info editorial índice 4 6 12 16 22 30 31 32 Artigo de Opinião Notícias António Machado e Moura Vogal do Conselho Directivo da Ordem dos Engenheiros - Região Norte Entrevista a Moreira da Silva Destaque Escrevo este Editorial em Agosto, período de férias, dedicado ao descanso, ao lazer, a tudo que nos liberte da pressão do quotidiano e nos faça esquecer os problemas. Mas, se podemos gozar algum período de merecidas férias, a verdade é que os problemas não vão de férias e estão aí em permanência, exigindo atenção redobrada. O período de seca que se começou a sentir no final de 2004 foi-se agudizando, a tal ponto que esta já é considerada a pior desde 1945 e poderá atingir uma expressão sem paralelo nos últimos dois séculos. A falta de infra-estruturas hidráulicas em certas zonas do país impede a atenuação dos efeitos desta situação extrema, e é sentida com grande impacto por mais de uma centena de milhar de portugueses, cujo abastecimento em água potável ocorre apenas em poucas horas do dia ou depende da chegada de autotanque… Mãos criminosas, aliadas às vagas de calor e à seca extrema, acarretam o flagelo dos incêndios florestais, com danos irreparáveis no ecossistema e prejuízos materiais incalculáveis. Há lacunas graves na organização do sistema de prevenção e de combate a este drama, que, de ano para ano, persistem e até se reforçam…O triste ano de 2003, com 425 mil hectares ardidos, parece já esquecido e não teve, seguramente, as consequências que a situação impunha! Veja-se o cenário de desolação em muitas zonas do país!... Na altura em que os preços do crude batem recordes, a quebra dramática da produção de energia hidroeléctrica veio agravar a nossa dependência energética de forma sensível, com custos económicos e ecológicos muito graves. A economia nacional ressente-se fortemente deste quadro conjuntural e as perspectivas de recuperação parecem estar cada vez mais distantes… Perante este cenário nada optimista, mas realista, só o engenho nos pode ajudar… Fica a esperança na possibilidade da Engenharia poder contribuir com a criação de soluções que resolvam ou mitiguem de forma eficaz os problemas referidos, melhorando as nossas vidas. Deste número da Info gostaria de realçar a magnífica entrevista do Eng. Moreira da Silva, com considerações de grande pertinência sobre o actual quadro florestal e as razões que estão na base da situação dramática que vivemos; na secção Destaque, a oportuna referência ao INESC Porto, um centro de excelência da Engenharia portuguesa, no vigésimo aniversário do início da sua actividade e numa altura em que o Eng. José Mendonça recebe o testemunho das mãos do Eng. Guedes de Oliveira. Uma referência para os artigos de opinião do Eng. Fontainhas Fernandes sobre Bolonha numa perspectiva das Ciências Agrárias, e do Colégio Regional de Engenharia Civil sobre aspectos fundamentais da Nova Regulamentação sobre Térmica e Certificação Energética dos Edifícios. Uma palavra final para os sessenta anos passados sobre esse acontecimento dramático ocorrido em Hiroxima, recordado através de um oportuno texto que coloca questões de grande pertinência sobre o tema. Vida Associativa Engenharia no Mundo Lazer Agenda 6 10 14 Ficha Técnica Propriedade: Ordem dos Engenheiros – Região Norte. Director: Luís Ramos ([email protected].). Conselho Editorial: Gerardo Saraiva de Menezes, Luís Leite Ramos, Fernando Almeida Santos, Maria Teresa Ponce Leão, António Machado e Moura, Joaquim Ferreira Guedes, José Alberto Gonçalves, Aristides Guedes Coelho, Hipólito Campos de Sousa, José Ribeiro Pinto, Francisco Antunes Malcata, António Fontainhas Fernandes, João da Gama Amaral, Carlos Vaz Ribeiro, Fernando Junqueira Martins, Luís Martins Marinheiro, Eduardo Paiva Rodrigues, Paulo Pinto Rodrigues, António Rodrigues da Cruz, Maria da Conceição Baixinho. Redacção: Ana Ferreira (edição), Liliana Marques e redacção QuidNovi. Paginação: Paulo Raimundo. Grafismo, Pré-impressão e Impressão: QuidNovi. Praceta D. Nuno Álvares Pereira, 20 4º DQ – 4450-218 Matosinhos. Tel.229388155. www.quidnovi.pt. [email protected] Publicação trimestral: Julho/Agosto/Setembro – n.º 5/2005. Preço: 2,00 euros. Tiragem: 12 500 exemplares. ICS: 383485. Depósito legal: 29 299/89. Contactos Ordem dos Engenheiros – Região Norte Jorge Basílio, secretário-geral da Ordem dos Engenheiros – Região Norte Sede: Rua Rodrigues Sampaio, 123 – 4000-425 Porto. Tel. 222054102/ 222087661. Fax.222002876. www.ordemdosengenheiros.pt Delegação de Braga: Largo de S. Paulo, 13 – 4700-042 Braga. Tel. 253269080. Fax. 253269114. Delegação de Bragança: Av. Sá Carneiro, 155/1º/Fracção AL. Edifício Celas – 5300-252 Bragança. Tel. 273333808. Delegação de Viana do Castelo: Av. Luís de Camões, 28/1º/sala 1 – 4900-473 Viana do Castelo. Tel. 258823522. Delegação de Vila Real: Av. 1º de Maio, 74/1º dir. – 5000-651 Vila Real. Tel. 259378473. Página 4 OPINIÃO info António Fontainhas Fernandes, coordenador do Colégio de Engenharia Agronómica da Região Norte Bolonha: uma perspectiva das Ciências Agrárias Este documento nasce da necessidade de apresentar uma perspectiva da aplicação de um dos temas centrais que marcam a agenda política da actualidade, a implementação da declaração de Bolonha no ensino superior português no quadro das Ciências Agrárias. Os principais objectivos da implementação de Bolonha são por demais conhecidos e, de uma forma resumida, centram-se na adopção de um sistema de graus comparável e legível baseada em dois ciclos prédoutoramento, na promoção da mobilidade de estudantes e de docentes, bem como na generalização da diplomação ao nível superior numa óptica de empregabilidade. Desde logo, o cumprimento destes objectivos pressupõe a constituição de um espaço europeu de ensino superior que promova a dinamização da economia e da sociedade, com vista a competir com os principais actores mundiais envolvidos na formação avançada, como é o caso dos Estados Unidos, cujas universidades continuam a ocupar as melhores posições nos rankings, graças a um clima económico e social que favorece a inovação. Até ao momento, o centro da discussão da tão badalada mudança de paradigma relacionada com o Processo de Bolonha tem-se situado na fórmula a implementar em Portugal. As preocupações dos agentes que intervêm no ensino superior têm incidido na opção entre “3+2” e “4+1” nas diferentes áreas de formação, tendo sido já amplamente discutidos os relatórios dos grupos de trabalho criados pela anterior ministra para as diferentes áreas de conhecimento. Este debate ganhou uma grande intensidade no plano económico, uma vez que algumas das preocupações derivam da lógica de redução do tempo de formação que conduza a uma diminuição no financiamento. Do ponto de vista organizativo, qualquer que seja a duração dos ciclos ou a área de formação, os cursos têm de ser forçosamente orientados de forma diferente da existente na actualidade, numa lógica de ECTS. Nesta perspectiva, a reorganização curricular inerente ao Processo de Bolonha também constitui uma oportunidade ímpar para introduzir alguma coerência no sistema. Esta questão exige, entre outros aspectos, a definição de competências e do perfil para as diferentes áreas de conhecimento no espaço actual de ensino superior em Portugal. Na verdade, a acção reformadora de Bolonha não pode continuar a esgotar-se na discussão de uma fórmula, devendo ter em atenção muitos outros factores de mudança, como os aspectos pedagógicos dos docentes que devem envolver inovação na forma de ensinar e de avaliar, das questões relacionadas com a investigação e a internacionalização das instituições, embora se enquadrem num plano diferente daquele que o presente artigo pretende analisar. De acordo com o relatório apresentado ao ministério da tutela no âmbito das Ciências Agrárias, no passado ano lectivo foram oferecidas cerca de 1500 vagas nos sistemas universitário e politécnico, das quais apenas cerca de 50% foram preenchidas na primeira fase de candidatura. Nas restantes fases de candidatura, este número não melhorou significativamente. De acordo com o guia de acesso do passado ano lectivo, estas vagas correspondem a um número ligeiramente superior a quarenta cursos (43), não se englobando neste grupo os cursos de Arquitectura Paisagista e de Medicina Veterinária. Entre os cursos estão acreditados pela Ordem dos Engenheiros nove cursos, dois de Engenharia Silvícola (UTAD e Instituto Superior de Agronomia) e oito de Engenharia Agronómica (dois da Universidade dos Açores, dois do Instituto Superior de Agronomia, dois da UTAD, um da Universidade do Algarve e um da Universidade Católica), de acordo com os dados info publicados na página web da Ordem. No âmbito da Engenharia Agronómica foram consideradas as licenciaturas em Engenharias Agrícola, Alimentar e Zootécnica. Em suma, pode-se concluir que a grande maioria dos cursos não se encontram acreditados. Com base nestes dados, torna-se prioritário definir regras claras de ordenamento no espaço português de ensino superior a par da implementação de Bolonha. Desta forma, é necessário tomar decisões sobre o excesso de vagas oferecidas no domínio das Ciências Agrárias, que podem passar pelo encerramento de cursos. A racionalização da oferta de cursos oferecidos nos diferentes sub-sistemas de ensino superior também deve ser considerada uma prioridade. Na realidade, aos cerca de 1700 cursos oferecidos no passado ano lectivo correspondem 825 designações, ministrados por um vasto conjunto de instituições de ensino. Com efeito, é urgente diminuir a enorme pulverização existente. Trata-se de uma matéria que está a ser objecto de um estudo do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, no âmbito da sua Comissão Especializada para a Educação e Formação Inicial, Pós-graduada e Permanente. De referir que em Espanha existe um “catálogo de cursos” que prevê a existência de 140 cursos, existindo comissões criadas pelo Conselho de Coordenação Universitária que estudam a hipótese de diminuir este número para cerca de metade. Esta reorganização da oferta educativa permitirá melhorar a mobilidade nos países da União Europeia, tanto dos estudantes como dos diplomados. Outra das questões relevantes neste domínio centra-se na harmonização das qualificações exigidas aos potenciais candidatos ao acesso. Deste ponto de vista, importa estabelecer um conjunto de requisitos comuns para as OPINIÃO Página 5 ofertas idênticas propostas pelas instituições nos diversos sub-sistemas de ensino superior. Adicionalmente, o grau académico obtido em qualquer dos ciclos deve ter a mesma designação. De igual modo, o título profissional a que podem aceder os respectivos diplomados deve ser idêntico, reservando-se às Ordens Profissionais o papel de fiscalização do exercício da profissão. Este processo de racionalização conduziria a uma harmonização da nomenclatura dos cursos oferecidos pelas diversas instituições de ensino superior existentes em Portugal. Na realidade, a criação de cursos por critérios de marketing como forma de atrair candidatos ao ensino superior tem conduzido a situações gritantes, traduzindo-se numa enorme disparidade da oferta de cursos. Em termos conclusivos, Bolonha constitui um desafio e uma oportunidade única para impor alguma ordem no ensino superior. As mudanças previstas com a reforma de Bolonha devem exigir, obrigatoriamente, uma transparência nas designações dos cursos, a harmonização tanto ao nível das condições de acesso, como das competências a adquirir pela formação. Neste sentido, no quadro do ordenamento do espaço português de ensino superior proposto, é necessário enquadrar decisões acerca da racionalização da oferta educativa, em particular no domínio das Ciências Agrárias. Esta orientação deve ser perspectivada numa lógica de qualidade, baseando-se em critérios bem definidos, devendo os relatórios das Ordens Profissionais, no caso da acreditação e da Fundação das Universidades Portuguesas no plano da avaliação, constituir um instrumento de apoio à tomada de decisões. Em suma, é preciso ter presente que todas as preocupações referidas devem estar sempre associadas a uma garantia de qualidade das instituições de ensino superior em Portugal. Página 6 NOTÍCIAS Engenharia na net info da OE mais de três mil utilizadores, sendo a sua maioria, como se esperava, membros da Ordem. A OE está disposta a angariar o maior número de cibernautas e para que estes não tenham razões de queixa foi disponibilizado um endereço de e-mail [email protected] – onde os utilizadores podem esclarecer eventuais dúvidas. Certificação energética em 2006 A evolução e a expansão da internet focalizou rapidamente a atenção dos diferentes públicos. Perante a popularidade e o sucesso da rede electrónica, a Ordem dos Engenheiros (OE) atribuiu-lhe importância e desta forma aderiu às novas tecnologias, criando um site com o endereço www.ordemengenheiros.pt Os resultados são satisfatórios e o site tem recebido cada vez mais visitas. Por mês, as páginas deste portal estão a ser visitadas cerca de cinco mil vezes. Contudo, as expectativas esperadas no final do ano, segundo a OE, devem apontar para números muito superiores. A estratégia de marketing implantada pela OE começou a dar frutos, milhares de engenheiros e interessados seleccionam em primeiro lugar este site em busca de informação sobre engenharia. Neste espaço as informações abundam: dados relativos às regalias para membros; ligações a bancos; companhias de seguros, especialmente destinados a engenheiros; legislação, fóruns, são algumas das áreas que os cibernautas podem aceder. No entanto, algumas delas, para poderem ser visualizadas exigem um registo prévio no Portal do Engenheiro. O visitante clica no link “N.