À FLOR DA PELE CARTAGENA DAS ÍNDIAS Volta ao Mundo novembro 2012 Mestiça e açucarada, boémia e sensual, decadente e senhorial, devota e pagã. Cartagena das Índias, o maior cartão-postal da Colômbia, é tudo isso e mais. E está de volta; não como um destino de voos charter, mas como hotspot do Caribe, catapultado por um período de prosperidade e paz como há muito não se vivia no país. TEXTO DE JOÃO MIGUEL SIMÕES FOTOGRAFIAS DE ADELINO MEIRELES/GLOBAL IMAGENS Volta ao Mundo novembro 2012 BIJOU COLONIAL A torre da catedral é um ponto de referência no centro histórico, de ruas retas mas apertadas. Existem outras, como os incontornáveis chapéus panamá (na página ao lado, à esquerda) ou o rico folclore local, bem representado no restaurante típico Candé (na página ao lado, ao centro). 90 Volta ao Mundo fevereiro 2013 p INICIAÇÃO Abrimos esta reportagem, na dupla página anterior, com duas imagens muito marcantes de Cartagena que perduram na memória mesmo após a partida: a Plaza de los Coches, com a icónica Torre del Reloj, e o colorido de uma palanquera (vendedora de fruta) no centro histórico. Volta ao Mundo fevereiro 2013 oucos se lembram em Cartagena, mas houve um período, na década de 1990, em que esta era destino certo de voos charters semanais lotados de portugueses, que ali chegavam atraídos pela possibilidade de uma incursão caribenha a bom preço. Entravam e saíam sem nada mais ver ou saber da Colômbia. Ao contrário de Cuba, da Riviera Maya ou até da República Dominicana, que permanecem até hoje uma preferência nacional, Cartagena praticamente desapareceu das nossas brochuras turísticas. E, sem voos diretos (charters ou não), não só ficou longe, como mais cara. Mas Cartagena deu a volta por cima — beneficiando da prosperidade económica (a Colômbia já é a terceira maior economia da América do Sul) e de um período de paz (os cartéis de droga mais importantes foram desmantelados e o governo tem vindo a negociar com a Farc, a guerrilha colombiana) sem precedentes no país. Ganhou um estatuto “hip” e tornou-se quente. Quase a escaldar. Espécie de retábulo vivo colonial, contra um fundo azulcaribe, Cartagena sempre atraiu figuras como Bill Gates, os Clinton ou os reis de Espanha. E mesmo perdendo para a vizinha Barranquilla o direito de chamar de suas a atriz Sofia Vergara ou a cantora Shakira, foi ali, e não noutro ponto da costa colombiana, que a segunda, bem como o Prémio Nobel da Literatura Gabriel Garcia Márquez ou o cantor Julio Iglesias, compraram casas de veraneio. Ainda assim, o ponto de viragem foi outro. Cartagena caiu no goto porque, de repente, meio mundo deu-se conta que é ali que famílias milionárias como os Santo Domingo (colombianos, mas jetsetters com ligações, através de uma das suas herdeiras, à família real monegasca) entretêm convidados internacionais ou que Cloclo Echavarria, que representa no país marcas de luxo como Armani e Vilebrequin, organiza a melhor festa de réveillon da cidade. E como uma coisa puxa outra, veio o designer Marc Jacobs passar uma temporada e disse que gostou. E vieram atores de Hollywood, como Mel Gibson, e disseram que gostaram. E se eles gostam é porque deve ser bom — pensaram os olheiros do costume. E Cartagena, que esteve para ser um destino de massas, tornou-se um destino exclusivo com direito a um código de cores (café, azul, verde, fúcsia, violeta, laranja, branco, amarelo e encarnado), atribuído pelo turismo, para designar os seus diferentes atrativos. Porque ela, feliz da vida com tanto elogio, ficou de todas as cores. Coisa de filme Fundada em 1533 pelo conquistador espanhol Pedro de Heredia, Cartagena das Índias, tinha um problema de salubridade, mas o facto de ser plana, arenosa e de estar rodeada de uma baía, de ilhas e de lagoas fez que o seu valor estratégico fosse rapidamente reconhecido. 