Departamento de História Programa de Pós-Graduação em História Reitor José Geraldo de Sousa Junior Vice-Reitor João Batista de Souza Decana de Pós-Graduação Denise Bomtempo Birche de Carvalho Diretor do Instituto de Ciências Humanas Estevão Chaves de Rezende Martins Chefe do Departamento de História José Otávio Nogueira Guimarães Vice-chefe Daniel Barbosa Andrade de Faria Coordenadora de Pós-Graduação/PPGHIS Albene Míriam Ferreira Menezes Coordenadora do V Simpósio Nacional de História Cultural Brasília 50 anos: Ler e Ver – Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Cléria Botelho da Costa COMISSÃO ORGANIZADORA COORDENAÇÃO GERAL – ANPUH Rosangela Patriota Ramos (UFU) GT de História Cultural/ANPUH Nacional COMISSÃO CIENTÍFICA Alcides Freire Ramos (UFU) Antônio Herculano Lopes (FCRB) Maria Izilda Santos Matos (PUC-SP) Mônica Pimenta Velloso (FCRB) Nádia Maria Weber dos Santos (GTHC/RS) Rosangela Patriota Ramos (UFU) COMISSÃO EXECUTIVA Alcides Freire Ramos (UFU) Anderson Oliva (UnB) Antônio Herculano Lopes (FCRB) Cléria Botelho Costa (UnB) Daniel Faria (UnB) Diva do Couto Muniz (UnB) Jaime de Almeida (UnB) Maria Izilda Santos Matos (PUC-SP) Mercedes Kothe (UPIS) Mônica Pimenta Velloso (FCRB) Nádia Maria Weber dos Santos (GTHC/RS) Rosangela Patriota Ramos (UFU) COMISSÃO EXECUTIVA LOCAL Cléria Botelho da Costa (UnB) Eloísa Pereira Barroso (SEEDF/UnB) COMISSÃO ORGANIZADORA LOCAL Aldanei Menegaz de Andrade (UnB) Alexandre de Carvalho (UnB) Anderson Oliva (UnB) Cléria Botelho da Costa (UnB) Clerismar Aparecido Longo (UnB) Daniel Faria (UnB) Diva do Couto Muniz (UnB) Eloísa Pereira Barroso (SEEDF/UnB) Edriane Madureira Daher (UnB) Hélio Mendes da Silva (UnB) Ivany Camara Neiva (CET/UnB) Jaime de Almeida (UnB) Maria Eva de Oliveira Holanda (UnB) Maria Helena Oliveira Freire De Medeiros (UnB) Maria Helenice Barroso (UnB) Maria Veralice Barroso (UnB) Mariangeles Guerin (UnB) Robson Nunes da Silva (UnB) Sainy Coelho Borges Veloso (FA/UFG) Tiago Luis Gil (UnB) PROMOTORES GT Nacional de História Cultural - ANPUH/ nacional Universidade de Brasília - UNB Universidade Federal de Uberlândia - UFU AGÊNCIAS DE FOMENTO CAPES/CNPq COLABORADORES ANPUH/DF FAP/DF EAPE/DF Media Lab – UFG Comissão Brasília 50 anos (UnB) APRESENTAÇÃO O V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais integra as comemorações do cinquentenário de Brasília, cidade que serviu de berço à UnB. Nesta quinta edição o referido simpósio busca divulgar pesquisas e suscitar debates tanto em torno de temas já consagrados no âmbito da História Cultural, quanto de perspectivas teóricas e metodológicas que visam a ampliar os campos de interlocução do historiador da cultura. A proposta do V Simpósio Nacional de História Cultural é particularmente, pensar como as subjetividades afetaram e foram historicamente afetadas pelas mudanças ocorridas nos comportamentos e nas visões de mundo, nas formas de conhecimento do real e na concepção de valores e verdades, nas experiências estéticas e nas expressões artísticas, nas crenças e mitos, na moral e na norma, nas formas de agregação dos indivíduos e dos grupos, no sentido do público e do privado. Que razões e sentimentos estão contidos nessas transformações que ocorrem na história? Por Dra. Rosangela Patriota Ramos - (UFU) Dra. Cléria Botelho da Costa – (UnB) V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 1 Paisagens e Viajantes - óticas e linguagens várias na leitura múltipla de sociedades e lugares A paisagem cartográfica de uma fronteira: breve exercício de leitura de um mapa colonial Benone da Silva Lopes Moraes (UFMT) [email protected] A “Carta Geográfica dos Extensos Territórios e Principais Rios do Governo da Capitania Geral do Mato Grosso (...)” foi um documento confeccionado em 1781 pelo então governador da capitania de Mato Grosso, Luís de Albuquerque de M. Pereira e Cáceres a partir de viagens fluviais que empreendeu para reconhecer a região. Nesta peça cartográfica, se representou a área que se transformava na fronteira, que demarcava os domínios ibéricos na América do Sul; e, de fato, há no seu desenho uma linha divisória que separa os dois territórios. Este mapa, elaborado após a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso (1777), traz uma cartela explicativa na qual se explicita que o mesmo faz parte da “Ideia Geral”, ou seja, que se trata de um documento pertencente ao conjunto de cartas e textos que Pereira e Cáceres fez construir, visando alterar os termos daquele tratado de limites. O governador pretendia manter o domínio português sobre os territórios espanhóis que os lusos haviam ocupado no interior da América Meridional. Nesta comunicação tem-se como proposta fazer uma leitura analítica desta carta geográfica olhando-a como uma paisagem de fronteira; o objetivo é o de adentrar na sua simbologia e interpretá-la a partir do contexto no qual foi criado. Palavras-chave: Cartografia, Fronteira Oeste, capitania de Mato Grosso. Carta aos Kraiuá: Koch-Grünberg e as leituras do legado humano desde o território Pemon Bruno Martins Morais - (UFMT) [email protected] Quem é o viajante? Quem é o observado? Este artigo é uma reflexão a respeito do legado humano e sua consolidação numa história de tempos desiguais: os índios macuxi do circunroraima reconhecem em Makunaimî o primeiro a cruzar de ponta a ponta o território Pemon, organizando e transformando o mundo como legado às gerações seguintes; Theodor Koch-Grünberg, por sua vez, corta a Guiana Ocidental de 1911 a 1913 e relata seus feitos nos três volumes do monumental “Vom Roraima zum Orinoco” como primeiro kraiuá (i. e., “aquele que vem de fora”) a oferecer sua leitura dos feitos deste herói mitológico, e consolidá-las também às gerações futuras. Na forma escrita, Makunaimî pôde ganhar ares alheio aos seus, e ser alvo de um novo conjunto de transformações: lhe trocam o nome, Macunaíma, lhe trocam a cor, enfim, lhe dão uma significância que já é uma terceira coisa, e que pode vir a ser uma quarta, leitura das demais. A partir desse mito heróico, colhido em fonte histórica e em trabalho etnográfico de campo, 5 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais a investigação deste artigo percorre o itinerário de transformações a que se sujeita este registro de Koch-Grünberg, legado de um viajante do circunroraima. Sob diferentes olhares no tempo, recebe ele agora uma leitura inédita a partir das comunidades: com o advento do letramento e com o auxílio das recentes traduções, os povos do circunroraima podem hoje opinar a respeito, e produzir sua própria versão dessas obras. Se, conforme Mário de Andrade, de São Paulo o Imperador do Mato Virgem escreve uma carta empolada às Icamiabas, veremos como desde o território macuxi seus súditos, no momento em que alcançam a escrita, produzem uma próxima leitura dos viajantes, misturando tradição e mudança, letramento e oralidade, devorando as versões passadas e subvertendo o próprio conceito de hist ória. Impresiones de la Francia Antártica en el pensamiento francés de la modernidad temprana Carolina Martínez Doutoranda pela Universidad de Buenos Aires, Argentina. [email protected] Son dos los relatos de viaje que sobrevivieron a la frustrada fundación de la primera colonia francesa que hacia 1556 intentó establecerse en la Bahia de Guanabara bajo el nombre de la Francia Antártica: Les singularitez de la France Antartique del padre capuccino André Thevet, publicada en 1558, y L´Histoire d´un voyage fait en la terre du Brésil, obra del pastor hugonote Jean De Léry publicada a su vez en 1576. En una enconada disputa por la representación de la realidad, ambos relatos darán cuenta de sus experiencias en tierras lejanas como así de aquello que vieron y sobre todo, de aquellos con los que compartieron, aunque más no haya sido brevemente, un período de su existencia. Si es el testimonio involuntario encerrado en el texto el que realmente hecha luz acerca de la mentalidad de quien lo escribió (Bloch, 1949), devienen estas fuentes de capital importancia para comprender no solamente las primeras impresiones francesas acerca del Nuevo Mundo y de los habitantes allí encontrados sino también los complejos debates y entramados de poder que en una Francia signada por las guerras de religión, se tejían a mediados del siglo XVI. Son estos algunos de los aspectos que el presente trabajo se propone analizar. Palabras clave: expansión ultramarina – Francia – Siglo XVI Paisagens do Brasil desconhecido: às margens do Araguaia no fim do século XIX através dos testemunhos missionários Claire Pic Doutorante pela Université Toulouse 2 (França) em co-tutela com o departamento de Historia da Universidade Federal de Recife [email protected] 6 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Nesta comunicação examinaremos a dimensão histórica da paisagem através da análise do olhar dos missionários dominicanos sobre as paisagens do Brasil Central no final do século XIX. Em 1881, os Dominicanos de Toulouse se engajam numa missão no Brasil e se estabelecem na Diocese de Goiás. Ao estudar as cartas, relatórios e livros deles, se encontra numerosas descrições e fotografias da região e das suas paisagens. Estas descrições nos falam da geografia e dos povos do Goiás e nos permite estudar o ponto de vista desses missionários franceses e de situar seus testemunhos nas correntes de pensamento da Europa do século XIX. De fato existe na descrição duma paisagem uma projeção intelectual, uma interpretação que permite destacar os pensamentos e preconceitos do autor. Procuraremos aqui, mostrar como as descrições dos missionários reforçam a imagem de uma região “selvagem”, onde a “civilização” ainda não chegou e participam da justificação da obra civilizadora deles. Palavras-chaves: Paisagem - Missão religiosa - Olhar europeu Fernando Pessoa, viajante Daniel Faria [email protected] Segundo Hans Ulrich Gumbrecht, uma das marcas da experiência da viagem no século XX, foi a restrição, ao mínimo possível, do tempo e da sensação de deslocamento durante o trajeto. Se os relatos de viagem tradicionais tematizam o ato de viajar em si, o trânsito, os meios de transporte e comunicação contemporâneos tendem a reduzir o trânsito a um ponto quase vazio entre a partida e a chegada. Assim, por exemplo, espera-se que um bom avião transmita, aos passageiros, a sensação de que eles estão parados. Além disso, os aeroportos são extremamente parecidos entre si. Tudo isso conflui para a lógica do turismo (termo inventado no século XIX, indicando um tipo de viagem leve e superficial). Neste contexto, Pessoa e seus heterônimos propuseram outra experiência de viagem: viajar como “sentir de tudo de todas as maneiras”, sem sair do lugar. Estaríamos então diante de um novo limiar para o conceito e a prática da viagem? Paisagens cartográficas de um conde revolucionário Daniela Marzola Fialho Professora Adjunta - UFRGS [email protected] O trabalho analisa a trajetória e a obra cartográfica de um viajante especial – o conde italiano e revolucionário Lívio Zambeccari – durante o período em que viveu no Brasil. Nascido em Bologna em 1802, teve de fugir da Itália, em 1821, por sua participação nos ‘motins napolitanos’. Aportou na América do Sul por volta de 1826, chegando ao Rio Grande do Sul em 1832. Envolveu-se na Revolução Farroupilha ao lado de Bento Gonçalves, tendo sido preso junto com ele em 1836. É libertado em 1839 e obrigado a sair do Brasil. De volta à Itália, participa da unificação italiana. O acervo de imagens realizadas por ele no Brasil, especialmente sua 7 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais planta da cidade de Porto Alegre, de 1833, é o foco desse estudo. Feita às vésperas da Revolução Farroupilha (1835-1845), constitui-se numa leitura muito particular da paisagem da cidade, ao localizar, na planta, as casas dos amigos revolucionários. O legado de Zambeccari inclui, além dessa planta, trabalhos gráficos e cartográficos sobre o Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Através de uma ótica que expressa o seu engajamento político, apreende e fixa o momento histórico daquela época em uma diversidade de paisagens gráficas. Palavras-chave: História Cultural; Cartografia Urbana; Revolução Farroupilha. Guia bibliográfico Hercule Florence: projeto Dirceu Franco Ferreira Mestrando pela FFLCH-USP [email protected] Nesta comunicação apresentarei o projeto para confecção de um guia biobibliográficodedicado a Hercule Florence (1804-1879). Viajante de origem franco-monegasca, aportou no Rio de Janeiro em 1824. Com destino incerto, trabalhou nas empresas de P. Dillon e P. Plancher até seu ingresso, como “geógrafo”, na Expedição Langsdorff. Pintor etnográfico, produziu importante conjunto de retratos das tribos visitadas durante a Expedição Langsdorff. Desta produziu também o mais completo, porque continuo, diário de viagem. Radicado em Campinas, antiga São Carlos, onde se casou por duas vezes, Florence é personagem de trajetória plural e, por assim dizer, singular. Considerado um dos inventores do processo fotográfico, dedicou-se também a outros inventos, como a “poligrafia”, a “zoophonia”, “estereopintura”, “pulvografia”, “papel inimitável” e “noria hidrostática”. Além de inventor, Florence foi proprietário da tipografia que fez a impressão de “O Paulista”, considerado o primeiro jornal impresso no interior da Provincia de São Paulo. Nas muitas viagens que fez pela Provincia,produziu importante iconografia: retratou fazendas, festas, escravos, negociantes, paisagens e os céus. Registrou mais de 200 obras pictóricas, feito que inspirou Affons de Taunay a atribuir-lhe o título de “pai da iconografia paulista”. Classificar, descrever e comentar esta vasta e heterogênea produção é o propósito deste projeto. Paisagem e Cotidiano no “Livro das Fortalezas” do viajante Duarte de Armas (Portugal, 1509) Edison Bisso Cruxen Doutorando em Arqueologia Coimbra, Portugal [email protected] O “Livro das Fortalezas”, de Duarte de Armas, produzido em 1509, por ordem do rei de Portugal D. Manuel I, representa um valioso documento iconográfico. A obra contém minuciosos desenhos de cinqüenta e sete fortificações construídas ao longo da fronteira luso-castelhana. Durante o período de um ano, o autor percorreu desde o extremo Sul ao extremo Norte do território português, detalhando não apenas as características da arquitetura militar fronteiriça, mas também todo seu entorno. As impressões desse viajante sobre os lugares percorridos abrem um leque de percepções sobre as diferentes apropriações e usos dos ambientes onde as fortalezas estavam 8 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais inseridas. Dessa forma, foram registradas as utilizações dos rios, áreas de cultivo, vestuários dos habitantes, características da organização espacial dos povoados e a configuração geográfica das regiões. Essa obra se destaca como uma das mais importantes fontes iconográficas para estudo da paisagem e cotidiano do início do século XVI, em Portugal. Palavras-Chave: Livro das Fortalezas, Paisagem, Portugal no Séc. XVI. “À margem da história” e “Amazonas Amazonas”: as ruínas amazônicas na literatura de Euclides da Cunha e no cinema de Glauber Rocha Glauber Brito Matos Lacerda (UESB) Mestrando em “Memória: Linguagem e Sociedade”pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. [email protected] Euclides da Cunha e Glauber Rocha tiveram a Amazônia como cenário de suas respectivas obras. O primeiro escreveu o livro À margem da história (1909), que seria a primeira parte de uma obra maior que ele não concluiu. Já o segundo realizou o documentário em curta-metragem Amazonas Amazonas. Ambas são marcadas pela descontrução de uma Amazônia imaginária, criada pelo relato de antigos viajantes que, desde o século XVI, escreveram sobre a região, e pelo destaque dado às ruínas. Sendo Glauber Rocha um assumido admirador do sentido trágico da literatura euclidiana, a presente comunicação traça um paralelo na maneira como as ruínas amazônicas são mostradas no filme glauberiano e na obra de Euclides da Cunha. Maximiliano de Wied-Neuwied e a paisagem étnico-social Igor de Lima e Silva Universidade Federal de Mato Grosso [email protected] Dentro do acervo iconográfico dedicado à temática indígena legado por viajantes oitocentistas que jornadearam o Brasil; as aquarelas feitas pelo príncipe-naturalista Maximiliano de Wied-Neuwied ainda carecem de maiores estudos. Tendo explorado cientificamente a costa oriental brasileira, entre os anos de 1815 e 1817, elaborou imagens que retrataram diferentes etnias: Puri, Pataxó, Botocudo e Maxakali registrando tanto as suas paisagens sociais como o universo natural no qual viviam. Ao circular entres estas sociedades o viajante buscou demonstrá-las nos mais variados aspectos e ressaltar também os distintivos culturais de cada uma delas. Entretanto, ao conferir as composições publicadas nas diferentes edições e idiomas do relato de sua viagem ao Brasil observa-se que houve sérias interferências que alteraram o conteúdo proposto pelo cientista. Neste estudo – tendo como suporte imagens realizadas in loco por Wied-Neuwied e os trabalhos dos artistas-gravadores que realizaram as pranchas publicadas na sua narrativa– analisa-se a paisagem étnico-social exposta na 9 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais aquarela, Puris em sua cabana. Fevereiro de 1816. Intenta-se revelar, a partir dessa imagem, como se deu toda a reelaboração do quadro e como ela foi publicada na versão alemã (18201821) e na tradução italiana (1821-1823). Palavras-chave: Viajantes, Representações Indígenas, Paisagem. A viagem como narrativa da natureza: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a invenção da paisagem nacional Janaina Zito Losada (UFU) Doutora em História pela Universidade Federal do Paraná. [email protected] O século XIX no Brasil foi marcado pelo cientificismo romântico e pelo academicismo institucionalizado, tornando a história, a geografia e a etnografia o tema de atuação de instituições como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Interessam as muitas compreensões que os homens tiveram sobre a natureza e as instituições que as abrigaram. A leitura dos documentos de viagens como a memória de Martim Francisco Ribeiro de Andrada por São Paulo ou o itinerário da viagem à cidade de Palma de Vicente Ferreira Gomes, deixam ver a importância do mundo natural como obstáculo ou como fonte de riquezas, como paisagem e arrebatamento. Também analisaremos a viagem à Colônia Holandesa do Suriname escrito por José Francisco Ribeiro Barata de 1799. Na mescla de viagens filosóficas e românticas e dos processos de reapropriação discursiva, as Revistas do IHGB marcaram a construção de um imaginário nacional que entrelaçou a natureza, a nação e a história. Palavras chaves: Viajantes oitocentistas; idéia de natureza; discursos do IHGB. Duas Áfricas: As Construções Histórico-Retóricas da África e dos Africanos na Crônica da Guiné (1453) Jerry Santos Guimarães (UESB). Mestrando do Programa de Pós-Graduação em “Memória: Linguagem e Sociedade”, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) [email protected]@gmail.com Aquilo que tomamos hoje por África era composto, conforme Gomes Eanes de Zurara (1410?1474?), segundo cronista-mor da Dinastia de Avis, em Portugal, em sua Crônica da Guiné, de 1453, por duas terras distintas. Enquanto no norte africano viviam os mouros, inimigos históricos dos portugueses, mais para o sul haveria outra terra, a Guiné, habitada exclusivamente por negros, nomeados de forma indistinta como um só povo – os “guinéus”. Busca-se investigar as especificidades das diferentes representações feitas na Crônica da Guiné dessas duas terras africanas (“terra dos Mouros” / “terra dos negros que são chamados Guinéus”), ao 10 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais que parece variáveis e hierarquizáveis segundo os povos que as habitavam. Objetiva-se ainda demonstrar como Zurara, no seu labor historiográfico, fez uso de preceptivas retóricas para descrever e caracterizar tanto as terras africanas quanto os seus habitantes, segundo convenções bebidas diretamente em obras retóricas de origem latina e, indiretamente, grega. Pretende-se, pois, evidenciar tais convenções retóricas para entender como as mesmas foram utilizadas pela historiografia lusitana do Quatrocentos na construção de uma memória oficial sobre a África e os africanos segundo os interesses da Coroa Portuguesa. Palavras-Chave: África, Memória, Retórica. Bartolomé Bossi e as paisagens urbanas sul-americanas Kátia Eliana Lodi Hartmann (UFMT) [email protected] O genovês Bartolomé Bossi (1819-1890) mudou-se em 1837 para a América do Sul e aqui desenvolveu várias atividades, foi marinheiro, comerciante, escritor e empresário; dono da Companhia de Navegação Rioplatense, em sociedade com seu compatriota Camuirano, na década de 1840 passou a manter uma rota comercial entre Montevidéu e Buenos Aires transportando produtos portenhos. Em 1862, também se tornou viajante-explorador, tendo realizado seu primeiro trajeto no Brasil, percorrendo a então província de Mato Grosso. No ano seguinte publicou, em Paris, as aventuras deste périplo. Posteriormente, Bossi empreendeu outras viagens, desta feita ao Chile e à Terra do Fogo, andanças que também foram levadas ao público em três diferentes narrativas. Ao ler estes livros chama atenção a maneira com a qual o nosso personagem descreveu as paisagens urbanas que encontrou em seu caminho. Nesta comunicação temos como objetivo analisar as viagens empreendidas por Bartolomé Bossi na América Meridional, dando especial atenção ao modo como o mesmo descreveu as cidades e seus habitantes. Palavras-chave: Bartolomé Bossi, narrativas, paisagens urbanas. Henri Coudreau e o futuro da Amazônia Kelerson Semerene Costa Professor Adjunto do Departamento de História da Universidade de Brasília [email protected] No artigo “L’Avenir de la Capitale du Pará”, escrito entre 1897-99, Henri Coudreau (1859-1899) afirma o papel que Belém (PA) poderia representar na ligação da América do Sul com a Europa e a América do Norte, não apenas por ser o ponto de união de toda a malha hidrográfica amazônica; mas, sobretudo, por poder vir a ser o ponto terminal de uma ferrovia que ligaria o Pacífico, desde o Chile e o Peru, ao Atlântico, atravessando o planalto Brasileiro, e que seria o vetor da colonização das terras inexploradas entre o Pará e o Mato Grosso. À diferença dos inúmeros viajantes que o precederam, atentos às várzeas amazônicas e ao Grande Rio que orientou a ocupação histórica da região, Coudreau desloca o olhar para as terras altas do planalto e a densa floresta que o recobre, ricos territórios ainda por conquistar. Neste trabalho, são 11 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais discutidos os motivos e as implicações de tal deslocamento que, entre outros fatores, está associado ao crescimento da economia da borracha (que impulsionava a ocupação de territórios para além dos limites aos quais, historicamente, a sociedade regional esteve confinada) e às possibilidades abertas pelas inovações tecnológicas, em particular as ferrovias, vetores do progresso e da modernidade, para a superação dos obstáculos da natureza. Palavras-chave: Henri Coudreau; Amazônia; Viajantes. O historiador viajante em “Como se deve escrever a História do Brasil?” de von Martius Luís César Castrillon Mendes Mestrando em História pela Universidade Federal de Mato Grosso [email protected] O texto de Carl Friedrich Phillipp von Martius (1794-1868), publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) em 1844, torna-se emblemático para se perceber as intenções do Instituto num momento de construção de uma História para a Monarquia brasileira. Objetiva-se, com a presente comunicação, trazer alguns resultados, ainda que iniciais, de uma pesquisa que utiliza como fonte a Revista do IHGB durante o Segundo Reinado (1840-1889). Pretende-se situar a monografia de Martius no contexto de sua produção e observar o modo como este viajante selecionou e tratou de temas que estavam em evidência à época. A análise do IHGB, por meio de seu periódico, pode contribuir para o entendimento de um dos momentos cruciais de nossa história; aquele em que se tentou forjar uma idéia de nação “civilizada” nos trópicos. Palavras-chave: Von Martius – IHGB – História do Brasil Los ecos visuales de la incipiente colonización de Virginia: John White y Theodoro De Bry (1585-1590) Malena López Palmero Universidad de Buenos Aires, Argentina. Doctorado sobre la temprana colonización de Virginia. [email protected] El siguiente trabajo se propone analizar el impacto de la primera experiencia colonial inglesa en Virginia, en el precario asentamiento de Roanoke, entre 1585 y 1586, privilegiando el análisis de fuentes iconográficas. Estas consisten en las acuarelas elaboradas por uno de los viajeros de la expedición, John White y en los grabados que, siguiendo los modelos de White, confeccionó Theodoro De Bry pocos años más tarde. White ofreció las primeras imágenes del indígena norteamericano que, con algunas interesantes distorsiones, fueron 12 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ampliamente difundidas por De Bry, a partir de su publicación en los libros de viajeros de Richard Hakluyt. El trabajo se sostiene sobre dos pilares de análisis: por un lado, el problema de la percepción visual y la representación, cuestiones que intentan explicar de qué manera White y De Bry representaron a los nativos de Virginia. Por otra parte, se ofrece un análisis propiamente histórico, que se nutre de relatos de viajeros y de otras producciones de los artistas, para dar cuenta de la compleja trama de significados que encerraban las imágenes de White y de De Bry: las disputas monárquicas, la necesidad de propaganda y la creciente importancia del mercado editorial, entre otros. Palabras clave: Virginia - De Bry - Siglo XVI Carl F. P. von Martius e a Paisagem Jurídica do Século XIX: “O Estado de Direito entre os Autóctones do Brasil” (1867) Marcele Garcia Guerra Mestre em Direito - USP [email protected] Figura central no rol dos “olhares estrangeiros do séc. XIX” – cunhou a célebre metáfora do Brasil como um rio caudaloso onde deságuam dois afluentes que misturados faziam o país branco, negro e indígena –, o viajante botânico Von Martius representa o processo de como o Brasil foi definido desde o imaginário europeu. Inserida em um contexto das primeiras investidas e preocupações do governo central imperial em consolidar a “identidade nacional” e da consolidação do ideário de Estado Moderno e de Direito, a obra O Estado de Direito entre os Autóctones do Brasil vem contribuir para a análise da imagem do indígena impressa na legislação do séc. XIX. Isso porque o projeto da identidade nacional pressupõe homogeneização cultural e eliminação da diversidade sujeitando, desta forma, as populações indígenas a políticas de invisibilização segundo a idéia de inferioridade indígena e necessidade de “civilização”.O artigo propõe – a partir da análise da obra - atentar à gênese de elementos que irão, no séc. XIX, se cristalizar na mentalidade jurídica e no tratamento do indígena pela legislação. Reserva-se a pretensão de contribuir para – através da relativização histórica – alterar o legado de discursos preconceituosos, evolucionistas e de exclusão com relação aos povos indígenas. Palavras-chave: História do Direito e do Indigenismo, Séc. XIX e Estado Moderno, Direito dos Povos Indígenas. Comida Como Cultura: Práticas De Alimentação e Educação Na Sociedade Tupinambá Maria Betânia B. Albuquerque (UEPA) 13 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] O texto investiga o consumo indígena de bebidas fermentadas entre os Tupinambá do Brasil colonial. Analisa de que modo as beberagens configuravam-se como instâncias de socialização fundamentais na estruturação do cotidiano; situa as beberagens no contexto de uma história cultural das práticas alimentares; identificar as diversas ocasiões em que elas ocorriam e descrever a sua cultura material. Pesquisa histórica baseada em crônicas de viagens e cartas de missionários, além de estudos arqueológicos sobre as culturas indígenas do passado. Apóia-se nas análises sobre educação como uma prática sociocultural cotidiana e nas contribuições do campo da história cultural. Como lugares de encontros e relações sociais, as beberagens funcionavam como mediadores culturais da transmissão dos saberes da coletividade indígena, configurando-as como uma prática educativa que possibilitava a sobrevivência do universo de significados produzidos pelos grupos. Palavras-chave: história cultural; alimentação; educação A paisagem do Brasil nas “Vistas e Cenas” de Francis Castelnau Maria de Fátima Costa (UFMT) [email protected] Entre 1843 e 1847 o naturalista Francis de Castelnau visitou a América Meridional chefiando uma caravana científica. Projetada e financiada pelo governo francês, esta expedição - que contou com um engenheiro de minas, um médico e botânico, e um preparador de historia natural – percorreu o interior do Brasil, da Bolívia e do Peru. Pretendia estudar os grandes rios, conhecer os produtos da Amazônia e as facilidades para sua circulação comercial, e ainda estender a influência francesa sobre as jovens nações sul-americanas. Os resultados desta viagem foram publicados em Paris entre 1850-1859, na monumental Expedição as partes centrais da América do Sul, que totalizou quinze volumes, entre textos, imagens e cartografia. Nesta apresentação tem-se como foco a segunda parte desta obra, o livro intitulado “Vistas e Cenas”, publicado em 1852. Trata-se de um pequeno Atlas, no qual figuram paisagens naturais e sociais, que oferecem uma síntese visual dos lugares visitados. Interessam-nos, particularmente, perceber e discutir as representações do Brasil que a expedição Castelnau criou e divulgou através desta obra. Palavras chave: Expedição Castelnau; América Meridional; Iconografia. Entre Sertões e Igarapés: Duplo Sentido da Viagem em Taunay e Mário de Andrade Olga Maria Castrillon-Mendes Doutorado em Teoria e História Literária (UNICAMP) [email protected] 14 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais O tema da viagem oferece à literatura uma de suas mais fecundas matérias-primas. No caso da literatura brasileira é recorrente desde os primeiros cronistas responsáveis pela construção de imagens carregadas de olhares “de fora” que, nos séculos XIX e XX, reaparecem sob distintas formas de construção narrativa, confirmando-as ou negando-as. Como gênero polêmico (de fronteira), a literatura de viagem tem construído arquétipos temáticos e simbólicos, cujos discursos dela decorrentes interpõem a subjetividade na objetividade do real e carrega consigo discussões sobre o sócio-histórico e o político-cultural nas discussões de/sobre as identidades nacionais de “trânsito”. Nesta comunicação proponho discutir o diálogo que se estabelece entre as anotações da viagem e a transformação delas em textos de ficção a partir do resultado narrativo de duas obras singulares: Inocência, de Alfredo Taunay e O turista aprendiz, de Mário de Andrade, representantes de dois momentos de tomada de consciência de brasilidade, numa espécie de esforço de modernização e atualização do Brasil. Busco, com isso, re-configurar os complexos entrelugares de produção discursiva, observando a forma como os discursos são transpostos na dialética entre o testemunho e a invenção. Palavras-chave: Literatura – Viagem - Identidades. “Quadro Físico da Corrente do Amazonas”: Ciência e Estética em Martius Pablo Diener Professor Adjunto da UFMT [email protected] O botânico alemão C. F. Ph von Martius em companhia do zoólogo J. B. von Spix realizou uma expedição científica ao Brasil entre os anos de 1817 e 1820. Esta viagem será uma fonte inesgotável de projetos que o naturalista desenvolverá com persistência, durante quase meio século, até a sua morte em 1868. Além da narrativa de viagem, entre as suas publicações se encontram obras tão monumentais como a Historia Naturalis Palmarum e a Flora Brasiliensis, porém há também estudos sobre a população e as perspectivas históricas do Brasil. Nesta apresentação se discutirá um opúsculo datado em 1843, que tem o evocativo título de “Quadro físico da corrente do Amazonas”. Neste escrito, Martius se propôs a caracterizar a paisagem tropical sul-americana, tomando a rede hidrográfica como foco de atenção, emulando a proposta de Humboldt, que havia organizado a compreensão da paisagem em função da cordilheira andina. Palavras-chave: Martius, Amazonas, Ciência e Arte Brancos, Pardos, Vermelhos e Negros...: a fisionomia do Brasil no olhar do médico Alphonse Rendu (1844-1845) 15 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Rosa Helena de Santana Girão de Morais Doutora em História das Ciências e das Técnicas pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales-França. [email protected] O presente trabalho tem como objetivo descrever e analisar a viagem do médico francês Alphonse Rendu, encarregado, entre os anos de 1844 e 1845, pelo ministro da instrução pública, da França, « de estudar as doenças do Brasil que acometiam mais freqüentemente os indígenas e os europeus estabelecidos no país ». Figura emblemática de sua época, A. Rendu veio para o Brasil num momento em as autoridades médicas tinham grande interesse pelos tratamentos e diagnóstico de doenças, ditas tropicais, as quais acometiam as colônias e possessões européias. O olhar dos médicos franceses sob as cidades brasileiras correspondia a uma imagem ‘criada’ a partir do que eles esperavam da Europa e de Paris, espaço familiar dos viajantes franceses e modelo, por excelência, de urbanidade e de civilidade. Alphonse Rendu procurou ‘descortinar’ as paisagens brasileiras, sob o ponto de vista estético e econômico, e também descreveu o aspecto físico, as doenças e os costumes da população brasileira. Sob o olhar atento do médico, imbuído da idéia de superioridade da ‘raça’, termo comumente empregado naquele momento específico, e da medicina européia, podemos perceber como se constituía o espaço urbano brasileiro e os elementos essenciais da salubridade, ou seja, os hospitais, residências, ruas e também o corpo. O álbum ilustrado de Jean-Baptiste Debret Thiago Costa (UFMT) [email protected] Jean Baptiste Debret é provavelmente o mais conhecido dos europeus que visitaram o Brasil na primeira metade do século XIX, integrando a “missão francesa de 1816” - grupo que ficou célebre, entre outras realizações, pela fundação da Academia Imperial de Belas-Artes. Retorna a França em 1831, onde organiza o material iconográfico produzido nos pouco mais de 15 anos em que permaneceu no país, atuando como pintor da corte e professor de pintura histórica. Publica em Paris em 1834, 1835 e finalmente em 1839, o primeiro, o segundo, e o terceiro volume, respectivamente, do monumental ‘Viagem pitoresca e histórica ao Brasil’, uma obra que lhe confere, ainda nos dias atuais, um espaço privilegiado na construção do imaginário do passado brasileiro. 16 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 2 História, Cinema e Transdisciplinaridade Imagens do passado nos filmes de autoria feminina do período de redemocratização (Brasil e Argentina, década de 1980) Alcilene Cavalcante Doutora em Literatura pela UFMG [email protected] Ao considerar que os filmes são capazes de plasmar o passado em imagens, de acordo com Robert Rosenstone (1997), e de apresentarem elementos do tempo em que foram realizados, conforme Miriam Rossini (2008:128), tratar-se-á, nessa comunicação, as representações do passado e do presente nos filmes Camila, de Maria Luisa Bemberg, e Paraíba, mulher macho, de Tizuka Yamazaki – filmes realizados e estreados no período de transição democrática e de engendramento de cultura política feminista, no Brasil e na Argentina. Palavras-chave: redemocratização, representação, cinematografia feminina Bandidos de um cinema-história: os fora da lei no faroeste hollywoodiano (1939-1959) Alexandre Maccari Ferreira Professor do Curso de História do Centro Universitário Franciscano [email protected] Os bandidos do velho oeste possuem diversas representações no cinema hollywoodiano. Desde o cinema mudo há uma grande aura construída sobre os foras da lei, elemento esse que se acentuou entre as décadas de 1930 e 1950 e que, após esses períodos, foi revista de diversas formas pelo cinema norte-americano. Neste trabalho pretendemos estudar as construções heroicas dos foras da lei, em especial a imagem dos irmãos James, nos filmes Jesse James (1939), A Volta de Frank James (1940), Matei Jesse James (1949) e A verdadeira História de Jesse James (1957). Esses filmes têm em comum a construção de heróis-bandidos mitificados, que fornecem uma interpretação social dos Estados Unidos de acordo com o período de produção dos filmes, a partir de um posicionamento ideológico das obras. Assim, as construções político-sociais de mitos do oeste lendário histórico norte-americano permitem um estudo do cinema-história, tratando o cinema como ponto de partida de análise de questões do imaginário e do banditismo social apresentado no cerne das obras cinematográficas. Imagens baianas – memória e história no documentário de Alexandre Robatto 17 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Ana Luisa de Castro Coimbra Mestranda do Programa de Pós-Graduação em “Memória: linguagem e sociedade” da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB [email protected] Lívia Diana Rocha Magalhães Doutora em Educação, docente e vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB [email protected] Entendemos o filme como um dispositivo de valor cultural e histórico capaz de registrar referências a identidades de grupos e aspectos de uma época. Sendo assim, pode ser considerado como um testemunho importante de aspectos sócio-culturais que pode contribuir para o registro de memórias para a educação e a formação de gerações que se sucedem. Nesta comunicação estamos apresentando a pesquisa que vem sendo desenvolvida sobre as obras do documentarista Alexandre Robatto, considerado o pioneiro do cinema baiano, que deixou um importante legado de filmes com registros dos aspectos sociais da Bahia. O cotidiano da capital em choque com seu desenvolvimento, manifestações culturais, paisagens geográficas e humanas, aspectos da vida no interior são alguns dos registros que compõem a obra de Robatto e está propiciando uma leitura sobre a memória e a história social da capital e do Estado. Não só imagens são registradas, mas os costumes, as idéias e as ações ficam retidas em um suporte tangível podendo ser considerados documentos passíveis de serem analisados e capazes de ajudar na compreensão de uma Bahia que parece resistir, mesmo aderindo, aos impulsos de um “ideal” de modernidade homogêneo nacionalmente. Palavras-chave: documentário, memória, história. Autoria no cinema dos grandes estúdios: o caso de Blade Runner Ana Paula Spini Professora do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Esta comunicação tem como objetivo analisar comparativamente duas versões existentes do filme Blade Runner do diretor Ridley Scott: a de 1982, versão do lançamento mundial do filme, caracterizada pela interferência da Warner Brothers na edição e montagem, e a de 2007, versão do diretor. Com isto procura-se investigar em que sentido as modificações na narrativa operada pela indústria à época do lançamento do filme incide sobre a visão de mundo expressa no mesmo. Assim, além de possibilitar a reflexão sobre os limites e possibilidades da autoria no cinema dos grandes estúdios, esta análise permite ainda discutir a relação do cinema de Hollywood com a construção de uma narrativa melodramática da America intergalática no século XXI. Palavras-chave: cinema; Hollywood; autoria. 18 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Um chorinho universalizado – tico-tico no fubá Cláudio Galvão (UFRN) [email protected] Se os filmes biográficos abordassem as vidas que focalizam seguindo apenas os critérios da História acadêmica, decerto poderiam parecer mais verdadeiros, porém dificilmente alcançariam o gosto popular. É o caso do filme Tico-Tico no Fubá, apresentado como uma biografia do compositor Zequinha de Abreu. O roteiro foi montado seguindo um percurso biográfico correto, respeitando-se os marcos essenciais da sua história. Somente isto, entretanto, levaria a uma descrição linear, carente dos lances emocionais que prendem as atenções e marcam as lembranças. É o momento em que entra a fantasia, quando a livre criação ornamenta e amplia um fato antes banal, conferindo-lhe nova visualização e enredo mais agradável. O filme “Tico-Tico no Fubá” é assim; não foi a primeira nem será a última obra de arte a receber a ajuda da ficção. É, portanto, uma biografia romanceada. Representações e construção da realidade do conflito árabe-israelense através das comédias Denise de Oliveira De Rocchi Mestranda em Relações Internacionais pela UFRGS [email protected] O humor é uma das formas de que a sociedade dispõe para lidar com temas difíceis, como o preconceito e a violência. Zohan e Brüno, produções recentes de grandes estúdios cinematográficos, utilizam-se desta linguagem em sua forma mais exacerbada para tratar do conflito árabe-israelense, questão histórica que se mantém entre os grandes problemas contemporâneos mundiais. Considerando relações cada vez mais midiatizadas, o Cinema é uma das artes com maior poder para influenciar opiniões e visões de indivíduos a respeito de outros povos, permitindo que qualquer um tome posição sobre um tema, mesmo que não o tenha vivenciado diretamente. Através de uma abordagem multidisciplinar, com elementos da Psicologia, Comunicação e Relações Internacionais, este estudo propõe a análise do discurso destes filmes e da representação que fazem do conflito e seus participantes. Cinema e Moral Sexual no Brasil (1950-1970) Dennison de Oliveira (UFPR) [email protected] O tema desta pesquisa é a mudança cultural observada na moral sexual brasileira no período compreendido entre 1950 e 1970. Este é um período chave para se entender a gradual substituição de um modelo de normas e práticas sexuais marcadas pelo patriarcalismo, tanto em 19 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais direção a uma maior liberalização dos costumes, quanto a um relativo nivelamento da moral que rege os papéis sexuais e sociais masculinos e femininos. As fontes privilegiadas no estudo são alguns filmes de ficção de longa metragem produzidos no período que enfocavam estas questões. Busca-se, através do exame das condições sociais de produção, distribuição e recepção destes filmes, interpretar de que forma as transformações na moral sexual vigente eram tematizadas, quais os conflitos e contradições implícitos, como eram percebidas e valorizadas as novas formas que assumiam os papéis sociais e os arranjos familiares, bem como as implicações políticas, sociais e culturais daí decorrentes. Para tanto foi selecionado um número limitado de filmes brasileiros, considerados relevantes para o entendimento das transformações culturais associadas à moral sexual, através do estudo da relação entre este ramo da indústria cultural e a sociedade. Através do cinema se percebe de que forma representações fílmicas sobre a moral sexual foram afetadas pelas transformações históricas vividas no período, e vice-versa. Palavras-chave: História e Cinema; Moral Sexual; Indústria Cultural O Realismo Socialista e a Revolução Cultural na URSS: o caso do cinema Diogo Carvalho Mestrando do Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade / UFBA [email protected] Este trabalho visa problematizar os impactos do uso do realismo socialista para construção do culto a personalidade de Stalin através do cinema. Serão abordadas as conseqüências da utilização do aporte teórico oriundo do realismo socialista e da revolução cultural soviética, na indústria e na estética fílmica. Também será objeto deste trabalho a análise da sacralização do espaço realizada pelo cinema soviético deste período, pois a cinematografia desta época contém elementos simbólicos nucelares da narrativa do realismo socialista, elaborada ao longo dos anos 1930’s. Portanto, esta relação espaço-sujeito, baseada na reconstrução espacial, a partir de uma iconografia marxista-leninista foi um dos pilares da justificativa de criação do herói positivo, considerado elemento chave para uma compreensão mais aprofundada da cultura soviética. Palavras chave: cultura, soviética, cinema, realismo, socialista. Cinema e Ensino de História: a Idade Média em O Nome da Rosa de Jean-Jacques Annaud Edlene Oliveira Silva Doutora em História e professora adjunta do Departamento de História da UnB [email protected] Este artigo discute como a Idade Média representada no filme O Nome da Rosa (Der Name Der Rose, Jean-Jacques Annaud, 1986) constitui um importante meio para o ensino de 20 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais História Medieval nas escolas. Ao mesmo tempo em que constrói e reforça estereótipos e preconceitos sobre a Idade Média, o cinema pode ser fonte privilegiada de desconstrução desses estigmas, de aprendizagem e conhecimento na área de História, considerando as especificidades da linguagem cinematográfica e as possibilidades interpretativas e poéticas próprias da liberdade inerente à sétima arte. Santiago: a escrita da história em documentário Eric de Sales Mestre em História Social pela UnB [email protected] Pensar um documentário dentro de um documentário é ousado. Refletir como este oferece possibilidades para a discussão da história da história, ou seja, a análise historiográfica a partir de uma fonte audiovisual é proposta desafiadora. Esta comunicação visa apresentar a relação entre o cinema documentário e a história a apartir do filme de João Moreira Salles, Santiago. A proposta é de analisar a película através de um olhar crítica, compreendendo que há subjetividades na abordagem do diretor, assim como na abordagem de um historiador. Através deste ponto, apresentar trabalho que vem sendo realizado nos estudos sobre documentários e historiografia. De Rocha a Hamburgo: a análise da representação da classe média na ditadura militar vista a partir do cinema nacional Felipe Lima da Silva Graduado em História pela UFRRJ [email protected] Durante o período da Ditadura Militar no Brasil (1964-85), a sociedade brasileira de classe média tem sido apresentada por diversas correntes históricas como um conjunto de indivíduos controlados pelos militares que se encontravam no poder. Esta mesma parcela da sociedade é caracterizada como um grupo que se manteve a certa distancia dos eventos políticos dos 21 anos da ditadura, assistindo inerte a todas as medidas de repressão política que eram implantadas no país que cerceavam os direitos e liberdades mais comuns dos cidadãos brasileiros. Tomando como base os filmes “Terra em transe” (de Glaber Rocha – 1969) e “O ano em que meus pais saíram de férias” (Cao Hamburgo – 2006) para elucidar questões presentes em outros filmes analisados, pretende-se neste trabalho fazer um estudo de história comparada sobre como a participação da classe média frente às tensões político-sociais existentes nos anos do regime ditatorial no Brasil é retratada pelos filmes produzidos na época da ditadura e pelos filmes mais atuais (pós-década de 90). Para dar base a esse estudo foi utilizado uma bibliografia que abrange da temática do período da ditadura e de autores que utilizam a interseção entre o Cinema e a História para ressaltar a importância do uso do filme como uma 21 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais fonte histórica. Palavras-chave: Cinema; Ditadura; sociedade Orson Welles no Brasil: a trilogia de Sganzerla Flávia de Sá Pedreira Professora do Departamento de História da UFRN [email protected] No auge da Política da Boa Vizinhança, a imagem de Brasil para exportação idealizada pelo regime Vargas, com o apoio da RKO de Nelson Rockefeller, deveria ser divulgada a partir de um grande filme dirigido e roteirizado pelo cineasta e ator norteamericano Orson Welles. Convidado pelo governo brasileiro a fazer as malas e aterrissar no Rio de Janeiro, no mês de fevereiro de 1942, em pleno Carnaval, o realizador de Cidadão Kane iniciou as filmagens do seu It´s All True. Os descaminhos do grandioso projeto, que esbarrou na incompreensão das autoridades envolvidas e de seus financiadores quanto à visão revolucionária para a época que Welles estaria imprimindo às cenas das favelas cariocas, ganharam uma criativa percepção através da trilogia de Rogério Sganzerla, quarenta anos depois: Tudo é Brasil; Nem tudo é verdade; O signo do caos. Nossa comunicação pretende explorar as cenas mais significativas sobre a trajetória do filme que ficaria inacabado, refletindo sobre os tênues limites entre ficção e realidade na pesquisa histórica. Palavras-chave: política da boa vizinhança; cinema; ficção/realidade. Airá - O cinema documental como método e técnica de observação na pesquisa de campo Frederico Mael Silva Marques Bueno Mestrando em História pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected] O cinema documental aborda a imagética do culto de Xangô com base na ritualização do sincretismo religioso brasileiro que incorpora em seu conteúdo histórico, a resistência da cultura africana no Brasil, submersa ao modelo escravista como forma proibida de afirmação de sua identidade cultural. Discutiremos as relações do cinema documental como método e técnica de observação na pesquisa de campo e sua função heurística na representação da história. A partir do método etnográfico, construímos a imagem do Babalorixá Joaquim de Xangô e seu imaginário na expressão do cinema documental, como forma de produção do conhecimento. O olhar cinematografico de Jean Manzon: de uma memória otimista ao pessimismo 22 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Gabriel F. Marinho / (UFF) [email protected] A identidade dos anos JK como um período desenvolvimentista tem sua icnografia cinematográfica. Da mesma forma, a memória de um conturbado período de adversidades sóciopolíticas, vinculada ao governo Jango, também possui uma visualidade audiovisual. A construção dessas e outras memórias ocorrem através inúmeras ferramentas de natureza simbólica. E o cinema é instrumento singular nesse processo uma vez que ganhou destaque dentre um conjunto de novas manifestações de representação, potencializadas em um século marcado pela reprodutibilidade técnica dos bens culturais. Nessa perspectiva, esse trabalho propõe uma analise comparativa da produção de documentários do cineasta Jean Manzon, realizados em dois períodos quase consecutivos: os anos JK (1956-1961) e o governo João Goulart (1961-1964). Utilizando-se dos conceitos de “otimismo” e “pessimismo”, trabalhados pelo historiador Carlos Fico, questionamo-nos sobre as diferenças de projetos de memória presentes nesses dois períodos de realização. Perceber a construção de identidades através do enquadramento de um cineasta abre espaço para o debate a respeito do papel do cinema como lugar de memória. Questão que ultrapassa classificações como “verdade” e “inverdade”, ainda comuns nos debates a respeito de filmes documentários. A analise de peças filmicas é uma forma de questionar a naturalização das construções de identidade. E de apontar como elementos de natureza audiovisual colaboraram para a construção de memórias distintas. Leituras do cotidiano: a transformação do “mito do gaúcho” através do cinema regional Humberto Ivan Keske Professor Titular da UniversidaFEEVALE [email protected] O presente texto visa refletir sobre o processo de construção do imaginário coletivo gaúcho em relação ao cinema regional. Utiliza como referencial teórico Cornelius Castoriadis, Michel Maffesoli e Castor Ruiz. Adota o estudo de caso como metodologia de análise. Procura delinear o atual panorama da cinematografia regional que abandona a égide do filme “campeiro” para assumir um percurso notadamente contemporâneo. Tal mudança, entretanto, reforça posicionamentos ideológicos e valores conservadores de uma nova identidade regional, exaltando e defendendo hábitos bairristas e familiares provincianos. Palavras-chave: audiovisual, cinema gaúcho; imaginário, identidade regional. Um cinema “sem regras”: um olhar para a experiência superoitista baiana nos anos 1970 23 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Izabel de Fátima Cruz Melo Professora de História na Universidade da Bahia [email protected] Dialogando com as possíveis relações entre História e Cinema, neste artigo destacamos algumas das reflexões encetadas na pesquisa e elaboração da dissertação “Cinema é mais do que filme: uma história do cinema baiano através das Jornadas de Cinema da Bahia (1972-1978)”, buscamos compreender as Jornadas como um espaço em que se entreteceram relações, polarizações, disputas e tensionamentos que tornaram possível o florescimento de uma geração de cineastas superoitistas baianos inseridos no contexto sócio-cultural dos anos 1970. Construir Cidades em Imagens: Walter Hugo Khouri e Luís Sérgio Person edificam a metrópole cinematográfica brasileira na década de 1960 Jaison Castro Silva (UFC) [email protected] O texto discute como a metrópole cinematográfica brasileira encontrou expressão visual nas obras de Walter Hugo Khouri e Luís Sérgio Person, durante a década de 1960. Inserido na reflexão sobre as maneiras como as imagens e práticas do olhar atuam na construção de significados para as ações humanas, propõe-se que a metrópole imagética de ambos os cineastas, contidas em filmes como Noite vazia (1964) e São Paulo S. A. (1965), atuam em um denominador comum, a tentativa de captar a cidade real em imagens semi-documentais, mas, em contrapartida, dialogam com referenciais como o de progresso de modo bastante heterogêneo. Embora permaneça a ansiedade em mostrar a cidade brasileira célere e cosmopolita, apresenta-se a hipótese de que o filme khouriano descortina uma perspectiva de progresso universal e simultâneo, enquanto o filme de Person estabelece uma metrópole vencedora em vias de derrocada, que precisa reafirmar seu papel de liderança. No entanto, tais pontos de vista fílmicos, apesar de dissonantes, fundam um projeto para a metrópole cinematográfica brasileira sessentista, apresentando uma outra perspectiva de cidade, ainda que obliterada em prol de projetos concorrentes. A análise da fundação desse regime visual possibilita, assim, um olhar renovado sobre o cinema no período. Palavras-chave: Cinema-história, Representação Urbana, Regimes visuais. Régnault, Matuszewski e seus herdeiros. Leitores do cinema-história do século XX. Visionários de uma pedagogia do “futuro”. Jorge Nóvoa Professor Associado I do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em 24 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Ciências Sociais da UFBA [email protected] Na problemática que estamos trabalhando sistematicamente há quase duas décadas, a das relações complexas entre o cinema e a história, se torna, todavia, ainda mais difícil de “aceitar” o fato de que muito do que estamos denominando de um paradigma e uma pedagogia do “futuro” já existia em graus variados no passado, e isto desde que o cinema apareceu. Com relação à simples utilização da pintura, da escultura e mesmo da arquitetura, vários historiadores estudiosos do mundo antigo, do medieval e do moderno - muito embora mais voltados para questões ligadas à história da arte - já utilizavam as imagens. Mas é também bem verdade que tal prática não adquiriu o peso e valor epistemológico que passou a ter senão mais recentemente. Entretanto, atenção para a ênfase na etimologia palavra epistemologia. Ela difere da palavra ontologia. Isto permite percebermos que vivemos num mundo dominado pelas imagens, mas no qual, muito contraditoriamente sua utilização sistemática e consciente por professores e pesquisadores das diversas áreas do conhecimento, nas suas múltiplas dimensões, se faz ainda enfrentando não somente o peso da inércia dos currículos institucionais, mas também a reação de muitos dos referidos agentes sociais às mudanças e inovações com a introdução de uma pedagogia que utilize as imagens, a fotografia e o cinema, mas também documentos fonográficos. É verdade, pois, que estudos em outros espaços, realizados por historiadores e cientistas sociais chamam a atenção também que é comum se escutar a afirmação de que o historiador não gosta das imagens. Recentemente uma polêmica entre historiadores ingleses, falava do que denominavam a “invisibilidade do visível ”. Trata-se evidentemente do que alguns chamam de amnésia, fenômeno que se apropria de historiadores e cientistas sociais quando começam a avaliar suas praticas investigativas, seus paradigmas e objetos de estudo. Eles se esquecem completamente de que a utilização de fontes iconográficas é muito mais praticada do que eles são capazes de admitir. Em geral temos escrito sobre Marc Ferro como teórico e pesquisador das relações entre o cinema e a sociedade. Escrevemos menos sobre Siegfried Kracauer. Mas desde que começamos a nos aplicar às pesquisas sobre o que denominamos nossa problemática e objeto (e que é também uma teoria com nuanças que se desenvolve se considerarmos cada autor desse “movimento”) ou seja, a relação cinema-história, Kracauer permanece ainda muito pouco conhecido no Brasil. Isto é verdadeiro mesmo na própria Alemanha e na França. Ele veio assim ocupando em alguma medida nossa reflexão e nossa vontade de nos estendermos sobre sua contribuição. Ele antecedeu Marc Ferro em pelo menos três décadas, provavelmente bem mais se considerarmos seus artigos de “crítica” cinematográfica e que finalmente levava-o a enxergar as contradições do seu mundo, já nos anos 20. Mas ele também não foi a primeira pessoa a sustentar a importância do cinema como fonte de conhecimento histórico e de sua difusão. A rigor se considerarmos todos os cineastas desde o que se chama de o cinema das origens - passando por Georges Méliès, David Griffth, a cinematografia inglesa e americana, a cinematografia expressionista alemã e, ao menos ainda, o cinema soviético - vamos encontrar muitos daqueles mais desconhecidos e que se dedicaram a filmar cenas não tão nobres ou de ficção ou a fazer filmes de campanhas educativas, como foi o caso de Alexander Medvidkine. Diante desse fato é no mínimo curioso que ainda hoje professores universitários e pesquisadores das denominadas ciências humanas, continuem a repetir lugares comuns absurdos sobre as narrativas cinematográficas. É fácil se ouvir barbaridades como “o cinema nos apresenta uma falsa realidade” ou “o cinema esconde os processos reais”. O corolário conseqüente é aquele que conclui, portanto, que “o cinema não pode ser usado nem na pesquisa, nem no ensino”. É difícil qualificar tal reação e resistência em admitir algo que é mais que evidente. Pensar que se trata de ignorância, parece tão absurdo quanto pensar que se trata 25 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais de pouco discernimento. Às vezes somos obrigados a constatar uma má vontade o que nos obriga a pensar na inutilidade de tal comportamento. É verdade que existem também os argumentos mais refinados de leituras produzidas por estudiosos da estética cinematográfica. Mas muitos deles não admitem que o cinema, por ser ele obra de arte, possa construir uma visão passível de ser considerada pela investigação dos fenômenos humanos os mais subjetivos, tanto quanto os sociais. O cinema e as imagens, de um modo geral, de há muito são estudados, mas como objeto cultural e estético. Muitas vezes são tomadas como objetos da história, quer dizer na produção da história do cinema ou da pintura ou da fotografia. É possível mesmo encontrar grandes quantidades livros sobre tais fenômenos artísticos, inclusive de seus aspectos econômicos e técnicos. Encontramos com facilidade histórias das escolas estéticas. É possível comprarmos nas livrarias com certa facilidade livros sobre a história da arte observada do ponto de vista do seu condicionamento social, mas é quase certo que não encontraremos livros sobre algo distinto, que é ao mesmo tempo um objeto e uma problemática: a relação cinema-imagem-história. A crítica histórica de Paulo Emílio: alguns resultados de pesquisa Julierme S. M. Souza Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Esta comunicação visa trazer a público alguns resultados de nossa dissertação de mestrado intitulada Eficácia política de uma crítica: Paulo Emílio Salles Gomes e a constituição de uma teia interpretativa da história do cinema brasileiro. Tendo como preocupação fundamental a investigação acerca da formação de uma memória história do cinema brasileiro, essa pesquisa pretendeu contribuir na demonstração de que a trilogia de ensaios Panorama do Cinema Brasileiro: 1896/1966 (1966), Pequeno Cinema Antigo (1969) e Cinema: trajetória no subdesenvolvimento (1973), de Paulo Emílio Salles Gomes, constitui-se em uma teia interpretativa que envolveu a historiografia do cinema brasileiro devido a sua eficácia política. Ensino de História e Cinema: possibilidades investigativas Kamila da Silva Soares (UFU) [email protected] Este trabalho visa analisar a relação estabelecida entre ensino de história e cinema nas escolas da cidade de Uberlândia. Trata-se de uma pesquisa focada nas perspectivas de professores e alunos frente às práticas pedagógicas que propõe a incorporação do cinema como objeto pedagógico e objeto de pesquisa em sala de aula. Proponho desenvolver esta investigação com professores de História e jovens estudantes do nono ano em escolas públicas da rede estadual, municipal, federal e da rede particular, com o 26 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais intuito de identificar a complexidade e a heterogeneidade dos olhares frente ao diálogo entre ensino de História e Cinema nos diversos espaços escolares. O presente trabalho procura também entender como a linguagem cinematográfica pode contribuir para a melhoria do ensino – aprendizagem da disciplina História na educação básica: ensino fundamental, além de compreender de que maneira, no olhar do docente, o recurso audiovisual pode ser um método pedagógico e, na perspectiva dos alunos, a possibilidade de ver filmes dentro das salas de aulas como parte integrante dos conteúdos escolares. Essa reflexão contribui para a ampliação do campo em que atua o historiador e o professor de história e permite uma abordagem interdisciplinar. Entendo como uma conquista da História Cultural que nos possibilita ampliar as fontes de pesquisa utilizadas pelo historiador. Sendo assim, uma aliança entre ensino de História e cinema propiciaria uma expansão nos olhares tanto sobre os métodos pedagógicos quanto sobre a arte cinematográfica. O Cinema Novo e a História Cultural do Político, em uma reflexão a partir de “Garrincha, Alegria do Povo” (1963), de Joaquim Pedro de Andrade Luís Fernando Amâncio Santos Mestrando em História pela UFMG [email protected] Existem importantes trabalhos sobre cinema e história política que enfocam, geralmente, a produção cinematográfica de propaganda em determinados regimes ou, pelo contrário, o engajamento de oposição a partir da obra de certos diretores. O que nosso trabalho pretende é trazer essa problemática para o campo da história cultural do político. Ou seja, pensar as relações no cinema de produção, exibição e circulação de ideias por uma ótica cultural. Para isso, mobilizaremos o conceito de culturas políticas, no seu entendimento de que as relações com essa esfera englobam práticas, linguagens, imaginário, valores, entre outros sentidos. A partir dele, abordaremos a atuação dos cineastas do chamado movimento de Cinema Novo brasileiro e, mais especificamente, o caso de “Garrincha, Alegria do Povo” (1963), de Joaquim Pedro de Andrade. Da metrópole à pós-metrópole: Matrix e a crise da modernidade no fim do século XX Marcelo Gustavo Costa de Brito Doutorando em História pela UnB. Professor de Teoria da História na UEG [email protected] A incorporação pelos historiadores de fontes fílmicas como indícios para o entendimento da 27 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais experiência humana no tempo acena para uma abordagem teórico-metodológica em pleno desenvolvimento no campo historiográfico. Fontes complexas, polissêmicas, as narrativas cinematográficas não se deixam apreender em seus sentidos (conscientes ou inconscientes) de maneira tão simples. É bem provável que uma compreensão mais densa dos discursos de uma fonte cinematográfica só seja possível na medida em que as especificidades do suporte midiático audiovisual também estão se tornando mais conhecidas pelo historiador. Nesta apresentação, gostaria de propor uma análise fílmica que combina técnicas da narratologia e da interpretação psicanalítica dos sonhos. Tal abordagem referenda-se na hipótese de que, em certo sentido, a experiência do cinema aproxima-se da experiência do onírico, e quando se pensa nos filmes de grande circulação, pode-se visualizar o cinema como o meio privilegiado para o fenômeno aqui chamado de “sonhar social”. O documento fílmico utilizado nesta análise será o longa-metragem Matrix (1999). A partir dessa ficção futurista, pretendo discutir como em seu conteúdo manifesto alguns temas latentes do período em que foi produzido se insinuam, em especial os conflitos de identidade que alguns autores culturalistas percebem como principal sintoma do declínio das instituições modernas. Palavras-chave – Cinema-história, modernidade, matrix A Construção de São Paulo no cinema das décadas de 1930 e 1940 Márcia Juliana Santos Doutoranda em História Social pela PUC-SP [email protected] Este trabalho é parte de uma pesquisa em andamento que analisa os filmes documentais de não-ficção (institucionais, jornais cinematográficos e curtametragens) que registraram as transformações urbanas e sociais da cidade de São Paulo nas décadas de 1930 e 1940. A historicidade das filmagens, os temas abordados, os cenários da cidade, os enquadramentos, as locuções, os letreiros e outros elementos incorporados à narrativa fílmica vão constituir o foco da análise. O recorte apresentado é a apreciação de dois filmes: SÃO PAULO (1942), uma co-produção do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), com o governo do Estado de São Paulo e o Departamento de Assuntos Interamericanos. PEQUENAS CENAS DE UMA GRANDE CIDADE (1944), do cineasta e fotógrafo Benedito Junqueira Duarte, um filme encomendado pelo Departamento de Educação da Prefeitura de São Paulo. A produção do filme SÃO PAULO (1942) estava inserida num contexto de estratégias diplomáticas da Segunda Guerra, cujo objetivo, era promover um maior intercâmbio cultural e político entre Brasil e Estados Unidos. No filme destacaram-se os símbolos de uma cidade industrial, com arranha-céus, grandes construções arquitetônicas e chaminés das fábricas, representando a industrialização e a urbanização crescentes. As imagens em movimento apresentaram discursos em torno da exaltação de “personagens ilustres” da cidade, como José de Anchieta, os bandeirantes e D. Pedro I, corroborando assim, com uma narrativa mítica da história de São Paulo. O segundo filme é o curta-metragem, PEQUENAS CENAS DE UMA GRANDE CIDADE (1944), silencioso e em cores foi produzido pela Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo. O cinegrafista Benedito Junqueira Duarte filmou a cidade, revelando os meandros do cotidiano, nos mais diferentes espaços: 28 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais a feira livre, as rodas de conversa e as brincadeiras das crianças nos parques. O diretor estabeleceu uma ligação entre a vida cotidiana e as instituições científicas, ao conduzir a câmera pelas inúmeras Faculdades da cidade. A interpretação das imagens está aliada à contribuição teórico-metodológica de autores como Jean-Claude Bernardet, Maria Rita Galvão, Rubens Machado Jr. e José Inácio de Melo Souza que debatem a história do cinema brasileiro. Aliado a tal perspectiva, analisam-se também reportagens de jornais e revistas que noticiavam os filmes. Possibilita-se assim, observar a construção da narrativa de uma São Paulo em movimento, focalizada não só pelo cinema, mas pela imprensa da época. O percurso metodológico permite questionar percepções naturalizadas por diferentes discursos. É possível refletir a construção das imagens dos filmes, por meio das disputas de poder diante de inúmeros projetos políticos para a cidade. O estudo destes filmes não é, e nem deve sugerir, uma reprodução exata ou uma imagem do real inquestionável, mas uma expressão problemática da relação entre o cinema e a história de São Paulo. Palavras-chave: cinema, São Paulo, B. J. Duarte C’eravamo tanto amati. O cinema italiano, espelho e interpretação da história e da sociedade desde o período pós-guerra aos anos de chumbo Maurizio Russo Doutor em Historia Cultural pela Université Nancy 2 [email protected] Fenômeno cultural fortemente ligado ao âmbito histórico no qual è produzido, o cinema italiano è produto de um determinado quadro social, econômico e cultural. Ele narra interpretando e por isso foi muitas vezes visto con desconfiança por parte de históricos italianos, que ainda pouco o utilizam, preferendo fontes mais tradicionais. Mas como as várias vertentes filmográficas descreveram a realidade histórica social italiana que se desenvolveram entre o pós-guerra e os anos 70? O Neorealismo de De Sica, Rossellini, Visconti; a Commedia all’italiana de Monicelli, Risi; o Spaghetti Western de Solima e Leone; o Giallo all’italiana (ou spaghetti-thriller) de Bava e Fulci; o cinema político de Petri; as críticas e desconfortáveis obras de Fellini, Scola, Pasolini, Ferreri, Rosi, Bolognini, Antonioni. “O cinema é a língua escrita da ação” afirmava Pasolini defendendo um cinema de forte compromisso político e ideológico: “o cinema de poesia”. Porém também nas obras menos comprometidas ideologicamente se encontra vestígios evidentes da realidade social e cultural que as produziram. A Itália foi protagonista de uma cinematografia que representa uma fonte importantíssima para os estudos da sua sociedade. Alguns dos problemas que expõe Marc Ferro no seu famoso ensaio escrito em 1964, Société du XXe siècle et histoire cinématographique, bloquearam por muitos anos o uso do cinema como fonte histórica na Itália. Em uma perspectiva analítica e cronológica se tentará delinear as problemáticas e as perc- 29 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais perctivas deste campo de pesquisa, propondo chaves de leituras específicas de algumas das obras relevantes. “Mulheres Choradeiras”: História cultural formada a partir dos mitos e da oralidade Mônica do Corral Vieira (UFPA) [email protected] Mulheres Choradeiras é um conto de Fabio Castro presente no livro Terra dos Cabeçudos, de 1984. O estudo deste conto visa explorar os diferentes tipos de realismo existentes nesta obra, através do estudo dos mitos e da oralidade que envolve a criação do conto em questão e sua propagação. Os mitos e a oralidade possibilitam uma (re)construção e desenvolvimento de conhecimentos que permeiam a atividade da leitura (conhecimentos artístico, cultural, social, filosófico e histórico) e enriquecem/(re)afirmam a identidade latino-americana. Pretende-se estudar os elementos literários e tipos de realismo/realidade constituintes desta obra - e de seu curta metragem homônimo - para relacioná-los à outras leituras, tais quais sua aproximação/semelhança a fatos históricos, mitos, representações, oralidade e outras literaturas em geral. Palavras-chave: História, mito, oralidade. As lentes da intolerância: representações do neofascismo e de skinheds no cinema do século XXI Paulo Roberto Alves Teles (UFS) [email protected] A formação de tribos urbanas e grupos marcados pela intolerância tem sido presente no alvorecer do século XXI. Nitidamente influenciado por ideias fascistas, esses grupos têm disseminado o seu ódio e a sua violência a minorias como judeus, negros e homossexuais. Diante disso, a pesquisa analisou as diferentes formas de representação desses grupos na recente produção fílmica do século XXI. Selecionamos para isso as películas: Evil – Raízes do mal (2003), Diário de um skinhead (2005), Steel Toes (2006) e A Onda (2008) por acreditar que estas reúnem aspectos interessantes sobre o tema, além disso, tais produções abordam, em perspectivas diferenciadas, os problemas gerados pela perda gradativa da humanidade e pela adoção de posturas éticas questionáveis. Palavras-chave: cinema, intolerância, representações 30 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais O cinema em Belém do Pará nos tempos da borracha (1896-1914) Pere Petit Penarrocha (UFPA) [email protected] Esta comunicação faz parte da pesquisa atualmente em andamento sobre os pioneiros do cinema mudo em Belém do Pará, desde as primeiras exibições de imagens através do Vitascope de Thomas Edison, em dezembro de 1896, e do cinematógrafo dos irmãos Augusto e Louis Lumière, um ano depois, até o que podemos denominar boom do cinema na capital do Pará a partir da inauguração de salas destinadas à exibição exclusiva de filmes e documentários e a criação da primeira produtora de documentários em 1911, a firma de The Pará Films. Também discutiremos o impacto no mundo cultural e cinematográfico belemense da crise econômica que sofre a capital paraense após a queda do valor no mercado internacional do preço da borracha exportada pelo Brasil. Bonnie e Clyde: uma biografia de contravenção (anos 1930 e 1960) Soleni Biscouto Fressato Doutora em Sociologia pela UFBA [email protected] Bonnie Parker e Clyde Barrow foram dois conhecidos ladrões de bancos e postos de gasolina que viveram os conturbados anos da depressão econômica nos Estados Unidos. A gang Bloody Barrow Gang fazia tremer o comércio, pois era sinônimo de brutalidade impiedosa, mas também vista como um sinal de revolta contra a miséria em tempos de crise. A partir de 1932, quando ocorreu o primeiro assassinato, eles começaram a ser perseguidos ferozmente pela polícia norte-americana. Em 1934, num tiroteio com a polícia de Louisiana, eles foram assassinados. Em 1967, período em que os jovens contestavam e desafiavam o poder, a história do casal vem novamente à tona com o filme Bonnie e Clyde. Warren Beatty (Clyde) e Faye Dunaway (Bonnie) se transformaram nos símbolos de uma mudança de atitute da juventude frente às imposições sociais e morais. Diante do exposto, a proposta da presente comunicação é analisar em que medida o filme Bonnie e Clyde é uma biografia do famoso casal de gângsteres norte-americano e, ao mesmo tempo, uma representação da juventude nos revolucionários anos 1960. Palavras-chave: Biografias cinematográficas, Representações sociais no cinema, Revolução e contestação. Projetando novos caminhos: Uma análise das ações culturais promovidas por Walter da Silveira e suas repercussões no campo 31 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais cinematográfico baiano nas décadas de 1950-60 Thiago Barboza de Oliveira Coelho Mestrando do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da UFBA [email protected] As décadas de 1950 e 1960 se configuraram como um período de grande efervescência das manifestações artístico-culturais na cidade de Salvador. Esta dinamização do campo cultural está associada diretamente à promoção de iniciativas pelo governo da Bahia e pela recémcriada UFBa. No entanto, o mesmo não se concretiza no campo das produções audiovisuais. Sem apoio de políticas públicas, a arte cinematográfica na Bahia desenvolveu-se através de projetos e iniciativas implementadas pela sociedade civil. Neste contexto, Walter da Silveira emergiu como um dos mais relevantes fomentadores da cultura cinematográfica no estado. Entre as diversas ações promovidas por este, destaca-se principalmente a criação do Clube de Cinema da Bahia. O presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre os projetos idealizados por Walter da Silveira, evidenciando a importância destas atividades no desenvolvimento da cultura e da cinematografia no estado baiano. Palavras-Chaves: Cinema Baiano; Walter da Silveira; Clube de Cinema da Bahia. Caminhos que se cruzam: literatura e cinema em Cidade de Deus Valquíria Lima Doutoranda em Estudos Literários e Culturais pela Universidade Federal da Bahia [email protected] O momento histórico atual nos apresenta obras literárias diferentes, agressivas, que compõem mosaicos para tematizar, radiografar e ressignificar a realidade capitalista, considerada cruel. Entre estas, está o romance Cidade de Deus (1997), de Paulo Lins. Sua narrativa já traz em si a marca da rapidez cinematográfica e requer novos olhares sobre o literário, que o entrecruzem com o cinematográfico e com a história. O que se coloca, então, para a crítica, nestes textos, é a impossibilidade de operar com os mesmos elementos de análise de outrora. Este novo modelo de escrita – a que Roberto Schwarz chama arte compósita – requer uma análise que se movimente entre as áreas de literatura e as demais (Sociologia, História, Filosofia, Ciência Política e Economia), de modo que olhar para o literário não dissocie as suas diversas instâncias de composição. Em Cidade de Deus, a imaginação não é o único motor da escrita, nela, a relação com a realidade objetiva é a marca da literatura e, por isso mesmo, ela busca no cinema o motor da narrativa, provocando assim, um grande encontro. Propõe-se então, neste trabalho, analisar, em que medida o romance Cidade de Deus incorpora as técnicas do cinema em sua narrativa para conferir maior sentido á interpretação da história. 