ALINE ARANDA
-
Campo Grande-MS | Outubro de 2008 | Ano XI | Edição 79
RICARDO CAVALHEIRO
Entrevista • Página 15
“Brasil será o berço da humanidade”
Juiz Dorival Moreira dos Santos
BRAZ ANTONIO DE MELO
Economia
• Página 05
Crescem
redes de
comércio
E
m busca do melhor
preço, consumidores de Campo Grande
passam a contar, cada
vez mais, com a concorrência e a “guerra
de valores” entre as redes de hipermercados
e os comércios de pequeno porte das periferias. Em Aquidauana, a
novidade é o Shopping
Barrakech.
Cana-de-açúcar, apontada como solução econômica, pode gerar problemas como a mão-de-obra barata
Etanol a que preço?
GISELLE RIBEIRO
STF analisa necessidade
de diploma para exercer
profissão de jornalista
PÁGINA 2
WAGNER JEAN
RAUSTER CAMPITELI
Em meio a dejetos,
histórias humanas
O
lixão de Campo Grande não abriga apenas o lixo
que jogamos fora diariamente, mas também é o
local onde cerca de 300 pessoas se revezam, constantemente, para conseguir o sustento de suas famílias.
A presença humana não se faz apenas como mão-deobra. Nesse espaço, várias histórias de vida se cruzam todos os dias.
PÁGINA 13
CIDADES
POLÍTICA
A mesma
praça...
A
s praças públicas de
Camapuã, Sidrolândia
e Terenos, ainda guardam o
charme da paz do interior,
mas, em alguns casos, o número de freqüentadores diminuiu.
PÁGINA 4
Bastidores: Doping parece solução,
alma das
mas pode virar pesadelo
campanhas D
eleitorais
PÁGINA 3
oping, a utilização de qualquer substância ilegal que
beneficia o desempenho de atletas profissionais, é o
centro de grande polêmica no mundo dos esportes. A longo prazo, o uso dessas substâncias pode acarretar em vários efeitos colaterais para a saúde do esportista.
PÁGINA 8
Saraus abrem espaço
para liberdade musical
A
realização dos saraus, em Campo Grande, está bem
diversificada quanto aos artistas que se apresentam
nesses eventos. Em sua maioria, o público-alvo são os
acadêmicos, que buscam, nestes locais, descobrir novos
artistas da área musical e demais manifestações artísticas. Porém, não é só a música que tem espaço garantido.
Projetos sociais também são desenvolvidos e colocados
em prática.
PÁGINA 9
EVELYN IBRAHIM
Ciência & Tecnologia • Página 10
Computador em promoção é mesmo um bom negócio?
Adquirir tecnologias em liquidações nem sempre é sinônimo de uma compra satisfatória para o consumidor
02
Unifolha
OPINIÃO
CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008
EDITORIAL
Diploma em
questionamento
R
ecurso Extraordinário (RE/511961), que está na pauta no Supremo Tribunal Federal (STF) para ser julgado neste semestre, questiona a exigência
do diploma de jornalismo como condição essencial para exercer a profissão. Se os ministros concordarem com esta leitura, qualquer pessoa, em tese,
mesmo as que têm apenas o ensino fundamental ou até analfabetos, poderão
requerer o direito de se tornarem jornalistas.
Pesquisa da CNT/Sensus divulgada em setembro, em Brasília, ouvindo 2 mil
entrevistados em 136 municípios brasileiros, constatou que 74,3% dos consultados se declaram a favor do diploma e 13,9% contrários, sendo que 11,7% não
souberam ou não responderam.
Esta consulta pública comprova que a sociedade defende o jornalista formado
como o profissional responsável pela mediação das verdades. E essa especificidade não afeta a liberdade de expressão, como muitos querem dar a entender, já
que, atualmente, qualquer pessoa pode atuar como colaboradora de um jornal ou
mesmo rádio e televisão, contanto que tenha espaço e escreva artigos de opinião.
A reportagem, o equilíbrio das verdades, é uma função jornalística que exige formação ética, consolidada pelas universidades.
Tudo começou em outubro de 2001, quando a juíza substituta da 16ª Vara Cível da Justiça Federal de São Paulo, Carla Rister, suspendeu obrigatoriedade do
diploma universitário. Ela atendeu ação cível pública movida pelo procurador da
República André de Carvalho Ramos, gerada por veículos de comunicação ligados ao sindicato patronal de São Paulo.
É claro que o diploma universitário de jornalismo não é garantia de que a sociedade está recebendo um profissional ético apenas por ter passado pelos bancos
escolares do ensino superior. No entanto, é uma segurança para a população, que
terá quem cobrar, já que esta pessoa passou por uma formação.
Outra luta é a da criação de um Conselho de Comunicação Social para servir
de mediador entre os profissionais da imprensa e o seu público. Sem estas medidas, a sociedade corre o perigo de ver ameaçado o seu direito de ser informada
com correção e ética.
Desafiando
os gigantes
LEONARDO MACBETH
LETÍCIA WINCLER
4º SEMESTRE
A
credite se quiser, mas há jornalistas entre nós que são contra
a obrigatoriedade do diploma
para o exercício da atividade profissional. Assim como tem gente a favor das
drogas e do desmatamento, há gosto para
tudo. O diploma tem 39 anos de regulamentação, oficializada durante a ditadura
militar, pelo Decreto-Lei 972, de 1969. E,
pasmem, já naquele época, houve a sensibilidade de perceber o quão importante
é o equilíbrio social pelo qual o jornalista
é um dos responsáveis.
Hoje, instala-se o embate, que se apóia
na fantasiosa idéia de que o produto jornalístico pode ser feito por qualquer um.
É fácil compreender porque as pessoas
normalmente pensam dessa maneira. Vamos por parte: em relação aos patrões,
é meio óbvio, pois o jornalista que tem
nível superior terá, obrigatoriamente, de
ser melhor remunerado.
E, aí, existem os patrões, que parecem,
em muitos casos, viver na era das cavernas e não compreender a moderna maneira de gerir uma empresa, valorizando
o funcionário e proporcionando melhores
condições de vida, salários dignos e uma
possibilidade de trabalho mais humano.
Há, ainda, uma questão corporativista. Alguns donos de grandes veículos de
CHARGE
comunicação têm, geralmente, um amigo que é escritor de artigos e quer esse
companheiro trabalhando na redação.
Aliás, o questionamento a respeito do diploma nasceu um pouco disso. Começou
na “Folha de São Paulo”, que - defende a
não-exigência, inclusive, em editoriais.
E ingressaram com a ação civil pública contra o documento. Tudo por causa
de um embate entre o jornal paulista e
o Sindicato de Jornalistas Profissionais
de São Paulo, com relação à proibição de
contratação de jornalistas não-formados.
Vários profissionais não defendem o
diploma, talvez, querendo aparecer, mostrar que estão “antenados” com o pensamento do empresariado. Porém, estes
caros colegas não conseguem perceber
que estão sendo usados como massa de
manobra pelas famílias midiáticas que,
sob um argumento também muito inteligente, gritam em alto e bom som: “A profissão jornalística não reclama conhecimento especifico para seu exercício”.
É por isso que os cidadãos deste país,
jornalistas ou não, devem se unir, resistir a mais este engodo, que pretende destruir a prestação de um serviço público
de suma importância para a sociedade.
Na resistência e mobilização, em breve,
adentraremos às ruas de Brasília, com a
vitória no peito e o diploma nas mãos.
FERNANDO PACHECO
A caminho
da liderança
GABRIEL NERIS
4º SEMESTRE
No momento em que se discute no Supremo Tribunal Federal a manutenção do diploma de jornalista, a profissão se valoriza com
grandes investimentos das maiores redes de
televisão. Em Mato Grosso do Sul, não é diferente. Na tentativa de se tornar líder de audiência no estado, a Rede MS de Televisão
aparece com uma nova alternativa de jornalismo, traçando os planos da Rede Record.
O embate entre TV Morena e TV MS, filiais
de Globo e Record, respectivamente, começou
no lançamento de nomes importantes do jornalismo sul-mato-grossense por parte da retransmissora da televisão de Edir Macedo, como
Carmen Cestari, Osmar Bastos e Valéria Leite.
Nomes que fizeram da Morena excelência em
comunicação.
Muito se espera com essas investidas. Criase a expectativa diante de mais uma opção
de jornalismo praticado aqui no estado. Outro fator importante: abre-se o mercado, um
tanto saturado pela falta de espaço, para os
profissionais da área e para aqueles que estão por vir. Porém, ainda estamos de mãos
atadas diante da vontade das empresas de
comunicação. Ao menos, quando se fala de
televisão.
Não é fácil manter uma rede com grandes
profissionais. Por isso, mesmo jornais impressos, sites e emissoras de rádio ainda servem como
área de escape para o profissional da comunicação. Com o poder público instalado em Campo
Grande, a política toma parte dos noticiários televisivos. Além da agropecuária, que é a fonte de
renda de Mato Grosso do Sul. Ainda é pouco. E
não pense que a capital será privilegiada. Nessa
toada, o interior do estado também ganha. E muito. São bem-vindas informações de cidades como
Corumbá, Dourados e Três Lagoas.
Na era da Internet, a notícia se torna inimiga
do jornalista se não for bem apurada. É exatamente neste momento que se diz que a pressa é
inimiga da perfeição. Na ânsia do furo jornalístico, ou até mesmo na tentativa de uma emissora
chegar antes da concorrente na veiculação da
notícia, é que se pode prejudicar a qualidade da
informação.
A pressão faz com que a notícia não tenha
uma apuração adequada e perca seu valor.
Essa mesma pressão é que coloca em xeque a
qualidade do nosso jornalismo. Com o horário parecido, os telejornais entram no ar com
o intuito de “furar” seu oponente. Entretanto,
com a obrigação de uma cobertura mais ampla do que acontece na cidade.
Estratégias à parte, a TV MS confunde a
cabeça do telespectador com nomes de capacidade e conhecidos por já terem passado na
emissora a ser “batida”. Caberá à TV Morena
explorar sua capacidade técnica e estrutural,
que lhe é fornecida pela emissora carioca. Diferentemente da TV MS, que pecava, até há
pouco tempo, pela falta de estrutura técnica,
tanto interna quanto externa. Com o investimento da emissora nacional para mostrar um
jornalismo de qualidade, a TV MS promete
entrar na briga pela audiência.
Tecnologia também atrapalha
VICENZZO VICCHIATTI
4º SEMESTRE
E
m tempos cada vez mais tecnológicos, a inclusão digital,
tendo como grande ferramenta
a internet avança em Mato Grosso do
Sul e em todo o país. Mas, ao mesmo
tempo em que a inclusão digital faz
com que a população do país fique
por dentro dessa nova era, acaba levando alguns meios de comunicação
a serem deixados de lado de certa forma, como por exemplo, o jornal impresso.