º de Membro/Login” e desta forma surgirá um pequeno documento para preencher. Actualmente já se registaram no site A certificação energética dos edifícios vai passar a ser obrigatória já no início do próximo ano. A medida deve-se em parte em dar a conhecer aos seus futuros utentes as respectivas características energéticas e a qualidade do ar no interior do edifício. A legislação da certificação energética tem como objectivo assegurar que todos os novos edifícios, bem como os respectivos sistemas de climatização, submetidos a licenciamento no território nacional, cumpram as normas de eficiência energética, como, por exemplo, os colectores solares térmicos para o aquecimento da água ou outras soluções equivalentes. O PSD demonstrou o seu desagrado quando se pronunciou em Junho contra o desagendamento ao projectolei que aprova o Sistema Nacional de Certificação Energética dos Edíficios e de Qualidade do Ar Interior dos Edifícios (SNCEQAIE) e as respectivas normas. Neste sentido, o grupo parlamentar do PSD referiu-se em comunicado que “é cada vez mais preocupante o surgimento, associado à degradação da qualidade do ar interior nos edifícios, de sintomas como a fadiga, dores de cabeça, tosse, náuseas e tonturas, dificuldade em respirar, secura ou irritação nos olhos”. A urgência da aprovação baseia-se quer na obrigação de transpor a directiva relativa ao desempenho energético dos edifícios quer na criação dos mecanismos para a sua aplicação. Outro facto a ter em consideração é que esta matéria devia ser já incluída no programa curricular das faculdades de Engenharia e de Arquitectura no próximo ano lectivo. A Ordem dos Engenheiros (OE) e a Ordem dos Arquitectos reuniram-se para debater assuntos como o novo enquadramento legal e debater as implicações nas respectivas profissões e na qualidade dos edifícios. Contudo, de forma a garantir a qualidade foi info considerado que é necessária a aposta na formação dos técnicos para certificação de edifícios. Fernando Santo, bastonário da OE, foi um dos profissionais que se pronunciou sobre a formação de técnicos certificados. “O país teve uma explosão de construção na última década, mas a qualidade regulava-se mais por factores de ‘marketing’ comercial do que pelo cumprimento das normas técnicas de regulamentação”, explicou. Propostas feitas ao Governo Fernando Santo, bastonário da Ordem dos Engenheiros (OE), está sempre atento a novos desafios de forma a articular melhorias e criar novos projectos para a sua área. Neste sentido, o bastonário foi ouvido pelo Governo a 20 de Maio, nomeadamente pelo ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino. As propostas apresentadas pelo membro superior da Ordem foram referentes à revisão do Decreto 73/73, da Ficha Técnica da Habitação e da legislação sobre Instruções para a Elaboração de Projectos. Depois de uma breve apreciação do tema, o governante disponibilizou-se para proceder à análise dos documentos, meditar sobre a legislação, no sentido de encontrar melhores soluções. Na mesma linha de intenções, Fernando Santo voltou a ser ouvido no dia 24 do mesmo mês pelo secretário de Estado da Administração Local, Eduardo Cabrita, ao qual o bastonário fez sobressair a emissão dos certificados de habitabilidade previstos na anterior proposta de revisão da Lei do Arrendamento. Algumas destas propostas já teriam sido apresentadas ao Governo de Santana Lopes, o qual previa que a apreciação das condições mínimas de habitabilidade das fracções que conduziriam, ou não, à emissão do certificado de habitabilidade, estaria dependente das vistorias a realizar por engenheiros ou arquitectos. Assim sendo, a OE continuará a estudar várias propostas para melhorar a regulamentação sobre a matéria. Segurança em debate Inúmeros engenheiros reuniram-se no passado mês de Julho num jantar para debaterem o tema “A Intervenção do Especialista em Engenharia de Segurança”. O encontro, além de uma aproximação entre profissionais da mesma área, serviu para discutir o papel dos engenheiros em matéria de segurança e desta forma encontrar as mais vastas soluções de protecção aos trabalhadores. A temática da segurança está presente em todas as profissões, mas como foi mencionado no jantar-debate existem actividades mais expostas a acidentes de trabalho e uma delas é a Engenharia. São vários os especialistas que se preocupam em encontrar novas NOTÍCIAS Página 7 soluções para o problema. Sérgio Miguel, coordenador da Especialização de Engenharia da Segurança da Ordem dos Engenheiros (OE), considera que a segurança é um tema sempre em aberto. PoOE em relação a este assunto tem tido uma intervenção activa. Neste âmbito, já foram apresentadas algumas propostas, uma delas aconteceu no primeiro mandato da Comissão Executiva da Engenharia de Segurança (ES), em Abril de 2000, quando foi enviado ao secretário de Estado do Trabalho uma opinião do projecto de decreto-lei sobre a certificação profissional de Técnicos e Técnicos Superiores de Segurança e Higiene no Trabalho (SHT), bem como uma proposta sobre conteúdos formativos para o curso de Técnicos Superiores de SHT. Por outro lado, outras propostas ao nível da OE foram colocadas em cima da mesa, tal como o regulamento das especializações, aprovado na assembleia de representantes em Abril de 1999, tendo, no entanto, sofrido algumas alterações, sendo a última efectuada em Março de 2005 em apenas alguns domínios, tais como a criação e o funcionamento das especializações (artigo 3º e 6º), eleições para a comissão executiva Página 8 NOTÍCIAS (artigo 7º) e outorga do título de especialista (artigo 8º). Enquanto a palavra de ordem foi a segurança, o sector da construção foi a especialidade mais foi abordada. Desta forma alguns engenheiros alertaram para a necessidade de se criarem subespecializações de especializações de forma a definir o grau do especialista de segurança. Ainda nesta linha de pensamento foi realçada a importância de definir uma coordenação mais simples na área da segurança contra incêndio. Casa da Música com vista assegurada O consenso em torno da controvérsia do enquadramento urbano da Casa da Música está assegurado. Depois de algumas negociações, os arquitectos Rem Koolhaas e Ginestal Machado podem estar serenos, já que a Câmara info Municipal do Porto comprometeu-se a ceder o terreno contíguo ao da Adicais. Com a solução encontrada a Casa da Música pode continuar a usufruir da boa vista na medida em que a grande janela não vai ficar de forma alguma tapada, ao contrário do projecto inicial do gabinete do arquitecto Ginestal Machado. E assim sendo irá nascer num futuro próximo um edifício, nomeadamente a sede do Banco Nacional Português. Para o entendimento de todas as partes foi importante ou mesmo imprescindível a presença de Rem Koolhaas na cidade no Porto para a inauguração da Casa da Música. “O facto do arquitecto estar no Porto possibilitou um encontro, que procurava há muito, mas não tinha conseguido. Posso dar o lote 2, se for necessário, e também estou disponível para aprovar tudo o que merecer o acordo de ambas as partes, dentro da capacidade construtiva permitida”, explicou Rui Rio, presidente da autarquia do Porto. É de salientar que a cedência do lote 2 chegou até às mãos do Conservatório de Música do Porto e foi posteriormente devolvido pela Direcção Regional de Educação do Norte à autarquia. A união dos dois lotes permitirá uma solução urbanística distinta, abrindo desta forma um canal para a manutenção das vistas do auditório. Actualmente cabe a Ginestal Machado estudar a melhor forma para uma óptima concepção urbanística, segundo o arquitecto a proposta para o novo edifício não ultrapassará a cota de referência dos 28 metros referente ao topo superior do “janelão”, conforme o recomendado pelo gabinete do arquitecto holandês autor da emblemática construção da Casa da Música. A área total de construção será de 18.570 metros quadrados e o prazo previsto para a sua conclusão é de três anos. info Energia eólica O Governo lançou em Julho um concurso internacional para a atribuição de licenças de produção de mil e setecentos megawats de energia eólica. Trata-se de um programa que mobiliza maior investimento no quadro dos PIIP (Planos de Infraestruturas de Investimentos Prioritários) e desta forma a produção de electricidade será elevada para 44 por cento a partir de fontes renováveis até 2013. Como explicou Castro Guerra, secretário de Estado-adjunto da Indústria e da Inovação, o concurso é composto por duas fases, a primeira que durou até Julho e a outra prolongar-se-á até ao final do ano. Além de se criar um “cluster” industrial, este concurso vai ainda gerar mais de 1 600 postos de trabalho. O Governo prevê que até 2010 haja um crescimento no investimento de mais de 3,8 mil milhões de euros na instalação dos 1 700 megawatts. Apesar desta medida ser elucidativa e bastante rentável é ainda necessário ter em conta o impacto ambiental, Eugénio Sequeira da Liga para a Protecção da Natureza apoia a iniciativa, mas alerta para a necessidade de cuidados a ter com o ambiente, nomeadamente na construção das instalações que vão proceder à produção de energia eólica. Eugénio Sequeira defende que é fundamental que se conheçam os critérios de instalação, na medida que as zonas mais ricas em fontes de energia renovável são áreas protegidas, inseridas na Rede Natura. Além disso, critica a falta de iniciativas governativas nos últimos anos na produção de energias renováveis, apontando como exemplo o facto de Portugal ser melhores condições climatéricas do que a Alemanha para o desenvolvimento de unidades de energia fotovoltaica, mas mesmo assim o que o nosso país produz em 10 anos, a Alemanha consegue num ano. Outra preocupação demonstrada pelo ambientalista relaciona-se com a possibilidade do incumprimento de Portugal ao compromisso que assumiu na Cimeira de Quioto: ter 39 por cento da produção eléctrica a partir de energias renováveis em 2010. AECOPS pede apoio ao Governo Associação das Empresas de Construção e Obras Públicas (AECOPS) tenta sensibilizar o Governo para que os projectos de grande envergadura sejam adequadamente planificados. Esta preocupação subsiste devido ao pouco ritmo verificado por parte das NOTÍCIAS Página 9 empresas de obras públicas. Desde o início do ano foram já perdidos mais de 540 mil postos de trabalho, vindo o número de desempregados a crescer gradualmente. O pessimismo e a preocupação são as características que estão a dominar o comportamento dos profissionais da área e a única solução encontrada foi pedir ao Governo uma política consistente para as obras públicas. Esta medida precisa de alguma brevidade, na medida em que as empresas têm que definir estratégias e prepararem-se para eventuais concursos. Construção de pontes inovadora Depois de 11 anos de investigação, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) com a colaboração da empresa Mota-Engil coloca Portugal numa posição de prestígio no que diz respeito à construção de pontes. O sistema pré-esforço orgânico ou Organic Prestressing System, inovador a nível mundial, permite compensar as forças a que a estrutura das pontes está sujeita de forma a reduzir deformações e tensões, baseando-se no funcionamento do músculo humano, além de a segurança ser assegurada e os custos significativamente reduzidos. Os primeiros passos deste projecto estão a ser dados numa ponte que está a ser construída sobre o Rio Sousa, em Lousada. Local este onde já foram efectuadas 12 betonagens, ou seja, já deram 12 avanços no tabuleiro. A obra está programada para ser finalizada no final do ano, mas com o novo método os prazos poderão ser superados. De acordo com Pedro Pacheco, investigador da FEUP e coordenador Página 10 NOTÍCIAS da equipa que desenvolveu o sistema, trata-se “de uma solução tecnológica que permite compensar as forças a que a estrutura metálica das pontes está sujeita, baseando-se no funcionamento do músculo humano”. Por sua vez Fernando Pinto, profissional da Mota-Engil, esclarece que “cada betonagem representa um avanço na construção da ponte de 30 metros cada e nesse processo registam-se alguns acidentes de trabalho que com este sistema ficam muito minorizados”. Importa referir ainda que o principal descobridor desta “galinha de ovos de ouro” foi Pedro Pacheco. Ao que foi apurado a ideia começou a ser incubada quando realizou um trabalho universitário. O investigador está convicto que este método será usado nos outros países “por ser simples e trazer grandes vantagens”. Engenharia das Energias chega à universidade Para colmatar a falha de profissionais no ramo das energias, a Universidade de Trás-os-Montes (UTAD) vai abrir no próximo ano lectivo a primeira licenciatura do país em Engenharia das Energias. Salvador Malheiro, o professor responsável pelo novo curso, deu a conhecer que inicialmente serão abertas 15 vagas. Para o docente as vantagens são inúmeras e quem enveredar pelo curso tem à partida sucesso profissional garantido, na medida em que a evolução no sector energético está a sentir-se gradualmente não só em Portugal mas no mundo. O responsável pelo curso atreve-se