○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Cássio Leite Vieira Instituto Ciência Hoje, Rio de Janeiro, RJ, Brasil E-mail: [email protected] ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Há 100 anos, um garoto pobre que virou lorde revelou ao mundo o coração da matéria, um caroço duro e diminuto no qual 99,9% da massa do átomo estão concentrados. A descoberta do núcleo atômico - como ele o batizou - iniciou uma nova etapa em uma das mais belas aventuras do conhecimento humano: a resposta à pergunta simples e milenar “De que são feitas as coisas?” Versão resumida deste texto foi publicada no caderno ‘Ilustríssima’, da Folha de S. Paulo, em 13/3/2011. 38 N menos: elétrons, raios X e radioatividade. o obituário que o New York Times Esta última - radiação cuspida espontapublicou em 20 de outubro de neamente pelos átomos - era um cons1937, lia-se que poucos humanos trangimento para a física e a química do atingiram, em vida, a imortalidade - e, século 19, que não podiam explicá-la. muito menos, o Olimpo. O destinatário Rutherford, depois de um flerte rápido de tão eloquente elogio - morto no dia ancom as ondas de rádio, descobertas em terior - foi um explorador do infinita1887, passou a estudar a radioatividade, mente diminuto e complexo interior do que então reunia os elementos básicos átomo, universo que ele foi o primeiro a para uma (próspera) carreira científica: inpenetrar. trigante, fascinante, promissora e - princiAs palavras refletem a extensão da palmente - ininteligível. E com pouquísfama do físico neozelandês Ernest Ruthersima bibliografia - como justificou, mais ford, cuja biografia lembra a de heróis de tarde, a física polonesa Marie Curie (1867contos infantis em que garotos pobres, da 1934), ao escolher o tema para seu douperiferia, se tornam nobres e admirados torado naquele final de século. por seus feitos e seu caráter. A obra científica de Rutherford imEsforço e sorte pressiona. Mas ele será sempre lembrado Nascido em 30 agosto de 1871, em como aquele que escavou o átomo a fundo e, de lá, trouxe ao mundo o coração da Spring Grove (hoje, Brighwater), área rumatéria, o caroço duro e diminuto que ral ao sul de Nélson (Nova Zelândia), Rutherford cresceu em família pobre, com pai ele batizou núcleo atômico. O percurso até aí, porém, foi longo e árduo. mecânico e agricultor e mãe professora Para entender Rutherford e suas desprimária. Era o quarto de 12 filhos. Foi cobertas sobre a radioatividade, a estrunesse ambiente que, segundo o historiador tura dos átomos e a transmutação dos eleda ciência Lawrence Badash (1934-2010) mentos, é preciso descrever, ainda que bre[2], se forjaram os princípios que levariam vemente, a física do final do século 19, da o jovem Ernest da periferia do império qual ele é fruto. Nas palavras do histobritânico ao posto de cientista mais famoriador da ciência Erso do início do século A obra científica de Rutherford passado: simplicidade, win Hiebert [1], esse impressiona. Mas ele será retidão, economia, cenário era marcado: sempre lembrado como aquele energia, entusiasmo e i) por uma crescente que escavou o átomo a fundo respeito à educação percepção de uma e, de lá, trouxe ao mundo o sempre leu muito ao unidade das ciências coração da matéria, o caroço longo da vida. físicas; ii) pela urgênduro e diminuto que ele Biografias de Rucia em abarcar os febatizou núcleo atômico therford - por exemnômenos do muito plo, Arthur Eve [3] grande e do muito pecostumam extrapolar para sua juventude queno em uma só visão do mundo; iii) o talento de sua maturidade. Porém, por uma nova atitude (mais ousada) em pesquisas minuciosas feitas pelo físico e relação à especulação científica; e, iv) pela biógrafo John Campbell [4] mostraram ênfase nas colaborações científicas. que o estudante - talentoso em matemáPara Hiebert, os físicos estavam prontica e física - estava mais para esforçado e tos para (se preciso) construir um mundo iluminado pela sorte do que para “gênio”. radicalmente novo para englobar os novos Suas oportunidades acadêmicas se concre(e aparentemente não relacionados) fenôUm século da descoberta do núcleo atômico Física na Escola, v. 12, n. 2, 2011 tizaram porque os primeiros colocados cujo laboratório de física era um dos mais Rutherford - que se tornou o “Sr. Radioaacabavam, por algum motivo, não aceibem equipados do mundo, graças ao patividade” - reforçada pela publicação, em tando as bolsas de estudo. tronato do dono de uma