32 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 3 Memórias sobre homens e natureza – as representações do sertão brasileiro Incultos Sertões, Bárbaros e Civilizados: representações dos habitantes e dos espaços geográficos da vila de Cimbres, localizados nos antigos sertões de Ararobá de Pernambuco (1762-1867) Alexandre Bittencourt Leite Marques Mestrando em História Social pela UFRPE [email protected] Os informes mais antigos sobre as regiões que hoje são conhecidas como agreste e sertão de Pernambuco vêm desde o início da colonização portuguesa. Ao passo que avança a expansão colonial em direção ao interior, aparecem cada vez mais informações, descrições e relatos sobre as paisagens geográficas e os habitantes nela inseridos. O presente trabalho tem por objetivo analisar as representações feitas pela administração de Pernambuco sobre os habitantes e os espaços geográficos da vila de Cimbres, inserida nos antigos sertões de Ararobá. Utilizaremos como fontes documentais, alvarás petições, ofícios e cartas – localizados no Livro da Criação da Vila de Cimbres. Nesse sentido, os documentos administrativos constituem em uma rica fonte de representações, onde termos como incultos sertões, desertos sertões, vileza, honra, bons costumes, bárbaros, civilizados, simbolizavam designações dos espaços geográficos e identidades dos atores sociais envolvidos. Palavras-chave: representações, sertão, colonização Arthur Cézar Reis e as representações sobre homens e natureza na história da cobiça estrangeira da Amazônia (Década de 1960) Alexandre Pacheco Doutor em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista [email protected] Ao longo da obra A Amazônia e a Cobiça Internacional do historiador Arthur Cézar Reis temos o sentido de uma história geral da cobiça sobre a Amazônia determinada pela ótica do nacionalismo denunciador deste autor. Nacionalismo que se nutriu de uma linguagem que mobilizou efeitos retóricos para a construção de um enredo de suspeição sobre as ações dos povos estrangeiros em relação à Amazônia e de suspense sobre o destino dela, na qual culminou com a construção de uma narrativa genérica não só para explicar e interpretar, mas também demonstrar de forma vivida o conjunto dos acontecimentos históricos ligados à cobiça dos estrangeiros sobre a hiléia amazônica. Narrativa genérica esta, em que o historiador pro- 33 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais curou expressar - a partir das escolhas literárias e científicas presentes em sua memória sobre os fatos passados que analisou - a representação da tenacidade do elemento português, do luso-brasileiro e do próprio homem brasileiro em defender a Amazônia mesmo diante das precárias condições históricas destes povos para o domínio de sua natureza. Representação, enfim, que na década de 1960, deveria servir para uso objetivo dos brasileiros em sua luta para defesa, manutenção e histórico esforço de integração da Amazônia ao restante do país. Homens e natureza no sertão de Henry Koster Eduardo Girão Santiago Professor Adjunto do Departamento de Ciências Sociais da UFC [email protected] O artigo pretende trazer à tona homens e paisagens do sertão nordestino, a partir de relatos de Henry Koster no início do século XIX. Será apresentado um “sertão legítimo, com seca, léguas sem-fim, gado morrendo, solidão, resistência, heroísmo, primitividade”, como atestou Luís de Câmara Cascudo. Será analisada a interação homem e natureza no sertão, a sua cultura, o seu perfil psicológico, a sua alimentação, as práticas de comércio e a vida de vaqueiro nas fazendas de gado. A leveza e naturalidade da narrativa do “exato” Koster será explicitada neste artigo, descortinando a comparação do sertanejo nordestino e do peão das terras vizinhas do Prata, o teor das conversas dos sertanejos e a sua intrigante moral num território sem lei. A fonte de pesquisa deste artigo será o livro Viagens ao Nordeste do Brasil, com prefácio e comentários de Câmara Cascudo, que reconhece em koster o pioneirismo na construção da etnografia tradicional do sertanejo nordestino no seu cenário. Palavras-chave: Sertão. Etnografia. Henry Koster O sertão brasileiro e a pós-modernidade: imagens na literatura e no cinema contemporâneos Émile Cardoso Andrade Doutoranda em Literatura na Universidade de Brasília [email protected] Este trabalho tem como objetivo investigar de que forma a literatura e o cinema brasileiro contemporâneos representam o sertão; para isso utilizaremos o romance “Galileia” (2008) de Ronaldo Correia de Brito e o filme “Árido Movie” (2006) de Lírio Ferreira. A ideia é discutir as relações entre as representações artísticas do espaço sertanejo e as novas perspectivas políticas e estéticas que envolvem as mesmas. Outro intuito deste estudo é entender como a pós-modernidade compreende o sertão como lugar e não-lugar de uma possível identidade brasileira que se configura diferentemente de contextos anteriores, como a literatura de Euclides da Cunha e Graciliano Ramos e o Cinema Novo de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos. Palavras chaves: sertão, literatura e cinema 34 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Paisagem-labirinto: notando espaços sertanejos Eudes Marciel Barros Guimarães Mestrando em História pela UNESP/Franca [email protected] Nesta comunicação, pretendo refletir sobre algumas representações do sertão no início do século XX, especialmente os sertões baianos. A partir da apreciação do relato de uma viagem empreendida pelo alemão Otto Quelle, em 1927, da Bahia meridional ao vale do rio São Francisco, recupero algumas imagens do interior baiano, desde os lugares que “receberam vida nova com as estradas de ferro” às “monótonas paisagens de caminhos poeirentos que se estendiam para o Oeste. O propósito do pesquisador alemão em conhecer objetivamente o interior baiano foi orientado pelo duplo perfil que se formou no pensamento social sobre o sertão: uma região atrasada, “onde raras são as lavouras e, mais raros e pobres, os povoados”, mas também um espaço portador de uma autenticidade brasileira. A paisagem no relato é bastante expressiva – ora labiríntica e perigosa, ora monótona e fatigante – e encontra-se com outras narrativas como o romance “Vida Sertaneja”, de Prado Ribeiro, com que o cientista teve contato durante a viagem. Palavras-chave: paisagem, sertões baianos, relato de viagem Caatinga e Catingueiros: a paisagem e a identidade social no Sertão Baiano. 1850-1910 Flávio Dantas Martins [email protected] Analisa-se a construção da identidade social dos catingueiros na região de Irecê-Bahia, entre o fim do século XIX e início do século XX. Investiga-se a importância das relações de trabalho estabelecidas entre os sujeitos camponeses na ocupação da região, as contradições e contatos nas fronteiras com as regiões ribeirinhas e garimpeiras e a transformação dos sentidos dados à paisagem da caatinga e às atividades desenvolvidas na mesma. Utiliza-se como fontes documentação eclesiástica, cartorial, relatos de viajantes e literatura oral. Trata-se de um recorte de uma pesquisa em andamento, a nível de mestrado, a respeito da História Agrária da região de Irecê-Bahia. Águas que curam, embelezam, rejuvenescem: as representações da natureza na estância hidromineral de araxá mg Glaura Teixeira Nogueira Lima Professora Adjunta da Universidade Federal do Triângulo Mineiro [email protected] 35 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais As virtudes que brotam da água correm por tempos, espaços e culturas diferentes. Líquido vital, a água purifica, consagra, higieniza, alimenta, cura, rejuvenesce e embeleza. A água traz fruição, proporcionando situações muitas vezes inéditas como recreio, repouso e relaxamento junto aos ambientes que a acolhem, naturais ou construídos. Este artigo visa à discussão das formas de aproveitamento da água como um bem valioso e sua importância na construção física e imaginária da estância hidromineral de Araxá, MG, no período entre o final do século XIX e meados do XX. Os muitos sentidos do sertão: imagens e representações do sertão de Minas Gerais Iara Toscano Correia Doutoranda em História pela UFU [email protected] Minas, são muitas. Porém, poucos são aqueles que conhecem as mil faces das Gerais. (João Guimarães Rosa) O termo sertão foi cunhado pelos portugueses, entre os séculos XII e XIV, e expressava bem a noção expansionista e imperialista que caracterizou o período colonial em sua primeira fase na Península Ibérica. Grafado ‘certão’ ou ‘sertão’, era usado para designar as áreas situadas no interior de Portugal, distantes de Lisboa. A partir do século XV essa terminologia também foi usada para nomear espaços vastos, interiores, situados dentro ou no entorno das possessões recém-conquistadas, em que pouco ou nada se sabiam sobre elas. Este estudo analisa os deslocamentos semânticos ocorridos no termo e sua aplicação no sertão mineiro. Hoje, essa terminologia é reivindicada pelos grupos sociais que a ostentam como uma marca capaz de legitimar um modo de vida que é próprio de um povo. Em meio à intensa mercantilização dos bens simbólicos, a identidade sertaneja tornou-se, não só, mas também, um produto viável na dinamização das economias locais. Palavras-chave: sertão mineiro; viajantes estrangeiros; identidade sertaneja Os sertões da província maranhense durante a experiência regencial no Maranhão Léa Maria Carrer Iamashita Doutora em História Social pela Universidade de Brasília [email protected] No estudo da cultura política da Rebelião Regencial da Balaiada, cujos cenários foram os sertões do Maranhão e Piauí (1838-1841), trabalhamos com a interpretação e codificação da categoria “sertão” a partir do imaginário social e do entendimento do espaço como produto de uma prática cultural e simbólica. A visão etnocentrista de nossa historiografia tradicional estendeu a visão negativa dos indígenas aos mestiços e aos sertanejos de uma forma geral. 36 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Tal postura foi articulada à percepção de “sertão” como um vazio, tentando transmitir assim a ideia de uma ocupação mais legítima. O sertão que emergiu de nossas fontes foi o sertão da fronteira, que incluía matas fechadas e pantanosas, que abrigavam os escravos fugidos e também os índios e os mestiços livres, a “população de cor” que fugia do recrutamento militar, do controle e da exclusão violenta do Estado Moderno e da “sociedade civilizada”. Um sertão que ficou no “vazio” legitimador da ação expansionista da fronteira. Palavras-chaves: Sertão, Maranhão, Fronteira. A face do sertão em Árido movie: uma representação pós-moderna? Leonardo Assunção Bião Almeida Mestrando em Letras pela UESC [email protected] Ricardo Freitas de Oliveira Doutor em comunicação pela UESC [email protected] O sertão desde o Romantismo na literatura brasileira, vem sendo tomado como ambiente detentor da essência de uma possível “brasilidade”. Mas é, sobretudo, a partir do Modernismo que tal ambientação ganhará maiores proporções, ao comprometer-se a criar uma “genuína” identidade cultural e nacional brasileira. O Cinema novo, herdeiro dessa concepção modernista, foi o responsável por consolidá-la como temática crucial no terreno das representações, trazendo para as telas um sertão palco de questionamentos políticos e sociais, como visto em Deus e o diabo na terra do Sol, de Glauber Rocha. A chamada “fase de retomada” da cinematografia brasileira também lançará mão das representações do sertão, só que substituindo o caráter engajado, por uma visão mais subjetiva: ou seja, o sertão passa a ser palco de dilemas pessoais. Nesta comunicação, propomo-nos analisar o cinema contemporâneo brasileiro, através do filme Árido Movie, de Lírio Ferreira, que se apresenta como potencial ilustração para se pensar essas mudanças da representação do sertão, ao mostrar o diálogo da cultura sertaneja com a cultura pop mundializada, delineando um cenário onde o passado (moderno) e o presente (pós-moderno) coabitam. Palavras-chave: cinema brasileiro, sertão, representação. A Guerra do fim do mundo - o imaginário sobre Canudos e o sertão brasileiro Libertad Borges Bittencourt Professora adjunto IV da Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás [email protected] A partir das mudanças que perpassaram a escrita da História, a literatura foi re valorizada 37 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais no que diz respeito às possibilidades apresentadas por essa “fonte” em expressar o tempo histórico. Nesse sentido, a proposta dessa apresentação é problematizar como uma obra literária: A guerra do fim do mundo, de Mario Vargas Lhosa, recorre a um acontecimento histórico para desvelar o desconhecimento sobre realidades díspares que caracterizaram a célebre dicotomia entre civilização e barbárie. O autor alcança uma conexão peculiar, conferindo espaço, também, a regiões e tipos pouco considerados, quando se trata de pensar a nação que se buscava forjar no final do oitocentos no Brasil. Sua obra é perpassada pela perplexidade e dificuldade de compreender o que se passava naquele sertão longínquo e inóspito, sentimentos ampliados pelas sucessivas e aparentemente inexplicáveis derrotas do exército nacional nos embates com “um bando de sertanejos maltrapilhos”. O livro reproduz o estranhamento entre as distintas regiões do país, particularmente com respeito ao sertão. Diálogos com Guimarães Rosa: tempos, espaços e memórias de velhos pioneiros do Grande Sertão (1860-1920) Maria Zeneide Carneiro Magalhães de Almeida Professora Adjunto do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected] O escritor Guimarães Rosa traz em seus romances, referências sobre paisagens, cenários, lugares e personagens, onde já existiam\ou surgiram povoados, vilas e cidades que passaram a ter visibilidade social por meio das suas narrativas. O texto aqui proposto tem como foco principal a reconstrução das memórias de antigos pioneiros de núcleos de povoamento e ocupação humana próximos à área do Parque Nacional Grande Sertão. Busco contrapor e dialogar com representações sobre o sertão que enfatizam o atraso cultural e isolamento como obstáculos para sua inserção no processo de desenvolvimento do país. Como também, aquelas que ressaltam a importância da contribuição positiva ou negativa desses aspectos regionais na construção da identidade nacional. Ancoro nas abordagens sobre cultura e memória como linhas investigativas que privilegiam a relevância social e subjetiva do ser e do viver sertanejos presentes na produção literária brasileira em diferentes contextos. Palavras-chave: Memória; Pioneiros do Grande Sertão; Guimarães Rosa. O Grande Sertão de Minas é Gerais Mônica Celeida Rabelo Nogueira Profa. Adjunta da Faculdade de Planaltina (FUP), Universidade de Brasília [email protected] Gerais é a denominação no Norte de Minas Gerais, dada pela gente local aos topos de serra, planaltos, encostas e vales dominados por Cerrado. É também o território reivindicado e um dos mais importantes vetores no processo de afirmação identitária dos Geraizeiros, oferecendo el- 38 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ementos discursivos e perfomativos de justificação para as demandas desse grupo, numa ampla arena de articulação política. O recorte por bioma é operado em muitos desses contextos e, por isso, oferece elementos elucidativos das dinâmicas específicas ao processo de reelaboração identitária e reivindicação territorial dos Geraizeiros. Dito de outro modo, o Cerrado (ou os Gerais) é, especialmente nos últimos anos, elemento de marcação da diferença para os Geraizeiros e fonte de simbolizações importantes no processo de afirmação de sua identidade, enquanto população tradicional. Mas seria pouco tomar os Gerais como simples sinônimo de Cerrado. Essa categoria êmica merece ser objeto específico de análise - por si mesma e em relação a outras que a ela foram associadas ao longo da história. Por isso, empenho-me neste trabalho em delimitar os Gerais, como entidade histórica e geográfica, num exercício interdisciplinar, em que procuro articular elementos de geografia, história, ecologia, antropologia e mesmo literatura, para apreender esse espaço/lugar em suas muitas faces, humanamente habitado e construído, através de distintos fluxos históricos. Por meio da abordagem de diferentes fontes documentais e explorando a permeabilidade entre essas narrativas, procuro tomar contato com o acervo cultural que preenche os Gerais de múltiplos e vigorosos sentidos, ainda hoje socialmente operados pelos regionais e pelos próprios Geraizeiros. Palavras-chaves: identidade, territorialidade, representações sociais. Entre traças e cupins: Representações da escravidão em registros documentais escritos Murilo Borges Silva Mestrando em História pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected] O presente estudo integra um contexto maior que se propõe a investigar o processo de abolição e o pós-abolição no município de Jataí. Entretanto, para que fosse possível discutir essa temática fez-se necessário um retorno ao período da escravidão com o intuito de perceber as representações sobre a vida cativa nos sertões goianos. Para tanto, fizemos dialogar o senso demográfico realizado em 1872, documentos cartoriais do período compreendido ente 1872 a 1888 e bibliografia sobre o tema, percebendo como se deu a dinâmica de compra e venda de escravos, as redes de sociabilidades e solidariedades construídas no cativeiro, a resistência ao sistema escravista e a espera pela liberdade. Há no texto a tentativa de demonstrar que a escravidão na região, apesar de se tratar das últimas décadas do trabalho escravo, esteve consideravelmente presente no sudoeste de Goiás. Palavras-chave: escravidão, Jataí, documentos escritos Representações do sertão norte oriental do Brasil setecentista Paulo Henrique Marques de Queiroz Guedes 39 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Professor de História do IFPE [email protected] Nesta proposta de trabalho, centraremos a discussão nas várias dimensões simbólicas do sertão norte oriental do Brasil surgidas no período colonial (século XVIII). Assim, privilegiamos algumas das mais recorrentes representações do sertão colonial para entender como este espaço foi qualificado pelos contemporâneos. Destacamos, sobretudo, que as diversas concepções de sertão variaram no tempo (entre os séculos XVI e XVIII) de acordo com significativas mudanças conjunturais. Trata-se de conceber o sertão como “espaço-móvel” no qual observamos a associações deste com alguns grupos étnicos (notadamente os índios Tapuia) e sociais (os quilombolas, os paulistas e os criminosos) que no entendimento dos homens da época atuavam neste espaço como se fora seu lócus privilegiado. Em todos estes casos o sertão era encarado como o lugar do “outro” e espaço de baixa institucionalidade. Neste sentido, a partir da análise de bibliografia especializada e fontes primárias emergiu um espaço-sertão que esteve, no período colonial, associado a determinadas imagens que transitaram entre a rusticidade, incivilidade, heresia e liberdade. Palavras-chaves: sertão; América portuguesa; representações. Excursões, Raids Automobilísticos e Expedições: o itinerário de um diário íntimo (1916-1920) Robson Mendonça Pereira Doutor em História pela UNESP [email protected] O interesse da elite paulistana pelo automobilismo, precedendo a própria constituição de um plano de estradas de rodagem, teve seu início com a fundação do Automóvel Clube de São Paulo em 1908, entidade que reunia um grupo de empresários e políticos ligados a famílias poderosas. Nos anos 1910 tornou-se hábito percorrer com automóvel os caminhos poeirentos pelo interior, em passeios geralmente marcados por transtornos tal o péssimo estado em que se encontravam. O presidente de Estado Altino Arantes registrou em seu diário de governo muitas destas excursões e raids, a maioria com finalidade política. No seu texto percebe-se a utilização de recursos de representação literária para ressaltar o contraste entre as condições atrasadas dos locais visitados e os valores cosmopolitas representados pelo automóvel com o qual a elite cafeeira passara a conviver cotidianamente. Palavras-chave: modernidade, automóvel, diário. O Interior e a Interiorização do Brasil por Peixoto da Silveira – anos de 1950 Wilton de Araujo Medeiros (UFG) [email protected] Desde o período em que exerceu o mandato de Deputado Estadual em Goiás (1946/1950), o 40 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais médico José Peixoto da Silveira elaborou um discurso em que o interior de Goiás e do Brasil é contraposto à superficialidade do litoral. Trata-se da aplicação em termos locais da matriz dualista litoral/sertão, empregada desde Euclides da Cunha, para a elaboração de um pensamento sobre a formação da Nação. Posteriormente a esse período, passando a atuar no poder executivo estadual, Silveira vai aprofundar este pensamento, mostrando o modelo de urbanização de Goiânia como o melhor exemplo para se construir a nova Capital Federal no interior do Brasil, e, com isto, indicar a interiorização como vetor de expansão do desenvolvimento nacional. 41 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 4 Lugares, Paisagens e Passagens Urbanas – história cultural na cidade contemporânea Uma leitura da cidade: a história oral e a produção do documentário sobre o bairro Santa Teresa, Boa Vista/RR Alfredo Clodomir Rolins de Souza Graduado em História pela Universidade Federal de Roraima [email protected] André Nonato Alves King e Campos Acadêmico do curso de História pela Universidade Federal de Roraima [email protected] Anderson de Brito Barbosa Acadêmico do curso de História pela Universidade Federal de Roraima [email protected] Na história da cidade de Boa Vista ainda existem muitas lacunas. O aparecimento de alguns bairros a partir da década de 1990, geram indagações e estimulam a busca do conhecimento sobre esse processo de formação, o que é de suma importância para a história da cidade. As fontes relativas a esse processo de formação são quase escassas e as informações que dão conta do inicio do seu povoamento encontram espaço privilegiado nos relatos de seus moradores mais antigos. Neste sentido, escolhemos como objeto de estudo bairro o Santa Teresa, cujo povoamento se deu através de migrantes. Coletamos relatos audiovisuais e realizamos um documentário sobre o bairro, com o objetivo central de compreender o seu processo histórico de formação e povoamento, sendo as entrevistas com alguns dos moradores mais antigos as fontes principal. Ficou evidente o papel que os relatos desempenham na história da cidade, na leitura de seus lugares e práticas e na forma como nela nos inserimos. É importante destacar que as entrevistas e o documentário produzidos pelo projeto se constituem como excelentes mediadores no processo ensino/aprendizagem, pois seu uso como material didático dinamiza as aulas e incrementa e potencializa o estudo da história local e regional. Palavras chave: História oral, documentário, memória Historicidade do ócio, lazer e tempo livre no ethos contemporâneo Ana Camila García López Mestranda em História Cultural pela UnB 42 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] O tema do ócio tem sido muito polêmico, desde que, contraposto ao “Direito ao trabalho” do movimento operário alemão em 1848, Paul Lafargue propus “O direito à preguiça”. Da preguiça ao lazer as coisas mudaram bastante: de uma concepção negativa e inútil passou a referir atividades úteis e desejáveis, porém, não produtivas no contexto do capitalismo industrial. Muitos dizem que o lazer foi uma invenção do sistema produtivo, usado como estratégia de controle dos operários por parte das empresas. Tornou-se uma alternativa de vida saudável física e mentalmente e, logo depois, um direito dos cidadãos, como a saúde. No fundo, a discussão é filosófica: compromete uma questão de valores sociais e organização social. A alta estima do trabalho no Ocidente, e do dinheiro como conseqüência deste, explicam-se não pelo trabalho em si mesmo, mas pelo privilégio do lazer e a possibilidade de gastar. Este trabalho pretende mostrar o processo histórico de valorização do tempo livre e dos prazeres como parte integrante do ethos contemporâneo. Palavras-chave: ócio, ethos, contemporaneidade Vivências e violências: Os populares na cidade Dr. Antonio Clarindo Barbosa de Souza Professor de História e Geografia na UFCG [email protected] As cidades tem sido alvo de vários tipos de investigações acadêmicas nas últimas três décadas e no meio historiográfico viram-se ampliadas as possibilidades de enfoques sobre elas e seus habitantes. Dois dos sub-temas que mais chamam a atenção quando estudamos as cidades são: a presença dos populares - quase sempre confundidos propositalmente com os pobres - e o aspecto da violência, também quase sempre associada somente a ação destes moradores. Todos os estudos sobre a cidade que enfocaram as transformações urbanas ou as práticas sanitaristas mostram que os pobres sempre foram tidos como fontes de doenças e de perturbações da ordem pretendida pelos reformadores sociais. Jornais, obras memorialísticas, obras literárias, documentos oficiais das Prefeituras e das Câmaras de vereadores das pequenas e médias cidades do Brasil, estão repletos de indícios de como as elites locais viam e entendiam a presença dos populares. Nestas fontes, que pretendemos explorar neste trabalho, os populares são vistos ora como massa de manobra para as empreitadas políticas das elites, ora como empecilho às suas tentativas de reformas. As formas de exclusão social dos populares nas cidades é o nosso principal interesse neste texto. Entender como os discursos e as práticas dos populares foram cercadas, delimitadas, esquadrinhadas, normatizadas, ditas, discusadas e, muitas vezes interditadas, será o nosso mote de pesquisa, sendo as formas de violência praticadas contra os populares o nosso eixo norteador. 43 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Entre Cartuns e Charges: Possibilidades de análise documental historiográfico Bruna Dolores Witte Graduanda do curso de História pela Universidade Federal de Mato Grosso. [email protected] Este artigo têm como objetivo discutir as fontes textos-Visuais (charges e cartuns) veiculadas no Jornal O Pasquim entre os anos de 1969-1973. Na primeira parte apresento a abordagem metodológica adotada. Em seguida, apresento o jornal e o contexto histórico no qual este era produzido. Palavras-chave: expressões gráficas de humor, história, ditadura militar. Cultura política e o direito à cidade: a eleição de 1959 em Florianópolis Camilo Buss Araujo (UNICAMP) [email protected] Em 1959, a cidade de Florianópolis, capital de Santa Catarina, é palco de uma das mais disputadas eleições do estado. Em jogo o cargo de prefeito municipal, almejado por políticos dos principais partidos da cidade. No entanto, desponta no cenário o candidato Manoel de Menezes, concorrendo pelo pequeno Partido Trabalhista Nacional (PTN). Assentado num discurso de atendimento das demandas populares e em campanhas moralizadoras, o candidato surge como favorito, colocando em xeque o poder das duas maiores agremiações políticas do estado, a UDN e o PSD. O medo de vitória de um candidado tido como populista fez com que um tradicional jornal local alertasse para o perigo de esmagamento das elites por um “baixo populismo”, defendendo a união dos dois pricipais partidos como forma de resguardar o direito desses setores de comandar. A disputa pelo executivo municipal, neste sentido, põe em evidência as tramas e tensões presentes no cotidiano da urbe, onde as camadas populares ocupam cada vez mais o espaço público. Sendo assim, esta comunicação tem como objetivo tecer algumas considerações sobre este “tempo da política”. Verificar os rituais e interdições que o fazem um período de conflito autorizado, no qual as clivagens da sociedade explicitam-se. Nesta perspectiva, é impossível analisar as questões políticas em sentido amplo sem identificar suas conexões com as relações urbanas e a construção da cidade. Trata-se, portanto, de entender a cultura política (ou a pluralidade de culturas) e suas imbricações com as dinâmicas proporcionadas pelas transformações urbanas. De certa forma, parte do que está em jogo durante o processo eleitoral são os limites da participação popular nas questões da cidade, ou seja, a delimitação das fronteiras da luta por direitos. Da “Calle del Cartucho” a “Cidade Saúde”: transformações contemporâneas na paisagem ur44 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais bana do centro histórico de Bogotá (Colômbia) Carlos José Suárez G. Mestrando em antropologia pela UFF [email protected] No presente ensaio buscarei articular uma série de leituras sobre a cidade e suas imagens, tomando como exemplo a renovação urbana do centro histórico da cidade de Bogotá (Colômbia). Centrar-me-ei nas dicotomias urbanas contemporâneas entre o esvaziamento e a preservação, relacionando os projetos de renovação com as paisagens que estes constroem. A cidade, além de ser o espaço vital do homem, apresenta-se nesta análise como um dispositivo de controle dos comportamentos. Na moderna construção da urbe existem pessoas que, sob a aparência do abjeto, do socialmente excluído, mantêm-se afastadas do sistema e, desta forma, anônimas que são aferidas por estes processo de construção da nova cidade. Sendo assim, tentarei uma aproximação à nova história de dois setores particulares da cidade, objeto da intervenção urbana: a “Calle del Cartucho” que foi substituída pelo “Parque Terceiro Milênio”, e o bairro “San Bernardo”, que será destruído para construir a “Cidade Saúde”. Palavras-chave: renovação urbana, moradores de rua, metrópole. Fugindo do traçado: análise das transformações urbanas em Araranguá causadas pela implantação da ferrovia e do rodovia BR 101 (19301980) Daniel Alves Bronstrup (UDESC) [email protected] O desenvolvimento urbano da cidade de Araranguá está relacionado, no primeiro momento, com a planta da cidade produzida em 1886, a qual determinou o crescimento do centro da cidade. Entretanto, no decorrer do século XX, dois acontecimentos fizeram surgir bairros que fugiram do padrão determinado pela planta: a ferrovia foi o ponto de partida para um bairro além dos limites do rio Araranguá; e a rodovia iniciou um processo de crescimento linear seguindo seu traçado no território do município. Apesar de serem dois períodos distintos, eles se relacionam no momento em que a rodovia entra na cidade e passa a substituir a ferrovia. Como conseqüência desse processo, temos o surgimento e o abandono de bairros que têm como localização o que Marc Augé chama de “não lugares”. Palavras-chave: Araranguá, Ferrovia, Rodovia, Transformações. Retóricas do Abandono: Usos e Apropriações do 45 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Patrimônio Cultural em uma Cidade Contemporânea Diego Finder Machado Mestre em História pela UDESC [email protected] Este trabalho, cujas reflexões fundamentam-se em pesquisas desenvolvidas ao longo do curso de Mestrado em História da UDESC e em atuações em políticas públicas na área de cultura, tem como objetivo problematizar os usos e as apropriações contemporâneas do patrimônio cultural urbano em Joinville, Santa Catarina. Tendo como inquietação inicial o uso cotidiano do adjetivo “abandonado” para qualificar bens culturais localizados nas áreas centrais da cidade, alguns questionamentos conduzem as argumentações. Inexistem apropriações sociais e culturais dos lugares da cidade que costumeiramente empregamos o adjetivo “abandonado”? Quais histórias e quais memórias do tempo presente estes lugares nos remetem? Tentando problematizar estas questões, buscou-se ler a cidade pelas suas margens, desvelamos impertinentes experiências urbanas, silenciosas e silenciadas, que nos mostram práticas de espaço que transgridem a maneira como habitualmente se compreende a vida urbana. Palavras-Chave: Cidade; Patrimônio Cultural; Práticas Culturais. Apegos Polifônicos: Notas Dissonantes Constituidoras de Relações Pautadas na Fé e na Religiosidade – Guaramirim/SC Elaine Cristina Machado Pós-graduanda em História pela UDESC [email protected] As relações das comunidades da cidade de Guaramirim- SC, nas décadas de 1960 e 1970, são reconfiguradas e articuladas a partir do estabelecimento de práticas religiosas ligadas a incorporação de normas de comportamento e condutas instaladas nas relações sociais presentes nas comunidades da cidade. Além da fé que é estruturante e estruturadora de um discurso o corpo passa a ser uma referência de expressão ou não dos efeitos desse discurso. As experiências com o sagrado a partir da presença oficial da Igreja Católica na cidade passam a ser resignificadas, uma vez que se institui oficialmente relações de poder mais consistentes e evidentes, perpassadas por um discurso religioso ligado a um ideal de trabalho e progresso, o que sugere que o discurso articulado comungava intimamente com o poder público municipal. Na medida em que este poder religioso se concretiza através da imposição de uma “pedagogia da fé” o discurso utilizado passa a ser uma alternativa que serve como mecanismo de controle onde a convivência com o outro, o diferente, transformara-se em um terreno pouco transitado. É neste contexto, onde a fé é responsável por moldar as relações comunitárias, perpassadas pelas relações entre o sujeito e as instituições religiosas (Igreja Católica, Luterana e Assembléia de Deus) que estes sujeitos transitam e fazendo uso das memórias como fontes que buscamos discutir a ressonância dos códigos de linguagens 46 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais e as formas de identificações presentes neste recorte histórico. Palavras-chave: Discurso religioso, relações comunitárias e subjetividades. Comunidade árabe islâmica em Florianópolis (SC) (1991-2008) Prof. Dr. Emerson César de Campos (UDESC) [email protected] Florianópolis (SC- Brasil) nas duas últimas décadas sofreu um incremento agudo de sua população, que chegou perto do dobro daquela de 1990. Neste crescimento houve também um expressivo aumento da população dita Estrangeira (documentada ou não). As populações estrangeiras, embora reconhecidas pelas ruas e no cotidiano da cidade, são pouco visibilizadas pela Historiografia. Essa Comunicação pretende identificar entre a população imigrante estrangeira, aquela composta por árabes. Busca fugir de interpretações que tendem a reduzir o imigrante aos estereótipos de suas origens étnicas, ou mesmo outras que privilegiam (e reduzem) os árabes aos seus fatores e contribuições econômicas e religiosas, quase que exclusivamente. Assim pretendemos realizar uma investigação cuidadosa sobre a constituição de territórios da Cultura árabe (palestinos, sírios, libaneses, jordanianos) na capital, e as redes nas quais as manifestações e expressões sóciocultural daquela população se constroem. Procuro ainda nesta comunicação refletir sobre a constituição da Comunidade Árabe Islâmica e desta forma promover uma discussão sobre o movimento de populações e os fluxos migratórios no Tempo Presente. Por último, ao estudar a população árabe islâmica em Florianópolis, buscamos inseri-la nos debates sobre a relação Oriente-Ocidente e nisto também o crescimento do Islamismo. Através da História Oral podemos conseguir e alcançar uma descrição mais elaborada sobre a realidade experimentada pela população árabe em Santa Catarina (BR). Palavras-Chave: Estrangeiros – Imigrantes – Florianópolis – Árabes A volta do bonde: o presente entre o passado e o futuro na cidade Fernando Augusto Souza Pinho (UFRJ) [email protected] Em 2007 a Prefeitura de Belém saudou o “retorno” do bonde em uma linha turística. Sua criação tinha origem em gestão municipal anterior (2001-2004) e fazia parte de um projeto de “revitalização” do centro histórico-comercial de Belém, cujo objetivo era “resgatar” uma determinada imagem do centro, mais ligada à memória do ciclo da borracha na Amazônia. Contudo, esse acontecimento não é uma particularidade local, mas representa uma dispersão (mundial) de iniciativas relacionadas à gestão da mobilidade urbana e/ou à promoção do turismo e do patrimônio histórico-cultural. Em algumas cidades, o bonde reapareceu “modern- 47 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais izado”, com layout arrojado e como meio de transporte de média capacidade; em outras, com um design mais “saudosista”, serviu como um dos instrumentos de estímulo ao turismo. Este trabalho objetiva, portanto, analisar algumas iniciativas de (re)introdução do bonde como um importante elemento constitutivo do que hoje se diz ser “modernização”/“revitalização” do espaço urbano. Palavras-chave: cidades, bonde, revitalização urbana. Campeonatos, carnavais e réveillons ou cotidiano moderno dos clubes esportivos em Salvador, 1899 – 1924 Henrique Sena dos Santos Mestrando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana – BA [email protected] O surgimento dos esportes no início do século XX em Salvador esteve diretamente ligado à busca das elites em reconfigurar a noção de lazer da cidade. Desde o final do século XIX, as elites urbanas, na tentativa empreender práticas culturais modernas buscaram substituir festas religiosas, entrudos e outros divertimentos considerados desatualizados por lazeres modernos como o cinema, o footing e os carnavais europeizados. Ao considerarmos este contexto, o objetivo desta comunicação é perceber como a fundação dos clubes esportivos em Salvador também representou para as elites uma tentativa de criar novas formas e espaços de sociabilidades modernos. A partir da análise do perfil dos sócios, a estrutura dos clubes, bem como festas, eventos sociais e campeonatos esportivos organizados e protagonizados por estes a ideia é compreender a emergência dos clubes esportivos no bojo da modernização socioespacial da cidade. Ao final, oferecendo aos frequentadores um ambiente em que podiam conhecer novas pessoas e pretendentes, flertar, participar de confraternizações e praticar esportes, entendemos que os clubes e campeonatos constituíram novas paisagens modernas da cidade. Palavras-chave: Cidade; Clubes esportivos; Sociabilidades. Parques urbanos no contexto de Goiânia (GO): historicidade de uma paisagem Jorgeanny de Fátima Rodrigues Moreira Graduada em Turismo pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás [email protected] Clarinda Aparecida da Silva Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação do Instituto de Estudos Sócio Ambientais da Universidade Federal de Goiás 48 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] A conservação de áreas verdes durante a construção de Goiânia, visava o bem estar social proveniente da relação do homem com a natureza. Pedro Ludovico, idealizador da capital goiana, almejou um projeto audacioso que pudesse agregar a cidade, modernidade, conforto e beleza. Atualmente, prevalece na mídia à imagem de qualidade de vida proporcionada pelas extensas áreas verdes. A implantação de parques urbanos contribuiu para que Goiânia recebesse o título de 2° capital mais arborizada do mundo. Esses aspectos são defendidos pela administração pública atual como forma de proporcionar qualidade de vida a população. A pesquisa visa identificar a relação da comunidade local com estas áreas. Quais os significados e valores que os freqüentadores atribuem a estas paisagens? A aplicação de questionários, entrevistas e observação em quatro parques da cidade foram os recursos metodológicos utilizados para compreender estas questões. Palavras-chave: Parques urbanos. Paisagem. Mídia. História e cidade no tempo presente Luiz Felipe Falcão (UDESC) [email protected] Os processos contemporâneos de modernização urbana, ao colocarem frente a frente experiências diferentes, como as que caracterizam indivíduos provenientes do campo e indivíduos habituados aos ambientes citadinos, ou também nativos que nasceram na própria cidade ou em suas imediações, e forasteiros que para lá se dirigiram pelos motivos mais variados, delineiam um jogo intrincado de aproximação, recepção, afastamento, repulsão e permuta entre os diferentes segmentos socioculturais envolvidos, de tal maneira que seria uma simplificação afirmar que qualquer um deles apresenta comportamentos homogêneos, mesmo após a entrada em cena dos meios de comunicação de massa (rádio, jornal impresso, cinema e televisão). Em outras palavras, e acerca de várias questões, existem afinidades entre indivíduos provenientes do meio rural e do meio urbano, ou entre alguns “nativos” e alguns “estrangeiros”, na defesa, por exemplo, de uma nova sensibilidade para com os animais e, de modo geral, com o meio ambiente, enquanto que outros não são refratários a um crescimento da cidade ao custo inclusive de prejuízos ambientais. Palavras-chave: cidade, cultura, identidade. Das paisagens que não queremos ver - O processo de construção da identidade social dos catadores de material reciclável nas cidades contemporâneas Marina Roriz Rizzo Lousa da Cunha 49 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Professora, mestre, do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Goiás e da Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected] Nas cidades contemporâneas, uma paisagem chama a atenção por suas contradições: as latas de lixo. Nelas encontramos os principais e mais abundantes produtos de nosso tempo, os descartes do consumo, mas ao mesmo tempo, representam o medo de ser considerado out pela vida social, o receio de ser “jogado no lixo” – lugar em que ninguém quer estar. Sendo assim, o lixo é local dos excluídos e rejeitados, dos que possuem uma identidade social deteriorada. E por ser assim considerado, é ambiente em que apenas poucos escolheriam estar por vontade própria. Porém, para um grupo em especial, é a opção que resta, a forma que encontraram para sobreviver de forma lícita e almejar reconhecimento social: são os catadores de materiais recicláveis. Um grupo complexo e diversificado, sujeito a profunda rejeição social, que depende do lixo para sobreviver e para lutar pela mudança de sua condição, na tentativa de promover sua distinção como grupo social legítimo. Palavras-chave: Lixo, consumo, identidade. Tessituras do urbano no Tempo Presente: o comércio de sexo nas variações de tempo/espaço e as delicadas subjetividades Marlene de Fáveri Professora do Departamento e Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina [email protected] Este trabalho focaliza a rede prostitucional no espaço urbano de Florianópolis/SC, heterossexual e diurna, observada através panfletos, cartões de visita e bilhetes entregues nas ruas da cidade, onde se percebe a dinâmica das relações prostitutas/clientes, os anúncios provocadores, e a geografia das ruas e edifícios onde acontecem os programas de compra a venda de serviços sexuais. Estas fontes permitem análises da constituição de subjetividades, das relações de poder e da corporalidade no âmbito da cultura/consumo, bem como sobre mídias contemporâneas e práticas de prostituição, marcadas por hierarquias e jogos eróticos, pautando-se em interpretações que envolvem a categoria gênero para a análise histórica. Observam-se experiências de mulheres e de homens na circulação de uma mercadoria específica nas vias urbanas, constituindo-se uma rede informal de comércio de sexo, configurada na clientela que paga por este serviço. Nota-se o ritmo em que predomina o imediato, a novidade, a pressa, o fugaz, com propagandas apelativas e pensadas para provocar esse ritmo. Neste sentido, a cidade e suas vias e locais ocupados para o comércio do sexo, possibilitam leituras e interpretações de fenômenos culturais no Tempo Presente. Palavras-chave: Comércio de sexo; Tempo Presente; Subjetividades e relações de gênero. 50 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais “Cenas urbanas”: a cidade de Florianópolis na obra de Sérgio Bonson Michele Bete Petry Mestranda em História pela UFSC [email protected] Este trabalho traz como temática o estudo sobre as representações da cidade de Florianópolis (SC) na obra de Sérgio Bonson. Artista e historiador, Bonson, como assim assinava seus trabalhos e ficou conhecido, nasceu em 13 de novembro de 1949 e faleceu em 08 de dezembro de 2005. Como autodidata tornou-se caricaturista, chargista, cartunista, desenhista, aquarelista e artista plástico. Sérgio Bonson viveu parte considerável de sua vida imerso no intrincado cotidiano da capital catarinense, morava no centro da cidade e por ali transitava sempre atento às paisagens, aos corpos e às falas que o inspiravam a criar suas obras. Neste estudo, em particular, tomaremos como fontes de pesquisa as aquarelas e desenhos que compõem a série intitulada pelo artista como “Cenas Urbanas” e que foi elaborada entre os anos de 1991 e 2005. Palavras-chave: cidade – arte - Bonson Leitura, como prática cultural, na cidade “civilizada” Orlinda Carrijo Melo Doutora em Educação pela UNICAMP [email protected] Essa pesquisa de natureza qualitativa, se inscreve na perspectiva da História Cultural, e analisa as práticas, representações e imagens da leitura e dos leitores da Biblioteca Pública Municipal de Goiânia, no período de 1936 a 1960. Cidade inventada, Goiânia representa uma nova configuração no Estado de Goiás, e também no sertão central do Brasil. Nesse sentido o sertão goiano considerado inculto e selvagem, busca com a construção de Goiânia seu pertencimento à nação brasileira e também à civilização européia, produzindo novas sociabilidades e múltiplas sensibilidades. O cotejo das fontes, livros, documentos e depoimentos de leitores da época demonstrou a importância que as práticas de leitura assumiram, entre outras práticas culturais, nas representações de modernidade, progresso e cultura urbana, como processos “positivos” que levariam à consolidação Goiânia como a “cidade civilizada”. Foi possível perceber as relações dos leitores da cidade com a Biblioteca através das práticas de leitura ali desenvolvidas e também “ler e ver” os valores atribuídos à leitura, numa cidade inventada, inserida no projeto político desenvolvimentista de modernização e interiorização do Brasil. Palavras-chave: leitura, cidade, história cultural. 51 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Sociabilidades em Florianópolis nas últimas décadas do século XX: uma leitura a partir da imprensa Rafael Damaceno Dias Doutorando no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná [email protected] Nas últimas décadas do século XX, a cidade de Florianópolis vivenciou uma série de transformações urbanas e demográficas que alteraram profundamente as sociabilidades existentes no seu centro urbano. Isto motivou uma parcela dos cronistas e escritores locais a realizar um esforço para interpretar se tais transformações seriam ou não positivas para a cidade. Essa comunicação consiste em uma leitura do esforço empreendido por esses autores, especialmente no que se refere às suas leituras quanto ao desaparecimento de referências culturais que supostamente fariam parte do cotidiano dos florianopolitanos. Palavras-chave: identificações – sociabilidades - cidade. A Invenção da cidade Etnizada: História e Memória na Blumenau contemporânea. (1974 – 2002) Ricardo Machado Mestre em História pela Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Blumenau é uma cidade situada no nordeste de Santa Catarina e faz parte de uma região que passou a ser reconhecida como Vale do Itajaí. Esta demarcação, inicialmente ligada a uma localização geográfica – ao Rio Itajaí-Açu – hoje é interpretada como uma localização cultural. Esta localização é atravessada por elementos identitários que constroem unidade e sentido para palavras como imigração, trabalho, raízes e tradição. Neste projeto pretendo discutir este processo de invenção da cidade etnizada, através da constituição de um discurso histórico e dos investimentos em uma política da memória. Para isso, tomaremos como fonte aquilo que a cidade produziu no período de 1974 à 2000 relativo a sua própria história. Através dos documentos gerados a partir de um conjunto de celebrações e representações do passado histórico, buscamos estabelecer as séries e demonstrar as unidades e rupturas destes discursos que inventaram a Blumenau historicizada e etnizada. Dito de outra maneira, aqui os documentos serão lidos como acontecimentos que produziram uma historicidade para a cidade, e que por isso, sua produção, linguagem e enunciados serão objetos de análise. Polifonia paulistana: a Rua Augusta como espaço de sentidos Silvia Sasaki (UDESC) [email protected] 52 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Importante via arterial da cidade de São Paulo, a Rua Augusta interliga não somente o centro da cidade ao bairro nobre dos Jardins, mas também conecta indivíduos das mais diversas classes sociais, gêneros e culturas, em um trânsito heterogêneo de sentidos e vozes. Ao mesmo tempo em que é estigmatizada pelos locais de prostituição, também é uma das áreas mais desenvolvidas e valorizadas da cidade. E, nos últimos anos, novamente está passando por processos transformadores – desta vez, uma espécie de higienização visual e auditiva, através dos projetos “Cidade Limpa” e “Psiu”. Assim, através de uma breve análise dos grafittes em seus muros, dos adesivos stickers colados pela rua anonimamente, das fachadas (agora sem neons), dos estabelecimentos comerciais e dos indivíduos que ali transitam ou moram, é possível traçar perspectivas de territorialidades polifônicas, permeadas de história, e que também não cessam de se reestruturar. Palavras-chave: Rua Augusta, Cidades, Polifonia. Os amores que não se deixam dizer: relações amorosas e práticas sexuais na zona de meretrício Uelba Alexandre do Nascimento (UFPE) Doutoranda no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Pernambuco na linha de Cultura e Memória [email protected] A prostituição é uma temática bastante ampla e que atualmente ganha espaço nas discussões entre historiadores, sociólogos e antropólogos. É interessante perceber que cada vez mais este tema se torna também uma chave para compreendermos um pouco mais sobre a lógica da cidade, sociedade e a construção de sociabilidades em que todos estão envolvidos. É através do cotidiano da zona de meretrício da cidade de Campina Grande, na Paraíba, entre 1930 e 1950, que tentaremos mostrar neste artigo como se davam as relações amorosas e práticas sexuais na zona de meretrício, através dos processos criminais, na tentativa de mostrar que o mundo da prostituição não era tão desregrado e degenerado como sugeriam as elites letradas da cidade e especialmente a justiça. Além disso, percebemos também que suas ações cotidianas são cheias de simbologias que efetivamente são compartilhadas por todos que moravam na zona de meretrício. Palavras-chave: Cidade, prostituição, relações amorosas. Cidades dos mestres: Belém do Pará em memórias de professores Venize Nazaré Ramos Rodrigues Professora Assistente da Universidade do Estado do Pará, Depto. de Filosofia, Ciencias Sociais e Educação [email protected] Pesquisa realizada com professores que atuaram na Educação Básica com objetivo de perce- 53 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ber as mudanças ocorridas na cidade de Belém com o advento da televisão, nos anos 60 do século passado. metodologia da História Oral orientou a investigação e permitiu que fossem selecionados 07(sete) narradores que (re)memoraram suas vivências em Belém dos meados do século XX, seguindo um roteiro que possibilitou mediar suas lembranças a partir dos objetivos da pesquisa. Recorreu-se a fontes bibliográficas para situar a realidade sócio histórico cultural da cidade, seguindo o fio condutor das memórias em suas diversas temporalidades.A pesquisa ensejou (re)construir painéis urbanos da cidade que permitiram perceber o cotidiano de moradores e os desafios coletivos enfrentados naqueles tempos na cidade, como moradia, alimentação, luz, água, lixo, transporte, assim como os laços de sociabilidade que se construíram nestas relações. Contribui para compreender a vida na cidade e as questões urbanas a partir dos sujeitos históricos e como estes forjaram experiências do viver urbano na Belém de outros tempos, fazendo ponte entre a história individual e a história coletiva. Palavras-chave: Belém; Memória; História Oral. 54 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais la reinvención nacional a las circulaciones transnacionaST 5 De les. Los intelectuales de América Latina y el modernismo História, política e literatura no discurso crítico da Revista Civilização Brasileira (1965 - 1968) Cristiano Pinheiro de Paula Couto Doutorando em História pela UFRGS [email protected] Nesta comunicação, proponho uma análise da dimensão histórico-política presente no discurso crítico, sobre literatura, da Revista Civilização Brasileira. Manifestamente independente, a revista dirigida por Ênio Silveira, estrutura de sociabilidade da comunidade intelectual de esquerda brasileira durante os primeiros anos da ditadura, expressou, em sua secção literária, uma defesa do realismo enquanto opção estética na qual o desinteresse ideológico não foi exatamente a nota preponderante. Ao invés disso, essa defesa do realismo, ao constituir-se pelo uso de gêneros de discurso doxológicos e persuasivos, adquiriu ares “panfletários”. Na medida em que a intervenção política foi um dos princípios fundadores da RCB, a crítica literária que tomou corpo em suas páginas, fundamentada no pensamento de Lukács, foi hostil ao experimentalismo formalista e insistiu afincadamente na relação da literatura com os grandes problemas da história e com as lutas sociais imediatas. Palavras-chave: periodismo político-cultural, crítica literária, história Du pré Catelan à la Floresta da Tijuca : Arrivée de l’œuvre de Marcel Proust au Brésil Etienne Sauthier Doctorante em Historia na IHEAL (Universidade Paris III) [email protected] Les rapports entre le Brésil et l’Europe sont jalonnés, de bon nombre de transferts culturels qui contribuent chacun à l’auto-définition du pays. L’étude de l’arrivée et de la diffusion de l’œuvre de Marcel Proust a ceci d’intéressant que ce transfert se produit à un moment de mutation des rapports entre le Brésil et l’Europe, comme le montre Olivier Compagnon dans ses travaux. En effet, l’œuvre de Marcel Proust arrive au Brésil à un moment où l’enjeu moderniste semble être la définition d’une culture spécifiquement brésilienne en rupture revendiquée avec une certaine tradition européenne à laquelle Proust est lié. Il est donc intéressant de connaître la lecture qui est faite de l’oeuvre au Brésil, en particulier dans diverses régions et dans des contextes modernistes différents ; recherche faisable à travers la présence de l’œuvre dans les bibliothèques, chez les libraires et dans la critique brésilienne. On peut également se demander ce qu’indique cette circulation, car comme le remarque Michel Espagne dans ses travaux, il n’est jamais de transferts culturels sans rapport avec son 55 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais contexte de réception. En ce sens, on pourra se demander quel sens est donné à l’œuvre par les Brésiliens qui la lisent et en parlent, et à quel moment celle-ci est lue. Litterature – Circulation – Brésil O Direito à Memória como Direito Humano Difuso na América Latina Fábio Balestro Floriano (UFRGS) [email protected] Ao longo do último século, diversos países do continente latino-americano padeceram sob o jugo de ditaduras de cunho autoritário, por vezes denominadas “ditaduras de segurança nacional”. Durante tal período – convencionalmente chamado de “Anos de Chumbo” -, a população de tais nações teve negada seus mais basilares direitos fundamentais, e foi somente com a derrocada dos regimes de exceção que a maior parte desses direitos foi restabelecida. Entretanto, as ainda jovens democracias continuam ameaçadas, visto que se segue negligenciado um dos pilares fundamentais da Justiça de Transição, conforme conceituada pela ONU: o Direito à Memória. A construção da memória do período, com o pungente relato das atrocidades cometidas pelos Estados Nacionais contra os seus próprios povos é o único antídoto verdadeiramente eficaz contra a repetição das violações massivas de direitos humanos. O presente trabalho tem, portanto, por objetivo, a elucidação do que vem a ser o Direito à Memória, para que se possa, a partir da compreensão do conceito, elaborar políticas públicas visando principalmente à educação, posto que essa é a grande responsável pela formação das novas gerações. “Para que nunca se esqueça. Para que nunca mais aconteça.” Os intelectuais diante do regime cubano: de entusiastas a filhos de Saturno da Revolução Giliard da Silva Prado Doutorando em História Cultural pela Universidade de Brasília [email protected] Desde o triunfo da Revolução em 1959, os revolucionários cubanos demonstraram ter a consciência de que a conquista do poder era indissociável da necessidade de assegurar a sua legitimidade através da elaboração de representações e da construção de memórias. Como parte integrante desse processo, o governo cubano implementou a política cultural da Revolução, que foi marcada pelo dirigismo exercido pelo Estado sobre o campo intelectual, no sentido de orientar a produção simbólica em torno do regime cubano e delinear o tipo de intelectual orgânico que interessava ao governo. As relações entre intelectuais e Estado que, de início, foram marcadas pela aproximação, pelo entusiasmo revolucionário e pela cooptação, transformaram-se com o decorrer do tempo, dando lugar a perseguições políticas, prisões, exílios e silenciamentos. Neste sentido, este trabalho busca identificar grupos e polêmicas intelectuais sob a experiência revolucionária cubana, bem como pontos de inflexão da relação do Estado 56 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais com os intelectuais. Palavras-chave: Revolução Cubana; dirigismo cultural; intelectuais. “Em busca de uma nação renovada”: Vicente do Rego Monteiro e a sua ação política na Revista Renovação. 1939-1945 José Bezerra de Brito Neto Mestrando em História Social da Cultura pela Universidade Federal Rural de Pernambuco [email protected] A atuação intelectual dos artistas do modernismo brasileiro, nos anos 30 do século XX, é ainda hoje objeto de tensões, dada a peculiar relação destes, nesse período, com o regime que se fixou após a ‘revolução’ de 30, particularmente o Estado Novo. Com o retorno da França, do pintor Vicente do Rego Monteiro para o Recife, no início dos anos trinta, a capital pernambucana passa a ter contato com o choque entre projetos modernistas vindos da Europa e os projetos criados na própria região, configurando um campo artístico pautado no fomento das artes pelo Estado, através de salões, um museu e uma escola de artes. Trabalhando na imprensa do governo do Estado de Pernambuco, Vicente passou a publicar a revista Renovação, em 1939, tendo como discurso principal a “ação cultural, artística e ideológica” de um Estado promotor de renovações das paisagens urbanas e ideológicas de uma cidade, a favor da construção de uma nova Nação. O objetivo deste artigo é analisar a atuação política deste artista a partir de seus textos publicados na revista Renovação, configurando seu ideal moderno, externo a sua obra de arte, e dramatizando seu envolvimento intelectual com esferas do poder público a favor de um discurso que tinha uma Nação moderna como pauta. Palavras-chave: História dos Intelectuais, História Social da Arte, História da Imprensa “A Revista da Música Popular (1954/1956) e seus articulistas Modernistas recuperam a Memória do Samba de raiz e do Choro cariocas de fins do XIX e inícios do XX” Luiza Mara Braga Martins Pós-doutoranda em História da Cultura pela UFF [email protected] Entre 1954 e 1956, circulou no Brasil a Revista da Música Popular (RMP), sob a direção do jornalista nacionalista Lúcio Rangel. A RMP contou com a colaboração constante de escritores modernistas em suas colunas e artigos, como Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Rubem 57 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Braga, Paulo Mendes Campos. A RMP distingue-se até hoje no Brasil por ser a maior e mais importante obra jornalística que procurou pensar a música nas Américas, seja o samba de raiz e o choro carioca de fins do XIX e inícios do XX, seja o jazz de New Orleans. Ela torna-se assim um lugar de memória das “coisas nossas”, porque faz um mergulho no passado musical do Brasil, principalmente do samba de raiz e do choro cariocas, em um momento (década de 1950) em que a indústria fonográfica e o mundo dos espetáculos haviam descartado tais produções musicais. A RMP recupera a memória do melhor do nosso cancioneiro de 1870 até os anos 1930, como Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Cartola, Noel Rosa, Carmem Miranda, Ismael Silva. A RMP, ao inserir o jazz de New Orleans em paralelo com o melhor do cancioneiro brasileiro, abre uma janela para dialogar com a música das Américas, compreendendo assim a grande diáspora de negros pelo Atlântico e sua produção musical nas Américas tanto do Norte quanto Latina. Palavras-chave: samba, choro, música América Latina: modernidade, identidade e independência cultural Maria Lúcia Bastos Kern Profa. Titular do Depto. de História da PUCRS [email protected] A modernidade na Argentina e no Uruguai é pensada pelos artistas Xul Solar e Joaquín TorresGarcía, nos anos de 1920 e 30, como projeto cultural dirigido à independência da América Latina em relação aos centros europeus. Eles após contato com as vanguardas europeias, programam a nova arte para América, sua identidade e projeção internacional, num momento de crise no velho continente. Para tal, Xul cria o neocriollismo, língua em que mescla português e espanhol, e propicia a comunicação entre as nações; Torres-García inverte o mapa da América do Sul, apresentando-o como Norte, numa dupla acepção, e projeta a arte construtivista e total para o continente, integrada à vida cotidiana, como nas sociedades indígenas. As pinturas de ambos evidenciam signos pré-colombianos e da modernidade. A comunicação analisa as poéticas e representações de identidade cultural produzidas pelos artistas que buscam a projeção da América Latina no cenário internacional, como guia das artes. Palavras-chave: América Latina, Modernidade, Identidade Cultural. O cruel “rei da vela”(1933) em sua primeira e mais cruel encenação pelo “Oficina Brasil” (1967). Maria Luiza Martini (UFRGS) [email protected] O teatro da Crueldade é uma poética de espetáculo engendrada por Artaud (1938) que busca, através de violentas imagens físicas, atingir a sensibilidade do espectador, provocar uma desestruturação interna, alguma revelação do ser humano para si mesmo, além da palavra. A modernidade dos anos 60 se encontra com a dos anos 30. José Celso Martinez Corrêa dirige 58 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais o Rei da Vela envolvendo a violência do texto de Oswald de Andrade na poética da crueldade usando uma estratégia de “teatro dentro do teatro” (revista, ópera, auditório da grande rádio) inserindo diferentes níveis de representação (o inconsciente de todos partícipes do espetáculo preso numa jaula, atuando como um coro, um “corpo sem alma”, sem lógica, puro instinto). Os personagens de Oswald se sucedem (usurários e clientes espertos, operários que entregam grevistas, Mr Jones, o americano, e seu cliente, “o rei da vela” sempre em busca de um jeito de lográ-lo) caracterizados como palhaços, à beira do proscênio, provocam o público, jogando com a sensação, do sujeito que ri mas só entende a piada depois. Sempre o logro, a malandragem, tão cara a Oswald, em seu uso da liberdade modernista na caracterização do “brasileiro”: o anti-herói. Da censura política a Censura moral: A Música Popular Brasileira em tempos de ditadura 1964-1985 Rafael Vasconcelos Cerqueira Oliveira (UNIJORGE) [email protected] O presente trabalho tem como foco estabelecer a relação existente entre a MPB e o contexto político-social brasileiro a partir da instauração do regime militar no ano de 1964, compreendendo nesse sentido os artistas que atuavam politicamente e eram perseguidos pela censura através do DCDP pelo seu engajamento na disputa social, bem como também pela censura moral destinada aos artistas ditos cafonas, que eram tão perseguidos quantos os já consagrados compositores da música de protesto a exemplo de Chico Buarque. Para tanto utilizamos os processos existentes no DCDP com as canções que eram enviadas e submetidas à censura tanto política, quanto moral, observando a argumentação dos censores para o veto. Assim, esse trabalho tem como um dos seus objetivos demonstrar que tanto os compositores ditos de protesto, quanto os cafonas, ou bregas como foram classificados já nos anos 80 foram perseguidos e atuavam politicamente no contexto social dos anos 60 a 80, desmistificando assim a ideia difundida que os compositores bregas eram alienados. A América de Erico Verissimo: a influência da literatura estadunidense na obra do escritor gaúcho. Renata Costa Reis Meirelles [email protected] Este trabalho pretende explorar as relações do escritor Erico Verissimo (1905-1975) com os Estados Unidos. A partir dos anos 1940, é possível notar um crescente estreitamento dos vínculos político-culturais do escritor com aquele país, na medida em que, em 1938, se torna vice-presidente do Instituto Cultural Brasileiro Norte-Americano, é convidado pelo a lecionar literatura 59 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais brasileira na Universidade de Berkeley e, anos depois, em 1953, assume a direção do Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana, instituição ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA). O trabalho tenciona compreender de que forma a cultura estadunidense pode ter influenciado sua criação literária, contribuindo para a conformação de uma escrita que, ao buscar incorporar traços da literatura estadunidense e também inglesa, trouxe importantes renovações estéticas e elementos modernizadores para a literatura brasileira dos anos 1950. Duas Américas Latinas para o Brasil: Oliveira Lima na Venezuela e na Argentina Ricardo Souza de Carvalho Professor de Literatura Brasileira, USP [email protected] O diplomata e historiador Oliveira Lima (1867-1928), em meio a estadas na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, demorou-se apenas duas vezes na América Latina, entre 1905 e 1906, na Venezuela, e entre 1918 e 1919, na Argentina. Como em outras ocasiões, tais vivências no exterior resultaram em textos na imprensa brasileira e livros publicados com o objetivo não apenas de dar a conhecer diversos aspectos desses países, mas principalmente de relacionálos a discussões políticas e sociais do Brasil daquele momento, que buscava um caminho para sua modernização. As estadas latino-americanas possibilitaram com que Oliveira Lima se deparasse com uma situação próxima a do Brasil, a do esforço de países egressos da colonização ibérica para abandonarem o atraso e se aproximarem da civilização europeia. Nesse sentido, destaca-se o diálogo estabelecido por Oliveira Lima com o argentino José Ingenieros e o venezuelano Rufino Blanco Fombona. Palavras-chave: Oliveira Lima – América Latina – intelectuais América no invoco tu nombre em Vano: a construção da identidade latino-americana entre intelectuais e artistas no governo Salvador Allende (Chile, 1971-73) Silvia Karina Nicacio Cáceres Mestre em educação pela PUC-Rio [email protected] O governo de Salvador Allende foi um espaço fértil para novas apresentações da tradição que conjuga nacionalismo à revolução social, tradição cujas raízes se localizam no processo de emancipação nacional dos países latino-americanos no século XIX. 60 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais A construção do socialismo via um processo de “desvelamento” da identidade latino-americana supostamente soterrada pela exploração secular da região e pela forma supostamente subordinada com que é desenvolvida a modernidade na América Latina, torna-se tema central nos debates intelectuais durante o governo UP. Para ser moderno, parecia necessário fazer um salto ao passado, onde as culturas dos povos autóctones e a formação da população (mestiça) da América Latina deveriam ser realçadas com o fim de dar um salto a um futuro de identidade reencontrada. Isso garantiria a América Latina sua emancipação cultural em relação às regiões definidoras das direções da modernidade ocidental até então: Europa e EUA. Tal qual sugere o verso de Neruda que nomeia esta apresentação, a identidade latino-americana e sua busca ganha cores de objeto sagrado. Os intelectuais e artistas chilenos agrupados no Instituto de Arte Latino Americano, centro de nossa apresentação, acompanharam e ajudaram a definir essa tendência, bem como seus possíveis desenlaces. Paulo Prado: o “fautor” da Semana de Arte Moderna Thaís Chang Waldman Mestre em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo [email protected] Reconhecido como personagem central pelo grupo de intelectuais e artistas ligados à Semana de Arte Moderna de 1922, Paulo Prado (1869-1943) é muitas vezes deixado de lado pelos estudiosos. Além de ser um dos maiores exportadores e produtores de café da época, Paulo Prado é autor de dois livros sobre a história de São Paulo e a formação do povo brasileiro Paulística (1925) e Retrato do Brasil (1928). Também publicou editoriais, artigos e resenhas em importantes periódicos, (re)editou documentos inéditos sobre o período colonial, participou da fundação e do controle de revistas modernistas, e se fez presente como um dos principais organizadores e financiadores da Semana de 1922, entre outras coisas. Se por um lado ele promove a Semana de Arte Moderna, ele já tinha 53 anos na época. Além disso, é um elo fundamental entre os modernistas e um grupo de intelectuais que compõem uma geração anterior a sua, que ele conhece na Europa por intermédio de seu tio, o jornalista e monarquista Eduardo Prado (1860-1901). Possui ainda um forte vínculo com o historiador cearense Capistrano de Abreu (1853-1927), um marco da moderna historiografia brasileira. Paulo Prado mostra-se assim como um importante mediador entre diferentes universos, sendo justamente este o foco do presente trabalho. Palavras-chave: Paulo Prado; Modernismo; Pensamento Social Brasileiro O Tiradentes de Viriato Corrêa: o herói-mártir a serviço de uma pedagogia da nacionalidade Vanessa Matheus Cavalcante 61 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Mestranda em História, Política e Bens Culturais pelo CPDOC/FGV [email protected] O presente trabalho tem como objetivo apreender a contribuição de Viriato Corrêa para a constituição da memória e história nacionais, entendendo as suas produções teatrais como instrumento de difusão da história-pátria. Para tanto, utilizaremos como objeto de análise a peça Tiradentes (1939), encenada em pleno Estado Novo, na qual importa apreender: 1) seu engajamento no referido projeto de construção de uma memória nacional; 2) a forma como se deu a construção deste personagem histórico como herói-mártir da história brasileira naquele contexto. Para os intentos analíticos deste trabalho, estes aspectos se mostram extremamente relevantes, haja vista a importância da construção do herói e suas implicâncias na coesão/mobilização em torno de uma identidade nacional, movimento estratégico observado, principalmente, em ditaduras como a que viveu o Brasil entre 1937-45. Palavras-chave: Estado Novo; nacionalidade; Tiradentes Tutaméia entre a originalidade e a repetição Wanúbya do Nascimento Moraes Campelo (UFPA) [email protected] Com base nos conceitos da recepção crítica apresentados por Hans R. Jauss far-se-á uma análise da recepção do último texto publicado em vida de Guimarães Rosa: Tutaméia: Terceiras Estórias. As teses de 1967 de Jauss serão o ponto de partida para reconstrução e investigação do horizonte de expectativas da obra de Tutaméia.Esta obra de João Guimarães Rosa, é composta de quarenta contos e quatro prefácios situados em pontos diferentes do livro, pode ser vista como um conjunto de quatro blocos de contos, iniciado cada um com um dos quatro prefácios mencionados, ali postos como a orientar a leitura. Far-se-á uma comparação do horizonte de expectativas das críticas a respeito do livro, tentando fazer um percurso histórico em relação às categorias de análise utilizadas em diferentes momentos e suas divergências valorativas em relação à referida obra, no intuito de indagar o lugar de Tutaméia nas obras do autor, se é o da originalidade ou de mera repetição de suas fórmulas de sucesso presente em seus outros textos. Palavras - chave: recepção crítica, Guimarães Rosa, Tutaméia. 