mesmo a afirmar que nas próximas décadas, se registará um forte aumento na procura de especialistas em Engenharia de Energias. info A localização da universidade não poderia ser melhor, na perspectiva em que a cidade de Vila Real ocupa o primeiro lugar no que diz respeito à produção de energia eólica, seguida de Braga e Viseu. O professor elogia a zona afirmando: “estamos numa região com uma potência de crescimento impressionante”, contudo os seus projectos não se ficam por aqui uma vez que levanta a hipótese de promover outras formas de energia renovável. O curso será leccionado por docentes da universidade e será composto por uma formação em Ciências de Engenharia e numa árdua especialização em produção, distribuição e utilização de energia. No entanto, uma formação básica nos domínios de Ambiente e das Ciências Empresariais serão umas das formações a contemplar o curso. Num futuro próximo, o desejo de Salvador Malheiro é que o curso de Engenharia das Energias seja reconhecido pela Ordem dos Engenheiros, tal como acontece com todas as licenciaturas de engenharias disponíveis na UTAD. A polémica do túnel de Ceuta O túnel de Ceuta parece ser um tema sem fim. Apesar de já ter sido aberto no fim do mês de Julho à circulação automóvel no troço entre a Praça Filipa de Lencastre e o Jardim do Carregal no centro do Porto, a polémica parece subsistir. Por concluir ainda está parte da infraestrutura que deveria acabar na Rua de D. Manuel II, entretanto embargada. Neste momento as questões que estão em cima da mesa são as de continuar ou não as obras no túnel de Ceuta. Neste sentido, recorde-se que a 8 de Julho o IPPAR deu um prazo de 45 dias à Câmara Municipal do Porto para cobrir com terra a zona escavada junto ao Museu Nacional Soares dos Reis. No entanto, a posição de Rui Rio foi a de escrever uma carta ao primeiroministro, José Sócrates, a sugerir que a decisão sobre o túnel de Ceuta devia ser congelada até às eleições autárquicas. "Qualquer solução que venha a ser ali implementada é a que estiver no programa que ganhar as próximas eleições. Em democracia não pode haver solução mais justa, equilibrada, sensata, que é de voltar a devolver ao povo a decisão sobre o túnel de Ceuta", esclareceu o presidente da autarquia portuense. Ao que parece, Rui Rio obteve já uma resposta da sua intenção, porém não foi adiantado qual o seu teor. Recorde-se ainda que em Abril do presente ano a Ordem dos Engenheiros predispôs-se através da secção regional do Porto a liderar uma comissão arbitral para gerir a má relação entre a Câmara do Porto e o IPPAR. No entanto o IPPAR recusou desde logo a sua intervenção, alegando que a comissão seria desconforme com a lei. A Ordem defendeu que apenas tinha como intuito ajudar numa situação que há muito se arrasta. Polis estimula Governo Um pacote de novas políticas urbanísticas está a ser preparado pelo Governo a implementar durante os próximos anos. Esta iniciativa tem por objectivo reestruturar os actuais programas Polis e assim proceder à realização de um modelo urbanístico. Neste sentido, o Executivo vai retirar o que de melhor tem o Polis e desta forma irá elaborar um conjunto de políticas mais amplas que definirão o modelo de cidade que se pretende para Portugal. “O investimento info público e privado são dois dos eixos que queremos congregar nas intervenções a realizar no âmbito dos novos programas a serem criados”, esclareceu o secretário de Estado do Ordenamento do Território e Cidades, João Ferrão. Contudo a falta de verbas tem sido uma das principais dificuldades encontradas pelos vários responsáveis ao nível local pelos programas Polis. A título de exemplo João Esgalhado, director-executivo do Polis Covilhã proferiu ao Mercado Imobiliário que “a insuficiência de verbas impediu a plena conclusão do programa, tendolhe sido retiradas diversas obras inicialmente previstas”. No entanto as verbas não são o único senão. Para Matos Rodrigues, da sociedade Aveiropolis “é urgente definir os objectivos do programa Polis. Foram criadas sociedades anónimas, limitadas no tempo – cerca de cinco anos – para desenvolverem um plano estratégico. Não é possível gerir e planear a actividade de uma empresa de capitais públicos, quando se introduzem frequentes indefinições relativamente aos objectivos a atingir, esclareceu. Por sua vez o presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Defensor Moura, partilhou da mesma ideia e acrescentou que “mais do que a falta de verbas, o Vianapolis debateuse com a falta de decisão dos quatros ministros que tutelaram este programa entre 2000 e 2004”. Espanha retira água portuguesa Portugal pode estar a ser prejudicado pelo país vizinho, pois Espanha retirou água do Rio Douro e do Guadiana e ao contrário do que já devia ter acontecido ainda não a repôs, desrespeitando assim os acordos para rios luso-espanhóis. Perante a seca que o país enfrenta, as repercussões estão-se a manifestar preocupantes e segundo dados do Instituto da Água (INAG), desde o dia 1 de Outubro do ano passado, não houve um único dia em que o caudal do Rio Douro na Barragem de Miranda superasse os 300 metros por segundo. E mesmo sendo esta diferença muito notória e preocupante a água não deixou de ser desviada para outros locais. Importa realçar que o mês de Maio do ano transacto foi registada a maior disparidade de todos os tempos: apenas num só dia o caudal médio na Barragem de Miranda foi de 197 metros cúbicos por segundo, mas ao Pocinho só chegaram 28. Este é um dos piores exemplos. No entanto os outros meses não andam muito longe destes valores. Seca faz aumentar os custos Já todos sabemos que a seca é uma problemática mundial. Portugal também sofre com esta forte ameaça. A falta de água nos rios e nas barragens condiciona uma NOTÍCIAS Página 11 diminuição na capacidade de gerar electricidade. Esta falha actualmente tem de ser compensada pelas centrais térmicas. De acordo com José Penedos, presidente da Rede Eléctrica Nacional (REN), existem “quebras assinaláveis de um ano para o outro, pois a produção hidroeléctrica caminha para um terço do normal, ou seja, entre os 27 e os 30 por cento do que é produzido num ano médio”, esclareceu. José Penedos deu ainda a conhecer que os problemas começaram no último trimestre de 2004 e só não foram mais graves porque o problema foi amortecido pela valorização do euro face ao dólar. A mesma fonte refere que os pequenos consumidores irão sentir as suas facturas de pagamento crescerem no ano de 2007. Já para os clientes que possuam indústrias este efeito irá surtir em muito menos tempo e com tendência a um agravamento. “Vamos ter mais emissões e uma maior exportação de fundos para a compra de combustíveis”, refere José Penedos como consequência da fase que o país atravessa. Página 12 ENTREVISTA info José Joaquim Ribeiro Moreira da Silva, engenheiro florestal País em chamas José Joaquim Ribeiro Moreira da Silva, nascido em Massarelos, a 10 de Dezembro de 1923, dedicou 43 anos da vida ao sector florestal público português. Ao longo destes anos adquiriu uma rica cultura da floresta e a realização profissional consequente. Mas hoje o panorama é diferente. Preocupado e desapontado, observa, já retirado desse meio, a falta de gestão florestal, de organização de meios humanos e de estruturas de combate aos incêndios. A paisagem florestal e o grau de protecção civil alteraram-se, o que exige uma mudança nas medidas políticas que têm sido prometidas, mas que para já não têm passado disso mesmo. De facto, o engenheiro florestal – designação profissional que substituiu o engenheiro silvicultor – assiste ao país em chamas e recorda o que poderia ter sido feito: “Por volta de 1960 inte- Com 43 anos de vida dedicados ao sector florestal, Moreira da Silva já foi várias vezes homenageado. A mais marcante talvez tenha sido a homenagem promovida pelo Colégio Florestal da OE grei uma equipa que alertou o governo e os serviços florestais para o perigo dos incêndios nas florestas e indicávamos soluções e políticas. Só agora é que há a primeira tentativa com a criação das zonas de intervenção florestal. Quando a Forestis – Associação Florestal do Norte e Centro foi fundada, lançámos a ideia da Gestão e Defesa Florestal Conjuntas”. Nada tem sido feito porque “não há aliciantes políticos. São medidas impopulares, pois só há resultados passados 10 ou 20 anos e não há nenhum governo com quatro anos de vida que se arrisque a fazer isso. As medidas de prevenção não são feitas de info ENTREVISTA Página 13 Texto de Ana Ferreira • Fotos de Alfredo Pinto um ano para o outro, podem ser realizadas para 10 anos”. Para o engenheiro a gestão de floresta assenta em três pilares fundamentais: “Competência, o que obriga a outro pilar importante que é a área. Não é possível gerir uma floresta com dois, cinco ou 20 hectares. São precisos milhares de hectares, mas para isso é preciso a junção da gestão das propriedades, mas quem é que se atreve a fazer isso politicamente? Pode haver aliciantes fiscais, mas é preciso dinheiro. O terceiro ponto é o profissionalismo. O rescaldo devia ser obrigatório, pois é um crime deixar reacender um fogo. Quando estava nos Serviços Florestais, ficava de 50 em 50 metros um homem após termos apagado o fogo à noite, porque sabíamos que às 3h30 ou 4 horas da madrugada mudava o vento e ele reacendia”. O grave problema do combate aos incêndios florestais, na sua opinião, surgiu em 1980, quando os serviços florestais deixaram de ser os responsáveis pelos combates e não se transmitiu o know-how aos bombeiros. Exemplificando, observa: “Outro dia vi na televisão os bombeiros a combater um fogo pela frente, no sítio mais perigoso que há, pois surgem gases letais. No meu tempo, quando éramos responsáveis pelo combate aos incêndios, estava sempre presente um técnico de dia e de noite. Chegava a ser chamado durante a noite para substituir um colega que estava cansado”. Compreende, porém, as dificuldades em travar este flagelo que consome as áreas florestais portuguesas, especialmente no Verão, mas o que é fundamental é criar quanto antes condições especiais. “Se os incêndios atingem determinado volume e se forem puxados a vento não há nada a fazer, a única hipótese é evitar que se propague. E isso passa por aquilo que defendo há alguns anos e que passa, por exemplo, pela compartimentação da floresta e pela utilização de fogos controlados”. Além disso, e num ponto de vista mais utópico, defende que se deve “pensar a sério na mudança da floresta. As pessoas que plantam um carvalho só podem ver benefícios dali a 150 anos. Como ninguém dura 150 anos, ninguém planta carvalhos. Era preciso haver a possibilidade de emprestar dinheiro a longo prazo às pessoas para plantar uma floresta, que só seria cobrado na altura do corte. E nós tínhamos obrigação de ajudar, visto a floresta a nós também nos interessar”. Além destas observações, o engenheiro florestal acrescenta mais dois problemas ao flagelo dos incêndios: “A desertificação, pois o mato deixou de ser cortado. Uma vez calculei com a ajuda de um colega matemático qual o combustível existente em mil hectares de floresta suja. Tinha mais energia acumulada do que a libertada pela bomba atómica de Hiroshima. Outro problema é a limitada fiscalização das queimadas. Ou as pessoas se consciencializam que fazer queimadas fora do tempo é um crime contra a nação e denunciam ou então surgem os incêndios”. Moreira da Silva foi em 1992 um dos fundadores da Forestis - Associação Florestal do Norte e Centro, tendo assumido a presidência desde esse ano até 1998 Educação e formação florestal Para Moreira da Silva ainda não há em Portugal um forte respeito pelas leis de defesa do ambiente e a consciência de que é necessário aproveitar e gerir os recursos da floresta para fins económicos ou recreativos. Na sua opinião este comportamento deriva do facto de os “portugueses não poderem ter educação ambiental se não têm educação cívica”. Situação que já vem de há muitos anos e está relacionada com o analfabetismo. “Estas gerações de agora têm dificuldades porque não têm alicerces. Um aluno que está a estudar ambiente na escola primária e que tem preocupações sobre esse aspecto, deixa de estar enquadrado quando chega a casa e a mãe não fecha a torneira e as luzes ficam acesas. O que é preciso é um grande esforço persiste na educação das crianças”. Página 14 ENTREVISTA info José Joaquim Ribeiro Moreira da Silva, engenheiro florestal Considera que os jovens entre os 20 e os 30 anos começam a ter preocupações ambientais, mas é insuficiente se se dá protagonismo aos “ambientalistas de café, que só se querem promover e o que dizem que está mal é lugar-comum” e se os docentes não estão preparados para divulgar a mensagem. Os conhecimentos sobre o ambiente têm de ser transmitidos logo nos primeiros anos escolares, mas têm de ser contínuos, mesmo nos cursos específicos da área, porque só assim se formam bons engenheiros. Segundo Moreira da Silva, para que isto seja conseguido uma das condições essenciais é que os professores de Engenharia Florestal conheçam o terreno. “Tenho visto investigações sobre Fogos Controlados, por exemplo, feitas por pessoas que não sabem o que é o ecossistema natural”. Aponta ainda outra crítica: “O Instituto de Agronomia resolveu dividir o curso de Silvicultura em três ramos: produção, protecção e indústria, o que é um disparate, pois estas áreas estão relacionadas. A