A fotografia como mídia da recuperação histórica do norte do Paraná1 Photography as an historical recovery medium of northern Paraná Paulo César Boni2 Maria Luisa Hoffmann3 Resumo: Os registros fotográficos são fontes imprescindíveis para resgatar a identidade de uma sociedade e reconstituir seu passado. Analisá-los é uma forma de perceber indícios deixados em diferentes espaços e tempos culturais. O presente artigo discorre sobre o uso da fotografia como fonte de pesquisa e recuperação histórica do norte do Paraná. Por meio do levantamento de informações e documentos fotográficos, de obras sobre fotografia e a colonização da região – e com apoio da história oral – o projeto de pesquisa Fragmentos da História do norte do Paraná (décadas de 30 a 60) em textos e imagens prevê a publicação de livros com temáticas segmentadas desse espaço e tempo. O primeiro número – abordado neste artigo – é Certidões de Nascimento da História, no qual autores narram, com auxilio de fotografias de época, a chegada dos pioneiros, em 1929, e a criação de municípios no eixo Londrina-Maringá. Considerando a importância da fotografia, o próximo número abordará os fotógrafos pioneiros da região; sucessivamente a imprensa e os hotéis históricos. Os autores participam do Grupo de Pesquisa: Comunicação e História, cadastrado no CNPq e certificado pela UEL. O projeto e este artigo reiteram a fotografia como importante estratégia de democratização e divulgação da informação. Palavras-chave: mídia audiovisual; fotografia; história do norte do Paraná; iconografia e iconologia. Abstract: The photographic records are essential sources to recover the identity of a society and rebuild their past. Analyze them is a way of perceiving evidence left at different times and cultural spaces. This article discusses the use of photography as a source of historical research and restoration 1 Trabalho apresentado no GT História da Mídia Audiovisual, VII Encontro Nacional de História da Mídia. 2 Doutor em Ciências da Comunicação pela USP. Coordenador do Mestrado em Comunicação da Universidade Estadual de Londrina (PR). E-mail: [email protected] . 3 Graduada em Comunicação – Habilitação Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina (PR). Mestranda em Comunicação pela mesma Instituição. Bolsista da Capes. E-mail: [email protected] . of northern Paraná. Through the gathering of information and photographic documents, papers about photography and colonization of the region - and with support of oral history - the research project Fragments of the History of northern Paraná (decades from 30 to 60) in text and images predict the publication of books with themes targeted in that space and time. The first number – boarded in this article - is the History’s Birth Certificates, which authors describe, with the support of photographs, the arrival of the pioneers in 1929, and the establishment of municipalities in the MaringaLondrina axis. Considering the importance of the photo, the next issue in the next number will be the region's pioneer photographers, the press and the historic hotel, successively. The authors participate in the Research Group: Communications and History, registered in CNPq and certified by UEL. The project and this article confirmed the picture as an important strategy of democratization and dissemination of information. Key-words: audiovisual media; photography; history of northern Paraná; iconography and iconology. Introdução Os registros iconográficos podem ser utilizados como documentos e fontes de pesquisa para o resgate histórico. Nos primeiros anos da colonização do norte do Paraná, infelizmente, não havia ainda a preocupação de registrar os acontecimentos para a posteridade, como ocorre nos dias atuais. Boa parte das fotografias produzidas à época tinha objetivos mercadológicos. A Companhia de Terras Norte do Paraná as encomendava para transformá-las em instrumentos de publicidade, na tentativa de impulsionar a venda de terras para possíveis compradores. Mesmo assim, os fotógrafos pioneiros – que quase sempre trabalhavam para a colonizadora – tiveram grande importância para a construção da memória da região. Eles retrataram a chegada das primeiras caravanas e dos imigrantes, a vida social e os grandes acontecimentos nas primeiras décadas de colonização. Graças a essas fotografias, foi possível reconstituir com mais precisão os primeiros anos de Londrina, que hoje tem meio milhão de habitantes e 80 anos de história, e outras cidades da região. Para Kossoy (2002), fotografia e memória muitas vezes se confundem. Os