Este vem sendo preterido nas vendas, pelo fato das notícias estarem cada vez mais “frescas” na Internet, e,
também, pela preferência dos leitores
por certos assuntos. O que acaba sendo uma “faca de dois gumes”, pois,
com esse interesse do leitor por um
Diretor de Controle Acadêmico: Professor José Luiz Ramirez
Coordenador do curso de Jornalismo:
Professor Marcos Rezende Morandi DRT/MS 067
Unifolha – Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo da Universidade para o
Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp)
Ano XI - Nº 79- outubro de 2008 - Tiragem 5 mil exemplares.
Obs.: As matérias publicadas neste veículo de comunicação foram produzidas
pelos acadêmicos do 4ª semestre do curso de Jornalismo da Uniderp (N 40) e não
representam, necessariamente, o pensamento da instituição.
Reitora: Professora Ana Maria Costa de Sousa
Vice-Reitor: Professor Guilherme Marback Neto
Pró-Reitor Administrativo: Marcos Lima Verde Guimarães Jr.
Pró-Reitora de Graduação: Professora Heloisa Gianotti Pereira
Pró-Reitor de Extensão: Professor Ivo Arcângelo V. Busato
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Professor Raimundo Martins Filho
Chanceller: Professor Pedro Chaves dos Santos Filho
Jornalista responsável: Professor Alexandre Maciel (DRT/MS 162).
Editores: Opinião: Vicenzzo Vicchiatti; Política: Anahi Zurutuza; Cidades: Fabiana
Faustino; Economia: Thayana Freitas; Educação: Guilherme Teló; Segurança: Luis
Coppola; Esporte: Bruno Chaves; Cultura: Will Soares; Ciências & Tecnologia:
Evelyn Ibrahim; Saúde: Maria Cecília Barros; Rural: Rosália Prata; Meio Ambiente:
Isabela Ferreira; Entrevista: Daniela Damazio; Comportamento: Bruna Nasser
Revisão: Professor Mário Márcio Cabreira (DRT/MS 109)
Edição de fotos: Professora Elis Regina Nogueira (DRT/MS 090)
Projeto Gráfico, Diagramação e Tratamento de Imagens:
Professor Carlos Kuntzel DRT/MS 041
Estagiário de Diagramação: Acadêmico Wagner Jean
determinado assunto, ele não compra
mais o jornal e não fica inteirado de
todas as notícias.
A compra do jornal impresso “força” o leitor, de certa forma, a ler boa
parte do conteúdo diversificado, organizado. Já na Internet, o internauta
busca o assunto de sua preferência.
Com certeza, a tecnologia auxilia
bastante a vida dos jornalistas. Mas,
ao mesmo tempo em que ajuda, ela faz
com que o profissional acabe levando
trabalho para casa e, desta maneira,
não tem o seu momento de descanso.
Pesquisas apontam que, ao deslocar
o seu ambiente de ofício, o jornalista
se torna um profissional estressado, o
que pode ocasionar-lhe certa desatenção durante a dedicação profissional
em casa.
Projeto Gráfico 2005: Ana Paula Novaes - Andréa Roselle - Brasleif Adriano
- Cândida Piesanti - Edilaine Maira - Élika Gonçalves - Emídio Denardi - Evllyn
Rabelo - Flaviane Bueno - Gildo Araújo - Gizelli Xavier - Isabel Rodríguez - Janiel
Chaves - Jucyllene da Silva Castilho - Juliano Salles - Laila Carriel - Marco Aurélio
Ribeiro - Mariana Conte - Mário Daude - Marithê Cogo - Michelly de Alencar - Natália Souza - Paulo Donato - Pedrina Gomes - Priscila Evaristo Teixeira - Renato
Lima - Reneide Casagrande - Rodrigo Gordin - Simone Prieto - Thiago Ferreira
- Viviane Cunha - Viviany Gomes - Yvelaine Isabela e professor Carlos Kuntzel
Criação da logomarca do caderno Cenário: Élton Tamiozzo, Ducely Reis, Franciele Caldart, Maurício Picarelli Jr, Nirley Peterossi Jr. e José Cabad. (Acadêmicos
de Publicidade e Propaganda)
Impressão: Gráfica A Crítica
Unifolha - Rua Ceará, 333, bairro Miguel Couto, Campo Grande-MS. Cep: 79.003-010
– Tel: (067) 3348-8096. www.unifolha.com.br E-mail: [email protected]
Unifolha
CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008
POLÍTICA
03
BASTIDORES - CAMPANHA
Periodicamente, a cada dois anos, surgem novos profissionais no mercado
Produção
Cabo eleitoral: a
profissão do biênio
Muito mais
do que “luz,
câmera e ação”
LUCAS JUNOT
Cabos eleitorais caminham pelas ruas de Campo Grande de sol a sol na busca incessante de votos para o candidato para o qual trabalham
Anahi Zurutuza
Lucas Junot
Karla Lyara
Charline Prestes
Odil Santana
4º Semestre
É de dois em dois anos,
por cerca de 90 dias, que
aparece um novo profissional no mercado de trabalho.
Mas, o popular cabo eleitoral
desaparece tão repentinamente como surgiu. Alguns
são voluntários e trabalham
em defesa de sua própria
ideologia, que enxergam representada no seu candidato.
Outros encaram como uma
oportunidade de complementar a renda da família.
Maria Auxiliadora, 34
anos, era profissional autônoma e viu na campanha
eleitoral a chance de, pela
primeira vez, lutar por seus
ideais. “Eu gosto do meu
candidato. Estou trabalhando, porque quero que ele seja
eleito”. Maria conta que não
está sendo remunerada e que
faz um trabalho de “formiguinha”, conquistando voto a
voto, de seus familiares, vizinhos e amigos.
Conforme apontado por
Maria, o primeiro compromisso do cabo eleitoral é conquistar o voto da sua própria
família. É a partir daí, que
ocorre “o milagre da multiplicação”.
Funciona, matematicamente,
como uma progressão geométrica. Os votos se multiplicam
a cada contato, a cada pessoa.
Depois de convencer os entes
mais próximos, o cabo tem de
ir rumo à sua comunidade.
“Se você não consegue ganhar
o voto do seu marido, que dirá
o do desconhecido”. A batalha
se tornava mais árdua, a ten-
são crescia a cada dia que se
aproximava o decisivo 5 de
outubro.
Já Vânia de Oliveira, dona
de casa de 21 anos, teve a indicação de um vizinho para
começar a trabalhar no pleito. “Encontrei uma alternativa de ajudar meu marido nas
despesas da casa”. A dona de
casa revelou que ganhou R$
50 a cada 15 dias, para trabalhar por quatro horas diárias.
Para ela, a quantia foi mais
que suficiente. “Esse trabalho não atrapalhou a minha
rotina. Pude continuar fazendo o almoço, levando meus
filhos na escola e cuidando
da minha casa”.
CAPILÉ
Coordenador de campanha contou, em entrevista
ao Unifolha, que, além do
tradicional cabo eleitoral,
existe, também, na empreitada da busca pelos votos,
um outro “prestador de serviços”: o capilé. Uma pessoa
contratada 20 dias antes da
campanha, que tem a missão
de fazer uma reunião entre
o candidato e 30 eleitores
– com seus respectivos números de títulos e assinaturas – para persuadir sobre o
destino de seu voto. “O capilé é um cargo que não chega
ao conhecimento da mídia,
tampouco da população”,
destaca o coordenador.
Desde que ocorreram as
primeiras eleições diretas
do Brasil, em 1989, este é
o período, ansiosamente, esperado pelos eleitores e trabalhadores das campanhas.
Para realizar sonhos, ou,
simplesmente, renovar as esperanças na conquista de um
futuro melhor.
Anahi Zurutuza
Lucas Junot
Karla Lyara
Charline Prestes
Odil Santana
4º Semestre
Toda campanha política
torna-se famosa por seus
programas eleitorais, apresentados na TV e no rádio.
No entanto, quem vê o programa sendo exibido, não
tem idéia do caminho percorrido e toda a produção
que este processo compreende.
Em época de eleição, cada candidato contrata uma
produtora, com uma equipe de profissionais, que irá
trabalhar, incansavelmente,
para ganhar o voto do eleitor. “Luz, câmera, ação!”.
Ecoa a voz do diretor, analisando cada componente
da cena.
A missão do cinegrafista é captar as imagens de
maneira clara e objetiva,
de acordo com o conteúdo
proposto pelo diretor. O
maquinista é responsável
por toda a movimentação
existente na imagem, operando, por exemplo, a grua
– estrutura metálica que
suporta o cinegrafista e o
eleva - oferecendo possibilidades de movimento na
imagem.
O diretor de fotografia
escolhe, junto ao diretor
de cena, o posicionamento
das luzes desejadas para
compor cada cena. É responsável por todo efeito
de sombras e detalhes. O
diretor de cena responde
pelo posicionamento e alinhamento dos componentes do quadro com os conceitos da campanha, bem
como pela unidade estética
e visual.
Ao lado do editor de imagens, o de texto seleciona
os melhores trechos de uma
fala para casar texto e imagem, além de orientar o repórter sobre como conduzir
uma matéria ou entrevista.
Tudo pronto, é hora de
divulgar os programas. No
Brasil, a exibição nos meios
de comunicação é obrigatória e gratuita, o que não
isenta de responsabilidades
os profissionais e donos de
mídias. Pelo contrário, uma
falha na veiculação destes
materiais pode gerar multa,
suspensão da programação
e, até mesmo, prisão dos
responsáveis.
Em todas as campanhas,
o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de cada município indica um juiz que
nomeia dois assessores técnicos (um que trabalha em
rádio e outro em televisão)
para dar suporte (fiscalizar)
os respectivos meios.
Antes que comece a caça ao voto, o TRE faz uma
reunião com os candidatos
e outra com representantes
dos partidos, produtoras,
Departamento de Operações Comerciais (OPECs) e
gerentes operacionais, para
definir algumas regras, como a relação de nomes das
pessoas autorizadas a entregar e receber fitas; prazo de entrega; número de
inserções; ordem e tempo
que cada coligação ou candidato terá diariamente e o
horário reservado em determinado período entre às 7
e 23 horas, para se promover. A reunião determina,
também, a seqüência, por
meio de um sorteio.
A distribuição nos intervalos da programação é feita,
rigorosamente, pela OPEC
de cada emissora. Nesta reunião, ficam acertadas quais
serão as “cabeças de rede”
(emissoras que transmitem o
sinal do horário político para
as demais). A cada dois anos,
um grande número de profissionais – do cinegrafista ao
advogado – é mobilizado para representar essa trama.
“Nenhuma campanha é
igual à outra”. Essa frase tão
falada, retrata talvez o perfil
cada vez mais criterioso de
quem vota. Diante desta mudança de comportamento,
não cabe mais espaço para
o puro e simples “vote em
mim”. Agora, o eleitor pode
assistir aos programas, em
vez de desligar o televisor
LUCAS JUNOT
Qualidade norteia pesquisas
Anahi Zurutuza
Lucas Junot
Karla Lyara
Charline Prestes
Odil Santana
4º Semestre
É a partir dela que os candidatos descobrem o “calcanhar de Aquiles”, tanto seu
quanto o dos seus oponentes. Ela faz parte dos bastidores das campanhas eleitorais
e é pouco conhecida pelo
público. A pesquisa qualitativa é utilizada para obter
respostas mais aprofundadas
sobre determinado assunto.