vantagem do engenheiro florestal é a capacidade de abarcar”. São levantadas várias questões para o reduzido número de jovens a procurar o curso de Engenharia Florestal nos dias de Para Moreira da Silva o grave problema do combate aos incêndios florestais surgiu em 1980, quando os serviços florestais deixaram de ser os responsáveis pelos combates e não se transmitiu o know-how aos bombeiros hoje, questões essas que passam pelas saídas profissionais e pela desvalorização da área. Na sua opinião existem engenheiros florestais bem formados no país, porém há que ter em conta vários pontos: “O primeiro é que em Portugal ainda há saídas para os engenheiros florestais. No meu tempo os engenheiros florestais trabalhavam para o Estado e no campo eram muito poucos. Um dos problemas é que há lugares das câmaras municipais que tiveram o apoio para a criação de núcleos florestais que estão ocupados por pessoas com outra formação. Mas não sou da opinião que por câmara é necessário um engenheiro florestal, porque não há trabalho para isso. Acho que Portugal deveria de ter 300 engenheiros florestais no campo. Temos três milhões de hectares, se cada um ficasse com 100 mil, eram 300 profissionais. E ao fim de alguns anos esses engenheiros já não podem estar no campo porque deixam de ter resistência e dão lugar a outros.” info Outro ponto que o engenheiro realça é a importância que se confere a esta área no Verão devido aos incêndios, mas que no resto do ano é esquecida. “Para ser florestal tem de se ser poeta” Mas, afinal, quem é o engenheiro que trata a floresta por ‘tu’ e que afirma que para se ser florestal tem de se ser poeta? “Porque o poeta acredita, quando os outros lhe demonstram que é impossível; porque o poeta é sensível, quando os outros foram esmagados pela forja brutal do nosso quotidiano; porque o poeta sonha, quando os outros já assentaram os pés na terra, e como diz António Gedeão: “Sempre que um Homem sonha o mundo pula e avança”; porque como diz o poeta a ele não podemos “cortar a raiz ao pensamento”; porque o poeta ainda “corre de botas rotas atrás das ilusões”, como diria Raul Brandão. Moreira da Silva, que em jovem não pretendia ser florestal, veio a encontrar nessa área o gosto pelo trabalho. Aponta que uma das vantagens em ser florestal é trabalhar com utopias, com projectos que antevê, mas que dificilmente os testemunha na prática devido à demora dos resultados. Trabalhou durante cinco anos como encarregado da direcção do Parque Nacional da Peneda-Gerês, tendo sido esse o período que o mais marcou na longa carreira profissional, “porque tinha uma missão extremamente importante que era juntar imensas profissões e tendências. Trabalhava com sociólogos, arqueólogos, geólogos e sentia que era o elo aglutinador de uma obra muito interessante que eram uns estudos profundos sobre o parque não só da parte natural mas também humana. Sempre defendi que o parque devia ser uma universidade aberta. O meu projecto era um pouco romântico, uma utopia. Quando apresentei a Lei Orgânica, aprovada no tempo da Maria de Lourdes Pintasilgo, indicava uma projecção para o parque, que previa ser o cadilho do desenvolvimento do interior português. E o desenvolvimento podia fazer-se não com cimento armado, mas com outros valores mais importantes como a cultura e as tradições. O Parque Nacional era uma bandeira que os investigadores gostavam de levantar”. Porém, o período que mais o marcou positivamente trouxelhe amargos sentimentos, explica: “Fui saneado duas vezes na minha vida profissional. Uma vez no Parque Nacional em 1980, por questões políticas, porque consideravam-me uma pessoa perigosa por ser de esquerda. Mas eu nunca utilizei as minhas convicções políticas na administração pública. Fui completamente isento, mas eles acharam que não e expulsaram-me do parque, fazendo-me um grande favor, porque estava cansado. O processo demorou seis meses, porque houve forças políticas até do próprio governo que contrariavam a minha expulsão do parque. Isso deu-me uma força ENTREVISTA Página 15 enorme. O secretário de Estado quis recuar, mas já não conseguia, porque eu já tinha dito muita coisa. E mais tarde, quando quiseram que voltasse, recusei. Voltei para a Direcção-Geral das Florestas. A segunda vez que fui saneado foi quando fiz 70 anos. A administração pública manda embora um funcionário quando atinge essa idade, não aproveitando muito do investimento que fez nessa pessoa”. Moreira da Silva completou a formação de Engenharia Agrónoma na Universidade Técnica de Lisboa, sem nunca obter a licenciatura pois entretanto mudou para Silvicultura, como antigamente se designava o actual curso de Engenharia Florestal. Antes de ir para o Parque Nacional trabalhou cerca de 10 anos no horto da família, a Casa Moreira da Silva, para onde tinha lugar marcado desde pequeno. Na década de 1950 foi convidado para trabalhar nos Serviços Florestais do Porto, e após um período de serviço de gabinete, começou a ir para o campo, onde descobriu a verdadeira vocação. Fez projectos de estradas, foi responsável pelos serviços de caça e pesca e, entre outras tarefas, introduziu em Portugal o Paperpot, um método de criação de estufas florestais para produção intensiva e automatizada de árvores florestais que estudou na Finlândia e adaptou ao clima português. Do seu currículo diversificado e abrangente consta a fundação e a presidência da Forestis de 1992 a 1998, o que também aconteceu por acaso na sua vida. “A Comissão de Coordenação da Região Norte tinha entre mãos um projecto com associações florestais francesas e espanholas para um programa comunitário e o então presidente da Comissão de Coordenação, o engenheiro Braga da Cruz, achava que a Região Norte devia ter uma associação. A única que representava os florestais era a Confederação dos Agricultores Portugueses, mas que estava mais ligada aos latifúndios do que ao minifúndio do Norte. Nessa altura vieram ter comigo a pedir para sugerir nomes para presidentes dessa associação e os dois ou três nomes que indiquei foram vetados. Depois fui o escolhido”. Hoje em dia, “o pai babado da Forestis” não se desloca frequentemente à associação, só quando é requisitada ajuda, mas mesmo assim faz questão de acompanhar o seu crescimento. Com um carreira ímpar no sector florestal em Portugal, Moreira da Silva já recebeu várias distinções, como a medalha de honra da agricultura em 1999 e o grau de Grande-oficial da ordem de Mérito Agrícola, Comercial e Industrial (Classe de Mérito Agrícola) em 2000. A mais marcante talvez tenha sido a homenagem promovida pelo Colégio Florestal da Ordem dos Engenheiros em 1997, cujo discurso de apresentação coube à filha que seguiu as suas pisadas, adquiriu amor à floresta e tornou-se uma engenheira florestal. Página 18 DESTAQUE info INESC Porto Pedro Guedes de Oliveira em discurso directo O INESC Porto é um ‘filho’ adulto? O INESC Porto é uma instituição independente desde 1998, que resultou da autonomização do pólo do Porto do INESC, que comemora este ano 20 anos. Estou na direcção do INESC desde 1991 e do INESC no Porto desde 1993. Portanto, há 12 anos. Mas, como presidente do INESC Porto estou desde que foi criado em 1998. Do ponto de vista pessoal foi muito gratificante a experiência. Cheguei ao INESC no Porto em 1993, já o INESC tinha sete ou oito anos, e existia um grupo a que não pertenci que tinha lançado a iniciativa decorrente do INESC que existia em Lisboa. Nessa altura estava ligado ao INESC através da Universidade de Aveiro. Esse grupo fez um trabalho muito interessante, porque na fase inicial havia uma parcela muito focalizada num projecto muito grande que se chamava SIFO (Serviços Integrados de Fibra Óptica). Quando assumi a direcção, o que fizemos foi pôr ordem na ‘casa’. A nível de estrutura estavam constituídos muitos grupos pequenos e tentámos dar maior configuração a algumas áreas de trabalho e actualmente, como resultado desse processo de reenquadramento, existem cinco unidades de organização. Depois criaram-se as condições internas que permitiram a autonomização, o que passou por constituir um grupo de pessoas capaz de assegurar toda a gestão interna, pois na altura dependia-se totalmente dos serviços de Lisboa. Na minha opinião assegurar bem a gestão de uma instituição deste tipo é fundamental, porque libertar o tempo das pessoas que estão ligadas à investigação, ao desenvolvimento e à prestação de serviços das tarefas mais administrativas e garantir que o controlo que se faz dos custos, da qualidade do trabalho e da produtividade seja bem feito é extremamente importante. A partir de 1996 quando se começou a pensar que o INESC precisava de ser reestruturado, movimento do qual estive fortemente empenhado, existiam condições no Porto para pensar que a autonomia era possível. Foi uma aposta muito forte e com alguns riscos. Tive um papel de liderança nesse processo, até porque como estava na direcção em Lisboa permitiu-me influenciar as decisões que levaram à autonomização, mas só foi possível porque contou com uma fortíssima mobilização interna. O INESC Porto é uma instituição grande com mais de 200 trabalhadores, das quais cerca de 80 contratados. Tem responsabilidades e precisa de conseguir manter a qualidade técnica e científica, ter novas áreas de trabalho, garantir a sustentabilidade económica, a ligação ao tecido produtivo, a capacidade em ir buscar projectos, quer internacionais quer nacionais, junto das empresas que permita ao INESC Porto viver sem ficar dependente do Orçamento de Estado. É muito importante o financiamento de projectos, mas também é fundamental que neste bolo haja trabalho para as empresas, para assim garantir a nossa actividade. O que vai de encontro info DESTAQUE Página 19 Entrevista de Ana Ferreira com uma missão fundamental da instituição: a actividade deve colaborar com o tecido produtivo no sentido de melhorar as condições de competitividade. Até agora nestes sete anos que levamos de vida isso tem corrido razoavelmente bem. Não se sente agora a abandonar esse ‘filho’? Não estou a abandonar nada. Mantenho um gabinete no INESC Porto. Vou continuar a trabalhar com o INESC e a fazer investigação, retomando activamente algumas áreas que foram prejudicadas durante este período que tinha responsabilidade directa no INESC Porto. O que acho é que há duas ou três coisas que foram fundamentais para a minha saída. Em primeiro lugar, era necessário que houvesse uma situação de estabilidade interna que permitisse que a saída de uma pessoa que esteve ligada desde a fundação tivesse um substrato sólido para que esta agitação a nível de direcção não fosse desestabilizadora. Foram criadas condições de organização, de estabilidade, de objectivos, de estratégia da instituição e, ao mesmo tempo, condições económicas. Além disso era necessário que a nova equipa tivesse condições estáveis para poder pensar no que vai mudar, porque tenho a certeza absoluta que isto vai mudar significativamente. Essa é outra componente. Uma das razões pela qual acho que vale a pena fazer isto é pela mudança. As pessoas não podem ficar muito tempo ligadas porque, por muito entusiasmo que haja, julgo que é bom renovar as instituições com gente mais nova, com outra visão e experiência. A terceira componente fundamental era encontrar a pessoa. Na minha opinião, é preciso um conjunto de condições, e uma delas não é de certeza que essa pessoa seja um ‘herdeiro’. A pessoa que está a presidir, o professor José Manuel Mendonça, teve um percurso no INESC de 10 anos, mas também teve um percurso fora do INESC de outros 10 anos. Tem uma experiência própria, muito diferente da minha. Muito rica do ponto de vista de intervenção, no sentido de políticas quer na Agência de Inovação quer na Fundação Ilídio Pinho. Teve uma intervenção de contacto com o tecido económico extremamente enriquecedora e, na minha opinião, muito mais intensa que a minha e é 10 anos mais novo do que eu. Tem a experiência e a vontade para assumir um barco que já é grande, onde é preciso capacidade e conhecimento de gestão de pessoas, de economia e financeira, de motivação, e para delinear novas estratégias. Depois reúne outras condições, como, por exemplo, ser bem aceite internamente, porque uma instituição deste tipo vive muito das pessoas andarem satisfeitas com o ambiente. Esta mudança não foi uma ruptura, foi preparada. A continuidade na transição, para haver descontinuidade na acção. O que vai fazer agora? Além do meu trabalho no INESC Porto, vou tirar para o ano licença sabática, o que significa que não vou dar aulas, como o fiz há sete anos atrás. Isto vai-me permitir fazer várias coisas, entre as quais ir ao estrangeiro, onde penso estabelecer ligações com alguns grupos de trabalho com quem tenho contacto. Há zonas de investigação ao nível de trabalho pessoal que gostaria de reactivar. Há outras áreas na actividade universitária em que estou muito empenhado quer com as políticas públicas, pois acho que nós com o dinheiro e as pessoas que temos podíamos fazer muito melhor, quer em favorecer a articulação interuniversitária em certas áreas onde só podemos vir a ter sucesso a nível intervencionista se aumentarmos as massas críticas. Num país como o nosso, de gente capaz de produzir trabalho de grande qualidade, significa inevitavelmente juntar esforços entre as várias instituições. O que me preocupa muito é que o impacto internacional das nossas universidades é