Faculdade Boa Viagem Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração - CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial Marise Leal Maranhão Cultura Organizacional e práticas de Qualidade de Vida no Trabalho: um estudo de múltiplos casos em palcos organizacionais de restaurantes do Recife - PE Recife, PE 2012 Marise Leal Maranhão Cultura Organizacional e práticas de Qualidade de Vida no Trabalho: um estudo de múltiplos casos em palcos organizacionais de restaurantes do Recife - PE Dissertação Profissional apresentada em Gestão ao Mestrado Empresarial do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa Viagem, para obtenção do grau de Mestre em Gestão Empresarial, sob a orientação da Profª Drª Maria Auxiliadora Diniz de Sá . Recife, PE 2012 M311c Maranhão, Marise Leal Cultura organizacional e práticas de qualidade de vida no trabalho: um estudo de múltiplos casos em palcos organizacionais de restaurantes do Recife - PE / Marise Leal Maranhão. – Recife: O Autor, 2012. 134f.; il.; quadros; 29,7 cm Orientadora: Maria Auxiliadora Diniz de Sá. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão Empresarial) – FBV – DeVry, 2012. Inclui bibliografia. 1. Cultura organizacional. 2. Qualidade de vida – Trabalho. 3. Artefato cultural – Restaurante. 4. Arquitetura – Ergonomia. 5. Design – Iluminação – Cor. I. Sá, Maria Auxiliadora Diniz. (Orientadora) II. Título. 658.015.11 CDU (2 ed.) FBV Faculdade Boa Viagem Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração - CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE Cultura Organizacional e práticas de Qualidade de Vida no Trabalho: um estudo de múltiplos casos em palcos organizacionais de restaurantes do Recife – PE Por Marise Leal Maranhão Dissertação submetida à Banca Examinadora do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa Viagem, para obtenção do grau de Mestre em Gestão Empresarial e aprovada com distinção em 02/07/2012 em sua forma final. Banca examinadora: Faculdade Boa Viagem Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração - CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o acesso a dissertação do Mestrado Profissional em Gestão Empresarial (MPGE) do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração (CPPA) da Faculdade Boa Viagem (FBV) é definido em três graus: Grau 1: livre (sem prejuízos das referências ordinárias em citações diretas e indiretas); Grau 2: com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em consequência, restrita a consulta em ambientes de biblioteca com saída controlada; Grau 3: apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o texto, se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave ou custódia. A classificação desta Dissertação encontra-se, abaixo, definida por sua autora. Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, a fim de que se preservem as condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área de Administração. Cultura Organizacional e práticas de Qualidade de Vida no Trabalho: um estudo de múltiplos casos em palcos organizacionais de restaurantes do Recife – PE Autora: Marise Leal Maranhão Data de aprovação: 02/07/2012 Classificação, conforme especificação acima: Grau 1 Grau 2 X Grau 3 Recife, 02 de julho de 2012 Aos meus pais, meus exemplos, meus heróis, pela pessoa que vocês me ensinaram ‘a ser’. Ao meu filho, por ser a razão te tudo que faço e por me mostrar que para o conhecimento não há fronteiras. Ao meu companheiro, pelo apoio e conforto de uma vida toda. Ao meu irmão Flávio, pelos incentivos e confiança incondicionais. Dedico Agradecimentos Mais uma etapa cumprida e diferente de tantos outros dias, o dia de hoje me trouxe um ‘perfume’ especial e uma tranquilidade que, aos que me conhecem mais de perto, transcende todo entendimento... Porque confio e conheço em quem tenho crido, não de ouvir falar, mas de viver e andar com Ele e por Ele, é que já antes de qualquer resultado, estou tão certa da vitória; que Deus continue adiante de mim, abrindo-me portas, acalmando o coração... Obrigada, Paizinho amado, antes de todos, pois tudo que aconteceu e acontece tem a Tua permissão; todos que de uma forma ou de outra cruzaram meu caminho, colaborando e, muitas vezes, me ‘empurrando’, fosse para frente ou até mesmo para trás, tenho certeza, que foram providenciados por Ti... A vitória é certa e ela é Tua! Por acreditar verdadeiramente que nada somos sozinhos, é que antecipo meu pedido de desculpas, pois certamente cometerei algumas falhas, já que são tantas as pessoas a quem gostaria de agradecer. Aos meus pais, Ricardo e Rosa, significado real de acolhimento e proteção, principalmente nos momentos de maior fragilidade, fui sempre acolhida nos braços do conforto da família. A vocês, que sempre foram e vão continuar sendo exemplos, amigos e heróis em todos os sentidos, o meu muito obrigada por tudo, obrigada por todo incentivo, pelo amor, suporte, paciência, apoio e compreensão. Amo vocês de todo coração desde sempre e para sempre; Um carinho e agradecimento especial à minha mãe, mais que mãe, mais que amiga, absolutamente preciosa em todas as fases de minha vida. Mãe, aos meus olhos, você é a mulher mais fascinante desse mundo; mesclando firmeza, atitude e doçura, muitas vezes me ‘puxando’ pela mão ou me ‘carregando’ no colo, nunca duvidando da minha capacidade de realização dos projetos de minha vida; me ensinou a seguir meus sonhos e me apoia com todo amor. Obrigada, mãe, por ser minha estrela, meu exemplo, meu pilar, a minha referência como fonte de extrema sabedoria e amor incondicional e, o mais importante: a senhora sabe ser recíproco. Eterna gratidão! Ao filho mais amado desse mundo. O bem maior. O maior e melhor dos presentes que eu poderia ter recebido em vida. Dudu, você é a minha luz, é a força que me levanta todos os dias e me faz acreditar que tudo realmente vale a pena. Eu amo muito você, razão da minha vida! Ao meu companheiro da vida inteira, Rodrigo, por me fazer uma pessoa melhor e mais feliz com sua dedicação, amor, apoio e paciência. Agradeço a Deus todos os dias, têlo escolhido para dividir a vida ao meu lado e por ser este exemplo de entrega e otimismo, mesmo diante dos momentos ‘humanamente’ impossíveis, entretanto, o nosso amor foi capaz de enfrentar, ultrapassar ‘muros’ e limites, anteriormente intransponíveis, mas que só Deus pôde compreender, abençoar e perpetuar. Eu amo você; Aos meus irmãos Flávio e Fred, amigos e companheiros de todas as horas, por todo apoio e torcida, fundamentais para que eu pudesse estar chegando aqui; e às minhas cunhadas – irmãs e amigas - Cris e Deinha, muito obrigada por terem vindo somar à nossa família e fazer dos meus irmãos pessoas melhores a cada dia. Obrigada por me já permitir escutar a ‘deliciosa’ voz do ‘nosso’ Gustavo, me chamando de ‘titia’... Amo muito vocês cinco.., Muito mesmo! À minha ‘tia mãe’ Tatinha, por toda força e ‘trabalho pesado’, fundamentais na etapa das análises e interpretação dos dados. Não encontro palavras capazes de agradecêla, mas afirmo, sem reservas, que sem você, seu empenho e orientação, não estaríamos chegando aqui; À Lili, minha mais irmã que prima, um super obrigada de coração, por compartilhar de maneira tão generosa os seus conhecimentos; Aos meus avós Dylcio, Penha, Zilde e Lúcia (in memoriam), por terem feito de seus filhos (meus pais) esses exemplos em retidão de caráter e determinação; um carinho mais que especial a minha avó Penha (sempre presente), pelos exemplos inesquecíveis de mulher batalhadora, dotada de uma ‘fibra e garra invejáveis’. Vozinha, a senhora conseguiu me transmitir e, ainda, fincar, em minha personalidade, a firmeza de sua conduta ilibada e a sua doçura, mesmo depois de tantas perdas significativas em nossa família, contribuindo de forma singular para a formação da pessoa que me tornei; Vó, há 14 anos essa saudade da sua bênção e do seu abraço, me espremem o coração todos os dias... Mas, para aliviar essa saudade sem fim, temos ‘nossos encontros’ em meus sonhos, e, no tempo de Deus, nos encontraremos, para que eu sinta ‘de perto’ o seu calor e o seu perfume me acariciarem outra vez... E o melhor: por toda a eternidade; À minha grande família, minhas tias em especial, à minha ‘dinda Cassilda’, tia Zélia (in memoriam), Tiedinha, tia Gagá e tia Pia; aos meus tios, primos e sobrinhos muito queridos, por toda torcida e compreensão nos momentos em que precisei estar ausente; À minha eterna amiga Alba, por todo zelo e dedicação. Plantamos sementes de admiração, respeito, inspiração, coragem, carinho, lealdade e muito amor, e por mais que hoje estejamos distantes, estarás para sempre em mim e no meu coração. Obrigada, anjo meu. Eu amo você; À minha grande amiga Cristina, por andar de mãos dadas comigo, em leituras e releituras, em cada cenário deste estudo, e, que com seus ‘trens, sôs e uais’, foi quem mais me confortou e clareou a visão quando turva, fazendo o fardo um ‘cadin’ mais leve. ‘Amo, amo, amo muito você’; À minha ‘maior amiga’ Fernanda Paulmann, por dividir comigo tantas noites e angústias, por ter se permitido ser instrumento de Deus em minha vida e conseguir me distrair, chegando a me arrancar sorrisos em meio às lágrimas, me fazendo esquecer, por instantes, as aflições do momento. Amiga, linda – linda, muito linda - como diria Dani Madruga “mais parece uma boneca de tão linda”... Só que uma boneca em tamanho gigante (risos)... ‘Eu te amo você’... E ‘amo muito de verdade’... Muita coisa! À Lene e Lourdes, amigas do convívio diário, por sempre me darem o suporte necessário para que tudo se ajustasse e transcorresse em paz e com a serenidade necessária em cada obstáculo transposto e vencido, mesmo nos meus hiatos de silêncio; Aos amigos, Ana Patrícia e Silvio Shiue, Mirelle e Epaminondas Palmeira Lima, Daniela Pera e Júlio Danielato, George e Mônica Guerra, Eglê Bismara e Francis Dantas, Eric Perman e Scheila Camargo, Adriana da Fonte, Alexandre Reis, Alexsandra Angelo, Aline Valim, Amanda Oliveira, Ana Cristina Pacheco, Ana Luzia, Angélica Moura, Bárbara Guerra, Carolina Maranhão, Cristiana Gameiro, Daianne Campos, Delmiro Cabral, Emily Monteiro, Fabiana Gameiro, Fernanda Berenguer, Gisele Resende, Helga Fernandes, Larissa Góes, Laura Amélia Brennand’, Lucila Rocha, Maria Inês Remígio, Mariana Murakami, Michele (Diva Black), Renata Pedrosa, Renata Queiroz, Tatiana Bulhões, Tatiana da Mota Silveira e Victória Guelfi, pela companhia em momentos diferentes da minha vida, por toda força e compreensão nos muitos momentos de ausência; Ao ‘quinteto de louvor’ que jamais sairá do lugar onde estão fincadas: Alcione Donida, Patrícia Lustosa, Suzy Balbino, Verônica Sales Macedo e Vilminha Villarouco, pelos exemplos de mulheres que vocês são em minha vida, e por suas vozes ‘ecoarem’ nos momentos de mais aflição, entoando hinos de louvor e gratidão, até por aqueles momentos de ‘deserto’; preciso, preciso mesmo, além das ‘meninas’ acima, agradecer à Aida Cavalcanti, Aninha Miranda, Eveline (Vevé), Francinete Monteiro (Fran), Magaly Vasconcellos, Michele (Micha), Salete e a todas vocês, mesmo que não estejam nominalmente aqui (são tantas, me desculpem, se deixei passar alguém), irmãs e mentoras, por terem me apresentado esse caminho... Vocês me viram ‘engatinhar’ na obra do nosso Deus, espero ser motivo de orgulho, assim como vocês são para mim; jamais terei como retribuir a trilha que vocês me ensinaram a seguir... Eterna gratidão! “[...] Amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância digam ‘não’, o que importa é ouvir a voz que vem do coração [...]” 1; Obrigada às companheiras dos momentos solitários (verdadeiras cigarras), Aline Barros, Ana Carolina, Ana Paula Valadão, Cássia Eller (in memoriam), Cláudia Leite, Fernanda Abreu, Isabela Taviane, Laura Pausini, Luiza Possi, Maria Bethania, Marina Lima, Mariza Monte, Myllena, Paula Fernandes, Roberta Campos, Vanessa da Mata, Zélia Duncan, e aos companheiros Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Jorge 1 Trecho da letra da música ‘Canção da América’, de autoria de Milton Nascimento e Fernando Brant, lançada no disco ‘Sentinela’, em 1980. Versillo, Nando Reis, Vander Lee, Zeca Baleiro e muitos outros, que tantas vezes embalaram minha escrita; Às empresas Alfa e Beta; aos seus gestores Marcelo, Mônica e Leonardo, que me abriram as portas, para que este trabalho fosse realizado e ganhasse credibilidade; e aos seus colaboradores, que se dispuseram a participar desta pesquisa, enriquecendo o repertório de informações para o êxito deste estudo; Aos colegas da ‘Turma 6’... ‘Ô, 10’, pelos momentos mais preciosos desta caminhada... Trocas maravilhosas, experiências incontáveis, muitos conhecimentos e muitas risadas (eu chorei um bocado também - risos) e aos amigos que conquistei durante essa fase: Dani (Daniela Madruga), Mousinho, Diogo, Alessandra, Antônio Carlos, Xande (Alexandre), Sophia e Jayme espero ter plantado uma semente de amor em seus corações, e que eu possa tê-los ‘por perto’ por toda minha vida. Vocês moram em meu coração! Ao Programa de Pós-graduação em Administração da Faculdade Boa Viagem, pela oportunidade e confiança depositadas; A todos os professores da FBV, pelos incentivos constantes, pelos bons momentos e conhecimentos compartilhados. De forma singular gostaria de agradecer ao professor Augusto, pela paciência nas ‘horas de pavor’ da estatística, que hoje me fazem rir. Não menos importante, gostaria de agradecer aos professores James Falk, Sônia Calado e Hajnalka Halász Gati (acho que nunca vou aprender a escrever ‘sozinha’ e pronunciar o seu nome – risos), que puderam acompanhar mais de perto os caminhos trilhados, pelo efetivo apoio e pelas conversas ‘nos corredores’, que tanto me acrescentaram; Mais uma vez, à professora Hajnalka Halász Gati, pela disponibilidade incondicional em deixar as referências (em especial) e o corpo deste trabalho, em conformidade com as normas exigidas; Ainda, e de forma ímpar, agradeço à professora Isabella Jarocki, pelo empenho e disponibilidade, sempre com um sorriso irresistível no rosto, em me abrir as portas do campo de pesquisa; A toda a equipe de bastidores da FBV, em especial a você, Albina, querida, pela dedicação e excelente trabalho de apoio, que possibilitou o bom andamento das atividades... E a você, Rosana, que surgiu como um ‘anjo de luz’ nesse momento decisório e turbulento de finalização e concretização deste trabalho; Às professoras Lúcia Maria Barbosa de Oliveira e Maria de Lourdes de Azevedo Barbosa, pelas valiosas contribuições para a melhoria deste trabalho e pelo zelo com que tiveram para chegarmos a excelência; À minha orientadora e querida amiga Maria Auxiliadora Diniz de Sá, fonte inesgotável de sabedoria, incentivo, apoio, inspiração, paciência, atenção, humildade, amor, exemplo de docência, decência e dedicação. Não consigo exprimir em palavras os meus mais sinceros agradecimentos a você, Dorinha, pela confiança, pelo carinho, por sempre tentar extrair o meu melhor, lapidando meus conhecimentos, os quais levarei por toda vida, tentando converter a QVT (Qualidade de Vida no Trabalho) em QVG (Qualidade de Vida Geral); Deus abençoe rica, grande e poderosamente os seus caminhos. Você plantou uma semente, creia que ela germinará e você ainda terá muito orgulho de vê-la florescer! “O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes.” 2 Enfim, a todos, que contribuíram direta ou indiretamente nessa caminhada de aprendizado: mestres e humildes. Humildes mestres e mestres humildes... Muito obrigada! 2 Frases e citações de Cora Coralina. “Plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar, que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida.” William Shakespeare Resumo Embora o tema Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) seja de certa maneira bem discutido não somente na Academia, mas também no meio empresarial, constata-se que são raros os trabalhos que abordam esse assunto, em restaurantes. Reconhece-se a importância dessa temática, sobretudo nos dias atuais, em vista a tanta competitividade entre organizações, quando se faz necessário oferecer às pessoas que nelas trabalham, melhores condições de vida e de trabalho. Esta Dissertação tem como finalidade investigar como a cultura organizacional orienta práticas de QVT, representadas nos palcos organizacionais de restaurantes do Recife - PE. Para tanto, procedeu-se uma pesquisa qualitativa, descritiva em múltiplos casos: um restaurante independente e outro, franqueado. Os dados foram coletados por meio de observações diretas não participantes, entrevistas e, finalmente, por análise documental disponibilizada nos sites dos restaurantes. Para a análise dos dados utilizou-se o método da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2010). Em termos de resultado, constata-se que realmente aquele restaurante que apresentou um estilo de gestão (cultura) mais voltado para a sua audiência (plateia ou clientes) e para o seu cenário (ambiente interno) é também percebido pelos seus funcionários (atores) como aquele que melhor provê condições de trabalho e de convivência interpessoal, traduzidas em melhor QVT. Palavras-chave: Cultura Organizacional. Qualidade de Vida no Trabalho. Artefatos Culturais em Restaurantes. Abstract Despite the fact that the Quality of Work Life (QWL) is in a certain way a well debated issue not only in the Academia but also in the business world, it can be asserted that there are few papers which relate to this topic with a focus on restaurants. This is undoubtedly an important topic especially at present when there is so much competition between organizations and there is an imperative need to provide the pertinent workers with better living and working conditions. This Paper aims at investigating how organizational culture guides QWL practices, represented in the organizational settings of restaurants in Recife – PE. For that purpose, a qualitative, descriptive piece of research was carried out in multiple cases: an independent restaurant and a franchisee. The data were collected through direct non-participant observation, interviews and, lastly, by analyses of the documents made available through the restaurants websites. The data collected were analyzed by means of the Content Analysis Method (BARDIN, 2010). As a matter of fact, the results show that the restaurant which presented a management style (culture) aimed at its audience (clients) and at its setting (indoor environment) is ultimately the one that is perceived by its actors as the one which provides the best working conditions and interpersonal relationships translated into better QWL. Keywords: Organizational Culture. Quality of Work Life. Cultural Artifacts in Restaurants. Lista de Figuras e Quadros Figura 1 – Desvendando a cultura de uma organização .......................................... 47 Figura 2 – A experiência de serviços observada como drama ................................. 52 Figura 3 – Desenho da Pesquisa ............................................................................. 74 Quadro 1 – Dimensões da Pesquisa ........................................................................ 77 Lista de Abreviaturas e Siglas ABERGO Associação Brasileira de Ergonomia ABIA Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação ABRASEL Associação Brasileira de Bares e Restaurantes PE Pernambuco PIB Produto Interno Bruto OMS Organização Mundial de Saúde QVT Qualidade de Vida no Trabalho SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Sumário Resumo Abstract Lista de Figuras e Quadros Lista de Abreviaturas e Siglas CAPÍTULO I Introdução ....................................................................................................... 19 1.1 Contextualização do Problema ................................................................. 19 1.2 Objetivos da Pesquisa .............................................................................. 24 1.2.1 Objetivo Geral .................................................................................. 24 1.2.2 Objetivos Específicos ...................................................................... 24 1.3 Justificativas da Pesquisa ......................................................................... 25 1.3.1 Justificativas Teóricas...................................................................... 25 1.3.2 Justificativas Práticas ...................................................................... 29 CAPÍTULO II Fundamentação Teórica ................................................................................ 32 2.1 Cultura Organizacional ............................................................................. 32 2.1.1 Elementos da Cultura Organizacional ............................................. 38 2.1.1.1 Valores ......................................................................................... 39 2.1.1.2. Crenças e pressupostos .............................................................. 40 2.1.1.3. Ritos, rituais e cerimônias............................................................ 41 2.1.1.4 Normas ......................................................................................... 42 2.1.1.5 Tabus............................................................................................ 43 2.1.1.6 Mitos ............................................................................................. 44 2.1.1.7 Símbolos e Sinais ......................................................................... 45 2.1.2 Níveis de Análise da Cultura Organizacional................................... 47 2.2 Interacionismo Simbólico e Palco Organizacional ................................... 51 2.3 Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) ...................................................... 55 2.3.1 Práticas de QVT .............................................................................. 59 2.3.1.1 Ambiente Físico Funcional ........................................................... 61 a) Ergonomia .................................................................................... 63 b) Iluminação .................................................................................... 67 CAPÍTULO III Metodologia da Pesquisa .............................................................................. 71 3.1 Caracterização da Pesquisa ..................................................................... 71 3.2 Desenho da Pesquisa ............................................................................... 72 3.3 Locus de Investigação .............................................................................. 75 3.4 Sujeitos da Pesquisa ................................................................................ 76 3.5 Dimensões da Pesquisa ........................................................................... 77 3.6 Técnicas de Coleta dos Dados ................................................................. 78 3.7 Processo de Coleta dos Dados ................................................................ 79 3.8 Técnicas de Análise dos Dados ................................................................ 82 3.9 Limites e Limitações da Pesquisa ............................................................. 85 3.9.1 Limites da Pesquisa......................................................................... 85 3.9.2 Limitações da Pesquisa ................................................................... 85 CAPÍTULO IV Análise dos Dados ......................................................................................... 87 4.1 Primeiro Espetáculo: Restaurante Alfa ..................................................... 88 4.1.1 Caracterização do Restaurante ....................................................... 88 4.1.2 Palco Organizacional ....................................................................... 89 4.1.3 Palco, Cenário e QVT: as percepções dos atores ........................... 94 4.2 Segundo Espetáculo: Restaurante Beta ................................................. 101 4.2.1 Caracterização do Restaurante ..................................................... 101 4.2.2 Palco Organizacional ..................................................................... 102 4.2.3 Palco, Cenário e QVT: as percepções dos atores ......................... 106 4.3 O Grande Espetáculo: análise comparativa entre os dois palcos organizacionais....................................................................................... 112 CAPÍTULO V Conclusão e Recomendações .................................................................... 115 5.1 Artefatos da cultura organizacional perceptíveis nos palcos organizacionais de restaurantes do Recife – PE................................... 115 5.2 Percepção dos atores e práticas de QVT, em termos de ergonomia e iluminação, adotadas nos palcos organizacionais de restaurantes do Recife – PE..............................................................................................117 5.2.1 Restaurante Alfa ............................................................................ 117 5.2.2 Restaurante Beta ........................................................................... 118 5.3 Recomendações ..................................................................................... 120 5.3.1 Recomendações de melhoria para os Restaurantes ........................... 120 5.3.2 Recomendações para novos estudos .................................................. 121 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 122 APÊNDICES .................................................................................................. 133 APÊNDICE A - Carta aos Restaurantes selecionados ........................................ 134 APÊNDICE B - Observação sobre a Cultura Organizacional............................... 135 APÊNDICE C - Roteiro de Entrevista aos protagonistas ..................................... 137 19 CAPÍTULO I Introdução Este capítulo traz, inicialmente, uma contextualização sobre aspectos da Cultura Organizacional e da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) que possam interferir na funcionalidade do ambiente físico. Aborda-se de que forma este espaço pode ser moldado e ou influenciado pela cultura organizacional, ao passo que esta é considerada uma ferramenta para o sucesso de organizações no mercado competitivo contemporâneo. Após o delineamento do presente estudo, apresenta-se o problema de pesquisa e, em sequência, os objetivos e as justificativas deste trabalho. 