Como já é possível concluir
pelo nome, por meio dela,
não se consegue detectar
números, apenas opiniões, o
que a diferencia da pesquisa
quantitativa.
Definido o tema a ser pesquisado, tem início a árdua
tarefa do recrutamento dos
participantes da chamada Discussão de Grupo (DG). O debate é organizado em uma sala
onde se encontram apenas os
participantes e o condutor da
DG. Há, ainda, um psicólogo
contratado, com vasta experiência, o qual é responsável
pela elaboração das perguntas
dirigidas aos entrevistados e
análise posterior das respostas
concedidas.
A gerente de análise de
uma empresa que organiza
pesquisas qualitativas, Renata Siqueira, explica que
a escolha do local da DG é
proposital, justamente, para
que os participantes não fiquem inibidos ou constrangidos para responderem as
perguntas. E o cliente, o contratante da pesquisa, assiste
a todo o processo do lado de
fora da sala espelho.
“Justamente, por uma
questão de ética e responsabilidade, os contratantes
não têm nenhuma informação pessoal, como nome,
telefone, endereço, sobre os
componentes da entrevista”,
destaca Renata. Ainda, conforme a gerente, os entrevistados não podem ter participado de amostra qualitativa
alguma no último ano. “Pois
isso pode comprometer o resultado da pesquisa”.
Renata também lembra
que, normalmente, quando o
assunto é política, a faixa etária da DG é divida entre 16 a
24 e 25 a 34 anos. Os grupos
de discussão são geralmente
compostos de 8 a 12 pessoas.
“O perfil dos entrevistados
também é pré-estabelecido
pelo psicólogo. Para cada
temática de pesquisa, existe
um tipo de participante”.
A pesquisa qualitativa
não é barata. Envolve custos como a contratação dos
profissionais para elaborá-la
e dos chamados recrutadores – profissional contratado
para encontrar “na rua” as
pessoas com o perfil exigido
para participar da DG. Além
do pagamento de bonificação
e distribuição dos brindes aos
participantes, coffe break e
aluguel do local “isento” onde será realizada a entrevista. Por isso, é um privilegio
de poucos. Não são todas as
campanhas que conseguem
pagar para ter nas mãos as estratégias que poderão adotar a
partir dali. Contudo, a gerente
explica que as pesquisas são
muito utilizadas por empresas que querem aprimorar suas estratégias de marketing.
Programa eleitoral é trabalho minucioso que envolve diversos profissionais
04
Unifolha
CIDADES
CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008
Camapuã é uma cidade que, apesar de nova, possui várias histórias do período das Rotas das Monções
Encontros em praças são mais raros
FABIANA FAUSTINO
CARINA BAGGIO
4º SEMESTRE
“Hoje eu acordei com saudades de você/ beijei aquela
foto que você me ofertou/
sentei naquele banco da pracinha só porque/ foi lá que
começou o nosso amor”.
Esse trecho da música de
Carlos Imperial deveria fazer parte das lembranças de
muitas pessoas que moram
no interior. Afinal, a praça é
um dos lugares mais visitados pelos amigos e namorados, certo? Errado.
A praça Ernesto Sólon
Borges, localizada em Camapuã, deixou de ser ponto
de encontro dos moradores,
há alguns anos. Recebe esse nome em homenagem ao
primeiro prefeito eleito da
cidade.
Camapuã é um município
do interior de Mato Grosso
do Sul que fica a 143 quilômetros da capital. Seu nome
é de origem indígena, tupiguarani, significando “seios
erguidos” e é conhecida como “Princesa do Vale”, já
que se localiza entre morros
e serras.
Bonita, florida, bem arejada, com espaço organizado e muito bem planejado,
a praça conta a história do
município em quase toda a
sua extensão. “Ela é cheia de
simbolismo”, afirma a professora e historiadora Vanuza Ribeiro.
Declarações
As obras que estão esculpidas nas paredes pelos
artistas da terra estampam
a história da Rota das Monções. “É um ótimo local para
aprender um pouco sobre a
história do nosso país. Acho
que todos deveriam conhecer essa praça”, recomenda
o estudante de jornalismo,
Flávio Oliver.
Um espaço como esse é
considerado importante para a população, já que é reservado para o bem-estar
e lazer de todos. Amigos,
conversas, paqueras e rodas
de violão. Atividades que,
normalmente, os jovens praticam em praças, não são
mais tradicionais em Camapuã.
“A praça está longe dos comércios alimentícios, longe
das igrejas, e Camapuã não é
cidade turística. Os lugares
em que são bem movimentadas estão perto de ponto
alimentício ou de igrejas,
porque as pessoas saem e
vão para lá. No nosso caso,
não tem nenhum dos dois”,
argumenta Vanuza, com certo ar de lamentação.
Na maioria das vezes, a
praça é freqüentada por babás que levam suas crianças
para se divertirem no parque. Ou, raras vezes, por algum grupo de jovens procurando sossego e solidão. “A
gente vem aqui quando quer
conversar sem ter ninguém
por perto, porque, aqui, quase não vem ninguém”, diz
Guilherme, um jovem de 15
anos que se encontrava com
um pequeno e único grupo
em um domingo à tarde.
FABIANA FAUSTINO
Praça Ernesto Sólon Borges guarda consigo toda história de um município interiorano e raramente recebe a visita dos moradores da cidade
Renascimento
Por um período, a pracinha ficou quase desativada
e, somente, em 2002, houve
uma revitalização. “Talvez,
quando ela ficou fechada
ao público, as pessoas que
freqüentavam perderam o
hábito e encontraram outro
ponto. E, mesmo depois de
reformada, não voltaram
pra lá”, explica Vanuza.
“Por aqui, passa muita
gente. Mas só passa para cortar caminho. Quase
não para ninguém”, expli-
ca o vigia Marcio Pereira,
que se encontra estrategicamente em uma esquina.
O real motivo pelo qual as
pessoas da cidade deixaram de freqüentar a praça
é uma pergunta que ainda
não tem resposta. E o sen-
timento que fica é de tristeza, porque, mesmo que
permaneça... “a mesma
praça, o mesmo banco, as
mesmas flores, o mesmo
jardim. Tudo é igual, mas
estou triste porque não tenho você perto de mim”.
TERENOS
Diversidade atrai pessoas de todas as idades
BRUNO NASCIMENTO
Praça municipal é ponto de encontro e diversão para diferentes tipos de atividades nos finais de semana
ALINE CIQUEIRA
BRUNO NASCIMENTO
4º SEMESTRE
Chegamos a Terenos, em
uma tarde de sábado, em
que fazia muito frio. Clima atípico nessa região, já
que, em boa parte do ano,
ali, faz muito calor. Ao chegarmos à praça do Demétri,
que se localiza no centro de
Terenos, observamos que
se trata de um local bem
aconchegante.
Pudemos sentir, na hora,
o ambiente interiorano, uma
calmaria que quase não se
vê nas grandes cidades.
A praça é o principal
ponto de encontro das pessoas que moram no município, tornando-se um refúgio para quem quer sair
da mesmice. O local é de-
mocrático, agrega todas as
idades, para diversos tipos
de atividades. Jovens como
Willian Alves, de 15 anos,
que vai à praça tomar tereré aos finais de semana
e estudar com amigos no
meio da semana.
Willian ressalta que muitos jovens saem de Campo
Grande, de bicicleta, para
visitar a praça em Terenos.
As crianças tomam conta do
lugar. Gabriel Lopes, de 10
anos é visitante assíduo, anda de bicicleta quase todos
os dias e diz adorar a praça.
Luiz Gonçalves, 55 anos, vai
com seu carro e gosta de ligar o som bem alto e dançar
com seus amigos. Outro hobby é jogar dominó até altas
horas da noite.
Em um dos bancos da praça, avistamos um grupo muito
animado de jovens tomando
chimarrão. Para nossa surpresa, descobrimos que eram
gaúchos. Grande parte são universitários que vieram fazer o
concurso da Polícia Rodoviária
Federal (PRF). Muitos deles estavam, pela primeira vez, no
estado. Em um clima descontraído, tomamos chimarrão ao
som da “Bandinha”, estilo de
música do tipo sertanejo, ou
melhor dizendo, música “gauchesca”, segundo eles.
Temos a impressão que o
tempo no interior demora a
passar, mas a tranqüilidade
nos faz lembrar que temos
de ir embora. A conclusão
que se pode tirar é que as
praças vão continuar por
muito tempo sendo um
centro de convivência a céu
aberto, para todos, independentemente do lugar.
SIDROLÂNDIA
Ponto de encontro mal conservado afasta população
ERNANDES BAZZANO
4° SEMESTRE
Sidrolândia, situada a
60 quilômetros de Campo
Grande, mesmo sendo o
município que mais cresceu
nos últimos anos, no estado,
segundo dados do IBGE, ainda possui o jeitinho de cidade do interior. Os munícipes
estão em transição entre a
forma carinhosa e aconchegante das pessoas das pequenas cidades, e a rapidez,
arrogância e a vida corrida
de uma metrópole.
Igreja, praça, a estação de
trem, flores e árvores por
todo lado, jovens e idosos
apreciando o famoso te-
reré nas tardes quentes de
inverno. Profissionais e desempregados se reúnem na
praça, para conversar sobre
o dia-a-dia. Respeitam etnias
e idéias do próximo, pois sabem que, nos dias seguintes,
se encontrarão novamente.
A praça foi revitalizada
entre 1999 e 2000, pelo engenheiro Walmir Pavon. Está
situada no centro da cidade
e, ao seu redor, existem bancos, livrarias, lojas de roupas,
móveis, farmácia e até uma
funerária. Logo, tudo que é
preciso se encontra nessa região da cidade. Uma lanchonete está, há muitos anos,
nos mapas turísticos; fica ao
lado da praça. Todos que uti-
lizam essa rota se alimentam
e deparam com uma beleza
sem igual do lugar.
Alcênio Henrel possui um
ponto de lotação há mais de
20 anos, ao redor da praça.
“A grama, os banheiros sanitários e os bancos de assento
estão mal cuidados. O que
deveria ser os olhos dos turistas acaba se transformando
em decepção visual”. Tayná
Toniazzo também tem opinião semelhante. “A praça
ainda é o ponto de encontro
de todos. Mas, se as pessoas
que trabalham ali não progredirem em relação à limpeza,
o que vemos hoje não será
mais contemplado pelos nossos filhos e netos”.
ERNANDES BAZZANO
Sidrolandenses criticam a falta de limpeza na praça, porém não deixam de frequentar o espaço
Unifolha
CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008
ECONOMIA
05
OFERTAS - EXPANSÃO
BRUNO CASTRO
Redes supermercadistas
causam impacto social
RICARDO CAVALHEIRO
4º SEMESTRE
Com a concorrência dos novos hipermercados, consumidor tem mais opções de escolha e qualidade na compra
Procura pelo melhor
preço é a atitude ideal
DIANNA MALVES
DIOGO RIBEIRO
4º SEMESTRE
Os consumidores de Campo Grande vivem um grande dilema: procurar sempre
o menor preço, pesquisando desde o supermercado
de bairro, até os hipermercados que começam a chegar à cidade. Com a crise
que o Brasil vem sofrendo,
e o aumento do valor dos
alimentos que constituem
a cesta básica, essa ação se
tornou uma meta.
