NOTA Nº 609 PAÍSES EM DEMOCRACIA ? Rogério Fernandes Ferreira Não obstante o que a seguir se aponta nesta Nota, quer-se acentuar que ela parece negativa, mas, no fundo, é positiva. O optimismo é caminho que surge de “pessimismo esclarecido”. Donde, afirmo estar esperançado de que o futuro será melhor, desejando, entretanto, uma Boa Páscoa. Os jornais aludem a que um administrador, algo jovem, do Portugal Telecom ganhou, no ano findo, na sua actividade profissional, 2,5 milhões de euros, ou seja 500 mil contos que, dividindo por 250 dias de trabalho anual, dará 2 mil contos dia. Desconchavos destes, no mundo actual, em que também se publicitam situações adversas de cidadãos sem trabalho, ou com salários mínimos, reformados com pensões miseráveis, inválidos com poucos meios de subsistência, são contrastes extremamente chocantes. Acontece isto neste mundo de altas tecnologias que permitem alcançar volumes de produções dantes impossíveis, fomentando abastanças que chegariam para todos. Os países mais desenvolvidos, politica e socialmente, procuram geralmente socorrer desvalidos e infortunados, atribuindo-lhes rendimentos de modo a alcançarem a inserção social desejada. Porém, o avolumamento de más situações acarreta gastos públicos excessivos, gerando défices e situações de ruptura que importaria evitar. Há que vincar, seriamente, contrastes actuais. Antes existiam e eram até maiores, mas nos séculos passados havia um culto de resignação. Agora, há intolerância, rebentam “bolhas”, crescem os desprotegidos. E surgem reacções violentas, tumultos, vandalismos, assaltos, sabotagens, terrorismos. Hoje, até os ricos acabam desprotegidos, não obstante suas excessivas protecções. As suas lindas moradias dispõem de sofisticados meios de segurança, mas acabam convertidas em prisão. É que sair de casa é perigoso. A liberdade de circulação passou a privilégio dos mais desprotegidos, sem bens económicos. Digamos, a liberdade maior passou para os ladrões e 1 mais criminosos que mandam nas ruas, não são presos, continuam à solta e a conviver entre si, à vontade, numa liberdade que as demais pessoas já não desfrutam. Há crescimentos impressionantes de saberes e de técnicas para fazer face aos problemas, mas as inquietações sociais crescem, de modos avassaladores. A cultura actual trouxe cupidez, ganâncias sem limites e perdas de escrúpulos. Vive-se em Mundo Louco, espaço inabitável. Loucos e loucuras são visíveis, daí descontrolo absoluto. As pessoas quereriam paz e não guerras. Estas, dantes, germinavam lentamente, mas agora podem facilmente eclodir, de modos repentinos. E com os meios tecnológicos dos tempos actuais, à disposição de todos os loucos deste mundo1, as consequências podem ser trágicas, pelo que convém prevenir, antes que seja tarde. No mundo antigo dominavam tiranos porque os povos eram incultos e as religiões traziam-lhes humildade e crença de que havia céu. No admirável mundo novo, os tiranos dominam menos tempo, pois toda a gente sabe da tirania e em tempo recorde acabam com ela e com o tirano. Aparecerá outra tirania e, de novo, acabarão com ela. Em suma: paz, boa convivência continua a não existir. Os tiranos de agora reinam menos tempo. As lutas contra tiranias tornaram-se mais rápidas, crescem em catadupa. Concluindo: continua a viver-se em tirania, antes uma só durante muito tempo, agora muitas mais em tempos menores. Ora, não se conseguindo evitar as tiranias, não se alcança o desejável mundo novo. 31 de Março de 2010 1 Há dias nas nossas televisões noticiava-se que os Estados Unidos da América e Portugal eram países com maiores percentagens de afectados no foro psiquiátrico. 2