1.1 Contextualização do Problema A organização do trabalho vem se modificando à medida que as transformações do mundo contemporâneo ganham maiores proporções e influenciam, de forma definitiva, a vida de pessoas e organizações, demonstrando a importância de proporcionar um ambiente planejado em função de atender às necessidades físicas e psíquicas, favorecendo melhores condições de vida e a plenitude dos trabalhadores nesse espaço. Brum (2003) afirma que proporcionar, portanto, um ambiente agradável e saudável, gera maior produtividade para a empresa, e, sobretudo para seus clientes internos, percebidos como um importante capital para elas, objeto deste estudo. É neste contexto que QVT entra em cena, pois um dos seus objetivos é contribuir para o melhor desempenho não somente das organizações, mas principalmente das pessoas. Autores como Mourão, Kilimnik e Fernandes (2005) 20 apontam que apesar de haver várias perspectivas e visões teóricas sobre a QVT, é a satisfação no trabalho que proporciona maiores benefícios para as organizações. Neste mesmo sentido, Rodrigues (1994), Honório (1998) e Limongi-França (2004) afirmam que fatores físicos das organizações interferem diretamente na satisfação dos indivíduos e consequentemente na qualidade de suas vidas (e de suas vidas no trabalho), visão esta ainda apoiada por biólogos, sociólogos e psicólogos. Adequar, portanto, o ambiente de trabalho, aqui chamado de palco organizacional, pode ser considerada uma forma de contribuir com a satisfação dos colaboradores. Desta maneira, o ambiente físico funcional, mesmo contando com diversas vertentes de abordagem, constitui-se num tema interessante tanto para o mundo acadêmico como para o empresarial. Diante desta constatação é que monta a importância das organizações entenderem e adequarem seus palcos organizacionais, os quais têm sido preocupação da literatura especializada. Ainda de acordo com essa visão, Leucz (2001) compreende como arranjo físico, dentre outros fatores, as instalações, o mobiliário, a moldura do ambiente, a disposição dos equipamentos e utensílios, a iluminação, os ruídos, a coloração utilizada, odores, o espaço para se locomover e comunicar-se. Desta forma, negligenciar aspectos físicos do ambiente referentes à iluminação, ergonomia e à má organização do layout geram tanto a ineficiência das tarefas como a predisposição para doenças causadas pelo trabalho. Processos de adoecimento estão ligados a fatores físicos, biológicos, sociológicos e psicológicos do trabalho, quando estes entram em conflito com necessidades e aspirações dos trabalhadores (HONÓRIO, 1998; PAIVA, 1999; LIMONGI-FRANÇA; RODRIGUES, 2007). Relacionadas ao processo de adoecimento da humanidade é então que as questões concernentes ao tema QVT assumem maior relevância. A preservação da saúde do trabalhador é um critério importante para a QVT, definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1986, não apenas pela ausência de doenças, mas também o completo bem estar biológico, psicológico e social do indivíduo. Nessa perspectiva, é que monta a importância em se estudar as questões relacionadas ao ambiente (físico e social) de trabalho, neste estudo denominado de 21 cenário de trabalho ou palco organizacional. Esta última denominação se apoia no conceito adotado por Vergara, Carvalho e Gomes (2004), como sendo o lugar de trabalho (ambiente físico) onde acontecem as cenas de teatro, tanto para os funcionários (elenco, atores ou protagonistas), quanto para os clientes (plateia ou audiência); é válido deixar claro que, palco organizacional para esta pesquisa, relaciona-se às questões físicas das instalações, mais especificamente com os aspectos de ergonomia (circulação e layout) e iluminação (decoração e cores), bem como às questões culturais, como por exemplo, a comunicação interna e externa, verbal e não verbal nos palcos analisados. Considerando as questões físicas do palco organizacional, figura a ergonomia, que busca adequar o ambiente de trabalho ao ser humano nas suas características físicas e psicológicas, objetivando assegurar saúde e segurança além da interação do funcionário com o ambiente de trabalho, traduzida pela sensação de conforto que esse pode provocar no trabalhador, resultando numa melhor produtividade quando do desenvolvimento das atividades laborais (ETTINGER, 1964; SANTOS et al., 1997). Com a mesma preocupação, Ribeiro (2004) afirma ser importante observar fatores relacionados à iluminação do ambiente, visando proporcionar ao trabalhador um melhor desenvolvimento de suas atividades com o máximo de acuidade visual. Acredita-se que conseguir agregar valores e contribuições no sentido de melhorar a QVT seja mais fácil em organizações que tenham uma cultura aberta a melhoria das condições de vida e de trabalho, portanto, conhecer a cultura de uma empresa tem se mostrado um fenômeno capaz de influenciar aspectos da vida organizacional, como por exemplo, o bem estar dos funcionários (OLIVEIRA; TAMAYO, 2004). Partindo-se de uma visão da cultura em uma ótica integrativa, constitui-se a cultura organizacional em propriedade de uma unidade de caráter social, estável e coesa. Pode-se considerar a cultura de uma empresa como a ‘cola’ que busca manter juntos os seus membros, o que pode contribuir para o sucesso das organizações (CAMERON; QUINN, 1999). Inicialmente considerada como modismo da administração, foi ganhando adeptos e, atualmente, a cultura organizacional é analisada como ferramenta para condução de processos de mudança ou solução de problemas de ordens interna e 22 externa às organizações e para se obter o máximo desempenho de seus funcionários é imprescindível que a empresa valorize-os, através de informação, preparação e colaboração na busca da satisfação de suas necessidades (FREITAS, 2007; CARNEVALLI; TÓFANI, 2008). Entretanto, percebe-se que em algumas organizações, parece ser mantida uma cultura onde a maior preocupação é de ainda impressionar e conquistar o consumidor ou cliente externo, ao invés de buscar também um ambiente mais favorável e harmonioso para os funcionários. Por experiência da autora, é esse o ‘retrato’ que pode ser encontrado na maioria dos restaurantes localizados em Recife – PE, por exemplo: uma cultura ainda interessada em encantar mais o cliente externo do que os internos. Até este ponto já se percebe que a cultura é uma ferramenta capaz de auxiliar processos de adequação e mudanças em termos organizacionais (FREITAS, 2007), supõe-se, portanto, que a montagem dos espaços físicos das empresas seja orientada por sua cultura e neste sentido é que Vergara, Carvalho e Gomes (2004) afirmam que o ambiente físico organizacional, por eles denominado de ‘fachada’, poderá controlar pedagogicamente, coercitiva ou sutilmente, o olhar dos indivíduos, com a finalidade de que obtenham propósitos políticos, econômicos e culturais. Ratificando este pensamento, que autores como Tolfo, Silva e Luna (2009) afirmam ser os conceitos e dimensões de QVT adotados pela empresa a representação das suas expressões de cultura organizacional, manifestas por meio de práticas que repercutem na construção da identidade do trabalhador, dos seus processos de trabalho, do ambiente físico e psíquico, das questões de tecnologia e organização, enquanto ‘entidade’ construída por pessoas. Na visão de Vergara, Carvalho e Gomes (2004), não se pode restringir o fenômeno teatral ao edifício e ao palco, apesar de poder ser melhor visualizada nesses aspectos, pelo fato de que a relação do homem com o ambiente físico foi determinante para que as sociedades humanas pudessem chegar ao seu atual estágio de desenvolvimento. Nos dias atuais, o espetáculo dita as normas de organização e produção, a espacialidade ganha contornos nítidos no desenvolvimento do ambiente de trabalho (VERGARA, CARVALHO; GOMES, 2004). 23 O reconhecimento de vários aspectos da prestação de serviços vistos como encontros de natureza teatral são defendidos por diversos autores (SOLOMON et al., 1985; GROVE; FISK, 1992; BITNER, 1992; BITNER, 1995, GROVE; FISK; DORSCH, 1998; GROVE; FISK; LAFORGE, 2004; GUIMARÃES, 2009). Desta forma, pode-se afirmar que várias características identificadas em encontros de serviços possuem elementos como em peças teatrais. Para Grove, Fisk e Dorsch (1998) os fornecedores de serviços, os quais ocorrem em determinado espaço físico, denominados como palco organizacional, caracterizam-se como ‘atores’ e têm como principal papel definir sua qualidade, analisada segundo o desempenho de sua atividade (BITNER, 1992). O cliente, aqui considerado como ‘público’ vai interagir ou observar um indeterminado número de fenômenos teatrais, como: cenários, adereços, fantasias, rotinas etc., combinados entre si com a finalidade de criar uma experiência de serviço (GROVE; FISK; BITNER, 1992). De acordo com Vergara, Carvalho e Gomes (2004), a compreensão acerca de como os diretores conduzem o olhar de atores e audiências para o espetáculo da interação humana, utilizando-se do ambiente físico da organização, bem como buscando guiar e controlar suas mentes, constitui-se em questão fundamental. Tendo-se em vista que nesta pesquisa foram utilizados recursos teatrais, se faz necessário explicar a origem dessa abordagem apresentada por Goffman (1959). Entretanto, por se tratar de uma publicação muito antiga e, por conseguinte da dificuldade em localizá-la, consultou-se sua versão de 2007 e, que foi reinterpretada, para o contexto de cenários de serviços, por Grove, Fisk, Bitner (1992). Neste sentido, tendo como base teórica a metáfora teatral apresentada por Grove, Fisk e Bitner (1992), objetiva-se identificar significados nas relações entre agentes (atores ou empregados), consumidores (clientes, audiências ou plateias), desempenho (performance3) e espaços (ambientes ou palcos) em restaurantes do Recife - PE. Assim, caracterizado o ambiente dos restaurantes como espaço dramatúrgico, pode-se observar as várias interações entre os atores ali presentes e 3 De acordo com Goffman (2007, p. 23) um desempenho ou performance é “toda atividade de um determinado participante, em dada ocasião que serve para influenciar de algum modo, qualquer um dos outros participantes”. 24 os significados dessas interações; os restaurantes são caracterizados como o grande ’palco’, onde os ‘atores’ (empregados e clientes) exercem seus papéis a fim de obter relacionamentos duradouros por meio de contatos comerciais. Sendo assim, esta pesquisa propõe a seguinte questão: como a cultura organizacional orienta práticas de QVT, representadas nos palcos organizacionais de restaurantes do Recife – PE? Para responder a essa questão, na seção seguinte estão estabelecidos os objetivos desta pesquisa. 1.2 Objetivos da Pesquisa 1.2.1 Objetivo Geral Investigar como a cultura organizacional orienta práticas de QVT, representadas nos palcos organizacionais de restaurantes do Recife - PE. 1.2.2 Objetivos Específicos I. Identificar artefatos da cultura organizacional perceptíveis nos palcos organizacionais de restaurantes do Recife - PE. II. Identificar práticas de QVT, em termos de ergonomia e iluminação, adotadas nos palcos organizacionais de restaurantes do Recife – PE. III. Verificar as percepções dos funcionários, quanto às práticas de QVT, em termos de ergonomia e iluminação, nos palcos organizacionais de restaurantes do Recife- PE. 25 1.3 Justificativas da Pesquisa 1.3.1 Justificativas Teóricas Verifica-se que o estudo da cultura organizacional se converteu em um tema de interesse para todos que estudam a dinâmica das organizações, principalmente como forma de conhecê-las melhor e, consequentemente, elaborar estratégias de ação. O mesmo pode-se dizer quando se trata de QVT, que, juntamente com Cultura Organizacional, apesar de não constituírem abordagens recentes, continuam sendo considerados importantes pelo fato de tratarem da realidade de organizações e profissionais (independente de seus cargos, funções e até consciência). Possibilitar o desempenho das pessoas da empresa é fator primordial na gestão de pessoas, e, portanto, é imprescindível voltar a atenção para as condições do trabalho desenvolvido. Rio e Pires (2001, p. 23) afirmam que “a otimização do trabalho é um fator fundamental para o sucesso de pessoas e organizações, num mundo de alta competição, em que saúde e excelência de desempenho são aspectos fundamentais”. É pela ergonomia, como ciência que busca esse entendimento da pessoa humana em suas atividades, que se propõe alternativas para se obter, de forma otimizada, segura e saudável, resultados com o mínimo de desgaste, maior satisfação e conforto no palco organizacional. A ergonomia passa a ser fundamental, pois se alicerça no estudo da capacidade do homem, ou seja, nas limitações, potencialidades ou diversidades físicas e psíquicas. Portanto, permite definir parâmetros ergonômicos para a pesquisa, de forma a atingir seus objetivos (TANURE; CARVALHO NETO; ANDRADE, 2007). Os resultados decorrentes da análise do palco organizacional pela linha dramatúrgica poderão fazer com que as organizações e seus profissionais possam se utilizar das informações levantadas sobre as condições de trabalho, posto de trabalho, ambiente e cultura, para propor mudanças de adequação do trabalho à pessoa, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, esperando que essas 26 decisões possam se transformar em diferencial competitivo (PINTO; BATISTA, 2007). Semelhantemente, pode-se considerar, ainda, este trabalho interessante, quando a abordagem se dá em restaurantes, onde se verifica a escassez de pesquisas nesse setor, extensivo a bares e empresas de entretenimento. Tal setor, segundo a Associação Brasileira de Bares e restaurantes (ABRASEL), representa, atualmente, 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e o hábito de alimentação fora de casa encontra-se numa curva ascendente e já corresponde a 26% dos gastos dos brasileiros (ABRASELa, 2011). Segundo a ABRASEL este segmento conta com aproximadamente um milhão de estabelecimentos, de acordo com dados fornecidos em dezembro de 2006 pela Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (ABIA), responsável, portanto, por 53% da mão de obra do setor de turismo no país. Com a projeção de desenvolvimento para este seguimento, nos próximos anos, vários impactos socioeconômicos podem ser previstos: vão desde o aumento do percentual da alimentação fora do lar no PIB até um maior índice de inclusão social - negros, deficientes, mulheres e jovens - e da melhoria das condições de saúde e segurança do alimento (ABRASELa, 2011). No que diz respeito à realidade do Estado de Pernambuco pode-se averiguar que atualmente possui cerca de 10 mil estabelecimentos atuando no setor de alimentação - bares, restaurantes, lanchonetes e similares, sejam eles formais ou informais - e sua grande maioria está concentrada na região metropolitana (ABRASELb, 2011). Justifica-se, ainda, este trabalho, quando se reconhece que, fornecer um produto atraente ao seu público interno, mediante emprego e um ambiente de trabalho atraente e que atenda às suas necessidades, poderá fazer com que este responda de forma favorável às demandas organizacionais. Isto poderá contribuir para que os funcionários sintam-se importantes e valorizados pelo trabalho que desempenham (BRUM, 2003). Pouco se sabe, no entanto, ou têm-se suposições equivocadas a respeito do que desejam e sentem os empregados e, portanto, a prática da arte da pesquisa 27 neste sentido é muito importante (BERRY; PARASURAMAN, 1995; LOVELOCK; WRIGHT, 2006). Carvalho e Motta (2002) afirmam que os reias efeitos das instalações físicas dos cenários de trabalho ou palcos organizacionais não são adequadamente conceituados, sendo então necessário, o desenvolvimento de mais estudos acerca dessa temática. Esses autores acrescentam que as implicações desses espaços nos comportamentos humanos carecem de documentação científica, e por isso defendem que estudos sobre os espaços de serviços precisam de mais proposições de instrumentalização teórica. Neste mesmo sentido, autores como Craik (1981), Donovan e Rossiter (1982), Baker, Grewal e Levy (1992), Bitner (1992), Gottdiener (1998), Otnes (1998), Sandikci e Holt (1998), Carvalho, Hemais e Motta (2001), Carvalho, Tigre e Carvalho (2002), Hoffman, Kelley e Chung (2003), Carvalho e Motta (2004), Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005), Loures e Campomar (2005), Lovelock e Wright (2006), Santos, Costa e Cardoso (2008) e Levy e Weitz (2011) afirmam que mesmo quando consideradas somente as instalações físicas dos cenários de serviços, os efeitos reais do ambiente sobre os clientes externos e internos continuam pouco exploradas e suas implicações carecem de mais proposições de instrumentalização teórica e documentação científica. Diante desse cenário, a investigação proposta, visa contribuir para a reflexão sobre a relação entre indivíduos e organizações, além de proporcionar um melhor entendimento dos constructos cultura organizacional e QVT em restaurantes, e desta forma inspirar gestores nas organizações a refletirem sobre a importância do palco na gestão de pessoas. Tratam-se as organizações de um misto de recursos físicos, financeiros, mercadológicos, administrativos e humanos representando este último uma grande relevância, pelo fato de representar o ativo intangível, parte do capital intelectual organizacional, com vistas a propiciar maior rentabilidade e possibilidade de manterse no mercado. O fato de que se considerar as organizações como interação entre os indivíduos e os objetivos organizacionais, demonstra como sendo ainda mais necessária que sejam corretamente geridos seus recursos humanos, possibilitando- 28 se obter a performance necessária a um bom andamento dos processos corporativos e da obtenção dos objetivos organizacionais (KRAMER; FARIA, 2007). Ações voltadas a se fazer com que os funcionários possam se realizar e sentir-se parte da organização, podem constituir-se em condições para o desencadeamento de processos de identificação, podendo gerar estímulos, descobertas e formas de realização das atividades, de modo que o espaço organizacional passe a ser considerado como sendo um importante palco para que se potencializem as existências. Desta forma, o grupo, o trabalho e a organização irão constituir-se na base central representada do eu para o indivíduo. Assim, quanto maior o reconhecimento do indivíduo nos mais variados aspectos, seja no grupo ou na organização a qual está vinculado, maior será a força desses elementos para a construção do conceito de si. “Do ponto de vista organizacional, isso implica um ambiente de trabalho favorável, no qual seus integrantes manifestam autonomia e segurança na realização de suas tarefas” (MACHADO, 2003, p. 65). Nessa linha de raciocínio, compreende-se que investimentos na adequação dos palcos organizacionais podem estimular o desempenho das funções dos colaboradores, o que pode contribuir para que as organizações tenham feedbacks positivos, favorecendo o andamento de todo o processo, proporcionando aos indivíduos maior resistência ao estresse, estabilidade emocional, motivação, eficiência no trabalho, autoimagem e relacionamento interpessoal. Desta maneira, abordar questões que relacionem ambiente físico e trabalho, pode apresentar-se como mais uma ferramenta em termos gerenciais, sendo, para isso, necessário que novos e mais aprofundados estudos sejam realizados, uma vez reconhecida a necessidade de integração holística empresarial. De outra forma, as organizações podem ser favorecidas com uma força de trabalho mais saudável, com menos absenteísmo/rotatividade, número de acidentes reduzidos, menores custos assistenciais de saúde, maior produtividade, melhor imagem e conquista dos objetivos organizacionais. Por fim, o presente estudo justifica-se, ainda, por propor unir conhecimentos de cultura organizacional e QVT em restaurantes e verificar de que modo a questão ambiental afeta a qualidade de vida e é definida pela cultura organizacional. Ou seja, 29 é um estudo que vai permitir unir conhecimentos de gestão de pessoas, arquitetura e design em organizações que têm como objetivo o atendimento ao cliente. A relevância acadêmica em se analisar a questão dos palcos de trabalho, baseia-se no fato de buscar, e, sobretudo, ressaltar, de que maneira aspectos observados nos edifícios, podem contribuir para se estabelecer e reforçar as instâncias ideológicas, políticas e socioeconômicas das relações humanas (VERGARA; CARVALHO; GOMES, 2004). Esses mesmos autores concluem que a relação do indivíduo com o espaço se dá pelo processamento das imagens apreendidas, justificando, desta forma, a natureza pedagógica dessa relação. Neste contexto, asseveram que a negligência às questões da ‘educação’ pedagógica deste olhar, por conseguinte acarreta a carência literária desta temática (VERGARA; CARVALHO; GOMES, 2004). 1.3.2 Justificativas Práticas Deseja-se que as atividades desenvolvidas em restaurantes não se exerçam em situações inadequadas, deve-se cuidar da inadequação tornando o trabalho eficiente tanto do ponto de vista do desempenho das pessoas (a saúde e o conforto), do desempenho da produção (da qualidade, da produtividade e da segurança), do trabalho e dos impactos no meio ambiente. Justifica-se o presente trabalho, pelo fato de buscar investigar a cultura organizacional de restaurantes que ofereçam produtos/serviços de naturezas semelhantes, e, no caso deste estudo, especificamente, um restaurante franqueado e um independente. Silva e De Marchi (1997) asseguram que os programas de qualidade de vida e promoção da saúde nos locais de trabalho estão se tornando parte integrante da cultura das organizações e por isso tem sido fortemente discutido. Esses autores 30 mencionam a importância e o impacto que os programas neste sentido têm causado nas relações entre pessoas, trabalho e organizações. Sá et al. (2007) afirmam que apesar dos inúmeros estudos e pesquisas mostrando a eficiência do tema QVT para as organizações, é ainda pouco explorado na prática, em especial, no caso do presente trabalho, quando se dá no ambiente de restaurantes. Justifica-se também esta pesquisa, pela oportunidade em colaborar para que os restaurantes investigados tomem conhecimento de aspectos relevantes da sua cultura além de fazê-los conhecer a percepção de seus funcionários sobre práticas de QVT em termos de ambiente físico funcional. Isto constitui uma ferramenta importante de suporte, que pode subsidiar e contribuir, de forma significativa, para o desenvolvimento de sua gestão. A experiência da autora, por mais de dez anos, como gestora de uma rede de restaurantes tanto no varejo como em indústrias, enfatiza a necessidade de que as questões propostas para o presente estudo sejam observadas. Salienta que sua inobservância gerava problemas não só de ordem interna, relacionadas à produtividade e ao funcionamento organizacional em sua plenitude, mas em especial, às dificuldades da vida do trabalhador, como por exemplo, luxações 4 oriundas do deslizamento em pisos escorregadios, licenças por problemas de ordem psíquicas5 e aposentadorias por invalidez6. Também foi observado pela autora, durante o período em que geriu seus estabelecimentos, que a compreensão da cultura organizacional, por seus colaboradores, poderia impactar em sua produtividade assim como na forma de se relacionarem com as tarefas desenvolvidas e com o ambiente de trabalho. Além da prática com as rotinas e necessidades de um restaurante, em particular ao que se refere ao ambiente físico funcional, afirma ainda a autora que as questões a serem investigadas pelo presente estudo podem se tornar uma ferramenta para quando da concepção de novos espaços deste seguimento, tanto 4 Uma luxação é o deslocamento repentino e duradouro, parcial ou completo de um ou mais ossos de uma articulação. Sucede quando uma força atua diretamente ou indiretamente numa articulação, empurrando o osso para uma posição anormal. Ele pode ser confundido com entorse. 5 Tais como depressão, stress dentre outras. 6 É o benefício concedido ao segurado da Previdência Social atingido pelo risco social incapacidade total e definitiva para o trabalho. 31 para ela, como para a comunidade de profissionais que atuam na construção e adequação de palcos de trabalho. Portanto, este trabalho se justifica, ainda, por poder proporcionar a gestores, arquitetos, designers e profissionais que atuam na construção e adequação de palcos de trabalho, verificar de que forma o ambiente físico pode contribuir para a qualidade de vida dos colaboradores. Ou seja, torna-se fundamental que os locais de trabalho sejam pensados levando-se em consideração os aspectos de conforto ambiental, propondo buscar no cenário e no palco do trabalho motivos e incentivos que elevem o nível de QVT dos funcionários de restaurantes. Amplia-se a justificativa para o presente estudo, quando se evidencia que na literatura específica não foi encontrada ainda, pela autora, nenhuma abordagem que unisse os constructos: cultura organizacional, QVT e palco organizacional no ambiente de restaurantes, trazendo desta forma o ineditismo do tema e a colaboração para a comunidade acadêmica e de gestão. Desta forma, acredita-se poder contribuir para melhorar a QVT nos restaurantes, de modo a ajudar a reter os funcionários e vinculá-los aos objetivos organizacionais, diminuindo assim custos envolvidos com rotatividade e treinamento. Tendo visto aspectos da Cultura Organizacional e de QVT que possam interferir na funcionalidade do ambiente físico, passa-se, no capítulo seguinte, às bases teóricas que vão fundamentar este trabalho. 32 CAPÍTULO II Fundamentação Teórica Este capítulo apresenta as temáticas que vão dar sustentação teórica ao presente estudo. Em sua primeira seção trata-se da cultura organizacional e em seguida QVT. 2.1 Cultura Organizacional A origem etimológica da palavra cultura remonta no verbo latino colere que, na antiga Roma, associava-se ao trabalho agrícola de cultivar a terra, de semear a natureza. O emprego do termo evoluiu ainda na própria Roma, passando à ideia de refinamento e sofisticação pessoal ou ainda de cultivo da natureza humana (SANTOS, 1983). Ao final do século XVIII, os estudos de Laraia (2009) apontam, que na Germânia usava-se o termo kultur para referir-se aos aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto que a palavra francesa civilisation referia-se às realizações materiais de um povo (LARAIA, 2009). Em 1917 ambos os termos foram sintetizados pelo britânico Edward Tylor (1871, apud LARAIA, 2009) no vocábulo inglês culture que, tomado em seu amplo sentido etnográfico e significando conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábito adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. A dimensão fornecida por Tylor para a palavra cultura abrange possibilidades de realizações humanas, além de marcar o caráter de aprendizado da mesma e desta forma nasceu o primeiro conceito formal ou científico de cultura. 33 Para o antropólogo americano Harris (1969) a noção de cultura surgiu com John Locke, ao escrever um ensaio acerca do entendimento humano, em que ele procura demonstrar que a mente humana não ultrapassa uma caixa vazia no momento do nascimento, com capacidade ilimitada de obter conhecimento, pelo processo de endoculturação7. Ë válido ressaltar que foi a partir do conceito de Tylor que a noção de cultura tornou-se o foco das atenções para a antropologia, e mesmo que não haja um conceito pacífico entre os estudiosos, é o que ainda se mostra mais consensual sobre a definição de cultura, mesmo um século depois (LARAIA, 2009). Diante do exposto, salienta-se que é, portanto, a antropologia social ou cultural (ramo da antropologia), que vem demonstrando interesse pela temática e que tem as definições de cultura, frequentemente, transplantadas para os estudos das organizações. Desta maneira, percebe-se a dificuldade em conceituar o termo, no entanto, quando pode se compreender a definição para a palavra cultura, embora se saiba das várias nuances que ela possa assumir, antropólogos, sociólogos, psicólogos sociais e outros pesquisadores, começaram a estudar e a discutir sobre sua influência sobre as pessoas, organizações e sociedade. Assim, se não existe, na literatura, um consenso para a definição de cultura, também não se podem apontar com precisão os motivos que trouxeram o uso desse termo para o mundo organizacional. A primeira explicação para aproximação dos universos foi a crescente competitividade das companhias japonesas e paralelamente a perda de produtividade das empresas norte-americanas no final da década de setenta e o início da década de oitenta (FREITAS, 2007; BARBOSA, 2009). Desta forma, em termos organizacionais pode-se afirmar que a ideia de enxergar as organizações como uma realidade cultural é um fenômeno relativamente recente. Até meados da década de oitenta, as organizações eram vistas, quase sempre, apenas como uma forma racional de coordenar e controlar um grupo de pessoas (SMIRCICH, 1983). 7 Endoculturação é o processo permanente de aprendizagem de uma cultura que se inicia com assimilação de valores e experiências a partir do nascimento de um indivíduo e que se completa com a morte. 34 Em 1983, o periódico Administrative Science Quarterly aprofundou as relações acadêmicas aos estudos organizacionais, quando Smircich (1983) traçou diretrizes para o entendimento de conceitos de cultura organizacional, dentre as quais se podem destacar a distinção entre a noção de cultura como variável independente, ou algo que a empresa possui, e a noção de cultura como metáfora da realidade organizacional, ou algo que a organização é de fato. Destaca-se que, no mesmo periódico, três anos antes, a expressão ‘cultura organizacional’ foi definida como sendo sistema de significados pública e coletivamente aceitos por um grupo em um determinado momento (PETTIGREW, 1979). Para os que debruçam sobre o campo da gestão nas organizações, como é o caso deste estudo, a proposição sugerida por Smircich (1983) mostra-se resolvida, vez que a compreensão da ‘cultura como algo que a organizações é de fato’, parece aproximar-se mais da antropologia, restando, apenas o entendimento da ‘cultura como algo que a organização possui’. Entende-se que esse sentido engloba, aspectos antropológicos, no entanto funciona como variável independente. Neste sentido, Carvalho e Ronchi (2005) afirmam ser impossível afastar as organizações do ambiente cultural em que existem, e apontam o trabalho de Pfiffner e Sherwood8 como sendo o precursor na incorporação de conceitos oriundos da antropologia ao mundo organizacional. Portanto, por não haver unanimidade conceitual no estudo da cultura organizacional, aprofundar o seu conhecimento e aplicá-lo na realidade social das empresas constitui-se num desafio para os estudiosos do tema e pode trazer várias contribuições para o desenvolvimento da Teoria das Organizações. Considerando os processos de mudança que a humanidade tem enfrentado, e com elas o reconhecimento da importância do capital humano para as organizações, percebe-se que essas deixam de ser somente departamentos, relações de autoridade ou níveis hierárquicos e passam a apresentar personalidade própria, podendo ser rígidas ou flexíveis, hostis ou apoiadoras, inovadoras ou conservadoras, conforme o seu modelo cultura (SCHEIN, 2009). Consoante com esse raciocínio, o mesmo autor afirma que a cultura é percebida como a principal 8 PFIFFNER, J.; SHERWOOD, F. Organização administrativa. São Paulo: Bestseller, 1965. 