Dados fornecidos pelo
Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômicas e Sociais
(Nepes), coordenado pelo
professor Celso Correia de
Souza, indicam que os alimentos básicos vêm tendo
reajustes ao longo do ano
de 2008. É o caso do arroz,
que, em março, apresentou
um aumento de 8,01%.
Indagado se a baixa recente do preço de muitos alimentos, como o arroz, o feijão e o óleo de soja, é decorrente da concorrência pro-
vocada pela chegada de novas redes de hipermercados
na capital, o professor Celso
analisa que esses fenômenos não estão relacionados.
Houve, sim, em sua opinião,
uma redução nos preços no
Brasil inteiro, e não porque
estão sendo inaugurados
novos supermercados na cidade. “A produção é muita,
tem que baixar. O Brasil é
rico em alimento.”
Da mesma forma, para o
professor, a inflação dos alimentos não é decorrente da
produção do biodiesel, como
muitos acreditam. Essa afirmação, na sua visão, seria
desculpa, pois o combustível
é retirado, principalmente,
da cana- de-açúcar. Diferente dos Estados Unidos, que
gasta milhões de toneladas
de milho para retirar o biodiesel.
A globalização, no entanto, seria uma das causas da
alta dos alimentos. O crescimento econômico de países
como Brasil, Rússia, China e
Indonésia, permite que, au-
tomaticamente, a população
tenha mais poder aquisitivo
e, também, gaste mais. O
processo gera até mudanças
nos hábitos alimentares. “A
China já está importando
carne bovina nossa e deixando seus pratos culinários de lado, como carne de
cachorro e cobra”. O Brasil
exporta praticamente todos
os seus alimentos, fazendo
com que seu preço encareça
no mercado interno.
Mato Grosso do Sul é um
estado bom de viver, em relação aos outros, segundo o
professor Celso, já que sofreria menos com a inflação
dos alimentos. “O que falta ainda para baixar mais
esses números é sermos
auto-suficientes no hortifruti. Dependemos muito
de São Paulo, mas, com o
tempo, não nos preocuparemos mais com os reajustes paulistas”. Por ser um
estado rico na produção de
alimentos, Mato Grosso do
Sul teria condições de torná-los mais baratos.
Frente à concorrência
com as grandes redes de hipermercados, situadas nas
regiões mais centrais das
cidades, os supermercados
de pequeno porte das periferias estão aderindo às redes
de cooperação populares de
mercados, tendo em vista
uma competitividade maior.
Os empresários associados
recebem apoio administrativo, de marketing, educacional e financeiro.
Com essa padronização,
os mercados têm acesso a
preços mais baratos, comprando em maior quantidade, pois se faz a aquisição
pela rede. Desta forma, é
possível vender seus produtos por um valor mais
competitivo, melhorando,
assim, sua lucratividade.
Um bom negócio para o
empresário e, também, para o consumidor que tem
como vantagem essa maior
competição entre os supermercados, pode achar ofertas perto de casa. Não há
mais a necessidade de se
deslocar até o centro da cidade para fazer as compras
do mês. Como afirma o consumidor Josenilto de Miranda, “antes, era difícil para
fazer compras, porque tinha
que ir longe pra comprar
barato”. O mercado perto
de casa era em último caso,
só o que era mais urgente e
em menor quantidade.
Ele resalta que, antes,
não dava para ir ao centro
perto da hora do almoço,
só para comprar uma lata
de extrato de tomate. “A diferença no preço era grande. Hoje, o mercado aqui
perto faz parte de uma rede. Continua o mesmo dono, mas o preço é o mesmo
que se fosse no supermercado do centro”.
As mudanças que as re-
des de supermercados
estão trazendo para a sociedade são muitas. É o
efeito da globalização da
economia. A grande concorrência força as pequenas empresas a buscarem
inovações tecnológicas e
novos métodos de administração. As redes de cooperação inter-empresariais
são uma alternativa para
que as pequenas empresas
do ramo supermercadista
possam cumprir seu papel
econômico e social, por
meio da redução de custos, e oferecendo serviços
e produtos em busca da
conquista dos clientes.
Esses empreendimentos
de pequeno porte, conforme acreditam os especialistas, quebram o isolamento, promovem o associativismo e o desenvolvimento da competividade
da empresa, do setor e da
economia local e regional.
RICARDO CAVALHEIRO
Com as redes de supermercados na periferia, consumidores fazem as compras perto de suas casas
De barracas de madeira, para um Centro Comercial
PRISCILA BARBIÉRI
4º SEMESTRE
Distante 130 quilômetros
de Campo Grande, uma cidade considerada pacata,
Aquidauana, teve, no início
do mês de setembro, um
grande impacto na sua estrutura, imagem e economia.
Em uma das principais ruas,
a Estêvão Alves Correa, existiram, por muito tempo, as
barraquinhas que comercializam produtos importados.
Agora, os 80 comerciantes
ali instalados irão receber
uma obra propagandeada
pela atual prefeitura da cidade como “um marco”. No
pátio da Estação Ferroviária,
está surgindo o Centro Comercial, ou “Shopping Barrakech”.
No espaço, além de instalações adequadas, com água,
luz e telefone, os turistas,
clientes, bem como os próprios comerciantes poderão
contar, ao final da obra, prevista para novembro deste
ano, com playground, pista
de cooper, praça de alimentação e estacionamento.
A comerciante Bianca,
proprietária da Banca do
Beto, analisa tudo com um
ar de esperança. “Olha, com
certeza, é um grande salto.
Aqui, nossa mercadoria ga-
nha novos olhares, valorização e nós ganhamos mais
respeito. Os clientes também
terão mais conforto, mais segurança”.
Marcos Ferreira da Silva,
PRISCILA BARBIÉRI
Impacto: foi essa a sensação que a população aquidauanense teve ao ver o antigo pátio abandonado sendo tomado por um grande centro comercial
popularmente conhecido
como “Dom Marquito”, trabalha há 13 anos no ramo,
abrindo sua antiga barraca às 4 da manhã e só encerrando expediente às 20
horas. Ele revela um passado difícil e comenta a nova obra, com um brilho no
olhar. “Eu acordo de madrugada para trabalhar, desde
os 6 anos de idade. Só aqui,
em Aquidauana, estou há 13
anos. Quando cheguei, nem
tinha o que comer direito.
Hoje, tenho meus três filhos
estudando na Uniderp, tenho casas, carros, chácara”.
Para Marcos Ferreira, a obra
vai dar mais valor ao trabalho desenvolvido no local.
“Acredito que o movimento
até aumentará, quando concluída”.
Além dos tradicionais
turistas que circulam pelo
Shopping Barrakech, os que
desembarcarem de trem,
que volta a funcionar ano
que vem, poderão conferir,
na chegada, esta obra que
tem potencial de se tornar
um ponto turístico.
Unifolha
CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008
EDUCAÇÃO
06
Profissionalização sem barreiras
BRUNO COELHO
BRUNO COELHO
GUILHERME ALMEIDA
4º SEMESTRE
Atualmente, as pessoas que estão no mundo do
trabalho, ou pensando em
entrar nele, se preocupam
com o tempo e com o nível
de profissionalismo. Isso se
dá pelo fato de o mercado
exigir cada vez mais, por estar tão concorrido, e testar,
constantemente, a capacidade de cada um.
Para as pessoas que vivem em uma época em que
“tempo é dinheiro”, diversas
instituições de ensino têm
disponibilizado os cursos
de Gestão. Estes programas,
além de visarem áreas mais
expecificas que as tradicionais de graduação, podem
ser conluídos em apenas
dois ou três anos. Alem disso, existe a possibilidade
de serem desenvolvidos em
casa, sendo necessária a presença, apenas, para fazer as
provas.
Outra vantagem é que, ao
concluir as matérias, a pessoa termina oficialmente o
3º grau, saindo das instituições, com o cargo de tecnólogo.
Os cursos de gestão têm
gerado muitas dúvidas sobre
sua forma de ensino, já que
o tecnólogo não teria a mesma capacitação que o graduado, na sociedade.
Para nos informar mais
sobre este assunto e sobre
a preferência em optar por
esse tipo de atividade educacional, entrevistamos
Hernani José Lins Mendes,
que tem 30 anos de idade, é
administrador e acadêmico
da faculdade de Gestão Tecnológica em Agronegócios, a
distância.
Ele diz que o principal
motivo de ter escolhido um
curso de gestão foi pela rapidez que ele proporciona
e pelo fato de se formar em
apenas dois anos. Ele acrescenta que seu programa era
também a distância, o que
proporcionava uma comodidade por ele de não poder
comparecer às aulas regularmente, devido ao seu corrido ritmo de trabalho.
Para Hernani, esse tipo de
curso é muito prático, pois
proporciona uma oportunidade para aquelas pessoas
que querem se formar, porém, não têm tempo para ir
à faculdade. Além de que
o ensino desenvolvido em
periodos mais curtos exige
mais dos alunos. O fato de
suas aulas serem a distância
estimula a força de vontade,
já que o seu desenvolvimento
e desempenho após a faculdade dependem, unicamente,
do acadêmico. Isso por não
contar com toda a ajuda dos
professores, o que já ocorre
nos programas normais.
Hernani Mendes escolheu o caminho do curso de gestão por ser mais rápido e por oferecer a praticidade de estudar em qualquer lugar
Candidatos mais preparados que se cuidem!
GUILHERME TELÓ
Promessas de uma carreira tranquila e bem remunerada levam muitas pessoas aos cursos preparatórios
GUILHERME TELÓ
GUILHERME ALMEIDA
4º SEMESTRE
Estabilidade na carreira, emprego bom e remuneração alta.
Vantagens que fazem com que
não seja por menos que, hoje,
tanta gente opte pela carreira pública, na hora de escolher uma.
Mas, tantos prós não poderiam
deixar de trazer consigo um contra. A concorrência.
O que de uns tempos pra cá
deu margem a um setor crescente: os cursos para “concurseiros”.
E se ouve falar em todo lugar, de
grandes escolas com professores
especializados, pessoas já concursadas dando aulas sobre o que
estudar e como estudar.
Trabalhar em instituições como o INSS, a Polícia Federal ou
a Controladoria Geral da União
exige um mínimo de preparação.
E não é a toa que os alunos de-
voram livros e listas de exercícios
nas cadeiras das escolas preparatórias. Segundo Deodato Neto,
administrador da Neon Concursos, “os alunos procuram os cursos porque ninguém consegue
ser bom em tudo. Há a necessidade de uma orientação. Existem
concursos quem envolvem de 10
a 15 matérias e, além disso, nós
estudamos a instituição, seu histórico, e avaliamos as matérias de
maior peso”.
