Março/Abril/Maio de 2014 - Ano XX - N° 96 Associação de Ginecologia e Obstetrícia do DF REGRAS PARA PUBLICAÇÃO DE MATÉRIA NA REVISTA A SGOB publica, a cada exemplar de sua revista, uma matéria (protocolo atualizado ou artigo comentado) na área de obstetrícia e outra na de ginecologia. Temos 10 revistas para produzir nos próximos dois anos. Oferecemos esse espaço para os associados publicarem assuntos de interesse geral, obedecendo às regras abaixo para publicação. 1. Nenhuma imagem: O texto deve ter até 6.400 caracteres, contando com espaços. 2. Com 1 imagem: O texto deve ter até 5.800 caracteres, contando com espaços. 3. Com 2 imagens: O texto deve ter até 5.100 caracteres, contando com espaços. As imagens devem ter, no mínimo, 8,5 cm X 5,6 cm, com alta resolução (300 DPIs), em formato jpg. Pode haver legenda quando o assunto não for identificado no texto. O protocolo deve, obrigatoriamente, ter título, resumo e identificação do autor, como o cargo, a especialidade e os principais títulos. A fonte (letra) deve ser Times New Toman e o tamanho da fonte é 12. O espaçamento entre as frases e parágrafos deve ser de 1,5 cm. Solicitamos o envio da matéria para um dos e-mails da SGOB ([email protected] ou [email protected]). Os mesmos serão publicados após análise do corpo editorial e seguindo ordem de recebimento. Alysson Zonatta Diretor de Comunicação e Divulgação da SGOB [email protected] 47º Congresso de Ginecologia e Obstetrícia do Distrito Federal Procedimentos minimamente invasivos: quando, como e por quê? 13 a 15 de agosto de 2014 – Centro de Convenções Ulysses Guimarães PROFESSORES INTERNACIONAIS CONFIRMADOS DR. ALFREDO CELIS LÓPES - PERU Doutor em Medicina. Professor associado da Faculdade de Medicina da Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Lima - Peru. Presidente da Sociedade Peruana de Obstetrícia e Ginecologia. DR. EDUARD GRATACÓS – ESPANHA (VÍDEOCONFERÊNCIA) Professor de Obstetrícia e Ginecologia e Chefe do Departamento de Medicina Materno-Fetal do Hospital Clínic, em Barcelona Editor-chefe do jornal Fetal Diagnosis and Therapy Diretor do Erasmus Mundus Centro de Doutoramento em Medicina Fetal, em Barcelona, Leuven, e Lund Publicou mais de 250 artigos científicos Experiência de mais de 1200 cirurgias ao longo de 15 anos DR. CEANA NEZHAT – ESTADOS UNIDOS Professor Adjunto de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford Presidente da Associação Americana de Ginecologia Laparoscopia (AAGL) Diretor do Centro Médico Nezhat, Centro de Endometriose, Cirurgia Minimante Invasiva e Medicina Reprodutiva de Atlanta, Estados Unidos. CARLO TANTINI - ITÁLIA Professor com especializacao em ginecologia e obstetricia junto a Universidade de Estudos de Firenze. Consultor Médico-cirúrgico junto à Universidade de Siena Membro Diretivo do Grupo Girese para o Desenvolvimento e Difusão da Técnica Histeroscópica Autor e/ou co-autor de 235 publicações originais e monografias relacionadas a sua especialidade. 2 Secretaria Executiva: SGOB – Tels.: (61) 3245-3681/3245-4530 / Cel.: 9622-1215 Email: [email protected] – www.sgob.org.br revista SGOB ESPAÇO DO ASSOCIADO O associado da SGOB tem um espaço exclusivo em nossa revista. Convocamos os sócios para que enviem para o Espaço do Associado seus classificados, suas opiniões sobre assuntos diversos, sugestões, observações e críticas. O classificado deve ter 270 caracteres com tamanho de fonte Arial 12. Seus comentários serão muito bem-vindos. ALUGAM-SE HORÁRIOS EM CONSULTÓRIO MOBILIADO EM TURNO VESPERTINO (Segunda, quarta e sexta) – SHLS 716, Centro Clínico Sul - Torre II, sala 217. Contato – Dra. Ana Lúcia Brandes – Tel.: 9166-6135/3346-1177 VAGA EM PLANALTINA E NA ASA NORTE Excelente oferta! Contato: 9983-3413 e 9276-6006. WhatsApp nos dois telefones. ANUIDADE DE 2014 A SGOB informa, aos seus associados, que a anuidade de 2014 não teve reajuste e que o vencimento foi no dia 28/2/2014. Os boletos foram enviados pela associação no dia 15/12/2013. Caso algum associado não tenha recebido, é importante entrar em contato com a secretaria da SGOB pelo telefone 3245-3681. Em tempo: o valor para médicos é de R$350,00 e o valor para residentes é de R$180,00, mediante apresentação de declaração. SGOB com site novo e presença nas mídias sociais. Confira o novo portal da SGOB: www.sgob.org.br