35 fonte de identidade de uma organização, visão esta ainda apoiada por muitas das ciências sócias. Fleury (2002) evidencia esta visão integrativa, quando define a cultura não apenas como instrumento de poder, mas também como um conjunto de representações sociais imaginárias que se constroem nas relações cotidianas da organização, expressas em valores, normas, significados e interpretações, visando um sentido de direção e unidade fazendo com que a organização seja fonte de identidade e de reconhecimento para seus membros. Para Ernest (1985, p. 49), “a cultura é um sistema de valores e crenças compartilhados que modelam o estilo de administração de uma empresa e o comportamento cotidiano de seus membros”. Desta maneira, portanto, o termo ‘cultura organizacional’ foi surgindo e se popularizou como resultante da combinação do conceito de cultura com outros oriundos do universo organizacional e de negócios. Com este termo, os teóricos da administração procuram chamar a atenção para a importância da esfera simbólica do mundo organizacional, ou seja, como o comportamento das pessoas é impactado pelo cenário organizacional (SCHEIN, 2009). A partir de raízes antropológicas e sociológicas, nos últimos setenta anos, diversos conceitos sobre cultura organizacional são apresentados por muitos autores com caminhos e perspectivas diferentes e sob os mais diferentes enfoques teórico-metodológicos, bem como vários métodos para sua investigação no âmbito das organizações. Autores como Naves e Coleta (2003) apontam haver nas organizações uma energia social direcionando seus membros a adotarem um padrão de conduta e funcionando também como um mecanismo de controle, capaz de aprovar ou não seus comportamentos. É necessário, portanto, considerar a importância do caráter que cada organização possui, portanto, por mais que estejam inseridas no mesmo contexto sócio-econômico-cultural, tem seu universo e características próprias. Na compreensão de Freitas (2007), a cultura, no âmbito das organizações, pode ser percebida como um poderoso mecanismo que busca conformar condutas, homogeneizando maneiras de pensar e viver a organização, e proporciona a ideia de que todos são iguais, disfarçando as diferenças e anulando a reflexão. Tal conceito induz o entendimento de que a cultura é passível de planejamento e 36 processos de mudança diante dos interesses da organização, sem que os indivíduos tenham a oportunidade de interagir e contribuir para a formação daquela cultura. O entendimento de Freitas (2007), no entanto, diverge do de outros autores de presença literária marcante acerca desta temática. Neste sentido, destacam-se, entre as várias obras consultadas, a visão de autores que parecem ser mais significativas para a literatura especializada e que dão suporte para uma reflexão a respeito do tema, proporcionando o aporte teórico para o presente estudo. Entre os conceitos de autores de maior presença no mundo acadêmico voltado para os estudos organizacionais, podem-se destacar dois: o primeiro deles destaca, em sua obra, que a “programação coletiva da mente que distingue os membros de uma organização dos de outra” (HOFSTEDE, 2003, p. 210) e a outra conceituação afirma ser a cultura de um grupo pode ser definida como um padrão de suposições básicas compartilhadas, que foi aprendido por um grupo à medida que solucionava seus problemas de adaptação externa e de integração interna. Esse padrão tem funcionado bem o suficiente para ser considerado válido e, por conseguinte, para ser ensinado aos novos membros como o modo correto de perceber, pensar e sentir-se em relação a esses problemas (SCHEIN, 2009, p. 16). Ë valido lembrar que Fleury (2002) aponta a cultura não apenas como instrumento de poder, mas também como um conjunto de representações sociais imaginárias que se constroem nas relações cotidianas da organização, expressas em valores, normas, significados e interpretações, visando um sentido de direção e unidade fazendo com que a organização seja fonte de identidade e de reconhecimento para seus membros. Desta forma, é válido ressaltar que para Schein (2009) a cultura é percebida como a principal fonte de identidade de uma organização, e, portanto, deve ser entendida como uma forma capaz de tornar uma organização mais eficiente e eficaz. Mesmo diante do ‘peso’ dos conceitos apresentados, é importante destacar que as possibilidades conceituais para o tema não foram esgotadas, no entanto, diversos autores considerarem o conceito de cultura organizacional apresentado por Schein (2009) como sendo o mais abrangente, à medida que sugerem que autor se preocupou em ir além dos comportamentos observáveis, e destacou a importância 37 da aprendizagem do grupo e reconheceu que a cultura tem funções específicas (FREITAS, 2007; FLEURY, 2009). A definição apresentada por Schein (2009) ainda contribuiu para o reconhecimento de que a cultura não é estática nem engessada pela empresa, levando a compreensão do caráter dinâmico que ela possui, e que, portanto, é passível de ser modificada, aprendida e transmitida para os indivíduos nas organizações. Corroborando com a linha de pensamento de Shein (2009), Thévenet (1989, p. 15) afirma que “a cultura não é um estado; evolui permanentemente porque constitui um processo contínuo de aprendizagem da própria organização”, em outras palavras, o processo de adaptação da cultura vai ocorrer quando houver necessidade, e sua construção se dá com as reações da organização à novas situações. A manifestação da cultura, segundo Schein (2009), se dá em três níveis: artefatos, crenças e valores expostos e suposições básicas. O autor afirma ainda, que há entre eles uma gradação de profundidade e de visibilidade para o conhecimento da cultura. Neste trabalho, os níveis da cultura organizacional vão ser analisados na seção 2.1.2. A cultura, por si só, é um tema complexo, mas que se analisada, como pode se constituir numa importante ferramenta para o sucesso das organizações, vez que busca alcançar diversos ‘braços’ da organização (SCHEIN, 2009). Neste sentido, conceituar a cultura por seus elementos, segundo Freitas (2007), é uma tarefa envolvente e plena de detalhes, que podem passar despercebidos na organização. Essa autora acrescenta que, quando de um estudo mais minucioso, tais elementos podem causar surpresa, ao serem reconhecidos alguns de seus traços. Na seção seguinte serão apresentados os principais elementos que compõem a cultura das organizações, considerados pelos estudiosos as ferramentas necessárias para anunciar à sociedade as trilhas que revelam a cultura de uma organização ou de um grupo de gestão, pautadas pela literatura como sendo o caminho que se deve seguir para conhecer a cultura de uma organização. 38 2.1.1 Elementos da Cultura Organizacional As definições sobre cultura organizacional trazem, como ideia central, a noção de um fenômeno estruturante, padronizante e estabilizante do comportamento, da maneira de agir e de pensar, da performance dos valores, das crenças e da transmissão de informações. Sabe-se que toda cultura organizacional é composta por alguns elementos a partir dos quais ela é definida. O estudo de tais elementos está presente na grande maioria dos trabalhos acerca da temática ‘cultura organizacional’. Os estudiosos buscam entender e explicar o fenômeno por meio dos elementos culturais, e apontam a importância de ‘desvendamento’ para a organização. Neste sentido, Freitas (2007) acredita que a descrição dos elementos da cultura, procura compreender a forma como eles funcionam e as mudanças comportamentais que eles podem provocar. Esta é uma visão que possibilita dar um tratamento mais concreto ao tema, além de facilitar o seu reconhecimento. Ao aprofundar-se no tema, percebe-se que a maior parte dos autores ratifica a importância de se estudar a cultura de uma organização, entretanto, concordam que a cultura é um termo complexo, fundamentada em vários elementos, estando alguns deles implícitos e outros explícitos (GROESCHEL; DOHERTY, 2000 p. 14). Autores como Tamayo (1996), Freitas (1991) e Freitas, (2007) dizem que a cultura é estabelecida por elementos compartilhados, os quais instituem os padrões para perceber, pensar, agir e se comunicar, e ainda, que, tais elementos são capazes de fazer da cultura, uma fonte de identificação, funcionando, desta forma, como ‘cimento que mantém os membros unidos’, traduzindo a mensagem acerca do que se considera importante ou válido para aquela organização. Há dentre os elementos, que integram o constructo cultura, alguns mais citados pela literatura especializada, a saber: valores; crenças e pressupostos; ritos, rituais, cerimônias; estórias e mitos; tabus; heróis; normas (NAVES; COLETA, 2003; FREITAS, 2007; TAMAYO, 1996). 39 Diante do cenário até aqui apresentado, acredita-se, que para responder à pergunta de pesquisa (seção 1.2.1) proposta para este estudo, será necessário buscar nos elementos, condições que leve ao reconhecimento e posteriormente ao diagnóstico cultural. Supõe-se, que pelo estudo desses elementos seja possível compreender como a cultura orienta práticas de QVT, representadas nos palcos organizacionais de restaurantes do Recife - PE. Para tanto, sugere-se dar início a investigação pela sua primeira instância, ou seja, pelo nível mais superficial, que é o dos artefatos. Vai-se abordar aqui, de forma panorâmica alguns elementos que poderão ou não ser identificados na pesquisa, como também podem surgir elementos durante a coleta dos dados que não constem descritos nesta seção. Vale salientar, por estar diretamente ligado ao foco deste trabalho, que os elementos materiais referem-se a aspectos tangíveis da organização, como por exemplo: mobiliário e equipamentos, ao passo que os elementos estruturais se referem à normas, regras e padrões, os quais determinam a hierarquia e autoridade, os sistemas de recompensa, de controle entre outros aspectos (TANURE; EVANS; PUCIK, 2007). 2.1.1.1 Valores Constitui-se a cultura organizacional pelos valores comuns acerca do que parece assentar o funcionamento das empresas apontados por diversos autores como sendo o mais importante elemento cultural (THÉVENET, 1989; FREITAS, 2007). Por meio dos valores é que recebem os indivíduos referencias acerca do que se aceita ou não na empresa da qual fazem parte (TANURE; EVANS; PUCIK , 2007). Analogamente à cultura, utiliza-se o termo valores e normas em todas as ciências sociais, com diferentes significados. Segundo Hofstede (1984), os valores são sentimentos inconscientes e conscientes, manifestados no comportamento humano, assim definidos: “Se acreditamos num valor, isso significa que a questão 40 envolvida tem certa relevância para nós e que nós identificamos alguns resultados como bom e outros como mau (HOFSTEDE, 1984, p. 19). O mesmo autor distingue ainda os valores entre desejados e desejáveis, acerca do que as pessoas desejam realmente e o que acreditam que deva ser desejado. 2.1.1.2. Crenças e pressupostos A maior parte dos estudiosos sobre cultura organizacional considera esses elementos como seu núcleo, sendo, desta forma, mais difíceis de serem modificados. Para Schein (2009) os pressupostos são os pontos centrais da cultura e não os valores, enfatizando ainda que: [...] os valores estão abertos à discussão e as pessoas podem concordar ou não com eles. Os pressupostos básicos são tão aceitos que alguém que não os conservar é visto como um “estrangeiro” ou como “louco” e é automaticamente descartado (SCHEIN, 2009, p. 25). De acordo com Oshiro, Crnkovik e Santos (2005, p. 121) “as crenças e pressupostos se manifestam na estrutura, sistemas, símbolos, mitos e padrões de recompensa dentro da organização”. Desta forma, é bem mais fácil sendo, é muito mais fácil ajustar as manifestações de cultura do que modificar o núcleo de crenças e pressupostos em uma organização. Estes termos (crenças e pressupostos) vêm sendo utilizados como sinônimos em estudos culturais com a finalidade de expressar o que se tem como a verdade na organização (SCHEIN, 2009). As crenças são os pressupostos ou suposições básicas que guiam o comportamento, determinando como os membros de um grupo percebem, pensam e sentem. Na medida em que certos valores compartilhados pelo grupo conduzem a determinados comportamentos e esses comportamentos se mostram adequados para solucionar problemas, o valor gradualmente é transformado em um pressuposto inconsciente, em como as coisas realmente são. Quanto mais 41 verdadeiro for o pressuposto, mais inconsciente ele irá se tornar para o indivíduo, em função de ser menos questionado. As suposições básicas são a essência da cultura, e podem ser compreendidas pela interpretação daquilo que está na superfície da cultura de uma organização. Portanto, a força da cultura, pode ser definida em termos de homogeneidade, estabilidade e intensidade das experiências compartilhadas pelos membros da organização. Esse grupo passa a ter uma cultura forte, caso seja um grupo estabelecido com uma longa, variada e intensa história. Caso contrário, a cultura é fraca, ou seja, em decorrência do curto convívio do grupo e ausência de problemas complexos. 2.1.1.3. Ritos, rituais e cerimônias Segundo os pesquisadores, são os ritos, elementos que fazem parte da sociedade, que podem ser identificados com facilidade nas organizações, sendo, no entanto, de difícil interpretação. Segundo Silva (2008, p. 2) os ritos e rituais estão presentes em todas as culturas, consistindo-se em “fenômenos extremamente diversificados”. De acordo com Bettega (2010) os ritos são produtos culturais que buscam a integração de diferentes grupos sociais, que simbolizam o elo entre ‘mundos separados’, necessários à sobrevivência do indivíduo social. Na percepção de Silva (2008), organizacionalmente, os ritos, rituais e cerimônias passam a consistir-se em elementos estratégicos a fim de se construir e consolidar as imagens organizacionais, apoiadas em credibilidade e aceitação social de ações e de realizações desenvolvidas. Segundo Freitas (2007, p. 19) são os rituais e ritos, atividades planejadas que irão manifestar o lado concreto da cultura organizacional, de maneira que, são eles também responsáveis por comunicar de que maneira se comporta o nível de intimidade aceito, os procedimentos internos, dentre outras funções, que tais elementos da cultura podem representar numa organização. 42 Vale salientar que grande parte dos eventos ocorridos nas organizações pode ser administrada, sendo muitos deles transformados em rotina, podendo existir situações que podem assumir grau de importância, solenidade ou glamour (FREITAS, 2007). Outra visão acerca do significado das cerimônias para uma organização, no entendimento de Silva (2008, p. 6) é que elas podem ser percebidas como sendo “a manifestação de sentimentos ou atitudes em comum”, por meio de ações ordenadas formalmente, cuja natureza simbólica e os quais num determinado contexto, os “gestos, posturas corporais e objetos específicos estão presentes”, ganham significados característicos para cada ocasião. O tema é também assim entendido por Tanure, Evans e Pucik (2007), que em seus estudos, apontam as cerimônias e rituais, como eventos especiais, nos quais se promovem valores específicos organizacionais. Este pensamento foi complementado por Fossá (2004), o qual percebe a cerimônia como sendo um evento maior, que se compõe por um conjunto de ritos e rituais, envolvendo, geralmente, a utilização de objetos como bandeiras, cartazes, flâmulas e flores. O mesmo autor enfatiza que todos estes objetos, usados numa cerimônia, possuem significações simbólicas e, portanto, conhecer o significado de tais atos para captar os seus sentidos, é imprescindível. Outra leitura é trazida por Freitas (2007), entendendo que os ritos, rituais e cerimônias são atividades planejadas que têm como consequências práticas e expressivas, transformarem a cultura mais tangível e coesa, tornando-a expressiva na medida em que irão comunicar comportamentos e procedimentos, exercendo visível influência por promoverem a integração dos membros da organização. 2.1.1.4 Normas Cada cultura possui sua própria maneira de fazer as coisas, denominada como norma, que tem o poder de influenciar os membros, determinando os comportamentos que são esperados, aceitos e apoiados pelo grupo, fixados por 43 uma norma formal ou informal (FREITAS, 2007). Consoante com este princípio, Freitas (1991, p. 33) argumenta que “a norma é o comportamento sancionado, através do qual as pessoas são recompensadas ou punidas, confrontadas ou encorajadas, ou postas em ostracismo quando as violam”. Na opinião de Freitas (2007), em todas as suas ações e ambientes pelos quais se encaminhe, o homem é guiado por normas, e este sistema tem como fundamento, a impessoalidade, devendo ser seguido por todos. Neste sentido, nas organizações, o conhecimento acerca de sua estrutura de normas é normalmente associado aos manuais de instrução, o que de certa forma, guarda alguma veracidade, uma vez que os manuais estão, comumente relacionados aos procedimentos adequados em situações específicas, em especial as relacionadas à “normas de produção, padrões de qualidade e especificações técnicas (FREITAS, 2007 p. 29). Algumas das normas são expostas de forma integral aos seus membros, ficando, entretanto, outras nas entrelinhas, contudo as pessoas sabem que devem seguir, a fim de que não sejam punidas. Na literatura, percebe-se que neste caso, esses elementos são considerados tabus, que serão citados na seção seguinte. 2.1.1.5 Tabus Na visão de Freitas (2007, p. 28), este elemento cultural “é envolto de grande mistério, e aparece associado a temas que causam mal estar nas organizações, como por exemplo: preconceitos, discriminação, assédios, fraudes etc”. Referem-se os tabus, portanto às proibições, orientações ou fatos que são tidos como inquestionáveis, e por sua vez impostos aos membros da organização. Possivelmente, esta seja a razão pela qual os tabus não venham prescritos em manuais, como as normas. Existem algumas empresas que, baseadas nesse elemento cultural, fazem proibições, ressaltando o que não é permitido, como por exemplo, contratar pessoas da mesma família, envolvimento sentimental entre seus funcionários etc. 44 2.1.2.6 Mitos O termo mito deriva, etimologicamente, do grego mythos que se denota “narração pública de feitos lendários de uma comunidade” (OLIVEIRA et al., 2008). Segundo Chauí (2001), entretanto, não se pode restringir-se a compreensão do termo ‘mito’ em seu sentido etimológico estrito, mas também em seu sentido antropológico, como sendo a narrativa de uma realidade, a qual se busca explicar, entender, ou justificar. Desta forma, mito “é a solução imaginária para tensões, conflitos e contradições que não encontram caminhos para serem resolvidos no nível da realidade” (CHAUÍ, 2001, p. 9). O mito está presente na vida social do homem, e em seus estudos, Fossá (2004, p. 4) demonstra ser possível estudar o mito de diversas formas, seja perante a sociedade ou a organização, podendo ser compreendido como “o guardião dos valores mais importantes, sendo seu papel, evidentemente, complementado por vários outros atos simbólicos como rituais, cerimônias, discursos e símbolos”. Na perspectiva de Chauí (2001), o mito é considerado como um agente gerador de representações da realidade organizacional, e faz parte da criação de sua história: [...] as ideologias, que necessariamente acompanham o movimento histórico da formação, alimenta-se das representações produzidas pela fundação, atualizando-as para adequá-las à nova quadra histórica. É exatamente por isso que, sob novas roupagens, o mito pode repetir-se indefinidamente (CHAUÍ, 2001, p. 6). No contexto organizacional, são várias as oportunidades de se encontrarem mitos, tendo-se em vista serem compostas por pessoas com as mais diferentes experiências que, ao serem combinadas às experiências da empresa, irão formar um mosaico, criando identificação e vínculo social (COLPO, 2010). Coerente com a visão dos autores evidencia-se a importância de se reconhecer esse elemento cultural, e assim passar a entender como ele é vivenciado na cultura das organizações, no caso deste estudo, em organizações alimentícias, tendo em vista contribuir para aprimorar as condições de QVT em restaurantes. 45 2.1.1.7 Símbolos e Sinais Vive-se num mundo rodeado por símbolos, e para que os indivíduos possam ‘lançar mão’9 deles, faz-se necessário entender e absorver seu funcionamento (OLIVEIRA, 2011). Na visão de Hofstede et al. (1990), os símbolos representam a manifestação mais superficial de cultura. São palavras, gestos, figuras e objetos que têm um significado particular para os que compartilham a mesma cultura. Outra leitura trazida por Dias (2003) é que os símbolos podem ser qualquer objeto, ato, evento, que possa ter significado, reforçando os valores da organização, por exemplo, um primeiro objeto produzido numa empresa e guardado ao longo do tempo tem um efeito simbólico dos mais importantes, pois está associado aos fundadores, aqueles que deram início à organização e, que, por sua vez, estruturaram seus valores. O comportamento simbólico está presente no cotidiano das pessoas e pode ser observado em vários momentos, materializando-se através de objetos, atos, formações linguísticas (ALVESON, 2010), assim como em relacionamentos, apresentando vários significados, recordando emoções e compelindo pessoas a agirem (TOMEI; BRAUNSTEIN, 1993). Além disso, os símbolos andam lado a lado com a cultura, ajustando-se conforme suas especificidades, não sendo diferente no contexto organizacional. Neste sentido, Tomei e Braunstein (1993, p. 15) asseveram serem os símbolos “as maiores manifestações da cultura, pois são referências por si só, enquanto as outras manifestações são formas de simbolismos”. Desta forma, ainda de acordo com os mesmos autores, a identidade da organização se forma mediante a construção de símbolos (TOMEI; BRAUNSTEIN, 1993). Corroborando com o pensamento dos autores acima, Pardini, Gonçalves e Kilimnik (2008) percebem os símbolos como uma expressão cultural, podendo ser expressos por meio de vários elementos, passíveis de serem facilmente visualizados assim que se entra em uma organização, como por exemplo: elementos como a 9 Lançar mão – fazer uso. 46 arquitetura, decoração, formas de vestir e comportamento pessoal. Acerca dessa temática, Schein (2009) assevera que esse elemento cultural é encontrado no primeiro nível da cultura, composto pelos artefatos visíveis, e que podem ser facilmente percebidos, entretanto, difíceis de ser desvendados. Em símbolos encontram-se também os sinais, que de acordo com Pardini, Gonçalves e Kilimnik (2008, p. 51): Os sinais estão presentes nos arranjos físicos como as características da estrutura física organizacional, os sinais de identificação para os públicos internos e externos e o modo de vestir dos funcionários apresentam-se como poderosos indícios culturais da organização. Em relação aos sinais, afirma ainda Thévenet (1989), estarem esses próximos aos símbolos, condensando sentidos e podendo ser expressos por meio de atos, comportamentos, ritos simbólicos. No entendimento do autor, os sinais concentram um conjunto de significações aceitas como importantes e podem ser compreendidos como “o conjunto dos meios de que a empresa se serve para transmitir um sentido a si própria e ao contexto. Não resultam forçosamente da intenção de comunicar sentido, mas comunicam-no por eles próprios” (THÉVENET, 1989, p. 89). Thévenet (1989, p. 90) estabelece um paralelo entre símbolos e sinais, quando afirma que os sinais estão relacionados a tudo aquilo que, no funcionamento quotidiano, adquire um sentido com o funcionamento da empresa. Quanto aos símbolos, referem-se à “síntese da realidade, que vive num fato, num rito ou numa historinha”. Ainda, segundo esse autor, os símbolos vão transmitir a realidade empresarial por intermédio dos rituais ou histórias. Desta forma, considera-se que os sinais e símbolos consistem na parte emergente da lógica e valores da empresa e vão resumir seu conjunto de características (THÉVENET, 1989). Já no que tange às semelhanças entre esses elementos culturais (símbolos e sinais), Thévenet (1989), enfatiza que este encontro se dá no fato de ambos estarem relacionados à visibilidade, especificamente por se situarem na parte aparente ou visível da organização, o que faz supor que esta parte emersa seja capaz de resumir ou significar o todo. 47 Vistos os elementos da cultura organizacional, passa-se, à seção seguinte, a perceber a presença de tais elementos nos níveis da cultura de uma empresa, e à sua consecutiva análise. 