Uma das discussões que mais
divide opiniões acerca do tema é
a relação estabilidade financeira/
satisfação profissional. É significativo o número de pessoas que se
dedicam aos estudos para passar
em concurso, apenas pela estabilidade que a carreira promete,
e não pesam se têm aptidões ou
ao menos força de vontade para
exercer a função de maneira eficaz. “Normalmente, quem passa
em concurso não é aquele que
pensa: ‘saiu o edital, vou fazer’,
faz dois meses de curso e presta. É,
geralmente, quem está com a gente há mais tempo, nas turmas de
dois anos. Só que é lá dentro que
ele vai descobrir se tem esse dom
necessário para a carreira, ou não”.
Deodato ressalta que o futuro funcionário público terá um salário ótimo, segurança profissional, e uma
carga horária relativamente leve.
“Então, ele acaba descobrindo que
vai ser bom pra ele mesmo. É claro
que tem um caso ou outro de pessoas que entraram, não gostaram
e prestaram outro concurso.”
Os cursos estão em alta, e é interessante que aumente a concorrência, para que, cada vez mais,
os cargos públicos sejam preenchidos por gente bem capacitada.
O esperado é que essa capacitação se traduza, cada vez mais, em
competência...
Eficiência em conhecimento
LUANA D’ARK
YURI CARRELO
4º SEMESTRE
Em busca de um melhor
posicionamento no mercado de trabalho, jovens com
idades entre 14 e 23 anos,
buscam, por meio dos cursos profissionalizantes,
uma melhor preparação
diante daqueles que também iniciam uma longa trajetória para o primeiro emprego, driblando a exclusão
social e atrás de sucesso na
carreira profissional.
Os cursos têm como
objetivo moldar o jovem
aprendiz por meios teóricos, específicos e práticos,
de forma que, ao concluílos, o jovem esteja apto a
ingressar naquela área em
que se especificou durante
o aprendizado.
A educadora e responsável pelo curso de Organização Industrial no Mercado de Trabalho, Vânia
Maria Batista, informa que
os programas profissionalizantes vieram tanto para
enriquecer o conhecimento dos jovens, quanto para
contribuir em seus currículos. Na sua opinião, a
maioria dos que os procuram não tem condições de
se manter em um curso superior, principalmente, por
questões financeiras.
Ela também destaca que
os seus alunos, interessados, cobram métodos de
ensino atualizados, formas
de conhecimento que se
relacionam com o que o
mercado de trabalho se refere e requer.
A opinião da aluna Josana Oliveira, 21 anos, é que
o curso está sendo indispensável para o seu conhecimento e sua preparação
para a sociedade.
De um modo geral, ela e
os demais alunos concluíram que este método de
ensino lhes fornecerá uma
ferramenta a mais na disputa acirrada do mercado
de trabalho. Vânia afirma,
como educadora e profissional da área há dois anos,
que os cursos profissionalizantes são indispensáveis
para a estrutura do jovem
aprendiz.
YURI CARRELO
Programas profissionalizantes enriquecem o conhecimento dos jovens e contribuem para as suas carreiras
Unifolha
CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008
SEGURANÇA
07
PRONTO - ATENDIMENTO
Bombeiros e policiais militares dividem o mesmo espaço, visando sempre, proteger todos os cidadãos
Centro facilita batalha contra o crime
RENAN CAMPOS
VINICIUS PEREIRA
LUIS COPPOLA
4º SEMESTRE
Falar de segurança é fácil.
Vários são os casos e várias
as críticas apresentadas em
relação ao trabalho tanto do
Corpo de Bombeiros, quanto
das polícias Civil e Militar.
Nossa função neste espaço é
demonstrar como funciona
o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops).
É aqui que ficam alojadas as
centrais de atendimento de
emergência do 190 e 193.
Assim que entramos no
prédio, o tenente coronel
do Corpo de Bombeiros Militar, Joílson, nos recebeu e
foi logo apresentando a área.
Chegamos direto ao nosso
destino: as centrais de atendimento. Quando entramos
na sala, já perguntamos como funcionava. “Aqui é onde ficam os atendentes. Eles
recebem a ligação, registram
a queixa e já encaminham
para o outro setor, que é o
responsável por acionar as
viaturas que estiverem mais
próximas do local da ocorrência”.
Cada equipe é composta
por, aproximadamente, sete
atendentes, variando nos horários de pico. Neste caso, a
equipe é reforçada. São cinco
grupos diários que se revezam em três turnos. O tenente coronel Joílson informou
que são atendidas, em média,
3,5 mil ligações diariamente,
sendo 400 para polícia Civil/
Militar, 60 para o Corpo de
Bombeiros. Mas, infelizmente, destas, mil são trotes.
TROTES
O tenente coronel explica com mais detalhes como
são classificados esses telefonemas. “Existem dois tipos de trotes: o tentado e o
consumado. No primeiro, os
atendentes identificam rapidamente a farsa pelos equívocos cometidos pela pessoa
que faz a denúncia. Já no
segundo, a viatura chega a
averiguar a denúncia feita.
Isso atrapalha muito nosso
trabalho”.
Além dos trotes, outro fator que atrapalha o cotidiano dos atendentes é a falta
de informação por parte dos
VINICIUS PEREIRA
Trotes impedem que a ação da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros seja mais rápida, prejudicando, assim, o bom funcionamento do Ciops
cidadãos. “Os telefones 190
e 193 são utilizados somente em casos de emergência e,
não, para informações. Temos
o telefone próprio para estes
casos, para que não congestione o sistema.” O telefone
para informações sobre o
CIOPS é: (67) 3318-4500.
Logística
Depois de sairmos da área
dos atendentes, fomos à sala
ao lado. Nessa, fica o pessoal
responsável por encaminhar
as viaturas ao local do ocorrido. Todos possuem computadores, com dois monitores.
Um, para receber a ocorrência. No outro, eles buscam
a localidade da viatura e
do ocorrido em um mapa.
Além da preocupação com
os acidentes do cotidiano,
há o cuidado com a saúde
dos funcionários. Eles praticam diariamente a ginástica
elaboral, ou seja, um alongamento de aproximadamente
15 minutos, para evitar doenças ocupacionais.
Além deste exercício físico, há uma reciclagem
com os funcionários. Anualmente, eles recebem um
novo treinamento para se
aperfeiçoar no manuseio
do sistema. Uma de nossas
dúvidas, e que deve ser o
questionamento de muitas
pessoas, foi esclarecida por
Joílson. Se os atendentes ficam no mesmo local, como
saber se a ligação é para a
policia ou bombeiro? “Cada
funcionário, seja ele do Corpo de Bombeiros ou de uma
das polícias, tem sua própria
senha. Ou seja, quando ele
põe sua identificação na máquina, o sistema automaticamente direciona suas ligações para o atendente ou do
190 ou 193”.
Honra e mérito: bombeiro salva vida!
VINICIUS PEREIRA
Quando acionados, a ação dos Bombeiros tem que ser rápida, uma vez que, a vida de muitas pessoas depende deles
RENAN CAMPOS
VINÍCIUS PEREIRA
LUÍS COPPOLA
4º SEMESTRE
Além de conhecer a rotina dos atendentes, ficamos
cientes de um caso que nos
chamou atenção. O soldado
bombeiro militar Tonezi é
que nos conta a história. “Era
um sábado. A noite estava
tranqüila, nenhuma ocorrência grave. Mas, por volta de
2 horas da madrugada, recebi uma ligação de uma moça. Ela contava que estavam
em um churrasco, e que um
amigo estava engasgado com
um pedaço de carne”.
Tonezi se lembra que, ime-
diatamente, acionou uma
viatura para o local e tentou
conversar com a solicitante,
buscando acalmá-la e passando instruções para evitar
danos à vítima. “O nervosismo dela era grande. Em
alguns momentos, ela queria fazer coisas que eu não
havia dito. Depois de alguns
instantes, a moça conseguiu
ouvir as instruções corretamente e virou a vítima para
que ela não engasgasse”. O
caso foi resolvido graças à
eficiência de Tonezi.
O tenente-coronel bombeiro militar, Joílson, nos explica que, em alguns casos,
eles certificam no quadro de
avisos o trabalho realizado
com sucesso por seus funcionários. Ao lado, pudemos
conferir a homenagem feita
ao soldado Tonezi. “Para alguns, a gente não fez mais
do que a nossa obrigação.
Porém, só nós sabemos as
dificuldades de como é lidar
com casos delicados. Por isso, gostamos de homenagear
quem faz bem o seu papel”,
ressalta, Joílson, com um
sorriso no rosto. Segundo o
soldado Tonezi, isto é uma
forma de alavancar o moral
dos funcionários. Há casos
de atendentes que já chagaram até a conduzir um parto
por telefone.
Tumulto e calmaria em uma central da PRF
PEDRO ZIMMERMAN
RAFAEL GORDO
4º SEMESTRE
Na vivência realizada na
Central da Polícia Rodoviária Federal pudemos presenciar toda a rotina de uma tarde cheia de trabalho de um
atendente da Central da PRF.
Os policiais Débora e Mariano foram quem nos receberam e nos passaram todas as
informações necessárias para realização da matéria.
Os atendentes se revezam
em dois turnos: dia e noite.
Por turno, estão presentes
dois atendentes. A Central
funciona 24 horas por dia.
Lá, eles ficam em uma sala
referentes ao 191, mas existem três telefones da própria
Central, quatro rádios, um
Voip para se comunicarem
com outros policiais, além
de dois computadores, que
é por onde eles conseguem
fazer um levantamento de
tudo que está acontecendo
nas rodovias estaduais e, inclusive, federais.
Todos eles possuem senhas para acessarem a tecnologia da PRF. Os três principais sistemas são: de Apreensões, Auxiliar de Captura
(SAC) e o de Informações de
Acidentes. Por meio destes,
eles catalogam todos os acidentes, têm informações so-
ís, possuem dados precisos
sobre os automóveis, além
de estatísticas sobre ocorrências.
Assim que entramos na sala, por volta das 14h30, o policial Mariano recebeu uma
ligação sobre um acidente
ocorrido próximo à Miranda, que deixou duas pessoas
presas às ferragens. Nesse
momento, Débora já passava a localização deles para
o Corpo de Bombeiros. Um
trabalho que requer muita
atenção e que, dependendo
do dia, pode ser também
muito cansativo. Eles nos
contaram que já chegaram
a receber cerca de 20 cha-
Enquanto em outros, não
receberam contato algum. A
média é de cinco chamadas
diárias.
A Central é responsável
por todas as rodovias estaduais, auxiliando em casos
de furtos, contrabandos, estupro e acidentes. Eles mantêm contato com 21 postos
e 10 delegacias espalhados
por todo o estado de Mato
Grosso do Sul e possuem,
também, viaturas ao longo
de todo o trecho. Mariano e
Débora revelaram que, com
a implantação da Lei Seca,
o índice de acidentes diminui. Mas a maior diferença
percebida por ambos foi o
do trânsito indo parar atrás
das grades.
Débora e Mariano trabalham neste setor há 11 e
dois anos, respectivamente,
e nos contam que uma das
situações mais engraçadas
já vividas juntos foi ao receberem trotes de um cidadão chamado Renato. Débora revela que ele já liga
pra Central há uns cinco
anos e que, de certa forma, acabou emocionando
os profissionais de lá, pois,
descobriram que ele tem
problema mental e é uma
pessoa muito sozinha. E
que, por isso, começou a
ligar para a Central. Ele
quem conversar.
