Março/Abril/Maio de 2014 - Ano XX - N° 96
Associação de Ginecologia e Obstetrícia do DF
REGRAS PARA PUBLICAÇÃO DE MATÉRIA NA REVISTA
A SGOB publica, a cada exemplar de sua revista, uma matéria (protocolo atualizado ou artigo comentado) na área de
obstetrícia e outra na de ginecologia.
Temos 10 revistas para produzir nos próximos dois anos. Oferecemos esse espaço para os associados publicarem assuntos de
interesse geral, obedecendo às regras abaixo para publicação.
1. Nenhuma imagem:
O texto deve ter até 6.400 caracteres, contando com espaços.
2. Com 1 imagem:
O texto deve ter até 5.800 caracteres, contando com espaços.
3. Com 2 imagens:
O texto deve ter até 5.100 caracteres, contando com espaços.
As imagens devem ter, no mínimo, 8,5 cm X 5,6 cm, com alta resolução (300 DPIs), em formato jpg. Pode haver legenda
quando o assunto não for identificado no texto.
O protocolo deve, obrigatoriamente, ter título, resumo e identificação do autor, como o cargo, a especialidade e os principais títulos.
A fonte (letra) deve ser Times New Toman e o tamanho da fonte é 12. O espaçamento entre as frases e parágrafos deve ser
de 1,5 cm.
Solicitamos o envio da matéria para um dos e-mails da SGOB ([email protected] ou [email protected]).
Os mesmos serão publicados após análise do corpo editorial e seguindo ordem de recebimento.
Alysson Zonatta
Diretor de Comunicação e Divulgação da SGOB
[email protected]
47º Congresso de Ginecologia e Obstetrícia do Distrito Federal
Procedimentos minimamente invasivos: quando, como e por quê?
13 a 15 de agosto de 2014 – Centro de Convenções Ulysses Guimarães
PROFESSORES INTERNACIONAIS CONFIRMADOS
DR. ALFREDO CELIS LÓPES - PERU
Doutor em Medicina. Professor associado da Faculdade de Medicina da
Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Lima - Peru.
Presidente da Sociedade Peruana de Obstetrícia e Ginecologia.
DR. EDUARD GRATACÓS – ESPANHA (VÍDEOCONFERÊNCIA)
Professor de Obstetrícia e Ginecologia e Chefe do Departamento
de Medicina Materno-Fetal do Hospital Clínic, em Barcelona
Editor-chefe do jornal Fetal Diagnosis and Therapy
Diretor do Erasmus Mundus Centro de Doutoramento em
Medicina Fetal, em Barcelona, Leuven, e Lund
Publicou mais de 250 artigos científicos
Experiência de mais de 1200 cirurgias ao longo de 15 anos
DR. CEANA NEZHAT – ESTADOS UNIDOS
Professor Adjunto de Obstetrícia e Ginecologia da
Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford
Presidente da Associação Americana de Ginecologia
Laparoscopia (AAGL) Diretor do Centro Médico Nezhat,
Centro de Endometriose, Cirurgia Minimante Invasiva e
Medicina Reprodutiva de Atlanta, Estados Unidos.
CARLO TANTINI - ITÁLIA
Professor com especializacao em ginecologia e obstetricia junto a
Universidade de Estudos de Firenze.
Consultor Médico-cirúrgico junto à Universidade de Siena
Membro Diretivo do Grupo Girese para o Desenvolvimento e Difusão
da Técnica Histeroscópica
Autor e/ou co-autor de 235 publicações originais e monografias
relacionadas a sua especialidade.
2
Secretaria Executiva: SGOB – Tels.: (61) 3245-3681/3245-4530 / Cel.: 9622-1215
Email: [email protected] – www.sgob.org.br
revista SGOB
ESPAÇO DO ASSOCIADO
O associado da SGOB tem um espaço exclusivo em nossa revista. Convocamos os sócios para
que enviem para o Espaço do Associado seus classificados, suas opiniões sobre assuntos diversos,
sugestões, observações e críticas. O classificado deve ter 270 caracteres com tamanho de fonte Arial
12. Seus comentários serão muito bem-vindos.
ALUGAM-SE HORÁRIOS EM CONSULTÓRIO MOBILIADO EM TURNO VESPERTINO
(Segunda, quarta e sexta) – SHLS 716, Centro Clínico Sul - Torre II, sala 217.
Contato – Dra. Ana Lúcia Brandes – Tel.: 9166-6135/3346-1177
VAGA EM PLANALTINA E NA ASA NORTE
Excelente oferta!
Contato: 9983-3413 e 9276-6006. WhatsApp nos dois telefones.
