14ª Assembleia Arquidiocesana de Pastoral Texto Provocativo Com a vigência do Plano de Ação Pastoral Arquidiocesano (2011-2015), chegando ao seu término, estamos em processo de preparação de uma nova Assembleia Arquidiocesana de Pastoral, vislumbrando, a partir das palavras do Bispo de Roma, um novo horizonte. Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium [EG] (A Alegria do Evangelho), ele nos convida a uma nova etapa evangelizadora, marcada pela alegria do Evangelho que enche o coração e a vida de quem se encontra com Jesus; o Papa Francisco nos dá uma orientação programática esperando, “que todas as comunidades se esforcem por atuar os meios necessários para avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão”. (EG, 25) O Papa nos aponta qual deve ser o perfil desta Igreja inserida numa sociedade extremamente secularizada, individualista e consumista. Ele pede uma Igreja “em saída”; uma Igreja missionária e descentrada (EG, 20, 27); uma Igreja configurada colegialmente (EG, 26, 32, 16); uma Igreja inculturada (EG, 115, 116); uma Igreja de discípulos missionários (verdadeiros sujeitos eclesiais, ativos na Igreja: Documento de Aparecida [DAp], 497a, 213; EG, 120); uma Igreja que testemunhe na vida a sua fé em Jesus Cristo (EG, 266) e por fim uma Igreja dos pobres (DAp, 397; EG, 198). Esse programa do Papa ilumina e orienta o nosso processo de preparação para a Assembleia Pastoral; igualmente as cinco urgências da Igreja no Brasil devem nos ajudar neste processo: Igreja: em estado permanente de missão; Igreja: casa de iniciação à vida cristã; Igreja: lugar de animação bíblica da vida e da pastoral; Igreja: comunidade de comunidades; Igreja a serviço da vida plena para todos (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil Documento 94 da CNBB [DGAE]). No início de nosso processo de Assembleia, precisamos olhar para nossa realidade eclesial. Mas com que olhos? Como ver a realidade? O Papa Francisco, lembrando o Documento de Aparecida, nos oferece um critério diante do excesso de diagnósticos de que nos servimos com o pretexto de compreender a realidade: “A tentação se encontraria em optar por um „ver‟ totalmente asséptico, um „ver‟ neutro, o que não é viável. O ver é sempre influenciado pelo olhar. Não há uma hermenêutica asséptica. Então a pergunta era: Com que olhar vamos ver a realidade? Aparecida respondeu: Com o olhar de discípulo. Assim se entendem os números 20 a 32.” (Pronunciamentos do Papa Francisco no Brasil, Paulus/Loyola, 2013, p. 74). Assim, o olhar do Discípulo Missionário deve nos guiar nesse processo de reflexão da nossa Assembleia. Muito nos ajudará neste olhar o DAp 98-100; igualmente as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil - 2011-2015, que trazem as marcas de nosso tempo, nos números 17-24. É a partir desses elementos (apresentados pelo Papa, pelo DAp e pelas DGAE) que todos nós somos chamados a olhar a nossa Igreja Particular de Ribeirão Preto, que tem como projeto de missão permanente, o projeto Ser Igreja em Missão (SIM), ele é como que o “fio condutor, o toque missionário para a nossa Igreja Particular”, como muito bem afirmou o padre Alfeu Piso nas Capacitações Missionárias 2014. O projeto já se desenvolveu em várias fases; agora é um momento novo e temos elementos também novos para enriquecê-lo; ele já orienta a nossa caminhada na perspectiva de missão permanente, impulsionando “ir ao encontro das pessoas onde elas se encontram”, na direção da Igreja sonhada pelo Papa Francisco (EG, 27). As Capacitações Missionárias trabalharam os Conselhos de Pastoral (Conselho de Pastoral Paroquial – CPP / Conselho de Leigos da Forania e o Conselho Arquidiocesano de Pastoral - CAP), pois a Igreja vê, neles, um instrumento imprescindível para a caminhada de uma comunidade eclesial, comunidade que parte de um modelo de Igreja de Comunhão Ministerial. Aqui, vale lembrar um questionamento do Papa Francisco aos Bispos da Comissão de Coordenação do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), no dia 28/07/13, no Rio de Janeiro: “Temos como critério habitual o discernimento pastoral, servindo-nos dos Conselhos? Os Conselhos paroquiais de Pastoral e de Assuntos Econômicos são espaços reais para participação laical na consulta, organização e planejamento pastoral. O bom funcionamento dos Conselhos é determinante. Acho que estamos muito atrasados nisso”. Assim, é preciso existir uma profunda comunhão e colaboração entre os ministros ordenados e os leigos. Buscando superar o clericalismo e incentivar a possibilidade de uma participação efetiva dos leigos e das leigas, não descuidando de lhes oferecer uma adequada formação. Se, de um lado, temos leigos, que apesar dos desafios, do cansaço, da indiferença (tentações presente na cultura urbana), ainda se disponibilizam para ser membros ativos de nossas comunidades, por outro encontramos, em alguns membros do clero, os mesmos sinais, já que alguns padres constantemente se fazem ausentes, seja das reuniões pastorais, das formações e até mesmo de celebrações. O Papa nos alerta sobre essa „acédia egoísta‟: “Quando mais precisamos dum dinamismo missionário que leve sal e luz ao mundo, muitos leigos temem que alguém os convide a realizar alguma tarefa apostólica e procuram fugir de qualquer compromisso que