62 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 6 Práticas Sociais, Narrativas Visuais e Sociabilidades As práticas culturais e usos do passado André Jacques Martins Monteiro Mestrando em Memória Social - UNIRIO. A intenção deste ensaio é abordar de forma panorâmica dois aspectos relacionados dos processos de significação e usos do passado. O primeiro refere-se à relevância do período de transição do século XIX para o XX na formação de memórias relativas aos setores classificados como populares das sociedades ocidentais. O segundo destaca de forma preliminar os sentidos atribuídos às memórias vinculadas às práticas culturais de comunidades em situação de exclusão social e que reportam ao período acima citado, observando uma tendência de convergência de perspectivas da produção acadêmica, das políticas culturais, da indústria cultural e da mídia. Palavras-chave: práticas culturais; modernidade; reconhecimento. As alegorias femininas da República na imprensa ilustrada: os caricaturistas do Rio de Janeiro e o ideário político republicano no século XIX. Aristeu Machado Lopes Universidade Federal de Pelotas A imprensa ilustrada alcançou notoriedade no Brasil do século XIX. A cidade do Rio de Janeiro concentrou um número significativo de periódicos ilustrados. Entre eles, Semana Illustrada de Henrique Fleiuss, O Mosquito e Revista Illustrada de Angelo Agostini. Assuntos variados foram noticiados e comentados em suas páginas de ilustrações. Entre eles, a política do tempo foi abordada com humor e, em certos momentos, com crítica e seriedade. Os caricaturistas não deixavam que certos temas políticos passassem despercebidos e emitiam sua opinião nos desenhos. A propaganda republicana iniciada com a fundação do Partido no Rio de Janeiro em 1870 logo se tornou um dos motes passíveis das críticas e comentários dos periódicos. Na elaboração das ilustrações usavam os elementos que compõem o conjunto da simbologia republicana. Analisar como esses símbolos e, sobretudo, a alegoria feminina da República surgiu nas páginas dos periódicos é o que se almeja nesta comunicação. Palavras-chave: imprensa ilustrada, simbologia republicana, século XIX. A busca da Boa Forma: um processo reflexivo Bárbara Nascimento Duarte Universidade Federal de Juiz de Fora 63 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] Na modernidade o discurso científico suspeita do corpo e o coloca como simples suporte da pessoa, um objeto à disposição sobre o qual se deve trabalhar a fim de alcançar seu aperfeiçoamento, a matéria-prima na qual se dilui e ao mesmo tempo se conquista a identidade individual. Tendo como locus de análise os discursos das 12 edições do ano de 2009 das leitoras situados na revista feminina brasileira Boa Forma, almeja-se compreender como se dá a percepção do “corpo acessório” nas falas dessas mulheres; além dos dilemas gerados e expressos através dessa mídia sobre à forma do indivíduo se integrar socialmente a partir da modificação corporal reflexiva, nos termos de Crossley. Vale ressaltar que se ainda resta um dualismo na Modernidade é aquele que situa o sujeito de um lado e seu corpo de outro; este corpo é a possibilidade de salvação e o único modo de vida do indivíduo moderno. Aprofundando em questões sobre a constituição da modernidade, ver-se-á que ela viabilizou um projeto do corpo que consiste em moldá-lo para construir e/ ou reconstruir o self, a identidade individual e essencial na reflexividade moderna que se encontra ameaçada. Nessa perspectiva, o corpo não é o lugar da condenação, sim o da salvação individual, de uma nova possibilidade de manifestação do eu, uma nova forma de se reportar ao mundo, portanto, digno de todo investimento. A preocupação com a aparência, a saúde e juventude, tratam, disfarçadamente, da redistribuição das coações da ética puritana de salvação individual através da auto-disciplina do corpo, conjugado com o progresso da tecnociência. Perceber-se-á que mais do que o investimento no invólucro corporal com fim em si, a questão se situa na constante busca de se definir a interioridade a partir da exterioridade; é a forma do sujeito contemporâneo não morrer simbólicamente. Palavras-chave: Corpo, Modernidade, Revista Boa Forma Infâncias Urbanas Multidiscursivas Bianca Breyer Cardoso Mestranda PROPUR/UFRGS Eber Pires Marzulo Prof. Dr. PROPUR/UFRGS Este trabalho toma as produções brasileiras “No meio da rua” e “Cidade dos Homens: Uólace e João Victor” como objetos de estudo, a fim de discorrer sobre a infância na contemporaneidade. Ambos os discursos audiovisuais narram o encontro de dois garotos de diferentes classes, porém através de enfoques distintos. Como recorte histórico, a modernidade líquida, metáfora de Bauman para o estágio presente da era moderna, caracterizado pelo esvaziamento do espaço público, bem como pelo aumento da segregação sócio-espacial. Fase em que a infância experimenta novas dinâmicas espaço-temporais, diversas daquela consagrada por Truffaut, que supera o período de homogeneização das narrativas – empenhadas em delimitar a infância como faixa etária específica, e revela a multiplicidade de infâncias na cidade contemporânea. A análise dos discursos audiovisuais, através do método de interpretação hermenêutico-dialógico, incorpora a produção audiovisual como discurso legítimo e considera a formulação do real como resultado de disputas discursivas (Wittgenstein). 64 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Esta análise objetiva identificar os sujeitos discursivos acionados, o sentido construído pelos discursos, e a associação destes à dimensão espacial, a fim de entrever a diversificação das práticas sócio-espaciais da infância contemporânea. Palavras-chave: infância, cidade contemporânea, discursos audiovisuais. Abram as cortinas: o teatro na cidade de Fortaleza no início do século XX. Camila Imaculada Silveira Universidade Estadual do Ceará No começo do século XX, a cidade de Fortaleza encontrava-se sob disputas políticas do governo acciolino, onde ideias oriundas dos grandes centros europeus figuravam no pensamento dos intelectuais e assim definindo valores, comportamentos, moda etc. Neste contexto o teatro, seja como espaço físico ou expressão artística, encontra o seu fausto. Tem-se a construção do teatro oficial (Theatro José de Alencar), a formação de grupos dramáticos e uma literatura dramática cearense. O teatro é uma produção cultural. Como tal, ele exprime valores de certa sociedade em um tempo específico. Os indivíduos (artistas, dramaturgos, público, etc.) que fazem o teatro atribuem significados a este. Nessa Fortaleza, o teatro era sinônimo de civilização, de moralização, de lazer e de disputas políticas. Conforme a isto, propormos compreender como o teatro estava sendo praticado e pensado na cidade de Fortaleza nos primeiros anos do século XX, ponderando sobre seus aspectos sociais e culturais. Para isto, utilizamos como fontes os jornais, especificando o Jornal do Ceará e o Unitario, ambos oposicionistas ao governo acciolino e o jornal situacionista A República, como também narrativas de memorialistas, Relatórios do Estado e peças encenadas nos palcos dos teatros da cidade de Fortaleza, dando destaque o teatro de costumes. Este é caracterizado pela utilização do humor para representar o cotidiano. Tendo em vista isso sugerimos como teóricos Raymond Williams e Fernando Peixoto, onde buscamos o conceito de forma do teatro e função social, respectivamente. Como por exemplo, o teatro de costumes é uma forma de teatro. Ele possui elementos formais que o identificam. E na sociedade fortalezense do período em questão, o teatro de costumes ganha significados que determinam a sua função social. Palavras chaves: teatro, Fortaleza, cultura, teatro de costumes. O poder das imagens e as imagens do poder: a representação política de Leonel Brizola, nas fotografias da Legalidade (1961). Daniela Gôrgen dos Reis( PUCRS) O trabalho tem por objetivo proceder a análise das fotografias do episódio da Legalidade (produzidas pela Assessoria de Imprensa do Governo do Estado do Rio Grande do Sul) em consonância com o seu cruzamento com o contexto político e social do período, buscando inter- 65 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais pretar os mecanismos simbólicos utilizados na representação política do governador Leonel Brizola, em 1961. Através da demonstração da metodologia de análise, o trabalho busca identificar a construção ideológica das imagens consubstanciada nos objetos, poses e suas relações, elementos que visavam demonstrar uma nova forma de representação do poder político: uma imagem da administração estadual mais acessível e popular. Também visa refletir, a partir de conceitos teóricos, acerca da articulação entre o campo político e elementos constitutivos da cultura visual do período (um interesse da elite política pelos novos meios de comunicação, advindo da década de 1950, formando uma tentativa de penetrar o cotidiano da população através de métodos mais democráticos, que não somente o uso da escrita: a propaganda fortificava-se com o uso das imagens). Nesse sentido, a fotografia, é aqui analisada também como uma linguagem e uma convenção, que é necessário conhecer e decifrar. Palavras-chave: representação política, meios de comunicação, fotografia. “Pelas ruas em que andei”: as brigadas muralistas em Olinda e Recife (1982-1986) Elizabet Soares de Souza Mestranda em História-UFRP [email protected] O presente trabalho visa analisar as imbricações entre arte e política por meio do movimento de brigadas muralistas de propaganda política, nas cidades de Olinda e Recife. O recorte cronológico deste projeto configura-se entre os anos de 1982-1990, tendo como pano de fundo a análise das propagandas políticas em três campanhas eleitorais para o Governo do Estado de Pernambuco. Apetecemos, desse modo, entender o surgimento dos murais como propaganda política, e problematizar a sua substituição pelos letreiros murais. Para tanto, utilizaremos como fontes documentais as imagens fotográficas, atas da Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco, periódicos, revistas e depoimentos de alguns dos artistas partícipes do movimento. Dessa forma, partiremos do reconhecimento das imagens dos murais, para estabelecer uma relação entre política e cultura, e propor um entendimento, com o respaldo teórico da História Cultural dessas duas cidades e de seus murais como um campo de significações e de representações. Palavras-chave: Brigadas Muralistas, Propaganda Eleitoral, Recife e Olinda. “A família de Fon-Fon”: sociabilidade e modernidade no Rio de Janeiro da Belle Époque Fabiana Macena A revista Fon-Fon, periódico semanal carioca, começou a circular em abril de 1907, e encarregava-se de informar aos leitores brasileiros tudo que era a última moda em Paris, além de registrar a “vida mundana” da sociedade carioca em notas sociais e charges. Além desse caráter de “revista ilustrada”, a Fon-Fon se tornou, ao longo da década de 1910, importante 66 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais espaço de sociabilidade de intelectuais cariocas, polo de atração para aqueles que possuíam simpatias boêmias e simbolistas. Mais do que isso, reunia intelectuais que percebiam a publicação enquanto um veículo ágil e moderno de comunicação, de difusão de idéias, de construção de novas formas de agir e de pensar. A proposta dessa comunicação é discutir como os indivíduos ligados a revista Fon-Fon, durante os anos de 1907 a 1914, procuraram, com suas críticas e propostas de modernos comportamentos e papéis sociais, estabelecer as regras e desenhos da nova configuração da cidade e de suas redes de sociabilidade. Palavras-chave: sociedade carioca, comportamento, papel social. A designalidade ou os acontecimentos discursivos do desenhar José Carlos Freitas Lemos (UFRGS) [email protected] Neste trabalho, uma síntese do que produzi em minha tese de doutorado, proponho uma análise das práticas históricas do “desenhar” e suas sistematizações. A esta particular abordagem histórica dessa prática, que se expressa por entre jogos de relações também históricas e, portanto, instáveis, entre práticas econômicas, religiosas, políticas, institucionais, científicas, literárias e artísticas, chamo de “designalidade”. Um quadro descritivo das formas de nominação e representação do “desenhar”, desde a Europa do século XIII até a sociedade globalizada da atualidade, constitui-se num instrumento capaz de explicar defasagens, deslocamentos, desníveis e inflexões das relações entre essas práticas. Trata-se, assim, de analisar a emergência da “ordem discursiva do desenhar”; de analisar os acontecimentos discursivos que materializaram diferentes identidades estético-visuais ao nominarem a prática de desenhar em variados vernáculos ocidentais (o italiano “disegnare”, o francês “dessiner” e o inglês “design”). A suposição da designalidade é a de uma densidade histórica do “desenhar” que se deve fazer aparecer (dar a ver) e descrever (dizer). Palavras chave: designalidade, discurso, acontecimento. As visibilidades como práticas não-discursivas: na esteira das relações de poder Leandro Mendanha (UnB) Há indicações na obra de Michel Foucault, Gilles Deleuze e Félix Guattari, bem como na obra de Roger Chartier e Paul Ricoeur - ambos interpelados por Louis Marrin - sobre as propriedades da imagem. O que me interessa é estabelecer no diálogo com todos esses pensadores como as visibilidades como forma que toma o conteúdo (as formas que tomam as relações dessas inúmeras práticas culturais, econômicas, institucionais e sociais que forma o estrato não discursivo) na interação - por meio das relações de poder - com a forma que toma a expressão (as práticas discursivas) constituem um interessante meio de abordar o 67 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais material histórico que podemos ter em mãos. Trata-se então de uma interpelação teóricometodológica das consequências - nesses pensadores - do estudo das visibilidades para certa compreensão histórica. Palavras-chaves: práticas culturais, imagem, relações de poder A identidade do olhar: os usos da fotografia na construção das memórias sociais. Lorena Best Urday (UNIRIO) [email protected] O presente artigo é um exercício no que se alinhavam as primeiras ideias do que se constituirá no meu projeto de pesquisa e futura dissertação de mestrado. Assim, no presente trabalho dou os apontamentos a questão foco da pesquisa: os usos da fotografia como instrumento, ação social e expressão criativa e poética no processo de construção das memórias coletivas de auto reconhecimento identitário das comunidades. Finalmente esta questão decanta no espaço educativo (formal e não formal) como espaço criativo para as memórias coletivas e suas imagens. Palavras chave: fotografia popular, memória social, identidade do olhar A Política Imperial em revista: humor e política na Revista Ilustrada de Ângelo Agostini. Maria da Conceição Francisca Pires Universidade Federal de Viçosa A proposta dessa exposição é analisar a produção humorística do caricaturista Ângelo Agostini (1843-1910) durante sua atividade no semanário “Revista Ilustrada” (1876- 1888). Essa apresentação aposta na premissa de que através das representações humorísticas Agostini trouxe á tona os problemas viscerais do regime imperial e a incapacidade das elites politicas de resolvê-los, expandindo o acervo temático a ser discutido na micro-esfera pública que estava sendo gerada com a expansão da imprensa.Com essa analise procuramos destacar a produção de Agostini como um mecanismo de veiculação das idéias e opiniões dos grupos contestadores que se emergiram a partir dos anos 1860 e que radicalizaram sua ação na passagem para os anos 1880. No ano do centenário de morte de um dos mais importantes intelectuais humoristas da imprensa ilustrada do século XIX, intenta-se fomentar a discussão e a reflexão sobre a importância de sua produção humorística para a difusão de uma cultura política republicana e liberal na sociedade fluminense do período. Palavras-chave: produção humorística, imprensa. 68 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais As Imagens e a Memória em Gilberto Ferrez Maria Isabel Ribeiro Lenzi Ibram/Doutoranda UFF [email protected] O trabalho se propõe a discutir a relação entre imagem e história, e o uso da iconografia nos livros e nas pesquisas empreendidas por Gilberto Ferrez a respeito das cidades do Rio de Janeiro, Salvador e Recife. O texto destaca a associação da obra de G. Ferrez a eventos comemorativos e efemérides num esforço para a construção de uma determinada memória. Palavras-chave: imagem, história e memória. Representações humorísticas de uma prática política Matilde de Lima Brilhante Universidade Estadual do Ceará [email protected] Como entender a produção chárgica como sistema de produção de sentido, inserida no campo midiático (jornais impressos) durante a chamada Administração Popular de Fortaleza? Primeiro faz-se necessário situar essa reflexão no âmbito dos fenômenos que implicam uma relação de representação, balizada nas práticas cotidianas de comunicação visual que figuram um espaço em disputa. Em segundo lugar, asseveramos que o humor gráfico, na vertente charge, atua na “realidade” como possibilidade de captá-la e representá-la. Assim, é nosso interesse pensar analiticamente as representações expressas nas charges dos jornais cearenses O Povo e Diário do Nordeste sobre a administração de Maria Luiza Fontenelle (1986-1988). Maria Luiza foi a primeira mulher a assumir um cargo no executivo da política fortalezense, num período de transição nacional, de um regime político autoritário para uma pretendida democracia. Palavras-chave: representação, charge, administração popular. O discurso anti-indigesnista através das charges no Jornal Folha de Boa Vista. Paulo Sérgio Rodrigues da Silva Especialista em História Regional/UFRR [email protected] Francisco Marcos Mendes Nogueira Aluno do Curso de História/UFRR [email protected] Os discursos políticos na trajetória histórica de Roraima predominaram de forma contraria 69 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais as questões indígenas, neles, está contigo a ideologia dos grupos de pressão que, através da mídia massificou a imagem do índio preguiçoso, violento e que é um estorvo para o desenvolvimento do Estado. Neste sentido, o Jornal Folha de Boa Vista pertencente ao grupo político do ex-governador de Roraima Getúlio Cruz, foram um dos meios que veicularam inúmeros discursos contrários as questões indígenas, alguns de forma preconceituosa e debochada. A Demarcação da Área indígena Raposa Serra do Sol, constituem-se num dos maiores acontecimento na história recente de Roraima, ganhando notoriedade nos meios de comunicações e, quase sempre traziam o discurso que apregoava a inviabilização da economia do estado. Verificamos, portanto, que essas estratégias discursivas acabam sendo introjetados pela população que, vêem como motivo central do atraso econômico do estado. Por conseguinte, as charges não são inócuas na linha editorial de um jornal. Elas trazem implícitas ou explicitas aspectos ideológicos do grupo que esta ligada. Deste modo, buscaremos analisar as charges publicadas no Jornal no período de 2007 a 2010 e, assim, refletir com os Índios são retratados em detrimento dos interesses da elite local. Palavras-chave: charges, discurso, ideologia, Raposa Serra do Sol. Histórias da guerra em um velho álbum de retratos: Claro Jansson e a fotografia de guerra no Contestado (1912-1916) Rogério Rosa Rodrigues (UESC) Ocorrida entre 1912 e 1916 na fronteira do Paraná com Santa Catarina a Guerra do Contestado foi amplamente documentada pelas forças repressoras. Entre as fontes construídas no campo de guerra destaca-se a fotografia. O acervo de imagens produzidas pelo fotógrafo Claro Jansson (1877-1954) permitiu a corporação montar um álbum da guerra contendo oitenta e sete fotografias que relatam a eficiência bélica e disciplinar do exército. Minha proposta é interpretar a narrativa oficial construída no álbum e propor novas ordenações das imagens, logo, novas narrativas do conflito social. Para dar conta deste objetivo será usado com metodologia tanto a interpretação daquilo que a imagem apresenta em suas estruturas discursivas quanto o que se encontra perdido nos pequenos detalhes registrados pela lente do fotógrafo. Às imagens fotográficas serão acrescentadas fontes diversas como relatórios de guerra, memórias e noticias de jornais da época, bem como as fotografias do acervo de Jansson que não foram incluídas no álbum oficial. Com esse procedimento buscar-se-á explicitar a violência efetiva e simbólica cometida no teatro de guerra, bem como as estratégias e táticas dos rebeldes do Contestado. Palavras-chave: guerra, memórias, narrativas. Luz e sombra sobre o processo de construção social da fotografia e da memória. 70 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Sergio Luiz Pereira da Silva (UNIRIO) A fotografia é indiscutivelmente uma forma de expressão no campo da arte visual, mas seguramente a sua forma de estruturação estética e o seu processo de interpretação imagético, se inscrevem dentro de outros campos simbólicos além do artístico, o campo da memória um deles. Há algo que tangencia a fotografia e a memória, ambas são um processo de edição, nas quais a escolha do que vamos ver e memorizar, são definidos por um esquema de seleção prévio (escolha), definido a partir de critérios conscientes e socialmente elegíveis de edição (corte). No caso da fotografia, esses critérios são definidos a partir do que se quer mostrar com bases na ação social do olhar, percebo, escolho, componho, edito e registro fotograficamente. Isso pode ser definido de forma elementar no processo convencional da fotografia. A composição estética e a hermenêutica visual compõem, dentro desse conjunto, o lugar da representação de uma memória construída, ou se nos é possível afirmar, compõe parte do campo social da memória. Palavras-chave: memória, representação, fotografia. As Representações da Várzea do Carmo nos Cartões-Postais - décadas de 1940 e 1950. Vanessa Costa Ribeiro Mestranda em História Social - USP [email protected] A presente comunicação trata do sentido atribuído à região da Várzea do Carmo, área cortada pelo Rio Tamanduateí localizada entre a colina central da cidade de São Paulo e o bairro do Brás, nas décadas de 1940 e 1950, por meio da análise de uma série de cartões postais fotográficos produzidos pelas editoras Fotolabor e Fotopostal Colombo. A escolha desta documentação deve-se ao interesse em explorar o potencial dos documentos visuais em sinalizar, de maneira específica e própria, processos diferenciados de apropriação social. No caso da série de cartões postais em análise, observam-se recorrências no que tange ao recorte espacial e ao tratamento formal, consolidando uma visão estereotipada da Várzea do Carmo, neste momento já transformada em Parque Dom Pedro II. Que imagem urbana embasava essa paisagem da região e as quais expectativas respondiam são algumas das questões que a análise procura responder. Esta comunicação é parte de um projeto de mestrado, desenvolvido no departamento de História da Universidade de São Paulo, no qual se estuda a construção de diferentes imagens sobre a Várzea do Carmo no período de 1860 a 1950 e de que maneira as intervenções urbanísticas realizadas nesta região nos ajudam a compreender os planos e projetos desenvolvidos para a cidade. Palavras-chave: Várzea do Carmo, São Paulo, Cultura Visual. 71 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 7 História e Ficção História e ficção: Gaston Bachelard e o instante poético André Fabiano Voigt (UFU) As considerações sobre o instante poético na obra do filósofo francês Gaston Bachelard podem ser uma importante aproximação entre o ofício do historiador e o do escritor, no momento que ambos envolvem o trabalho criativo com a palavra. Em pelo menos dois de seus livros - A Intuição do Instante e A Dialética da Duração – o autor trata da relação entre a escrita e a temporalidade, tornando possível realizar um diálogo entre a história e a ficção, centrada no instante como principal elemento temporal para a criação. Bachelard realiza um debate com Henri Bergson e Gaston Roupnel acerca da temporalidade, bem como faz um diálogo com Lúcio Pinheiro dos Santos, acerca da ritmanálise como instrumento para analisar as imagens poéticas utilizadas nos diversos autores de literatura, podendo ser empregada em um diálogo com a história. Palavras-chave: temporalidade, escrita, história, ficção. Eu sou como eu sou: Torquato Neto à luz de Michel Pêcheux Edwar de Alencar Castelo Branco Doutor em História- UFPI Constitui lugar-comum, na história contemporânea do Brasil, a idéia de que, por obra exclusiva dos militares, o País mergulhou nas trevas a partir de 1964. Como resultado do “golpe” - esta entidade ao mesmo tempo mal definida e exaustivamente apropriada - a sociedade brasileira teria começado a viver, a partir daquele evento, os “anos de chumbo” de sua história. Curiosamente, no extremo oposto do enunciado que configura os “anos de chumbo”, estariam os “anos dourados”, espécie de metáfora do Brasil juvenil e engajado. Esta formação discursiva, por sua vez, acabaria por gerar um quadro dentro do qual só seria possível pensar a história do período em termos de direita e esquerda. O presente trabalho, procurando alçar-se para fora da moldura descrita acima, propõe discutir expressões artísticas dos anos 1960 e 1970, em sua dimensão micrológica, procurando mostrar a insuficiência de se pensar o período apenas em termos da macropolítica. Como forma de testar uma nova teoria do discurso em seus trabalhos, o autor analisará fragmentos da obra de Torquato Neto à luz das formulações de Michel Pêcheux, particularmente sua proposta de Análise Automática do Discurso. Palavras-Chaves: História do Brasil; discurso; Torquato Neto. 72 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Singrando por debaixo da avenida: a emergência da subjetividade underground na paisagem geral da curtinália teresinense na década de 1970. Ernani José Brandão Junior [email protected] Edwar de Alencar Castelo Branco Universidade Federal do Piauí – UFPI [email protected] Neste Trabalho tive por objetivo analisar as práticas discursivas que produziram a emergência da subjetividade underground em Teresina - PI na década de 1970. Ao cartografar as linhas de constituição desta subjetividade perceberam que elas estavam relacionadas às diversas manifestações artísticas criadas por um grupo de jovens de classe média envolvidos com produção de filmes experimentais, de jornais alternativos e de suplementos dominicais que circularam encartados nos jornais da grande imprensa. Entendo que neste momento a arte emerge como um problema central na condição de existência desta juventude teresinense, que passou a utilizá-la como exercícios de libertação, como experimentação estética, como elaboração de si e como ocupação tática dos espaços da cidade. Para tanto, evidenciei as práticas discursivas que produziram a subjetividade underground em Teresina - PI a partir das problemáticas discutidas pelos jovens no campo da arte, tais como: a antiarte; a criação no campo da arte; a proposta da arte de vanguarda; a posição do artista de vanguarda; a comunicação no campo da arte e o público de arte. As principais fontes que utilizei neste trabalho foram os suplementos dominicais Estado Interessante (1972) e Boquitas Rouge (1973) os quais circularam encartados no Jornal O Estado, Hora Fatal (1972), encarte do Jornal A Hora e as duas edições do jornal alternativo Gramma (1972). Palavras - chave: Subjetividade Underground, Arte e Juventude. O “tópico do deslocamento” na cultura brasileira: sua extensão e natureza arquetípica Gabriel Santos da Silva PUC - RJ [email protected] “Somos ainda uns desterrados em nossa terra”: com estas palavras Sérgio Buarque de Holanda manifestou a percepção de que algo no Brasil encontra-se deslocado, fora do lugar. Tal percepção, recorrente nas páginas de intelectuais brasileiros, adquire características de um tópico bem definido: que convenciono chamar de “tópico do deslocamento”. O presente trabalho procura avaliar a extensão e natureza deste. Para tanto, recorro a quatro autores de diferentes campos do saber e contextos históricos: o poeta Gonçalves de Magalhães, o cronista João do Rio, o ensaísta Sérgio Buarque de Holanda e o crítico Roberto Schwarz. Para além de uma perspectiva homogeneizante que a recorrência do tópico ao longo de dois séculos induz supor, este trabalho busca classificá-lo em uma tipologia que ressalte seus diferentes matizes. Deste modo, a hipótese aqui proposta é de que o “tópico do deslocamento” articula- 73 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais se arque-tipicamente em configurações narrativas ora trágicas, ora épicas. Palavras-chave: deslocamento; épico; trágico. A casa Felix Louza - 1950. Espacializando memórias na construção do habitat moderno em Goiânia. Isabela Menegazzo Santos de Andrade (UFG) [email protected] Este projeto de pesquisa em História e Design tem como objeto o estudo narratológico (objeto cultural, hermenêutico e pulsional) de uma (01) residência (projeto, construção e seus interiores, modos de habitar e de viver os espaços) identificada como sendo uma casa moderna - o artefato residência percebido diacronicamente, dentro de uma linhagem da história da arquitetura moderna, localizada na cidade de Goiânia (Goiás), identificadas em pesquisa exploratóriatendo como o objeto de estudo uma casa construída no ano de 1950 (Casa Felix Louza) entendida aqui como uma casa representativa do período fundador do modernismo arquitetônico desta capital na sincronicidade dos eventos que traçam a historia e a mitologia do modernismo em Goiânia. Através das sensibilidades reveladas no espaço interior o estudo comenta a complexidade da casa vista como espaço inventado e inventivo, sua dimensão doméstica na invenção no espaço moderno. Palavras-chave: História das Sensibilidades, Design de interiores, casa subjetiva. O filme no mar do tempo: ensaio de interpretação de Barravento 50 anos depois. Jailson Pereira da Silva UFPI/FAFICA Algumas vezes, Glauber Rocha referiu-se à “Barravento” (1961) como “um ensaio cinematográfico, uma experiência de iniciante” (ROCHA, 2008). Pensando o filme no conjunto da obra do cineasta baiano, a frase certamente faz algum sentido, sobretudo, graças ao aprofundamento que questões como “visão de mundo”, “estética da violência”, “revolução” e “história” sofreram em alguns de seus filmes posteriores, a exemplo de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) Terra em Transe (1967). Quando visto com as lentes do tempo, no entanto, quando encarado como uma interpretação atenta às dinâmicas histórico-culturais que marcavam a sociedade brasileira entre o final da década de 1950, Barravento ganha outros ares, perdendo parte dessa dimensão pretensamente iniciante. Tido como um dos marcos fundadores do cinemanovismo, Barravento abre possibilidades múltiplas de interpretação. O trato com o espaço no qual se dá enredo, por exemplo, é significativo das dificuldades de aprisionamento do filme. Qual é o espaço geográfico do filme? Uma comunidade de pescadores. Pode ser da 74 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Bahia, do Rio de Janeiro, de Pernambuco... Uma geografia simbólica, que não é decifrada pela busca incessante da realidade. Embora as legendas iniciais informem “ “no litoral da Bahia vivem os negros pescadores de ‘xaréu’, cujos antepassados vieram escravos da África”, não há o objetivo de cartografar o espaço, de deixá-lo colado a uma realidade facilmente identificável. O filme aponta em diferentes direções. Se de um lado, por exemplo, tem um tom marxista (ao colocar temática como alienação, exploração); por outro, tem um toque etnográfico ao expor e documentar aspectos cotidianos das comunidades envolvidas no universo mítico do candomblé. Este trabalho busca discutir essas interpretações, entendendo que o filme é um documento entrelaçado com o universo ideológico do cinema daqueles anos, visto como um espaço de discussão da sociedade através do qual o intelectual pudesse expor suas idéias, enfrentar o mundo e refletir sobre a história. Palavras-chave: cinema-história, trabalho e concepção de mundo. Uma história do futuro na narrativa de Aldous Huxley Joelma Tito da Silva Doutoranda em História Social - UFCE [email protected] Esta comunicação analisa a construção de uma história do futuro em Brave new world (1932) e Ape and essence (1949) do escritor britânico Aldous Huxley. Trata-se de um estudo histórico sobre a relação com o tempo em uma escrita ficcional que transforma o futuro em lugar privilegiado da narrativa, no qual as ações presentes se desenrolam se realizam e se excedem. Para Huxley o futuro aparece como a síntese de um pesadelo tramado no presente, o vir a ser converte-se em caricatura radical do tempo vivido. Pesadelo que o angustia e, concomitantemente, parece expressar a direção para a qual caminha a história da humanidade. Assim, ambas as narrativas possibilitam uma análise sobre o regime de historicidade moderno, cuja relação com o tempo pode ser caracterizada pelo medo e o desejo do futuro (HARTOG, 2003). Se as grandes utopias e projetos políticos do século XIX disputavam o sentido da história, definindo as ações do presente a partir de diferentes horizontes de expectativa (KOSELLEK, 2006), durante a primeira metade do século XX, o texto de Huxley oferecia um panorama virtual do futuro, um mundo a posteriori resultante das feridas abertas pelos nacionalismos, pelas guerras, pelo desenvolvimento técnico-cientifico e pelas práticas da sociedade do lucro e do consumo. Palavras-chave: Aldous Huxley, ficção, futuro De fora do Paraíso: Cidade e jardinagem no filme Metropolis José Adilson Filho (FAFIBA/FABEJA) 75 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Conforme o gênesis, o Jardim do Éden foi o lugar mais belo e perfeito da criação divina. O jardim/paraíso desapareceu, mas os homens nunca o esqueceram. A concepção do jardimmoderno difere bastante do jardim das delícias, uma vez que exclui diversas espécies de seres vivos. Trata-se de um espaço que privilegia a unidade e uniformidade de comportamentos e sentidos. No belíssimo e instigante filme Metropolis de Fritz Lang há um espaço chamado “os jardins dos sonhos”, uma miniatura do Éden criado para o deleite exclusivo da elite da cidade. Todavia, a existência de tal vida edênica prescindiu da expulsão e da marginalização dos trabalhadores, os quais apesar de fundamentais, eram vistos como incongruentes aos princípios da jardinagem moderna. Metropolis, além de fazer uma crítica contundente as desigualdades de classe produzidas pelo capitalismo, fornece bons insights e metáforas para se ler as contradições e ambivalências da vida urbana na contemporaneidade, principalmente a partir de uma perspectiva que entenda a feliz (cidade) mediada pela produção da infeliz (cidade). Palavras-chave: vida urbana, marginalização, desigualdades. “É por isto que Caruaru é a capital do forró”: a música como construtora de identidades sobre Caruaru - PE (1970 - 1990). José Daniel da Silva (UFPE) [email protected] A cidade de Caruaru, interior de Pernambuco, é conhecida como “Capital do Forró” e “Cidade que realiza o Melhor e Maior São João do Mundo”. Tais slogans foram construídos entre os anos 70 e 80, nos quais a sociedade caruaruense (população, políticos, empresários, etc.) criou e solidificou uma festa popular no espaço urbano, a festa junina, transformando-a em produto turístico. Diversos fatores contribuíram com esta construção, dentre eles a música: o forró. Reduto de artistas forrozeiros, a cidade possuía três emissoras de rádio AM que os divulgava. Eles, por sua vez, gravavam músicas sobre a cidade, fazendo com que esta mensagem associativa “Caruaru X Forró X São João” fosse lançada para vários estados do Nordeste brasileiro, e até para outras regiões do Brasil e do exterior. A consolidação da festa junina caruaruense foi seguida pela paulatina gravação de forrós em homenagem à cidade, sempre narrada como “Capital do Forró”, contando, na atualidade, com mais de mil composições. Palavras-chave: Caruaru; Forró; Capital do Forró; Festejos Juninos. The Stonewall Celebration Concert, 1994: Homoerotismo e Política na Arte de Renato Russo. Luciano Carneiro Alves (UFMT) Doutorando em História Social pela USP [email protected] 76 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Em 1994, completou-se 25 anos do levante no bar Stonewall em Nova York. Na noite de 28 de Junho de 1969, os homossexuais que freqüentavam o local reagiram às recorrentes repressões policiais que sofriam e, com esta atitude, simbolizaram a data como marco do “Orgulho Gay” na luta pela diversidade sexual. Ídolo jovem desde os anos 80, Renato Russo enfrentava desafios pessoais decorrentes da sua condição de soropositivo e dependente químico. O vocalista e principal compositor da banda Legião Urbana vivenciava um momento de redefinição de valores e posturas políticas. E em homenagem à data, lançou o álbum solo “The Stonewall Celebration Concert” com 21 canções em inglês de compositores americanos de vários estilos. O objetivo neste trabalho é, a partir da análise deste álbum, discutir práticas políticas de Renato Russo por meio de sua arte. O entendimento é que a escolha do repertório, as opções de arranjo e interpretação das canções, a atuação na mídia para a divulgação do álbum, fizeram parte de uma intenção de Renato Russo em promover junto ao seu público e à sociedade em geral o debate sobre a diversidade sexual. Palavras-chave: práticas políticas; atuação da mídia; diversidade sexual. A exposição Tropicália: Uma revolução cultural 1967-1972, e a “invenção” da moda “tropicalista” Maria Claudia Bonadio Centro Universitário Senac [email protected] Em 1958, a Rhodia Têxtil inicia a produção de fios sintéticos no País, e entre 1960-1970, elabora ações publicitárias calcadas na produção de editoriais de moda, anúncios para revistas, e desfiles, que conjugavam elementos da “cultura nacional” (música e artes plásticas), a fim de associar o produto à criação de uma “moda brasileira”. Uma das mais destacadas ações publicitárias realizadas no período é a produção de estampas por artistas plásticos (Aldemir Martins, Volpi, Manabu Mabe, somando mais de 70 artistas e 300 trabalhos) para roupas que eram apresentadas na publicidade, mas não eram comercializadas e visavam agregar qualidade à marca. Parte dessa produção foi doada ao MASP em 1972. Nesta comunicação analiso as utilizações de tais peças em exposições ocorridas entre 1999-2007, e especialmente em Tropicália: Uma revolução cultural 1967-1972, observando como tais usos acabam por tornar esses objetos “elementos de uma nova escrita” (SANTOS, 2002), permitindo a construção (ficcional) de novos sentidos aos objetos, muitas vezes desconectados de suas significações iniciais. Palavras-chave: Tropicália, moda, produção de sentidos. História e literatura de cordel: J. Borges e as maldições da modernidade. Maria do Rosário da Silva (UFPE) [email protected] 77 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Neste trabalho, tomei o folheto o Exemplo da Mulher que Vendeu o Cabelo e Visitou o Inferno escrito em 1967 por j. Borges, como um fragmento da chamada cultura popular, instrumento e fonte histórica, para conhecer as condições de produção deste poeta na década de sessenta na região Agreste de Pernambuco. Para a consecução desse escrito associei entrevistas temáticas, pesquisa documental, leituras e o exercício de composição textual, buscando interpretar as prescrições sociais, os exemplos e os acontecimentos escolhidos por J. Borges para narrar os anos sessenta. Apreendi a trama narrativa registrada no folheto não como indício de um real que se pode desvendar, mas como um acontecimento histórico. Entre outras referências conceituais, apropriei-me principalmente, da noção certeauriana de cultura ordinária para refletir sobre o caráter problemático da dualidade cultura popular/ cultura erudita que envolve o debate sobre o status da literatura de cordel. Portanto, esse trabalho está inscrito numa combinação que associa um lugar social, práticas científicas e maneiras de narrar e escrever. Palavras-chave: literatura de cordel, J. Borges, narrativa histórica. Histórias e Ficção de um Inventário Cultural Maria Lana Monteiro de Lacerda (UPE) O presente trabalho parte das idéias de performance e desconstrução de paisagens e sujeitos existentes na obra “Inventário de um Feudalismo Cultural Nordestino ou Uma Fricção Histórico Existencial”, de Jomard Muniz de Brito. Produzida em super-8, em parceria com o grupo teatral “Vivencial Diversiones” no ano de 1978, tal obra, um ano depois, foi publicada em livro. Entre o inventário das diferenças, debates e conflitos, bem como, os interesses e tradições partilhadas, observaremos algumas possibilidades de leituras da História cultural brasileira articulando e negociando imagens em ambas as narrativas da obra. Palavras-chave: cultura brasileira, narrativas, ficção histórica. Filipa Raposa e Bento Teixeira: representações de gênero em Os Rios Turvos de Luzilá Gonçalves Ferreira Maria Suely de oliveira Lopes O presente trabalho consiste fazer um estudo sobre as representações de gênero na obra Os rios turvos (1993) de Luzilá Gonçalves Ferreira. Lembra-se que esta pesquisa apresenta apenas informações parciais por se tratar de um trabalho em andamento. Os resultados serão publicados após conclusão da mesma. Neste estudo, focalizar-se-á as personagens Felipa Raposa e Bento Teixeira respectivamente para se questionar sobre a subjetividade da mulher 78 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais em relação ao outro - sujeito representado por Bento Teixeira - considerado detentor do poder hegemônico na obra. A metodologia apresentada nesse estudo é de caráter bibliográfico procurando esboçar uma visão da época passada e um possível olhar sob a perspectiva contemporânea, incluindo um perfil de mulher( Filipa Raposa) tão singular, que viveu, amou ,e foi mal compreendida pelo seu esposo e pela sociedade patriarcal do século XVI. Palavras-chave: ficção; representações de gênero; subjetividade feminina. O narrador coletivo na Brincadeira: um diálogo entre Bakhtin e Kundera Maria Veralice Barroso Doutoranda- UnB Assim como Bakhtin procurou o “campo concreto da vida” como espaço de desenvolvimento de seu pensamento teórico, no solo do texto estético-literário, o escritor tcheco Milan Kundera criou estratégias no sentido de manter vivo o diálogo do homem com o mundo a sua volta. Ao contrário do que afirmaram as muitas leituras monológicas (Morson e Emerson, 2008) das quais foi vítima, a literatura adotada por Kundera não intenta fazer-se documento factual de uma época, mas também não se evade do mundo. Enquanto consciência organizadora do diálogo, o romancista, não é indiferente, seu olhar é o olhar do sujeito que não apenas observa, mas experiencia a História cotidianamente. (Bakhtin, 2008) Assim, entendendo a literatura como uma dada forma “de ver e dizer a realidade” (Albuquerque Junior, 2009:41), o presente trabalho tem por objetivo buscar, no romance A brincadeira pontos de aproximação entre a teoria bakhtiniana e a ficção de Milan Kundera no que se refere à relação homem/mundo. Para tanto, as análises estarão centradas naquele que considero o elemento principal a assegurar a condição dialógico-polifônica do primeiro romance kunderiano: o narrador coletivo. Palavras chave: literatura, dialogismo, mundo. Assia Djebar: história e ficção Norma Wimmer UNESP – IBILCE - C.S.J. RIO PRETO [email protected] / [email protected] Em 1985, Assia Djebar, escritora argelina de língua francesa publica, na França, seu romance L’Amour, la fantasia. Nesse texto que, na opinião de Rachid Minoum (2005) caminha entre a história e a ficção, a autora propõe-se a rever a história da relação Argèlia-França representando-a, ao mesmo tempo, sob a perspectiva da história oficial, sob a ótica dos dominados e sob a visão pessoal - entrecruzando-as. A conquista da Argélia ocorreu em 1830; a independência, em 1962. Ali, como acontecia em todas as suas colônias, o governo francês fundamentou seu projeto colonizador na imposição da língua francesa; depois, conseqüentemente, na im- 79 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais plantação da cultura e dos valores franceses. Em L’Amour, la fantasia Assia Djabar a personagem feminina que procura recontar a história de seu país e a sua própria confronta-se com a dificuldade de sua relação com a língua francesa - a língua do outro - da qual ela acaba lançando mão, como de um butim de guerra. Constituem, portanto, objetivos do trabalho a ser apresentado, tecer considerações acerca da relação da história oficial da conquista da Argélia com a história não-oficial, bem como abordar o processo de criação romanesca realizada por Assia Djebar na redação de L’Amour, la Fantasia. Palavras-chave: história, ficção, Argélia. Entre operações e desvios: Michel de Certeau, Paul Ricoeur e a escrita da história Rafael Pereira da silva Este artigo é um exercício de aproximação entre dois pensadores, Michel de Certeau e Paul Ricoeur. Para tanto, o texto será dividido em três partes. Num primeiro momento procuro narrar a trajetória intelectual de Certeau, buscando indícios de experiências que possam ter influenciado suas análises. Em seguida apresento seu livro a Escrita da História inserindo-o no debate historiográfico dos anos 1970. Por último analiso algumas ideias de Certeau apreendidas por Ricoeur em A memória, a história, o esquecimento, demonstrando os diálogos existentes entre os autores. Palavras-chave: trajetórias, operação, narrativa. O engajamento teatral na Cia do Latão a presença de Bertolt Brecht no teatro brasileiro dos últimos anos Rodrigo de Freitas Costa Universidade Federal do triângulo Mineiro Esta comunicação pretende discutir as questões sociais, políticas e culturais no momento de formação da Cia do Latão, em 1997. Nesse contexto é preciso avaliar o peso dos trabalhos teóricos de Bertolt Brecht, em especial os Diálogos de A Compra do Latão, no processo de constituição do primeiro trabalho do grupo paulistano, além de pontuar as características da formação intelectual de Sérgio de Carvalho, diretor da Cia. O debate acerca do engajamento artístico, assim como as posições estéticas assumidas durante a formação Cia do Latão, constitui o norte da apresentação que se propõe. Palavras-chave: teatro, Bertolt Brecht. 80 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Moça com brinco de pérola: filme, ficção, História Rosangela de Oliveira Dias Universidade Severino Sombra-USS - Vassouras “Na Delft, (Holanda) do século XVII, jovem de dezesseis anos trabalha para sustentar sua família como empregada doméstica na casa de Johannes Vermeer, importante e conceituado pintor”. Tal trama, desenvolvida em romance e filme homônimos e foi inspirada em obra de Vermeer, Moça com brinco de pérola. O objetivo desta comunicação é estabelecer um diálogo entre o filme, o romance e a pintura tendo como fio condutor deste diálogo a História Cultural e a História da Arte, campos de conhecimento, pesquisa, análise e investigação da chamada realidade social. Palavras-chave: filme, ficção, História. Metaficção historiográfica, mangá feminino, e feminismo: um olhar sobre a Rosa de Versalhes Valéria Fernandes da Silva Doutora em História na UnB [email protected] No Ocidente os quadrinhos têm mantido um diálogo intenso com a História que é utilizada como pano de fundo, recurso para a ação e fonte de inspiração. No Japão não é diferente. No caso do quadrinho feminino, ou shoujo mangá, a Rosa de Versalhes, de Riyoko Ikeda, inovou ao entrelaçar história e literatura para narrar os acontecimentos da vida de duas mulheres, a rainha Maria Antonieta e Oscar François de Jarjayes, uma moça criada como homem e que se torna chefe da guarda real, tendo como fundo os acontecimentos dramáticos que conduziram à Revolução Francesa. A série foi um marco cultural dentro da história dos quadrinhos japoneses, influenciando obras posteriores, seja na construção ficcional da História, ou nas discussões dos papéis de gênero. Em nosso artigo pretendemos discutir o caráter didático quadrinho, que percebemos como um tipo de literatura, como veículo de transmissão da História Ocidental para as adolescentes japonesas e discussão da inserção das mulheres no mercado de trabalho e de questões sociais urgentes, como as demandas feministas. Palavras-chave: metaficção, historiográfica, mangá, feminismo 81 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Cultura Popular e Sociabilidades – a tessitura ST 8 Religiosidades, sentimental delineando paisagens subjetivas e sociais “...Era uma ‘imaginha’ pequena e tinha o ‘ altarzim’ dele bem do lado de Nossa Senhora”: A Memória e as fontes orais na reconstrução da troca de São Benedito por Nossa Senhora de Lourdes em Ecruzilhada-Ba Fabíola Pereira de Araújo Mestranda - UESB Ana Palmira Santos Bittencourt S. Casimiro Pós-Doutora - UNICAMP Esta pesquisa tem como objetivo analisar a Memória encruzilhadense acerca da troca de um santo negro por uma santa branca, a partir de um estudo local que vem sendo realizado na cidade de Encruzilhada - BA. São Benedito era considerado o padroeiro da então vila, desde meados da década de 80 do século XIX. Porém, no momento da fundação da Paróquia da cidade, em 1936, o santo franciscano foi substituído por Nossa Senhora de Lourdes. No presente trabalho as fontes orais estão sendo usadas como recurso para acessar uma memória, que havia sido tragada pelas falas institucionais. A elite local, bem como a Igreja Católica, através do silêncio trataram de suprimir, aos poucos, a presença do culto a ponto de alijálo completamente do discurso oficial, todavia, a memória do culto subsiste na “memória subterrânea” da cidade, o que acabou por desembocar no mito de que, por um castigo, São Benedito não permitiria que a cidade evoluísse. Uma análise preliminar leva a crer que o status de santo não conseguira isentá-lo da subalternidade tida como inerente ao negro. Palavras-chave: fontes orais; memória; São Benedito. Festas e festejos como formas de sociabilidade e religiosidade nas comunidades rurais de influência da UHE Serra do Fação Anderson Aparecido Gonçalves de Oliveira - UFU/FACIP [email protected] A referente pesquisa pauta-se numa reflexão acerca de como as festividades, no universo rural, das comunidades afetadas pela UHE Serra do Facão (Catalão, Campo Alegre de Goiás, Cristalina, Ipameri, Davinópolis - no estado de Goiás e Paracatu, em Minas Gerais) são importantes veículos de sociabilidades. A proposta que apresentamos aqui diz respeito à compreensão dessa relação festiva tecida entre as comunidades locais, no que se refere à manutenção dos vínculos sociais que tem na realização das tradicionais festas de roça em 82 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais devoção aos santos protetores e outras formas de festividade como as pamonhadas, as cavalgadas, a demão, dentre muitas outras, a forma de integração social dos indivíduos que, no universo rural funciona como importante canal de sociabilidade, de trocas de experiências e ajudas coletivas em prol da devoção, da religiosidade e dos encontros que o festejar propicia a essas comunidades e das relações entre vizinhos, cujo significado é bastante representativo para essas comunidades rurais. Levando em consideração essa realidade local, buscamos ainda perceber como as realizações dessas práticas alimentam o viver e a religiosidade das muitas famílias que tem na realização do devotamento e da festa, das partilhas coletivas a manutenção dos seus vínculos sociais e de pertença com o lugar de vivência. Palavras-chave: universo rural; religiosidade; práticas religiosas. Cinema e tradição oral: o popular na cinematografia brasileira Ângela Aparecida Teles ( UFU/FACIP) O presente trabalho interpreta a oralidade da cultura popular presente na cinematografia nacional, especialmente nas obras de Glauber Rocha e Ozualdo Candeias, como elemento constitutivo de um pensamento em imagens que propunha o enfrentamento dos dilemas da sociedade brasileira na segunda metade do século XX por meio do deslocamento e da politização do olhar. Os filmes de Glauber Rocha, Barravento 1961 e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro 1969, e os filmes de Ozualdo Candeias, Zézero 1974 e O Candinho 1976 são criações que mesclam tradição oral e elaborada linguagem cinematográfica, e nos permitem acompanhar os cruzamentos, as tensões e as múltiplas temporalidades coexistentes no processo de modernização brasileira na segunda metade do século XX. Palavras-chave: Cinema brasileiro, tradição oral, hibridismo. Festejando e rezando nos caminhos do São Marcos Cairo Mohamad Ibrahim Katrib FACIP-NEAB-UFU No universo rural das comunidades às margens do rio São Marcos, no sudeste goiano, afetados pela construção da Usina Hidrelétrica Serra do Facão, o festejar e o rezar passam por uma reorganização espacial intensa, à medida que muitas comunidades rurais foram inundadas pelas águas da represa. Mesmo assim, devotos e comunidades rurais reelaboraram e reconstruíram as formas de compartilhar fé e festa no mundo rural. São através das festas de roça que homens e mulheres agradecem e pedem proteção, rogando por dias melhores e buscam forças para superar as perdas e (in) certezas. 83 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Palavras-chave: comunidades rurais; fé; rio São Marcos Os filhos de Xangô: A memória e tradição do terreiro do Babalorixá Joaquim de Xangô. Camila de Melo Santos (UFG) Em meio aos debates sobre a pós-modernidade, em que se acredita que a sociedade vive em meio a uma liquidez de sentimentos e relações. As tradições ainda são consideradas o porto seguro para formação de identidades, ou seja, as detentoras da essência original. E no candomblé não é diferente, está religião de origem africana que no Brasil tornou-se representação de nosso hibridismo cultural, em pleno sertão, especificamente na casa do Babalorixá Joaquim de Xangô torna-se representação de uma tradição familiar, religiosa e cultural. Mantida através do rito ao orixá ancestral Xangô. Está comunicação e parte de uma pesquisa ainda em andamento, tendo como resultado o documentário “Ayrábeji de Xangô”: Memórias de Pai Joaquim. Palavras-chaves: memória, tradição e identidades. Outras histórias: memórias e narrativas da irmandade da cruz - barba lha/ce Cícera Patrícia Alcântara Universidade Federal de Pernambuco [email protected] Esse trabalho tem como principal objetivo analisar as construções mnemônicas produzidas pelas narrativas do grupo de penitentes Irmandade da Cruz, localizado no município de Barbalha/CE. Para a efetivação dessa empreitada, utilizaremos um conjunto amplo de entrevistas realizadas com os Irmãos da Cruz, como também com parte dos seus interlocutores, conectadas de forma diversa aos discursos escritos (oficiais/oficiosos) que se constroem/ construíram a respeito do universo penitencial vivenciado no Cariri cearense desde Século XIX. Essas narrativas se constroem e se movimentam pelo “emaranhado” de experiências e de experimentações diversificadas, que fazem emergir um universo amplo de negociações, tensões, práticas e produções discursivas. Ao contarem suas histórias pessoais e coletivas, os Irmãos da Cruz estão ao mesmo tempo tentando “conservar” lugares de memória e de identificação religiosa, bem como cartografando espaços de luta e de auto-representação política. As falas desses autoflagelantes nos permitem compreender a memória como um campo de batalhas. Uma festa barroca no século XXI Cláudia Eliane Parreiras Marques Martinez Universidade estadual de Londrina. 84 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] Mais que uma forma plástica ou estilo pictórico, o barroco é entendido pela historiografia atual como uma cultura e como toda cultura dotada de especificidades e uma maneira particular de ver e sentir o mundo. O objetivo desta comunicação é entender como a festa em homenagem ao Senhor do Bonfim - realizada na cidade mineira de mesmo nome - carrega traços, ritualísticas, hierarquias e performances barrocas que permaneceram no tempo e no espaço. Há que se considerar que Bonfim com seus apenas oito mil habitantes “mantêm” antigos rituais católicos, como a presença de irmandades e redes de solidariedades entre os seus membros, que podem ser compreendidos tanto na relação que a população tem com a antiga matriz (hoje Santuário do Senhor do Bonfim) e as imagens sacras setecentistas trazidas de Portugal, quanto nas procissões e festas celebradas na atualidade. Palavras-chave: Imagens sacras; procissões; Senhor do Bonfim. Uma Hierópolis no Planalto Central Daniela Nunes de Araujo(UnB) [email protected] O mote prevalente da proposta que ora passamos a apresentar deriva de um olhar por nós já há algum tempo direcionado aos movimentos religiosos contemporâneos, em especial aos que se vêem informados por conteúdos assinaladamente milenaristas e messiânicos e que passaram a se concretizar ao tempo em que consumava a transferência da nova capital do país para o Planalto Central. Um deles em particular, por sua historicidade e alcance messiânico-milenarista, tomou-nos a atenção: a Fraternidade Eclética Espiritualista Universal (FEEU). No dia 04 de novembro de 1956, 66 famílias, contabilizando aproximadamente 300 pessoas, provenientes em sua maioria do Rio de Janeiro atingiram o Planalto Central e se instalaram nos arredores da futura capital do país. Essa nova espacialidade, por via de conseqüência, encaminhava a sua caracterização na medida em que se definia a estruturação da cidade. Para tanto, o sagrado dava ânimo e orientava no mais das vezes a organização do lugar. A paisagem cultural, em resumo, ganhava contornos e texturas mais nítidos ao colocar harmonizados e em relação de contigüidade as construções templárias e residenciais. Crenças, princípios e propósitos religiosos dotavam de sentidos o que não se resumia solo profano. Erguia-se, como quer Rosendahl, uma modelar hierópolis. Palavras-chave: movimentos religiosos; planalto Central; sagrado. A FOLIA NO ALTAR: as práticas cotidianas da Festa de Nossa Senhora das Dores em Teresina [Piauí] na segunda metade do século XX Francisca Márcia Costa de Souza (UFPI) 85 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] A Festa de Nossa Senhora das Dores remonta ao século XIX. No Piauí e em outras partes do Brasil acontecem as mais variadas manifestações e expressões do sentimento religioso, da devoção popular. Muitas festas em louvor a santos preservam determinados aspectos e se transformam em outros: romarias, ex-votos, cânticos, espaços de sua realização, promessas, festas, missas, altares, santinhos, outros caminhantes. A festa de N. S. das Dores é parte fundamental nas histórias de muitos caminhantes da cidade de Teresina. Em seus relatos, é possível sentir e olhar através de suas práticas, símbolos, gestos e rituais variadas formas de comunicação e (re) significações dos espaços da cidade de Teresina. A Festa de N. S. das Dores, ao longo dos anos, adquiriu novas significações, sentidos e tensões possíveis no interior de uma nova trama da comunidade urbana na qual está inserida. A violência e a (re) estruturação urbana de Teresina estimularam os habitantes da urbe a repensar suas tradicionais práticas nos interior da comunidade paroquial e, portanto, a Festa. Por outro lado, a comunidade mantem o contato com o sagrado, compartilha aspectos de um sistema simbólico e ritual, além do aspecto social, pois esses mesmos caminhantes adentram o sistema social da cidade, da igreja, da economia urbana, na organização da Festa. Assim, a Celebração à N. S. das Dores é um lugar social, religioso múltiplo, rico, fundamental para se estudar aspectos rituais, simbólicos do cotidiano, da religiosidade da cidade de Teresina. Palavras-chave: Festa de N. S. das Dores; práticas cotidianas; Teresina As representações dos benzedores e raizeiros como parte das tradições locais. João Pinheiro1960-2010 Giselda Shirley Silva(FINOM) O objeto de estudo são as representações dos benzedores e raizeiros acerca da sua prática em João Pinheiro-MG entre 1960-2010. O objetivo é analisar como essas práticas foram sendo ressignificadas e quais as representações desses sujeitos em relação à utilização das rezas e ervas, bem como o papel desempenhado na saúde local ao usar tais saberes aprendidos com os antepassados. Os estudos foram pautados em teóricos que partilham do solo da História cultural e como empírico, fontes diversas, entre elas, documentos do Arquivo Municipal, narrativas orais, conhecimento das plantas e ervas usadas com fins medicinais do acervo dos raizeiros. Busquei perceber os sentidos atribuídos por eles a essa prática, questões relacionadas à memória, identidade e o papel social e cultural na história local, observando nos embates cotidianos a preservação/recriação desse saber fazer herdado e repassado através da oralidade. Palavras-chave: narrativas orais; História Cultural; representação dos benzedeiros. A presença da Umbanda no processo de reinven86 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ção do jongo de São José da Serra Ione Maria do Carmo (UFRJ) Com a presente comunicação pretendemos demonstrar os aspectos religiosos da Umbanda no jongo de São José da Serra e sua importância no processo de construção da identidade quilombola desse grupo, através da análise dos pontos – melodias cantadas nas rodas de jongo – e dos rituais presentes na prática dessa expressão cultural. Praticado inicialmente pelos escravos de origem bantu que trabalhavam nas fazendas de café do Vale do Paraíba, o jongo faz parte da memória de várias comunidades negras do Sudeste brasileiro. Os diferentes processos de ressignificação dessa tradição nas comunidades jongueiras, acarretaram na introdução de novos elementos e na singularidade do jongo em cada território. Trata-se, portanto de analisar a Umbanda enquanto elemento significativo na reinvenção do jongo a partir da década de 1970 na comunidade quilombola São José da Serra, localizada no município de Valença, estado do Rio de Janeiro. Palavras-chave: umbanda, jongo, reinvenção Histórias e memórias de professoras: práticas, representações e subjetividades Jaqueline A. Martins Zarbato Schmitt( USJ-UNISUL) Este trabalho visa apresentar as discussões e reflexões sobre as memórias de professoras no Ensino Fundamental do município de São José. A pesquisa foi realizado de 2008 à 2010, com entrevistas direcionadas e, com coleta de materiais didáticos, diários, cadernos pessoais das referidas informantes. A pretensão de historicizar as experiências de professoras, relacionando o fazer profissional e as vivências pessoais, aponta para uma concepção de formação de identidade e saberes docentes. Logo, interpretar o processo de formação, suas implicações e tensões, promove a articulação entre a produção de subjetividades, os valores simbólicos impressos na profissão docente. E, permite aprofundar as reflexões sobre o campo da memória e da História. Palavras-chave: subjetividade, valores simbólicos, fazer profissional. Vamos orar e festejar: uma analise sociocultural das irmandades religiosas na Paraíba - século XIX Jose Pereira de Sousa Junior (UFCG/UEPB) [email protected] Este trabalho é parte do terceiro capitulo da dissertação de mestrado sobre as Irmandades religiosas na Paraíba, na qual buscamos perceber como eram construídos seus espaços de 87 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais sociabilidades, assim como suas estratégias para se estruturarem, funcionarem e realizarem suas praticas devocionais e festivas. Utilizando como fonte documental seus compromissos, observamos que as comemorações do santo ou santa de devoção era a data máxima do calendário das irmandades, quando irmãos e irmãs saíam ás ruas em procissão, os aparatos utilizados davam um tom de pompa, grandiosidade, usando suas vestes de gala, opas (capas), carregando bandeiras, andores, cruzes e insígnias enfim, seguidas de danças e batuques, dando um colorido especial a este importante evento cultural, social e religioso das cidades, vilas e freguesias na Paraíba. Palavras-chave: irmandades, devoção, festa. A morte amparada dos irmãos da paróquia de nossa senhora do pilar de ouro preto (17801800) Loyanne Dias Rocha (UnB) O trabalho busca investigar quais foram as atitudes e representações diante do trespasse expressas pelos “homens de cor” da Paróquia de N. S. do Pilar de Ouro Preto. A análise dos rituais de morte no século XVIII, na Paróquia do Pilar, se dará mediante a leitura paleográfica de testamentos produzidos entre 1780 e 1800. Além desta, adota-se como metodologia a análise quantitativa das referidas fontes para aspectos ligados ao perfil dos testadores e a manifestações religiosas ligadas ao momento do trespasse. Ao levantamento de dados quantitativos alia-se à abordagem qualitativa, por meio da qual pretendemos, nessa pesquisa, revelar os desvios particulares, as atitudes excepcionais. Embora produções historiográficas que trataram da morte na sociedade européia sejam utilizadas, não se pretende transpor modelos e perspectivas elaborados por historiadores das mentalidades acerca do trespasse. O objetivo principal é encontrar atitudes e manifestações culturais próprias de uma sociedade híbrida que, como todos os sujeitos históricos, se deparou com o inevitável fim da vida. Palavras-chave: morte, “homens de cor”, hibridismo cultural Vozes do Sertão: as performances culturais dos catadores de folia de reis em João Pinheiro (MG) Maria Célia da Silva Gonçalves (TRANSE-UnB) O presente artigo objetiva analisar uma das manifestações artísticas/culturais/religiosas tradicionais do Brasil, as Folias de Reis na cidade de João Pinheiro, município localizado no Noroeste do Estado de Minas Gerais, distante 330 quilômetros de Brasília (DF). Trata-se de um estudo ancorado na etnografia da Folias de Reis do sertão pinheirense, utilizando da História Oral temática como método de coleta dos dados. O referido estudo abrange além 88 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais dos rituais e práticas que criam e re (criam) sua condição de existência, à discussão de como as Folias de Reis, uma manifestação originária do mundo rural, vem sofrendo (re) significações para se adaptar ao mundo urbano. Parte-se do princípio de que os rituais explicam valores das sociedades tradicionais brasileiras, oriundas do meio rural ao se encontram em constantes interações com as cidades. As Folias de Reis guardam em João Pinheiro (MG) a forma de um cortejo processional que dramatiza performances impregnadas da religiosidade cristã, assim como se utilizam do lúdico por meio das performances dos palhaços, transmitida para as gerações futuras por meio da memória e da oralidade, características tão comuns nos festejos populares brasileiros. Palavras-chave: Folia de Reis; Performance; Memória. Memórias e travessias no rio São Marcos: deslocamentos, cultura material e inquietações Maria Clara Tomaz Machado Inhis-UFU A construção da Usina Hidrelétrica Serra do Facão no sudeste goiano atingiu cerca de 450 famílias em seis (6) municípios, desestruturando a vida de muitos moradores do mundo rural. É verdade que as transformações ocorridas na produção da agropecuária e economia regional já vinham acontecendo desde a década de 1960, com os projetos políticos do desenvolvimentismo, inclusive da ditadura militar. Todavia, a barragem trouxe especialmente para os proprietários de uma “economia de subsistência” (in) certezas, medos e frustrações. Nesse contexto, as práticas culturais populares, as sociabilidades, as festas, têm sofrido deslocamentos. Trata-se agora de uma nova inventividade de uma ruralização do urbano e de experiências sociais e culturais cujos (des) lugares mobilizam (re) criações populares. Palavras-chave: mundo rural; rio São Marcos; práticas culturais. Um olhar sobre a festa de Nossa Senhora da Abadia de Andrequicé - MG Rosangela Braga Soares Braga Indelécio Faculdade Cidade de João Pinheiro [email protected] O presente trabalho de pesquisa lança olhares sobre a festa em louvor a Nossa Senhora da Abadia, localizada na comunidade de Andrequicé, no município de Presidente Olegário, Minas Gerais. Esta festa é aqui cenarizada no período balizado entre os anos de 1960 – 2010. Delimita-se como objeto a religiosidade popular presente nesta manifestação cultural e como objetivo, observar práticas religiosas dos festeiros e romeiros que fazem parte da trajetória histórica desta festa bem como as representações veiculadas por esses atores sociais. Buscou-se neste estudo analisar a questão da história, memória, cotidiano e narrativas. 89 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais O embasamento teórico para essas reflexões foram firmadas em autores que partilham o solo da História Cultural. O alicerce empírico foi composto de fontes variadas, entre elas: entrevistas com narradores do lugar, festeiros da região que participem desta festa, fontes iconográficas variadas entre elas fotos antigas da festa expostas na Igreja da Comunidade, filmagens e fontes documentárias do acervo da Igreja de Andrequicé. Palavras chaves: Memória, festa, religiosidade Paisagens simbólicas e o ciclo natalino da cidade de Goiânia Rosiane Dias Mota (UFG) A concepção de paisagem por muito tempo esteve voltada quase que exclusivamente para seu aspecto físico e material, às coisas visíveis. Contudo, quando a paisagem é relacionada à cultura se fazem presentes questões como a dinamicidade, a transmissão da herança cultural e as maneiras como a cultura e a identidade se fazem presentes nas paisagens produzidas pelas festas populares. Na cidade de Goiânia as paisagens festivas presentes no ciclo natalino se configuram, entre outros, em presépios, cânticos de corais, novenas, e folias de reis. O presente resumo tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre as paisagens simbólicas produzidas pelas folias durante o ciclo natalino, na cidade de Goiânia. Os aspectos teórico-metodológicos utilizados no desenvolvimento deste têm como base, entre outras, às contribuições de Geertz (2001), o qual aborda questões referentes à cultura; Cosgrove (1998) com um método de leitura das paisagens culturais; e Almeida (2005 e 2010) que discute identidades territoriais, territórios e paisagens simbólicas. Tem-se como procedimento teórico metodológico a revisão bibliográfica e a pesquisa participante, que permitem discorrer sobre as paisagens e territórios simbólicos produzidos pelos foliões e visitantes durante toda a folia. Palavras-chave: Folia de Reis; paisagem simbólica; Goiânia DO ALTAR AOS QUINTAIS RESIDENCIAIS: as práticas alimentares piauienses na Quaresma e na semana Santa no século XX. Samara Mendes Araújo Silva Universidade estadual do Piauí (UESPI) [email protected] Nossa cultura material e imaterial está em cozinhas e quintais, onde se preparam saborosos e nutritivos alimentos, se extraí remédios de produtos naturais e onde histórias são (re) contadas e (re) significadas cotidianamente preservando, assim, nossas tradições culturais. A análise da história da alimentação no espaço sócio-histórico piauiense possibilita com- 90 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais preender as significações das práticas culturais e religiosas sertanejas contemporâneas e suas inter-relações destas com o passado agro-pastoril. Neste intento buscamos compreender as práticas alimentares e a presença de certos alimentos no cardápio piauiense durante o período da Quaresma e Semana Santa, demonstrando que tais práticas sertanejas são fortemente influenciadas pelo catolicismo popular, exemplificado pela preservação da Semana Caçadeira nos dias que antecedem a Semana Santa, dispensar a carne vermelha e em substituição a esta introduzir na dieta familiar quibebe e maxixada durante os dias da Semana Santa, ou ainda, “roubo das galinhas” na madrugada do Sábado de Aleluia para “quebrar o jejum da sexta-feira santa”, entre outras práticas que se constituem em estratégias sociais de manutenção e reprodução das configurações sociais vigentes, além de formas sociais de preservação da memória familiar e da histórica local. Palavras-chave: práticas alimentares; catolicismo popular, Piauí. A LIBERDADE E OUTROS DIAS: o cotidiano de populações negras em Teresina [1888-1920] Talyta Marjorie Lira Sousa (UFPI) Neste trabalho objetivo reconstruir as vivências cotidianas, com destaque para os espaços lúdicos, de sociabilidade de trabalhadores libertos na sociedade teresinense após a abolição da escravatura em 1888. A historiografia brasileira e em particular a piauiense pouco tem explorado essas experiências e vivências dos libertos. A pesquisa apóia-se em revisão bibliográfica e documental. As fontes, em boa parte já transcrita, constituem-se de códigos de posturas, jornais, relatórios de presidentes da província, livros de notas e ofícios, documentos do judiciário, como autos crimes e inventários. Palavras-chave: historiografia, espaços lúdicos, abolição, cotidiano. A festa de Caretagem: reafirmação da identidade étnica Vandeir José da Silva Mestrando em História Cultural-UnB. [email protected] A Festa de Caretagem, uma homenagem dançante a São João Batista é realizada por remanescentes de quilombo no dia 23 para 24 de junho em São Domingos, localizada a três quilômetros do centro da cidade de Paracatu Minas Gerais. Organizada por homens, mulheres e crianças “negros”, nascidos em São Domingos e que dançam na festa, essa tradição tem sido, segundo os entrevistados, repassada de geração em geração. Essa manifestação cultural começa oficialmente com a celebração da missa e logo após os moradores reúnem para festejarem. Esse festejo começa por volta de 21:00 do dia 23 de junho. Dessa maneira acontece uma peregrinação por São Domingos até 12:00 do dia 24, momento que acontece 91 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais o encerramento. Para o festejo é preparado, máscaras, fogueiras, ornamentação das casas, comidas e fantasias. Somente homens podem dançar segundo a tradição. Interpreto que a Festa é uma das maneiras que os remanescentes expressam a identidade étnica. Dessa maneira na Festa de São João, interpreto acontecer três momentos onde dançantes, tocadores e moradores reafirmam a identidade étnica, fatores que estão ligados à história e memória de seus antepassados. Palavras-chave: manifestação cultural; identidade étnica; história; memória. A cultura sexista na escolha pela especialização médica Vera Lúcia Puga (UFU) [email protected] Não se escolhe a especialização médica apenas por afinidade, nem por se garantir um futuro promissor ou por ser uma área mais “rentável”. O que presenciamos na pesquisa realizada em Uberlândia e Uberaba (UFU e UFTM) foi uma escolha ditada culturalmente por professores, estudantes, familiares e a sociedade de forma geral, por uma escolha baseada em uma seleção de gênero. Determinadas áreas estão mais diretamente ligadas a homens e outras mais a mulheres. Assim, as especialidades que precisam teoricamente de utilização de força física, ou que exijam plantões semanais privilegiam os homens, mais fortes e machos. As mulheres são aconselhadas a buscarem especialidades que não dependam da força nem de estar fora de casa ao anoitecer. 