ESPIRITUALIDADE E TRANSFORMAÇÃO PESSOAL Isabelle Ludovico da Silva O melhor da Espiritualidade Brasileira / organização Nelson Bomilcar – São Paulo: Mundo Cristão, 2005, capítulo V. Entendo “espiritualidade” como a busca de uma maior intimidade e amizade com Deus. O coração quebrantado, a alma apegada a Deus, o encontro em silêncio com a face amorosa de Deus no secreto, a leitura meditativa das escrituras, o mistério da comunhão com Deus no íntimo são dimensões da espiritualidade cristã que curam as nossas feridas e nos fazem desabrochar. “Contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na Sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2 Coríntios 3:18). “A contemplação não é um exercício de relaxamento... É acima de tudo um relacionamento... Não é uma técnica... é uma oração sem palavras que se fundamenta no chão da fé, esperança e amor... É o caminho mais seguro e garantido rumo à santidade” 1. No entanto, como ressalta Esly Carvalho2 “sem saúde emocional, não existe santidade... Não acredito que seja por acaso que a única diferença entre as palavras sanidade e santidade seja a letra T que representa a cruz do Messias”. De fato, a gente fere a si mesmo e ao outro à partir das nossas feridas. Somente o amor internalizado de Deus pode cicatrizá-las ao suprir nossa necessidade de aceitação incondicional. O reconhecimento reverente do mistério de Deus Pai, Filho e Espírito Santo revela a nossa condição de pecadores e nossa verdadeira identidade de filhos criados à Sua imagem e semelhança. Nascer de novo significa construir nossa identidade não naquilo que temos ou fazemos, mas naquilo que somos em Cristo. Diante do olhar misericordioso de Deus, podemos reconhecer a verdade sobre nos mesmos: tanto a luz quanto a sombra. “O fato de sermos conhecidos e amados como somos nos liberta de ter que ser alguém e algo que não somos” 3. Encarar a realidade desmonta nossa auto-imagem idealizada ou obscurecida e nossas projeções, que nos levam a acusar o outro do mal que negamos em nós. A releitura da nossa história na perspectiva da Graça nos permite entender o nosso caminho e sarar as marcas do passado, transformando-nos de agressores em terapeutas. Paralelamente, somos convidados a escolher a vida e desenvolver o potencial de dons e talentos que Deus nos confiou. A espiritualidade é autêntica se ela nos torna pessoas cada vez mais amorosas e mais voltadas para os outros com humildade, empatia e generosidade. A essência do Imago Dei reside na capacidade de amar, de se relacionar. A espiritualidade cristã diz respeito a este processo contínuo de transformação do caráter: a santificação, que resulta em serviço e engajamento maduro no mundo em que vivemos. Em 1994, Osmar Ludovico nos lembrava que “a verdadeira espiritualidade reside na santidade do gesto simples do quotidiano. Em Jesus Cristo, não há megalomania, grandiosidade, extravagância, há a simplicidade do gesto humano, há ternura e firmeza... a verdadeira vida cristã não significa sermos mais espirituais, mas sim mais humanos” 4. 1 Keating, Thomas. Open mind, open heart. Rockport USA: Element Inc., 1986, p.5 e 6. Carvalho, Esly Regina. Saúde emocional e vida cristã; curando as feridas do coração. Viçosa: Ultimato, 2002, p.11 e 13. 3 Seamands, David. O poder curador da graça. São Paulo: Editora Vida, 1990, p.158. 4 Ludovico da Silva, Osmar. Introdução à espiritualidade cristã: uma teologia do afeto, em A igreja evangélica na virada do milênio. Brasília: Comunicarte, 1995, p.157. 