ANUIDADE DE 2014
A SGOB informa, aos seus associados, que a anuidade de 2014 não teve reajuste e que o
vencimento foi no dia 28/2/2014. Os boletos foram enviados pela associação no dia 15/12/2013.
Caso algum associado não tenha recebido, é importante entrar em contato com a secretaria
da SGOB pelo telefone 3245-3681.
Em tempo: o valor para médicos é de R$350,00 e o valor para residentes é de R$180,00, mediante
apresentação de declaração.
SGOB com site novo e
presença nas mídias sociais.
Confira o novo portal da SGOB:
www.sgob.org.br
Curta a SGOB no Facebook:
www.facebook.com/SGOBDF
MARÇO / ABRIL / MAIO
3
EDITORIAL
SGOB no caminho do amadurecimento
de tema importante em nossa área
Nesta edição, abordaremos o tema “violência obstétrica”, que prefiro chamar
de humanização do parto, pois todos nos formamos com as melhores intenções
de utilizar nossos conhecimentos a favor das pacientes.
A revista traz três excelentes artigos feitos por profissionais que lidam diariamente
com pré-natal e assistência ao parto. Estamos, assim, motivando os sócios
a pensarem e escreverem sobre o assunto para que, em algum momento,
possamos realizar um amplo debate, convidando todas as instituições que, de
alguma maneira, estejam ligadas ao tema.
Outro ponto importante que quero compartilhar com vocês é sobre o 47º
Congresso de Ginecologia e Obstetrícia do Distrito Federal. Entendo que ele
deva ter diversos objetivos, entre eles:
- Educação Médica Continuada: a programação científica está pronta e
sendo enviada aos associados. Assim, todos poderão organizar suas agendas,
fazer suas inscrições, e participar ativamente dos três dias do evento;
- Apresentação de pesquisa e trabalhos científicos. Lembramos que a data
limite para envio dos mesmos é até 30 de junho. Este ano, teremos uma modalidade a mais, que é a sessão de
vídeos, os mesmos também devem ser enviados até a data supracitada;
- Confraternização e atividades sociais. A primeira já está garantida pelo próprio evento e a segunda seguramente
será sentida pela ausência do baile da sexta-feira. Neste ano houve uma diminuição dos recursos e da participação
da indústria farmacêutica. Todos nós sabemos da conjuntura econômica negativa dos últimos anos, portanto, peço
a compreensão de vocês. Decidimos cortar esse item para encaminhar os recursos à programação científica e
poder garantir o nível do evento, que é o objetivo principal.
Desde já agradeço o empenho nesse sentido.
Um abraço a todos os colegas,
Carlos Portocarrero
Presidente da SGOB
A Revista da SGOB é uma publicação
da Associação de Ginecologia e Obstetrícia
do Distrito Federal.
SCES Trecho 3, Conjunto 6, sala 212, Asa Sul
CEP 70200-003 Edifício Associação Médica
de Brasília. Tel.: (61) 3245-3681
E-mail: [email protected]
www.sgob.org.br
Presidente:
Dr. Carlos Portocarrero Sanchez
Vice- presidente:
Dr. Jean Pierre Barguil Brasileiro
Secretário Geral:
Dr. Vinicius Medina Lopes
Tesoureira:
Dra. Cínara Costa Gusmão
Diretor Científico:
Dr. David Barreira Gomes Sobrinho
Diretora de Defesa Profissional e Honorários Médicos:
Dra. Josenice de Araújo S. Gomes
Diretor de Comunicação e Divulgação:
Dr. Alysson Zanatta
Diretora de Eventos:
Dra. Lucila Nagata
Diretor de Informática:
Dr. Leonardo Campbell
Diretora de Ações Sociais:
Dra. Adriana Gualda Garrido
Diretor de Cultura:
Dr. José Domingues dos Santos Júnior
Conselho Fiscal:
- Dra. Hitomi Miura Nakagava
- Dra. Rosaly Rulli Costa
- Dr. Adelino Amaral Silva
Suplentes do Conselho Fiscal:
- Dra. Carla Maria Martins da Silva
- Dr. Adalberto Xavier Ferro Filho
- Dr. Evaldo Trajano de Souza Silva Filho
Conselho Consultivo:
Dr. Alberto Carlos Moreno Zaconeta
Dra. Walquiria Quida Salles Pereira Primo
Dr. Frederico José Silva Correa
Dr. Evaldo Trajano de Souza Silva Filho
Dr. Antonio César Paes Barbosa
AGÊNCIA REPENSE
Tel.: (61)3038-9392 / 9218-4754
Redação, edição, revisão e arte: equipe Repense
Fotografias: Marcelo Lima/Shutterstock
CAPA
Dra. Lucila Nagata, médica do Setor de Gestação de Alto Risco e chefe do Serviço de
Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Materno-Infantil de Brasília (HMIB).
