Sumário 1 Introdução 16 1.1 Breve Histórico do Magnetismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 1.2 Magnetismo da Matéria: Comportamento Microscópico . . . . . . . . . . 23 1.3 Modelo de Heisenberg . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 1.4 Outras Interações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 1.5 Transição de Fase e Fenômenos Críticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 1.6 Motivação desta Dissertação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 1.7 Apresentação do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 2 Teoria de Campo Efetivo 68 2.1 Considerações Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 2.2 Teoria do Campo Molecular de Weiss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 2.3 Aproximação de Bragg-Williams . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 2.4 Aproximação de Bethe-Peierls . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 2.5 Método Variacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 2.6 Método Variacional em Sistemas Clássico e Quântico . . . . . . . . . . . 87 2.6.1 Sistema Clássico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 2.6.2 Sistema Quântico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 2.6.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 3 Filmes Finos Magnéticos 98 1 3.1 Considerações Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 3.2 Modelo Proposto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 3.3 Formalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 3.4 Propriedades Termodinâmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 3.5 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 3.5.1 Temperatura Crítica como Função do Tamanho do Filme . . . . . 114 3.5.2 Propriedades Termodinâmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 3.6 Expoentes Críticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199 4 Super-Rede Magnética 206 4.1 Considerações Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206 4.2 Modelo Proposto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210 4.3 Formalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212 4.4 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216 4.4.1 Temperatura Crítica em Função do Número de Camadas . . . . . 216 4.4.2 Propriedades Termodinâmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219 5 Conclusões 242 A Integrais do Modelo O(n) 245 B Susceptibilidade para um Sistema de Camadas 249 2 Lista de Figuras 1.1 Correntes de Ampère no interior da matéria . . . . . . . . . . . . . . . . 20 1.2 Comportamento diamagnético idealizado por Faraday . . . . . . . . . . . 23 1.3 Comportamento Paramagnético idealizado por Faraday . . . . . . . . . . 24 1.4 Paramagnetismo de Curie-Weiss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 1.5 Fenômeno da histerese, fato responsável pela “memória” que materiais ferromagnéticos apresentam pois retêm parte do campo nele aplicado. . . 32 1.6 Representação esquemática de um átomo com dois elétrons (He). . . . . 34 1.7 Parâmetro de ordem (magnetização) em função da temperatura mostrando os dois tipos de transição: (a) primeira e (b) segunda ordem. . . . . . . . 51 1.8 Expoente crítico β como função do tamanho do filme de Ni. As linhas tracejadas correspondem os valores teóricos (ver Tabela 1.1) dos expoentes para os modelos Ising e Heisenberg tridimensional. A área hachurada indica o crossover de dimensionalidade (2D → 3D). . . . . . . . . . . . . 57 1.9 Imagem obtida através da técnica HRTEM (High-Resolution Transmission Electron Microscopy) mostrando nitidamente camada por camada de um filme fino magnético. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 1.10 Classificação de estruturas formadas a partir de um determinado substrato levando em conta seu tamanho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 1.11 Retenção do campo aplicado a um filme magnético através do fenômeno da histerese. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 61 2.1 Dependência da magnetiza ção em função da temperatura na aproximação de campo médio para um sistema ferromagnético . . . . . . . . . . . . . 76 2.2 Aglomerado contendo um sítio central e quatro sítios periféricos. . . . . . 81 2.3 Comportamento da magnetizaç ão do modelo de Heisenberg clássico e quântico em função da temperatura no bulk de um filme fino para uma rede cúbica simples (z = 6). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 3.1 Representação geométrica de uma rede cúbica simples com aglomerado de dois spins na presença de duas sub-redes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104 3.2 Figura representativa de um filme fino com ` camadas e interações de superfície Js e do bulk Jb em uma rede cúbica simples ferromagnética. . . 115 3.3 Comportamento da temperatura cr ítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede bcc(111) descrita pelo modelo de Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). . . . . . . . . . . . . 121 3.4 Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede fcc(111) descrita pelo modelo de Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). . . . . . . . . . . . . 122 3.5 Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede sc(001) descrita pelo modelo de Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). . . . . . . . . . . . . 123 3.6 Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede bcc(111) descrita pelo modelo XY (η x = 0 e η y = 1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 3.7 Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede fcc(111) descrita pelo modelo XY (η x = 0 e η y = 1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 3.8 Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede sc(001) descrita pelo modelo XY (η x = 0 e η y = 1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 4 3.9 Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede bcc(111) descrita pelo modelo de Ising (η x = η y = 0). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 3.10 Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede fcc(111) descrita pelo modelo de Ising (η x = η y = 0). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 3.11 Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede sc(001) descrita pelo modelo de Ising (η x = η y = 0). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 3.12 Comportamento da temperatura crítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede bcc(111) tratada atrav és do modelo de Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). . . . . . . . . 130 3.13 Comportamento da temperatura crítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede fcc(111) tratada atrav és do modelo de Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). . . . . . . . . 131 3.14 Comportamento da temperatura cr ítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede sc(001) tratada através do modelo de Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). . . . . . . . . 132 3.15 Comportamento da temperatura crítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede bcc(111) tratada atrav és do modelo XY (η x = 0 e η y = 1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 3.16 Comportamento da temperatura crítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede fcc(111) tratada atrav és do modelo XY (η x = 0 e η y = 1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 3.17 Comportamento da temperatura cr ítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede sc(001) tratada através do modelo XY (η x = 0 e η y = 1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 5 3.18 Comportamento da temperatura crítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede bcc(111) tratada atrav és do modelo de Ising (η x = η y = 0). . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 3.19 Comportamento da temperatura crítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede fcc(111) tratada atrav és do modelo de Ising (η x = η y = 0). . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 3.20 Comportamento da temperatura cr ítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede sc(001) tratada através do modelo de Ising (η x = η y = 0). . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138 3.21 Comportamento da magnetizaç ão em função da temperatura para cada camada n de um filme fino Heisenberg na rede sc(001) e parâmetro ∆ = 0.0.142 3.22 Comportamento da magnetizaç ão em função da temperatura para cada camada n de um filme fino Heisenberg na rede sc(001) e parâmetro ∆ = 1.5.143 3.23 Magnetização em fun ção da temperatura para cada camada n de um filme fino Heisenberg na rede fcc(001) e parâmetro ∆ = 0.0. . . . . . . . 144 3.24 Magnetização em fun ção da temperatura para cada camada n de um filme fino Heisenberg na rede fcc(001) e parâmetro ∆ = 1.5. . . . . . . . 145 3.25 Comportamento da magnetização em função da camada n de um filme fino Heisenberg na rede sc(001) para um parâmetro ∆ = 0.0. . . . . . . . 146 3.26 Comportamento da magnetização em função da camada n de um filme fino Heisenberg na rede sc(001) para um parâmetro ∆ = 0.29. . . . . . . 147 3.27 Comportamento da magnetização em função da camada n de um filme fino Heisenberg na rede sc(001) para um parâmetro ∆ = 1.5. . . . . . . . 148 3.28 Variação da magnetiza ção em função da temperatura para os três modelos considerados: Heisenberg, XY e Ising em um filme sc(001); ∆ = 0.0 e ` = 10.149 3.29 Variação da magnetiza ção em função da temperatura para os três modelos considerados: Heisenberg, XY e Ising em um filme sc(001); ∆ = 1.5 e ` = 10.150 6 3.30 Variação da magnetiza ção em uma rede sc(001) com parâmetro ∆ = 0.0 para filmes finos Heisenberg com diferentes tamanhos `. . . . . . . . . . . 151 3.31 Variação da magnetiza ção em uma rede sc(001) com parâmetro ∆ = 1.5 para filmes finos Heisenberg com diferentes tamanhos `. . . . . . . . . . . 152 3.32 Variação da magnetiza ção em uma rede bcc(111) com parâmetro ∆ = 0.0 para filmes finos Heisenberg com diferentes tamanhos `. . . . . . . . . . . 153 3.33 Variação da magnetiza ção em uma rede fcc(111) com parâmetro ∆ = 0.0 para filmes finos Heisenberg com diferentes tamanhos `. . . . . . . . . . . 154 3.34 Variação da magnetiza ção em uma rede fcc(111) com parâmetro ∆ = 1.5 para filmes finos Heisenberg com diferentes tamanhos `. . . . . . . . . . . 155 3.35 Variação da magnetiza ção em uma rede fcc(001) com parâmetro ∆ = 0.0 para filmes finos Heisenberg com diferentes tamanhos `. . . . . . . . . . . 156 3.36 Variação da magnetiza ção em uma rede fcc(001) com parâmetro ∆ = 1.5 para filmes finos Heisenberg com diferentes tamanhos `. . . . . . . . . . . 157 3.37 Comportamento da magnetiza ção em função da temperatura para as quatro estruturas cristalinas consideradas de um filme Heisenberg de tamanho ` = 10 e parâmetro ∆ = 0.0. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158 3.38 Comportamento da magnetização em função da temperatura para as quatro estruturas cristalinas consideradas de um filme fino Heisenberg de tamanho ` = 10 e parâmetro ∆ = 1.5. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 3.39 Comportamento da magnetiza ção em função da temperatura de um filme fino Heisenberg sc(001) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. . 160 3.40 Comportamento da magnetiza ção em função da temperatura de um filme fino Heisenberg bcc(111) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. 161 3.41 Comportamento da magnetização em função da temperatura de um filme fino Heisenberg fcc(001) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. 162 3.42 Comportamento da magnetiza ção em função da temperatura de um filme fino Heisenberg fcc(111) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. 7 163 3.43 Magnetização em fun ção da temperatura para filmes finos Ising com diferentes tamanhos ` na rede sc(001) e parâmetro ∆ = 0.0. . . . . . . . . . . 164 3.44 Magnetização em fun ção da temperatura para filmes finos Ising de diferentes tamanhos ` na rede bcc(111) e parâmetro ∆ = 0.0. . . . . . . . . . 165 3.45 Magnetização em fun ção da temperatura para filmes finos Ising com diferentes tamanhos ` na rede fcc(001) e parâmetro ∆ = 0.0. . . . . . . . . . . 166 3.46 Magnetização em funç ão da temperatura de um filme fino Ising de tamanho ` = 10, parâmetro ∆ = 0.0 para quatro tipos de estrutura cristalina. . . . 167 3.47 Magnetização em funç ão da temperatura de um filme fino Ising de tamanho ` = 10, parâmetro ∆ = 1.5 para quatro tipos de estrutura cristalina. . . . 168 3.48 Magnetização em funç ão da temperatura de um filme fino Ising de tamanho ` = 10 na rede sc(001) para diferentes valores do parâmetro ∆. . . . . . . 169 3.49 Magnetização em funç ão da temperatura de um filme fino Ising de tamanho ` = 10 na rede bcc(111) para diferentes valores do parâmetro ∆. . . . . . 170 3.50 Magnetização em funç ão da temperatura de um filme fino Ising de tamanho ` = 10 na rede fcc(001) para diferentes valores do parâmetro ∆. . . . . . 171 3.51 Magnetização em funç ão da temperatura de um filme fino Ising de tamanho ` = 10 na rede fcc(111) para diferentes valores do parâmetro ∆. . . . . . 172 3.52 Comportamento da magnetizaç ão em função da temperatura para filmes XY na rede sc(001) e par âmetro ∆ = 0.0 com diferentes tamanhos `. . . 173 3.53 Comportamento da magnetizaç ão em função da temperatura para filmes finos XY na rede bcc(111) e parâmetro ∆ = 0.0 com diferentes tamanhos `.174 3.54 Comportamento da magnetizaç ão em função da temperatura para filmes finos XY na rede fcc(001) e parâmetro ∆ = 0.0 com diferentes tamanhos `. 175 3.55 Comportamento da magnetização em função da temperatura em um filme fino XY de tamanho ` = 10, parâmetro ∆ = 0.0 para diferentes tipos de estrutura cristalina. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176 8 3.56 Comportamento da magnetiza ção em função da temperatura em um filme fino XY de tamanho ` = 10, parâmetro ∆ = 1.5 para diferentes tipos de estrutura cristalina. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177 3.57 Magnetização para um filme fino XY na rede sc(001) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178 3.58 Magnetização para um filme fino XY na rede bcc(111) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179 3.59 Magnetização para um filme fino XY na rede fcc(001) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180 3.60 Magnetização para um filme fino XY na rede fcc(111) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181 3.61 Comportamento da susceptibilidade em função da temperatura para um filme Heisenberg de tamanho ` = 10 na rede bcc(111) para diferentes valores de ∆. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182 3.62 Comportamento da susceptibilidade em função da temperatura para um filme Heisenberg de tamanho ` = 10 e parâmetro ∆ = 0.0 para três estruturas cristalinas consideradas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 3.63 Comportamento da susceptibilidade em função da temperatura para um filme Heisenberg de tamanho ` = 10 e parâmetro ∆ = 1.5 para três estruturas cristalinas consideradas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184 3.64 Comportamento da susceptibilidade em função da temperatura para filmes finos Ising na rede sc(001); parâmetro ∆ = 0 com diferentes tamanhos (`). 185 3.65 Susceptibilidade em função da temperatura para um filme fino de tamanho ` = 10 e parâmetro ∆ = 0.0 para os três modelos considerados. . . . . . . 186 3.66 Comportamento da susceptibilidade em função da temperatura para um filme fino XY com tamanho ` = 10 na rede bcc(111) para diferentes valores de ∆. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187 9 3.67 Comportamento da susceptibilidade em função da camada n do filme fino Heisenberg na rede sc(001), parâmetro ∆ = 0.0 e ` = 10. . . . . . . . . . 188 3.68 Comportamento da susceptibilidade em função da camada n do filme fino Heisenberg na rede sc(001), parâmetro ∆ = 1.5 e ` = 10. . . . . . . . . . 189 3.69 Comportamento da energia interna em função da temperatura para um filme Heisenberg na rede sc(001), parâmetro ∆ = 0.0 para cada camada n do filme. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190 3.70 Comportamento da energia interna em função da temperatura para um filme Heisenberg na rede sc(001), parâmetro ∆ = 1.5 para cada camada n do filme. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191 3.71 Comportamento da energia interna em função da temperatura para filmes Heisenberg na rede sc(001) com parâmetro ∆ = 0.0 com diferentes números de camadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192 3.72 Comportamento da energia interna em função da temperatura em um filme Heisenberg com ` = 10, rede bcc(111) para diferentes valores do parâmetro ∆. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193 3.73 Comportamento da energia interna em função da temperatura em um filme Heisenberg com ` = 10, rede sc(001) para diferentes valores do parâmetro ∆. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194 3.74 Energia interna em função da temperatura para um filme Heisenberg com ` = 10, parâmetro ∆ = 0.0 para quatro tipos de rede. . . . . . . . . . . . 195 3.75 Energia interna em função da temperatura para um filme Heisenberg com ` = 10, parâmetro ∆ = 1.5 para quatro tipos de rede. . . . . . . . . . . . 196 3.76 Comportamento do calor específico em função da temperatura em um filme XY bcc(111) com ` = 10 para diferentes valores do parâmetro ∆. . . . . 197 3.77 Comportamento do calor específico em função da temperatura em filmes Heisenberg sc(111) com par âmetro ∆ = 0.0 para diferentes números de camada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198 10 3.78 Expoente crítico λ utilizando modelo de Heisenberg para quatro tipos de rede em um filme com 20 camadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200 3.79 Expoente crítico λ utilizando modelo de Ising para quatro tipos de rede utilizando um filme fino com 20 camadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201 3.80 Expoente crítico λ utilizando modelo XY para quatro tipos de rede utilizando um filme fino com 20 camadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 202 4.1 Representação esquemática de uma super-rede magnética com camadas alternadas entre os materiais A e B considerada em nosso estudo. . . . . 211 4.2 Variação da temperatura crítica em função do número de camadas para uma super-rede XY corpo centrado para diferentes configurações de exchange. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 220 4.3 Variação da temperatura crítica em função do número de camadas ` para uma super-rede Heisenberg na configuração 1 de exchange para diferentes redes cristalinas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221 4.4 Comportamento da magnetização para três redes diferentes utilizando a configuração 4 de exchange no modelo de Heisenberg em uma super-rede com tamanho ` = 10. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226 4.5 Comportamento da magnetização para três redes diferentes utilizando a configuração 4 de exchange no modelo de Ising em uma super-rede com tamanho ` = 10. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227 4.6 Comportamento da magnetização para três redes diferentes utilizando a configuração 4 de exchange no modelo XY em uma super-rede com tamanho ` = 10. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228 4.7 Variação da magnetizaç ão em função da temperatura kB T /JA considerando as quatro configurações escolhidas no modelo de Heisenberg e rede cúbica simples. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229 4.8 Magnetização em função da camada n de uma super-rede Heisenberg corpo centrado utilizando a configuração 1 para as interações de exchange. . . . 230 11 4.9 Magnetização em função da camada n de uma super-rede Heisenberg corpo centrado utilizando a configuração 2 para as interações de exchange. . . . 231 4.10 Variação da magnetizaç ão em função da camada n de uma super-rede Heisenberg para o caso de uma rede cubica simples utilizando a configuração 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232 4.11 Comportamento da magnetização para um filme Heisenberg cúbica simples utilizando a configuraç ão 4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233 4.12 Comportamento simétrico da magnetização para cada camada n de uma super-rede magnética utilizando modelo de Ising em uma rede cúbica simples.234 4.13 Função susceptibilidade de uma super-rede com ` = 10 no modelo de Heisenberg utilizando rede cúbica simples para diferentes configurações de exchange. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235 4.14 Variação da energia interna em função da temperatura kB T /JA de uma super-rede XY com tamanho ` = 10 utilizando rede cúbica simples para as quatro configurações de exchange. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236 4.15 Calor específico obtido para quatro configurações de exchange em uma super-rede magnética Heisenberg com tamanho ` = 10 utilizando rede cúbica simples. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237 2.1 Dielétrico formado por ` camadas limitado por placas de área S carregadas com carga q. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249 12 AGRADECIMENTOS A Deus pelo merecimento de viver. Aos meus pais, pela educação exemplar e dedicação. A minha esposa e filha, Cláudia e Luana pelo amor e carinho. A José Ricardo de Sousa, pela orientação recebida e importantes sugestões em todas as etapas desta dissertação. A João Cabral Neto pelo trabalho de co-orientação de importância fundamental para a conclusão deste trabalho. A todos os professores, alunos, em especial à LIGA MUNDIAL - “Amigolhes do Coração” (João Neto, Marcelos Peres, Elie, Jose, Ritinha e Denilson), pela amizade e força fundamentais na conclusão deste trabalho. A Capes pelo apoio financeiro dado durante a elaboração deste trabalho. RESUMO Aplicamos o modelo de Heisenberg quântico de spin 1 2 anisotrópico (parâmetros de anisotropia dados por η x e η y nas direções x e y respectivamente) o que possibilita recairmos em casos particulares importantes que são: Ising unidimensional (η x = η y = 0), XY ou planar (η x = 1, η y = 0 ou η x = 0, η y = 1) e Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1) no estudo de filmes finos e super-redes magnéticas formados por monocamadas ferromagnéticas crescidas à partir de um substrato básico, onde a presença de superfícies livres alteram consideravelmente o comportamento do sistema. Discutimos inicialmente os resultados obtidos através da aproximação de campo médio em sistemas simples, como o modelo de Ising unidimensional de spin 1 2 sem campo para em seguida desenvolvermos o formalismo do método variacional baseado na desigualdade de Bogoliubov em sistemas com cluster de dois spins, que será utilizado no presente trabalho para obter o diagrama de fase do sistema na região da criticalidade bem como obter as propriedades térmicas (energia e calor específico) e magnéticas (magnetização e susceptibilidade). Introduzimos no modelo os parâmetros zo e z1 que corresponde ao número de vizinhos na mesma camada do cluster e em camadas adjacentes respectivamente, sendo z = zo + 2z1 o número total de vizinhos. Isto permite variarmos a estrutura da rede cristalina e verificar de que forma o acréscimo de vizinhos influencia no comportamento do sistema aqui dado pelas redes cúbicas simples [sc(001)] com números de coordenação iguais a zo = 4 e z1 = 1, corpo centrado [bcc(111)] com zo = 6 e z1 = 1, face centrada [f cc(111) e f cc(001)] com zo = 6 e z1 = 3 e zo = 4 e z1 = 4 respectivamente. Aplicamos o formalismo do método em filmes finos formados por ` camadas com exchange de superfície e interior (bulk) dados por Js e Jb respectivamente. O diagrama de fase na região da criticalidade é obtido fazendo-se tanto a temperatura em função do número ` de camadas do filme quanto em função do parâmetro ∆ = Js /Jb − 1, onde verificamos a existência de duas fases distintas: fase bulk (BF) onde o bulk encontra-se ordenado e a superfície desordenada, isto é Tcb > Tcs e fase superfície (SF) onde agora a superfície apresenta-se ordenada e o bulk desordenado, Tcb < Tcs . O ponto multicrítico ∆c = (Js /Jb )c − 1, que corresponde ao ponto de coexistência das fases BF e SF, é determinado para as diferentes redes utilizadas no trabalho e observamos a região de crossover de dimensionalidade (transição entre o sistema bi e tridimensional) no plano Tc × ` onde a temperatura crítica do sistema apresenta forte variação. Em super-redes magnéticas, continuamos com o mesmo formalismo para agora investigarmos a influência do tipo de material na transição de fase ferromagnética-paramagnética, suas propriedades termodinâmicas e o comportamento crítico do sistema. Consideramos uma estrutura de super-rede composta de monocamadas alternadas por material tipo A e tipo B (ABAB..B) com exchange JAS e JBS para as superfícies livres, JA e JB nas camadas no interior e JAB para interações entre-planos. Capítulo 1 Introdução 1.1 Breve Histórico do Magnetismo Os antigos gregos, 800 anos a.C., já conheciam as propriedades elétricas do âmbar, como a capacidade de atrair pequenos corpos quando atritado e também as propriedade magnéticas de certas rochas ígneas, denominadas de magnetita, que podiam atrair pequenos pedaços de ferro. A lenda atribue este nome ao pastor Magnes que observou como seus sapatos, providos de tachas de ferro, sofriam uma certa atração quando caminhava por cima dessas rochas em seu pastoreio. Este mineral, hoje o composto químico conhecido como óxido ferroso-férrico (Fe3 O4 ), era relativamente fácil de achar nas proximidades de Tessália, que mais tarde veio a se chamar Magnésia, uma cidade grega situada ao norte do mar Egeu. Desse início pouco ou quase nada foi feito para se tentar compreender os fenômenos magnéticos; pelo contrário, a força magnética foi demasiadamente mistificada e tratada de modo ingênuo e emocional. Platão (427-347 a.C.)descrevia a inspiração dos artistas fazendo analogias com o campo produzido pela magnetita: assim como o poeta recebe de sua Musa inspiração e a Musa não perde sua capacidade de inspirá-lo novamente, o ímã (ou magneto, como assim são chamados os materiais que apresentam propriedades mag16 néticas) é capaz de induzir seu magnetismo sobre o ferro, à distância, sem por isso perder seu próprio magnetismo. Aristóteles (384-322 a.C.) mencionou as forças magnéticas, no seu “Tratado sobre a Alma”, para fazer uma analogia entre a ação da Alma, que geraria o movimento dos animais, e a ação do ímã, que gera o movimento de um pedaço de ferro. Lucrécio (98-55 a.C.), um dos primeiros a defender a idéia filosófica de átomo, tentou explicar a forma de atuação da força à distância da magnetita sobre o ferro, no livro VI de seu Tratado-Poema “Da Natureza”. Para ele, os átomos do material magnético, por alguma propriedade especial, expulsariam o ar presente entre eles e o ferro de modo que este seria empurrado, pelo ar atrás dele, em direção à magnetita. Estas idéias de caráter místico e sobrenatural ao redor do magnetismo logo fez surgirem especulações, principalmente na Idade Média, a respeito de possíveis curas provenientes de “usos medicinais” da magnetita e outros ímãs. No entanto, dados históricos fortalecem a hipótese de muitos pesquisadores que atribuem aos chineses o mérito de serem os primeiros a descobrir as propriedades magnéticas da magnetita, no período de 2637 a 1100 a. C., desenvolvendo inclusive o primeiro instrumento realmente útil com esse material, a bússola, para auxiliar em suas viagens marítimas e terrestres. O naturalista alemão Alexander von Humboldt afirmou que os chineses, no século III atravessaram o Oceano Índico com navios possuindo agulhas magnéticas. Não obstante, sua aparição na Europa se deu no ano de 1100 de nossa era, por meio do interesse despertado pelas grandes navegações, fenômeno que cresceu na Europa com vistas a encontrar novas rotas para as Índias. O primeiro relato do uso da bússola aparece no livro De Naturis Rerum, publicado por volta de 1186 pelo inglês Alexander Neckam. A primeira e mais importante tentativa experimental de se entender o magnetismo, foi devida a Pierre Pelerin de Maricourt (1240-?) também conhecido como Petrus Peregrinus, que escreveu o mais antigo tratado de física experimental em 1269. Este fez experiências com uma magnetita esférica, colocando pedaços de ímã em várias regiões, traçou as linhas do campo magnético que se interceptavam em dois pontos. Estes pontos foram chamados de pólos do ímã, como analogia aos pólos (geográficos) da Terra, sendo que o pólo sul de um ímã aponta aproximadamente para o pólo norte do planeta. Nos anos seguintes observou-se o surgimento de uma série de documentos[1] relatando estudos feitos em bússolas e sua interação com a posição geográfica em que se localizavam. Estes serviram de base para que William Gilbert de Colchester (considerado o pai do magnetismo), médico da rainha Izabel I da Inglaterra, escrevesse seu famoso livro De Magnete. Publicado em 1600, reúne todos os conhecimentos sobre o magnetismo até aquela época e descreve como utilizar um aparelho construído por ele, o versorium, e que consta de uma agulha de aço imantada, suspensa por uma linha não trançada, com a qual se podia medir o ângulo de atração entre ímãs. Dos resultados de seus experimentos, Gilbert concluiu que o extremo norte de uma bússola é similar ao pólo sul magnético terrestre e assim lançou a hipótese de ser a própria Terra um imenso ímã permanente. Apesar de todas as suas observações, Gilbert acreditava que a magnetita tinha uma alma, sendo esta uma pequena parte da “alma da Terra”. A idéia de que a magnetita possuia uma alma foi descartada pelo filósofo e matemático francês Renê Descartes que em seu livro Principia Philosophie explica o magnetismo através da teoria dos vórtices[2]. Descartes relacionou os fenômenos magnéticos a pequenas partículas fibradas e fluidas que podiam circular pela Terra através de dutos que se localizavam em seu interior, indo de um pólo ao outro. Essas partículas retornavam via aérea e nesse retorno, caso encontrassem uma substância magnética dotada de dutos, elas preferiam passar por ela permanecendo presas ai. Durante a primeira metade do século XVIII Dufay, na França, chegou a estabelecer uma classificação para a eletricidade, designada mais adiante de positiva e negativa por Benjamin Franklin. Este por sua vez, observou que agulhas de ferro poderiam ser imantadas ou desimantadas por intermédio de uma descarga elétrica produzida por uma garrafa de Leiden1 , mostrando uma estreita relação entre a eletricidade e o magnetismo. 