91 APESAR DA HUMIDADE DE QUASE NOVENTA POR CENTO, a ausência de calamidades naturais permitiu que grande parte do espólio histórico do centro chegasse praticamente intacto aos dias de hoje, fazendo de Cartagena um bijou colonial. Hoje, passados quase quinhentos anos, é a humidade de quase noventa por cento que nos deita abaixo, mas há males que vêm por bem. A antiga praça-forte, tão importante para a manutenção do império espanhol no Novo Mundo – e de cujo porto, o mais importante de então, partiam os galeões carregados de tesouros rumo a Espanha –, permanece abrigada de ventos e de outras calamidades naturais, pelo que grande parte das suas construções históricas chegou aos nossos dias e valeu-lhe, em 1984, que a UNESCO reconhecesse como Património Mundial o centro amuralhado (são quatro quilómetros de espessas muralhas) e as fortalezas. As almas mais apaixonadas, privadas de total imparcialidade, descrever-nos-ão o centro histórico de Cartagena como algo praticamente intocado. Não é bem assim. O viço colonial é forte, não foram cometidos grandes tropelias e mantém-se um traçado de ruas quase retas e com uma estreiteza que nos lembra o intricado medieval, mas há também um certo charme decadente ali e acolá. Não vem mal ao mundo por isso. Faz parte. Uma cidade é como um organismo que não passa incólume às vicissitudes 92 de uma vida. O que dirá de muitas, como é o caso. Antes, fora das muralhas, ficavam os pobres. Agora, muitos dos ricos moram e veraneiam fora desse perímetro, mas é intramuros, dê-se as voltas que se der, que Cartagena tem mais encanto. Praças e pracetas, igrejas e claustros, a catedral, palácios e casarões, conventos e parques; são praticamente incontáveis todos os monumentos e pontos de interesse que se abrigam no perímetro de ouro. Não há uma maneira certa de calcorrear o coração cartagineiro. Podemos seguir à risca a lista de monumentos ou podemos andar mais interessados em sentir o seu pulso, prestando atenção às suas portas, fachadas, janelas, varandas e proteções de ferro de todas as cores. E gostar da arquitetura, porque vai do senhorial ao religioso e militar. E mesmo retilínea, a Cartagena Velha é arteira. Troca-nos os passos e faz-nos errar na sua geografia. Felizmente há sempre um pináculo para nos servir de referência. Isso e o Parque de Bolívar (o venezuelano Simón Bolívar é adorado na Colômbia, embora as relações atuais entre os dois países não sejam as melhores), onde, reza a lenda, um jovem Gabriel García Márquez terá tentado dormir ao ANTIGO MERCADO DE ESCRAVOS, a atual Plaza de los Coches, aberta para a baía outrora muito concorrida por galeões, é um cartão-postal, mas também um ponto de encontro e um palco constante para grupos de danças folclóricas locais. relento quando chegou à cidade sem vintém no bolso (e só não o fez porque foi detido pela polícia, que lhe deu guarida). Ironias que dão sabor, e colorido (uma escolha sempre mais apropriada, tratando-se de Cartagena), ao folclore local. Figura consagrada da literatura mundial, Gabo, como é tratado carinhosamente, possui casa na cidade assinada por um arquiteto ilustre, no lado certo das muralhas (ou seja, dentro), e deu origem a um audiotour de duas horas e meia que passa em revista 35 pontos locais associados à sua vida e à sua obra. É nessas horas que Cartagena se confunde com Macondo (a cidade ficcional dos romances de Gabo) e Macondo se confunde com Cartagena. Paredes que falam O antes e o depois do apelo turístico de Cartagena pode ser medido, entre outras coisas, pela sua hotelaria. Quando a cidade ganhou projeção nos anos 1990, além dos terminais de cruzeiros que lhe garantem visitantes de passagem até hoje, entrou também no campeonato dos operadores turísticos, com a consequente chegada dos complexos hoteleiros de Bocagrande e das grandes cadeias como o Sofitel Santa Volta ao Mundo fevereiro 2013 Clara. Nesta nova fase, em que Cartagena se assume como um destino mais personalizado e menos massificado, com direito a figurar na lista de destinos quentes de quem faz a opinião e lança modas, ganham destaque os pequenos hotéis de charme – com mais ou