registros fotográficos também são fontes para resgatar a identidade de uma sociedade e analisá-los é uma forma de perceber indícios deixados em diferentes espaços e tempos culturais. Kossoy (2002, p.132) afirma que: Quando apreciamos determinadas fotografias nos vemos, quase sem perceber, mergulhando no seu conteúdo e imaginando a trama dos fatos e as circunstâncias que envolveram o assunto ou a própria representação (o documento fotográfico) no contexto em que foi produzido: trata-se de um exercício mental de reconstituição quase que intuitivo. A imagem permite desvendar aspectos que não ficam claros em outras formas de registro. “Documentos iconográficos, inclusive, são importantes instrumentos de pesquisa e estudos iconológicos.” (BONI, 2007, p.9). Fotografias também ajudam a resgatar a história daqueles que não deixaram documentos escritos ou depoimentos. [...] as imagens que contenham um reconhecido valor documentário são importantes para os estudos específicos [...] pois representam um meio de conhecimento da cena passada e, portanto, uma possibilidade de resgate da memória visual do homem e do seu entorno sociocultural. Trata-se da fotografia enquanto instrumento de pesquisa, prestando-se à descoberta, análise e interpretação da vida histórica. (KOSSOY, 2001, p.55). Lacunas nos registros imagéticos devem ser preenchidas criteriosamente, e quem trabalha com esses registros deve estar atento para o uso criterioso das informações, a procedência das imagens e a confirmação dos dados obtidos. A imagem não se esgota em si mesma. Isto é, há sempre muito mais a ser apreendido além daquilo que é, nela, dado a ler ou a ver. Para o pesquisador da imagem é necessário ir além da dimensão mais visível ou explícita dela. Há, como já disse antes, lacunas, silêncios e códigos que precisam ser decifrados, identificados e compreendidos. (PAIVA, 2002, p.19). De qualquer maneira, não é necessário ser alfabetizado para compreender as informações básicas em uma fotografia. A imagem pode ser manuseada, reproduzida e “lida” (mesmo que superficialmente) por todos. Por isso, registros imagéticos podem ser consideradas importantes estratégias de democratização e divulgação da informação. Projeto de pesquisa O norte do Paraná começou a ser organizadamente colonizado no início da década de 30. A Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), constituída em meados da década de 20, havia comprado do governo do estado 515.000 alqueires paulistas de terras na região e seus primeiros funcionários chegaram ao local – onde mais tarde seria a cidade de Londrina – em 21 de agosto de 1929, para dar início ao processo de demarcação e venda de terras, bem como montar a infraestrutura mínima necessária para as atividades da companhia. Para a pesquisa proposta pelo projeto, delimitou-se geograficamente como norte do Paraná a extensão de cerca de 100 quilômetros entre as cidades de Londrina e Maringá. Na época da colonização, essa região era conhecida como Norte Novo e a região entre Maringá e Cianorte (corruptela do nome da Companhia de Terras Norte do Paraná) como Norte Novíssimo. Hoje, as mesmas regiões são chamadas de norte e noroeste do estado do Paraná, respectivamente. O recorte temporal se estende do início da década de 30, praticamente o princípio das atividades da CTNP na região - com a colonização de Londrina e desbravamento de algumas áreas rurais (onde hoje estão constituídos os municípios de Cambé, Rolândia, Arapongas, Apucarana, Marilândia do Sul, Jandaia do Sul, Mandaguari, Marialva, Sarandi e Maringá) - à década de 60, momento em que todos esses municípios já estavam emancipados. A partir da década de 40, essas as cidades estavam em franco desenvolvimento devido à multiplicação da área plantada e à explosão do preço do café no mercado internacional, que se prolongou até a primeira metade da década de 60, quando entrou em declínio em razão da superprodução mundial. Em seus primeiros anos de vida (década de 30) e no auge de sua “juventude” (décadas de 40, 50 e 60), a região estava atenta ao seu rápido crescimento e enriquecimento e pouco se preocupou em resgatar e preservar sua memória e patrimônio histórico. Apenas na década de 1970, com a diversificação das atividades econômicas e, principalmente, com a consolidação do ensino (fundação da Universidade Estadual de Londrina, da Universidade Estadual de Maringá, e de diversas faculdades isoladas, integradas e centros universitários) e da pesquisa é que a história da região e a preservação de seu patrimônio histórico, arquitetônico, artístico e cultural começou a ser