1 Esta garrafa foi construída pelo matemático e físico holandês Pietri van Musschenbroek, professor da Universidade de Leiden, em 1745, com o objetivo de engarrafar o efluvium elétrico Em 1755, o físico russo Franz Maria Ulrich Theodor Hoch Aepinus apresentou um tratado matemático: Tentamen Electricitatis et Magnetismi para explicar a eletricidade e o magnetismo utilizando a teoria dos vórtices de Descartes. Aepinus propôs, a partir da teoria de fluido elétrico desenvolvida por Franklin no estudo dos fenômenos elétricos, que as propriedades magnéticas dos “pólos” de um ímã se deviam à falta ou excesso de um fluido magnético, cujas partículas repeliam uma a outra, assim como atraiam partículas de ferro e aço. Em 1777, o engenheiro militar francês Charles August Coulomb, contrário à idéia dos vórtices de Descartes explica o magnetismo através de argumentos mecânicos, confirma a hipótese de Michell2 e através de uma balança de torção por ele mesmo desenhada estabeleceu a lei que leva seu nome para cargas elétricas pontuais em repouso. As primeiras leis quantitativas sobre a eletricidade e o magnetismo pareciam seguir a idéia newtoniana de atração entre corpos celestes: as forças elétricas e magnéticas entre corpos separados se apresentam através de uma ação à distância, de forma instantânea e sem intermediação de matéria nenhuma, fato que incomodava os cartesianos da época pois não entendiam como era possível tal feito. Em geral, os autores consideram o nascimento do eletromagnetismo moderno no dia 21 de julho de 1820. Nesse dia aparece em Copenhague a publicação em latim da famosa experiência de Oersted Experimenta Circa Effectum Conflictus Eletrici in Acum Magnetican[3] no qual trata o desvio que sofre uma agulha magnética situada nas proximidades de um condutor elétrico. Este descobrimento ocorreu meses antes da publicação de seu trabalho e ao que parece, não foi obra do acaso, como se conta, pois que Oersted (1777-1851) realizava desde 1807 experimentos para encontrar alguma relação entre a eletricidade e o magnetismo. Tendo contato com os resultados da expriências de Oersted em uma palestra proferida por Arago em 1819, André Marie Ampère apresenta no ano seguinte uma primeira memória [4] onde demonstra que as correntes elétricas se repelem e se atraem recip2 Em 1751, em seu livro A Treatise of Artificial Magnets, o geólogo e astrônomo inglês Jonh Michell, propôs a idéia de que a força entre pólos magnéticos variava com o inverso do quadrado da distância entre eles. rocamente segundo leis previamente definidas. O mesmo Ampére introduziu o termo “Eletrodinâmica” como referência a estes novos fenômenos. Segundo Ampére, a magnetizacão resulta de correntes microscópicas, que podem ser correntes circulares localizadas em um plano perpendicular ao eixo z. A homogeneidade da distribuição das correntes faz com que a corrente em qualquer curva interior seja zero, pois as contruibuições internas são canceladas aos pares. Como fora do material não existem correntes para anular a contribuição interna, resultará em uma corrente superficial, conforme a Fig.(1.1). Figura 1.1: Correntes de Ampère no interior da matéria Neste mesmo ano Arago descobriu a imantação do ferro por uma corrente e inventa o eletroímã. Durante o mês seguinte sai a publicação dos resultados obtidos por Biot e Savart. Estes investigadores mediram a direção das oscilações de uma agulha imantada em função da distância a uma corrente retilínea. Estabeleceram experimentalmente que a força depende de 1/r2 e da intensidade da corrente. Semanas depois, pensando nesses resultados, Laplace encontra matematicamente a lei de Biot-Savart mostrando que o campo magnético criado por um elemento de corrente dl à uma distância r é transversal à linha de atuação. Isto não agradou os newtonianos, que não entendiam como uma força a distância poderia se manifestar perpendicularmente à direção de interação entre os corpos. Dessa forma, ao fim de 1820 se conheciam as primeiras leis quantitativas da eletrodinâmica. O desenvolvimento de uma teoria que explicasse de forma consistente o magnetismo e sua interação com a eletricidade teve grande impulso quando Michael Faraday em setembro de 1821 realiza suas primeiras investigações experimentais em eletricidade nos laboratórios da Royal Institution. Seus resultados foram publicados em 1832 na Philosophical Transactions da Royal Society com o título Experimental Researches in Eletricity, a primeira de uma série monumental de 30 memórias que levou quase 25 anos para ser concluída[5], tornando-o mundialmente famoso. Em seu trabalho sugere-se que o campo magnético não poderia existir apenas confinado no Ferro, Níquel e Cobalto mas sim em toda a matéria. Faraday verificou que nem todos os corpos reagiam da mesma maneira na presença de um campo magnético. Dividiu as substâncias em grupos e denominou de paramagnéticas as que conduzem bem o campo magnético e diamagnéticas como pobres condutores de campo magnético. Faraday foi um caso de excepcional relevância. Sem uma formação acadêmica, era autodidata, de aprendiz de encanador que lia com avidez todos os livros de ciência que passavam por suas mãos, passou a ajudante de laboratório na Royal Institution, onde viveu como cientista profissional. Nos sótãos da Royal Institution gozava de um dos laboratórios mais equipados do mundo na época. No dia 6 de agosto de 1845, o físico inglês William Thomson escreveu uma longa carta a Faraday na qual descrevia seu tratamento matemático das linhas de força faradayanas e fornece uma série de sugestões sobre experiências que deveriam ser realizadas com o propósito de testar as idéias de Faraday. Uma delas fez com que Faraday observasse a interação da luz com o campo magnético, conhecido como efeito Faraday. Analisando o fenômeno, Faraday escreveu:“Se não seria possível que as vibrações, que numa determinada teoria são consideradas explicativas da irradiação, e dos fenômenos correlatos, se pudessem verificar nas linhas de força que unem partícula e, conseqüentemente, massas de matéria noção essa que, na medida em que for admitida, dispensará éter, o qual sob outro ponto de vista, é tido com um meio ambiente onde ocorrem tais vibrações”. Mais tarde, tais suposições iriam influenciar diretamente os trabalhos de Maxwell e Einstein a respeito da natureza eletromagnética da luz. Utilizando o modelo de fluidos magnéticos, o matemático francês Siméon-Denis Pois- son, em 1824, demonstrou como calcular a intensidade do campo magnético em um ponto exterior de um corpo magnético. Expressou este campo em função de uma nova grandeza, denominada magnetização (M), grandeza que apresenta comportamento vetorial. Em 1881, o escocês James Alfred Ewing introduziu o termo histerese3 , em virtude do efeito termoelétrico que se atrasava em relação à tensão aplicada, observou também que a área sob a curva de histerese era proporcional ao trabalho realizado durante o ciclo completo de magnetização e desmagnetização. A partir das publicações e livros de laboratório de Faraday, James Clerk Maxwell realiza um longo estudo do fenômeno do magnetismo resultando em 1873 na publicação de sua famosa obra A Treatise on Electricity and Magnetism. Seu profundo conhecimento matemático auxiliou no desenvolvimento de uma rigoroso formalismo para o tratamento do magnetismo. As conhecidas quatro leis de Maxwell em derivadas parciais4 , que sintetizam os conhecimentos da eletricidade e do magnetismo, representam a segunda grande unificação de fenômenos físicos aparentemnete distintos da história da ciência. Em resumo, as cargas elétricas geram os fenômenos elétricos e o movimento dessas cargas geram os fenômenos magnéticos. Referindo-se certa vez às Equações de Maxwell, o físico alemão Ludwig Boltzmann (citando um verso de Goethe) escreveu: “Foi um Deus quem escreveu estas linhas...?”. Em época mais recente, J. R. Pierce, num capítulo de um livro intitulado As Maravilhosas Equações de Maxwell, escreveu:“Qualquer um que sinta algo inclinação por algo além do estritamente prático, deve tentar compreender as Equações de Maxwell, simplesmente para o bem de sua alma”. O tratamento dado por Maxwell teve por base a Mecânica Clássica, que mais tarde tornou-se ineficaz no tratamento de alguns fenômenos ligados ao movimento de elétrons no interior de condutores, fato este resolvido com a utilização da Mecânica Quântica por 3 Em grego o termo “histerese” significa estar em “atraso”. O “atraso” entre a aplicação de uma força e o seu efeito, em alguns processos físicos, já era conhecido desde 1866 pelo alemão Rudolph Hermann Arndt Kohlrausch. 4 Esta formulação das Leis de Maxwell deve-se a Oliver Heaviside (1850-1925) que no final do séc. XIX, após abandonar seu trabalho de telegrafista dedica-se ao estudo da obra de Maxwell. Utilizando cálculo vetorial, Heaviside simplificou as 20 equações de Maxwell na forma com que se apresentam atualmente. Feymann, criando assim uma nova Eletrodinâmica, a Eletrodinâmica Quântica. 1.2 Magnetismo da Matéria: Comportamento Microscópico Faraday abriu as portas de um novo ramo da investigação científica quando observou que nem todos os materiais comportam-se da mesma maneira quando submetidos a um campo magnético. Observou que um grupo de elementos dentre os quais o ferro, são bons “condutores” do campo magnético pois fazem convergir as linhas do campo magnético para seu interior. A esse grupo de substâncias denominou de Paramagnéticos. Por outro lado, outros corpos, dentre os quais se encontram o Bismuto e o Antimônio, são pobres condutores de campo magnético, ou seja, divegem as linhas de força do campo de si mesmos. A esse grupo Faraday denominou de Diamagnéticos e seus comportamentos são dados respectivamente conforme as Figs.(1.3) e (1.2). Figura 1.2: Comportamento diamagnético idealizado por Faraday Com esses resultados, Faraday estimulou os cientistas da época na elaboração de modelos que pudessem explicar estes fenômenos. Os adeptos da teoria dos fluidos magnéticos, explicaram o paramagnetismo como sendo resultado da atração entre fluidos magnéticos Figura 1.3: Comportamento Paramagnético idealizado por Faraday presentes no corpo e no seu exterior. Para o diamagnetismo, proporam ser o resultado da capacidade que certas substâncias apresentam de reverter a polaridade daqueles fluidos. Para Faraday, contrário a teoria dos fluidos, as propriedades magnéticas dos corpos eram devidas principalmente às suas linhas de força, que ele considerava como um “fluxo de poder”, já que comparava o ímã (magneto) a um circuito galvânico no qual o próprio magneto era uma fonte de poder. A explicação dada por Faraday era insatisfatória uma vez que não era provida de nenhum mecanismo para explicar o fenômeno magnético, no entanto, apresenta um aspecto bastante interessante pois atribuía ao campo magnético e não ao magneto, as ações magnéticas deste. Alguns anos mais tarde o estudo do magnetismo da matéria traria novos fatos quando Pierre Curie analisou o comportamento de certas substâncias, por ele denominadas de Ferromagnéticas, em função da temperatura e/ou do campo magnético[6]. Determinou para várias substâncias a temperatura acima da qual a amostra se comporta como paramagnética (Tc , temperatura de Curie) e fez estudos sobre o fenômeno da histerese, uma espécie de “memória magnética”. Foi a partir dessas observações, que qualquer modelo proposto para explicar o magnetismo teria, necessariamente, de ser capaz de reproduzir essas medidas experimentais. De um ponto de vista teórico, essas propriedades termodinâmicas mereciam uma explicação, e isto foi uma das principais motivações para o desenvolvimento da mecânica estatística. Uma propriedade extremamente importante, obtida por Pierre Curie em 1895, é a famosa lei de Curie para os compostos paramagnéticos isolantes5 (por exemplo, o cristal Cr2 (SO4 )3 K2 SO4 24H2 O), que demonstra que a susceptibilidade χ0 varia inversamente com a temperatura, ou seja, χ0 = C/T. Para as substâncias ferromagnéticos (por exemplo, cristais formados por Fe, Ni), Curie mostrou γ que χ0 = C/ |T − Tc | , onde Tc é a temperatura de Curie no qual a magnetização espontânea é nula e γ é o expoente crítico associado com esta grandeza. Na tentativa de explicar as propriedades magnéticas, em especial nos compostos paramagnéticos, o físico alemão Voigt[7], em 1901 e 1902, e J. J. Thomson[8], em 1903, estudaram o efeito de um campo magnético externo sobre um conjunto de elétrons, igualmente espaçados, que se movimentavam em um círculo, com velocidade uniforme e em torno de um centro comum. Este modelo não foi possível encontrar uma magnetização diferente de zero. Porém, Voigt contornou a dificuldade admitindo que o paramagnetismo decorria do impacto mútuo entre os elétrons orbitais sempre que, imediatamente após o impacto, esses elétrons tivessem um excesso médio de energia potencial ou cinética. Através deste modelo, o paramagnetismo e o diamagnetismo eram oriundos da mesma causa (!), e com isto não foi possível deduzir a lei de Curie. Utilizando a estatística clássica de Boltzmann e admitindo ad hoc que os átomos e moléculas possuem um momento magnético intrínseco e permanente, Langevin[9], em 1905, conseguiu pela primeira vez reproduzir qualitativamente a lei de Curie para os sistemas paramagnéticos isolantes. Vale ressaltar que, o uso ad hoc da existência de um momento magnético no tratamento clássico por Langevin foi um ato de sua intuição, pois cálculo baseado na teoria clássica lorentziana[10] indica que o paramagnetismo é incompatível com a mecânica e o eletromagnetismo clássicos. Baseado nos resultados da teoria de Langevin para o paramagnetismo, Pierre Weiss[11], 5 Para os compostos metálicos a susceptibilidade paramagnética é infinita em T = 0, não satisfazendo assim a lei de Curie χo = C T , e teoricamente foi explicada após o advento da mecânica quântica, quando Pauli, usando o princípio de exclusão (antisimetrização da função de onda) para descrever o paramagnetismo dos elétrons livres no metal partindo da distribuição de Fermi-Dirac, conseguiu reproduzir os resultados experimentais desses compostos metálicos. em 1907, forneceu a primeira teoria moderna do ferromagnetismo. O modelo proposto por Weiss considerava que uma substância ferromagnética era constituída de átomos, os quais eram pequenos dipolos magnéticos, submetidos a um intenso campo molecular (alguns milhões de Oersteds) o qual era proporcional e paralelo à magnetização da substância. Apesar da teoria de campo molecular de Weiss ser capaz de prever qualitativamente a transição de fases ferromagnética-paramagnética, pois apontava na direção correta quando afirmava que o magnetismo decorria da interação mútua entre os componentes do sistema (efeito cooperativo), esta não era capaz de explicar a natureza dessa interação. Originalmente, Weiss admitiu que a interação era de natureza dipolar (∼ µ2 /a3 , ◦ onde a ' 10 A é o parâmetro de rede), muito fraca para produzir o efeito esperado. Uma argumentação qualitativa simples, pode ser feita para mostrar que a natureza física da interação para o forte magnetismo não pode ser dipolar, para isso estimamos que na criticalidade a energia térmica (∼ kB Tc ) é da ordem da energia de interação ∆E (' µ2 /a3 ) , com isto usando os valores das constantes envolvidas obtemos Tc ' 0.1 − 1K, que é muito menor do que os valores experimentais Tc ' 103 K. A explicação microscópica do magnetismo, só foi possível com o advento da mecânica quântica, em especial por Heisenberg[12], em 1928, que mostrou ser a interação forte de natureza eletrostática. Esta interação tem origem devido às restrições impostas pelo princípio de exclusão de Pauli à função de onda eletrônica total. Isso faz com que os autovalores da energia dependam das orientações relativas do spin eletrônico. Portanto, o estado fundamental do sistema é tal que os spins só podem ter um única orientação relativa. A quantidade de energia necessária para levar o sistema para outra configuração possível é chamada de interação de troca (exchange) J. O valor e o sinal de J em materiais magnéticos é uma conseqüência direta da distribuição eletrônica dentro do material em questão[13]. Sendo J de origem eletrostática (' e2 /a) , pode-se mostrar que esta energia é forte o suficiente para explicar o campo molecular intenso na teoria de Weiss e também estimar corretamente o valor de Tc , ou seja, Tc ' e2 /kB a ' 103 K. À primeira vista, parece muito estranho como uma energia de origem eletrostática faz com que os momentos magnéticos nos sólidos cristalinos (ou até amorfos) fiquem configurados numa dada direção específica. Deve-se ressaltar que, nos sólidos temos a presença de dois tipos de interações: eletrostática e dipolar, mas no forte magnetismo nos sólidos apenas a interação eletrostática é predominante. Por outro lado, existem compostos, como por exemplo a liga metálica diluída Eux Sr1−x S, que no regime de altas concentrações apresenta um ordenamento dos momentos magnéticos que caracteriza uma nova fase magnética denotada de vidro de spin, no qual a interação dipolar é fundamental para o entendimento dos resultados experimentais[14]. A teoria de campo molecular de Weiss apontava na direção certa (cooperatividade), mas ficou claro posteriormente, a hipótese do campo molecular era equivalente à admissão de que forças de interação entre os momentos de dipolo eram de alcance infinito, uma suposição demasiadamente distante da realiade. Por isso, novos rumos, que incorporassem hipóteses mais realistas sobre as interações, precisavam ser tentadas. Na tentativa de superar as deficiências apresentadas pela teoria de campo molecular de Weiss, em 1920, o físico alemão Wilhelm Lenz propôs como tema de tese de doutoramento ao seu estudante Ernest Ising, um modelo teórico para explicar o magnetismo, que mais tarde ficou conhecido como modelo de Ising6 [15]. O modelo consiste de momentos magnéticos colocados eqüidistantes numa cadeia linear, interagindo com seus vizinhos mais próximos, de modo que a energia potencial é mínima quando os dipolos interagentes apontavam numa mesma direção, e máxima quando apontassem em direção contrária, não sendo, no entanto, permitida outras orientações. Ising resolveu exatamente este mod6 Na maioria dos livros textos de mecânica estatística, o modelo de Ising é descrito microscopicamente pelo seguinte Hamiltoniano X X H = −J σ i σ i+1 − µB B σ i , σ i = ±1 i i onde J é a interação de exchange, onde sua origem não era conhecida na época de Ising sendo considerada um parâmetro de energia, µB o magneton de Bohr e B é o campo magnético externo. A solução apresentada por Ising usou o ensemble microcanônico (análise combinatória). Este tipo de solução não tem sido tratada na maioria dos livros textos, tem-se utilizado o ensemble canônico e a técnica da matriz de transferência, pois consiste de uma solução simples e elegante. Teoricamente, o modelo de Ising é um caso particular da modelo de Heisenberg onde as interações dos spins transversais (x e y) são desprezadas. elo, obtendo toda a termodinâmica, mas com o resultado frustrante de que a campo nulo a magnetização é nula, não sendo possível, assim, explicar o magnetismo permanente na matéria. Na sua tese de doutorado, Ising também apresentou argumentos que o seu o modelo não exibe ferromagnetismo em duas e três dimensões, com isto foi natural que o modelo foi subseqüentemente negligenciado pela comunidade científica da época. Heisenberg, em 1928, quando propôs um modelo para explicar o magnetismo, citou a falha do modelo de Ising para justificar a introdução de seu modelo. Assim, durante algum tempo, o modelo de Ising foi ignorado pelos teóricos e o modelo de Heisenberg, quase simultaneamente introduzido por Dirac[16] e Frenkel[17] foi extensamente estudado. Os trabalhos de Dirac, Heisenberg e outros, foram os primeiros a formular um Hamiltoniano de interação entre os spins da rede cristalina do tipo H=− X →− − → Jij Si .Sj , (1.1) hi,ji onde Jij é a interação de exchange, o somatório é feito sobre pares de primeiros vizinhos → − e Si = (Six , Siy , Siz ) é o operador de spin no sítio i. A energia de exchange Jij corresponde fisicamente a diferença de energia entre as configurações de spin paralelo (tripleto) e anti-paralelo (singleto), isto é, J = E↑↑ − E↑↓ . Portanto, J > 0 o mínimo de energia corresponde aos spins paralelos (estado ferromagnético) e J < 0 os spins anti-paralelos (estado antiferromagnético). Os estudos de Faraday mostraram alguns tipos de interação da matéria com o campo externo aplicado. Estudos modernos em teoria dos sólidos através da mecânica quântica elucidaram essa diferença de comportamento com base no prenchimento eletrônica das camadas atômicas. A formação dos sólidos a partir dos diferentes elementos presentes na tabela periódica requer, na maioria das vezes, uma troca de elétrons que provoca em um o preenchimento de sua última camada formando assim íons diamagnéticos, é o que acontece por exemplo com o cloreto de sódio (NaCl). Por outro lado, os íons dos elementos de transição do ferro (T i, V, Cr, Mn, F e, Co, Ni) apresentam a camada 3d incompleta, mesmo tendo elétrons na camada 4s. Nas ligações químicas são os elétrons 4s que são perdidos inicialmente deixando a camada 3d incompleta formando assim um íon com momento magnético total não nulo, o magnetismo nos sólidos é então originado basicamente das distribuições dos elétrons nas camadas incompletas. Faremos a seguir um breve resumo das principais fases magnéticas, presentes na maioria dos sólidos. a) Diamagnetismo: os materiais denominados diamagnéticos, não possuem dipolos magnéticos intrínsecos, ou seja apresentam momento angular total nulo (J = L + S = 0), porém é possível induzir dipolos magnéticos nestes materiais pela ação de um campo magnético externo. O diamagnetismo é uma manifestação da lei da indução de Faraday atuando sobre os elétrons atômicos. O fato de que o momento magnético induzido é oposto ao sentido do campo indutor pode ser visto como uma consequência da lei de Lenz7 atuando numa escala atômica. Essa oposição faz com que o valor do campo no interior do material apresente seu valor reduzido. O diamagnetismo é uma propriedade de todos os átomos. Entretanto, quando um átomo possui momento de dipolo magnético intrínseco (paramagnetismo), o efeito diamagnético torna-se geralmente imperceptível. b) Paramagnetismo: na maioria dos átomos e íons, os efeitos magnéticos dos elétrons, incluindo os que se devem aos spins e aos movimentos orbitais, anulam-se exatamente, de modo que o átomo ou o íon é não magnético. Isto é válido para os gases raros como o neônio e para íons como o Cu+ , que constitui o cobre comum. Em outros átomos e íons, os efeitos magnéticos dos elétrons não se anulam, de modo que o átomo como um todo tem um momento de dipolo magnético µ. Encontram-se exemplos deste caso entre os elementos de transição, como o Mn2+ , as terras-raras, como o Gd3+ , e os elementos da série dos actinídios, como o U 4+ . O paramagnetismo 7 O fato deste valor ser negativo é justificado pela Lei de Lenz: esta é uma lei que diz que um circuito submetido a um campo magnético externo variável, cria um campo contrário opondo-se a variação deste campo externo. (paramgnetismo de Curie) é caracterizado quando em uma amostra contendo N átomos, cada um com um momento de dipolo µ, não interagente e orientado nas mais diversas direções, isto é hµi = 0, apresenta tendência a alinhar-se na direção de um campo externo aplicado8 . Caso houvesse alinhamento perfeito, a amostra como um todo ficaria com um momento de dipolo magnético igual a Nµ. No entanto, o processo de alinhamento é seriamente perturbado pela agitação térmica: oscilações causais de átomos (resultantes da agitação térmica) levam a colisões no interior da matétria, em alguns casos a energia cinética se transfere para átomos já alinhados e rompe seu alinhamento. Esses materiais são caracterizados pela Lei de Curie: χ = C , T onde C é a constante de Curie e T a temperatura. c) Ferromagnetismo: Quando uma interação entre os momentos magnéticos de diferentes átomos é adicionada à interação com o campo magnético aplicado, temos o ferromagnetismo de Curie-Weiss. Esta interação entre os momentos (interação de troca) pode ajudar a alinhar momentos adjacentes na mesma direção ou pode ajudar a alinhar a vizinhança na direção oposta. A susceptibilidade de Curie-Weiss é dada por χCW = C , T −θ onde T é a temperatura. O parâmetro θ está relacionado com a intensidade de interação entre os dipolos. Para θ > 0, esta interação promove o ordenamento dos dipolos na mesma direação, neste caso temos uma interação denominada de ferromagnética e para Tc = θ onde Tc é a temperatura de Curie o sistema sofre uma transição de fase ferromagnética-paramagnética. Para θ < 0 teremos o ordenamento dos dipolos em sentidos contrários, essa rede de interação é denominda de antiferromagnética. Seus comportamentos estão representados na Fig.(1.4) 8 Esta configuração é energeticamente favorecida pois o mínimo de energia ocorre quando µ e H ficam alinhados, conforme mostra a equação vetorial: U = −µ.H. Figura 1.4: Paramagnetismo de Curie-Weiss Outra forma de paramagnetismo é o de Pauli, que é observado em metais e é devido ao fato dos elétrons de condução terem momentos magnéticos que podem ser alinhados com o campo aplicado (a banda de condução é separada em duas com a aplicação do campo, uma com elétrons de spin 1/2 e outra com elétrons de spin −1/2, o momento magnético resultante dessas bandas tem a direção do campo, o que caracteriza o paramagnetismo). Uma característica do paramagnetismo de Pauli é que χ é aproximadamente independente da temperatura e em muitos casos tem valor muito pequeno. Alguns elementos do grupo de transição, como o ferro, níquel e cobalto puros ou em ligas com outros elementos, apresentam uma alta magnetização espontânea abaixo da temperatura de Curie (Tc ). O módulo da magnetização em materiais ferromagnéticos é várias ordens de grandeza maior do que em materiais paramagnéticos e diamagnéticos, e a sua relação com o campo H é não linear. A curva de magnetização não depende somente do material, mas do tratamento (térmico, magnético) a que este foi submetido, ou seja, de sua história anterior. Por isso, costuma-se dizer que os materiais ferromagnéticos possuem memória ou uma função memória. Na Fig.(1.5), o comportamento da magnetização M em função do campo H é característico de um material magneticamente duro como o aço temperado (preparado por aquecimento seguindo de resfriamento brusco). Figura 1.5: Fenômeno da histerese, fato responsável pela “memória” que materiais ferromagnéticos apresentam pois retêm parte do campo nele aplicado. Aplicando-se um campo no material inicialmente desmagnetizado, este seguirá a curva pontilhada até atingir um patamar constante chamado de magnetização de saturação (Ms ). Diminuindo o campo a partir deste valor, M descresce mais lentamente seguindo o sentido dado pela seta até um valor residual da magnetização para um campo nulo chamado de magnetização remanente (Mr ), onde o material permanece magnetizado sem aplicação de campo como acontece com os ímãs de geladeira. Invertendo o sentido do campo segue no mesmo sentido da curva para valores de M menores que Mr até que a magnetização se anule para um determinado valor de campo chamado de campo coercivo (Hc ). E se continuarmos a variar o módulo do campo chegaremos novamente a uma regão de saturação e repetindo o ciclo no sentido inverso obtemos uma curva fechada que constituindo assim o chamado ciclo de histerese. Para um material como o ferro doce, em geral preparado por aquecimento até uma temperatura elevada, seguida de resfriamento lento (processo de recozimento) também possui um ciclo de histerese, mas a sua largura é muito pequena aparentando ser uma curva unívoca. Uma aplicação da memória característica destes materiais é a gravação de mídia magnética (fitas K7), memórias permanentes, dispositivos eletrônicos e outras. Os materiais ferromagnéticos são os materiais mais utilizados na industria eletrônica, juntamente com os semicondutores. 1.3 Modelo de Heisenberg As interações responsáveis pelo ordenamento dos spins (energia de troca) nos estados ferromagnético (↑↑) e antiferromagnético (↑↓) só foram realmente entendidas com a utilização da mecânica quântica, feita independentemente por Heisenberg[12], Frenkel[17] e Dorfman[18]. A descrição microscópica de um sólido ferromagnético envolve três problemas distintos: i) a natureza dos portadores de momento magnético; ii) a origem das interações entre eles; e iii) a termodinâmica do sistema constituído por um conjunto de portadores de momento magnético em interação. Neste trabalho nos restringiremos à termodinâmica de modelos magnéticos com momentos localizados (isolantes). A interação entre os momentos magnéticos existente num sólido é responsável pela ordem magnética. Um cristal está ordenado ferromagneticamente, quando essa interação ordena em média os momentos magnéticos, na ausência de campo magnético externo, numa dada direção cristalográfica (eixo fácil da magnetização) para temperatura inferior a Tc (temperatura de Curie), resultando assim numa magnetização espontânea não nula. Se a energia térmica kB Tc for maior que a energia de interação entre os momentos magnéticos J, a ordem ferromagnética é destruída, e dizemos que o sistema sofreu uma transição de fase ferromagnéticaparamagnética. Exemplos típicos de materiais ferromagnéticos são cristais constituídos por elementos F e, Co e Ni, e esses são todos metálicos. Porém, o tratamento qualitativo das propriedades magnéticas pode ser aproximadamente descrito pelo modelo de Heisenberg. Em compostos antiferromagnéticos, por exemplo MnF2 , F eF2 , CoF2 , La2 CuO4 , os momentos magnéticos, em média, se orientam antiparalelamente. Este ordenamento não é aleatório (paramagnético), mas cada spin da rede cristalina interage com os seus primeiros vizinhos cujo mínimo de energia corresponde os momentos antiparalelos. Por esta razão, um antiferromagneto consiste de um conjunto de duas sub-redes interpenetrantes: A(spins para cima) e B(spins para baixo), tendo cada uma sub-rede um valor médio dos momentos MA e MB , que correspondem às magnetizações de sub-redes. Na ausência de campo magnético externo MA = −MB 6= 0 para uma temperatura inferior a TN (temperatura de Néel). Diferente dos ferromagnetos, os compostos antiferromagnéticos apresentam transição de fase induzida por ampo externo TN (H), onde dependendo do material o diagrama de fase no plano T versus H apresenta vários pontos multicríticos (tricrítco, bicrítico e crítico terminal)[19]. Para elucidar a natureza da interação de exchange, considere o exemplo de dois elétrons em um átomo conforme mostra a Fig.(1.6) . Figura 1.6: Representação esquemática de um átomo com dois elétrons (He). O Hamiltoniano que representa este sistema é dado por H= ¢ −h̄2 ¡ 2 ∇1 + ∇22 + V (r1 , r2 ), 2m (1.2) sendo V (r1 , r2 ) = V (r1 ) + V (r1 ) + V12 (r). O Hamiltoniano dado pela Eq.(1.2), não apresenta termos de interação magnética (energia muito menor que a de origem eletrostática) o que provoca a ausência das variáveis de spin. Podemos compor a função de onda total do sistema de dois elétrons Ψ com sendo o produto das funções de onda espacial com os spinors (relação das componentes de spin), ou seja ΨS1 S2 (r1 , r2 ) = ϕ(r1 , r2 ).χs (S1 , S2 ), (1.3) onde S1 e S2 são as projeções dos spins (±1) em uma determinada direção e ϕ(r1 , r2 ) é obtida à paritr da equação de Schrödinger estacionária Hϕ(r1 , r2 ) = E(1, 2)ϕ(r1 , r2 ), (1.4) onde E(1, 2) é a auto-energia de H. A Eq.(1.4) deve ser tratada com cuidado pois de acordo com o princípio de exclusão de Pauli, dois elétrons não podem ocupar o mesmo estado quântico simultaneamente, isso faz com que a função de onda total seja antisimétrica ( i. e. ΨS1 S2 (r1 , r2 ) = −ΨS1 S2 (r2 , r1 )), ou seja se ϕ(r1 , r2 ) for simétrica [ϕ(r1 , r2 ) = ϕ(r2 , r1 )], χ(S1 , S2 ) tem que ser antisimétrica [χ(S1 , S2 ) = −χ(S2 , S1 )] e vice-versa. Utilizamos a soma do momento angular para spin 1 2 para descrever os estados totais χs (S, M = −S, ..., S) [S = 0, 1] como uma combinação linear dos estados de dois spins χ(m1 , m2 ). Isto faz com que tenhamos os spins totais S = 0(M = 0) ou S = 1(M = −1, 0, 1), cujas componentes dos spinors são dadas por 1 χs (0, 0) = √ [χ(+, −) − χ(−, +)] Singleto (Antisimétrico), 2 χs (1, 0) = χ(+, +) √1 2 [χ(+, −) + χ(−, +)] χs (+, −) = χ(−, −) Tripleto (Simétrico), (1.5) (1.6) onde χ(m1 , m2 ) corresponde ao estado do elétron 1 com componete de spin m1 = ± e o elétron 2 com componente de spin m2 = ±. A função de onda espacial é obtida à partir da resolução da equação diferencial representada pela Equação de Schrödinger, Eq.(1.4). No entanto, a presença do termo de interação entre os elétrons, V12 (r), torna a solução exata impossível. Em vista disso tratamos o problema de forma aproximada, via teoria de perturbação, dado que o termo de interação V12 (r) pode ser encarado como termo perturbativo. A Eq.