Artigo para a revista de Mission Prokur (Alemanha)
A Itinerância da Equipe Itinerante 1998-2010:
Itinerando pelas fronteiras amazônicas
Wesley Ferreira (leigo SARES), [email protected]
Waldilene Xavier Pinto (FCIN), [email protected]
Fernando López (SJ BAM), [email protected]
Arizete Miranda (CSA), [email protected]
A Equipe Itinerante nasceu em 1998, como iniciativa dos jesuítas do Brasil que trabalham na
Amazônia (BAM). A BAM tem uma extensão geográfica de 5,3 milhões de Km2 no coração da
Amazônia, com uma população em torno a 10 milhões, com uns 150 povos indígenas com línguas
diferentes e uma infinidade de comunidades ribeirinhas espalhadas pela maior rede fluvial do
mundo que é a Amazônia.
Atualmente a equipe itinerante está formada por 18 pessoas (13 mulheres e 5 homens) de 13
instituições. Os membros estão distribuídos em 3 núcleos: Núcleo em Manaus (1998), capital do
estado do Amazonas; Núcleo em Tabatinga – AM (2004), na tríplice fronteira de Brasil-PeruColômbia; Núcleo em Boa Vista – RR (2008), tríplice fronteira de Brasil-Venezuela-Guiana.
Três perguntas fundamentais orientaram nossa caminhada desde os inícios:
1. Com quem Deus nos convida a complicar nossa vida e missão aqui na Amazônia?
A Equipe Itinerante surge na escuta dos clamores dos povos da Amazônia. Vai ao encontro,
tentando apreender, despertar, incentivar e apoiar pessoas, projetos e iniciativas no mundo
Ribeirinho, Indígena e dos Marginalizados Urbanos. Com eles busca descobrir seus projetos
políticos de vida, respostas aos seus problemas, para potencializá-los e dá-los a conhecer como
propostas sustentáveis de vida.
Estes três sujeitos históricos estão interligados na Amazônia. Tanto por sua conformação histórica,
como pela forte marginalização social à que são forçados viver. Os ribeirinhos, por exemplo, são
fruto do encontro, muitas vezes conflitivo e violento, entre os indígenas da região e os imigrantes
nordestino do ciclo da borracha trazidos para a amazônia nos finais do séc. XIX e primeira metade
do XX. Por outro lado, tanto ribeirinhos como indígenas foram “empurrados” para a cidade pelo
descaso e abandono das políticas publicas no interior, assim como também pelo modelo de
desenvolvimento que concentra todos os esforços nas grandes cidades da Amazônia. O resultado é o
êxodo rural e o esvaziamento do interior.
Muitos analistas confirmam que esta política e o modelo de desenvolvimento é imposto sutilmente
pelo grande capital das empresas (nacionais e trans-nacionais). Elas querem esvaziar todo o interior
amazônico para poder explorar, “livre e alegremente”, sem conflitos sociais, os recursos naturais do
riquíssimo bioma amazônico (20% da água doce e 50% da biodiversidade do planeta). Contra esta
política e modelo de desenvolvimento tentamos aportar nosso pequeno grão de areia, buscando e
propondo alternativas junto aos povos tradicionais da região.
2. Onde estão os mais empobrecidos, excluídos e diferentes da Amazônia?
Eles estão nas “fronteiras” da Pan-Amazônia. As fronteiras são prioridades da nossa missão nesta
região. As “fronteiras” entendidas no nível geográfico e simbólico.
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A nível geográfico são prioridades as tríplices fronteiras Amazônicas. Estrategicamente procuramos
inserir pequenos núcleos da equipe, compostos com pessoas e instituições dos países fronteiriços,
para ajudar a tecer uma ação mais integrada e conjunta na pan-amazônia.
No nível simbólico entendemos as fronteiras como aquelas realidades e situações onde as feridas
sócio-ambientais estão mais abertas, a vida mais ameaçada, os direitos humanos desrespeitados e a
mãe-terra mais devastada e agredida nesta pan-amazônia.
3. Como chegar nas “fronteiras”, geográficas e simbólicas, onde as feridas estão mais abertas?
A itinerância e a interinstitucionalidade na missão são dois componentes principais que facilitam
chegar como equipe nas “fronteiras”. Onde nos pedem este serviço porque não há outros que
possam chegar.
A equipe vai ao encontro do povo em suas casas, povoados, aldeias, onde a vida cotidiana se
desenrola, onde ela está mais ameaçada. Procura tecer redes entre famílias, grupos, comunidades,
instituições, etc. Tenta prestar mais o serviço do fio costurando os nós da malhadeira, da rede, para
poder pescar juntos. Procura fortalecer as relações e as articulações, somar para chegar juntos onde
sozinhos não podemos. Busca “empoderar” as organizações locais e apoiar suas lutas, somando e
tecendo com distintos aliados para que suas lutas sejam também “nossas lutas”.