92 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais como escritura desdobrada – visualidades, música e ST 9 História literatura “Goiânia não é só a terra natal de ‘Leandros e Leonardos’”: análise sobre a cena de rock em Goiânia Aline Fernandes Carrijo (UFRJ) Mestranda em História Social-UFRJ Esta comunicação faz parte de uma pesquisa maior que procura analisar as lutas de representações travadas a partir da cena de rock em Goiânia. Percebe-se que há uma contestação em relação às caracterizações presentes na história do Estado de Goiás, ligadas ao sertanejo e ao rural, e evidenciadas pelo poder público local. Há, portanto, um claro conflito de interesses e de representações que se formam no campo cultural goiano. Essas disputas parecem interferir na própria característica da cena de rock local, na medida em que seus integrantes precisam acionar estratégias para adquirirem espaço simbólico e físico na cidade. Desta forma, a idéia é compreender a cena cultural em Goiânia na década de 1990, ao descrever a relação entre a cena de rock na capital e o complexo campo cultural do qual ela faz parte. Ou seja, procura-se analisar como, no interior de uma configuração histórica específica, funcionam as estratégias e ações de agentes culturais – no caso, os roqueiros de Goiânia - para afirmação de uma nova representação e para ganhar espaço físico e simbólico na cidade. Para esta comunicação, analisarei algumas músicas e discursos dos integrantes e bandas da cena local que acionam tais estratégias. Palavras-chave: rock, Goiânia, representações. O Visual e o Sonoro: narrativas cruzadas expressando uma retórica de poder e sedução Dra. Ana Guiomar Rêgo Souza EMAC/UFG [email protected] Esta comunicação resulta de investigação sobre a Procissão do Fogaréu da cidade de Goiás. Busca-se por meio da construção e do cruzamento de narrativas visuais (série fotográfica) e de narrativas sonoras (paisagem sonora) identificar representações de poder e de identidades expressadas na situação retórica da procissão. Da narrativa visual emerge a dimensão do espetáculo e a estética dionisíaca produzida pelo contraste entre cores fortes, fogo, trevas, e pelo estranhamento causado pelos farricocos. Da paisagem sonora emerge a percepção do movimento, da tensão crescente, da heterogeneidade, enfim, das efervescências que definem a dimensão social da “festa”. Mas é a partir do cruzamento de ambos os discursos que a retórica do poder e sedução se dá a ver em sua plenitude. Palavras-chave: procissão, narrativas, fotografias. 93 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais A modinha em Fortaleza: Tensões musicais entre os modinheiros no final do século XIX e início do XX. Ana Luiza Rios Martins Mestranda em História e Culturas/ UECE [email protected] Temos por objetivo compreender a relação estabelecida entre os modinheiros, (letristas e/ ou melodistas), suas modinhas, a cidade de Fortaleza e o tecido social envolvido nessa trama sonora. Para tanto, pretendemos desvendar nessas músicas os contrastes sociais, os enfrentamentos cotidianos de mulheres e homens pobres, as representações dos espaços de lazer e dos seus freqüentadores. Essas identificações ocorrem a partir das tensões de duas formas de se fazer modinha na cidade de Fortaleza, uma ao piano, outra ao violão. As dimensões dessa diversidade de modinhas poderão ser sentidas nas diferenças comportamentais, na multiplicidade e na fluidez das identidades, na divergência e ou convergência entre os discursos e as práticas dos modinheiros. Das modinhas coletadas, serão discutidas as que foram produzidas entre os anos de 1888 a 1920, período selecionado pela intensificação dos confrontos de idéias entre os modinheiros. Palavras chave: música, cotidiano, insubmissão. Além do olhar: um percurso da fotografia documental dentro de uma instalação vidéográfica Anahy Mendonça Jorge (UFG) [email protected] O trabalho visa acompanhar o percurso prático do vídeo instalação Além do olhar que apreende como material escultórico, documentos fotográficos de mulheres canadenses e brasileiras coletadas em dois museus institucionais: Museu McCord e Museu Paulista. O período das imagens apreendidas compreende os anos de 1860 a 1930. O estudo visualiza os processos artísticos adotados sobre as imagens da história como veículos de uma poética sobre a sobrevivência das imagens femininas em dois espaços geográficos, o Canadá e o Brasil. Apreende a prática artística em questão - coleta de imagens, tratamento e espacialização - como vetor importante para a compreensão da obra. O viés da historia se materializa desde a coleta de imagens nos museus indicados, fontes de um imaginário importante para a sociedade, até a um encadeamento das operações adotadas ao longo do desenrolar temporal da obra. Assim, um conjunto de cem mulheres desconhecidas, oriundas de lugares e tempos diferentes, se mistura durante e dentro da obra ocasionando um processo de sobrevivência, de anamése. Palavras chave: vídeo instalação; sobrevivência de mulheres; anamése. 94 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais BANDA SINFÔNICA DE BRASÍLIA: trajetória e práticas sócio-culturais (1961-85). Marcos Wander Vieira Araújo Mestrando do PPG/MUS da UNB [email protected] Beatriz Magalhães Castro Universidade de Brasília [email protected] Segundo Salles (2004), a banda de música é a mais antiga e a menos estudada instituição atuante na criação, prática e divulgação da música no Brasil. Neste sentido esta comunicação tem como objetivo investigar a trajetória histórica, social e pedagógica da Banda Sinfônica de Brasília (primeira banda civil sinfônica da cidade). Construída no âmbito do ensino público, o seu desempenho artístico, cultural e social estende-se entre 1961 a 1985, culminando com a obtenção do 1º Prêmio no II Concurso Nacional de Bandas promovido pela FUNARTE em 1978, fato inédito para uma instituição com tradição artística recente. A partir de extenso corpo documental apoiado sobre narrativas de ex-membros, esta investigação propõe uma análise histórico-interpretativa buscando compreender ainda a sua relevância na trajetória pessoal dos seus ex-integrantes. Visa ainda contribuir para a preservação e compreensão da memória musical da cidade, sublinhando o impacto social de ações na cultura e da sua relevância para o desenvolvimento de ações futuras como elemento formativo de identidades fundamentadas em práticas da cultura. Palavras-chave: Banda Sinfônica de Brasília; preservação e memória; práticas musicais na cultura. A pintura e o tempo através da poética & narrativa iconográfica de Julio Ghiorzi: pintura gêmeas Camila Rodrigues Viana Ferreira Universidade Federal de Goiás. [email protected] O dialogo a ser estabelecido nesse trabalho será entre a obra de Ghiorzi: Pintura Gêmeas e sua relação no e com o tempo/espaço. Para que tal desempenho seja possível será necessário estabelecer um cruzamento entre Teoria da Arte, Memória e Psicanálise através da narrativa histórica. A problemática da temporalidade na pintura revela-se na obra de arte sob a figura do tempo anacrônico. Os estudos de Didi- Hubermam e Mario Perniola tratam da questão da pintura e da arte em geral pelo viés da ultrapassagem da abordagem contextualista, a obra de arte nesse sentido poderá acionar diversas temporalidades, fazendo-se assim uma anacrônia ou criando seu próprio tempo. A obra em questão reconhecidamente de caráter histórico, trata de investigar as relações entre séculos XVII, XIX e XX nas confluências entre 95 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Velázquez – Hals - Manet, Pollack – Warhol. Palavras-chave: Teoria da Arte, memória, Psicanálise, narrativa histórica. Uma leitura de Debret no Ensino da História Edriane Madureira Daher Mestranda - UnB Penso que para compreender a narrativa do pintor francês Jean Baptiste Debret em relação à escravidão, é importante conhecer um pouco das matrizes culturais e intelectuais dos séculos XVIII e XIX que influenciaram o seu fazer artístico. Acredito ser importante também, compreender de que forma essas representações atuam ainda hoje, sobre o imaginário das pessoas. Nesse sentido, este trabalho de pesquisa busca compreender como os professores de História do Ensino Fundamental da Rede Pública do Recanto das Emas, Distrito Federal, interpretam as imagens da escravidão em Debret. A partir da pesquisa qualitativa procuro identificar quais as relações histórico-culturais eles estabelecem no tempo presente e como se dá o uso da imagem artística no ensino da História. Palavras- chave:: Representação, Imaginário e Ensino de História. Eisenstein e seu tempo; o tempo em Eisenstein Eloíza Gurgel Pires Universidade de Brasília [email protected] Em um território fronteiriço entre o pensamento e o imaginário, de acordo com Walter Benjamin, o tempo se inscreve como intensidade e não como cronologia. A partir desse campo de reflexão discutirei o cinema de Sergei M. Eisenstein (1898 – 1948), cineasta russo que se tornou um marco na história do cinema, pela sua eloqüência ao formular aquilo que posteriormente ficou conhecido como “montagem intelectual” ou “montagem dialética”. Para tanto, tentarei estabelecer um diálogo entre os campos da Arte, da História e da Comunicação, com o propósito de abordar o caráter narrativo da experiência temporal nos procedimentos de montagem desse cineasta. Em Eisenstein a linguagem cinematográfica constrói o tempo, assim como o tempo é elemento constitutivo da própria linguagem. A singularidade da obra do cineasta russo está no entendimento do tempo a partir da linguagem, como ocorre na relação estabelecida por Benjamin entre memória e linguagem. Sobre as concepções desse autor nos diz Gagnebin: “Pensar o tempo significa, portanto, a obrigação de pensar na linguagem que o diz e que ‘nele’ se diz”. Pensar o cinema de Eisenstein significa pensar o seu tempo e o tempo que nele se diz. Palavras-chave: Cinema eisensteniano; narrativa; memória. 96 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Nos rastros da memória, ou a escritura como a historicidade do discurso da tradição Elzahra Mohamed Radwan Omar Osman (UnB) [email protected] Marcos de Jesus Oliveira (UnB) Talvez a história tenha sido um dos campos de estudos que mais se aproximou daquilo que a arte pretendeu no século XX: a revolução nos modos de compreender e de dizer o gênero humano e sua produção de pensamento, seja através do alargamento da concepção de humano e de objetos de conhecimento, seja através do alargamento da concepção de arquivo, fonte, memória. Historiar seria, portanto, assumir a historicidade do discurso da tradição. Não é isso que nos propõe Jacques Derrida com suas noções de escritura, rastro e pulsão de arquivo? Não estaria o filósofo francês, com seu fio de Ariadne, nos instigando a trazer à presença da leitura o traço da crítica que constrói a memória e, finalmente, a história, evitando, assim, petrificar o significante na letra? Escritura e história se confundem, sendo elas a presença do leitor tecendo a memória e a des-memória, o mal de arquivo, a impossibilidade de legar ao indecidível o seu lugar de potência da linguagem. Palavras-chave: escritura; mal-de-arquivo, Jacques Derrida. O papel da obra literária dentro da História: uma leitura do ensaio Literatura de Dois Gumes, de Antônio Cândido Fernanda Freire Coutinho Mestrando em Literatura - UnB [email protected] Pensando em literatura de dois gumes, podemos perceber que a literatura no Brasil tanto serviu para subjugar como, posteriormente, para levar a uma independência (ao menos social e de consciência de nação individual). A literatura é um produto da história sem deixar de ser um produto de si mesmo. Não se pode analisar a literatura desconsiderando a história, mas é preciso perceber sua lógica autônoma, aonde seu teor histórico vai muito além da simples narração de fatos e se torna material próprio da literatura, se misturando em sua forma, seu sentido, sua construção e mesmo em sua finalização estética. Assim sua função não é a de apenas “contar a História”, ainda que muitas vezes seja possível traçá-la a partir do que a obra literária descreve. A literatura explica e serve a si mesma, ainda que não deixe de ter ligações com a vida social e o momento histórico nos quais se insere. Palavras - chave: Literatura, História, função literária. Vinte anos de história da abordagem triangular 97 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Fernanda Pereira da Cunha (UFG) Na década de noventa do século XX, foi concebida e sistematizada no Brasil, pela professora Dra. Ana Mae Barbosa, a Proposta Triangular, voltada o ensino das artes e hoje, não só difundida por todo o país, como também, objeto de estudo de vários profissionais nessa área de conhecimento. A Proposta estabelece um diálogo “com o discurso global e o processo consciente da diferença cultural entre as nações” (BARBOSA, 1998, p. 33), o qual interage com três abordagens sistematizantes do ensino de artes. A saber, as “Escuelas al aire libre mexicanas; o critical Studies inglês e o Discipline Based Art Education - DBAE americano. Essa abordagem é histórica no Brasil pois, há vinte anos, inúmeros professores brasileiros e até mesmos estrangeiros, se dedicam a estudá-la, debatê-la e exercê-la em suas salas de aula. A partir dessa abordagem, a problemática de minha investigação centra-se em verificar e registrar o trajeto da Proposta Triangular durante esse tempo espaço de seu exercício, em nosso país. Palavras Chave: Arte educação, Proposta Triangular, cultura, história. A historiografia da música popular brasileira na obra radiofônica de Almirante Giuliana Souza de Lima Mestranda em História Social (FFLCH-USP) [email protected] Este trabalho trata da historiografia da música popular brasileira na primeira metade do século XX através da obra de Almirante (Henrique Foreis Domingues, Rio de Janeiro, 19081980). Além de contribuir para a profissionalização programação radiofônica, Almirante constitui uma “primeira geração de historiadores da música popular brasileira”. Seus programas abrangem do folclore à música urbana veiculada pelo rádio, e são baseados em pesquisas que formam um vasto arquivo sobre música popular, que depois integra o Museu da Imagem e do Som (MIS-RJ), em 1965. Almirante, com outros nomes de sua geração, foi responsável pela seleção, organização e arquivamento de registros, estabelecendo hierarquias, recortes, e assim, um discurso fundador em torno da história da música popular brasileira. Esta “historiografia” é singular por se realizar num meio de comunicação em massa, e também inovadora, por compreender a importância da música popular para a formação das identidades culturais e entendê-la como um objeto de estudo. Interessa, assim, abordar a obra de Almirante no que tange sua contribuição à historiografia da música popular, através de sua atuação no rádio, de 1938 a 1958. Palavras-chave: historiografia, música popular, rádio Leandro Joaquim e o mar: uma possibilidade de compreensão da pintura de paisagem do Rio de Janeiro no século XVIII. 98 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Helder Manuel da Silva de Oliveira Doutorando – UNICAMP [email protected] O presente texto tem como objetivo abordar o diálogo artístico entre Brasil e Europa, tendo como estudo o conjunto de seis telas atribuídas ao pintor Leandro Joaquim (1738? -1798?) e que fizeram parte da decoração dos pavilhões do Passeio Público, construído entre 1779 e 1783 por iniciativa do Vice-Rei Luís de Vasconcelos. As obras representam vistas da cidade do Rio de Janeiro e se qualificam como um importante registro paisagístico de motivos associados à temática do mar e estreitamente relacionados às novas concepções iluministas sobre a representação da paisagem do século XVIII. Deste modo, o estudo possibilita uma análise sobre o contexto histórico-artístico e quais modelos serviram de referência para o pintor que abandonou a representação religiosa em prol de uma pintura de paisagem. Palavras-chave: pintura de paisagem; arte século XVIII; arte século XVIII-Brasil. “Decifra-me ou devoro-te”: a compreensão histórica e o processo de reconstrução do passado Itamar Cardozo Lopes Mestrando em História – UNESP/Assis [email protected] O objetivo desta comunicação é partilhar uma breve reflexão teórico-metodológica sobre as especificidades envolvidas no trabalho do historiador. Partindo de uma experiência concreta de pesquisa e de uma visão de história particularmente sensível à dimensão humana das vidas pretéritas, procura-se discutir algumas posturas historiográficas que seriam fundamentais em toda e qualquer tentativa de se pensar e de se escrever sobre o passado. Palavras-chave: compreensão histórica; metodologia; subjetividades. As vivências musicais soando nos jornais de São Luís na segunda metade do século XIX. João Costa Gouveia Neto UEMA [email protected] Nos idos da segunda metade do século XIX, em São Luís, capital da província do Maranhão, os grandes difusores de ideias e de informações eram os jornais e periódicos que circulavam na capital maranhense. Durante o dito século, a imprensa aprimorou-se e ganhou espaço entre os poucos letrados que o Império Brasileiro detinha naquele presente. E foram nas páginas dos jornais que as vivências musicais soaram entre os letrados, estimulando, assim, os(as) ludovicenses a comprarem partituras, instrumentos musicais e estudarem a lingua- 99 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais gem musical para parecerem ainda mais civilizados, modernos e cultos. Nessas fontes eram veiculados os espetáculos líricos, a venda de partituras, de instrumentos musicais, aulas de música ministradas por professsores particulares, anúncios de afinadores de pianos e de alguns luthiers. A moderna musicologia histórica já entende que música não é somente som e que a palavra, o nome é tão importante para o entendimento das vivências musicais e da inserção destas em uma sociedade quanto às notas musicais. Assim, este trabalho tem como finalidade apresentar as vivências musicais que fizeram parte do ambiente cultural das elites ludovicenses nos idos da segunda metade do século XIX. Palavras-chave: vivências musicais, jornais, século XIX. “Pessoal do Ceará”: a imprensa e os indícios das influências sócio-culturais sobre seu fazer musical Jordianne Moreira Guedes Mestranda em História da Universidade Estadual do Ceará. [email protected] A pesquisa que ora se apresenta investiga o fazer musical do “Pessoal do Ceará”, movimento de artistas que transitaram entre a universidade, os festivais musicais, a boêmia e os meios de comunicação, em Fortaleza, em meados da década de 1960 e em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo a partir do início da década de 1970. A discografia de Belchior, Ednardo, Fagner, Rodger Rogério e Téti, de 1973 a 1981, junto a matérias da imprensa, a iconografia dos encartes dos discos, entrevistas temáticas com os artistas citados são as fontes do trabalho. Entendendo “fazer musical” como processo e resultado de múltiplas influências sócio-culturais que incidem na obra musical, num determinado tempo histórico, essas múltiplas influências são observadas a partir das relações sociais estabelecidas pelos sujeitos criadores da obra de arte e do acesso dos mesmos aos bens culturais disponíveis em suas sociedades. Este artigo aborda os indícios dessas influências a partir do registro na Imprensa, do período destacado, seja através de matérias sobre os artistas, seja através da fala dos mesmos quando entrevistados. Palavras chaves: fazer musical, bens culturais, Imprensa Imaginário e Processos Identitários - um enfoque das rodas de choro nas primeiras décadas de Brasília Magda de Miranda Clímaco (UFG) [email protected] Esse trabalho tem como objeto uma pratica musical – a roda de choro - que interagiu com as primeiras décadas da cidade de Brasília, observada na sua capacidade de evidenciar representações sociais (CHARTIER, 1990), ou seja, de ser abordada como um dos processos 100 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais simbólicos que se articularam para constituir esse cenário sócio-historico e cultural. Essa abordagem permitiu perceber peculiaridades inerentes a essa prática, que revelaram um lócus forjador de identidades relacionado a migrantes cariocas que vieram residir na nova capital. Através do cultivo de uma musica no estilo improvisatório, alegre e descontraída, que acontecia num clima de afeto e descontração, esse grupo teve condições de evidenciar não apenas o que era, mas também a maneira como gostaria de viver na cidade minuciosamente planejada, racionalizada e funcional que emergia. Um processo implicado com uma reconstrução de identidades, portanto, com a memória, com o imaginário percebido nas suas três dimensões - a real, a utópica e a ideológica (PESAVENTO, 1995; 2000; 2003). Palavras-chave: Imaginário; Processos Identitários; Rodas de Choro. Ferreira Gullar - poesia e artes visuais Marcelo Mari FAV/UFG [email protected] O contato do poeta Ferreira Gullar com as artes visuais se inicia de modo intuitivo através de reproduções em revistas e dos quadros de pintores do Maranhão. Somente em 1950, quando adquire uma cópia da tese de Mário Pedrosa através de Lucy Teixeira, amiga de ambos, é que começa a estudar a arte de forma mais rigorosa. Ademais, com sua chegada ao Rio de Janeiro pôde tomar parte dos grandes acontecimentos culturais que por aqui se instalavam - oportunidade sem precedentes, pois com a fundação dos museus de arte moderna e da Bienal de São Paulo, pôde se ver, pela primeira vez em nosso País, a arte que se produzia no mundo e em particular na Europa desde o começo do século XX. A confluência entre poesia e crítica de arte, ou entre poesia e artes visuais, foi um fenômeno único na história da arte brasileira, no qual Ferreira Gullar participou ativamente. Sendo assim, através do conjunto de características que constituem a elaboração poética de Ferreira Gullar, temos acesso à sua concepção particular atribuída às artes em geral, durante o período de formação e desenvolvimento do concretismo e do neoconcretismo. Palavras-chave: Ferreira Gullar, poesia, arte neoconcreta. Escritos Tanatológicos de um poeta: comportamentos frente à morte no início do século xx em Teresina Nercinda Pessoa da Silva Brito Universidade Federal do Piauí [email protected] O trabalho tem o objetivo de analisar atitudes da sociedade de Teresina, capital do Piauí, frente à morte, no início do século XX. Perscruta a morte na sua historicidade, expressando as 101 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais apropriações culturais sobre esse fenômeno natural no curso do tempo. Nesse intuito, lança sobre a escrita de Lucídio Freitas, poeta piauiense que confere a temática da morte lugar primordial no seu poetar, mais especificamente a sua obra Minha terra (1921), publicada poucos dias antes de sua morte. Busca desse modo, uma interrelação entre o viver e o morrer desse poeta, intermediando o mundo por ele elaborado através da escrita e o mundo social que o cercava. Trata da apreensão das representações da morte na obra do poeta, compreendendoas como possibilidades do real, ou seja, a escrita do autor, em análise, representa possíveis práticas de como a morte foi vivenciada pela sociedade teresinense. Palavras-chaves: morte, Literatura, Lucídio Freitas. Objetos históricos e atribuição de valor no acervo do Museu Histórico Nacional Rafael Zamorano Bezerra (UFRJ) [email protected] A comunicação almeja apresentar uma análise sobre atribuição de valor histórico em dois objetos do acervo do Museu Histórico Nacional (MHN). Tratam-se dos seguintes objetos: 1) retrato a óleo de d. Pedro II, rasgado a golpes de sabre na ocasião da proclamação da República; 2) tacape atribuído a Martin Afonso Tibiriçá, personagem da história da fundação de São Paulo. Pretende-se levantar algumas questões sobre a atribuição de “valor histórico” a estes objetos, bem como seus usos em exposições e restaurações. Essa comunicação é o primeiro resultado de parte da pesquisa de doutoramento, que se dedica ao estudo da atribuição de valor histórico em coleções de museus de história. Pretende-se analisar como se deu a legitimação e a atribuição do “valor histórico” em alguns objetos no momento de formação das coleções do MHN. Pretende-se também analisar as mudanças de significados históricos e os usos desses objetos em seus momentos fortes, desde sua musealização até o período mais recente, quando o discurso dos chamados “museus tradicionais” começou a ser questionado. Palavras-chave: Museus de história, valor histórico, objeto histórico Ordem, exotismo e raça – representações “ do outro” na província prussiana (1900 – 1940) Wolfgang Döpcke (UnB) [email protected] Objetivo deste trabalho é identificar e interpretar as significações sociais e culturais atribuídas aos artefatos etnográficos, apresentados ao publico nas exposições de um museu regional heterogênico no norte da Alemanha na primeira metade do século XX. É senso comum na museologia pensar que o artefato, esta raison d´être do museu, não fala por si, mas que o próprio museu constrói e atribui significados aos objetos - e com isto, ao mundo - através da sua prática museológica. Museus criam representações e atribuem valores e significados de 102 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais acordo com a cultura e a historia, esquemas classificatórios e discursos subconscientes. Um museu não apresenta simplesmente objetos na sua forma física, mas divulga idéias sobre o mundo através destes objetos. Entretanto, o processo de construção de significado através de linguagem e exposição é, na prática, como demonstra nossa pesquisa, bastante complexo e multidimensional. Nele se cruzam topoi diversos (ordem, hierarquias, raça, ciência versus mito, evolução, colonialismo, entre outros) e contextos múltiplos: o revisionismo colonial, os debates epistemológicos na etnologia e, principalmente, na pré-história germânica, a entrada do pensamento nacionalista (völkisch) nas ciências sociais, a Gleichschaltung (“sincronização”) da vida pública e acadêmica pelo Nacional-socialismo, bem como trajetórias de indivíduos com suas convicções, resistências e oportunismos. Mostra-se no trabalho, através do analise de exposições etnográfica específicas do período entre 1900 e 1940, como estes contextos e topoi nortearam a criação de representações de outras culturas e com isto, como imagem inversa, da cultura própria. Palavras-chave: museu, representação, cultura, história. 103 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 10 História e Música – novas possibilidades e ler e ver o passado A música e a indústria cultural Adriana Iop Bellintani Pós-Doutoranda pela UnB [email protected] A cultura serve para a produção de bens funcionais, sendo mais ampla que a arte, abarcando a publicidade, a arquitetura, e a moda. A economia da cultura é entendida como um processo de radiação, que se alastra a partir das artes visuais. A economia da cultura é impulsionada pela indústria cultural, que envolve e monopoliza a atividade criativa. A indústria cultural é caracterizada pela revolução industrial, pelo capitalismo liberal, pela economia de mercado e pela sociedade de consumo. A indústria cultural, a comunicação de massa e a cultura de massa surgem com a industrialização. É no conteúdo da indústria cultural que está o seu diferencial. Assim a indústria cultural e os movimentos culturais podem ser alienados? Como ocorre a ação e reação entre o movimento criativo e cultural e a indústria cultural? O tropicalismo, por exemplo, é uma inovação maior que a bossa nova, um novo estilo de MPB e de viver, e como tal um movimento revelador ou preso a ação da industria cultural? O disco “panis et circensis” (1968) feito por Caetano Veloso, Torquato Neto, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes, Rogério Duprat, é um manifesto de inovação artística, estética e cultural. As músicas tropicalistas fazem forte crítica contra a política vigente, e ao mesmo tempo inserem-se no contexto da indústria cultural e das multinacionais da cultura. Palavras chaves: Cultura – indústria cultural - tropicalismo Brasil moreno: música popular e memória da construção da identidade nacional brasileira em regiões de imigração alemã Alessander Kerber Professor adjunto da UFRGS [email protected] No decorrer dos anos 1930, o rádio e, em menor escala, a indústria fonográfica, foram fundamentais no processo de reconstrução e massificação da identidade nacional brasileira. A escolha de símbolos que remetem à miscigenação, especialmente entre o português e o negro, como representações nacionais ocasiona um processo de inclusão simbólica de determinados grupos sociais à nação e a exclusão de outros. As canções populares que apresentavam representações do Brasil e tiveram maior sucesso durante Estado Novo remetiam, em geral, a esse processo de miscigenação. Nesse trabalho, proponho a apresentação de resultados parciais de meu projeto de pesquisa intitulado “Representações musicais e mídia sonora na construção de identidades ligadas ao espaço geográfico: a nação, a região, a cidade (1930– 1945)”, focando a memória dessas canções entre pessoas que viveram em regiões marcadas 104 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais pela imigração alemã durante esse contexto. Palavras-chave: música popular, memória, identidade nacional brasileira Música e identidade em Goiânia: do country ao rap Allysson Fernandes Garcia Professor da UFG [email protected] Pretendo comunicar uma história de um embate cultural ocorrido na segunda metade da década de 1990 em Goiânia capital do Estado de Goiás. O embate envolveu de um lado a intenção do poder público animado por uma organização de empresários a intitular a cidade de ‘Goiânia Country’ e de outro a afirmação negociada através de práticas musicais de juventude, de uma identidade plural e hibrida para os goianienses. Focalizo a crítica elaborada através do rap, catalisador dos anseios de uma parcela da juventude em geral sem voz para decidir sobre a organização da cidade e, sobretudo nas definições de políticas públicas que lhes dizem respeito. Processos de Hibridação e de Identidades: Um estudo do CD FOGARÉU do músico goiano Bororó Ana Guiomar Rêgo Souza Professora da Graduação e do PPG em Música da UFG [email protected] Manassé Barros Aragão Aluno especial do Mestrado em Música da Escola de Música da UFG. Esta comunicação resulta de pesquisa desenvolvida sobre o músico e contrabaixista goiano Bororó, batizado como Dimerval Felipe da Silva. Do contato com a música de Bororó constatou-se o caráter híbrido da sua produção musical, o que gerou o interesse em investigar os trânsitos culturais privilegiados pelo compositor, suas configurações em termos musicais, bem como as experiências existenciais das quais resultaram produtos de natureza híbrida. Para tanto foi delimitado como universo da pesquisa o conjunto de canções e peças instrumentais que integram o CD Fogaréu de Bororó. Procedeu-se à análise dos aspectos lingüísticos em cruzamento com aspectos relacionados às vivências do compositor e às experiências formadoras da estética musical de Bororó. Com base em Canclini, concluiu-se que a “goianidade” da obra de Bororó se afasta de concepções essencialistas traduzidas pela incorporação única de elementos do folclore regional; afasta-se igualmente de determinadas posturas que entendem como estanques as dimensões da chamada música erudita e música popular. 105 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais O tango argentino entre Borges e Piazzolla: literatura e música, tradição e vanguarda, memória e cidade Avelino Romero Pereira Professor de História da Música (Unirio) Doutorando em História Social (UFF) [email protected] Sob a história cultural e social, a interseção entre música e literatura permite acessar a complexidade do debate identitário argentino. Borges e Piazzolla foram parceiros na criação do LP El Tango, de 1965. Outras aproximações mais complexas são possíveis entre escritor e músico, cuja convergência de princípios aponta um mesmo ethos vanguardista: a convicção nas opções estéticas e o tom militante com que as defendem; o compromisso com a inovação em meio à tensão entre tradição e vanguarda inscrita nas obras; a criação artística como exercício de intertextualidade sobre referências que oscilam entre a cultura urbana de Buenos Aires e tradições ocidentais; a recusa do localismo pitoresco e a abertura ao cosmopolitismo como saída para a criação artística em ambiente cultural periférico; o tango como fonte e campo cultural com o qual se defrontam. Na leitura e compreensão do tango dá-se o confronto e o distanciamento entre os dois artistas, documentado em declarações intempestivas e alfinetadas mútuas. O nuevo tango de Piazzolla é a releitura vanguardista da tradição do tango sentimental, atualizado para a Buenos Aires dos anos 50 e 60. Essa mesma tradição é repudiada por Borges, que evoca um tango suburbano e valente, equidistante do sentimental e dos mitos rurais da nacionalidade. A “OPINIÃO” do CPC da UNE: pré-(anti)tropicalismo? Diego de Moraes Campos Mestrando em História pela Universidade Federal de Goiás - UFG [email protected] A presente comunicação visa pensar no LP “Opinião”, como uma obra resultante da experiência artística, e política, que foi o CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE, no pré-64. Apresentarei o CPC, enfocando sua relação com campo intelectual em torno do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) e seu discurso sobre o “intelectual engajado” na “realidade nacional”. Como muitos tropicalistas passaram pelo CPC, problematizo se o CPC foi apenas a raiz das “vaias” à Caetano Veloso no Festival de 1967, ou se, ao procurar misturar os “brasis” (representados, no musical “Opinião”: pelas figuras de Zé Kéti, João do Vale e Nara Leão), não seria, também, um dos aspectos para se pensar na ebulição da Tropicália. Assim, proponho uma reflexão que se guie nessa via de mão dupla, para pensarmos a cultura brasileira nos anos 60. 106 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Engajamento e desbunde: música popular e política nos anos de chumbo Eleonora Zicari Costa de Brito (UnB) [email protected] O panorama da música popular no Brasil dos anos 60 e 70 do século passado nos permite mergulhar numa diversidade de discursos musicais que expressavam posicionamentos críticos frente à realidade em questão. A ânsia por dizer algo está presente no que encontramos nos repertórios de Elis Regina e Taiguara, por exemplo, mas também naqueles voltados ao excitamento de uma revolução comportamental, visíveis na experiência da Jovem Guarda assim como na do grupo musical Mutantes. Sem qualquer intenção de igualar essas diferentes formas de expressão musical, o que proponho é observá-las em suas especificidades, pondoas em diálogo com o seu tempo, mas compreendendo as práticas/discursos de que fazem uso como estratégias políticas que ora dialogam com uma postura crítica mais tradicional, ora percorrem o caminho de uma crítica mais livre e nem por isso menos corrosiva. O fato é que naqueles anos de forte censura a tudo o que parecesse subverter a ordem, nossos artistas colocaram em prática as mais diferentes formas de oposição ao estabelecido. Palavras-chave: música, anos de chumbo, engajamento, desbunde. Música, tradição e incorporação do/ao universo urbano contemporâneo de cantadores – Reinvenção e Tradição Prof. Dr. Francisco José Gomes Damasceno Hannah Jook Otaviano Rodrigues Rafael Antônio Oliveira de Souza Marília Soares Cardoso Leopoldo de Macedo Barbosa A cantoria faz parte da cultura brasileira desde tempos coloniais e, aponta-se sua existência desde os aedos gregos, tendo uma forte presença e suas origens mais próximas ainda no mundo medieval, nos menestréis e trovadores, de onde teriam “migrado” para O Brasil e particularmente o Nordeste Brasileiro. Incorporada às culturas populares brasileiras desde então, nos anos 60 do século XX começa a passar por transformações que a projetam no atual contexto de forma viva, dinâmica e não menos importante do que tantas outras manifestações. Para tanto tem incorporado os meios de comunicação de massa, sobretudo a TV e o rádio de forma persistente e sistemática. Muitos são os cantadores que tem assumido esse processo, gravando CD’s, DVD’s, fazendo programas e mantendo a tradição da cantoria viva nesses meios e nos seus “lócus” mais tradicionais. Neste trabalho algumas canções serão 107 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais apresentadas com o intuito de apresentar estes sujeitos sociais importantes e algumas das características de sua arte. Palavras-chave: Cantadores, tradição, incorporação, música, mídias. Sobre a noção de gesto musical como ferramenta para os estudos históricos Frederico Machado de Barros Doutorando em Sociologia pela USP [email protected] O trabalho busca fazer uma discussão exploratória de como a noção de gesto musical pode vir a ser útil para estudos de música a partir de uma perspectiva da história e das ciências sociais num sentido amplo. Para tal, é feito um esforço de delimitação da categoria gesto musical com base na discussão de um exemplo retirado do filme Green Card (1990). A partir deste exemplo, espera-se mostrar como a noção de gesto musical é ao mesmo tempo aberta o suficiente para alcançar diferentes elementos constituintes do discurso musical e específica o suficiente para permitir delimitar e rastrear tais elementos em suas relações com o contexto musical e social mais amplo em torno deles. Clara Nunes entre a mestiçagem brasileira e o canto atlântico Jefferson William Gohl (UNB) Professor de História Contemporânea na Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória, Mestre pela Universidade Federal do Paraná UFPR [email protected] O presente trabalho pretende refletir sobre as canções interpretadas por Clara Nunes, no fim da década de 1970 e inicio dos anos 1980, assim como a tensão existente entre as noções de mestiçagem que tal trabalho implicava no Brasil e a perspectiva de um canto atlântico, que se volta sobre a África na busca de laços de afinidade ou afetivos que significavam novas imagens frente a África que se apresentava naquele contexto. A metodologia se pauta pela escolha do disco de 1976, Canto da três raças, como marco, e segue a partir daí capturando as referências explícitas, anteriores e posteriores, à África e a Angola nos discos Forças da Natureza, Guerreira e Clara Esperança, entendendo que estas obras correspondem à fase em que a artista tem seu trabalho amadurecido e uma autonomia de escolha de repertório, em que as canções de Paulo Cesar Pinheiro, Mauro Duarte, Eduardo Gudin e Chico Buarque compõem uma determinada percepção do continente africano e das possibilidades de pertença ou identificação que Clara Nunes encarna e faz viver a um público ouvinte alargado por meio de seu canto. 108 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais A tradição na Escola do Bandolim Brasileiro Jorge Antonio Cardoso Moura Mestrado em Música pela UnB [email protected] O tema da presente comunicação será contextualizada na cidade do Rio de Janeiro a partir de 1870, com o nascimento do choro como gênero musical popular. A abordagem conceitual e histórica referente à Escola do bandolim brasileiro foi motivada pela atividade profissional do autor como músico. Para a análise serão investigados os conceitos estéticos, contextuais e tecnológicos que influenciaram na consolidação da escola musical em questão. A tradição oral no aprendizado musical, a importância de Jacob do bandolim, o conceito de tradição e a análise das fontes de pesquisa serão os elementos utilizados no trabalho. Os modos e práticas musicais onde se insere a referida atividade serão relacionados com a sua evolução histórica e tradição. Torna-se necessário reconhecer quais motivos justificaram as relações sociais, históricas e musicais. Palavras-chave: Bandolim, Tradição, Choro. A subjetivação do político: poesia e crítica nas canções de Cazuza. Leidiane Lopes de Souzaleidy [email protected] Este artigo pretende evidenciar que uma música, enquanto artefato sócio-cultural, não aborda um teor crítico somente na linguagem textual em que é expressa. Para tanto, tomará duas composições produzidas na década de 80, período em que o rock nacional encontrava-se em um momento de efervescência e que, mesmo se realizando no ambiente da Indústria cultural fora capaz de mobilizar elementos de crítica social, divertimento e poesia. São elas: “Pro dia nascer feliz” (apresentação realizada no Rock n’ Rio de 1985) e “Brasil” (interpretada no show Ideologia em 1988). A discussão dialoga com o conceito de transfiguração do político cunhado por Maffesoli para quem o político também se encontra nos detalhes do cotidiano e das experiências afetivas. Outro mote da reflexão, que virá a contribuir na análise proposta pelo sociólogo francês- sobretudo na primeira canção, recaí sobre a importância da performance na configuração dos sentidos. Assim, ambas as produções musicais revelam, cada uma a sua maneira, como o Brasil estava sendo pensado, por parte de um grupo de jovens, no seu processo de redemocratização. O frevo entre a marcha e o jazz: a invenção de uma música que “nenhuma terra tem” Lucas Victor Silva Professor da Faculdade Integrada do Recife e nas Faculdades Integradas da Vitória de Santo 109 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Antão. [email protected] A invenção do frevo enquanto gênero musical é produto da contínua busca da geração de trinta pela identidade nacional brasileira e pela modernização do país. O discurso científico e literário procurará interrogar sobre os mais diversos aspectos do Brasil, entre eles, sua cultura e suas tradições, como o carnaval. Festejada por intelectuais, artistas e autoridades municipais e estaduais, a Federação Carnavalesca surgiu, em 1935, como uma entidade compromissada com o controle de organizações populares e de manifestações culturais, bem como com a articulação de uma série de discursos e práticas que vão instituir a idéia de um carnaval autêntico e verdadeiramente popular que, ao som do frevo, deve funcionar como ferramenta de controle social e que deve ser gerido por membros das elites intelectuais da cidade comprometidos com o novo regime pós-trinta. Este é o momento também de invenção do frevo como gênero musical representativo da identidade regional, bem como instrumento de veiculação das representações conservadoras da cultura popular construídas por setores das camadas hegemônicas do Recife. Neste trabalho, discutimos a criação deste gênero musical em uma época de estabelecimento de um mercado de bens culturais e de novas práticas de controle e normatização das manifestações culturais populares. Interações tecnológicas na produção fonográfica: perspectiva histórica de alguns casos exemplares, do fonógrafo ao ProTools Marcelo Carvalho Oliveira Mestrando em Musicologia no Programa de Pós-Graduação Música em Contexto do Departamento de Música UnB. [email protected] Beatriz Magalhães Castro (UnB) [email protected] Neste artigo analisamos alguns casos-modelo em que inovações tecnológicas introduzidas no decorrer do século XX tiveram efeito direto na produção musical e fonográfica, com conseqüências que se estendem até os dias atuais. As tecnologias de gravação desenvolvidas desde o final do século XIX até meados do século XX permitiam apenas o registro de performances “reais” e completas, com todos os músicos tocando simultaneamente no mesmo espaço físico. A partir do final da década de 1940, a gravação multipista (multitrack) tornou possível a criação de “performances artificiais”, em que um só músico é capaz de gerar gravações extremamente sofisticadas em termos de massa sonora, quantidade e variedade de instrumentação. As análises de Frith (2002), Attali (1985) e Martin (1979) constituem o embasamento de nossa discussão, enquanto os ensaios de Givan (2004), Sterne (2006) e Goehr (2008) acrescentam uma perspectiva atualizada à nossa abordagem. Avaliamos a influência dos desenvolvimentos tecnológicos citados na carreira de artistas como Bing Crosby e Frank Sinatra (microfones), Louis Armstrong, Les Paul, Beatles e Prince (overdubbing e multitracking). O efeito do recurso autotune (afinação automática) na produção de cantores 110 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais e cantoras durante a década de 2000 também é abordado. Palavras-chave: produção musical; tecnologia de gravação; registros fonográficos. Taiguara e Censura, uma parceria inusitada Maria Abília de Andrade Pacheco (UnB) [email protected] Considerado uma das maiores vítimas da censura durante o regime militar, o cantor Taiguara viu-se obrigado a abandonar uma carreira no auge. A despeito da veemência desse fato, novas perspectivas de trato da questão vêm à tona a partir dos estudos culturais. Por essa trilha, chega-se ao sujeito histórico, ou seja, ao elemento participativo, indócil, renitente, cuja identidade fortalece-se no convívio com os grupos sociais com os quais se afina. Sob esse prisma, a censura motiva Taiguara a reinventar-se de forma a encontrar um discurso que o coloque em posição de interlocutor, não de silenciado. O universo criativo do cantor se expande em pesquisas rítmicas e incursões poéticas, numa peleja aflita de quem deseja ser ouvido e compreendido. O resultado desse empreendimento aponta para um artista cada vez mais comprometido com o seu tempo e dá pistas de uma censura ramificada em vários setores da sociedade, muito mais pujante que um mero organismo institucional. Palavras-chave: Taiguara, censura, MPB Memória sertaneja: as primeiras gravações do música goiana Maria Amélia Garcia de Alencar Professora Doutora da UFG [email protected] [email protected] Em meados do século XX, as primeiras gravações de música goiana em discos comerciais foram feitas em estúdios da capital paulista, pela impossibilidade de fazê-lo em Goiás. Participando de uma cena musical caracterizada pela influência da música estrangeira, especialmente as guarâneas, polcas, rasqueados e boleros, que faziam sucesso nas rádios, cantores e compositores goianos gravaram um repertório que tratava, principalmente, de temas amorosos ou das belezas da terra. È o caso do cantor e compositor Marrequinho. Em outra vertente, a cantora erudita Ely Camargo resgatava canções do folclore goiano, já que o movimento folclorista também estava em alta naquele período. Assim, a tradição da música gravada em Goiás não se liga à tradição da música caipira ou “de raiz”, mas a uma tradição sertaneja que terá desdobramentos diversos a partir dos anos 70. Maria Maria: de retalho em retalho, 111 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais um retrato de Brasil Mateus de Andrade Pacheco (UnB) [email protected] Em 1976, Milton Nascimento compôs a trilha sonora do espetáculo de estréia da companhia de dança Grupo Corpo: Maria Maria. Valendo-se de canções e textos, essa trilha construía a personagem Maria para contar a história de tantas outras mulheres e do próprio Brasil. Lançar luz sobre a trilha Maria Maria traz à tona modos de perceber a realidade brasileira naquele momento e a repercussão do diálogo de Milton Nascimento com outros campos da arte em seu fazer de compositor/cantor.Tais questões nos encaminham a reflexões sobre a pluralidade de sentidos que se pode atribuir a uma canção a partir de sua localização na trama de um espetáculo, show ou álbum. Palavras-chave: Milton Nascimento, espetáculo, trilha sonora. “Um passo plugado no mundo inteiro”: Indícios do Moderno e do Global nas canções do carnaval baiano (1970-2010) Rafael Rosa (UnB) [email protected] Há desde a década de 30 do século XX, no cancioneiro popular, uma forte tradição de se cantar a Bahia, sendo o principal expoente na construção dessa mítica imagem o compositor Dorival Caymmi, além de outros como Ary Barroso, Denis Brian, Assis Valente etc. Essa tradição vem sendo largamente reiterada por seus seguidores, a exemplo de Caetano Veloso e Gilberto Gil no Olimpo da MPB, bem como pelos compositores de canções para o carnaval baiano que, a partir de 1970, gradualmente transformaram o trio elétrico no principal lugar de enunciação desses discursos musicados. Nesse processo, novos signos e imagens acerca dessa mesma Bahia se insinuam num embate de representações, que se (re)atualizam sobretudo pelos índices de modernidade e pela articulação do local pelo global observado nessas canções. Palavras-chave: carnaval, globalização, trio elétrico. As imagens carnavalescas na obra de Bezerra da Silva Rainer G. Sousa [email protected] 112 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais No presente trabalho temos por objetivo expor uma faceta pouco explorada da obra de Bezerra da Silva, intérprete e músico de grande renome no mundo do samba e que teve a sua obra largamente conhecida pelas canções que representavam sistematicamente a vida nas favelas cariocas, a violência policial e a questão das drogas. Buscando uma outra frente de compreensão da sua obra, tal comunicação visa trabalhar com as letras de canções de natureza cômica, bastante presentes no seu repertório gravado, mas pouco discutidas nos estudos empreendidos sobre seu legado musical. Para empreender tal discussão, recorremos à obra do pensador russo Mikhail Bakhtin no que diz respeito a sua consideração acerca do humor e sua ocupação secundária na cultura européia da entre a Idade Média e o Renascimento. Por meio desse viés, pretendemos verificar na obra de nosso sambista as referências ao universo cômico retratado por Bakhtin no que tange ao conceito de carnavalização. Sendo assim, destacamos em diversas canções do nosso sambista todo um universo permeado por imagens carnavalescas: inversões, apelidos, palavrões e cenas grotescas, que claramente se adequam ao pensamento do autor russo. Desse modo, pretendemos também destacar uma parcela da obra de Bezerra da Silva, que, apesar de bastante importante, é pouco reconhecida e estudada. Bossa jobiniana: diálogos sobre tradição e vanguarda Tatiana de Almeida Nunes Costa Mestranda do Programa em História Social da Cultura da PUC - Rio [email protected] O presente estudo tem por objetivo pensar proximidades e distanciamentos entre algumas das composições de Tom Jobim no ano de 1958 e a tradição musical brasileira anterior à emergência da Bossa Nova. Ao invés de pensar o movimento bossanovista como um momento de ruptura brusca no cenário musical brasileiro, a intenção é identificar no processo de produção das canções uma articulação entre as idéias de “tradição” e “vanguarda” contribuindo para a existência de nuances variadas nas músicas iniciais do estilo. Assim, ao mesmo tempo em que é possível identificar obras mais voltadas para um projeto de “modernização” da canção, também é possível perceber na orientação das composições um diálogo próximo com as tradições brasileiras. Luiz Gonzaga: A música revelando Indentidade(s) Valeska Barreto Gama Mestranda em História pela UnB [email protected] A música como fonte histórica vem ganhando cada vez mais espaço nos estudos culturais, por ser um objeto capaz de (in)formar a respeito das dinâmicas sociais e sensibilidades, a partir do seu contexto de criação e divulgação. O presente trabalho procura discutir as canções do interprete Luiz Gonzaga, como fontes para se perceber a criação imagética sobre a(s) identidade(s) nordestina, em suas várias nuances. A partir das canções, essas identidades vêm sendo “criadas” e “aceitas” por quem as ouve, como medida do que seria o “ser” nordes- 113 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais tino, pois em suas narrativas (letra e ritmo) estão presentes representações das festas, das formas de louvar, de trabalhar, de viver, além de paisagens, dentre outras informações, que remetem a uma determinada região, o Nordeste brasileiro. Palavras-chave: Música, representação e Identidade. Eu, Você, João: O Processo De Parodização Da Bossa Nova Pela Tropicália Victor Creti Bruzadelli Graduado em História pela UFG. [email protected] Em seu processo de produção musical, a Tropicália sempre dialogou com as mais diversas de tradição - musicais ou não, modernas ou não -, como o Baião, a Rumba, o Samba, as Histórias em Quadrinhos, o Rock Psicodélico, entre outros. A forma como isso se deu, geralmente, foi através de um processo de ressignificação e/ou “parodização” destes elementos tradicionais. Neste trabalho busca-se analisar a forma peculiar como os músicos e intérpretes da Tropicália buscam dialogar com a tradição da Bossa Nova parodiando-a e elevando-a a um dos principais substratos de criação para essa nova proposta estética. Considerações acerca da memória, da história e da música popular Vitor Hugo Abranche de Oliveira Mestrando em História – UFG [email protected] A música popular ganha, aos poucos, mais espaço na pesquisa histórica. Traz, com ela, problematizações que podem auxiliar tanto em sua interpretação histórica quanto na investigação do contexto que a cerca. A memória é uma dessas categorias que, abordadas em conjunto com a música, podem nos mostrar a complexidade de pequenas negociações cotidianas, ou ainda as pequenas inventividades, mas que são essenciais na formação de um músico. Esse trabalho reflete sobre relação memória/esquecimento como fundamental na formação da música popular, objetivando assim ampliar o debate da interpretação tanto das manifestações musicais quanto da história. 114 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 11 Leitura do sagrado, visões da divindade – uma história cultural do religioso Espaços de luto e memória: os cemitérios militares brasileiros Adriane Piovezan Doutoranda pela UFPR [email protected] Monumentos e mausoléus representam espaços de memória. A existência do Cemitério Militar Brasileiro em Pistóia e a construção do Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial no aterro do Flamengo mostram as relações e atitudes diante da morte por parte da sociedade brasileira contemporânea. A pesquisa tem como objeto os embates provocados pela destinação dos corpos dos soldados mortos em combate durante a guerra e as discussões envolvendo as tradições populares, instituições militares e as instituições religiosas neste processo. A transladação dos corpos em 1960 e as questões referentes as discussões sobre todo o processo enfocam das mudanças e das discussões entre as questões religiosas que acabam sendo hegemônicas no tratamento dos ritos fúnebres e as questões militares, até então assumidamente laicas. Enquanto em Pistóia elementos da crença cristã dominavam o campo santo, como cruzes, já no Mausoléu do Aterro ocorre a total substituição destes elementos pelos inequivocamente cívicos e patrióticos, como também aconteceu em relação ao seu uso pela sociedade. Podemos observar como demonstrou Michel Vovelle que o período pós Segunda Guerra Mundial anulou fórmulas triunfalistas nos monumentos fúnebres, com a construção de monumentos abstratos e antimonumentos. Palavras-chave: monumentos, cemitérios militares, instituições militares. Protestantismo e Modernidade: Uma Interpretação Sócio-Histórica Eduardo Gusmão de Quadros Professor do curso de Historia da UEG e da PUC-GO [email protected] A discussão sobre protestantismo e modernidade surgiu ainda na época da reforma protestante. Tal relação foi, inclusive, utilizada enquanto argumento apologético pelas missões evangélicas. O sociólogo alemão Ernst Troeltsch fez uma discussão original do tema, em obra publicada no inicio do século XX. É esta obra, hoje clássica, apesar de pouco conhecida no Brasil, que discutiremos nesta comunicação. Palavras-chave: protestantismo; modernidade; causalidade; religiosidade 115 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais O santo dos Últimos Dias? O mártir S. Sebastião e o milenarismo no Contestado, Santa Catarina, Brasil (1912-1916) Eduardo Rizzatti Salomão Doutorando em História Social pela UnB [email protected] Na Guerra do Contestado (1912-1916) a expectativa no advento de uma época de felicidade e fartura foi manifestada pela população local. Nesse episódio, S. Sebastião, mártir cristão cuja imagem era venerada pelos rebeldes do planalto catarinense, passou a ocupar uma posição estranha à tradição católica: o mártir não seria apenas o protetor contra a fome e a peste, e o padroeiro de inúmeras capelas do interior, mas o ativo comandante de um Exército celestial que restabeleceria, após vencer as forças da república, a verdadeira “lei de Deus”. Esta apresentação discute questões relacionadas à expectativa da realização do milênio e a ressignificação de crenças cristãs e mitos messiânicos presentes no Contestado, tendo como foco o papel exercido pelo mártir S. Sebastião e a sua possível associação ao messianismo-régio no alvorecer do séc. XX. Palavras-chave: Contestado, milenarismo, messianismo-régio. Leituras Ecológicas da Bíblia Hebraica Haroldo Reimer A comunicação trata de apresentar a Bíblia hebraica como um conjunto de textos históricomíticos que transmitem elementos da história cultural e material do antigos hebreus. No conjunto destes textos, a comunicação busca destacar recortes de textos, nos quais se verifica uma perspectiva ecológica acerca da relação dos hebreus antigos com o seu ambiente natural e social. Elementos da arqueologia buscarão evidenciar os “fios” históricos dos textos sagrados com a realidade histórica. Busca-se aplicar aos textos uma perspectiva de leitura a partir do ótica do leitor, ressaltando, assim, uma ‘hermenêutica ecológica’ de textos sagrados da Antiguidade. Partido Católico Goiano: “Deus, Pátria e Liberdade” (1881-1907) Ireni Soares da Mota Mestranda pela PUC-GO. [email protected]. Este artigo objetiva realizar um estudo sobre a curta trajetória do Partido Católico em Goiás, fundado no dia 20 de julho de 1890 e em 1891 aparece com nova denominação, como Partido Republicano Federal. O lema criado para a agremiação era Deus, Pátria e Liberdade. O período compreendido para o estudo perpassa os bispados de dois clérigos entusiastas da causa católica no âmbito político: D. Claudio José Gonçalves Ponce de Leão e D. Eduardo Duarte Silva. Uti- 116 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais lizando fontes documentais, se propõe a uma abordagem que privilegia a perspectiva do jogo das representações que o partido construía acerca da sociedade goiana. Tentamos compreender com esse enfoque o campo de força teo-político nos primórdios do Goiás republicano. Palavras-chave: Partido Católico, representações, teo-político. O Mestre Juramidã. Análise da constituição histórica da figura do Sr. Raimundo Irineu Serra Isabela Lara Oliveira Professora da Faculdade de Comunicação da UnB [email protected] O presente trabalho analisa a compreensão compartilhada pelos seguidores do Sr. Raimundo Irineu Serra, fundador do Santo Daime, sobre a sua pessoa e a maneira como esse entendimento se constituiu por meio da dinâmica da oralidade entre as décadas de 30 e os dias atuais. Para os daimistas o Sr. Irineu é o “Mestre Juramidam”, palavra que revela uma ampla gama de significados, que fala da pessoa do Sr. irineu como presença viva do Cristo na contemporaneidade e também como uma manifestação atual do Espírito Santo. Por meio da análise do conteúdo expresso pelas memórias compartilhadas dos seguidores na religião, demonstra-se como esse conceito se formou entre os daimistas e investigam-se as diferentes influências culturais que contribuíram para a formação desse significado na religião. Reflexos de um espelho opaco: a construção da feminilidade através das múltiplas sexualidades de Vênus e Maria Ismael Gonçalves Alves Doutorando UFPR [email protected] Pérola de Paula Sanfelice Mestranda UFPR [email protected] Este trabalho busca inventariar algumas considerações acerca dos ideais de feminilidade difundidos em dois momentos históricos distintos, a Antiguidade clássica e a Contemporaneidade. Ao optarmos por um estudo comparativo de épocas diversas, não buscamos estabelecer uma linearidade, e sim conhecer múltiplas experiências históricas ao longo do tempo, atravessadas pelas relações que cada sociedade estabelece consigo mesma e com o seu passado. Através da análise das representações Vênus e Maria, figuras de destaque no panteão religioso romano e judaico-cristão, buscaremos perceber como duas divindades, em essência, ligadas à fertilidade, beleza e prosperidade, foram apropriadas de maneiras 117 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais distintas, legitimando padrões de comportamento para condutas tidas como essencialmente femininas. Partindo deste diálogo, propomos discutir questões de nosso próprio presente, fundamentados na concepção de que a modernidade produziu modelos normativos de sexualidade masculina e feminina que condicionaram, ideias, valores e comportamentos em conformidade com os princípios impostos por uma moral dominante, que tende a extinguir o contraditório e aniquilar as diferenças, em favor de uma sexualidade legítima e ao mesmo tempo legitimadora. Palavras-Chave: Feminino, Antiguidade Clássica; Contemporaneidade A pastoral das almas e o governo político dos homens Leandro Alves Martins de Menezes Mestrando pela UFG [email protected] A proposta deste estudo é identificar a genealogia das práticas de sujeição dos corpos presentes na anatomopolítica e na biopolítica. Michel Foucault localizou no seu curso Segurança, território, população que a premissa de toda forma de gestão biológica da população na política é de origem pastoral. Posteriormente seu objetivo passa a ser o de questionar e buscar alternativas eficientes que demonstre como a pastoral das almas se insere historicamente no governo político dos homens, destacando de que modo há uma redistribuição de forças, poderes, que sancionam esse processo. Sua primeira hipótese, é que esse momento inicia de forma clara a partir das revoltas pastorais do século XV. Um dos exemplos mais evidentes está representado na Reforma protestante. Durante esse período transitório do século XV ao XVII essa estrutura social européia se situou em um clima de resistências, revoltas, insurreições de conduta frente ao modelo oficial de governo das almas. Dois desses grandes modelos de resistência são encontrados na reorganização da pastoral religiosa, isto é, das comunidades protestantes e na Contra-Reforma. O que é importante perceber é que até então, a resistência não se efetua propriamente e contrariamente ao modelo pastoral, mas há uma transferência, a partir do XVI, em relação à maciça e global função pastoral da Igreja sobre o Estado. Esses movimentos promovem uma intensificação do pastorado religioso, contudo o pastorado passa a ser intervencionista, exerce influência como nunca antes, na vida cotidiana, na vida material, por exemplo: em relação à higiene e educação das crianças como forma de preparação moral. Também, neste mesmo século, vemos formar um novo gênero de condução dos homens, de pastorado, além dos limites eclesiásticos, havendo o fenômeno familiar e governamental preocupado com a condução de si, dos filhos, da família, do Estado, etc. O poder soberano, nesse momento, deve se encarregar em novas tarefas, atividades específicas no governo dos homens, daquilo que mais tarde se confirmaria como o governo das populações. Proporemos uma reflexão sobre as condições de possibilidade que foram estabelecidas entre o poder pastoral das almas e o governo político dos homens, em especial o governo biopolítico. Palavras-chave: Poder pastoral, população e Foucault. 118 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Antecedentes históricos da Umbanda: entre Calundus e Feiticeiros Léo Carrer Nogueira Professor da UEG – Unidade Itapuranga-GO [email protected] A Umbanda é uma religião híbrida, que agrega elementos distintos em sua constituição, desde a influência das religiões africanas até influências mais recentes como o Espiritismo e a Nova Era. Rastrear os elementos das diferentes matrizes religiosas que compõem esta religião não é tarefa fácil. Assim nos propomos a analisar os antecedentes que precederam a formação da Umbanda no Brasil, desde a chegada dos negros africanos e os exemplos de experiências religiosas aqui desenvolvidas durante e após o período colonial. Mouros e Cristãos nas Crônicas de Gomes Eanes de Zurara (Século XV) Renata Cristina Nascimento Professora da Universidade Federal de Goiás / UEG/PUC- GO [email protected] A Formação do Império Marítimo Português e a ocupação da África têm como marco inicial a conquista de Ceuta (1415). O ataque a Ceuta, porto marroquino importante por sua posição comercial e estratégica sobre o estreito de Gibraltar, foi fundamental dentro do projeto expansionista preconizado por Portugal nos fins da Idade Média. O alargamento da conquista marroquina dividiu opiniões, mas a possibilidade de uma política expansionista de caráter internacional e a defesa da fé cristã frente ao Islã, numa época em que o perigo turco no Oriente inquietava a Europa, era um objetivo que a todos interessava. Dentro desta perspectiva as crônicas de Zurara são relatos importantes do imaginário medieval relativo aos ditos infiéis, destacando em seus escritos a confronto mouro- cristão. Palavras- chave: Mouros- Cristãos- Expansão Marítima Fiéis pentecostais no imaginário social Tiago Rege de Oliveira – (PUC/Goiás) [email protected] Nesta comunicação desejamos analisar o imaginário que a sociedade tem dos membros de Igrejas protestantes pentecostais, principalmente os fiéis da Igreja Assembléia de Deus, os quais são rotulados pejorativamente de “crentes”. Os motivos dessa esteriotipação estão relacionados à postura sectarista e exclusivista que os grupos protestantes desenvolveram ao longo do tempo na sociedade brasileira. Devido suas maneiras de se relacionar com as comunidades em que estavam inseridos, foram desde o princípio alvo de criticas que incidiam 119 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais sobre seus padrões comportamentais e suas práticas religiosas. Tudo isso fez surgir no imaginário das sociedades aonde chegavam certos estereótipos e rotulações que de uma maneira geral pode ser resumido no termo “crentes”. Palavras-Chaves: imaginário, crente, sociedade. Santo de Deus e Santo do Povo – O Apóstolo de Goiás Padre Pelágio Valmor da Silva Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Goiás [email protected] Analisa a santidade como retrato do tremendo e fascinante da divindade, e o santo como próximo de Deus e distante dele. Aplica a teoria ao exemplo concreto, da trajetória de santidade do Padre Pelágio Sauter, cognominado o apóstolo de Goiás. Parte da leitura do mesmo fenômeno na Bíblia Hebraica, onde, por um lado Deus é santo, transcendente e inacessível, como na chamada Lei de Santidade (Lv 17-26) e, por outro, está próximo, caminha com o povo, acompanha as pessoas, como na marcha do povo de Deus pelo deserto (Nm 11-14). A Moisés Deus afirma: “Não poderás ver a minha face, porque o homem não pode ver-me e continuar vivendo” (Ex 33,20). Ao mesmo Moisés, poucos versículos antes, afirma o contrário: “Iahweh, então, falava com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo” (Ex 33,11). 120 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 12 Performances culturais – história, estética e linguagens Metrópole e Práticas Cotidianas Elane Ribeiro Peixoto – (FAU/UnB) Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB. [email protected] Adriana Mara Vaz de Oliveira – (FAV/UFG) Professora adjunta I da UFG [email protected] A dimensão da cidade metropolitana, quer seja na sua espacialidade ou dinâmica temporal, oculta os fazeres e ritmos do dia-a-dia. Seus habitantes, imersos, no frenesi de suas exigências, apagam de sua paisagem traços físicos e reminiscências. Quem se dedica ao estudo das cidades depara-se com o desafio de ordenar em narrativas possíveis o emaranhado de informações: de um lado, a concretude das construções e, de outro, imagens, lembranças imprecisas, próprias às experiências de vida. Os estudos de Mayol (1996) e os de Velho (2002) foram referências importantes para a orientação inicial deste trabalho que se dedica à história de bairros. As pesquisas dos antropólogos advertiram sobre a propriedade de transpor as construções exclusivamente sociológicas e as análises socioetnográficas da vida cotidiana, propondo uma solução intermediária por meio do entrelaçamento de ambas. Um registro dessa natureza teria o intuito de compreender, na medida do possível, os percursos dos homens que construíram o lugar, no que diz respeito ao seu conjunto arquitetônico e urbanístico e suas práticas culturais. À luz dessas reflexões, iniciamos a elaboração de uma versão complementar para a história de Goiânia que privilegia o cotidiano. Para construir nosso corpus de pesquisa, elegemos alguns de seus bairros, recolhemos depoimentos de antigos moradores e levantamos documentações sobre suas histórias. Assim, este artigo apresenta os resultados parciais de nosso trabalho sobre os bairros Jardim Goiás e o Setor Aeroporto. Palavras-chave: Cotidiano, bairro, memória, paisagem, Goiânia Quando a traição se transforma em objeto histórico: analisando a Medeia de Vianinha Amanda Maria Steinbach- (UFU) A tragédia grega “Medeia” de Eurípedes vem sendo objeto de análises e adaptações ao longo dos séculos. Em 1972, Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, adaptou o referido texto para ser Caso Especial veiculado pela Rede Globo de Televisão. Tem sido recorrente uma análise de seu texto que interpreta a personagem de Jasão sob a ótica da traição. Contudo, uma análise que leva em consideração as especificidades do conjunto de sua obra pode dar ao personagem um caráter mais profundo e humano possibilitando, consequentemente, novos olhares para a peça. Assim, é objetivo desse trabalho analisar o vídeo do caso especial 121 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais “Medeia: uma tragédia brasileira”, percebendo na cena de que outras maneiras o conceito de traição pode ser interpretado. Passado e Presente: Luas e Luas Um Diálogo entre Tempos Ana Paula Teixeira Mestranda pela UFU [email protected] Apresento aqui uma parte da pesquisa que realizo no Mestrado em História da Universidade Federal de Uberlândia. Trata-se de uma análise sobre a peça Luas e Luas do grupo Zabriskie, de Goiânia, trazendo seu momento de realização para diálogo com o contexto de elaboração do teatro denominado como Commedia dell’Arte buscando. Com esse diálogo ressalto pontos de convergências e diferenças entre as duas formas artísticas. Uso duas filmagens dessa peça, uma realizada em 2005 e outra em 2006, como documentos que permitem observar dois momentos de apresentação da obra. Ao estudar as filmagens identifico algumas características em comum com a Commedia dell’Arte. Busco então, analisando um teatro feito entre os séculos XVI e XVIII, com maior intensidade na Itália, e outro contemporâneo, discutir a relação do contexto das duas manifestações performáticas com a forma de sua realização, ou seja, como o momento em que elas foram construídas proporcionou elaborações parecidas mas que mantém peculiaridades. Dessa forma, observo e discuto a historicidade de um modo de atuação teatral que é constantemente reconstruído e reelaborado. Cyrano De Bergerac No Brasil: A Ressignificação Teatral nas Mãos De Flávio Rangel André Luis Bertelli Duarte Mestrando em História pela Universidade Federal de Uberlândia. [email protected] Obra-prima do dramaturgo francês Edmond Rostand, Cyrano de Bergerac nunca havia sido montada no Brasil por uma companhia teatral profissional. No ano de 1985, entretanto, o texto foi levado à cena pela Companhia Estável de Repertório, com direção de Flávio Rangel, na cidade de São Paulo. Esta comunicação visa lançar um olhar sobre o processo de ressignificação teatral realizado pelo diretor no referido espetáculo, o que o caracteriza como um momento de uma história vivida no tempo presente. Palavras-chave: Cyrano de Bergerac; historicidade; cena teatral; Flávio Rangel. A voz na arte de conduzir o corpo: 122 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais memória e sensibilidade Cristhianne Lopes do Nascimento Mestranda pela PUC/GO [email protected] Este trabalho pretende apresentar os primeiros passos da pesquisa que realizo no mestrado em historia da PUC / GO “Memória e representação: uma busca da identidade vocal para o ator goiano”. A pesquisa pretende descrever alguns dos elementos componentes da diversidade vocal na formação e prática dos atores goianos. Considera-se fundamentalmente os aspectos memorialísticos culturais e poéticos (linguagem e técnica), tendo como foco alguns conceitos de percepção, emoção e ação apresentados por Henri Bergson. Nesse sentido, os fenômenos culturais serão compreendidos como consolidadores da cena goiana e de seus processos criativos vocais. Palavras-chave: voz, corpo-memória, respiração, cena goiana. Eu fiz tudo pra você gostar de mim: a construção da legenda de Carmen Miranda. (1929 – 1930) Daniela Daflon Yunes – (PUC/Rio) [email protected] A cantora Carmen Miranda se tornou símbolo da identidade brasileira na década de 1930, definindo certa marca cultural para o país. Em vista disso, a intérprete de sambas e marchinhas é reconhecida, ainda nos dias de hoje, como um dos mais importantes nomes da música popular brasileira. A força da legenda que a consolidou como ícone nacional aprisiona, ainda hoje, a memória da cantora. Ao fazer de sua trajetória um meio de discutir o amplo processo de configuração de uma identidade que se pretende nacional, a presente apresentação se inspira nas perspectivas de alguns autores que tomam a relação entre mundos culturais distintos, em especial no contexto homogeneizador da festa e da celebração, como problema. Se a legenda construída sobre a imagem da cantora é o ponto de partida deste trabalho, compreender a maneira como se deu esse processo, apontando possíveis tradições comuns que deram à figura de Carmen Miranda tal popularidade, é o objetivo final desta apresentação. Palavras-chave: Identidade Cultural; Carmen Miranda; Cultura Popular. Palavra, som e música no Mamulengo Riso do Povo: organização sonora de um espetáculo popular de Teatro de Bonecos Izabela Costa Brochado 123 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Diretora do Instituto de Artes- (IdA/UnB) [email protected] Kaise Helena Teixeira Ribeiro Mestre em Artes pela (UnB) [email protected] Neste trabalho são analisados alguns dos aspectos formais pertinentes à performance do Mamulengo Riso do Povo de Mestre Zé de Vina, mamulengueiro da região da Zona da Mata Norte de Pernambuco. Nele, apresentamos alguns dos aspectos formais e organizacionais pertinentes à dramaturgia e à musicalidade do Mamulengo Riso do Povo de Mestre Zé de Vina. Mamulengo Riso do Povo pode ser compreendido como a conjunção entre um determinado conjunto de artistas, denominados ‘folgazões’ e o conjunto de elementos que compõem a sua apresentação em cena – desde o seu repertório de personagens e de situações dramáticas, música entre outros, até os suportes físicos pertinentes a ela. A apresentação é denominada ‘brincadeira’ de Mamulengo e ‘brincar’ é a denominação que corresponde a atuar ou estar em cena se apresentando. Pesquisas indicam que este teatro de bonecos surgiu em Pernambuco há cerca de dois séculos, se expandindo depois para outros estados do Nordeste, aonde sobrevive até os dias atuais. Assim, a oralidade é considerada um aspecto constitutivo dessa forma de teatro de bonecos popular e determinante na constituição das especificidades abordadas. Palavras chave: Mamulengo, teatro e musicalidade. Nossa Senhora e a Índia do Mato: História Noturna do Risca-Faca John Cowart Dawsey Professor Titular do Departamento de Antropologia – (FFLCH/USP) [email protected] No Jardim das Flores, sobre as cinzas do antigo bairro do Risca-Faca, vivem as filhas – ou netas e bisnetas – de escravas e “índias laçadas no mato”. Muitas delas também se consideram filhas de Nossa Senhora. A justaposição das linhagens maternas pode suscitar um efeito de montagem. Nas inervações corporais de Nossas Senhoras não lampejam, também, os gestos de índias e escravas? Nos subterrâneos dos símbolos encontram-se indícios de “histórias noturnas” de Nossa Senhora. Sobre esse terreno, o estudo de processos de povoamento em Piracicaba, no interior paulista, requer uma espécie de arqueologia: um duplo deslocamento, de um bandeirante povoador a Nossa Senhora, e de Nossa Senhora às índias e escravas “laçadas no mato”. Nesses fundos, o gesto de uma mulher “bóia-fria” que “fez picadinho de um homem” agita as sombras de uma nação. Creio que o teatro de Antonin Artaud e psicanálise de Julia Kristeva nos ajudam a entender os processos de construção dessas personagens no palco do Risca-Faca. Palavras-chave: Nossa Senhora, História noturna, bandeirantes 124 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais O Centenário da Independência do Brasil comemorado no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro Julia Furia Costa - (UnB) [email protected] O presente trabalho baseia-se na minha monografia de final de curso. Na qual pesquisei a relação entre a comemoração do Centenário da Independência do Brasil, em 1922, na cidade do Rio de Janeiro, e a atuação do Museu Histórico Nacional (MHN) no evento. Com base na análise de periódicos, anais do MHN, crônicas e jornais do período relacionou-se a exposição preparada pela instituição para a celebração do Centenário (o MHN foi parte da Exposição Internacional do Centenário) com o debate histórico que articulou o evento. Este debate ocorreu em torno da questão da identidade nacional. Busco localizar na Celebração do Centenário, representada pelo MHN, o debate em torno da identidade nacional. Palavras-chave: Centenário da Independência, Museu Histórico, Identidade Nacional. A República de Luto: Funerais Cívicos de Joaquim Nabuco Luigi Bonafé Doutor em História / Programa de Pós-Graduação em História da UFF [email protected] Objeto de quatro dias de funerais oficiais na capital federal, em 1910, o primeiro embaixador brasileiro, Joaquim Nabuco, foi consagrado herói nacional pela República brasileira. Este trabalho visa identificar, retrospectivamente, como, quem, quando, onde, por que, para quê e para quem Nabuco foi feito herói nacional. A análise dos funerais cívicos de Joaquim Nabuco pretende se beneficiar de uma dupla perspectiva interpretativa. Trata-se de atentar para o ritual cívico republicano com uma perspectiva típica daquilo que se tem chamado de “nova” história política, associando-a às virtudes do approach antropológico. Funerais de grandes homens públicos eram uma recorrência durante a Primeira República: foi assim com os corpos de Machado de Assis (1908), Afonso Pena (1909), Euclides da Cunha (1909), Barão do Rio Branco (1912), Osvaldo Cruz (1917), Joaquim Nabuco (1910), Pinheiro Machado (1915) e Rodrigues Alves (1921), entre outros. De acordo com João Felipe Gonçalves, eram “anti-carnavais da morte”, por meio dos quais o novo regime buscava contrapor a ordem e a solenidade à carnavalização e à subversão das hierarquias sociais. Constituíram, portanto, uma prática cultural largamente mobilizada pela Primeira República como forma de legitimar simbolicamente o regime. Palavras-chave: Joaquim Nabuco – heróis nacionais – rituais cívicos Representações para a cultura goiana125 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Formação de Identidades e Linguagem Cultural na manifestação da catira Maisa França Teixeira Mestranda pela IESA/UFG [email protected] Maria Geralda de Almeida Professora Titular do Programa de Pesquisa e Pós-Graduação do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás – IESA/UFG. [email protected] O presente estudo trata-se de descrever e analisar as diferentes linguagens da manifestação cultural da Catira, em que o canto e a dança são elementos centrais da construção de sua identidade cultural na área do objeto da pesquisa, o estado de Goiás - Brasil. O estudo cultural deve ser compreendido como uma maneira de reconhecer e trazer à tona as diversidades que se atualizam de maneira criativa e ininterrupta por meio de linguagens artísticas e expressões culturais, construindo identidades e oferecendo subsídios para as representações históricas. A metodologia utilizada foi à pesquisa teórica e a consulta a uma bibliografia diversa que norteia o tema proposto. Na discussão dos resultados, verificou-se que a linguagem criada é integrante da identidade cultural da catira, manifestada pelas performances oriundas de nossos antepassados. Palavras-chave: Identidades e Linguagem Cultural. Manifestação da Catira. Goiás. Modernismo na arquitetura: as performances dos jovens arquitetos goianos Márcia Metran de Mello Professora da UFG [email protected] No Brasil, jovens arquitetos formados no Rio de Janeiro e em São Paulo nos anos de 1950 e 1960, migraram para outras regiões do país ou voltaram para suas cidades de origem para exercerem sua profissão. Foram os responsáveis pela propagação do modernismo na arquitetura. Eles formavam uma “rede humana”, no sentido descrito pelo sociólogo Norbert Elias, que a compara a fios de tecido isolados que se ligam uns aos outros, mantendo uma relação recíproca, dando origem a um sistema de tensões. Em Goiânia, na rede modernista ligavamse vários “fios”, jovens arquitetos goianos recém formados que fizeram um trabalho admirável de divulgação das idéias modernistas e projetaram obras de qualidade que se efetivaram na paisagem urbana, apresentando, cada um, linguagem e criatividade próprias e, ao mesmo tempo, mantendo um cerne modernista comum a todos. 