(1.4) é aplicada então para um sistema de elétrons independentes sendo depois acrescentada a correção aproximada devido a perturbação. Para o caso em que V12 (r) = 0 e desprezando as interações tipo spin órbita, podemos desmembrar H = H0 (solúvel) para cada partícula, respectivamente H10 e H20 , assim chegamos às seguintes equações H10 ϕn (r1 ) = En0 (1)ϕn (r1 ) (1.7) 0 H20 ϕm (r1 ) = Em (1)ϕm (r1 ), (1.8) e onde m e n identificam os estados orbitais quânticos de cada partícula. Dessa forma a função de onda espacial será dada pelo produto das funções de onda de cada partícula, isto é ϕn,m (r1 , r2 ) = ϕn (r1 )ϕm (r2 ) = ϕ1 (r1 , r2 ) (1.9) ϕn,m (r1 , r2 ) = ϕm (r1 )ϕn (r2 ) = ϕ2 (r1 , r2 ). (1.10) ou As duas autofunções acima aplicadas ao sistema formado por partículas idênticas 0 0 0 apresentam uma degenerescência dada por: Enm (1, 2) = En0 (1)+Em (2) = Em (1)+En0 (2). Sabendo disso, podemos tratar os efeitos de V12 via teoria de perturbação degenerada de 1a ordem, onde procuramos resolver inicialmente o seguinte determinante para encontrar as auto-energias sendo ¯ ¯ ¯ hHi11 − Enm (1, 2) hHi12 ¯ ¯ ¯ hHi21 hHi22 − Enm (1, 2) hHi12 = hHi21 = J = Z ¯ ¯ ¯ ¯=0 ¯ ¯ ϕ∗n (r1 ).ϕ∗m (r2 )V12 ϕn (r2 ).ϕm (r1 )dr1 dr2 (1.11) (1.12) e 0 hHi11 = hHi22 = Enm (1, 2) + K, (1.13) sendo K definido por: K= Z |ϕn (r1 )|2 V12 |ϕn (r2 )|2 dr1 dr2 (1.14) A integral em J representa a energia correspondente à interpenetração das funções de onda e é conhecida como integral de troca ou exchange. Resolvendo o determinante na Eq.(1.11) obtemos os auto-valores associados às auto-funções dadas por 1 0 E1 (1, 2) = Enm (1, 2) + K + J ⇒ ϕsim (r1 , r2 ) = √ [ϕ1 (r1 , r2 ) + ϕ2 (r1 , r2 )] 2 (1.15) e 1 0 (1, 2) + K − J ⇒ ϕantisim (r1 , r2 ) = √ [ϕ1 (r1 , r2 ) − ϕ2 (r1 , r2 )] . (1.16) E2 (1, 2) = Enm 2 Substituindo os resultados encontrados para a função espacial, Eqs.(1.15) e (1.16), e spinor, Eqs.(1.5) e (1.6) na função de onda total, Eq.(1.3), obtemos os possíveis casos (preservando a característica antisimétrica da função) ΨS=0 (r1 , r2 ) = ϕsim (r1 , r2 ).χ(0, 0), Singleto (1.17) ΨS=1 (r1 , r2 ) = ϕantisim (r1 , r2 ).χ(1, M), Tripleto, (1.18) e onde na Eq.(1.18) temos na verdade três soluções cada uma correspondendo a um valor de M (M = −1, 0, 1). Devido a antisimetrização das funções de onda, o potencial V12 depende implicitamente do spin com energia associada ao estado singleto dada pela Eq.(1.15) e o tripleto, representado pela Eq.(1.16). Tomando a diferença de energia entre esses dois estados teremos o valor da energia de exchange, ou seja J= 1 [E(S = 0) − E(S = 1)] , 2 (1.19) onde E(S = 0) corresponde à energia do estado singleto (spins antiparalelos ↑↓), Eq.(1.15) e E(S = 1) ao estado tripleto (spins paralelos ↑↑), Eq.(1.16). Levando em conta a situação de mínima energia para o equilíbrio do sistema temos para J > 0 formação do estado tripleto e para J < 0 a formação do estado singleto, temos ai respectivamente a formação de sistemas ferromagnético e antiferromagnético. A energia de exchange tem a propriedade de decrescer exponencialmente com a distância entre os íons, em contraste com a interação coulombiana que decresce mais lentamente (' 1r ). Isto ocorre pois na integral definida para J há o produto ente funções de onda de elétrons ligados em diferentes núcleos, isso provoca um overlap nas funções que tem por característica um rápido decrescimento. Assim, interações de exchange são essencialmente de curto-alcance. Considerando então um sistema formado por dois elétrons com autofunção dada por ΨS=0,1 (r1 , r2 ), temos o spin total dado por S = S1 + S2 , o operador S2 satisfaz a seguinte relação S2 Ψ (r , r ) = S(S + 1)Ψ (r , r ) S 1 2 S 1 2 , S2 Ψ (r , r ) = 3 Ψ (r , r ) i S 1 2 4 S 1 (1.20) 2 onde temos usado h̄ ≡ 1. Usando as relações em (1.20) obtemos 1 (1 + S1 .S2 )ΨS (r1 , r2 ) = [S(S + 1) − 1] ΨS (r1 , r2 ). 2 (1.21) Vimos que o Hamiltoniano inicial pode ser dado pela soma entre um termo que representa as partículas livres H0 e outro que é o termo de interação V12 (r), ou seja H = H0 + V12 (r). (1.22) A equação de Schröndinger para H apresenta soluções dadas pelas Eqs.(1.15) e (1.16), sendo E1 (1, 2) = E(S = 0) e E2 (1, 2) = E(S = 1). Definimos então um operador que possui autovalor E(S = 0) no estado singleto e E(S = 1) no estado tripleto. Assim temos HΨS=0 (r1 , r2 ) = E(S = 0)ΨS=0 (r1 , r2 ) = (E + K + J)ΨS=0 (r1 , r2 ) (1.23) HΨS=1 (r1 , r2 ) = E(S = 1)ΨS=1 (r1 , r2 ) = (E + K − J)ΨS=0 (r1 , r2 ). (1.24) e Usando o resultado da Eq.(1.21), podemos reescrever o Hamiltoniano (1.2) na seguinte forma H = H0 + (K − J ) − JS1 .S2 , 2 (1.25) tomando como constante os dois últimos termos ficaremos H =cte − JS1 .S2 , (1.26) que redefinindo aconstante para o ponto zero das energias obtemos H = − JS1 .S2 . (1.27) O Hamiltoniano dado pela Eq.(1.27) foi obtido de forma simples para o caso de uma molécula diatômica. Para o caso de um sistema com N partículas interagentes, consideramos novamente apenas interações coulombianas. As funções de onda do sistema apresentam propriedades de simetria bem definidas e realizando uma combinação de pares de ligações distintas na rede podemos generalizar o Hamiltoniano (1.27) na forma H =− X Jij Si .Sj , (1.28) (ij) onde o somatório é feito sobre todos os pares ij da rede cristalina e Si = (Six , Siy , Siz ) o operador de spin no sítio i. A Eq.(1.28) é conhecida como modelo de Heisenberg isotrópico pois as três direções no espaço apresentam a mesma probabilidade de orientação. O Hamiltoniano (1.28) foi derivado por meio da aproximação de Heitler-London, que é usada na teoria das moléculas comligações covalentes. Átomos livres são rearrumados como uma aproximação de ordem zero, onde o envolvimento (overlap) entre funções de onda atômica de sítios próximos é tratado como uma pequena perturbação. Desta forma, expressamos a integral de exchange, Eq.(1.12), em termos das funções atômicas e a energia elétrica entre os elétrons. Muitos cálculos numéricos na obtenção da energia de exchange J nos metais do grupo do ferro, tem apresentado resultados contraditórios com respeito ao sinal de J, que para esse caso particular J > 0 (ferromagnético). Nos isolantes, onde as interações antiferromagnéticas aparecem como dominante, cálculos sugerem que o exchange direto Jij , presente na Eq.(3.1), não pode ser devido ao acoplamento dos íons diretamente, isto porque em muitos casos as distâncias entre os vizinhos mais próximos são grandes o suficiente para obtermos um apreciável overlap das funções de onda. A generalização do exchange foi primeiramente realizada por Kramers, em 1934[20], onde a idéia de exchange indireto ou superexchange foi proposta. A idéia desta interação é simples, que consiste na presença de um íon diamagnético entre cada par de íons magnéticos no cristal, fazendo com que cada par de íons magnéticos não apresente uma interação direta e sim é intermediada pela presença do íon diamagnético. A idéia do superexchange tem sido também desenvolvida numa forma geral por Anderson, em 1963[21], e aplicado recentemente na descrição dos novos compostos supercondutores de altas temperaturas formados por planos de CuO2 , por exemplo o composto cerâmico La2−x Bax CuO4 que valeu o prêmio nobel de 1987 aos pesquisadores Berdnoz e Müller[22]. Para os condutores, a idéia de superexchange foi estendida por Zener, em 1951[23], no qual as interações entre os elétrons localizados nas bandas d e f (interação d − f ) em diferentes íons são mediadas pelos íons (elétrons) livres de condução. A energia de exchange tem a propriedade de decrescer rapidamente (exponencial) com a distância entre os núcleos, em contraste com a interação coulombiana que decresce mais lentamente. A razão é que Jij na Eq.(3.1) contém o produto de funções de onda de elétrons ligados em diferentes núcleos, portanto Jij dependerá de envolvimento (overlap) das funções de onda φ1,2 (r1 ) e φ1,2 (r2 ), e este overlap decresce exponencialmente com a distância. Desta maneira a interação de exchange corresponde uma interação de curto-alcance. Para que um átomo ou íon possua um momento magnético permanente, deve ter um momento angular (orbital + spin) efetivo. Numa camada completamente preenchida, o momento angular efetivo é nulo (regra de Hund). Por outro lado, se um átomo possui uma camada interna, d ou f, incompleta, temos assim um momento angular não nulo. A estrutura eletrônica em torno de um íon depende da natureza do próprio íon bem como da distribuição geométrica de seus íons vizinhos. Outro fator importante é a presença de impurezas não magnéticas na vizinhança de um íon magnético resultante de um íon em um sólido. À primeira vista, o estado fundamental de redes antiferromagnéticas seria aquele em que todos os spins se alinham antiparalelamente (estado de Néel). Porém, este não é auto-estado do Hamiltoniano de Heisenberg e, além deste estado, há uma infinidade com P spin total nulo (S z = i Siz ), que devem ser combinados para formar o estado fundamental. A difilcudade em estabelecer um estado fundamental é o maior problema teórico que surge no estudo do antiferromagnetismo e é o que justifica o fato de que, embora ele apresente maior interesse do ponto de vista experimental, tenha se dado, inicialmente, maior atenção ao caso ferromagnético. Uma diferença crucial entre as propriedades magnéticas de compostos ferromagnéticos e antiferromagnéticos reside no estudo do comportamento da susceptibilidade magnética (χ0 ) a campo nulo em função da temperatura. Para o caso ferromagnético temos que χ0 , que representa fisicamente a grandeza resposta da presença do campo externo sobre a magnetização do sistema, apresenta singularidade na temperatura de Curie Tc , isto é, para T ' Tc observa-se o comportamento χ0 ' C γ |T −Tc | enquanto o caso antiferromagnético temos a presença de um ponto de máximo na temperatura crítica TN . 1.4 Outras Interações A interação de exchange (e superexchange) se caracteriza pelo fato de ser independente da orientação dos spins, consequentemente o Hamiltoniano deve ser invariante por rotação de spin. Esta transformação implica que o Hamiltoniano deve conter apenas termos pares de operadores Siν , onde a forma aproximada (1.28) representa o Hamiltoniano bilinear. Vários outros termos de interações poderão ser incluídos para o verdadeiro entendimento microscópico do magnetismo, como por exemplo o termo biquadrático b1 = − H X Jij0 (Si .Sj )2 , (1.29) (i,j) o termo da interação antisimétrica Dzyaloshinski e Moriya (DM) (responsável pela explicação do pequeno ferromagnetismo nos compostos antiferromagnéticos), bDM = − H X (i,j) Dij . (Si × Sj ) , (1.30) onde Dij = −Dji é um tensor antisimétrico, interações de quatro corpos H4 = − etc... X ijlk Jeijlk (Si .Sj )(Sl .Sk ), (1.31) A inclusão da interação DM, Eq.(1.30), no Hamiltoniano de Heisenberg ferromagnético tem induzido uma transição de fase de primeira ordem (presença de calor latente)2.30 com a presença de um ponto tricrítico (separa uma linha de 2o ordem de outra de 1o ordem) no diagrama de fase no plano (T, D). Por outro lado, analisando esta inclusão no Hamiltoniano de Heisenberg antiferromagnético não é observada transição de 1o ordem??. O tipo de estrutura cristalmagnética é determinada pela natureza e magnitude das interações entre osmomentos magnéticos dos íons que compõem o cristal. A interação de exchange, de origem eletrostática (mais o princípio de exclusão de Pauli) responsável pelo ordenamento magnético, é de natureza isotrópica, independe da direção do spin com respeito ao eixo cristalino. A energia de exchange naõ é capaz de definir alguma orientação específica dos momentos magnéticos diferentes com respeito aos eixos cristalográficos, mas ela produz um ordenamento mútuo dos spins em vários sítios da rede. O fato de que a distribuição de spins ordenados é sempre orientada numa dada direção (eixo fácil da magnetização) definida com respeito ao eixo cristalino, devemos assim ter algum outro tipo de interação que torne o sistema (Hamiltoniano) anisotrópico. Fisicamente, as interações magnéticas (dipolar, quadrupolar, etc) são responsáveis pela existência da anisotropia magnetocristalina, que se manisfeta com a dependência da energia do cristal nas orientações dos momentos magnéticos dos átomos com relação ao eixo cristalino. Podemos dizer que em um cristal existem campos magnéticos efetivos internos que tendem a orientar os momentos magnéticos em uma dada direção privilegiada. Este campo pode alterar algumas vezes as orientações mútuas dos momentos magnéticos dos átomos, desta forma distorcendo assim a estrutura magnetocristalina (transição de fase estrutural). Um primeiro exemplo de anisotropia, é a interação dipolar que é representada pelo seguinte Hamiltoniano bdipolar = −4µ2B H ¾ X ½ Si .Sj − 3(b rij .Si )(b rij .Sj ) rij3 (ij) onde rij = ri − rj é o vetor posição que separa os íons i e j, rbij = , (1.32) rij rij é o vetor unitário e µB o magneton de Bohr. É importante mencionar que tanto o Hamiltoniano de Heisenberg, Eq.(1.28), como o dipolar, Eq.(1.32), as interações spin-spin são uma forma quadrática em termos dos operadores de spin Si e Sj (interação bilinear). Fisicamente podemos interpretar a energia de exchange como sendo a interação (acoplamento) do momento magnético µi = gµB Si (h̄ ≡ 1) com um campo molecular (teoria de Weiss) resultante de todos os outros momentos magnéticos vizinhos, gerando assim um campo magnético muito intenso, da ordem de 104 Oe, explicando microscopicamente a origem do forte magnetismo da matéria. O fenômeno do forte magnetismo é restrito apenas a compostos sólidos, não tendo sido observado nos estados líquido ou gasoso. A energia dipolar também pode ser interpretada qualitativamente em função do campo molecular, porém nesse caso a intensidade do campo é muito pequena, da ordem de 10−1 Oe não podendo explicar o forte magnetismo. Um outro tipo importante de interação que o spin eletrônico ligado no átomo sente é a ação do campo magnético gerado pelo núcleo devido ao movimento relativo (orbital) entre os elétrons e o núcleo. Esta interação, denominada spin-órbita, é a responsável pela estrutura hiperfina no espectro atômico, e é descrita pelo seguinte Hamiltoniano onde ξ(ri ) = 1 dφ(ri ) , 2m2 ri dri bL.S = H X ξ(ri )Li .Si , (1.33) i φ(ri ) é a energia potencial elétrica (núcleo-elétron), Li e Si são os momentos angular e spin, respectivamente no sítio i. o Utilizando teoria de perturbação de 2 ordem para a energia de interação spin-órbita, a Eq.(1.33) poderá ser reescrita na forma bL.S = H sendo Λiαβ = 2ξ 2 X Λiαβ Siα Siβ , (1.34) i,(α,β) X hp |Lαi | li D ¯ ¯ E ¯ ¯ l ¯Lβi ¯ p Epo − Elo `6=p , (1.35) ® onde ξ 2 = ξ 2 (ri ) , e Eno é o autovalor do Hamiltoniano não perturbado. O Hamiltoniano (1.34) pode ser reduzido, levando em consideração propriedades de simetria, a um importante caso particular que leva em conta apenas termos diagonais do tensor Λiαβ = Di δ αz δ βz − Ei [δ αx δ βx − δ αy δ βy ], resultando assim na anisotropia ortorrômbica dada por bion = − H X Di (Siz )2 + i X i h i y 2 x 2 Ei (Si ) − (Si ) , (1.36) onde para Ei = 0 a Eq.(1.36) reduz-se ao caso da anisotropia uniaxial. Observe que o Hamiltoniano (1.36) representa a “interação” do sítio i com ele mesmo (auto-interação), que é uma consequência da interação spin-órbita, conhecida na literatura como anisotropia de íon-único. A Eq.(1.36) só é relevante para sistemas com spin S > 1/2, pois o caso particular de spin S = 1/2 temos que (Siν )2 = 1/4 para qualquer componente ν = x, y, z e consequentemente a Eq.(1.36) se reduzirá a uma constante que pode ser desprezada nos cálculos das grandezas termodinâmicas. Vamos interpretar fisicamente a inclusão da anisotropia uniaxial, Eq.(1.36) com Ei = 0, no Hamiltoniano de Heisenberg, Eq.(1.28), ou seja, teremos o seguinte Hamiltoniano resultante H=− X (i,j) Jij Si .Sj − X i Di (Siz )2 , (1.37) onde na Eq.(1.37) para o limite Di = 0 (isotrópico), as três direções espaciais (x, y, z) são energeticamente equivalentes, portanto do ponto de vista da mecânica estatísitica as probabilidades de encontrar os spins nas três direções são iguais, resultando assim hSix i = ® ® ® hSiy i = hSiz i e Six Sjx = Siy Sjy = Siz Sjz . A presença do segundo termo na Eq.(1.37) quebra essa isotropia. Se Di > 0, interpretamos que a direção axial (eixo z) é probabilís® ® ® ticamente mais favorecida com hSiz i > hSix i = hSiy i e Siz Sjz > Six Sjx = Siy Sjy . Em se tratando de transições de fase, por exemplo ferromagnética-paramagnética, a temper- atura crítica Tc (D) cresce à medida que aumentamos o valor da anisotropia Di = D > 0, pois a magnetização axial Mz ≡ hSiz i fica agora mais forte por causa do termo de íonúnico D que favorece ainda mais a direção axial, e dizemos que para D > 0 o sistema tem a classe de universlidade do modelo de Ising (expoentes críticos Ising e não temperatura crítica). No limite D → ∞, apenas os estados −S e S do operador Siz são energeticamente favorecidos e teremos assim um sistema com dois estados apenas interagindo axialmente, que corresponde fisicamente o modelo de Ising de spin 1/2. Do ponto de vista teórico, todos os compostos magnéticos isolantes são descritos pelo Hamiltoniano de Heisenberg, porém devido ao forte acoplamento spin-órbita, que microscopicamente é mapeado pela anisotropia de íon-único, Eq.(1.36), podemos para o caso Ei = 0 e Di = D > 0 aproximar o sistema axial por um modelo de Ising com uma única componente nas direções dos spins. Por outro lado, quando Di < 0 na Eq.(1.37) a direção axial fica agora “enfraquecida” ® ® ® energeticamente, o que resulta em hSiz i < hSix i = hSiy i e Siz Sjz < Six Sjx = Siy Sjy . Neste caso, a temperatura crítica na qual Mz tende a zero diminui gradualmente à medida que D < 0 diminui. Ao contrário do caso D > 0, onde os spins preferem se orientar axialmente, no caso D < 0 os spins tendem ao plano XY, e podemos associar este regime à classe de universalidade do modelo XY. Diante dessa análise qualitativa, temos que as temperaturas críticas para os modelos Ising (I), XY e Heisenberg (H) satisfazem a desigualdade: Tc (I) > Tc (XY ) > Tc (H). A fim de reproduzir teoricamente os três limites dos modelos Ising, XY e Heisenberg isotrópico, é comum escrever um Hamiltoniano efetivo de spins na forma generalizada H=− X (ij) ¡ ¢ Jij η x Six .Sjx + η y Siy .Sjy + Siz .Sjz , (1.38) onde η ν ∈ [0, 1] é o parâmetro de anisotropia da componente ν = x, y da interação dos spins. O Hamiltoniano (1.38) é cohnecido na literatura como o modelo de Heisenberg anisotrópico (xyz) e reduz-se a casos particulares dos modelos Ising (η x = η y = 0), XY (η x = 0 ou η y = 0) e Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). O estado fundamental (T = 0) e algumas excitações elementares do Hamiltoniano (1.38) numa rede unidimensional para spin S = 1/2 foi resolvido exatamente por Bethe[27], em 1931, e Hulthén[28], em 1938, no limite isotrópico (η x = η y = 1). A generalisação do método de Bethe e Hulthén para incluir a anisotropia η x = η y = η foi feita anos mais tarde por Walker[29], cuja energia do estado fundamental por partícula é dada por J E0 (η) ' 2 ( " #) ∞ X 4 1 − tanh(a) 1 + , 2 exp(2ηa) + 1 n=1 (1.39) onde sech(a) = η. Outro resultado exato para o modelo de Heisenberg numa rede d(=1,2)-dimensional é o teorema de Mermin e Wagner[30], que afirma que este sistema não apresenta ordem de longo alcance a T > 0 no limite isotrópico para d = 1, 2, e resumidamente é expresso através das seguintes desigualdades |M(T, H)| ≤ onde W = P (r,r0 ) tg −1 ½ π2 β 2 W r π 2 W S(S+1) |M (T,H)| 13 1 S(S + 1) |H| 3 , d = 1 i h 4πβW π 2 W S(S+1) log 1+ |H||M(T,H)| ¾ 12 (1.40) S(S + 1), d = 2 |J(r − r0 )| |r − r0 |2 < ∞, S é a magnitude do spin e H o campo magnético externo. No limite de campo nulo (H = 0), a partir das deigualdades (1.40) temos que M(T, 0) = 0, não apresentando ordem de longo-alcance para T > 0. Se admitirmos uma interação de longo-alcance do tipo J(r) = J , rp é fácil mostrar que W < ∞ se e somente se p > d + 2, e portanto é o limite de aplicabilidade do teorema de Mermin e Wagner[30]. Para p < d + 2 observa-se que W → ∞, e do teorema de Mermin e Wagner nada podemos afirmar sobre a existência ou não de ordem de longo-alcance. Recentemente, esse teorema foi generalisado por Bruno[31] para incluir interação de longo alcance, e foi provado que para p ≥ 2d(d = 1, 2) o modelo de Heisenberg isotrópico não apresenta ordem de longo alcance a T > 0, e para d < p < 2d temos presença de uma transição de fase em temperatura finita Tc (p) 6= 0. Esses resultados rigorosos são relevantes para certificarmos da potencialidade de uma dada aproximação, haja vista não podermos resolver de forma exata o Hamiltoniano (1.38) para d ≥ 2, e portanto o caminho escolhido é o uso de teorias de campo efetivo tratadas no próximo capítulo deste trabalho. Geralmente, essas teorias não reproduzem o teorema de Mermin e Wagner, por isto é adequada apenas para descrever a termodinâmica e criticalidade (diagrama de fase) de modelos com alta dimensionalidade (d = 3), que para o caso da aproximação de campo médio esta é exata para dimensão crítica superior ou igual a 4. Modelo XY Anisotrópico Introduzido inicialmente por Matsubara e Matsuda 2.40 apresenta solução exata em uma dimensão[33]. Quando aplicado em sistemas bidimensionais não exibe magnetização espontânea, no entanto, exibe uma fase de ordem topológica que apresenta uma transição de fase conhecida como Kosterlitz e Thouless[34]. O modelo XY é um caso particular do Hamiltoniano (1.28) onde consideram-se configurações de spin apenas em um plano e é expresso por HXY = − X¡ ¢ Jijx Six .Sjx + Jijy Siy .Sjy (1.41) i6=j De um ponto de vista experimental, o modelo XY (ou modelo planar) simula muito bem alguns compostos magnéticos como o CoBr2 e CoCl2 e descreve adequadamente as configurações de vórtices na superfluidez no filme fino de Hélio (He4 ) 9 . Tratar teoricamente a transição Kosterlitz-Thouless (KT) é difícil por causa da inexistência de um parâmetro local acessível para descrever a mudança no ponto crítico TKT ; a energia livre e suas derivadas são contínuas no ponto crítico TKT . Detectamos a transição KT com a divergência exponencial do comprimento de correlação na forma (T < TKT ) £ ¤ ξ = ξ o exp a(T − TKT )−ν (1.42) onde ν é umcerto expoente e ξ = ∞ para T < TKT . A ausência de umparâmetro de ordem local dificulta o uso de teorias de campo efetivo para estudar a transição KT. Modelo de Ising O modelo de Ising descreve o comportamento de uma cadeia linear de átomos interagentes e pode ser obtido do Hamiltoniano de Heisenberg quando consideramos apenas interações em uma só dimensão, ou seja: HIS = − X Jijx Siz .Sjz (1.43) i6=j O modelo não apresenta solução exata em três dimensões, mas resultados rigorosos de espansão em séries e simulação de Monte Carlo podem ser consideradas boas aproximações. Descreve muito bem sistemas magnéticos com anisotropia uniaxial e também utilizado para estudar transições gás-líquido para fluidos de uma componente e para ligas binárias. 1.5 Transição de Fase e Fenômenos Críticos É característica de certos materiais na natureza sofrer mudanças em suas propriedades 9 Tratado por A. N. Becker e D. R. Nelson[39]. Ver também o trabalho de revisão do autor D. R. Nelson, Phase Transitions and Critical Phenomena, ed. C. Domb e J. L. Lebowitz, vol. 7, DefectMediated Phase Transitions (Academic Press, 1983). físicas quando certos parâmetros são alterados, como temperatura, pressão, campo magnético, etc provocando assim uma transição de fase no sistema. Como exemplo, temos: os fluidos, sistemas magnéticos e ferroelétricos, superfluidos, supercondutores, ligas binárias, cristais líquidos, sistemas que sofrem mudanças estruturais, entre outros. Esta transição de fase caracteriza-se por apresentar quebra espontânea de simetria o que provoca efeitos macroscopicamente observados (perda de magnetização em sistemas ferromagnéticos, alteração na densidade de fluidos, etc). Podemos estudar esse comportamento das transições de fases de um dado sistema por meio de um diagrama de fase que delimita a região de existência de cada fase sob a variação dos parâmetros externos, ou através de uma função de estado ( densidade, magnetização, energia interna, etc) que reflete uma mudança de fase sob a variação de um parâmetro externo. Quando esta função de estado assume valores diferentes nas diferentes fases e se anula na fase mais desordenada, então esta é denominada parâmetro de ordem10 . Por exemplo, para sistemas ferromagnéticos, o parâmetro de ordem é a magnetização; por outro lado, para uma transição líquido-gás, o parâmetro de ordem é a diferença das densidades do líquido e do gás. Nas transições de fase em sólidos, há uma quebra espontânea da simetria quando o sistema atinge a temperatura característica denominada temperatura crítica Tc , onde passamos de uma fase ordenada, que tem simetria mais baixa, para uma fase desordenada, de simetria mais alta. A fase ordenada é exibida por causa do efeito cooperativo11 existente entre os íons magnéticos localizados nos sítios da rede cristalina, que é mediada pela interação de exchange. A forma como o parâmetro de ordem se anula na transição 10 Essa definição foi dada por Landau, em 1937 e corresponde a um parâmetro em que para T < Tc este é não nulo e T > Tc ele é nulo, caracterizando assim duas fases, uma ordenada (T < Tc ) e outra desordenada (T > Tc ). 11 O efeito cooperativo surge devido a uma interação microscópica que tende a minimizar a energia interna do sistema, alinhando os momentos magnéticos atômicos (spins) numa dada configuração microscópica, e gerando uma correlação entre os vários graus de liberdade do sistema. Sendo assim, para um sistema magnético sujeito a uma variação de temperatura, há uma competição entre a agitação térmica, que tende a desordenar o sistema, e o acoplamento dos momentos magnéticos, que tende a ordenar o sistema. de fase, descontinuamente ou continuamente, é classificada como transição de fase de primeira ordem ou segunda ordem, respectivamente. Na Fig.(1.7) temos esquematizado o comportamento da magnetização (parâmetro de ordem) quando ocorre uma transição de primeira ou segunda ordem 12 . Figura 1.7: Parâmetro de ordem (magnetização) em função da temperatura mostrando os dois tipos de transição: (a) primeira e (b) segunda ordem. Portanto, como podemos observar da figura acima, na transição de segunda ordem, a magnetização varia continuamente com o aumento da temperatura até se tornar nula na temperatura de transição Tc . Em torno de Tc , a magnetização varia com a temperatura de acordo com uma lei de potência definida por m ∼ |t|β , onde t = 1 − T /Tc é a temperatura reduzida, T é a temperatura absoluta e β é um expoente crítico. Além da magnetização, outras grandezas termodinâmicas apresentam singularidades no ponto crítico. Tais singularidades também são caracterizadas por uma 12 O termo transição de fase de “segunda ordem”, usado de forma sinônima com transição de fase contínua, é uma relíquia da classificação de transições de fases em primeira, segunda, terceira,...ordem devido a Ehrenfest. lei de potência ao redor do ponto crítico, cada qual com um expoente crítico bem definido. Outras grandezas conhecidas que apresentam singularidade, são: 1) Calor específico (t ∼ 0 e h = 0) C ∼ |t|−α ; 2) Susceptibilidade magnética (t ∼ 0 e h = 0) χ ∼ |t|−γ ; 3) Comprimento de correlação (t ∼ 0 e h = 0) ξ ∼ |t|−ν ; 4) Magnetização (t = 0 e h ∼ = 0) 1 m ∼ hδ , onde h é o campo magnético externo, {α, β, γ, δ, ν} são números (expoentes críticos), independentes de T e h, e ξ é uma distância característica que mede o tamanho médio de aglomerados correlacionados, que caracteriza o comportamento da função de correlação conectada[35] r Gc (r) = e− ξ rd−2+η (r → ∞) , sendo η mais um expoente crítico. A identificação do parâmetro de ordem, tipo de transição e o comportamento do sistema ao redor do ponto crítico caracteriza o estudo da transição de fase e fenômenos críticos. Historicamente, a primeira tentativa de explicar teoricamente a transição de fase nos magnetos foi dada por Weiss[11], em 1907, onde propôs a idéia de campo molecular. Posteriormente, em 1937, Landau propôs um procedimento universal para o tratamento da energia livre perto da transição de fase de segunda ordem, que é a expansão da mesma em potências do parâmetro de ordem, porém, os expoentes críticos são os mesmos da teoria de Weiss, e estes não concordam com os resultados experimentais. As teorias de Weiss e Landau, são hoje conhecidas como teorias de campo médio e, apesar de serem muito utilizadas em uma primeira abordagem de um determinado problema, elas possuem algumas imperfeições entre essas a universalidade nos expoentes críticos, que obtem, por exemplo, β = 1 2 para qualquer modelo e dimensão espacial. Baseados em argumentos de estabilidade dos potenciais termodinâmicos, vários autores obtiveram relações de desigualdades entre os expoentes críticos, tais como α0 + 2β + γ 0 ≥ 2 α0 + β (1 + δ) ≥ 2 (Rushbrooke, 1963) (1.44) (Griffiths, 1965) (1.45) dν 0 ≥ 2 − α0 (Josephson, 1967) (2 − η) ν 0 ≥ γ 0 (Fisher, 1969) (1.46) (1.47) A solução exata do modelo de Ising em rede quadrada a campo nulo por Onsager, em 1944, representa o início da época moderna do estudo de transição de fase e fenômenos críticos. Com o conhecimento prévio desta solução exata, Widom[36] e Domb e Hunter[37], em 1965, observaram que quando os parâmetros que caracterizam distâncias ao ponto crítico (t e h) variam, as funções termodinâmicas preservam a dependência funcional, mudando apenas em escala. Desta forma, o comportamento crítico de um sistema é ditado pela parte singular das funções termodinâmicas, a qual pode ser escrita, convenientemente, apenas em termos dos parâmetros que traduzem as distâncias ao ponto crítico. Widom, Domb e Hunter assumiram que a parte singular da energia livre é uma função homogênea generalizada, definida por ¢ ¡ Gsing λa t, λb h = λGsing (t, h) , (1.48) onde os dois parâmetros (a, b) definem o grau de homogeneidade de Gsing , fazendo com que a Eq.(1.48) valha para qualquer valor de λ13 . Usando a Eq.