Geral/Opinião Boa prosa A cada dia que passa, multiplicam-se os casos de violência praticada contra a mulher em todo o mundo, incluindo o Brasil, incluindo Anápolis. Há que se louvar o trabalho desenvolvido pela Delegacia de Atendimento à Mulher, cuja titular, Aline Vilela tem se desdobrado, realizando um trabalho muito acima do que a estrutura oferece, para dar à sociedade anapolina um mínimo de atenção. Mas, justiça seja feita, a Delegacia não tem o devido apoio oficial. Faltam-lhe recursos de toda sorte para que a produtividade seja maior e melhor. A delegada tem feito um trabalho extraordinário, instaurando e concluindo dezenas e dezenas de inquéritos, na tentativa de ver a justiça aplicada, o quanto antes, aos que ofendem suas companheiras, das mais variadas formas que se possa imaginar. Todavia, não se ouve falar, em Anápolis, de uma rede de apoio neste caso. A Cidade, que se gaba de ser o principal polo farmacêutico do Centro Oeste, de ter várias universidades, grandes empresas e outros projetos economicamente importantes, não conta com uma casa para abrigar mulheres vítimas de maus tratos. E, olhem que são muitos os casos de senhoras que apanham do marido e têm de voltar para o mesmo convívio, justamente porque Anápolis, a ‘Capital do Conhecimento’ não lhe oferece um lugar seguro, enquanto o agressor não é julgado e condenado. Será que é tão caro assim, construir um abrigo para mulheres e seus filhos vítimas da violência doméstica? [email protected] Barulho Na semana passada, por interferência do Ministério Público, atendendo ao clamor popular, foi cancelado um show artístico no Parque da Pecuária, sob a alegação de que o barulho e a desordem no trânsito prejudicariam, como de fato prejudicam, o bem estar da comunidade naquela região de Anápolis. Acontece que o show foi mudado de local, sendo transferido para o Jóquei Clube. Aí foi a vez dos moradores da região do Bairro de Lourdes ficarem sem dormir a noite toda, pois o show terminou já com o dia amanhecendo. Na segunda-feira choveram reclamações contra esse fato. Viaduto Espécie de unanimidade em todos os setores da sociedade anapolina, a denominação do viaduto na Avenida Presidente Kennedy em homenagem ao médico Cláudio Abadia de Paiva, misteriosamente, não anda. A matéria foi aprovada nas comissões, mas, estranhamente, não é levada a votação no plenário. Já houve quem dissesse, até, que haveria determinações para que o projeto fosse esquecido, tendo em vista haver interesse em dar ao Viaduto, o nome de outro anapolino, igualmente, ilustre. Difícil de acreditar... Pode esquecer Palavra de uma pessoa muito ligada ao Comando da Polícia Militar: aquela história do envio de mais 100 homens para reforçar o policiamento em Anápolis já era... Pode esquecer. Isso foi anunciado pelo Coronel Divino Alves de Oliveira, quando assumiu o comando doa Terceiro CRPM (Comando Regional de Polícia Militar), mas que ficou poucos dias no cargo, sendo substituído pelo também Coronel Juverson Augusto de Oliveira. Muito pelo contrário, estão é querendo tirar policiais de Anápolis para outras cidades. Na semana passada, por exemplo, já estava pronta uma lista de 20 militares que seriam levados para a região de Pirenópolis/Corumbá. O processo foi ‘abortado’ em cima da hora. Sem querer, querendo Procurando disfarçar de todas as formas, o Prefeito Antônio Gomide (PT), entretanto, não consegue esconder de alguns que poderia, sim, colocar seu nome à disposição do Partido para uma eventual candidatura a Governador no ano que vem. Para quem acha que ele, Gomide, não tem visibilidade fora de Anápolis, é melhor dar uma avaliada mais profunda. Há quem diga que o Prefeito de Anápolis teria mais capilaridade do que os demais concorrentes ao enfrentamento, incluindo Íris Resende (PMDB) e Paulo Garcia (PT). Nas reuniões e encontros do PT em várias regiões do Estado, onde, por sinal, ele esteve presente, o nome de Gomide tem boa aceitação. O problema, entretanto, é de economia interna. Ou seja, depende da cúpula a indicação do nome. Projetos Existem projetos que se desenvolvem mais rapidamente do que outros. Parece mistério... Há casos de conjuntos habitacionais que começaram a ser construídos bem antes e que não têm as obras concluídas para a devida ocupação. Daí, surgem os comentários mais diversos. Alguns, até, com certa dose de maldade. Por exemplo, dando conta de que a referida obra poderia atrapalhar interesses econômicos de grandes empresas. É cada coisa... Samuel Vieira [email protected] As vaias para Dilma E stive presente no histórico jogo Brasil & Japão, que abriu a copa das confederações em Brasília. Achei magnífico a