2 Ficar em silêncio, prestar atenção, estar alerta e presente diante de Deus, saborear a Palavra, nos permite discernir a ternura com a qual Deus nos ama. A experiência da Graça nos encoraja a reconhecer nossos medos, esconderijos, fantasias persecutórias ou onipotentes, nossa mentalidade de escravos. É a bondade de Deus que nos conduz à metanoia (Romanos 2:4). Ela nos ajuda a enfrentar as ambigüidades do nosso caráter, nossa instabilidade emocional, nosso narcisismo, nossa busca de reconhecimento e sucesso através de bens e do desempenho. Ela nos cura do isolamento, da rejeição, do desamor, do desencontro. A qualidade da nossa relação conosco e com o próximo depende da qualidade do nosso vínculo com Deus no secreto do nosso coração e isto só depende de nós, visto que Deus está sempre disposto a nos acolher. Nada pode nos separa do seu amor, a não ser nós mesmos. 1. DA SOLIDÃO À SOLITUDE E DA SOLITUDE À SOLIDARIEDADE A Palavra nos lembra que este mundo “jaz no maligno” (1 João 5:19). Afastados de Deus, os homens construíram uma sociedade perversa que está em crise: crise econômica com recessão e desemprego, crise moral cujos sintomas principais são a corrupção e a violência, crise familiar que gera desencontros e separações. Além destas crises culturais, somos também afligidos por crises decorrentes do nosso processo de desenvolvimento: adolescência, crise de meia-idade, crise do ninho vazio... Neste contexto, somos tentados a lançar mão do famoso "Salve-se quem puder" ou "Cada um por si". A principal conseqüência desta atitude é a solidão: uma sensação de abandono e incompreensão que se transforma em desânimo, tristeza e mesmo angustia. O futuro parece sombrio. Não se enxerga nenhuma luz no fim do túnel. O mundo se tornou um ambiente hostil e ameaçador e não podemos contar com ninguém para enfrentá-lo. No entanto, a crise pode se tornar uma alavanca para o nosso amadurecimento. Aliás, o diagrama chinês para crise é formado de duas figuras, como as faces de uma mesma moeda: perigo e oportunidade. Existe, de fato, o perigo do desespero que nos leva a retroceder numa atitude defensiva, agressiva ou de autosabotagem que pode até conduzir ao suicídio. Mas existe igualmente a oportunidade de sair do nosso comodismo para descobrir caminhos novos e refazer o nosso projeto de vida. O ser humano é um ser solitário na medida em que os momentos mais significativos de sua vida, como o nascimento e a morte, por exemplo, deverão ser enfrentados individualmente. Neste sentido, é importante que cada um saiba encontrar dentro de si, á partir da intimidade com Deus, os recursos para lidar com estas situações de forma a transformar o seu isolamento ou solidão em recolhimento e reabastecimento. É o teste da nossa fé. O psiquiatra argentino Carlos Hernandez aponta quatro estágios na nossa caminhada com Deus. O primeiro é o chamado e o paradigma é Abraão. Ouço Deus me chamar pelo meu nome. Percebo que Deus não é apenas uma energia, mas é pessoal. Rendo-me ao abraço do Pai através do sacrifício de Cristo e da revelação do Espírito. A segunda etapa é a missão e o paradigma é Moisés. Deus me vocaciona para servi-lo. O terceiro estágio é o deserto e o paradigma é Jó. Nesta hora, minha fé não pode se apoiar em nenhuma circunstância favorável. Na solidão, eu preciso lidar com o sentimento de abandono e encontrar Deus no silêncio. O silêncio revela a minha realidade interior. Deus lança luz nas minhas trevas. Meus ídolos são quebrados. Deus não é mais uma projeção de meus desejos muitas vezes onipotentes. É a hora da entrega incondicional. Á partir desta submissão à soberania de Deus, alcanço o último estágio de uma fé encarnada cujo paradigma é Maria. Dizer “sim” a Deus significa entregar até o meu útero. Assim posso ser fertilizada e gerar “as boas obras que Deus de antemão preparou”(Efésios 2:10). O terceiro estágio é o mais delicado. No seu livro “Decepcionado com Deus”, Philip Yancey pontua os questionamentos que nos assaltam em momentos de provação e angustia. Diante do silêncio de Deus, de orações não respondidas, de sofrimentos injustos, podemos acumular pequenos desapontamentos ou entrar numa crise aguda. Negar as nossas emoções para preservar a imagem de Deus, ou negar a existência de Deus