pensado, pesquisado, resgatado, publicado e conservado com planejamento e seriedade. A história da história não se deve preocupar apenas com a produção histórica profissional, mas com todo um conjunto de fenômenos que constituem a cultura histórica, ou melhor a mentalidade histórica de uma época. (LE GOFF, 2003, p.48). O projeto de pesquisa Fragmentos da História do Norte do Paraná (décadas de 30 a 60) em textos e imagens pretende levantar informações e documentos fotográficos da região norte do estado do Paraná, das décadas de 30 a 60, organizá-los e publicá-los. Este projeto dá continuidade e amplia a área de abrangência de projetos anteriores – semelhantes – sobre a história de Londrina nas décadas de 30 e 40, desenvolvidos na Universidade Estadual de Londrina. Enquanto as pesquisas anteriores eram desenvolvidas, foi criado o Grupo de Pesquisa: Comunicação e História, cadastrado no CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e certificado pela UEL. O fortalecimento do Grupo de Pesquisa: Comunicação e História, com docentes e discentes produtivos nesta área e, agora, com parcerias informais com museus e centros de estudo da região, contemplará a interdisciplinaridade com diversos cursos de graduação e pós-graduação, oferecendo orientações de Iniciação Científica, de TCCs (Trabalho de Conclusão de Curso) e Monografias, bem como a possibilidade da geração de subprojetos pertinentes à temática. A partir da segmentação da pesquisa em objetos específicos, com o intuito de aprofundar estudos e contribuições, foi determinado o primeiro tema: o início da colonização das cidades da região. Este objeto foi pesquisado, organizado, sistematizado e resultou no livro Certidões de Nascimento da História: o surgimento de municípios no eixo Londrina – Maringá. Em termos acadêmicos, o projeto se justifica pela escassez de pesquisas e publicações sobre este período da história do norte do Paraná, pela fragmentação de estudos pontuais e, mais ainda, pela não disponibilização total do pouco material existente à consulta pública, posto que muitas publicações, documentos e fotografias estão em mãos de particulares. Além disso, considera-se a possibilidade de entrevistar e coletar documentos inéditos de fontes vivas, visto que o povoamento da região é recente e alguns dos pioneiros ainda moram nas cidades por eles desbravadas. Certidões de Nascimento da História Lançado em 21 de agosto de 2009, o livro Certidões de Nascimento da História: o surgimento de municípios no eixo Londrina-Maringá divulga os primeiros resultados deste projeto de pesquisa. O livro resgata os primeiros anos das cidades de Londrina, Rolândia, Arapongas, Apucarana, Cambé, Mandaguari e Maringá. Importantes fontes de pesquisa foram utilizadas, como, por exemplo, o acervo do Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss que possui aproximadamente 50 mil peças entre fotografias, álbuns fotográficos, negativos de vidro, negativos flexíveis, slides, filmes de 16mm e 35mm, quadros, discos, depoimentos gravados de pioneiros de diversas profissões em fitas K-7 e vídeo. A coleção de filmes de 16 mm foi produzida por Hikoma Udihara nas décadas de 40 a 60. Já algumas das coleções fotográficas que integram o acervo foram produzidas no início da colonização. Essas fotografias receberam cuidados especiais, foram diagnosticadas ao chegarem ao museu, higienizadas, quando necessário, e acondicionadas em equipamentos específicos. Dentre as coleções destacam-se as fotografias de José Juliani, fotógrafo oficial da Companhia de Terras Norte do Paraná, as de Theodor Preising e também as de George Craig Smith, pioneiro que chegou a Londrina e registrou as primeiras imagens da região. Em 1929, por exemplo, Smith fotografou (Figura 1) a clareira aberta na mata com a chegada da primeira caravana, da qual fazia parte, e os dois primeiros ranchos de palmito. Figura 1 - A primeira fotografia de Londrina Fotografia: George Craig Smith Acervo: Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss Outras importantes fontes de pesquisa foram os acervos da Gerência de Patrimônio Histórico da prefeitura municipal de Maringá e do Museu da Bacia do Paraná, que pertence à Universidade Estadual de Maringá (UEM). O Museu recebeu, por doação, todo o acervo da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, composto de fotografias (Figura 2) e aparelhos topográficos e, posteriormente, recebeu também peças dos pioneiros da cidade. Figura 2 – Início da colonização - tronco de peroba extraído da mata de Maringá (1939) Fotografia: Autor desconhecido Acervo: Museu da