Reflexões
de uma
obstetra
Hoje, nós, obstetras,
estamos vivendo
um certo problema.
E a origem dele,
acredito, é em parte
até por nossa
própria culpa.
P
acientes, Ministério da Saúde, ANS,
Conselho Federal de Medicina e
ativistas feministas vêm tentando
resgatar o parto normal já há
algum tempo, o parto humanizado. Tentam
diminuir o número excessivo de indicações
de parto cesárea, que nos hospitais
privados chega até a 90%.
Tivemos há alguns anos (talvez uns
7 ou 8 anos) a campanha no CFM
com o slogan “Parto natural é parto
normal”. Posteriormente, tivemos
aquela pesquisa patrocinada
pela ANS e executada
pelo CFM, onde todos os
ginecologistas e obstetras
do Brasil receberam
MARÇO / ABRIL / MAIO
5
CAPA
Pela visão de alguns, parece que o médico obstetra
é sempre aquele que só quer fazer coisas para acelerar ou
induzir o parto, que usa de artifícios nem sempre tão bons para
a paciente e seu bebê, e que ele esqueceu da importância do
nascimento para aquela mulher e sua família.
uma pesquisa, via internet, questionando quem fazia
parto normal e também tentando identificar o porquê
dos médicos indicarem cesáreas para suas pacientes.
Isso é só para mostrar que o assunto é antigo e
preocupante. Por isso, surgiram nos últimos anos muitas
outras ações, como o “não ao parto cesárea”, a mulher
pode ter seu filho como e onde ela quiser, o programa da
Rede Cegonha da nossa presidenta, parteiras e doulas
aparecendo com as pacientes como se a sua presença
assegurasse que tentaríamos o parto normal... e por aí vai...
Pela visão de alguns, parece que o médico obstetra é
sempre aquele que só quer fazer coisas para acelerar
ou induzir o parto, que usa de artifícios nem sempre tão
bons para a paciente e seu bebê, e que ele esqueceu
da importância do nascimento para aquela mulher e
sua família.
ESPAÇO PUBLICITÁRIO PAGO
Fala-se que a cesárea ganhou força por ser mais rápida,
marcada, que seria o parto da mulher moderna, que o
médico ficaria logo “livre” para fazer outras coisas e que
6
revista SGOB
ele não tem mais tempo de partejar. Outros argumentos
são que a própria mulher já quer marcar a cesárea
quando engravida para se organizar, planejar com a
família e no trabalho, e que ela teria medo de sentir dor ou
acharia que parto vaginal seria modismo. Além disso, mães
de pacientes que não querem que suas filhas “sofram” e
o próprio medo do desconhecido ou de complicações
fazem com que o médico ou a paciente ache que a
cesárea é a melhor opção.
Acho que existem, sim, pessoas que têm os problemas
citados, tanto médicos como pacientes, mas hoje temos
que ter uma visão mais crítica e nos perguntarmos “por
que tudo isso está acontecendo?”
O filme Renascimento do Parto, por exemplo, é realmente
um documentário muito bem feito. Vê o lado do parto
normal, com toda uma poesia, declarações de pacientes,
médicos, antropólogos, enfermeiras obstetras, Ministério
da Saúde, pediatras, enfim, uma gama de pessoas que,
com certeza, são experts no assunto e que colocam seus
pontos de vista no filme.
CAPA
Vejo um lado que nos chama a atenção: o quanto alguns
colegas, sem perceber, “jogam” com palavras para as
pacientes, como se as responsabilizassem pelas decisões
a serem tomadas, como se eles se eximissem de culpa por
um ou outro tipo de parto. O filme mostra de forma clara
que, para algumas pacientes, a via de parto não ficou bem
esclarecida, e isso provoca depois toda uma cadeia de ações
de desconfiança, insegurança, levando-as a procurarem outro
profissional em uma outra gestação. Até mesmo no sentido de
sentirem-se “traídas” em um momento tão importante para elas.
para a paciente é que ela “tenha o melhor parto”.
E o que é o melhor parto? O melhor parto para ela
será aquele em que ela e seu bebê saiam bem,
independentemente do tipo de parto que seja realizado.
Isso porque, às vezes, no intuito de tentarmos fazer essa
campanha para o parto normal, esquecemos que temos
aproximadamente de 10% a 15% de mulheres que terão
seus partos instrumentalizados ou operatórios. Nem por
isso significa que elas amem menos seus filhos ou que
não sejam mulheres ou mães.
Dou o exemplo muito falado no filme da indicação de
cesárea por circular de cordão, ou de que o bebê é muito
grande, e outras falas que têm no fundo um pensamento
único na mulher: será que eu vou dar conta? Será que vou
por em risco a vida do meu filho?