2.1.2 Níveis de Análise da Cultura Organizacional Partindo do conceito de Groeschel e Doherty (2000), Fleury e Sampaio (2002), Schein (2009) e Oliveira (2011), a cultura se manifesta em três diferentes níveis: artefatos, crenças e valores expostos, bem como suposições básicas; havendo, entre eles, uma gradação de profundidade e de visibilidade. Esses autores afirmam que os níveis de profundidade da cultura organizacional podem ser comparados às camadas de uma cebola e sugerem ser esta uma metáfora que pode ser utilizada para realizar o diagnóstico cultural de uma organização e, até mesmo, no processo de se ‘desvendar’ uma cultura (cf. Figura 1); entanto, para fins deste trabalho, vai-se aprofundar unicamente no nível dos artefatos. Figura 1 – Desvendando a cultura de uma organização (Metáfora da Cebola) Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Oliveira (2011, p. 47) 48 De acordo com a figura acima, representando o núcleo, o centro ou ainda a parte mais profunda da cultura organizacional, encontram-se as suposições básicas. Este nível cultural resulta do grau pacificado na implementação dos valores e das crenças (segundo nível cultural), embora se entenda que elas são mais que isso: entende-se que as suposições básicas refletem a essência da cultura e são compostas pelos “pressupostos mais profundos sobre as questões gerais mais abstratas” (SCHEIN, 2009, p. 127). Na sequência, um nível a menos quanto à profundidade, percebe-se a cultura implícita, a qual é determinada pelos valores e crenças expostos da organização. Eles funcionam como guias norteadores diante das incertezas organizacionais, ou ainda quando do treinamento de novos integrantes. Neste nível encontram-se as regras para modelagem de conduta respaldada pelas experiências já vivenciadas pelo grupo. Para que se logre êxito na construção deste nível cultura, é necessário que os valores e as crenças andem lado a lado com as suposições básicas (SCHEIN, 2009). Para Sá (1999) à medida que os valores compartilhados levam a comportamentos de sucesso, eles são transformados em pressuposto, que, reforçados por outros sucessos, passam ao nível do inconsciente. Por último e com menor grau de complexidade, na camada mais superficial, também conhecida como cultura explícita, encontram-se os artefatos, ou seja, os elementos simbólicos e comportamentais mais visíveis. Neste nível a cultura é percebida por todos que circulam pela organização: colaboradores, clientes e fornecedores, que assim formam uma ideia da cultura organizacional. Ë, portanto, nesse nível cultural que se incluem as maneiras de comunicar, sejam verbal ou não verbal, os mitos e histórias contadas, a relação dos valores, o vestuário, o espaço físico e os “fenômenos que alguém vê, ouve e sente quando encontra um novo grupo com uma cultura não familiar” (SCHEIN, 2009, p. 24). Segundo esse mesmo autor, embora os artefatos produzam impacto emocional imediato nos indivíduos e sejam de fácil percepção, nem sempre podem ser decifrados com o mesmo grau de facilidade, sendo necessário manter contato com o grupo por mais tempo, para que os significados dos artefatos sejam absorvidos, ou ainda se aprofundar na investigação de outros níveis da cultura para que se tenha uma melhor compreensão do fenômeno (SCHEIN, 2009). Visão esta ratificada por 49 Dias (2003, p. 49), quando propõe que nesse estágio a “cultura é fácil de ser observada e muito difícil de decifrar”, porque se deve entender a lógica subjacente ao comportamento do grupo. Ratificando o entendimento de Schein (2009), Horta (2006) afirma estarem os artefatos em qualquer situação da vida, podem ser diretamente observados e ajudam a caracterizar a organização, estando eles em sua superfície, incluindo tudo o que é visível ao grupo, como por exemplo, como a forma de se vestir e de interagir com superiores, a arquitetura de seu contorno físico, a aparência externa do edifício e dos materiais utilizados por meio dos seus significados implícitos, o layout, sinalizações, as cores, a linguagem, a tecnologia, as criações artísticas e o estilo personificado nas roupas, as emoções explícitas, os mitos e histórias sobre a organização, os rituais e cerimônias observáveis, importantes instrumentos de auxílio para a implantação de mudanças, bem como a transmissão dos valores culturais da organização. Gagliardi (2002) afirma a importância em se estudar os artefatos em relação às organizações afirmando-os como sistemas de significados simbólicos. Para esse autor, eles constituem-se em fenômenos culturais primários, responsáveis por influenciar a vida organizacional de duas maneiras: 1) tornando materialmente possível, favorecendo, obstruindo ou prescrevendo uma ação organizacional; 2) influenciando na percepção da realidade, podendo até mesmo delinear crenças, normas e valores culturais. Além disso, "símbolos são concretizações dos sentidos e as coisas constituem seu domicílio mais usual e natural" (GAGLIARDI, 2002, p. 132). Vale destacar, pela importância da temática deste trabalho, que Tolfo, Silva e Luna (2009) afirmam que neste nível de análise cultural, estão expressos os aspectos efetivos de QVT, ou seja, é no mais superficial dos níveis que os padrões de QVT são manifestos, muito embora sua conexão com a cultura organizacional exista desde o nível das suposições básicas. Neste sentido, afirmam, ainda, que é nesse nível que podem ser percebidas as possíveis contradições existentes entre os discursos e práticas organizacionais, pelo fato de estarem aparentes. Desta forma, especialmente no que diz respeito aos artefatos visíveis, que se pode explicitar a relação entre cultura organizacional e QVT. Para Schein (1985) é possível interpretar a cultura da organização a partir de determinados elementos culturais, que servem também para criação da cultura 50 organizacional, como por exemplo, ritos, valores, crenças, histórias, mitos, heróis etc. Já Thévenet (1993) propõe que em uma primeira etapa seja feita a coleta de informações nas áreas onde a cultura pareça ser mais visível: fundadores, história, profissão, valores, sinais e símbolos. Por sua vez, Sá (1999) propõe a união dos métodos utilizados por Fleury (2009 [1990]), no tocante ao estudo da organização do processo de trabalho e dos métodos de Boyer e Equilbey (1986), bem como de Thévenet (1993), no que tange à colheita das informações através da análise dos valores e dos sinais. Da parte de Fleury (2002) a cultura organizacional pode ser desvendada, por meio de cinco dimensões representadas por artefatos culturais: história, processo de socialização dos novos membros, políticas de recursos humanos, processos de comunicação e a organização do processo de trabalho. Entretanto, para se desvendar a cultura dos restaurantes, neste trabalho, optou-se pela orientação de Thévenet (1993), ao citar que esta pode ser investigada por meio de sinais e símbolos, ou seja, os artefatos, que representam a parte mais visível de uma cultura, tais como: comunicação entre funcionários (atores, protagonistas ou elenco), entre esses e clientes (audiência, público ou plateia), a linguagem utilizada, os gestos percebidos, as vestimentas (fantasias ou guardaroupa), bem como aspectos de design e arquitetura do espaço. Finalmente, faz-se necessário, aqui destacar, que apesar dos artefatos serem considerados uma forma possível de se dar início ao processo de análise da cultura, isto é, a busca de dados mais aparentes e visíveis, numa primeira etapa, uma vez que eles possibilitam perceber e entender a cultura em sua forma mais aparente (SHEIN, 2009) para, a partir daí, prosseguir-se para o diagnóstico cultural, podendo perpassar por todos os níveis da cultura existente, caso haja interesse. Ratificando este pensamento, Horta (2006) considera que os artefatos levantados podem subsidiar a análise do próximo nível, que consiste em identificar os valores expostos na organização e, dentre esses, aqueles que realmente explicam os artefatos e a dinâmica organizacional (citado por SCHEIN, 1985). Sobre este mesmo sentido, afirmam Boyer e Equilbey (1986), citados por Sá, (1999) que a cultura organizacional pode ser ‘desvendada’ por meio de elementos 51 culturais, tais como: histórias, mitos, tabus, heróis, slogans ou lemas, linguagem, comunicação, valores, crenças e ritos. Entretanto, vale também aqui ressaltar que este é um dos limites desta pesquisa, uma vez que não se pretende, de maneira alguma, proceder a um diagnóstico cultural, mas simplesmente investigar como a cultura organizacional orienta práticas de QVT, representadas nos palcos organizacionais de restaurantes em Recife - PE. Na próxima sessão, passa-se a descrever sobre a simbologia dos interacionismos nos palcos organizacionais estudados, como parte dos artefatos da cultura organizacional. 2.2 Interacionismo Simbólico e Palco Organizacional A perspectiva dramatúrgica é oriunda dos estudos do sociólogo e antropólogo social canadense, Erving Goffman (1959), que foi posteriormente reinterpretada por Grove, Fisk, Bitner (1992), para o contexto de cenários de serviços. Esses autores usam, em seus trabalhos, conceitos da teoria do teatro, metaforizando as relações sociais, com a finalidade de melhor compreende-las, retratá-las e explicá-las. Neste processo de trazer à vida social, conceitos e elementos da dramaturgia, (cenários, público, atores, adereços etc.) tem seu principal objetivo o de explicar como essas relações são construídas. Desta forma, as pessoas são percebidas como atores sociais, representantes de papéis específicos para cada ocasião de suas vidas cotidianas, com o propósito de manter aparências pré-determinadas diante de seu ‘público’. De modo mais objetivo, pode-se dizer que o elenco, atores ou protagonistas são os funcionários da organização; os clientes representam a audiência, plateia ou publico, pelo fato de o serviço ser, primordialmente, para eles destinado; o cenário é o ambiente físico onde são desenvolvidas as atividades e por fim, o desempenho ou performance, como o conjunto das experiências de cada ator (GROVE; FISK; 52 BITNER, 1992; LOURES; CAMPOMAR, 2005; SANTOS; COSTA; CARDOSO, 2008). De acordo com Grove, Fisk e Dorsch, (1998, p. 116) uma representação genérica dos dramas precisa incorporar quatro principais elementos teatrais, a saber: atores, plateia, cenário e performance. São esses elementos que irão afetar a satisfação e a insatisfação, seja de forma singular ou conjunta (GROVE; FISK; DORSCH, 1998; LOVELOCK; WRIGHT, 2006; LEVY; WEITZ, 2011). A Figura 2 abaixo representa a experiência de serviços observada como drama, na compreensão de Grove, Fisk e Dorsh (1998). Figura 2 - A experiência de serviços observada como drama Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Grove, Fisk e Dorsch (1998, p. 117) Desta forma, entende-se que a analogia apresentada permite sua aplicação ao presente trabalho, tendo-se em vista que os componentes do encontro de serviços podem ser observados em restaurantes ou palcos organizacionais, sendo possível seu reconhecimento sobre a perspectiva dramatúrgica. Destaca-se, nesse ponto, que os serviços são aqueles que resplandecem com caráter dramático (BITNER, 1992; GROVE; FISK, 1992; GROVE; FISK; DORSH, 1998; SANTOS; COSTA; CARDOSO, 2008; LEVY; WEITZ, 2011). Nesta perspectiva, é necessário compreender sua natureza como teatro, tendo em vista ser possível a utilização de muitos dos conceitos de drama para capturar a experiência vivenciada. 53 Os cenários de serviços afetam não apenas a percepção, como o comportamento e, consequentemente a satisfação e a avaliação da qualidade; sendo, por esse motivo, importante que se conheça as características do ambiente e sua influência (ZEITHAML; BITNER, 2003; LOURES; CAMPOMAR, 2005; SANTOS, COSTA; CARDOSO, 2008). De acordo com Zeithaml e Bitner, 2003, o cenário funciona como a ‘embalagem’ da organização, ou seja, tudo aquilo que a empresa mostra ao exterior, sendo, portanto, fundamental para que se formem as impressões iniciais ou se construam as expectativas. Segundo Cappelle e Brito (2002) e Mackey (2002) o espaço físico depende da estruturação organizacional dos aparatos sociopolíticos e permite que se incorporem práticas, hábitos e crenças. Na mesma linha de raciocínio, Bitner (1992), Zeithaml (1988), Fitzsimmons e FItzsimmons (2005) e Santos, Costa e Cardoso (2008) reconhecem o impacto causado pela atmosfera, design físico e elementos decorativos no comportamento de clientes internos e externos. A maneira como esse cenário se projeta, conforme afirmam Zeithaml e Bitner (2003), está voltada às questões de layout e arquitetura, atuando, desta forma, como um ‘facilitador’ dos processos internos da organização, bem como das interações nele estabelecidas. Neste sentido, é que montam as preocupações em se planejar o espaço de acordo com as atividades que serão nele desempenhadas. Ë válido ressaltar que o desempenho das atividades pode ser consideravelmente melhorado se o cenário for projetado com esse enfoque (ZEITHAML; BITNER, 2003). Nesta mesma direção, esses autores afirmam que aspectos físicos do palco de trabalho ou organizacional, podem servir de guia para os comportamentos dos atores quando das interações. Eles ainda acrescentam que "o projeto do cenário de serviços auxilia na socialização tanto de funcionários quanto de clientes, no sentido de que colabora para formar papéis, comportamentos e relacionamentos desejados" (ZEITHAML; BITNER, 2003, p. 237). Palco organizacional, portanto, é o lugar de trabalho onde acontecem as cenas do teatro, tanto para os funcionários, neste estudo denominados atores, protagonistas ou elenco, quanto para os clientes, audiência, plateia ou ainda público (VERGARA; CARVALHO; GOMES, 2004; LEVY; WEITZ, 2011). De acordo com 54 esses mesmos autores, se a interação do indivíduo com o palco organizacional acontece por meio da representação de papéis, parece adequado discutir a teatralidade embutida na divisão e na ocupação do espaço nos contextos organizacionais, a partir dos conceitos dramatúrgicos analisados por Grove e Fisk (1992). Neste sentido, Vergara, Carvalho e Gomes (2004) deixam evidente a necessidade em se compreender como os encenadores do espetáculo, propiciado pelo palco organizacional, conduzem o olhar de seus atores e de suas plateias nesse ‘teatro’, de maneira a dirigir e coordenar corpo e mente delas. Os autores asseguram que a relação do corpo humano com o espaço físico se dá por meio da apreensão de imagens e da forma como se processam e, portanto, pode-se afirmar que este mecanismo tem natureza pedagógica. Entretanto, embora a natureza da relação seja pedagógica, a literatura tem negligenciado até então a questão da ‘educação’ pedagógica deste olhar, é o que afirmam os mesmos pesquisadores. Carvalho e Vergara (2002) ainda ratificam a importância de serem considerados os aspectos do ambiente físico da organização (palco ou cenário) que são apresentados ao seu público, bem como os diversos elementos que o compõem, tais como: seus elementos decorativos, atores e audiência - equiparamse a uma produção teatral e servem como ‘pano de fundo’ para a performance das atividades desenvolvidas naqueles espaços. Esses estudiosos acrescentam, que no palco organizacional, “o desempenho dos atores e o cenário são tão relevantes quanto nos espetáculos artísticos” (CARVALHO; VERGARA, 2002, p. 80). Corroborando com esta mesma linha de pensamento, Carvalho e Mota (2002) salientam que aspectos ambientais passíveis de serem reconhecidos pelo aparelho sensório, como por exemplo, temperatura, luz, odor, barulho, música, são capazes de interferir em sua interação com a organização e seus funcionários. É, desta forma, portanto, que se pode ressaltar ainda a importância do estudo do ambiente físico nos cenários de serviços, e, no caso deste trabalho, entende-se que os restaurantes precisam observar fatores como: layout, iluminação, sinalização, como fazendo parte do conjunto de estímulos ambientais. 55 Passa-se na sequencia, a conhecer algumas teorias de QVT que deram sustentação a este trabalho. 2.3 Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) O homem tem desfrutado dos avanços da ciência e da tecnologia. A vida que há algumas décadas atrás era mais simples e calma, torna-se cada vez mais acelerada e pautada no que há de mais moderno. A humanidade é impulsionada a comprar e suprir necessidades, que muitas vezes são determinadas pela mídia; por conseguinte o homem tem trabalhado mais. Foi só a partir da década de sessenta, entretanto, que a expressão qualidade de vida começou a ser usada mais frequentemente. Segundo Fleck et al. (2000) a sua origem teve raízes no contexto político, apontando como referência o discurso do Presidente americano Lyndon Johnson que, em 1964, referiu que o progresso social pode ser medido através da qualidade de vida proporcionada às pessoas. De acordo com Fleck et al. (2000), a qualidade de vida pode ser definida como a percepção de um indivíduo em relação à sua posição na vida, no contexto de sua cultura e valores, bem como em relação aos seus objetivos, expectativas e padrões, ainda podendo ser influenciada pelas relações sociais, pelos fatores ambientais e pelas crenças pessoais do indivíduo. Apesar da conceituação de qualidade de vida ter sido feita outrora, no âmbito da saúde, a preocupação com ela foi uma questão abordada apenas recentemente. Foi em meados dos anos 80, segundo Fleck et al. (2000) a OMS organizou um grupo de estudos para a definição do conceito de Qualidade de Vida Relativos à Saúde e dos modos de avaliá-los: o Grupo para Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde (The World Health Organization for Quality of Life Group WHOQUOL GROUP). O interesse e aplicabilidade da expressão ‘qualidade de vida’ na área da saúde decorreram, sobretudo, segundo Canavarro et al. (2006), da definição de 56 Saúde assumida pela Constituição da OMS, em 1948, como: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não simplesmente como a ausência de doença”. Esta definição implicou para que as iniciativas de promoção de saúde não fossem apenas dirigidas ao controle de sintomas, diminuição da mortalidade ou aumento da expectativa de vida, mas que também fosse igualmente valorizado aspectos como o bem-estar e a qualidade de vida. Na sequência, surgiram, na literatura clínica, termos como ‘estado de saúde’, ‘impacto da doença’, ‘invalidação da doença’ associada, de forma direta ou inversa à qualidade de vida, contribuindo para a confusão conceptual. Segundo França (1996), o conceito de QVT é definido como um conjunto de ações de uma empresa que envolve diagnósticos e implantação de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais, dentro e fora do ambiente de trabalho, visando propiciar condições plenas de desenvolvimento humano para e durante a realização do trabalho. Julião (2001) acrescenta que a QVT colabora para a atitude favorável ao trabalho, promoção da saúde e segurança, integração social, desenvolvimento das capacidades humanas e aumento da produtividade. A QVT engloba tanto os aspectos físicos, como também aspectos ambientais e psicológicos do local de trabalho. Passa-se a maior parte da vida, dentro das organizações, produzindo serviços e valores econômicos indispensáveis às sociedades, o ideal seria transformá-las em lugares agradáveis e saudáveis para execução das tarefas. De acordo com Limongi-França e Rodrigues (2007, p. 156): Qualidade de vida no trabalho é uma compreensão abrangente e comprometida das condições de vida do trabalho, que inclui aspectos de bem-estar, garantia da saúde e segurança física, mental e social e capacitação para realizar tarefas com segurança e bom uso da energia pessoal. Assim, a qualidade de vida é considerada como conceito, que independe da região, época, ou local de trabalho. O importante é que as pessoas, tanto psicológica, quanto fisicamente, estejam bem e sintam-se integradas e funcionalmente competentes. Esse aspecto da integração ocorre quando o sujeito tem um sentimento de vínculo com a instituição que supera o limite das horas trabalhadas ou do cargo que ocupa. 57 Em uma visão geral, a QVT é apontada por Vasconcelos (2001) como abrangendo: renda capaz de satisfazer as expectativas pessoais e sociais; orgulho pelo trabalho realizado; vida emocional satisfatória; autoestima; imagem da empresa/instituição junto à opinião pública; equilíbrio entre trabalho e lazer; horários e condições de trabalho coerentes; oportunidades e perspectivas de carreira; possibilidade de uso do potencial; respeito aos direitos; e justiça nas recompensas. Para Rodrigues e Amorim (1995), a busca da QVT é uma estratégia que envolve pessoas, trabalho e organização, em prol do bem-estar, da participação e integração do trabalhador, bem como da eficácia organizacional, em busca da melhor qualidade e produtividade. A busca da melhoria empresarial deve-se iniciar pelas pessoas, pois não existe programa bem sucedido no qual não há a preocupação efetiva pela qualidade de vida dos colaboradores. Outro importante aspecto que precisa de atenção são os agentes estressores e como é possível lidar com eles de uma forma que seja possível manter o equilíbrio entre as demandas do dia a dia e a resistência a essas pressões. Conforme Nelson e Simmons (2005) é importante conhecer as consequências desses elementos que passam pelas diferenças individuais, ou seja, como cada pessoa os interpreta e isso diz respeito ao equilíbrio ou peso entre as respostas positivas e as negativas. As pesquisas realizadas por Nelson e Simmons (2005, p. 135) demonstram ser “importante a visão positiva da vida no trabalho e que o aumento das respostas positivas se transformam em alto desempenho, caso contrário, leva à disfunção na vida das pessoas com reflexo do desempenho no trabalho”. Dizem, ainda, os autores, que não basta ter uma resposta positiva às exigências do trabalho, mas sim “encontrar formas de transformar esta resposta positiva em resultados valorizados pelos indivíduos e por suas organizações” para que essa valorização possa ser transformada em elementos motivadores para novos resultados (NELSON; SIMMONS, 2005, p. 135). Outro aspecto que pode ser considerado na obtenção do estresse positivo no ambiente de trabalho, segundo Rossi, Perrewé e Sauter (2007, p. 146) são elencados em os nove princípios da saúde executiva positiva, a saber: “estabelecer objetivos desafiadores; criar relações de confiança; incentivar uma cultura de 58 aprendizado; comunicar-se abertamente; incentivar o comportamento exploratório; comemorar pequenas vitórias e êxitos; aproveitar a diversidade no local de trabalho; aceitar o conflito construtivo; selecionar para obter o ajuste apropriado.” Mesmo em se tratando de princípios voltados aos gestores, esses indicadores podem ser válidos a outros profissionais, uma vez que a relação entre estresse e eficácia no trabalho já foi explicada. (JEX et al., 2005). Os autores os apontam como relativos e influenciados de diversas formas pelos diferentes tipos de estressores, obstrutivos ou desafiadores, existindo, portanto uma correlação entre o estresse e o comportamento e desempenho no contexto geral. Neste sentido, afirma-se que o estresse torna-se problemático para o desempenho no trabalho quando ele é mal gerenciado, que pode ocorrer quando o funcionário não consegue lidar de maneira eficaz com os estressores presentes em seu ambiente de trabalho (JEX et al., 2005). A eficácia dos funcionários, aqui entendida como a soma das suas contribuições à organização, está ligada ao comportamento e ao desempenho das tarefas, fatores que contribuem para o sucesso da organização, além de serem considerados como parte do cargo de um indivíduo (JEX et al., 2005). Os funcionários mais eficientes são aqueles que vão além das tarefas exigidas por seu emprego a fim de ajudar os outros e promover os objetivos de sua organização. Esses comportamentos não fazem parte das tarefas exigidas pelo cargo do funcionário, como altruísmo, ir além dos deveres do trabalho, participação responsável, tolerância sem queixas e cortesia (JEX et al., 2005). O cumprimento das tarefas, de forma eficiente, no entanto, está ligada aos mediadores/moderadores dos fatores estressantes que de certa forma gerencia as respostas positivas ou negativas que o sujeito emprega em determinadas situações. De acordo com Jex et al. (2005), são mediadores: a reatividade - o grau de sensibilidade aos estímulos; locus de controle – percepção de que o controle dos acontecimentos é interno ou externo; participação na tomada de decisão – envolvimento na tomada de decisões relevantes para o indivíduo; percepções de apoio social e apoio do supervisor; comprometimento organizacional – nível de ligação com uma organização; nível de depressão; autoeficácia percebida – a 59 confiança que um indivíduo tem de suas capacidades de realizar uma determinada tarefa. Jex et al. (2005) afirmam ser possível concluir que uma avaliação sobre o impacto do estresse no trabalho deve abranger uma investigação que informe se os funcionários estão indo além das tarefas obrigatórias de sua função, como por exemplo, tomando iniciativa para resolver problemas antes que estes ocorram, mostrando criatividade e inovação diante dos desafios e evitando comportamentos contraproducentes. Porém, a possível ausência de algum desses aspectos, pode ser um indicador de que os estressores no local de trabalho estão afetando a eficácia dos funcionários e que medidas devem ser tomadas. No próximo tópico, passa a ser analisada algumas praticas de QVT nas organizações. 2.3.1 Práticas de QVT Existem várias práticas que buscam melhorar a qualidade de vida do trabalhador, entretanto, no presente estudo serão focadas as práticas físicas e de higiene, mais especificamente as questões voltadas à ergonomia e à iluminação. Praticamente todas as definições para o tema práticas de QVT guardam entre si um ponto em comum: seu objetivo de propiciar uma maior humanização do trabalho. Esse tema envolve muitos aspectos, como por exemplo, fatores psicossociais, satisfação, condições de trabalho, estilos de liderança e higiene (SÁ et al., 2007). Da análise dos conceitos dos principais autores sobre essa temática, podem ser identificados três grupos principais: primeiro, a ênfase no bem-estar e na satisfação do trabalhador; segundo, a valorização da participação dos trabalhadores no processo de tomada de decisão e, por fim, a ênfase na perspectiva humanista de pensar sobre pessoas, trabalho e organização. Coerente com essa visão de promover melhores condições de trabalho aos seus colaboradores, Sá et al. (2007) afirmam que as organizações que conseguem 60 aliar objetivos sociais e de desenvolvimento, preservam, de um lado, aquilo que tem de mais precioso: o bem estar de seu capital humano; e de outro, tem a possibilidade de alcançar individual e coletivamente, conhecimentos e melhores desempenhos. Esses mesmos autores defendem que a promoção de um ambiente de trabalho aonde exista prazer, satisfação e bem-estar, associada à melhoria das condições físicas e instalações permitem aos funcionários realizarem suas atividades de forma mais prazerosa, fluindo com mais facilidade e eficiência. Sá et al. (2007) destacam, ainda, o aspecto psicossocial como sendo o de maior importância no tocante à qualidade de vida do trabalhador, cabendo-se buscar um ambiente onde estejam presentes o entendimento, a confiança e o respeito mútuo, além de aproximação entre superiores e subordinados, e um sistema de controle indireto, com a finalidade de proporcionar maior satisfação às pessoas, tanto com elas próprias, como com seu ambiente organizacional. Percebe-se que o interesse por esse tema continua crescendo, constatado pela divulgação constante de dezenas de experiências, iniciativas e programas desenvolvidos em todo o país, mais especificamente. Para ilustrar a importância que os programas voltados às práticas para melhoria da QVT têm tido no país, destaca-se Ogata (2005) e França (1996), os quais afirmam que o número de programas de qualidade de vida nas empresas tem aumentado em todo o país. Esses programas também podem se desenvolver na área de saúde, tais como: campanha de vacinação contra a gripe, implantação de ambulatórios, programa de acompanhamento de casos especiais, check–up10 gerencial, avaliação médica para realização de atividade física, massoterapia, preocupação com a postura (ergonomia), atividades físicas laborais, programas de lazer, programas antitabagismo, orientação nutricional, gestão do estresse, entre outros. Embora se tenha conhecimento de que os programas sobre QVT possam versar sobre as mais diversas áreas, sendo eles amplos e gerais, envolvendo questões de saúde, segurança, prazer, valorização de indivíduos, vale ressaltar que, 10 Check up – Processo que envolve avaliações, exames, diagnósticos e pareceres de várias especialidades médicas (tradução própria). 61 no presente estudo, estão sendo focados os aspectos físicos e de higiene. Sá et al. (2007, p. 4) apontam que “condições desfavoráveis, tais como: ruídos, poluição visual e má conservações do ambiente físico geram tensões nas pessoas. Esses fatores podem causar desconforto, riscos de acidente e danos consideráveis à saúde” Necessário se faz, então, que as empresas busquem manter a integridade física e mental dos seus trabalhadores, prevenindo doenças ocupacionais e diminuindo a quantidade de afastamentos para tratamento ou aposentadoria por conta de acidentes de trabalho. No próximo tópico será analisado o ambiente físico funcional, com a finalidade de melhor compreensão acerca da temática abordada no contexto geral desta pesquisa. 2.3.1.1 Ambiente Físico Funcional Com a finalidade de melhor compreensão da temática abordada neste estudo, necessário se faz o entendimento sobre o constructo ambiente funcional. Com o intuito de tornar claro tal entendimento, Gomes Filho (2003, p. 204) relaciona o termo ambiente a um universo diversificado de “espaços criados, construídos e organizados”. Esse autor, ainda, acrescenta que um ambiente pode abranger e acolher inúmeras atividades humanas e, consequentemente, apresenta diversas categorias, classes e características de uso. Consoante com a definição acima, esse autor esclarece que a classificação de um ambiente se dá em três níveis, que se inter-relacionam. O primeiro diz respeito à configuração física do ambiente, ou seja, a sua estrutura arquitetônica. O segundo são os componentes físicos do ambiente que englobam desde os objetos isolados ou o conjunto de objetos (posto de trabalho ou posto de atividade), até os objetos que se configuram em comunicações do ambiente, como aparelhos, acessórios e equipamentos. Por último, o conforto ambiental, que pode ser tanto mecânico, natural ou misto pela sua origem e abrange refrigeração, iluminação, 62 acabamentos etc., seguindo padrões e normas de configuração e utilização (GOMES FILHO, 2003). Estando pacífico o entendimento acerca do que caracteriza um ambiente, é válido, para efeito deste estudo, proceder ao entendimento do constructo ‘funcionalidade’. Na opinião de Ferreira (2010, p. 820), funcional é: [...] aquilo concernente à função ou funções orgânicas vitais, ou à sua realização; [...] diz-se de instrumento, móvel etc. capaz de cumprir com eficiência seus fins utilitários, prático; [...] em cuja concepção e execução se teve em vista atender à função [...]