fábrica de tabaco 1904, de seu livro Radio-Activity, clássico Foi uma dessas bolsas que levou Ruque desprezava o hábito de fumar. Gada área. No início do século, sua fama therford, em 1895, ao Laboratório Cavennhou o emprego indicado por Thomson, ultrapassava a de Henri Becquerel (1852dish, em Cambridge (Inglaterra), referênque o classificou como o melhor aluno 1908), o descobridor da radioatividade, e cia mundial em física experimental. Em que já tivera. Os resultados que Ruthera do casal Pierre (1859-1906) e Marie fevereiro do ano seguinte, Rutherford finaford obteria naquele laboratório colocaCurie (1867-1934), que havia descoberto lizou um detector que podia captar ondas riam a física canadense no mapa-múndi dois novos elementos radioativos, o polôeletromagnéticas a até 800 m - um feito da ciência. nio e o rádio. O trio recebeu o Nobel de tecnológico semelhante a um telégrafo Com o auxílio do competente químico Física em 1903. Inicialmente, Rutherford sem fio. Começava assim a manifestar, em inglês Frederick Soddy (1877-1956), Rutinha o trio como de competidores. Mais continente europeu, therford passou a tarde, desentendeu-se (polida e cientificasua grande capacidade trabalhar intensamente) com Becquerel. Com os Curie Agraciado com o Prêmio Nobel de imaginar, projetar mente. Agora, seu manteve amizade, e com Marie admiração de Química de 1908, Ruthere construir artefatos, objetivo era publicar mútua longo da vida. ford comentou: “Lidei com algo incutido nele muito (e bons resulOs resultados no Canadá renderam a várias e diferentes ainda na infância, ao tados), para um dia Rutherford o Nobel de Química de 1908. transformações em diversos observar essas habilivoltar à Inglaterra, Química? Sim, porque o assunto radioaperíodos, mas a mais rápida dades no pai - ainda onde poderia não só tividade, para o comitê do prêmio, pertencom que me defrontei foi a criança, desmontava fazer física de primeicia a essa área. Rutherford resumiu seu minha própria transformação relógios para consra, mas também (e espanto assim: “Lidei com várias e difede físico em químico” truir miniaturas de mais importante) rentes transformações em diversos períomoinhos d’água, por exemplo. estar ao lado de quem a fazia. A ambição dos, mas a mais rápida com que me deRutherford tentou patentear seu deprofissional sempre foi um traço marcante frontei foi a minha própria transformação tector - talvez, buscando fama e fortuna, de sua personalidade. De Montreal, de físico em químico”. Embutida na frase, segundo John Heilbron [5] -, mas seus escreveu para sua futura mulher, Mary há seu preconceito em relação à química ganhos impossibilitavam essa despesa exGeorgina Newton (1876-1945), com - para ele, ciência “malcheirosa”. Por sitra: sua bolsa mal o sustentava, atirandoquem se casaria, em 28 de junho de 1900, nal, classificava todos os outros ramos das o no limite entre a pobreza e a miséria. em Christchurch (Nova Zelândia): “Quero ciências naturais como “coleção de selos”. Assim, o desenvolvimento do telégrafo trabalhar bastante e formar uma escola Rumo ao núcleo sem fio ficaria a cargo do italiano Guglielde pesquisa, para ofuscar todo o brilho mo Marconi (1874-1937), que levaria o O esforço e a perseverança de Ruthdos Ianques!” Décadas mais tarde, o exNobel de Física de 1909 pela invenção. erford se evidenciaram naquele ano e meio físico e escritor inglês C.P. Snow (1905O detector e outras habilidades expeem que ele se debruçou sobre os resultados 1980), autor do clássico As Duas Cultuobtidos pelo físico neozelandês Ernest rimentais de Rutherford impressionaram ras, o caracterizou como “exuberante, exMarsden (1889-1970) entre 1909 e 1910. seu chefe no Cavendish, Joseph John trovertido e nada perceptivelmente moA ideia do experimento, baseado no bomThomson (1856-1940), que, em 1897, desto”. bardeio de uma folha finíssima de ouro descobriria a primeira partícula subatôEm pouco tempo, a dupla Rutherford com partículas alfa (núcleos de hélio), mica, o elétron - fazendo da palavra átoe Soddy apresentou resultados surpreenhavia nascido de observação (desconfiada) mo (a = não; tomo = divisível, em gredentes sobre a radioatividade. Um deles: feita em um experimento anterior, no qual go) uma contradição semântica. Explicaa emissão de radiação fazia com que um um feixe semelhante de partículas, depois se. Até então, pelos últimos dois mil e quielemento químico se transformasse em de atravessar uma folha fina de