado porque no estúdio o Daniel falava assim: Desculpa, essa bossa nova que eu estou tocando é mais forte do que eu. E nós: Não, é isso mesmo que a gente quer!! É justamente essa bossa nova que tem dentro de você, que você não se controla, é tudo que a gente quer! E ficou lindo, eu adoro! Esquirlas (Jorge Drexler) Essa canção é muito especial. Eu queria gravar alguma coisa em outra língua. Achei que estava na hora, eu me propor esse desafio. Não por causa de mercado latinoamericano ou americano, nada disso. Eu acho que um intérprete tem que se desafiar. Então achei que começar pelo espanhol ia ser mais fácil para mim, o sotaque seria mais próximo. E eu já tinha estudado espanhol, mais novinha. E gostava muito do Jorge Drexler já há muito tempo. Então mandei um e-mail para ele pedindo uma canção. E ele me respondeu dizendo que já tinha visto algumas coisas minhas no YouTube, que tinha adorado, achado minha voz doce e fez um monte de elogios que eu não vou repetir, pois elogio não se repete. Fofo demais! E aí ele falou que queria fazer alguma coisa especialmente para mim e perguntou o que eu estava querendo. Mas eu estava nesse disco com muita dificuldade de chegar e encomendar. Eu falei: Jorge, eu quero uma música de amor! Você fala tão bem de amor. E ele falou: Olha, eu gostaria muito de fazer uma música especialmente para você, mas eu tenho uma canção aqui que eu adoro e que eu nunca gravei nos meus discos anteriores, não sei porque. E aí ele me mandou uma faixa com uma pré-produção super bem feita e ela ficou ali. Fiquei uns dois meses com essa música sem conseguir encaixá-la no disco porque ritmicamente o disco estava ficando um pouco mais nordestino, carnavalesco até em alguns momentos e eu não conseguia encaixar. Um dia eu estava deitada na cama e pensei: Gente, essa música é uma marcha! Ela é uma marchinha! E aí mandei um e-mail para o Rodrigo falando e a gente fez ela meio essa marcha rancho, meio bossa nova, e tem tudo a ver com o trabalho do Jorge, essa coisa mais delicada e suave. E a gente começou a pirar na música. Depois eu soube que o Jorge estava vindo para o Rock in Rio e pensei: Poxa, ele podia vir gravar alguma coisa. Mas achei que ele não teria tempo. Convidamos e ele foi! Ele colocou aquela voz linda e deixou todo mundo encantado com a delicadeza, com o jeito dele. E ficou linda a música! Eu fiquei muito contente. Eu vi recentemente aquele filme, Melancolia, e ela tem essa melancolia. Ela fala disso, da explosão, dos estilhaços dessa explosão. O Rodrigo gravou tudo e depois chamou o Sacha Amback para colocar aquelas programações de orquestras que ficaram lindas. Sacha faz isso divinamente. Com a voz do Drexler a gente não precisava de mais nada. E depois que tudo ficou pronto, a gente achou que precisava de alguma coisa rítmica e chamamos o rei do ritmo Marcos Suzano, para completar o nosso Power trio. Pavilhão de Espelhos (Lula Queiroga) A história dessa música foi muito engraçada, porque ha três anos atrás....Bom, quando eu termino um disco já começo a fazer outro automaticamente. Porque demora, eu demoro a saber o que quero. Então eu já vou começando com esse flerte dos compositores, já vou pedindo as canções e já vou começando a ter ideias para o próximo. E isso aconteceu quando eu terminei meu último disco, eu já comecei a falar com o Lula. Sempre que eu o encontrava eu falava: Lula, me manda alguma coisa. E aí um dia ele me ligou e falou: Fiz uma música para você, Robertinha! Maravilhosa, você vai amar e tal. Eu estava em turnê, a gente não se encontrou de novo e ele não me mandou a música; eu pensei tudo bem. Quando o encontrei de novo perguntei: Lula cadê a música que você fez pra mim? E ele disse que deu para outra cantora. E eu falei, como assim? Mas ele disse: Não se preocupe que eu fiz uma outra música para outra cantora que vai ficar linda na sua voz. Foi engraçado isso. E aí ele me mandou Pavilhão de Espelhos. Quando eu ouvi, todo mundo ficou assim: oh!!! Todo mundo que estava a minha volta. O Pedro falou que tinha que entrar no disco, o Felipe Abreu falou que tinha que entrar no disco, o Rodrigo quando viu falou que tinha que entrar no disco. Então ficou aquela coisa: que música linda! Tão difícil achar uma música linda e fácil de ouvir e fácil de entender. E tem a ver com a minha relação com os fãs. Eu poderia começar o disco ou