estrutura do novo estádio Mané Garrincha, me maravilhei com a abertura dos jogos, me senti orgulhoso de ser brasileiro ao ver as apresentações iniciais, gostei do jogo e do resultado, mas me senti constrangido com as vaias dadas à nossa presidenta (como ela mesma gosta de ser chamada). Não sou filiado a nenhum partido, embora apóie e respeite aqueles que assim o fazem, talvez porque penso que uma filiação limitaria minha autonomia e crítica. Não tenho muita simpatia pela Dilma, mas o que presenciei me deixou taciturno e reflexivo. Sei que a vaia não era à sua pessoa, mas ao poder que ela representa, mas aí está o problema: Ela representa meu país, fala em nome de minha nação, se encontra lá legitimamente eleita por um povo que a escolhei pelo voto secreto e pelo princípio democrático, sua função não foi usurpada, mas conquistada. Ela é Presidente do Brasil e pelo cargo que ocupa, merece admiração e respeito. O Rev. Lee Joon Hee, Ministro Presbiteriano, veio para o Brasil como refugiado político, saindo da ditadura da Coréia do Norte na Década de 1950, e no seu diário relatou sua profunda estranheza ao ver que o povo brasileiro não respeitava os soldados, nem as autoridades que se encontravam no porto do Rio de Janeiro. Temo que as vaias para Dilma apontem para este veio “anárquico”, e “desrespeitoso” de nossa cultura. O problema do desrespeito às autoridades possui graves e danosas implicações, atingindo fundamentalmente as instituições: família, escola, igreja, governo, etc. Por esta razão, muitos alunos hoje se acham no direito de afrontar e confrontar os professores, e se necessário, agredi-los. Quando os pais sabem de uma disciplina aplicada aos seus filhos, ao invés de corrigi-los, resolve tirar “satisfação” com os professores e lideranças da escola. Sou da época em que, quando eles entravam nas salas de aula, os alunos ficavam em pé, em sinal de respeito. É muito arriscado construir uma nação que zomba da lei e de suas lideranças. Cria-se assim um estado de caos. Ao zombar da Presidenta, zomba-se também da instituição que ela representa, e do país que governa. Veja o exemplo de outras nações: O povo americano tem um profundo respeito, pelo presidente, independentemente do partido, porque o vê como um legitimo representante da nação, e em função da liderança que possui, merece toda consideração. Achei descabida, desonrosa e acintosa a atitude de quase 70 mil expectadores ali presentes. Temi pelos nossos filhos, pelas instituições, e me entristeci com a atitude desamorosa e rude, um gesto no mínimo deselegante de nossa parte. 3 Brasil, 50 anos depois Puxão de orelha NILTON PEREIRA Anápolis, de 21 a 27 de junho de 2013 Eu era um garoto entrando para a adolescência, quando vivi, de perto, o nascimento do golpe militar de 64, que muitos chamam, até hoje, de revolução. Estudante do Colégio Estadual “José Ludovico de Almeida” presenciei cenas, ainda hoje, vivas na memória. Já tinha, é verdade, algum grau de politização, pois entendia razoavelmente, coisas do passado, como a Revolução de 30, os dois governos de Getúlio Vargas, o surgimento de Juscelino Kubitscheck e, a eleição de Jânio Quadros, o “homem da vassoura” que prometia varrer a corrupção do País. Na verdade, esse sonho durou pouco, e até os dias de hoje, ainda carece de melhores explicações. Acompanhei a renúncia de Jânio, que acusava ter sido vítima de forças ocultas, a ascensão e a queda de João Goulart, o ‘Jango’, seu sucessor legítimo, derrubado por forças mais ocultas ainda. Foi quando o Brasil, na versão dos militares, estava no fundo do poço, mergulhado em crises e casos graves de corrupção, além de outros problemas, uma verdadeira convulsão social, “à beira do abismo”. Vieram os “anos de chumbo” e, com eles, o que alguns chamam de “a parte mais obscura da história nacional”, muito embora, ainda na atualidade, existam simpatizantes do “governo revolucionário” que , de acordo com esta visão, deu ao Brasil rumos diferenciados no progresso e no desenvolvimento tecnológico. Todavia, há lamentos, acusações e feridas ainda não cicatrizadas de ambas as partes. Muita gente morreu, muita gente foi presa, muita gente foi embora do País. Mas, muitos bancos foram assaltados, muitas pessoas (inclusive autoridades e diplomatas) sequestradas e muitos atentados deixaram vítimas. Tempos depois, vieram as “Diretas Já”, movimento que trouxe de volta o direito de se elegerem presidentes, governadores, prefeitos etc. Vingou, e o País, na versão de muitos, tomou os trilhos da ordem e do progresso. Mas, não demorou muito, recrudesceram os protestos, as passeatas os gritos e as palavras de ordem. Um presidente saiu