Na nossa prática é fundamental o intercâmbio e a avaliação das experiências para chegar a uma
ação mais conjunta. A Equipe Itinerante presta o serviço do “semeador” de “pequenas sementes” de
vida que se enterram até serem fecundadas pela mãe-terra e germinarem em plantas novas. A equipe
tenta ser pequenos grãos de “fermento” neste chão amazônico. Ajudar a “fermentar”, no caminhar
com estes povos, seus projetos de vida.
Alguns pontos metodológicos que orientam nossa prática
a. Caminhar ao ritmo da canoa: nem na frente nem atrás, mas ao lado do povo. Ir ao encontro dos
mais empobrecidos, sofredores, abandonados e culturalmente diferentes.
b. Conhecer a vida cotidiana das pessoas, com visitas periódicas, aprendendo delas a melhor
maneira de servi-las. Ser presença solidária, compartilhando as lutas, sofrimentos, esperanças e
iniciativas de organização e resistência popular.
c. Fortalecer e tecer redes solidárias entre comunidades, povos, organizações, igrejas, instituições
e países da pan-amazônia. Por exemplo, nas regiões de fronteira amazônica, a equipe tenta
prestar o serviço de ser linha e agulha que costuram ambos os lados.
d. Contribuir com assessorias específicas e formação nas comunidades, organizações sociais,
movimentos, etc. Aprofundar os estudos referentes ao contexto sócio-cultural, políticoeconômico da região onde a Equipe desenvolve sua atuação. Procurando manter uma análise de
conjuntura crítica e atualizada. Ajudar a compreender as lógicas externas e a construir respostas
internas. Apoiando assim as organizações locais.
e. Documentar, denunciar e articular ações junto às instituições competentes para a defesa dos
direitos e da justiça sócio-ambientais da região amazônica.
f. Procura sistematizar os conhecimentos e a sabedoria dos povos amazônicos. Contribuindo com
registros sistematizados da memória histórica, relatórios e teorizações a partir dos trabalhos
realizados na região.
g. Apoiar e incentivar relações de vida comunitária na partilha da Fé, nas celebrações, nas lutas.
Recriar novas relações de gênero buscando igualdade de participação de decisão e direitos.
Celebrar fé, vida e missão na busca de uma maior inculturação, no diálogo inter-cultural e
inter-religioso.
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Como perspectiva estamos amadurecendo a abertura do quarto núcleo da Equipe Itinerante na
tríplice fronteira amazônica Brasil-Bolivia-Peru. Para isto necessitamos que novas pessoas se
somem e que as instituições continuem apoiando com seriedade esta iniciativa nova que exige risco
e firmeza, perseverança e criatividade.
Como jesuítas da região amazônica, a Equipe Itinerante tem sido a ponta de flecha que foi abrindo
os caminhos da pan-amazônia. Atualmente somos uns 100 jesuítas que estão dentro do biomaamazônico que pertencem a umas 10 províncias que conformam a região amazônica. Pouco a pouco
vamos despertando a consciência da importância da Pan-Amazônia. Na verdade, ela já constituiu
numa prioridade para a Conferência dos Provinciais da América Latina (CPAL) por sua importância
geopolítica estratégica, para o equilíbrio sistêmico do planeta e o futuro de toda a humanidade. A
grande questão é como dar uma maior unidade na nossa missão na pan-amazônia somando com os
outros?
Acreditamos que juntando esforços interinstitucionais podemos chegar onde sozinho ninguém pode.
Na atual crise sócio-ambiental que vivemos, somar hoje com os povos da Amazônia é somar com o
futuro da própria humanidade e do planeta... Pois todos necessitamos somar nossos esforços, para
que, como dizem nossos irmãos indígenas:
“Nossos filhos e os filhos de nossos filhos, possam continuar bailando a dança da vida sobre a
mamãe terra!”
Continuamos contando com vocês, para itinerarmos além fronteiras! Muito obrigado.
Ver anexos na seguinte pagina:
1. Membros da Equipe Itinerante.
2. Mapa da localização dos núcleos da Equipe Itinerante e perspeciva.
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1. Membros atuais da Equipe Itinerante (na foto faltam 6 membros):
2. Mapa da equipe itinerante e seus núcleos.
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2010-05-03 A Itinerancia da EI pelas Frontieras da Amazonia 1998