126 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Performance verbal e duplicidade do ser na poesia de Carlos Drummond de Andrade Marcos Rogério Cordeiro Professor Adjunto de Literatura Brasileira, Faculdade de Letras – UFMG [email protected] O trabalho propõe analisar o poema “Procura da poesia” de Carlos Drummond de Andrade, enfatizando questões de linguagem e poética. A hipótese é que a poesia de Drummond apresenta uma disjunção estrutural que cria um efeito bastante complexo: por um lado, encontramos uma disjunção do ser da poesia que se desdobra, por sua vez, na estruturação das imagens e problemas de linguagem que a poesia apresenta. Pretende-se mostrar que esse achado formal é um dispositivo performativo por excelência: a força da significação verbal depende diretamente de sua disciplina formal, desenvolvendo, assim, uma poética baseada no movimento ininterrupto de desidentificação do ser do poema e a consequente criação de outro ser, oposto e complementar ao primeiro. O confronto dessas duas identidades é um resultado poetológico da criação da noção de sujeito e não a certificação de seu estatuto ontológico. Assim, veremos que a ação performativa da linguagem no poema drummondiano está intimamente ligada à sua concepção de ser como uma coalescência de forças e tensões que se confrontam e se conformam continuamente. Heráclito e a cidade: cultura performativa na arcaica Éfeso Marcus Mota Professor de Teoria de História do Teatro na UnB [email protected] Em diversos fragmentos de Heráclito há referências a eventos performativos por meios dos quais os cidadãos de arcaica Éfeso interagem e constroem seus vínculos comunais. Entre eles destacam-se os fragmentos 15,104,121, que, respectivamente apresentam : a-procissão religiosa a Dioniso;b- disputa entre rapsodos; e c-assembléia política.Neste trabalho analiso como essas cenas do cotidiano de Éfeso são descritas e criticadas por Heráclito, o qual reage a uma saturação de eventos performativos na cidade. A compreensão da argumentação antiperformativa de Heráclito proporciona o acesso a um momento formador da longa tradição que identifica eventos públicos como potencialmente perigosos ao equilíblio social, como se vê em A República, de Platão, e J.-J. Rousseau, na Carta a d’Alembert,entre tantos autores e obras. O Brasil nos palcos do Arena: o operário ganha a cena em Eles não usam Black Tie de Guarnieri Nadia Ribeiro - (UFU) [email protected] 127 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Esta comunicação discutirá o texto dramático Eles não usam Black-tie de Gianfrancesco Guarnieri, encenado pela primeira vez no final dos anos cinquenta. A motivação inicial desse trabalho será revelar seus elementos constitutivos e as diferentes possibilidades de interpretá-los, assim como as atribuições feitas pela critica especializada ao espetáculo, alçando-o como uma “obra prima”. Eles não usam Black-tie é a primeira obra de Guarnieri e também um marco na dramaturgia nacional. Encenada pelo Teatro de Arena de São Paulo no ano de 1958 para encerrar suas atividades, foi essa encenação que deu novo animo ao Grupo. Sucesso de público e de crítica Black-tie é o primeiro texto nacional a abordar a vida de operários em greve, levando aos palcos os problemas sociais causados pela industrialização, entre eles a luta por melhores salários. Desse embate surgem vários conflitos que, talvez, se resolvam nos palcos. Fidel Castro em cena: o Cuballet em Goiânia (1995-2000) Rejane Bonomi Schifino Mestranda em História pela UFG [email protected] Em 1995, o Centro Pro-Danza, órgão vinculado ao Ballet Nacional de Cuba, e uma academia de dança particular promoveram em Goiânia um curso intensivo de balé clássico que foi ministrado por bailarinos e maitres interessados em divulgar a técnica e escola de dança cubana fora de seu país. O referido curso, entretanto, não se restringiu somente ao seu papel de ensinar a alunos e profissionais brasileiros da dança as bases técnicas da escola cubana: ele acabou se transformando na porta de entrada, na cidade, tanto da técnica de dança cubana quanto de profissionais oriundos dos quadros do Ballet Nacional de Cuba, alguns dos quais optaram por fixar residência definitiva na capital goiana. Através da análise das fontes disponíveis, intenta-se, neste artigo, verificar possíveis desdobramentos deste acontecimento sobre a dança (e seu ensino) em Goiânia. Palavras-chave: Dança; Cuballet; Goiânia. “Sete Minutos” (2002, Antonio Fagundes): Do palco do teatro para a tela da TV Talitta Tatiane Martins Freitas (UFO) [email protected] A comunicação pretende discutir o processo que resultou na filmagem e editoração da peça “Sete Minutos”, escrita e encenada em 2002 pelo autor/ator/produtor Antonio Fagundes. Logo, esse será o ponto de partida para que se estabeleça uma discussão mais ampla a respeito de questões concernentes, por exemplo, à pertinência (ou não) do teatro filmado, o processo de reprodutibilidade de uma arte que em essência é marcada pela efemeridade, o registro fílmico como fonte documental, etc. 128 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Desse ponto de vista, parte-se de uma situação específica (a comercialização do DVD com a filmagem de “Sete Minutos”, produzido em 2003) a fim de que se possa extrapolá-la, ampliando a sua discussão. Palavras-chave: Teatro Filmado - “Sete Minutos” - Efemeridade Para uma arte afirmativa, o exercício da liberdade: A problemática do espectador conforme Frederico Morais Tamara Silva Chagas Mestranda em Artes do PPGA/UFES [email protected] As décadas de 60/70 foram contexto de uma ampla reterritorialização dos conceitos tradicionais do âmbito da arte, defasados perante o declínio da narrativa formalista da Arte e o advento da pós-modernidade. A emergência de um espectador atuante, elemento constituinte da obra, é, nesse ínterim, digna de nota. O crítico Frederico Morais contribuiu para tal debate ao propor uma aproximação entre a esfera da arte e a realidade sócio-política brasileira nos Anos de Chumbo, delineando o modo como a experiência criativa do público, em contato com as propostas engajadas da arte-guerrilha, poderia instigá-lo a posicionar-se diante da conjuntura política do país à época. Em prejuízo da conduta exigida do público pelo “cubo branco” – a saber, a instituição museológica tradicional –, calcada em uma ideologia elitista, que promulga a contemplação passiva de obras, Morais, em consonância com as reflexões de Herbert Marcuse, defendeu a imersão do público no ato criador como um exercício libertário capaz de desalienar o espectador-sujeito de estruturas sociais excludentes. Palavras-chave: Frederico Morais; espectador; arte e política. Festa de Folia De Reis como performance e lugar de memória na cidade de QuirinópolisGo: Implicação Identitária Wanderleia Silva Nogueira Mestranda em História pela PUC/GO wanderleiasnogueira@hotmal Trata-se de uma problemática de analise critica, entre os conceitos Memória, Tradição, Família e identidade, discutindo a temática: A Festa de Folia de Reis como Performance e lugar de Memória na Cidade de Quirinópolis – GO: Implicação Identitária, tecendo memórias coletivas sobre o passado e o presente da cidade, discutindo tempo e espaço como estratégia para compreender de que forma a memória se materializa na cultura local. O objetivo é repensar 129 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais a festa de Folia de Reis, como preservadora de uma tradição. E desta forma examinar as tensões entre as forças sociais, ou seja, as contradições encontradas na produção simbólica e os significados e significantes da história. Palavras-chave: Memória, Família e Identidade. Um estudo da abordagem da pesquisa em Arte Zeloi Martins dos Santos Professora da Faculdade de Artes do Paraná Curitiba-Pr [email protected] ou [email protected] O objetivo da proposta de pesquisa é fomentar a discussão e a reflexão sobre as formas de produção e propagação das abordagens de pesquisa em arte. Em consonância com a expansão desse campo de reflexão, a proposta intenta tornar-se um lócus interdisciplinar de debate em torno dos conceitos e metodologias de pesquisa sobre temas afins, tais como: música, teatro, artes visuais, dança, cinema, identidades, multiculturalismo, memória, história. Compreende-se que a pesquisa em artes, ainda que lance mão de procedimentos metodológicos diferenciados dos utilizados pela pesquisa científica, também produz conhecimentos. Os fenômenos artísticos, enquanto objeto de pesquisa, permitem uma análise que privilegia a historicidade e tradição cultural do fenômeno analisado. 130 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 13 Olhares e vivências urbanas no Brasil caipira durante a primeira república “A mesma praça, o mesmo banco...”: memórias e vivências nas narrativas sobre a Praça ‘Joaquim Antonio Pereira’ em Fernandópolis (SP) Aline Alves Machado (FEF) [email protected] O propósito deste trabalho será o de compreender as memórias e vivências narradas por moradores da cidade de Fernandópolis, a partir de um de seus pontos referenciais, a praça “Joaquim Antônio Pereira”, marco simbólico de fundação da antiga “Vila Pereira”, uma das áreas de surgimento do município e da atual área central da cidade. Entendemos a praça como um espaço privilegiado de sociabilidades, conflitos, convívios e identidade social, em cujo entorno efetuase um processo de formação e/ou organização do núcleo urbano e suas principais atividades (comerciais ou residenciais). Nosso intuito consistirá em analisar o papel dos sujeitos (narradores) e suas concepções sobre a cidade e, em particular, sobre o lugar da praça em suas memórias e vivências. Daí será possível entender a história da cidade – ou de uma parte significativa de sua trajetória – através do estudo de uma praça na vida das pessoas. Cidade como “berço” de culturas: Juiz de Fora sob a ótima de Albino Esteves em 1915 Ana Lúcia Fiorot de Souza Doutoranda em História Social na USP [email protected] Na presente comunicação analisaremos o álbum de Juiz de Fora, publicado em 1915, organizado por Albino Esteves e Oscar Vidal Barbosa Lage. A edição teve por objetivo divulgar a cidade e atrair capitais e imigrantes (especialmente italianos) visando impulsionar o crescimento local. Assim, a urbs é apresentada como ordeira, progressista, acolhedora e dotada de benesses culturais como estabelecimentos de ensinos para ambos os sexos e poderes aquisitivos distintos, espaços de cine-teatro, entre outros, direcionados aos entretenimentos familiares e da juventude. Assim, observaremos, através dos textos e imagens, como os espaços são divulgados como bens a serem partilhados por todos, mas, na prática, funcionam como elementos de segregação social. Palavras- Chave: Juiz de Fora - História; imprensa – História; cidade - imagem. O Almanaque de Piracicaba do ano de 1900: 131 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Historia e Memória Arrovani Luiz Fonceca [email protected] O almanaque de Piracicaba de 1900 foi o único a ser publicado na Primeira Republica. Contando com mais de 400 paginas reúne todos os aspectos da vida econômica e sociocultural desta cidade do interior paulista no limiar da experiência cultural da chamada Belle Epoque. Diante do seu acervo de informações procuramos compreender a tênue fronteira entre Historia e Memória presentes neste objeto de estudo. No cruzamento desses territórios percebemos os choques temporais nesse despertar de transformações promovidas pela cafeicultura no qual o Piracicaba também foi palco. Não perder de vista o passado e confirmar o presente nas paginas do almanaque torna-se portanto uma vereda de mao dupla levando-nos a entender o objeto almanaque como publicação reveladora das ambivalências da modernidade local. O caminho para esta compreensão perpassa pela analise dos personagens de sua historia, espaços urbanos, profissões, propagandas, textos literários, etc. Aboios e currais: Eurico Boaventura (re)escritor da história do Brasil Clóvis Ramaiana Oliveira Professor assistente UFB [email protected] Só os tabaréus como nós sertanejos poderão gostar destas páginas. Com esta frase, na introdução do seu livro Fidalgos e vaqueiros (1989), Eurico Boaventura (1909-1974) tentou sintetizar um perfil do receptor ideal para as páginas que se seguiriam, esquivando-se de leitores cultos e urbanos, optou por brutos e roceiros. A escolha da comunidade leitora é um poderoso indício do esforço do autor de produzir, para além dos silenciamentos e esquecimentos, uma história do Brasil (especialmente de Feira de Santana-Ba, sua cidade natal) sob uma perspectiva tabaroa, enfatizando a desconstrução do mundo rural pela avançada urbana posterior à Primeira Guerra. Um dos aspectos da operação de re-escrita encetada por Boaventura, foi a utilização de práticas e materiais característicos da vida ruralizada, como instrumentos para a construção do texto. Delineando fazeres e equipamentos, o poeta feirense produziu uma possibilidade de rastreamento das histórias do sertão e dos sertanejos pela via da cultura material. Nesta comunicação, exploro as páginas da obra euriquiana procurando desvendar as respostas dadas pelo escritor ao processo de urbanização brasileira (sobretudo o feirense), tentando desvendar as oposições campo/cidade explicitadas nos conflitos de práticas e equipamentos. Villa de Jatahy: normas e condutas sociais urbanas no Brasil Caipira Estael de Lima Gonçalves – (PUC/Goiás) 132 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Mestranda em História pela PUC/ Goiás. [email protected] O crescimento e o desenvolvimento das cidades durante o século XIX, principalmente durante a primeira República no Brasil, revela novas necessidades de pensar a cidade e também de vivê-la. Torna-se urgente consolidar formas de organizar a cidades e seus habitantes. Essas necessidades se estendem para além das grandes cidades européias e passa a ser realidade nas pequenas cidades do chamado Brasil Caipira. Mediante documentação arquivística buscamos analisar como certos mecanismos foram usados para organizar a conduta social e de como esses elementos, muitas vezes desprezados pela historiografia tradicional, podem ser ricos em recursos para o fazer histórico. Palavras-chave: urbano, normatização, Jataí O público e o privado na urbanização de uma cidade: o caso de Patrocínio Paulista (1900-1915) Fabiano Junqueira de Freitas Mestre em História pela UNESP [email protected] No início do século XX, nas cidades da nova região cafeeira do interior de São Paulo localizado na área nordeste do Estado, sucedem-se os primeiros e inequívocos sinais de uma modernidade que parecia prenunciar a ruptura com a tradição e a estética ‘coloniais’, numa sanha de apagar os resquícios do atraso dos tempos monárquicos. Para conceber tal ‘projeto’, as elites paulistas, dispostos a hipertrofiar seus poderes e interesses privados, passaram a enfronhar-se no interior de Câmaras Municipais. Esse foi o caso de Patrocínio Paulista, onde iremos analisar as nuances entre público e o privado através dos projetos de modernização urbana entre 1900 e 1915. O Forjar da Modernidade: Piracicaba na Bélle Époque Fábio Augusto Pacano Docente da FATEC (Piracicaba), Centro Universitário Barão de Mauá (Ribeirão Preto) e do CNEC (Capivari). [email protected] Neste trabalho vamos a “Belle Époque” em Piracicaba através das medidas adotadas pela municipalidade no sentido de emprestar racionalidade às práticas urbanas, tendo em vista os projetos de construção de uma cidade moderna que deveria negar tudo o que remetesse ao campo e ao passado. Neste sentido, destacam-se na Câmara Municipal e na imprensa reclames pedindo a retirada das cocheiras do perímetro urbano, ou então a proibição do trânsito dos “incomodativos e selvagens” carros de boi no centro da cidade. Incontáveis foram as 133 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais manifestações solicitando o “apedregulhamento de ruas e praças da cidade”. Vamos abordar também as sociabilidades em público, pois também foram objetos de apreciação do poder público, que determinou toque de recolher, numa tentativa de controlar o movimento noturno, principalmente em bares e tabernas, bem como os festejos populares, que igualmente despertavam a ira da municipalidade, pois era constituída de batuque, jogatina desenfreada, ‘gafieira’ em grande estilo. Palavras-chave: Piracicaba, Belle Époque, Urbanização. A influência das elites locais na política de Ribeirão Preto entre os anos 1900-1920: ações de Maximiano Junqueira Fábio Henrique Maghine Centro Universitário Barão de Mauá [email protected] Este presente trabalho pretende analisar a influência das elites locais na política de Ribeirão Preto, entre os anos de 1900 e 1920. Trata-se, inicialmente, de focalizar as transformações que a modernidade promoveu na cidade de Ribeirão Preto em seus amplos aspectos: políticos, econômicos, sociais e culturais. Num segundo momento e como objetivo central trataremos de comentar as ações das elites locais no processo de modernização em questão, de Manoel Maximiano Junqueira, membro ilustre desse grupo enfatizando as ações, que exerceu grande influência na política local deste período. Palavras-chave: modernidade; elites políticas; Maximiano Junqueira. Estratégias, redes, subjetividades: a trajetória dos imigrantes alemães em Rio Claro (1870-1910) Flávia Mengardo Gouvêa Mestranda em História pela UNESP-Franca [email protected] O objetivo do trabalho será o de analisar a trajetória da imigração alemã no município de Rio Claro, entre o último quartel do Segundo Reinado e as primeiras décadas republicanas, através das experiências de modernização e sociabilidade urbanas vividas pelas famílias alemães aportadas no citado município paulista. Neste sentido, procuraremos debater as modalidades de inserção e de participação desses elementos na vida urbana de Rio Claro, e de que formas eles foram importantes para as mudanças sociais, políticas, econômicas e urbanas vividas pela cidade durante o período abordado. Palavras-chave: Imigração, Rio Claro, Urbanização. 134 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Polissemia barroca no plano urbano de uma localidade paulista: apontamento sobre a ação do clero católico na formação do arraial de Barretos em fins do século XIX Humberto Perinelli Neto Professor Assistente do Departamento de Educação da UNESP (S. J. do Rio Preto) [email protected] A formação do núcleo original do espaço urbano de Barretos (SP) guarda intima relação com a ação da Igreja Católica. O presente trabalho apresenta a formação do arraial de Barretos, destacando a ação do clero paulista na delimitação desta localidade e ressaltando que outros aspectos e preocupações se somaram ao “modelo imaginário de cruz” para definição do plano urbano local, constituindo-o então como sendo uma realidade material polissêmica e, por conta disso, capaz de traduzir a inspiração barroca de cidade e suas (mercantilização da terra, centralismo político, importância das avenidas, etc). Dentre os outros aspectos responsáveis pela definição do plano urbano local citam-se: busca de certo prestígio e oportunidades políticas/econômicas por parte das famílias doadoras, preocupação do clero paulista com sua área de influência e o controle do espaço urbano em relação aos grupos humanos associados à economia pecuária (peões, boiadeiros, homens livres pobres e prostitutas). Palavras-chave: modernidade; cidade e urbanismo; Barretos. Escritas do Feminismo: Esther Monteiro e a imprensa jornalística de Ribeirão Preto em 1918 Jorge Luiz de França Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pelo Centro Universitário Barão de Mauá/ Ribeirão [email protected] Neste desiderato buscamos identificar por intermédio das ações da imprensa jornalística, as possíveis falas e/ou silêncio da escrita feminina no micro local de Ribeirão Preto no período de 1918. Neste período, no recôndito do mundo caipira, em particular a cidade de Ribeirão Preto vivenciava inovações e técnicas. Tais novidades imprimiram rapidez nos transportes, comunicações e mudanças nas relações de trabalho. Palavras-chave: Feminismo, Imprensa, Personagens Anônimas. Trajetórias femininas: reflexos do comunismo em Fernandópolis. Laís Regina Casquel 135 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Graduada em História –(FEF) [email protected] A construção da visão de mulher do lar, mãe e esposa são operações subjetivas que se entrelaçam e unem-se quando pensamos no sujeito histórico feminino. Com o feminismo, as mulheres ganham um lugar na história, na qualidade de sujeito históricos. Mas esta mudança ainda não chegou em inúmeras cidades que continuam contando sua história a partir do viés masculino. E onde estão as mulheres de Fernandópolis? Falar de mulheres em Fernandópolis então é também fazer um reflexo do comunismo, e das transformações ocorridas no cotidiano feminino, assim como os rumos políticos que começaram no inicio da década de 1920 em âmbito nacional e que chegavam àquela pequena cidade paulista, tais como as mudanças no comportamento feminino. Baseando-nos na análise de artigos jornalísticos, obras de historiadores locais, monografias, dissertações e teses, e, em particular, das fontes orais, queremos abordar a importância da mulher fernandopolense para a história e, em especial, para a história do gênero entrelaçada ao movimento comunista. Palavras-chave: Gênero, Comunismo, Fernandópolis. Ribeirão Preto, SP: a construção discursiva da modernidade no jornal “A Cidade” (1905 e 1926) Leonardo Marques Fernandes Aguiar Centro Universitário Barão de Mauá [email protected] O período conhecido como Belle Époque Caipira marca o início da modernidade em Ribeirão Preto. A partir do final do século XIX, a região passa a se desenvolver econômica e politicamente, devido à economia cafeeira. A construção da ferrovia interligando o Oeste Paulista até o Porto de Santos, a vinda de homens interessados na produção cafeeira que se desenvolvia, entre outros fatores modificaram os hábitos e costumes do cidadão local. A fim de divulgar as novidades que chegavam à cidade, a elite passa a utilizar a imprensa como formar de impor os padrões que ela estabeleceria, apresentando produtos a serem consumidos e comportamentos a serem vivenciados. A analise dos anúncios publicados nos jornais da época possibilita entender os hábitos com os quais se pretendia construir um estilo de vida moderno na Petit Paris. Porém a modernidade não apaga totalmente os antigos hábitos dos cidadãos, fazendo com que os aspectos modernos e arcaicos estariam constantemente interligados no dia-a-dia da Belle Époque Caipira. Palavras-chave: modernidade; propagandas de jornais; Ribeirão Preto. A Modernidade: Multiplicas representações de Ribeirão Preto, (1920 - 1930). Lucas Vicente 136 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Graduado na Barão de Mauá (Ribeirão Preto) [email protected] Podemos observar que na Primeira República, processo de modernização de São Paulo, é imbuído de novos conceitos materiais históricos, como pelo valoroso lucro cafeicultor que induz a sociedade ao novo compasso social, baseado na racionalidade do capitalismo, industrialização, da expansão dos centros urbanos e dos novos símbolos do progresso. Para analisarmos estas transformações coletivas e mentais em Ribeirão Preto, estudo dos Almanaques e Estados Municípios, é um elemento privilegiado para uma “leitura” específica das relações entre o imaginário urbano e da modernidade. Cabendo ao historiador à tarefa de decifrar os códigos simbólicos que formam e informam as múltiplas “representações” da cidade submersas pelas pretensões de choque de poder, nas as articulações discursivas responsáveis pela tentativa de instituir representações “desejadas” de si e do outro. Palavras-chave:Ribeirão Preto - História Cultural - Historia dos Almanaques. Entre a força e as astúcias: política e modernização de Ribeirão Preto (1883-1920) Lúcia de Rezende Jayme Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Neste trabalho, pretendemos demonstrar o crescimento da cidade de Ribeirão Preto entrelaçado a perspectivas de enriquecimento de posseiros e, posteriormente, a chegantes também ávidos por enricarem a qualquer custo. Valendo-nos de discussões bibliográficas acerca da história ribeirãopretana e a interpretação de fontes, percebemos a forma que o bucaneirismo do capital transformava-se em medidas públicas em nome da modernização da cidade, o modo em que interesses de poucos eram saciados pelo trabalho daqueles que pouco ou nenhum acesso tiveram aos melhoramentos citadinos. Nem tudo, modernidade ou capitalismo, fizeram desmanchar. Ideais irromperam, transformações mil sucederam, mas, em tantos aspectos, Ribeirão permaneceu sertão, território daqueles que bem souberam usar força e astúcias. Palavras-chave: Ribeirão Preto, modernidade, política. Fernandópolis: poder e espaço público regulador – o caso das ruas Nattan Ricardo de Campos Graduado em História (FEF) [email protected] As cidades e a concepção que se tem delas vêm se transformado ao longo da historia. A experiência paradoxal da modernidade (Berman) ao anular fronteiras raciais, geográficas, de nacionalidade, de culturas, permitiu uma união também paradoxal da espécie humana, 137 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais sendo a cidade o principal palco desta sintomática união. João do Rio denunciou-a quando afirmou que “... nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades... não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua”, mostrando um ponto especifico onde tal ação se torna efetiva: a rua. A rua se tornou o espaço onde o poder público se faz valer atuando como agende mediador desta unificação de pessoas, camuflado por um discurso de ordem ou regulação. Nosso objetivo será o de entender como esse poder – através do Código de Posturas – funciona na cidade de Fernandópolis e quais as conexões entre as ações deste poder e as práticas de regulação urbana. Palavras-chave: Poder Público, Fernandópolis, Ruas. Entre intervenções, melhoramentos e perspectivas de embelezamento Campanha/MG (1890-1930) Patrícia Vargas Lopes de Araujo Professora Adjunta do Departamento de História da UFV patrí[email protected] Essa proposta de trabalho tem como objetivo a análise das intervenções realizadas por políticos e outros agentes sociais, na cidade de Campanha/MG, no período compreendido entre 1890-1930, procurando verificar as ações empreendidas no espaço urbano a partir de três vetores: a remodelação/melhoramentos, o saneamento e o embelezamento. Além disso, interessa-nos discutir também questões relacionadas às noções de urbanidade, civilidade e modernização. Tais preocupações podem se ligar a uma noção mais abrangente: a de melhoramentos, e revelavam a preocupação de que as cidades necessitavam renovar suas feições a fim de se mostrarem modernas, progressistas e civilizadas. As cidades modernizadas constituir-se-iam a expressão mais representativa do progresso material e civilizatório de finais do século XX e metade do século XX. Nesse sentido, particularmente, nos propomos tomar como ponto de reflexão o processo de remodelação e de intervenções urbanísticas, vistos a partir da pequena cidade de Campanha, no interior de Minas Gerais, buscando compreender como se incorporavam as aspirações de modernização. “Ah... as mulheres de Ribeirão Preto!” Representações sociais femininas de Ribeirão Preto/SP durante a primeira República. Rafael Cardoso de Mello Professor dos Cursos de História, Geografia e Pedagogia da FEF/SP. [email protected] Este texto foi produzido na intenção de proporcionar um passeio sobre as representações 138 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais femininas da cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, durante a transição do século XIX para o XX. Levando em consideração uma memória local, fortemente marcada pelos Cabarés e suas meretrizes, esta pequena comunicação tem como objetivo demonstrar a pluralidade de imagens femininas pouco retratada pelos historiadores locais. Olhares e vivências de um empreendedor numa cidade paulista: por uma biografia de Flávio de Mendonça Uchôa em Ribeirão Preto (1898-1930) Rodrigo Ribeiro Paziani Doutor em História pela UNESP/Campus de Franca [email protected] O objetivo do trabalho será o de compreender, por meio de uma biografia histórica, uma parte significativa da história cultural e urbano-industrial de Ribeirão Preto durante a Primeira República através da trajetória de Flávio de Mendonça Uchôa, homem pioneiro e empreendedor, que, no interior do chamado Brasil Caipira, vivenciou experiências singulares nos campos da modernização dos serviços urbanos e na introdução de uma indústria pesada para o município de Ribeirão Preto, na lenta transição do auge para a crise do café. 139 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 14 Natureza, cultura e representações Ciência, Natureza e Paisagem em Von Martius Ana Marcela França de Oliveira Professora Substituta de História da Arte - UERJ [email protected] A idéia no seguinte trabalho é perceber a pintura e os desenhos de paisagem tanto como um documento histórico como um objeto artístico. No caso das pranchas e dos escritos de Von Martius encontramos diversas produções relativas à natureza que registram a flora e a paisagem tropical da cidade do Rio de Janeiro de maneira precisa e poética. Nossa idéia será, deste modo, trabalhar em cima do complexo conceito de paisagem, uma vez que tal conceito, mais especificamente neste caso, se apóia tanto na representação poética de um lugar quanto na ilustração científica de um dado espaço. A partir daí analisaremos a construção da paisagem carioca aos olhos do botânico, vindo em missão para registrar a biodiversidade própria à natureza brasileira. Pensaremos, portanto, o híbrido que acompanha o olhar sobre o ambiente natural, tensionado entre a exatidão da ciência e a subjetividade do indivíduo, deixandonos espaço para nos perguntarmos que natureza seria essa retratada. Uma natureza “natural” ou recriada sob os olhos do sujeito que a apreende? E seguindo a linha inaugurada por Humboldt, tais paisagens registradas por Von Martius, então, nos ofereceriam uma fruição estética despertada em simultaneidade ao exercício de reconhecimento da flora do Rio de Janeiro do século XIX. Palavras-chave: Natureza; Paisagem; Von Martius Paisagens que tracejam histórias e patrimônio: um olhar para os sítios arqueológicos de beneditinos – PI Domingos Alves de Carvalho Júnior Mestrando – UFPI /Professor -UESPI [email protected] O presente estudo pretende oferecer um referencial sobre a arqueologia da paisagem no trabalho de pesquisa dos sítios arqueológicos do município de beneditinos – piauí. o objetivo é aprofundar as reflexões sobre o espaço dos sítios arqueológicos: pré-históricos e históricos, no contexto de como se inserem na paisagem natural. a partir de como o homem se apropriou desse espaço como meio de sobrevivência. para tanto teve-se como metodologia a investigação fundamentada numa pesquisa bibliográfica e de campo na parte sudoeste do município de beneditinos, onde estão localizados os sítios de arte rupestre toca do ladino e lajeiros da goiabeira e o sítio histórico o sobrado velho, construção dos missionários jesuítas do século xvii. o estudo demonstrou que a análise da paisagem oferece elementos/informações importante para a compreensão do material arqueológico evidenciado nas pesquisas. 140 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Palavras-chave: paisagem. vestígios arqueológicos. beneditinos-PI. Os campos de uso comum e manejo de recursos no Pará Provincial (1835-1860) Eliana Ramos Ferreira Profª Drª - UFPA [email protected] O Art. 1º da Lei de Terras de 1850 normatizava o não estabelecimento de qualquer pessoa em terrenos devolutos, pertencentes ao Império Brasileiro, senão mediante a relação formal de compra e venda. Contudo, o presidente da província do Pará, em ofício de abril de 1855, dirigido ao Vigário da Freguesia de Vizeu, “esclarecia” que era possível o acesso e fixação de pessoas nos campos de uso comum conforme o art. 5º § 4º da supracitada Lei. Neste trabalho, pretende-se refletir sobre os impasses em torno dos campos de uso comum, as experiências individuais e coletivas nas formas de compreender a natureza e os conflitos pelo manejo de recursos e pela posse da terra. Palavras-chave: Natureza – Terra – Pará Memória e paisagem, uma abordagem cultural através de histórias de vida: o caso da Colônia do Prata/PA Flávio Reginaldo Pimentel Mestrando - UFPA [email protected] A presente pesquisa aborda as categorias de memória e paisagem numa perspectiva cultural, tendo claro que tais abordagens não se limitam como categorias estanques de determinada disciplina científica. Desse pressuposto, surgiu a necessidade de se estudar a Colônia do Prata, localizada no município de Igarapé Açu, estado do Pará. Antiga colônia de hansenianos, onde se “depositavam” portadores de hanseníase das mais diversas regiões do Brasil. Tais sujeitos tornaram-se testemunhos da relação estreita entre memória e paisagem. Nessa perspectiva ressaltamos que para coleta de material de estudo e análise, utilizamos como metodologia entrevistas de histórias de vida dos agentes que ainda vivem na colônia, hoje não mais colônia de hanseníase. A memória, por apresentar um caráter individual, apresenta elementos para entendermos como ocorreram sua constituição e solidificação e como foi construída para si a percepção da paisagem do lugar. Palavras-chave: memória, paisagem, cultura 141 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Revisitando a Reserva Extrativista Marinha da Baía do Iguape e repensando a questão cultura-natureza Glauco Vaz Feijó Doutorando – UnB [email protected] Trata-se a comunicação de novas reflexões oriundas de uma revisita a notas de campo, entrevistas e artigos resultantes de trabalho de pesquisa realizado entre os anos de 2000 e 2001 quando da implantação da Reserva Extrativista Marinha na Baía do Iguape, no Recôncavo Bahiano. Naquele momento tentei interpretar os conflitos presentes na implantação da Reserva Extrativista, pensando na pluralidade de mundos e na diversidade de processos culturais entre os diferentes povoados que cercam a Baía do Iguape e destacando o acirramento que me levou a crer em um conflito de classes aberto. Ainda que abordada, a questão das relações cultura e natureza teve papel pouco relevante em minhas discussões, o que muda quando, ajudado por Terry Eagleton, passo a pensar sobre tais relações não mais em termos dicotômicos, mas sim em termos complementares e dialógicos. É desse revisitar teórico às negras águas do Rio Paraguaçu que surge em mim a necessidade de voltar a falar do Vale do Iguape. Quando o centro olha ao redor: usos da memória no Centro Cultural Bom Jardim Gyl Giffony Araújo Moura UFERJ [email protected] Propomos nesse trabalho a realização de uma análise acerca dos usos da memória nas estratégias engendradas em centros culturais implementados no espaço urbano periférico, focando na relação equipamento-entorno e nos conflitos e dilemas referentes aos delineamentos arquitetônicos e aos programas sobre memória realizados pela gestão para oportunizar o acesso do público. Com esse objetivo, traçamos um breve panorama histórico acerca da emergência desses equipamentos durante o período pós-moderno, sobre sua relação com as transformações sociais, e, por fim, observamos o caso do Centro Cultural Bom Jardim-CCBJ, localizado em Fortaleza/CE. Memórias à beira dos rios: Tocantins e Araguaia Jocyléia Santana dos Santos Doutora - Professora Adjunto/UFT [email protected] Tive o privilégio de explorar dois originais trabalhos sobre a questão dos rios no To- 142 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais cantins, Caminhos que andam de Kátia Maia e Nas águas do Araguaia de Francisquinha Laranjeira. Quando os li pela primeira vez, lembrei-me da minha infância em Araguatins, o município da região conhecida como Bico do Papagaio, no extremo norte tocantinense, banhado pelo rio Araguaia. O meu cotidiano de “habitante ribeirinha” consistia nas brincadeiras nas praias de areia branca na época da vazante, no observar canoas que iam rápidas rumo ao outro lado do rio, nas cantigas religiosas, no céu de lua cheia e principalmente, em ouvir as lendas e estórias. Às margens dos rios era o local de encontro das alteridades e das relações interétnicas. A navegação tornou-se um meio de vida para o sertanejo. O sertão pouco povoado, sem estradas e sem correios. Para suprir as carências da região fazia-se o comércio fluvial com outras cidades abastecendo os povoados com sal, ferramentas, pólvora e tecidos.Nas artes do fazer da comida caseira, no modo arrastado de conversar do sertanejo, nos termos lingüísticos utilizados, na vontade de obter notícias dos parentes longínquos e principalmente, nos dizeres e saberes e sabores do nortense ribeirinho. É história para ouvir o barulho das águas, mas também as diversas vozes: de negros, de brancos, de índios, de militares, de comerciantes e de ribeirinhos. Palavras-chave: Rios, Tocantins, natureza Da imoralidade do ato antinatural em Aluízio Azevedo e Júlio Ribeiro Leandro Thomaz de Almeida Doutorando Unicamp [email protected] Nos romances Livro de uma sogra, de Aluízio Azevedo e A carne, de Júlio Ribeiro, a concepção de moral é estabelecida com base em uma proposta de respeito à natureza. Dessa forma, o que se vê nessas obras de finais do século XIX é uma defesa dos impulsos naturais contra as convenções sociais que os reprimem. É possível, portanto, perseguir os desdobramentos da relação que se estabelece entre moralidade e natureza nesses romances, bem como procurar perceber em que medida se aproximam ou guardam particularidades em relação a outras abordagens de caráter semelhante, tais como a de David Hume em Uma investigação sobre os princípios da moral e Morelly em Código da natureza. “Jogue sua vida na estrada como quem abriu o seu coração”: a temática da “viagem” na canção contracultural brasileira dos anos 1960-1970 Leon Frederico Kaminski Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] O presente trabalho visa analisar a temática da “viagem” na canção contracultural brasileira 143 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais das décadas de 1960 e 1970, entendendo-a tanto como expressão do pensamento e práticas alternativas do período como conformadora desse mesmo ideário. Compreendemos a contracultura como um fenômeno desterritorializado, que passou por processos de ressignificação nos diferentes contextos em que se manifestou. A historiografia costuma enfatizar a indústria cultural e a expansão dos meios de comunicação como responsáveis pela propagação da contracultura no Brasil, não dando atenção a um importante fator de propagação do pensamento e das práticas contraculturais, o seu caráter nômade, a âmbito da viagem como espaço de intercâmbio cultural, de disseminação de idéias. Desta forma, buscamos a temática da “viagem” em canções tanto de artistas esquecidos como de renomados, analisando algumas de suas dimensões, como o caráter “panfletário” em certas composições, a psicodelia, a natureza e a liberdade. Consideramos que a presença recorrente do tema indica não somente uma prática alternativa de contestação, o desbunde, mas também o clima de fechamento político e a incerteza em termos do futuro do país e da humanidade. Palavras-chave: contracultura; viagem; desterritorialidade Do tecer da memória ao desvelar das imagens: revelando experiências históricas Marcelo Góes Tavares Msc. Faculdade Integrada Tiradentes – FITs [email protected] Com a presente proposta de trabalho, pretendo refletir sobre a História e a memória, articulando múltiplos sentidos (re)significados construídos por sujeitos sociais através da cultura, do cotidiano e da experiência. Nessa direção, apresento uma abordagem da narrativa histórica com foco no sujeito da história, na cultura e cotidiano como palcos onde as experiências humanas são tecidas e vividas. Para compreendê-las, proponho a análise da Cultura e do fazer social em um universo do simbólico ao qual devemos desvendar códigos e significados construídos por seus próprios sujeitos através de suas representações sociais. Estas trazem a tona imagens, valores, sentidos de mundo e de vida, temporalidades, territórios, palcos da vida social, saberes e fazeres, projetos de sociedade e história. Com a história oral as experiências dos sujeitos e suas imagens/representações do passado e presente emergem através da oralidade e narrativa, sendo possível articular histórias de vida (cotidiano, família, referências pessoais...) e histórias temáticas (cultura, identidades, trabalho, festas, religiosidade, patrimônios...). Nesse sentido, a memória individual é indissociável da organização social da vida, possibilitando revelar disputas em torno da lembrança e do esquecimento, evidenciando laços de pertencimento a identidades e referências históricas e culturais, bem como a (re)significação de patrimônios. Através dessa abordagem, apresento a análise das narrativas e experiências de vida em São Bento-AL. Ao evidenciar, através da oralidade, as experiências humanas e sociais, também dou visibilidade as experiências históricas, bem como um outro caminho para a compreensão e interpretação dos modos de vida, das práticas culturais e da história. Palavras-chave: Memória, Imagem e História. 144 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais As representações de família no contexto da pastoral da criança Maria das Graças Santos Dias Magalhães Doutora - Professora Adjunta IV /UFRR [email protected] Luciana Corrêa Bombardelli UFRR [email protected] O presente trabalho tem por objetivo abordar a noção de família que norteia as atividades da Pastoral da Criança. Ao longo dos seus 27 anos, a Pastoral busca ajudar as famílias em situação de risco, na dimensão social e espiritual. O projeto que estamos desenvolvendo se propõe a compreender de que forma este movimento social, que é um Organismo Social da Igreja Católica, vê a família. Para identificarmos que representações são essas, tomaremos como fonte o Jornal da Pastoral da Criança, que é um veículo nacional de divulgação de seus princípios e atividades nas comunidades onde está implantada. Abordaremos os jornais dos últimos cinco anos (2005 a 2010), recebidos e arquivados na cede da Pastoral da Criança na cidade de Boa Vista/RR Palavras-chave: Movimento social; Pastoral da Criança; Família O sentido da existência nas poéticas da natureza do ator Ruzante (c.1494-1542), e do pintor Giorgione (c. 1477/8-510) Maria de Nazareth Eichler Sant’Angelo PUC-Rio [email protected] Na presente comunicação analisaremos o modo como dois artistas devedores da cultura humanista renascentista vêneta pensaram o tema da existência a partir de uma concepção particular da natureza enquanto princípio organizador do cosmos e referência ética e sensível da conduta humana. Segundo G C Argan, a contribuição da cultura vêneta para a concepção do mundo do séc. XVI foi ter superado a idéia de uma “natureza distinta da história”, e em ter intuído e fixado “o valor absoluto, indivisível, da existência como experiência completa do real”. O sentimento de natureza que irrompe nas poéticas dos dois artistas é aquele da poesia de Virgílio e Lucrécio, e das filosofias práticas das escolas helênicas, tal qual a epicúrea. Tal tradição clássica só existe, contudo, enquanto prática, rito, sendo continuamente redefinida, e mesmo reinventada pela ação de sujeitos mobilizados pelas questões de seu tempo. Assim, comediógrafo e pintor, cada um ao seu modo, evocam, ou melhor, convocam a poesia e a filosofia prática dos antigos, e seu sentimento de natureza, movidos pelo desejo de problematizar os fundamentos da existência não do homem em geral, mas do homem para quem, segundo E. Garin, “a natureza, as coisas, as estrelas e o mundo inteiro convertem-se em algo 145 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais vivo, pessoal e humano”. Da Catequização (imposta) para a busca da Educação : Uma análise da educação na Escola Estadual Indigena Maurehi (1990 - 2009) Natália Rita de Almeida UEG- Cora Coralina [email protected] O trabalho vem analisar a escola Indígena Maurehi como busca da manutenção e preservação da cultura karajá. A escola localiza-se na aldeia Buridina que encontra-se na cidade de Aruanã-Go. A aldeia encontra-se encurralada pela cidade na beira do rio Araguaia entre a “civilização” e o rio. Através do contato com a cidade houve-se a necessidade de buscar os conhecimentos do mundo não-indio aprimorando também os conhecimentos indígenas que foram se perdendo através do forte contato com nossa cultura não-índia. Por isso, criou-se a Escola indígena Mauheri, através de um projeto de manutenção da língua e costumes karajá, na escola aprende-se as disciplinas curriculares das escolas “comuns” e também os costumes indígenas dentro da disciplina Iny rubé. A pesca artesanal na ilha do amparo: entre visões e representações Paulo Eduardo Ernst Garcia [email protected] Priscila Onório Figueira Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá [email protected] Este trabalho tem como objetivo compreender os conhecimentos da pesca artesanal da comunidade da Ilha do Amparo localizada no município de Paranaguá no litoral do Paraná. No ano de 2004, acidentes de navios atingiram essa região afetando a pesca bem como a fauna e a flora. Outra problemática analisada é que atualmente são poucas as fontes bibliográficas que abordam a respeito dos conhecimentos tradicionais desse local. Dessa forma esta pesquisa propõe registrar as narrativas orais dos moradores acerca dos conhecimentos da pesca artesanal em Amparo e como os acidentes afetaram a pesca na região. Para interpretar os conhecimentos da pesca em Amparo utiliza-se do método em história oral, compreendendo que a história oral também é uma instância que ajuda a reinterpretar o passado se correlacionado com fontes escritas. Até o presente momento foram aplicados questionários com os 146 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais moradores onde foram coletados dados sobre: profissão, tempo em que o morador vive no local, visão do morador em relação à pesca atual, se o morador adquiriu os conhecimentos da pesca através de seus pais e qual a importância da pesca para a comunidade. A análise dos dados permitiu interpretar a visão dos moradores em relação a pesca. Os dados indicam que os moradores consideram a pesca importante, pois esta é a principal fonte de renda da comunidade e que a pesca diminuiu nos últimos anos devido à diminuição do pescado. No contexto em que os moradores de Amparo estão inseridos há uma série de conhecimentos que são adquiridos ao longo de suas vidas. Interpretar esses conhecimentos significa refletir sob quais condições estes se produzem e como que na prática estes se tornam a representação de sua cultura material e imaterial. A Narrativa trágica e a formação da identidade ordenadora políade Poliane da Paixão - UFG [email protected] A tragédia é entendida como um gênero literário, que em sua elaboração possui temas selecionados em uma narrativa mítica que seria apresentada nos palcos, em que “uma história sagrada” (ELIADE, 2000:50) revelaria um acontecimento, que se realizou em um tempo primordial. Sabendo que a elaboração das narrativas trágicas atenienses, em sua maioria foram formuladas no período clássico, tentaremos analisar como as representações heroicas eram constituídas nessas narrativas míticas trágicas, a partir da imagem de Héracles na obra de Eurípides que leva o nome do herói. E também nos atentaremos para a questão da construção discursiva que era utilizada na tragédia com o intuito de criar uma identidade heroica responsável pela ordenação de espaço da pólis. O Maranhão e suas fronteiras culturais: o esboço de uma cartografia Raimundo Inácio Souza Araújo Doutorando em História – UFPE/Professor UFMA [email protected] A discussão sobre a diversidade cultural maranhense tem raízes bem longevas. Já na primeira metade do século passado, estudiosos locais, como o geógrafo Raimundo Lopes e o militante político Astolfo Serra, referiam-se a ‘zonas’ distintas, construídas ao longo da história colonial do Estado, com diferenças de ritmo e intensidade: a experiência do norte agro-exportador escravista, as culturas indígenas (em diversas localidades), além do sul pecuarista, formado por migrantes, sobretudo da Bahia e de Pernambuco. Na década de 90, a historiadora Maria do Socorro Cabral ajudou a construir essa discussão, ao discorrer particularmente sobre a já referida frente de expansão que partiu do sul, cuja cultura se formou em estreita interação com os ‘caminhos do gado’, a pecuária extensiva, 147 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais contrastando o norte e o sul do Estado, sob diversos aspectos, como as modalidades de trabalho e as visões de mundo. O presente trabalho estabelece um balanço dessas três propostas de cartografia cultural do Estado, destacando a caracterização que os três estudiosos fazem da fronteira amazônica, presente na região meio-norte, não trabalhada intensivamente até o presente momento pela literatura acadêmica. A zona cabocla foi descrita, sobretudo por Lopes e Serra, como uma região em que a paisagem e a cultura assumem ares de transição, difíceis de definir: entre a floresta e o agreste, o mar e os rios, região em que a mudança e a adaptação constantes dão o tom aos fazeres e saberes locais. Palavras-chave: cultura, diversidade cultural, cultura cabocla. Abundância alimentar: história, mitos e fantasias Sônia Maria Magalhães Professora - UFGO [email protected] A incerteza da colheita, condicionada aos desastres naturais, as intempéries climáticas, o esgotamento do solo, todos os fatores que levam à escassez fizeram a espécie humana a criar narrativas fantásticas que expressam seu desejo e sua angústia em torno da abundância de alimentos. A fartura de alimentos possibilitava a hospitalidade e por vezes até o esbanjamento, dando a idéia de recursos ilimitados. As questões envolvendo o enigma da abundância seguem essencialmente as mesmas desde os tempos mitológicos: quem confere abundância e quem dela se beneficia. A abundância existe e pode ser usufruída, desde que se tenha titularidade e acesso a ela. A abundância, para ser percebida, deve conviver com a carência, ou má fortuna, daqueles que dela são despossuídos. Em algumas sociedades a maior desonra, mais temida que a fome, é ter as despensas vazias e não poder oferecer nada aos hóspedes. Dessa forma, a função simbólica e social do alimento parece ser mais determinante que a sua função nutritiva. Neste sentido, a alimentação torna-se o centro de um dos mais vastos complexos culturais, abrangendo normas, símbolos e representações. A vida, o grupo e o meio se integram e se unificam, muitas vezes, em função dela. E a relação do homem com a alimentação pode se considerar semelhante à sua relação com a linguagem. Ambas obedecem a regras indiscutíveis e inconscientes, podendo sofrer modificações com a alteração do ambiente, demonstrando situações sociais, econômicas e religiosas. 148 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 15 A vida ao rés-do-chão – a escrita da história através de crônicas e folhetins As armadilhas da memória: as crônicas jornalísticas de A.Tito Filho em Teresina Ana Cristina Meneses de Sousa Brandim Professora-UESPI/Doutoranda-UFPE [email protected] Arimathéia Tito Filho (1924-1992) ficou conhecido em Teresina como o “cronista da cidade amada”. Suas produções literárias abordaram arduamente o tema da cidade e seus aspectos sociais e culturais. Foi um incansável em dizê-la através de suas ruas, avenidas, espaços “marginais”, perfis “anormais”, aqueles ditos “folclóricos”, além de cheiros, sabores, cotidiano, moda. Sua forma de dizer, de narrar, esteve sempre ligada a sua forma de compreender o mundo enquanto espaço possível de ser ordenado pelo dito e exorcizado pelo tempo. A fixação em inventar passados fez da envergadura de suas crônicas, textos possíveis de serem analisados enquanto produções discursivas que tentam prender o tempo nas armadilhas da memória e controlar aquilo que estava fora de “ordem” ou que não condizia com as diretrizes do passado. Desta forma, busco analisar as crônicas produzidas por A. Tito Filho no sentido de transpô-las, registrando os vários sentidos que circulam entre o escrito e as formas de pensamento, e, principalmente, procurando mostrar o que elas revelam, apontam, manifestam, enquanto imaginário de uma época, buscando um entendimento plural e cultural da cidade. Palavras-chave: A. Tito Filho; crônica; Teresina Os jesuítas no Maranhão e Grão-Pará Seiscentista: uma análise sobre as representações em torno da Missão através da Crônica do padre João Felipe Bettendorff Breno Machado dos Santos Doutorando /PPCIR-UFJF [email protected] Autor da Crônica dos Padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão escrita durante os anos finais do século XVII, o padre Bettendorff é considerado uns dos personagens mais importantes da Missão jesuítica no Norte da Província do Brasil. De maneira geral, pode-se afirmar que sua obra contém informações diversas sobre a história política, social, econômica e missionária do Estado do Maranhão e Grão-Pará. Entretanto, como inúmeros outros registros jesuíticos, sua obra procura mostrar o avanço da vontade de Deus e suscitar novas vocações e apoios variados para o Instituto, sendo as imagens construídas por Bettendorff capazes de condicionar ações e resultados. Tendo escrito sua Crônica para ser lida, 149 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais sobretudo, pelos membros da Ordem, o inaciano apresenta a seus confrades uma série de episódios exemplares sobre a vida e o trabalho de talentosos religiosos no Norte da Província. Assim, influenciado pelas formulações teórico-metodológicas apresentadas por Roger Chartier, este estudo pretende trabalhar sobre as representações constitutivas dos jesuítas em atividade no Estado do Maranhão e Grão-Pará, durante o século XVII, através de um programa de investigação sobre as projeções e expectativas da Missão modeladas pelo padre João Felipe Bettendorff em sua Crônica. Palavras-chave: Jesuítas; Amazônia colonial; Representações. Artificialidades do paraíso moderno Camila Pereira UnB [email protected] Segundo Paul Valéry, na modernidade, ou se muda de dose ou de veneno. Baudelaire, na busca de seus paraísos artificiais, transitava entre várias possibilidades de mundo real. A realidade em Baudelaire era mais que uma questão literária ou estética, era uma questão existencial. Alterada pela ação de alucinógenos, a literatura baudelairiana assume uma dimensão que ultrapassa a clássica dualidade entre histórico e fictício. Já não há como apontar em que momento esses “mundos” se encontram ao partir do princípio de que até o que é considerado como realidade “convencional” está alterado. Minha proposta é discutir como a percepção pessoal da realidade de Baudelaire influencia até hoje nossa forma de ver a história do século XIX e, a partir de então, pensar como é problemático acreditar na existência de uma protoverdade a ser representada na escrita da história. Sociabilidade e cultura em espaços de lazer da capital cearense no início do século XX (1901 a 1918) Carla Manuela da Silva Vieira PUCSP [email protected] Avaliar as práticas de sociabilidade e cultura da capital cearense do início do século XX (1901 a 1918) em seus espaços de lazer apresenta-se como uma das formas possíveis para compreender a cena da Modernidade do referido período. A crônica jornalística, que registrava aspectos das mais diversas ordens, mas, em especial apreço para este estudo, aqueles referentes às socialidades mundanas, mostra-se como fonte indiscutível às pesquisas de tais questões, principalmente quanto aos jornais de maior circulação à época (Jornal do Ceará, Unitário, A República, Correio do Ceará e Folha do Povo), pois que eram bastante representativos das opostas tendências políticas de Fortaleza e indicam o tom da formação de pensamento e opinião da sociedade 150 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais de então. É essa mesma crônica que permite a avaliação dos usos e imagens que se faziam dos espaços de lazer de que dispunha a cidade, importantes ícones de modernidade e civilidade para as elites citadinas, mas, também, significativas vitrines que expunham os profundos contrastes entre o projeto desses grupos e a realidade das classes populares. Palavras-chave: Sociabilidade; Lazer; Modernidade. Volkswagen Blues: uma metaficção historiográfica? Cristiane Montarroyos Santos Umbelino Universidade Federal de Pernambuco [email protected] No romance Volkswagen Blues (1984), do escritor quebequense Jacques Poulin, o diálogo crítico entre literatura e história se faz presente por meio de uma narrativa que reconstrói o passado. A viagem dos personagens Jack Waterman e Pitsémine, de Gaspé (Canadá) até São Francisco (Estados Unidos), revisita a rota de colonizadores e migrantes, nos apresentando, assim, um novo olhar acerca do processo colonizador. Ademais, podemos apreciar um texto constituído por diversas paisagens e ilustrações que remetem à história oficial da colonização: “Eles tinham saído de Gaspé, onde Jacques Cartier havia descoberto o Canadá, [...] tinham tomado a Trilha de Oregon e, seguindo o caminho dos emigrantes do século XIX, [...] para partir em busca do Paraíso Perdido [...].” (POULIN, 1988, p. 192-3). Portanto, a análise da relação histórico-literária do romance será fundamentada no que a teórica Linda Hutcheon (1991) chama de metaficção historiográfica, que “representa um desafio às formas convencionais (correlatas) de redação da ficção e da história, com seu reconhecimento em relação à inevitável textualidade dessas formas”. (HUTCHEON, 1991, p. 169). Palavras-chave: Literatura Quebequense; Colonização; Metaficção Historiográfica. “E Nós, Para Onde Vamos?”: história de uma época através de crônicas Edilane Ferreira da Silva UNEB [email protected] Durante os anos 1980 a população de Juazeiro-BA, parava todos os dias às 13 horas para ouvir o programa radiofônico “E Nós, Para Onde Vamos?”, no qual eram veiculadas crônicas produzidas por um grupo de juazeirenses. Por essa razão, a pesquisa “E Nós, Para Onde Vamos?”: história de uma época através de crônicas, busca reconstruir as paisagens e as sensibilidades da Juazeiro dos anos 1980, a partir do modo dos autores de ver e sentir a realidade. O áudio do programa radiofônico, os temas retratados, a forma como eram abordados e o próprio fato das crônicas serem utilizadas para retratar o cotidiano, evidenciam as paisagens 151 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais sociais e subjetivas de uma época. Essa literatura era produzida a partir da necessidade que os autores tinham de expor as suas impressões da realidade, por essa razão, as crônicas não retratam apenas o instante em que foram construídas, elas atravessam o tempo, e fazem das paisagens e subjetividades o registro de uma história. Palavras-chave: Crônicas / História / Juazeiro “O potentado e o viajante”: representações do intelectual na obra de Edward W. Said Elisa Goldman Doutoranda em História PPGHIS – UERJ [email protected] Tomamos como base do presente trabalho; a centralidade do debate acerca do papel do intelectual na obra do autor palestino Edward W. Said. Este autor vive um dilema na medida em que preconiza o cosmopolitismo, o hibridismo do entre lugar na suspensão dos binarismos essencialistas, por outro lado como ativista defende um ethos nacional a partir do engajamento político no movimento Palestino. Esse dilema pode ser observado na sua démarche teórica inerente ao conjunto da sua obra que abrange desde crítica literária a escritos Historiográficos relacionados à temática Palestina. A representação do intelectual opera como uma diretriz para as seguintes reflexões: a categoria de exílio constitutiva de uma metáfora ordenadora da experiência intelectual, a crítica ao nacionalismo defensivo originada na reflexão pós-colonial e o hibridismo como privilégio epistemológico que informa uma abordagem do conhecimento. Palavras-chave: intelectual, Historiografia, Edward W. Said Memória para a história: o livro Raízes, de Augusto Proença Eudes Fernando Leite UFGD [email protected] A finalidade desta comunicação é explorar as relações entre história e literatura, particularmente quanto à manifestação de eventos convencionalmente denominados de históricos no interior de um texto ficcional. Para tal, tomo a produção do escritor corumbaense, Augusto César Proença, com ênfase numa de suas obras: Raízes, cangas e canzis. Além da obra, para a discussão da problemática, são utilizadas entrevistas de história oral, realizadas com o autor do texto em questão. 152 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Honorè de Balzac: Idéias sobre os camponeses leitores-não-leitores na França pós-revolucionária Eurimar Nogueira Garcia Mestrando UFG [email protected] Neste artigo, partindo da perspectiva de uma História das Idéias, e dos pressupostos de Dominick LaCapra, pretendo analisar dialogicamente o pensamento de Honoré de Balzac, contido em O médico rural, Os camponeses e O cura da aldeia, inseridos nos volumes XIII e XIV da Comédia Humana (1922) especificamente no que diz respeito ao (a)letramento dos camponeses da França pós-revolucionária. Sendo assim tento perceber tanto aquilo que foi pensado (as leituras e não leituras camponesas) por Balzac quanto o não pensado (matizes dessas leituras) dentro de uma leitura dialógica. A releitura de tradições através das crônicas de João do Rio Fábio Laurandi Coelho Mestrando - PUC-Rio [email protected] A rotulação excessiva por vezes nos leva a cometer injustiças, como acredito que ocorra no caso de João do Rio. Por alguns considerado o dândi que realiza uma literatura esgar, o autor em questão opera uma releitura e um assentamento de tradições cotidianas do Rio de Janeiro da belle époque, indo de certa maneira de encontro à sugestão de uma modernização no conteúdo da literatura. Mas, ao mesmo tempo, dialoga com a dimensão técnica da sociedade em que vive, transformando constantemente a estética de seu texto. O papel social das mulheres nas crônicas de Lima Barreto Getúlio Nascentes da Cunha Doutorado – UNB/Professor – UFGO/Catalão [email protected] Apesar de ser um autor conhecido pela franca defesa dos menos favorecidos, Lima Barreto era um homem do seu tempo, partilhando os mesmos preconceitos que marcavam sua época. No final da década de 1910 e início da década de 1920, Lima Barreto travou um áspero debate na imprensa com as feministas em torno do acesso das mulheres ao funcionalismo público. Pretendemos analisar as posições assumidas por Lima Barreto nas crônicas, sem perder de 153 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais vista o confronto com suas outras, na tentativa de melhor compreender suas colocações que inicialmente sugerem um pensamento bastante conservado em relação às mulheres. A Construção da Identidade Nacional Moçambicana nos Romances de Mia Couto Josilene Silva Campos Instituto Federal de Educação de Goiás [email protected] Este trabalho tem como objetivos centrais analisar a reconfiguração da identidade nacional moçambicana após a guerra civil e mostrar de que forma esse novo discurso é representado nos romances de Mia Couto, nomeadamente: Terra Sonâmbula, A Varanda do Frangipani e O Último Voo do Flamingo. A literatura é usada como fonte por entender que ela é um tipo de conhecimento social formado no imaginário, compreendido como ideias e imagens de representação que dão significados às identidades. Esse tipo de construção mental possibilita um acesso privilegiado às sensibilidades de um tempo, às experiências vivenciadas e as discursividades construídas. Produz significações que permitem conhecer certas concepções de sociedade e diferentes percepções de processo histórico. Palavras-chave: História – Literatura – Moçambique Diário das Alagoas: representação da Zona da Mata nas crônicas do jornal na sociedade oitocentista Juliana Alves Andrade Doutoranda-UFPE [email protected] O presente trabalho tem por objetivo analisar a partir das crônicas jornalísticas de Craveiro Costa e Caroatá, as leituras e interpretações fábricas sobre modos e costumes dos homens, mulheres do Vale do Paraíba do Meio, Zona da Mata Alagoana no período de 1870 - 1889. Para isso, observaremos os artifícios utilizados pelos dois autores, para construir uma imagem do espaço, como berço da intelectualidade alagoana. Uma crônica de costumes em Florianópolis: a coluna do Beto 154 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Leani Budde UFSC [email protected] Uma crônica de costumes, em forma de textos variados, geralmente pequenas notas, numa coluna “social” do principal jornal da cidade, marca o registro do cotidiano das transformações políticas, históricas, culturais e sociais verificadas em Florianópolis a partir de 1970. Intitulada “Coluna do Beto” assinada pelo jornalista Sérgio Roberto Stodieck, que se dizia colunista “sociológico”, mostrava de forma irreverente episódios relacionados a políticos, a sociedade local e aos costumes de uma cidade então (ainda) provinciana, mas que rapidamente se transformava. Crítico do seu tempo, tornou-se uma referência histórico/cultural no jornalismo catarinense que deixou uma lacuna, já que depois de sua morte, em 1990, a crônica irônica e debochada do cotidiano local perdeu espaço na imprensa da cidade. Pretende-se neste trabalho apresentar textos e notas do colunista como documentos para o estudo de uma época, pois permitem recuperar importantes aspectos da história cultural de Florianópolis, notadamente dos anos 1970 a 1990. Entre as concepções teóricas a serem consideradas estão noções de história e memória observadas por Le Goff (1992). O trabalho abordará as crônicas como paradigma das transformações do espaço político/cultural de uma cidade, tal como antevia o debochado colunista. Crimes de Marias: Um outro olhar sobre a mulher goiana Lúcia Ramos de Souza PUC - Goiás [email protected] Através dos relatos extraídos dos interrogatórios de mulheres rés dos processos-crimes da segunda metade do século XIX, encontrados na Cidade de Goiás, busca-se analisar cotidianos e comportamentos das mulheres goianas que revela um descompasso entre a moralidade oficial e a realidade vivida por elas, mulheres do povo frente às práticas discursivas da época e da leitura feita delas pelos viajantes europeus, dentre eles Saint -Hilaire. Este trabalho utiliza-se de teóricos como Michelle Perrot, Rachel de Soihet, Joan Scott e Maria Odila Leite da Silva Dias. Palavras-chave: mulher, cotidiano, crime. O Encontro Marcado de Fernando Sabino: literatura, história e memória Lucilia de Almeida Neves Delgado Professora Doutora - UNB [email protected] 155 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Análise sobre o tempo de construção da modernidade no Brasil, considerando duas etapas: as décadas de 1920 e 1930, que identificamos como o primeiro tempo do ser moderno e as décadas de 1940 e 1950, que identificamos como segunda fase de expressão construtiva de uma modernidade tardia que compreende diferentes esferas, tais como: cultural, política e econômica. Na primeira fase são destacadas manifestações de construções modernistas que se expressam na industrialização, no urbanismo, nas artes plásticas e nas letras. Nessa conjuntura, analisaremos as propostas literárias da Semana de Arte Moderna que se atualizaram e se renovaram na segunda fase caracterizada por efervescente movimentação e renovação cultural, expressas, por exemplo, na literatura, música, teatro e cinema. Nesse tempo de desenvolvimentismo a literatura ganhou enorme projeção e alguns escritores se destacaram, tanto por sua marca modernista, inspirada na primeira fase do modernismo, quanto pela atualização de sua escrita. Entre os livros dessa geração, escolhemos analisar “O Encontro Marcado de Fernando Sabino”, publicado no ano de 1956. O livro de Sabino expressa o encontro do tempo do desenvolvimentismo/História, com o tempo da memória/construção de lembranças e do esquecimento. Modernidade, ethos de uma geração, temporalidade e representação social são temas presentes em uma obra literária que fala da vida privada e da nostalgia, além de traduzir os modos de vida de um tempo histórico específico. Crônicas “Na Rua do Ouvidor:” o imperceptível e o sensível na leitura da cidade Marina Haizenreder Ertzogue Doutorado – USP/Professora – UFTO/Pesquisadora do CNPq marina@uft,edu.br Este texto aborda a Rua do Ouvidor, a principal artéria da capital do império, Rio de Janeiro, através da escrita de seus cronistas: Gregório de Almeida e Arthur Azevedo, entre outros. A rua, na época era um beco estreito e mal calçado, entretanto, ela era considerada palco dos acontecimentos sociais e políticos do país. A rua que abrigava casas comerciais, café e confeitarias onde se reunia o high-life fluminense e as últimas novidades vindas da Europa, ditava moda e costumes. Nessa rua também se popularizou a figura do flanêur parisiense de Baudelaire, que se confundia com o cronista da cidade, o jornalista e o repórter. As crônicas sobre a Rua do Ouvidor publicadas na imprensa carioca registram o imperceptível e o sensível na cidade. Cartas de favorecimento: missivas e ensino nas Minas coloniais Paulo Miguel Moreira da Fonseca Professor de História do IFPE [email protected] A presente comunicação visa analisar as singularidades do território mineiro colonial no que se refere às questões relativas à educação e ao ensino religioso e leigo. Para isso, utilizaremos como fonte principal de pesquisa um conjunto de cartas proveniente da Coleção Casa dos 156 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Contos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, que tratam da educação leiga e das formas de acesso a essa educação pela população das Minas. Através das cartas dirigidas a João Rodrigues de Macedo, percebemos uma rede de auxílio que ajudava a sustentar estudantes mineiros no ensino das primeiras letras até os Estudos Superiores em Coimbra. Irradiada pelo contratador Macedo, essa rede de contatos e favores atravessou gerações de colonos, utilizando um tipo de comunicação que, devido a sua natureza, ora nomeamos “cartas de proteção”. A História e as histórias de Machado de Assis nas críticas e crônicas de folhetins Paulo Thiago Santos Gonçalves da Silva Faculdade CIMAN/JK [email protected] A historiografia sobre o Brasil oitocentista é amplamente marcada pelas discussões sobre a formação de uma identidade nacional que se articula com o projeto imperial de consolidação da Nação e que tem no IHGB o lugar institucionalmente autorizado para a execução dessa missão. A partir da criação do IHGB, a história ali produzida se revestiu de um caráter oficial e se encarregou de escrever a história pátria, apta a forjar um passado comum, capaz de imprimir unidade a um país marcado pelo regionalismo e suas disputas. Mas, se a historiografia oitocentista é um campo rico de fontes que nos facilitam compreender como se dá o processo de objetivação da nação e da identidade nacional, ela não é única. Intimamente atrelada à história, nesse período, a literatura se constituiu como lugar privilegiado de profusão e de divulgação de imagens sobre o Brasil. Atento a esses debates, em quase duas décadas de publicações de críticas e crônicas em jornais e folhetins, Machado de Assis nos presenteia com um apurado e irônico olhar sobre os acontecimentos que o cercam, sem deixar de lado os debates que circulam em torno da nação. Assim, seus escritos se tornam fontes que possibilitam olhares outros e que nos revelam que uma identidade não se constitui apenas nos espaços institucionais. Palavras chaves: História, Literatura, Machado de Assis. A reafirmação da lei através da transgressão na literatura sadiana Rafaela Nichols Calvão Mestranda – UFRJ/Bolsista CAPES [email protected] A subversão da lei é um dos fundamentos para o prazer dos personagens criados pelo Marquês de Sade. Esse prazer é fruto de atos transgressores, como o roubo ou o assassinato. A transgressão necessita da lei para poder existir, sem ela não há a possibilidade de violação. Partindo desse pressuposto, podemos afirmar que os atos transgressivos dos personagens sadianos reafirmam a lei. A violação e a proibição são complementares, e juntas formam um 157 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais conjunto que define a vida social. A transgressão é a exceção necessária para que possa existir a lei. Sade defende a existência da lei em seus livros, através da idéia de um equilíbrio da Natureza, na qual ele defende que a Natureza segue apenas esse princípio, e não a noção de bondade, idéia divulgada em sua época. Palavras-chave: Transgressão, Lei e Marquês de Sade Controverso conflito: a Guerra do Paraguai (1865-1870) nas crônicas de Machado de Assis Tiago Gomes de Araújo Doutorando UnB - Professor Faculdade CIMAN - DF [email protected] Esta reflexão pretende apresentar algumas possibilidades analíticas para a interpretação histórica da Guerra do Paraguai, conflito que envolveu Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai, privilegiando o estudo das crônicas de Machado de Assis elaboradas no transcorrer e após as ações bélicas. Além de incitar a promissora relação interdisciplinar entre História e Literatura enquanto campos do conhecimento, ressalto a riqueza de elementos evidenciados pelas fontes literárias. Reforço a ideia de compreendermos estes materiais como instrumentos válidos e sugestivos para os estudos históricos. Nessa medida, apresento duas opiniões diversas do Bruxo do Cosme Velho sobre o conflito platino, dotado de emoções ufanistas e posteriormente, questionadoras dos próprios embates. 