. Ë importante ressaltar, para efeito do presente trabalho, que funcionalidade está relacionada com a disposição do cenário de trabalho ou palco organizacional, que será observada por meio de fatores de ergonomia e iluminação. O ambiente ergonômico funcional, com a abrangência dos três domínios: físico, cognitivo e organizacional, embasa o que é importante ser observado e analisado em uma organização; neste caso os restaurantes. Adaptando-se à teoria de Villarouco (2002) pode-se afirmar que no domínio físico é possível verificar a postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, posto de trabalho, segurança e saúde. No segundo, cognitivo, a utilização dos equipamentos, carga de trabalho, o envolvimento com o sistema, o trabalho desenvolvido em um complexo conjunto de ações físicas e mentais. No terceiro, organizacional, o turno, a frequência e a permanência nos locais de trabalho. No espaço de restaurantes, o ambiente descrito anteriormente, analisado do global para o específico, abrange todo o cenário, desde os aspectos estruturais até os detalhes de conforto do ambiente de trabalho, bem como os níveis que se interrelacionam, os quais servirão de parâmetro para a pesquisa, conforme os tópicos na sequência: condições físico-estruturais, de iluminação, acústicas e térmicas, muito embora os dois últimos não sejam o foco deste estudo (VASCONCELOS; VILLAROUCO; SOARES, 2009). Para os restaurantes funcionarem adequadamente é necessário que o espaço físico esteja adaptado às necessidades dos profissionais, sendo importante além 63 dos aspectos de iluminação, ventilação, temperatura, também ser considerado o número de profissionais, a dimensão do ambiente e o layout, como por exemplo, disposição entre as mesas, a área para circulação e demais mobiliários, incluindo questões de conforto, funcionalidade e estética. Sendo assim, é fundamental para a produtividade, não só a utilização de fatores ambientais (iluminação, ventilação, temperatura, organização espacial e higiene), mas também de mobiliários e equipamentos projetados para a realização das tarefas em restaurantes (CCOHS, 2011). O ambiente, em condições adequadas, influi no bem estar do trabalhador e na sua produtividade. Quando ocorre situação adversa, ou seja, área de trabalho muito condensada, mal organizada, pouco iluminada, fria ou muito quente, barulhenta, pouco ventilada, ou com odores desagradáveis podem surgir e ocasionar aborrecimento, estresse, fadiga, cansaço visual, dor de cabeça e outros problemas (CCOHS, 2011). Para os espaços de restaurantes é importante observar desde as questões macroestruturais, como, por exemplo, a estrutura arquitetônica (janelas, dimensão dos ambientes, acessibilidade, revestimentos) até os seus detalhes, como texturas, mobiliário e equipamentos. Essas questões estão didaticamente divididas em configuração física do ambiente, componentes físicos e conforto ambiental e se inter-relacionam, como já citado anteriormente por Gomes Filho (2003). Em relação ao presente estudo destacam-se dentre outros fatores, a ergonomia e a iluminação como importantes aspectos a serem observados no ambiente físico funcional, conforme demonstrado a seguir. a) Ergonomia Os princípios da Ergonomia buscam atender às mais variadas formas de atividades ocupacionais e, em decorrência, fornecer subsídios para propiciar qualidade de vida adequada às pessoas nas suas diversas ocupações. Por meio da aplicação dos princípios da Ergonomia é possível se obter uma interação adequada e confortável do ser humano com o ambiente onde trabalha e ainda melhorar a 64 produtividade, reduzir os custos laborais que se manifestam pelo absenteísmo, rotatividade, conflitos e pela falta de interesse para o trabalho (COUTO, 1995). Para Ilda (2005, p. 3) a ergonomia “estuda tanto as condições prévias como as consequências do trabalho e as interações que ocorrem entre o homem, máquina e ambiente durante a realização desse trabalho.” Esses fatores são analisados como um sistema, onde os elementos interagem continuamente entre si. A ergonomia é a disciplina científica que compreende as interações entre os seres humanos e outros elementos do sistema e que aplica teorias, princípios, dados e métodos a projetos, com a finalidade de aperfeiçoar o bem estar humano e o desempenho global do sistema (IEA, 2000). A ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento (ILDA, 2005). Villarouco e Andreto (2008) apontam que ergonomia é, segundo a definição, uma ciência, ou uma disciplina científica, que trata da interação entre o homem com os outros elementos que compõem o sistema organizacional. Esta interação busca a melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores e a redução dos problemas relacionados com o seu ambiente de trabalho. Sendo assim, para atingir seus objetivos, a ergonomia estuda os fatores relacionados com o homem, a máquina, o ambiente, a informação, a organização, e as consequências do trabalho na saúde do trabalhador. Como subsídio a esse conhecimento a ergonomia lança mão do conhecimento da antropometria, que é, segundo Añez (2011), a ciência que trata das medidas físicas do corpo humano. A importância especial da antropometria refere-se ao fato do surgimento dos sistemas complexos de trabalho, necessitando de conhecimentos das dimensões físicas do homem com exatidão, como por exemplo, dimensionamento do espaço de trabalho e no desenvolvimento de produtos industrializados como mobília, ferramentas etc. Conforme a definição de Rio e Pires (2001, p. 34), a ergonomia “é uma ciência que tem como diretriz ética e técnica fundamental a adaptação do trabalho ao ser humano”. Os praticantes da ergonomia, segundo a Associação Brasileira de Ergonomia - ABERGO (2011) devem contribuir para o planejamento, projeto e 65 avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas para tornálos adequados às necessidades, características e capacidades pessoais, bem como considerar os aspectos físico, cognitivo, social, organizacional e ambiental nas intervenções realizadas. Como conceituação, o trabalho adotou a definição internacional de ergonomia que a explica como disciplina e profissão. Na primeira é a disciplina científica que trata da compreensão das interações entre os seres humanos e outros elementos de um sistema. Como profissão é a que aplica, em projetos, teorias, princípios, dados e métodos, com o objetivo de aperfeiçoar o bem estar humano e a performance global dos sistemas (AÇÃO ERGONÔMICA, 2011). A ergonomia está dividida em três domínios específicos: ergonomia física, cognitiva e organizacional. A primeira corresponde à atividade física e está relacionada com as características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica. Inclui o estudo da postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios músculo-esqueletais relacionados ao trabalho, projeto de posto de trabalho, segurança e saúde (IEA, 2000). A ergonomia cognitiva trata das interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema e se relaciona aos processos mentais. Inclui o estudo da carga mental de trabalho, tomada de decisão, desempenho especializado, interação homem máquina, estresse e treinamentos. A ergonomia organizacional se refere às estruturas organizacionais, políticas e de processos. Inclui comunicações, projeto de trabalho, organização temporal do trabalho, trabalho em grupo, cooperativo e participativo, cultura organizacional, organizações em rede, tele-trabalho e gestão da qualidade (IEA, 2000). A utilização do conhecimento da ergonomia, de forma holística, possibilita resolver/minimizar problemas relacionados às atividades profissionais, os problemas relacionados às atividades, abrangendo os aspectos físico, cognitivo, social, organizacional, ambiental e outros que possam inclusive melhorar a qualidade de vida no trabalho. Uma das formas de se verificar e analisar as atividades profissionais é correlacioná-las com a análise da capacidade de trabalho. De acordo com Barreiros (2011), a análise é considerada como o sentido de determinação e avaliação, e a 66 capacidade como um volume potencial para algo. Sendo assim, a perspectiva consiste na identificação e avaliação dos fatores que podem determinar ou influenciar as respostas dos indivíduos advindas das solicitações para o desempenho das tarefas que se realizam em diversas condições. Os princípios da ergonomia aplicados na empresa podem proporcionar aos seus colaboradores uma melhor qualidade de vida quando, por exemplo, um ambiente é estruturado de tal forma que as atividades são desenvolvidas com conforto e saúde, assim o desempenho poderá ser otimizado e as potencialidades humanas ampliadas. Para Castro (2011), é necessário que mobiliários, equipamentos e demais condições de trabalho atendam a todos os usuários, incluindo crianças, idosos e pessoas com restrições temporárias ou permanentes. Isso é chamado de desenho universal que tem por base o respeito à diversidade humana e a inclusão de todas as pessoas nas mais diversas atividades, independentemente de suas idades ou habilidades. Com isto, a meta é atingir qualidade, na qual a concepção de espaços possa beneficiar a todos. Assim, a ergonomia auxilia a melhorar as condições de trabalho, independentemente de restrições apresentadas, modificando e adaptando ambiente físico, mobiliário e equipamentos para atender aos diferentes usuários. Conhecer a ação ergonômica e conduzir o trabalho para a sua finalização inclui duas grandes funções: a primeira refere-se à análise e tem como finalidade criar mecanismos para a compreensão sobre o trabalho, validação dos resultados e se for necessário entender ou adaptar as condições. A segunda, diz respeito ao acompanhamento e à regulação que abrange toda a organização e suas atividades, que certamente poderão ter consequências no futuro (GUÉRIN et al., 2001). Para propor uma ação ergonômica também é necessário entender o papel do ergonomista que, de acordo com Falzon (2007, p. 188), é “identificar as competências que dão suporte a atividade, compreender o seu desenvolvimento e fazer um diagnóstico sobre as condições de trabalho para favorecê-lo assim como a aplicação dessas competências”. 67 Em decorrência do entendimento das competências profissionais há uma melhoria das condições para sua aplicação, instrumentalizando sua formação e sua construção e permitindo melhor geri-las no plano individual e coletivo. Ao utilizar-se de conhecimentos dos limites e capacidades do homem, suas características físicas e psíquicas, a ergonomia pode participar do processo de organização do trabalho, definindo parâmetros que propiciem segurança, saúde, conforto e bem-estar dos mesmos em seus ambientes de trabalho. Neste ponto, passa-se a analisar, no próximo tópico, a questão da iluminação nos ambientes de trabalho, como uma prática de QVT, importante para este estudo. b) Iluminação A luz é fundamental ao homem e sem ela não há vida. A luz é radiação eletromagnética capaz de sensibilizar o olho humano. Os seres humanos que possuem 100% da visão ou algo próximo a isso, são pessoas menos dependentes dos outros sentidos: paladar, audição, tato e olfato, quando comparados aos indivíduos que apresentam diferentes estágios de perdas visuais (BREGATTO, 2005). Isto se deve ao fato de que 80% das informações registradas pelo indivíduo são provenientes da sua visão. Segundo Bregatto (2005, p. 190): “a iluminação é um elemento conformador dos espaços que segue o determinado por normas quase sempre pensadas para as necessidades de pessoas com visão normal, ou sem problemas de mobilidade”. Certamente para esses indivíduos videntes, maioria no mundo, a iluminação, seja ela natural ou artificial, têm papel fundamental no seu cotidiano. Tradicionalmente a iluminação foi um ramo da engenharia em que engenheiros adotavam modelos matemáticos a partir de experimentos empíricos para buscar soluções luminotécnicas. Os primeiros projetos de iluminação tenderam unicamente a iluminar ambientes de maneira eficiente e econômica, baseados fundamentalmente em medições físicas e fotométricas, deixando em segundo plano 68 a questão emocional que também é proporcionada pela luz. Só recentemente é que o lighting designer está aprendendo a considerar os efeitos psicológicos (fatores humanos) em conjunto com os tradicionais níveis de iluminação e distribuição de luminância sobre as áreas de interesse. Dessa forma, os recentes especialistas em iluminação estão cada vez mais focando os interesses de seus trabalhos nestes aspectos subjetivos, buscando promover a qualidade da iluminação em seu caráter mais global. De acordo com Fonseca (2000) a iluminação cênica, tendência mundial da atualidade, originária fundamentalmente dos palcos teatrais, insinua um movimento gradativo para contemplar também a arquitetura do ambiente. Elementos inusitados até então no ambiente de trabalho são utilizados para promover dinamismo e dramaticidade, criando cenários variados em face da multiplicidade de atividades exercidas nos ambientes de trabalho. Variação de cor, movimento e intensidade, fazem com que as luzes ‘modifiquem’ os ambientes, exercendo mudanças no estado comportamental do ser humano (VILLAROUCO, 2008). Existem indicações de que doses apropriadas de variações na iluminação de ambientes exercem efeitos positivos no estado de alerta das pessoas nos ambientes de trabalho. Em lugares onde os benefícios advindos da dinâmica presente na luz natural não são suficientemente projetadas ou disponíveis para agregar valor ao ambiente construído, a luz artificial dinâmica apresenta-se como ferramenta que pode trazer algumas vantagens. Visualmente é natural que se utilize a luz somente quando se é necessário ‘ver’ alguma coisa. Biologicamente, o tempo e a duração em que a luz estimula o olho humano apresenta-se como regra essencial para controlar o ciclo circadiano. Aspectos qualitativos relativos à luz carregam um forte significado emocional, evidenciado nas diferentes percepções das pessoas quando experimentam diversas atmosferas possíveis em um mesmo ambiente ou espaço (FONSECA, 2000). Uma consideração não menos importante é o fato de que as pessoas não dependem somente da quantidade e qualidade ideal de luz para exercerem suas tarefas, mas também das suas próprias habilidades visuais. Isso quer dizer, que 69 nosso próprio olho pode apresentar diferentes tipos de problemas, o que torna singular a percepção individual de cada ambiente. Um projeto de iluminação inadequado pode causar desconforto aos usuários além de fadiga visual, redução de produtividade, ofuscamento velador e por vezes danos físicos devido a acidentes. Por essa razão, deve-se buscar máxima excelência ao projetar a iluminação de qualquer ambiente. Fonseca (2000, p. 123) julga como sendo fatores importantes quando se ilumina um espaço a “aceitabilidade do usuário e performance do trabalho”. A dificuldade em se obter iluminâncias ideais para cada atividade e aceitável para todos os usuários, é ainda mais evidenciada em uma pesquisa realizada por Silva (2002) onde compararam os níveis de iluminação recomendados em 19 países e foi constatada uma variação significativa. Entre os países que recomendam níveis de iluminação mais elevados estão a Bélgica, Japão e o Brasil. Os níveis mais baixos são recomendados na Austrália, China, México e Rússia. O estudo também revela que a sociedade norte americana de iluminação é que apresenta os valores intermediários para maioria dos casos. Veitch e Newsham (1998) estabelecem que a qualidade de um sistema de iluminação está determinada pelo grau de excelência alcançado, no qual se define como um conceito relativo que depende do contexto na qual se desenvolve o projeto de iluminação, incluindo a saúde e o bem estar das pessoas, bem como sua integração com as necessidades arquitetônicas e condições econômicas. O conforto visual – que atende à porção fisiológica do ser humano (visão) – é fundamental para que as impressões psicológicas que os usuários venham a ter de um ambiente, a partir da iluminação artificial do mesmo, sejam adequadas às suas expectativas e venham a atender os aspectos emocionais dessas pessoas (VILLAROUCO, 2002). Para que os aspectos emocionais dos usuários sejam atendidos, é preciso conferir aos ambientes iluminados artificialmente o significado psicológico/emocional que esses usuários esperam ter do ambiente. Isso quer dizer que as cores (tons e saturação), as formas (modelagem, dramaticidade) e o brilho (luminosidade, intensidade) do espaço iluminado deverão transmitir impressões assemelhadas 70 àquelas que a luz da natureza nos oferece, em condições parecidas com o ambiente iluminado artificialmente. Assim, as cores (a luz, portanto), as formas e o brilho da luz artificial deveriam se assemelhar à luz clara, branca, intensa e regular do dia na sua hora de maior atividade, no seu início, até ao meio-dia. Entretanto, se se pretende relaxar com os amigos ao final da jornada de trabalho, as cores (luz), formas e o brilho da luz artificial deveriam se combinar com as tonalidades, a saturação e o brilho da luz no final da tarde, que representa a divisão entre o período produtivo do dia e o repouso merecido após um estafante dia de trabalho (SILVA, 2002). Desta forma, propõe-se luz branca, clara, tonalidades azuis, verdes e grande intensidade luminosa para as situações de exercícios físicos; luz morna, amarelada, alaranjada, saturação média e brilho discreto, para situações de encontro com amigos, ao final da tarde. Pode-se dizer, em última análise, que a luz e as cores da natureza são uma referência para a adoção das cores, formas e brilho que será dado ao ambiente iluminado artificialmente, baseando-se no arquivo emocional dos indivíduos. Tal arquivo fornece as impressões psicológicas que são acumuladas durante a vida, a partir de experiências diárias. Luz dramática, formas exacerbadas: idem à luz contrastante do céu escuro e dos raios marcantes do sol atravessando as nuvens (FONSECA, 2000). Os ambientes excessivamente dramáticos são adequados (não esquecendo que a visão humana adora contrastes) para locais de permanência efêmera (galerias, festas, jardins contemplativos etc.), mas resultam ameaçadores (como a véspera do temporal) quando adotados em ambientes, cujo uso é permanente e diário (FONSECA, 2000). Considerados os aspectos teóricos referentes à cultura organizacional e QVT, que fundamentam este trabalho, o capítulo subsequente trata da metodologia adotada para esta pesquisa. 71 CAPÍTULO III Metodologia da Pesquisa Neste capítulo apresentam-se os procedimentos metodológicos utilizados para a investigação do objetivo proposto para esta pesquisa, o qual visa investigar como a cultura organizacional orienta práticas de QVT, representadas nos palcos organizacionais de restaurantes do Recife - PE 3.1 Caracterização da Pesquisa Nesta pesquisa utilizou-se o método qualitativo que, segundo Merriam (1998, p. 5) “é um conceito guarda-chuva, cobrindo algumas formas de investigação, o qual ajuda a entender e explicar o significado do fenômeno social com a menor quebra possível do ambiente natural”. Para Wolffenbüttel (2009) os métodos qualitativos buscam explicar as razões dos fenômenos e são apropriados quando o estudo é complexo, de natureza social e são utilizados quando os entendimentos do contexto social e cultural são elementos importantes para a pesquisa, sendo necessário observar, registrar e analisar interações reais entre pessoas e entre pessoas e sistemas. Essas afirmações vão no mesmo sentido da compreensão de Schein (1985), o qual considera que estudos sobre cultura organizacional devam utilizar à abordagem qualitativa, dada a complexidade desses tipos de investigações. Este trabalho também tem caráter descritivo, uma vez que tem a intenção de descrever, unicamente, os resultados desta pesquisa, sem o intuito de interferir em seus resultados. Como afirma Hair et al. (2005): a pesquisa descritiva não tem compromisso de explicar os fenômenos e sim descrever alguma situação. 72 Segundo Cervo e Bervian (1996); Raupp e Beuren (2003), os estudos descritivos tratam da enumeração das características, propriedades e relações existentes na comunidade, no grupo ou na realidade pesquisada. Triviños (2007, p. 110) afirma que “o estudo descritivo pretende descrever com exatidão os fatos e os fenômenos de determinada realidade”. Finalmente, este trabalho caracteriza-se ainda, como um estudo de múltiplos casos, isto é, esta pesquisa foi realizada em mais de um restaurante da cidade do Recife - PE. No entendimento de Godoy (2007, p. 359) “o estudo de caso se caracteriza como um tipo de pesquisa, cujo objeto central de análise é o exame detalhado de um determinado fenômeno, que é investigado em profundidade” numa unidade social – individuo, grupo, evento, instituição, comunidade, organização, interorganização - de modo a possibilitar, ao investigador, entender como funciona tal fenômeno. Portanto, consiste de uma investigação detalhada, frequentemente com dados coletados num período de tempo, acerca de um fenômeno e dentro de seu contexto. Abordados os fatores que caracterizam este trabalho, na seção seguinte, ilustrar-se-á, por meio de um fluxograma, o seu desenvolvimento. 3.2 Desenho da Pesquisa Para o desenho desta pesquisa se seguiu a orientação de Gil (2008) sobre o as etapas a serem percorridas em uma pesquisa social, o qual fornece uma visão geral do seu desenvolvimento (Fig. 3). De acordo com o mesmo autor, o pesquisador é responsável pela forma e pelo estilo que vai proceder a sua apresentação, especialmente quando se vai fazer uma investigação por meio de um estudo de caso. Conforme os ensinamentos desse autor, é difícil estabelecer um esquema que retrate fielmente, de forma precisa e sistemática, o passo a passo a ser seguido 73 no processo de pesquisa, no entanto, ele sugere um roteiro, que serviu de aporte para o presente estudo. Na primeira fase, formulação do problema de pesquisa, selecionou-se e delimitou-se o assunto sobre o qual versou o presente estudo. A partir da experiência da autora em restaurantes, de leituras e reflexões, surgiu o interesse em unir os constructos cultura organizacional e práticas de QVT. Nessa etapa, todos os argumentos caminharam no sentido de solucionar o problema de pesquisa, inclusive esclarecer os limites em que o trabalho foi desenvolvido. Na fase seguinte, foram determinados os objetivos, aos quais este estudo buscou responder, buscando contribuir para a melhoria das práticas de QVT vivenciadas nos palcos organizacionais dos restaurantes analisados, em função de suas culturas organizacionais. Definida a natureza do problema e os seus objetivos, avançou-se para a etapa da caracterização desta pesquisa, definida como um estudo de múltiplos casos. Por se pretender descobrir significados referentes tanto ao ambiente físico (palco organizacional ou cenário de trabalho), quanto cultural, a pesquisa teve o seu encaminhamento para uma abordagem qualitativa, e como consequência, as seguintes técnicas para a coleta dos dados: observação direta não participante, entrevistas por pauta e análise de documentos. A próxima etapa foi elaborar os instrumentos para a coleta dos dados. tanto por meio das observações diretas não participantes, quanto das entrevistas por pauta, a fim de testá-los na etapa seguinte. Com base nos instrumentos preliminares, foi realizado o pré-teste das técnicas de coleta dos dados, Esta foi uma etapa importante, pois permitiu aferir a estrutura e clareza de tais instrumentos e possibilitou a correção/reformulação parcial dos mesmos. Partiu-se, então para a etapa da coleta efetiva dos dados. Na etapa seguinte, os dados coletados foram organizados de forma clara e objetiva, a fim de proceder à interpretação. Desta forma, seguiu-se com o processo de triangulação das informações obtidas por meio das observações, entrevistas e documentos (sites ou Páginas da Internet), a fim de consolidar e transmitir as mensagens obtidas de forma sucinta, para proporcionar mais precisão à análise dos dados. 74 Na etapa de finalização da dissertação, procedeu-se a interpretação da autora e a consequente discussão e conclusão acerca dos resultados encontrados. A Figura 3 a seguir apresenta a diagramação das fases acima descritas. Figura 3 – Desenho da Pesquisa Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Gil (2008, p. 31 e 32) 75 Tendo a Figura 3 possibilitado a visão panorâmica do processo de trabalho desenvolvido, passa-se na sequencia, a tratar-se sobre o locus da investigação. 3.3 Locus de Investigação A pesquisa foi aplicada junto a dois restaurantes localizados na cidade do Recife - PE. Os palcos analisados são empresas de pequeno porte11, quais sejam: um restaurante independente e um franqueado. O restaurante independente tem um perfil mais ‘gastronômico’, ao passo que o franqueado é do tipo fast food. Entendia-se que nesse primeiro caso, poderia se encontrar um produto e um serviço de melhor qualidade, além de um atendimento mais personalizado, o que talvez não fosse encontrado no segundo caso. Pretendia-se, portanto, verificar as supostas diferenças não somente de caráter estrutural/físico, mas também com relação ao serviço em si, entre essas duas organizações. A partir dai, pensou-se em conhecer se as conjecturadas diferenças viriam a exercer as mesmas influencias em relação às questões diretamente relacionadas aos objetivos traçados para o presente estudo. Tais restaurantes não tiveram seus nomes identificados para preservar a identidade das empresas, e, portanto, foram denominados por letras do alfabeto grego: Alfa e Beta. Desta maneira, o restaurante independente passa, a partir de agora, a se chamar Restaurante Alfa, e o franqueado, Restaurante Beta. Quanto ao Restaurante Alfa, percebe-se pelas informações postadas no seu site (Página na internet) que ele valoriza a cultura (história) de um bairro do Recife PE, desde a recuperação da estrutura original do imóvel ao uso de materiais típicos da época de sua construção. Ainda, constata-se o zelo e a dedicação na preparação dos espaços dedicados a audiência (clientes). Contrariamente, no Restaurant e Beta, a única informação que se encontra no seu site é uma apelação comercial. Esses são sinais da cultura dessas organizações. Sobre QVT, o único site que deixa 11 Empresa de pequeno porte, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), são as empresas que contém entre 10 e 49 funcionários para o setor de comércio e serviços. 76 perceber algum sinal dessa prática é realmente o primeiro restaurante: a sequência de fotos transmitidas por esse canal de informação retrata um ambiente elegante, higiênico e aconchegante; cenário privilegiado para os seus atores (empregados). Diante do exposto, no próximo tópico, passa-se a tratar sobre os sujeitos da pesquisa. 3.4 Sujeitos da Pesquisa Os sujeitos desta pesquisa foram os funcionários dos palcos estudados. O Restaurante Alfa conta com um quadro de pessoal composto por 21 atores (entre funcionários e estagiários); durante esta pesquisa, um ator encontrava-se de férias; sendo assim, desse universo, 10 funcionários participaram das entrevistas. Já o Restaurante Beta conta, conta com 20 atores; durante o desenvolvimento deste estudo, um ator encontrava-se de férias e outro, de licença médica. Desta forma, 9 foram os participantes das entrevistas. Portanto, este trabalho contou com 19 participantes. A escolha dos sujeitos deu-se por acessibilidade (GIL, 2008; BAUER; GASKELL, 2004). Foram ouvidos os funcionários até que as respostas fossem se repetindo até a saturação - conforme se fala em abordagens qualitativas: indica o final da pesquisa (Fontanella, Ricas e Turato, 2008). Segundo esses autores, o fechamento amostral por saturação se dá, quando, no entendimento do pesquisador, os dados coletados começam a repetir-se, de maneira a tornarem-se redundantes, o que não traria acréscimos para o entendimento daquele fenômeno e, portanto, não é relevante continuar a coleta de dados. Tendo sido vistos os aspectos considerados para que os sujeitos desta pesquisa fossem selecionados, passa-se, na sequência, a serem explicitadas as dimensões desta pesquisa. 77 3.5 Dimensões da Pesquisa As dimensões desta pesquisa são: cultura organizacional e práticas de QVT cujas subdivisões podem ser visualizadas a seguir (cf. Quadro 1). Quanto aos fatores ligados à cultura organizacional têm-se atores, audiência, e cenário; o desempenho permeia todos os fatores. Com relação aos indicadores referentes aos atores tem-se: comunicação com o exterior (acolhimento ao cliente), comunicação interna (relações interpessoais) e comunicação não verbal (vestimentas); no que se refere à audiência: comunicação interna (relações comerciais); e por fim, os indicadores ligados ao cenário: a arquitetura (ergonomia, aspectos de circulação e layout) e o design (iluminação, elementos relacionados à decoração e às cores). Quanto aos fatores relacionados às práticas de QVT: ambiente físico funcional, em termos de ergonomia (circulação e layout) e iluminação (decoração e cores). Quadro 1 – Dimensões da Pesquisa Dimensões Fatores Indicadores Com o exterior (Acolhimento ao Cliente) Atores Comunicação Interna (Relações Interpessoais) Não verbal (Vestimentas) Audiência Comunicação Cultura Organizacional (Palco Organizacional) Desempenho Comunicação Interna (Relações comerciais) Com o exterior (Acolhimento ao Cliente) Interna (Relações comerciais e Interpessoais) Arquitetura (Ergonomia) Circulação Design (Iluminação) Decoração Cenário Layout Cores Circulação Ergonomia Práticas de QVT Ambiente Físico Funcional Layout Decoração Iluminação Cores Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Sá (1999, p. 2) 78 Explicadas as dimensões desta pesquisa, apresentam-se, na próxima seção, as técnicas que serão utilizadas para a coleta dos dados. 