Temos que ser cuidadosos, pois o termo “violência
obstétrica”, muito falado atualmente, não representa
apenas atitudes ou palavras. E, principalmente, não é
só o médico quem a praticaria. Qualquer pessoa com
qualquer atitude incorreta (e isso é muito complicado
de se mensurar, qualificar ou pontuar) pode cometê-la.
Bastaria a paciente se sentir desconfortável com
a situação criada que já poderíamos considerar
“violência”.
Vi que essas ações de alguns provocam até sintomas
de depressão, pois essas mulheres chegam a achar que
são incompetentes do ponto de vista da maternidade,
e isso repercute até mesmo no relacionamento familiar e
conjugal, posteriormente.
Mas também tenho por obrigação colocar que o filme tem
um viés em relação ao parto cesárea. Este aparece no filme
sempre como uma coisa ruim, que poderia ter sido parto
normal e não foi, e que a culpa disso é nossa, médicos.
O filme não faz as colocações de que existem, sim,
situações onde a indicação do parto cesárea se torna
importante e que isso pode salvar vidas (da paciente
e do seu filho). Se as colocam, o fazem de forma tão
sutil que quem assiste não as percebe, principalmente o
público leigo.
Não somos mais aqueles que ditam como vai ser, mas
aqueles que dirigem, orientam e explicam os prós
e contras. Somos aqueles que tentam agir como a
paciente quer ou imagina, desde que isso não infrinja
em falta ética ou falta de assistência adequada, pois
também continuamos a ter responsabilidades por
aqueles dois pacientes (mãe e bebê). Temos que
tentar nos adequar, ler sobre o que há de mais novo na
medicina baseada em ações positivas, e tentar executar.
ESPAÇO PUBLICITÁRIO PAGO
Gosto muito de uma fala de uma enfermeira obstetra,
reconhecida na nossa área, que diz que o importante
Estamos em uma época onde nossas pacientes lêem,
procuram sites de gestantes, site de bate-papo, blogs,
e procuram os médicos de amigas para ver se falamos
a mesma linguagem. Enfim, hoje devemos tentar falar o
que sabemos da forma mais sincera possível em relação
às nossas condutas para nossas pacientes.
MARÇO / ABRIL / MAIO
7
CAPA
A medicina baseada em evidências é citada no filme.
Ela realmente mudou vários conceitos que nós, mais
“antigos” na profissão, achávamos e aprendemos como
verdades absolutas e que hoje não o são. Por exemplo:
episiotomia em toda primigesta para não “estragar” o
períneo; lavagem intestinal quando internar em trabalho
de parto; tricotomia; jejum; e assim por diante...
Hoje já existem evidências de que não se deve fazer
lavagem intestinal, que não precisamos fazer tricotomia,
que não devemos fazer episiotomia de rotina, e que a
paciente pode ingerir líquidos e alimentos sem resíduos
durante o trabalho de parto.
Por outro lado, me preocupa também quando um promotor
de justiça me diz que se uma paciente questionar que o
médico fez episiotomia, ele irá considerar lesão corporal,
pois não existe a indicação de episiotomia. Porém, se
houver necessidade de execução, eu certamente o
farei, e acredito que outros colegas também. Inclusive, a
enfermagem obstétrica pode realizar a episiotomia e sutura.
Portanto, se a episiotomia ainda é ensinada, é porque
existem situações onde esse procedimento tem seu espaço.
Temo por essa radicalidade que parece estar por todos
os cantos. É como se fazer o parto com o médico fosse a
pior coisa que poderia acontecer. Sei que não são todas
as mulheres que pensam assim, mas me preocupo com
as que não poderiam ou não deveriam ter seus filhos
de parto normal e que o tentam a qualquer custo, e
acabam perdendo seus bebês no parto. Ou outras que
ficam com seus filhos sequelados para o resto da vida,
convivendo diariamente com isso, e perguntando-se: será
que realmente fizemos o melhor? Acreditem: infelizmente,
isso já está acontecendo.
ESPAÇO PUBLICITÁRIO PAGO
Acho que estamos em um momento de amadurecimento.
Não podemos ficar no tudo é cesárea, mas também não
8
revista SGOB
podemos e não devemos nos acomodar no parto normal
sempre e a qualquer custo.
Não digo que quem defenda o parto normal faça essa
afirmação. Eu me considero uma defensora do parto
normal. Mas temos que cuidar para que sempre que
tentarmos estimular o parto normal, que também nos
conscientizemos da obrigação de colocar que existem
situações onde o é necessário ou o parto cesárea ou
instrumentalizado ou medicalizado.