menos design, com mais ou menos modos de boutique, eles dão uma segunda vida a velhos casarões do centro. Claro que, já antes, outros hotéis se instalaram em conventos e demais construções com pergaminhos, mas estou a falar, à semelhança do que aconteceu em cidades como Marraquexe, de uma nova geração de hoteleiros, na sua maioria estrangeiros, que mudaram de vida e tiveram olhos para comprar e recuperar antigos edifícios quando estes ainda não custavam uma fortuna (agora o preço é outro). Foi assim que surgiram preciosidades como o Quadrifolio, o meu quartel-general em Cartagena, mas também o La Passion, a cargo do francês Thierry Forte, que possui uma piscina branca empoleirada sobre os telhados vizinhos. O último a chegar, porém, é o que tem gerado maior expetativa. O Casa San Agustín instalou-se de armas e bagagens em três edifícios do século xvii, perto das muralhas, no centro, e mistura peças de arte e fotografia, design de Ralph Lauren 93 EXISTEM, ENTRE AS VÁRIAS ATRAÇÕES, pelo menos duas que, pela altitude a que se encontram. garantem uma visão de falcão sobre Cartagena. Uma delas é Castillo San Felipe, o maior forte defensivo ainda de pé no Novo Mundo... e de Bill Sofield, além de serviço de mordomo, lancha privada ou uma cozinha de fusão a cargo do chef peruano Juan Pablo Henao. Em cada um dos casos citados, é provável que as paredes falem. Mas para que nos contem tudo é preciso sair para a rua. Sobretudo ao final da tarde ou ao princípio da noite, quando os lampiões se acendem, os gatos se tornam pardos e a cidade sacode a letargia e brinca ao claro-escuro. E redobra a magia. Seja porque não resistimos ao chavão de entrar numa carruagem; seja porque descobrimos um hotel três estrelas sem grande apelo, que por acaso, só por acaso, acaba por ter um dos melhores terraços altaneiros sobre a Plaza de los Coches (que já foi entreposto de escravos e hoje se chama Plaza del Ecuador, embora poucos o saibam) e sobre a Torre del Reloj, a principal entrada na cidade amuralhada, que se abre para a baía e serve de palco a dançarinos; seja porque nos deixamos ficar a olhar para o sol a esvair-se no mar a partir da esplanada do Café del Mar, ancorado num dos trechos mais promissores da gigante muralha. Cada pedra conta uma história. Cabe-nos a nós escutá-las ou não. Do alto À falta de um melhor sentido de orientação, tenho para comigo o princípio inabalável de que é a pé e do alto que 94 se ganha uma perceção mais nítida de uma cidade. Ou, pelo menos, é deste modo que a sua geografia passa a fazer mais sentido para mim. Em Cartagena, há dois pontos altaneiros imperdíveis. E nem o facto de serem previsíveis – porque estão em qualquer guia da cidade – os torna menos dignos de uma visita. O primeiro moldou-se à colina de San Lázaro e responde pelo nome de Castillo San Felipe. Imponente e maciço, é o maior forte militar do continente americano – pelo menos é o maior complexo defensivo levantado pela engenharia militar espanhola no Novo Mundo – e foi erguido entre 1536 e 1657 para velar sobre a cidadela. Resistiu a inúmeros ataques, sendo que o seu maior feito foi ter resistido aos avanços das tropas inglesas, em 1741, sob o comando do almirante Vernon. Mas caiu uma vez, uma única vez, em 1697, às mãos dos franceses. A muralha é de tal forma alta e inclinada que escalá-la tornou-se impossível; por dentro, o forte apresentava um intricado conjunto de túneis, galerias, desníveis e rampas. Uma dor de cabeça para os inimigos, mas uma bênção para os invasores de hoje que, às tantas, só querem um pouco de sombra fresca. O segundo ponto de observação encontra-se no topo do monte La Popa, a 145 metros de altitude, o que nos garante uma visão de falcão sobre a cidade e a baía de Cartagena. Dali, do Convento de la Candelaria o de la Polpa, percebo o que me quis dizer uma guia no Castillo San Felipe: ... E A OUTRA, REPRODUZIDA NESTAS PÁGINAS, é o Convento de la Candelaria o de la Popa, que, do alto dos seus 145 