são dois atalhos a evitar. Na primeira via, ao inibir a nossa raiva, estaremos adoecendo através do mecanismo bem conhecido de somatização. O segundo caminho leva ao desespero, ou como escreveu Camus, à «náusea». A forma como Deus nos é apresentado contribui para a imagem que construímos. Muitas decepções dizem respeito à expectativas irreais geradas por um evangelho distorcido que apresenta Deus como o papai Noel ou o gênio da lâmpada: «Venha para Deus que ele vai te abençoar». A teologia da prosperidade coloca Deus a serviço do homem. Achamos, assim, que se Deus é amor ele deve nos paparicar e nos poupar do sofrimento. Mas a morte de Jesus na cruz mostra que, para Deus, amar significou estar disposto a sofrer. Assim, nosso contrato inicial com Deus precisa ser alterado para chegar à uma aliança fundamentada na Graça, na qual Deus já cumpriu a sua parte e nossa parte é apenas reconhecer a sua bondade e soberania, mesmo que a vida nos reserve aflições. Deus se declara apaixonado pelo homem e prova o seu amor. A fé é a melhor maneira de expressarmos nosso amor por ele. No Antigo testamento, a Bíblia atesta que Deus forneceu sinais em abundância, mas nem por isto os israelitas se mostraram mais fieis. Assim, Philip Yancey conclui que «os sinais só conseguem nos tornar viciados em sinais, não em Deus»5. Depois Deus mandou seus profetas que também não foram ouvidos. Na verdade, Deus tem mais motivos para estar decepcionado conosco que nos com ele. Ele, em Oséias, se compara a um marido traído. Mesmo assim continuou retendo a sua ira, perdoando e buscando o ser humano. Sua presença gloriosa é tão ameaçadora para nós, que ele se esvaziou e se encarnou numa manjedoura para nos reconquistar. Ele é um rei que não deseja a sujeição ao seu poder, mas a entrega ao seu amor. A judeus que nem pronunciavam o nome de Deus, Jesus ensinou uma nova maneira de dirigir-se a Deus: Abba, paizinho. Ele ainda nos confiou a missão de ser o seu corpo na terra e nos capacitou através do Espírito Santo. Ele, assim, se limitou novamente através de nós: um Deus perfeito vive agora dentro de seres humanos bem imperfeitos e o mundo julga Deus por aqueles que levam o seu nome. Por isto, uma segunda fonte de decepção é a imagem distorcida que transmitimos de Deus através de nossas vidas. Jó não tem medo de ser honesto com Deus e expressar sua perplexidade, sua raiva, sua indignação, sua revolta. Suas tribulações representam o teste crucial da liberdade humana. Despojado de tudo, exceto sua liberdade, ele a exercitou para reafirmar sua fé num Deus que não podia ver, nem compreender. De fato, a vida é injusta. No entanto, somos chamados a desenvolver uma fé que não depende das circunstâncias nem dos benefícios de Deus, mas de um relacionamento afetivo que nos livra do desespero. A questão não é fugir do sofrimento, mas encontrar Deus no meio do sofrimento de forma que, uma vez consolados, esta experiência se torne uma alavanca para o nosso amadurecimento. Assim,“nossa esperança não está mais baseada em alguma coisa que acontecerá depois de terminados os nossos sofrimentos, 5 Yancey, Philip. Decepcionado com Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 1997, p.45. mas na presença real do Espírito curador de Deus em meio a esses sofrimentos”6. A cruz expôs toda a violência e injustiça deste mundo. Somente o abraço permanente de Deus pode transformar nossa dor em alegria. A experiência de Jó nos reafirma que jamais somos abandonados, não importa quão distante Deus pareça estar. Este discernimento leva Jó a se arrepender de sua revolta antes de receber em dobro tudo o que tinha perdido. Nossa alternativa para a decepção com Deus parece ser a decepção sem Deus. Não existe vida humana sem sofrimento. Podemos escolher sofrer ao lado de Deus, confiando na sua soberania e vitória sobre o mal, ou sofrer sem Deus numa agonia inútil e desesperadora. Em