Bacia do Paraná/UEM A pesquisadora Cássia Popolin, buscando informações sobre o fotógrafo pioneiro de Rolândia Hans Kopp, encontrou sua filha, Anita, que mantém o acervo do pai identificado e organizado em caixas. A história do fotógrafo foi resgatada e descobriu-se que, ao contrário do que se pensava, Kopp não era alemão e sim austríaco. Após participar da Primeira Guerra Mundial, ele aprendeu a fotografar e embarcou para o Brasil, permanecendo em Ibituva (SP). Em 1935, mudou-se com a família para Jacarezinho, mas atraído pelas notícias da excelente qualidade da terra nos novos municípios que estavam se formando no norte do estado, adquiriu uma propriedade de sete alqueires na Gleba Cafezal. Derrubou a mata e começou a construir sua casa (Figura 3) e a formar a primeira roça de arroz. Mais tarde montou uma máquina de beneficiar arroz e também plantou café. Anita lembra que apesar do trabalho na lavoura, Hans Kopp nunca deixou de fotografar. Ele usava negativos de vidro e tinha um laboratório em casa para revelação das imagens. Figura 3 – Casa de Hans Kopp na Gleba Cafezal Fotografia: Hans Kopp Acervo da família A pesquisadora Mônica Costa digitalizou parte do acervo de fotografias que estavam sendo deterioradas pelo tempo em Apucarana. Expostas em quadros, essa imagens aguardam a construção de um local destinado para manter parte da memória do município. Em Cambé, onde o acervo já está organizado, a pesquisa reuniu mestrando e historiadores com o intuito de enriquecer o artigo denominado “Cambé: os germânicos de Danzig fundaram Nova Dantzig”. Em Mandaguari, a busca por informações e registros imagéticos levou os pesquisadores até os fotógrafos pioneiros que ainda trabalham na cidade, como, por exemplo, Akimitsu Yokoyama, que fotografou o surgimento das ruas, da infraestrutura (Figura 4) e os grandes acontecimentos da antiga Lovat. Figura 4 - A chuva era um empecilho para o transporte de mercadorias e passageiros Fotografia: Akimitsu Yokoyama Acervo: Família de Akimitsu Yokoyama Elas [as imagens] oferecem acesso a aspectos do passado que outras fontes não alcançam. Seu testemunho é particularmente valioso em casos em que os textos disponíveis são poucos e ralos, o caso da economia informal, por exemplo, [...] ou as mudanças na sensibilidade. (BURKE, 2004, p.233). Larissa Sato localizou em Arapongas a professora Maria Edna Grassano, que ao lecionar para alunos nas primeiras décadas da cidade, solicitou que levassem para a escola fotografias do acervo de suas famílias (Figura 5). A professora mantém esse acervo, maior parte sem identificação de fotógrafo, mas com conteúdo riquíssimo para recuperar e preservar o nascimento e desenvolvimento da cidade dos pássaros. Figura 5 – O pioneiro Mário Rodrigues e família, em 1936 Fotografia: Autor desconhecido Acervo: Maria Edna Grassano No artigo sobre Maringá, os autores explicam a mudança de propriedade da CTNP, que passou a ser chamada Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), e a divisão da cidade em Maringá Velho e Maringá Novo. Já no artigo que descreve os primeiros anos de Londrina, as autoras buscaram dissipar dúvidas quanto a informações sobre datas e acontecimentos, divergentes em diferentes (e escassas) publicações sobre a cidade. Além disso, para a pesquisa foram utilizados depoimentos de pioneiros, fotografias do jornal Paraná Norte, um periódico que circulou de outubro de 1934 a 1942, e matérias jornalísticas de jornais locais. A figura 6, por exemplo, retrata a inauguração da pedra fundamental do colégio Hugo Simas, e o médico Lauro Castro Beltrão afirmou, em entrevista à Folha de Londrina, no dia 21 de junho de 2007, ser uma das últimas testemunhas do evento. ''Eu não fui aluno [...], eu fui testemunha da sua construção, sou aquele menino de boné nas fotografias sobre o evento, que aparece junto de outros meninos maiores''. Apesar de ser curitibano, Beltrão está no norte do Paraná desde a infância. Foi professor e um dos fundadores da Universidade Estadual de Londrina. Ele tinha entre quatro e cinco anos no dia da colocação da pedra fundamental do colégio. Figura 6 - Dia 11 de julho de 1936, o então prefeito Willie Davids assentou simbolicamente a pedra fundamental do edifício, inaugurado em 14 de julho de 1937 Fotografia: José Juliani Acervo: Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss O pesquisador e jornalista Widson Schwartz, em seu artigo sobre a Companhia de Terras Norte do Paraná, trouxe informações ainda inéditas e extremamente relevantes para a história de Londrina. Por ter pesquisado por décadas a história da