Temos que tentar estimular a mulher a aguardar o
início do trabalho de parto. A conclusão como parto
normal ou cesárea, logicamente, dependerá de várias
situações. O trabalho de parto é importante para o
bebê: ele sabe que está na hora certa, existe a liberação
de hormônios e isso ajuda na parte neurológica do
bebê, ajuda na lactação.
Quando tentamos explicar para a paciente em
quais situações teremos ou poderíamos indicar uma
cesárea, não é para de antemão já preparar a
paciente para fazer a cesárea, como transparece
no filme. Parece que nossas explicações já seriam
uma justificativa de que iremos ou poderemos fazer
uma cesárea. Lógico que existem situações onde não
podemos ou devemos deixar isso acontecer, mas são
a minoria, e devemos sempre lembrar que cada caso
é um caso.
Acredito que entre “pode ser” e “vai ser” existe
uma enor me distância. Acredito também que
essas explicações fazem parte dos esclarecimentos
obrigatórios que temos de dar às pacientes. Há
pacientes que dizem não terem sido infor madas
sobre a possibilidade de que determinados eventos
poderiam ocorrer durante a evolução do trabalho de
parto. E aí?
CAPA
Hoje temos que aprender
a trabalhar em equipe e essa é
uma realidade mundial. Muitos de nós,
médicos, ainda não sabemos
trabalhar com profissionais
de outras categorias.
Dra. Lucila Nagata
Hoje temos protocolos para internação, acompanhamento
de trabalho de parto, todos baseados em evidências
científicas. Temos que nos respaldar neles para atendermos
um eventual questionamento jurídico que pode vir de
um parto mal assistido, inclusive de uma indicação de
cesárea, onde depois o bebê vai para uma UTI neonatal
por problemas respiratórios. Nós temos que assumir nossos
papéis de fazer a beneficência e não a maleficência.
Isso já acontece nas grandes capitais e, como destacado
anteriormente, teremos que aprender a trabalhar e confiar.
Deveremos ter e ser uma equipe bem treinada, tanto no
setor público como no privado, se quisermos diminuir os
índices de cesáreas.
Já existem nos conselhos profissionais de medicina
e enfer magem protocolos de procedimentos e
responsabilidades. Entretanto, ainda temos muitas
dúvidas do ponto de vista legal sobre até onde vai
a nossa responsabilidade como ator em um parto
compartilhado. Acredito que se registrarmos tudo
que fizermos, e a outra parte também (nesse caso, a
enfermeira obstétrica), a Justiça e os conselhos podem
ver como agiram os seus atores e, assim, determinarem
se atuaram bem ou se falharam, quem falhou e em que
momento houve a falha.
ESPAÇO PUBLICITÁRIO PAGO
Hoje temos que aprender a trabalhar em equipe e essa é
uma realidade mundial. Muitos de nós, médicos, ainda não
sabemos trabalhar com profissionais de outras categorias.
Nós, médicos, teremos que aprender que realmente não
temos tempo para acompanhar um trabalho de parto
durante 10, 12 ou mais horas, e que precisamos nos
apoiar e confiar em parceiros para isso, principalmente
na figura da enfermeira obstétrica. Isso a exemplo de
países desenvolvidos, onde a figura do médico só aparece
nas distocias ou no momento do parto, que deverão ser
devidamente diagnosticados pela enfermeira obstétrica.
Esta, sendo uma profissional adequadamente preparada
para esse papel, passará segurança ao médico obstetra,
que será alertado em tempo hábil para uma atuação
de sucesso.
MARÇO / ABRIL / MAIO
9
CAPA
Não podemos fazer, e não devemos aceitar, atitudes
que coloquem em risco a vida da paciente ou de seu filho
pelo simples fato de “não perder a paciente”,
caso ela opte por ações contrárias às que acreditamos
serem as melhores para ela.
Temos que enfatizar a todos a importância da execução
do partograma, pois ele nos diz quando e como atuar
quando o parto passa de baixo risco ou risco habitual
para um parto distócico, que necessita de intervenção,
seja medicamentosa, instrumentalizada e/ou operatória.
Temos que nos preservar quando as pacientes nos tentam
convencer a realizarmos o parto domiciliar, pois, apesar
deste não ser proibido pelo Conselho Federal de Medicina,
existe a recomendação clara de se evitar fazê-lo. Acho
que existe, sim, a maior chance de um parto domiciliar
ser bem sucedido. Porém, quanto mais o fazemos,
maiores serão as chances de cairmos naquela pequena
percentagem de complicações de hipotonia uterina,
asfixia perinatal, cabeça derradeira (temos colegas
fazendo parto pélvico em casa), e assim perdemos a
chance de salvar um bebê e a paciente. Isso em uma
era em que a disponibilidade de ambientes e recursos
adequados torna a perda ou sequela de vidas cada vez
menos justificável.