Além do caso de Renato, Mariano se diverte
ao contar histórias sobre
trotes passados por crianças. Frases recheadas de
palavrões saídas de bocas
supostamente inocentes
despertam gargalhadas.
Já no fim da tarde, Mariano colabora com a pesquisa, revelando dados
sobre os acidentes ocorridos nas principais rodovias do país. Na liderança
do ranking das rodovias
mais perigosas do estado se encontra a BR-163,
com 970 acidentes registrados até a tarde do dia 30
08
Unifolha
ESPORTE
CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008
QUÍMICA - ATLETAS
Principais facetas do doping
DAIANE LÍBERO
SABRINA LEAL
4º SEMESTRE
Muito se divulga na mídia
especializada em esportes a
respeito do termo “doping”.
Mas o que é verdadeiramente a inserção de componentes artificiais na preparação
de um atleta? “A questão do
doping é uma condição artificial de rendimento biológico. E, quando a gente entra
em termos de competição,
entramos numa questão ética, porque devemos competir em nível de igualdade
ambiental, circunstancial,
física”, explica o médico
cardiologista Luís Ovando,
especializado em saúde do
atleta.
Ele compara que o uso de
doping por um atleta é como colocar um indivíduo
de 100 quilos pra lutar com
um de 50, sendo que o de
menor peso vai, invariavelmente, levar desvantagem.
Segundo artigos especializados, existem vários tipos
de substâncias consideradas
doping. Luís Ovando cita
quais são as mais utilizadas:
psicotrópicos, hormônios e
estimulantes. “Psicotrópicos
aumentam consideravelmente a capacidade mental
e, por conseguinte, a capacidade física. A pessoa perde
o senso do cansaço. Isso leva a uma série de alterações,
como pressão alta, arritmia,
estímulo exagerado do coraDAIANE LIBERO
Suplementos alimentares, na maioria das vezes, são confundidos com substâncias consideradas dopantes
ção, ou seja, a pessoa perde
a noção.”
Os hormônios androgênicos, ou anabolizantes, mais
conhecidos como “bomba”,
também causam alterações
perigosas. “Drogas androgênicas mexem com o equilíbrio orgânico. O uso de anabolizantes, em longo prazo,
leva o indivíduo a ter chances de desenvolver câncer
nos testículos/ovários/fígado, porque sobrecarrega
o organismo. Há, também,
chances do fígado entrar
em falência, quando se usa
hormônios em quantidade
exagerada”. Ainda existem
os estimulantes, como adrenalina, que aumentam muito a capacidade do metabolismo.
Luís explica que há casos de doping disfarçado,
como o que acontece com
atletas de corrida, que costumam tirar uma quantidade de sangue antes de ir
treinar em grandes altitudes. Nesses locais, a pouca
quantidade de oxigênio faz
com que o corpo aumen-
te a produção de sangue.
Quando volta para o nível
do mar, injeta o sangue.
“Isso vai carrear muito oxigênio. Essa oferta aumenta
o rendimento, e isso você
não tem como comprovar. É
uma forma de doping, mas
em termos éticos, é menos
agressivo do que os outros.
Mas pode entupir as artérias do cérebro ou do coração”.
O que leva um atleta a
se sujeitar a isso, mesmo
sabendo dos riscos? A conclusão a que se chega é que
a pressão emocional sofrida
pelos esportistas tem grande parcela de culpa nesse
processo. “Tem um aspecto emotivo, que o leva a se
submeter a isso. Eu tenho
que ganhar. É um objetivo
maior pelo que o atleta vive, a
meta final”. Outro ponto que
o médico levanta é que muitos esportistas são induzidos
a tomar certas substâncias,
sem o devido esclarecimento.
“A busca por resultados artificiais é uma das formas de
destruir o corpo”.
Satisfação imediata, dor-de-cabeça no futuro
BRUNO CHAVES
RAUSTER CAMPITELI
4º SEMESTRE
Doping é a utilização de
qualquer substância ilícita
que favorece o desempenho
de atletas profissionais. Em
curto prazo, traz benefícios
satisfatórios, pois, em 90%
dos casos, o atleta que não
usa tipo algum de substância não obtém bons resultados. Mas, em longo prazo,
malefícios são causados à
saúde, em função dos efeitos
colaterais.
Há 18 anos, no meio esportivo, o técnico e atleta
de natação, Cássio Castro,
26, medalhista nos Jogos
Abertos Brasileiros e nos
Campeonatos Sul-Brasileiro
e Centro-Oeste, afirma que
“a maioria dos atletas pratica o doping na tentativa
de ser o melhor, ganhando
mais dinheiro e patrocínio”.
Alguns treinadores incentivam o doping por causa dos
resultados rápidos. Porém,
a satisfação dura pouco, os
danos ocasionados ao corpo
e à mente do atleta fazem
com que ele se afaste do esporte, caindo na infelicidade
de ser descoberto no exame
antidoping, perdendo todo
o prestígio conquistado de
uma vez só.
As modalidades esportivas que mais se destacam na
questão da prática do uso de
substâncias proibidas são as
individuais, como atletismo,
natação e ciclismo, já que
exigem maior desempenho
do esportista. Na natação,
por exemplo, “a disciplina
rigorosa é a característica
principal do treinamento”,
explica Cássio. Força de vontade e determinação são alguns dos quesitos que fazem
a diferença aos que desejam
alcançar um patamar elevado no atletismo, sem utilizar
meios desonestos.
Os desportistas que fazem
uso de métodos ilícitos conhecem as características
das substâncias e, com isso,
podem burlar facilmente os
testes antidoping. Sabendo
o tempo que as substâncias
dopantes agem no organismo, fazem uso moderado para estarem “limpos” durante
a realização dos exames.
Nas classes das substâncias mais utilizadas pelos
atletas, os agentes anabolizantes ou esteróides anabólicos, compostos derivados
do hormônio masculino
testoterona, são os preferidos em esportes que exigem
maior força física. Quando
administrados, esses compostos entram em contato com o tecido muscular,
aumentando sua capacidade de expansão. Os anabolizantes são utilizados por
aqueles que ambicionam
um corpo mais musculoso.
Cássio conclui que “não se
pode pensar a curto prazo, não se deve fazer nada
que possa prejudicar seu
futuro”.
RAUSTER CAMPITELI
Cássio Castro, nadador e técnico, acredita que responsabilidade e otimismo são essenciais para qualquer atleta
Substâncias se tornam atalho para sucesso
BRUNO CHAVES
EMANUEL CAIRES
4º SEMESTRE
Os atletas profissionais procuram substâncias que aumentem o seu desempenho
em busca de dinheiro e fama.
Em muitos destes casos, os
treinadores também se beneficiam do uso do doping.
“Houve um tempo, há dez
anos, que era comum. Hoje,
somos avessos a isso. Tiramos
isso da cabeça dos atletas”,
afirma o técnico de musculação, Fábio Marques Deak,
sobre o uso de substâncias
dopantes.
Para atingir o físico desejado, o atleta, em vez de treinar
dois anos, consegue o resultado em apenas dois meses,
usando anabolizantes, por
exemplo. Entretanto, esta
solução não costuma durar
muito tempo, e a utilização
em longo prazo pode trazer
problemas para a saúde.
Geralmente, é o atleta
quem procura orientação
do treinador para utilizar
algum produto que melhore
seu desempenho. Muitas vezes, estes produtos contêm
EMANUEL CAIRES
Técnico de musculação, Fábio Marques diz que doping é até comum, mas que procura desestimular os alunos a utilizar substâncias proibidas
o uso dos esportistas.
Segundo Deak, existe um
forte preconceito contra as
pessoas que são musculosas,
como os fisiculturistas. E
é modalidade esportiva com
maior índice de atletas “pegos” no exame antidoping.
Mas, como eles não chamam
tanto a atenção por causa de
acha que eles não se dopam.
A maioria das substâncias dopantes é usada para
o tratamento médico, sendo facilmente encontradas
venda se dá somente com
receita médica, e a vigilância sanitária fiscaliza seu
comércio.
Por não serem vendi-
“controle de qualidade”
sobre estas substâncias. As
pessoas as compram em
meios alternativos, no mercado negro, na internet, por
exemplo. Por isso, existe
muita falsificação. “O cara
nem sabe o que está tomando”, alerta Fábio.
Os treinadores, na maioria das vezes, sabem quando os atletas fazem uso de
substâncias dopantes, e,
algumas vezes, até influenciam, pois o atleta “subindo” na carreira, ele “sobe”
junto. Com isso, vem dinheiro, fama e contratos
publicitários. Mas, Fábio,
quando percebe um aluno
usando, tenta desestimulá-lo, alertando sobre possíveis malefícios à saúde.
No entanto, nem sempre é
ouvido.
O esporte perde sua razão
quando o atleta usa mais do
que sua natureza lhe proporcionou para ganhar uma
prova. “Eu acho ruim o que
vemos hoje em Olimpíadas.
Nem sabemos se é real, verdadeiro. Não temos como
saber, fica algo meio falso”,
Mais informação, muito
mais entretenimento
CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008
FABIANO PASCHOALOTTO
ALINE ARANDA
SAÚDE
CAROLINE QUEIROZ
ENTREVISTA
COMPORTAMENTO
O HPV, os cânceres de
pele e de próstata têm
tratamento, mas precisam
de um diagnóstico precoce para obter a cura.
O Juiz Dorival Moreira
dos Santos conta como
o Direito pode ser mais
humano e cumprir o seu
papel social.
Crianças não se intimidam com os avanços do
mundo virtual e mostram
que desde cedo dominam
esses recursos.
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Amigos na noite
MÁRI GARCIA
WILL SOARES
4º SEMESTRE
Sarau: festa literária noturna,
especialmente, em casas particulares. “Tudo começou na rua 13
de Maio, quando eu morava perto
da Ordem dos Músicos. Era procurado por muitas pessoas para
falar sobre a Ordem”. O nome
Sarau do Zé Geral surgiu quando
a quarta-feira foi escolhida como
dia para o encontro de músicos,
artistas plásticos e de cinema,
sendo que o primeiro aconteceu
no dia 29 de janeiro de 1997.
José Geraldo Ferreira, conhecido, popularmente, por Zé Geral,
é o responsável pela organização
do sarau, que, oficialmente, existe há 11 anos. A música entrou
na sua vida, ouvindo sua mãe
cantar, enquanto lavava roupas.
“A vida do músico e do sarau é
cheia de altos e baixos. No começo, comprava cerveja no mercado, e não ia ninguém, os músicos
bebiam tudo. Bastou uma denúncia de vizinhos para começarem
os problemas”.
O Sarau do Zé Geral mudou de
local várias vezes. “Eu não quero ficar mudando, são ocasiões.
Quando era na Ferroviária, pessoas usavam drogas ao redor, O
sarau ficou mal falado e o aluguel
também era muito caro”. Zé relata que, às vezes, a conta de energia e o aluguel ficam atrasados,
mas não reclama. “Prefiro ganhar
pouco cantando, do que fazer outra coisa. Não abri para ganhar
dinheiro. Surgiu naturalmente.