(1.48), obtem-se, com o uso das definições das grandezas termodinâmicas, igualdades, e não desigualdades entre os expoentes críticos e, além do mais, identidade entre os expoentes acima e abaixo da transição (α0 = α, γ 0 = γ, ν 0 = ν). A seguir estão as igualdades entre os expoentes críticos conhecidos na literatura para sistemas com transição de fase de segunda ordem 13 A extensão da hipótese de escala para tratar sistemas com transição de fase de primeira ordem, ou melhor, perto da tricriticalidade (ponto que separa uma linha crítica de primeira de uma de segunda ordem), é necessário a utilização de um parâmetro externo competitivo, que faz com que o sistema apresente instabilidade. Seja g este parâmetro externo, então a energia livre torna-se: ´ ³ Gsin g λa t, λb h, λc g = λGsin g (t, h, g) , que nas vizinhanças do ponto tricrítico esta obedece a seguinte relação de escala: µ ¶ h g 2−α G (t, h, g) = t F , , t∆ tφ onde os ¡expoentes ¢ α, ∆ e φ caracterizam o comportamento tricrítico. Para campo nulo (h = 0), a função F (0, x) x = tgφ deve ter singularidades pelo menos em dois valores de x, correspondentes às linhas de 1a e 2a ordem. Assim, as duas linhas devem ser escritas assintoticamente pela expressão g∼ = tφ , sendo que φ o expoente de cruzamento (crossover) deve ser maior que 1 a fim de que haja tangencialmente do ponto tricrítico. Observa-se que para obtenção dos expoentes tricríticos são necessários três expoentes independentes. α + 2β + γ = 2 α + β (1 + δ) = 2 dν = 2 − α γ = (2 − η) ν = β (δ − 1) onde d é a dimensão espacial. Os expoentes críticos {α, β, γ, δ, ν, η} dependem fortemente da dimensionalidade da rede (d) e da dimensão do parâmetro de ordem (n) para sistemas de interação de curto alcance. Por exemplo, para o modelo de Ising em duas dimensões (n = 1, d = 2) temos a presença de uma transição de fase em kbJTc = 2.269... com os seguintes expoentes © ª críticos exatos: α = 0(log), β = 18 , γ = 74 , δ = 15, ν = 1, η = 1/4 , enquanto o modelo de Heisenberg isotrópico (n = 3) em duas dimensões (d = 2) não apresenta transição de fase (Tc = 0) segundo o teorema de Mermin-Wagner[30]. Por outro lado, o modelo XY 2d (n = 2, d = 2) não apresenta ordem de longo-alcance convencional, mas apresenta uma ordem topológica associada aos vórtices formados pelos spins que é destruída numa dada temperatura característica TKT onde o comprimento de correlação diverge exponencialmente[34]. Essa dependência dos expoentes críticos com os valores de n e d é o que define a classe de universalidade. Na Tabela (1.1) [38] temos apresentado os valores dos expoentes críticos para os modelos Ising (n = 1), XY (n = 2) e Heisenberg (n = 3) numa rede cúbica simples (d = 3). Observe que esses expoentes não depende da topologia da rede, apenas dependem da dimensão espacial, assim sendo, uma rede cúbica simples e corpo centrado têm os mesmos expoentes críticos Outra característica marcante dessa classe (ou hipótese) de universalidade é a independência dos expoentes críticos com o valor do spin (S), assim o modelo de Heisenberg quântico de spin 1 2 3d tem os mesmos expoentes do seu equivalente clássico (S = ∞)[39, 40] bem como seu equivalente quântico antiferromagnético numa rede 3d não Tabela I.1: Valores dos expoentes críticos para os Heisenberg (n=3) em três dimensões e seus valores Expoente Clássico Ising α 0 (disc.) 0.10 (div.) β 0.50 0.33 γ 1.00 1.24 δ 3.00 4.8 ν 0.50 0.63 η 0.00 0.04 modelos de Ising (n=1), XY (n=2), clássicos. XY Heisenberg 0.01 −0.12 0.34 0.36 1.30 1.39 4.80 4.80 0.66 0.71 0.04 0.04 frustrada[41, 42]. Analisando os valores dos expoentes δ e η, observamos que esses são independentes da simetria do Hamiltoniano (valor de n) em concordância com resultados de grupo de renormalização[43]. Existem, porém, alguns modelos que violam a hipótese de universalidade. O primeiro modelo exatamente solúvel por Baxter[44, 45] é o de oito vértices, que apresenta uma linha crítica no diagrama de fase com os parâmetros do Hamiltoniano onde os expoentes críticos variam continuamente. Este modelo é uma generalização para a descrição de cristais com ligação de hidrogênio. Seja µ o parâmetro presente no modelo de oito vértices, então Baxter tem mostrado que os expoentes críticos apresentam os seguintes valores: α = 2 − πµ , β = π , 16µ ν = π , 2µ δ = 15, η = 14 . Suzuki[46] propôs uma pequena hipótese de universalidade, no qual definiu os expoentes críticos em termos do inverso do expoente crítico do comprimento de correlação ( ν1 ). Desta forma os expoentes críticos © ª β γ 1 7 = 2, β = = e γ = = reduzidos α ≡ 2−α são independentes do parâmetro µ. ν ν 8 ν 4 Outro modelo que viola a hipótese de universalidade é o Ising numa rede quadrada 0 com interações de primeiros (J) e segundos (J ) vizinhos. Os primeiros estudos indicam ¯ 0 ¯ na região ¯J /J ¯ < 12 uma variação contínua dos expoentes críticos com o parâmetro 0 α = J /J[47]. Um resultado interessante na análise da classe de universalidade é a investigação do expoente crítico β como uma função do tamanho ` dos filmes finos[48]. Na Fig.(1.8) temos apresentado a dependência de β como uma função do tamanho d(monocamadas) = `a (a ' 1 Å) do filme formado por camadas de níquel (Ni). Figura 1.8: Expoente crítico β como função do tamanho do filme de Ni. As linhas tracejadas correspondem os valores teóricos (ver Tabela 1.1) dos expoentes para os modelos Ising e Heisenberg tridimensional. A área hachurada indica o crossover de dimensionalidade (2D → 3D). Vemos que para d entre 2 e 4 ml (monocamadas), a classe de universalidade Ising 2D, e à medida que aumentamos a espessura do filme temos uma região de mudança de classe de universalidade (crossover) que para 10 < d < 16 ml teremos expoente β(Ising 3d), e finalmente para d > 20 ml (bulk) estabilizamos na classe de universalidade Heisenberg 3d. A partir da hipótese de escala, Eq.(1.48) , também é possível obter a equação de estado magnética em função de variáveis apropriadas (campo magnético e magnetização escalados), descrevendo um comportamento universal para magnetos uniaxiais, como a lei dos estados correspondentes para os fluidos. Este comportamento universal é comprovado teoricamente por simulação numérica e experimentalmente. A partir da Eq.(1.48) pode-se mostrar, por exemplo, que a magnetização apresenta a seguinte lei de escala M µ h t∆ ¶ = m (t, h) , tβ (1.49) onde ∆ = βδ. A Eq.(1.49) representa uma universalidade de curvas, isto é, traçando um gráfico de m (t, h) /tβ versus x = h/t∆ teremos duas curvas universais, uma para T < Tc e outra para T > Tc . Salientamos que, para uma substância caracterizada pelos expoentes − + β e ∆ temos duas curvas universais para T ' Tc e T ' Tc , não significa que para qualquer substância analisada temos uma universalidade e sim para aquelas que têm os mesmos expoentes críticos. De fato, os estudos experimentais confirmam esta previsão da teoria de escala de uma maneira convincente. 1.6 Motivação desta Dissertação A corrida por fontes cada vez mais seguras de reter um volume cada vez maior de informações permitiu o desenvolvimento de técnicas com precisão e controle sem precedentes na formação dos blocos fundamentais da matéria. Isso atuando em escalas nanométricas (bilionésimos de metro), escala caracterísitca de átomos e moléculas. Essas estruturas formam-se através de auto-organização de átomos e moléculas depositados sobre uma superfície (substrato). Dentre os inúmeros processos de crescimento de estruturas atômicas[49], Fig.(1.9) temos a evaporação em ultra-alto vácuo e deposição por magnetron sputtering. Na evaporação em ultra-alto vácuo, o material é depositado em uma superfície (substrato) a uma baixa taxa de deposição, geralmente menor do que uma camada de átomos por segundo. Isso resulta em um filme controlado camada a camada. Devido ao ultra-alto vácuo dentro da câmara de deposição, é possível usar técnicas sofisticadas de caracterização, do tipo LEEDS e Auger, que envolvem a detecção de elétrons. Técnicas mais avançadas permitem estudar a topologia da superfície de filmes ou fazer manipulações em nível atômico. O magnetron sputtering é uma técnica de deposição de materiais com taxas de deposição da ordem de 0,1 nanômetro por segundo. A técnica arranca átomos de um material que se quer depositar sobre um substrato (alvo). Isso é feito através da for- Figura 1.9: Imagem obtida através da técnica HRTEM (High-Resolution Transmission Electron Microscopy) mostrando nitidamente camada por camada de um filme fino magnético. mação de um de ‘gás’ do elemento argônio a altíssimas temperaturas na verdade, não se trata de um gás, mas sim de um estado da matéria, denominado plasma, em que as partículas, devido à elevada temperatura, estão dissociadas. Todo esse processo ocorre em uma câmara de ultra vácuo. Apesar de permitir um bom controle da taxa de deposição, a presença dos gases de ‘sputtering’ exclui a possibilidade de se analisarem as estruturas dentro da câmara onde acontece o crescimento do filme. A composição dos filmes finos principalmente, na forma de multicamadas é caracterizada através de vários métodos de análise, entre elas difração por raios X, magnetorresistência, magnetização, espectroscopia Mössbauer e ressonância ferromagnética. De acordo com a expessura da estrutura formada, temos classificação dada pela Fig.(1.10) Figura 1.10: Classificação de estruturas formadas a partir de um determinado substrato levando em conta seu tamanho. Dessas estruturas, temos nos filmes finos importantes características que lhe dão importância relevante no desenvolvimento de modernas tecnologias que são sua relativa facilidade de formação, efeitos de tamanho finito e principalmente controle sobre suas propriedades térmicas, mecânicas e químicas o que faz com que seja utilizado nas mais diversas aplicações como isolante, películas ópticas reflectivas e supercondutores. Dentre os vários dispositivos para aplicação, estão os direcionados à gravação magnética em computadores. Nesse tipo de gravação, por exemplo, as informações são ‘escritas’ por uma cabeça de gravação magnética e ‘lidas’ por um dispositivo de leitura magnético no disco rígido conforme mostrado na Fig.(1.11), este também constituído por materiais magnéticos e para o qual se pesquisa o aumento da capacidade de armazenamento de informação em um espaço cada vez menor. Esse tipo de armazenamento ocorre devido principalmente à característica de materiais ferromagnéticos em reter parte do campo aplicado. No entanto o fenômeno do magnetismo varia de acordo com o tamanho e as características do sistema. Materiais magnéticos de tamanho normal (como um clipe de papel, ou a porta da geladeira) na maioria das vezes não ficam magnetizados de modo espontâneo, porque a configuração dos momentos magnéticos procura ficar em um estado de mínima energia potencial. Assim, a magnetização do material divide-se em diversas regiões, os domínios magnéticos. Dentro de cada domínio os momentos apontam na mesma direção, mas de um domínio para outro os alinhamentos têm orientação diferente, o que desmagnetiza o material na escala macroscópica. Em materiais cada vez menores, porém, Figura 1.11: Retenção do campo aplicado a um filme magnético através do fenômeno da histerese. existe um tamanho crítico abaixo do qual a divisão em domínios deixa de ser conveniente do ponto de vista energético, e então ocorre a magnetização espontânea. O tamanho crítico para que um sistema alcance esse estado é em geral muito pequeno, da ordem de algumas dezenas de nanômetros. Quando isso ocorre, o sistema é conhecido como monodomínio. Como todos os átomos apresentam um só momento magnético teremos o chamado supermomento ou momento magnético gigante, efeito este denominado por Neèl de superparamagnetismo A caracterização desse momento, a forma com que ele muda sua configuração, auxilia na escolha de elementos que apresentem maior estabilidade, característica importante para leitoras e gravadoras magnéticas. 1.7 Apresentação do Trabalho Os efeitos magnéticos existentes em sistemas semi-infinitos, onde efeitos de superfície são considerados, tem sido estudado na literatura tanto do ponto de vista teórico quanto experimental[50]-[51]. O desenvolvimento de tecnologias para o crescimento de materiais a partir de um substrato básico, filme fino, contribuiu para o entendimento do comportamento dessas estruturas na medida que o controle na formação das camadas permitiu o conhecimento do tipo de interação atômica presente. Assim, modelos teóricos capazes de simular o comportamento do filme e prever novos e interessantes fenômenos foram desenvolvidos apresentando condições de contorno adequadas para simular o efeito da superfície no regime crítico (próximo à temperatura crítica). Sabe-se que a criticalidade desses sistemas apresenta certas dificuldades operacionais pelo fato de que, além do efeito geométrico da perda de vizinhos, as interações microscópicas próximo à superfície podem assumir valores bem diferentes daquelas no interior do filme (bulk) tendo por consequência um ordenamento magnético diferenciado para a superfície (2d) e o bulk (3d). Sabe-se teoricamente que tal comportamento é verifado considerando um modelo tri-dimensional semi-infinito com o bulk interagindo com acoplamento Jb e a superfície com Js . No capítulo 2 desenvolvemos a teoria de campo efetivo aplicada em sistemas simples como o modelo de Ising unidimensional sem campo e o método variacional, que é um método tipo campo médio, em aglomerado de dois spins, aplicado no modelo de Ising e Heisenberg, neste último particularizando nas formas quântica e clássica (conhecido na literatura por modelo O(n)). Em seguida, aplicamos o formalismo do método variacional na aproximação de cluster de dois spins em filmes finos compostos por materiais ferromagnéticos com exchange Js e Jb e assim obter tanto o comportamento crítico do sistema com as fases BF e SF14 e suas propriedades térmicas e magnéticas (energia interna, calor específico, magnetização e susceptibilidade). Variamos parâmetros como número de camadas (`), estrutura da rede cristalina (zo e z1 ), modelo de interação: Ising, XY e Heisenberg isotrópico e introduzimos 14 O estudo de sistemas de baixa dimensionalidade tem mostrado[52]-[53] um comportamento diferenciado com relação ao ordenamento dos momentos magnéticos presentes na superfície e no bulk. Para a região abaixo do parâmetro crítico ∆c temos a fase bulk (BF) caracterizada por apresentar uma temperatura crítica para a superfície menor do que a encontrada para o bulk, ou seja, Tcb > Tcs e para a região acima de ∆c temos a fase de superfície onde Tcb > Tcs . na análise o parâmetro ∆ = Js /Jb − 1 que indica a forma de interação da superfície com o bulk. Estendemos nossa análise no capítulo seguinte a uma estrutura de super-rede magnética formada por dois materiais A e B alternados em monocamadas, com exchange JA e JB para camadas no interior e JAS e JBS para monocamadas localizadas na superfície. Escolhemos configurações adequadas de exchange verificar a influência do material no comportamento do sistema. Referências [1] Rafael Lópes Valverde, História del Electromagnetismom (comunicação privada) [2] Rafael Monteiro Fernandes e Sergio d’Almeida Sanchez, O Magnetismo Animal e seus Aspectos ao longo do Desenvolvimento da Biologia e do Magnetismo (comunicação privada) [3] H. C. Oersted, Ann. Chim.Phys. 14, 417 (1820). [4] A. Ampère, Ann. Chim. Phys. 15, 59 (1820); Ann. Chim. Phys. 15, 170 (1820). [5] F. Garozzo, in Michael Faraday (Editora Três, 1975). [6] P. Curie, Ann. Chim. Phys. 5, 289 (1985). [7] W. Voigt, G. Nach, Ann. der Phys. 9, 115 (1902). [8] J. J. Thomson, Phil. Mag. 6, 673 (1903). [9] P. Langevin, J. Phys. 4, 678(1905); Ann. Chim. 5, 70 (1905). [10] P. J. Ranke, A. Caldas e L. Palermo, Rev. Bras. Ens. Fís. 16, 60 (1994). [11] P. Weiss, J. de Phys. 6, 661 (1907). [12] W. Heisenberg, Z. Phys. 49, 619 (1928). [13] P. S. Allen, Contenp. Phys. 17, 387 (1976). 64 [14] K. 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O formalismo adotado no desenvolvimento dos modelos advém dos princípios da mecânica estatística que estabelece o elo entre o efeito, macroscopiamente medido, e a causa, oriunda da modificação dos estados energéticos das partículas constituintes do sistema. Essa modificação deve-se principalmente à influência da temperatura o que provoca alteração significativa no comportamento de algumas grandezas físicas principalmente no regime de baixas temperaturas, onde efeitos quânticos são relevantes. O tratamento teórico adotado passa inicialmente pelo conhecimento de uma função que na literatura é chamada de função de partição Z e é definida por 68 © ª Z =T r e−βH , onde T r representa o funcional traço, β = 1 kB T (2.1) ( kB é a constante de Boltzmann e T a temperatura absoluta) e H o Hamiltoniano que descreve o sistema físico em estudo. Utilizaremos neste trabalho o modelo de Heisenberg anisotrópico descrito pelo seguinte Hamiltoniano H = −J X¡ ¢ η x Six Sjx + η y Siy Sjy + Siz Sjz , (2.2) hiji onde η x e η y são os parâmetros de anisotropia de exchange das componentes x e y, respectivamente, J é o parâmetro de exchange (J > 0 e J < 0 corresponde aos casos ferromagnético e antiferromagnético, respectivamente), Siν (ν = x, y, z) é a componente ν = x, y, z do operador de spin de Pauli e hiji denota a soma entre primeiros vizinhos. Hamiltoniano (3.2) reduz-se a alguns casos particulares dependendo dos valores de η x e η y , que são: Ising (η x = η y = 0), XY (η x = 0 ou η y = 0) e Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). Portanto, tratar este Hamiltoniano (3.2) anisotrópico podemos estudar particularmente cada modelo (Ising, XY e Heisenberg isotrópico) mencionado. Na Mecânica Quântica, H é um operador representado por uma matriz de ordem 2N (N é o número de partículas) diagonalizada por meio de uma transformação unitária, ou seja, à = UAU −1 , onde à é a matriz diagonalizada de A, U é a matriz unitária formada pelos autovetores de A e U −1 a inversa de U. Resolvendo o funcional traço na Eq.(3.1) com o Hamiltoniano já diagonalizado, obtemos a seguinte expressão Z= n X e−βλi , (2.3) i=1 onde {λi } são os autovalores da matriz H e n = 2N . Na mecânica estatística clássica, a função de partição é escrita através de uma integral no espaço de fase, pois considera-se que as variáveis de H possam assumir valores contínuos diferentemente do caso quântico, onde as variáveis assumem somente valores discretos. No caso do modelo de Heisenberg clássico, suas variáveis de spin serão vetores com comprimentos fixos orientados em todas as direções sem regras de comutação estabelecidas. Desta forma, a função de partição é obtida através da integral Z= Z dΩe−βH , (2.4) onde dΩ = dS 1 .dS 2 ...dS N e S i = (Si1 , Si2 , ..., Sin ) é um vetor de spin com n componentes. A partir do conhecimento da função de partição podemos obter todas as propriedades térmicas e magnéticas do modelo considerado, uma vez que ela nos permite conhecer a energia livre associada dada por 1 F = − ln Z. β (2.5) O estudo do modelo quântico apresenta sérias dificuldades na descrição de sistemas reais. Primeiro devido à interação de muitos corpos, o que adiciona ao Hamiltoniano um termo que impossibilita sua resolução de forma exata, na medida que o número de partículas constituintes do sistema agora é da ordem do número de Avogadro (N ' 1024 ). Segundo, as regras de comutação entre os operadores do Hamiltoniano torna esta análise mais complexa do que sistemas clássicos. A condição do limite termodinâmico N → ∞ garante-nos não só uma baixa flutuação térmica no cálculo da média de nossas grandezas 1 (∼ N − 2 ), como também a observação de transições de fase em sistemas de partículas interagentes1 . Devido o somatório na Eq.(3.3) ser realizado em um número de partículas muito grande, poucos modelos apresentam solução exata (por exemplo o modelo de Ising uni e bidimensional sem campo), motivo este que levou ao desenvolvimento de técnicas aproximativas que tem por objetivo reproduzir qualitativamente os resultados primeiros. Dentre esses métodos destacamos aqui, e desenvolveremos no capítulo seguinte, a aprox1 O Teorema de Yang-Lee ([1],[2]) tem dito que a condição para existência de transição de fase acontece no limite termodinâmico. Essa condição é necessária, mas não suficiente. Sistemas unidimensionais com interações de curto alcance não apresentam ordem de longo alcance (Tc = 0). imação de campo médio, um dos mais sucedidos com sua matemática pouco rebuscada fornecendo excelente comportamento qualitativo, mas com algumas restrições em sua utilização. Substâncias ferromagnéticas apresentam transição de fase para um certo valor crítico de temperatura denominada temperatura de Curie Tc . O sistema passa para a fase paramagnética desordenada em Tc devido a quebra no emparelhamento dos spins da rede anulando a magnetização espontânea do sistema. Temos então que o valor médio da magnetização por spin m = 1 N hSiz i é um bom parâmetro de ordem do sistema (ordem de longo alcance). Em sistemas reais, o cálculo de m requer a utilização de um Hamiltoniano com múltiplas interações aplicado em um número N de partículas da ordem do número de Avogadro (N ' 1024 ). Da mecânica estatística sabemos que a função de partição, Eq.(3.1), repre- senta matematicamente uma soma sobre (2S + 1)N configurações de spin (para S = 1 2 teremos 2N configurações) tornando a solução exata impossível de ser obtida, exceção feita para alguns modelos unidimensionais onde o uso da técnica da matriz transferência mostrou-se eficaz; entretanto, se o modelo for bidimensional, os cálculos tornam-se complexos, uma vez que condições de contorno periódicas em duas direções tornam a matriz a ser diagonalizada de ordem muito elevada. Em 1931 o físico norte-americano Hans Bethe[3] determinou a função de onda de estados com um número arbitrário de spins opostos através do cálculo das auto-funções do estado ferromagnético no modelo de Heisenberg, tornando-se a primeira solução exata de um sistema quântico de muitos corpos interagentes. O modelo de Heisenberg explicou satisfatoriamente o ferromagnetismo e por isso foi intensamente estudado nos anos seguintes à sua descoberta, no entanto, em 1936 Peierls[4] lança seu artigo “Sobre o Modelo de Ising do Ferromagnetismo” no qual sustentava, através de argumentos fenomenológicos, que contrariamente ao caso unidimensional, em duas e três dimensões o modelo de Ising deveria exibir uma magnetização espontânea em baixas temperaturas. Fazendo isto, Peierls ressuscita o estudo desse modelo para sistemas magnéticos. Cinco anos depois os físicos holandeses Hendrik Anthony Kramers e Gregory Hugh Wanier[5] conseguem determinar exatamente a temperatura de transição Tc no modelo de Ising em uma rede quadrada e relacionam a função de partição em altas e baixas temperaturas. Em 1944, usando método combinatório, Onsager [6], obteve a função de partição de forma exata para o modelo de Ising 1 2 bidimensional a campo nulo. Chegando a um resultado exato para um modelo interagente bidimensional, a solução de Onsager tornou-se um marco importante no desenvolvimento das modernas teorias de fenômenos críticos o que favoreceu o surgimento de métodos aproximativos com a finalidade de reproduzir estes resultados e estendê-los a sistemas mais complexos. A seguir destacamos alguns dos métodos mais utilizados : a) Aproximação de aglomerados, que são métodos tipo campo médio onde um determinado aglomerado é tratado de forma exata e as interações com os vizinhos sofrem aproximações. Os métodos de Bragg e Williams (1934), Bethe (1935), Guggenhein (1935) e Kikuchi (1951) são exemplos e eles têm a vantagem de possuirem solução simples sem muitos esforços matemáticos. b) Método das equações integrais, o qual fornece bons resultados numéricos para sistemas de fluidos simples ( Kirkwood, em 1935 e van Leeuwen e colaboradores, em 1959). c) Simulações numéricas usando a técnica de Monte Carlo, onde se tem em geral um número grande de átomos do ponto de vista microscópico mas muito pequeno macroscopicamente[7]. d) Expansão em série de uma variável adequada ao sistema. No caso do modelo de Ising é usual uma expansão em potências da temperatura e seus resultados são um guia para os resultados de outros métodos. e) Grupo de Renormalização, o qual usa a técnica de realizar a soma através de estágios sucessivos de renormalização do Hamiltoniano original. Apesar de ser considerado um resultado “exato”, só se tem obtidos resultados exatamente para alguns modelos simples. Dentre os vários métodos aproximativos, vamos tratar nas seções posteriores as aproximações de Curie-Weiss[8], Bragg-Williams[9], Bethe-Peierls[4], desigualdade de Bogoliubov[10, 11] aplicados ao modelo de Ising2 . 2.2 Teoria do Campo Molecular de Weiss A história do magnetismo teve um de seus grandes momentos quando Langevin chegou às equações que descreviam o paramagnetismo utilizando um modelo que considerava os momentos magnéticos localizados e não-interagentes em uma rede cristalina. No entanto sua teoria falha para o ferromagnetismo pois esta prevê ausência de ordem de longo alcance para temperaturas abaixo de Tc . Pierre Weiss [8], na tentativa de explicar o ferromagnetismo, postulou que os efeitos de interação provocados pelos vizinhos a um sítio da rede, podem ser descritos por um fictício “campo molecular” proporcional à média da magnetização por sítio m= 1 X hSj i , N j (2.6) e introduziu um termo nas equações de Langevin que refletiam esta idéia. Aplicaremos a idéia do campo molecular de Weiss no Hamiltoniano de Ising com campo H = −J 2 X hi,ji Si .Sj − H X Si , (2.7) i Trata-se do primeiro modelo para sistemas magnéticos que leva em conta as interações entre spins e de onde se conseguiram os primeiros resultados. onde H é o campo externo aplicado, J a interação de exchange e Si a variável de spin que pode assumir os valores ±1. O primeiro somatório abrange as interações entre pares de primeiros vizinhos hi, ji numa rede cristalina. O campo local atuante no spin localizado no sítio i vale Hi = J X Sj + H, (2.8) j que depende da configuração dos primeiros vizinhos. Para o caso em que um determinado sítio apresente muitos vizinhos, podemos supor que todas as interações de spins, provocados pelos z vizinhos, podem ser substituídas por um termo que representa a média dessas interações, ou seja J X j Sj ' J X j hSj i = zJm, (2.9) onde hSj i = m (magnetização por spin) para todo j. Observa-se que nessa aproximação ignoramos os desvios existentes no cálculo da média de Sj pois assumimos que o campo no sítio i independe da orientação do spin local. Esta suposição é claramente uma aproximação, porque se Si é para cima, então seus spins vizinhos estão mais provavelmente orientados para cima. Isto faz com que a função de correlação seja ignorada. A partir da Eq.(3.5), observa-se que o campo médio atuante em cada sítio, HMF , será HMF = zJm + H, (2.10) note que HMF independe do sítio considerado, pois considera-se que a rede apresente uma periodicidade em sua estrututra, e substitui Hi nas interações locais. Nessa aproximação de campo médio, o Hamiltoniano original dado pela Eq.(3.4) é substituído por um Hamiltoniano de campo médio HMF e é dado por HMF = −HMF N X i=1 Si . (2.11) Para o caso particular de spin 12 , a função de partição para a Eq.(3.8) vale Z = [2 cosh(βHMF )]N . (2.12) A magnetização por spin correspondente pode ser expresso como função de Z por m= 1 ∂ ln Z , N ∂(βHMF ) e usando o resultado 3.9 obtemos m = tanh(βHMF ), (2.13) que deu à teoria de Weiss uma importância significativa pois conseguiu explicar o ferromagnetismo (m 6= 0 para T < Tc e H = 0) com a magnetização espontânea apresentando o seguinte resultado m = tanh(βzJm). (2.14) sendo seu comportamento dado pela Fig.(2.1) , resultado qualitativamente igual ao encontrado por Curie em seus experimentos. A teoria do campo molecular falha em alguns pontos quando comparada aos resultados exatos. Para o modelo de Ising unidimensional (z = 2), a Eq.(3.10) prevê a existência de magnetização espontânea para T < Tc = 2J/kB , em contradição com o resultado exato que mostra Tc = 0 (ausência de ordem de longo alcance em Tc > 0), além de que para uma rede quadrada obtemos tc = kB Tc /J = 4 que difere bastante do resultado exato de Onsager, igual a 2.269.... Os resultados de campo médio para os expoentes críticos não são bons para sistemas de baixa dimensionalidade ou quando o número de primeiros vizinhos é pequeno, além do que prevê uma universalidade desses expoentes que não é verificado experimentalmente como por exemplo da Eq.(3.10) mostramos que próximo da criticalidade T ' Tc a magnetização Figura 2.1: Dependência da magnetiza ção em função da temperatura na aproximação de campo médio para um sistema ferromagnético espontânea vai a zero continuamente com o expoente crítico β = 1/2 para qualquer valor de z. Outro fato não explicado na época é quanto a origem microscópica do parâmetro λ, que fora utilizado por Weiss nas equações de Langevin para representar as interações de um determinado sítio com seus vizinhos. Inicialmente, pensava-se que a origem microscópica atribuída a λ era do tipo energia dipolar (i.e., λ ' o µ2B , a3 onde a é o parâmetro de rede ' 1 A). No entanto, esta hipótese leva a um valor para a temperatura crítica da ordem de Tc ' 10−1 K que é muito menor do que o observado experimentalmente para a maioria dos compostos ferromagnéticos (em torno 103 K). Portanto, apesar da teoria de Curie-Weiss ser capaz de explicar qualitativamente o ferromagnetismo, esta não descreve à nível microscópico o magnetismo da matéria. Isto só foi resolvido com o surgimento da mecânica quântica que associado com o princípio de exclusão de Pauli explicou satisfatoriamente a origem de λ (no modelo de Ising observa-se que λ = zJ) como sendo de origem eletrostática e está relacionada à energia de troca entre os íons, assim os altos valores de Tc obtidos. Apesar desses resultados, MF mostrou-se eficaz quando aplicada sob certas condições. Suas predições tornan-se corretas para sistemas que apresentem dimensionalidade alta ou quando o número de primeiros vizinhos z → ∞, nesses casos um sítio da rede percebe a contribuição dos muitos vizinhos fazendo com que as flutuações não sejam relevantes no cálculo da média das grandezas. Na aproximação realizada na Eq.(3.5), o íon do sítio i interage (em média) com a mesma magnitude com todos os sítios da rede cristalina. Isto faz com que interações de longo-alcance apareçam no sistema induzindo assim ordem de longo-alcance, pois sempre existirá para T < Tc um íon i interagindo com outro situado a uma grande distância. Isto pode ser entendido se reescrevermos o Hamiltoniano de Ising, Eq.(3.4), na forma de interação de longo alcance H=− J X Si Sj , N (2.15) hi,ji que é conhecido na literatura como modelo de interação de longo-alcance, e apresenta solução exata tendo como resultado para a magnetização idêntica a obtida por campo médio usual fazendo o limite z → ∞3 . No Hamiltoniano de Ising (3.4) aproximado pela Eq.(3.11), aglomerado de únicos íons livres foram utilizados. Se utilizarmos aproximação de aglomerados de pares livres, denotada na literatura de aproximação de Oguchi (ver Ref.[13] para revisão de teoria de campo efetivo), o Hamiltoniano para um par de íons é escrito por H2 = −JS1 S2 − J (z − 1) (S1 + S2 ) . Calculando a magnetização por spin m = (2.16) ® (S + S ) , a temperatura crítica (m → 0) 1 2 2 1 para a rede quadrada é kB Tc /J = 3.893. Uma análise de finite size scaling na aproximação de campo médio foi feita no modelo (3.4) por Suzuki e Katori[14] para vários tamanhos de aglomerados e obtiveram kB Tc (N) /J. Nos casos de aglomerados com N = 9, 21, 45 e 87 spins, Suzuki e Katori encontraram, respectivamente kB Tc /J = 3.125, 2.915, 2.748 e 2.679 para o modelo de Ising numa rede quadrada4 , mostrando uma 3 4 Para o leitor interessado em maiores detalhes, recomendo a Ref.[12], pag. 171. O leitor interessado na forma topológica dos aglomerados finitos para uma rede quadrada usados por pequena convergência em direção ao resultado exato kB Tc /J = 2.2629..., mas certamente o tempo computacional é a maior dificuldade nesta análise de finite size scaling. 2.3 Aproximação de Bragg-Williams Trata-se de uma aproximação de campo efetivo mais sofisticada do que a Teoria Molecular de Weiss utilizada no modelo de Ising de spin 1 2 para explicar o ferromagnetismo. O sistema agora é composto de duas sub-redes, uma com N+ spin para cima e outra com N− spin para baixo. Através de um processo de minimização da energia livre obtem-se o parâmetro de ordem do sistema. Neste caso temos presente duas sub-redes com spins para cima e spins para baixo. A diferença entre eles será proporcional à magnetização m, ou seja N+ − N− = Nm, (2.17) onde N+ (N− ) é o número de spins para cima ( baixo) e N é o número total de partículas relacionado com N+ e N− por N+ + N− = N. (2.18) A partir das Eqs.(3.13) e (3.14) podemos tirar os valores de N+ e N− em função de N e m, ou seja N+ = N (1 + m) 2 (2.19) N− = N (1 − m) . 2 (2.20) e Suzuki e Katori[14], para calcular kB Tc /J no modelo de Ising-1/2, recomendo ver a figura 9 do trabalho do Mansuo Suzuki[15] para ilustrações. A entropia total associada ao sistema é expressa por N! , N+ !N− ! S = kB ln (2.21) Portanto, substituindo os resultados das Eqs.(4.12) e (2.20) na expressão da entropia (2.21), ficamos S = kB ln £ N 2 N! ¤ £N ¤. (1 + m) ! 2 (1 − m) ! (2.22) A energia interna é definida através do Hamiltoniano Ising por U = hHi = * −J X (ij) Si Sj − H X i Si + , (2.23) onde a soma pode ser feita levando-se em conta que o sistema possui simetria translacional, ficando então com a energia média dada por U = −J Nz hSi Sj i − HNm, 2 (2.24) onde Nz/2 é o número de ligações sobre a rede, z é o número de coordenação e m = hSi i . Por outro lado, de acordo com a transformada de Legendre, a energia livre magnética por spin, é definida por g (T, H, m) = 1 (U − T S) . N (2.25) Utilizando os resultados das Eqs.(2.22) e (3.26) na Eq.(3.28), obtemos g (T, H, m) = − kB T N! Jz ¤ £N ¤. hSi Sj i − Hm − ln £ N 2 N (1 + m) ! 2 (1 − m) ! 2 (2.26) Na Eq.(3.30) , o último termo é um tipo de aproximação de campo médio. Porém, a Eq.