o show com ela. Porque como eu passei um tempo fazendo uma outra coisa, só o show do Roque Ferreira, eu de alguma maneira considero esse disco uma volta. E essa letra falava de uma volta. Estou aqui para ver se ainda bate, pulsa, ainda bem. É porque eu sou metida e já respondo sim pelo público. Estou aqui para ver se ainda bate, se ainda pulsa...claro que sim, ainda bem!. É um pouco isso. E eu queria muito que o Ballaké Sissoko & Vincent Segal participassem do disco, porque fui a Paris este ano de férias e um casal de amigos empresários de lá, Marcello Bueno e Corinne, dois produtores que fazem milhares de shows pela Europa, me apresentaram ao som deles depois de um jantar. São dois caras que formam uma dupla de kora e cello, um africano e um francês. E a gente já achou interessante a sonoridade. Que diferente! O som foi aquele banho de beleza, sonoridade exótica. E eu pensei: Eu quero esses caras no meu disco de qualquer maneira. E aí o Bueno veio ao Brasil e por sorte os caras vieram ao Brasil também fazer um festival chamado Mimo, que acontece em Pernambuco. Eu tinha show nesse dia e o Rodrigo Campello foi para Recife, arrumou tudo, maior correria do mundo para conseguir gravar os caras em Recife. A gente tinha uma ideia completamente diferente para essa música. Quando os caras entraram e colocaram os instrumentos deles, quando a gente juntou com o que a gente já tinha feito. Falamos: Cara tira tudo, esvazia, vamos deixar os caras aparecerem. Que foi o que o Rodrigo fez e ficou lindíssimo. É isso, Pavilhão de Espelhos, multiplicada em mil essa faixa. No Bolso (Pedro Luís / Roberta Sá) Essa música nasceu de um sentimento meu dessa velocidade esmagadora do mundo. Pra mim existe uma discrepância muito grande de como eu fui criada na infância e o que eu vivo hoje. Uma diferença de velocidade mesmo. Eu fui criada em Natal, mas indo muito para a fazenda, indo muito para a praia e convivendo com pescador, com vaqueiro, que são pessoas que têm outra velocidade, são pessoas que sentam e almoçam, fumam um cigarro de palha e é tudo bem devagar, mais lento. E muito mais delicioso para a minha natureza. O mundo pra mim hoje em dia me atropela. Às vezes eu fico: Nossa, quanta coisa pra fazer! E às vezes nem é tanto, eu vejo gente em São Paulo fazendo o triplo de coisas. Eu não consigo. Eu consigo fazer uma ou duas coisas por dia e pra mim já é muito, já é quase me ferir. Fazer tanta coisa, mudar tanto de ambiente e de clima. E eu no meio dessa confusão. Esse ano que passou eu fiz três turnês. Eu terminei a turnê do DVD, fiz a turnê do Quando o Canto é Reza e fiz uma turnê só com canções do Chico Buarque, com mais três cantoras. Então era muita coisa, todo dia eu tava mudando de repertório, entrando num papo diferente, num grupo diferente, com um show diferente. Foi a primeira vez que eu vivi essa experiência de tanta correria, de ter que mudar a chave da minha inspiração tantas vezes por dia. Foi um ano pra mim muito puxado. E eu obviamente falando tudo isso para o Pedro Luís, que além de ser meu marido é um compositor, e talvez por isso é o primeiro que eu recorro pra falar dessas angústias que sinto e que acabam costurando o disco. E aí ele fez essa letra pra mim. Ele falou, ah fiz uma letra para o seu disco! Ela fala do iPod, do iPad, do iTudo que carregam a solidão no bolso. Como se você pudesse colocar no bolso esses elementos. É muito solitário esse movimento do iPhone, do iPad, as pessoas tão muito assim o tempo todo. Eu também, porque você tem a capacidade de resolver muito mais coisa, o que é maravilhoso, mas também não sei se é tão maravilhoso assim. Ainda é um ponto de interrogação pra mim. A vida é acelerada, o silêncio é nosso, a gente é que pode mudar. Se está te prejudicando, te fazendo mal, é a gente que pode reverter essa situação. O tempo é nosso, a pausa é sua. Ela fala disso. Que você pode parar. Mas é uma sensação que eu não estava tendo nesse ano que passou. Deixa Sangrar (Caetano Veloso) Deixa Sangrar é uma música que me foi apresentada pelo Zé Renato quando a gente fazia um baile sensacional no Democráticos, bem no comecinho da minha carreira, o Carioca Baile Show. Fiz três carnavais com ele. Era eu, Zé Renato, Trio Madeira Brasil, Zé da Velha, Silvério Pontes e quem quisesse chegar. E era muito divertido. A gente cantava fantasiado músicas de