Quando quero levantar meu ego,
penso que sou importante para a
cultura do estado”.
Cultura à
comunidade
WAGNER JEAN
Quando Zé Pretim pega sua guitarra, é explícito o domínio que o músico tem sobre o público
WAGNER JEAN
Bibi do Cavaco deixa composições “fluírem”
Espaço reservado para eventos culturais
ALINE LEQUE
WAGNER JEAN
4º SEMESTRE
Reunir um grupo de amigos é
motivo suficiente para se criar um
evento cultural. E, dessa forma, no
início desse ano, começou a ser realizado o Sarau dos Amigos, que
acontece na última quinta-feira de
cada mês, no bairro Universitário. O sarau ocorre nos fundos de
uma casa, o que possibilita uma
maior confraternização entre os
participantes.
Porém, o Sarau dos Amigos tem
por característica não só reunir
companheiros para apreciar diversas manifestações culturais,
mas, também, desenvolver projetos que ajudem de alguma forma o melhoramento das condições de vida da região do bairro
Universitário e da sociedade,
de um modo geral. Para isso, alguns projetos já foram lançados
no sarau, tais como, o Passos,
uma campanha de conscientização, que consistiu em pintar
pegadas no chão com frases que
compõem a carta da Organização das Nações Unidas (ONU),
Desde a primeira quarta-feira
do sarau, Zé dedica a noite para
alguma personalidade. “Durante
as Olimpíadas de Pequim, dediquei um dia para os atletas brasileiros”. Questionado sobre o registro da patente “sarau”, ele nos
diz que não oficializou a marca,
pois o sarau é de domínio público. “Tenho muito orgulho de ter
sido o primeiro a fazer o sarau
aqui, em Campo Grande. Hoje, já
existem vários”.
Lugar simples e singelo, com
algumas cadeiras organizadas em
roda, com pouca iluminação. O
palco para a apresentação dos
músicos fica localizado no fundo
de um enorme corredor com telas de pinturas nas paredes e no
chão, as quais foram doadas por
artistas que fazem suas exposições no local. O endereço atual,
com oito maneiras de mudar o
mundo.
A entrada para o sarau é um
quilo de alimento não-perecível, que é doado para as obras
sociais dos Vicentinos, um grupo da Igreja Católica que acompanha a realidade de várias famílias de baixa renda. Além de
proporcionar à população do
bairro um movimento cultural
alternativo, o sarau doa alimentos a quem precisa. Segundo os
organizadores, cerca de 900 quilos já foram doados.
As apresentações ficam por
conta de quem aparece por lá.
“Normalmente, as atrações procuram os produtores. Já está divulgado o telefone na imprensa,
e eles ligam para agendar participação. Mas, também, deixamos espaço reservado para atrações que chegam no horário do
sarau, sem avisar”, explica Elânio Rodrigues, um dos produtores. Em uma mesma edição,
o evento já reuniu por volta de
270 pessoas.
Mais que um encontro de amigos, a idéia é aproximar artistas de
depois de dez mudanças, é a rua
Pedro Celestino, 853, no centro
da capital.
O local é mais freqüentado
por universitários, mas tem um
público eclético, com idades variadas, de quem conhece e gosta
da música “além de terem acompanhado a nossa trajetória”. O
maior público reunido no sarau
foi no verão do ano de 2000, com
a marca de 1015 pessoas, quando
era realizado na rua 13 de Maio.
Hoje, os equipamentos são
próprios. Antigamente, era tudo
alugado. “Tinha noite que não fazíamos nem para pagar o som”.
Zé Geral almeja um sonho, uma
perspectiva e um projeto de vida
que não pode revelar. “Tenho orgulho do meu trabalho. A música sul-mato-grossense contribuiu
muito para a minha formação”.
todos os gêneros, promover essa
“mistura artística” para os moradores da região. Além das apresentações musicais, várias exposições
já foram montadas no sarau, e entre as mais curiosas, estão as de
facas artesanais e as de máquinas
de datilografia e telégrafos. Estas
coleções pertencem a moradores
do bairro.
Despertar talentos da co munidade e apreciar artistas
consagrados, é sem dúvida, o
maior objetivo do sarau, que
pode surpreender até mesmo
os organizadores. “Me emocionei muito quando o músico Zé
Pretim apareceu no Sarau dos
Amigos. Ele mora na região,
e eu nem sabia. Foi ao encontro e, agora, vai sempre”, relembra Elânio. Em suas apresentações, Zé Pretim sempre
mostrou pleno domínio sobre
o público. “Quando ele pega
a guitarra, é nítido o respeito
e a atenção que a platéia tem
com ele”. E, assim, segue o sarau, reunindo e descobrindo
novos talentos.
Música sertaneja cria novo estilo de sarau
VANESSA MENEZES
4º SEMESTRE
“Clube da Luluzinha”. Esta foi a
forma dos amigos batizarem as reuniões das quais muitos não podiam
participar. Daí, surgiu a idéia de
criar um sarau, com uma diferença,
porém: enfocar o rústico, o caipira
da música sertaneja que encanta
pelas melodias, sempre presentes
em suas letras. O Sarau Sertanejo
da “Patrícia e Adriana” reúne famosos reconhecidos pelo público,
anônimos que buscam um chance
e pessoas que apreciam a música.
Segundo a empresária da dupla
Patrícia e Adriana, Renata Nogueira, entre os objetivos do sarau está
o de “relembrar a época da ‘4.000’,
um bar de voz e violão, onde diversas pessoas podiam mostrar o seu
trabalho”. A entrada cobrada é qua-
se simbólica, serve somente para
cobrir a despesa com funcionários.
“Ninguém ganha nada por se apresentar. No sarau, não existe concorrência, nem um é melhor que o outro. Somos todos iguais”, considera
Patrícia. Buscam provar, mais uma
vez, que o sertanejo é uma grande
família.
Quem freqüenta o local pode ter
oportunidade de estar bem próximo de seu ídolo. O protético José
Aparecido Ferreira de Souza, que
acompanha a dupla há 10 anos,
prestigia o sarau desde o início. Para ele “é um local bem familiar e
sossegado, onde o artista atende a
cada um. Completamente diferente
da agitação de um show”.
Em apenas oito meses de apresentações, o sarau já conseguiu
reunir um público de 500 pessoas
em uma única noite. Renata afir-
PRISCILA BARBIÉRI
Paixão pela música e o desejo do reconhecimento cada vez maior são o que movem a dupla
ma, ainda, que, se fosse divulgado
pela mídia, o evento não perderia
o significado de reunião de amigos.
“Pelo contrário, seria uma forma de
fazer com que cada vez mais pessoas prestigiassem os artistas regionais”.
As atrações vão surgindo. É só
chegar e dizer que veio cantar. Tudo acontece na mesma noite, não
existe agenda, ou qualquer outra
burocracia. O projeto, que parou
no mês de setembro para reforma,
retorna ainda este ano. É uma boa
opção para quem busca música
sertaneja antiga e atual, de qualidade, na voz de quem canta com
a alma e carrega, além de seus instrumentos, o sonho do reconhecimento.
10
Unifolha
CIÊNCIAS & TECNOLOGIA
CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008
INFORMÁTICA – CONSUMO
Mesmo produzidas por um único fabricante, peças, como os processadores, podem ter categorias diferentes
Especialista alerta sobre configurações
ROBERTO BELINI
4º SEMESTRE
Quem tem computador em
casa, necessita de orientação
especializada. O Unifolha foi
até uma empresa de manutenção de Campo Grande. No
estabelecimento, são recebidos, por dia, cerca de dez
computadores. O chefe do laboratório é Agilson Reis. Há
cinco anos, ele trabalha como técnico em informática.
Os usuários de computadores domésticos representam,
aproximadamente, 30% dos
clientes da loja. Para Reis, os
computadores à venda, hoje,
vão atender às necessidades
de quem precisa do equipamento só para fazer trabalhos
escolares, acessar a internet
ou trocar mensagens.
Mas, essas máquinas não
vêm com placa de vídeo offboard, que é um dispositivo
para deixar as operações,
como jogos “pesados”, mais
rápidas. É aí que o serviço de
um técnico é fundamental.
ROBERTO BELINI
O cliente pode encomendar
uma configuração que seja
adequada ao seu desejo.
CARACTERÍSTICAS
Um dos componentes que
dão velocidade para o equipamento é o processador.
“Existem muitos computadores que trabalham com a segunda linha de processador”.
Reis revela que uma mesma
marca fabrica duas qualidades desse produto. Por isso,
deve-se verificar não apenas
o nome do fabricante, mas a
categoria da peça.
De acordo com o técnico,
muitos dos clientes têm problemas com vírus. “Independentemente do anti-vírus, o
risco você corre.” Ele informa que o ideal é instalar o
sistema operacional tradicional e um programa anti-vírus
free, que é grátis. O especialista também faz afirmações
a respeito de promoções que
são, aparentemente, vantajosas. “No caso do usuário
doméstico, que é leigo, ele
Comprar computadores em lojas especializadas em montagem, pode fazer com que a máquina fique personalizada
se sente, sim, enganado. Às
vezes, ele quer voltar na loja
para trocar por outro.”
DIFERENCIAIS
Os notebooks, que são os
computadores portáteis, também estão mais baratos. Conforme Reis, a mobilidade é
uma vantagem do laptop. Mas
o preço de manutenção dele é
consideravelmente maior do
que a de um computador de
mesa desktop. Para quem tem
computador em casa, há uma
configuração ideal apresentada pelo especialista. Uma
memória com capacidade de
1 Giga, HD de 120 Giga e o
processador convencional.
O sistema operacional utilizado por 90% dos usuários
não é mais fornecido. “Os
que vendem na loja dificilmente vão atender o que o
usuário doméstico precisa.
Ele, talvez, não ficará com o
sistema operacional que veio
no computador”. Mas o consumidor pode instalá-lo em
uma assistência qualificada.
ROBERTO BELINI
MANUTENÇÃO
“Falsos” técnicos
vivem de mentiras
BRUNA GALINA
KLÍCIA MAGALHÃES
4º SEMESTRE
A tecnologia tem nos ajudado muito ao longo dos
anos. Na Medicina, no trabalho, em todos os tipos de
estudos, ela tem sido uma
forte aliada. O problema é
que pode nos trazer alguns
transtornos, se não entendermos muito bem do assunto. Como no caso de
G.M., um rapaz de 22 anos
que foi enganado por um
técnico de computadores,
durante um bom tempo.
A fonte não quis se identificar por questões pessoais, mas nos contou como
foi lesado e aprendeu a lidar com esse tipo de golpe.
Quando seu computador
estragava, G.M. sempre
chamava o mesmo técnico que, se aproveitando de
sua inexperiência, dizia,
toda vez, que uma peça
estava queimada, e que ele
precisaria comprar uma
outra. Mas, na verdade, o
computador precisava apenas ser configurado.
Como G.M. não sabia
que estava sendo ludibriado, comprava a peça que
o golpista havia pedido e
deixava a antiga, que não
tinha problema algum,
com o espertinho. Este,
além de ficar com a peça
boa para revender, lhe cobrava a mão de obra, sem
nunca entregar uma nota
fiscal.