mica, fornhentos anos, vários modelos de átomos outro. Ganhou o nome de transmutação mava, em um anteparo, uma mancha haviam sido idealizados, mas essas entinuclear, teoria que derrubava outra prodifusa, um borrão. A dades diminutas sempre haviam permapriedade atribuída ao Em 1896, Rutherford tentou intuição demandava necido obedientes aos ditames do filósofo átomo ainda na Antipatentear um detector de ondas com base no que se grego Leucipo (c. 500-450 a.C), pai do guidade: a indestrutieletromagnéticas, mas não o fez concebia ser o átomo atomismo: “Toda a realidade consiste em bilidade. A transforpor questões financeiras. Um e as partículas alfa; partículas duras e indivisíveis, movendomação cheirava a pouco depois, Marconi estas últimas, para se e colidindo no espaço vazio”. Raros foalquimia - na época, já apresentava o telégrafo, com o Rutherford, ‘giganram os cientistas ou pensadores que, até morta e enterrada -, e qual ganhou o Prêmio Nobel de tescas’ como átomos a época de Thomson, arriscaram teorizar Rutherford foi cuiFísica de 1909 - que o feixe não sobre um átomo com estrutura interna. dadoso em buscar sofresse esses desvios. apoio de químicos Ao Canadá Esse mistério permaneceu com Rurenomados, como o britânico sir William Rutherford também desistiu de Camtherford até que ele e seu assistente, o fíCrookes (1832-1919), para a ideia. Com bridge - para ele, um ambiente esnobe. sico alemão Hans Geiger (1882-1945), base nessa teoria, calculou a idade das roresolveram atacar a questão na UniverPercebeu que alguém da periferia - ele foi, chas em bilhões de anos, desmontando assidade de Manchester (Inglaterra), para no Cavendish, um dos primeiros estudansim argumentos geológicos, biológicos e tes de pesquisa não formados em Camonde Rutherford havia se transferido, ocureligiosos sobre a idade da Terra. bridge - teria poucas chances de promoção pando a vaga deixada especialmente para Esses e outros resultados (por exempor lá. A saída foi aceitar, em 1898, uma ele pelo físico anglo-alemão Arthur plo, a descoberta do gás radônio) lapidavaga na Universidade McGill (Canadá), Schuster (1851-1934). Para a tarefa de ram a imagem científica e pública de Física na Escola, v. 12, n. 2, 2011 Um século da descoberta do núcleo atômico 39 investigar a misteriosa mancha difusa, - cada um deles moeda corrente na ciência de certa forma, confirmou as ideias de designaram Marsden, aos tenros 20 anos atual. 1903 do físico japonês Hantaro Nagaoka de idade. A tese de Badash - apesar de bem ar(1865-1950) - citado por Rutherford -, A engenhosidade - lançar partículas gumentada - causa espanto para aquele cujo átomo tinha um núcleo gigante, contra um alvo - foi tamanha que o expeque conheceu o Cavendish nos tempos herodeado por elétrons, lembrando os anéis rimento é base até hoje para perscrutar o roicos, em que para um aluno, em busca de Saturno. interior do átomo. de um cano de aço para um experimento, O alquimista As partículas alfa (formadas por dois era dada uma serra e uma bicicleta velha, nêutrons e dois prótons) vinham de uma Em 1919, Rutherford publicou os reda qual ele devia extrair o que desejava. fonte radioativa e, transformadas em feisultados que o tornariam o primeiro Era a física experimental no seu modo xe, eram lançadas contra a folha finíssima alquimista da história - feito tão impresmais romântico, com experimentos feitos de ouro (0,00006 cm), que estava circunsionante quanto a descoberta do núcleo em um prédio úmido, empoeirado, cheio dada por uma tela cintilante. Em sua atômico. No experimento, bombardeou de fios e equipamentos que se distribuíam esmagadora maioria, átomos de nitrogênio sem a menor ordem aparente, empestados Em 1919, Rutherford publicou as partículas alfa, viacom partículas alfa, pela fumaça dos charutos do chefe, que os resultados que o tornariam o jando com velocidade produzindo oxigênio fazia, para o temor dos estudantes, a primeiro alquimista da história comparável à de uma e, de quebra, o próronda diária. Época de físicos com mãos e - feito tão impressionante bala de fuzil, atraveston, partícula de carroupas sujas de graxa. quanto a descoberta do núcleo savam a folha de ga positiva de cuja Nêutron atômico ouro, sem praticaexistência ele já desmente se desviar da A indiferença de Rutherford em relaconfiava desde pouco trajetória original. Algumas sofriam desção à mecânica quântica - cuja matemádepois da proposição por ele da existência vios maiores, atingindo