158 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 16 Literatura e sociedade – produção, circulação e recepção Interações culturais entre Brasil e Europa: o movimento simbolista brasileiro Alexandro Neundorf (UFPR) [email protected] O referente deste trabalho localiza-se no movimento simbolista brasileiro, tomado como produto de diferentes processos culturais e que se ancora nos chamados países centrais da produção cultural, tais como França, Portugal e Bélgica. Sob outro foco e escala nosso interesse também recai nos “lugares” onde ocorrem os processos de transferência, recepção, circulação e adaptações culturais, entre outros. Nesse aspecto, determinados personagens, de certa forma, “encarnam”, ou elucidam, esses “lugares”. Um problema principal então se encontra na compreensão das vicissitudes dos processos, acima mencionados, e na relação estabelecida entre um Simbolismo europeu e o que se desenvolve no Brasil, assim como a dinâmica interna de relação entre os demais movimentos locais no país. Ideias, visões de mundo, concepções estéticas e filosóficas, acabaram por interferir na recepção e adaptação de um sistema de pensamento e valores simbolistas no Brasil, tornando-o um fenômeno híbrido. Palavras-chave: simbolismo, transferências culturais, movimentos literários. Os dois Pedros: uma análise das narrativas de crime no Brasil Ana Gomes Porto (Unimep) [email protected] Os produtores de livros e jornais começaram a publicar narrativas de crime no Brasil desde a década de 1870. Obviamente, histórias de criminosos já existiam anteriormente, mas é a partir dessa década que se pode inferir um interesse cada vez mais crescente por essas narrativas. Assim, criavam-se características próprias de publicações e efeitos específicos de narrar crimes e criminosos. A intenção nesta comunicação será analisar duas obras sobre um mesmo criminoso, Pedro Espanhol. A primeira foi escrita por Moreira de Azevedo no início da década de 1870, sendo uma das três narrativas do livro Criminosos Célebres. Episódios Históricos. A segunda foi publicada sob a forma de folhetim e livro por José do Patrocínio em 1884: Pedro Espanhol. Romance original. Com essa análise será possível notar as mudanças em relação à forma de construção narrativa de cada uma das histórias, as diferenças relacionadas às publicações e, finalmente, possibilitará uma compreensão em torno da história da produção de narrativas de crime no Brasil. 159 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Em nome do dissenso: Tobias Barreto e a criação de uma opinião pública alternativa no Brasil Imperial Aruanã Antonio dos Passos (UEG) [email protected] Tobias Barreto de Meneses (1839-1889) é considerado o pai fundador e um dos grandes expoentes do movimento filosófico-cultural que se avolumou em torno da Faculdade de Direito do Recife (“Escola do Recife”) e que agregou Silvio Romero, Castro Alves, Joaquim Nabuco, Clóvis Beviláqua, Capistrano de Abreu, Graça Aranha dentre outros. Além de advogado e filósofo e poeta. Em vida seus poemas circularam nos jornais de Recife, sendo que sua única obra de poesias (Dias e Noites) só fora publicada após sua morte. Apesar de ser considerado o fundador do condoreirismo na poesia brasileira os críticos taxam seus poemas de “sensualistas” e “triviais”. Entendido mais como crítico ácido que poeta, Tobias Barreto publicou alguns jornais mesmo quando viveu por dez anos no interior de Pernambuco (Escada). Merece destaque o jornal Deutcher Kampf (O lutador alemão). A publicação do jornal todo em alemão revela a dimensão da crítica de Tobias ao Brasil que via na França o grande modelo cultural a servir de paradigma. Assim compreendemos a obra poética além dos textos publicados por Tobias nos jornais como complementares a sua crítica aos intelectuais que viviam na corte imperial e se sujeitavam a ela. Não à toa Tobias Barreto jamais concordou em se mudar para a capital e mesmo no interior de Pernambuco buscou uma alternativa para expressar seu pensamento com a pretensão de criar uma opinião pública alternativa ao centralismo cultural da corte imperial. Projeto esse inegavelmente articulado a sua crítica a cultura nacional, em suas dimensões literárias, filosóficas e políticas. Júlio Ribeiro e o universo de produção e recepção literárias no Brasil (1870-1890) Célia Regina da Silveira (UNICAMP) [email protected] Pretende-se, nesta comunicação, examinar a recepção da obra literária de Júlio Ribeiro pelos jornais, pela crítica literária e pelo “grande público” das últimas décadas do século XIX, com o objetivo de (re)compor o universo literário no qual o autor estava englobado. As práticas de leitura com respeito a Padre Belchior de Pontes e A Carne, poderão proporcionar indícios não só dos embates do escritor, mas também como os seus textos foram apropriados pelas distintas instâncias de consagração da época. Portanto, no horizonte da pesquisa busca-se responder a seguinte indagação: De que maneira os romances foram lidos pelas distintas esferas de leitores. Palavras-chaves: Júlio Ribeiro; Romances; Universo de Recepção 160 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Os experimentos de Machado de Assis nas páginas de A Estação Daniela Magalhães da Silveira (INHIS - UFU) [email protected] Machado de Assis começou a colaborar no suplemento literário de A Estação a partir do número de 30 de julho de 1879, com a primeira parte do conto “Um para o outro”. Essa participação durou até 1898, quando publicou “Relógio parado”, conto que, na coletânea Relíquias de casa velha, receberia o título de “Maria Cora”. Além dessa contribuição como contista, Machado ainda publicaria, naquelas mesmas páginas, o romance Quincas Borba. Boa parte daquelas histórias, para que ganhasse o formato de livro, passou por um processo de reescrita minucioso. O objetivo da apresentação será o de tentar compreender as motivações desse literato como colaborador de uma revista com aquele perfil e como suas páginas serviram de espaço de experimentação de algumas fórmulas literárias que mais tarde seriam desenvolvidas, por meio da publicação sob o formato de livro ou da possível reescrita de novas narrativas. Palavras-chave: Machado de Assis, A Estação, leitura. Jorge Amado e Pepetela: afinidades e dissonâncias em Tenda dos Milagres e Mayombe Derneval Andrade Ferreira [email protected] O presente trabalho pretende colocar em diálogo duas obras publicadas na segunda metade do século XX, um de autoria de um singular escritor baiano e outra de um escritor angolano, objetivando investigar as afinidades e dissonâncias presentes nas construções discursivas dos autores em relação à construção da identidade nacional e da construção da identidade racial. Tenda dos Milagres e Mayombe são o locus desta pesquisa, tendo em vista que, a literatura reflete as relações do homem com o mundo e com os seus semelhantes. Por isso, as obras literárias de um determinado período histórico, ainda que se diferenciem uma das outras, possuem certas características comuns que as identificam, tendo em vista que as relações se transformam historicamente e a literatura é sensível às peculiaridades de cada época, aos modelos de encarar a vida, de problematizar a existência, de questionar a realidade e de organizar a convivência social. Palavras- chave: Literatura; História; Jorge Amado e Pepetela. Dom Casmurro: memória, narrativa e hierarquia social Jefferson Cano 161 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] Nesta comunicação pretende-se analisar os possíveis significados de Dom Casmurro, de Machado de Assis, considerado de uma dupla perspectiva: por um lado, a presença de significados sociais na narrativa é discutida por meio da construção da posição de um narrador claramente marcado pela sua classe; por outro, sugere-se que tal entendimento do romance divergia de sua recepção contemporânea, a qual era, em certa medida, limitada pelos significados estéticos disponibilizados pela experiência de seus primeiros leitores. Dois irmãos de Milton Hatoum: um olhar que vem do Norte Kárita Aparecida de Paula Borges Mestre em Teoria Literária pela UnB [email protected] O intuito do presente trabalho é averiguar a construção narrativa da obra Dois irmãos (2000), do escritor amazonense, de origem libanesa, Milton Hatoum, como produção artística pertencente ao corpus da tradição literária brasileira e os possíveis questionamentos suscitados em torno dessa mesma tradição. Nesta análise da obra literária, pretende-se compreendê-la atrelada ao contexto sócio-histórico, não como representação do real enquanto documentário, mas perceber a realidade como instrumento (matéria-prima) que o escritor utiliza para recriar, transfigurar, por meio de um discurso ficcional, a realidade em que se insere. Desse modo, sabe-se que é estreita a relação entre literatura e os fatores sociais no processo criativo de um escritor, ao se considerar que, por meio de uma redução estrutural, a literatura produz um mundo à parte e transfigura, por modo estético-ideológico, a realidade. Com essa ressalva, faz-se necessário inferir a noção de espaço geográfico (no caso específico o território amazônico brasileiro) como veículo problematizador das relações sociais no âmbito da obra hatouniana em questão, haja vista que tal concepção propicia uma narrativa ambientada na Manaus das décadas de 1910 a 1960 (desde o fim do Ciclo da Borracha, passando pela 2ª Guerra Mundial até a ditadura militar com O Golpe de 64). Desse modo, tem-se a narrativa contemporânea Dois irmãos como produção artística que engendra uma interpretação do Brasil na medida em que os processos históricos de uma determinada época em Manaus e, também no restante do país, são revelados pelo olhar de um arguto observador (o narradorpersonagem Nael). A literatura e o mercado de bens simbólicos Dra. Larissa Warzocha Fernandes Cruvinel (UEG) [email protected] Dra. Poliene Soares dos Santos Bicalho (UEG) [email protected] O objetivo deste trabalho é refletir sobre o papel do mercado editorial na circulação e prédeterminação da obra literária. Para isso, partiremos de uma conhecida coleção de narrativas 162 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais voltadas para o público leitor jovem, a Série Vaga-Lume, da editora Ática, que surgiu na década de 1970 e, até os dias atuais, alcança um grande aceite nas escolas e vendas expressivas no mercado editorial. A literatura juvenil se apresenta como uma arte em trânsito entre a necessidade de legitimidade, a preocupação de atrair o público alvo e a pressão das editoras para conseguir altos índices de vendas. Neste sentido, faz-se necessário refletir sobre as confluências da obra de arte ligada, na contemporaneidade, aos padrões impostos pelo mercado e a qualidade estética. Tendo em vista esses norteamentos, analisaremos a obra Açúcar Amargo, de Luiz Puntel, publicada na Série em 1986, e que narra a trajetória de uma adolescente em meio aos conflitos familiares e à exploração dos trabalhadores dos canaviais, para observar como as normas do mercado podem interferir na tecitura literária. Entre a pena e a tribuna: os enlaces do discurso político e literário de uma intelectual capixaba, Judith Leão Castello (1898-1982) Lívia de Azevedo Silveira Rangel Mestranda em História Social das Relações Políticas (UFES) [email protected] O objetivo desta comunicação é discutir a contiguidade entre a linguagem política e a linguagem literária de uma das mais proeminentes figuras da intelectualidade feminina capixaba, a educadora, política e literata Judith Leão Castello. Nascida no Espírito Santo, no ano de 1898, esta escritora também se destacou como colaboradora da revista Vida Capichaba – órgão da imprensa local fundado em 1923. A proposta será a de identificar, a partir dos textos que publicou no respectivo periódico, os pontos de interseção estabelecidos entre sua prática literária e sua posterior inserção no mundo político, desde a adesão ao movimento feminista até o desfecho como deputada estadual. Para se pensar tal transição parte-se da noção de que os discursos literários, assim como os discursos políticos, só fazem sentido enquanto observados como resultado de uma negociação entre quem emite o discurso e o seu meio social. E, por esta abordagem, torna-se indispensável considerar o papel da imprensa na formação de uma rede de sociabilidade, que permite constituir tanto circuitos de divulgação quanto de circulação de ideias, advindas de diversos diálogos socialmente construídos. Palavras-chave: Discurso Literário; Discurso Político; Intelectualidade Feminina Capixaba Construção da memória e resistência na autobiografia “Diário de um detento” Marcela de Paolis (USP) [email protected] O livro “Diário de um detento”, publicado em 2001, é uma autobiografia sobre a trajetória pri- 163 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais sional do autor. Preso durante o período de 1994 a 1998, Jocenir se apresenta como mais um preso comum que procura descrever o cotidiano das prisões paulistanas por onde passou. A despeito de não transitar no meio literário ou de ter qualquer familiaridade anterior com o trabalho da escrita, Jocenir se empenha na elaboração e publicação desse livro. Quais os motivos que o levam nessa empreitada; qual o diálogo dessa publicação com outras semelhantes; e a repercussão de sua obra na imprensa serão os eixos da comunicação proposta. Escrever sob censura Márcia Abreu Instituto de Estudos da Linguagem - UNICAMP [email protected] A comunicação “Escrever sob censura” pretende discutir a elaboração de obras literárias no Antigo Regime luso-brasileiro, considerando a ação da censura. Ao contrário do que, em geral, se pensa, os censores não eram responsáveis apenas pela supressão de trechos e eliminação de obras. Eles interferiam nos textos, não apenas para cortar passagens suspeitas, mas para emendar, corrigir e aprimorar alguns dos textos que examinavam. A existência de uma negociação entre censores e autores, assim como a percepção de que os censores atuavam como “revisores” e, em alguns casos, como “co-autores”, têm impacto sobre a compreensão do processo de elaboração das obras literárias. Quantos versos tidos como composições da mais fina elegância verbal não terão chegado a essa forma a partir da intervenção dos censores? Quantos romances não deverão seu sucesso às negociações com os censores? Noções de autoria, criação individual e gênio criativo poderiam ser revistas se considerado o modo de composição e produção dos textos no Antigo Regime luso-brasileiro. Palavras-chave: autoria, censura, criação literária. Histórias famosas de presos e prisões nos jornais cariocas Marilene Antunes Sant´Anna Universidade Gama Filho [email protected] No início do século XX, as prisões no Rio de Janeiro, bem como histórias de famosos prisioneiros ganharam maior visibilidade nas páginas dos jornais e da literatura carioca. Nossa comunicação busca apresentar alguns desses relatos e seus autores, analisando os argumentos pelos quais tais espaços – principalmente as Casas de Correção e Detenção – e seus habitantes eram observados e encaminhados à opinião pública. Além de discutirmos as relações com teorias científicas do período, esclarecer o perfil dos crimes cometidos na cidade e tratar das tensões desenvolvidas com o Estado Republicano no tocante a exclusão e violência de determinados setores da população, as histórias produzidas sobre a vida atrás dos muros das prisões permitem desvendar comportamentos e tradições dos presos - um grupo largamente estigmatizado no país. 164 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais “A edição é a indumentária do livro”: Benjamim Costallat e o mercado editorial carioca na década de 1920 Patrícia de Souza França (UFRJ) [email protected] Em 1923, um dos nomes mais festejados da literatura nacional, Benjamim Costallat, associou-se a José Miccolis, inaugurando a editora Costallat & Miccolis que, na década de 1920, se tornou famosa pela publicação de obras de visível apelo popular. Buscando atingir um amplo público leitor, Costallat e seu sócio dispensaram grande atenção ao tratamento gráfico de seus livros, a fim de torná-los atraentes. Investiram nas encadernações em brochura; nas capas ilustradas; e nos títulos e enredos sensacionais. O mercado editorial brasileiro vivenciava, na década de 1920, um período de profundas transformações e inovações, caracterizado por uma nova concepção do livro como objeto gráfico industrial. Diante da importância no cenário cultural carioca da empresa Costallat & Miccolis – cujas publicações atingiam cifras surpreendentes de venda e esgotavam sucessivas edições-, este trabalho pretende examinar a atuação editorial de Benjamim Costallat. Palavras chaves: Benjamim Costallat – mercado editorial – Rio de Janeiro Uma Martinha vale uma Lucrécia? - Literatura, história e anonimato em Machado de Assis Raquel Machado Gonçalves Campos (UFRJ) [email protected] Há, na literatura de Machado de Assis, um procedimento que consiste em comparar anônimos - gente sem importância aparecida em histórias de jornais e personagens de suas obras - com grandes personagens históricas ou literárias. É assim que a dor de Bentinho diante da obrigação de elogiar Escobar morto é maior que a de Príamo, que teve de beijar a mão ao assassino de seu filho; ou que a baiana Martinha e seu punhal nada fiquem a dever a Lucrécia, eternizada por Tito Lívio na História de Roma. Examinando tal procedimento à luz de uma prática semelhante, dos historiadores brasileiros contemporâneos de Machado, trata-se de explicitar suas implicações para o estabelecimento de uma concepção de história que revoga a divisão entre memoráveis e condenados ao esquecimento, e que permite que qualquer um seja pensado como sujeito da história. Agualusa vendendo passados e Antunes nos Cus de Judas: literatura e representação identitária no contexto histórico colonial lusófono pós-moderno 165 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Romilton Batista Oliveira (UNEB) [email protected] A memória reorganiza os acontecimentos que abalaram as estruturas sociais das antigas tradições diante de um novo paradigma que traz à tona um novo constructo social: a identidade pós-moderna. Nessa perspectiva, propõe-se aqui investigar os processos de construção de memória e das representações identitárias no espaço literário, através de dois textos vistos como emblemáticos das relações entre a literatura e os contextos histórico-político-social que ela evoca. O Vendedor de Passados, do angolano J. Eduardo Agualusa, e Os Cus de Judas, do português A. Lobo Antunes, tratam de momentos e situações da história recente de Angola, envolvendo colonizadores e colonizados em seus dramas em torno da independência do jovem país africano. A pesquisa busca seguir a linha metodológica dos estudos comparados e apoio teórico em certos conceitos-chave de Le Goff (2003), Pollak (1992), Hall (1990), Bakhtin (1995), Halbwachs (2006), Hutcheon (1991), Iser (1996), entre outros. Inscrições históricas e literárias em Cascalho, de Herberto Sales Valter Guimarães Soares Universidade Estadual de Feira de Santana [email protected] Nas representações acerca dos territórios identitários baianos, onde geralmente se entrelaçam ficção, memória e história, é possível verificar na produção discursiva a presença de pelo menos quatro Bahias: do Recôncavo, do Cacau, a Sertaneja e, dentro desta, a do Garimpo. No caso desta última, destaca-se o arquivo de textos do escritor Herberto Sales, onde se traça um amplo painel social dos garimpos diamantinos (Cascalho, 1944; Garimpos da Bahia, 1955; Além dos Marimbus, 1961). A re-escrita da história, não mais pela perspectiva do coronel, mas dos ditos subalternos (garimpeiros, pauzeiros, prostitutas, retirantes), é um traço marcante desta escritura, deixando à mostra uma influência do marxismo como forma de ver e dizer a realidade, como modelo de interpretação social e como agenda de atuação política. Considerando que uma época não apenas escreve mas também se inscreve nos textos, nesta comunicação procuro fazer uma leitura do romance Cascalho, procurando perceber como vai sendo tecida, pela via do discurso literário, esta “outra Bahia”, ao tempo em que, atento à historicidade da produção, busco rastrear as implicações éticas, estéticas e políticas que habitam a narrativa, um rebento tardio do chamado regionalismo de 30. Entre o nacionalismo e o pensamento ilustrado: Cultura política, história e ficção nas representações ambivalentes de Eça de Queiroz, em Os Maias 166 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Virgílio Coelho Oliveira (PUC – Minas) [email protected] Este artigo propõe uma análise das representações políticas de Eça de Queiroz, sobre Portugal no século XIX. Nessa conjuntura, em que a Europa ocidental vivia a consolidação de muitos dos elementos da modernidade, já anunciados nos séculos XV e XVI, Eça de Queiroz, por meio de uma escrita primorosa e por vezes “ácida”, tece uma crítica à insípida modernização e ao desenvolvimento letárgico da sociedade portuguesa dos oitocentos. Partindo do princípio de que a política não se limita ou materializa nos “lugares” convencionais e ou tradicionais, isto é, partidos e demais componentes sociais ligados às esferas oficiais de exercício de poder; tomamos uma das principais obras de Eça de Queiroz, ou seja, Os Maias, com o objetivo de analisar as representações políticas queirosianas. O foco será o de destacar as ambivalências dessas representações, na medida em que, se por um lado, Eça de Queiroz considera que a sociedade portuguesa é altiva, beata e conservadora, devendo abrir-se para as “luzes” do pensamento ilustrado; por outro, suas representações colocam em relevo a ideia de que tal sociedade deveria preservar e resgatar valores tradicionais da nação que em outrora fora grande e poderosa. Mulheres na imprensa: a Revista Feminina e a luta pelo direito ao voto, trabalho e instrução (1920-1930) Virgínia Maria Netto Mancilha Mestranda em História pela Unicamp [email protected] Na primeira metade do século XX, proliferou no Brasil uma série de revistas que se dedicaram a refletir sobre o papel da mulher na sociedade daquele momento. Nesta comunicação pretende-se analisar como a Revista Feminina (RF), periódico que circulou entre as décadas de 1920 e 1930, construiu e se constituiu como um novo espaço de visibilidade feminina no campo da imprensa. Em geral, a historiografia atribuiu à RF um caráter exclusivamente conservador, cujo mote era sustentar uma imagem da mulher mãe/esposa/dona-de-casa. Procuro discutir, porém, que ao longo de sua existência a revista se empenhou em diversas campanhas articuladas por um corpo de colaboradoras engajadas na luta pelo direito ao voto, ao trabalho e à instrução feminina, o que estabeleceu uma rede de interlocução com a grande imprensa e com os projetos discutidos pelo Senado. Palavras – chave: Imprensa feminina, Revista Feminina, Questão de gênero. 167 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 17 História cultural da saúde e das doenças – paisagens educativas e sensibilidades médicas O beijo maldito: Flávio Maroja e o grande perigo social Azemar dos Santos Soares Júnior (UFPB) [email protected] Este trabalho tem por objetivo analisar a divulgação do beijo enquanto “um grande perigo social” pelo médico sanitarista Flávio Maroja na década de 1910. O beijo passou a ser visto como algo que deveria ser evitado constantemente por todos que de alguma forma empregasse o ato como forma de carinho. Beijar, poderia comprometer a saúde das pessoas, colocar a vida em risco, em especial, pela quantidade de epidemias que assolavam o estado da Paraíba nos primeiros anos do século XX. O beijo tornou-se um sério problema, pois, representava uma via, um agente de fácil contágio de doenças. Assim, o discurso do sanitarista alertava não apenas para os riscos da transmissão de doenças, mas, também, para os perigos políticos associados ao beijo de Judas. Metodologicamente, utilizo a História Cultural para problematizar o discurso médico moralizante, que agiam como disciplinador de corpos e educadores da população. Tais discursos podiam ser encontrados em periódicos de grande circulação no estado, como o jornal A União, atuando como estratégia para normatizar os diversos segmentos da população. Palavras chave: Beijo, perigo e História Cultural. Traçando e trançando os caminhos da saúde pública em Araguari no período de 1940 a 1950. Damaris Naim Marquez (UNICAP) [email protected] Milena Karla Silva (UNICAP) [email protected] Paula kessy Silva (UNICAP) [email protected] Este artigo apresenta resultados parciais da pesquisa sobre saúde pública que vem sendo realizada pelo grupo de pesquisa “História, Gênero e Cotidiano” composto por professores e alunos da Universidade Presidente Antônio Carlos/UNIPAC - Araguari/MG. No presente trabalho, temos como objetivos discutir e pontuar questões relativas á saúde pública em Araguari, cidade do interior do Triângulo Mineiro, no período de 1940 a 1950. Utilizamos como fonte de pesquisa as crônicas do jornal Gazeta do Triângulo, de distribuição e circulação local, que discutem a saúde pública araguarina, para apropriação de conhecimentos e como facilitador para uma melhor compreen- 168 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais são da relação saúde/política/sociedade, articulados aos discursos científicos como divulgadores dos saberes médico-higienistas enquanto estratégias políticas educativas sobre o pensamento higiênico-sanitarista da época acima mencionada. Percorrer caminhos que permitam refletir sobre esta complexa questão implica repensar as práticas da saúde não como meras mediadoras da vida/morte, mas, e antes de tudo, como práticas atravessadas por relações de poder constituidoras de posições de sujeitos, normatividades, diferenças e desigualdades de classe. Palavras-chave: saúde pública – discursos científicos – práticas de saúde. Cidade da ordem: A construção de Goiânia e a Psiquiatria Éder Mendes de Paula Universidade Federal de Goiás [email protected] Utilizando-se de conceitos de Michel Foucault, Canguilhem e Bauman este trabalho propõese a realizar uma análise da construção de Goiânia na década de 1930 sob o viés da psiquiatria. Isso se vale dado ao momento histórico específico e sobre as discussões acerca do conceito de modernidade que estava em voga naquele momento. Assim, a contribuição é possibilitar a visualização da edificação desta cidade, mediante os discursos de ordenação social que a modernidade até aquele momento imputava para a sociedade goiana. A construção de um sanatório público na cidade acontece na década de cinquenta, mas é a consolidação das políticas nascentes pós-revolução de 1930. Reconfigurações, vivências e tessitura da saúde pública em Araguari na década de 50 Gilma Maria Rios (UNIPAC) [email protected] Mariana M. Rios (UNIPAC) [email protected] Lívia Coutinho (UNIPAC) [email protected] Esta pesquisa representa a concretização de um trabalho desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa “História, Gênero e Cotidiano”, composto por docentes e discentes de vários cursos da Universidade Presidente Antônio Carlos/UNIPAC – campus Araguari. Trabalho que estimula e testemunha o início do desenvolvimento de novos caminhos para a pesquisa na UNIPAC. A proposta desta comunicação é analisar e refletir sobre os percursos históricos, as práticas sociais e os jogos de força que constituem a prática da saúde em Araguari. Para atingirmos esses objetivos, escolhemos como fonte de pesquisa os artigos do jornal Gazeta do Triângulo, referentes à temática “Saúde Pública”, que circulou pela sociedade araguarina na década de 50. Este trabalho é fruto do esforço e sensibilidade das pesquisadoras que indagaram e in- 169 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais terpretam os indícios deixados por agentes sociais que viveram em um determinado tempo, procurando apreender significados. Estes significados vão sendo moldados pela percepção, das permanências e rupturas, das configurações que atuam como fios condutores explicativos da história. Assim, ao analisar os discursos científicos como divulgadores dos saberes médico – sanitaristas, como os artigos do jornal local, estamos descobrindo os fios, tecendo a trama desse modo de pensar e fazer a medicina sanitarista em uma cidade do interior mineiro. Palavras-chave: Saúde pública – Araguari – Saberes médico – sanitaristas. Saúde, doença e medicalização: Uma perspectiva historiográfica Iêda Moura Silva Universidade Federal do Piauí [email protected] Com base na implantação e trajetória da política de saúde pública no Brasil entre fins do século XIX e meados do século XX, este artigo pretende discutir algumas das perspectivas da historiografia brasileira sobre a saúde, doença e medicalização. Entretanto, através das análises de determinadas produções historiográficas dedicada ao tema da saúde, abordaremos o processo de modernização e urbanização de determinadas cidades brasileiras, a exemplo de São Paulo e Teresina (PI), que face à realidade de uma política de saúde pública autoritária e excludente, foram medicalizadas. Palavras- chave: Historiografia. Políticas de saúde pública. Modernização. O discurso médico-higienista nas escrituras femininas do segundo império Iranilson Buriti de Oliveira Universidade Federal de Campina Grande [email protected] “Um banho de água fria todas as manhãs é um meio excelente para um refrigério e saúde”, escrevia a missionária Sarah Kalley, nos idos do Segundo Império, mais precisamente em 1866, quando a escritora escreveu o livro “A Alegria da Casa”, um texto voltado para orientações particularmente das mulheres que integravam a Igreja Evangélica Fluminense, fundada pelo seu marido, o médico Robert Kalley. A circulação e recepção aos impressos de Kalley foi tanta que o referido livro passou a ser adotado nas escolas fluminenses a partir de 1880, demonstrando a circulação do discurso médico-higienista voltado para o ambiente familiar no cotidiano da população carioca. Esta pesquisa, portanto, visa contribuir com a temática voltada para a escrita, circulação e recepção de discursos moralizadores, higienizadores e doutrinadores no Segundo Império, problematizando como esse tipo de literatura circulava entre o público leitor brasileiro. A análise do livro “A Alegria da Casa” desenha as aproxi- 170 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais mações entre os discursos médico, o religioso e o educacional, tomando como referência o período compreendido entre 1866 e 1880, no Rio de Janeiro. Nessas aproximações, problematizamos o saber médico na orientação do saber pedagógico e sua recepção no discurso dos educadores. Para tal análise, iremos dialogar com a teoria que repensa os conceitos de leitura e de apropriação de discursos construídos pela Nova História Cultural, como estratégia metodológica para problematizar as formas de ler e os modos de prescrever a sociedade higienizada, civilizada e educada. Palavras-chave: asseio, higienização, feminino Palmatória da Saúde, Estetoscópio da Educação: leitura, circulação e recepção dos discursos médico-pedagógicos na Parahyba (1919-1945) Iranilson Buriti de Oliveira Universidade Federal de Campina Grande [email protected] Esta pesquisa desenha as aproximações entre os discursos médico e o educacional, tomando como referência temporal o período compreendido entre 1919 e 1945, no Estado da Paraíba. Nessas aproximações, problematizamos o saber médico na orientação do saber pedagógico e sua recepção no discurso dos educadores. Como fontes, iremos analisar os escritos de políticos (presidentes de Estado e presidentes da União) sobre a higiene e a educação sanitária; os textos jornalísticos e os da Revista Era Nova e da Revista do IHGP assinados por médicos, educadores e demais autoridades públicas, bem como os documentos referentes às reformas educacionais no Brasil e na Paraíba no referido período. Para tal análise, iremos dialogar com a teoria que repensa os conceitos de leitura e de apropriação de discursos construídos pela Nova História Cultural, como estratégia metodológica para problematizar as formas de ler e os modos de prescrever a Paraíba higienizada, civilizada, moderna e educada. Palavras-chave: saúde, educação, Paraíba. Juventude Transviada. Alguns aspectos médicos-sociais(1950-1960) Lidia Noemia Santos Doutoranda em História (PUC-SP) [email protected] Em mil 1966, Napoleão L. Teixeira, médico das forças armadas e professor do curso de medicina da Universidade Federal do Paraná tem seu livro Juventude Transviada. Alguns aspectos da problemática médico-social publicado pelas Edições Letras Províncias. Ao longo do texto, o autor busca explicar porque jovens e adolescentes, inclusive de boa formação familiar e 171 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais educacional, estão se tornando transviados. Dez explicações conclusivas para os desvios de comportamento juvenil são apontados, motivos que vão da prática de assistir filmes hollywoodianos ao consumo de álcool e outras drogas. Fonte inédita nos estudos acadêmicos sobre a juventude, o livro de Napoleão Teixeira se revela uma fonte preciosa para compreensão da atuação das gangues juvenis e da juventude transviada no Brasil. A opção por uma análise pautada em argumentos médicos é reveladora pois expressa um momento de inqueitação da sociedade em saber como tratar com seus filhos ditos rebeldes. Além disso, é um vestígio do como se constrói uma psiquiatria e uma psicologia no Brasil, direcionadas especificamente para o tratamento dos jovens e dos adolescentes, ainda hoje estigmatizados pela possível indolênscia prórpia da pouca idade. Rompendo correntes e grades: o sanatório meduna como novo espaço psiquiátrico em teresina na década de 1950 Márcia Castelo Branco Santana Universidade Estadual do Piauí-UESPI [email protected] À medida que as mudanças começaram a se avolumar Teresina em relação ao saber médico e sua importância para a constituição de uma sociedade mais civilizada foi se formulando entre os teresinenses a idéia de um tratamento mais humanizado para os doentes mentais. Tal imagem se consolidaria entre os teresinenses na década 1950, bem como o que se entendia por loucura. Assim, o trabalho objetiva compreender como se formularam a construção dos discursos e ações normatizadoras do comportamento para homens e mulheres na sociedade teresinense dos anos 1950. Como fontes para elaboração do trabalho, utilizamos as fichas de internação dos pacientes do Sanatório Meduna internados na década de 1950, artigos, poemas e reportagens, sobre o Sanatório, publicados no jornal O Dia e no Diário Oficial do Piauí. A análise das fontes foram delineadores do que era registrado como sintomas de loucura e a inteligibilidade da doença, o que nos possibilitou compreendermos as nuances do saber psiquiátrico e a configuração de um novo espaço desse saber em Teresina. Palavras-chave: Teresina. Psiquiatria. Sanatório Meduna A santa casa de misericórdia de cuiabá e os enterramentos dos pobres na cidade no limiar do século XX Maria Aparecida Borges de Barros Rocha (UFG) [email protected] O artigo tem por objetivo apresentar uma discussão sobre a atuação da Santa Casa de Miser- 172 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais icórdia da cidade de Cuiabá no nascente século XX e suas atividades de atendimento aos pobres quando eles se deparavam com infortúnios como a doença e a morte, assim como seu trabalho referente aos serviços funerários da cidade. A Misericórdia era reconhecida como irmandade da elite, pois, aglutinava entre seus irmãos pessoas da mais alta estirpe, no entanto, seu Compromisso a diferenciava das demais irmandades, pois além de propor atendimento aos irmãos, quando diante da morte propunha também a obrigação de prestar socorro aos pobres e desvalidos. O desenrolar do processo de construção, transferência dos enterramentos e por último a questão da secularização dos Cemitérios Públicos da cidade de Cuiabá em andamento na Assembléia Provincial e na Câmara Municipal contarão com atuação da Misericórdia e demais irmandades religiosas da cidade. A prática de atuação da Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá se assemelhará à de outras instituições com o mesmo nome e os mesmos propósitos, como a Santa Casa de São Paulo e a Santa Casa da Bahia, que como em Cuiabá atenderão os pobres e também procurarão deter o monopólio dos serviços funerários dessas cidades. Palavras-chave: Misericórdia; Morte; Enterramentos. Medicina popular e saber médico no Real Hospital Militar de Vila Boa de Goiás, 1750-1832 Mônica Paula Age Doutoranda em História UFG, Mestre em História UFG, pesquisadora sobre História da Medicina, Gênero e educação [email protected] Este trabalho representa o resultado parcial de minha pesquisa, que ora desenvolvo, sobre o Real Hospital Militar de Vila Boa de Goiás, 1750-1832. Através da pesquisa documental e do diálogo interdisciplinar, pretende-se analisar a presença dos conhecimentos médico e popular na cura dos doentes quando acamados no Hospital Militar vilaboense. Considera-se, no presente estudo, a influência do saber médico-científico lusitano bem como os aspectos peculiares da medicina colonial brasileira: número de médicos insuficientes, ausência de cirurgiões e medicamentos, a impopularidade do ambiente hospitalar e o universo das práticas e valores populares relativos à cura. Crê-se que o estudo ora empreendido contribui com a história da medicina, com o fazer história e, ao mesmo tempo, privilegia um setor social ainda pouco valorizado na historiografia goiana: a área da saúde. “Entalados e estalecidos”: o sertão e seu habitante sob a ótica das narrativas de viagem de Arthur Neiva e Belisário Penna ao Nordeste do Brasil – 1912 Pávula Maria Sales Nascimento 173 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Universidade Federal do Vale do São Francisco [email protected] Em 1912 três expedições científicas financiadas a serviço da Inspetoria de Obras contra a Seca foram realizadas pelo Instituto Oswaldo Cruz ao interior do Nordeste com o objetivo de realizar estudos sobre as condições de saúde das populações do sertão. A terceira expedição, que teve como figuras centrais os médicos Belisário Penna e Arthur Neiva, foi realizada entre março e outubro de 1912, percorrendo o norte da Bahia, o sudeste e sul do Piauí e o estado de Goiás. A viagem de Neiva e Penna foi registrada em diários de viagem e em fotografias onde, além das descrições relativas às condições de saúde da população sertaneja, são delineadas também as condições higiênicas das localidades de acordo com os preceitos médicohigienistas em voga na época. Este trabalho tem como objetivo compreender as narrativas de cunho etnográfico presentes no relatório da “Viajem científica pelo Norte da Bahia, sudoeste de Pernambuco, sul do Piauhí e de norte a sul de Goiaz” à luz da medicina, bem como sob a ótica dos pesquisadores que tinham como missão levar a ciência às populações mais afastadas da “civilização”. Palavras-Chave: Medicina, Nordeste, Higienização. Narrativas de vida de familiares de doentes de tuberculose em Campina Grande-PB Regina Coelli Gomes Nascimento TUTORA/PET/HISTORIA/UFCG [email protected] Nesta pesquisa analisamos questões relacionadas ao preconceito enfrentado por doentes com tuberculose na década de 1970 na cidade de Campina Grande-PB. Buscamos problematizar as narrativas que circularam, demarcar os lugares e as diferenças entre os sujeitos no espaço doméstico e social. Embasados nos pressupostos pensados por Michel de Certeau acerca das práticas cotidianas, as histórias narradas serão analisadas a partir de um lugar social, buscando perceber as sutilezas e operações do fazer e do saber dos doentes diante das reações mais comuns de separar talheres, pratos e objetos pessoais e/ou evitar falar, tocar e se aproximar das pessoas. Assim, a partir desse recorte temporal, espacial e metodológico, procuramos problematizar as Histórias narradas pelos sujeitos que vivenciaram o estigma e o preconceito relacionado à doença. Palavras-chave: tuberculose – preconceito – Campina Grande A configuração do campo da saúde pública no Piauí (1930- 1945) Sorailky Lopes Batista Universidade Federal do Piauí 174 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] [email protected] A configuração do campo da saúde pública no Piauí, entre 1930 e 40, aconteceu como conseqüência da emergência de um Estado autoritário edificado sobre uma base centralizadora, burocratizante e racionalizada. Tais características somaram-se a um discurso nacionalista exacerbado que foi posto em prática pelo Governo Getulista. Objetivamos com o presente trabalho analisar o desenvolvimento e institucionalização do campo da saúde pública, moldado sobre o centralismo, a burocracia e a racionalidade. Tentamos entender como esse processo deu-se no Estado do Piauí, quais meios e estratégias foram utilizadas pelos governantes locais na tentativa de implantação do novo modelo de saúde pública que foi instituído com a Era Vargas. Palavras-chave: Estado Novo – Saúde Pública - Campo Menstruação: tabus e tradição Virginia Palmeira Moreira (UFCG) [email protected] Esta trabalho busca analisar discursos e tabus que são construídos sobre o corpo feminino, enfocando o ato da menstruação como uma prática para se pensar códigos e valores presentes no contexto sociocultural no qual as mulheres estão inseridas. Esta pesquisa atenta para o simbolismo cultural da menstruação, decorrente das transformações biológicas e psicológicas desenvolvidas durante a puberdade. Para tal, nos apoiaremos nos depoimentos orais de dez mulheres, com idades que variam de 60 a 70 anos de idade. Vale ressaltar, que todas as entrevistadas nasceram e foram educadas no meio rural, bem como vivenciaram sua primeira menstruação neste espaço. Desse modo, a presente pesquisa procura problematizar como mulheres, a partir da experiência menstrual constroem representações do feminino. Sob uma perspectiva da história cultural, à medida que abordamos práticas e representações e suas manifestações dentro de uma lógica cultural específica a sociedade a qual estas mulheres pertencem. Para tanto, buscamos aporte teórico nas questões de gênero e identidade, analisando símbolos e significados que são atribuídos ao corpo menstruado para se pensar as práticas e representações que são elaboradas e reinventadas na cultura. Palavras-chave: corpo, identidade feminina, relações de gênero, representação Influência dos princípios higienistas nas transformações urbanas, na educação e nos espaços escolares no Brasil no final do século XIX e começo do século XX Zilsa Maria Pinto Santiago Universidade Federal do Ceará 175 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] Trata de parte da pesquisa em andamento que se insere na História da Educação dentro do contexto de formação da identidade nacional do projeto republicano. Analisa as influências dos princípios higienistas vigentes que se acentuaram no Brasil no final do século XIX e começo do século XX nas transformações das cidades, na educação e nos espaços escolares, tendo a Capital Federal como fonte de conflitos e problemas, cenário de epidemias e de precárias condições de salubridade nos espaços habitacionais de vias urbanas, ao mesmo tempo centro das discussões das idéias fundamentadas no pensamento científico e centro das atenções das outras cidades brasileiras, incluindo Fortaleza, particularmente no inicio do século XX quando a influência estrangeira moldava o espírito das classes dominantes. 176 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 18 História, afeto e textualidade – novos olhares para a experiência do passado eou presente Memorial do Fim: a apropriação na obra de Haroldo Maranhão Aiana Cristina Pantoja de Oliveira Estudante do Curso de Mestrado em Estudos Literários da UFPA [email protected] O presente trabalho se direciona ao estudo dos aspectos pós-modernos na obra Memorial do fim: a morte de Machado de Assis, de Haroldo Maranhão. O pós-modernismo, movimento cultural e social em voga na história contemporânea, possui como principal característica a desconstrução de conceitos surgidos na modernidade. Alojando-se no âmbito da ficção, o referido movimento instaura uma nova narrativa que desconstrói o texto literário cânone. Memorial do fim se configura em um exemplo bastante esclarecedor de tal desconstrução, pois coloca em xeque não só o cânone literário como também discursos modernos até então considerados verdadeiros, irrevogáveis e naturais. A relação da linguagem com seus referentes, a relação entre os textos e a história oficial são exemplos de discursos abalados por essa narrativa pós-moderna. O referido livro, por meio de trechos narrativos e personagens, apropriados das obras machadianas, reinventa os últimos dias de Machado de Assis, fornecendo, por conseguinte, uma versão alternativa para a biografia dos momentos derradeiros do autor carioca. Para embasar teoricamente a discussão, serão utilizadas as teorias de Jaques Derrida, Roland Barthes, Antoine Compagnon, Silviano Santiago, Affonso Romano de Sant’anna, entre outras, as quais abordam conceitos como escritura, desconstrução, apropriação e pastiche. Palavras-chave: pós-modernismo, desconstrução, apropriação. Franklin Cascaes: saudade e solidão reflexões iniciais Denise Araujo Meira Doutoranda do Programa de pós-graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie [email protected] Franklin Cascaes (1908-1983) como artista/folclorista foi profundamente comprometido com as tradições pesqueiras da Ilha de Santa Catarina. Sensível ao desmonte da cidade buscou nos relatos dos moradores nativos da Ilha de Santa Catarina uma estratégia para registrar um tempo que estava terminando. No final dos anos 30, freqüentou o Curso Noturno da Escola de Aprendizes e Artífices de Santa Catarina como aluno ouvinte. No dia 01 de outubro de 1941, o então aluno passa a condição de mestre, dando início a uma carreira que iria durar até 27 de novembro de 1970 quando se aposenta. Este artigo tem como objetivo aproximar a idéia de saudade e solidão sugerida pelo professor/artista nas suas narrativas no período da sua aposentadoria e a relação do envelhecer e morrer analisada por Norbert Elias. Trata-se de 177 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais uma trajetória apreendida a partir de um campo empírico específico, dos fragmentos autobiográficos preservados no arquivo do Museu Universitário Osvaldo Rodrigues Cabral. Palavras-chave: Franklin Cascaes, saudade/solidão, fragmentos autobiográficos. Corpo e beleza feminina nas textualidades contemporâneas Edna Maria Nóbrega Araújo Profa. Doutora do Dep. de Geo-História - Centro de Humanidades/UEPB [email protected] A presente comunicação discutirá conceitos como o de corpo e beleza feminina a partir da análise das textualidades elaboradas pelas Revistas Veja, Isto É, Boa Forma, Dieta Já, Corpo a Corpo e Plástica & Beleza, entre o final do século XX e início do século XXI. Nestas textualidades os corpos femininos são afetados pelo desejo de transformação. A partir da década de 1990, os cuidados com o embelezamento são apropriados como uma necessidade. Se em outros momentos as mulheres já se preocupavam com o corpo e a beleza, vive-se um momento da história humana em que a beleza tem sido cultuada, procurada, quase como uma fixação. Nunca a beleza e os cuidados com o corpo foram tão colocados em evidência quanto nos dias atuais. Ter um corpo perfeito, trabalhado, esculpido à imagem e semelhança do desejo de cada uma é uma tendência que vem se firmando. Nesse sentido, pretendemos mostrar que, a partir das últimas décadas do século XX, diferentes textualidades disseminam um modelo de corpo para as mulheres brasileiras associado a tríade beleza-saúde-juventude. História, cinema e sensibilidades: amor e ódio nos díspares caminhos da “força” em Star Wars Joedna Reis de Meneses Profa. Doutora em História/UEPB [email protected] Anakin Skywalker ou Darth Vader? Lugares opostos de sujeito e ocupados por um único indivíduo? Amor e ódio ajudam na elaboração da subjetividade dos personagens presentes na trama de George Lucas. Padmé, Mestre Ioda e próprio Imperador ilustram uma saga em que os sentimentos marcam as experiências dos indivíduos. O objetivo deste trabalho é destacar o papel das imagens sobre as sensibilidades, na trama de Guerra nas Estrelas, como signos das experiências sobre os afetos vivenciados pelos indivíduos no final do século XX e início do século XXI. Palavras-chave: cinema, Star Wars, sensibilidades 178 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais O teatro goiano no contexto da ditadura militar: a dramaturgia de Miguel Jorge e o Gen (grupo de escritores novos) José Carlos Henrique (PUC/GO) zecahenrique @yahoo.com.br O presente trabalho propõe uma análise do Teatro realizado em Goiás durante o regime militar e suas principais repercussões nos campos da cultura e das relações de poder estabelecidas neste período.Norteando a análise utilizaremos a dramaturgia do escritor Miguel Jorge e seus textos censurados à época.O Grupo de Escritores Novos, do qual foi um dos fundadores, se tornou de extrema relevância ao aglutinar diversas tendências literárias tornandose um pólo importante de difusão de idéias para a arte goiana neste recorte em questão.O teatro era uma das vertentes de estudo para o GEN e repercutiu de forma intensa dentro deste contexto estudado.Por meio de toda uma simbologia conseguiu plasmar diversas vozes que se levantaram contra as leis vigentes se utilizando da transfiguração da linguagem e do imagético. Palavras-chave: Teatro - Ditadura Militar - Miguel Jorge A intencionalidade “implícita” do texto, enquanto fator determinante de opiniões? Leyde Dayana Athayde Silva de Lyra (UEPB) [email protected] Este trabalho tem como objetivo demonstrar as mais variadas nuances que o sujeito está exposto com a expansão das “literaturas” e como as mesmas influenciam seu contexto sociocultural; verificar como a opção de gênero e/ou estilo de vida é uma influência direta da literatura que está sendo absorvida pelo indivíduo; analisar como o contexto está “servindo”, como uma ferramenta intencionalista por parte dos indivíduos que “manipulam” a escrita, para se adequar dentro do seu conceito de “correto” ou “incorreto”, desta forma usaremos como escopo teórico metodológico Maingueneau (2006), Foucault (1971), Kleiman (2008), para discutir a intencionalidade que conduz o indivíduo aos conceitos de gênero, literatura e ensino. Palavras-chave: intencionalidade, teoria histórica/literária, escrita. Literatura de aventura como fonte histórica: uma proposta metodológica Lorena Beghetto Doutoranda do Departamento de História/UFPR [email protected] 179 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Este artigo pretende apresentar uma metodologia de leitura, interpretação e análise de fontes literárias na pesquisa histórica. Como a utilização da literatura pode ser feita em diferentes ramos da pesquisa histórica, como a história cultural, política, artística, social, etc., estabelecemos como limite de análise o desenvolvimento de uma pesquisa sobre a história do imperialismo europeu, ocorrido durante o final do século XIX e início século do XX, mais precisamente sobre o imaginário imperialista presente na literatura de aventura. Para tanto dividiremos o artigo em três partes. A primeira versa sobre as aproximações existentes entre a Literatura e a História, e sobre a utilização da literatura como fonte histórica; a segunda sobre a análise da literatura, partindo da metodologia de leitura de textos; e a última foca no imaginário imperialista europeu difundido durante o final do século XIX e início do século XX. Palavra chave: Literatura e história, leitura, literatura de aventura. La teta asustada: uma poética feminista da memória Maria Célia Orlato Selem (Unicamp) [email protected] Esta comunicação propõe realizar uma análise do filme “La teta asustada”, pensando os usos da memória com base nos estudos feministas e pós-coloniais. Focaliza a importância da relação entre história, feminismo e cinema, atentando para as potencialidades do olhar por trás da câmera no trabalho de movimentação de sentidos que constituem os sujeitos e objetos da história. A linguagem cinematográfica de Claudia Llosa utiliza de elementos da memória traumática das mulheres andinas pós o terrorismo de Estado no Peru para realizar um diálogo entre poética e política. Fazendo emergir questões como os silenciamentos da mulheres, a impossibilidade do presente diante do peso do passado, o tensionamento entre o eu e o outro, o filme aposta na estetização da memória como resistência aos poderes que despotencializam a vida no presente. Palavras-chaves: cinema, feminismo, memória A carnavalização do cinema de Almodóvar como instrumento construtor de identidades Mônica Horta Azeredo Doutoranda em Português/Université Rennes 2 e em Teoria Literária/ UnB. [email protected] A representação da sociedade contemporânea no cinema de Almodóvar é o retrato de uma carnavalização que busca revolucionar e jogar por terra a tradição de uma cultura que durante décadas viveu sob o autoritarismo de um ditador. Ao dizer não a esse mundo oficial, nos termos de Bakhtin, o diretor constrói novas subjetividades e identidades tornando o 180 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais campo fértil para outras formas de ser e amar. Travestis, lésbicas, mulheres enlouquecidas e transgressoras compõem estes cenários coloridos de um vermelho intenso e embebido em sangue. O objetivo desta comunicação é abordar estas temáticas a partir da análise da representação de duas heroínas do cinema almodovariano : Rebeca e Manuela, protagonistas de De Salto Alto (1991) e de Tudo Sobre Minha Mãe (1999), respectivamente. Palavras chave: cinema, identidade, sociedade, gênero. Amaros, territórios e memórias: cotidianos de uma comunidade negra. Paracatu/MG Paulo Sérgio Moreira Da Silva Doutorando/PPGHIS-UFU [email protected] Objetiva-se apresentar a história da comunidade negra, Família dos Amaros, bem como compreender os significados de memória e território por eles vivenciados. Trata-se, de uma comunidade negra certificada pela Fundação Cultural Palmares em 2004, como Remanescente das comunidades dos quilombos, localizada no bairro Paracatuzinho, da cidade mineira de Paracatu. Neste sentido, a pesquisa sobre a família dos Amaros é um aprofundamento de seu contexto ritualístico, cujo diálogo que se pretende estabelecer vai além de uma leitura do simples cotidiano por eles representado e a trajetória vislumbrada, passando pelo entendimento da rede de parentesco familiar e cultural tecida como forma de enfrentar e sobreviver às questões sociais e políticas vivenciadas. Neste viés, está em pauta à luta política pelos direitos sociais da terra original da família dos Amaros, situada na fazenda Pituba, de onde foram expulsos a partir dos anos 40. Neste processo político se evidencia a persistência de valores e tradições inscritos numa memória afro-descendente que deslocada para a periferia urbana recria sua cultura, sua forma de viver, aglutinando 400 famílias em torno de suas festas, sociabilidades, atividades artesanais e artes de viver, isso como forma de manter sua identidade cultural. Seguindo este ponto de vista, ressaltamos a luta política pelo reconhecimento de suas terras e direitos sociais entranhadas no seu cotidiano, suas práticas culturais populares, daí então, o enfoque não só na sua movimentação em torno da Fundação Cultural Palmares e do Instituto Fala Negra, mas também no conjunto de representações simbólicas que resguardam sua identidade cultural por meio de uma memória social em contínua recriação/reinvenção. Assim, esta luta dos Amaros por sua terra cujo espaço –fazenda Pitubamaterializa-se como lócus de resistência dos familiares do escravo forro Amaro Pereira das Mercês em busca de seus direitos civis e acima de tudo por justiça social. Palavras-chave: quilombolas; território; identidade, memória, Paracatu. Textualidade e sensibilidade nos discursos das assembléias de chefes indígenas Poliene Soares dos Santos Bicalho 181 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Profa. Doutora em História Social/UEG [email protected] Os discursos das falas transcritas pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) de algumas das Assembléias de Chefes Indígenas, iniciadas na década de 1970, são tratadas como formas de resignificação da história indígena no Brasil. Repletos de sentidos, estes textos traduzem muitas das angústias dos povos indígenas no Brasil: relações e tensões com o Estado (FUNAI); as dificuldades de organização da luta social iminente; e as preocupações com direitos à terra e à cidadania. Sá, Rodrix e Guarabyra: muito além do “rock rural” Thiago Hausner Mestrando em Historia/PUC-SP [email protected] Este trabalho originou-se com o intuito de situar a importância do trio musical Sá, Rodrix e Guarabyra na historiografia cultural brasileira do século XXI. Criador do chamado rock rural, o grupo formado na década de 1970 representou em suas canções um Brasil em constantes mudanças em vários campos sociais. Até então são inéditos os estudos acadêmicos que abrangem a influência inegável das canções do trio numa época marcante da música popular brasileira. Este trabalho buscará jogar luz sobre as canções do grupo, estudá-los muito além do rótulo do rock rural, um resgate de uma obra que andou lado a lado com a história social brasileira, um trio que representou o seu tempo em canções que se aproximavam das mudanças observadas pelo clássico estudo de Antonio Candido, Os Parceiros do Rio Bonito, um estudo que colocava no centro das discussões acadêmicas um Brasil esquecido, o Brasil do interior, assim com as canções do trio Sá, Rodrix e Guarabyra. 182 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 19 Brasília – 50 anos de história para além do aço e do concreto Devastação e preservação ambiental nos 50 anos de Brasília Cesar Mateus Goulart Goi Graduação em História/Uniceub [email protected] Deusdedith Alves da Rocha Júnior Regina Coelly F. Saraiva Professora Doutora em Desenvolvimento Sustentável - CDS/UnB [email protected] A pesquisa aborda o processo de construção e consolidação de Brasília sob a perspectiva da história ambiental. Brasília nasceu com o rótulo da modernidade e precisou intervir diretamente sobre o meio ambiente natural – o cerrado - para que o seu projeto de fato se realizasse. Para isso, foi preciso que grande parte de sua vegetação nativa cedesse espaço para o concreto. A arquitetura moderna foi o princípio que legitimou e conferiu um estilo único para o espaço urbano da cidade. O urbanismo encontrou na técnica paisagística o parceiro ideal para a configuração da paisagem de Brasília que em nada poderia se parecer com as demais cidades brasileiras. Surgiu assim uma cidade com prédios de arquitetura arrojada e uma “natureza exótica” que negou o cerrado – marca da devastação. Da mesma forma que seus prédios e monumentos, o verde em Brasília também foi projetado e “construído”. Assim, surgiu uma “natureza artificial” no lugar onde antes existia o cerrado. Na década de 70, foram dados os primeiros passos no sentido da preservação ambiental em Brasília, principalmente estimulados pela necessidade de substituição de espécies exóticas pela vegetação nativa. Os anos posteriores sinalizaram para medidas mais eficazes e foram marcados pela criação de leis e unidades de conservação, principalmente parques ecológicos, preocupados em preservar a natureza do cerrado. No Plano Piloto de Brasília, destaca-se a criação do Parque Olhos D’Água: o concreto cedeu ao cerrado. Hoje, espécies nativas como o pequi e o buriti são reconhecidas como patrimônio ecológico da cidade. Palavras-chave: história ambiental, Brasília, devastação, preservação. Nos bastidores de Brasília: o processo de formação de Vila Planalto. Christiane Machado Coelho Pós-doutorado no Centro de Investigação e Estudos em Sociologia (CIES, Lisboa) [email protected] O processo de formação de Brasília, no Distrito Federal brasileiro, é analisado a partir de Vila Planalto. Trata-se de um antigo acampamento pioneiro, instalado de maneira provisória para construção da nova capital nacional. Este espaço permaneceu ilegal durante mais de 30 183 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais anos e foi posteriormente reconhecido como patrimônio do Distrito Federal, em função de seu papel como testemunho dos primórdios da cidade. As questões do direito à moradia, do direito à história e do direito à memória são igualmente estudadas neste contexto. Uma proposta de livro didático para o Distrito Federal Cristiano Alencar Arrais Professor adjunto da UFG [email protected] Eliezer Cardoso de Oliveira Professor adjunto da UEG [email protected] O objetivo desta comunicação é relatar uma proposta de história didática do Distrito Federal, realizada pelos autores no livro História do Distrito Federal (Editora Scipione, 2008), destinado ao 4º ou 5º ano do Ensino Fundamental. O pressuposto que norteou essa obra foi o de que os livros didáticos regionais devem suprir as carências de sentido, levando-se em conta as especificidades histórico-culturais de cada unidade da federação. Levou-se em conta na proposta, a especificidade sócio-cultural do DF e como o livro didático de história iria contribuir para satisfazer as carências simbólicas de sua população. Utilizando os pressupostos metodológicos da História Cultural, valorizou-se a questão da identidade, na construção de uma história que fosse pertinente aos valores simbólicos dos alunos distritais. Desse modo, a história do DF não se resume à construção de Brasília, tendo uma visão mais ampla do seu passado que engloba várias tradições (indígenas, negras, européias, goianas, etc.), dando uma base mais sólida e realista as utopias surgidas com a construção de Brasília, depurando os excessos de uma ingênua utopia moderna desenvolvimentista. Palavras-chaves: Brasília, livro didático, história cultural Brasília: A cidade do texto ao contexto social Eloísa Pereira Barroso Doutora em Sociologia/UnB [email protected] Esta pesquisa focaliza o processo de urbanização da cidade de Brasília através do estudo da produção literária que aí se deu a partir de sua inauguração em 1960 até o início do século XXI. Nela Brasília é tratada como um lugar de estudos, um espaço da vida e da conquista da cidadania. A pesquisa subentende que os textos literários que tematizam a cidade fazem surgir uma espécie de imagem “bricolée”, arlequinal, onde os escritores tecem a imagem de uma cidade grande e moderna, exposta ao circuito da mercadoria. No caso específico de Brasília, os autores a serem analisados fazem parte do quadro de uma literatura brasiliense quase sempre desconhecida do grande público. 184 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Brasília representa uma espécie de ideal de racionalidade feliz. Seu espaço sugere uma vida ordenada, livre de qualquer esfera da ambivalência. Ela é a visão da cidade perfeita, que embora não rejeite a história, pois resgata o mito da descoberta do Brasil, omite os vestígios palpáveis de capital de um país periférico.Ao imputar a “felicidade racional” e desmaterializar o tempo histórico, a cidade torna-se uma moldura urbana da qual só é possível extrair os significados previamente determinados. Os textos selecionados serão compostos por poemas, crônicas e romances nos quais se refletem a fragmentação e a polifonia da nova cidade. Memórias escolares da cinqüentenária cidade de Sobradinho Ivany Câmara Neiva Doutora em História Cultural/UnB [email protected] O texto traz histórias vivenciadas em Sobradinho - uma das trinta cidades que hoje compõem o cinqüentenário Distrito Federal. Trata de memórias de práticas escolares desenvolvidas no ensino das disciplinas de Sociologia e Estudos Sociais, para o Ensino Médio, no Colégio de Sobradinho, entre 1970 e 1973. À época, completavam-se 10 anos da mudança do Distrito Federal para o Brasil Central, da inauguração de Brasília como capital brasileira e da fundação de Sobradinho. A partir de narrativas de professores e estudantes da época, contextualiza-se o período político brasileiro, são lembradas estratégias educacionais cotidianas, e são registrados fragmentos de histórias do Distrito Federal. Palavras-chave: memórias escolares; Sobradinho; cinqüentenário. Brasília: religiosidade tradicional no âmbito da modernidade Lindsay Borges Doutoranda em História/UFG [email protected] A proposta desse trabalho é refletir sobre a questão de como a Igreja Católica atuou durante a construção de Brasília para que a cidade - pensada como precipuamente laica - incluísse em seu projeto, de modo destacado, a concepção de tradição religiosa como sustentáculo cultural de uma sociedade em emergência. A instituição religiosa mobilizou seu capital simbólico, representado particularmente por meio de mobilizações de massa e aprofundamento das relações com o poder político, tendo em vista conquistar espaço para a igreja católica na nova capital erguida no planalto central. Para o sucesso dessa iniciativa, foi fundamental o suporte consignado pela Arquidiocese de Goiânia, na organização das sucessivas etapas de consolidação da política de imbricação entre o âmbito religioso e o político na nova capital federal. 