Curta a SGOB no Facebook: www.facebook.com/SGOBDF MARÇO / ABRIL / MAIO 3 EDITORIAL SGOB no caminho do amadurecimento de tema importante em nossa área Nesta edição, abordaremos o tema “violência obstétrica”, que prefiro chamar de humanização do parto, pois todos nos formamos com as melhores intenções de utilizar nossos conhecimentos a favor das pacientes. A revista traz três excelentes artigos feitos por profissionais que lidam diariamente com pré-natal e assistência ao parto. Estamos, assim, motivando os sócios a pensarem e escreverem sobre o assunto para que, em algum momento, possamos realizar um amplo debate, convidando todas as instituições que, de alguma maneira, estejam ligadas ao tema. Outro ponto importante que quero compartilhar com vocês é sobre o 47º Congresso de Ginecologia e Obstetrícia do Distrito Federal. Entendo que ele deva ter diversos objetivos, entre eles: - Educação Médica Continuada: a programação científica está pronta e sendo enviada aos associados. Assim, todos poderão organizar suas agendas, fazer suas inscrições, e participar ativamente dos três dias do evento; - Apresentação de pesquisa e trabalhos científicos. Lembramos que a data limite para envio dos mesmos é até 30 de junho. Este ano, teremos uma modalidade a mais, que é a sessão de vídeos, os mesmos também devem ser enviados até a data supracitada; - Confraternização e atividades sociais. A primeira já está garantida pelo próprio evento e a segunda seguramente será sentida pela ausência do baile da sexta-feira. Neste ano houve uma diminuição dos recursos e da participação da indústria farmacêutica. Todos nós sabemos da conjuntura econômica negativa dos últimos anos, portanto, peço a compreensão de vocês. Decidimos cortar esse item para encaminhar os recursos à programação científica e poder garantir o nível do evento, que é o objetivo principal. Desde já agradeço o empenho nesse sentido. Um abraço a todos os colegas, Carlos Portocarrero Presidente da SGOB A Revista da SGOB é uma publicação da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Distrito Federal. SCES Trecho 3, Conjunto 6, sala 212, Asa Sul CEP 70200-003 Edifício Associação Médica de Brasília. Tel.: (61) 3245-3681 E-mail: [email protected] www.sgob.org.br Presidente: Dr. Carlos Portocarrero Sanchez Vice- presidente: Dr. Jean Pierre Barguil Brasileiro Secretário Geral: Dr. Vinicius Medina Lopes Tesoureira: Dra. Cínara Costa Gusmão Diretor Científico: Dr. David Barreira Gomes Sobrinho Diretora de Defesa Profissional e Honorários Médicos: Dra. Josenice de Araújo S. Gomes Diretor de Comunicação e Divulgação: Dr. Alysson Zanatta Diretora de Eventos: Dra. Lucila Nagata Diretor de Informática: Dr. Leonardo Campbell Diretora de Ações Sociais: Dra. Adriana Gualda Garrido Diretor de Cultura: Dr. José Domingues dos Santos Júnior Conselho Fiscal: - Dra. Hitomi Miura Nakagava - Dra. Rosaly Rulli Costa - Dr. Adelino Amaral Silva Suplentes do Conselho Fiscal: - Dra. Carla Maria Martins da Silva - Dr. Adalberto Xavier Ferro Filho - Dr. Evaldo Trajano de Souza Silva Filho Conselho Consultivo: Dr. Alberto Carlos Moreno Zaconeta Dra. Walquiria Quida Salles Pereira Primo Dr. Frederico José Silva Correa Dr. Evaldo Trajano de Souza Silva Filho Dr. Antonio César Paes Barbosa AGÊNCIA REPENSE Tel.: (61)3038-9392 / 9218-4754 Redação, edição, revisão e arte: equipe Repense Fotografias: Marcelo Lima/Shutterstock CAPA Dra. Lucila Nagata, médica do Setor de Gestação de Alto Risco e chefe do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Materno-Infantil de Brasília (HMIB). Reflexões de uma obstetra Hoje, nós, obstetras, estamos vivendo um certo problema. E a origem dele, acredito, é em parte até por nossa própria culpa. P acientes, Ministério da Saúde, ANS, Conselho Federal de Medicina e ativistas feministas vêm tentando resgatar o parto normal já há algum tempo, o parto humanizado. Tentam diminuir o número excessivo de indicações de parto cesárea, que nos hospitais privados chega até a 90%. Tivemos há alguns anos (talvez uns 7 ou 8 anos) a campanha no CFM com o slogan “Parto natural é parto normal”. Posteriormente, tivemos aquela pesquisa patrocinada pela ANS e executada pelo CFM, onde todos os ginecologistas e obstetras do Brasil receberam MARÇO / ABRIL / MAIO 5 CAPA Pela visão de alguns, parece que o médico obstetra