26/02/2014 - 05:00
Corretoras ampliam leques de produtos para
investidores
Por Beatriz Cutait e Luciana Seabra
O maior foco da disputa de plataformas no momento pode até estar concentrado na
XP e na Guide, mas são muitas as corretoras que têm diversificado o modelo de
atuação para poder sobreviver num mercado cada vez mais desafiador, de grande
concorrência e margens apertadas.
Além do investimento em tecnologia para oferecer produtos via internet e ampliar o
acesso da pessoa física, as empresas têm colocado na prateleira um número maior de
títulos de renda fixa à disposição do cliente, já que o desempenho do produto bolsa
nos últimos anos só tem desestimulado a demanda por esse mercado. "Um negócio
estruturado em torno do produto ações tende a ser mal sucedido", diz Jean Sigrist,
sócio da Guide Investimentos.
A situação das corretoras independentes ainda se agrava em momentos de crise,
quando o investidor tende a buscar aplicações em seus próprios bancos com a visão
de ter maior segurança em nomes conhecidos.
Um levantamento feito pelo Valor identificou que nove corretoras contam com
plataformas de fundos e dessas apenas uma não oferece títulos de renda fixa. Outras
três casas - Gradual, Planner e Spinelli - disseram estar em processo de
implementação da prateleira virtual. A maior oferta de fundos é da XP, com 400
opções na plataforma.
Além de contarem com estruturas menores que a corretora líder do mercado,
algumas casas dizem oferecer aos clientes um menor número de produtos por opção.
É o caso da Geração Futuro, que lançou sua prateleira em janeiro e conta hoje com
cerca de 20 produtos, como fundos, CDBs e LCIs, e pretende parar nos 40. "Não sou
entusiasta do hipermercado financeiro", diz o diretor da corretora Eduardo Moreira,
que considera que ter muitas opções pode ser, em alguns casos, pior ao investidor.
Essa avaliação leva em conta o peso da decisão do investidor, muitas vezes
despreparado para fazer a seleção de produtos em um universo muito amplo.
"Quando se vende muitos produtos é impossível acompanhá-los. A responsabilidade
recai sobre o investidor", diz Moreira, que bate na tecla da educação financeira e
defende uma melhor seleção de produtos na prateleira, o que significa ter uma
quantidade de fundos compatível com a capacidade de administração da corretora.
E pela ótica financeira, uma saída da Geração para elevar a rentabilidade do negócio
foi oferecer principalmente produtos de gestão própria, o que torna as margens mais
folgadas.
Em busca de inovação, a corretora lançou neste mês um clube de benefícios na
plataforma, em que os investidores que são empresários podem oferecer produtos e
serviços, como de um restaurante ou lavanderia, com algum tipo de desconto para
outros aplicadores da corretora. A rede de relacionamento nasceu com ofertas de
cem clientes.
A distribuidora de fundos Órama também é contrária ao formato de supermercado
de produtos financeiros. "Somos uma butique", diz o diretor-presidente Guilherme
Horn. Do lançamento, em agosto de 2011, até agora, a prateleira foi ampliada de 15
para 24 fundos. E em janeiro deste ano incluiu títulos privados na oferta.
A Vérios, agente autônomo, aposta na oferta de informação para atrair o
cliente para seu site, o Comparação de Fundos. A ferramenta permite
ver, lado a lado, o histórico de rentabilidade e patrimônio dos fundos
existentes no mercado. Para o cliente que se cadastra, está disponível
uma plataforma com 80 fundos selecionados, oferecidos por meio de
parcerias com as gestoras. Hoje a plataforma tem 200 clientes, com
patrimônio médio de R$ 300 mil. O plano para os próximos dois a três
anos é se transformar em distribuidora, segundo Daniel Ávila, diretor e
sócio-fundador da Vérios.
A Vérios prepara-se para incluir em um mês LCIs e LCAs na plataforma.
Também está em curso um contrato com uma corretora para que o
cliente possa comprar e vender ações. "Queremos ser uma alternativa à
plataforma fechada do varejo de alta renda e ao sistema extremamente
pessoal e subjetivo dos family offices", afirma Ávila.
Em momentos difíceis de mercado, abrir mão do olho a olho não é trivial. A More
Invest, criada em fevereiro de 2012 com o objetivo de montar uma plataforma de
fundos de fundos focado no investidor de R$ 2 milhões a R$ 5 milhões, virou o curso
no meio do ano passado para um modelo mais próximo do de gestor de patrimônio.
"As plataformas são boas para atingir uma massa maior de pessoas, mas na hora de
explicar o que está acontecendo, você não consegue fazer isso por meio eletrônico.
Tem que ter consultoria acoplada", diz Carlo Moratelli, diretor de investimentos da
More, com R$ 800 milhões sob gestão. Em meados do ano passado, quando
considerou que era necessário reduzir o risco para os clientes, Moratelli firmou
parcerias para oferecer produtos de renda fixa como LCAs.
http://www.valor.com.br/financas/3443720/corretoras-ampliam-leques-de-produtos-para-investidores
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