185 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Memória, Cultura, Cultura Popular, Identidades, e Educação – Um diálogo identitário-cultural trasndisciplinar Luciana de Maya Ricardo Museu Vivo da Memória Candanga/SEC-DF O tempo faz-se presente para contar histórias de diversas culturas populares que são a matriz dos fazeres e dos saberes, base da educação brasileira. O criar, como forma essencial de existir, mostra-se na necessidade da expressão que legitima o produto artesanal e a produção popular. Memória, Cultura, Cultura Popular, Identidades, e Educação – Partes de um mesmo todo, que formam a cidade e dialogam transdisciplinarmente com a realidade da comunidade do Varjão, no Distrito Federal, são aqui apresentados como integrantes de referencias identitário-culturais de origem, de translados e de fixação que desvelam caminhos percorridos e direcionam caminhos a serem descobertos com dignidade, identidade e prazer, até a fixação no Distrito Federal. Palavras-chave: memória, cultura, identidade. E do sertão se fez Brasília Marcia de Melo Martins Kuyumjian Professora do Departamento de História/UnB [email protected] Kenia Erica Gusmão Medeiros Mestranda do PPGHIS/UnB [email protected] O termo sertão tem variações de sentido incrustadas no tempo e no espaço. Refere-se a diferentes realidades geográficas e sociais. Sem dúvida, após a publicação de Os Sertões e a relação daquela paisagem com o Nordeste, o uso e a compreensão que se encontra no senso comum é aquela que remete essa paisagem ao deserto. Daí muitos defenderem sua origem em uma corruptela da palavra “desertão”. Daí sertão. Mas há outras possibilidades. A pesquisa do intelectual brasileiro Gustavo Barroso (1938) afiança ser a palavra usada na África e em Portugal. Nada tinha ver com a noção de deserto (aridez, secura, esterelidade), mas sim com a de interior, de distante da costa: por isso o sertão pode até ser formado por florestas, contanto que sejam afastadas do mar. O vocábulo se escrevia com “c” – mulcetão em língua Bunda de Angola e diz-se locus mediterraneus por ser um lugar que fica no centro ou no meio das terras. Eis uma definição que bem se enquadra no Brasil do Centro-Oeste onde foi construída a cidade de Brasília. Região que não pode ser delimitada por contornos geográficos fixos, mas que foi relegada à marca da decadência econômica, social, enfim, unidades menores de nossa federação. Imagem e concepção decadentista, rejeitada por muitos historiadores que identificam um equívoco de interpretação, uma vez que desde a Colônia o sertão se inscrevia também na prob- 186 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais lemática nacional de sustentação do mercado interno e acumulação primitiva de capital. E o que dizer dos tempos atuais, no viés da história cultural, no recorte do tempo presente, em que Brasília se relaciona com o sertão, do qual reservou o quadrilátero pertencente ao Distrito Federal? Argumentamos que a modernidade que Brasília trouxe não apagou os rastros do sertão, permanência de costumes e práticas culturais que se fundiu ao longo da história brasileira. Se o sertão era visto como a representação do atraso ainda hoje se mantém, sustentando inclusive a modernidade. E embora silenciada, o olhar do historiador faz emergir interpretações desse sertão no interior da própria cidade modernista que é Brasília. E este é nosso intento, utilizar imagens que revelam esse rico universo da confluência do ideal de modernizar com a vontade de reter as bases culturais tradicionais. Memória e cidade: Brasília 50 anos Maria Salete Kern Machado Professora Colaboradora do Departamento de Sociologia da UnB [email protected] A pesquisa busca reconstruir a memória de Brasília por meio da produção literária. Crônicas, contos, romances foram selecionados e entrevistas realizadas com os autores para identificar as representações sociais existentes sobre a cidade desde a sua criação. Imagem e Representação: O homem favelado x o cidadão brasileiro Patrícia Martins Assreuy Mestranda em Urbanismo no PROURB/UFRJ [email protected] Baseando-se na premissa de que não existe fato despido de interpretação, pode-se dizer que a imagem que o senso comum guarda da favela e do morador da favela é na verdade uma representação, que se presta a definir não apenas o espaço físico da favela como também o próprio favelado. Nesse sentido, o presente artigo se propõe a discutir a associação entre as representações que a favela carioca vem assumindo junto ao imaginário social desde o seu aparecimento, em fins do século XIX até o fim do século XX e a noção construída junto à sociedade de quem seria o homem favelado. A partir dessa associação, propõe-se que essa caracterização serve ao propósito de forjar uma definição do que seria o cidadão brasileiro ideal, em oposição à imagem do homem existente na favela. Palavras-Chave: Imaginário social, representação, Rio de Janeiro, favela. Cultura e natureza na poesia brasiliense de Paulo Tovar 187 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Regina Coelly Fernandes Saraiva Prof. Adjunta de História da Faculdade UnB Planaltina – FUP-UnB. [email protected] / [email protected] Brasília é uma cidade muito além do aço e concreto. A cidade, nos anos 70, configura sua identidade a partir das expressões culturais que vão se delineando pelas ações de jovens que, ao se transferirem para Brasília com suas famílias, percebem a cidade e seu potencial cultural. A cidade é traduzida por esses jovens por meio da música e da poesia e entre eles destaca-se a figura de Paulo Tovar. Sua poesia, muitas vezes musicada, vai traduzir Brasília como a cidade modernista, mas também como a cidade sertão, bem aos moldes de quem vivenciou e carrega uma tradição sertaneja. Paulo Tovar nasceu em Catalão, interior goiano. Observador da natureza do cerrado, impactada com a construção de Brasília, a poesia de Tovar traduz a cidade por meio de um movimento poético que se tornou conhecido entre aqueles jovens como “poesia de mimeográfo” ou “poesia ambulante” que se fortaleceu como expressão cultural de Brasília nos seus primeiros anos. Paulo Tovar traduziu a cidade e sua natureza sertaneja – a natureza do cerrado – em meio a cidade moderna, num momento em que ainda não se falava da necessidade de preservação ambiental; transgrediu, por meio da sua poesia, o momento político – a ditadura militar – e junto com outros poetas e músicos da cidade lideraram um movimento poético que denunciava a “cidade silenciada”; a poesia, expressão ativa da cultura da cidade daquele momento, era “publicada”, tornava-se pública, nas paredes, nas paradas, nas ruas, como reação ao contexto repressor. Paulo Tovar, músico e poeta, Cidadão Honorário de Brasília, post mortem, desde agosto de 2010, soube como poucos, reconhecer Brasília, nos chamando atenção para a natureza que a acolheu: falou de juritis, siriemas, lobos, vacas e bois, que ruminavam no meio da Esplanada quando a cidade era somente uma forma imaginária. Traduziu a cidade-sertão, a cidade moderna, marcou época com sua poesia, que contribui para que a gente possa entender o que é Brasília. Escola Peripátética: Educação Patrimonial- Brasília museu e arte a céu aberto Rinaldo Ferreira Oliveira Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal [email protected] Este projeto tem como objetivo firmar a Educação Patrimonial como alternativa para o reconhecimento e interpretação do patrimônio histórico, arquitetônico, urbanístico e cultural de Brasília proporcionando a ampliação do imaginário coletivo sobre a Capital Federal e incentivar o sentimento de pertencimento nos alunos, ao promover a valorização da Capital Federal como Patrimônio Cultural da Humanidade. É dividido em duas etapas: Primeira, palestra: a História da Capital, discorremos sobre a ocupação do centro-oeste desde a pré-história, o Brasil Imperial e Republicano, a Missão Cruls, o governo de JK, o projeto de Lúcio Costa onde enfatizamos as características urbanas do Plano Piloto explicitando as Escalas Arquitetônicas implementadas por ele: Monumental, Residencial, Bucólica e Gregária. Segunda, Uma caminhada para vivenciar e sentir as 04 escalas arquitetônicas e formar um conceito próprio sobre a cidade, percorrer o Eixo Monumental, passando pela Torre de TV, 188 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Praça do Cruzeiro; Complexo Cultural da República, a Catedral Metropolitana de Brasília, a Esplanada dos Ministérios até a Praça dos Três Poderes e a área residencial. Representações da morte do índio Galdino Jesus dos Santos na imprensa brasileira Rodrigo Piubelli [email protected] Este artigo busca discutir o cotidiano como palco das relações sociais, tendo como lócus a cidade de Brasília. Cidade onde as diversas representações sobre os motivos de sua construção, sua arquitetura, mais principalmente sobre as relações entre seus indivíduos dentro do espaço urbano, tem produzido diversas imagens acerca da capital do Brasil. Portanto é dentro dessas preocupações, que o presente ensaio tem por objetivo debater sobre os sentimentos produzidos na sociedade brasileira a partir do assassinato do índio Galdino Jesus dos Santos cometido por cinco jovens da classe média de Brasília, bem como identificar, nas diversas opiniões emitidas por autoridades, especialistas e pessoas comuns, em dois jornais da época (Jornal de Brasília e O Globo), que valores são apresentados, que princípios são defendidos, que direitos são reivindicados, que representações da cidade de Brasília são apresentadas. Paisagens fraturadas da cidade sob o olhar do forasteiro: uma leitura de os signos e as siglas de H. Dobal Silvana Maria Pantoja dos Santos Doutoranda em Teoria da Literatura /UFPE [email protected] Pensar a cidade na literatura, mais especificamente no texto poético, é dar a ela um relevante significado em função da carga subjetiva que a norteia Os poetas não buscam na cidade o que está reconhecido socialmente, mas a sua substância. Assim, diante de objetos, imagens, lugares, importa ao poeta menos as coisas em si, que a relação que estabelecem com elas. Nesse esteio, objetivamos com este trabalho analisar o impacto da cidade sobre o homem na obra Os signos e as siglas do poeta piauiense H. Dobal. Por meio da linguagem literária, a cidade ficcional funde-se com a cidade real a partir do olhar e/ou da vivência do escritor, deixando transparecer as fraturas pessoais e sociais de quem observa a cidade mas não se sente espelhado nela. Como um flanêur, o poeta observa Brasília em mutação e registra suas impressões sobre uma realidade que não traz as marcas das suas referências. Do olhar de viajante, bem como, das suas anotações saltam traçados urbanos, indivíduos sem rostos, aridez nas relações, etc., que se transmutam em formas poéticas. Palavras-chave: Litratura; cidade; memória. 189 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 20 Patrimônio imaterial – novas paisagens, diversidade e diferença na cultura popular na contemporaneidade Os contadores de histórias e os contadores da história Aldanei Menegaz de Andrade Mestranda em História Cultural/PPGHIS-UnB [email protected] Este artigo é parte da pesquisa que venho desenvolvendo para a dissertação do Mestrado em História Cultural na UNB, na linha de pesquisa: identidades, tradições e processos; com o projeto: “A ARTE DE QUEM CONTA OS CONTOS E AUMENTA OS PONTOS NO DISTRITO FEDERAL”, de 1996 a 2010. Adoto como fio condutor a metodologia da História Oral, buscando a identidade do contador de histórias contemporâneo. A construção da história parte do presente e procura também pelo passado a compreensão do objeto pesquisado. Hoje, como afirma Michel de Certeau, o historiador trabalha nas margens, vai até ‘as zonas silenciosas’ (2006, p.87). Com a descoberta do ‘mundo novo’ a história passou a ser contada na voz, na escrita e no desenho dos que aqui vieram e voltaram levando as notícias e alimentando o imaginário do povo europeu. O contador de histórias é um personagem que pode ser encontrado nas entrelinhas, nas lacunas da história oficial que pouco valor deu aos sujeitos anônimos e secundários. Palavras chave: narrativa, identidade, imaginário. Tradição e Sociedade no Sertão de Goiás Amanda Alexandre Ferreira Geraldes UniEvangélica – GO [email protected] Paula Groehs Pfrimer Oliveira Stumpf UFG – GO [email protected] O presente artigo busca identificar qual a função social e quais os impactos sócio-culturais da Feira do Troca na comunidade de Olhos D’Água no interior de Goiás, valendo-se de pesquisas e análises de corpus documental fundamentadas na História Oral. Estudos de memória, construção de identidade e formulação de consciência comunitária nortearão o projeto de Tradição Oral. Este trabalho justifica-se ao identificar os modos de saber e de fazer da comunidade, bem como os comportamentos da mesma nos eventos que se relacionam à prática da troca. A “volta ao mundo” da capoeira: resistência, contravenção e patrimônio cultural brasileiro 190 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Carlos Bittencourt Leite Marques UFRPE [email protected] A luta pelo reconhecimento e inclusão, não apenas da capoeira, mas de maneira geral da cultura popular como influenciadoras da identidade nacional, vem de longos tempos. No dia 15 de julho de 2008, na cidade de Salvador-BA, a capoeira se tornava o mais novo patrimônio imaterial brasileiro. Embora hajam registros dessa “brincadeira” escrava há mais de 200 anos, e uma entidade com o propósito de registrar e preservar estes patrimônios desde 1937, só a partir do ano passado que a mesma foi “legitimada”, como tal. Todos esses anos de repressão e preconceito estão marcados por fortes interesses das camadas dominantes em exorcizar da “sociedade brasileira” as manifestações culturais das camadas subalternas. Pretendemos no trabalho proposto analisar o processo que irá propiciar o registro da capoeira como Patrimônio Imaterial do Brasil, observando algumas especificidades da capoeiragem recifense. Palavras-chave: patrimônio cultural, cultura popular, identidade. Mãos que cortam, cantam e contam: Joaquim Mulato e suas narrativas Cícera Patrícia Alcântara Mestre em História/UFPE [email protected] Este trabalho tem como principal objetivo analisar a trajetória pessoal e religiosa do líder da Irmandade da Cruz Joaquim Mulato de Souza a partir das narrativas orais e escritas construídas por/sobre o mesmo, bem como pensar de que maneira essas narrativas contribuem para o processo de patrimonialização de sua trajetória através de práticas discursivas que se intercambiam constantemente e que atribuem valor simbólico ao universo de enunciados que lhe cercam. Tendo iniciado ainda na adolescência suas atividades místicas com o grupo barbalhense em questão, Joaquim Mulato ocupou a função de Decurião por mais de sessenta anos interruptores. Foi, porém, a partir da década de 1970, quando a Irmandade deixou de ter caráter secreto, se inserindo então numa serie de programações turístico-culturais em nível estadual e também nacional, que a imagem do líder foi alvo de construções representativas que fizeram emergir por sua vez uma intensa política de patrimonalização do seu saber/fazer. É por entre as nuances dessas imagens e desses enunciados diversos que aqui tentaremos construir nossa travessia. Tradição e pós-modernidade na Festa do Vão do Moleque da Comunidade Kalunga de Cavalcante – Goiás 191 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Guilherme Talarico Mestre em História pela UFG [email protected] Com o apoio da Bolsa FUNARTE de Produção Crítica em Culturas Populares e Tradicionais, analiso as mudanças que vem ocorrendo na Festa do Vão do Moleque da Comunidade Kalunga, decorrentes da exploração do potencial turístico dos festejos, advindo da melhoria do acesso e crescimento do número de visitantes. O conflito entre a manutenção das tradições e a espetacularização da cultura do povo Kalunga deve ser explorado nos contextos histórico, cultural e social, uma vez que a Festa do Vão do Moleque representa um evento anual de convívio social entre os quilombolas daquela comunidade. O estudo sobre a Festa do Vão do Moleque irá contribuir para o entendimento dos problemas gerados para a comunidade com o crescente interesse da sociedade pelas suas manifestações culturais, mas, em contrapartida, mostrará que estes problemas são mitigados pela própria comunidade que busca nesta visibilidade momentânea garantir algum ganho financeiro e simbólico. Assim, pretendo mostrar que, apesar de aparentemente isolado, o caso da Festa do Vão do Moleque serve como exemplo aos problemas gerados pela inevitável abertura de uma nova área de atuação do mercado sobre as manifestações culturais de comunidades tradicionais. O estudo mostrará as dificuldades de infra-estrutura para a realização da Festa, a mobilização da comunidade no apoio ao “Imperador”, a atuação dos poderes públicos e os impactos ambientais decorrentes dos mais de dez dias de festividades e as medidas que poderiam mitigá-los. E ainda, fortalecer a identidade dos Kalunga, uma vez que o trabalho será apresentado à comunidade em oportunidades adequadas, fortalecendo ainda mais o espírito associativo daquele povo. Patrimônio imaterial e interculturalidade em perspectiva comparada Irmina Anna Walczak Ceppac/ Universidade de Brasília [email protected] O presente artigo propõe discutir a relação entre as políticas de salvaguarda do patrimônio cultural imaterial e a interculturalidade em perspectiva comparada, utilizando-se dos casos brasileiro e equatoriano. O objetivo principal da discussão é averiguar se existe a possibilidade - postulada pela UNESCO e pelas instituições brasileiras como a realidade existente (Sant’Ana, 2001) - de incluir os bens imateriais, isto é conhecimentos OUTROS, e com eles seus produtores historicamente subalternizados aos espaços sociais e ao imaginário nacional com o estatuto de iguais. Visto que os portadores de patrimônios material/histórico e imaterial/intangível pertencem às cosmovisões ou aos paradigmas distintos (Lander, 2005) é pertinente perguntar: É possível que dois paradigmas convivem? Como se faz a igualdade na diferença? Em busca pelas respostas propõe-se uma reflexão crítica sobre o conceito de interculturalidade teorizado e reivindicado pela academia andina. Cada vez mais praticado pelo estado equatoriano, pode ser uma proposta e exemplo para os processos brasileiros. Em relação à metodologia, o trabalho é desenvolvido a partir da pesquisa documental e de cam- 192 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais po, realizadas junto às instituições decisórias e com atores atingidos no Brasil e Equador. Palavras-chave: patrimônio imaterial, interculturalidade, salvaguarda. Inventário cultural dos maracatus nação de Pernambuco: pensando a diversidade Isabel Cristina Martins Guillen Professora do Departamento de História da UFPE [email protected] Este trabalho visa pensar o processo de inventário cultural dos maracatus nação de Pernambuco, e que congrega dois projetos financiados pelo FUNCULTRA. O primeiro objetiva registrar a diversidade sonora dos grupos de maracatu, gravando seus batuques. O segundo objetiva registrar a memória dos organizadores e membros mais antigos dos grupos com vistas a produzir um acervo documental sobre esta manifestação cultural. Estes projetos envolveram a participação direta de jovens membros dos grupos culturais, e é sobre esta experiência que o trabalho deve centrar foco, pensando os modos de transmissão do saber entre as culturas populares na contemporaneidade. Histórias sobre o patrimônio cultural da cidade de Joinville: culinária, festas e etnicidade Janine Gomes da Silva Doutora/ UNIVILLE e AHJ [email protected] A partir da perspectiva dos estudos de gênero, memória e patrimônio cultural, o presente trabalho pretende apresentar algumas discussões sobre o patrimônio imaterial de algumas estradas que compõe a região rural da cidade de Joinville, situada no nordeste do estado de Santa Catarina. Por intermédio das pesquisas “Lugares de memória, memórias de lugares... Diferentes olhares para o patrimônio cultural de Joinville” e “A Estrada Mildau e a Festa do Cará: (re)significando memórias e identidades”, financiadas pelo FAP/UNIVILLE, procuramos problematizar, especialmente a partir de memórias femininas, aspectos do patrimônio cultural da cidade relacionados principalmente ao patrimônio alimentar, as festas consideradas “típicas” e a paisagem rural. Palavras-chave: patrimônio cultural, gênero, Joinville. Cidade e subjetividades: educação, memória e 193 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais cultura - vivendo e aprendendo em Brasília Lúcia Helena Cavasin Zabotto Pulino Doutora em Filosofia (UNICAMP) [email protected] Este trabalho relata e problematiza a criação de uma escola, associativa e democrática, durante o Regime Militar, em Brasília, Distrito Federal. Em 1981, quatro anos antes da retomada da democracia no Brasil, depois de um longo período de ditadura, iniciado em 31 de março de 1964, foi criada a Associação Pró-Educação Vivendo e Aprendendo, na capital do pais. Nasceu como associação, espaço de encontros visando criar um lugar de educação para crianças, os filhos das pessoas envolvidas com a Associação. Em 1982, essas pessoas criaram um Espaço de Convivência e Escola de Educação Infantil, para escapar ao modelo restritivo do sistema público autoritário proposto pelo regime vigente. A Associação, auto-gerida, estabeleceu como sua instância máxima de tomada de decisões a Assembléia Geral. A pré-escola, sem dono, ou tendo todos os associados como seus donos, hoje, em 2010, completa 28 anos de funcionamento, educando crianças em um clima democrático, numa perspectiva critica e criativa. A Vivendo e Aprendendo candidatou-se, recentemente, a fazer parte do patrimônio imaterial de Brasília. Por trás da festa: as representações do povo através do folguedo cavalo-marinho de Pernambuco Maria Ângela de Faria Grillo Doutora em História pela UFF Profa. do Dep. De História da UFRPE O trabalho aqui apresentado busca fazer um levantamento dos bens culturais que envolvem o Folguedo Cavalo-Marinho dos municípios de Ferreiros e Condado situados na Zona da Mata Norte de Pernambuco. Cavalo Marinho é a denominação atribuída ao folguedo popular que se caracteriza como um teatro, incluindo música, dança e poesia, representado por aproximadamente setenta personagens, que se apresentam por cerca de oito horas. A história é contada pelas toadas e loas (versos falados) de forma poética, pelo diálogo conduzindo o enredo através das figuras. Seus cacoetes, vícios e mazelas remetem às vitimas dos personagens reais, representando um grande desabafo. Todo enredo mostra a relação entre dois extratos básicos da sociedade canavieira: o dos escravos – atualmente trabalhadores rurais – e dos senhores de engenho – atualmente usineiros e políticos. Durante toda brincadeira, os participantes trocam de figuras, mudando apenas uma peça de roupa ou uma máscara. O objeto fundamental dessa pesquisa é investigar as práticas culturais presentes no folguedo e as disputas políticas aí representadas. Palavras-chave: cultura popular, práticas e representações culturais. 194 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Mulheres negras pernambucanas têm história Maria Aparecida Oliveira Souza Professora de História/UFPE [email protected] O desfio de romper o esquema binário em que o masculino e o feminino se constroem em oposição um ao outro tem sido desafiador para nós mulheres, daí o interesse em procurar experiências que apontam para a possibilidade de construção do mundo de outras formas. Investigar as mulheres negras do sertão deita suas raízes na infância. Queira-se ou não, a vivência, a emoção e o meio social interferem no pensamento. Recuperar estas histórias baseia-se na sabedoria popular para a qual “escolher bem entre as velhas coisas é quase inventar coisas novas”. Embora já se tenha avançado em formulações teóricas sobre as questões voltadas para as construções das identidades, maiores investigações ainda são necessárias, particularmente em relação aos potenciais e limites da abordagem de gênero e da construção das identidades etno-raciais no sertão central pernambucano. Nesse caso, o corpo biológico das mulheres negras fica marcado como fundamento “natural” da inferioridade, e seus papeis pré-definidos. Apesar de toda a diversidade que representou o período da escravidão, o que se conduz, a partir desse momento, é falar das negras que conseguiram quebrar os domínios dos “corpos dóceis” e “inverter as evidencias” do lugar das mulheres negras do Sertão. Palavras-chave: gênero, mulheres, negras, sertão Histórias de cá e de lá: o processo histórico de formação da literatura de cordel brasileira Maria Helenice Barroso Doutoranda do PPGHIS/UnB [email protected] O presente artigo analisa os modos como se efetivou o processo histórico de formação da literatura de cordel brasileira, no período compreendido entre fins do século XIX até 1930. Acredito que tal estudo possibilitará perceber como ocorre a ressignificação, adaptação e atualização das práticas culturais no processo de transmissão das tradições. As narrativas do cordel são aqui tomadas como formas imagéticas e discursivas, capazes de instituir realidades, legitimando e desestabilizando saberes, dando visibilidade ao sonhado, instaurando sensibilidades capazes de produzir sentidos e significados para as experiências cotidianamente vividas em um determinado contexto histórico permeado por relações de poder (Foucault, 1979). Essa pesquisa tem como base metodológica a análise qualitativa a partir de diferentes tipos de indícios historiográficos (Guinzburg, 1987). Além dos folhetos e registros de arquivos públicos, adota a história oral em busca da apreensão das representações presentes nas imagens construídas na prática do fazer cordel. Desse modo, intento aqui a construção de uma forma do conhecimento do real a partir de sua apreensão pela esfera do sensível, do subjetivo e também do racional. Palavras chave: cordel, tradições, representações. 195 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais A Escrita do Folclore em Goiás: Histórias de Intelectuais e Instituições (1940/1970) Mônica Martins da Silva Prof. Doutora do Departamento de Metodologia de Ensino do Centro de Ciências da Educação/UFSC [email protected] Analisa-se, por meio de um conjunto de publicações dos anos de 1970, o processo de construção de uma escrita intelectual que colaborou para a construção das noções de “povo”, de “cultura popular” e de “folclore” em Goiás e as suas relações, tanto com a organização de um campo intelectual do folclore iniciado no final dos anos de 1940, como com as políticas culturais dos anos de 1960 e 1970 que ampliaram as reflexões sobre o passado e possibilitaram a sua perpetuação por meio da publicação e a reedição de diversos tipos de textos, assim como a gravação de discos e a produção de imagens, nos quais as festas, as danças dramáticas, a culinária popular e as religiosidades são recorrentes. A discussão dessas questões possibilita refletir historicamente sobre o processo que dá início a muitas das indagações contemporâneas a cerca dos limites e das tensões envolvendo a cultura popular. O chefe mandou.... Paula Braga Zacharias Pós-graduanda em Docência na Educação Superior do IESB [email protected] Resultado de uma interação prática contínua entre teatro e educação no ensino fundamental em uma escola pública na cidade de Brasília, minha dissertação de mestrado sustentou a interface e a interação dos jogos infantis de rua, Polícia e Ladrão, Pique-Bandeira e o Garrafão (jogos presentes na cultura popular) por meio de suas diversas semelhanças com os elementos da linguagem teatral, apontando ser sua natureza um eficiente exercício espontâneo de dramaturgia para crianças. Os jogos infantis de rua são especialmente dotados de linguagem cênica; constituídos por elementos dramáticos que educam e direcionam o pequeno discente à procura de novas formas e contextos ficcionais dramáticos. Estes jogos são potencializados enquanto exercícios espontâneos de dramaturgia. O jogo é um objeto de reflexão inerente e tangível para professores que almejam aliar à educação formal o ensino das artes cênicas, com ênfase para a faixa etária de 07 a 10 anos de idade. Palavras-chave: jogo; educação; imaginário Percepções sobre o olhar da comunidade de Serranópolis – GO frente à arte rupestre na Pousada das Araras 196 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Pollyanna de Oliveira Brito Melo Mestranda em Cultura Visual FAV/ UFG [email protected] O objetivo desta comunicação é divulgar um estudo preliminar sobre o sentimento de pertença (construído a partir da diferenciação social, de lugares de sentido social e da memória coletiva) e o patrimônio imaterial (manifestações culturais, crenças e saberes) que a comunidade de Serranópolis desenvolve a partir das imagens rupestres da Pousada das Araras. Buscando respostas a perguntas como — Existe um vínculo de afetividade entre os moradores e esses registros históricos? Se esse vínculo existe, como ele se manifesta?Seria através de artesanatos, discussões ou do ensino de arte? Ou ele não se concretiza e são necessários “ganchos”, como ações de educação e gestão patrimonial que levem a comunidade à consciência histórica da riqueza dessas imagens rupestres, que têm aproximadamente 11.000 anos e pertencem a um dos sítios arqueológicos mais importantes do Brasil, a Pousada das Araras, que está localizada em Serranópolis no estado de Goiás. Palavras-chave: arte rupestre, sentimento de pertença e patrimônio imaterial. Da macaíba ao alumínio: experiência do inventário dos cocos em Pernambuco Sanae Souto Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPE. Formada em Comunicação Social pela Sophia University, Tóquio, Japão. [email protected] Co-autor: Frank Sósthenes S. Souto Maior Jr. Graduando em História da UFRPE [email protected] Entre setembro de 2009 e janeiro de 2010 uma equipe de pesquisadores sob coordenação do professor Carlos Sandroni trabalhou na etapa pernambucana do projeto “Nos quatro cantos do mundo – os cocos do nordeste brasileiro”, financiado pelo IPHAN/MinC. O objetivo deste projeto é realizar um levantamento para instruir a possível patrimonialização dos cocos do Nordeste. Durante a pesquisa, foi privilegiado o uso da história oral de vida nas entrevistas com os atores sociais. Neste trabalho abordaremos algumas questões ocorridas durante o processo da transmissão da cultura popular. Segundo observamos, este processo está se transformando durante a vida dos participantes e, no caso de coco-de-roda da Zona da Mata Norte, em maior parte apenas resta na memória das pessoas idosas. Pretendemos discutir também sobre o procedimento de registro para melhor descrição dos bens intangíveis que incluem cantos, danças e execução e fabricação de instrumentos musicais. Serão relatados depoimentos dos coquistas da região, com destaque para o mestre cantador e artesão de bombos de macaíba, José Agripino, 89 anos, e do Mestre Paulo Faustino, 89 anos, que afirma de ter introduzido o pandeiro no coco-de-roda. Palavras-chave: Patrimônio Imaterial - Coco – Danças tradicionais 197 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 21 Entre (In) Visibilidades – imagem e conhecimento Imagens do carisma de Hitler. A celebração das massas e o fascínio pela estética do mal Albene Miriam Menezes Coordenadora do PPGHIS/UnB [email protected] O propósito deste ensaio é abordar, de forma panorâmica, o significado das imagens do mito e do carisma de Hitler e as engrenagens e mecanismos do nazismo para construir e reforçar o apelo popular da figura do Führer. Meta central é instigar algumas reflexões sobre a organização das manifestações de massa promovidas pela Alemanha nazista sob a perspectiva da fabricação cultural para fins políticos - o aparelhamento da arte e da cultura a serviço de uma ideologia. Os movimentos totalitários, segundo Hannah Arendt, objetivam e conseguem organizar as massas – e não as classes ou os cidadãos. Sob Hitler a massa é parte do espetáculo, não apenas espectador. O uso intensivo dos meios de comunicação existentes (grafismo, cartazes, cinema, rádio, jornais, música, fotos, panfletos, livros, revistas), de signos, símbolos, marchas e paradas organizadas contribuem substancialmente para a difusão e incorporação pela sociedade de preceitos totalitários que amalgamam a ideia de nação e nacionalismo com postulados racistas e reforça a conjectura que o nazismo corresponde a uma era de política de massas. Simetria, sincronia, geometria estudada dos gestos (estética corporal) tanto dos atores políticos quanto das massas organizadas e fascinadas em espetáculos grandiloqüentes em espaços arquitetônicos monumentais, como os das concentrações do Partido Nazista no Zeppelinfeld, em Nuremberg, e documentários fílmicos, como o exemplo mor do Triumph des Willens, de Leni Riefensthal, tornam-se instrumentos de celebração, conquista das massas e propaganda do regime e mitificação da figura de Hitler. Neste contexto, produzem-se imagens que materializam uma estética de apelo sensorial que corrobora o ponto de vista de Walter Benjamin que fala da transformação da política em estética - no caso em foco, pelas razões subjacentes, estética do mal. Palavras-chave: celebrações das massas nazistas; estética do mal; A representação de Batman nas graphic novels da década de 1980: o cavaleiro das trevas (1986) Alexandre de Carvalho Mestrando em História/UnB [email protected] Passada 20 anos no futuro da cronologia do personagem até então, a graphic novel que originalmente foi lançada em quatro minisséries, apresenta um personagem já “idoso” e apos- 198 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais entado da carreira de herói. No entanto, Batman volta à ativa no momento em que Gothan City está afundando no crime e o mundo passa por uma crise bélica que envolve os Estados Unidos e a União Soviética. Representado nesta contextualização, Batman sai das sombras para impor a justiça de acordo com o seu olhar de vigilante, rompendo com uma visão de herói que se tinha antes do próprio personagem que perdurava por anos, retornando a combater o crime em plena década de 1980. A velocidade da narrativa gráfica, que lembra muito o cinema, e a construção de um modelo de narrativa nas histórias em quadrinhos no qual o personagem tem sua concepção identitária permeada de representações e concepções que até então não eram encontradas nos quadrinhos do gênero de super-heróis, se tornaram referência para toda uma geração de roteiristas e desenhistas da atualidade na composição de seus personagens em suas graphic novels. Buscamos estabelecer uma relação dos estudos presentes na história cultural sobre a representação com a concepção da narrativa gráfica do álbum, sobretudo sobre a historicidade das imagens de Batman inseridas na linguagem própria característica e construída para as histórias em quadrinhos. Palavras-chaves: representação, histórias em quadrinhos, Batman Diálogos entre a vanguarda Dadá e o manifesto cinematográfico Dogma 95: mediação do caos Allex Rodrigo Medrado Araújo Universidade Federal de Goiás [email protected] Neste trabalho, o objetivo é discutir e propor um diálogo entre o manifesto cinematográfico Dogma 95 e a vanguarda Dadá, a partir de suas imagens e conceitos, aparentemente caóticos sob o ponto de vista de outras realidades possíveis. Valho-me em Mirzoeff, no livro An introduction to visual culture, publicado em 1999. Ali, a força estabelecida entre imagem e texto é abordada como forma de desconstrução desta relação binária,em favor do hibridismo possibilitado pelos recursos técnicos e estéticos das mídias contemporâneas. É um olhar que pretende desconstruir, em alguma medida, o modo como o indivíduo percebe e representa a realidade, por meio de estruturas hegemônicas sistemáticas de ver, interpretar e formular mensagens no contexto sócio cultural contemporâneo. É uma forma de potencializar o indeterminado, o acaso e ampliar o espectro de formas de percepção das visualidades, para possibilitar reaprender a visada de mundo. Se pensarmos o caos como um mundo do complexo numa dinâmica não linear, esta pesquisa produzirá ainda mais incertezas do que seguranças. No entanto, é capaz também de vislumbrar horizontes da intensidade para além da simples extensão, como argumenta Demo (2002). Palavras-chave: Dogma95, Dadá e Caos. Tinta papel e prensa: a arte gráfica na coluna Garotas da Revista O Cruzeiro 199 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Daniela Queiroz Campos Doutoranda em História UFSC [email protected] O universo das Garotas do Alceu. Um universo de tinta papel e prensa. As polianas cuidadosamente traçadas pelo ilustrador Alceu Penna estavam inseridas em um mundo gráfico. Era o mundo gráfico de O Cruzeiro. A coluna Garotas foi editada durante 28 anos (de 1938 à 1964) naquela que foi a grande revista brasileira de então. As Garotas do Alceu povoaram duas folhas em formato tablóide de O Cruzeiro por quase 3 décadas, tranformando-se, assim, em famosas personagens do Brasil dos anos dourados. Personagens que eram personificadas por tinta e papel. O presente artigo pretende debruçar-se justamente nesse arranjo de tinta, papel e prensa. Para tal, buscar-se-á analisar os arranjos dos elementos que compunham a coluna. Tipografia do título, distribuição de textos e ilustração, eleição de cores. Perceber a coluna como imagem, imagem, que por sua vez, transbordava a ilustração. Tratando, assim, Alceu Penna, como artista gráfico e, quiçá, como designer. Movimentos de memórias entre Angola e o Quilombo Kalunga Edymara Diniz Costa/UnB [email protected] Este trabalho tem como proposta a socialização de alguns resultados que vêm sendo obtidos através do projeto de pesquisa e extensão “Abrigos da memória na região de Brasília”, sob a coordenação da professora Dra. Nancy Alessio Magalhães. Sendo assim, procura-se obter outras versões da história de Angola relatadas por meio de entrevistas com estudantes angolanos na UnB, em cotejo com as de moradores Kalunga do município de Cavalcante Goiás. Estes também têm participado deste projeto, relatando suas experiências dentro e fora da sua comunidade. É por meio da realização dessas entrevistas com esses estudantes e moradores que temos levantado temas que nos permitem relacionar semelhanças e diferenças entre essas experiências, assim como também realizar outras interpretações de acontecimentos já difundidos na história escrita, pelo contato com outras versões obtidas pelo recurso da história oral. Chamo atenção para a utilização da fotografia por ela estar muito presente na metodologia de trabalho do referido projeto, juntamente com outros recursos audiovisuais. Isto tem nos possibilitado perceber como a memória tem sido acionada por estes estudantes e moradores, para percorrerem processos de identidade a identidades, na medida em que confrontamos relações ou não com outros documentos correlatos, também já identificados e produzidos através desse projeto de pesquisa e extensão. Arte, história e instituição: João Câmara e as apropriações da história da arte Emerson Dionisio Gomes de Oliveira Departamento de Artes Visuais/IdA/UnB 200 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] O presente trabalho procurou investigar de que modo o artista paraibano João Câmara tem se apropriado, pelo vocabulário da arte contemporânea, de estilos e estéticas visuais do passado. A pesquisa mirou no confronto entre os elementos da linguagem visual oriundos da tradição classificatória da história da arte ocidental com elementos da história da arte brasileira e seus desvios. Nesse confronto explicitam-se usos, jogos, críticas e procedimentos realizados pelo artista, ao mesmo tempo em que se evidencia a história constitutiva dos valores da disciplina História da Arte dentro do contexto sócio-histórico brasileiro. Ao apoderar-se de valores estéticos do passado, Câmara também expõe outros elementos importantes na imbricação entre a história cultural, a história da arte e a história das instituições. Com diferentes obras, Câmara nos oferece pela arte o questionamento do estatuto artístico em diferentes momentos históricos; o papel do artista diante das fontes visuais do passado; o sentido de autoria e suas restrições culturais; o processo narrativo do passado por meio de fontes visuais derivadas; a hierarquia dos gêneros e suportes; a circulação e a percepção de obras derivadas; a memória como elemento conceitual mediador; o papel das instituições de arte e sua relação com as identidades regionais; e, sobretudo, o próprio conceito de apropriação. Uma etnografia do urbano das Minas escravistas: a visão e a escritura dos registros naturalistas Francisco Eduardo Andrade Professor adjunto do departamento de História/Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] Pretendemos, nesse trabalho, explorar a problemática da invenção das imagens documentais de cunho naturalista (século XIX) – imagens da composição urbana das Minas no período de sólido incremento da escravidão. Residindo a autenticidade do registro no cruzamento entre a ciência natural e a arte de sensibilidade romântica, enfocamos os elementos visíveis/ invisíveis específicos do urbano nesse interior, definindo assim a visualidade da paisagem citadina. Para os naturalistas, desde a prática propriamente documental – esboço ou desenho – até a concepção imagética final – gravura, sobretudo -, toda a produção de imagens visa testemunhar o percurso da viagem, um relato de pesquisa de campo. Contudo, as representações das gravuras descolam-se do texto, cujos recursos narrativos apreendem o confronto das visões. Mesmo as representações dos espaços urbanos são “distanciadas”, constituídas nos quadros paisagísticos de uma natureza exuberante (a da fisionomia geológica, pelo menos) e rústica, aqui com quase nenhuma alternativa para a subsistência humana. “A construção da identidade capixaba na mídia: identidades líquidas, paisagens contemporâneas” Isabel Regina Augusto 201 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Professora FACITEC/DDI - UFES [email protected] Karolina Broetto Nilo Kulnig Musso Thiago Sales Graduandos DDI - UFES Este trabalho é resultado de pesquisa que analisa através de estudo de caso a construção na mídia de uma periférica identidade regional brasileira, qual a capixaba, na chamada pósmodernidade. Alain Herscovici (1995 e 2004), Manuel Castells (2006), Zygmunt Bauman (2005), Denilson Lopes (2010) e Luisa Passerini (2005) formam a base para reflexão teórica, enquanto Maria Ciavatta (2002) e Lúcia Santaella (2004) auxiliam na construção da abordagem metodológica de analise das peças criadas para a mídia (talonários, cartões, vídeo, site, etc.), ou seja, aquela produzida pelo Banco do Estado do Espírito Santo - BANESTES, entre 1999-2009, no emprego do método de análise da imagem denominado histórico-semiótico. Parte-se se da novidade do caráter autoconsciente, instrumental e mediado da construção desta identidade como iniciada no final do século XX e início do XXI no Estado do Espírito Santo e reflete sobre seus significados no complexo contexto global contemporâneo. Palavras-chave: mídia, identidade cultural, pós-modernidade. Cineastas angolanos e reconfigurações culturais no pós-independência (1975- 1980) Leandro Santos Bulhões de Jesus Doutorando em História PPGHIS/UnB [email protected] Nos primeiros anos que se seguem à independência de Angola (1975- 1980), são produzidos dezenas de filmes. Esta produção cinematográfica foi um importante elemento de intermediação de perspectivas, pela linguagem visual, entre os distintos mundos que constituíam o território angolano, como as várias etnias existentes, os legados coloniais portugueses, as novas políticas de trabalho, a reinserção nas relações internacionais, a rearticulação das fronteiras, a reinterpretação das heranças ocidentais, entre outras. Ao realizar outras leituras das práticas coloniais, os cineastas angolanos revisitam a própria história, redimensionam as premissas culturais, realinhando princípios da nova nação. Assim, num contexto em que as imagens fílmicas foram feitas para serem vistas tanto pelos angolanos quanto pelo mundo inteiro, nos primeiros suspiros das assinaturas nacionais angolanas, o visível e o invisível se constituem como problemas passíveis de serem estudados. Com esta comunicação, pretendo problematizar o papel desses cineastas como organizadores de novas narrativas, que ao oferecerem outras leituras de angolanidades promoviam uma dinâmica que envolvia uma reescrita do passado que, inevitavelmente, reescrevia o presente, e o reescreve ainda hoje, nos dias atuais. 202 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Sobre a Vuelvilla de Xul Solar: técnica e liberdade - Ou a Revolução Caraíba Maria Bernardete Ramos Flores Professora titular UFSC/CNPq. [email protected] Trata-se de compreender as coincidências técnico-utópicas entre Xul Solar (artista plástico argentino) e de Oswald de Andrade (poeta brasileiro), na fase artística de 1950. A Vuelvilla, de Xul Solar, uma cidade espacial que funcionaria como centro de cultura, sua abordagem dos autômatas, andróides, robôs, de cérebros quase mecânicos, que trabalhariam pelos homens, e seus mestiços de avião com gente, homens-máquinas que potencializariam as capacidades humanas, representam o desejo do artista na conquista do homem novo, síntese da liberdade humana, depois de uma longa evolução espiritual. A Antropofagia II, conforme preconizada nos textos de Oswald de Andrade, na década de 1950, com seu programa de emancipação do ser humano da monogamia e do trabalho, com a tecnificação da produção, representa a síntese do homem primitivo- tecnizado. Para ambos, era a América, com seus sistemas de crenças e mitos originários da cultura pré-colombiana, que poderia fornecer ao mundo o novo homem, artístico, lúdico, intersubjetivo, Finalmente, o progresso realizaria a promessa da humanidade: “os fusos trabalhariam sozinhos”. Ulisses e a Odisséia na arte contemporânea Mário Mendes Cavalcante Dra. Rosana Horio Monteiro Mestrado FAV/UFG [email protected] Esse trabalho apresenta três trabalhos em artes plásticas que tem em sua poética o tema, a relação entre arte e literatura, a partir de Ulisses da Odisséia. Para isso parte do ensaio visual Ulisses a odisséia de um corpo, de um dos autores deste trabalho, e o relaciona com os trabalhos em pintura de José Roberto Aguilar e Lenir de Miranda, para discutir possíveis relações criativas entre arte e literatura na arte contemporânea. Palavras-chave: Ulisses, Odisséia , Arte contemporânea “Nos detalhes”: figuras da resistência em Persépolis e Maus Michelle dos Santos Professora Mestra em História UEG/UnU Formosa [email protected] Persépolis (2000-2003), de Marjane Satrapi, e Maus: a história de um sobrevivente (1986- 203 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais 1991), de Art Spielgeman, são romances gráficos que narram, respectivamente, as oposições da própria autora à República Islâmica do Irã, e a obstinação de Vladek Spielgeman, pai do quadrinista e sobrevivente de Auschwitz, no intuito de escapar à escalada da perseguição nazista aos judeus e do Holocausto. Minha intenção é discutir como em ambos proliferam imagens de resistência, mas, elas adquirem, sobretudo, uma forma silenciosa, subterrânea, pormenorizada, fato este que se deve, em grande parte, ao terror institucionalizado por esses regimes, onde a discordância aberta culmina em punições severas e em morte. Tanto a história de Marjane quando a de Vladek, cada qual mergulhada em seu ambiente político específico, fizeram de Persépolis e Maus espaços da “poética do detalhe”, expressão cunhada por Beatriz Sarlo, para designar uma abordagem que valoriza a exceção à regra, as originalidades e não o padrão, enfim, os detalhes em relação à unidade. Aí, os grandes movimentos coletivos, a formação de milícias armadas, cedem espaço para resistências cotidianas, veladas e sutis, que não querem se revelar como tais. P-C: repressão, resistência, detalhes. Entre limiares de fotos e relatos, ressonâncias entre Brasil e Angola. Nancy Alessio Magalhães NECOIM/CEAM e PPGHIS/UnB [email protected] Desde 2004 venho colhendo memórias de estudantes angolanos na Universidade de Brasília. Nesta trilha, centro este trabalho na discussão metodológica de montagem de narrativa de livro já publicado - Entreveres-Memórias de estudantes angolanos e moradores Kalunga (Brasil-Angola) - constituído de fotografias e alguns relatos orais transcritos destes estudantes - transformados, primeiramente, numa exposição fotográfica -, e de moradores quilombolas em Cavalcante, Goiás, com quem realizamos oficinas de pesquisa e extensão, nesta UnB, em 2008 e 2009. Exponho como procuro tecer seus cotidianos em textos e fotos, que testemunham acontecimentos e, ao mesmo tempo, exprimem-se em linguagens e instituem diversas temporalidades, ressignificadas por tensões, conflitos, sonhos, vontades, desejos. As formas narrativas são tratadas como resultantes de diálogos, interações entre diferentes produtores de conhecimentos e saberes, diferentes pensadores. Todas potencialmente constitutivas de experiências singulares como legados para outras gerações, segundo Benjamin, abertos a outras possibilidades e desfechos. Trilogia da revolução: memórias da revolução mexicana sob o olhar cinematográfico de fernando fuentes – (1930 – 1940) Robson Nunes da Silva Mestrando em História Cultural/UnB 204 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] A presente proposta tem como objetivo abordar a revolução mexicana 1910 – 1920, pautada na relação existente entre cinema e história, compreendendo o artefato fílmico como fonte e objeto para a releitura do passado e do presente. A partir de uma discussão teórico-metodológica e da utilização da “Trilogia da Revolução”- filmes realizados pelo cineasta mexicano Fernando Fuentes - procurarei repensar alguns aspectos dessa rebelião enquanto representação de uma memória social, construída à luz do discurso cinematográfico. Nesse sentido, coloco, inicialmente, algumas indagações: como esses três filmes representam, na década de 1930, esse levante armado no México, seus protagonistas, suas relações, e os desdobramentos sociais, econômicos e políticos desse acontecimento? Que questões emergem das relações entre diferentes agentes sociais em torno das dimensões lembrar e esquecer no processo de construção dessas memórias fílmicas? Como o discurso imagético produzido por Fuentes representa a revolução na memória mexicana da década de 1930? Palavras-chave: Cinema, memória, revolução mexicana. Modernidade em desalinho: Raul Pederneiras e as representações caricaturais da vida urbana carioca na Revista da Semana Rogerio Souza Silva Pós-Graduando em História da PUC-SP [email protected] Esta comunicação pretende discutir a produção caricatural de Raul Pederneiras na Revista da Semana, onde atuou em grande parte de sua vida profissional. O artista teve como uma de suas preocupações os impactos do modelo de modernização que era adotado pelas elites brasileiras e que tinha o espaço urbano do Rio de Janeiro como um de seus cenários principais. Em suas criações ele observava as contradições entre uma modernidade desejada e a sua aplicação diante da realidade do país. Raul tem como uma de suas características a utilização de uma linguagem onde os trocadilhos são empregados nas legendas e nos desenhos. Além de caricaturas, o autor produziu poemas, um dicionário de giras e conferências sobre humor onde a sincronia entre as imagens e as palavras estava presentes. A imagem entre a arte e a ciência. Um estudo de trabalhos colaborativos entre artistas e cientistas Rosana Horio Monteiro Professora adjunto Fav/UFG/Pós-doutorado na Universidade de Lisboa [email protected] 205 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais A complexa relação entre arte e ciência tem sido retomada nos últimos anos, sobretudo a partir da última década do século 20, quando um número crescente de artistas passaram a migrar de seus ateliês para o interior de laboratórios científicos, sobretudo na área de biologia molecular. Ao utilizarem os princípios, instrumentos, ou contextos institucionais da ciência, alguns artistas aproximam-se e apropriam-se das práticas da zoologia, botânica, ornitologia, criando complexas iconografias e narrativas, instalações e ambientes. A partir de um diálogo entre a história da arte e a história da ciência, esse trabalho investiga os processos de interação entre artistas e cientistas em diferentes períodos históricos, tendo a imagem como mediadora. De que maneira o saber científico tem sido lido e reconfigurado pela arte, como a arte contribui para a construção do conhecimento científico; como os espaços de produção e sociabilidade são (re)definidos — ateliê e laboratório? O texto é resultado de um estudo de trabalhos colaborativos entre artistas e cientistas desenvolvido em Lisboa de agosto de 2009 a julho de 2010. Palavras-chave: imagem, arte, ciência Lembrar é esquecer redimindo: memórias da última ditadura argentina no cinema argentino contemporâneo Salatiel Ribeiro Gomes Mestre em História/UnB [email protected] Este artigo corresponde a uma síntese de uma proposta de pesquisa de doutoramento em História Cultural, e se insere num campo geral de investigações que articulam a relação entre cinema, memória e história. Traz no seu corpo uma discussão sobre o objeto da pesquisa, a problemática e o referencial teórico-metodológico. Na proposta, intento analisar o caráter ativo do cinema argentino, no que diz respeito à escritura /e construção/ das memórias das vítimas do terrorismo de Estado praticado pela última ditadura militar instaurada naquele país (1976-1983), e à abertura do passado operada por essas memórias. Tomo como horizonte teórico a filosofia de história de Walter Benjamin para defender que o cinema argentino segue sendo um instrumento necessário ao processo de rememoração que evita o recalque desse passado. As produções aí referidas não apenas impedem que se dissolva no esquecimento a experiência e os projetos daqueles sujeitos – desaparecidos, torturados, presos e assassinados –, mas também burlam as estratégias de esquecimento operadas por grupos hegemônicos, abrindo frente numa disputa entre memórias conflitantes. Intervenções artísticas urbanas em três casos: Orlândia, Processo Pedregulho e Gordon Matta-Clark 206 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Tatiana Drummond Moura PUC-RJ [email protected] O presente trabalho propõe uma análise, através da abordagem de algumas obras de Gordon Matta-Clark, o projeto “Processo Pedregulho” e a intervenção “Orlândia”, da relação de manifestacões artísticas no espaço urbano e seus desdobramentos. Qual a intenção de tais ações? Como as intervenções ampliam o campo da arte? Estas são apenas algumas das muitas questões que norteiam esta pesquisa. Impressões da Paisagem: Merleau-Ponty e a dúvida de Cézanne Ulisses Fernandes Professor-Adjunto do Departamento de Geografia Humana (IGEOG /UERJ) [email protected] O trabalho ora apresentado é parte constante do estudo pertinente à elaboração da tese de doutorado intitulada “Paisagem: uma Prosa do Mundo em Merleau-Ponty” defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense ao final do ano de 2009. Considerando tal estudo, constituiu-se uma linha mestra de investigação calcada na própria compreensão de que na filosofia de Maurice Merleau-Ponty há um esforço em suplantar uma antinomia entre o objetivismo ou empírico e o subjetivismo ou transcendental. As observações feitas por este mesmo filósofo sobre a arte pictórica de Paul Cézanne se enquadram perfeitamente nesta assertiva inicial e permite premissa básica ao que ora se apresenta: tendo o pintor dedicado grande parte de sua obra à representação da paisagem, é possível, a partir da análise da mesma estabelecer conexões entre o real representado e a própria percepção do artista sobre o mundo. Aponta-se, de antemão, a construção de um aporte teórico a partir da leitura da obra de Merleau-Ponty e da compreensão daquilo que o próprio filósofo designou como tentativa de construção de uma nova ontologia. Dentre as obras do referido filósofo há aquelas que falam de uma linguagem indireta ou de uma prosa do mundo, onde a figura de Paul Cézanne é sempre recorrente por se aproximar, enquanto expressão artística, da própria leitura do mundo pretendida por Merleau-Ponty. E neste resgate está presente o objetivo maior deste trabalho, o de interagir a leitura da paisagem enquanto um sensível objetivado com a de uma construção subjetiva, inerente à percepção humana, onde a interação das mesmas permite melhor qualificar este conceito tão caro junto à Geografia e outras ciências humanas. Palavras-chave: paisagem, objetivismo, subjetivismo, Merleau-Ponty , Paul Cézanne 207 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 22 A fotografia e a construção de paisagens (modos de ver) na cultura visual dos séculos XIX e XX A fotografia de Mario Cravo Neto em Laróyè Adriana Aparecida Mendonça UFG [email protected] O presente trabalho detém-se no estudo da (re)significação da herança religiosa e mitológica dos orixás na produção artística afro-brasileira, com ênfase na presença simbólica do mensageiro Exu na obra de Mario Cravo Neto. Nesta pesquisa buscamos a compreensão do contexto artístico afro-brasileiro e as diferentes formas de representação do mensageiro Exu, especificamente na fotografia do artista contemporâneo Mario Cravo Neto. Promovemos um diálogo entre a mitologia dos orixás, principalmente os mitos que narram as histórias de Exu, com a produção da série fotográfica denominada Laróyè. Esta produção elucida a filosofia africana, onde religião e arte não se separam. Palavras-chave: arte afro-brasileira, fotografia, Exu, Mario Cravo Neto Imagens cemiteriais: imagens dos vivos aos vivos Alberto Gawryszewski Doutor – Professor associado - UEL [email protected] A questão central a ser desenvolvida neste trabalho de pesquisa é o uso das imagens fotográficas encontradas em sepulturas em cemitérios brasileiros. Buscar-se-à também sua possível correlação com os epitáfios. Inventários tipológicos foram realizados: arquitetura funerária, esculturas, adornos; jazigos, capelas, túmulos; anjos, imagens sacras e/ou profanas; altos e/ ou baixos-relevos, piras, grades. (BORGES, 173) Alegorias foram igualmente catalogadas: ressurreição, saudade, desolação, esperança, oração. Cristo foi construído como homem crucificado e/ou elevado. Os devotos traziam seus santos para os túmulos: Santo Antonio, São Sebastião, Imaculada Conceição entre outros. Bustos de eméritos fazendeiros/burgueses eram acompanhados ou não da imagem da pranteadora. Acompanhando as sepulturas temos os adornos: cordeiro, coroa de flores ampulheta, nuvens, trombetas, harpas, arabescos brasões, epitáfios e festões entre outros tantos. Relevos que diziam a ocupação de trabalho do morto: militar, advogado, artista plástico, escultor, pintor, músico etc. O tema ora proposto possui um caráter de ineditismo, não só pelo aspecto espacial, como temporal e de amplitude. Ao escolher cemitérios de várias cidades brasileiras, pudemos criar uma tipologia a partir de um estudo comparativo com uso da fotografia e dos epitáfios pelos vivos. Há similitudes? Houve mudanças de forma, aspecto, vestimenta, suporte, mensagem visual e mensagem escrita no aspecto espacial e temporal?Por que do uso da fotografia e do epitáfio em sepulturas? Com certeza busca-se a construção de uma perenidade pelo uso de palavras e de uma imagem. Mas, para quem foram construídas essas mensagens? As palavras traduzem ações em vida do 208 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais morto: bom pai, marido, funcionário, cristão etc. Às vezes o epitáfio traz palavras que seriam escritas pelo próprio morto. Talvez tenha deixado escrito, ou encomendado a placa ainda vivo. O epitáfio não só se remete ao morto, mas ao que ficou, pois quer demonstrar seu laço afetivo e de parentesco. Os epitáfios podem traduzir o amor conjugal, filial ou maternal. As imagens dos mortos trazem em seu conteúdo muitas mensagens: sua beleza física, juventude, relações afetivas, idade, felicidade, ocupação, formação profissional entre outras. Marcar a profissão do morto é construir e manter na memória dos herdeiros e da comunidade que ele foi um homem (mulher) com uma profissão, uma ocupação, o que é valorizada em nossa sociedade. Assim são recorrentes as fotos com o morto vestido sua toga de advogado ou como professora. Imagens de bebês e crianças também podem ser encontradas. Bebês são retratados com se dormissem estivessem, ou nas nuvens. Da mesma forma, um rol de fotos de casais podem ser encontrados nos cemitérios. Casais em fotos separadas, seja por opção, seja pelo falecimento em dadas distantes. Casais juntos, em fotos reunidas pelo laboratório fotográfico ou em foto em que estavam realmente juntos. Partimos dos conceitos de representação, narrativas, memória e práticas sociais elaborados por Chartier. Assim, os relatos acima vão ao encontro deste conceito, pois os vivos deixam impressões sobre si e sobre os mortos. Esses produzem seus próprios documentos, dando significados e sentido à vida. Representam seus sentimentos, sensibilidades, aspirações sociais e coletivas, sejam vinculadas às relações humanas terrenas ou “celestiais”. Segundo pesquisadores cemiteriais, as fotos e as esculturas buscam tornar presente o ausente. O vivo, ou o morto, ao construir uma imagem (bela foto e/ ou epitáfio) pensa em deixar uma memória para os outros contemplarem, partindo, como vimos, de valores e idéias socialmente aceitas. Portanto, podemos pensar que a fonte cemiterial é importante para compreender o mundo dos vivos, seus valores, seus desejos de permanência e/ou mudanças? Acreditamos que sim, pois as formas de vestir, as palavras, os signos, as expressões dos epitáfios, entre outros, ajudam a conhecer e dar sentido ao mundo de outrora. O que propõe, portanto, é mostrar a utilização de estudos sobre a imagem fotográfica como fonte histórica, mas investindo numa análise que considera a relação entre vivos e mortos. Isso implica numa inserção destes objetos, as fotografias cemiteriais, em seu tempo e condições de produção, e na observação de sua evolução, além do desenvolvimento de uma tipologia para estas imagens tão particulares, considerando-as em diferentes localidades. Transformação dos padrões de representação do espaço urbano na fotografia (1886-1950): da figuração à abstração Carolina Martins Etcheverry [email protected] Esta comunicação tem como proposta analisar diferentes padrões de representação do espaço urbano, ao longo do final do século XIX até a metade do século XX. Para tanto, busca-se exemplos nas fotografias de Porto Alegre e São Paulo, nas quais é possível observar modificações nos padrões visuais propostos pelos fotógrafos. Tais modificações têm a ver com mudanças que ocorrem na sociedade e na própria técnica fotográfica, proporcionando novas modalidades de olhar a cidade. Assim, se a cidade do século XIX é representada na fotografia a partir de seus elementos figurativos, de maneira tradicional - especialmente na vertende 209 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais pictorialista, predominante no primeiro momento do fotoclubismo nacional -, vemos uma mudança significativa a partir dos anos 1940, em direção à abstração e à experimentação fotográfica. A cidade aparece em representações ousadas, como as de Geraldo de Barros e de José Oiticica Filho (no caso do Rio de Janeiro e de Ouro Preto), que dialogam com as artes visuais e com a história da fotografia, experimentando novas formas de representar fotograficamente a cidade. Fotografia: a possibilidade de criação de imaginários deformados César Bastos de Mattos Vieira Prof. Arq. M.S. Doutorando- UFRGS [email protected] Airton Cattani Prof. Arq. Dr. O artigo aprofunda o modelo metodológico de investigação de imagens fotográficas, proposto por Boris Kossoy, abordando a questão das lentes fotográficas e suas possibilidades de “manipulação” no registro da espacialidade. Diversas áreas do conhecimento têm nos registros fotográficos testemunhos da existência de objetos cujas dimensões e proporções são fundamentais. A máquina fotográfica surge como possibilidade da reprodução fiel, mecânica e óptica, do percebido pelo olho humano. Assim, as lentes deveriam reproduzir as mesmas proporções das percebidas pelo olho. Com a evolução dos equipamentos fotográficos experimentam-se novas possibilidades de lentes com diversas vantagens, como o uso das grandes angulares para registro de panorâmicas ou ambientes naturais grandiosos, sem haver uma tomada de consciência das distorções espaciais resultantes. O uso de lentes com diferentes distâncias focais vem acostumando o olho a deformações cada vez maiores. Acreditamos que a falta de consciência destas distorções possa estar criando imaginários deformados. Percebe-se a necessidade de uma melhor acuidade visual para desvendar o que o documento nos revela. Além de apresentar e ocultar informações há uma grande possibilidade de deformações das “realidades” registradas nestes documentos. Palavras-chave: Fotografia; Arquitetura; Imaginário A construção da visualidade urbana de Porto Alegre na revista Máscara (1918-1928): entre tradição e modernidade Charles Monteiro Doutor - Professor Adjunto do PPGH/PUCRS [email protected] 210 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais A proposta do trabalho é discutir o estatuto da fotografia em relação a outros tipos de imagens na revista ilustrada Máscara. Problematiza-se também a forma de edição dessas imagens fotográficas nessa revista ilustrada no sentido de compreender a construção de uma nova imagem de indivíduo no espaço público, as novas formas de sociabilidade e de consumo modernos na sociedade urbana brasileira. Máscara se apresenta como revistas de literatura, arte e mundanismo e tornam-se veículos do modernismo e do cosmopolitismo no contexto local, mesclando temas regionalistas à divulgação de novos autores modernistas. As revistas ilustradas respondiam a uma demanda de informação e entretenimento das camadas sociais médias urbanas nas grandes cidades brasileiras. Nelas a fotografia ganha um lugar de destaque ao lado da charge e da publicidade, fazendo parte de uma nova cultura visual em expansão e uma nova pedagogia do olhar. As revistas ilustradas buscaram um perfil editorial que fosse ao encontro dos interesses dos seus leitores-consumidores da elite política, social e econômica local. Entre outras coisas, isso significava participar dos rituais sociais de uma cultura urbana moderna, visando a escapar do anonimato. Fazer-se fotografar, consumir imagens e produtos era uma forma de distinção social em uma cidade em processo de crescimento e modernização. No Rio Grande do Sul, o campo fotográfico se organizou em paralelo ao campo da pintura. A organização formal do campo artístico local é tardia e desenvolve-se gradualmente a partir da criação da Escola de Belas Artes em 1908. Em 1910, inicia-se o primeiro curso de pintura na Escola de Belas Artes, que estava baseado nos cânones estéticos clássicos e em princípios morais. Nesse contexto, as artes gráficas nas revistas ilustradas eram uma alternativa profissional, pois os salões eram ocasionais e aceitavam amadores. Dessa forma, escritores e pintores reuniram-se em grupos e criaram revistas para divulgar seu trabalho, como no caso de Máscara (1918-1928). Nos anos 1920, essas revistas eram espaços de inovação para novas linguagens e práticas artísticas, bem como espaços de elaboração de uma nova visualidade urbana e de um imaginário social moderno. Livros ilustrados: narrativas da diversidade cultural brasileira para crianças Claudia Mendes Mestranda /PPGAV/EBA/UFRJ [email protected] No universo contemporâneo da produção cultural para crianças no Brasil, nota-se nos livros ilustrados uma singular interação com expressões regionais da tradição popular, que encontram pouca receptividade em outros produtos das culturas oficial e industrial. Especialmente no campo das narrativas visuais, destaca-se um movimento protagonizado por ilustradores brasileiros, a partir dos anos 1990, em prol do reconhecimento de uma linguagem própria e sua valorização no cenário da arte internacional. Um destes artistas é Roger Mello, cuja trajetória de vida formou-lhe o gosto pelas viagens e por contar histórias para compartilhar suas multifacetadas visões de mundo. Tendo no livro ilustrado seu mais destacado meio de expressão, encontramos em suas obras elementos característicos da diversidade cultural brasileira, presentes tanto nos temas que aborda quanto nos estilos que emprega para representá-los. 211 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Imagens no fluxo do tempo: configurações espaciais do Vale do São Francisco nas narrativas fotográficas do período desenvolvimentista Elson de Assis Rabelo Doutorando /UFPE [email protected] Este trabalho se propõe a discutir o lugar da fotografia na configuração do Vale do São Francisco entre os anos 1950 e 1970. Relacionadas ao emaranhado de práticas e discursos do desenvolvimentismo pós-Segunda Guerra, as imagens se colocam como formas de articular e elaborar a visualização dessa categoria espacial nesse período. Em torno de cidades como Juazeiro, na Bahia, e Petrolina, em Pernambuco, o também chamado Submédio São Francisco se destacou como domínio territorial estratégico por sua localização fronteiriça no Nordeste e entre outras regiões do país, e pela abundância de recursos naturais, como o próprio rio, que unia “climas e regiões diferentes”. Apesar de periférico em relação às capitais litorâneas nordestinas, esse espaço se posicionou como centro aglutinador de instituições que se tornaram ícones da expansão do desenvolvimentismo brasileiro, tais como a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF) e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF). Enquanto era delineado geopoliticamente, o espaço também o era culturalmente, de modo especial na fotografia, que privilegiava visualmente, sob diferentes enquadramentos na produção das vistas e paisagens, o chamado “rio da integração nacional” e a transformação de suas cidades ribeirinhas, sob o impacto da transição do transporte fluvial e ferroviário para a predominância nacional do transporte rodoviário, sinalizada, por exemplo, pela construção da ponte Presidente Dutra. O álbum de Berzin: entre presentes, imagens de um mesmo Recife Fabiana Bruce Silva Professora Adjunta - Departamento de História da UFRPE [email protected] A comunicação trata do desvelamento das fotografias do “Álbum do Recife e arredores” de autoria do fotógrafo Alexandre Berzin, produzidas entre 1937 e 1963. A pesquisa, em andamento, faz parte de um projeto que tem por objetivo investigar e divulgar a ação de fotógrafos (a escrita de fotógrafos) e a formação de acervos fotográficos no Recife da primeira metade do século XX: nosso espaço expositivo e reflexivo. Através das fotografias do Álbum que pertencem à Coleção Alexandre Berzin/Foto Cine Clube do Recife da Fundação Joaquim Nabuco e, igualmente, ao Museu da Cidade do Recife, está sendo possível relacionar seus arquivamentos identificando espaços discursivos de produção e destinação, além das temáticas fotografadas. Percebemos através de seu estudo, as esferas pública e privada em incoatividade, o que, supomos, pode permitir compreender igualmente como se configuram, no campo social, as diversas imagens de um mesmo Recife. 212 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais História e historiografia: as abordagens do governo e da morte de d. Afonso Furtado Guilherme Amorim Carvalho Mestrando em História - UnB. [email protected] A presente comunicação tem por objetivo dar a conhecer o andamento de um estudo que analisa o documento histórico, “As Excelências do Governador - O panegírico fúnebre a d. Afonso Furtado, de Juan Lopes Sierra (Bahia,1676)”, sob a ótica da teoria da sociedade corporativa. Trata-se da construção da imagem ideal de governante a partir da exaltação da figura de d. Afonso, e a criação de um exemplo de virtude e moral que é produto da cultura política do império português e ao mesmo tempo viria a servir como diretriz para a população do Brasil colônia, conformando as estruturas tradicionais do poder. Pretende-se também fazer uma análise historiográfica sobre o tema, para sublinhar as diferentes formas como a história tem se referido e interpretado o governo e a memória desse governador. Imagem digital e outros sentidos: novas formas de interação com a imagem Joana Francisca Pires Rodrigues Mestranda em Comunicação – UFPE [email protected] O formato digital modifica as imagens e nos faz modificar nosso relacionamento com o visual. A partir da análise do impacto da revolução digital na produção contemporânea de imagens, promovida por Fred Ritchin no livro After Photography (2009), proponho uma discussão de como nossos modos de ver têm sofrido as conseqüências da transposição da nossa cultura ao formato numérico. Novas formas de interação com a imagem surgem a partir do momento em que o contato com elas passa a também ser mediado pelo computador. A análise das características desse novo contexto nos possibilita estabelecer novos relacionamentos com a tecnologia. Palavras-chave: imagem digital; hiperfotografia; Fred Ritchin A ordem antes do progresso: o discurso médico – higienista e a educação dos corpos no Brasil do início do século xx Leonardo Querino Barboza Freire [email protected] 213 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais A regulamentação dos serviços de saúde pública no Brasil, a partir da criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) em 1919, durante o governo do paraibano Epitácio Pessoa, revela um novo interesse do Estado em ampliar e sistematizar estes serviços. Com especial interesse para as questões de salubridade e higiene pública, conforme os preceitos do discurso médico – higienista de então, nosso já “adolescente” Estado Republicano junto com suas elites intelectuais e econômico – sociais, elegeu a doença e a sujeira como alguns dos elementos que impediriam a modernização e o progresso de uma nação que se pretendia civilizada. Neste artigo discutimos como o discurso do poder se apropriou da educação com o fim de viabilizar este projeto de nação moderna e higienizada, a partir da discplinarização dos sujeitos, do controle dos seus corpos e da normatização dos cidadãos que assim poderiam compor os quadros de uma sociedade que se queria moderna. Para esta discussão, dialogamos com estudiosos que problematizam a historiografia da saúde, da doença e da higienização, como Revel e Peter (1995) e com autores vinculados aos estudos em história da educação, como Rocha (2002), apropriando-nos, ainda, de alguns conceitos ofertados por Foucault (2001). Palavras – chave: Brasil; Modernização; higienização; educação; disciplina. Porto Alegre vista do Guaíba: foto[grafias] de uma paisagem em três tempos. Letícia Castilhos Coelho Arquiteta e Urbanista - Mestranda no PROPUR/ UFRGS. [email protected] A paisagem possibilita um olhar para a cidade que integra diversos aspectos da relação homem-natureza, e, ao expressar diferentes momentos da ação de uma cultura sobre o espaço é também uma acumulação de tempos. Enquanto fenômeno visível, a paisagem expressa as trajetórias de uma sociedade, sendo portadora de significados e adquirindo uma dimensão simbólica passível de leituras espaço-temporais. Este trabalho surge da necessidade de compreender a cidade em relação às suas dinâmicas de (trans)formação, buscando desvelar o “agora” das múltiplas camadas superpostas na paisagem, a partir de uma perspectiva histórica. Para a aplicação do método de análise utilizamse, como objeto de estudo, as vistas da cidade de Porto Alegre a partir do Lago Guaíba obtidas em fotografias de três diferentes períodos, considerados emblemáticos em relação às transformações urbanas. Acredita-se que essas vistas veiculem um “padrão temático-visual”, dando a ver e a ler as características estruturais, formais, funcionais e simbólicas da paisagem. Palavras-chave: Paisagem, Cidade, Fotografia. O Vale do Paraíba Fluminense através das lentes dos fotógrafos oitocentistas Mariana de Aguiar Ferreira Muaze Professora e coordenadora - História UNIRIO. 