Sim, muitos podem dizer que esses são eventos raros,
mas todos nós já tivemos uma paciente que nos fez ficar
preocupados ou por período expulsivo prolongado ou
por sangramento que não melhora, por uma necessidade
de histerectomia pós-parto, ou simplesmente por uma
paciente que desmaia no período expulsivo por estar
exausta e cansada. Pode-se afirmar que mesmo no
hospital podemos perder pacientes e bebês. Mas, se
estivermos em casa e levarmos tempo até chegarmos
ao hospital, acreditem, podemos ter um desfecho
diferente. Com isso, será que dormiremos tranquilos nos
questionando a todo momento se “seria diferente se
estivéssemos no hospital”?
Não quero levantar a polêmica, mas, como o próprio tema
diz, é uma reflexão pessoal que gostaria de compartilhar
10
revista SGOB
com vocês. Hoje estamos muito expostos, com receio de
fazer pré-natal, acompanhar partos. Não temos que temer
os jargões de parto humanizado, violência obstétrica.
Temos, sim, que tentar fazer o que de melhor fazemos,
que é atender bem a nossa paciente, esclarecê-la em
suas dúvidas e anseios. Isso feito, tenho certeza de que a
nossa paciente não ficará em dúvida ou se sentirá “traída”
ou não aceitará uma indicação de indução ou parto
cesáreo durante seu acompanhamento pré-natal, sendo
uma dessas ações necessárias. Essa será, provavelmente,
a melhor forma de transmitirmos o quanto nos importamos
com ela e seu bebê, o quanto desejamos e cuidamos
para o sucesso desse momento tão especial e único, que
é o seu parto.
Podemos até discordar de pacientes que não tiveram
empatia conosco, mas aí também temos que ter
a dignidade para deixarmos de ser seus médicos,
principalmente se estamos contra o pensamento que ela
acredita. Temos que explicar que nós não nos sentimos
seguros para determinada conduta e que ela tem a
liberdade de procurar outro profissional que aceite fazer
o que ela deseja.
Não podemos fazer, e não devemos aceitar, atitudes
que coloquem em risco a vida da paciente ou de seu
filho pelo simples fato de “não perder a paciente”, caso
ela opte por ações contrárias às que acreditamos serem
as melhores para ela. Que seja melhor que encontre
outro profissional disposto a atender aos seus anseios
e que você possa estar tranquilo sabendo que tentou
fazer o melhor e forneceu as melhores explicações. E
que a paciente, e talvez o outro profissional que tenha
aceitado atos obstétricos de maiores riscos, assumam as
suas responsabilidades.
Reflitam!
MARÇO E ABRIL
11
OPINIÃO DO OBSTETRA
A melhor assistência ao parto
Dr. Bruno Ramalho de Carvalho, especialista em Medicina Reprodutiva, Clínica Saúde da
Mulher, e GÊNESIS - Centro de Assistência em Reprodução Humana - Brasília/DF
Mestre pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto (FMRP-USP)
E
mbora eu divida minhas atividades entre a obstetrícia e a reprodução humana, depois de muito refletir,
debater e assistir, ao saber deste número especial sobre parto, resolvi manifestar-me sobre as recentes
notícias envolvendo a prática da obstetrícia médica em nosso país.
O médico, como qualquer profissional de saúde, tem função de educador e deve apoiar
sua orientação ao paciente nos pilares da ética e da ciência, podendo imprimir na conduta o seu
posicionamento pessoal, desde que isso fique claro como postura própria e não assuma caráter
consensual ou impositivo. Exceção óbvia é o caso emergencial, com risco iminente à vida, quando
normalmente não há tempo suficiente para o diálogo. Em outras palavras, não podemos, nós médicos,
assumir como verdades absolutas nossas convicções se há na literatura especializada documentos
confiáveis que sustentem também opiniões distintas das nossas.
Penso ser difícil julgar condutas independentes, um fato aqui, outro acolá, principalmente estando de fora
e olhando para trás. Em minha opinião, os fatos recentes divulgados na mídia sobre determinado desfecho
obstétrico remeteram-se não somente à chamada “violência obstétrica”, mas a um ato violento em dimensão
mais ampla, na proporção da comoção levada além das nossas fronteiras geográficas, para alertar a todos nós
sobre a realidade do momento em que estamos.
ESPAÇO PUBLICITÁRIO PAGO
Entendo que estejamos vivendo um momento delicado, em que a medicina é colocada em xeque, e que se
pauta basicamente no excesso de intervenções obstétricas de indicação supostamente questionável e na
ignorância dos médicos obstetras ao protagonismo da parturiente na história da gravidez e do parto, ou seja,
12
revista SGOB
OPINIÃO DO OBSTETRA
no que seria um descaso à sua autonomia para decidir, quando isso é possível. Particularmente, penso que, na
maioria dos casos, respeitar a autonomia da gestante/parturiente é possível.