é sempre aquele que só quer fazer coisas para acelerar ou induzir o parto, que usa de artifícios nem sempre tão bons para a paciente e seu bebê, e que ele esqueceu da importância do nascimento para aquela mulher e sua família. uma pesquisa, via internet, questionando quem fazia parto normal e também tentando identificar o porquê dos médicos indicarem cesáreas para suas pacientes. Isso é só para mostrar que o assunto é antigo e preocupante. Por isso, surgiram nos últimos anos muitas outras ações, como o “não ao parto cesárea”, a mulher pode ter seu filho como e onde ela quiser, o programa da Rede Cegonha da nossa presidenta, parteiras e doulas aparecendo com as pacientes como se a sua presença assegurasse que tentaríamos o parto normal... e por aí vai... Pela visão de alguns, parece que o médico obstetra é sempre aquele que só quer fazer coisas para acelerar ou induzir o parto, que usa de artifícios nem sempre tão bons para a paciente e seu bebê, e que ele esqueceu da importância do nascimento para aquela mulher e sua família. ESPAÇO PUBLICITÁRIO PAGO Fala-se que a cesárea ganhou força por ser mais rápida, marcada, que seria o parto da mulher moderna, que o médico ficaria logo “livre” para fazer outras coisas e que 6 revista SGOB ele não tem mais tempo de partejar. Outros argumentos são que a própria mulher já quer marcar a cesárea quando engravida para se organizar, planejar com a família e no trabalho, e que ela teria medo de sentir dor ou acharia que parto vaginal seria modismo. Além disso, mães de pacientes que não querem que suas filhas “sofram” e o próprio medo do desconhecido ou de complicações fazem com que o médico ou a paciente ache que a cesárea é a melhor opção. Acho que existem, sim, pessoas que têm os problemas citados, tanto médicos como pacientes, mas hoje temos que ter uma visão mais crítica e nos perguntarmos “por que tudo isso está acontecendo?” O filme Renascimento do Parto, por exemplo, é realmente um documentário muito bem feito. Vê o lado do parto normal, com toda uma poesia, declarações de pacientes, médicos, antropólogos, enfermeiras obstetras, Ministério da Saúde, pediatras, enfim, uma gama de pessoas que, com certeza, são experts no assunto e que colocam seus pontos de vista no filme. CAPA Vejo um lado que nos chama a atenção: o quanto alguns colegas, sem perceber, “jogam” com palavras para as pacientes, como se as responsabilizassem pelas decisões a serem tomadas, como se eles se eximissem de culpa por um ou outro tipo de parto. O filme mostra de forma clara que, para algumas pacientes, a via de parto não ficou bem esclarecida, e isso provoca depois toda uma cadeia de ações de desconfiança, insegurança, levando-as a procurarem outro profissional em uma outra gestação. Até mesmo no sentido de sentirem-se “traídas” em um momento tão importante para elas. para a paciente é que ela “tenha o melhor parto”. E o que é o melhor parto? O melhor parto para ela será aquele em que ela e seu bebê saiam bem, independentemente do tipo de parto que seja realizado. Isso porque, às vezes, no intuito de tentarmos fazer essa campanha para o parto normal, esquecemos que temos aproximadamente de 10% a 15% de mulheres que terão seus partos instrumentalizados ou operatórios. Nem por isso significa que elas amem menos seus filhos ou que não sejam mulheres ou mães. Dou o exemplo muito falado no filme da indicação de cesárea por circular de cordão, ou de que o bebê é muito grande, e outras falas que têm no fundo um pensamento único na mulher: será que eu vou dar conta? Será que vou por em risco a vida do meu filho? Temos que ser cuidadosos, pois o termo “violência obstétrica”, muito falado atualmente, não representa apenas atitudes ou palavras. E, principalmente, não é só o médico quem a praticaria. Qualquer pessoa com qualquer atitude incorreta (e isso é muito complicado de se mensurar, qualificar ou pontuar) pode cometê-la. Bastaria a paciente se sentir desconfortável com a situação criada que já poderíamos considerar “violência”. Vi que essas ações de alguns provocam até sintomas de depressão, pois essas mulheres chegam a achar que são incompetentes do ponto de vista da maternidade, e isso repercute até mesmo no relacionamento familiar e conjugal, posteriormente. Mas também tenho por obrigação colocar que o filme tem um viés em