extremamente baixo. Há uma coisa que estou pessimista, que é o facto de achar que os portugueses não percebem que aquilo que se faz em Portugal é a soma do que cada um de nós faz. As pessoas julgam que a acção individual acaba por não resultar e desistem. O que acho em relação aos jovens de enorme qualidade que continuamos a ‘produzir’, é que devemos estimular uma atitude individualmente responsável a todos os níveis com vista a que daqui a 10 anos o país esteja claramente melhor e acho que é possível. De facto, não vou-me reformar. Eu gosto de ter a sensação que só não me reformo porque não quero. Notas curriculares Pedro Guedes de Oliveira assumiu a direcção do INESC em 1991 e a do INESC Porto aquando a sua fundação em 1998, cargo que desempenhou até 2005. Além de continuar a colaborar com o INESC Porto, é professor catedrático no Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores da FEUP. A sua investigação tem incidido no âmbito dos Circuitos Electrónicos Analógicos e Digitais, VLSI Analógico, Engenharia Biomédica, processamento de Sinal e Redes Neuronais, sendo autor de publicações e participante de conferências nacionais e internacionais. Foi membro do Conselho de Administração da Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, presidente da mesa do Conselho Geral da CulturPorto e um dos membros fundadores do Departamento de Engenharia Electrónica e de Telecomunicações da Universidade de Aveiro, onde deu aulas até 1993. Página 20 DESTAQUE info Inesc Porto José Manuel Mendonça em discurso directo Como encara esta passagem de testemunho? É um enorme desafio. Eu estive no INESC durante 10 anos, saí durante 10 anos para estar na Agência de Inovação e na Fundação Ilídio Pinho e voltei agora. Conheço os objectivos, a forma de trabalhar, mas como estive anos afastado falta-me muito conhecimento interno do INESC. Mas tenho a vantagem de ter uma visão externa. Sou capaz de olhar para o INESC como olham as empresas, a administração pública e os parceiros sociais. Pretende fazer algo de novo? Uma mudança de direcção é sempre uma oportunidade de mudança para a instituição. Mudança em termos estratégicos, de procedimento, de intervenção e eventualmente interna, de forma a responder a essas mudanças estratégicas. Mudar por mudar não é boa prática. É preciso mudar tendo em vista um objectivo concreto. Neste momento há uma reflexão a nível de direcção que vai ser estendida aos colaboradores mais seniores para repartirem algumas inquietações e alguma intenção de irreverência da instituição para os próximos tempos, para que não seja só um observador na sociedade portuguesa na sua posição de sistema científico tecnológico nacional, mas que seja um actor, uma parte interessada, um interveniente, nas transformações e nos desafios que o país vai ter de assumir. Como vê a investigação e o desenvolvimento em Portugal? Portugal tem um desafio. Eu sou muito sensível àquele aspecto que é muito simples: Portugal tem um défice da balança de transacções correntes de 35 milhões de euros por dia, portanto, todos os dias os portugueses estão cada vez mais endividados e pobres. Qualquer dia esse problema tornase mais agudo e irresolúvel e a única maneira de se fazer isso não é com o consumo interno privado nem é com o investimento público, é aumentando a capacidade nacional de desenvolver, fabricar e exportar bens e serviços transaccionáveis competitivos no mercado internacional. A minha tese, e de muitas pessoas com as quais concordo, é que só é possível fazer isso com um nível elevado de qualificações e se formos capazes de inovar nos produtos, nos serviços e nos processos e essa inovação e essas qualificações dependem muito da base científica e tecnológica. Assim, percebe-se qual o papel de uma instituição como o INESC e outras que existem podem ter no desenvolvimento económico e social do país. O INESC tem como vocação ajudar a desenvolver o país, as autarquias, as empresas, os hospitais, os utilizadores de tecnologias, mas sempre com uma base científica muito forte, aquilo a que se chama science based innovation (inovação baseada em ciência) que dê capacidades diferenciadoras e que aporte uma competitividade muito elevada aos produtos, processos e serviços que as empresas portuguesas sejam capazes de vender no mercado internacional. Se não for assim vai ser muito complicado, porque nós não temos muitos outros factores competitivos. Não somos um país de matérias- info DESTAQUE Página 21 Entrevista de Ana Ferreira primas, já fomos um país de mão-de-obra barata, mas já não somos, portanto a única hipótese é arranjar um conjunto de vantagens competitivas e nesse conjunto a inovação, as qualificações, a ciência e a tecnologia têm certamente um papel muito importante. Existem actualmente condições para o desenvolvimento tecnológico? Existem casos de sucesso de empresas portuguesas que estão no mercado internacional em posições fortes e de liderança. O grande problema é que esses exemplos de sucesso são minoritários e não têm dimensão para arrastar tudo o resto. Portanto, nós somos capazes de ser bons internacionalmente, mas muitos dos sectores de actividade nacionais não fizeram essa aposta na inovação e a média do país é muito má. Os nossos sectores industriais não tiveram a capacidade de prospectar, de antecipar as mudanças e de as fazer atempadamente, continuando a trabalhar no mesmo paradigma de mão-de-obra barata e de uma indústria baseada em recursos, enquanto que cada vez mais diz-se que a indústria baseada em recursos tem de ser hoje em dia uma indústria baseada no conhecimento do futuro. Os desafios da nova direcção não são sinónimo de ruptura? Não. O INESC é uma instituição de grande dimensão e tem um volume de actividade equivalente a seis milhões de euros em trabalhos de investigação e desenvolvimento tecnológico, o que é bastante e, portanto, é como a lei da física, não há descontinuidade. As mudanças podem ser mais rápidas ou mais lentas, mas há sempre transições e continuidades. O INESC é forte em várias pontos: tem tido nos últimos anos a classificação de excelente pela Avaliação Científica Internacional; tem um modelo de organização interna que é elogiado; tem sistemas e processos internos de gestão e de controlo das suas actividades que são muitas vezes referidos como exemplares pela sua eficiência e pelo rigor com que tratam os aspectos de apoio administrativo ao trabalho de investigação. Portanto, tem muitos pontos fortes. Em algumas áreas tem notoriedade, influência e impacto muito importantes. Mas se olharmos para as diferentes vertentes de desempenho da instituição, há algumas delas que merecem a nossa atenção e que é preciso trabalhar e empurrar os limites dessas vertentes. Uma delas é precisamente a ligação à sociedade e às empresas, ou seja, aumentar o impacto que o saber, as tecnologias e os projectos têm na sociedade, aumentar o contributo que têm para as empresas, as autarquias, os hospitais, os nossos parceiros e obviamente aumentando esse contributo, o valor da instituição aumenta e os serviços que presta à sociedade são mais relevantes. Ao fazer isso preserva a excelência científica e começar a olhar lá para fora a sério. O INESC tem muitos projectos internacionais e muitas parcerias com outras instituições de investigação e empresas de primeira linha dentro e fora da Europa, mas isso tem de ser reforçado e desenhado de uma forma mais sustentada estrategicamente, porque só assim consegue manter o desenvolvimento e a geração de conhecimento científico e tecnológico e aumentar o seu valor em termos de resultados da investigação e dos projectos. Uma outra vertente é a capacidade de lançar spin-offs. O INESC tem lançado empresas, a última é a FiberSensing. Mas tem de haver ambição para ser capaz de transferir tecnologia, valor para a sociedade e para a economia e está provado que uma das formas mais eficazes é através das empresas, das pessoas. Por isso, tem de haver um maior esforço nesse sentido, para que o valor não fique nos relatórios, nos protótipos de laboratório, para que o investimento, às vezes de anos, não fique fechado em quatro paredes. Daqui a 20 anos pretende olhar para trás e ver inovação? Exactamente como há 20 anos quando apareceu o INESC no Porto. Mas com uma diferença, é que hoje em dia as coisas são mais aceleradas. Mudanças semelhantes como a dos 20 anos passados certamente passarão em menos de 20 anos, porque o nível de evolução é muito mais rápido. As mudanças dos últimos 20 anos podem acontecer em meia-dúzia de anos. Portanto, a instituição tem de ser capaz de se revitalizar, renovar e adaptar os seus modelos, modos de operação e funcionamento e a sua estratégia para que, sem desvirtuar a sua missão e os seus objectivos e preservando os seus pontos fortes, ser capaz de ser uma instituição de maior valor na sociedade portuguesa. Notas curriculares José Manuel Mendonça tomou posse da segunda direcção do INESC Porto a 1 de Julho de 2005. Entre 1987 e 1996 esteve nesta instituição como responsável pela Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção, cargo que deixou para passar a ser administrador executivo em representação do AIPMEI da Agência de Inovação de 1996 a 2000, e depois administrador executivo da Fundação Ilídio Pinho de 2000 a 2004. Pertence ao Departamento de Engenharia Electrotécnica e Computadores da FEUP e é docente e coordenador da Secção de Automação, Controlo e Sistemas de Produção Industrial. Desempenha vários cargos de gestão de ciência e tecnologia, bem como funções consultivas na área da ciência, tecnologia e inovação a nível nacional e internacional. É autor de vários artigos académicos e participante em conferências, seminários e workshops em Portugal e no estrangeiro. É licenciado em Engenharia Electrotécnica pela FEUP (1977), tirando o diploma em Ph.D em Engenharia no Imperial College of Science and Technology da Universidade de Londres (1986) e é professor catedrático pela FEUP (2003). Página 22 VIDA ASSOCIATIVA Estado do ambiente na Região Norte No dia 25 de Maio realizou-se no Auditório da Associação Industrial do Minho uma palestra sobre “O Estado do Ambiente na Região Norte”. A organização desta iniciativa foi levada a cabo pelo Colégio Regional do Ambiente e pela Delegação Distrital de Braga. Fizeram parte do painel de oradores António Brito (UM) com uma apresentação sobre “O Novo Plano Estratégico para os Resíduos Agrícolas”, Isabel Vasconcelos (CCDRN) com uma apresentação sobre “O Diagnóstico da gestão de Resíduos na Região Norte” e Pedro Machado (BRAVAL) com uma apresentação sobre “O Projecto Ecobraval”. Foram moderadores da sessão Luís Marinheiro (coordenador regional Norte do ambiente) e Paulo Rodrigues (delegado distrital de Braga). info instalações da Universidade do Minho, num jogo de futsal entre a equipa dos veteranos do FC Porto e a OE de Braga. Este convívio, inserido no programa desportivo da Delegação de Braga da OE e co-organizado pela DT – Dinamismo Total, estendeu-se a um almoço, prova de karting indoor no SportCenter em Braga, e à respectiva entrega dos prémios. italianos do projecto NOE – Património e Prevenção de Riscos Naturais. A sessão de abertura contou com a participação de Paulo Morais (vicepresidente da CMP), Gerardo Saraiva (Presidente do Conselho Directivo da OERN), Fernando Noronha (presidente da APG), António Guedes Marques (vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte) e M. Gilles Begusseau (Projecto NOE – Região Provence-Alpes-Cote D’Azur). A parte da manhã foi reservada à apresentação de diversas comunicações da autoria de Ricardo de Oliveira (COBA), Fernando Noronha (FCUP), Cristina Gomes (COBA), Sofia Guimarães (Engico – Grupo COBA), Luísa Borges (CMP) e Roberto Garufi (NOE), que tiveram como objectivo o enquadramento do tema da Cartografia Geotécnica, a apresentação das várias Carta geotécnica do Porto Taça OE Braga/DT A primeira Taça Ordem dos Engenheiros de Braga/DT foi disputada no dia 26 de Maio, nas Decorreu no passado dia 31 de Maio, no auditório da Casa do Infante, o workshop sob o tema Carta Geotécnica do Porto, promovido pela Ordem dos Engenheiros da Região Norte (OERN), Câmara Municipal do Porto (CMP) e Associação Portuguesa de Geólogos (APG). Estiveram presentes cerca de 75 participantes (lotação máxima), incluindo representantes franceses e cartas constituintes da Carta Geotécnica do Porto e, na última, alguns exemplos de trabalhos de análise de risco desenvolvidos na Sicília. Durante a tarde decorreu a sessão prática, na qual os participantes info puderam familiarizar-se com a utilização das várias aplicações informáticas da Carta Geotécnica do Porto, com recurso a diversos exemplos. Visita aos subterrâneos do Porto O Colégio Regional de Engenharia Geológica e de Minas com o apoio dos SMAS Porto, levou a efeito, no dia 18 de Junho, uma visita aos mananciais de água subterrâneos do Porto. Esta iniciativa foi muito concorrida e, para além da parte cultural, proporcionou momentos de diversão e alegre convívio. Os subterrâneos visitados percorrem o antigo manancial de Paranhos (também conhecido como o manancial da Arca de Água ou Arca das Três Fontes por serem três as nascentes de onde a água brotava), que foi, sem dúvida, o mais importante, devido à excelente qualidade e pureza da água e ao seu “copioso caudal". Dado o grande interesse manifestado por esta visita, e dado que nem todos puderam participar, o Colégio Regional