Não apenas a questão do parto vaginal depois de mais de uma cesariana tem de ser discutida. Muitos outros
aspectos da assistência médica obstétrica têm de ser revistos: episiotomia rotineira, posição deitada para parir,
uso indiscriminado de ocitocina, manobras de compressão do fundo uterino, presença de acompanhante (um ou
mais) no parto... Sem nenhum problema, a meu ver, até a cesariana a pedido tem de ser avaliada como possível
e aceita se for considerada a melhor forma de resolução para a gestante bem orientada, em uma abordagem
da mesma forma “humanizada”, por contemplar a autonomia, a individualização.
Sem a intenção de alimentar corporativismo, acho por outro lado que não podemos fechar os olhos para
problemas vividos por médicos e outros profissionais de saúde em nosso país. Não reconheço nada que justifique
maus tratos e condutas sem o devido respaldo técnico ou não respeitar a autonomia do paciente quando ele
pode decidir. Isso em qualquer área de atuação. Entretanto, não podemos simplesmente condenar o médico sem
que percebamos as carências de ferramentas assistenciais fundamentais que permitam a assistência considerada
“humanizada” ou, como eu prefiro chamar, a ASSISTÊNCIA AO PARTO COMO ELA DEVE SER. Com isso, remeto-me
às más condições para oferta de um pré-natal adequado, à falta de estruturas físicas e aparato pessoal para
uma boa e segura assistência ao parto, ao ensino, muitas vezes hermético e arcaico da prática obstétrica, à
má remuneração profissional, às rotinas estafantes, entre outros tantos problemas. Assim, minha defesa é por
humanizar o atendimento à mulher como eixo, pedra fundamental da conduta, mas também enxergar o médico
como ser humano. Humanizar em mão dupla.
Penso, por fim, que o estereótipo do médico intervencionista esteja distorcendo a imagem da profissão. Isso é
muito grave e preocupante. Não acredito na má fé, na intenção da má prática, mas essa má prática parece
ser real e estou certo de que é hora de rediscutir condutas, mudar conceitos e dar melhor assistência a quem nos
procura como porto seguro. Isso reunindo todos os profissionais envolvidos na assistência à gravidez e ao parto,
todos em prol de uma mesma causa. A sociedade pede essa mudança, isso é notório. Temos hoje, com todos
os poros abertos ao diálogo, uma oportunidade inédita, acredito, de formular condutas que levem à assistência
almejada. Os paradigmas têm de ser mudados, é fato, sem paixão e com o amor inerente aos que trabalham
com seriedade.
ESPAÇO PUBLICITÁRIO PAGO
O que escrevo aqui é o que eu penso e escrevo de coração aberto, esperando que assim o receba quem lê. Não
traduz especificamente pensamento ou postura de mais ninguém.
MARÇO / ABRIL / MAIO
13
ENTREVISTA COM O ESPECIALISTA: DR. ALBERTO ZACONETA
O QUE OS OBSTETRAS PENSAM SOBRE PARTO HUMANIZADO,
TAXA DE CESÁREAS E VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA?
O senhor se incomoda ao ser interrogado
sobre temas considerados espinhosos
para um médico, como a assistência
desumanizada ao parto, a alta taxa de
cesáreas e a violência obstétrica?
Ao contrário. Agradeço pela oportunidade de expressar
meus sentimentos, que podem ser os de outros colegas.
Estamos vivendo um momento novo sobre a visão que
a sociedade tem do médico obstetra e acho que
temos o direito de expor a nossa visão sobre o assunto.
Historicamente, o obstetra representa para a gestante
não apenas um médico que trata doenças, mas, antes,
um parceiro solidário na caminhada durante a gestação,
parto e pós-parto, um confidente, um porto seguro em
um momento de incertezas e fragilidade emocional. Esse
é o perfil do bom obstetra, do qual tantas mulheres têm
lembrança e que, amiúde, as continuará acompanhando
como ginecologista pelo resto da vida. Mas de repente
surgiu um movimento para apresentar o médico
obstetra como um inimigo do bem nascer, como um
ser frio, desatualizado e, o que é pior, “desumanizado”,
responsável por todos os infortúnios que as mulheres
sofrem durante a gestação e o parto. Eu proponho que
analisemos juntos se realmente é apenas o obstetra
culpado pelo cenário atual da assistência obstétrica.
Observamos, recentemente, o surgimento
de um movimento que chama a atenção
para a “violência obstétrica”, que seria
representada por um excesso de atos
desnecessários durante a assistência ao
parto, entre outros. Qual sua opinião a
respeito do assunto?