relação ao parto cesárea. Este aparece no filme sempre como uma coisa ruim, que poderia ter sido parto normal e não foi, e que a culpa disso é nossa, médicos. O filme não faz as colocações de que existem, sim, situações onde a indicação do parto cesárea se torna importante e que isso pode salvar vidas (da paciente e do seu filho). Se as colocam, o fazem de forma tão sutil que quem assiste não as percebe, principalmente o público leigo. Não somos mais aqueles que ditam como vai ser, mas aqueles que dirigem, orientam e explicam os prós e contras. Somos aqueles que tentam agir como a paciente quer ou imagina, desde que isso não infrinja em falta ética ou falta de assistência adequada, pois também continuamos a ter responsabilidades por aqueles dois pacientes (mãe e bebê). Temos que tentar nos adequar, ler sobre o que há de mais novo na medicina baseada em ações positivas, e tentar executar. ESPAÇO PUBLICITÁRIO PAGO Gosto muito de uma fala de uma enfermeira obstetra, reconhecida na nossa área, que diz que o importante Estamos em uma época onde nossas pacientes lêem, procuram sites de gestantes, site de bate-papo, blogs, e procuram os médicos de amigas para ver se falamos a mesma linguagem. Enfim, hoje devemos tentar falar o que sabemos da forma mais sincera possível em relação às nossas condutas para nossas pacientes. MARÇO / ABRIL / MAIO 7 CAPA A medicina baseada em evidências é citada no filme. Ela realmente mudou vários conceitos que nós, mais “antigos” na profissão, achávamos e aprendemos como verdades absolutas e que hoje não o são. Por exemplo: episiotomia em toda primigesta para não “estragar” o períneo; lavagem intestinal quando internar em trabalho de parto; tricotomia; jejum; e assim por diante... Hoje já existem evidências de que não se deve fazer lavagem intestinal, que não precisamos fazer tricotomia, que não devemos fazer episiotomia de rotina, e que a paciente pode ingerir líquidos e alimentos sem resíduos durante o trabalho de parto. Por outro lado, me preocupa também quando um promotor de justiça me diz que se uma paciente questionar que o médico fez episiotomia, ele irá considerar lesão corporal, pois não existe a indicação de episiotomia. Porém, se houver necessidade de execução, eu certamente o farei, e acredito que outros colegas também. Inclusive, a enfermagem obstétrica pode realizar a episiotomia e sutura. Portanto, se a episiotomia ainda é ensinada, é porque existem situações onde esse procedimento tem seu espaço. Temo por essa radicalidade que parece estar por todos os cantos. É como se fazer o parto com o médico fosse a pior coisa que poderia acontecer. Sei que não são todas as mulheres que pensam assim, mas me preocupo com as que não poderiam ou não deveriam ter seus filhos de parto normal e que o tentam a qualquer custo, e acabam perdendo seus bebês no parto. Ou outras que ficam com seus filhos sequelados para o resto da vida, convivendo diariamente com isso, e perguntando-se: será que realmente fizemos o melhor? Acreditem: infelizmente, isso já está acontecendo. ESPAÇO PUBLICITÁRIO PAGO Acho que estamos em um momento de amadurecimento. Não podemos ficar no tudo é cesárea, mas também não 8 revista SGOB podemos e não devemos nos acomodar no parto normal sempre e a qualquer custo. Não digo que quem defenda o parto normal faça essa afirmação. Eu me considero uma defensora do parto normal. Mas temos que cuidar para que sempre que tentarmos estimular o parto normal, que também nos conscientizemos da obrigação de colocar que existem situações onde o é necessário ou o parto cesárea ou instrumentalizado ou medicalizado. Temos que tentar estimular a mulher a aguardar o início do trabalho de parto. A conclusão como parto normal ou cesárea, logicamente, dependerá de várias situações. O trabalho de parto é importante para o bebê: ele sabe que está na hora certa, existe a liberação de hormônios e isso ajuda na parte neurológica do bebê, ajuda na lactação. Quando tentamos explicar para a paciente em quais situações teremos ou poderíamos indicar uma cesárea, não é para de antemão já preparar a paciente para fazer a cesárea, como transparece no filme. Parece que nossas explicações já seriam uma justificativa de que iremos ou poderemos fazer uma cesárea. Lógico que existem situações onde não podemos ou devemos deixar isso