com a moral ‘lá embaixo’, outro foi deposto. Em meio a essa crise, estouraram escândalos e mais escândalos, a maioria nunca explicada da forma correta. A ladroagem, a corrupção, a falta de caráter de muita gente graúda continuaram e os registros históricos não deixam qualquer dúvida quanto à veracidade do que se afirma. Agora, passado, exatamente, meio século, o povo está nas ruas de novo. Dizem que é um protesto pacífico, que começou com o descontentamento pelo preço da passagem de ônibus em São Paulo. Mas, ninguém acredita nessa versão. O problema dos coletivos paulistanos é o pano de fundo para uma situação bem mais dramática, mais preocupante, mais ameaçadora. O sistema financeiro está abalado, o dólar não para de subir, a inflação ronda a sociedade e o crescimento do PIB, no último ano, foi coisa próxima de zero. Ou seja, estamos onde estávamos há 12 meses. Isto é mais do que preocupante. Quem viveu, como eu, nos chamados “anos de chumbo” não tem nenhuma saudade daquele tempo. Quem perdeu pai, filho, esposo, parente numa guerra sem nexo, nem explicações, por certo não vai querer viver isso de novo e nem que ver seus descendentes vivenciarem tal coisa. Mas, a história é implacável. Ela é cíclica, ela se repete. Tomara que os governantes desse País tenham cautela, juízo, competência e sabedoria para não deixarem que as coisas se repitam. Se isto acontecer, podem esperar dores e sofrimentos. Narcisismo Esta surgiu na Câmara Municipal: Dizem que está a maior ciumeira entre alguns parlamentares por conta das aparições na TV que cobre o dia-a-dia do Legislativo Anapolino e pelas participações em programas jornalísticos das emissoras de rádio da Cidade. Um vereador chegou, até, a afirmar que existira “manipulação” para quem uns aparecessem mais do que os outros e teria exigido que houvesse um controle dessas aparições por parte da Mesa Diretora. Pode isso? Elias Hanna [email protected] E, se os jovens não mais saíssem das ruas? P ara aqueles que reclamavam da passividade do brasileiro, para aqueles que não mais acreditavam na possibilidade do gigante levantar-se de seu berço esplêndido, esta foi uma semana não recomendada para incrédulos, cardíacos, e, principalmente, políticos. A primavera brasileira chega com uma antecipação sazonal de três meses, porém muitíssimo atrasada em relação às demandas da população. Tardou, mas a insatisfação do brasileiro ante o transporte publico, à saúde, à educação, à segurança e à corrupção, chegou às ruas. De inicio, tímida, marcada por protestos conduzidos por algumas dezenas de pessoas, foi ganhando volume graças ao despreparo dos governantes e, também, a reação violenta de uma polícia que, ainda, guarda resquícios dos tempos da ditadura. Os que eram algumas dezenas tornaram-se, também, graças às redes sociais, milhares, centenas de milhares, colorindo as ruas, ocupando as praças, em um movimento quase anárquico sem a influência de partidos políticos. Transporte público no Brasil é feito para o pobre sentir-se, ainda, mais pobre. Com raras exceções os ônibus são velhos, em número muito menor que a demanda da população. A regra, nos horários de pico, é não sentar-se, acotovelar-se junto ao próximo, espremerem-se uns nos outros, num espetáculo deprimente e desumano. Nas grandes cidades, a população mais pobre perde horas no trajeto entre sua casa e o trabalho. Perde mais, perde o tempo que poderia dedicar a família e ganha irritabilidade, depressão, hipertensão e outras doenças. Transporte público, no Brasil, não encurta distancias, encurta tempo de vida. Quando escrevo este artigo, muitas cidades, capitais, voltaram atrás no aumento das tarifas e, até mesmo, diminuíram valores antes praticados, sinalizando sua preocupação com a revolta das ruas. Não seria de se perguntar se não deveríamos permanecer nas ruas atras de soluções para a educação, a saúde, a segurança e o combate à corrupção? Certo também que houve exageros e, mesmo, algumas ações que devem ser condenadas, notadamente o vandalismo contra os patrimônios publico e privado. Tais desvios não invalidam a legitimidade da ação e, principalmente, o recado que a população passa aos políticos, sejam eles detentores, ou não, de mandato. Espera-se que nossas ruas não sejam mais as mesmas, que elas permaneçam real ou virtualmente repletas das reivindicações por um país mais justo e, principalmente, que o recado por elas encaminhado seja o inicio de um tempo de maior compromisso com as demandas da população. O Brasil está mudando, a política e seus medíocres atores também precisa mudar. O povo, antes coadjuvante pode, sim, transformar-se em personagem principal da mudança.