(3.30) não pode ser resolvida exatamente, uma vez que existe uma certa dificuldade em calcular as correlações de dois spins (hSi Sj i) em termos de T, H e m. Entretanto, na aproximação de Bragg-Williams[9], as flutuações nas funções de cor- relação de dois spins não são levadas em consideração (aproximação de ordem zero), ou seja, fazemos a seguinte aproximação hSi Sj i ' hSi i hSj i = m2 . (2.27) Portanto, substituindo na Eq.(3.30) o resultado aproximado (2.27) , e usando a expansão de Stirling5 para os fatoriais, a energia livre por spin de Bragg-William, no limite termodinâmico, é dada por gBW (T, H, m) = − Jz 2 ln 2 1 m − Hm − + [(1 + m) ln (1 + m) + (1 − m) ln (1 − m)] . 2 β 2β (2.28) Agora, fazendo o processo de minimização de gBW com respeito a m, temos µ ¶ ∂gBW 1 1+m = −Jzm − H + ln = 0, ∂m 2β 1−m (2.29) que após algumas manipulações algébricas, ficamos m = tanh [β (Jzm + H)] , (2.30) que é a mesma equação de estado de Curie-Weiss obtida anteriomente, Eq.(2.13). A partir da Eq.(2.30), identificamos facilmente o parâmetro fenomenológico λ, que foi introduzido por Weiss, como sendo λ = Jz. Vimos acima, que as teorias de Curie-Weiss e Bragg-Williams são equivalentes. Nessas aproximações (ordem zero), a temperatura crítica será dada por kB Tc /J = z, que nos dá resultado inconsistente para uma rede linear (z = 2) Tc 6= 0. 5 ln N ! ' N ln N − N, para N grande 2.4 Aproximação de Bethe-Peierls Nesta aproximação, ao contrário da aproximação de Bragg-Williams, leva-se em consideração as correlações de curto alcance. Isto significa que podemos recuperar alguns efeitos que escapam dos tratamentos usuais de campo médio. Na aproximação de BethePeierls[10], um certo aglomerado considerado contém um spin central S0 , sob a ação de um campo externo H, e z spins periféricos (ver Figura (2.2)), sob a ação de um campo efetivo HEF , que tem o papel de simular o efeito do restante da rede cristalina. A interação entre o spin central com os vizinhos é tratada exatamente, enquanto que a interação desses vizinhos com os outros spins da rede é considerada aproximada através do campo efetivo He . Figura 2.2: Aglomerado contendo um sítio central e quatro sítios periféricos. O Hamiltoniano de spin para o aglomerado é dado por: Ha = −JS0 z X i=1 Si − HS0 − HEF z X i=1 Si . (2.31) Portanto, a função canônica de partição para o aglomerado acima será Za = X {Si } e−βHa = X eβHS0 [2 cosh (2βJS0 + βHEF )] . (2.32) S0 A partir da expressão da função de partição, podemos calcular todas as propriedades termodinâmicas do sistema. A magnetização associada ao sítio central é definida por mo = 1 ∂ ln Za , β ∂H e a magnetização de um sítio na periferia, por mp = 1 ∂ ln Za . β ∂HEF Após algumas manipulações algébricas, as magnetizações mo e mp são dadas por £ ¤ mo = tanh βH + z tanh−1 (tanh βJ tanh βHEF ) , e mp = ¢ ¡ ¢ ¡ 1 − tanh2 βJ tanh βHEF + m0 1 − tanh2 βHEF tanh βJ 1 − (tanh βJ tanh βHEF )2 (2.33) . (2.34) A condição de autoconsistência, a partir da qual será possível eliminar o campo efetivo, é definida por m0 = mp = m, (2.35) que fornece a equação de estado na aproximação de Bethe-Peierls, m = m (T, H) . A campo nulo (H = 0), perto da temperatura crítica, m e HEF devem ser muito pequenos. Portanto, podemos expandir as Eqs.(2.33) e (2.34) , resultando em m0 = z (tanh βJ) tanh (βHEF ) + ... e mp = 1 βHEF + m tanh (βJ) + ... cosh (βJ) 2 A partir dessas expressões é fácil verificar usando a condição m0 = mp que a temperatura crítica na aproximação de Bethe-Peierls é dada por · µ ¶¸−1 kB Tc z . = 2 ln J z−2 Em uma dimensão, ou seja, para z = 2, não há transição de fases (Tc = 0) . Para z = 4 (correspondendo a uma rede quadrada), kB Tc /J = 2/ ln 2 = 2.885..., que é inferior à temperatura crítica prevista pela aproximação de Bragg-Williams, kB Tc /J = 4, mas ainda √ ¢ £ ¡ ¤ está acima do valor exato calculado por Onsager kB Tc /J = 2/ ln 1 + 2 = 2.269... . 2.5 Método Variacional O princípio variacional, baseado na desigualdade de Bogoliubov [10, 11], apóia-se em argumentos de convexidade. Esse tratamento, aplicado a um sistema descrito por um Hamiltoniano qualquer (quântico ou clássico), estabelece um limite superior para a função energia livre de Helmholtz. Para demonstrar essa afirmação, vamos considerar um Hamiltoniano H, que represente algum sistema termodinâmico, e vamos supor que possamos dividir esse Hamiltoniano em duas partes, ou seja H = H0 + λH1 , (2.36) onde H0 é um Hamiltoniano exatamente solúvel e λ é um parâmetro variacional. A energia livre de Helmholtz para H é dada por 1 1 F (H) = − ln T re−βH = − ln T re−β(H0 +λH1 ) , β β (2.37) Diferenciando a Eq.(2.37) com relação a λ, tem-se ¤ £ T r H1 e−β(H0 +λH1 ) ∂F = = hH1 i , ∂λ T re [−β(H0 +λH1 ) ] (2.38) e ∂2F 2® . 2 = −β (H1 − hH1 i) ∂λ (2.39) Com respeito a Eq.(2.39) podemos concluir que a energia livre de Helmholtz para o Hamiltoniano H é côncava com relação a λ. Baseado nesses fatos podemos supor um funcional Φ (λ) definido por Φ (λ) = F (λ = 0) + µ ¶¯ ∂F ¯¯ λ, ∂λ ¯λ=0 onde F (λ = 0) = F0 é a energia livre do Hamiltoniano solúvel H0 e µ ¶¯ ∂F ¯¯ = hH1 i0 , ∂λ ¯λ=0 onde h...i0 é uma média térmica feita no ensemble definido por H0 . Portanto, teremos Φ (λ) = F0 + λ hH1 i0 . (2.40) Podemos reescever a Eq.(2.40) utilizando o resultado da Eq.(2.36), ou seja Φ (λ) = F0 + hH − H0 i0 . (2.41) Vale ressaltar que essa expressão é apenas um limite superior para a energia livre do sistema. Portanto, devemos calcular Φ minimizando-o com relação a um parâmetro variacional já estabelecido, garantindo assim, que a aproximação obtida seja a melhor possível para uma dada escolha de H0 . Assim sendo, da Eq.(2.41) teremos F (H) ≤ Φ = F0 + hH − H0 i0 . (2.42) Para entedermos melhor a desigualdade de Bogoliubov, vamos fazer uma aplicação bastante simples ao tão conhecido modelo de Ising de spin H H = −J X hi,ji Si Sj − H X 1 2 na presença de um campo (2.43) Si . i Nossa escolha trivial para H0 é o Hamiltoniano de spins isolados não interagentes dado por H0 = − (H + λ) X (2.44) Si , i onde λ é o parâmetro variacional e Si = ±1. A energia livre para H0 é dada por F (H0 ) = − N ln {2 cosh [β (H + λ)]} . β (2.45) Das Eqs.(2.43) e (2.44), obtemos hH − H0 i0 = * −J X hi,ji Si Sj + λ X Si i + 0 = −J X hi,ji hSi Sj i0 + λ X i hSi i0 . (2.46) Sendo H0 constituído de partículas livres, a média hSi Sj i0 será hSi Sj i0 = hSi i0 hSj i0 , (2.47) e, para um sistema com invariância de translação, temos hSi i0 = hSj i0 = m, (2.48) onde m é o parâmetro de ordem. Desta forma, utilizando os resultados das Eqs.(2.47) e (2.48), a Eq.(2.46) será reescrita na forma hH − H0 i0 = − NzJ 2 m + λNm. 2 (2.49) Assim, o funcional Φ por número de sítios é dado por ϕ= 1 zJm2 Φ = − ln {2 cosh [β (H + λ)]} − + λm. N β 2 Minimizando ϕ com relação a λ, temos dϕ = 0 =⇒ − tanh [β (λ + H)] + m = 0, dλ ou seja, (2.50) m = tanh [β (λ + H)] . Agora, minimizando ϕ com relação a m, temos dϕ = 0 =⇒ λ − zJm = 0 dm ou seja, (2.51) λ = zJm. Substituindo a Eq.(2.51) na Eq.(2.50), obtemos (2.52) m = tanh [β (zJm + H)] . Podemos observar que os resultados obtidos para o modelo de Ising de spin 1 2 são os mesmos obtidos na aproximação de campo médio. Na verdade, o princípio variacional baseado na desigualdade de Bogoliubov é uma forma matematicamente “elegante” de se obter a aproximação de campo médio. Recentemente, esta desigualdade tem sido amplamente utilizada na descrição da transição de fase em sistemas tridimensionais, onde a aproximação é qualitativamente aceitável. Aproximações em cluster tornaram-se uma boa alternativa no estudo dos mais variados sistemas pois elimina a dificuldade de partículas interagentes. 2.6 Método Variacional em Sistemas Clássico e Quântico Nesta seção estendemos o formalismo do método variacional aplicando-o no modelo isotrópico de Heisenberg, descrito pela Eq.(2.53), nos limites clássico e quântico em uma rede cúbica simples (z = 6). O sistema considerado é um filme fino formado por ` camadas. No entanto, determinamos preliminarmente o comportamento da magnetização em seu interior (bulk) , o que faz com que desconsideremos quaisquer efeitos da superfície, ® ® ou seja, Szn−1 = hSzn i = Szn+1 ' m. Estudaremos o seguinte Hamiltoniano H=− X Jij Si .Sj , (2.53) hi,ji onde Jij > 0 corresponde a interação ferromagnética e Jij < 0 a interação antiferromagnética, hi, ji indica que o somatório é feito sobre todos os pares de primeiros vizinhos e S i representa a variável de spin (operador ou vetor) do sítio i. 2.6.1 Sistema Clássico Classicamente, podemos estudar um sistema clássico de spins interagentes através do modelo O(n) vetorial (ou D-dimensional) tratado inicialmnete po Stanley [16], onde as variáveis de spins são vetores com n componentes [Si = (Si1 , Si2 , .., Sin )] cujo comprimento vale n X |Si | = (Siα )2 = n, 2 α=1 no qual as interações são invariantes por simultâneas rotações desses vetores. O modelo O(n) reduz-se a casos particulares importantes que são: Ising (n = 1), XY ou planar (n = 2) e Heisenberg (n = 3). De acordo com a seção anterior, o método variacional tem como princípio a seguinte desigualdade: F (H) ≤ Φ = Fo + hH − Ho io , (2.54) onde F (H) é a energia livre associada ao Hamiltoniano não aproximado dado pela Eq.(2.53), Ho o Hamiltoniano tentativa (aproximado) do sistema, no caso, aplicado em um sistema composto de aglomerados de dois spins e Fo a energia livre associada ao Hamiltoniano tetantiva Ho . Para este sistema utilizamos o Hamiltoniano tentativa dado por B A A B B Hop = −JSA 1b .S2b − JS1b .h2b − JS1b .h2b . (2.55) Na Eq.(2.55) dividimos o sistema em duas subredes, A e B correspondendo respectivamente aos spins 1 e 2 do cluster. Dessa forma, os primeiros vizinhos da subrede A pertencem à subrede B e vice-versa. O índice b indica que nossas variáveis estão sendo calculadas no interior do material (bulk), o parâmetro hbν (ν = A, B) representa a interação entre os vizinhos e a componente do cluster pertencente à subrede ν sendo determinado através do processo de minimização de nosso funcional, Eq.(2.54). Aplicando aproximação axial, isto é, considerando que o sistema se ordene em uma direção preferencial (no caso a direção ẑ), ficaremos com o seguinte Hamiltoniano reduzido para o sistema Ho = −J sendo Ho = P p X p B SA 1b .S2b − J X p zA S1b .hA − J X zB S2b .hB , (2.56) p Hop , o índice p designa o par formado no cluster. A média h...io presente na Eq.(2.54), após introduzirmos os resultados encontrados em (2.56) e (2.53) fica À ¿ JN(z − 1) A B N N Az Bz hH − Ho io = − S1b .S2b + J hA S1b + J hB S2b . 2 2 2 0 (2.57) ® B Sendo Ho o Hamiltoniano de um sistema de partículas livres temos que SA 1b .S2b o = Az ® Bz ® B S1b . S2b = mA b .mb , ficando hH − Ho io = − N N B JN(z − 1) A B mb .mb + JhA mA m . b + JhB 2 2 2 b (2.58) onde z representa o número de coordenação da rede cristalina sendo igual a 6 para a rede cúbica simples. Procuramos agora determinar a energia livre Fo referente ao Hamiltoniano aproximado. Temos 1 Fo = − ln Zo , β (2.59) N sendo Zo = [Zop ] 2 . A função de partição é obtida através da relação Zo = T r12 {exp(−βHop )} . (2.60) Para o caso clássico, as variáveis de spin são vetores que podem assumir qualquer posição no espaço, assim o traço presente na Eq.(2.60) corresponde a uma integral no espaço de fase das variáveis de spin Zop = Z dSA dSB δ(n − |SA |2 )δ(n − |SB |2 ) exp(−βHop ). (2.61) Substituindo a Eq.(2.55) na Eq.(2.61) obtemos: Zop = Z B A B dSA dSB δ(n − |SA |2 )δ(n − |SB |2 ) exp(KSA b .Sb + KSb hA + KSb hB ), (2.62) onde K = βJ. A resolução desta integral torna-se possível quando aplicamos as seguintes relações (ansatz ) exp(KS A h ) = cosh(Kh ) + S A sinh(Kh ), A A b A b exp(KS B h ) = cosh(Kh ) + S B sinh(Kh ). b B B b (2.63) B Substituindo estas relações na Eq.(2.61), obtemos Z0 = B1 φ + B2 ψ + B3 ϕ + B4 ξ, (2.64) onde os coeficientes são dados por: B1 = cosh(KhA ) cosh(KhB ), B2 = cosh(KhA ) sinh(KhB ), B3 = cosh(KhB ) sinh(KhA ) e B4 = sinh(KhB ) sinh(KhA ) e as integrais (ver Apêndice A) φ = ψ = ϕ = ξ = Z Z Z Z B n dSA dSB δ(n − |SA |2 )δ(n − |SB |2 ) exp(KSA b .Sb ) = ΩI 2 −1 (nK), ¡ ¢ B dSA dSB δ(n − |SA |2 )δ(n − |SB |2 ) SbB exp(KSA b .Sb ) = 0, ¡ ¢ B dSA dSB δ(n − |SA |2 )δ(n − |SB |2 ) SbA exp(KSA b .Sb ) = 0, ¡ ¢ B n dSA dSB δ(n − |SA |2 )δ(n − |SB |2 ) SbA .SbB exp(KSA b .Sb ) = ΩI 2 (nK). A função de partição fica então £ ¤ Zop = Ω I n2 −1 (nK).B1 + I n2 (nK).B4 , (2.65) onde In (nK) é a função de Bessel modificada de segunda espécie e Ω está relacionado ao resultado da área da hiperesfera no limite de K → ∞. De posse dos resultados mostrados na Eqs.(2.62) e (2.58), podemos agora realizar o processo de minimização de Φ na Eq.(2.54). Minimizando em relação às magnetizações A de subrede mA b e mb obtemos respectivamente hA = e X B mB b = (z − 1) mb , (2.66) hB = X A mA b = (z − 1) mb . (2.67) Minimizando agora Φ com relação a hA obtemos: ∂Φ 1∂ = 0 ⇒ mA [ln Z0 ] . b = ∂hA β∂ Substituindo o resultado encontrado para Z0 na Eq.(2.61) temos mA b = I n2 −1 (nK) cosh(KhB ) sinh(KhA ) + I n2 (nK) cosh(KhA ) sinh(KhB ) . I n2 −1 (nK) cosh(KhA ) cosh(KhB ) + I n2 (nK)B4 sinh(KhB ) sinh(KhA ) (2.68) Utilizando relações de soma e diferença de arcos hiperbólicos chegamos à seguinte forma simplificada para a magnetização da subrede A mA b = onde Θn = I n −1 (nK)−I n (nK) 2 2 I n −1 (nK)+I n (nK) 2 sinh K(hA + hB ) + Θn sinh K(hA − hB ) , cosh K(hA + hB ) + Θn cosh K(hA − hB ) (2.69) . 2 Considerando o sistema ferromagnético, todos os spins apresentam-se ordenados paralelamente no estado fundamental, assim: hA = hB = (z − 1) m, sendo m a magnetização por spin no bulk. A Eq.(2.69) reduz-se a m= 2.6.2 sinh [2K(z − 1)m] , cosh [2K(z − 1)m] + Θn (2.70) Sistema Quântico No sistema quântico continuamos a utilizar o resultado da Eq.(2.58) e a definição dada pela Eq.(2.54). No entanto, tratando o sistema quanticamente, as variáveis de spin apresentam somente valores discretos o que faz com que seu cálculo seja realizado o operador traço, Eq.(2.60), que resulta na diagonalização do Hamiltoniano dado pela Eq.(2.56) onde aplicamos os operadores de spin (dados pelas matrizes de Pauli) na base canônica {|1i = |++i , |2i = |+−i , |3i = |−+i , |4i = |−−i} . O Hamiltoniano do par pode ser então expresso na forma matricial Hop = −(J + JhA + JhB ) 0 0 0 0 J + JhB − JhA −2J 0 0 −2J J + JhA − JhB 0 0 0 0 −(J − JhA − JhB ) , Cujos autovalores são dados por λ1 = −J + A+ (hA , hB ), λ2 = −J − A+ (hA , hB ), λ3 = J + W (hA , hB ), λ4 = J − W (hA , hB ), q onde W (hA , hB ) = 4J 2 + [A− (hA , hB )]2 , e A ± (hA , hB ) = J(hA ± hB ). Substituindo estes valores na função de partição quântica, dada pelo traço do operador Hamiltoniano, Eq.(2.60) obtemos Zop = 2 exp(K) cosh [KA+ (hA , hB )] + 2 exp [βW (hA , hB )] . (2.71) Substituindo os resultados obtidos nas Eqs.(2.71) e (2.58) na definição do funcional Φ dado pela Eq.(2.54) podemos agora efetuar sua minimização com relação aos parâmetros escolhidos. Minimizando em relação aos parâmetros hA e hB , obtemos os mesmos resultados para o caso clássico, dados pelas Eqs. (4.8) e (4.9). Fazendo agora a minimização em relação à magnetização mA b utilizando a função de partição quântica, obtemos a seguinte função para a magnetização da subrede A mA b = sinh [KA+ (hA , hB )] + [W (hA , hB )]−1 A− (hA , hB ) exp(−2K) sinh [βW (hA , hB )] , cosh [KA+ (hA , hB )] + exp(−2K) cosh [βW (hA , hB )] (2.72) Para o caso ferromagnético teremos novamente a situação de todos os spins apresentarem o mesmo ordenamento no estado fundamental ficando a magnetização para o sistema ferromagnético m= 2.6.3 sinh [2K(z − 1)m] . cosh [2K(z − 1)m] + exp(−2K) cosh(2K) (2.73) Resultados De posse dos resultados da magnetização de um sistema ferromagnético nos modelos clássico [modelo O(n)] e quântico (modelo de Heisenberg), Eqs.(2.70) e (2.73) respectivamente, vamos mostrar os resultados para o comportamento da magnetização espontânea em função da temperatura reduzida kB T /J. Fazendo J = 1 e aplicando para o caso de uma rede cúbica simples onde z = 6, variamos o valor da temperatura encontrando as raízes (valores da magnetização m na Eq.(2.73)) através do método de Newton-Raphson. Observamos para essa situação um comportamento da magnetização qualitativamente de acordo com o previsto para sistemas ferromagnéticos. Estas curvas não apresentam descontinuidade o que caracteriza uma transição de segunda ordem. Abaixo da temperatura crítica (Tc ) o sistema apresenta-se ordenado, próximo a esses valores críticos o sistema começa a sofrer desordem magnética provocada pelo aumento da temperatura e anula-se para valores acima de Tc . No estado fundamental os spins apresentam-se ordenados paralelamente(↑↑↑ ...) de modo que m(0) = 1. Outro fato relevante nestes resultados é que embora os sistemas quântico e clássico apresentem comportamento semelhante, notamos uma pequena diferença entre os 1.0 clássico quântico 0.8 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 kBT/J Figura 2.3: Comportamento da magnetizaç ão do modelo de Heisenberg clássico e quântico em função da temperatura no bulk de um filme fino para uma rede cúbica simples (z = 6). resultados para a temperatura crítica (Tc (quântico) = 5.72, Tc (clássico) = 5.84), sendo Tc (quântico) < Tc (clássico) resultado este comprovado por métodos mais rigorosos, como a expansão em série, mostrado na Tabela (1.1)[23]. Isto se dá em função do sistema clássico ter muito mais graus de liberdade que o sistema quântico. Tabela II.1: Temperaturas críticas reduzidas para os e clássico e Ising numa rede cúbica simples obtidos abaixo. Modelo MFT EFT XY Clássico Séries[17] MFT EFT XY Quântico Séries[18] MFT EFT Heisenberg Clássico Séries[19] MFT Heisenberg Quântico EFT Séries[17] MFT EFT Ising Séries[17] modelos XY, Heisenberg quântico através das técnicas mencionadas Tc 5.830 5.034 4.405 5.787 4.980 4.000 5.841 5.031 4.329 5.719 4.891 3.360 5.847 5.039 4.511 TN 5.843 5.034 4.405 5.787 4.980 4.000 5.841 5.031 4.329 5.771 4.891 3.593 5.847 5.039 4.511 Referências [1] K. Huang, Statistical Mechanics, ed.Jonh Wiley e Sons, New York (1963). [2] C. N. Yang e T. D. Lee, Phys. Rev. 87, 404 (1952). [3] H. Bethe, Z. Phys. 71, 205 (1931). [4] H. A. Bethe, Proc. Roy. Soc. London A, 150, 552 (1935); R. E. Peierls, Proc. Camb. Phil. Soc. 32, 471, 477 (1936). [5] H. A. Kramers e G. H. Wanier, Phy. Rev. 60, 252 (1941). [6] L. Onsager, Phys. Rev. 65, 261 (1944). [7] D. P. Landau e K. Binder, A Guide to Monte Carlo Simulations in Statistical Physics, Cambridge University Press, 2000. [8] P. Weiss, J. de Phys. 6, 661 (1907). [9] W. 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A necessidade de reter uma quantidade cada vez maior de informações em um espaço cada vez menor, possibilitou o surgimento de novas tecnologias de crescimento de filmes magnéticos ultra-finos a partir de um substrato possibilitando a formação das mais variadas estrututras caracterizadas tanto pela geometria de sua rede cristalina(heteroestruturas) quanto pelo tipo de interação entre os seus íons(super-rede). Além de sua importância tecnológica, os filmes finos têm significativa importância teórica para o entedimento da ordem magnética e transição de fase em sistemas bidimensionais, onde a presença de superfícies livres alteram o comportamento do interior do material provocando o aparecimento de novos e interessantes fenômenos. Além disso é um excelente “laboratório” teórico para verificar a hipótese de universalidade. O desenvolvimento de materiais com características determinadas para uma aplicação específica requer o conhecimento detalhado das interações microscópicas, e como 98 elas são afetadas por fatores como sua composição e preparação. Por exemplo, o uso de filmes ultra-finos magnéticos para armazenamento de dados requer a fixação da magnetização aplicada no filme e leitura desses dados com alto grau de precisão. Variações na composição do filme podem ser usadas para manipular as propriedades desejadas e sua sensibilidade na presença de um campo externo. A habilidade em lidar com esses parâmetros é fundamental para o estabelecimento de sua estrutura física fazendo com que sua perfomance seja optimizada trazendo significativos benefícios tecnológicos. Um dos grandes avanços na análise desses sistemas foi a descoberta do efeito magnetoóptico de superfície denominado Efeito Kerr, que através da incidência de laser (λ = 632nm) em uma determinada direção pode informar o comportamento da magnetização em função da temperatura1 . Além disso um controle maior da deposição atômica feita camada por camada através de técnicas modernas de alto-vácuo, como o método de crescimento epitaxial[3], tem garantido formar novas estruturas de filmes, nas mais diversas orientações. Verifica-se que os diferentes planos de orientação de crescimento provocam mudança na distância entre as camadas do filme: 1, 246 Å para Ni(110), 1, 762 Å para Ni(100), 2, 035 Å para Ni(111) este fato também modifica a simetria do sistema, acarretando uma variação na temperatura crítica para sistemas compostos pelo mesmo elemento e orientações cristalográficas diferentes. Medidas experimentais realizadas em filmes de Ni e Cu[4, 7] mostraram que: Tc (111) > Tc (100) > Tc (110). Verifica-se experimentalmente que a ordem magnética do filme é afetada pela variação da temperatura do sistema. Allenspach e Bischof[8], usando microscópio eletrônico estudaram a variação da estrutura dos domínios magnéticos em filmes finos de F e/Cu(001). Abaixo da temperatura característica, os momentos magnéticos formam um simples domínio magnético orientado perpendicularmente ao longo do eixo cristalográfico. Com o contínuo aumento da temperatura os momentos magnéticos reorientam-se da direção perpendicular para a direção paralela ao plano do filme, fenômeno este conhecido com 1 O leitor interessado em maiores detalhes da metodologia empregada, recomendo ler as referências [1, 2] transição de reorientação. Essa mudança estrutural é verificada com variação na temperatura ou no número de camadas do filme[9, 10]. A importância da estrutura dos domínios magnéticos na estrutura do filme foi bem demonstrada por Speckmann[11] no estudo do crescimento de filmes em amostras de Co e Au (111). Alguns progressos foram obtidos na tentativa de isolar os efeitos provocados por parâmetros como temperatura e espessura do filme nas propriedades magnéticas por uma escolha cuidadosa do substrato. Por exemplo, Arnold[12] formou filmes com estrutura fcc de ferro em um substrato obtido pela deposição de duas camadas de níquel e a superfície de tungstênio (110) resultando em estruturas mais estáveis. Do ponto de vista teórico, métodos numéricos para o cálculo de Tc para filmes com algumas camadas de spin foram desenvolvidos, como a expansão em série por extrapolação em altas temperaturas (HTSEE) utilizando até décima segunda ordem[13]. Recentemente, alguns métodos analíticos foram desenvolvidos com base na expansão do cumulante (VCE) calculando pontos críticos de filmes Ising com precisão arbitrária.[14]. Valores de Tc foram obtidos até quarta ordem para as redes cúbica simples (sc), corpo centrado (bcc) e em terceira ordem para cubica de face centrada[14, 15]. Outro técnica que tem sido exaustivamente utilizada é a teoria de campo efetivo (EFT), empregada nos mais variados tipos de problemas como percolação, ordem e desordem em modelos de spin clássico e quântico[16] e no comportamento crítico da superfície e do bulk[17]. A influência da dimensionalidade no comportamento dos filmes finos logo tornou-se motivo principal dos estudos teóricos destes sistemas. Trabalhos pioneiros como os de Fisher e colaboradores[18, 19] influenciaram fortemente estudos posteriores a respeito da influência das variação da espessura na magnetização de filmes ultra-finos e o comportamento da temperatura crítica Tc do sistema. Tendo por base base estes trabalhos, Zhang e Willis[20], utilizando um simples modelo de acoplamento entre spins conseguiram mostrar uma região com uma abrupta variação da temperatura crítica quando relacionada ao número de camadas do filme (` < 5). Seus resultados foram comparados com resultados experimentais onde pode-se observar um comportamento qualitativo próximo do Tabela III.1: Valores dos parâmetros ai, bi para um filme fino Ising obtido teoricamente da Ref.[24] N o da camada 1 2 3 ai 0.17 0.66 1.00 bi 0.14 0.45 0.76 esperado, sendo os valores de Tc maiores que os obtidos experimentalmente. Esse fato já fora observado antes[21] e sua ocorrência se dá pois considera-se a energia de troca Jij constante ao longo do filme. De fato, o exchange da superfície é muito diferente do interior do material. Isto é sugerido na Ref.[22] e confirmado por Mills e Maraduddin[23]. Analisando o comportamento de Tc (`) por meio da expansão do cumulante na região de crossover da dimensionalidade, Ou[24] obteve resultados muito próximos aos obtidos para filmes de Níquel ao considerar a diferença de exchange da superfície com o bulk e entre camadas. Para tanto definiu as seguintes relações: Jk = ai J e J⊥ = bi J, respectivamente interações intraplano e interplano. O índice i identifica a camada sendo que i = 1 corresponde à superfície e ai = bi = 1 para i ≥ 4 com os outros valores variando conforme a Tabela (III.1) Ampliando a investigação de pontos críticos para filmes Ising tratados pelo método proposto por Lin e colaboradores [14, 15], Ou[24] tratou os efeitos de interface na determinação da temperatura crítica de heteroestruturas. Considerou-se neste trabalho heteorestruturas compostas de m camadas de um filme crescido em um substrato com n camadas magnéticas com diferença na estrutura da rede. A temperatura crítica da estrutura completa, Tc (m, n), foi obtida em função dos parâmetros m e n e uma forte dependência de Tc com a estrutura da rede foi revelada, principalmente efeitos de interface. Considerando n < m (Ex: sc-bcc, sc-fcc) a temperatura crítica do sistema diminui com o aumento do número total de camadas (N = n + m) e aumenta com o número de n. Verifica-se que o inverso ocorre para n > m. A influência da superfície em sistemas tridimensionais provoca, além da mudança no comportamento crítico, um diagrama de fase onde as ordenações magnéticas do bulk e da superfície são consideradas. Temos então a seguinte classificação: • Ordenação do bulk bulk Ferromagnético (BF) bulk Antiferromagnético (BAF) Superfície Ferromagnética (SF) • Ordenação da Superfície Superfície Antiferromagnético(SAF) • Fase Paramagnética Na fase de ordenação na superfície somente ela está magnetizada, para a fase de ordenação do bulk tanto a superfície e o bulk estão ordenados, já para a fase paramagnética tanto a superfície quanto o bulk estão desordenados. O estudo da ordem magnética em superfícies tem sido bem caracterizado através de alguns métodos experimentais tais como: emissão de fóton com spin polarizado[25], difração de elétrons de alta energia[26] e espectroscopia de captura eletrônica[27]. Estes métodos apresentam a capacidade de determinar o comportamento crítico da superfície de sistemas formados por Ni, Cr, Gd e T b. Para estes sistemas é observada uma mudança entre o comportamento da magnetização da superfície e a magnetização do bulk nas proximidades de uma determinada temperatura de transição Tcb . Isto acontece devido a redução da simetria para sítios localizados próximos ou na superfície do sistema, fato este representado pela variação do número de coordenação. Este fenômeno pode ocorrer localmente ou somente para algumas camadas atômicas abaixo da superfície o que vem a afetar as propriedades magnéticas no interior do material como a estrutura dos domínios magnéticos e o arranjo dos spins. Os estudos teóricos em filmes finos têm-se limitado na sua grande maioria a sistemas Ising[31, 32]. Somente recentemente, Neto, de Sousa e Plascak[40] desenvolveram uma teoria de campo efetivo baseado na técnica do operador diferencial de Honmura e Kaneyoshi e aplicaram nos filme finos de Heisenberg clássico e quântico. Desejando fazer uma análise mais abrangente, porém simplificada, estudaremos neste capítulo o filme fino de Heisenberg quântico anisotrópico, onde no Hamiltoniano existem parâmetros associados aos limites dos modelos Ising, XY e Heisenberg isotrópico. Aplicaremos o método variacional baseado na desigualdade de Bogoliubov, desenvolvido preliminarmente no Capítulo 2 para uma descrição das propriedades do bulk, e calcularemos as propriedades termodinâmicas e diagramas de fase para este filme fino quântico em função de várias variáveis (número de coordenação, exchange, anisotropia, etc). Devemos salientar que, resultados preliminares dos diagramas de fase têm sido obtidos por Amazonas, Neto e de Sousa [49], e foram mostrados que as curvas críticas são qualitativamente equivalentes às obtidas pela técnica do operador diferencial [40]. Portanto encorajamos estender esse método variacional para obter também as propriedades termodinâmicas, bem como outras análises que serão apresentadas à seguir. 3.2 Modelo Proposto O modelo microscópico de Heisenberg tornou-se um dos mais adequados para descrever sistemas magnéticos isolantes. Passados setenta anos desde sua elaboração, este modelo tem sido retomado na literatura com aplicação de métodos aproximativos em aglomerado finito. Aqui utilizaremos a desigualdade de Bogoliubov em aglomerado de dois spin associado à MFA no Hamiltoniano de Heisenberg de spin H=− X (i,j) ¡ ¢ Jij η x Six Sjx + η y S y Sjy + Siz Sjz , 1 2 descrito por (3.1) onde Jij representa a interação de exchange entre pares de primeiros vizinhos (i, j) (J > 0 e J < 0 corresponde os limites ferro e antiferromagnético, respectivamente), η x e η y são os parâmetros de anisotropias de exchange, e Siν a matriz de Pauli (ν = x, y, z). Se (i, j) ∈ à superfícies Jij = Js caso contrário Jij = Jb . O Hamiltoniano (3.1) reduz-se a alguns casos particulares importantes: Ising (η x = η y = 0), XY (η x = 0 ou η y = 0) e Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). Faremos o estudo do Hamiltoniano (3.1) considerando diferentes tipos de filmes magnéticos, cada qual com uma estrutura cristalina diferente caracterizada por seu número Figura 3.1: Representação geométrica de uma rede cúbica simples com aglomerado de dois spins na presença de duas sub-redes de coordenação e índices de Muller. O número de coordenação z informa o número de primeiros vizinhos sendo dado para uma rede tridimensional por z = z0 +2z1 , onde z0 corresponde ao número de primeiros vizinhos na mesma camada enquanto que z1 o número de primeiros vizinhos nas camadas adjacentes. O índice de Muller está relacionado aos planos de rede em que o cristal se formou. Analisaremos as seguintes estruturas: a) Rede Cúbica Simples: com orientação dada pelos índices (001) (abreviada para sc(001)), apresenta números de coordenação iguais a z0 = 4 e z1 = 1. Sua configuração espacial no aglomerado de dois spins com duas sub-redes (Sa e Sb ) é facilmente representada e é dada conforme a Fig. (2.1) . b) Rede Cúbica Corpo Centrado: com orientação dada pelos índices (111) (abreviada para bcc(111)), tem números de coordenação iguais a z0 = 6 e z1 = 1. c) Rede Cúbica Face Centrada: utilizaremos dois tipos de orientação (111) e (001) (abreviadas para f cc(111) e f cc(001)). Seus números de coordenação são dados respectivamente por z0 = 6 e z1 = 3; z0 = z1 = 4. 3.3 Formalismo O ponto de partida do princípio variacional está em determinar a relação obtida para a energia livre de Helmholtz F ≤ Φ = F (Ho ) + hH − Ho io , (3.2) onde F (Ho ) é a energia livre associada ao Hamiltoniano solúvel Ho para aglomerado finito, escrito como função de algum parâmetro variacional. Para um filme magnético constituído de ` camadas (n = 1, 2, ..., `) com N partículas, construimos o Hamiltoniano da n-ésima camada Hon de forma que o sistema seja dividido em duas partes, uma contendo aglomerados formados por pares de partículas livres (somente interações mútuas) e outro por íons livres que atuam em cada par por aproximação de campo médio (ver Fig.