acontecer, mas são a minoria, e devemos sempre lembrar que cada caso é um caso. Acredito que entre “pode ser” e “vai ser” existe uma enor me distância. Acredito também que essas explicações fazem parte dos esclarecimentos obrigatórios que temos de dar às pacientes. Há pacientes que dizem não terem sido infor madas sobre a possibilidade de que determinados eventos poderiam ocorrer durante a evolução do trabalho de parto. E aí? CAPA Hoje temos que aprender a trabalhar em equipe e essa é uma realidade mundial. Muitos de nós, médicos, ainda não sabemos trabalhar com profissionais de outras categorias. Dra. Lucila Nagata Hoje temos protocolos para internação, acompanhamento de trabalho de parto, todos baseados em evidências científicas. Temos que nos respaldar neles para atendermos um eventual questionamento jurídico que pode vir de um parto mal assistido, inclusive de uma indicação de cesárea, onde depois o bebê vai para uma UTI neonatal por problemas respiratórios. Nós temos que assumir nossos papéis de fazer a beneficência e não a maleficência. Isso já acontece nas grandes capitais e, como destacado anteriormente, teremos que aprender a trabalhar e confiar. Deveremos ter e ser uma equipe bem treinada, tanto no setor público como no privado, se quisermos diminuir os índices de cesáreas. Já existem nos conselhos profissionais de medicina e enfer magem protocolos de procedimentos e responsabilidades. Entretanto, ainda temos muitas dúvidas do ponto de vista legal sobre até onde vai a nossa responsabilidade como ator em um parto compartilhado. Acredito que se registrarmos tudo que fizermos, e a outra parte também (nesse caso, a enfermeira obstétrica), a Justiça e os conselhos podem ver como agiram os seus atores e, assim, determinarem se atuaram bem ou se falharam, quem falhou e em que momento houve a falha. ESPAÇO PUBLICITÁRIO PAGO Hoje temos que aprender a trabalhar em equipe e essa é uma realidade mundial. Muitos de nós, médicos, ainda não sabemos trabalhar com profissionais de outras categorias. Nós, médicos, teremos que aprender que realmente não temos tempo para acompanhar um trabalho de parto durante 10, 12 ou mais horas, e que precisamos nos apoiar e confiar em parceiros para isso, principalmente na figura da enfermeira obstétrica. Isso a exemplo de países desenvolvidos, onde a figura do médico só aparece nas distocias ou no momento do parto, que deverão ser devidamente diagnosticados pela enfermeira obstétrica. Esta, sendo uma profissional adequadamente preparada para esse papel, passará segurança ao médico obstetra, que será alertado em tempo hábil para uma atuação de sucesso. MARÇO / ABRIL / MAIO 9 CAPA Não podemos fazer, e não devemos aceitar, atitudes que coloquem em risco a vida da paciente ou de seu filho pelo simples fato de “não perder a paciente”, caso ela opte por ações contrárias às que acreditamos serem as melhores para ela. Temos que enfatizar a todos a importância da execução do partograma, pois ele nos diz quando e como atuar quando o parto passa de baixo risco ou risco habitual para um parto distócico, que necessita de intervenção, seja medicamentosa, instrumentalizada e/ou operatória. Temos que nos preservar quando as pacientes nos tentam convencer a realizarmos o parto domiciliar, pois, apesar deste não ser proibido pelo Conselho Federal de Medicina, existe a recomendação clara de se evitar fazê-lo. Acho que existe, sim, a maior chance de um parto domiciliar ser bem sucedido. Porém, quanto mais o fazemos, maiores serão as chances de cairmos naquela pequena percentagem de complicações de hipotonia uterina, asfixia perinatal, cabeça derradeira (temos colegas fazendo parto pélvico em casa), e assim perdemos a chance de salvar um bebê e a paciente. Isso em uma era em que a disponibilidade de ambientes e recursos adequados torna a perda ou sequela de vidas cada vez menos justificável. Sim, muitos podem dizer que esses são eventos raros, mas todos nós já tivemos uma paciente que nos fez ficar preocupados ou por período expulsivo prolongado ou por sangramento que não melhora, por uma necessidade de histerectomia pós-parto, ou simplesmente por uma paciente que desmaia no período expulsivo por estar exausta e cansada. Pode-se afirmar que mesmo no hospital podemos perder pacientes e bebês. Mas, se estivermos em casa e levarmos tempo