Deus, podemos acolher o sofrimento sabendo que o mal já não tem a última palavra e que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que O amam. Deus não deseja o mal, mas não nos livra sempre do mal. No entanto, ele reverte o mal em bem na vida daqueles que confiam nele. Assim podemos entrar em contato com a nossa dor, expressá-la e confessar inclusive nossas dúvidas, questionamentos e revoltas, pois Deus acolhe aqueles que são sinceros e os conforta. Porém, não nos cabe determinar de que forma Deus deve agir, apenas nos abrir e nos deixar surpreender pela expressão da sua graça. Esta graça pode nos atingir através de uma pessoa que nos oferece um ouvido atento, um olhar compassivo, um ombro aconchegante e nos encoraja a olhar de frente para as múltiplas emoções que nos invadem de modo a escolher vivê-las amparadas no seu amor. Somente pessoas que sobreviveram à crise de fé e saíram vitoriosas podem ajudar outros a atravessar este deserto. Reafirmar a bondade de Deus sem ignorar nossa realidade objetiva e emocional requer muita maturidade. A maioria é tentada a negar sua própria verdade ou negar o amor de Deus. Ou projetamos em Deus as nossas angustias e concluímos que Ele nos abandonou, ou procuramos abafar a nossa dor, colocando uma máscara e fingindo que está tudo bem. Seguindo o exemplo de Bonhoeffer, somos chamados a assumir nossa verdade sem deixar de reconhecer que Deus a transcende. Assim, podemos orar com ele o fez no campo de concentração, em 1943: Dentro de mim há trevas, Mas contigo está a luz; Eu me sinto solitário, Mas tu não me desamparas; Estou desanimado, Em Ti, porém, está o meu auxílio; Invade-me uma inquietude, Tu, entretanto, és a paz; Sinto-me tão amargurado, Mas contigo está a paciência... O silêncio e a solidão não são um fim em si mesmo, mas um meio para chegar mais perto de Deus e de nos. “Precisamos de disciplina para entrar em nós e ouvir, sobretudo quando o medo faz tanto barulho que nos empurra constantemente fora de nós mesmos. Se converter significa voltar para a casa, procurar nosso lar lá onde o Senhor edificou sua morada, na intimidade do nosso próprio coração” 7. Silenciamos para ouvir com o coração. Ouvir Deus nos chamar pelo nome e nos deixar abraçar como o filho pródigo voltando para a casa. Ouvir nossos muitos ruídos interiores e entregá-los um a um aos cuidados de Deus. Aguardar, em silêncio, a revelação do mistério de Deus 6 7 Nouwen, Henri. Renovando todas as coisas. São Paulo: Cultrix, 1981, p.52. Nouwen, Henri. Signes de vie. Bellarmin, 1997. e a sua direção. O silencio interior é a terra mais fértil para o amor divino criar raízes. O silêncio desmascara o nosso falso eu e revela nossa verdadeira identidade. “A solidão é o lugar da grande luta e do grande encontro – a luta contra as compulsões do falso eu e o encontro com o Deus zeloso que se oferece como substância da nova individualidade. É o lugar de conversão, onde o velho eu morre e o novo eu nasce... onde sou só eu – nu, vulnerável, fraco, pecador, carente, desalentado -, sem nada” 8. Ali, Cristo nos remodela à Sua imagem e nos liberta das enganosas compulsões do mundo. É no silêncio interior que podemos ouvir Deus perguntando: “Quem é você?” e “Onde você está?” Responder a estas duas perguntas é crucial para o nosso crescimento. Convertemos a solidão em recolhimento quando, em vez de fugir dela, a protegemos e transformamos em gestação frutífera. Ela se torna um início, em vez de um beco sem saída, um lugar de encontro em vez de um abismo. Ao escutar com muita atenção o nosso coração, “podemos começar a sentir que no meio da nossa tristeza existe alegria, que no meio dos nossos medos existe paz... no meio da nossa difícil solidão o início de um recolhimento sereno” 9. Cada pessoa é única. Não existe, nunca existiu e nunca existirá alguém igual a você. Por isto, somente você pode descobrir