3.6 Técnicas de Coleta dos Dados Técnicas de coletas de dados, segundo Lakatos e Marconi (2001) são os conjuntos de preceitos ou de processos utilizados pela ciência, para que se possa obter seus propósitos. Neste sentido, utilizaram-se nesta pesquisa fontes primárias para a coleta de dados, tais quais: a observação direta não participante, a entrevista por pauta e a análise documental (GIL, 2008). A observação não participante, segundo Gil (2008) consiste em observar um objeto ou fenômeno para a obtenção de informações acerca do mesmo. Mattos e Lincoln (2005) completam afirmando que na observação não participante o pesquisador colhe dados sem que participe ou interaja ativamente com o fenômeno estudado, estando apenas presente no contexto observado. Essas observações foram feitas durante as visitas às instalações de cada restaurante, com o propósito de verificar elementos da cultura organizacional. Os itens verificados estão disponibilizados no roteiro de observação (APÊNDICE B). As entrevistas por pauta foi preferida nesta pesquisa, em virtude de que, segundo Gil (2008), elas proveem maior profundidade na obtenção dos dados e, consequentemente, melhor conhecimento do fenômeno a ser estudado. Nas entrevistas por pauta o entrevistado pode decidir-se pela forma de construir a resposta, permitindo espaços a serem preenchidos por perguntas surgidas com base nas respostas dos entrevistados (GIL, 2008), ou responder à “visão de mundo emergente do respondente e às novas ideias sobre o tópico” (MERRIAM, 1998, p. 74). Segundo Mattos e Lincoln (2005) há um consenso de que a entrevista semiestruturada por pauta serve a pesquisas voltadas para o desenvolvimento de conceitos, o esclarecimento de situações, atitudes e comportamentos, ou o 79 enriquecimento do significado humano deles. Neste caso, o entrevistador tem maior flexibilidade no acompanhamento das respostas, podendo, inclusive, fazer perguntas direcionadas que não foram previamente imaginadas e que não estavam previamente incluídas no processo (HAIR, 2005). Tais entrevistas (APÊNDICE C) foram feitas face a face junto aos colaboradores dos restaurantes, as quais foram gravadas em áudio, posteriormente transcritas e literalizadas, com o intuito de prover o devido tratamento analítico. Finalmente a análise documental que, conforme Godoy (1995, p. 21) é uma das técnicas mais confiáveis já que “os dados coletados na análise documental possibilitam a validação das informações obtidas”. Já Bardin (2010) considera a análise documental uma fase preliminar para se constituir de um serviço de documentação ou um banco de dados. Desta forma, as informações disponíveis nos sites dos restaurantes foram os únicos documentos utilizados neste estudo. Considerados os aspectos teóricos para a coleta dos dados deste estudo, no tópico seguinte, explica-se de que maneira ocorreu o processo propriamente dito. 3.7 Processo de Coleta dos Dados Inicialmente, estabeleceram-se critérios para a escolha dos restaurantes a serem pesquisados. Após várias buscas, decidiu-se estudar dois restaurantes: um franqueado e outro independente, considerando que eles apresentam culturas diferentes. Outro critério, quando da elegibilidade dos restaurantes investigados foi a acessibilidade, uma vez que não se acreditava ser de fácil permissão a entrada da pesquisadora na ‘intimidade’ das rotinas e das instalações da organização. Neste sentido, e com o intuito de obter respostas mais conclusivas, foi necessário, por mais discreta que tenha sido a presença da pesquisadora, entrar de forma íntima e profunda nas práticas, costumes e hábitos dos restaurantes e de seus colaboradores, respaldando-se nos preceitos de Duarte e Barros (2005), que 80 afirmam ser imprescindível a existência de fontes capazes de ajudar na obtenção de respostas acerca do problema proposto, apresentando disposição em cooperar, a fim de que se realizasse uma boa pesquisa. Antes da aplicação definitiva dos instrumentos de coleta de dados, foi aplicado, em um restaurante diferente e de menor porte dos que foram analisados, um teste em escala piloto. Nessa investigação foi possível aferir a estrutura e a clareza do roteiro das observações e das entrevistas que iriam ser utilizadas. Esta foi uma etapa importante, uma vez que possibilitou ajustes e correções de algumas questões que não eram suficientemente esclarecedoras, para a consecução dos objetivos propostos para a presente pesquisa. Após a aplicação do pré-teste, redefinidos os roteiros de observação (APÊNDICE B) e de entrevistas por pauta (APÊNDICE C), procedeu-se a pesquisa nos Restaurantes Alfa e Beta, que foi realizada entre os dias 31/03 e 16/04/2012. Antes das visitas para observação do elenco, houve visitas in loco, com a finalidade de estreitar o contato com adereços, cenário e com o palco, onde acontecem as cenas do espetáculo, sem que o elenco estivesse presente (salvo alguém da direção). Esses dados puderam conferir à pesquisadora uma concepção do espaço onde iriam acontecer as interações. Numa segunda etapa, sempre discreta e vestida com roupas pretas, de modo a não chamar a atenção das plateias e dos protagonistas, a autora começou a observação, sem que os atores percebessem-na como pesquisadora (visitas não identificadas), mas sim como parte do seu público, entretanto, desde o inicio a direção do espetáculo consentiu para que a pesquisa pudesse ser procedida e realizada dessa maneira. Vale ressaltar que a pesquisadora, durante as visitas não identificadas, sendo então, parte da audiência daquele espetáculo, foi sempre acompanhada de pelo menos uma pessoa (diferente a cada visita), com a finalidade de não deixar vestígios de sua ‘fiel e/ou insistente’ frequência ao restaurante. Tais visitas permitiram depreender informações preciosas quando da interação entre os atores, entre eles e o cenário e, em especial, entre os atores e a audiência, enquanto da encenação dos espetáculos. 81 Após alguns dias de observação, a autora pediu autorização à direção do espetáculo, para se apresentar como pesquisadora e esclareceu ao elenco, que sua pesquisa tinha um caráter estritamente acadêmico. Neste momento, a autora pediu o consentimento aos protagonistas para fazer entrevistas, que foram previamente agendadas e apenas com os atores que se dispuseram a participar do estudo. Ë importante ressaltar que todo o procedimento de coleta de dados teve duração de aproximadamente 40 horas em cada restaurante, tendo as observações sido feitas em horários e dias alternados. Quando feitas as entrevistas, a autora teve o cuidado de não parar de coletar as informações no momento em que a saturação das respostas foi percebida, tendo ela, portanto, insistido em entrevistar mais protagonistas com o intuído de assegurar a confirmação dos resultados obtidos. A investigação sobre a cultura organizacional procedeu-se por meio da observação direta não participante, quando se perceberam aspetos da arquitetura e design, em termos de ergonomia e iluminação, bem como a comunicação, por meio de símbolos, sinais, ritos, linguagem, vestimentas e outros elementos, que puderam, senão evidenciar, mas dar indícios de traços da cultura daquelas organizações. Nessas ocasiões também se observou o desempenho/performance dos atores em suas funções, em relação a outros atores, em relação à plateia (ou audiência) e ao cenário de trabalho. As entrevistas por pauta foram feitas com os funcionários ou atores – assim chamados aqui, os quais se dispuseram a colaborar de livre e espontânea vontade e foram dirigidas ao conhecimento sobre práticas de QVT, em termos de ergonomia e iluminação, adotadas nos restaurantes. Obedecendo ao mesmo critério pontuado na seção 3.3, que tratou sobre o locus da investigação, adotou-se um sistema para codificação dos atores entrevistados. Tal ‘código’ foi composto por três elementos. O primeiro deles foi a letra maiúscula ‘E’, que significou ‘ator entrevistado’, na sequência, um algarismo cardinal (de 1 a 10), indicando a ordem em que foram sendo entrevistados, e por último, o símbolo que representa a letra do alfabeto grego, que deu origem ao nome do restaurante (‘α’ ou ‘β’). Por exemplo, os protagonistas do Restaurante Alfa foram codificados, da seguinte maneira: ‘E1α’, ‘E2α’, e assim sucessivamente até o ator ‘E10α’, e para os do Restaurante Beta, seguiu-se o mesmo critério, tendo 82 unicamente sido trocada a letra do alfabeto grego, pela sua equivalente, a saber, a letra grega ‘beta’, como por exemplo, ‘E1β’, ‘E2β’, ‘E3β’ etc. Sobre a análise de documentos pode-se constatar que poucas informações foram retiradas do único documento que foi permitido acesso: o site dos restaurantes, inclusive foi feito um questionamento como cliente e não como pesquisadora nesse canal virtual de atendimento de ambos os restaurantes e até o final da pesquisa não se obteve resposta alguma. Num momento posterior à coleta dos dados, fez-se o cruzamento das informações obtidas in loco com a análise dos sites das organizações examinadas. A seção seguinte versa sobre as técnicas de análise dos dados desta pesquisa. 3.8 Técnicas de Análise dos Dados Nesta pesquisa, os dados foram analisados por meio da ‘análise de conteúdo’ (BARDIN, 2010), utilizando-se de uma perspectiva teatral ou dramatúrgica (GROVE; FISK; BITNER, 1992), para entender como a cultura organizacional e a QVT orientam a montagem de palcos organizacionais em restaurantes do Recife - PE. Segundo Vergara (2005, p. 15) “a análise de conteúdo é considerada uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema”. Na visão de Bardin (2010) a análise de conteúdo é utilizada tanto para descrever como para interpretar o conteúdo de documentos e textos, num processo contíguo de técnicas de análise de comunicação, que visam obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos à descrição do conteúdo das mensagens, e para tanto, faz-se necessário percorrer três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos dados, inferência e interpretação. A pré-analise consiste na seleção do material e na definição dos procedimentos a serem adotados na pesquisa, podendo ser descrita como a fase de organização propriamente dita (VERGARA, 2005). É nessa fase que as ideias são 83 organizadas, de modo a elaborar um esquema para o desenvolvimento do trabalho (BARDIN, 2010). A fase de exploração do material e tratamento dos dados é a fase onde acontecem as análises propriamente ditas (BARDIN, 2010). Neste momento foram categorizados os dados coletados, os quais haviam sido estabelecidos na fase anterior tanto para as observações, quanto para as entrevistas realizadas em campo. Categorizar, portanto sugere isolar elementos, a fim de obter em detalhes, informações que colaborem para responder aos objetivos propostos, e em seguida agrupa-los, com o intuito de ter uma visão holística do problema (VERGARA, 2005). O próximo passo: inferência e interpretação dos dados. Neste momento, foi possível, por meio das informações agrupadas na fase anterior, se chegar a algumas conclusões, identificar as limitações encontradas e propor recomendações, assim como obter as respostas para os objetivos deste trabalho e consequentemente à sua pergunta de pesquisa. O processo de categorização, de acordo com as descrições encontradas na literatura, proporciona uma análise de forma mais apurada, e permite a comparação e a discussão dos relatos colhidos nas entrevistas. Para analisar os dados coletados neste trabalho, teve-se como referência as informações obtidas nos sites dos dois restaurantes eleitos para fazer parte deste estudo, as anotações feitas no diário de campo, fruto das observações realizadas nos palcos e os textos transcritos das entrevistas realizadas com os protagonistas dos espetáculos. Tais entrevistas evidenciaram o posicionamento dos atores diante dos aspectos que estavam sendo investigados. Nas transcrições das entrevistas, observou-se a frequência de respostas análogas quanto ao conteúdo, sendo considerada a predominância quantitativa da percepção do elenco sobre os ícones pesquisados. Percorrendo os ensinamentos sugeridos por Vergara (2005), definiram-se duas grades de análise: Aberta – identificação das categorias de análise conforme elas foram aparecendo. Neste caso, o pesquisador faz as adaptações necessárias conforme o andamento das análises; 84 Mista – definição de algumas categorias relacionadas aos objetivos, entretanto, admite-se incluir novas categorias no decorrer das análises. No caso deste estudo, optou-se pela grade aberta para analisar o conteúdo encontrado na fonte documental a que a pesquisadora teve acesso (sites) e para as duas outras fontes de pesquisa selecionadas para este trabalho (observação não participante e entrevistas por pauta) optou-se por utilizar a grade mista. Como esta pesquisa consistiu em um estudo de casos múltiplos, optou-se também pela estratégia metodológica de triangulação dos dados coletados. Assim, fizeram-se os cruzamentos necessários, a fim de aprofundar o contexto de onde resultam “os fatos, as falas e as ações dos indivíduos” (SOUZA; ZIONI, 2003, p. 78). Para esta dissertação optou-se por fazer uso de uma metáfora teatral, a fim de melhor apresentar as interações comportamentais entre pessoas, trabalho e organização. Além disso, este estudo teve o propósito de descrever tais comportamentos e não de explicá-los. Tal recurso dramatúrgico propõe que a vida organizacional é bastante semelhante a uma peça de teatro, onde as pessoas, coordenando-se entre si e ajustando-se para elevarem as suas performances, desempenham papéis (GARDNER, 1992; GROVE; FISK, 1992; ROSENFELD; GIACALONE; RIORDAN, 2002). De acordo com Gardner (1992) e Guimarães (2009) para uma análise de conteúdo por meio dessa metáfora é preciso utilizar alguns conceitos teatrais, tais como: roteiro, palco, cenário, direção, fantasias, vestimentas, guarda-roupa, adereços, desempenho, performance, direção (gestores), atores ou protagonistas (funcionários), hóspedes, plateia, audiência ou público (clientes) e espetáculo (interação funcionários/clientes). Portanto, foi esta a linguagem delimitada para esta dissertação. Vistos os aspectos concernentes às técnicas de coleta dos dados, vai-se discorrer acerca dos limites e limitações desta pesquisa, na próxima seção. 85 3.9 Limites e Limitações da Pesquisa 3.9.1 Limites da Pesquisa Este trabalho limitou-se ao estudo de dois restaurantes com culturas diferentes, isto é, um independente e um franqueado. Ademais, os objetivos deste estudo limitaram-se à verificação dos artefatos culturais, ou seja, fatores percebidos na camada mais aparente dos elementos de uma cultura. Não se teve, portanto, o objetivo de proceder ao diagnóstico cultural acurado de cada um dos restaurantes analisados. Desta forma, o reconhecimento das culturas dessas organizações se deu de maneira superficial (segundo a definição de Schein, 2009 [1985]). A abrangência da pesquisa delimitou-se ao elenco, por conseguinte não foram averiguadas as percepções da direção dos espetáculos nem das plateias para que se propusesse a comparação das percepções. 3.9.2 Limitações da Pesquisa Inicialmente encontrou-se dificuldade quanto à adesão de restaurantes da cidade do Recife a participar deste estudo. Acredita-se que uma provável justificativa a essa rejeição, tenha sido uma das temáticas envolvidas neste trabalho, ou seja, práticas de QVT e, mesmo tendo sido assegurado o anonimato das organizações participantes, pode ter sido interpretado como uma forma de ‘fiscalização’. Para contornar a situação e conseguir a adesão de entidades sérias, contouse com o apoio da gerência da ABRASEL – PE, que apresentou a autora, na qualidade de pesquisadora cientifica, à organizações comprometidas com a prestação de seus serviços à sociedade recifense. Desta forma, teve-se acesso ao campo de pesquisa, a fim de produzir um trabalho que tivesse credibilidade. 86 Outro obstáculo encontrado foi a impossibilidade de acesso a mais ‘intimidade’ dos restaurantes, inclusive dos documentos. Contudo, essa limitação não trouxe grande prejuízo à esta pesquisa, tendo ela apenas dificultado a obtenção de informações mais ‘ricas’ acerca da cultura das organizações eleitas para o presente estudo, levando-se em consideração que, em momento algum pretendia-se proceder a um diagnóstico cultural aprofundado das duas empresas. Mesmo se deparando com esse ‘imprevisto’ – carência de documentos – pode-se ainda recorrer aos sites dos restaurantes. No entanto, tendo sido eles a única forma de documento a que se teve acesso e pelos mesmos fornecerem poucas informações, ficou enfraquecida a triangulação de informações entre documentos, observação e entrevistas, proposta para este trabalho, muito embora não a tenha inviabilizado. Apresentados os contornos acerca do método deste estudo, segue, na sequencia, a análise e a discussão acerca dos dados coletados. 87 CAPÍTULO IV Análise dos Dados Nesta fase, passa-se a apresentar inferências realizadas por meio de informações levantadas pela pesquisa, com a finalidade de responder aos objetivos deste estudo, promovendo, posteriormente, a discussão sobre os resultados alcançados. A pesquisa foi realizada junto a dois restaurantes localizados na cidade do Recife – PE, sendo um restaurante caracterizado como independente, aqui denominado Restaurante Alfa e, o outro, um restaurante franqueado, nomeado como Restaurante Beta (seção 3.3). As anotações feitas no diário de campo, por meio de observação não participante, e as transcrições das entrevistas consistiram na base, para que se realizasse a análise dos dados desta pesquisa. Foram lidas de forma exaustiva as tais transcrições, tendo sido feitos, a partir daí, alguns recortes, os quais foram expostos de forma fiel à informação oral gravada dos entrevistados, estando, portanto, sujeitas às questões de estilo e problemas de ordem gramaticais derivadas das fontes originais Por este trabalho tratar-se de um estudo de múltiplos casos, Merriam (1998, p. 191) sugere que os restaurantes sejam analisados separadamente: [...] ao se realizar um estudo de múltiplos casos, há de se realizar dois estágios de análises: a análise dentro de cada caso, que consiste em analisar cada uma das unidades de pesquisa em separado, e a análise cruzada dos casos, que é realizada logo em seguida. Sendo assim, o presente estudo tem início com a análise do Restaurante Alfa, e em sequencia, do Restaurante Beta. Após a realização das duas análises, procedeu-se a análise final, mediante o cruzamento dos casos, conforme sugerido por Merriam (1998) e Gil (2008). 88 Num primeiro momento, foi feita a caracterização dos restaurantes, por meio da observação não participante, juntamente com informações obtidas nos sites dos restaurantes. Depois disso, apresentam-se os elementos culturais e as práticas de QVT, em termos de ergonomia e iluminação, identificadas nos palcos organizacionais investigados e, em seguida, as percepções dos atores, quanto à essas práticas, com o intuito de obter as respostas para os objetivos específicos propostos para esta pesquisa. 4.1 Primeiro Espetáculo: Restaurante Alfa 4.1.1 Caracterização do Restaurante O Restaurante Alfa foi inaugurado em dezembro de 2007, tendo suas instalações em um sobrado do século XVII. Tal edificação funcionara como senzala de um engenho e hoje se encontra tombada pelo patrimônio histórico. Os ambientes deste restaurante remetem à cultura e história do bairro, tendo em vista ter buscado recuperar a estrutura original do imóvel, bem como a utilização de materiais típicos da época de sua construção. Com vistas à proporcionar maior comodidade aos seus clientes e capacidade para atender a 75 pessoas, conta com dois espaços: o térreo, onde funciona o salão do restaurante e o primeiro andar, onde se localiza a loja de vinhos, que inclui em seu ambiente, mesas para grandes e pequenos grupos. Possui decoração sóbria e atemporal, revestimentos em madeira, tijolos descascados e piso em tijolo cerâmico, com paredes onde estão dispostas obras de arte de Romero Andrade Lima e Alan Carlos, além de uma coleção de espelhos antigos. Sua iluminação âmbar e dimerizada realça os detalhes do sobrado. 89 Seu menu Franco-italiano está disponível todos os dias, sendo de segunda a quinta feira entre 18h30 às 00h00, nas sextas e sábados de 18h30 às 01h00, e atende para o almoço apenas às sextas e aos domingos das 12h00 às 16h00. 4.1.2 Palco Organizacional A observação realizada no ambiente desse Restaurante permitiu que se chegasse a algumas constatações relacionadas à encenação dos espetáculos no seu palco organizacional. Esses dados foram conseguidos por intermédio de alguns artefatos (aparentes) que, de certa maneira, explicitam características da cultura organizacional. 1) Quanto aos atores, parece que eles têm aprendido bem o roteiro para a sua encenação: 1.1) ao que concerne à comunicação com o exterior: internamente, pode-se perceber uma boa comunicação com os clientes, nos momentos de acolhimento, tanto por telefone, quanto pessoalmente; não se pôde observar o desempenho desses atores no que tange ao acolhimento aos clientes em ‘filas de espera’, uma vez que, em nenhum dos dias em que se transcorreu essa pesquisa nesse Restaurante, constatou-se a formação de alguma ‘fila’, apesar da contínua rotatividade de clientes ou plateia; com relação à recepção e à condução da plateia, parece que o roteiro para a encenação também continua favorável: observou-se uma recepção atenciosa desde a chegada ao espetáculo até à acomodação dos clientes nas mesas; 90 nesse Restaurante pode-se constatar que a comunicação com o público, por meio do site (ou Página na Internet), não funciona na prática, pelo menos isto foi constatado durante o período desta investigação, quando se buscou uma informação de rotina, mas a mesma não foi respondida até o final desta pesquisa. Ainda: esse canal virtual, além de carecer de informações sobre a cultura e propostas de trabalho, não mantém frequente atualizações sobre informações diversas. 1.2) com relação à comunicação interna, observou-se que elas são favoráveis: entre os atores, as relações interpessoais parecem ser muito cordiais: observaram-se muitas risadas, falas, cantos e brincadeiras num tom de voz muito alto, demonstrando um bom entrosamento entre eles, apesar de não se terem percebidos gestos de cortesia e gentileza. Da mesma maneira também não se presenciou, em nenhum momento, falta de respeito ou forma agressiva de contato entre eles; percebeu-se respeito da parte dos atores para com a direção do espetáculo, que de sua parte demonstrava atenção, cuidado, zelo e presteza para com eles; 1.3) Com relação à comunicação não verbal, percebeu-se certa despreocupação dos atores para com as suas vestimentas, enquanto eles permaneciam nos bastidores da cozinha; alguns deles, inclusive, usavam fantasias diferentes do ‘guarda-roupa’ convencional. No entanto, essa flexibilidade não foi observada quando da ‘abertura’ do Restaurante ao público: constatou-se que nesses momentos elas apresentavam aspecto limpo e estilo atemporal. 2. Quanto à audiência ou plateia, os resultados indicam um bom desempenho da parte dos atores: 91 comunicação entre atores e plateia: os resultados indicam uma boa recepção aos clientes pessoalmente: Percebeu-se além de bom domínio acerca do menu, conhecimentos e indicações sobre as bebidas a serem oferecidas em relação aos pratos escolhidos, a agilidade e eficiência no registro dos pedidos e cumprimento quanto ao tempo estimado para o serviço das refeições. 3. Referindo-se ao cenário, parece que o desempenho é satisfatório: 3.1) em se tratando de aspectos ergonômicos relacionados à arquitetura: em termos de circulação, observou-se que os equipamentos, mobiliários, utensílios e bancadas de preparo estavam bem distribuídos e localizados, em quantidade suficiente e alturas adequadas, em todos os ambientes desse palco organizacional; percebe-se que os corredores possuem largura satisfatória e livres de entulhos. Quanto aos pisos, eles possuem textura adequada, seja nas áreas restritas aos atores, seja nas áreas externas, referentes ao cenário; quanto ao layout:, percebeu-se que o palco possui dimensão regular, bem como as suas instalações aparentam funcionalidade, organização, higiene e em consonância com as normas da vigilância sanitária.Quanto à ventilação, constatou-se uma incongruência: enquanto nas áreas de circulação dos hóspedes, os ambientes são bem climatizados, na área de produção, a temperatura é elevada. 3.2) em referência aos aspectos ergonômicos referentes ao design: a decoração do palco expõe utensílios clássicos, com peças de decoração posicionadas adequadamente, as quais ostentam beleza e compatibilidade ao estilo colonial da casa. As paredes em tijolos de demolição contrapõem rusticidade e sofisticação, coferindo requinte e glamour ao espaço. A 92 decoração na área de produção é simples, de acordo com as exigências da saúde sanitária. quanto à sinalização, observaram-se dois aspectos negativos: um referente aos visores nas portas de acesso às áreas restritas à plateia, os quais apresentam pouca visibilidade; outro, que diz respeito à sinalização interna dos espaços - estoque, setores administrativos, banheiros e cozinha. Os designs da marca e dos cardápios são de bom gosto, embora esses últimos não sejam autoexplicativos; a cor das paredes e do piso do palco apresenta tonalidades que realçaram a proposta assumida pela direção, no sentindo de valorizar a arquitetura da edificação pré-existente. Entretanto, nas áreas de produção a cor das paredes é branca, conforme disposição dos órgãos reguladores desses estabelecimentos; quanto à iluminação do palco organizacional, ela se diferencia em função dos ambientes: nas áreas de alcance visual da plateia, ela é do tipo âmbar, dimerizada e indireta; percebem-se, ainda, focos de iluminação mais fortes e direcionados, quando se deseja destacar ou realçar peças de decoração e alguns produtos comercializados. Embora esse tipo de iluminação indireta venha a tornar o palco mais agradável e aconchegante, em termos de decoração, ele pode ser considerado inadequado do ponto de vista do melhor aproveitamento da acuidade visual. Isto pôde ser constatado quando se percebeu o uso de lanternas tanto para a visualização do menu, quanto para a conferência e efetivação do pagamento. Pode-se ressaltar, ainda, a inadequação desse recurso luminotécnico (luz baixa) para o desempenho do trabalho dos atores e consequentemente para a QVT deles. Quanto à iluminação da área de produção, ela é difusa e branca - do tipo fluorescente, considerada, portanto, adequada para os tipos de atividades executadas; um aspecto que chamou à atenção foi a variação de luminosidade para dar apoio às câmeras filmadoras em vários pontos dos palcos: aquela dirigida ao cenário (onde circulam os clientes) é baixa, consequentemente dificulta o desempenho apropriado dessas câmeras; enquanto que por onde circulam os atores – considerados pontos estratégicos, não se pode dizer o mesmo. Essa 93 constatação entendida por meio da observação de um artefato cultural (sinal) leva a uma especulação sobre a cultura desse Restaurante: parece que essas câmeras são dirigidas não propriamente à segurança das pessoas e do patrimônio, mas antes, funciona como supervisão e controle sobre os atores. Em se fazendo uma avaliação geral sobre a análise do desempenho do Restaurante Alfa, pode-se dizer que os atores executam bem os seus roteiros, ao que concerne o acolhimento, a recepção e condução da plateia, ao relacionamento interpessoal entre eles mesmos e entre eles e a direção. O único item que pode não ter uma boa avaliação, diz respeito ao desleixo com as suas vestimentas, na área da produção, antes do horário da chegada da audiência. Quanto ao desempenho dos atores em função da audiência, eles se mostraram habilidosos no trato com os clientes: em termos de recepção, atendimento e orientação quanto ao menu. Entretanto, um aspecto negativo quanto a esse desempenho, pode-se observar quanto ao gerenciamento de informações por meio do site ou (Página na Web) – percebe-se que as informações importantes à audiência, não são atualizadas e, o que é pior, consultas feitas via esse canal não são respondidas. Quanto ao desempenho do cenário, percebe-se que a maioria dos itens analisados recebe avaliação positiva: a disposição dos equipamentos, o trânsito livre nos corredores, a textura dos pisos, as dimensões do restaurante, o layout das instalações e os aspectos do design, referentes à decoração e cores. Quanto aos aspectos negativos, observou-se: a ventilação nos espaços destinados à produção, a sinalização nos espaços internos de circulação dos atores das áreas administrativas e de produção e, finalmente, a iluminação que dá suporte às filmagens pelas câmeras, também nos cenários restritos à circulação dos atores. Relatados os aspetos observados no palco organizacional do Restaurante Alfa, passa-se, na sessão seguinte, à análise das informações obtidas, por meio das entrevistas com os atores do espetáculo. 94 4.1.3 Palco, Cenário e QVT: as percepções dos atores Nesta seção, estão descritos os depoimentos do elenco, sobre o cenário de trabalho e as suas percepções sobre as suas QVT. Primeiramente, a respeito da arquitetura, em termos de: circulação, quantidade e disposição dos equipamentos, a acessibilidade nos corredores e o piso: Apesar das observações diretas, não participantes terem indicado para uma boa circulação nos cenários, parece que na opinião dos entrevistados, não há uma percepção semelhante, e sim parece haver uma verdadeira acomodação nos espaços disponíveis para o desempenho dos seus trabalhos: “Aqui tá tudo do jeito que a gente precisa pra trabalhá (sic12), só precisa ter uma porta de serviço pra gente e pra receber os produto (sic) [...] mas é que a mulé (sic) já disse que a casa é uma ‘história de tomada’, aí não entendi muito bem isso não, mas é uma coisa que é porque ela é muito velha, aí disseram que não pode mexer” (E9α). “A única coisa que eu acho mais complicada é pegar o sorvete na hora do movimento e o carpaccio, que é uma entrada, que é no último freezer. E eu trabalho na primeira bancada, onde eu estava ali quando você chegou, eu trabalho naquela do canto da parede. Aí quando pedem uma sobremesa que é o sorvete ou então o carpaccio, que é uma entrada, tem que passar pelo fogão na hora da correria para pegar. Isso atrapalha, eu vou desviando das duas que ficam no fogão. Só isso [...]” (E1α). “Só a freezer da sobremesa que devia ser ali perto dela, porque na hora do ‘pique’ aí complica” (E8α). Quanto às percepções sobre os equipamentos, tanto as observações quanto as declarações, elas vão no mesmo sentido: percebe-se que eles são modernos, bem dispostos, adequados e em quantidade suficiente ao bom desempenho de seus trabalhos: “[...] tenho uma cozinha superequipada, com o que há de melhor no mercado. Forno combinado pra facilitar tempo e facilitar a produção da gente. Tudo o que a gente pode ter hoje pra facilitar a gente tenta ter. Tem freezers de primeira qualidade, fogão, e tudo funciona perfeitamente [...]” (E4α). 