Se analisarmos a definição jurídica do termo “violência” –
constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém,
para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem –,
a violência obstétrica existe sim. Principalmente nas
maternidades públicas, onde as gestantes não são
ouvidas quanto às suas preferências e lhes é imposto um
modelo de parto que em muitos aspectos é brutal: jejum,
solidão, exposição da nudez, e dor física, dentre outros.
Mas eu pergunto: foi o médico obstetra quem criou esse
modelo? Na verdade, ele foi formado nele. Quando
ainda estudante assistiu horrorizado às mulheres gritando
de dor e suplicando por uma cesárea que as livrassem
da dor, porque a maior parte das maternidades públicas
14
revista SGOB
não oferece analgesia para o parto normal. Portanto,
na sua gênese, o próprio médico é vitima da violência
desse sistema, que o faz sofrer, mas ao qual acaba se
adaptando. Se quisermos reverter a situação, reconheço
que precisamos de um programa a longo prazo de
educação médica sobre as intervenções necessárias e
desnecessárias, mas também precisamos mudar o cenário
para que os profissionais possam exercer a profissão da
maneira como as boas práticas recomendam.
O que devemos fazer para diminuir a taxa
de cesárea?
Temos dois contextos. No sistema público, dando
condições para o acompanhamento do parto
normal com dignidade e segurança. As instituições
têm que estabelecer protocolos de assistência ao
parto multidisciplinar, deixando clara a função e
a responsabilidade de cada membro, e auditar
periodicamente o cumprimento desses protocolos,
identificando falhas e promovendo cursos de educação
para saná-las.
Na saúde suplementar, tenho a opinião pessoal de
ENTREVISTA COM O ESPECIALISTA: DR. ALBERTO ZACONETA
Temos que nos manter atualizados, porque a obstetrícia
moderna intervém menos, mas quando intervém o faz com
precisão e baseada no conhecimento científico.
Dra. Alberto Zaconeta
que devemos adotar o modelo de atenção obstétrica
em grupos. Ou seja: a gestante deve saber que é
acompanhada não por um médico, mas por um grupo de
médicos com escala definida. O modelo atual não apenas
escraviza o médico e causa um êxodo de profissionais da
obstetrícia, sobretudo mulheres, mas claramente aumenta
o número de cesáreas, porque ninguém tem condições de
acompanhar todas as suas pacientes no trabalho de parto,
que demora várias horas. Adicionalmente, a sociedade
tem que cobrar dos hospitais privados as condições para
aumentar a taxa de parto normal: equipe de plantonistas
suficiente, enfermeiras obstétricas para acompanhar as
pacientes internadas, repouso e alimentação para o
profissional que acompanha o trabalho de parto, etc.
O parto domiciliar está na mídia, sendo
defendido por membros da sociedade
comum e por alguns profissionais médicos
e propagado por artistas. Apesar da defesa
por alguns, o Conselho Federal de Medicina
posiciona-se expressamente contra a sua
realização. Essa restrição é válida?
O que os obstetras têm que fazer para
melhorar a assistência obstétrica?
Temos que ouvir o clamor das ruas. As mulheres estão
nos dizendo que não querem mais um modelo de parto
tão medicalizado, que não querem ser consideradas
“pacientes” ou “doentes” que precisam sempre de
tratamentos e intervenções. Temos que nos manter
atualizados, porque a obstetrícia moderna intervém menos,
mas quando intervém o faz com precisão e baseada no
conhecimento científico. Abandonar algumas práticas
enraizadas e adotar um modelo novo não é tarefa fácil.
Requer humildade, autocrítica e disposição para o trabalho
em equipe. Mas se dispor a mudar é transformador. Nas
palavras de Einstein: “uma mente que se abre a uma nova
ideia jamais voltará ao seu tamanho original”.
ESPAÇO PUBLICITÁRIO PAGO
Eu acho que não. A paciente tem o direito de escolher onde
e assistido por quem terá seu parto. Não podemos cercear
esse direito. Eu, pessoalmente, não faço parto domiciliar
porque entendo que em uma emergência não terei tempo
hábil de colocar a paciente ou o bebê no ambiente de
maior segurança, que é o hospital. Mas há colegas idôneos
que o praticam e merecem nosso respeito. O que acho
importante é que os riscos e a responsabilidade de eventuais
fatalidades sejam colocadas às claras, por escrito. Não
é honesto mostrar apenas o lado romântico e omitir ou
menosprezar os riscos. Esclarecido, o casal tem que ter seu
direito de escolha respeitado.
MARÇO / ABRIL / MAIO
15
Download

Março/Abril/Maio de 2014 - Ano XX