(2.1)), ou seja Hon = −Jn X¡ X X ¢ ny ny nx nx nz nz nz nz S2p + η y S1p S2p + S1p S2p − hnA S1A − hnB S2B . η x S1p p sA (3.3) sB Aplicamos no Hamiltoniano tentativa dado pela Eq.(3.3) aproximação axial na interação de um elemento do par com seus vizinhos mais próximos, o somatório em p é realizado nos spins do aglomerado, o somatório em sζ (ζ representando as sub-redes A e B) nos íons livres e hnA e hnB são parâmetros associados ao campo molecular produzido pelos íons vizinhos. De posse do resultado (3.3), podemos determinar Φ e minimizá-lo com relação aos parâmetros adotados. Substituindo os resultados encontrados nas Eqs.(3.2) e (3.3) no segundo termo da Eq.(3.2) obtemos hH − Hon io = * − P ¡ ¢ Jij η x Six Sjx + η y S y Sjy + Siz Sjz + (i,j) ¢ P nz P nz P ¡ x nx nx ny ny nz nz Jn . η S1p S2p + η y S1p S2p + S1p S2p + hnA S1A + hnB S2B p sA sB + , o (3.4) Aplicando-se a média na Eq.(3.4) e usando o fato que n n® zn ® zn ® S1p .S2p o ' S1p . S2p = mnA .mnB obtemos hH − Hon io = − N 2 + z1 Jn+1 mnA .mn+1 (zo − 1)Jn mnA .mnB + z1 Jn−1 mnA .mn−1 B B + z1 Jn−1 mnB .mn−1 A + z1 Jn+1 mnB .mn+1 A + hnA mnA + hnB mnB (3.5) onde zo e z1 especificam o tipo de rede cristalina utilizada. A determinação da energia livre do sistema requer a determinação prévia da função de partição Zon relativa ao Hamiltoniano tentativa. Essas grandezas estão relacionadas por 1 F (Hon ) = − ln Zon β onde β = 1/kB T , Zon = 4 P (3.6) exp(−βλi ), sendo λi o autovalor obtido a partir da diagonaliza- i=1 ção da matriz Hamiltoniana do sistema. Usando a base canônica {|1i = |++i , |2i = |+−i , |3i = |−+ o Hamiltoniano de um par descrito por ny ny n x x nz nz nz nz Hop = −Jn (η x S1p S2p + η y S1p S2p + S1p S2p ) − hnA S1p − hnB S2p , é expresso na seguinte forma matricial (3.7) n Hop = −(Jn + hnA + hnB ) 0 0 Jn + hnB − hnA −Jn (η x + η y ) 0 0 −Jn (η x − η y ) −Jn (η x + η y ) Jn + hnA − hnB 0 0 x y −Jn (η − η ) 0 0 −(Jn − hnA − hnB ) (3.8) A matriz (3.8) apresenta os seguintes autovalores q λ1 = −Jn + Jn2 (η x − η y )2 + [An+ (hnA , hnB )]2 , q λ2 = −Jn − Jn2 (η x − η y )2 + [An+ (hnA , hnB )]2 , q λ3 = Jn + Jn2 (η x + η y )2 + [An− (hnA , hnB )]2 e q λ4 = Jn − Jn2 (η x + η y )2 + [An− (hnA , hnB )]2 , onde An± (hnA , hnB ) = hnA ± hnB . n Substituindo estes valores na expressão de Zop e agrupando-os obtemos n Zop = 2eKn cosh[βW−n (hnA , hnB )] + 2e−Kn cosh[βW+n (hnA , hnB )], onde W±n (hnA , hnB ) = q (η x ± η y )2 Jn2 + [An∓ (hnA , hnB )]2 e Kn = βJn . (3.9) N n Da Eq.(3.9) obtemos a energia livre F (Hon ) = − 2β ln Zop . De posse desse resultado e o encontrado na Eq.(3.5) obtemos o seguinte funcional ª N © Kn ln 2e cosh[βW−n (hnA , hnB )] + 2e−Kn cosh[βW+n (hnA , hnB )] − (3.10) 2β n−1 n+1 n−1 n n n n n N (zo − 1)Jn mA .mB + z1 Jn−1 mA .mB + z1 Jn+1 mA .mB + z1 Jn−1 mB .mA + − . 2 z1 Jn+1 mn .mn+1 + hn mn + hn mn Φ = − B A A A B B Iremos agora minimizar Φ com respeito à magnetização das subredes A e B, ou seja ∂Φ =0 ∂mnA e ∂Φ = 0, ∂mnB resultando respectivamente hnA = (zo − 1)Jn mnB + z1 Jn−1 mn−1 + z1 Jn+1 mn+1 B B (3.11) hnB = (zo − 1)Jn mnA + z1 Jn−1 mn−1 + z1 Jn+1 mn+1 A A . (3.12) e Minimizando Φ agora em relação ao parâmetro hnA obtemos a expressão para a magnetização da sub-rede A na n-ésima camada por ¡ ¡ ¢ ¡ n ¢−1 n n n ¢ ¡ n ¢−1 n n n n −2Kn n A (h , h ) sinh βW A (h , h ) sinh βW + e W W − + A − + − A + B B mnA = . (3.13) cosh (βW−n ) + e−2Kn cosh (βW+n ) Realizando o mesmo procedimento para o parâmetro hnB , encontramos o seguinte resultado para mnB mnB ¡ ¡ ¢ ¡ ¢−1 n n n ¢ ¡ n ¢−1 n n n A+ (hA , hB ) sinh βW−n − e−2Kn W+n A− (hA , hB ) sinh βW+n W− . (3.14) = cosh (βW−n ) + e−2Kn cosh (βW+n ) Para o sistema ferromagnético, os spins no estado fundamental (T = 0) estão alinhados paralelamente, de forma que a interação de exchange é positiva, ou seja, J > 0. De acordo com as Eqs.(3.13) e (3.14), em T = 0, temos que mnA = mnB = mn , o que nos sugere que hnA = hnB = hn = (zo − 1)Jn mn + z1 Jn−1 mn−1 + z1 Jn+1 mn+1 . Portanto, a partir dessas considerações, chegamos ao seguinte resultado para a magnetização mn = 2hn sinh βW (hn ) © £ ¤ª , W (hn ) cosh βW (hn ) + exp(−2Kn ) cosh Kn (η x + η y ) (3.15) q onde W (hn ) = Jn2 (η x − η y )2 + 4h2n . A partir do resultado para a magnetização da n-ésima camada obtemos o diagrama de fase para o filme juntamente com o comportamento da resposta do filme a um campo externo, a susceptibilidade. 3.4 Propriedades Termodinâmicas Aproximações na mecânica estatística têm sido posta à prova constantemente quando investigam-se novos sistemas, onde a obtenção de diagramas de fase se faz necessário para a melhor compreensão de seu comportamento, como ocorre com os filmes finos. A aproximação de aglomerados representa uma eficaz ferramenta de cálculo matemático que deve apresentar resultados satisfatórios para sistemas de alta dimensionalidade quando associada à métodos rigorosos de simulação numérica. Sua aproximação axial (interações do cluster com os spins vizinhos ocorrendo somente em um eixo privilegiado) introduz no sistema um pequena anisotropia responsável pela ocorrência de transição de fase no modelo de Heisenberg mesmo para sistemas bidimensionais, em desacordo com o teorema de Mermin-Wagner[28]. A presença de comportamento não físicos ou anômalos nas grandezas termodinâmicas em modelos quânticos do ponto de vista teórico deve-se a três fatores importantes: (i) o tipo de aproximação utilizada; (ii) o efeito de tamanho finito dos aglomerados utilizados nos formalismos e (iii) efeitos competitivos nas interações do Hamiltoniano. Em três dimensões, nem mesmo o modelo de Ising apresenta solução exata, mas sua termodinâmica em todo regime de temperatura é muito bem conhecida através de técnicas rigorosas de expansões em séries e simulação de Monte Carlo. Presença de efeitos competitivos no Hamiltoniano de Ising pode apresentar resultados que diferem ligeiramente do sistema puro, sendo que para d = 3 os resultados não são conclusivos, pois não se sabe exatamente o que acontece no regime de baixas temperaturas, onde frustrações magnéticas predominam. Bonner e Fisher[29] estudaram através de diagonalização numérica exata as propriedades termodinâmicas do modelo de Heisenberg quântico de spin 1/2 numa rede unidimensional ferromagnética e antiferromagnética. Para tamanho da rede finita utilizada N = 2 até 11, o calor específico em função da temperatura, para qualquer valor de anisotropia de exchange ferromagnético, apresenta um comportamento regular saindo de zero em T = 0 (3a lei da termodinâmica) e aumentando até um valor máximo em Tmax , e diminuindo posteriormente a zero quando T → ∞ na forma c ' 1/T 2 , o que caracteriza um sistema sem transição de fase. Por outro lado, para o sistema AF o calor específico apresenta um comportamento anômalo com a presença de dois máximos, um em baixa temperatura e outro em alta temperatura. Aumentando o valor de N, Bonner e Fisher verificaram que o primeiro ponto de máximo do calor específico em baixas temperaturas diminui monotonicamente a zero quando N → ∞, mostrando ser este comportamento anômalo devido ao efeito de tamanho finito da rede que é altamente relevante na região de baixas temperaturas, e que é mais atuante em sistemas quânticos. Vamos a seguir calcular várias propriedades termodinâmicas na aproximação de campo efetivo no modelo, Eq.(3.1), e verificar, no capítulo seguinte, como a influência quântica, que se apresenta quando saimos de sistemas Ising para Heisenberg pode refletir nos resultados da temperatura crítica do sistema e como esta varia em função da estrutura da rede. a) Energia interna e Calor Específico A energia interna por partícula relativa à n-ésima camada un pode ser calculada tomando a média do Hamiltoniano tentativa (3.3) reduzido já para uma rede ferromagnética (hn = hnA = hnB ), assim teremos un = 1 hHn i N ou em função da função de partição un = − ¤ ∂ £ n ln Zop ∂β (3.16) Substituindo (3.9) na Eq.(3.16) obtemos un ½ ¾ Jn exp(2Kn ) cosh W (hn ) + (2 + η x + η y ) sinh Kn (η x + η y ) − cosh Kn (η x + η y ) = − 2 exp(2Kn ) cosh W (hn ) + cosh Kn (η x + η y ) (3.17) −mn hn , nos dá o comportamento da energia interna por partícula para a n-ésima camada. Para um filme composto por ` camadas, determinamos a energia média u através da relação P̀ u = 1` un que dá o comportamento médio do filme. n=1 O calor específico é obtido através do cálculo da primeira derivada da energia em relação à temperatura reduzida t = kB T /J na Eq. (3.17). Podemos realizar este cálculo diretamente na Eq.(2.21) ou utilizando recursos de derivação do editor de gráficos ORIGIN 6.0 diretamente na curva obtida de u em função de t, os dois resultados são equivalentes, porém optamos pelo segundo procedimento. b) Magnetização e Susceptibilidade A magnetização média do filme é uma função importante para o estudo da transição de fase, que indica o ponto onde o sistema sofre a passagem da fase ferromagnética para a fase paramagnética. Este ponto em que o sistema perde sua magnetização espontânea é de grande interesse pois a estabilidade de sistemas magnéticos é fundamental para fixação de informação através de um campo aplicado em sua estrutura. Para um filme de ` camadas teremos um sistema autoconsistente de ` equações acopladas, isto é m1 = m = 2 mn = m = ` 2h1 sinh βW (h1 ) , W (h1 ){cosh βW (h1 )+exp(−2Ks ) cosh[Ks (ηx +η y )]} 2h2 sinh βW (h2 ) , W (h2 ){cosh βW (h2 )+exp(−2Kb ) cosh[Kb (η x +η y )]} (3.18) ....... 2hn sinh βW (hn ) , W (hn ){cosh βW (hn )+exp(−2Kb ) cosh[Kb (ηx +ηy )]} ...... 2h` sinh βW (h` ) . W (h` ){cosh βW (h` )+exp(−2Ks ) cosh[Ks (η x +η y )]} A magnetização total do filme será dada pela média das magnetizações de cada camada, ou seja m= 1 X̀ mn , ` n=1 (3.19) Outra função igualmente importante no estudo de sistemas magnéticos é a susceptibilidade pois mostra a resposta do sistema ao campo aplicado, e apresenta como principal característica um comportamento anormal (descontinuidade) da susceptibilidade na temperatura crítica quando o campo é retirado. Sua determinação se faz quando aplicamos um campo ao sistema. Isto representa a adição de um termo no Hamiltoniano, Eq.(3.3), dado por ∆Hon = −H " X i nz SiA + X i # nz , SiB onde H é campo externo cuja minimização da energia de interação com o operador de spin Sinz ocorre na direção do campo, adotado como sendo o eixo z. A presença de um campo magnético interagindo com os spins do cluster na direção axial altera a equação para a magnetização ferromagnética, Eq.(4.12) . Representamos essa modificação simplesmente fazendo a substituição hn → hn + H = αn . Para a camada n a susceptibilidade é obtida através de χn = µ ∂mn ∂H ¶ . (3.20) H=0 Derivando parcialmente cada termo em relação ao campo H obtemos χn = Φn µ ¶ ∂hn , +1 ∂H H=0 (3.21) sendo Φn · ¸ 1 4βαn γ n (αn ) cosh βW (αn ) = { 2τ n (αn ) + − %n (αn )φn (αn ) %n (αn ) · ¸ 4αn [φn (αn ) + β%n (αn ) sinh βW (αn )] }, mn %n (αn ) onde γ n (αn ) = 2αn , τ n (αn ) = sinh βW (αn ), %n (αn ) = £ ¤ exp(−2Kn ) cosh Kn (η x + η y ) . p W (αn ) e φn (αn ) = cosh βW (αn )+ Aplicando a definição de hn em (4.24) ficamos com a seguinte equação para a suscep- tibilidade da n-ésima camada · ¸ 1 − (zo − 1)Jn χn − z1 Jn−1 χn−1 − z1 Jn+1 χn+1 = 1 Φn (3.22) A Eq.(4.25) representa um sistema de ` equações lineares que pode ser resolvido de forma exata. Decidimos resolver este sistema numericamente, onde erros em relação ao resultado exato são desprezíveis. O valor médio de χ para o filme é obtido através do formalismo de Wang, Smith e Tilley[30] (ver Apêndice B), onde as camadas podem ser tratadas como capacitores, assim a capacitância do filme será dada pela soma das capacitâncias de cada camada quando conectadas em série. A susceptibilidade total χ será dada então por 1X = (1 + χn )−1 ` n=1 L −1 (1 + χ) (3.23) sendo ` o número total de camadas do filme. 3.5 3.5.1 Resultados Temperatura Crítica como Função do Tamanho do Filme Aplicamos nesta seção os resultados encontrados anteriormente para descrever a criticalidade numa estrutura de um filme fino tendo como característica a presença de interações ferromagnéticas (J > 0) em cada camada de um filme de tamanho `. A rede cristalina apresenta uma só forma em toda a estrutura e pode ser cubica simples (001) (zo = 4, z1 = 1), corpo centrado (111) (zo = 6, z1 = 1), face centrada (111) (zo = 6, z1 = 3) e face centrada (001)(zo = 4, z1 = 4). Com base em resultados experimentais que indicam uma interação de exchange da superfície diferente do bulk, temos nesta estrutura dois tipos de interação: Js presente nas superfícies livres e Jb nas camadas internas e entre camadas, conforme mostra a Fig.(3.2). O comportamento da magnetização em sistemas ferromagnéticos tem como característica um rápido decaimento próximo à temperatura crítica, anulando-se nesse ponto sendo que a transição de fase de 10 ordem apresenta uma descontinuidade em T = Tc (presença de calor latente) e a de 20 ordem contínua. Em particular, o sistema analisado neste capítulo apresenta transição de fase de 20 ordem, assim podemos expandir as magnetizações para cada camada em primeira ordem em mn . Efeitos decorrentes do tamanho finito do filme, como a mudança de simetria da rede com a redução do número Figura 3.2: Figura representativa de um filme fino com ` camadas e interações de superfície Js e do bulk Jb em uma rede cúbica simples ferromagnética. de vizinhos para camadas próximas à superfície alteram a forma com que a magnetização de cada camada mn decai nessa região fazendo de maneira simétrica. A partir do sistema de equações (3.18) obtemos no limite mn → 0 o seguinte sistema de equações lineares mn = Ωn (Kn ) ((zo − 1)Kn mn + z1 Kn−1 mn−1 + z1 Kn+1 mn+1 ) , onde Ωn (Kn ) = (3.24) sinh[(η x −η y )Kn ] . 2(η x −η y )Kn {cosh[(η x −η y )Kn ]+e−2Kn cosh[(η x +ηy )Kn ]} A aproximação dada pela Eq.(3.24) forma um sistema linear na variável mn . Aplicando condições de contorno adequadas ao tipo de estrutura descrita pela Fig.(3.2), ou seja interações de superfície Js e do bulk Jb resulta am1 + m2 + 0m3 + 0m4 + .... + 0m` = 0, m1 + bm2 + m3 + 0m4 + .... + 0m` = 0, 0m1 + m2 + bm3 + m4 + .... + 0m` = 0, ................... 0m + 0m + m + 0m + .... + am = 0, 1 2 3 4 ` (3.25) onde a = Ω(Ka )(zo −1) z1 Kb para n = 1 = ` e b = Ω(Kb )(zo −1) z1 Kb para 1 < n < `. Reescrevendo o sistema (3.25) na forma matricial ficamos ou seja a 1 0 ... 0 1 b 1 ... 0 0 1 b ... 0 0 0 1 ... 0 .. .. .. ... .. 0 0 0 ... a ` . m1 m2 m3 m4 .. m` = 0, ` A` .M` = 0, (3.26) onde A` é a matriz formada pelos coeficientes a e b e M` a matriz das magnetizações de cada camada. O comportamento crítico do sistema encontra-se todo descrito pela matriz A` e seus valores críticos são encontrados a partir da solução não trivial da Eq.(3.26), ou seja, det A` = 0. Devido o sistema ser composto de equações acopladas encontramos os valores de Tc através de métodos numéricos para calcular as raízes na Eq.(3.26). Nosso objetivo agora é encontrar uma relação generalizada para o determinante det A` , e assim encontrar uma relação entre a temperatura crítica do filme e o número de camadas que ele possui. Através do método de Laplace com o cálculo de cofatores encontramos por meio de indução matemática a seguinte relação para a matriz A` det A` = (ab − 1)2 B`−4 − 2a(ab − 1)B`−5 + a2 B`−6 , (3.27) sendo B` o determinante da matriz interna que apresenta somente coeficientes b, definido por ¯ ¯ ¯ ¯ ¯ ¯ B` = ¯¯ ¯ ¯ ¯ ¯ b 1 0 0 ... 0 1 b 1 0 ... 0 ... ... ... ... ... ... 0 0 0 0 ... b ¯ ¯ ¯ ¯ ¯ ¯ ¯. ¯ ¯ ¯ ¯ ¯ Encontramos novamente uma relação generalizada para o determinante B` através do mesmo procedimento utilizado para a matriz A` . Obtemos então o seguinte resultado B` = bB`−1 − B`−2 . (3.28) Utilizando o software MAPLE V aplicamos o comando rsolve na relação (3.28) para encontrarmos sua relação de recorrência, ou seja rsolve ({bB(` − 1) − B(` − 2) − B(`) = 0; B(0) = 0, B(1) = 1} , B) , (3.29) com as condições iniciais B0 = 0 e B1 = 1 chegamos então, após agruparmos o resultado obtido em (3.29), a seguinte relação 1 B` = √ b2 − 4 (· b+ √ √ ¸`+1 · ¸`+1 ) b − b2 − 4 b2 − 4 − 2 2 (3.30) equação válida apenas para o caso em que b2 > 4. Para b2 < 4 realizamos a seguinte p √ substituição na Eq.(3.30): b2 − 4 −→ i (4 − b2 ) dando como resultado: B` = sin [θ (` + 1)] , sin θ (3.31) onde θ = cos−1 ( 2b ). De posse dessas relações, resolvemos numericamente usando o método de interpolação de raízes para encontrarmos todos os valores de Tc que satisfaça det A` = 0. (3.32) Uma das principais características de sistemas magnéticos é sua temperatura de transição, que para o caso dos ferromagnéticos é chamada de temperatura de Curie. Devido o sistema constituído por um filme fino apresentar tamanho finito, sua temperatura de transição apresenta uma forte dependência com a espessura do filme sendo caracterizada uma região de forte variação correspondendo à passagem do sistema de bi para tridimensional, crossover da dimensionalidade do sistema. Este comportamento é obtido quando encontramos a solução para det A` = 0. Esta condição resulta em ` soluções diferentes para a temperatura crítica Tc (`) sendo o maior valor dado como sendo a temperatura real do filme[31]. Os resultados podem ser analisados tanto em função da expessura do filme como também em função do parâmetro ∆ que representa a relação do exchange da superfície com o bulk, ou seja, ∆ = Js /Jb − 1, indicando em nossos cálculos o quanto a superfície difere do bulk. Isto representa uma segunda aproximação do sistema real haja vista que nos primeiros cálculos realizados considerou-se o filme com interações de bulk e superfície iguais dando resultados para Tc acima do obtido experimentalmente. Em sistemas reais vimos que as interações crescem no sentido superfície-bulk, apresentando valor constante a partir, aproximadamente, da terceira camada. Considerando o caso em que o número de camadas ` → ∞ o sistema pode ser considerado como sendo o modelo de Heisenberg semi-infinito já tratado por Neto e de Sousa[32]. Considerando o sistema formado por uma rede cúbica simples em um filme com interações Js e Jb descrito pelo modelo de Heisenberg de spin 12 , é um fato bem conhecido que o sistema exibe dois tipos de transições, a transição de superfície (SF) onde a superfície apresenta-se ordenada e a transição de bulk (SB) a qual apresenta o bulk ordenado. As temperaturas a eles relacionadas são respectivamente denominadas de temperatura crítica de superfície Tcs e temperatura crítica do bulk Tcb onde verifica-se que Tcb < Tcs . O ponto multicrítico ∆ = ∆c corresponde ao caso em que tanto a superfície quanto o bulk estão ordenados. A transição de superfície não é verificada para o modelo isotrópico de Heisenberg uma vez que este não exibe transição de fase em duas dimensões (de acordo com o Teorema de Mermin-Wagner[28]). Na aproximação de campo médio presente no método variacional utilizado neste trabalho, a transição de superfície existe como consequência da quebra da simetria no Hamiltoniano tentativa proposto na Eq.(3.3) onde consideramos somente interações axiais dos vizinhos com os sítios no aglomerado. Apresentamos agora os resultados da criticalidade do sistema de tamanho finito, representado pelo filme fino descrito neste capítulo, através dos diagramas de fase Tc × ∆ e Tc × `, onde ∆ = Js /Jb − 1. Estes diagramas foram obtidos com a utilização das Eqs.(3.27) , (3.30) , (3.31) e da condição (3.32) aplicada nas diferentes estruturas: sc(001), bcc(111) e fcc(111) nos três modelos considerados, em função dos parâmetros de anisotropia η x e η y : Ising (I) (η x = η y = 0), XY (η x = 0 ou η y = 0) e Heisenberg isotrópico (H) (η x = η y = 1) em um filme com um número de camadas ` = 10. A análise de sistemas magnéticos utilizando teoria de campo médio tem mostrado a existência de uma pequena diferença entre os modelos utilizados na descrição das propriedades de filmes-finos. Isto está relacionado diretamente ao aumento de flutuações quânticas quando passamos de sistemas Ising para Heisenberg o que provoca por exemplo alteração no valor do ponto multicrítico ∆c na ordem ∆c (H) > ∆c (XY ) > ∆c (I), conforme mostrado na Tabela (III.2). Também notamos uma variação do ponto multicrítico com respeito ao tipo de estrutura cristalina na ordem ∆c (f cc(111)) > ∆c (sc(001)) > ∆c (bcc(111)), mostrando a influência da topologia da rede na ordenação magnética. Nas Figs.(3.3) a (3.11) mostramos a variação da temperatura crítica reduzida (kB T /J) em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes com diferentes números de camadas (`) aplicado nas três esturutras cristalinas: sc(001), bcc(111) e fcc(111) nos modelos Ising, XY e Heisenberg. Temos observado que todas as curvas críticas Tc (∆) para os vários valores de ` se encontram no único ponto que equivale ao ponto multicrítico ∆c do modelo de Heisenberg semi-infinito, o qual foi discutido previamente para o caso da rede cúbica simples por Neto e de Sousa[17]. Os valores para os pontos multicríticos, Tabela III.2: Valores críticos do parâmetro delta para as três redes consideradas nos modelos de Ising, XY e Heisenberg Ising XY Heisenberg sc(001) 0.27 0.28 0.29 fcc(111) 0.51 0.52 0.53 bcc(111) 0.17 0.18 0.19 Tabela III.3: Valores da temperatura crítica para três tipos de estrutura cristalina nos modelos de Ising, XY e Heisenberg Ising XY Heisenberg sc(001) 5.84 5.81 5.71 fcc(111) 11.92 11.90 11.84 bcc(111) 7.88 7.858 7.78 obtidos do cruzamento das três curvas e a temperatura crítica associada são mostrados nas Tabelas.(III.2) e (III.3). Nota-se que para valores de ∆ < ∆c o sistema apresenta-se com bulk ordenado e a superfície desordenada (BF), ou seja, Tcb > Tcs . Para ∆ > ∆c a superfície está ordenada e o bulk desordenado (SF), ou seja, Tcb < Tcs . Nas Figs.(3.12) a (3.20), apresentamos o comportamento da temperatura crítica Tc em função do número ` de camadas para um filme tratado através dos modelos Heisenberg, XY e Ising nas três estruturas de rede consideradas. Observamos um comportamento diferenciado do filme fino para os quatro valores de ∆ utilizados, efeito este resultante da presença da superfície no sistema. Nota-se que para ∆ < ∆c , sendo ∆c o ponto multicrítico obtido anteriormente, temos Tcb > Tcs . O sistema, nesse caso, apresenta inicialmente temperatura crítica menor que a do bulk e tende a este valor quando aumentamos o número de camadas do filme caracterizando então um ordenamento do bulk (BF) e desordem na superfície, aqui simulada para ` pequeno. No caso em que ∆ > ∆c temos Tcb < Tcs , ou seja, inicialmente temos uma temperatura crítica maior para o sistema bidimensional tendendo ao valor do bulk quando fazemos ` → ∞, caracterizando o ordenamento da superfície e desordem no bulk ,SF. A linha pontilhada corresponde à passagem de uma fase para outra. Em todos os casos analisados (tipo de rede e modelo adotado) o comportamento qualitativo é semelhante, destacando-se uma abrupta vari- ação da temperatura crítica em uma pequena região, compreendida entre ` = 1 e ` = 3, fenômeno esse já verificado tanto experimentalmente[33] a [38] quanto através de modelos aproximativos mais rigorosos[39, 24, 40]. Essa região corresponde à passagem do sistema de duas para três dimensões, crossover de dimensionalidade. 8,0 7,9 bulk 7,8 7,7 Tc 7,6 = 13 =6 7,5 =3 7,4 7,3 7,2 7,1 7,0 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 ∆ Figura 3.3: Comportamento da temperatura cr ítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede bcc(111) descrita pelo modelo de Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). 13 12 bulk = 13 Tc =8 11 =3 10 9 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 ∆ Figura 3.4: Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede fcc(111) descrita pelo modelo de Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). 6,0 5,8 bulk = 13 5,6 =8 Tc 5,4 =3 5,2 5,0 4,8 4,6 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 ∆ Figura 3.5: Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede sc(001) descrita pelo modelo de Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). 9,0 8,5 bulk 8,0 =8 7,5 Tc =3 7,0 =2 6,5 6,0 5,5 5,0 0,0 0,1 0,2 0,3 ∆ Figura 3.6: Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede bcc(111) descrita pelo modelo XY (η x = 0 e η y = 1). 15 14 13 bulk Tc 12 =8 11 =3 10 =2 9 8 7 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 ∆ Figura 3.7: Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede fcc(111) descrita pelo modelo XY (η x = 0 e η y = 1). 7,0 6,5 bulk 6,0 =8 Tc 5,5 =3 5,0 =2 4,5 4,0 3,5 3,0 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 ∆ Figura 3.8: Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede sc(001) descrita pelo modelo XY (η x = 0 e η y = 1). 10 9 8 = 18 bulk Tc =6 7 =3 6 5 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 ∆ Figura 3.9: Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede bcc(111) descrita pelo modelo de Ising (η x = η y = 0). 13 = 15 12 bulk =8 Tc 11 = 15 10 9 8 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 ∆ Figura 3.10: Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede fcc(111) descrita pelo modelo de Ising (η x = η y = 0). 7,0 6,5 6,0 = 18 bulk =6 Tc 5,5 =3 5,0 4,5 4,0 3,5 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 ∆ Figura 3.11: Comportamento da temperatura crítica em função do parâmetro de exchange ∆ para filmes de diferentes espessuras (`) na rede sc(001) descrita pelo modelo de Ising (η x = η y = 0). 12 ∆ = 0.5 10 ∆ = 0.4 8 Tc( ) 7.78 6 ∆ = 0.0 4 ∆ = -0.5 2 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Figura 3.12: Comportamento da temperatura crítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede bcc(111) tratada atrav és do modelo de Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). 18 16 ∆ = 1.0 14 12 ∆ = 0.7 Tc( ) 11.84 ∆ = 0.2 10 8 ∆ = 0.0 6 4 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Figura 3.13: Comportamento da temperatura crítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede fcc(111) tratada atrav és do modelo de Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). 7 ∆=0.5 6 5.72 ∆=0.4 5 ∆=0.0 Tc( ) 4 ∆=−0.5 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Figura 3.14: Comportamento da temperatura cr ítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede sc(001) tratada através do modelo de Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1). 12 ∆ = 0.5 10 ∆ = 0.4 8 Tc( ) 7.858 6 ∆ = 0.0 4 ∆ = -0.5 2 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Figura 3.15: Comportamento da temperatura crítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede bcc(111) tratada atrav és do modelo XY (η x = 0 e η y = 1). 18 ∆ = 1.0 16 ∆ = 0.7 14 12 Tc( ) 11.90 ∆ = 0.2 10 8 ∆ = 0.0 6 4 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Figura 3.16: Comportamento da temperatura crítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede fcc(111) tratada atrav és do modelo XY (η x = 0 e η y = 1). ∆ = 0.5 7 ∆ = 0.4 6 5.81 Tc( ) 5 ∆ = 0.0 4 3 2 ∆ = -0.5 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Figura 3.17: Comportamento da temperatura cr ítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede sc(001) tratada através do modelo XY (η x = 0 e η y = 1). 12 ∆ = 0.5 10 ∆ = 0.4 8 Tc( ) 7.88 6 ∆ = 0.0 4 ∆ = -0.5 2 0 2 4 6 8 10 Figura 3.18: Comportamento da temperatura crítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede bcc(111) tratada atrav és do modelo de Ising (η x = η y = 0). 18 ∆ = 1.0 16 ∆ = 0.7 14 12 Tc( ) 11.92 ∆ = 0.2 10 8 ∆ = 0.0 6 4 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Figura 3.19: Comportamento da temperatura crítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede fcc(111) tratada atrav és do modelo de Ising (η x = η y = 0). 8 7 ∆ = 0.5 6 ∆ = 0.4 5.84 Tc( ) 5 4 ∆ = 0.0 3 ∆ = -0.5 2 1 0 2 4 6 8 10 Figura 3.20: Comportamento da temperatura cr ítica em função do número de camadas do filme para diferentes valores do parâmetro ∆ na rede sc(001) tratada através do modelo de Ising (η x = η y = 0). 3.5.2 Propriedades Termodinâmicas Mostramos à seguir o comportamento das grandezas termodinâmicas encontradas na Seção 1.4 deste capítulo: magnetização, Eq.(4.22), susceptibilidade, Eq.(4.27) e energia interna, Eq.(2.21). O calor específico é obtido diretamente do gráfico da energia interna através de sua primeira derivada em relação à temperatura reduzida t = kB T /J. Os gráficos são obtidos à partir dos resultados encontrados numericamente para a magnetização, com o uso do método de Newton-Raphson para o isolamento de raízes no sistema de equações presente em (3.18). Aplicamos essa análise em filmes com diferentes camadas utilizando os modelos de Heisenberg isotrópico, Ising e XY nas redes sc(001), bcc(111), fcc(001) e fcc(111). Inicialmente mostramos nas Figs.(3.21) a (3.24) o comportamento da magnetização em função da temperatura para cada camada n em um filme de dez camadas (` = 10). Escolhemos a rede cúbica simples na direção (001) e cúbica face centrada na direção (111) ambas no modelo de Heisenberg, verificando-se comportamento semelhante para outros tipos de estruturas e modelos adotados. Observa-se uma simetrização da função magnetização relativa à posição da camada, ou seja: m1 = m10 , m2 = m9 , ..., mn−1 = mn+1 . Esse comportamento é esperado haja vista que introduzimos condições de contorno que levam em consideração tanto a diferença no exchange da superfície Js e do bulk Jb quanto na mudança do número de vizinhos para camadas próximas à superfície. Observamos aqui o tipo de ordenamento BF e SF quando utilizamos valores diferentes para o parâmetro ∆. Para ∆ = 0.0, Figs.(3.21) e (3.23), notamos um valor maior para a magnetização em camadas localizadas no interior do material, bulk, ou seja, o bulk apresenta maior resistência à tendencia de desorientação dos spins com o aumento da temperatura do sistema. O inverso ocorre para o caso em que ∆ = 1.5, Figs.(3.22) e (3.24), onde agora são as camadas próximas à superfície que apresentam maior resistência à desordem magnética. A existência de ordenamentos diferenciados para o sistema conforme o valor para o parâmetro ∆, previsto inicialmente na análise do comportamento do filme fino próximo à criticalidade, é confirmada também nas Figs.(3.25) e (3.27) onde verificamos o comportamento da magnetização em função da camada do filme para diferentes temperaturas. Na Fig.(3.25) o valor de ∆ = 0.0 provoca uma modificação maior na ordem magnética para spins presentes nas camadas próximas à superfície que aumenta de acordo com o aumento da temperatura, já na Fig.(3.27) observamos o comportamento inverso pois para .∆ > ∆c o sistema desordena inicialmente do bulk para a superfície. Nas Figs.(3.28) a (3.60) observamos os comportamentos diferenciados da magnetizaP̀ ção total de um filme com ` camadas, m = 1` mn , em função dos diversos fatores enn=1 volvidos verificando em todos os casos a existência de uma transição de fase de segunda or- dem (magnetização não apresenta descontinuidade na temperatura crítica), caracterísitca de sistemas ferromagnéticos. Na Fig.(3.28) temos a magnetização para os três modelos utilizados: Ising (IS), XY (SY) e Heisenberg (HS). Constitui um resultado interessante para a teoria de campo médio o fato de poder prever a mudança no valor da temperatura crítica do sistema com a mudança do modelo na ordem: Tc (IS )˙ > Tc (XY ) > Tc (HS). O aumento no valor da temperatura de transição da fase ferro para a fase paramagnética nesse caso está relacionada com o aumento das flutuações quânticas, que tendem a desorientar o sistema, devido a isto o filme Heisenberg, essencialmente quântico, apresenta temperatura de transição menor que filmes Ising que por apresentar operadores de spin na direção axial constitui um modelo clássico. Este fato é observado tanto para ∆ = 0.0 quanto para ∆ = 1.5. Nas Figs.