214 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] Durante o Oitocentos, a região do Vale do Paraíba fluminense gozou de predominância política e econômica alavancada pela ascensão do café no mercado internacional. Neste período, muitas de suas cidades, lugarejos e fazendas foram registrados pelas lentes de fotógrafos renomados tais como - Marc Ferrez, Christiano Jr, Victor Frond - além de outros com circulação restrita, a exemplo de Manoel de Paula Ramos, e vários profissionais anônimos. O que a fotografia e os estudos da cultura visual trazem de contribuição para as análises sobre o rural e o urbano no Vale do Paraíba fluminense do século XIX? O que elas revelam sobre a forma como a sociedade oitocentista percebia sobre estes espaços e a própria região do Vale? Que diálogos podem ser estabelecidos entre os registros visuais e escritos? Estas são provocações que buscaremos responder ao longo desta comunicação. Fotografia e memória nas fazendas históricas paulistas Marli Marcondes Doutoranda em Multimeios – IA/UNICAMP. [email protected] A documentação fotográfica pertencente às fazendas históricas do Estado de São Paulo constitui-se numa das tipologias documentais abordadas no projeto denominado “Patrimônio Cultural Rural Paulista: espaço privilegiado para pesquisa, educação e turismo”, o qual integra o Programa de Pesquisa em Políticas Públicas da FAPESP. Desenvolvido pela UNICAMP, USP, UNESP, Universidade Federal de São Carlos e Associação das Fazendas Históricas Paulistas, o projeto tem por objetivo definir metodologias para inventariar o patrimônio rural e propor tecnologias de preservação e salvaguarda. Tendo em vista a ampla prospecção efetuada nos distintos acervos fotográficos das fazendas, surgiu a necessidade de uma análise para compreender como a fotografia estabelece uma narrativa sobre o viver e o morrer na sociedade rural paulista durante a segunda metade do século XIX e início do XX. Imaginário provincial e imaginário global: proposições analíticas para o ensaio fotográfico Fin de Zona Urban de Carlos Bittar. Patrícia Câmera Doutoranda /PPGH/PUCRS Bolsista CNPq [email protected] Este artigo aborda a visualidade do território denominado Três Fronteiras (Brasil, Argentina e Paraguai). O objeto de estudo são as fotografias que compõem o catálogo fotográfico Fin de Zona Urban, desenvolvido pelo fotógrafo paraguaio Carlos Bittar entre 1995-2003. O ob- 215 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais jetivo é analisar a representação espacial e suas relações com sujeito no mundo globalizado. O estudo parte para o levantamento de signos visuais que mostram a região como lócus do comércio ilegal e formal. Propõe-se discutir essa fronteira apontando algumas questões sobre imaginários provinciais e imaginários globais. Palavras-chave: Três Fronteiras; fotografia; local e global A Cultura Visual na Amazônia brasileira: uma análise comparativa entre os fotodocumentários dos séculos XIX e XX Rafael Castanheira Pedroso de Moraes Mestrando Cultura Visual FAV/UFG. [email protected] Este trabalho é parte de uma pesquisa que discute o estatuto da fotografia documental contemporânea a partir de uma série de fotografias produzidas por mim entre 2006 e 2009 sobre o manejo de pirarucu (Arapaima gigas) desenvolvido pela Colônia de Pescadores Z-32 de Maraã, no Amazonas. Enquanto os fotógrafos pioneiros que atuavam na região norte do Brasil em meados do século XIX encontravam-se voltados aos registros de aspectos naturais e antropológicos explorando a representação da paisagem e seus tipos exóticos, uma nova geração tem investigado tais aspectos com características particulares, ampliando possibilidades tanto de produção quanto de uso de imagens. Dessa forma, serão apontados importantes momentos da fotografia documental na região amazônica nos séculos XIX e XX. Posteriormente, irei narrar minha experiência de documentação junto aos pescadores de Maraã e apresentar algumas fotografias deste trabalho para colocá-las em diálogo com as imagens de outros fotodocumentaristas que atuaram na região. Palavras-chave: Fotografia documental, Amazônia, Pirarucu A trajetória de uma “paisagem natural” brasileira: o caso da vitória-régia Rafael Dall’olio Mestrando História Social-USP/ Bolsista FAPESP [email protected] Este trabalho pretende demonstrar a trajetória visual da planta vitória-régia destacando o processo de transformação em uma das imagens-ícones da “paisagem natural” brasileira. Buscaremos demonstrar como esta planta de origem amazônica, descoberta no século XIX na Guiana Inglesa, embora não tenha a atenção dos viajantes estrangeiros que reproduziram iconograficamente as paisagens brasileiras do período, terá outro tratamento no século seguinte. Somente no início do século XX a vitória-régia ganhou espaço como fonte para 216 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais as artes decorativas, juntamente com outros exemplares da flora brasileira pelo pintor Theodoro Braga por meio de suas obras. É transformada em imagem-ícone da “paisagem natural” brasileira por Mário de Andrade na fotografia “Lagoa do Amanium”, resultado de sua expedição ao norte e nordeste do Brasil na década de 1920. Ao longo da primeira metade do século XX observamos uma recorrência de imagens da vitória-régia no imaginário brasileiro, sempre associada à idéia de natureza e identidade brasileiras. Buscaremos apresentar a trajetória das representações visuais em torno desta planta, num momento de redefinição da identidade nacional promovida pelo movimento modernista. Palavras-chave: paisagem, imaginário, imagem-ícone. 217 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 23 Suportes contemporâneos do escrever, do ler Verdade narrativa, ou, Peixe grande e a história André Pereira Leme Lopes Professor Núcleo de Estudos Clássicos/CEAM Departamento de História- UnB [email protected] Durante milênios, as narrativas foram pensadas como representações (mímesis) do mundo. Nesta comunicação, tento discutir a narrativa, não como reflexo, representação ou imitação de uma realidade pré-existente, mas sim como definidora e criadora de realidades próprias. Para tanto, partirei do romance Big fish: a novel of mythic proportions (1998), do americano Daniel Wallace (1959-). Um novo olhar sobre a Roma Antiga: a utilização do filme Júlio César nas aulas de História. Augusto Neves da Silva UFPE [email protected] Vivemos no mundo da tecnologia, da imagem e do multiculturalismo, temáticas que podem ser problematizadas nas aulas de História. Neste sentido, nós, enquanto educadores, devemos pensar a história como um conhecimento que está em constante movimento que deve ser compreendido e pensado na sala de aula. Nossa proposta parte do pressuposto que ficcionando, poetizando e lucubrando o ensino de História faríamos esses novos sujeitos – os alunos – olharem de forma crítica os homens no continuum tempo. Partindo dessas premissas, iniciamos nosso trabalho na tentativa de contribuir para a construção de mais uma ferramenta que poderá auxiliar os professores da área de História. Fizemos uma reflexão teórico-metodológica, no sentido de (re)pensar o ensino de História, especificamente da Roma antiga, com a utilização do filme Júlio César, produzido no ano de 1953 e dirigido pelo famoso diretor Joseph L. Manckienwicz. Pensamos que, a utilização dessas representações do passado, podem contribuir para uma (re)leitura do espaço e tempo histórico, dialogando tanto com as ideologias/vontades que circundam sua produção, como também, os conceitos históricos ali encenados. A intenção de nosso trabalho é mostrar que a construção do conhecimento histórico se dá de forma recíproca entre professor e aluno, passado e presente, objeto e sujeito. Neste sentido nossa proposta metodológica dialoga com espaços virtuais, com a cultura midiática e o conhecimento histórico escolar. 218 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Histórias em quadrinhos: possibilidades e produção de conhecimentos e saberes no ensino de História Cláudia Sales Alcântara Doutoranda em Educação Brasileira/UFC. [email protected] Atualmente as histórias em quadrinhos são mais aceitas como produção artística e cultural por parcelas cada vez maiores da sociedade. Esse trabalho as trata como uma ferramenta educacional muito eficaz, possuindo a capacidade, através do seu currículo cultural, de divertir, transmitir uma forma de ser, sentir, viver e se comportar no mundo, podendo ser utilizadas de maneira interdisciplinar nos diversos conteúdos escolares, inclusive no ensino de história. Como referencial teórico será utilizada a idéia de cultura defendida pelos Estudos Culturais britânicos, da Universidade de Birmingham, que se preocuparam com produtos da cultura popular e dos mass media que expressam os sentidos que vêm adquirindo a cultura contemporânea. Para tal trabalho ser realizado foi realizado uma pesquisa bibliográfica, onde todo material recolhido – livros, periódicos, documentos, artigos, revistas, etc – foram lidos de maneira atenta e sistemática, fichados, analisados e interpretados, a fim de estabelecer uma fundamentação teórica do conteúdo apresentado. Palavras-chave: histórias em quadrinhos, história, ensino. A variação documental na escrita da história Giselda Brito Silva Professora Adjunta em História /UFRPE. [email protected] Nossa participação no evento tem como meta discutir aspectos da prática de pesquisa histórica sob a variação documental, especialmente quando o tema envolve práticas da política cultural, relacionando política com religião, como o movimento integralista. Entre História e ficção: autobiografia como gênero híbrido Isabel Cristina Fernandes Auler PUCRJ [email protected] Minha proposta consiste em analisar os depoimentos e autobiografia de Lacerda a partir das considerações supracitadas referentes à mímesis. Pretendo concebê-las como uma mímesis de representação, na qual o sujeito possuidor de uma intenção à composição de seu mímema, – que não se confunde com a pulsão originária, uma vez que, por estar inserido no mundo, as 219 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais diversas representações nele contidas influenciam tal proposta – não transgride o horizonte de expectativas de sua composição, no entanto, por meio deste não se é capaz de dominá-la. A partir da tese de Costa Lima, na qual autobiografia é um gênero literário híbrido, entre a história e a ficção, analisarei a obra autobiográfica de Carlos Lacerda, Rosas e pedras de meu caminho. Pretendo demonstrar que a autobiografia supracitada, mesmo a manter seu caráter híbrido, está mais próxima do campo ficcional. A autobiografia de um personagem político é orientada por seu projeto para o futuro e, portanto, mesmo que mantenha a preocupação com a referencialidade, consiste na construção de uma identidade narrativa retórica, a qual concretize o seu plano de ação para o futuro. Palavras chave: Autobiografia – História – Ficção Escrever a História através das imagens; filmes e narrativas em perspectiva historiográfica João Pinto Furtado Professor Associado do departamento de História /UFMG [email protected] O atual estágio de desenvolvimento dos estudos e discussões histórico-historiográficas parece estar evidenciando cada vez mais a fluidez dos limites e fronteiras que até então conformavam a disciplina. Se há cem anos seria praticamente inviável afirmar o estatuto de verdade das narrativas orais, mesmo que colhidas e registradas através das mais rigorosas metodologias cientificas, hoje a questão decididamente merece outro tratamento, menos radical com certeza. Segundo nosso entendimento, um movimento parecido tem ocorrido com as assim chamadas narrativas cinematográficas produzidas em torno de eventos históricos. Tomando como referência os filmes “O resgate do Soldado Ryan” (“Saving Private Ryan”, Steven Spielberg, 1998) e “Cidadão Kane” (“Citzen Kane”, Orson Welles, 1939), procuraremos analisar como a rigorosa seleção de suportes visuais quanto ao primeiro filme, no caso a fotografia documental de Robert Capa, associada á construção de um vigoroso “set piece”, pode construir uma narrativa historiográfica de intensidade tal que, provavelmente, poucos textos escritos conseguirão igualar. No caso do segundo, em perspectiva comparada, pretendemos abordar a questão da memória revisitada em três seqüências-chave para a compreensão do filme e sua inserção na sua própria historicidade.. Pensando o ofício do historiador no ambiente escolar: práticas pedagógicas e a incorporação do xadrez nas aulas de Idade Média. José Luís de Oliveira e Silva. Doutorando em História/UFG. [email protected] 220 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais O presente artigo é fruto de uma reflexão acerca do meu ofício como profissional da história em salas de aulas do ensino básico e superior, em especial dos trabalhos relacionados com os eixos temáticos que atravessam a história medieval. Para tanto, tomo minha prática pedagógica em sua utilização do jogo de xadrez como suporte para pensar as tensões que marcaram as relações sócio-culturais do ocidente medieval. Assim, problematizo minha escrita sob três questões: frente às novas mídias, em especial dos novíssimos games, o que esse jogo secular pode ainda nos ensinar e, sobretudo, auxiliar nas práticas educativas? Como pensar o xadrez sob as categorias de monumento e documento tão caras ao ofício de historiador? Em que medida o universo lúdico do xadrez pode nos servir à compreensão das subjetividades envolvidas no momento de sua introdução e adaptação para a cultura ocidental? Palavras-chave: Ensino de História, Idade Média, Xadrez. História oral: as (in)verdades narradas pelas trabalhadoras safristas sobre o passado do setor de conservas de frutas e da cidade de Pelotas/RS Laura Senna Ferreira Doutoranda/UFRJ [email protected] Klarissa Almeida Silva Doutoranda /UFRJ [email protected] A história oral busca a versão que os sujeitos possuem sobre os eventos sociais. Por mais (in)verdades que narrem, a linguagem e a imaginação não escapam ao tempo e lugar. Compreende-se que as narrativas orais são memórias seletivas que passam pelo recorte das subjetividades e envolvem um rol de (in)verdades/ficções que permitem o acesso às representações que expressam valores do narrador e/ou dos protagonistas daquelas vivências. Não está em questão se é realidade ou ficção o que narram os sujeitos, mas as verdades presentes nos “mundos de mentiras” narrados. Partindo dessa discussão, investiga-se a importância da história oral para se conhecer sobre a memória que os atores formulam sobre o objeto investigado. No caso específico deste artigo, busca-se compreender o passado do setor de conservas de frutas de Pelotas/RS a partir da visão das trabalhadoras safristas. A pesquisa mostrou que este é narrado como um tempo de fartura, quando não havia desemprego e, pela manhã, a “cidade era branca”, uma referência aos uniformizados que seguiam em direção às fábricas. Não se pretende questionar a credibilidade desses discursos, mas entender que por mais irreal que possam ser esses relatos, encontram-se em intertextualidade com o concreto. Palavras-chave: história oral, trabalho, Pelotas/RS 221 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Civilizar-se, harmonizar-se: quesitos de polidez e urbanidade Maria Cecilia Barreto Amorim Pilla Professora Adjunta/PUCPR [email protected] A presente pesquisa pretende refletir sobre algumas normas contidas nos manuais de civilidade no que concerne ao viver no Brasil do início do século XX. Frente à implementação de reformas urbanas empreendidas nas principais capitais do país, experimenta-se o sonho de construir uma “Europa possível”. Entre tantos melhoramentos era necessário também, no encalço da civilização, extirpar um passado de “barbárie”. Tais ideais tentavam acompanhar o pensamento reformista que já inspirava as grandes metrópoles ao longo do século XIX. Esse cenário urbano em construção tem elementos que balizam e instruem a população, leis que regulam o viver citadino, regras que ditam o bem-viver. É preciso saber como se comportar. Esse é o cenário em que circulavam os manuais de conduta, veículos orientadores de uma estética comportamental que serviriam como parâmetro aos distintos habitantes das cidades. Palavras-chave: civilizar-se; urbanidade; manuais de civilidade Práticas distintas do crer e do fazer nos sertões amazônicos Maria do Socorro de Sousa Araújo Unemat/Fapemat/Unicamp [email protected] Esta Comunicação é parte de um projeto de pesquisa que investiga os festejos comemorativos de um conflito pela posse da terra entre posseiros e funcionários da Companhia de Desenvolvimento do Araguaia – Codeara – ocorrido em Santa Terezinha, na região do Araguaia/MT, em 1972. Na configuração dos enfrentamentos, destaca-se a figura do padre francês François Jentel, da Prelazia de São Félix, cujas atitudes atingem dimensões que misturam “vocação” religiosa com ação política. A significação de seus atos lhe credita a condição de protetor do povo e do lugar e, assim, se pode pensar os atos comemorativos como representações de um passado celebrado, presentificado. Analisar essas práticas sociais e culturais possibilita conhecer códigos de convivência com os quais os grupos humanos articulam suas alianças operando seus propósitos, por isso os eventos festivo-comemorativos expõem comportamentos sociais que precisam ser compreendidos, interpretados, decifrados. Modos de ver e viver: referências históricas e ambigüidades de gênero no figurino da popstar Madonna no show The Confessions Tour. 222 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Mariana Christina de Faria Tavares Rodrigues Centro Universitário Una [email protected] Além de ser considerada uma artista irreverente e ousada Madonna é também aclamada pelo rigor profissional com que realiza suas produções, sejam gravações inéditas ou os seus subprodutos como vídeo-clips, turnês de shows tecnologicamente elaborados e os posteriores DVD’s. Produto das décadas finais do século XX, Madonna, ao elaborar suas apresentações utiliza-se de um mix de referências da história social que podem ser analisadas através dos figurinos que apresenta em cena. Na constituição desta roupagem de palco a artista elabora conexões com representações de gênero e identidade, muitas vezes subvertendo estereótipos e recriando formas de ver e apreender, construindo e fortalecendo um significado cambiante entre o masculino e o feminino. Este trabalho se propõe a analisar, tendo como foco de estudo o figurino da turnê The Confessions Tour de 2006, as relações ambíguas de gênero no contexto contemporâneo construídas sobre referências históricas e exploradas pela artista e seu corpo de dançarinos em seus figurinos. Madonna oferece ao espectador de seus shows, ao vivo ou em suporte eletrônico – o que facilita a percepção de detalhes – informações articuladas de forma nem sempre óbvias, mas onipresentes, e estas, ao trafegar paralelamente aos artefatos cênicos e às letras de suas canções, vão constituindo e se constituem em novas maneiras de ver e viver os códigos da sociedade moderna. Sociabilidade, auxílio mútuo e cultura associativa na capital do império (1860-1882) Mateus Fernandes de Oliveira Almeida Doutorando em História Social/PUCSP [email protected] Pesquisa sobre o associativismo na capital do Império entre os anos de 1860 e 1882. Período em que esteve em vigor uma lei sancionada pelo governo imperial que obrigava a todas as associações submeterem seus estatutos à apreciação da Seção de Negócios do Conselho de Estado. Destarte, torna-se possível investigar as relações existentes entre o poder público e a sociedade civil carioca a partir de entidades representativas, neste caso sociedades de auxílio mútuo e beneficentes. No âmbito dos fenômenos ligados à prática associativa, as manifestações de reciprocidade, equidade, lealdade, solidariedade e cooperação se constituem em elementos indissociáveis à cultura associativa, subjacente aos espaços de sociabilidade aqui abordados: as sociedades beneficentes e de socorros mútuos. Palavras-chaves: auxílio mútuo, cultura associativa, Brasil Império. A literatura dos membros da Academia Pernambucana de Letras: práticas, representações e apropriações da cultura 223 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais escrita no Recife (1901-1910) Rômulo José F. de Oliveira Júnior Professor/FAL. [email protected] Buscando suporte em alguns debates teóricos da História Cultural, este trabalho tem por objetivo analisar as várias representações da literatura produzida pelos primeiros integrantes da Academia Pernambucana de Letras (APL) entre os anos de 1901 a 1910. Tal análise demonstra uma aproximação das fronteiras entre a História e a Literatura e nos conduz a perceber como essa produção estava envolvida em práticas sociais e era carregada de apropriações e da propagação dos gêneros literários como: biografias, poemas, versos, romances, etc. O Recife no início do século XX viveu significativas mudanças que interferiram na produção literária dos escritores, principalmente mudanças urbanísticas e sociais. Situamo-nos entre 1901 e 1910, pois na primeira data é criada a Academia Pernambucana de Letras e a produção literária se intensifica e ganha mais prestígio social e findamos a análise no ano de 1910, pois as disputas políticas que se acirram no Recife dividem as opiniões dos literatos da APL, além do que a morte de 8 membros da APL faz essa produção declinar. Esperamos com essa pesquisa apresentar um singelo panorama da cultura escrita produzida pelos membros da Academia Pernambucana de Letras e apresentar como é possível analisar a tessitura das relações entre literatura e sociedade. Palavras-chave: Academia Pernambucana de Letras, literatura e cultura escrita. A mulher na Literatura Libertina: um diálogo entre Marquês de Sade e Restif de la Bretonne Stefani Arrais Nogueira Mestrando em História/UFPR [email protected] O tema central desse trabalho é a análise dos pensamentos de dois autores libertinos, Marquês de Sade e Restif de La Bretonne, sobre o problema da figura da mulher e suas características de feminilidade. Sade e Restif foram contemporâneos do Século XVIII e vivenciaram o Iluminismo, movimento que influenciou profundamente suas obras. As fontes utilizadas nessa pesquisa englobam obras clássicas do Marquês de Sade (Philosophie dans le boudoir e Histoire de Juliette), e de Restif de la Bretonne (Le Pornographe e Les Gynographes). No século das Luzes, os filósofos refletiram muito sobre o papel da mulher na sociedade e sobre a sua relação com a natureza. As noções de feminilidade oriundas do pensamento ilustrado foram absorvidas nas obras pornográficas de ambos, porém de formas distintas. Restif dotou a figura da mulher de valores e papéis caros a ilustrados como Rousseau (ex.: mãe e esposa). Sade, por outro lado, abominou e subverteu em suas escritos todos esses papéis e valores. Palavras-chave: Literatura Libertina; Iluminismo; mulher 224 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais A modernidade no LP Gilberto Gil 1969 Suelen Maria Marques Dias Mestranda em História/UFMG [email protected] Através da análise das canções do Lp Gilberto Gil 1969, buscaremos penetrar na atmosfera do período verificando a concepção do autor a respeito das idéias de progresso e modernidade tão freqüentes nesse momento de Guerra Fria. Procuraremos ainda estabelecer uma relação entre tais idéias e o programa proposto pelo movimento Tropicalista. O Brasil nas telas e nos campos: cinema, futebol e a questão da identidade nacional brasileira Walderez Costa Ramalho UFMG [email protected] Suzana Cristina de Souza Ferreira Professora Doutora/FAFICH-UFMG [email protected] Este artigo tem por objetivo analisar como os filmes brasileiros sobre futebol contribuíram para que o esporte suscitasse e suscite ainda hoje o debate em torno da sua possibilidade constituídora de um fator de identidade nacional. Levantaremos alguns aspectos interessantes que irão auxiliar em nosso estudo: os instrumentos teórico-conceituais; o processo de disseminação do futebol pelo território nacional; e por fim uma análise do filme – mas sobretudo da recepção da crítica “especializada” –, de Garrincha, alegria do povo (Joaquim Pedro de Andrade, 1962). Para reafirmar o nosso argumento, faremos também uma leitura da recepção, também pela crítica, de um outro filme: O Rei Pelé (Carlos Hugo Christensen, 1963), em contraposição à Garrincha. Palavras chaves: cinema, futebol, identidade nacional Fogo na Babilônia: ganja, reggae e rastas em Salvador Wagner Coutinho Alves Secretário Geral da Associação Brasileira de Estudos Sociais do Uso de Psicoativos - ABESUP [email protected] Na década de 1960, após o sucesso de Bob Marley e da banda The Wailers, os rastafáris ficaram mundialmente conhecidos. Suas canções, baseadas na crença Rastafári, são protestos contra 225 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais a desigualdade social e o sofrimento do povo devido às seqüelas de um passado escravista e do sistema capitalista. A Cannabis sativa, conhecida entre os rastafáris pela alcunha de ganja, é considerada sagrada, tida como erva da sabedoria e é um dos principais elementos do Rastafarianismo. Paralelamente ao sucesso do Reggae, difundiu-se no Brasil um estilo de indumentária e uso de cabelos conhecido como rasta, que adquiriu fortes conotações identitárias, independentes de filiação religiosa ou situação social do indivíduo. O que a priori era uma expressão das tendências pan-africanistas do início do século XX, restrita à população negra, difundiu-se. O Reggae divulgou pelo mundo a cultura rastafári e a estética rasta. Contudo, não foram estes os únicos elementos disseminados, já que vieram acompanhados pelos estigmas que já sofriam por razões sociais, aliados às já existentes restrições ao uso de canabis. As resignificações decorrentes das especificidades do contexto social brasileiro impuseram novas configurações na produção musical, na religião, na maneira de gerenciar a vida cotidiana e fazer frente a estigmas. Esta apresentação problematizará as relações entre estigmas, religiosidade, reggae, rastas e ganja em Salvador, BA. Palavras chave: cannabis, reggae e rastafarianismo. 226 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 24 Memória e sensibilidades Memórias identitárias e sensibilidades etnográficas: um estudo de caso. Ádria Borges Figueira Cerqueira UFG [email protected] Com ênfase no processo histórico de surgimento de povos indígenas no cenário nacional e de afirmação de uma pluralidade de identidades em um contexto global nas últimas décadas. A presente comunicação objetiva investigar como os Tapuios do Carretão (um dos três povos indígenas do Estado de Goiás) articulam sua visão de mundo e suas experiências. Assim, concebemos como lócus de pesquisa a história do povo indígena Tapuios do Carretão que vivenciou uma situação traumática de negação de sua identidade e de direitos antes adquiridos. As discussões aqui apontadas fazem parte de um conjunto maior de considerações a respeito da maneira usada pelos Tapuios do Carretão para compor sua trajetória histórica. Tais discussões trazem algumas reflexões sobre a relação entre memória e identidade na construção da história do povo indígena Tapuio do Carretão em Goiás, dando ênfase à produção de narrativas orais. As narrativas orais tiveram grande peso ao longo do processo de reconhecimento étnico do povo indígena Tapuio do Carretão. Foi por meio delas que os Tapuios reavaliaram a sua identidade no momento de crise. Por meio delas é possível rastrear as trajetórias inconscientes da memória – esquecimentos, representações, imaginários – e, por meio desses fatores, compreender os diversos significados que os indivíduos desse povo conferem às suas experiências no tempo e no espaço. Palavras Chave: Memória, Narrativas orais e identidade étnica. Escrever e sentir, as sensibilidades da prática de escrita de cartas Adriana Angelita da Conceição Doutoranda em História Social – FFLCH – USP (FAPESP) [email protected] “Escribir y sentir son uno y lo mismo…” escreveu Lope de Vega, e assim, podemos compreender o ato de escrever, como um ato plural, pois aquele que escreve sente. Especialmente, quando estamos a tratar da prática de escrita de cartas, na qual cada palavra brota de um sentimento; e escrever e sentir se fundem em sensibilidades humanas que se expressam através da materialidade da palavra que penetra o papel e ali permanece. Eis a proposta desta comunicação, apresentar algumas discussões que permeiam a prática de escrita de cartas, evidenciando intenções de memória e sensibilidade. Portanto, através de diferentes exemplos de cartas, literárias ou que pertenceram ao passado colonial luso-brasileiro setecentista, discutiremos a carta e suas problemáticas para o estudo da História. Analisar sensibilidades e intenções de memória no Brasil colonial, não é algo comum, mas necessário, pois mesmo diante de espa- 227 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ços indefinidos na complexidade de serem públicos ou privados, os Homens não deixaram de sentir e escrever, mesmo que esse sentir estivesse envolvido pela pragmática. Contudo, essa comunicação almeja expor algumas considerações em torno da prática epistolar e suas sensibilidades. Palavras-chave: Cartas – Sensibilidades – História Colonial Lendo e relendo a cidade: a “escrita de si” e o estudo da história da cidade de Boa Vista/RR na década de 1950 Carla Monteiro de Souza Professora Doutora/ UFRR [email protected] Esse trabalho enfoca a obra 1953, Ah! Anos de minha juventude, de Laucides Oliveira (2007), uma das fontes utilizadas no projeto Memória e História de Boa Vista na década de 1950 (CNPq), que estuda as mudanças ocorridas em Boa Vista com a sua elevação a capital do Território Federal do Rio Branco, em 1943, quando se inicia um período de reestruração do espaço urbano e de rearranjos nas relações sociais, culturais e políticas. A obra, situada no campo da “escrita de si”, apresenta uma espécie de mix narrativo, pois mescla autobiografia, crônica e descrições, mas acima de tudo narra a relação afetiva, de pertencimento e de inserção total do autor ao lugar. Levando em conta que através do registro das lembranças e das vivências é possível acessar imagens, representações, fatos e discursos, o livro é uma contribuição para a abordagem da identidade da cidade de Boa Vista e para a individualização da sua história. O seu potencial como fonte liga-se à configuração de uma “carga de significados” sobre a cidade narrada, aquela vivida, sentida e sonhada, situada em outro tempo, mas cuja memória repercute nos dias de hoje. Palavras-chave: cidade, escrita de si, memória Tancredo Neves: entre rupturas e continuidades, a construção do mito político no ensino de história Cássia R. Louro Palha Professora Adjunta História /UFSJ. Daniel Lopes Saraiva Graduando em História / UFSJ e Bolsistas CAPES/ PIBID Denis Andrade Almeida 228 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Graduando em História/UFSJ e Bolsistas CAPES/ PIBID Raína de Castro Ferreira Graduando em História/UFSJ e Bolsistas CAPES/ PIBID Tiago Saraiva de Sabóia Graduando em História /UFSJ e Bolsistas CAPES/ PIBID Este artigo tem por objetivo apresentar o trabalho realizado com alunos de uma escola pública na cidade mineira de São João del Rei. O foco principal é compreender os parâmetros através dos quais foi construída simbolicamente a imagem de Tancredo Neves, tido como herói nacional e de grande importância na cultura e no imaginário local. No ano em que as escolas e os espaços de memória da cidade e região comemoram o centenário do nascimento e os vinte e cinco anos da morte do político, o nosso objetivo é o da análise dos referenciais simbólicos em torno dos saberes locais e do processo de ressignificação do mundo políticocultural a partir da imagem política de Tancredo Neves, tendo como foco a construção das narrativas dos alunos e de suas concepções de história. Palavras-chave: Ensino de história - Imagens políticas - Saberes locais. “E nunca mais se ouviu o apito do trem naquele lugar...” - memórias de trabalhadores sobre a estrada de ferro de nazaré: 1960-1985. Cristiane Puridade de Melo Pós-Graduanda Latu Sensu em EAD/UNEB [email protected] Ao ser inaugurada em 1875, a Estrada de Ferro de Nazaré (EFN) trouxe os “ares” da modernidade e do progresso e foi vista durante muito tempo como propulsora do desenvolvimento para a região, onde as cidades começaram a crescer às suas margens. Ao ser desativada, no início da década de 70 do século passado, por ter sido considerada improdutiva, a EFN ganha um lugar de destaque no imaginário da população local. Na memória construída pelos moradores há uma ressignificação do prestígio da EFN para o município. No contexto histórico local as pessoas frequentemente associam o fracasso econômico da região ao término da ferrovia. Este trabalho, portanto, com o auxilio de fontes orais, se propõe a estudar a construção do imaginário político, social e econômico em Nazaré durante o período de decadência e após sua extinção. Palavras Chaves: Memória, Ferrovia e Fontes Orais. História oral e memória Daiane Dantas Martins [email protected] 229 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Carmélia Silva Miranda Professora Adjunta- Universidade do Estado da Bahia [email protected] Neste trabalho propomos apresentar aspectos da História Oral e suas relações com a memória. Visamos discutir algumas questões de ordem teórica e metodológica concernentes à utilização da Histórica Oral como fonte, em estudos realizados por nós acerca de comunidades localizadas no interior do Estado da Bahia. Nestas pesquisas analisamos experiências de sujeitos históricos, que vieram à tona através do despertar da memória. Assim, conseguimos recuperar vestígios experienciados que mostraram os costumes, manifestações culturais, vivências cotidianas, relações de trabalho e compadrio, religiosidade, crenças e solidariedade, em diferentes comunidades localizadas no interior da Bahia. Palavras-chave: História Oral; Memória; Vivências cotidianas. Memória e sensibilidade da mulher negra professora na cidade de palmas – to. Edineuza da Silva Brandão [email protected] Jocyleia Santana dos Santos Orientadora /UFT. [email protected] A pesquisa investigou a mulher negra/ professora e sua trajetória na educação básica como trabalho de conclusão do curso de Pedagogia. Referiu-se ao papel das mulheres negras professoras e dificuldades enfrentadas por estas no ensino fundamental nas escolas públicas da cidade de palmas. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo uma vez que não se encontrou publicações sobre a mulher professora negra no contexto regional. A relevância científica se deu quanto a escolha da temática, do universo da pesquisa e da viabilidade de execução no prazo estabelecido. A metodologia de história oral foi significativa pela possibilidade de construção de acervos e fontes de pesquisa sobre a sensibilidade e cultura destas mulheres e conseqüentemente sobre o sistema de ensino de Palmas. Nas considerações finais destacamos que as professoras mesmo se auto-declarando negras, não perceberam a dimensão do seu papel social, diante das reivindicações de direitos igualitários e para o desenvolvimento de um trabalho diferenciado junto à diversidade presente na sala de aula. Palavras- chave: Mulher negra, profissão docente, Palmas, Tocantins. A cidade de Teresina não poderia ganharpresente melhor no seu aniversário de centenário Eliane Rodrigues de Morais 230 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Mestranda em História do Brasil – UFPI [email protected] Francisco Alcides do Nascimento Professor História do Brasil - UFPI - Produtivista do CNPq. [email protected] No ano de 1952, na cidade de Teresina, foi comemorado o seu centenário de fundação. Esse momento provocou, nos intelectuais piauienses, um desejo de homenagear a cidade aniversariante através do esforço da arte narrá-la. O poeta H. Dobal presenteou sua cidade natal, em gênero de crônica, através da escrita de um “Roteiro Sentimental e Pitoresco de Teresina”. Nele, Dobal expressa sua sensibilidade atentando para o que acredita que merece ser conservado ou reconstituído na sua paisagem física e social, a partir da rememoração de suas lembranças. Nesta comunicação trataremos dos modos de percorrer uma cidade que estava completando um século de fundação, numa época em que estava passando por modificações para as comemorações da efeméride, com o objetivo de analisar as representações construídas sobre Teresina no “Roteiro Sentimental” de H. Dobal. Palavras-chave: Centenário, Roteiro, Teresina. A FOLIA NO ALTAR: as práticas cotidianas da Festa de Nossa Senhora das Dores em Teresina [Piauí] na segunda metade do século XX Francisca Márcia Costa de Souza Mestranda – PPGHIS – UFPI - CNPq/CAPES/MinC/Programa Pró-Cultura. [email protected]. A Festa de Nossa Senhora das Dores remonta ao século XIX. No Piauí e em outras partes do Brasil acontecem as mais variadas manifestações e expressões do sentimento religioso, da devoção popular. Muitas festas em louvor a santos preservam determinados aspectos e se transformam em outros: romarias, ex-votos, cânticos, espaços de sua realização, promessas, festas, missas, altares, santinhos, outros caminhantes. A festa de N. S. das Dores é parte fundamental nas histórias de muitos caminhantes da cidade de Teresina. Em seus relatos, é possível sentir e olhar através de suas práticas, símbolos, gestos e rituais variadas formas de comunicação e (re) significações dos espaços da cidade de Teresina. A Festa de N. S. das Dores, ao longo dos anos, adquiriu novas significações, sentidos e tensões possíveis no interior de uma nova trama da comunidade urbana na qual está inserida. A violência e a (re) estruturação urbana de Teresina estimularam os habitantes da urbe a repensar suas tradicionais práticas nos interior da comunidade paroquial e, portanto, a Festa. Por outro lado, a comunidade mantem o contato com o sagrado, compartilha aspectos de um sistema simbólico e ritual, além do aspecto social, pois esses mesmos caminhantes adentram o sistema social da cidade, da igreja, da economia urbana, na organização da Festa. Assim, a Celebração à N. S. das Dores é um lugar social, religioso múltiplo, rico, fundamental para se estudar aspectos rituais, simbólicos do cotidiano, da religiosidade da cidade de Teresina. 231 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Palavras-chave: Festa de N. S. das Dores; práticas cotidianas; Teresina Cidade, memória e (res)sentimento Francisco Alcides do Nascimento Prof. Associado II do Programa de Pós-Graduação em História do Brasil UFPI. [email protected] Esta comunicação reflete sobre Teresina, capital do Estado do Piauí, na década de 1970, período em que a cidade passou por muitas intervenções que determinaram a transformação da paisagem urbana da capital do Piauí, tendo como principal agente o próprio Estado. Tais intervenções atraíram pessoas, vindas de pequenas cidades do Piauí e de outros estados, sonhando com oportunidades de trabalho, educação formal, aquisição da casa própria e atendimento de saúde. Mas ao chegarem à cidade, sem recursos financeiros que possibilitassem a contratação de casa de aluguel, ocuparam áreas consideradas de risco e terrenos públicos, fatores que, posteriormente, o processo modernizador excludente, determinou a transferência delas para regiões periféricas da cidade, na oportunidade sem nenhum instrumento básico (água, luz, telefone, transporte público, calçamento). Foram essas transferências e suas implicações para os moradores transferidos que foram tomadas como foco central deste artigo Palavras-chave: Cidade. Memória. (Res)sentimentos. O alcance da memória como expressão das sensibilidades Gisafran Nazareno Mota Jucá Professor Doutor/ UECE [email protected] Para captar o sentido revelador das representações, que emolduram o imaginário social, os sinais observados nos remetem ao alcance das sensibilidades, como testemunhas das experiências vividas. Embora as sensibilidades estejam envoltas nas individualidades observadas, o cenário cultural nos remete à observação das experiências plurais, onde o coletivo se manifesta, mas sempre envolto no aspecto revelador da ação dos agentes individuais. Uma experiência de pesquisa, relativo ao estágio de pós-doutorado, com um projeto apoiado na historia oral, intitulado “Seminário da Prainha: uma outra Fortaleza”, permite-nos novas perspectivas de análise sobre a história urbana, além dos limites estabelecidos pela tradição acadêmica. A memória social, apoiada em lembranças pessoais e as sensibilidades manifestas propiciam a compreensão de expressões individuais, que se mesclam à memória coletiva. Palavras-chave: memória e sensibilidades; memória social e representações culturais; memória social e história cultural. 232 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais “A Grande Vontade de Ser”: Memórias e Sensibilidades de um cowboy sertanejo. Helder Remigio de Amorim Pós-Graduando em História /UFRPE [email protected] O presente trabalho trata das relações entre memória e sensibilidades, mas pretende percebê-las através do relato oral de memória de José Leite Duarte, mais conhecido como Rock Lane. Esse personagem que parece ter saído da tela de um cinema, onde trabalhou boa parte de sua vida, assumiu o cognome do ator de filmes de faroeste norte americano. Além de transitar por várias temporalidades em seu depoimento, também caminha por gêneros como tragédia, drama, aventura, romance e em alguns momentos pelo gênero épico. A metodologia, bem como os aportes teóricos utilizados no trabalho ampararam-se nas discussões sobre história cultural, oralidade, memória, cidades e cinema. Desse modo, nosso objetivo é entender como José Leite Duarte através de sua relação com o cinema em que trabalhou se “ausentou” deixando Rock Lane assumir o papel principal na sua vida. Paco Sanches: armas, poder e memória. A construção da memória de um adepto do Partido Republicano gaúcho. Itamar Ferretto Comarú UCS [email protected] O espaço social não é neutro, mas sim um território onde se manifestam/representam zonas de conflitos, geralmente por poder ou pelas representações desse poder, o que acaba por selecionar memórias, criar identidades, impetrar costumes locais ou regionais. Paco Sanches é um personagem histórico, um fato histórico, que representa o poder, os imaginários e a cultura de parte da região nordeste do Rio Grande do Sul entre o fim do século XIX e início do século XX, cuja violência não deve ser desconsiderada, por significativa dos caminhos políticos e sociais de então. Esse artigo problematiza as questões de memória tendo como objeto o individuo Paco Sanches. Analisa-se sua memória, construída através de fontes orais e textuais e analisadas por meio da análise de conteúdo de Laurence Bardin, destacando a complexidade das questões de memória em torno de sua imagem. Os resultados preliminares demonstram uma pluralidade de memórias fragmentadas, mediadas culturalmente e ideologicamente. “Horas inteiras passo lembrando”: memória, história e sensibilidades femininas – Cariri 233 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Paraibano (1930 a 1950) Paula Faustino Sampaio Tutora Virtual/UFPB [email protected] Entre os anos 1930 e 1950, a região do Cariri Paraibano, lugar comum a tantos outros do interior do Brasil, estava distante dos projetos modernizadores que marcaram o período nos principais centros urbanos do país. Mas nem por isso não ficou alheia às transformações. Neste âmbito, as discussões sobre moral sexual, valores e modos de comportamento para as mulheres ganhavam novos elementos, muitos deles no esteio das mudanças da educação escolar no período. Em contraponto, a Igreja Católica e a Justiça precisam reinventar formas de controles desses comportamentos femininos em tempos de mudança. Neste trabalho, propomos reconstituir este momento histórico por meio das memórias e sensibilidades de um grupo de mulheres, hoje com idade superior a setenta anos, moradoras do Cariri Paraibano em sua juventude. A intenção é mostrar, com seus relatos orais de memória, quais significados elas construíram sobre si e sobre o outro em sua existência comum de moças que, cotidianamente, tinham de lidar com as curiosidades despertadas pelas notícias de um mundo novo e exigências sociais da realidade a que estavam submetidas. Para tanto, muito contribuiu para lidar com a memória dessas mulheres corpus documental formado por correspondência, canções e poesias. Palavras-chave: memória, história e sensibilidades. Ação, liberdade, história e memória em Hannah Arendt e suas relações com a cultura de memória no mundo contemporâneo Rebecca Coscarelli Cardoso Bastos PUCRJ [email protected] O Trabalho visa uma reflexão teórica que tem como tema principal os conceitos de ação, liberdade, história e memória em Hannah Arendt. Para a autora é propriamente a condição humana da pluralidade que torna de extrema importância o espaço da aparência através da ação e do discurso na esfera pública [1]. Isto implica um espaço que possibilita o aparecimento do singular, do individual entre seres que biologicamente são iguais, o que, ressalta as características propriamente humanas dos homens. Porém, esta singularidade somente pode aparecer na medida em que o homem é cercado pela mundanidade, isto é, por um mundo onde a realidade é feita de coisas e de objetos fabricados pelo homem e que é diferente da realidade natural. Este mundo humano dá certa segurança em relação a ação e é ele mesmo que permite uma esfera pública onde questões comuns e não privadas devem ser discutidas e onde através da ação e do discurso, através das opiniões individuais os homens aparecem em sua singularidade. Além disso, para Arendt o conceito de ação trás consigo uma imprevisibilidade e uma ilimitação inerentes à condição humana da pluralidade. É justamente porque os seres humanos em sua singularidade são diferentes que não é possível prever de que forma 234 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais cada homem vai agir e é pelo fato dessa ação se dar em um mundo de relações sociais préexistente que não é possível calcular as conseqüências dessas ações. Sob estas condições, a história é refletida pela autora como aquela disciplina que através dos historiadores pode dar certa interpretação das ações, isto é, dos eventos que ocorreram na esfera pública, já que para os próprios homens que agiram esta interpretação e coerência discursivas são inviáveis, pelas características da ação mencionadas acima. A história, portanto, funcionaria de certa maneira como um relato de memória, na medida em que ajuda no não esquecimento e no encadeamento destas ações que pelo fato de não serem ações condicionadas pelo critério de meios e fins, devem ter como incentivo a glória, isto é, a imortalidade das ações e dos feitos de seres humanos mortais em sua condição biológica. Portanto, a história e a memória tornam-se conceitos fundamentais, na medida em que é através delas que os eventos passados são levados para a posteridade, para as gerações futuras e dão certa garantia e estabilidade de um mundo especificamente humano onde estas gerações futuras possam continuar exercitando sua liberdade em relação às suas condições biológicas de necessidade e mortalidade naturais, que é o que têm em comum com todos os outros seres, e que pode se concretizar em seu aparecimento singular na relação com todos os outros homens na esfera pública, isto é, política por definição. Vidas incertas: o processo de migração para cidade de Teresina-PI durante a década de 1970 Regianny Lima Monte Instituto de Ciências e Tecnologia do Piauí - UFPI [email protected] Este trabalho é uma reflexão em torno do processo migratório que ocorreu na cidade de Teresina durante a década de 1970. Temos como finalidade principal analisar os fatores que influenciaram estes moradores a saírem de seus locais de origem e rumarem para a capital do estado do Piauí. No percurso deste processo verificamos de que maneira o poder público atuou no sentido de instigar essas famílias a realizarem o processo migratório, bem como a própria conjuntura nacional que convergia para que ocorresse um verdadeiro “inchaço” dos centros urbanos, como foi o caso de Teresina. A análise recai, ainda, sobre as lembranças que os moradores guardam dessa experiência enquanto migrantes e moradores de Teresina na década de 1970 e de que maneira avaliam essa experiência. Portanto, estamos lançando mão da História Oral para nos aproximarmos das trajetórias de alguns desses migrantes, por considerar a memória de tais atores sociais como de fundamental importância na constituição de trabalhos dessa natureza. Palavras-Chaves: Migração. Memória. Cidade. Carris: memórias e sensibilidades no imaginário urbano porto-alegrense Renata Cássia Andreoni 235 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] A Cia. Carris Porto-Alegrense é a empresa de transporte coletivo mais antiga do país em atividade, fundada em 1872. Sua história mantém uma relação simbiótica com a cidade, desde os antigos bondes à tração animal, passando pelos elétricos, até os modernos ônibus. Por meio de uma metodologia de história oral pretendemos, através dos depoimentos de seus antigos e atuais colaboradores, bem como de seus usuários, reunir as representações sobre sua trajetória centenária na Capital. A evocação de memórias individuais e coletivas, despertando vivências e sensibilidades, constitui um sentimento de pertença nos porto-alegrenses em relação a essa empresa, tornando-a um patrimônio citadino. Palavras-Chave: Memória – História Oral – Carris Porto-Alegrense. Memória, Escola Noturna e Trabalho Roney Gusmão do Carmo Mestrando – UESB. [email protected] Ana Elisabeth Santos Alves Professora Doutora UESB (orientadora) [email protected] Observa-se uma próxima relação entre o Ensino Noturno e o mundo do trabalho. Pressupomos que tal proximidade se configura como alternativa única para que os membros da classe trabalhadora mantenham acesso ao espaço escolar. Diante disso, vislumbra-se uma busca frequente do trabalhador pela escola, movido pela tênue expectativa de que ela forneceria subsídios necessários capazes de munir o indivíduo na ascensão profissional, papel este não assumido pela educação escolar. A hipótese de trabalho que norteia esta pesquisa é que o trabalhador insiste na escola por que herda uma memória na qual situa esta instituição dentro de uma pedagogia tecnicista. Para fundamentar esta análise, aprecia-se o que Michael Pollak (1992) chama de “memória por tabela”, ou seja, a memória, que através das relações sociais, é transferida, de modo que muitas gerações, embora não tenham vivenciado diversos dos fatos precedentes, herdam representações e conceitos formulados em outros contextos históricos. Palavras-chave: Memória, Escola, Trabalho. As relações de consumo no MoMA: o melhor de viajar é ter viajado Sanântana Paiva Vicencio Mestranda em Arte/UnB [email protected] 236 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais O presente artigo pretende investigar dados acerca dos tipos de souvenirs vendidos na loja do Museum of Modern Art (MoMa) em Nova York (E.U.A), assim como características dos consumidores que compram esses produtos. A pesquisa se realizou em caráter informal onde eu estava na condição de turista na cidade de Nova York. Ou seja, este artigo aponta os resultados obtidos com as entrevistas e os discute relacionando-os com os seguintes temas: autenticidade, consumismo, turismo, liminaridade e arte. Para isso dialogo com os seguintes autores: Nelson Graburn, Marc Augé e Braudillard, entre outros. Os dados obtidos com a pesquisa são muito mais qualitativos do que quantitativos, pois se trata de um país onde o consumo é quase que um dogma imposto na e pela a sociedade, a rapidez com que as compras acontecem não deixava muito espaço para perguntas e respostas. Palavras-chave: Turismo – Arte – Consumo O jogo da diferença na obra o tetraneto del-rei de Haroldo Maranhão Thais do Socorro Pereira Pompeu Mestranda em estudos literários - UFPA. Bolsista da Capes. [email protected] A comunicação objetiva fazer uma análise da obra O Tetraneto Del-Rei do autor paraense Haroldo Maranhão priorizando a diferença que a mesma estabelece em relação aos primórdios de nossa colonização. O romance inserido em um contexto pós década de 50, do século XX, se constrói a partir de um processo intertextual complexo, em que transitam outras escrituras literárias, sobretudo ao processo de descobrimento das terras brasileiras. Assim a obra possui uma grande importância no contexto de nossa literatura, já que reproduz um diálogo aberto com as transformações do romance moderno brasileiro além de demonstrar o processo de amalgamento das culturas formadoras de nossa nação por suas motivações ventrais de baixo para cima. O romance inverte e difere pela ficção e pela paródia os sentidos de nossa colonização. A obra O Tetraneto Del-rei ainda possui poucos estudos ou raros no que tange esse recorte critico comparativo de nossa história oficial. Palavras-chave: Literatura comparada; Literatura da Amazônia; Diferença. 237 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais ST 25 Interartes – paisagens urbanas, memória e etho A cidade existe? André Assunção Mestrando/UFRJ [email protected] Este artigo tem como objetivo central construir argumentos que nos distanciem de pensar a cidade como um objeto natural. Procuraremos discutir por quais vias a cidade, essa “objetivação” absolutamente datada, se torna algo cheio de sentido para seus habitantes. Na trajetória ainda será enfatizada a importância da abordagem a partir das práticas, que é por onde nascem as objetivações, para a reflexão das atribuições de valor ao espaço urbano. Palavras-chave: cidade; objeto natural; objetivação; prática. Ritmos plásticos: os bailados de Eros Volúsia e os desenhos de Rugendas e Debret. Andréa Casa Nova Maia UFRJ [email protected] Ana Paula Brito Santiago (co-autora) UFRJ [email protected] Em artigo publicado no Suplemento em rotogravura do Jornal Estado de São Paulo de setembro de 1939, Mário de Andrade faz uma crítica ao trabalho de Eros Volúsia, então considerada a criadora do “bailado nacional”. No texto, ele compara os movimentos coreográficos da bailarina com os desenhos de Rugendas e Debret. A partir deste diálogo proposto por Mário de Andrade, vamos friccionar as obras, analisar os possíveis cruzamentos entre planos artísticos e temporais distintos. Através de algumas aquarelas de Debret e Rugendas e de fotografias de Eros Volúsia no palco, mapearemos seus respectivos trajetos de apropriação das manifestações populares dentro do território brasileiro; seus respectivos ethos artístico. Perceber como se constitui este “olhar de fora”, olhar estrangeiro, que ressignifica as culturas populares brasileiras em suas linguagens –performance do corpo em movimento e em linhas, traços e cores. Palavras-chave: Cultura brasileira; ethos artístico; dança; Eros Volúsia. A maçonaria: mitologias, tradições e simbolismo na modernidade. 238 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Anizio Antonio Pirozi Mestrando em Sociologia/UENF [email protected] A proposta deste trabalho é analisar os discursos e os interesses de indivíduos que se filiam a uma sociedade iniciática: a Maçonaria. Para isso, é necessário conhecermos seus princípios, símbolos, conceitos e sua evolução da Maçonaria, segundo o seu próprio discurso, é uma organização formadora de indivíduos esclarecidos e dotados de virtudes. Percebe-se que, dado ao seu caráter secreto, a Maçonaria é vista pela maioria das pessoas de forma limitada, pois não podendo ou não sabendo interpretar os conceitos maçônicos, muitos estereotípicos e lendas ganham dimensões conspiratórias e pouco compreensivas a respeito deste grupo. A partir de todas essas considerações norteia-se o presente estudo pelo seguinte problema: Por qual motivo os homens ainda hoje se filiam nesta sociabilidade? Este estudo visa compreender tradições e costumes culturais que conectam esta antiga organização com o presente, com a intenção de proporcionar uma chave para entendermos sua atuação na sociedade contemporânea. Palavras chave: Maçonaria, Sociabilidade, Modernidade. Do camponês ao flâneur: uma breve análise histórico-literária de Guimarães Rosa e Walter Benjamin Denise Pirani Professor Adjunto/PUCMG [email protected] Esse trabalho tem como objetivo fazer uma análise das paisagens e seus personagens sócioculturais nas obras literárias de Guimarães Rosa e Walter Benjamim. Apesar de ambos os autores apresentarem particularidades muito distintas - o campo e a metrópole, o arcaico e o moderno, o rústico e o civilizado – eles possuem uma característica comum a ser explorada: o viajante. Cada autor possui contextos históricos e personagens sociais bem específicos, mas ambos exploram um aspecto essencialmente humano: o nomandismo. De forma que, nesse trabalho serão privilegiadas duas obras principais: Sagarana, de Guimarães Rosa e Paris: capital do século XIX, de Walter Benjamin Traços modernos da cidade: um estudo sobre as representações da paisagem urbana de Florianópolis através de imagens artísticas. Elizabeth Ghedin Kammers Mestranda em História /UFSC 239 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] Esse projeto pretende orientar uma pesquisa focada em representações da cidade de Florianópolis, sendo essas, imagens artísticas produzidas principalmente entre as décadas de 1950 e 1980. Dentro desse recorte temporal temos um período de intensas mudanças no visual da cidade e, nesse sentido, visamos promover uma reflexão acerca da construção de sua paisagem urbana. Baseando essas análises estão imagens representativas desses momentos de transformações, contribuições pictóricas de artistas locais como Martinho de Haro e Hassis, personagens que dotaram de significado aquilo que lhes servia de inspiração, contribuindo para a revelação e fixação de outra imagem da cidade. Por fim, estaremos enriquecendo e valorizando o universo das artes pictóricas regionais e desenvolvendo outras formas de pensar as artes e a cidade. Palavras-chave: cidade, paisagem, artes visuais O espaço como autoria: a moderna cidade do natal na escrita da história cascudiana Francisco Firmino Sales Neto Doutorando -PPGHIS/UFRJ [email protected] Entre 1946 e 1950, a cidade do Natal passou por um importante processo de modernização, sob os auspícios do prefeito Sylvio Pedroza. Inspirado na modernização ocorrida nos anos de 1920, a municipalidade natalense se propôs a empreender um salto em direção ao progresso material da cidade. Não descuidando dos aspectos simbólicos desta reforma, o prefeito nomeou o escritor Câmara Cascudo como historiador oficial da cidade do Natal e fez dele o responsável por fornecer as linhas de entendimento a partir das quais a população local vivenciaria as alterações urbanas. Por meio de crônicas em jornais e de livros, Cascudo fez uso da escrita da história para mostrar como o processo de modernização era necessário à cidade e, desse modo, sensibilizou a população a recebê-la – e aproveitá-la – de bom grado. Diante disso, este trabalho se propõe a examinar o processo da modernização da cidade do Natal na década de 1940 sob o viés da sensibilidade, analisando as paisagens construídas pelo texto cascudiano e recebidas pelos natalenses. Palavras-chave: cidade do Natal, Câmara Cascudo e escrita da história. Intervenções urbanas – o organismo “RHR” e Laura Lima: a artista como propositora Gianne Chagastelles Professora - UNESA/RJ. [email protected] 240 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais O artigo trata da instância “RhR” Representativo-hífen-Representativo criada pela artista brasileira contemporânea Laura Lima, nos anos 90. A artista prefere denominar instâncias, em vez de séries, a divisão de seus trabalhos, pois, segundo Laura, série lembra sequenciamento, algo feito em grande escala e segundo um mesmo padrão, lembrando algo industrializado, enquanto instância remete a instâncias de pensamento, ao conjunto de atos de um processo. Cada instância é constituída por um conjunto de ideias que possuem semelhanças entre as imagens. Na instância RhR, Laura trabalha com a produção de um corpo coletivo, que se reinventa continuamente na paisagem urbana. Portanto, pretendo discutir o ambiente da arte e de existência do homem em seu cotidiano e as possibilidades de utilização das inumeráveis produções imagéticas resultantes desse vivido como fontes para a escrita da História social da cultura contemporânea. Busco ainda refletir sobre a problemática da visualidade. Analisarei as formas de controle do espaço e do corpo do sujeito na nova urbe, bem como as estratégias de resistência através da busca do anonimato e das formas singulares de apropriação do espaço. Sociologia Pedestre: uma leitura de João do Rio com filtro simmeliano Goshai Daian Loureiro Mestrando em História Social /PUCRJ. [email protected] Faz sentido, afinal, comparar João do Rio e Georg Simmel? É possível, ou antes, desejável interpretar filosoficamente/sociologicamente um texto de ficção? A questão só se coloca se tomamos filosofia, sociologia, história e literatura como campos distintos e institucionalizados, algo que apenas começava a se delinear no Brasil no início do século XX. Cumpre, portanto, pensar estes saberes enquanto práticas significantes, que compartilham um mesmo horizonte epistemológico de desconfiança sobre o senso comum. Sob essa perspectiva é possível a escrita de Paulo Barreto capta um conjunto de relações presentes na rua e mostra como elas se autonomizam em relação ao ser humano, passando a incidir sobre ele, qualificando os tipos que ali transitam e diferenciando os espaços no interior da cidade. Neste sentido, há nas crônicas de João do Rio uma intuição sociológica, paralela à que vinha sendo simultaneamente inaugurada por Georg Simmel no âmbito da sociologia, no sentido de interpelar as conseqüências da modernidade no espaço social urbano, em especial o da grande metrópole. Palavras-Chave: João do Rio, Crônica, Sociologia Ver, sentir, e viver a urbe: memórias, práticas culturais e sensibilidades da cidade de Garanhuns – Pe José Eudes Alves Belo 241 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais UFPE [email protected] Pensar a cidade a partir da produção de suas sensibilidades e múltiplas linguagens e travessias. Eis a proposta deste trabalho que busca compreender as múltiplas relações que configuram as paisagens, sociais, visuais e culturais da cidade de Garanhuns – PE. O trabalho utiliza como fontes, jornais que circularam na cidade, depoimentos de antigos moradores, e fotografias da época. O cruzamento destas fontes (re)velam a paisagem em travessia de uma cidade em suas múltiplas formas de (com)vivências, modos de ver, ler, sentir a cidade. A paisagem da urbe se delineia a partir representações de seus discursos, produzidas por práticas híbridas que ajudam a ler a paisagem urbana sob um ângulo sensível de personagens e vestígios que mostram sua sedução, seus encantos, suas inquietudes, suas provocações. A urbe surge em suas representações enquanto “Suíça Pernambucana”, “cidade do clima maravilhoso”, “cidade da educação”, compreender a constituição destes discursos de cidade vigiada, bem como tentar vê-los a partir de sua violação, orienta as análises deste trabalho que ora desenvolvo. Guiado pela ideia de Certeau de espaço como lugar praticado, tento compreender práticas a partir de coisas miúdas, onde a paisagem vai sendo (re)velada aos nossos sentidos por nossas sensibilidades. A biblioteca pública: espaço de leitura e de leitores Keila Matida de Melo Costa, Doutoranda e Professora - FE/UFG, [email protected] Este estudo tem como objetivo expor e discutir um projeto que visa analisar não apenas as políticas públicas destinadas à constituição dos espaços formais de leitura, como as bibliotecas públicas, mas também apontar por meio da história de uma biblioteca municipal - Biblioteca Municipal Zeca Batista - a vinculação da constituição desse espaço com o desenvolvido do município de Anápolis – Goiás. O tempo de delimitação desta pesquisa é de 1950, época de comemoração do Cinquentenário de Anápolis, até 2007, ano de comemoração do Centenário desse município. Aspectos simbólicos do passado são, para isso, constituídos e reconstituídos tendo em vista uma projeção de uma sociedade “moderna” e “civilizada”. Sustentada teoricamente pela História Cultural, tal proposta abrange, enquanto procedimento metodológico, o estudo bibliográfico, a análise de fontes históricas, como documentos oficiais (leis, portarias, resoluções, decretos, manuais de funcionamento etc.) e a história oral. A relação da cidade com a Feira Livre Central; práticas em Campo Grande, MS Lenita Maria Rodrigues Calado UFGD [email protected] 242 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Esse texto faz parte das reflexões feitas no desenvolvimento da pesquisa sobre a cidade de Campo Grande, MS e sua Feira Livre Central. Como analisou Michel de Certeau, a cidade é um lugar de práticas que delineiam espaços, ou seja, espaços construídos pelas vivências. As entrevistas realizadas colocaram as memórias e as práticas à vista, assim como também, um ideal de cidade existente no imaginário dos habitantes. Uma cidade que se inventa com valores tradicionais e se propõe “moderna”, tendo a Feira como evento representativo de muitas transformações ocorridas no período de 1974 a 2004, culminando com a fixação da Feira num espaço construído para seu funcionamento, retirando-a das ruas centrais da cidade. A Criação de Paisagens Turísticas no Extremo Oeste do Paraná Mauro Cezar Vaz de Camargo Junior Mestrando /UDESC [email protected] Este trabalho tem como objetivo debater as relações construídas pelo turismo nas cidades existentes nas margens do Lago da represa de Itaipu, este ultimo um dos principais motivos para o desenvolvimento de tal atividade, em 1983 quando foi fechada a barragem da hidroelétrica binacional, a região foi alagada, tendo uma grande área de terra agricultável submersa, e desde então o turismo se apresenta como uma forma alternativa de renda para os municípios da região. O turismo que é uma atividade socioeconômica que tem na vendagem de paisagens seu principal mote, necessita da construção e divulgação de “pontos turísticos” empreendimento que modificam física e discursivamente estas cidades, aqui pretendo analisar alguns destes impactos, como na organização urbana e no discurso presente no material de divulgação A memória dos lugares praticados e seus subterrâneos: Palmas – TO. Patrícia Orfila Barros dos Reis UFRJ /UFTO [email protected] O presente trabalho tem a cidade como objeto de estudo da história, com interdisciplinaridade nas áreas da arquitetura e do urbanismo. Palmas é a cidade tomada como objeto de reflexão, a mais nova “capital planejada” brasileira, tendo sido inaugurada em 1990 para ser capital do recém criado Estado do Tocantins. Este artigo abordará o cotidiano do sujeito, dentro de uma análise contemporânea de Palmas; bem como a apropriação do espaço e a experimentação da cidade nova. Tratará das apropriações e ressignificações plurais dos símbolos e emblemas arquiteturais pelo caminhante, sujeito, pessoa comum de Palmas, a partir de um apanhado metodológico baseado na história oral, movimentando este espaço de vivências com os diálogos desses personagens. 243 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Palavras-chave: Memória, Palmas, Arquitetura. Certa mítica do Corcovado: o assassino Febrônio Índio do Brasil e o Cristo Redentor (1926-7) Pedro Felipe Marques Gomes Ferrari Bolsista do CNPq e Doutorando/ PPGHIS-UnB [email protected] Febrônio Índio do Brasil, ao ser acusado por vários homícidos em 1927, justificara-se alegando sacrificar crianças em nome do Deus-Vivo que diz testificar em seu livro As Revelações do Príncipe do Fogo, publicado no ano anterior. Nele, reapropria e ressignifica a cidade do Rio de Janeiro tornando-a mítica. Em fevereiro, sendo surpreendido nu e portando uma espada pela polícia nas matas do Corcovado, diz estar esperando Lúcifer para um duelo. O morro torna-se, segundo sua representação, um espaço místico. A presente pesquisa envereda no sentido de contrapor seu livro a outras fontes que, àquela época de primórdios da construção do Cristo Redentor, comparavam tal formação rochosa a montes bíblicos. Perceber, enfim, a ressignificação que Febrônio arquiteta das subjetividades do espaço urbano e sua monumentalidade. Tomando-o enquanto indício de uma pluralidade generativa, notar filiações e sentidos para além de suas próprias linhas. Presentes em andamento: A edificação da Estação Central do Brasil em Belo Horizonte e sua relação com a história, patrimônio e memória Rita Lages Rodrigues UFMG/FUMEC [email protected] Os diversos sentidos atribuídos pelos indivíduos às paisagens urbanas e às edificações pertencem ao presente, mas relacionam-se ao passado, a memórias compartilhadas pelos seres humanos. Existem sentidos atribuídos no momento em que foram construídos e sentidos atribuídos pelos diversos presentes que existiram ao longo da existência destas construções. O objeto de análise desta comunicação será a presença de uma obra de autoria do arquiteto italiano Luiz Olivieri na cidade de Belo Horizonte, a edificação Estação Central do Brasil, situada no centro da cidade de Belo Horizonte. Esta obra reflete um ethos do momento em que foi concebida, mas também reflete o tempo transcorrido desde o momento inicial de sua criação. Ao se analisar historicamente um determinado bem, deve-se fazê-lo sob a luz dos diversos momentos históricos, presentes em andamento, como diria o historiador Bernard Lepetit. Os sentidos atribuídos a esta edificação foram modificados e hoje ela transformou-se em museu, utilizada para abrigar coleção de objetos relacionados a artes e ofícios do passado. O prédio que abriga o Museu de Artes e Ofícios possui múltiplos significados, relativos ao presente e aos passados da cidade, que deveriam ser levados em consideração ao se transformar a edifi- 244 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais cação em monumento. No entanto, a monumentalização da obra não significou a guarda da memória de diversos tempos e, sim, o esvaziamento destes inúmeros significados. Modernidade em desalinho: Raul Pederneiras e as representações caricaturais da vida urbana carioca na Revista da Semana Rogério Souza Silva Professor licenciado /UNEB – Doutorando /PUCSP [email protected] Esta comunicação pretende discutir a produção caricatural de Raul Pederneiras na Revista da Semana, onde atuou em grande parte de sua vida profissional. O artista teve como uma de suas preocupações os impactos do modelo de modernização que era adotado pelas elites brasileiras e que tinha o espaço urbano do Rio de Janeiro como um de seus cenários principais. Em suas criações ele observava as contradições entre uma modernidade desejada e a sua aplicação diante da realidade do país. Raul tem como uma de suas características a utilização de uma linguagem onde os trocadilhos são empregados nas legendas e nos desenhos. Além de caricaturas, o autor produziu poemas, um dicionário de giras e conferências sobre humor onde a sincronia entre as imagens e as palavras estava presentes. Palavras-Chave: caricatura, modernidade, urbano. Trilhas e atalhos da coluna prestes no semiárido do nordeste brasileiro Rubia Micheline Moreira Cavalcanti Professora Adjunta - URCA. [email protected] Partindo de um paradigma epistemológico que dialoga com a História Ambiental, vertente historiográfica que busca interrelacionar os homens, as naturezas e as sociedades, buscamos compreender as experiências construídas pelos integrantes da Coluna Prestes ao percorrer vinte e quatro mil quilômetros Brasil adentro. Intentamos, assim, investigar a natureza das representações dos homens e do mundo natural construídas ao longo da jornada da Coluna Prestes pelos biomas e biotas do semiárido do Nordeste Brasileiro, e registradas nos relatos de viagem que relacionavam paisagem, cultura e memória. Espera-se, portanto, articular e compreender a pluralidade e ambigüidade de representações que tiveram os integrantes da Coluna Prestes, que lhes permitiram construir um imaginário sobre as características naturais dessa região face às dificuldades encontradas pelos mesmos quando da sua permanência no Nordeste. Palavras-chaves: História Ambiental; Coluna Prestes; Biomas de Semiárido 245 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais Ilha de Santa Catarina: o olhar dos navegantes estrangeiros no século XVIII. Sergio Luiz Ferreira Doutor em História Cultural/UFSC Professor /Centro Universitário Municipal de São José. [email protected] Existem poucos relatos sobre o século XVIII na Ilha de Santa Catarina. Há alguns relatórios oficiais dos governadores da capitania e os relatos dos navegantes estrangeiros. Como os relatórios oficiais não costumam se ocupar da vida cotidiana dos habitantes, o que chegou até nós sobre esta dimensão da vida dos moradores da Ilha de Santa Catarina foram as impressões dos viajantes estrangeiros que, de modo geral, estavam interessados em impressionar seus leitores europeus. O que percebemos é que eles liam os relatos de seus antecessores, de modo que costumavam sempre repetir o que os viajantes anteriores tinham escrito, sobretudo sobre o passado da ilha do qual nenhum deles fora testemunha. A imagem de paraíso perdido também é recorrente na descrição da ilha feita pela maioria dos viajantes. Costumam caracterizar os habitantes como sem ambição e desprovidos de ganância. A desinibição das mulheres também é tema recorrente entre os viajantes. Elas não só participavam dos banquetes oferecidos aos estrangeiros como tomavam parte nas danças. De qualquer modo, muitos dos preconceitos explicitados pelos navegantes estrangeiros sobre a Ilha de Santa Catarina permaneceram na historiografia e continuam a ser repetidos pelos desavisados. Esta comunicação pretende discutir a função da publicação destes relatos na Europa e o desejo de seus escritores de “venderem” uma imagem estabelecida. Brasília 50 anos: (re) sentir a fundação Silvana Seabra Professora/ PUCMG [email protected] As comemorações são momentos privilegiados para o repensar das fundações. Este trabalho pretende ir além das discussões sobre os ideários modernistas que ensejaram a construção de Brasília e pensar a questão das sensibilidades alocadas nas cidades. No caso de Brasília, o desenvolvimentismo se aloca numa formação sensível que podemos qualificar como de eufórica e com uma temporalidade onde o passado é anulado e o passado só existe como superação. Contudo, toda essa formação sensível é (re)sentida em função de sua origem pulsional que se liga às questões da identidade nacional. História e Imagens: Pedagogia social e moralizante em Hieronymus Bosch Tiago Varges da Silva UFG 246 V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais [email protected] O presente trabalho se propõe a discutir aspectos inerentes ao imaginário social cristão no que se refere às imagens pintadas por Hieronymus Bosch (1450-1516). Neste tempo transitório entre o medievo e a renascença teve início uma intensa preocupação com o pecado e suas consequências após a morte. Esse temor foi representado através de imagens, que registraram o imaginário social acerca dos medos do Inferno e do encantamento com o Paraíso. A obra bosquiana é aqui compreendida como elemento pedagógico e moralizante que exorta uma sociedade pecadora a viver uma vida de penitência e fuga constante de um mundo ameaçador dominado pelos sete pecados. Palavras chave: Hieronymus Bosch, Imagem e Pedagogia Moralizante. As contradições da paisagem amazônica e sua representação na literatura Viviane Dantas Moraes Mestranda – UFPA /bolsista CAPES - CNPQ. [email protected] As diferentes nuances que a paisagem da Amazônia apresentam chegam a ser contraditórias dependendo do ponto de vista. As visões do estrangeiro e do caboclo nativo da região em relação a sua exuberância são controvertidas. A construção e desconstrução dessa paisagem se fazem de acordo com as expectativas e o olhar de cada um mediante seus valores e preconceitos, a partir da estrutura simbólica que a paisagem lhes oferece. Na literatura, sobretudo na paraense, a representação da paisagem amazônica e sua relação com o homem é uma constante. Na maioria das vezes, a paisagem não é tratada apenas como cenário na narrativa, pois sua significação e influência no decorrer da história fazem com que se torne, muitas vezes, o elemento condutor das ações dos personagens. Quando isso acontece, a relação dos personagens com a paisagem gira em torno de uma expectativa que, de acordo com o sociólogo francês Pierre Bourdieu, se baseia na relação de construção e desconstrução dos elementos a partir do campo simbólico que a paisagem oferece. As estruturas simbólicas são essenciais na leitura de mundo e cada agente, ou seja, cada personagem, no caso da literatura, dá sentido a esses símbolos a partir da referência que cada um tem. Com base na teoria do “Campo Simbólico” de Bourdieu, este trabalho irá abordar como se constroem as diferentes paisagens, na obra literária, pelo narrador e pelos personagens, que variam desde a idealização (construção) ao pesadelo (desconstrução) em que esta paisagem se transforma. A partir das obras dos autores paraenses Dalcídio Jurandir, Osvaldo Orico e Inglês de Souza veremos de que forma esses olhares sobre a paisagem se encontram e se desencontram. 247