a tela em pontos tica ia muito além de seus conhecimentos do núcleo atômico. diversos, que brilhavam com a colisão. - só foi amenizada com a volta dos granA transmutação de nitrogênio em Mas - e aí está o que Rutherford mades resultados do Cavendish. Em 1932, oxigênio foi seguida, no entanto, de queda cerou mentalmente por um ano e meio James Chadwick (1891-1974) descobriu significativa de resultados importantes no uma em cada 20 mil partículas, em média, o nêutron, partícula sem carga elétrica, Laboratório Cavendish, que, desde 1919, ricocheteava de volta em direção à fonte estava sob a liderança de Rutherford companheira do próton no núcleo atômiemissora. co. De modo impressionante, esbarraram herdou-a de Thomson. Nessa altura, RuOs cálculos finais de Rutherford nele, pouco antes, Fédéric Joliot (1900therford - que não tinha a física teórica sugerem uma caligrafia trêmula - talvez, em grande estima - percebeu que preci1958) e Irène Curie (1897-1956) - filha de Pierre e Marie Curie. O casal levaria o reação àquilo que ele começava a entender: saria de ajuda para projetar experimentos Nobel de Química de 1935 pela obtenção toda a massa atômica estava concentrada na área da teoria quântica, que lida com os fenômenos do mundo atômico e subados primeiros elementos químicos raem um caroço central, responsável por tômico e que ganhou grande impulso na dioativos artificiais. desviar ou mesmo rebater de volta as pardécada de 1920. Contratou Ralph Fowler Chadwick percebeu que aquela partítículas alfa. O átomo, portanto, era um cula, cuspida depois que átomos de berílio (1889-1944), que, em 1921, casou-se grande vazio. Sintetizou seu espanto dieram bombardeados com partículas alfa, com sua única filha, Eileen Mary Rutherzendo que era como se canhões de grosso não era um raio gama - como teorizaram ford (1901-1930). calibre atirassem contra uma folha de paFrédéric e Irène -, mas algo que seu chefe, Se tanto fez Rutherford, então por que pel e os projéteis voltassem em sua direção. Rutherford, já havia proposto em 1920: não recebeu um segundo Nobel? A hipóO núcleo era diminuto (cerca de o nêutron. tese mais provável é a 0,0000000000001 cm), aproximadaAgora, o modelo de Campbell: o comimente 10 mil vezes menor que o diâmetro As pesquisas de Rutherford em atômico parecia se tê estava certo de que atômico. Se o átomo tivesse o diâmetro radioatividade e física nuclear completar: prótons, mais um prêmio não do Maracanã, o núcleo seria mais ou mehoje levam conforto e saúde a nêutrons e elétrons. nos do tamanho da cabeça de um alfinete. acrescentaria nada à boa parte da população, por Mas a descoberta ou a fama do físico. Se juntássemos todos os núcleos do corpo meio de usinas nucleares e proposição de novas A historiografia humano, eles não seriam maiores que um equipamentos de diagnóstico e partículas subatôda ciência vê em Rugrão de areia. tratamento para o câncer, para micas (pósitron, therford as origens da O modelo atômico nuclear de Ruthapenas dois casos múon, píon) na décaBig Science, o tipo de erford desbancou aquele idealizado por emblemáticos da de 1930 viriam ciência (principalLorde Kelvin (1824-1907) e aperfeiçoado embaralhar o cardápio dos constituintes mente física) feito depois da Segunda por Thomson, o chamado “pudim de pasbásicos da matéria, justamente em uma Guerra, com enormes volumes de dinheisas”, no qual os elétrons seriam “passas” época em que havia muita resistência à ro, grande quantidade de pesquisadores, incrustadas em uma “massa” de carga eléaceitação de novos membros nesse clube, laboratórios nacionais, temas por vezes trica positiva. Esse tipo de átomo, pela cujas portas os físicos sonhavam em feligados a questões militares. Badash [6] disposição de seus elementos – ou seja, char. Foi uma época da qual Rutherford enxerga Rutherford como precursor na sem a presença de um núcleo -, não explidesfrutou pouco, assoberbado por palesformação de equipes de pesquisa, nos cava por que as partículas alfa ricochetras, compromissos, cargos e tarefas laboratórios com numerosos integrantes, teavam de volta em direção à fonte burocráticas. no grande fluxo de publicações, na interemissora de radiação. nacionalização dos resultados, nos esforO modelo de Rutherford não recebeu Aos pés de Newton ços de especialização, nos meios de dissemuita atenção, mas deu início à viagem Aquele neozelandês de olhos claros, minação da informação e na competição da ciência rumo ao centro da