de Engenharia Geológica e de Minas irá repetir esta actividade em data a anunciar brevemente no site da Região Norte. Procedimentos de licenciamento do Porto A Ordem dos Engenheiros - Região Norte (OERN), com o apoio da Câmara Municipal do Porto (CMP), promoveu no passado dia 28 de Junho, na sua sede, uma sessão de esclarecimento e debate subordinado VIDA ASSOCIATIVA Página 23 ao tema “Novos Procedimentos de Licenciamento da Câmara Municipal do Porto”. A sessão teve início às 21h30, tendo sido extremamente participada, dado que contou com mais de uma centena e meia de presenças e teve a duração de cerca de duas horas e meia. A abertura da sessão foi efectuada pelo presidente do Conselho Directivo da OERN, o engenheiro Gerardo Saraiva de Menezes, o qual deu as boas-vindas aos presentes, expôs os objectivos da sessão e agradeceu a colaboração dos elementos que permitiram que a mesma se pudesse concretizar. Em seguida deu a palavra aos oradores, tendo a intervenção de fundo ficado a cargo do arquitecto José Carapeto, director municipal da CMP, o qual expôs detalhadamente a organização do processo de licenciamentos implementado na CMP e referiu os Página 24 VIDA ASSOCIATIVA seus aspectos mais relevantes, tendo em vista a melhoria da eficiência do sistema de licenciamento Posteriormente, o vice-presidente da CMP, Paulo Morais, fez igualmente uma breve intervenção, complementando e sublinhando alguns dos aspectos que foram referidos na apresentação anterior. Após este período de intervenções seguiu-se um animado período de debate, em que foram colocadas diversas questões aos oradores e expressos pontos de vista por parte dos inúmeros colegas presentes na assistência. As respostas às questões colocadas foram asseguradas pelos elementos da CMP já referidos e ainda pelo engenheiro José Duarte, director do Departamento de Licenciamento, Salubridade e Fiscalização. Cursos de formação em Braga No âmbito dos cursos de formação financiada realizados na sede Distrital de Braga da Ordem dos Engenheiros, coube ao delegado distrital de Braga, o engenheiro Paulo Rodrigues, a tarefa de abrir e encerrar os respectivos cursos. De salientar o sucesso desta 1ª acção de formação, testemunhada por formadores e formandos, que não pararam de enviar mensagens de agradecimento e de felicitações pela iniciativa da Ordem dos Engenheiros. Além do valor acrescentado que esta iniciativa permitiu aos formandos, do ponto de vista formativo nas diferentes disciplinas leccionadas, também tivemos o testemunho que esta acção de formação permitiu conhecer de perto a sede distrital de Braga e aproximar os engenheiros às info actividades da Ordem, assim como permitiu juntar colegas da Universidade que não se viam à muitos anos. É caso para dizer que esta acção de formação correu e está a correr muito bem e como tal "recomendase". Bragança discute ambiente No âmbito do II ciclo de palestras “Estado do Ambiente na Região Norte”, realizou-se em Bragança, no dia 2 de Julho, uma palestra subordinada ao tema “Qualidade Ambiental e Ordenamento do Território”. Este evento, organizado pelo Conselho Regional Norte do Colégio de Engenharia do Ambiente, mereceu o apoio da delegação distrital de Bragança e do Instituto Politécnico de Bragança (IPB). Na sessão de abertura, o presidente do IPB, Doutor Dionísio Gonçalves, salientou a importância da temática para a região e manifestou particular agrado pelo facto do colégio ter seleccionado a cidade de Bragança para este fórum de reflexão. Os trabalhos propriamente ditos iniciaram-se com a intervenção do engenheiro Artur Gonçalves, docente da Escola Superior Agrária de Bragança, a qual versou a problemática do planeamento ambiental a nível urbano. Neste contexto, foram tecidas considerações sobre os vários níveis de actuação e de enquadramento relativamente às figuras de ordenamento de território aplicáveis. Seguiu-se a comunicação do engenheiro Pedro Santos, especialista do Grupo de Estudos Ambientais da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, que se centrou na aplicação do conceito de Agenda 21 Local e, em particular, no caso prático de Santo Tirso. A Agenda 21 Local de Santo Tirso está a decorrer desde Janeiro de 2005 na sequência de um protocolo info de colaboração estabelecido com a Câmara Municipal de Santo Tirso. O objectivo central deste projecto é a elaboração de um diagnóstico e de um plano de acção para o desenvolvimento sustentável do concelho nas áreas definidas como prioritárias. Para tal têm vindo a ser promovidos diversos momentos de participação pública, com recurso a metodologias facilitadoras e dinamizadoras da participação, merecendo particular destaque as reuniões dos Fóruns Participativos assim como a realização de um questionário à população do concelho. Até ao momento foram já elaborados vários documentos técnicos, tais como o perfil da comunidade e o pré-diagnóstico de sustentabilidade, que reúne indicadores ambientais, económicos e sociais sobre o concelho. Todos os documentos produzidos até ao momento podem ser consultados na página oficial do projecto: www.agenda21-stirso.org. Destaque ainda para a existência de um Grupo Coordenador (GC) que consiste numa equipa de trabalho de carácter executivo e que reúne, pelo menos, uma vez por mês, com o intuito de discutir e decidir os próximos passos do processo. No GC estão representados o executivo municipal, técnicos da autarquia e de serviços municipalizados e diversos sectores da sociedade civil. Na sessão de encerramento, e dado o interesse manifestado pelos presentes, o presidente do IPB aceitou o desafio lançado por parte do engenheiro Luís Marinheiro em se promover, na cidade de Bragança, outro evento sobre a temática e mais alargado a outros agentes da sociedade. Portugal acolhe congresso mundial das TIC em agricultura Numa organização conjunta da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), da Federação Europeia para as Tecnologias da Informação na Agricultura (EFITA) e da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Tecnologias da Informação na Agricultura (APDTICA) realizou-se, de 25 a 28 de Julho de 2005, na UTAD em Vila Real, a conferência internacional conjunta EFITA/WCCA 2005 - 5th Conference of the European Federation for Information Technology in Agriculture, Food and Environment e 3rd World Congress on Computers in Agriculture and Natural Resources. Este evento reuniu 300 dos maiores especialistas a nível europeu e mundial na área das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) aplicadas à agricultura, alimentação e VIDA ASSOCIATIVA Página 25 ambiente. Os comités organizador e científico receberam 301 trabalhos de autores provenientes de 47 países, tendo seleccionado 179 trabalhos para apresentação oral e 40 para apresentação em poster. O programa de trabalhos do EFITA/WCCA 2005 foi constituído por 50 sessões técnicas paralelas, duas sessões de posters, dois workshops e cinco sessões tutoriais, cobrindo diversos temas: Agricultura de Precisão, Automação e Controlo, Desenvolvimento Rural, eAgBusiness, Gestão de Recursos, Modelação Ambiental e Científica, Produção Animal, Redes Sensoriais, Segurança Alimentar, Sistemas de Apoio à Decisão, entre outros. Os principais objectivos desta conferência visaram promover o uso das novas tecnologias, divulgar o estado da arte no uso de ferramentas de software, estabelecer contactos e promover a colaboração entre as instituições de investigação, de ensino e os produtores, iniciar projectos de educação e de treino e apresentar Página 26 VIDA ASSOCIATIVA info Neste evento foram também atribuídos dois prémios, designados por EFITA Junior e EFITA Senior Prizes, destinados a estimular a investigação da aplicação das TIC na agricultura. O prémio EFITA Junior foi atribuído ao trabalho Dynamic market monitoring for agrifood industries over the Internet, da Drª. Melanie Fritz, da Universidade de Bona, Alemanha, e o prémio EFITA Senior ao trabalho Integrated Pest Management – Sugar Beet Model, do Dr. Verreet, do Freising Institute, Alemanha. Português distinguido pela ASCE planos inovadores com vista a criar novas empresas. As conclusões dos trabalhos e as recomendações tecidas pelas várias instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais, representadas nesta conferência, apontaram para o potencial que as TIC encerram neste sector. A gestão da informação e a utilização das novas tecnologias foram consideradas imprescindíveis ao apoio de tomada de decisões num sector agrícola cada vez mais competitivo e globalizado e com crescentes preocupações na segurança alimentar e sustentabilidade ambiental. O engenheiro Paulo Jorge de Sousa Cruz, do Departamento de Engenharia Civil, em co-autoria com o colega investigador da Universidade do Minho, José Manuel Lopes Cordeiro ganharam o 2005 Thomas Fitch Rowland Prize, atribuído pela ASCE – American Society of Civil Engineers dos Estados Unidos, ao melhor artigo científico publicado em 2004, na área da história da Engenharia Civil. O artigo premiado “Innovative and Contemporary Porto Bridges” foi publicado no número de Fevereiro de 2004 na revista Practice Periodical on Structural Design and Construction e constitui a segunda parte de um conjunto de dois artigos – o primeiro foi publicado na mesma revista em Novembro de 2003 – dedicados à história das pontes da cidade do Porto e do seu contributo para o desenvolvimento da Engenharia Civil. Este prémio, um dos mais antigos e prestigiantes no mundo académico anglo-saxónico, é pela primeira vez atribuído a investigadores portugueses. A entrega da distinção realiza-se em Outubro em Los Angeles. info Em memória do engenheiro Daniel Pinto da Silva Natural de Vila Meã, concelho de Amarante, onde nasceu a 17 de Maio de 1925, faleceu no passado dia 2 de Junho o nosso ilustre colega Daniel de Sousa Soares Pinto da Silva, membro conselheiro da Ordem dos Engenheiros. Ao registar este facto e exprimir o seu profundo pesar pelo desaparecimento deste nosso colega, a Info deixa aqui algumas breves notas, evocativas do seu percurso profissional. Licenciado em Engenharia Civil pela FEUP em 1950, inicia a sua actividade profissional em 1951 na Repartição de Estudos da Direcção Geral de Serviços Hidráulicos, em 1955 ingressa na então empresa Hidroeléctrica do Douro onde vem a desenvolver actividade de muito relevo como responsável pelo Sector Hidráulico e de Hidrologia, sendo de destacar a sua acção a nível do estudo e implementação das diversas eclusas de navegação nos aproveitamentos hidroeléctricos do Douro Nacional. Na sequência das fusões operadas no Sector Eléctrico, vem a transitar em 1969 para a CPE (Companhia Portuguesa de Electricidade) e em 1976 para a EDP (Electricidade de Portugal). Em 1983 assume as funções de presidente da Comissão Directiva do então recém-criado Gabinete de Navegabilidade do Douro, funções que exercerá até à sua aposentação. No período compreendido entre 1973 e 1986 foi ainda membro da Comissão Internacional para Estudo das Eclusas de Navegação. A sua intensa actividade profissional levou-o a estabelecer contactos muito estreitos com o LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil), onde deixou a melhor das recordações como técnico e como pessoa. A este propósito, o actual presidente do LNEC, colega Carlos Matias Ramos, recorda: “O Engenheiro Daniel Pinto da Silva, engenheiro com E grande, abordou sempre com o maior rigor e espírito de equipa todos os trabalhos em que, de forma entusiasta, se envolveu como projectista integrado na excelente equipa da Hidroeléctrica do Douro, posteriormente integrada na CPE e actualmente na EDP. Salienta-se o seu envolvimento, como responsável nas relações com o LNEC no âmbito dos estudos em modelo reduzido dos órgãos hidráulicos das barragens do Douro Nacional e, em particular, das eclusas de navegação. Refere-se, pelo desnível máximo de água entre montante e jusante, a eclusa da Barragem do Carrapatelo, que à época constituiu um recorde mundial. O sucesso no desempenho das diversas eclusas que foram construídas no Douro Nacional e que agora permitem usufruir daquela via navegável resultaram da forma como se desenvolveram esses estudos, cujo resultado muito devem à forma afável, dialogante, empenhada e conhecedora como o Engenheiro Daniel Pinto da Silva desenvolvida a sua relação com os técnicos do LNEC. VIDA ASSOCIATIVA Página 27 Salienta-se a este propósito, a comunicação que apresentou em coautoria, com outros engenheiros da EDP e com investigadores do LNEC, ao XXII Congresso Internacional de Navegação, Paris – 1969, intitulada L’ Écluse de Carrapatelo sur le Fleuve Douro. Esta comunicação foi posteriormente publicada na série Memórias do LNEC (M352, 1970).” O engenheiro Daniel Pinto da Silva foi autor ou co-autor de inúmeros trabalhos na sua área de actividade profissional, muitos dos quais apresentados em congressos e encontros internacionais. A terminar esta breve nota não podemos esquecer que este nosso colega dedicou sempre grande carinho às actividades da ‘sua’ Ordem, tendo sido eleito para o desempenho de diversas funções directivas na Região Norte. Sem a pretensão de sermos exaustivos, referem-se alguns dos mandatos a que ele esteve ligado. Assim, a 1 de Julho de 1975 tomou posse como secretário da Comissão Directiva Provisória da Secção Regional do Porto da Ordem dos Engenheiros e a 2 de Abril de 1979 tomou posse como vice-presidente do