carnaval, marchinhas maravilhosas arranjadas pelo Marcelo Gonçalves. Tenho muitas saudades. E aí o Zé Renato me apresentou essa música e desde então eu fiquei com vontade de gravar. E esse foi o disco das minhas vontades. Acho que ela tem a ver com a temática do disco, do jeito que a gente vive as coisas no Brasil. Chora depois, mas agora deixa sangrar. Quando a gente tá no carnaval, a gente esquece tudo. E não acho essa sensação uma coisa ruim. Eu acho muito bom o brasileiro ter essa válvula de escape porque o mundo já está tão difícil. Essa é uma sensação que me dá alivio, sabe. Está tudo um caos, aí chega o carnaval e você vê aquelas pessoas felizes, dançando, bebendo e comemorando, pulando, fantasiadas nas ruas do Rio de Janeiro, com essa cara linda ao sol do meio dia. É isso. Sempre tive vontade de gravar; queria gravar alguma coisa do Caetano, nunca tinha gravado. E achei que esse era o momento certo. Eu adoro e admiro muito e ele é um compositor que me inspira. É um compositor que sempre soube fazer disco. Experimentar sonoridades, experimentar tudo, sempre fez muita coisa interessante. E ter o Humberto Araújo para fazer o arranjo com a Orquestra Criôla tocando esse frevo...Ainda chamamos a Jurema e a Jussara, do Trio Ternura, quase uma instituição dos discos de música popular brasileira, para o coro. As pessoas acham que fazer coro é só chegar lá e montar a galhofa; não é não, é uma coisa muito específica. Você tem que timbrar a voz de uma pessoa com a outra. As vozes têm que combinar. E além de tudo elas divertiram muito o estúdio. A Brincadeira (Moreno / Quito Ribeiro / Domenico Lancellotti) Convidei o Moreno para a estreia do Quando o Canto é Reza em Salvador, no Teatro Castro Alves. Ele falou que não poderia ir porque estava com crianças em casa e tal...Mas vamos nos ver amanha, vamos nos encontrar! Ele foi me buscar no hotel pra gente almoçar e me levou para um lugar lindo, que era a casa da mulher dele, da família da Clara. É um lugar super bonito e estava um dia lindo em Salvador! Depois a gente sentou num banquinho e ele começou a me mostrar músicas e eu fui gravando no celular. Mas essa me bateu de uma maneira muito especial. E a música tem uma temática recorrente no disco, essa história do momento que alguma pessoa te tira para dançar. Para mim é uma imagem que passava pela minha cabeça o tempo todo. Dançar junto com alguém é a coisa mais maravilhosa que existe. Tem esse clima de coreto. E estavam as crianças brincando na grama, ele tocando daquele jeito tão delicado, parecia um videoclipe já da música quando ele me mostrou. E ela tem uma ambigüidade que eu gosto também. Não acho que a personagem esteja falando diretamente para a pessoa que ela ama. Acho que ela está falando para uma outra pessoa. Acho que esse disco tem essa malícia. É isso. É tipo: Hoje encontrei você / Não quero te deixar / Tenho o meu bem querer / Junto do peito Mas eu acho também que ele não é a pessoa que eu gosto, ele é outro. Eu li dessa maneira, rsrs. O disco tem tudo isso. A temática do disco é muito o flerte, eu acho, tem essa historia. E essa música fala muito disso, do flerte. No Arrebol (Wilson Moreira) Essa música fala do lugar onde eu gostaria de estar. Essa tranquilidade que eu costumo falar que não existe mais na cidade grande, é o lugar que eu busco, o lugar que não foi conquistado ainda por mim. Vivo no arrebol onde eu vejo o pôrdo-sol. É quase um ‘eu quero uma casa no campo...’. Tem essa temática. E foi uma música que eu ouvi na minha busca de composições inéditas e de músicas. Eu encontrei com o Seu Wilson Moreira e conheci Dona Ângela, mulher dele. E um dia fomos Pedro e eu na casa do Seu Wilson. Dona Ângela fez um bobó de camarão genial e com uma cervejinha nota mil. E nós ficamos lá tomando cerveja, jogando conversa fora e comendo bobó de camarão e o Seu Wilson começou a cantar umas músicas e me deu um CD com uma gravação muito ruim dessa música. Ela estava em um disco antigo dele, não é inédita, mas que nunca tinha sido lançado ou remasterizado. É um jongo, mas que já veio com uma pegada meio reggae. E a gente achou isso tão moderno! Como Seu Wilson é moderno, atual e contemporâneo! Ela tinha essa levada gostosa, a melodia é linda e falava desse lugar por enquanto inatingível, mas que um dia eu hei de chegar! 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