metros, permite comparar os contrastes entre a Cartagena de ontem e a Cartagena de hoje. Cartagena cresceu em terra firme, esparramada por uma península, com várias ilhas na sua ilharga. Antigo refúgio de negros, o monte foi tomado pelos frades agostinhos que, no século xvii, ali ergueram um convento em homenagem à Virgem padroeira da cidade, mas não tiveram vida fácil. Não até os militares descobrirem que daquele mesmo lugar poderiam também defender Cartagena. O divino acabou por falar mais alto e em 1961, depois de anos de abandono, passou de novo para as mãos dos agostinhos que o restauraram tal como o vemos hoje. Conquistar pelo estômago Sem ameaças à sua integridade física, Cartagena pôde dar largas a um dos maiores prazeres, o da boa mesa. Crioula que é, claro que a gastronomia de Cartagena (ou melhor, bolivarense) teria de fazer jus a essa mesma mestiçagem e também a vários outras condicionantes da sua geografia. Abunda o pescado e o marisco, os frutos tropicais, além dos fritos e da omnipresente mistura do doce (por vezes excessivamente doce) com o salgado. O que pode não ser para todos os estômagos. Pela manhã, a confiança na cozinha do hotel Quadrifolio fez que depressa passasse a integrar no meu pequeno-almoço uma potente arepa (massa de milho) com ovo, dispensando apenas a carne como é hábito local. Do mesmo modo não me fiz rogado a provar, na primeira Volta ao Mundo fevereiro 2013 noite em Cartagena, a incontornável posta cartagenera. Fi-lo embalado pelos ritmos e danças caribenhos que, voltam e meia, entretêm os comensais do Candé, um restaurante no centro histórico que consegue ser turístico sem cair no cliché, e não morri de amores – vale pelo seu interesse «antropológico», já que é feita a partir de um corte de carne que se chama punta de anca e leva na sua preparação um refrigerante adocicado de nome Kola Román e costuma vir acompanhada de arroz de coco. Devo dizer que fui bem mais feliz em El Santísimo, onde Federico Vega (conhecido pelo toque francês) me deu a provar a sua versão da bandeja cartagenera, servida em folha de bananeira, com lagostins, caranguejo, banana, arroz de coco e abacate – sendo que não resisti a abrir a refeição com várias croquetas e empanaditas de carne. Ou ainda no absolutamente incontornável La Vitrola. Tive ali o meu último almoço, horas antes de embarcar para Bogotá, e não poderia ter ficado com melhor recordação de Cartagena. Escolhido pela intelligentsia cartagineira, é, pela sua decoração colonial, uma espécie de enclave habanero na cidade, porque lembra em muitos aspetos a Velha Havana. Serviram-me o prato do dia, filete de corvina em tinta de choco, camarões e arroz de coco. Uma maravilha. Foi, contudo, Francisco Montoya, do elegante restau rante FM, o melhor anfitrião, pois além de me recomendar 95 ACHADO Os hotéis-boutique instalados em antigos casarões ganham merecido protagonismo em Cartagena, mas há achados como o da fotografia: um três estrelas de cuja piscina se vê a Plaza de los Coches e a baía. 96 CARTAGENA ESTEVE PARA SER UM DESTINO DE MASSAS, mas quis o destino, e uma reviravolta há muito esperada na Colômbia, que ganhasse um novo estatuto hip graças a famílias locais como os Santo Domingo e a figuras como os Clinton. a cazuela de marisco (cozinhada com leite de coco), ainda teve tempo para se sentar à mesa e falar um pouco sobre as particularidades da cozinha cartagineira. Fora dos restaurantes, e dependendo da curiosidade e do estômago de cada um, é provável que se deixe tentar pelo colorido das vendedoras de fruta. As palanqueras, como também são conhecidas, estão para Cartagena como as baianas estão para Salvador. Devidamente paramentadas, elas colocam-se nas esquinas do centro e não deixam que as fotografem sem a devida contribuição. Uma troca justa, ao fim das contas. Os sumos de tamarindo, de ananás ou de goiaba, entre muitos outros, são uma perdição à parte. Assim como os gelados da San Lorenzo, onde Bill Clinton se deixou fotografar