até chegarmos ao hospital, acreditem, podemos ter um desfecho diferente. Com isso, será que dormiremos tranquilos nos questionando a todo momento se “seria diferente se estivéssemos no hospital”? Não quero levantar a polêmica, mas, como o próprio tema diz, é uma reflexão pessoal que gostaria de compartilhar 10 revista SGOB com vocês. Hoje estamos muito expostos, com receio de fazer pré-natal, acompanhar partos. Não temos que temer os jargões de parto humanizado, violência obstétrica. Temos, sim, que tentar fazer o que de melhor fazemos, que é atender bem a nossa paciente, esclarecê-la em suas dúvidas e anseios. Isso feito, tenho certeza de que a nossa paciente não ficará em dúvida ou se sentirá “traída” ou não aceitará uma indicação de indução ou parto cesáreo durante seu acompanhamento pré-natal, sendo uma dessas ações necessárias. Essa será, provavelmente, a melhor forma de transmitirmos o quanto nos importamos com ela e seu bebê, o quanto desejamos e cuidamos para o sucesso desse momento tão especial e único, que é o seu parto. Podemos até discordar de pacientes que não tiveram empatia conosco, mas aí também temos que ter a dignidade para deixarmos de ser seus médicos, principalmente se estamos contra o pensamento que ela acredita. Temos que explicar que nós não nos sentimos seguros para determinada conduta e que ela tem a liberdade de procurar outro profissional que aceite fazer o que ela deseja. Não podemos fazer, e não devemos aceitar, atitudes que coloquem em risco a vida da paciente ou de seu filho pelo simples fato de “não perder a paciente”, caso ela opte por ações contrárias às que acreditamos serem as melhores para ela. Que seja melhor que encontre outro profissional disposto a atender aos seus anseios e que você possa estar tranquilo sabendo que tentou fazer o melhor e forneceu as melhores explicações. E que a paciente, e talvez o outro profissional que tenha aceitado atos obstétricos de maiores riscos, assumam as suas responsabilidades. Reflitam! MARÇO E ABRIL 11 OPINIÃO DO OBSTETRA A melhor assistência ao parto Dr. Bruno Ramalho de Carvalho, especialista em Medicina Reprodutiva, Clínica Saúde da Mulher, e GÊNESIS - Centro de Assistência em Reprodução Humana - Brasília/DF Mestre pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto (FMRP-USP) E mbora eu divida minhas atividades entre a obstetrícia e a reprodução humana, depois de muito refletir, debater e assistir, ao saber deste número especial sobre parto, resolvi manifestar-me sobre as recentes notícias envolvendo a prática da obstetrícia médica em nosso país. O médico, como qualquer profissional de saúde, tem função de educador e deve apoiar sua orientação ao paciente nos pilares da ética e da ciência, podendo imprimir na conduta o seu posicionamento pessoal, desde que isso fique claro como postura própria e não assuma caráter consensual ou impositivo. Exceção óbvia é o caso emergencial, com risco iminente à vida, quando normalmente não há tempo suficiente para o diálogo. Em outras palavras, não podemos, nós médicos, assumir como verdades absolutas nossas convicções se há na literatura especializada documentos confiáveis que sustentem também opiniões distintas das nossas. Penso ser difícil julgar condutas independentes, um fato aqui, outro acolá, principalmente estando de fora e olhando para trás. Em minha opinião, os fatos recentes divulgados na mídia sobre determinado desfecho obstétrico remeteram-se não somente à chamada “violência obstétrica”, mas a um ato violento em dimensão mais ampla, na proporção da comoção levada além das nossas fronteiras geográficas, para alertar a todos nós sobre a realidade do momento em que estamos. ESPAÇO PUBLICITÁRIO PAGO Entendo que estejamos vivendo um momento delicado, em que a medicina é colocada em xeque, e que se pauta basicamente no excesso de intervenções obstétricas de indicação supostamente questionável e na ignorância dos médicos obstetras ao protagonismo da parturiente na história da gravidez e do parto, ou seja, 12 revista SGOB OPINIÃO DO OBSTETRA no que seria um descaso à sua autonomia para decidir, quando isso é possível. Particularmente, penso que, na maioria dos casos, respeitar a autonomia da gestante/parturiente é possível. Não apenas a questão do parto vaginal depois de mais de uma cesariana tem de ser discutida. Muitos