o potencial extraordinário que Deus te deu. Eis aqui um convite para explorar apaixonadamente este seu espaço interior, ir ao encontro de você e estender a mão para esta pessoa especial que é você. A crise irá se tornar uma fase de gestação, uma oportunidade de autodescoberta e crescimento, se você se dispuser a lançar um olhar acolhedor sobre você, se souber escutar as vozes que ressoam dentro de você, os rumores de medos, frustrações, expectativas, anseios que você trancou no porão de sua alma e que reclamam sua atenção. Você pode fugir deles através do ativismo, abafando estes seus anseios e se tornando um robô porque perdeu o contato com o seu coração. Esta atitude autodestrutiva é infelizmente uma opção freqüente que transforma indivíduos em fantoches facilmente manipulados pelos meios de comunicação que sustentam nossa sociedade de consumo. O ativismo nos impede de ter calma e sossego para avaliar se vale a pena pensar, dizer ou fazer as coisas que pensamos, dizemos ou fazemos. Nossa necessidade de afirmação contínua e crescente nos leva à compulsão por mais trabalho, mais dinheiro, mais relacionamentos. “Quando nos sentimos sós e procuramos alguém para evitar a solidão, depressa experimentamos a desilusão. O outro que, durante algum tempo, talvez tenha sido ocasião de uma experiência de totalidade e paz interior, bem depressa se revela incapaz de nos dar a felicidade duradoura e, em vez de eliminar a nossa solidão, acaba apenas por nos confiar a sua profundidade. Quanto mais forte for a nossa expectativa de que um outro ser humano preencha os nossos mais profundos desejos, maior será o sofrimento quando tivermos que nos confrontar com os limites do relacionamento humano. E a nossa necessidade de intimidade depressa se torna em exigência. Mas, logo que começamos a exigir amor de uma outra pessoa, o amor converte-se em violência” 10. O caminho que gera amadurecimento é mais árduo. Você precisa ter a coragem de reconhecer seus próprios limites e encarar seus próprios fantasmas. Ao olhar dentro de você, você irá descobrir não somente tesouros escondidos, mas também algumas experiências frustradas e alguns desejos abortados. Será necessário abraçar esta criança frágil e medrosa que você traiu e abandonou no seu processo de crescimento para vestir a máscara de um adulto forte e decidido. Sua história poderá revelar aspectos novos até então negligenciados que irão traçar novos contornos no seu horizonte. Mas o novo é ameaçador e preferimos a mesmice de hábitos e esquemas estereotipados ao 8 Nouwen, Henri. A espiritualidade do deserto e o ministério contemporâneo, o caminho do coração. São Paulo: Ed. Loyola, 2000,p.23 e 24. 9 Nouwen, Henri. Crescer: os três movimentos da vida espiritual. Lisboa: Ed. Paulinas, 2001, p.39. 10 Nouwen, Henri. Mosaicos do presente. São Paulo: Ed. Paulinas, 1998, p.122. invés de nos aventurar em picadas ainda não exploradas. Este processo de autodescoberta pode ser regado com lágrimas porque irá permitir um contato com nossa dor em vez de negá-la, mas estas lágrimas são fecundadoras de restauração, são um bálsamo que gera cura e libertação. Após este reencontro com o nossa unicidade, este acolhimento da nossa inteireza, somos capacitados para ir ao encontro do outro e experimentar uma solidariedade genuína com ele nas suas dores e alegrias. O outro não é mais um meio de fugir da solidão, mas uma pessoa igualmente única, parceira e companheira de caminhada. Não é a toa que Jesus convida a "amar o outro como a si mesmo". Só podemos aceitar, respeitar, ouvir, acolher, consolar o outro se formos capazes de aceitar, respeitar, ouvir, acolher, consolar a nos mesmos. A prática da espiritualidade nos torna receptivos ao amor de Deus. Neste processo nossa solidão estéril se transforma em solitude e autodescoberta que nos impulsionam a sair ao encontro de outro para ser solidário com ele.