a comer um – a mulher, Hillary, numa outra visita, não repetiu a proeza, mas fez as delícias dos paparazzi ao ser apanhada em flagrante a dançar, depois da meia-noite, ritmos cubanos no Cafe Havana. Ninguém pode acusá-la de não saberem divertir-se. Ao largo Como todas as cidades antigas, também Cartagena se viu perante a necessidade de crescer para lá da sua zona de conforto. E fê-lo, sobretudo a partir das décadas de 1980 e 1990, de olhos postos noutros exemplos. Não muito longe do núcleo histórico amuralhado, o setor turístico de Bocagrande é o caso mais flagrante. No extremo norte da península que se aventura Caribe Volta ao Mundo fevereiro 2013 adentro, Bocagrande, com o seu conjunto de arranha-céus, foi construída à imagem e semelhança de Miami e quem a avista do ar ou do mar quase acredita estar diante de uma ilusão ótica perfeita. Já de mais perto, com as suas quadras, condomínios de luxo (as famílias tradicionais concentram-se numa língua de terra, a sudeste, batizada de Castillo Grande, onde não se consegue uma casa por menos de dois mil dólares ao mês), restaurantes, comércio e discotecas lembra, em certos trechos, a Zona Sul do Rio de Janeiro. Mas é uma comparação que depressa cai por terra, pois embora o mar e as praias estejam, para muitos, à distância de atravessar a rua, não há calçadão, nem morros, nem corpos esbeltos, nem, tão-pouco, areia branca e águas cristalinas. E esta constatação pode ser uma dura desilusão para quem chega a Cartagena desavisado. Não me entendam mal: é inegável o seu charme colonial, mas, embora banhada pelo mar das Caraíbas (que se apresenta manso de março a novembro e revolto nos restantes três meses do ano), não possui nenhuma praia no seu perímetro urbano digna da viagem – só mesmo os turistas nacionais pensam assim, sendo eles os principais fregueses da «Miami colombiana». Quer isto então dizer que Cartagena, ao contrário do que é apregoado, não faz jus à sua condição de destino caribenho? Faz, claro que faz. Desde que isso não seja entendido – ou melhor, confundido – como sinónimo de praias de cartão-postal. Cartagena vale por muitas coisas, mas não pelas praias, o que não quer dizer que estas não existam. DENTRO E FORA As praias urbanas de Cartagena não convencem quem sonha com o Caribe; para isso há que rumar a ilhas como as del Rosario (em cima). Na cidade há mais o que fazer e ver, como o hotel de charme La Passion (à esquerda, em cima) ou o pôr do Sol no Café del Mar (à esquerda, em baixo). 99 100 CHARME Fazendo jus ao carisma colonial do centro histórico, existem atualmente vários endereços de charme nesse perímetro como o hotel Quadrifolio (na página ao lado, em cima, à direita) ou o restaurante FM (na página ao lado, em baixo, à esquerda). Existem, mas para lá chegar é preciso fazer-nos ao mar. Explico. As melhores praias de Cartagena ficam todas em ilhas situadas ao largo da cidade, variando a distância e o tempo que se leva para lá chegar. Mais perto, temos as ilhas de San Bernardo, um arquipélago de dez ilhas situado a sul, no golfo de Morrosquillo, que em parte são parque natural e que possuem como único contra o facto de, consoante a época do ano, poderem apresentar fortes correntes marítimas; e ainda, a preferida de muitos, ilha de Barú, a que pode aceder-se de carro (ferry) através do canal del Dique ou por via aquática atravessando a baía de Cartagena. As suas praias são de areia fina e clara, possui barreiras de coral, manguezais e um punhado jeitoso de hotéis. Mais longe, a cerca de noventa minutos de barco (45 se for de lancha, o que a torna um destino muito procurado para excursões de um dia), o arquipélago das Islas del Rosario que engloba cerca de 27 ilhas e ilhotas e, pelo seu extraordinário ecossistema, integra um parque marinho com uma extensão de 120 mil hectares. Na verdade, os que ali se deslocam apenas por uma jornada ficam-se quase sempre pela ilha principal, a Isla Grande, onde está a infraestrutura turística (numa