(3.30) a (3.60) temos a magnetização em função da temperatura de filmes finos para ` = 2, 4, 6 e 10 camadas comparando suas curvas com a obtida para o interior do material, bulk, para diferentes valores de ∆. À medida que acrescentamos camadas na estrutura do filme, este tende ao comportamento do bulk (sistema tridimensional), ou seja, os efeitos de superfície diminuem para modelos de alta dimensionalidade (valor de ` elevado). Mostramos esse comportamento para os três modelos nas diferentes estruturas cristalinas: sc(001), bcc(111), fcc(001) e fcc(111). Nota-se um comportamento diferenciado para a rede fcc(001) no caso em que ∆ = 1.5 tanto para sistemas Ising, XY ou Heisenberg. Destacamos na Fig.(3.37) o fato de ter- mos um filme Heisenberg com ` = 10 e ∆ = 0.0 onde verificamos uma diferenciação na temperatura crítica para uma mesma estrutura cristalina mas com orientação diferente, ou seja: Tc (f cc(111)) > Tc (f cc(001)) que tem origem na diminuição de simetria da rede quando passamos da f cc(111) para f cc(001).Observamos este comportamento também para filmes tratados através do modelo de Ising, Fig.(3.46) , e XY, Fig.(3.55). Em todos os casos vemos que o parâmetro ∆, que mede a relação de exchange Js /Jb − 1 tem forte influência sobre o ponto de transição de fase do material, quanto maior a diferença entre o exchange de superfície (Js ) e do bulk, maior a resistência do sistema à desordem. Nas Figs.(??) a (3.68) temos o comportamento da susceptibilidade do filme em função da temperatura reduzida t = kB T /J. A função apresenta a divergência característica dos ferromagnetos apresentando modificação quando variamos parâmetros como ∆, tipo de rede, modelo utilizado e número de camadas do filme. Vemos na Fig.(3.67) e (3.68) o efeito provocado pela superfície nas propriedades do bulk. A susceptibilidade comporta-se de forma a semelhente à magnetização, de acordo com o valor de ∆. A energia interna e calor específico em função da temperatura são mostrados nas Figs.(3.69) a (3.77) onde aplicamos novamente os diferentes parâmetros envolvidos. Na Fig. (3.69) notamos um comportamento diferenciado para a energia nas camadas mais externas do filme. O parâmetro ∆ modifica a curva no ponto crítico minimizando a divergência existente aí. Isto tem reflexo no comportamento do calor específico, como mostrado na Fig.(3.77) onde a descontinuidade muda para sistemas com maior número de camadas. O comportamento do calor específico também é influenciado pelo parâmetro ∆, como mostrado na Fig.(3.76), para um filme com ` = 10 camadas. Nesse caso o aumento de ∆ tem o efeito de deslocar o ponto máximo da curva da região em que ocorre a transição de fase, T = Tc . A susceptibilidade é mostrada nas Figs.(3.61) a (3.68) variando tanto a estrutura da rede, modelo utlizado e parâmetro ∆. A descontinuidade que se observa na curva, característica de materiais ferromagnéticos, sofre forte influência dos fatores acima correspondendo ao ponto em que o sistema apresenta transição de fase, observada inicialmente na magnetização do filme. 1.0 n = 1 e 10 0.8 n=2e9 0.6 mn n=3e8 n=4e7 0.4 n=5e6 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 kBT/J Figura 3.21: Comportamento da magnetizaç ão em função da temperatura para cada camada n de um filme fino Heisenberg na rede sc(001) e parâmetro ∆ = 0.0. 1.0 n = 1 e 10 0.8 n=2e9 0.6 mn n=3e8 0.4 0.2 n=4e7 n=5e6 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 kBT/J Figura 3.22: Comportamento da magnetizaç ão em função da temperatura para cada camada n de um filme fino Heisenberg na rede sc(001) e parâmetro ∆ = 1.5. 1.0 n = 1 e 10 0.8 n=2e9 n=3e8 0.6 mn n=4e7 0.4 n=5e6 0.2 0.0 0 2 4 6 8 10 12 kBT/J Figura 3.23: Magnetização em fun ção da temperatura para cada camada n de um filme fino Heisenberg na rede fcc(001) e parâmetro ∆ = 0.0. 1.0 0.8 n = 1 e 10 0.6 mn n=2e9 n=3e8 0.4 n=4e7 n=5e6 0.2 0.0 0 2 4 6 8 10 12 kBT/J Figura 3.24: Magnetização em fun ção da temperatura para cada camada n de um filme fino Heisenberg na rede fcc(001) e parâmetro ∆ = 1.5. t = 1.0 1.0 t = 3.0 0.8 t = 4.0 0.6 mn t = 5.0 0.4 0.2 t = 5.63 0.0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 n Figura 3.25: Comportamento da magnetização em função da camada n de um filme fino Heisenberg na rede sc(001) para um parâmetro ∆ = 0.0. 1,0 t=2 t=3 0,9 0,8 m t=4 0,7 t=4 0,6 2 4 6 8 10 kBT/J Figura 3.26: Comportamento da magnetização em função da camada n de um filme fino Heisenberg na rede sc(001) para um parâmetro ∆ = 0.29. t = 1.0 1.0 t = 3.0 0.8 t = 5.0 mn 0.6 0.4 t = 7.0 0.2 t = 9.0 0.0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 n Figura 3.27: Comportamento da magnetização em função da camada n de um filme fino Heisenberg na rede sc(001) para um parâmetro ∆ = 1.5. 1.0 0.8 0.6 m XY Ising Heisenberg 0.4 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 kBT/J Figura 3.28: Variação da magnetiza ção em função da temperatura para os três modelos considerados: Heisenberg, XY e Ising em um filme sc(001); ∆ = 0.0 e ` = 10. 1.0 Heisenberg XY Ising 0.8 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 kBT/J Figura 3.29: Variação da magnetiza ção em função da temperatura para os três modelos considerados: Heisenberg, XY e Ising em um filme sc(001); ∆ = 1.5 e ` = 10. 1,0 bulk 0,8 =2 =4 =6 =10 m 0,6 0,4 0,2 0,0 0 1 2 3 4 5 6 kBT/J Figura 3.30: Variação da magnetiza ção em uma rede sc(001) com parâmetro ∆ = 0.0 para filmes finos Heisenberg com diferentes tamanhos `. 1,0 =2 =4 =6 =10 0,8 0,6 m bulk 0,4 0,2 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 kBT/J Figura 3.31: Variação da magnetiza ção em uma rede sc(001) com parâmetro ∆ = 1.5 para filmes finos Heisenberg com diferentes tamanhos `. 1,0 bulk 0,8 =2 =4 =6 =10 m 0,6 0,4 0,2 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 kBT/J Figura 3.32: Variação da magnetiza ção em uma rede bcc(111) com parâmetro ∆ = 0.0 para filmes finos Heisenberg com diferentes tamanhos `. 1,0 bulk 0,8 =2 =4 =6 =10 m 0,6 0,4 0,2 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 kBT/J Figura 3.33: Variação da magnetiza ção em uma rede fcc(111) com parâmetro ∆ = 0.0 para filmes finos Heisenberg com diferentes tamanhos `. 1,0 0,8 =2 =4 =6 =10 bulk m 0,6 0,4 0,2 0,0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 kBT/J Figura 3.34: Variação da magnetiza ção em uma rede fcc(111) com parâmetro ∆ = 1.5 para filmes finos Heisenberg com diferentes tamanhos `. 1,0 bulk 0,8 0,6 m =2 =4 =6 =10 0,4 0,2 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 kBT/J Figura 3.35: Variação da magnetiza ção em uma rede fcc(001) com parâmetro ∆ = 0.0 para filmes finos Heisenberg com diferentes tamanhos `. 1,0 0,9 0,8 0,7 =10 =6 =4 =2 m 0,6 0,5 bulk 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 kBT/J Figura 3.36: Variação da magnetiza ção em uma rede fcc(001) com parâmetro ∆ = 1.5 para filmes finos Heisenberg com diferentes tamanhos `. 1.0 sc(001) bcc(111) fcc(001) fcc(111) 0.8 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 kBT/J Figura 3.37: Comportamento da magnetiza ção em função da temperatura para as quatro estruturas cristalinas consideradas de um filme Heisenberg de tamanho ` = 10 e parâmetro ∆ = 0.0. 1.0 sc(001) bcc(111) fcc(001) fcc(111) 0.8 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 kBT/J Figura 3.38: Comportamento da magnetização em função da temperatura para as quatro estruturas cristalinas consideradas de um filme fino Heisenberg de tamanho ` = 10 e parâmetro ∆ = 1.5. 1.0 ∆ = 0.0 ∆ = 0.5 ∆ = 1.0 ∆ = 1.5 0.8 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 kBT/J Figura 3.39: Comportamento da magnetiza ção em função da temperatura de um filme fino Heisenberg sc(001) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. 1.0 ∆ = 0.0 ∆ = 0.5 ∆ = 1.0 ∆ = 1.5 0.8 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 kBT/J Figura 3.40: Comportamento da magnetiza ção em função da temperatura de um filme fino Heisenberg bcc(111) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. 1.0 0.8 = 0.0 = 0.5 = 1.0 = 1.5 3 4 m 0.6 ∆ ∆ ∆ ∆ 0.4 0.2 0.0 0 1 2 5 6 7 8 9 10 11 12 13 kBT/J Figura 3.41: Comportamento da magnetização em função da temperatura de um filme fino Heisenberg fcc(001) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. 1.0 0.8 ∆ = 0.0 ∆ = 0.5 ∆ = 1.0 ∆ = 1.5 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 kBT/J Figura 3.42: Comportamento da magnetiza ção em função da temperatura de um filme fino Heisenberg fcc(111) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. 1,0 bulk 0,9 0,8 =2 =4 =6 =10 0,7 m 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 0 1 2 3 4 5 6 kBT/J Figura 3.43: Magnetização em fun ção da temperatura para filmes finos Ising com diferentes tamanhos ` na rede sc(001) e parâmetro ∆ = 0.0. 1,0 bulk 0,8 =2 =4 =6 =10 m 0,6 0,4 0,2 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 kBT/J Figura 3.44: Magnetização em fun ção da temperatura para filmes finos Ising de diferentes tamanhos ` na rede bcc(111) e parâmetro ∆ = 0.0. 1,0 bulk 0,8 =2 =4 =6 =10 m 0,6 0,4 0,2 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 kBT/J Figura 3.45: Magnetização em fun ção da temperatura para filmes finos Ising com diferentes tamanhos ` na rede fcc(001) e parâmetro ∆ = 0.0. 1.0 0.8 0.6 m sc(001) bcc(111) fcc(001) fcc(111) 0.4 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 kBT/J Figura 3.46: Magnetização em funç ão da temperatura de um filme fino Ising de tamanho ` = 10, parâmetro ∆ = 0.0 para quatro tipos de estrutura cristalina. 1.0 sc(001) bcc(111) fcc(001) fcc(111) 0.8 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 kBT/J Figura 3.47: Magnetização em funç ão da temperatura de um filme fino Ising de tamanho ` = 10, parâmetro ∆ = 1.5 para quatro tipos de estrutura cristalina. 1.0 ∆ ∆ ∆ ∆ 0.8 = 0.0 = 0.5 = 1.0 = 1.5 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 kBT/J Figura 3.48: Magnetização em funç ão da temperatura de um filme fino Ising de tamanho ` = 10 na rede sc(001) para diferentes valores do parâmetro ∆. 1.0 ∆= ∆= ∆= ∆= 0.8 0.0 0.5 1.0 1.5 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 2 4 6 8 10 12 14 kBT/J Figura 3.49: Magnetização em funç ão da temperatura de um filme fino Ising de tamanho ` = 10 na rede bcc(111) para diferentes valores do parâmetro ∆. 1.0 0.8 ∆ ∆ ∆ ∆ m 0.6 = 0.0 = 0.5 = 1.0 = 1.5 0.4 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 kBT/J Figura 3.50: Magnetização em funç ão da temperatura de um filme fino Ising de tamanho ` = 10 na rede fcc(001) para diferentes valores do parâmetro ∆. 1.0 ∆ ∆ ∆ ∆ 0.8 = 0.0 = 0.5 = 1.0 = 1.5 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 kBT/J Figura 3.51: Magnetização em funç ão da temperatura de um filme fino Ising de tamanho ` = 10 na rede fcc(111) para diferentes valores do parâmetro ∆. 1,0 bulk 0,8 =2 =4 =6 =10 m 0,6 0,4 0,2 0,0 0 1 2 3 4 5 6 kBT/J Figura 3.52: Comportamento da magnetizaç ão em função da temperatura para filmes XY na rede sc(001) e par âmetro ∆ = 0.0 com diferentes tamanhos `. 1,0 bulk 0,8 =2 =4 =6 =10 m 0,6 0,4 0,2 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 kBT/J Figura 3.53: Comportamento da magnetizaç ão em função da temperatura para filmes finos XY na rede bcc(111) e parâmetro ∆ = 0.0 com diferentes tamanhos `. 1,0 bulk 0,8 =2 =4 =6 =10 m 0,6 0,4 0,2 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 kBT/J Figura 3.54: Comportamento da magnetizaç ão em função da temperatura para filmes finos XY na rede fcc(001) e parâmetro ∆ = 0.0 com diferentes tamanhos `. 1.0 sc(001) bcc(111) fcc(001) fcc(111) 0.8 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 kBT/J Figura 3.55: Comportamento da magnetização em função da temperatura em um filme fino XY de tamanho ` = 10, parâmetro ∆ = 0.0 para diferentes tipos de estrutura cristalina. 1.0 sc(001) bcc(111) fcc(001) fcc(111) 0.8 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 kBT/J Figura 3.56: Comportamento da magnetiza ção em função da temperatura em um filme fino XY de tamanho ` = 10, parâmetro ∆ = 1.5 para diferentes tipos de estrutura cristalina. 1.0 ∆ ∆ ∆ ∆ 0.8 = 0.0 = 0.5 = 1.0 = 1.5 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 kBT/J Figura 3.57: Magnetização para um filme fino XY na rede sc(001) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. 1.0 ∆ ∆ ∆ ∆ 0.8 = 0.0 = 0.5 = 1.0 = 1.5 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 kBT/J Figura 3.58: Magnetização para um filme fino XY na rede bcc(111) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. 1.0 0.8 ∆ ∆ ∆ ∆ m 0.6 = 0.0 = 0.5 = 1.0 = 1.5 0.4 0.2 0.0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 kBT/J Figura 3.59: Magnetização para um filme fino XY na rede fcc(001) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. 1.0 ∆ ∆ ∆ ∆ 0.8 = 0.0 = 0.5 = 1.0 = 1.5 m 0.6 0.4 0.2 0.0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 kBT/J Figura 3.60: Magnetização para um filme fino XY na rede fcc(111) de tamanho ` = 10 para diferentes valores de ∆. 3.0 ∆ ∆ ∆ ∆ 2.5 = 0.0 = 0.5 = 1.0 = 1.5 2.0 χ 1.5 1.0 0.5 0.0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 kBT/J Figura 3.61: Comportamento da susceptibilidade em função da temperatura para um filme Heisenberg de tamanho ` = 10 na rede bcc(111) para diferentes valores de ∆. 10 9 sc(001) bcc(111) fcc(111) 8 7 6 χ 5 4 3 2 1 0 0 2 4 6 8 10 12 14 kBT/J Figura 3.62: Comportamento da susceptibilidade em função da temperatura para um filme Heisenberg de tamanho ` = 10 e parâmetro ∆ = 0.0 para três estruturas cristalinas consideradas. 3.0 sc(001) fcc(111) bcc(001) 2.5 2.0 χ 1.5 1.0 0.5 0.0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 kBT/J Figura 3.63: Comportamento da susceptibilidade em função da temperatura para um filme Heisenberg de tamanho ` = 10 e parâmetro ∆ = 1.5 para três estruturas cristalinas consideradas. 10 =4 =6 =10 bulk 9 8 7 6 χ 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 kBT/J Figura 3.64: Comportamento da susceptibilidade em função da temperatura para filmes finos Ising na rede sc(001); parâmetro ∆ = 0 com diferentes tamanhos (`). 10 9 Heisenberg XY Ising 8 7 6 χ 5 4 3 2 1 0 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 kBT/J Figura 3.65: Susceptibilidade em função da temperatura para um filme fino de tamanho ` = 10 e parâmetro ∆ = 0.0 para os três modelos considerados. 10 9 ∆ ∆ ∆ ∆ 8 7 = 0.0 = 0.5 = 1.0 = 1.5 m 6 5 4 3 2 1 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 kBT/J Figura 3.66: Comportamento da susceptibilidade em função da temperatura para um filme fino XY com tamanho ` = 10 na rede bcc(111) para diferentes valores de ∆. t=8 0.45 0.40 0.35 0.30 t = 10 χn 0.25 0.20 0.15 t = 14 0.10 t = 18 0.05 0.00 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 n Figura 3.67: Comportamento da susceptibilidade em função da camada n do filme fino Heisenberg na rede sc(001), parâmetro ∆ = 0.0 e ` = 10. 0.8 0.7 0.6 t = 10 χn 0.5 0.4 t = 12 0.3 t=14 0.2 0.1 t = 18 0.0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 n Figura 3.68: Comportamento da susceptibilidade em função da camada n do filme fino Heisenberg na rede sc(001), parâmetro ∆ = 1.5 e ` = 10. 0 n = 1 e 10 -1 n=2e9 -2 un n=3e8 -3 n=5e6 -4 n=4e7 -5 -6 0 1 2 3 4 5 6 7 8 kBT/J Figura 3.69: Comportamento da energia interna em função da temperatura para um filme Heisenberg na rede sc(001), parâmetro ∆ = 0.0 para cada camada n do filme. 0 n=5e6 -1 n=4e7 -2 n=3e8 -3 n=2e9 n = 1 e 10 -4 un -5 -6 -7 -8 -9 -10 -11 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 kBT/J Figura 3.70: Comportamento da energia interna em função da temperatura para um filme Heisenberg na rede sc(001), parâmetro ∆ = 1.5 para cada camada n do filme. 0 =2 =4 =6 = 10 -1 u -2 -3 bulk -4 -5 -6 0 2 4 6 8 kBT/J Figura 3.71: Comportamento da energia interna em função da temperatura para filmes Heisenberg na rede sc(001) com parâmetro ∆ = 0.0 com diferentes números de camadas. 0 -1 -2 -3 ∆ ∆ ∆ ∆ u -4 -5 = 0.0 = 0.5 = 1.0 = 1.5 -6 -7 -8 -9 -10 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 kBT/J Figura 3.72: Comportamento da energia interna em função da temperatura em um filme Heisenberg com ` = 10, rede bcc(111) para diferentes valores do parâmetro ∆. 0 -1 -2 ∆ ∆ ∆ ∆ u -3 = 0.0 = 0.5 = 1.0 = 1.5 -4 -5 -6 -7 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 kBT/J Figura 3.73: Comportamento da energia interna em função da temperatura em um filme Heisenberg com ` = 10, rede sc(001) para diferentes valores do parâmetro ∆. 0 -1 -2 -3 -4 u -5 sc(001) bcc(111) fcc(001) fcc(111) -6 -7 -8 -9 -10 -11 -12 0 2 4 6 8 10 12 14 kBT/J Figura 3.74: Energia interna em função da temperatura para um filme Heisenberg com ` = 10, parâmetro ∆ = 0.0 para quatro tipos de rede. 0 -1 -2 -3 -4 sc(001) bcc(111) fcc(111) fcc(001) -5 u -6 -7 -8 -9 -10 -11 -12 -13 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 kBT/J Figura 3.75: Energia interna em função da temperatura para um filme Heisenberg com ` = 10, parâmetro ∆ = 1.5 para quatro tipos de rede. 2.5 ∆ ∆ ∆ ∆ 2.0 = 0.0 = 0.5 = 1.0 = 1.5 cV 1.5 1.0 0.5 0.0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 kBT/J Figura 3.76: Comportamento do calor específico em função da temperatura em um filme XY bcc(111) com ` = 10 para diferentes valores do parâmetro ∆. 3,0 =2 =4 =6 = 10 2,5 cV 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0 2 4 6 8 kBT/J Figura 3.77: Comportamento do calor específico em função da temperatura em filmes Heisenberg sc(111) com par âmetro ∆ = 0.0 para diferentes números de camada. 3.6 Expoentes Críticos Podemos observar que a temperatura crítica do sistema sofre forte influência da espessura do filme, principalmente na região de crossover de dimensionalidade. Podemos então supor uma lei de escala que represente Tc como um parâmetro dependente da espessura do filme, onde agora Tc (`) (2D) chega à temperatura do bulk Tc (∞) (3D) fazendo ` → ∞. Esta relação pode ser mostrada através de uma simples lei de potência[47] caracterizada por um expoente crítico λ definido por: Tc (`) = Tc (∞)(1 − A ) `λ (3.33) onde A e λ dependem da espessura. A constante A é da ordem de 1 a 10, medida em vários experimentos. A teoria de escala representada pela Eq.(3.33) é resultado de uma classe de universalidade encontrada para os expoentes críticos onde λ pode ser expresso por 1/ν sendo ν o expoente de correlação de longo alcance do bulk. Técnicas rigorosas mediram o valor do expoente λ para sistemas Ising 3D, XY e Heisenberg obtendo respectivamente os valores: λ = 1.586, λ = 1.492, λ = 1.413[48]. Estudos teóricos e experimentais mostraram ser a classe de universalidade caracterizada por um pequeno número de parâmetros tal como a dimensionalidade do sistema (1D, 2D, 3D) e a simetria do parâmetro de ordem. Sistemas de dimensionalidade diferente refletem expoentes críticos diferentes. Por exemplo para o modelo de Ising 3D (bulk) apresenta ν = 0.63 enquanto que para o caso bidimensional temos ν = 1. Sistemas constituídos por filmes finos oferecem oportunidade única de estudo do comportamento dos expoentes críticos uma vez que temos controle tanto na formação de sua estrutura como também em sua composição atômica. Utilizando os resultados obtidos para a temperatura crítica em função do número de camadas n do filme podemos obter o comportamento de δT = [Tc (bulk ) − Tc (`)] Tc (`) para ` escolhido entre 10 e 20, Figs.(3.78) a (3.80), transformada para uma escala loglog em vista de aumento de precisão do expoente crítico λ presente na Eq.(3.33). Realizamos a medição de λ para cada linha com a mesma classe de universalidade (no caso, as estruturas cristalinas: sc(001), fcc(111), bcc(111)) resultando nos valores médios: λ(H) = 1.65, dado pela Fig.(3.78), λ(XY ) = 1.76, dado pela Fig.(3.80) e λ(I) = 1.78, dado pela Fig.(3.79) estando em perfeio acordo qualitativo com a hipótese de classe de universalidade. ln[1-Tc( )/Tc(bulk)] sc100 bcc111 fcc100 fcc111 0,01 λ=1.65 10 ln( ) Figura 3.78: Expoente crítico λ utilizando modelo de Heisenberg para quatro tipos de rede em um filme com 20 camadas. ln[1-Tc( )/Tc(bulk)] bcc111 fcc001 fcc111 sc001 λ=1,78 0,01 10 ln( ) Figura 3.79: Expoente crítico λ utilizando modelo de Ising para quatro tipos de rede utilizando um filme fino com 20 camadas. ln[1-Tc( )/Tc(bulk)] SC BCC FCC1 FCC2 0,01 λ=1,76 10 ln( ) Figura 3.80: Expoente crítico λ utilizando modelo XY para quatro tipos de rede utilizando um filme fino com 20 camadas. Referências [1] F. Huang, M. T. Kief, G. J. Mankey e R. F. Willis, Phys. 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Capítulo 4 Super-Rede Magnética 4.1 Considerações Gerais O avanço da moderna ciência do vácuo, em particular a técnica de crescimento epitaxial possibilitou um maior controle no crescimento de filmes magnéticos, camada por camada, predeterminando inclusive o tipo de átomo constituinte de cada camada. Verificouse que a presença de átomos diferenciados na estrutura modifica consideravelmente as propriedades físicas do filme como sua forma de interação com o campo magnético e a luz pois a interação de exchange entre sítios da rede depende diretamente das características de cada átomo1 . Podemos ter filmes com camadas alternadas formadas por átomos magnéticos (ferromagnéticos ou antiferromagnéticos) e não magnéticos ou apenas magnéticos. Assim, estruturas diferenciadas com novas e interessantes propriedades foram desenvolvidas, caso das super-redes magnéticas isolantes2 onde a superfície interage de forma diferenciada do 1 Para uma revisão das propriedades de estruturas magnéticas e super-redes recomendo a Ref.[1] Analisamos neste trabalho estruturas magnéticas onde apenas spins localizados nos sítios da rede cristalina são levados em consideração. Ao considerarmos spins relativos aos elétrons de condução (magnetismo intinerante), dificuldades adicionais são introduzidas no modelo que o tornam de difícil resolução. 2 206 bulk. A idéia de que as propriedades físicas de uma super-rede podem ser alteradas de forma significativa de acordo com seus átomos constituintes (exchange), da espessura da célula unitária e da topologia global tem motivado o estudo tanto experimental [2, 5] quanto teórico[6, 15] dessas estruturas. Experimentalmente, estudos realizados em filmes de Ferro (Fe) crescido em monocamadas de ouro (Au) e gadolíneo (Gd) crescido em tungstênio(W) foram realizados respectivamente por Durr e Taborelli[5] e Farle e Baberschke[4]. Eles têm mostrado o comportamento crítico e a variação das propriedades físicas com o número de monocamadas presentes em sua estrutura. Resultados experimentais como esses serviram de guia para a elaboração de condições de contorno apropriadas na aplicação dos diferenciados modelos estatísticos utilizados na literatura. Assim, tratamos um sistema magnético em uma estrutura de super-rede, considerando uma rede cristalina infinita no plano xy com duas superfícies delimitadoras na região axial (eixo z). Considerando que o sistema seja constituído por dois materiais A e B, relacionamos essa composição à super-rede fazendo as interações de exchange nas superfícies JAS e JBS , respectivamente. Para as interações interplanares temos JA e JB e entre planos JAB . Tratando teoricamente um sistema de multicamadas alternadas periodicamente, cada qual composta de átomos ferromagnéticos diferentes, Fishman, Schwable e Schwenk[8] analisaram o sistema utilizando a formulação de Ginzburg-Landau encontraram sua temperatura de transição e o espectro das ondas de spin. O ponto em que o sistema sofre transição de fase foi objeto de investigação no trabalho de Tilley[10] onde utilizou o formalismo de Landau na determinação da temperatura crítica de vários sistemas. Comparado com a formulação de Ginzburg-Landau, o formalismo presente no trabalho de Tilley apresenta-se mais geral pois permite uma gama mais larga de condições de contorno e inclui o sinal do exchange nas superfícies. Para estruturas de super-redes mais complicadas com um número arbitrário de mono- camadas diferentes, Barnás[11] derivou um conjunto de equações gerais de dispersão para o bulk e a superfície magnética polarizados. Estas equações saõ aplicadas nos modos magnetostáticos e propagação de onda retardada na geometria de Voigt[12]. Ma e Tasi[13] estudaram a variação do comprimento de onda de modulação com a temperatura de Curie para super-rede magnética no modelo de Heisenberg. Seus resultados concordaram qualitativamente com experimentos em filmes de Cu/Ni[14] realizado por Zheng e colaboradores. Estruturas de super-rede compostas por materiais ferro e antiferromagnético, dispostos em camadas alternadas foram investigados por por Hinchey e Mills [6, 7] utilizando um modelo de spins localizados. Já Sy e Ow[15] usando aproximação de campo médio e Seidov e Shaulov[16] utilizando teoria de campo efetivo associado à técnica do operador diferencial, estudaram as transições em super-redes magnéticas alternadas. Super-redes tratadas através do modelo quântico de Heisenberg foram pouco exploradas na literatura[17, 18]. No entanto, a introdução do modelo de Heisenberg possibilitou verificar as excitações elementares dos spins localizados em cada sítio da super-rede. Desde o desenvolvimento dos trabalhos de Bloch[19], Holstein e Primakoff[20] e Kubo[21], o fenômeno das ondas de spin tem atraído considerável interesse de estudo[22, 23]. À partir desses conhecimentos, alguns autores lidaram com as excitações de ondas de spin em sistemas de sub-redes (filmes finos com poucas camadas) que apresentam ordem magnética[24]-[26]. É geralmente aceito que para estruturas de rede mais complexas, isto é, para o caso em que o número de spins por célula unitária é maior que dois, o problema não pode ser resolvido explicitamente em termos dos elementos de matriz de cada vetor k. Geralmente utiliza-se métodos numéricos para resolver o problema[26]-[28] e resultados contraditórios são obtidos devido a diferença de métodos empregados[24], [29][31]. Recentemente, o espectro das ondas de spin para baixas temperaturas em sub-redes Heisenberg com 4 camadas ferromagnéticas e ferrimagnéticas para diferentes constantes de exchange (JAB = JCD 6= JBC = JDA ) foi analisado em termos dos operadores de criação e destruição[32]. Para a diagonalização do Hamiltoniano relativo a essa estrutura, duas extensões da transformação de Bogoliubov foram desenvolvidas e os espectros das ondas de spin foram determinados. Na literatura encontra-se considerável número de estudos de super-redes analisando a teoria de ondas de spin através de várias teorias quânticas microscópicas[33]-[35]. ZhangZhi Dong[36] tratou uma sub-rede Heisenberg com três camadas com interções de exchange dadas por JAB = JBC 6= JCA , observando a dependência do espectro das ondas de spin com as interações de exchange do sistema bem como suas possíveis configurações de spin. Podemos ter filmes constituídos de multicamadas alternadas entre materiais magnéticos e não magnéticos. Para o caso de camadas não magnéticas de grande espessura, a interação de exchange entre camadas (J⊥ ), essencialmente de curto alcance, deixa de existir passando então a interagir somente via interação dipolar (longo alcance). O espectro correspondente às ondas de spin na região em que interações de exchange são dominantes é então composto de ondas de spin confinadas à camadas à camada magnética particular do filme. Contrariamente, observa-se que na região dominada por interações dipolares (camadas não magnéticas), os modos normais são agora excitações coletivas do sistema total formando uma estrutura de sub-banda característica. A região dominada por efeitos dipolares foi analizada teoricamente no limite magnetostático[37]-[39] onde efeitos de retardamento foram incluídos[40]-[42]. Para o caso em que a contribuição da energia de exchange é comparável à dipolar nas ondas de spin, obtêm-se então modos coletivos associados às interações exchange-dipolar. Podemos citar também os estudos realizados em sistemas onde os átomos ferromagnéticos apresentam-se diluídos em camadas (caracterizados através de uma determinda concentração) alternados entre átomos não magnéticos. Como exemplo de tais substânicas temos Cs3 Cl5 , DyP o4 , F ep Mg1−p Cl2 , F ep Co1−p Cl2 e Cd1−p Mnp T e que são bem descritos quando tratados através do modelo de Ising para sistemas diluídos. Do ponto de vista experimental é possível sintetizar tais estruturas pois cada monocamada é regulada em escala atômica[43]. Em geral, as propriedades de sistemas magnéticos diluídos podem ser obviamente diferentes dos sistemas puros correspondentes. Foi mostrado por Kaneyoshi, Tamura e Sarmento[44] que fenômenos físicos novos aparecem nestes sistemas quando estudaram um filme fino com diluição na superfície por meio da teoria de campo efetivo com correlações. Qiang Hong[45, 46] e Benyoussef, Boccara e Saber[47] estudaram o sistema semi-infinto diluído usando teoria de campo médio e método de grupo de renormalização respectivamente, na determinação de seus diagramas de fase. Ferchmin e Maciejewski[48] trataram um filme fino Ising diluído e observaram que a fase magnética da superfície pode aparecer quando a concentração de átomos magnéticos na superfície é bastante alta. A diferença entre um sistema puro e diluído foi mostrado por Saber e colaboradores[49] quando estudaram os diagramas de fase de uma super-rede Ising com spin 1/2 diluída através da teoria de campo efetivo. Todos os estudos mencionados anteriormente são concernentes a sistemas Ising com S = 1/2. Para S = 1, as propriedades do bulk de sistemas magnéticos no modelo de Ising[50], sistema magnéticos semi-infinitos[51] e filmes finos magnéticos Ising[51]-[54] são discutidos, porém, dificuldades matemáticas são introduzidas em estudos de super-redes para spins maiores que 1. Aouad e colaboradores[56] trataram uma super-rede ferromagnética no modelo de Ising de spin 1 diluída e encontraram os diagramas de fase e suas propriedades magnéticas utilizando teoria de campo efetivo associado à distribuição de probabilidade realtiva à variável de spin desenvolvida por Tucker e Saber[57] e observaram a influência da concentração de átomos nas propriedades físicas da estrutura. 4.2 Modelo Proposto Neste capítulo analisamos uma super-rede alternada periodicamente por monocamadas magnéticas alternadas formadas por materiais tipo A e B, (ABABA...B), ambos ferromagnéticos em um filme com ` camadas conforme representado pela Fig.(4.1). Figura 4.1: Representação esquemática de uma super-rede magnética com camadas alternadas entre os materiais A e B considerada em nosso estudo. Tratamos o sistema de forma aproximada considerando apenas suas interações de exchange, que para esse caso apresenta valor predominante frente os outros tipos de interação encontrados em sistemas magnéticos (dipolar, Zeeman, spin-órbita, etc). O caso ferromagnético nos garante que J > 0 e para o estado fundamental teremos os spins alinhados paralelamente (↑↑↑ ... ↑) na direção axial. Assim, utilizamos o Hamiltoniano isotrópico de Heisenberg de spin 1/2 H=− X (i,j) ¡ ¢ Jij η x Six Sjx + η y Siy Sjy + Siz Sjz , (4.1) onde η x e η y são parâmetros de anisotropia que determinam os modelos aqui utilizados: Ising (η x = η y = 0), XY ou planar (η x = 1 e η y = 0) e Heisenberg isotrópico (η x = η y = 1) e para a configuração de super-rede utilizada temos Jij correspondendo às interações JA e JB para camadas no interior do filme constituídas por materiais A e B respecivamente, JAS e JBS para as supefícies livres. O somatório atua apenas entre os j primeiros vizinhos associados a um determinado sítio i das redes cúbica simples, sc(001), corpo centrado, bcc(111), e face centrada, fcc(111). Cada estrutura é caracterizada por seus números de coordenação zo e z1 associados respectivamente aos vizinhos presentes na mesma camada e em camadas adjacentes, sendo z = zo + z1 o número total de vizinhos. Tratamos o Hamiltoniano dado pela Eq.(4.1) através do método variacional baseado na desigualdade de Bogoliubov[58, 59], em clusters de dois spins, onde determina-se o parâmetro relacionado com média das interações dos sítios presentes no cluster com os vizinhos da rede. Com a presença de superfícies livres, as interações entre spins são modificadas em função da quebra de simetria do sistema, além da mudança do tipo de material em cada camada. Isso provoca um comportamento diferenciado da superfície (duas dimensões) em relação ao bulk (sistema tridimensional). 