outros aspectos da assistência médica obstétrica têm de ser revistos: episiotomia rotineira, posição deitada para parir, uso indiscriminado de ocitocina, manobras de compressão do fundo uterino, presença de acompanhante (um ou mais) no parto... Sem nenhum problema, a meu ver, até a cesariana a pedido tem de ser avaliada como possível e aceita se for considerada a melhor forma de resolução para a gestante bem orientada, em uma abordagem da mesma forma “humanizada”, por contemplar a autonomia, a individualização. Sem a intenção de alimentar corporativismo, acho por outro lado que não podemos fechar os olhos para problemas vividos por médicos e outros profissionais de saúde em nosso país. Não reconheço nada que justifique maus tratos e condutas sem o devido respaldo técnico ou não respeitar a autonomia do paciente quando ele pode decidir. Isso em qualquer área de atuação. Entretanto, não podemos simplesmente condenar o médico sem que percebamos as carências de ferramentas assistenciais fundamentais que permitam a assistência considerada “humanizada” ou, como eu prefiro chamar, a ASSISTÊNCIA AO PARTO COMO ELA DEVE SER. Com isso, remeto-me às más condições para oferta de um pré-natal adequado, à falta de estruturas físicas e aparato pessoal para uma boa e segura assistência ao parto, ao ensino, muitas vezes hermético e arcaico da prática obstétrica, à má remuneração profissional, às rotinas estafantes, entre outros tantos problemas. Assim, minha defesa é por humanizar o atendimento à mulher como eixo, pedra fundamental da conduta, mas também enxergar o médico como ser humano. Humanizar em mão dupla. Penso, por fim, que o estereótipo do médico intervencionista esteja distorcendo a imagem da profissão. Isso é muito grave e preocupante. Não acredito na má fé, na intenção da má prática, mas essa má prática parece ser real e estou certo de que é hora de rediscutir condutas, mudar conceitos e dar melhor assistência a quem nos procura como porto seguro. Isso reunindo todos os profissionais envolvidos na assistência à gravidez e ao parto, todos em prol de uma mesma causa. A sociedade pede essa mudança, isso é notório. Temos hoje, com todos os poros abertos ao diálogo, uma oportunidade inédita, acredito, de formular condutas que levem à assistência almejada. Os paradigmas têm de ser mudados, é fato, sem paixão e com o amor inerente aos que trabalham com seriedade. ESPAÇO PUBLICITÁRIO PAGO O que escrevo aqui é o que eu penso e escrevo de coração aberto, esperando que assim o receba quem lê. Não traduz especificamente pensamento ou postura de mais ninguém. MARÇO / ABRIL / MAIO 13 ENTREVISTA COM O ESPECIALISTA: DR. ALBERTO ZACONETA O QUE OS OBSTETRAS PENSAM SOBRE PARTO HUMANIZADO, TAXA DE CESÁREAS E VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA? O senhor se incomoda ao ser interrogado sobre temas considerados espinhosos para um médico, como a assistência desumanizada ao parto, a alta taxa de cesáreas e a violência obstétrica? Ao contrário. Agradeço pela oportunidade de expressar meus sentimentos, que podem ser os de outros colegas. Estamos vivendo um momento novo sobre a visão que a sociedade tem do médico obstetra e acho que temos o direito de expor a nossa visão sobre o assunto. Historicamente, o obstetra representa para a gestante não apenas um médico que trata doenças, mas, antes, um parceiro solidário na caminhada durante a gestação, parto e pós-parto, um confidente, um porto seguro em um momento de incertezas e fragilidade emocional. Esse é o perfil do bom obstetra, do qual tantas mulheres têm lembrança e que, amiúde, as continuará acompanhando como ginecologista pelo resto da vida. Mas de repente surgiu um movimento para apresentar o médico obstetra como um inimigo do bem nascer, como um ser frio, desatualizado e, o que é pior, “desumanizado”, responsável por todos os infortúnios que as mulheres sofrem durante a gestação e o parto. Eu proponho que analisemos juntos se realmente é apenas o obstetra culpado pelo cenário atual da assistência obstétrica. Observamos, recentemente, o surgimento de um movimento que chama a atenção para a “violência obstétrica”, que seria representada por um excesso de atos desnecessários durante a assistência ao parto, entre outros. Qual sua opinião a respeito do assunto? Se analisarmos a definição