outra, a San Martín de Pajares, fica um aquário com espetáculos de golfinhos). Não é o ideal, mas a Isla Grande reúne os três principais ecossistemas do arquipélago, a saber: lagos costeiros e interiores, manguezais e bosque tropical seco. Rodeada por uma banco de corais, a ilha presta-se a banhos e à prática de mergulho e de snorkeling. Arrisco acrescentar que, ainda assim, esse nunca será o forte de Cartagena. Não, pelo menos, quando comparada com outros destinos caribenhos que vivem de e para a praia. Cartagena é mais do que um destino de praia. É um destino cultural, histórico e de boa vida. E desta forma deve ser entendido. Quase na hora da despedida, com um sol inclemente a pino (razão pela qual a maioria dos passeios e excursões se deve realizar pela fresca, de manhã bem cedo ou quando a tarde já vai alta), vou de lancha até à ilha vizinha de Tierrabomba, perto da povoação pesqueira de Bocachica, para visitar um dos seus fortes mais bem preservados, o de San Fernando e a Bateria del Angel San Rafael. Com uma localização praticamente inexpugnável, este forte, em conjunto com o de San Jose, funcionou como prisão e como um baluarte de defesa. Não havia barco que escapasse ao seu apertado controlo. Hoje, sem piratas, os turistas são o alvo preferido. O assédio de antigos pescadores, na tentativa de vender alguma coisa, é forte, quase constrangedor. Mas Cartagena é assim mesmo. Intensa. Imperfeita. Exagerada. Temperamental. Para amá-la é preciso saber, de antemão, que não poderemos mudá-la. Até porque ela não saberia ser de outro jeito. n Volta ao Mundo fevereiro 2013 É AO LARGO DA CIDADE, a uma distância que varia mas nunca é excessiva, que encontramos arquipélagos como os de San Bernardo, Barú ou del Rosario. E ali sim, há praias dignas da imagem que se faz do Caribe. 101 MUITO COBIÇADA PELA SUA POSIÇÃO ESTRATÉGICA, Cartagena das Índias foi defendida com unhas e dentes pela Coroa espanhola, o que explica a cidade muralhada e fortes militares, mesmo ao largo, como o de San Fernando. 102 Volta ao Mundo fevereiro 2013 COMO IR À falta de ligações aéreas, até ver, entre Portugal e a Colômbia, a solução mais prática será voar até Bogotá, via Madrid, com a Iberia (iberia.pt) e a partir da capital colombiana apanhar um voo de 1h25 da Avianca para Cartagena das Índias (avianca.com). Devido às muitas horas de voo e à conciliação de horários, recomenda-se que preveja, pelo menos, uma pernoita na capital Bogotá. ONDE FICAR A oferta é variada, mas as nossas sugestões recaem em três hotéis-boutique, instalados em casarões e edifícios históricos do centro: Quadrifolio (hotelquadrifolio.com), La Passion (lapassionhotel. com) e Casa San Agustín (hotelcasasanagustin.com). Lorenzo Gelateria e no Portal de los Dulces (Plaza de los Coches), onde vendedoras expõem, entre arcos, bancas com cocadas, suspiros e guloseimas à base de doce de leite como muñecos de leche. ONDE COMPRAR Não deixe de conferir as lojas das ruas Santo Domingo e San Juan de Dios, no centro, ou ainda o artesanato à venda em Las Bóvedas, entre os fortes de Santa Clara e de Santa Catalina. A título de exemplo saiba que um chapéu panamá, muito apreciado por ali, custa em média dez euros. DOCUMENTOS NECESSÁRIOS Passaporte válido. FUSO HORÁRIO GMT -5 horas. MOEDA ONDE COMER A par de uma cozinha mais internacional, há que provar pelo menos parte da gastronomia local. Com mais ou menos fusão de sabores, recomendamos o típico Candé (restaurantecande. com), o tradicional La Cocina de Socorro (lacocinadesocorro), o afinado El Santísimo (elsantisimo.com), o refinado FM (Calle Segunda de Badillo, n.º 36-151) ou ainda o incontornável La Vitrola (Calle del Baloco, 33-01, Centro). Para matar o desejo de doces, não deixe de passar na San Volta ao Mundo fevereiro 2013 A título de referência, cinco mil pesos colombianos equivalem a cerca de dois euros. NA INTERNET cartagenadeindias.travel proexport.com.co AGRADECIMENTOS Proexport Colombia www.proexport.com.co 103