12 Sic é um termo da língua latina que significa: assim. É usado para indicar que aquilo (palavra ou expressão) está escrito tal qual foi falado originalmente (ISKANDAR, 2012). 95 Semelhantemente, as observações sobre a circulação nos corredores são confirmadas pelos depoimentos: “E essa passagem aqui também é boa. Você tá (sic) vendo, né (sic)? Antes eu trabalhei num restaurante que parecia um trem, tudo espremido. Aqui tá tudo de acordo” (E2α). “Eu acho que tá bom assim. Os meninos que trabalha lá em cima eu nunca vi reclamar que era apertado não, senhora. Pra mim tá tudo certo. E aqui tá bom pra passar. A senhora tá vendo como é tudo de primeira aqui, não tá?” (E5α sic). “Acho que tá (sic) bom assim. Vi ninguém esbarrando nesse corredor ai não. Nesse tempo que eu to (sic) aqui nunca vi” (E8α). A percepção dos atores sobre a textura adequada dos pisos indica concordância em relação às observações feitas. “O piso é adequado. Até agora nunca houve acidente por aqui. A limpeza também, tudo” (E3α). “[...] o calçado é preparado, não é? Porque em qualquer cozinha sempre acontece de estar molhando, por mais que a gente limpe sempre pinga gordura, cai algum alimento. Aqui usamos croc13 com antiderrapante, o que diminui os escorregões” (E8α). Um aspecto que parece contraditório entre as observações e as declarações concerne ao layout: enquanto que se admitiu ser a dimensão do palco regular, as opiniões dos atores indicaram o contrário: parece que o espaço é pequeno e, portanto, deveria melhorar. “Eu acho que apesar da cozinha ser pequena, ela é bem dividida. Tem a praça de saladas, sobremesas, separada da praça de carnes, para não haver contaminação. Tem um balcão atrás que dá para fazer o pré preparo de algumas que não sejam, por exemplo, um bacalhau que a gente use na entrada, pra não ficar na mesma bancada. Então eu acho que assim, apesar de ser pequena, ela é bem divididazinha” (E1α). “Teria, o estoque, mas não teria espaço pra modificar” (E1α). “Com certeza o estoque precisa ser melhorzinho” (E9α). “O ar condicionado [...] aí ele tirou, botou no estoque [...] Então lá está funcionando e na cozinha não adiantou de nada, realmente. Ficava em cima das panelas [...]” (E1α). 13 Croc - tipo de calçado antiderrapantes apropriados para piso escorregadio. 96 Quanto às instalações, houve consenso entre as observações e as declarações dos atores: percebe-se funcionalidade, organização e higiene, segundo as normas da saúde sanitária. Pode-se constatar apenas um depoimento contrário (E1α): “[...] porque aqui é uma casa tombada, então a gente teve que adaptar o espaço às nossas necessidades. Mas de uma maneira geral, hoje ela é bem dividida, então eu não tenho tanto problema [...]” (E4α). “Eu acho que aqui está bem organizado. As áreas são bem organizadas, cada um no seu setor, tudo conforme” (E3α). “A senhora veja, dá uma olhada aí, num tá tudo arrumadinho? Num tá tudo nos seus devido lugar?” (E3α sic). “Nunca vi um restaurante tão organizado!” (E5α). “Aqui sim, a gente tem uma organização tremenda. A cozinha é dez” (E6α). “Nada aqui é fora do lugar, o povo tá (sic) todo acostumado já, aí se tirou, coloca no mesmo canto, entendeu? (E7α). “[...] é climatizado, os alimentos são divididos de uma maneira correta de armazenagem, cada qual na sua freezer, na sua forma de manipulação, de higienização. A gente obedece tudo muito à risca, inclusive com o acompanhamento de um profissional da área de nutrição que está aqui , mostrando a gente de uma forma adequada. Uma vez na semana essa pessoa fiscalizando, monitorando, aconselhando a gente, mostrando a gente de uma forma adequada” (E8α). “Quando chega mercadoria, se confere se está tudo ok [...] Não adianta eu comprar o melhor produto se eu não tiver a preocupação de lidar com ele. Dentro da cozinha a manipulação é da mesma forma, alimentos separados, sobremesa é uma área totalmente reservada [...] tudo aqui é etiquetado. Então basicamente é isso hoje na cozinha” (E4α). “Aqui as coisas aqui funcionam direitinho [...] eles tentam oferecer a gente o melhor também [...] isso não só lá fora no salão não” (E2α). “Na verdade existe um cuidado muito grande com higiene. Isso vem de cima e é cobrado de todos os funcionários, dos funcionários de serviços gerais ao gerente. Isso é cobrado à risca, não tem perigo. E muitos funcionários, que estão há mais tempo, já estão acostumados no dia a dia. Ocorre que muita gente é acomodada, então tem que estar em cima. Então o cuidado começa desde aqui dessa calçada, que tem necessidade de lavar, de passar cera, assim, como na parte do salão, que no caso tem a parte de lavar e de passar cera sempre. Aí a gente utiliza, quem frequenta a casa percebe logo um perfume específico, um incenso específico que está aqui desde o inicio da casa, pra você ter memória de quando entra aqui sentir aquele cheiro” (E4α). “[...] a gente tem preocupação, então dentro da cozinha tudo é de pedal. A gente não manipula o lixo, propriamente dito; tem a responsável dos serviços gerais que faz toda essa manipulação de colocar o balde de lixo com um saco, quando a gente chega já está retirado se o lixo estiver cheio e num espaço fora da cozinha a gente tem os baldes de lixo, que são separados, garrafas, lixo orgânico, de um modo geral, no caso de comida, e a questão de material de papelão também. Já que a gente e uma loja de vendas a gente tem um grande volume de papelão. Então a gente acaba separando e destinando ao lixo para ter uma coleta seletiva” (E4α). 97 “[...] eu tenho o forno do meu lado, seria bom também umas duas boquinhas de fogo, porque às vezes falta alguma coisa no meio da noite aí eu tenho que ocupar a boca do fogo da praça quente, na hora” (E1α). Sobre a ventilação, tanto as observações quanto as entrevistas são de acordo em perceber a temperatura elevada na área da produção: “[...] Por conta da circulação de ventilação foi feito um trabalho para melhorar, por conta do calor que faz em Recife, imagina dentro de uma cozinha, não é?” (E4α). “Temperatura é sempre um problema. Já foi tentado colocar um ar condicionado só que aí não ficou legal, não suportou. E há preocupação com, isso, por exemplo, o prato que vai ser servido pode resfriar mais rápido. Então era uma preocupação que a gente tinha. Vem o prato para o cliente e o ar condicionado pode resfriar mais rápido” (E6α). “É impossível, uma cozinha com temperatura agradável. Mas é muito quente; é muito quente; teve uma época que estava com ar condicionado e o ar condicionado não dava vencimento; A gente ligava e era psicológico só, porque não adiantava nada. Aí o dono disse, já que não está adiantando, só está gastando energia, eu vou tirar e botar no estoque, porque o estoque era um forno. Até os produtos saiam quentes. Aí ele tirou, botou no estoque e no estoque eu ia lá, ah eu não vou sair daqui não. Então lá está funcionando e na cozinha não adiantou de nada, realmente. Ficava em cima das panelas, mas é muito quente” (E1α). “Não, não tem termômetro, mas era bom. Ele botou um exaustor, queria botar dois, mas não podia colocar outro porque não tinha espaço pra botar o segundo. Mas o exaustor também é meio psicológico, a gente liga, faz um barulho muito grande [...]” (E3α). Em referência aos aspectos ergonômicos referentes ao design: Percebe-se que as declarações dos atores sobre a decoração do palco são de admiração e apreço: “A decoração é show de bola!” (E5α). “A decoração da casa consiste em flores naturais e velinhas, que são colocadas nas mesas. As flores são renovadas duas vezes na semana e têm o cuidado próprio da água, por conta da sujeira e da dengue. As velas são trocadas durante a noite, dependendo do movimento, várias vezes. O que mais? Os guardanapos também fazem o conjunto, junto com as taças e os talheres. Além disso, tem as obras de arte expostas que muita gente acha que essas obras são exposição, são pra vender, mas não, é uma coisa fixa da casa” (E4α). “É, aconchegante e diferente. A maioria dos restaurantes hoje em dia não querem esse tipo de ambiente e eu gosto do ambiente assim. Acho que o atendimento também aqui é bem aconchegante” (E10α). 98 Percebe-se que realmente existe a preocupação em manter a aparência das paredes; o testemunho é confirmatório: “Eu acho que sim, porque não é só aqui no salão. Lá fora também existe um cuidado. Pintura é constante aqui, porque senão as paredes ficam sujas, existe um cuidado com isso. Se tiver que fazer algum reparo, é feito de imediato. A questão dos próprios locais dos funcionários há um acompanhamento e atenção aos funcionários. Os banheiros dos funcionários foram pintados [...]” (E10α). Quanto à iluminação do palco, tanto as observações diretas, quanto os depoimentos ressaltam a diferença que apresentam os dois ambientes – da audiência e dos atores. “Essa tá (sic) boa. Dá pra ver muito bem e eu prefiro luz branca. Acho que a amarela vai mudar um pouquinho a cor do alimento e podia não facilitar muito pra gente” (E5α). “Não mudaria porque aqui na cozinha não tem como se trabalhar com luz amarela não” (E6α). “Na parte operacional é tudo branco, super claro, uma iluminação muito boa, isso a gente não tem do que se queixar” (E7α). “Já no salão, por conta da decoração, é uma coisa que faz parte da decoração é a iluminação, então são essas luzes mais baixas e tal... Às vezes os clientes que não costumam vir de repente reclamam que é escuro, mas acendem umas lanterninhas na hora de ver o cardápio e a conta. Então a gente... a gente também tem o auxilio de uns óculos, se for necessário a gente tem. Tem também, tanto na área operacional quanto aqui para o salão, luzes de emergência [...] então a gente está resguardado com relação a isso que acontece às vezes, com frequência, por conta do bairro hoje em dia ser muito carregado de residências e também por conta de acidentes de carro aqui falta energia e contamos com um gerador” (E4α). “É, muitos clientes pedem lanterna na hora da conta” (E10α). “A gente nota que ele tá (sic) com dificuldade de ler e oferece a lanterna... e dependendo do caso tem o (sic) óculos que a casa tem aí, mas pouca gente quer... acho que sente vergonha de pedir... sei lá! Acho que é” (E2α). “Hoje não, porque a grande maioria já acostumou, mas talvez por perfis diferentes de trabalho, de casas diferentes, muitas vezes eles vêm de bares que são iluminados, que são ao relento, abertos e aqui é um perfil mais calmo, com música ambiente, até às vezes eles curtem a música. É muito tranquilo” (E9α). Não houve depoimentos sobre sinalização, design de cardápios e de marca, bem como sobre cores, talvez por serem aspectos em consonância com a normalidade do trabalho, em termos de qualidade e satisfação, para esses atores. 99 Percebe-se, ainda, que há respeito para com os atores, não somente com relação à melhoria dos seus trabalhos, mas principalmente com relação às suas vidas particulares: “[...] Uma vez na semana o consultor está aqui com a gente... e presta um treinamento, o que é necessário porque nessa área, a rotatividade de funcionários é muito grande e é preciso sempre estar ou reciclando, ou repassando as informações que a gente já teve” (E8α). “[...] Os banheiros dos funcionários foram pintados, colocados (sic) suportes, bacias novas, cortininhas nos banheiros das meninas, o armário de funcionários hoje está um pouquinho descuidado por conta dos próprios funcionários que acabam não cuidando direito, colocar cadeado, tirar, arrancar, então acaba ficando feinho, mas já foi tratado diversas vezes. Então esse cuidado é constante, assim como a limpeza dos banheiros dos clientes, a gente tem cuidado com o banheiro dos funcionários. Então não é só para dizer que é fachada, não é?” (E10α). “Eu percebo isso porque alguns que têm uma rotatividade maior, eles já passaram por diversas casas; aí eles costumam dizer que a alimentação dos funcionários em outros restaurantes não era adequada, aqui a gente tem um cardápio semanal, tem uma preocupação de estar sempre variando, tem água mineral disponível para o funcionário. Tem uma farmacinha (sic) no caso de precisar de remédio, curativo... então esse cuidado realmente existe com o funcionário. Hoje em dia está se estendendo” (E2α). “Sinto, por exemplo, assim: a pessoa não está bem, está se sentindo mal.. eles procuram fazer de tudo... vá pra casa, vá pro (sic) médico, porque não dá pra trabalhar desse jeito, sabe? Depois você traz o atestado, essas coisas assim. Isso já dá um conforto. Ah! Eu não vou ter que trabalhar me acabando.” (E1α). “Aqui as coisas aqui funcionam direitinho [...] eles tentam oferecer a gente o melhor também [...] isso não só lá fora no salão não” (E2α). Finalmente, chama-se a atenção para alguns depoimentos que, de certa forma, levam a perceber aspectos negativos referentes aos cuidados quanto a QVT desses atores, em função da arquitetura e design desse cenário: “A escada sim, só é ruim porque a gente tem que subir e descer com muito peso, mas ela é boa sim. [...]” (E2α). “[...] Já foi tentado colocar um ar condicionado só que ai não ficou legal, não suportou. [...]” (E6α). “[...] o ar condicionado não dava vencimento [...] aí o dono disse, já que não está adiantando, só está gastando energia, eu vou tirar e botar no estoque [...] Aí ele tirou, botou no estoque e no estoque eu ia lá, ah eu não vou sair daqui não [...]” (E1α). “[...] Ele botou um exaustor, queria botar dois, mas não podia colocar outro porque não tinha espaço pra botar o segundo. Mas o exaustor [...] a gente liga, faz um barulho muito grande, tem hora que a gente tira da tomada a gente chega a respirar, porque fica aquele negócio no ouvido, zzzz, então, meu Deus do céu, que silêncio, quando a gente desliga chega a dar uma calma na pessoa” (E3α). 100 “[...] uma cozinha [...] muito quente; é muito quente [...]” (E1α). “Ah, moça! A gente precisa trabalhar, né (sic)? Fazer o que se a casa é assim? Tem que trabalhar” (E6α). Como avaliação geral sobre as declarações dos atores em relação às suas QVT, pode-se resumir, abaixo: Ao que concerne à arquitetura, eles percebem boa disposição dos equipamentos, em termos de modernidade, localização, distâncias e quantidade, em vistas a facilitar os seus trabalhos; na opinião deles, os corredores são desimpedidos para o trânsito e os pisos possuem texturas adequadas e próprias para prover mais segurança aos seus trabalhos e, consequentemente, menores riscos de acidentes; o layout das instalações parece apresentar funcionalidade, organização e higiene, segundo as normas da vigilância sanitária. Os atores percebem, por outro lado, como menos adequados às suas QVT, os aspectos referentes à circulação em alguns cenários, devido à adaptação do espaço do restaurante, o qual é tombado pelo Patrimônio Histórico de Pernambuco; por isto, alguns ambientes se tornam inadequados ao bom desempenho dos seus trabalhos, segundo eles; em alguns casos, percebem o risco de acidentes mais inerente. Ainda por este mesmo motivo, os atores avaliam negativamente as dimensões referentes à cozinha e ao estoque, indicando necessidade de ampliação desses cenários. Finalmente fizeram referência, ainda, à temperatura elevada na área da produção, indicando também a busca de solução. 101 4.2 Segundo Espetáculo: Restaurante Beta 4.2.1 Caracterização do Restaurante O primeiro restaurante da Rede Beta surgiu em março de 1998, tendo suas primeiras instalações situadas no Shopping Center Recife. Com o passar dos anos essa Rede foi crescendo e tornou-se uma cadeia de franquias. Atualmente, apenas essa Unidade (palco) estudada funciona sob a direção do franqueador e encontra-se situada na praça de alimentação do Shopping Tacaruna. Quando da sua concepção, inovou com uma proposta diferenciada em menu, cenário, script e adereços. Trazia a certeza de que fast food não era sinônimo de pratos mal apresentados, falta de requinte e criatividade. Seu propósito era o de preencher a lacuna existente no mercado da época e atender às necessidades do consumidor de restaurantes desse gênero. Seu diferencial consiste na racionalização do cardápio e na melhoria do espaço físico, sem que para isso percase o foco dessa categoria de restaurantes. Por se tratar de refeições rápidas, as interações entre plateia e atores tem curto espaço de duração para conquistar e fidelizar o seu público. Esse restaurante conta com dois andares para as suas instalações: no mezanino encontram-se as áreas destinadas à administração, estoque e prépreparo dos alimentos. Já no térreo encontram-se a cozinha, área de copa e frente de loja. Salvo essa última área, os demais ambientes não contam com adereços nem peças de decoração, o que de fato seria inadequado para o tipo de atividade lá desenvolvida. Sua cozinha foi planejada de forma a permitir à plateia visibilidade total do seu funcionamento. Apresenta layout moderno, priorizando o uso de materiais como aço inoxidável, vidro e cerâmica, os quais facilitam a limpeza. Em sua frente de loja, traz uma proposta limpa, moderna e iluminada para a decoração. Tira partido do contraste das cores da bandeira francesa, com focos de luz direcionados, que buscam realçar os pratos servidos. Conta com televisores do 102 tipo led, que expõem as fotos de pratos montados, sugerindo ao publico uma vasta possibilidade de combinações, o que é uma revolução no conceito de refeições rápidas. Seu menu, se utiliza de ingredientes nobres, disponibilizando várias opções de acompanhamentos, apresentando rigor e padronização no preparo dos pratos, sendo então, uma alternativa gastronômica para quem precisa fazer refeições rápidas. Funciona todos os dias, sendo de segunda a sábado das 09h00 às 22h00 e aos domingos das 12h00 às 20h00. 4.2.1 Palco Organizacional A observação realizada no ambiente desse Restaurante possibilitou algumas evidências com respeito à encenação dos espetáculos no seu palco organizacional. Esses dados foram conseguidos por meio de alguns artefatos (aparentes) capazes de traduzir características da cultura organizacional. 1) Quanto aos atores, parece que nem todos encenam bem o roteiro para as suas apresentações: 1.1) ao que concerne à comunicação com o exterior: internamente, não foi percebida uma boa comunicação ou um cuidado especial, quando do acolhimento aos clientes, tanto pessoalmente; quanto pelos contatos feitos por telefone: percebeu-se impessoalidade na maneira de tratá-los e um certo desleixo diante das informações solicitadas; essas mesmas observações puderam ser constatadas desde a recepção da plateia na fila de espera, momento em que fazem os seus pedidos e, depois, esperam pela preparação de suas refeições, até a posterior condução ao espetáculo, quando se acomodam eles próprios às mesas; 103 semelhantemente ao que se pode observar no outro restaurante analisado, pode-se constatar que a comunicação com o público, por meio do site (ou Página na Internet) também não funciona na realidade: não se respondem às informações solicitadas. Da mesma maneira, não se utiliza esse meio de comunicação virtual para divulgação de aspectos sobre sua cultura organizacional, tais como – Missão, Valores e Visão. 1.2) Com relação à comunicação interna, observou-se que elas são favoráveis: acerca da comunicação interna entre os atores, observou-se um bom relacionamento: conferiu-se uma atmosfera de respeito, confiança e amizade. Muitas risadas inclusive, nos bastidores do espetáculo. Verificou-se que atores que encenam na ‘linha de frente do cenário’ conversavam ininterruptamente, não percebendo sequer a chegada da audiência nos horários mais ociosos; observou-se bastante respeito e cortesia entre atores e a direção do espetáculo. Neste sentido, constatou-se a existência de um ponto positivo: a hierarquia é percebida com respeito e parece não existir o sentimento ‘medo’ ou ‘receio’, quando do desempenho das atividades rotineiras. Esse mesmo respeito foi percebido na via oposta da comunicação, isto é, da direção para com o elenco; 1.3) com relação à comunicação não verbal, observou-se despreocupação dos atores em relação ao uso das fantasias, principalmente aqueles que encenam na cozinha. Muitos deles, inclusive, usavam camisetas não só na preparação dos alimentos, mas também durante as encenações dos espetáculos. Um aspecto negativo percebido, diz respeito ao guarda-roupa (vestimentas) dos atores que encenam na cozinha e na área de serviços gerais: estava encardido – tendo em vista que é branco, em virtude da exigência da saúde sanitária. Quanto às atrizes que encenam na ‘linha de frente desse cenário’, elas se 104 apresentavam sempre arrumadas, com suas vestimentas de estilo clássico, cores sóbrias e aparentemente limpas. 2) Quanto à audiência ou plateia, os resultados da observação direta não participante indicam para certa frieza e impessoalidade quanto ao desempenho da parte dos atores. Apesar do conhecimento acerca do menu, o próprio serviço fast food é responsável por essa característica, além do pouco tempo que eles dispõem para um melhor atendimento à plateia. 3) Referindo-se ao cenário, parece que o desempenho é satisfatório: 3.1) em se tratando de aspectos ergonômicos relacionados à arquitetura: em termos de circulação, constatou-se que os equipamentos, mobiliários, utensílios e bancadas de apoio estavam organizados, distribuídos e montados de acordo com os padrões e as normas da vigilância sanitária; observou-se que esse palco apresenta corredores de circulação e escada estreitos. Nesses acessos encontram-se dispostos utensílios, que funcionam como obstáculos para a circulação de pessoas e mercadorias. Quanto aos pisos, eles possuem textura adequada em todas as suas áreas; quanto ao layout:, percebeu-se que esse palco possui dimensão bastante compacta em seus ambientes. Suas instalações aparentam aspecto negativo ao que diz respeito à organização e à higiene do cenário destinado à produção: verificaram-se panos de chão molhados e encardidos por toda a cozinha e área de preparo. Quanto à ventilação, verificou-se um aspecto negativo: pôde-se observar a temperatura elevada da cozinha e áreas destinadas à estocagem de produtos como algo que incomoda o elenco; 105 3.3) Em referência aos aspectos ergonômicos referentes ao design: apesar desta unidade de análise encontrar-se em uma praça de alimentação de um shopping center, a decoração do seu palco apresenta-se agradável e funcional, com exposição de utensílios e objetos de decoração adequados ao espaço; quanto à sinalização, constata-se que, internamente, não há, ou seja, as pessoas externas àquele ambiente, por exemplo, alguma fiscalização ou mesmo visitantes não sabem onde fica a entrada, a saída, o estoque ou outros cenários. No caso das portas que dão acesso às áreas restritas aos atores possuem visores com o nível de sinalização satisfatório; a cor das paredes nas áreas de produção é branca, o que torna o ambiente claro e conduz a percepção da plateia acerca da limpeza e da higiene. Já na ‘linha de frente do cenário’, constatou-se o uso de outras cores, que realçam e ratificam a proposta de comunicação visual determinadas para a marca, presente em todos os demais adereços desta Rede de franquias (cardápios, guardanapos, copos etc.); quanto à iluminação do palco organizacional, ela se diferencia em função dos ambientes: a iluminação na área de produção é difusa, branca, composta por lâmpadas fluorescentes, em quantidade agradável à acuidade visual e desempenho das atividades laborais dos atores. Já na ‘linha de frente ao cenário’ tem-se de maneira geral o mesmo tipo de iluminação da área de produção, salvo alguns pontos direcionados para destacar os produtos servidos, os quais têm lâmpadas amarelas. Essa tonalidade de iluminação, quando disposta em foco (como no caso desse palco), é conhecida como ‘iluminação de efeito’, justamente pela função especifica de realce que ela desempenha. Desta forma, pode-se concluir que nesses cenários tem-se uma iluminação adequada para as encenações dos seus espetáculos; contrariamente ao que foi percebido no Restaurante Alfa, nesse restaurante, as câmeras filmadoras em alguns pontos do palco, tem a finalidade de possibilitar à direção o acesso a alguns cenários para a observação do desenvolvimento das atividades. Neste sentido, entende-se que o sistema de 106 iluminação existente foi devidamente preparado para atender às necessidades dos atores, cenário e palco de trabalho como um todo, e não propriamente para o serviço de segurança. Vistos os aspetos observados no palco organizacional do Restaurante Beta, trata-se, no próximo tópico, à análise das informações, depreendidas das entrevistas com os atores. 4.2.2 Palco, Cenário e QVT: as percepções dos atores Nesta seção, estão descritos os depoimentos dos atores, sobre o cenário de trabalho e as suas percepções sobre as suas QVT. Primeiramente, a respeito da arquitetura, em termos de: circulação, quantidade e disposição dos equipamentos, a acessibilidade nos corredores e o piso: Os depoimentos dos atores quanto à circulação nos cenários indicam um aspecto negativo para o desempenho de suas atividades e suas QVT: “A gente aqui do atendimento de frente de loja é que fica mais prejudicada ainda, porque não tem mais aquela portinha que deixa a gente entrar, aí tem que dar a volta lá por trás e andar o corredor todinho indo e voltando muitas vezes ao dia.” (E9β). “Vixe (sic) Maria, essa escada é o ó, a gente tem que fazer manobra pra subir e descer com as coisas lá de cima” (E6β). “[...] é boa sim, essa porta de vidro ficou boa pra gente ver quem tá do outro lado” (E7β). “Ah, era muito diferente antes dessa reforma, agora com essa porta de vidro melhorou muito. Ninguém esbarra mais quando sai daqui pra lá” (E3β). Outro aspecto que parece dificultar a circulação nesses cenários, na opinião dos atores, diz respeito aos treinamentos para abertura de novas franquias desta Rede de restaurantes, os quais acontecem nesse palco, já considerado 107 pequeno por eles mesmos. Neste sentido, o elenco, em sua totalidade, reclamou a esse respeito, dizendo sentirem-se prejudicados pela superpopulação que passa a circular nesses dias; conforme alguns depoimentos abaixo: “Já é pequeno, aí chega um monte de gente pra gente ensinar o serviço... aí já viu, né (sic)? Ë um tumulto só!” (E8β). “É gente demais aqui, é um entra e sai, um vai e volta, a gente nem conhece todo mundo, aí fica um aperto danado de gente se espremendo por aqui e por ali, e como é que dá pra se trabalhar assim?” (E5β). Quanto às percepções dos atores sobre os equipamentos, a maioria dos entrevistados afirmou que os mesmos são modernos, bem dispostos, adequados e em quantidade suficiente ao bom desempenho de seus trabalhos. Entretanto, percebe-se um depoimento contrário: “[...] aqui tem problema não. Tem tudo que a gente precisa para trabalhar. Tem forno combinado, Tem freezer, só não tem câmara fria, mas também aonde (sic) ia enfiar essa danada?” (E6β). “Quanto a isso não tem problema. Trabalhei em ouros lugares que só tinha uma freezer, era uma agonia, mas aqui não, tá tudo separadinho, tem até bebedouro pra gente” (E9β). “Com certeza. São todas as medidas em alturas ideais pra gente trabalhar, o tamanho das bancadas pra gente trabalhar é esse mesmo, porque é ali a praça que a gente faz a maioria do corte. Essa daí é só pra gente trabalhar com uma cenoura, dois de tomate pra fazer um vinagrete... são (sic) uma mesa ideal, são adequado (sic) pra gente mesmo” (E4β). “Tem nenhuma reclamação não, moça. Tá (sic) tudo bom pra altura da gente aqui, tem ninguém gigante e também não tem ninguém anão, então a altura é essa aí mesmo que tem que ser” (E8β). “[...] A gente não tem uma câmara fria, tem loja que já tem [...]” (E1β). Quanto à circulação nos corredores, escadas e áreas de circulação interna, segundo as percepções dos atores, ela não é livre e desimpedida em virtude dos espaços serem apertados. Mais ainda: da forma como estão dispostos eles estão suscetíveis a provocar acidentes, conforme as declarações: “Esse corredor aí é estreito... porque também, como o estoque é pequeno... aí algumas freezers fica no corredor, onde as pessoas circula. Aí torna-se apertado. Como é muito funcionário e a loja é reduzida [...]”