jurídica do termo “violência” – constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem –, a violência obstétrica existe sim. Principalmente nas maternidades públicas, onde as gestantes não são ouvidas quanto às suas preferências e lhes é imposto um modelo de parto que em muitos aspectos é brutal: jejum, solidão, exposição da nudez, e dor física, dentre outros. Mas eu pergunto: foi o médico obstetra quem criou esse modelo? Na verdade, ele foi formado nele. Quando ainda estudante assistiu horrorizado às mulheres gritando de dor e suplicando por uma cesárea que as livrassem da dor, porque a maior parte das maternidades públicas 14 revista SGOB não oferece analgesia para o parto normal. Portanto, na sua gênese, o próprio médico é vitima da violência desse sistema, que o faz sofrer, mas ao qual acaba se adaptando. Se quisermos reverter a situação, reconheço que precisamos de um programa a longo prazo de educação médica sobre as intervenções necessárias e desnecessárias, mas também precisamos mudar o cenário para que os profissionais possam exercer a profissão da maneira como as boas práticas recomendam. O que devemos fazer para diminuir a taxa de cesárea? Temos dois contextos. No sistema público, dando condições para o acompanhamento do parto normal com dignidade e segurança. As instituições têm que estabelecer protocolos de assistência ao parto multidisciplinar, deixando clara a função e a responsabilidade de cada membro, e auditar periodicamente o cumprimento desses protocolos, identificando falhas e promovendo cursos de educação para saná-las. Na saúde suplementar, tenho a opinião pessoal de ENTREVISTA COM O ESPECIALISTA: DR. ALBERTO ZACONETA Temos que nos manter atualizados, porque a obstetrícia moderna intervém menos, mas quando intervém o faz com precisão e baseada no conhecimento científico. Dra. Alberto Zaconeta que devemos adotar o modelo de atenção obstétrica em grupos. Ou seja: a gestante deve saber que é acompanhada não por um médico, mas por um grupo de médicos com escala definida. O modelo atual não apenas escraviza o médico e causa um êxodo de profissionais da obstetrícia, sobretudo mulheres, mas claramente aumenta o número de cesáreas, porque ninguém tem condições de acompanhar todas as suas pacientes no trabalho de parto, que demora várias horas. Adicionalmente, a sociedade tem que cobrar dos hospitais privados as condições para aumentar a taxa de parto normal: equipe de plantonistas suficiente, enfermeiras obstétricas para acompanhar as pacientes internadas, repouso e alimentação para o profissional que acompanha o trabalho de parto, etc. O parto domiciliar está na mídia, sendo defendido por membros da sociedade comum e por alguns profissionais médicos e propagado por artistas. Apesar da defesa por alguns, o Conselho Federal de Medicina posiciona-se expressamente contra a sua realização. Essa restrição é válida? O que os obstetras têm que fazer para melhorar a assistência obstétrica? Temos que ouvir o clamor das ruas. As mulheres estão nos dizendo que não querem mais um modelo de parto tão medicalizado, que não querem ser consideradas “pacientes” ou “doentes” que precisam sempre de tratamentos e intervenções. Temos que nos manter atualizados, porque a obstetrícia moderna intervém menos, mas quando intervém o faz com precisão e baseada no conhecimento científico. Abandonar algumas práticas enraizadas e adotar um modelo novo não é tarefa fácil. Requer humildade, autocrítica e disposição para o trabalho em equipe. Mas se dispor a mudar é transformador. Nas palavras de Einstein: “uma mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. ESPAÇO PUBLICITÁRIO PAGO Eu acho que não. A paciente tem o direito de escolher onde e assistido por quem terá seu parto. Não podemos cercear esse direito. Eu, pessoalmente, não faço parto domiciliar porque entendo que em uma emergência não terei tempo hábil de colocar a paciente ou o bebê no ambiente de maior segurança, que é o hospital. Mas há colegas idôneos que o praticam e merecem nosso respeito. O que acho importante é que os riscos e a responsabilidade de eventuais fatalidades sejam colocadas às claras, por escrito. Não é honesto mostrar apenas o lado romântico e omitir ou menosprezar os riscos. Esclarecido, o casal tem que ter seu direito de escolha respeitado. MARÇO / ABRIL / MAIO 15