região e ter entrevistado dezenas de pioneiros, Widson relatou com detalhes fatos que definiram os rumos da cidade. Ele foi agraciado, em 2004, com o título de Cidadão Honorário de Londrina, e, é considerado mais que um pesquisador, uma verdadeira fonte de pesquisa. A ele foi outorgada liberdade poética de escrever e referenciar em seu texto. A publicação, organizada pelo Prof. Dr. Paulo César Boni, conta com 10 artigos e com a participação de 13 autores. Outras publicações Para este projeto, a fotografia como fonte de recuperação histórica da região é tão importante que, num segundo momento, a temática será os fotógrafos pioneiros. Hans Kopp, Akimitsu Yokoyama, José Juliani, George Craig Smith, Theodor Preising e outros fotógrafos serão pesquisados. Neste recorte, o projeto vai recuperar vida e obra daqueles que, consciente ou inconscientemente, produziram centenas de fotografias que hoje são consideradas documentos importantíssimos para a recuperação da história da região. Num terceiro momento, a temática será os hotéis históricos, infraestrutura imprescindível à época para receber os potenciais compradores de terras, os profissionais liberais – que vinham prestar serviços especializados – e de ofícios, que vinham tentar a vida na região. E assim, sucessivamente, a ferrovia e suas estações ferroviárias, as primeiras escolas e as primeiras igrejas. Com a previsão de consolidar uma ou duas publicações a cada ano, o projeto objetiva democratizar os conhecimentos obtidos, ampliar as oportunidades de pesquisa dentro da instituição e incentivar outros projetos de recuperação histórica e de registros imagéticos em outras universidades e centros de estudo do país. Considerações finais O projeto de pesquisa Fragmentos da História do Norte do Paraná (décadas de 30 a 60) em textos e imagens estuda, contextualiza e organiza a história das transformações urbanas econômicas e sociais da região. Por meio de documentos imagéticos e da iconologia, resgata aspectos desconhecidos da vida dos pioneiros, do surgimento dos primeiros hotéis, armazéns e escolas, infraestruturas que possibilitaram o desenvolvimento da região e de Londrina, considerada hoje a 3ª maior cidade do sul do país. Certidões de Nascimento da História é a primeira das publicações previstas pelo projeto. No livro, pesquisadores e historiadores trabalharam em conjunto para decifrar os enigmas das imagens e, por meio delas, decifrar lacunas e recuperar parte da história. A fotografia, considerada documento, é tida como fonte de pesquisa, informação e emoção. A partir da recuperação e da digitalização de acervos, inéditos ou não, buscou-se interpretar os mesmos, relacionando-os a informações impressas ou orais e conhecimentos de diferentes áreas. Grande parte dos registros imagéticos importantes da região já se perdeu. Muitas vezes seus donos não se deram conta da importância do material que tinham em mãos, outras vezes não souberam guardá-las adequadamente. Além de utilizar os acervos pessoais encontrados para a pesquisa, o projeto busca conscientizar os proprietários sobre a importância da armazenagem apropriada das fotografias e incentiva-os a doar seus acervos aos museus, preparados para tratá-los com o devido cuidado. Como afirma Kossoy (2002, p.57), é por detrás da aparência registrada pela fotografia que se esconde o enigma que se pretende decifrar. Nessas circunstâncias, as fotografias ganham status de documento e fonte de pesquisa para recuperar o passado, multiplicar os olhares e descobrir como era a vida nesta época; ver como as pessoas vestiam, pensavam e agiam. Neste sentido, o projeto incentiva pesquisadores e os próprios agentes formadores e transformadores da história da região a abrirem os baús, revirarem as caixas de sapatos e chapéus – abarrotadas de fotografias – e explorarem a história oral para deixar um legado histórico às futuras gerações. Referências bibliográficas BONI, Paulo César. Fincando estacas! a história de Londrina (década de 30) em textos e imagens. Londrina: Edição do autor, 2004. ______. A fotografia como mídia visual da recuperação histórica de Londrina. Domínios da Imagem, Londrina, ano 1, n.2, maio de 2008, p.107-127. BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Bauru: Edusc, 2004. KOSSOY, Boris. Fotografia e história. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. ______. Realidades e ficções na trama fotográfica. Cotia: Ateliê Editorial, 2002. LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. PAIVA, Eduardo França. História e imagens. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.