(E2β sic). 108 “Quando chega um funcionário que é mais ‘fortinho’ complica muito. Não vou dizer que é legal, porque não é. Pra passar aqui... tem um menino ali que ele é forte, aí pra passar aqui você tem que se enrolar, se imprensar nele pra conseguir passar [...] Só às vezes, assim, machuca, dá cotovelada no outro, bate com a panela no outro. Essas coisas. Não é nada grave, mas às vezes queima a pessoa”(E1β). “O ruim é só que não tem espaço pra colocar essas lixeiras, aí elas fica (sic) pelo corredor [...]” (E7β). A percepção dos atores sobre a textura dos pisos indica que eles estão adequados e conforme o padrão. Ainda, os atores utilizam calçados antiderrapantes apropriados, ficando, portanto, mais protegidos contra acidentes. Entretanto, parece que a escada apresenta problema de segurança, conforme o último depoimento: “Eu acho perfeito assim. Vejo ninguém aqui escorregando não” (E9β). “Hoje a gente tá (sic) trabalhando com um piso aqui adequado, entendeu? Porque ele não é escorregadio. Todos nós cozinha (sic) num restaurante, aí cai uma coisa ou outra no chão, é normal, só que esse croc é antiderrapante e a gente trabalha com essa sandália, que ela já vem com o solado pra isso” (E4β). “Assim. Escorregamento assim eu já vi nessa escada. O pessoal descendo a escada aí pega e escorrega. Feito a mulher que veio fazer nosso exame aí, ela mesmo escorregou na escada. Machucou a perna dela. Problema só da escada mesmo” (E3β). Quanto ao layout, a maior parte do elenco indica que alguns cenários possuem dimensão insuficiente, como, por exemplo, quando se referiram à cozinha, às áreas de preparo, ao estoque e ao atendimento ao público. Sabese que essa é uma condição que prejudica sobremaneira o desempenho favorável de um trabalho; como descrevem os depoimentos: “O tamanho realmente não é... é pequena a loja, principalmente o estoque. Como eu sou do estoque só consigo armazenar mercadoria pra uma semana, no máximo. [...] A cozinha eu acho muito pequena, mal cabem três pessoas. Quando chega uma pessoa pra treinar é horrível” (E1β). “É o que tá faltando na nossa loja. Ali é uma parte muito pequena pra quatro pessoas montando, aí tem que pedir licença pra lá e pra cá. Às vezes a gente se estressa um com o outro. Só o espaço que falta” (E4β). “É apertado demais. É mal dividido. A gente fica um esbarrando no outro, principalmente assim, quando tem treinamento. Fica muito apertado, espaço muito pequeno” (E5β). “Pequeno, apertado. Tem vez (sic) que a gente não tem nem condições de passar um pano embaixo dos móveis que é muito difícil. Na minha área, assim... a gente trabalha com a limpeza tudinho, aí tem uma máquina de 109 prato, enxugar prato, desde quando eu cheguei aqui que ela tá desligada... a gente lava prato, a gente mesmo lava, enxuga, tudinho, aí ela tá lá, só o que? Ocupando espaço, né?” (E7β sic). As declarações dos atores indicam que as instalações são organizadas, uma vez que isto contribui para o melhor aproveitamento do tempo na execução do serviço e evita problemas de manipulação: “Coloca sim, sempre no mesmo lugar. Cada um tem uma marcação de lugar: panela, colher, concha. Tudo num lugar só marcado” (E2β). “Mas a organização das coisas é tudo no lugar. Se tirou as coisas coloca no lugar. Aqui ou se obedece isso ou fica aquela doidice: ah, onde é que tá (sic) isso, onde é que tá (sic) aquilo?” (E1β). “Eu tenho dois anos aí e todo mundo sabe o que é que faz. Tenho dois anos que vou fazer aqui. Cada um tirou suas coisas e bota de volta no mesmo canto. A equipe da gente é muito unida. Tá (sic) entendendo? Que um ajuda o outro, se puder. Que ninguém atrapalha a vida do outro não. Cada um faz o seu e procura melhorar e ajudar o companheiro” (E3β). “Tem o seu lugar, tudo vai pro (sic) seu lugar. Exemplo, copo medidor, todo mundo sabe que é em cima do armário, tudinho, balde tudo é ali, tampa... Aí quando pede já sabe onde tá (sic); ali em cima do armário” (E7β). Parece que a higiene nesse palco organizacional é uma regra e que ela já faz parte da rotina dos atores. Percebe-se, ainda, que ela os agrada e favorece o seu bem-estar; segundo o relato de alguns atores: “Eu mesmo se for comer num lugar e vê tudo branquinho assim, aí já é outra coisa, né (sic) não?” (E5β). “É porque eu acho que a primeira impressão de quem chega, de quem vê, é a que vale. Pra mim é isso. Cheguei, aí a cozinha limpa, chão limpo, me ensinaram assim: se tiver fazendo alguma coisa e o chão tiver sujo, pare o que tá fazendo e limpe o chão. Já é a norma da casa. Parede, exemplo: essa parede é limpa duas vezes por dia. O chão diariamente tá se limpando. Quem sujou, limpa, não é só eu não. Cozinheiro, até chefe tudinho. Tiver desocupado, vê que o chão tá sujo, vai lá e limpa, ninguém fica esperando não, equipe unida” (E7β sic). “[...] é porque sempre o menino fica limpando. Nunca vê o chão sujo, sempre o chão tá (sic) limpo. Sempre os serviços gerais tá (sic) fazendo a limpeza. Essas paredes aí mesmo têm que limpar duas vezes no dia” (E3β). 110 Quando questionados sobre a presença de panos de chão molhados e muito encardidos espalhados pela cozinha, alguns atores procuraram justificar, afirmando: “É porque a turma aqui do shopping quando lava os corredores à noite, a maioria das vezes tem água aí no chão, aí a água entra pra cozinha, aí de manhã é muito corrido pra fazer tudinho. A menina chega puxa a água e deixa os panos lá. Aí puxo o pano, puxo o rodo, puxo a água.” (E7β). “Quando eu chego, já tá assim. Aí eu não mexo não, ninguém nunca mandou eu tirar, eu não mexo não” (E3β). Quanto à ventilação, os atores percebem que ela é insuficiente e que, ao contrário, a temperatura nos cenários é elevada, embora a direção tenha investido em um equipamento de ar condicionado mais potente para a área da cozinha; no entanto, o calor nesses ambientes apenas diminuiu, mas não foi resolvido. “A temperatura, a ventilação melhorou. Antigamente o ar era muito pouco, aí com a reforma o ar melhorou um pouco, mas eu acho que podia melhorar um pouquinho mais” (E3β). “Aqui em baixo tá (sic) melhor depois dessa reforma aí, mas lá em cima é QUENTÍSSIMO! Principalmente no estoque!” (E2β). Sobre os aspectos ergonômicos referentes ao design: percebe-se por algumas declarações, que o restaurante deve ter passado por uma reforma recentemente e que a decoração dos cenários deve agradar aos atores, contribuindo para melhorar as suas QVT; assim confirmam: “A decoração hoje dessa loja, que eu trabalho hoje, não é porque eu sou funcionário há 11 anos não, mas a mudança da loja ficou muito bonita. Muito linda a loja! Você vê que as fotos parecendo naturais, reais, ali é aquilo que você tá (sic) comendo. Você vai pedir um prato hoje, você vê na foto ali, se não for ideal você pode mandar voltar, porque é real. A gente faz o treinamento com foto real mesmo” (E4β). “Essa decoração ai tá (sic) show de bola!” (E9β). Quanto à sinalização, percebe-se que, por esse depoimento abaixo, a sua falta pode inclusive confundir alguns atores no exercício de suas funções laborais: 111 “Não, não tem nenhuma sinalização não. Os meninos como já trabalham aqui, né (sic)? Aí já estão acostumados. [...] Só quem chega de fora, aí a gente tem que acompanhar. Assim, senão dá uma perdidinha, mas também como é pequeno, tem como se perder muito não” (E6β). Sobre a iluminação, percebe-se pelos depoimentos, que ela melhorou, a partir da reforma feita recentemente: Neste sentido, os atores enfatizam ter sido a iluminação um dos aspectos otimizados pela reforma à qual já houve referencia anterior. E, portanto relatam: “[...] hoje tá excelente pra gente trabalhar, entendeu? Aqui na frente se você ver a iluminação, totalmente diferente, linda a loja! Era muito diferente a loja [...] essa luz aí tá (sic) muito melhor. É melhor. Porque é o seguinte: aí onde você vê que tá toda a sujeira, se colocar a amarela ela vai esconder a sujeira, entendeu? Aí fica a gordura que a gente trabalha ali dentro, vai pegando, vai pegando [...] a luz branca na hora você vê que tá (sic) sujo. Também essa luz agora tá (sic) muita claro pra se trabalhar” (E4β). “Eu acho confortável assim do jeito que tá (sic). Branca é melhor mesmo pra trabalhar e essas (sic) daí é só pra decorar mesmo e mostrar ao cliente o prato que ele vai comer, que fica mais bonito mesmo pra ele ver” (E2β). Finalmente, pode-se perceber o orgulho, a admiração e o amor que alguns dos atores têm pelo Restaurante, em um sinal de comprometimento; o que lhes confere uma boa QVT: “Amo este lugar, porque eu nasci do nada, vim do nada e hoje sou o que sou” (E4β sic). “Amo o meu emprego. Tanto é que faz muito tempo que eu tô (sic) aqui, né (sic)? Eu gosto daqui. Eu acho que não conseguiria se não gostasse tanto. Você acaba ficando doente, se você insistir, eu acho!” (E1β). “Tem ‘parelha’ pra esse restaurante não. É internacional essa marca. Ë demais!” (E3β). “Tenho muito orgulho de ter entrado e ter subido aqui nessa empresa. A gente termina pegando muito amor ao restaurante” (E8β). Como avaliação geral sobre as declarações dos atores em relação às suas QVT, pode-se resumir, abaixo: Ao que concerne à arquitetura, eles assinalam para as deficiências, em função principalmente dos espaços reduzidos dos cenários; chegando mesmo a apresentar alguns riscos de acidentes, sobretudo em época de treinamento 112 do pessoal de outras lojas da franquia. Indicam para a disposição dos equipamentos, em termos de modernidade e quantidade, reconhecendo como um aspecto facilitador para os seus trabalhos. Percebem o perigo que os corredores podem provocar em vista ao acúmulo de objetos, os quais impedem o trânsito entre os cenários. Os pisos possuem texturas adequadas e próprias para prover mais segurança, além do uso de calçados apropriados. O layout dos cenários apresenta dimensão insuficiente para o desenvolvimento das atividades, sendo assim, eles avaliam negativamente as dimensões referentes à cozinha e ao estoque. A organização e a higiene desse palco são reconhecidas pelos atores, o que favorece o bom desempenho dos seus trabalhos. Por fim, reclamaram da sinalização e da temperatura elevada nas áreas da produção e estoque, mostrando-se satisfeitos com a decoração e com o trabalho no restaurante, aspectos muito positivos para a melhoria de suas QVT. 4.3 O Grande Espetáculo: análise comparativa entre os dois palcos organizacionais Nesta seção, buscou-se fazer uma comparação entre os aspectos encontrados nos dois palcos analisados, com vistas a ampliar o estudo realizado acerca dos cenários e dos atores, quando da encenação dos espetáculos. Percebe-se claramente a diferença cultural entre esses dois restaurantes analisados: 1) Em termos dos atores: Em termos de comunicação com o exterior: desde o acolhimento ao telefone até à recepção e condução da plateia às mesas, o Restaurante Alfa se sobressaiu, sem contar que não se percebeu qualquer fila de espera; enquanto que no Restaurante Beta esses roteiros foram desempenhados com 113 frieza e impessoalidade. Apenas na atenção que não se dá ao site ou Página na internet é que esses restaurantes se assemelham. Constata-se que a cultura organizacional do primeiro restaurante elege a sua audiência como um valor importante para ele, enquanto que não se pode dizer o mesmo quanto ao segundo restaurante. Ao que concerne à comunicação interna, percebe-se que em ambos os restaurantes, existe um bom relacionamento interpessoal entre os próprios atores, entre eles e a direção e, ainda, entre essa e os atores. Sobre a cultura organizacional, faz-se mais uma descoberta: a importância que se dá a esses relacionamentos, aspecto de grande valia para a melhoria da QVT desses atores, bem como para estimular o comprometimento organizacional (SÁ, 1999). Quanto à comunicação não verbal, aqui traduzida pelas vestimentas dos atores, pode-se dizer que mais uma vez, o Restaurante Alfa toma a frente: constata-se o zelo que se tem por esse símbolo (vestimenta) que, por ele, podem-se tirar várias informações sobre a cultura organizacional, tais como – a importância que se dá ao cliente, à higiene, à saúde e às próprias pessoas, na medida em que as mantêm apresentáveis ao público, melhorando com isto a autoestima desses atores. 2) Em termos da audiência, referente à comunicação entre atores e plateia, o Restaurante Alfa ganha ainda em desempenho: percebe-se boa recepção e condução dos clientes às mesas; ainda, a forma como eles tiram os pedidos e os servem – percebe-se que isto é feito de maneira pessoal, enquanto que no Restaurante Beta não se constatou esse mesmo desempenho. Essa é mais uma característica da cultura organizacional do Restaurante Alfa: atenção e zelo pelos clientes. 3) Sobre o cenário e a sua arquitetura, percebe-se que a circulação nos corredores do Restaurante Alfa é fluida, enquanto que no Restaurante Beta ela é congestionada. Ambos dispõem de equipamentos modernos, bem instalados e em quantidade suficiente. Vale salientar que todos os dois restaurantes analisados mantêm pisos bem preparados e adequados ao 114 trabalho com segurança, inclusive atendendo a uma exigência da vigilância sanitária. Essa providência garante a segurança e a saúde dos atores. Por esse aspecto pode-se buscar entender mais uma característica da cultura organizacional do Restaurante Alfa: o respeito aos seus atores, na medida em que cuida da sua segurança. Ao que se refere aos aspectos de layout, todos os itens analisados mostram o descuido do Restaurante Beta, em comparação ao Alfa, em termos de dimensões e ventilação dos cenários, bem como do layout das suas instalações. Verifica-se, ainda, a atenção que se dá aos atores, entendidos por esse último restaurante, como sendo um valor cultural. Finalmente, quanto à decoração e às cores, pôde-se constatar que tanto o Restaurante Alfa quanto o Beta, priorizam esses aspectos, que valorizam tanto a audiência quanto os atores. Na seção seguinte, passa-se a conclusão desta dissertação. 115 CAPÍTULO V Conclusão e Recomendações Esta dissertação procurou investigar como a cultura organizacional orienta práticas de QVT, representadas nos palcos organizacionais de restaurantes do Recife - PE. Para tanto, estabeleceram-se objetivos específicos, os quais encaminharam o desenrolar deste trabalho. Nesta seção, vai ser apresentada a conclusão e algumas sugestões. 5.1 Artefatos da cultura organizacional perceptíveis nos palcos organizacionais de restaurantes do Recife – PE Conforme descrito no capítulo sobre a Metodologia da Pesquisa, muitos são os métodos utilizados e divulgados para se desvendar a cultura de uma organização. Entretanto, neste trabalho fez-se uso daquela adotada por Sá (1997), isto é, descobrir a cultura por meio de artefatos (sinais e símbolos) perceptíveis no quotidiano dos restaurantes analisados, os quais explicam as suas realidades e valores (SÁ, 1997). Neste sentido, pode-se afirmar que foram identificados artefatos da cultura dos restaurantes analisados, em termos de: 1) Concernentes aos atores: comunicação com o exterior (verbal): acolhimento ao telefone e às filas de espera; recepção e condução da plateia às mesas; atualização e respostas ao site (Página na Web); 116 comunicação interna: entre os atores; entre os atores e a direção; entre a direção e os atores (em termos de comunicação pessoal, quadro de avisos, reuniões); comunicação não verbal: 2) 3) vestimentas dos funcionários (estilo e limpeza). Referentes à audiência (plateia): comunicação entre atores e plateia: recepção dos clientes (pessoalmente); condução dos clientes às mesas; forma que tira os pedidos e serve os clientes. Relativo ao cenário: ergonomia: circulação (arquitetura): disposição dos equipamentos (localização, distância e quantidade); corredores (desimpedidos para o trânsito); texturas dos pisos; layout dimensões do restaurante; layout das instalações; ventilação do espaço; design: paredes (texturas, disposição de objetos e quadros); sinalizações (design de cardápios, da marca); iluminação decoração; cores. 117 Esses artefatos foram responsáveis pela mostra de sinais que permitiram ir além do aparente e compreender valores (mais submersos) dos restaurantes analisados, os quais traduzem a sua cultura organizacional, que segundo Thévenet (1989). 5.2 Percepção dos atores e práticas de QVT, em termos de ergonomia e iluminação, adotadas nos palcos organizacionais de restaurantes do Recife – PE 5.2.1 Restaurante Alfa Quanto à ergonomia, ao mesmo tempo em que os atores percebem a circulação nos cenários como sendo apropriada e desimpedida de obstáculos. Eles também reconhecem que ela é prejudicada devido à adaptação dos mesmos, em virtude do tombamento feito pelo Patrimônio Histórico de Pernambuco. Quanto à textura dos pisos, os atores são conscientes de que são adequados. Neste sentido, constata-se que, de maneira geral, os aspectos referentes à ergonomia, favorecem o desenvolvimento das suas atividades e proveem maior segurança contra os perigos de acidentes. Entretanto, essa avaliação não é tão favorável quando se trata do layout: eles indicam como prejudicial aos seus trabalhos e a sua QVT, as dimensões referentes à cozinha e ao estoque, bem como à temperatura elevada nesses cenários. Referindo-se ao design, constata-se que a decoração (disposição dos objetos e quadros) em estilo colonial, encanta os atores, provendo-lhes satisfação por trabalharem em um cenário agradável; no entanto, a sinalização dos ambientes não é reconhecida como adequada, exceto quando se trata do design dos cardápios. Finalmente, sobre a iluminação dos cenários, ela é percebida como suficiente nos ambientes onde se realiza a produção, mas inadequada para o desenvolvimento dos seus trabalhos nos cenários por onde circula a audiência, visto que a mesma, 118 embora do tipo âmbar, o que confere charme e elegância ao espaço, a sua intensidade é insuficiente. 5.2.2 Restaurante Beta Ao que se refere à ergonomia, os atores percebem o perigo de acidentes por causa da circulação deficiente, principalmente nos corredores, devido aos objetos neles acumulados; quanto aos pisos, eles proveem segurança ao exercício dos seus trabalhos. Outro aspecto que pode prejudicar a QVT dos atores e apresentar risco de acidentes concernentes, principalmente, ao espaço reduzido dos cenários, um exemplo dessa situação foram as reclamações dos atores sobre as dimensões insuficientes da cozinha e do estoque. No entanto, sabe-se que essa é uma característica própria dos projetos para lojas localizadas em centros comercias do tipo shoppings centers - dimensões reduzidas. Sobre o layout e o design, os atores ressaltam a deficiência da sinalização dos ambientes: eles reconhecem como totalmente inadequada, inclusive ressaltam o perigo de acidentes que a falta dela pode provocar; também queixam-se da temperatura elevada em áreas específicas, como aspectos que dificultam o desempenho de suas atividades laborais. Em revanche, reconhecem a vantagem de trabalharem em cenários organizados e higiênicos, como também se mostram satisfeitos por fazerem parte do quadro funcional desse restaurante; condições estas, favoráveis às suas QVT. Por outro lado, eles ressaltam o branco estampado na decoração como um aspecto favorável à higiene. Por fim, referindo-se à iluminação, os atores se mostram satisfeitos e afirmam que ela é adequada ao desenvolvimento dos seus trabalhos. Finalmente, pode-se chegar à conclusão deste trabalho, o qual teve como objetivo geral investigar como a cultura organizacional orienta práticas de QVT, representadas nos palcos organizacionais de restaurantes do Recife - PE. 119 Como pesquisadora e ex-gestora de restaurantes vale a pena tecer alguns comentários. Em organizações como essas, pode-se pensar que o nível de relacionamento entre os protagonistas seja mais conflituoso, devido, inclusive, à baixa escolaridade dos mesmos; entretanto pode-se pensar que os restaurantes investigados são uma exceção, contudo, na minha vivencia, também tenha conhecido situações de climas agradáveis de relações interpessoais, semelhantes àquelas encontradas nesta pesquisa. Outro aspecto a ser chamado à atenção, diz respeito às questões que envolvem os pisos e suas texturas; atualmente, sabe-se que a prática não é mais unicamente focada nesses aspectos, mas, principalmente, em adaptar às fantasias (calçados) às características antiderrapantes que elas possuam, de acordo com as mais recentes recomendações da Saúde Sanitária. Desta forma, constata-se a diferença cultural entre esses dois restaurantes analisados: no Restaurante Alfa percebe-se que o valor mais importante refere-se aos clientes (audiência): observa-se como eles são bem recepcionados desde o acolhimento ao telefone até serem conduzidos às mesas e quando servidos. Outro aspecto importante para esse restaurante são os atores: o relacionamento interpessoal entre eles, e entre eles e a direção. Quanto à organização do trabalho (cenários), em termos de ergonomia, percebe-se o cuidado com a circulação (arquitetura), pisos, equipamentos e com as instalações. Verifica-se, ainda, a atenção que se dá às dimensões dos cenários, ao layout, bem como à iluminação nos cenários da cozinha e das áreas de preparo. Parece que as únicas queixas são relativas à iluminação nos cenários direcionados às plateias (audiência ou clientes) e à ventilação: reclamam do calor na cozinha. Em relação ao Restaurante Beta, identifica-se que o valor mais importante refere-se também aos clientes (audiência), embora não se dê tanta atenção a eles – vale salientar que a própria característica do fast food contribui para esta certa impessoalidade e frieza ou rapidez nos atendimentos. Os atores também são considerados importantes, segundo os resultados desta pesquisa: verifica-se um bom relacionamento interpessoal entre os atores, e entre eles e a direção. Quanto à organização do trabalho (cenários), em termos de ergonomia, percebe-se que a circulação (arquitetura) é congestionada; embora os pisos e os equipamentos sejam adequados ao trabalho com segurança. Quanto ao layout, constata-se o descaso em 120 que concerne às dimensões e a ventilação dos cenários. Por fim, ressalta-se que a iluminação dos cenários é vista como compatível à plena execução dos trabalhos. Para concluir, enfim, pode-se responder à questão desta pesquisa, afirmando que, segundo os dados aqui analisados, constata-se que a cultura organizacional orienta práticas de QVT: percebe-se que o estilo de gestão (cultura) do Restaurante Alfa apresenta muito mais aspectos positivos em relação à audiência (plateia ou clientes) e ao cenário, do que o Restaurante Beta; da mesma maneira, os atores entrevistados reconhecem que esse primeiro restaurante provê melhores condições de trabalho e de convivência interpessoal, traduzidas em melhor QVT. 5.3 Recomendações 5.3.1 Recomendações de melhoria para os Restaurantes Diante dos resultados desta pesquisa, emite-se algumas sugestões em vista a que sejam adotadas, caso haja interesse, algumas melhorias para o desempenho dos atores, audiência e cenários. Promover programas de treinamento e de educação continuada quanto às técnicas de ‘Atendimento’ e ‘Boas Práticas de Fabricação’ para todos os protagonistas. Oferecer vestimentas mais confortáveis para os atores usarem antes da encenação dos espetáculos. Especificamente à direção do Restaurante Alfa, consideradas e resguardadas as ressalvas mercadológicas e de design, sugere-se observar a iluminação do palco externo das encenações, a fim de serem implementadas melhorias não somente no tocante às necessidades de conforto visual para seu elenco, mas também para seu público consumidor. 121 Propor à direção do Restaurante Beta que considere o fato de frequentemente receber um contingente maior de atores para treinamentos, e, portanto, sugerem-se instalações mais amplas, por ser esse o ‘palco piloto’ dessa rede de franquias. 5.3.2 Recomendações para novos estudos Pautada nas conclusões obtidas neste estudo e nas lacunas que puderam ser percebidas durante esta pesquisa, propõe-se algumas sugestões para a realização de novas produções científicas, a saber: Verificar as percepções de diretores dos mesmos palcos organizacionais, a fim de se perceber a visão deles acerca da temática investigada e então fazer uma comparação entre as percepções do elenco e da direção. Ampliar a investigação a outros níveis da cultura organizacional dos mesmos e de outros palcos para então, se compreender em que nível cultural de fato são definidas as práticas de QVT. Alargar os estudos a outros setores do comércio varejista. Estender as pesquisas a mais restaurantes da cidade do Recife e demais estados da federação, para que se possa ampliar a visão do problema de pesquisa e posteriores comparações. 122 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA. O que é ergonomia. Disponível em: <http://www.abergo.org.br/oqueeergonomia.htm>. Acesso em: 6 nov. 2011. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BARES E RESTAURANTES. Abrasel – 20 anos de trabalho e investimentos pelo desenvolvimento do Brasil. Disponível em: <http://www.abrasel.com.br/docArquivos/NACIONAL/perfilAbrasel.mht>. Acesso em: 8 dez. 2011a. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BARES E RESTAURANTES. Restaurantes de Pernambuco barram tíquete-refeição. Disponível em: <http://www.abraselpe.org.br/tiquete_not2.asp>. Acesso em: 8 dez. 2011b. 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O estudo, autorizado pelo Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração (CPPA) da Faculdade Boa Viagem (FBV), está em sua fase de pesquisa de campo, e para tal, conforme explicação em contato anterior, a mestranda observará o funcionamento de suas instalações em visitas previamente agendadas, assim como entrevistará os funcionários, aqueles que se disponibilizarem a participar do presente estudo. Dessa forma, solicitamos sua colaboração no sentido de autorizar a pesquisa em seu restaurante, uma vez que se enquadra no perfil que buscamos. As informações coletadas são para fins estritamente acadêmicos e os dados serão tratados de forma consolidada, o que impossibilita a identificação dos participantes. Quanto à identidade da empresa, mesmo em fotografias, ela será preservada, se assim for solicitado. Agradecemos antecipadamente pela atenção e possível colaboração, sem as quais este estudo não poderia ser realizado. Atenciosamente, 135 APÊNDICE B Observação sobre a Cultura Organizacional Parte I Restaurante (código): Nº de Funcionários: Horário de Chegada: Horário de Saída: Data: / / 2012 Tempo de Observação: Parte II Atores Observando a Comunicação com o exterior (verbal e não verbal) Recepção e condução da plateia Site (respostas aos contatos, atualização) Desempenho Acolhimento (telefone, filas de espera) Observando a Comunicação interna (maneira de falar, brincadeiras, palavras de baixo calão, tom de voz, cortesia, gestos e movimentos) Atores x Direção Direção x Atores (comunicação pessoal, quadro de avisos, reuniões) Desempenho Atores x Atores Observando a Comunicação não verbal Vestimentas dos Funcionários (estilo, limpeza) Audiência (plateia) Observando a Comunicação entre Atores e Plateia Recepção dos clientes pessoalmente Forma que tira os pedidos e servem os clientes Desempenho Condução dos Clientes 136 Cenário Observando a Arquitetura Aspectos de Circulação Disposição dos equipamentos (localização e distancias) Corredores desimpedidos para o trânsito no restaurante Texturas dos pisos Aspectos de Layout Dimensões do restaurante Layout das instalações Ventilação do espaço Observando o Design Aspectos de Decoração Paredes (texturas, disposição de objetos e quadros) Sinalizações (design de cardápios, marca) Decoração Aspectos de Cores Cores (paredes, piso, louças, marca) Iluminação suficiente (direta e indireta) Iluminação para a filmagem pelas câmeras de segurança 137 APÊNDICE C Roteiro de Entrevista aos protagonistas Parte I Ambiente Físico Funcional Entrevistando acerca de Ergonomia (Arquitetura) Aspectos de Circulação Dimensões do restaurante / circulação nos corredores, cozinha (áreas de preparo, cocção e serviço) Visor nas portas de entrada e saída Textura do piso Aspectos de Layout Localização e distribuição de equipamentos, utensílios Bancadas de apoio (localização, quantidade, altura confortável) Temperatura e ventilação do espaço Entrevistando acerca da Iluminação (Design) Aspectos de Decoração Organização, manutenção, limpeza, arrumação / decoração (cozinha e salão) Marca do restaurante (adequada / bom gosto) Objetos de decoração móveis, objetos, quadros, utensílios, marca, sinalização (visibilidade, localização, iluminação direta) Aspectos de Cores Iluminação confortável área de produção Cores das lâmpadas (brancas x amarelas), localização e quantidade (inclusive para as câmeras) Cores das paredes, do piso, da marca do restaurante Parte II Restaurante (código): Funcionário (código): Nº de Funcionários: Horário de Chegada: Data: / Horário de Saída: / 2012