4.3 Formalismo O princípio variacional tem como ponto de partida a desigualdade F ≤ Φ = F (Ho ) + hH − Ho io , (4.2) onde escolhemos para Hamiltoniano tentativa Ho , aquele que descreve um sistema formado por cluster de dois spins com o par apresentando interação nas três componentes e cada sítio interagindo com os vizinhos através de um parâmetro a ser determinado. Consideramos inicialmente uma rede de spins composta por duas sub-redes A e B cujas características dependem do tipo de interação adotado: ferromagnética (mA = mB ), antiferromagnética (mA = −mB ), etc. Aplicamos a Eq.(4.2), que descreve o sistema total, restringindo à n-ésima camada, cujos resutuldados podem der extendidos para as todas as ` camadas do filme. Nessa situação, nosso Hamiltoniano tentativa será dado por Hon = −Jn X¡ X X ¢ ny ny nx nx nz nz nz nz S2p + η y S1p S2p + S1p S2p − hnA S1A − hnB S2B . η x S1p p sA (4.3) sB onde hnA e hnB representam os parâmetros a serem determinados através do processo de minimização do funcional Φ pois este corresponde ao limite superior do valor da energia livre do sistema. Tratando um sistema de N partículas não interagentes, podemos reduzir a análise do £ n¤ n sistema total para apenas um aglomerado desde que façamos Hon = N2 Hop onde Hop representa o Hamiltoniano de um cluster somente, a divisão por 2 ocorre para compensar as interações cruzadas nos somatórios da Eq.(4.3) . Aplicando o Hamiltoniano dado pela Eq.(4.3) na base própria de dois spins encontramos sua representação matricial n Hop = −(Jn + hnA + hnB ) 0 hnB x 0 − hnA x y −Jn (η + η ) 0 Jn + 0 −Jn (η x + η y ) Jn + hnA − hnB −Jn (η x − η y ) 0 0 y −Jn (η − η ) 0 0 −(Jn − hnA − hnB ) . (4.4) Determinando seus autovalores λi encontramos a função de partição da n-ésima camada para o modelo quântico através da relação Zon = 4 X exp(−βλi ), (4.5) i=1 temos n Zop = 2eKn cosh[βW−n (hnA , hnB )] + 2e−Kn cosh[βW+n (hnA , hnB )], onde Zon (4.6) q £ n ¤N n n n n n n n n = Zop , A± (hA , hB ) = hA ±hB , W± (hA , hB ) = (η x ± η y )2 Jn2 + [An∓ (hnA , hnB )]2 e Kn = βJn . De posse do resultado dado pela Eq.(4.6) obtemos a energia livre para o sistema de N n N partículas: F (Hon ) = − 2β ln Zop . Com este resultado e os encontrados na Eqs.(4.3) e (4.6) obtemos o seguinte funcional ª N © Kn ln 2e cosh[βW−n (hnA , hnB )] + 2e−Kn cosh[βW+n (hnA , hnB )] − (4.7) 2β n−1 n+1 n−1 n n n n n − 1)J m .m + z J m .m + z J m .m + z J m .m + (z N o n A 1 n−1 A 1 n+1 A 1 n−1 B B B B A . − n+1 n n n n n 2 +h m +h m z1 Jn+1 m .m Φ = − B A A A B B Minimizando a Eq.(4.7) em relação às magnetizações de sub-rede mnA e mnB obtemos os parâmetros variacionais, dados respectivamente por hnA = (zo − 1)Jn mnB + z1 Jn−1 mn−1 + z1 Jn+1 mn+1 B B (4.8) + z1 Jn+1 mn+1 hnB = (zo − 1)Jn mnA + z1 Jn−1 mn−1 A A . (4.9) e Minimizando Φ em relação aos parâmetros hnA e hnB obtemos a expressão para a magnetização das sub-redes A e B na n-ésima camada dadas respectivamente por mnA ¡ ¡ ¢ ¡ ¢−1 n n n ¢ ¡ n ¢−1 n n n A+ (hA , hB ) sinh βW−n + e−2Kn W+n A− (hA , hB ) sinh βW+n W− = (4.10) cosh (βW−n ) + e−2Kn cosh (βW+n ) e ¡ ¡ ¢ ¡ n ¢−1 n n n ¢ ¡ n ¢−1 n n n n −2Kn n A (h , h ) sinh βW A (h , h ) sinh βW − e W W − + − + − + A B A B . (4.11) mnB = cosh (βW−n ) + e−2Kn cosh (βW+n ) Considerando o caso ferromagnético, no estado fundamental (T = 0) os spins estão alinhados paralelamente, de forma que a interação de exchange é positiva, ou seja, J > 0. De acordo com as Eqs.(4.10) e (4.11), em T = 0, temos que mnA = mnB = mn , o que nos sugere que hnA = hnB = hn = (zo − 1)Jn mn + z1 Jn−1 mn−1 + z1 Jn+1 mn+1 . Portanto, a partir dessas considerações, chegamos ao seguinte resultado para a magnetização da n-ésima camada mn = 2hn sinh βW (hn ) © £ ¤ª , W (hn ) cosh βW (hn ) + exp(−2Kn ) cosh Kn (η x + η y ) (4.12) q ¡ ¢2 onde W (hn ) = Jn2 η y − η x + 4h2n . A Eq.(4.12) descreve a magnetização da n-ésima camada do filme. Trat-se de uma equação que depende do valor das magnetizações das camadas adjacentes: mn−1 e mn+1 . Assim, temos de resolver o sistema de ` equações acoplados em (4.13) através de método numérico determinando a magnetização total do filme. m1 = m2 = 2h1 sinh βW (h1 ) , W (h1 ){cosh βW (h1 )+exp(−2K1 ) cosh[K1 (ηx +ηy )]} 2h2 sinh βW (h2 ) , W (h2 ){cosh βW (h2 )+exp(−2K2 ) cosh[K2 (ηx +ηy )]} ..... n sinh βW (hn ) mn = W (h ) cosh βW (h2h)+exp(−2K , n { n n ) cosh[Kn (η x +η y )]} ..... 2h` sinh βW (h` ) m` = , W (h` ){cosh βW (h` )+exp(−2K` ) cosh[K` (ηx +ηy )]} (4.13) onde h1 = (zo − 1)JAS m1 + z1 JAB m2 e h` = (zo − 1)JBS m` + z1 JAB m`−1 , que são os parâmetros relativos às camadas localizadas na superfície e h2n = (zo − 1)JA m2n + z1 JAB m2n−1 +z1 JAB m2n+1 e h2n+1 = (zo −1)JB m2n+1 +z1 JAB m2n +z1 JAB m2n+2 relativas às camadas presentes no interior do filme. Camadas de ordem par apresentam em sua composição materiais tipo A e camadas ímpares formadas por materiais tipo B. 4.4 4.4.1 Resultados Temperatura Crítica em Função do Número de Camadas É um fato verificado experimentalmente que sistemas ferromagnéticos apresentam transição de fase de segunda ordem, ou seja, a magnetização decai de forma contínua até um valor nulo no ponto em que o sistema sofre transição de fase (T → Tc ). Esse comportamento possibilita tratarmos o sistema de forma aproximada fazendo hn → 0, obtendo as temperaturas críticas tanto para o bulk quanto para a superfície no sistema semiinfinito nos modelos Ising, XY e Heisenberg isotrópico. Essa aproximação foi realizada inicialmente por Binder e Hohenberg[60]. Aplicando a condição hn → 0 na função magnetização ferromagnética, Eq.(4.12), obtemos mn = Ωn (Kn ) ((zo − 1)Kn mn + z1 Kn−1 mn−1 + z1 Kn+1 mn+1 ) , onde Ω(Kn ) = sinh[(ηx −η y )Kn ] . 2(ηx −η y )Kn {cosh[(ηx −ηy )Kn ]+e−2Kn cosh[(η x +η y )Kn ]} (4.14) Chegamos então ao seguinte sistema onde as = as m1 + m2 + 0m3 + 0m4 + 0m5 .... + 0m` = 0 m1 + bm2 + m3 + 0m4 + 0m5 .... + 0m` = 0 0m + m + am + m + 0m .... + 0m = 0 1 2 3 4 5 ` , 0m + 0m + m + bm + m .... + 0m = 0 1 2 3 4 5 ` ..... 0m + 0m + 0m + m + am .... + b m = 0 1 2 3 4 5 s ` Ω(KAS )(zo −1) , bs z1 KAB Ω(KBS )(zo −1) z1 KAB Ω(KA )(zo −1) = z1 KAB = localizadas na superfície e a (4.15) que são os coeficientes relativos as camadas para o caso de n par e b = caso de n ímpar. Escrendo este conjunto de equações na forma matricial ficamos Ω(KB )(zo −1) z1 KAB para o ou seja as 1 0 0 0 ... 0 1 b 1 0 0 ... 0 0 1 a 1 0 ... 0 0 .. . 0 .. . 0 .. . 0 0 0 0 0 ... bs 1 .. . b .. . 1 ... .. . . . . . m1 m2 .. . mn .. . m` = 0, A` .M` = 0, (4.16) (4.17) onde A` é a matriz formada pelos coeficientes as , bs , a e b. O comportamento crítico do sistema é totalmente descrito pela matriz A` e seus valores são obtidos aplicando a solução não trivial na Eq.(4.17), ou seja, det A` = 0. Esta equação apresenta toda a informação a respeito do comportamento crítico da super-rede. Para o tratamento de uma rede com tamanho ` qualquer, faz-se necessário encontrar uma relação generalisada para o valor do determinante de A` . Através do método dos cofatores encontramos a seguinte relação · · ¸ ¸ as bs as bs det A2` = as bs − ( + ) det B2`−2 + 1 − ( + ) det B2`−4 , a b a b (4.18) onde aplicamos a condição de termos somente matrizes de ordem par. A matriz B` é formada pelos elementos internos da matriz A, ou seja B` = b 1 0 ... 0 1 a 0 ... 0 0 .. . 0 .. . 1 .. . b ... .. . . . . 0 0 0 ... a (4.19) Encontramos uma relação generalisada para 4.19,dada por B2` = (ab − 2)B2`−2 − B2`−4 (4.20) Encontramos a relação de recorrência para a Eq.(4.20) através do comando rsolve no software MAPLE V rsolve ({(ab − 2)B(2` − 2) − B(2` − 4) − B(2`) = 0; B(0) = 0, B(1) = 1} , B) . As condições iniciais nos fornece uma relação entre a matriz B e o número de camadas do filme B2`−2 = onde θ = cosh−1 1 {sinh [(` + 1) θ] + sinh(`θ)} sinh θ (4.21) ¡ ab−2 ¢ . 2 A Eq.(4.21) apresenta limitações pois para o caso em que ab > 2, não teremos solução. Já para ab ≤ 2 teremos valores imaginários para θ. Reescrevendo então na forma θ = ϕi, as funções hiperbólicas comportam-se como funções trigonométricas comuns em função de ϕ. Para a solução não trivial teremos um valor nulo para (4.18), isso se faz somente se considerarmos det B2` = 0 nesta equação, obtendo consequentemente ϕ = 2π . 2`+1 Da Eq.(4.18) obtemos então o comportamento da temperatura crítica (Tc /JA ) do filme em função do tamanho ` da super-rede magnética. Mostramos na Fig.(4.2) a variação da temperatura crítica para uma super-rede tratada através do modelo XY na rede cúbica corpo centrado, bcc(111), para configurações dos parâmetros de exchange dados por: Configuração 1 (JB = JA , JAB = 2JA ); Configuração 2 (JB = 2JA , JAB = JA ) e Configuração 3 (JB = JA , JAB = JA ). Observamos que para valores pequenos de `, superfície, a temperatura crítica apresenta valor menor do que a temperatura do bulk tendendo a esse valor quando o tamanho do filme é aumentado (` → ∞). Observamos que a configuração de exchange modifica consideravelmente a criticalidade do sistema variando o valor da temperatura crítica na ordem: Tc (config2) > Tc (config1) > Tc (config3). Na Fig.(4.3) temos o comportamento da temperatura crítica em função do número de camadas de uma super-rede Heisenberg com a configuração 1 de exchange para as quatro redes cristalinas consideradas. A temperatura crítica, em todos os casos, tende à temperatura do bulk quando aumentamos o número ` de camadas da estrutura estando na seguinte ordem: Tc (f cc001) > Tc (f cc111) > Tc (bcc111) > Tc (sc111). Para 1 < ` < 6 aproximadamente observa-se a região de crossover de dimensionalidade (passagem do sistema bidimensional para tridimensional) onde a temperatura crítica sofre forte variação. 4.4.2 Propriedades Termodinâmicas Vamos a seguir determinar as propriedades termodinâmicas do filme considerando as ` camadas existentes na sua estrutura bem como a topologia da rede cristalina: sc(001), bcc(111) e fcc(111) determinadas pelos parâmetros zo e z1 . Os casos particulares do modelo anisotrópico de Heisenberg: Ising, XY e Heisenberg isotrópico. a) Magnetização e Susceptibilidade A magnetização total do filme é encontrada à partir da resolução do sistema acoplado presente em (4.13) através do método numérico de Newton-Raphson para a determinação de raízes. Com isso encontramos a magnetização de cada camada do filme, mn , que apre- 12 Config.1 Config.2 Config.3 11 Tc 10 9 8 7 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Figura 4.2: Variação da temperatura crítica em função do número de camadas para uma super-rede XY corpo centrado para diferentes configurações de exchange. senta comportamento diferenciado entre camadas adjacentes devido à perda de vizinhos para sítios próximos à superfície. Esse comportamento simétrico também tem origem na variação da interação de exchange da superfície e do bulk. Considerando o sistema total, superfície mais o bulk, a magnetização será dada pela média realizada nos valores de mn , ou seja m= 1 X̀ mn , ` n=1 (4.22) A susceptibilidade é obtida diretamente da Eq.(4.12) quando nela introduzimos um termo representando o campo magnético aplicado 20 18 16 sc001 bcc111 fcc001 fcc111 Tc 14 12 10 8 6 4 0 5 10 15 20 Figura 4.3: Variação da temperatura crítica em função do número de camadas ` para uma super-rede Heisenberg na configuração 1 de exchange para diferentes redes cristalinas. ∆Hon = −H " X i nz SiA + X i nz SiB # , onde H é campo externo cuja minimização da energia de interação com o operador de spin Sinz ocorre na direção do campo, adotado como sendo o eixo z. A presença de um campo magnético interagindo com os spins do cluster na direção axial altera a equação para a magnetização ferromagnética, Eq.(4.12) . Representamos essa modificação simplesmente fazendo a substituição hn → hn + H = αn . Para a camada n a susceptibilidade é obtida através de χn = µ ∂mn ∂H ¶ . (4.23) H=0 Derivando parcialmente cada termo em relação ao campo H obtemos χn = Φn µ ¶ ∂hn , +1 ∂H H=0 (4.24) sendo Φn · ¸ 1 4βαn γ n (αn ) cosh βW (αn ) = { 2τ n (αn ) + − %n (αn )φn (αn ) %n (αn ) · ¸ 4αn [φn (αn ) + β%n (αn ) sinh βW (αn )] mn }, %n (αn ) onde γ n (αn ) = 2αn , τ n (αn ) = sinh βW (αn ), p %n (αn ) = W (αn ), £ ¤ φn (αn ) = cosh βW (αn ) + exp(−2Kn ) cosh Kn (η x + η y ) . Aplicando a definição de hn em (4.24) ficamos com a seguinte equação para a susceptibilidade da n-ésima camada · ¸ 1 − (zo − 1)Jn χn − z1 Jn−1 χn−1 − z1 Jn+1 χn+1 = 1. Φn (4.25) Para a configuração de super-rede com ` camadas, a Eq.(4.25) gera o seguinte sistema h h 1 Φ2 h i 1 Φ1 − (zo − 1)JAS χ1 − z1 JAB χ2 = 1, i − (zo − 1)JB χ2 − z1 JAB χ1 − z1 JAB χ3 = 1, ..... i 1 − (zo − 1)JA χ2n+1 − z1 JAB χ2n − z1 JAB χ2n+2 = 1, Φ2n i h 1 − (z − 1)J o B χ2n − z1 JAB χ2n−1 − z1 JAB χ2n+1 = 1, Φ2n+1 ..... h i 1 − (zo − 1)JBS χ` − z1 JAB χ`−1 = 1. Φ` (4.26) O sistema presente em (4.26) apresenta um conjunto de ` equações lineares que pode ser resolvido de forma exata. Decidimos resolver este sistema numéricamente, como ocorrida para o caso de filmes finos, onde erros em relação ao resultado exato são desprezíveis. O valor médio de χ é obtido através do formalismo de Wang, Smith e Tilley[61], onde as camadas podem ser tratadas como capacitores, assim a capacitância do filme será dada pela soma das capacitâncias de cada camada quando conectadas em série. A susceptibilidade total χ será dada então por (ver Apêndice B) 1X = (1 + χn )−1 ` n=1 L −1 (1 + χ) (4.27) sendo ` o número total de camadas do filme. b) Energia interna e Calor Específico A energia interna por partícula relativa à n-ésima camada un pode ser calculada tomando a média do Hamiltoniano tentativa (3.3) reduzido já para uma rede ferromagnética (hn = hnA = hnB ). Em acordo com o procedimento adotado para filmes finos chegamos ao seguinte resultado un ½ ¾ Jn exp(2Kn ) cosh W (hn ) + (2 + η x + η y ) sinh Kn (η x + η y ) − cosh Kn (η x + η y ) (4.28) = − 2 exp(2Kn ) cosh W (hn ) + cosh Kn (η x + η y ) −mn hn , A Eq.(4.28) nos dá o comportamento da energia interna por partícula para a n-ésima camada. Para um filme composto por ` camadas, determinamos a energia média u através P̀ da relação u = 1` un que dá o comportamento médio do filme. n=1 O calor específico é obtido através do cálculo da primeira derivada da energia, Eq.(2.21) , em relação à temperatura reduzida t = kB T /J. Podemos realizar este cálculo diretamente na Eq.(2.21) ou utilizando recursos de derivação do editor de gráficos ORIGIN 6.0 diretamente na curva obtida de u em função de t, os dois resultados são equivalentes, porém optamos pelo segundo procedimento. As grandezas termodinâmicas relacionadas à uma super-rede formada por ` = 10 camadas são agora analisadas levando-se em consideração aspectos como modelo (Ising, XY e Heisenberg isotrópico), tipo de rede (sc(001), bcc(111) e fcc(111)) e tipo de material presente na estrutura. A influência do material se faz através das configurações de exchange, aqui sendo dadas por: configuração 1 (JAS = JBS = 0.5JA , JB = 1.5JA ), configuração 2 (JAS = JBS = 3JA , JB = 2JA ), configuração 3 (JAS = JBS = JA , JB = 2JA ) e configuração 4 (JAS = JBS = JA , JB = 2.5JA ), fizemos JAB = 1 em todas as configurações tratadas e colocamos a interações de exchange em função de JA a fim de verificarmos o comportamento das grandezas analisadas em função da temperatura reduzida kB T /JA . De posse dos resultados encontrados nas Eq.(4.22) e no sistema presente em (4.13) obtemos inicialmente o comportamento da magnetização em função da temperatura reduzida, mostrada nas Figs.(4.4) a (4.6) para as diferentes estruturas cristalinas consideradas em um filme com tamanho ` = 10. Notamos que para uma mesma configuração de exchange, dada por JAS = JBS = JA , JB = 2.5JA , a variação do tipo de estrutura cristalina nos três modelos considerados tem o efeito de modificar o ponto em que o sistema sofre a transição de fase na seguinte ordem: Tc (sc(001)) < Tc (bcc(111)) < Tc (f cc(111)). A Fig.(4.7) mostra a variação da magnetização para as quatro configurações de exchange definidas anteriormente aplicadas em uma super-rede Heisenberg de tamanho ` = 10 com simetria cúbica simples. O ponto em que o sistema sofre transição de fase é fortemente influenciado pelas características do material sendo dadas na seguinte ordem: Tc (conf ig4) > Tc (conf ig3) > Tc (conf ig1) > Tc (conf ig2). Nas Figs.(4.8) a (4.11) temos a magnetização em função da camada n do filme. Podemos observar os diferentes tipos de ordenamentos magnéticos presentes na super-rede quando variamos o parâmetro de exchange. Na Fig.(4.8) a configuração utilizada é: JAS = JBS = 0.5JA , JB = 1.5JA , ou seja, a energia de troca é menor na superfície e maior no bulk, assim o sistema começa a modificar sua ordem magnética inicialmente nas superfícies (n = 1 e n = 10) com o aumento da temperatura do sistema. Já na Fig.(4.9) onde utilizamos a configuração:JAS = JBS = 3JA , JB = 2JA , observamos um comportamento inverso, o bulk desordena primeiramente que a superfície pois agora o exchange é maior no bulk. Nas Figs. (4.10) e (4.11) temos que o exchange presente provoca uma série alternada de ordem-desordem nas camadas do filme. Mostramos na Fig.(4.12) o comportamento da magnetização para diferentes camadas de uma super-rede Ising com JAS = JBS = 0.5JA , JB = 1.5JA e tamanho ` = 10. É observado o comportamento simétrico da magnetização para camadas diametralmente opostas, ou seja, m1 = m10 , m2 = m9 , ..., mn−1 = mn+1 . Na Fig.(4.13) temos o comportamento da função susceptibilidade de uma super-rede Heisenberg com tamanho ` = 10 nas quatro configurações de exchange. A descontinuidade da função, localizada na temperatura crítica, varia de acordo com a configuração de exchange utilizada. Nas Figs.(4.14) e (4.15) observamos respectivamente o comportamento da energia e do calor específico do sistema para as quatro configurações de exchange adotadas. As configurações de exchange alteram o ponto em que o sistema sofre a transição de fase influenciando tanto a energia interna quanto o calor específico. Apesar desta influência observamos o comportamento esperado para o calor específico (descontinuidade na temperatura crítica) indo a zero para T → 0 e T → ∞. Verifica-se um deslocamento do ponto máximo da curva do calor específico em relação ao ponto correspondente a temperatura crítica. 1,0 sc(001) fcc(001) bcc(111) 0,8 m 0,6 0,4 0,2 0,0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 kBT/JA Figura 4.4: Comportamento da magnetização para três redes diferentes utilizando a configuração 4 de exchange no modelo de Heisenberg em uma super-rede com tamanho ` = 10. 1,0 sc(001) fcc(111) bcc(001) 0,8 m 0,6 0,4 0,2 0,0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 kBT/JA Figura 4.5: Comportamento da magnetização para três redes diferentes utilizando a configuração 4 de exchange no modelo de Ising em uma super-rede com tamanho ` = 10. 1,0 sc(001) fcc(001) bcc(111) 0,8 m 0,6 0,4 0,2 0,0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 kBT/JA Figura 4.6: Comportamento da magnetização para três redes diferentes utilizando a configuração 4 de exchange no modelo XY em uma super-rede com tamanho ` = 10. 1,0 Config. 1 Config. 2 Config. 3 Config. 4 0,8 m 0,6 0,4 0,2 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 kBT/JA Figura 4.7: Variação da magnetizaç ão em função da temperatura kB T /JA considerando as quatro configurações escolhidas no modelo de Heisenberg e rede cúbica simples. 1,0 t=1.5 0,9 0,8 t=3.0 0,7 t=5.0 mn 0,6 0,5 t=6.0 0,4 0,3 0,2 0,1 2 4 6 8 10 n Figura 4.8: Magnetização em função da camada n de uma super-rede Heisenberg corpo centrado utilizando a configuração 1 para as interações de exchange. 1,0 t=1.5 0,8 t=3.0 mn 0,6 0,4 0,2 t=4.0 0,0 t=5.0 2 4 6 8 10 n Figura 4.9: Magnetização em função da camada n de uma super-rede Heisenberg corpo centrado utilizando a configuração 2 para as interações de exchange. 1,0 t=2.0 t=3.0 0,9 t=4.0 0,8 t=5.0 0,7 mn 0,6 t=6.0 0,5 0,4 t=7.0 0,3 t=8.0 0,2 2 4 6 8 10 n Figura 4.10: Variação da magnetizaç ão em função da camada n de uma super-rede Heisenberg para o caso de uma rede cubica simples utilizando a configuração 3. 1,0 t=3 0,9 t=4 0,8 t=5 mn 0,7 0,6 t=6 0,5 0,4 0,3 2 4 6 8 10 n Figura 4.11: Comportamento da magnetização para um filme Heisenberg cúbica simples utilizando a configuraç ão 4. 1,0 0,8 0,6 mn m1=m10 m2=m9 m3=m8 m4=m7 m5=m6 0,4 0,2 0,0 0 2 4 6 8 kBT/JA Figura 4.12: Comportamento simétrico da magnetização para cada camada n de uma super-rede magnética utilizando modelo de Ising em uma rede cúbica simples. Configuração1 Configuração2 Configuração3 Configuração4 14 12 10 m 8 6 4 2 0 0 2 4 6 8 10 12 14 kBT/J Figura 4.13: Função susceptibilidade de uma super-rede com ` = 10 no modelo de Heisenberg utilizando rede cúbica simples para diferentes configurações de exchange. 0 -2 -4 Configuração1 Configuração2 Configuração3 Configuração4 u -6 -8 -10 -12 -14 0 2 4 6 8 10 12 kBT/JA Figura 4.14: Variação da energia interna em função da temperatura kB T /JA de uma super-rede XY com tamanho ` = 10 utilizando rede cúbica simples para as quatro configurações de exchange. 4,0 Config. 4 Config. 1 Config. 2 Config. 3 3,5 3,0 cv 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0 2 4 6 8 10 12 kBT/JA Figura 4.15: Calor específico obtido para quatro configurações de exchange em uma super-rede magnética Heisenberg com tamanho ` = 10 utilizando rede cúbica simples. Referências [1] R. E. Camley e R. L. Stamps, J. Phys.:Condens. Matt. 5, 3727(1993). [2] M. A. Thomson e J. L. Erskine, Phys. Rev. B 31, 6832(1985). [3] M. E. Onellon, C. 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Tilley, J. Phys. Condens. Matt. 6, 9633(1994). Capítulo 5 Conclusões Analisamos neste trabalho o comportamento físico de sistemas na presença de superfícies livres, cujo interesse de estudo está baseado na verificação de novos fenômenos originários da quebra de simetria da rede cristalina. Vimos que o avanço na tecnologia de crescimento de filmes finos possibilitou não só o desenvolvimento de novas estruturas como também o entendimento mais detalhado das interações atômicas que se apresentam nestas estruturas, fato este importante pois filmes finos constituem excelentes sistemas bidimensionais onde temos total controle de sua formação tanto estrutural quanto com relação ao tipo de átomo que a estrutura apresenta. Modelos teóricos foram então propostos na literatura com o intuito de reproduzir resultados obtidos experimentalmente. Esse maior controle dos fenômenos se faz necessário haja vista o emprego de filems finos em gravações magnéticas necessitar de uma precisão muito alta tanto no momento em que retém informação quanto na hora em que está sendo lido pela leitora magnética. No capítulo 2 fizemos uma breve revisão das teorias de campo efetivo e algumas aplicações a modelos simples onde concluimos a importância desse tipo de proximação por apresentar uma simplicidade em tratar sistemas magnéticos. Em uma primeira abordagem utilizamos campo efetivo para observarmos o comportamento qualitativo do sis242 tema em análise para em seguida encontrar resultados mais exatos através de métodos mais rigorosos como grupo de renormalização, técnica do operador diferencial e simulação de monte carlo. No capítulo 3 desenvolvemos todo o formalismo matemático do método variacional utilizando o modelo de Heisenberg com anisotropia nas componentes do operador de spin com o objetivo de recair nos modelos de Ising e XY. O primeiro, por apresentar apenas uma componente de spin que comuta com o Hamiltoniano considerado representa em nossos cálculos não só um modelo unidimensional de interação como também um tratamento clássico dado ao sistema. Como consequência observamos posteriormente um valor maior para a temperatura crítica para este modelo quando comparado aos resultados quânticos (Heisenberg e XY). Utilizamos também uma rede cúbica generalizada para recairmos nos casos experimentalmente analisados como filmes de Níquel e Cobre. A análise do sistema na região da criticalidade para as diferentes redes cristalinas e modelos de interação, revelaram a existência de duas fases distintas, já prevista na literatura: fase bulk (BF) onde a superfície encontra-se desordenada e fase superfície, onde temos agora o bulk desordenado. Os pontos de coexistência das duas fases, ∆c , foram encontrados e verificou-se sua dependência com a topologia da rede, dada por: ∆c (f cc) > ∆c (sc) > ∆c (bcc) e do tipo de interação entre os spins. Encontramos para filmes finos as grandezas termodinâmicas e observamos para todas elas um aumento da temperatura crítica do sistema tanto pela introdução de efeitos quânticos no sistema (quando passamos de Ising para Heisenberg isotrópico) quando pelo aumento do parâmetro ∆, ou seja, variando as relações entre os exchange de superfície Js e do bulk Jb temos uma modificação no ponto em que ocorre a transição ferromagnéticaparamagnética. O tipo de rede também influi diretamente no ponto de transição, como verificado para as redes sc(001), bcc(111), fcc(111) e fcc(001) devido principalmente ao aumento de simetria da rede com o aumento de primeiros vizinhos e um feito importante para a aproximação de campo médio utilizada é o fato de encontrarmos diferenças entre as temperaturas críticas para a mesma estrutura, fcc(111) e fcc(001), na ordem f cc(001) > f cc(111). Apesar de apresentarem a mesma quantidade de primeiros vizinhos (z = 12), a disposição dos elementos na rede, de acordo com a orientação cristalina, é aqui percebida, modificando o ponto de transição. A análise de estruturas de baixa dimensionalidade através do método variacional, é extendida para uma estrutura mais complexa, super-rede, onde agora o efeito dos diferentes parâmetros de exchange são observados. A análise do comportamento crítico para diferentes estruturas em uma mesma configuração de exchange apresentou o mesmo comportamento quando consideramos o mesmo tipo de rede mas para diferentes estruturas. Observa-se em ambos os casos uma forte dependência da temperatura crítica com o número de camadas ` do filme em uma pequena região com ` < 5. Esta região corresponde à passagem do sistema de bi para tridimensional, sendo o valor da temperatura crítica tendendo para o valor encontrado para o bulk ao fazermos ` → ∞. Nota-se que o filme comporta-se como o bulk já para ` = 20. Também verificamos a variação das grandezas termodinâmicas, que apresentam comportamentos diferenciados para os diferentes parâmetros de exchange. Assim, encontramos os mesmos comportamentos verificados inicialmente por métodos mais rigorosos, como o operador diferencial, simulação de monte carlo e expansão em séries de potência. Apesar de ser uma teoria com uma matemática mais simples, a aproximação de campo médio apresenta ótimas previsões a respeito do comportamento qualitativo em altas temperaturas dessas estruturas fato este importante pois serve como teste preliminar para aproximações mais rigorosas e que exigem tempo computacional mais longo. Apêndice A Integrais do Modelo O(n) Os cálculos das integrais no espaço de fase têm como alcance o trabalho pioneiro de Stanley, onde o modelo O(n) sem campo externo em uma dimensão foi resolvido exatamente. Consideremos a expressão geral Z KS · S ¡ ¢ ¡ ¢ dS1 dS2 δ n − |S1 |2 δ n − |S2 |2 F (Si ) e 1l 2l . (A.1) Vamos inicialmente resolver a integral I= Z KS · S ¡ ¢ dS1 δ n − |S1 |2 F (Si ) e 1l 2l . (A.2) Usando a representação integral para a função delta a δ (x) = 2πi Z ε+i∞ uax du e (A.3) , ε−i∞ na integral (A.2) ficará K I= 2πi Z dS1 Z ε+i∞ uK n−|S1 |2 du e ε−i∞ 245 ( ) KS · S 1l 2l F (Si ) e . (A.4) Para calcular essas integrais é conveniente trocar a ordem das integrações. Supondo n ¡ α¢ Q que F (Si ) = F Si reescrevemos a integral (A.4) na forma α=1 K I= 2πi Z ε+i∞ uKn du e ε−i∞ n Z Y α · ¸ α α α 2 K S S −u S 1 2 1 α ( ) dS1 F (Si ) e (A.5) . α=1 ¡ α¢ α A integral I contém m integrais independentes em S1 . Para F Si = 1 temos m n X ¡ α ¢2 Si = n, portanto integrais gaussianas com a condição de que α=1 K ³ π ´ 12 I1 = 2πi K Z ε+i∞ n ( 1 Kn u+ 4u du u− 2 e ) (A.6) . ε−i∞ Fazendo uma mudança de variável X ≡ nK e Y ≡ unK K I1 = 1− n 2 (nK) à 2! ³ π ´ 12 1 Z ε+i∞ Y+X 4Y n . dY Y − 2 e K 2πi ε−i∞ (A.7) O termo entre chaves em (A.7) é exatamente a função de Bessel modificada de primeira ¡ ¢ espécie de ordem n2 − 1 . Sendo assim, K I1 = 2 e fazendo ξ = K 2 ¡ 2π ¢ n2 µ 2π K ¶ n2 2 K I1 = Z A B ¡ ¢ KS · S dS1 δ n − |S1 |2 e 1l 2l = ξI n −1 (nK) . o limite ¡ ¢ dS2 δ n − |S2 |2 = lim K→0 (A.9) 2 A integral referente à área da hiperesfera Z (A.8) I n −1 (nK) , Z R ¢ ¡ dS2 δ n − |S2 |2 pode ser calculada tomando n n −1 2 KS · S ¡ (π) 2 (n) 2¢ 1l 2l ¡ ¢ = dS2 δ n − |S2 | e Γ n2 = Ω. (A.10) ¡ α¢ Façamos agora que F Si satisfaça α ¡ α ¢ Si para α = 1 F Si = . 1 para α 6= 1 (A.11) Teremos então, após resolver as integrais gaussianas (A.5) e seguindo o mesmo procedimento que I2 = Z ¡ ¢ 1 KS · S 1 dS1 δ n − |S1 |2 S1 e 1l 2l = ξS2 I n (nK) . 2 (A.12) Da mesma forma que calculamos (A.10) encontraremos que Z ¡ ¢ 1 dS2 δ n − |S2 |2 S2 = lim K→0 Se agora I3 = ¡ ¢ 1 KS · S dS2 δ n − |S2 |2 S2 e 1l 2l = 0. ¡ ¢ α 2 ¡ α ¢ Si para α = 1 , F Si = 1 para α 6= 1 teremos Z Z (A.13) (A.14) · ¸ ³ 1 ´2 KS · S ¡ 1 2¢ 1l 2l I n (nK) + I n +1 (nK) . dS1 δ n − |S1 | = ξΩ S1 e 2 K 2 (A.15) Usando a relação de recorrência para as funções de Bessel dada por In+1 (x) = In−1 (x) − 2n I x n (x) a integral (A.15) fica I3 = Z ¡ ¢ ³ 1 ´2 KS · S dS1 δ n − |S1 |2 S1 e 1l 2l = ξΩI n −1 (nK) . 2 (A.16) Combinadas convenientemente, fornecem diretamente os resultados mostrados na seção (2.6) Z Z ¡ ¢ ¡ ¢ A KS · S dS1A dS2B δ n − |S1A |2 δ n − |S2B |2 S1l e 1l 2l = 0, ¡ ¢ ¡ ¢ A B KS · S dS1A dS2B δ n − |S1A |2 δ n − |S2B |2 S1l S2l e 1l 2l = ξΩI n2 (nK) , (A.17) (A.18) Z ³ A ´2 KS · S ¡ 2¢ ¡ 2¢ S1l e 1l 2l = ξΩI n2 −1 (nK) , dS1A dS2B δ n − |S1A | δ n − |S2B | Z Z ¡ ¢ ¡ ¢ ³ A ´2 B KS · S dS1A dS2B δ n − |S1A |2 δ n − |S2B |2 S1l S2l e 1l 2l = 0, ¡ ¢ ¡ ¢ KS · S dS1A dS2B δ n − |S1A |2 δ n − |S2B |2 e 1l 2l = ξΩI n2 −1 (nK) , Z ¡ ¢ ¡ ¢ B KS · S dS1A dS2B δ n − |S1A |2 δ n − |S2B |2 S2l e 1l 2l = 0. (A.19) (A.20) (A.21) (A.22) Apêndice B Susceptibilidade para um Sistema de Camadas Algumas propriedades encontradas em sistemas magnéticos apresentam o mesmo comportamento quando comparadas com sistemas elétricos. É o caso da susceptibilidade encontrada para um sistema dielétrico formado por ` camadas no interior de um capacitor de área S e carga q, conforme mostrado na Fig.(2.1). S k1 k2 ...... kn ....... kl q Figura 2.1: Dielétrico formado por ` camadas limitado por placas de área S carregadas com carga q. Sendo cada camada caracterizada por uma constante dielétrica k, o campo elétrico resultante no interior do n-ésimo dielétrico é dado por 249 End = Ee + Eni ⇒ Edn = qi q + . εo S εo S onde Ee = kn Edn , ficando então o campo no interior do n-ésimo dielétrico Edn = q q = kn εo S εn S Definem-se então para este sistema as seguintes grandezas: a) Polarização elétrica: vetor originado da formação de dipolos no interior do dielétrico devido a ação do campo elétrico produzido pelas placas carregadas. Seu módulo é dado por P = qi , S (B.1) sendo qi a carga de polarização. b) Deslocamento elétrico: vetor associado ao campo produzido pelas cargas localizadas nas placas do capacitor. Seu módulo é dado por D= q . S (B.2) A relação entre P e Ed : P = (k − 1)εo Ed . Para a maioria dos dielétricos (isotrópicos) observa-se experimentalmente que (B.3) P = χεo Ed , (B.4) sendo χ a susceptibilidade elétrica do material. Substituindo o resultado encontrado na Eq.(B.3) em (B.4) fica kn = 1 + χn . (B.5) Para a n-ésima camada podemos escrever a permitividade elétrica associada (εn ) como sendo εn = εo (1 + χn ) (B.6) Para a associação de dielétricos no interior do capacitor temos que o campo elétrico médio da associação é dado por Ed = que resulta em ¤ 1£ 1 Ed + Ed2 + ... + Ed` ` ε−1 = (B.7) 1 X̀ −1 ε ` n=1 n Substituindo nesta expressão o resultado encontrado na Eq.(B.6) obtemos finalmente que (1 + χ)−1 = 1 X̀ (1 + χn )−1 ` n=1 (B.8)