matéria. E, 40 Um século da descoberta do núcleo atômico Física na Escola, v. 12, n. 2, 2011 voz grave e tenebrosa, que metia medo em seus alunos, exigente e com pouca paciência para experimentos que tardavam a dar resultados foi, no entanto, respeitado e admirado. Sua humildade foi reconhecida: não pôs seu nome em artigos importantes, mesmo que a ideia do experimento tenha partido dele. Não pleiteava nem dinheiro, nem equipamento além do que realmente precisava. Passou por momentos difíceis. O pior foi a morte de sua filha no parto do quarto neto dele. Lutou pela paz mundial (pediu que aviões não fossem usados em guerra), participou do esforço de guerra para deter o avanço nazista, lutou pela liberdade de imprensa e defendeu o direito das mulheres na ciência - sua sogra foi pioneira do movimento pelo voto feminino na Nova Zelândia -, concedendo bolsas e oportunidades para físicas. Diferentemente do improdutivo Nobel de Física Michael Beard, protagonista de Solar [7], Rutherford seguiu impressionando o mundo científico depois do prêmio de 1908. Além disso, dirigiu o Cavendish de grandes feitos na década de 1930, como a descoberta do nêutron e a primeira comprovação experimental da fórmula mais famosa da ciência, E = mc2, ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ de Einstein. Até 1930, praticamente tudo que havia sido feito sobre a estrutura nuclear havia vindo de Rutherford, escreveu o historiador da física Daniel Kevles [8]. O problema do modelo atômico nuclear instabilidade, segundo as regras da física clássica - foi corrigido com base na teoria quântica, em 1913, por um de seus exalunos em Manchester, o físico dinamarquês Niels Bohr (1885-1962). Tornou-se sir (1914) e primeiro Barão Rutherford de Nélson (1931). Em seu brasão, escolheu homenagear seu país natal, com símbolos da Nova Zelândia (um pássaro kiwi e um guerreiro maori). Suas pesquisas em radioatividade e física nuclear hoje levam conforto e saúde a boa parte da população, por meio de usinas nucleares e equipamentos de diagnóstico e tratamento para o câncer, para apenas dois casos emblemáticos. Os restos de Rutherford - morto em 19 de outubro de 1937, aos 66 anos de idade, em Cambridge, por postergar a cirurgia de sua hérnia umbilical em função dos compromissos - estão aos pés do magnífico altar de Isaac Newton (16421727), na Abadia de Westminster, em Londres. Assim, aquele que quiser chegar a Newton, para observar o passado, deve○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ rá necessariamente passar por Rutherford. Muito justo. Referências [1] Erwin N.Hiebert, in: Rutherford and Physics at the Turn of the Century. Edited by Mario Bunge and William R. Shea (Dawson and Science History Publications, New York, 1979), p. 3-22. [2] Lawrence Badash, in: Dicionário de Biografias Científicas (Contraponto, Rio de Janeiro, 2007), p. 2.382-2.393. [3] Arthur Eve, Rutherford - Being the Life and Letters of the Rt Hon. Lord Rutherford, OM (Cambridge University Press, Cambridge, 1939). [4] John Campbell, Rutherford Scientist Supreme (AAS Publications,Christchurch, 1999). [5] John L. Heilbron, Rutherford and the Explosion of Atoms (Oxford University Press, Oxford, 2003). [6] Lawrence Badash, in: Rutherford and Physics at the Turn of the Century, editado por Mario Bunge and William R. Shea (Dawson and Science History Publications, New York, 1979), p. 23-41. [7] Ian McEwan, Solar (Companhia das Letras, São Paulo, 2010). [8] Daniel J. Kevles, Physics Today 10, 175 (1972). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Un congreso virtual sobre los retos y perspectivas de la enseñanza de las ciencias 11 a 16 de Junio de 2012 Finalidad El congreso virtual quiere ser un punto de encuentro para el intercambio de experiencias de innovación y/o investigación en enseñanza de las ciencias. Presentación de comunicaciones Se anima a todo el profesorado a hacer una presentación de su experiencia sobre cualquier actividad educativa innovadora y/o investigadora realizada individualmente o en grupo sobre la enseñanza de las ciencias. Difusión Se generarán una o más publicaciones en formato electrónico (ebook) y en papel. Reconocimiento Tanto la asistencia como la presentación de comunicaciones recibirán reconocimiento mediante la correspondiente acreditación. Esperamos contar con su participación Para más información ver página web http://webs.uvigo.es/isiec2012/ [email protected] Física na Escola, v. 12, n. 2, 2011 41