Conselho Directivo. A 1 de Abril de 1982 passou a exercer funções como membro do Conselho Fiscal e, no mandato seguinte, em 1985, exerceu funções como membro da Assembleia de Representantes. Em todos estes cargos demonstrou sempre as mais notáveis qualidades profissionais e humanas, que lhe granjearam a admiração de todos os colegas e colaboradores. De registar que o seu falecimento se registou na sua casa de S. Cosmado, concelho de Armamar, em plena região do Douro, pela qual nutria um especial carinho que se reflectiu sempre no decurso da sua vida pessoal e profissional. Página 28 VIDA ASSOCIATIVA info Conselho Regional do Colégio de Engenharia Civil Nova regulamentação sobre térmica e certificação energética: uma oportunidade para melhorar a qualidade global dos edifícios INTRODUÇÃO Reflectindo a crescente preocupação da sociedade com o desenvolvimento sustentado, que todos os Engenheiros devem promover empenhadamente nas suas actividades, têm vindo a multiplicar-se, em contextos variados e com ecos regulares na imprensa, eventos em torno da eficiência energética dos edifícios, sensibilizando os profissionais da área da construção, a comunidade em geral e o meio político, para a necessidade de legislar nesse sentido. Com o objectivo de melhorar o desempenho energético dos edifícios, corresponder às exigências do acordo de Quioto e transpor a Directiva Comunitária 2002/91/CE, estão em curso iniciativas legislativas em dois campos: Alteração dos actuais Regulamentos sobre térmica dos edifícios: RCCTE – Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios RSECE – Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização dos Edifícios Certificação energética. Os respectivos projectos de diploma que estão em adiantada fase de discussão no Governo e terão grande impacto nas práticas actualmente em vigor no sector da construção, sem que tivesse ocorrido suficiente divulgação e adequado debate no meio técnico interessado. Tanto mais que, além da regulamentação de carácter eminentemente técnico, as propostas introduzem clausulado regulador das qualificações profissionais dos técnicos responsáveis pelos projectos e instalações, bem como as suas regras de licenciamento, abrindo conflito com legislação existente ou em curso de revisão. A OE tem centrado muito da sua acção no sentido de corrigir a dispersão, descoordenação e contradição que têm caracterizado a produção legislativa do sector da construção. Nesta linha o Colégio de Engenharia Civil analisou as propostas de diplomas sobre térmica dos edifícios acima referidos, avaliou a sua compatibilidade com os princípios estratégicos que a OE defende e com a legislação que está em curso de revisão, designadamente com a proposta estruturante, relativa à revisão do Decreto 73/73. Dessa análise resultou o parecer que está disponível em http://norte.ordemdosengenheiros.pt. Nele se fazem propostas e identificam algumas questões que seria prudente esclarecer, num contributo construtivo que nos parece pertinente para melhorar a eficácia dos diplomas. ASPECTOS RELEVANTES Quer o RCCTE, quer o RSECE, além dos conteúdos eminentemente técnicos que são o escopo natural dos Regulamentos e não suscitam reservas, incluem clausulado de natureza administrativa do qual discordamos porque: Interfere com o regime de licenciamento; Interfere com as Ordens Profissionais na qualificação de competência profissional dos seus membros; Interfere com a esfera disciplinar das Ordens, transferindo a sua acção para terceiros; Ignora legislação existente, ou em curso de alteração, com a qual interfere, agravando a desarticulação legislativa do sector. Por outro lado este clausulado colide frontalmente com a proposta estruturante que a OE apresentou para revisão do Decreto 73/73, designadamente: Contrariando a visão do projecto como um todo multidisciplinar; Dá azo a que o consumidor possa encarar com desigual credibilidade os vários termos de responsabilidade que integram um mesmo processo de licenciamento, quando a OE desencadeia medidas para reforçar a mesma credibilidade e confiança pública; Transferindo competências de qualificação profissional que estatutariamente são exclusivo da OE para outras entidades como o CSOP, DGE e Associações de AVAC. De acordo com a proposta, a aplicação do RCCTE não será obrigatória para todos os edifícios e não é possível assegurar a eficiência energética dos edifícios sem assegurar a qualidade da sua envolvente na componente energética e construtiva, pelo que o Regulamento das Características de Conforto Térmico dos Edifícios (RCCTE) deve ser aplicado a todos os edifícios (residenciais e de serviços) independentemente da necessidade, ou não, de aplicação do RSECE. O prazo de 90 dias para entrada em vigor é claramente insuficiente, uma vez que a legislação é complexa, não se conhece programa de formação, nem manuais de aplicação e só um info círculo muito restrito de profissionais conhece e estará em condições de a aplicar. Nem-tão pouco conseguimos perceber na Directiva esta necessidade de precipitar soluções, uma vez que esta prevê uma tolerância de 3 anos na implementação da certificação e das inspecções. Também os protocolos relativos à qualificação profissional não são conhecidos da Ordem e a certificação exige a criação de estruturas técnicas, das quais pouco se sabe. Por outro lado cria um negócio novo de cerca de 25 milhões de euros por ano, correspondente à expectativa de 100.000 certificados, relativamente ao qual é indispensável assegurar transparência, nomeadamente quanto aos critérios de atribuição de alvarás às futuras empresas certificadoras e ao regime de preços. No que respeita à utilização de energias renováveis não vemos condições para impor como obrigatória a utilização de painéis solares. A Directiva impõe que “seja estudada a viabilidade técnica e económica de sistemas alternativos…”. Consideramos que a utilização de sistemas alternativos deve ser estimulada, desde que esteja demonstrada a sua sustentabilidade económica e ambiental, com integração urbanística assegurada. Não há indicações de que tenham sido avaliados os vários impactes da nova legislação, designadamente o agravamento do custo induzido, quer pelo aumento de exigências na construção, quer dos novos procedimentos administrativos (taxas de certificação), por um lado, e, por outro, sobre os efeitos nas soluções construtivas, na durabilidade das construções e ainda nos efeitos que a imposição de alterações súbitas pode ter na indústria ao nível dos materiais ou das práticas de construção, ou ainda na burocracia associada aos 2 novos organismos públicos criados: O Sistema Nacional de Certificação Energética e o Observatório Para a Eficiência Energética. Perante a inexistência de um enquadramento global e integrado, é natural que as propostas apresentem, como é o caso, uma ideia de certificação meramente sectorial. Ora, um edifício não integra apenas sistemas energéticos; o seu projecto e execução dizem respeito a um todo multidisciplinar e não podemos, por exemplo, encarar como aceitável que um edifício tenha um excepcional desempenho acústico, mas tenha, simultaneamente, problemas de infiltração, ou a sua estrutura ameace ruína. Ora, se a OE considera fundamental a visão do projecto como um todo, também os objectivos de qualidade devem enquadrar-se na mesma perspectiva integrada. PROPOSTA É um imperativo de desenvolvimento avançar com medidas concretas e sustentáveis que reduzam o consumo de energia e emissões que contribuem para o efeito de estufa no sector da construção, do mesmo modo que é necessário estabelecer garantias de qualidade mais efectivas perante o consumidor. Relativamente às duas iniciativas legislativas em apreço o Colégio de Engenharia Civil propõe: Regulamentos Por princípio os regulamentos devem cingir-se ao conteúdo técnico, sendo as questões de natureza administrativa ou de competências para o exercício dos actos remetidas VIDA ASSOCIATIVA Página 29 para diplomas próprios. Nesta perspectiva concordamos com a aprovação das propostas de revisão do RCCTE e RSECE nas seguintes condições: Manter o clausulado com conteúdo técnico; Eliminar o clausulado de natureza administrativa que diz respeito ao licenciamento e qualificações profissionais; Obrigar, de forma clara, à aplicação do RCCTE a todos os edifícios (residenciais e de serviços); Alargar o prazo de entrada em vigor para 1 ano; Criar uma comissão técnica de acompanhamento para aferir os impactes de implementação destes diplomas e propor os ajustamentos adequados. Certificação Deve procurar-se uma solução que satisfaça a Directiva, mas que integre a visão dos projectos e obras como um todo multidisciplinar coordenado e homogéneo, aproveitando a oportunidade para promover um salto significativo na garantia de qualidade global dos edifícios e criar um modelo de certificação com a perspectiva integrada, a implementar do seguinte modo: Definição dum modelo integrado de certificação global dos edifícios; Implementar o modelo de forma progressiva, avançando sucessivamente com as áreas cujo conhecimento técnico-científico esteja mais consolidado, como parece ser o caso do Comportamento Energético dos Edifícios. Estabelecer uma calendarização de objectivos, para que o mercado e a comunidade técnica se preparem. Página 30 ENGENHARIA NO MUNDO info Hiroxima, a engenharia ao serviço de quem? “Foi um brilho”, assim descreveu Van Kirk, um dos 12 tripulantes do bombardeiro B-29 com o nome Enola Gay, a bomba a explodir em Hiroxima a 6 de Agosto de 1945. A bomba Little Boy, de quatro toneladas e meia (20 quilos de urânio 235), 3,5 metros de comprimento e 0,75 de largura, era como uma arma de disparo, em que um pequeno explosivo impelia uma ‘bala’ de urânio por um cano de 1,8 metros até um núcleo de urânio, desencadeando a fissão nuclear. Rebentou a 580 metros de altitude com uma força correspondente a 15 mil toneladas de TNT. Em dois minutos o cogumelo que gerou tinha 10 quilómetros de altura. Esse brilho levou à morte 66 mil pessoas e feriu 69 mil, e uma segunda bomba detonada três dias depois em Nagasáqui somou o fim de 39 mil vidas humanas e 25 mil feridos. Os números ainda hoje não são exactos, mas sabe-se que mais pessoas viriam a morrer por contaminação radioactiva. Bastou que Einstein mostrasse ‘o como se faz’ para que se desse início à corrida ao armamento e à energia atómica. Através da equação E=mc2, o físico demonstrou que a matéria pode ser convertida directamente em energia, quer pelo processo de fissão quer por fusão. Em 1938, os físicos alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann conseguiram pela primeira vez a fissão de um átomo, o que comprovou que este processo produz energia em grandes quantidades. O trabalho levado a cabo pelo grupo liderado por Otto Hahn empenhara-se nesse trajecto depois de conhecer os avanços do italiano Enrico Fermi, que anos antes iniciara a experiência de bombardeamento de urânio com neutrões. Foi Fermi o primeiro a verificar na prática, pela construção do que se poderá chamar o primeiro reactor atómico, como a energia libertada era imensa e poderia ter aproveitamento para a produção de electricidade. Em Agosto de 1942, Roosevelt, então presidente dos Estados Unidos, lançou o Projecto Manhattan, liderado pelo físico Robert Oppenheimer, que conduziu o primeiro ensaio de uma bomba atómica com plutónio em Alamogordo (Novo México), a 16 de Julho de 1945. Vivia-se a II Guerra Mundial e a bomba atómica foi considerada um mal menor para o seu fim e a rendição do Japão. Com tantos esforços humanos reunidos abriu-se o caminho para a tecnologia nuclear. Engenheiros e cientistas de vários países empenham-se para criar uma arma cada vez mais poderosa, mais perigosa e mais eficaz. Existem actualmente mais de 10 mil ogivas nucleares, sendo cada uma delas 20 vezes mais potente que a bomba atómica de Hiroxima. Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão e Israel possuem armas nucleares. A Coreia do Norte e o Irão possivelmente também as detêm. Para estar ao serviço de quem? Corre-se o risco das armas nucleares virem a ser usadas novamente em conflitos bélicos ou por grupos terroristas. Terá sido mesmo necessário uma bomba atómica em Hiroxima para terminar com o conflito? Precisamente por este medo ser real, vários países assinaram o Tratado de Não-Proliferação Nuclear em 1968 e a Iniciativa de Segurança contra a Proliferação em 2003. Mas tudo isso parece um pouco contraditório, pois sabe-se que potências mundiais pretendem modernizar o seu armamento. Os Estados Unidos, por exemplo, querem tentar desenvolver um novo tipo de bomba, o Penetrador Nuclear Robusto da Terra, conhecido por ‘caça-abrigos’ por vir a ser utilizado para atacar alvos no subsolo. Há, porém, duas certezas: a Engenharia nem sempre está ao serviço do bem e nunca mais haverá recuo ao caminho traçado depois de Hiroxima. info LAZER Página 31 Agostinho Peixoto, consultor/especialista em Turismo Planície Dourada A Região de Turismo Planície Dourada abrange um vasto território no Sul do país, que abrange os concelhos de: Aljustrel, Almodôvar, Alvito, Barrancos, Beja, Castro Verde, Cuba, Ferreira do Alentejo, Mértola, Moura, Ourique, Serpa e Vidigueira. A região é toda no interior fazendo fronteira a norte com o distrito de Évora, a leste com Espanha, a sul com o Algarve, e a oeste com os concelhos de Odemira, Santiago do Cacém e Grândola. Ocupa uma área de cerca de 8500 km2, e tem uma fraca densidade demográfica com cerca de 15,4 hab./km2. A paisagem, forte, imensa, perturbante define o território. No Inverno o verde domina, na Primavera, mantos floridos de variados tons transformam a região num festival de cor; no Verão a sensação de secura e calor é-nos também transmitida pelo dourado que então conquista tudo, por fim, no Outono os campos são charruados e semeados, o castanho adquire o protagonismo, uma infinidade de tons de terra definem agora a paisagem. A paisagem é a primeira sensação que temos ao chegarmos à região, importa pois descobrir o que está para além desta primeira impressão. A fauna é também nesta região um indubitável motivo de interesse. São vários os habitats identificados na Rede Natura 2000, como a ZPE de Moura Barrancos e Mourão onde pode encontrar várias aves de rapina, cegonha negra ou grous; a ZPE de Castro Verde, único plano zonal do país, onde as aves estepárias marcam presença; ou ainda a ZPE do Guadiana onde se inclui o Parque Natural do Vale do Guadiana, que tem como referência obrigatória a queda de água conhecida por Pulo do Lobo. História rica, desde tempos remotos, tem testemunhos da presença humana: sítios arqueológicos, castelos, igrejas, antigas minas, museus onde são expostos os vestígios do passado, ou tão simplesmente as pequenas vilas e aldeias com as suas construções tradicionais reflectem bem a diversidade das influências culturais a que esta região esteve sujeita. As festas religiosas e populares existem por toda a região, todas as aldeias e vilas embelezam-se para festejar os seus santos padroeiros, especialmente no período de Verão. As feiras, outrora espaços privilegiados de reunião e comércio, modernizam-se hoje para serem as mostras das actividades e produções locais, também o convívio em torno do Cante é pretexto para encontros nas várias localidades que têm tradição nesta arte. A gastronomia é um dos melhores cartões de visita da região. São os queijos de cabra e de ovelha, sendo o mais afamado de Serpa, são os presuntos e enchidos sobretudo os de Barrancos preparados a partir do porco preto. Famoso, em toda a região, é também o pão de trigo com o qual juntando-se ervas aromáticas – coentros, poejos, ou hortelã – elaboram-se as deliciosas migas, açordas e ensopados. Gaspacho, ensopado de borrego, carne do alguidar, sopa da panela, sopa de beldroegas, sopa de cação e açorda de alho com bacalhau são alguns dos pratos eleitos, mas há mais, há as favas guisadas, as ervilhas com ovos, o cozido de grão, e ainda os pratos de caça. Na doçaria a excelência é para os doces conventuais como o pão de rala ou as trouxas-de-ovos, mas as popias, os nógados ou os pastéis de grão são também uma tentação. Quanto aos vinhos, Vidigueira, Moura e Pias são as zonas mais afamadas e com mais tradição nesta arte, no entanto, para além destas localidades, nos últimos anos têm surgido vinhas noutras zonas da região. E porque falamos de paisagem e alimentação, não nos podemos esquecer do azeite, já que o olival é uma presença constante na paisagem e o azeite um dos produtos regionais mais reconhecidos, destacando-se o azeite de Moura. É uma região onde os sentidos se cruzam num turbilhão de sensações únicas. Uma região de visita obrigatória. Página 32 AGENDA info ENCONTROS E DEBATES 24 SETEMBRO LOCAL: Gerês - Terras de Bouro ORGANIZAÇÃO: OERN ENCONTRO 2005 DE MEMBROS ELEITOS DA REGIÃO NORTE DA ORDEM DOS ENGENHEIROS 12 E 13 OUTUBRO LOCAL: EXPONOR, Matosinhos ORGANIZAÇÃO: OE ENCONTRO NACIONAL DO COLÉGIO DE ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA O Colégio Nacional de Engenharia Electrotécnica vai levar a cabo o seu 7º Encontro Nacional, o qual vai decorrer em simultâneo com o 14º ENDIEL (Encontro para o Desenvolvimento do Sector Eléctrico e Electrónico), que tem lugar entre 11 e 15 de Outubro de 2005 na Exponor Feira Internacional do Porto. As datas de realização do encontro serão os dias 12 e 13 de Outubro e o mesmo será subordinado ao tema principal “O papel do Engenheiro Electrotécnico na Engenharia dos Edifícios”. Neste tema serão considerados quatro subtemas parciais, os quais se referem especificamente a Sistemas de Energia, Sistemas de Telecomunicações, Automação e Segurança e ainda a Eficiência Energética. O encontro, cujo programa final se encontra em processo de elaboração, revestirá a forma de um conjunto de seminários e painéis, sobre o tema e subtemas referidos, em que participam, como conferencistas convidados, diversos técnicos e especialistas de reconhecido mérito. OUTUBRO LOCAL: Vidago - Chaves ORGANIZAÇÃO: OERN e Delegação Distrital de Vila Real 1.º ENGINEERS TROPHY/ENGENHARIA TOTAL OUTUBRO LOCAL: Sede da OERN ORGANIZAÇÃO: OERN ASSEMBLEIA REGIONAL NORTE DA ORDEM DOS ENGENHEIROS – ORÇAMENTO 2006 CONGRESSOS E SEMINÁRIOS 12 A 14 OUTUBRO LOCAL: Auditório do ISEP ORGANIZAÇÃO: FEUP TRIBOSCIENCE AND TRIBOTECHNOLOGY SUPERIOR FRICTION AND WEAR CONTROL IN ENGINES AND TRANSMISSIONS No âmbito do Programa COST, patrocinado pela ESF – European Science Foudation, está em curso um programa de trabalhos a nível europeu relacionado com a investigação e desenvolvimento na área da Tribologia aplicada a motores e transmissões mecânicas. Neste grupo de trabalhos estão envolvidos mais de 100 investigadores e técnicos dos países europeus e limítrofes. Face ao interesse dos resultados até agora obtidos, o “Department of Energy” dos Estados Unidos associou-se aos trabalhos, nomeadamente nos relacionados com a Engenharia das Superfícies (“Integrated engineered surface technology to reduce friction and increase durability program of the department of energy”). Assim sendo, este grupo realizará a sua conferência anual no Porto de 12 a 14 de Outubro de 2005, no auditório do ISEP, Departamento de Engenharia Mecânica, sendo coordenador da iniciativa o Eng. Luís Andrade Ferreira, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Esta conferência está aberta à participação de todos interessados em Tribologia e Engenharia das Superfícies. Nela serão apresentados mais de 25 trabalhos por alguns dos mais prestigiados especialistas mundiais em Tribologia. Mais informações em: http://www.fe.up.pt/cost532 e D. Fernanda Fonseca, DEMEGI/FEUP: 225081716 ou [email protected] 2 A 5 NOVEMBRO LOCAL: UTAD ORGANIZAÇÃO: APEZ XV CONGRESSO DE ZOOTECNIA A Associação Portuguesa de Engenheiros Zootécnicos (APEZ) vai realizar, de 2 a 5 de Novembro de 2005, o XV Congresso e I Iberoamericano de Zootecnia na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), uma iniciativa que merece o apoio da Ordem dos Engenheiros. O tema central do congresso é a investigação e desenvolvimento em ciência animal, englobando quinze sessões temáticas onde estarão presentes oradores convidados de renome científico e técnico internacional. Adicionalmente, o Congresso integra as III Jornadas Internacionais de Cunicultura e diversos workshops sobre assuntos da actualidade, designadamente “Segurança Alimentar”, “Diagnóstico da Gestação em Ruminantes”, “Zootecnia nos trópicos” e “Novas Tecnologias em Melhoramento Animal”. O último dia de trabalhos será dedicado ao debate das questões do ensino, da acreditação e da empregabilidade na Zootecnia. Esta sessão pretende reunir todos os interessados nesta matéria, em particular, os docentes e investigadores, bem como os agentes empregadores da área. Nesta perspectiva, serão convidados representantes info de diversas empresas privadas e de instituições públicas com interesse na ciência animal para debater as questões da empregabilidade. De igual modo, estarão presentes representantes da Ordem dos Engenheiros para debater o tema da acreditação no quadro do processo de Bolonha. Mais informações em: www.apez.pt, www.zootec.org, [email protected] ou 25932261 23 E 24 DE FEVEREIRO LOCAL: FEUP ORGANIZAÇÃO: OERN, FEUP e APSET 6º COLÓQUIO DE SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO CULTURA E LAZER AGENDA Página 33 Profissional com o objectivo de transmitir conhecimentos e divulgar casos de reconhecida importância para o exercício da profissão de engenheiro, designadamente no tocante aos valores e princípios a ela inerentes. Estes cursos constituem, desde Janeiro de 2002, uma componente obrigatória dos estágios de admissão à Ordem dos Engenheiros. Deste modo, qualquer membro estagiário que se tenha inscrito depois de 1 de Janeiro, só será admitido como membro efectivo após a frequência, com aproveitamento, daqueles cursos. A duração destes cursos é de 10 horas, a funcionar das 10h30 às 13h e das 14h30 às 17h. O número de participantes por curso é limitado, sendo as inscrições consideradas por ordem de recepção na OERN. Para efectuar a inscrição deverá enviar a ficha de inscrição e proceder ao pagamento de 25,00 euros (inclui: documentação) Mais informações em: www.norte.ordemdosengenheiros.pt SETEMBRO LOCAL: Braga ORGANIZAÇÃO: Delegação Distrital de Braga INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO - "ENGENHO E OBRA - ENGENHARIA EM PORTUGAL NO SÉCULO XX " SETEMBRO/OUTUBRO/NOVEMBRO LOCAL: Porto, Vila Real e Viana do Castelo ORGANIZAÇÃO: OERN PLANO DE FORMAÇÃO FINANCIADO 2005 LOCAL: Sala de Convívio da OERN ORGANIZAÇÃO: OERN Os cursos a decorrer no Porto: Formação Avançada de Formadores (60 h), Legislação Laboral/Acidentes de Trabalho (30 h), Informática Avançada (30h); em Vila Real: Finanças e Contabilidade para Não Financeiros (30h), Inglês Técnico Comercial (60h), Informática Avançada (30h); e em Viana do Castelo: Metodologias, Implementação Sistemas Gestão de Qualidade (30h). Inscrições limitadas a membros e seleccionadas segundo análise curricular. Enviar curriculum vitae com a indicação do curso para [email protected] Mais informações em: www.norte.ordemdosengenheiros.pt INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO DE PINTURA DE JORGE DO CARMO 7 A 29 OUTUBRO 20 SETEMBRO LOCAL: Sede da OERN ORGANIZAÇÃO: OERN LANÇAMENTO DO LIVRO “PONTE MARIA PIA, A OBRA-PRIMA DE SEYRIG” 1 A 17 OUTUBRO Nascido há 65 anos em Viseu, o pintor autodidacta está representado em colecções nacionais e estrangeiras. As suas pinturas fazem parte do espólio do Museu Grão Vasco, Governo Civil de Viseu, Turismo de Viseu, Auditório Mirita Casimiro, Câmara Municipal de Nelas, International House (Inglaterra) e Câmara Municipal de Castro Daire. FORMAÇÃO 3 E 10 SETEMBRO; 12 E 19 NOVEMBRO E 10 E 17 DEZEMBRO LOCAL: Sede da OERN ORGANIZAÇÃO: OERN CURSO DE ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL A Região Norte da Ordem dos Engenheiros tem vindo a promover cursos de formação em Ética e Deontologia LOCAL: Departamento de Geologia da FCUP-Porto ORGANIZAÇÃO: Colégio Regional de Engenharia Geológica e de Minas e pela Associação Portuguesa de Geólogos 5º CURSO DE EXPLOSIVOS Entre de 7 a 29 de Outubro vai decorrer nas instalações do Departamento de Geologia da FCUP-Porto, promovido pelo Colégio Regional de Engenharia Geológica e de Minas e pela Associação Portuguesa de Geólogos, o 5º Curso de Explosivos do Centro de Geotecnia do IST CEGEO/IST. Trata-se de um curso com interesse para todos os que estejam ligados à aplicação de produtos explosivos industriais e a todos os que ocupam, ou pretendem ocupar, cargos de responsabilidade técnica em pedreiras e obras de escavação, nomeadamente: licenciados em Geologia, Eng.ª de Minas, Eng.ª Geológica, Eng.ª Geotécnica e Eng.ª Química. Mais informações em: www.norte.ordemdosengenheiros.pt ou Colégio Regional de Eng.ª Geológica e de Minas: [email protected] Página 34 AGENDA info Formação 2005/2006 (1.º Semestre) Projectista de Redes de Gás (48h) - € 350,00 7 a 22 de Novembro de 2005 23 de Janeiro a 7 de Fevereiro de 2006 9 a 24 de Fevereiro de 2006 Porto Braga Vila Real Projecto de Aquecimento Central e Produção de Água Quente Sanitária (24h) - € 200,00 13 a 20 de Março de 2006 Braga Projectista de Sistemas Solares Térmicos (58h) - € 510,00 20 de Março a 7 de Abril de 2006 19 de Junho a 7 de Julho de 2006 Porto Porto Segurança contra Incêndios - Concepção e Projecto (40h) - € 320,00 6 a 17 de Março de 2006 22 de Maio a 2 de Junho de 2006 Vila Real Braga Projectos de Infra-estruturas de Telecomunicações em Edifícios (28h) - € 250,00 12 a 20 de Dezembro de 2005 16 a 24 de Janeiro de 2006 8 a 16 de Maio de 2006 22 a 30 de Maio de 2006 Braga Porto Vila Real Porto Sistemas de Iluminação, Integração e Eficiência Energética (20h) - € 220,00 6 a 10 de Fevereiro de 2006 5 a 9 de Junho de 2006 BOLETIM DE PRÉ- INSCRIÇÃO Porto Vila Real Formação 2005/2006 (1.º Semestre) NOME ________________________________________________________________________________ N.º Regional __________________ MORADA ____________________________________________________________________________________________________________ CÓD. POSTAL ____-____ _____________________ Tel. Resid. ________________ Tel. Emp. _________________ Telem.________________ E-mail _________________ Curso(s) pretendido(s) / Datas de realização – __________________________ / ______________ __________________________ / ______________ , __________________________ / ______________ __________________________ / ______________ , __________________________ / ______________ Data 200_/_______/_______ ___________________________________________ Caso o número de participantes pré-inscritos no curso seja considerado insuficiente em termos pedagógicos, a Ordem dos Engenheiros reserva-se o direito de adiar ou anular o mesmo.