lhes possa roubar o tempo livre. Hoje, por exemplo, tornou-se muito difícil nas paróquias conseguir catequistas que estejam preparados e perseverem no seu dever por vários anos. Mas algo parecido acontece com os sacerdotes que se preocupam obsessivamente com o seu tempo pessoal. “Isto, muitas vezes, fica-se a dever a que as pessoas sentem imperiosamente necessidade de preservar os seus espaços de autonomia, como se uma tarefa de evangelização fosse um veneno perigoso e não uma resposta alegre ao amor de Deus que nos convoca para a missão e nos torna completos e fecundos. Alguns resistem a provar até ao fundo o gosto da missão e acabam mergulhados numa acédia paralisadora.” (EG, 81). É diante do desafio da nova evangelização, vivido pela Igreja de Jesus Cristo, que queremos que todos – bispo, sacerdotes, diáconos permanentes, religiosos e religiosas, e leigos e leigas – possamos, unidos, trabalhar para a edificação do Reino de Deus. A promessa salvadora de Jesus Cristo continua sendo, para todos, a mesma, pois, todos, como batizados que somos, recebemos a missão e, como tal, não podemos deixar de lado a seiva missionária que dá vigor à Igreja. Isso pede a todos e a cada um de nós uma conversão pastoral e missionária. Assim sendo, o primeiro passo para que haja uma conversão pastoral, é a conversão pessoal que brota do encontro pessoal com Cristo, que transforma a nossa vida, que nos abre caminhos para enfrentar as nossas dificuldades pessoais e comunitárias. Diante desse processo de reflexão, será necessário que as comunidades retomem as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 20112015 (Doc. 94 da CNBB), para que ajudem a refletir acerca das diretrizes que deverão iluminar a nossa caminhada arquidiocesana, nas foranias e nas paróquias. Essas Diretrizes nos apresentam as cinco urgências da ação evangelizadora (capítulo III) e as perspectivas de ação (capítulo IV). Escutando o apelo que nos vem desde a V Conferência dos bispos latinoamericanos e caribenhos em Aparecida (DAp 2007), para uma conversão pastoral, apelo reforçado pelo Papa Francisco, com a consideração de que a renovação eclesial é inadiável (EG, 27-33), faz-se preciso repensar a paróquia e suas estruturas. Depois de uma longa caminhada e acolhendo muitas contribuições, os Bispos do Brasil oferecem um rico instrumento, alvo de estudo do nosso clero, nos dias 10 e 11/09/14, e que também será um dos textos-base de orientação de nossa Assembleia Pastoral: “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia – A conversão pastoral da paróquia”, Doc. 100 da CNBB. Desse texto, lemos: [...] a conversão pastoral da paróquia consiste em ampliar a formação de pequenas comunidades de discípulos missionários convertidos pela Palavra de Deus e conscientes da urgência de viver em estado permanente de missão. Isso implica revisar a atuação dos ministros ordenados, consagrados e leigos, superando a acomodação e o desânimo. O discípulo de Jesus Cristo percebe que a urgência da missão supõe desinstalar-se e ir ao encontro dos irmãos. (Doc. 100, 8). Temos uma grande tarefa pela frente e não podemos nos deixar desanimar com o cômodo critério pastoral de “fez-se sempre assim”, como nos recorda o Papa Francisco; mas, pelo contrário, “não nos deixemos roubar o entusiasmo missionário!” (EG, 80): até porque a consciência da necessidade de mudança se constrói sobre a experiência de que, ainda que “fez-se sempre assim”, nos cabe um posicionamento responsável e crítico, para que a não repetição de padrões pastorais não condizentes com os sinais dos nossos tempos sejam postos em prática, mas, sim para que a luz do Evangelho nos impulsione na luta por respostas que, aliadas à Palavra de Cristo, acolham os homens e as mulheres de hoje em seus anseios, em sua singularidade. Com isso, nos colocamos atentos às palavras-chaves do Papa Francisco: por uma Igreja “em saída” que tem portas abertas, que chegue às periferias humanas, que não seja isolada e auto-referencial; que seja misericordiosa, mãe de todos, com todos os seus membros facilitadores da graça e não controladores, pois, como ontem, os pobres são, hoje e sempre, os destinatários do Evangelho. Com essa provocação queremos que cada comunidade possa realizar momentos de estudo, de reflexão e de avaliação da caminhada, de uma maneira livre e tranquila, possibilitando momentos de ampla participação, para que, claramente, coloquemos com sinceridade as angústias e alegrias, identifiquemos as sombras e as luzes, as urgências e as perspectivas para a nossa caminhada eclesial. Assim, após as assembleias nas paróquias e nas foranias, poderemos elaborar as diretrizes que nos orientarão para um novo Plano Arquidiocesano de Pastoral. Que todos e cada um sintam-se corresponsáveis nessa caminhada; e que juntos possamos realizar a nossa conversão pessoal e pastoral, para que, no encontro com o Ressuscitado, renove-se em nós a alegria de ser cristão e para que a nossa Igreja possa ser casa e escola de comunhão, de acolhida, de oração e de caridade generosa; uma Igreja “em saída” e missionária. Que Maria, Mãe da Igreja evangelizadora e nossa Mãe, nos acompanhe com sua materna intercessão! 11 de setembro de 2014 Dom Moacir Silva Arcebispo Metropolitano Comissão Especial para a 14ª Assembleia Arquidiocesana de Pastoral