Isso aconteceu algumas
vezes, até que o tio de
G.M., que já havia trabalhado como técnico há algum tempo, comentou que
esse tipo de golpe estava
ocorrendo com freqüência,
e deu-lhe alguns toques.
Ao descobrir a farsa, ele
ficou decepcionado, mas
não tinha o que fazer, já
que não havia provas contra o falso técnico.
Porém, agora, ele segue algumas recomendações, para
que isso não se repita, como
pedir nota fiscal para todo
serviço que lhe é prestado.
Ao notar que sua máquina
está com algum defeito, G.M.
pede opinião de pessoas
mais experientes que entendam do assunto, e não aceita
mais o primeiro diagnóstico
que lhe passam.
Embora a tecnologia tenha ficado cada vez mais
avançada, é muito importante que saibamos lidar
com ela, seja para nosso
próprio desenvolvimento
ou para não sermos passados para trás.
ROBERTO BELINI
“Falsos” técnicos substituem peças novas por usadas em manutenções, além de cobrar pelo serviço
Consumidores saem a procura de computadores em liquidação, sem analisar as configurações básicas
Até onde vale a pena
aproveitar as promoções?
EVELYN IBRAHIM
THALITA NOGUEIRA
4º SEMESTRE
Que as condições oferecidas pelo mercado estão
favoráveis, não há dúvida.
Notebooks em promoção,
parcelas de até 12 vezes,
sem juros, são as propostas
tentadoras que o consumidor pode encontrar. Mas, de
acordo com um levantamento informal do Unifolha, os
preços variam de R$ 800 até
R$ 3,5 mil. Aos que não possuírem o dinheiro à vista,
pode-se parcelar de três a 12
vezes o preço.
Segundo a chamada Lei do
Bem, de 2005, que barateou
em 9,24% o preço do personal computer (PC), os consumidores terão as mesmas
condições oferecidas para
os desktops computers, que
seria o computador convencional, de mesa, porém com
mais benefícios e facilidade
de pagamento.
Várias lojas da capital oferecem semanas repletas de
promoções, e o que o consumidor mais leva, segundo vendedores, são os notebooks. Marco Antônio Cabral, 24 anos, é proprietário
comprado em uma promoção em empresa de grande
nível no mercado consumidor.
Ele diz que já virou necessidade ter de usar um, tanto
como ferramenta de trabalho
quanto para o uso pessoal.
“É imprescindível o acesso
às informações em qualquer
lugar”. Apesar deste ter sido
adquirido na pressa e na correria, Marco destaca que não
se arrepende de sua compra,
pois possui conhecimentos
de informática e, em questão de minutos, pesquisou e
se informou sobre a marca e
a qualidade do produto.
Marco Antônio alega
que comprou o produto só
porque estava com um ótimo preço e pelas diversas
opções de pagamento que
lhe foram propostas. No
entanto, assim que efetuou
a compra, teve de enviar a
um técnico para que o notebook fosse formatado e
trocado, pois o sistema que
estava instalado na máquina
original, o Linux não era o
que é normalmente usado e
encontrado em todos os outros, o Windows.
Mesmo sabendo de futu-
alega que jamais conseguiria
comprar um equipamento
desta qualidade com o mesmo preço e com as opções
que um sistema diferente
proporcionaria. Neste caso,
a diferença poderia chegar
até a mil reais.
O consumidor, quando
for escolher o modelo, deve
ficar atento e não se deixar
levar apenas pela aparência, observando, também, a
duração de bateria, peso, e
a qualidade do produto. Deve, ainda, se policiar com
as mudanças de tecnologia
que estão ocorrendo durante
o ano. E, também, ao adquirir produtos em promoção,
procurar aqueles oferecidos
por empresas fixas e sólidas
no mercado, que disponibilizem uma boa garantia nas
peças e assistência técnica.
Tudo para que não haja futuros gastos com manutenções.
É fato que o notebook, no
futuro, funcionará como um
celular. Todos terão a oportunidade de andar com um,
pelas ruas. Porém, como diria um velho ditado, de Publilius Syrus, em I a.C. “as
coisas valem o que o cliente
Unifolha
CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008
SAÚDE
11
MARIA CECÍLIA DE BARROS
HPV: altos índices
de transmissão e de
desconhecimento
MARIA CECÍLIA DE BARROS
FABIANO PASCHOALOTTO
4º SEMESTRE
O HPV já lidera o ranking
das doenças sexualmente
transmissíveis. Mas, mesmo
assim, continua sendo uma
infecção desconhecida de
muitos. Trata-se de um vírus que pode se manifestar
tanto em homens quanto em
mulheres, que vive na pele
e nas mucosas genitais (vagina, ânus e pênis). Pode se
apresentar de duas formas:
como verrugas ou microscópica, tornando impossível
diagnosticar a doença, sem
exame específico. No caso
das mulheres, o “papanicolau” é o exame regularmente
aplicado pelos ginecologistas.
Na maioria dos casos, o
HPV se cura, mesmo antes
do paciente ser medicado.
Nos homens, isso ocorre
com mais freqüência. Por isso, muitas vezes, a mulher
é diagnosticada, mas seu
parceiro já não apresenta o
vírus.
Para a médica ginecologista Maria Eugênia Faria,
é importante recomendar
a consulta regular das mulheres. “O HPV atinge, em
sua maioria, mulheres entre
14 e 26 anos. Nesta idade,
muitas vezes, o corpo não
apresenta sintoma algum, e
a mulher deixa de fazer um
check up”, alerta. Acaba,
desta forma, desenvolvendo
o vírus que está oculto. “Nos
casos de lesão interna da vagina, é quando temos grandes chances de desencadear
um câncer de colo de útero”,
explica Maria Eugênia.
Hoje, já esta disponível a
Na Unidade Básica de Saúde Albino Coimbra Filho, as quintas-feiras são reservadas para o diagnótico das pacientes
vacina que previne a mulher
contra quatro tipos do HPV:
16, 18, 6 e 11. Os dois primeiros (estão relacionados
ao câncer de colo de útero)
são responsáveis por 94%
dos casos. Porém, a vacina
é cara. Em Campo Grande
o valor, em média, é de R$
443 a dose, sendo que o tratamento requer três.
Quando diagnosticado
prontamente, o HPV não
causa conseqüências mais
graves. Seu tratamento é basicamente a retirada da par-
te lesada, operação que pode
ser feita a laser, cauterização,
entre outros tratamentos. O
cuidado com o corpo e a visita regular ao médico são as
melhores receitas, tanto para
a prevenção quanto para um
diagnóstico pronto.
A importância de um toque sem preconceito
MARIANA BIANCHI
Alvino soube a hora certa de procurar ajuda médica e, hoje, vive com tranquilidade, apesar do tratamento
MARIANA BIANCHI
4º SEMESTRE
Saber exatamente quando
um câncer vai acometer um
ente querido (ou mesmo você), já não é tão impossível
assim. Existem técnicas de
mapeamento genético que
podem prever se e quando
teríamos uma doença. Mato
Grosso do Sul tem um dos
maiores índices de câncer
de próstata do Brasil, 60,88
homens para cada 100 mil.
Fabrício Colacino, 28 anos,
oncologista-cirurgião, explica o que é a próstata. “É um
pequeno órgão genital entre
o reto e a bexiga com função
hormonal. Quer dizer, ela
controla o ciclo hormonal
masculino”. Segundo ele, o
câncer ocorre pelos intensos
bombardeios hormonais que
a próstata sofre ao longo da
vida. Lá, fica uma ferida que
o próprio organismo não consegue curar. Daí, o câncer.
O médico frisa a grande
importância dos exames
feitos previamente, como o
toque. Há muitas piadas sobre ele, e sua imagem está
um pouco denegrida. Contudo, ele ainda é o principal responsável por detectar a doença.
Como tratamento, existem
a hormonioterapia, radioterapia e cirurgia. A hormonioterapia tira de circulação
do organismo os hormônios
que estão causando o tumor.
A radioterapia utiliza-se de
radiação para bloquear a
próstata, e a cirurgia é a retirada do órgão genital.
Uma grande polêmica que
gira em torno da cirurgia da
próstata é a provável impotência. Há 40% de chance
de que isso aconteça. Porém,
existem alternativas, como
a prótese peniana e medicamentos.
Mas, mesmo assim, a palavra “câncer” causa tanto espanto que, às vezes, o
que mata não é a doença,
mas o medo. Bem, isso não
se aplica a todos. Com três
filhos, 83 anos e uma energia de dar inveja a qualquer
jovem, Alvino Accetturi dá
um show de bom humor e
força. Esse mineiro mora
em Campo Grande, há 38
anos. Foi bancário por 35
e manteve uma imobiliária
por mais 31 anos. Em meio
a lembranças, piadas e aulas de Matemática para uma
jornalista (como fazer o “nove vezes fora”), seu Alvino
conta de um câncer que tra-
ta com hormonioterapia há
três anos, combinado com a
radioterapia. Tudo de graça,
pelo Hospital do Câncer de
Campo Grande.
Aos 80 anos, foi fazer o
check up, e lá estava o tumor. “Os homens têm vergonha de fazer o exame do
toque, mas isso é pura ignorância”, destaca Alvino.
O exame foi feito e foi de
fundamental importância.
O PSA é um ingrediente do
sêmen, que, se detectado em
valor maior que o normal, pode ser um sinal de câncer na
próstata. Esse exame é feito
pelo sangue, e Alvino também
o fez. Aliás, ele fez tudo que
os médicos pediram e colaborou prontamente.
Espírita, acredita que, daqui, nada se leva: nem dinheiro, casa, carro, muito menos
o corpo. Sua esposa, Ginete,
também já teve câncer e, hoje, trata de uma insuficiência
cardiovascular. Até hoje, faz
a quimioterapia uma vez ao
mês, e seu PSA que, quando
detectado o câncer, estava em
oito, está hoje a 0,24. Uma vitória, com certeza, para esse
homem que sabe o que quer,
mas não sabe o que o aguarda
do outro lado.
Pele: antes previnir do que operar
GISLAINE GIRONDE
PAULA REIS
4º SEMESTRE
Campo Grande é conhecida como capital Morena e,
ultimamente, pelo sol forte,
bom para deixar o bronzeado impecável. Aí está o perigo. Muita gente se esquece
de usar o filtro solar... Isso
pode trazer sérias conseqüências, como o câncer de
pele.
Luciano Kivel, coordenador de vendas, conta que
percebeu uma mancha em
seu braço, mas achava que
era um machucado. Com o
passar dos dias, notou que
nunca sarava. Foi aí que procurou um dermatologista.
O especialista examinou
a pele como um todo e detectou o câncer em uma minúscula região do seu braço.
Kível passará por uma cirurgia, que será uma espécie
de raspagem, para remover
o câncer. Ele conta que por
ter a pele clara, ficava mais
vulnerável à doença.
Na maioria dos casos, o
câncer de pele atinge pesso-
as de cor alva. Aliás, quanto
mais clara a tez, mais riscos
a pessoa tem de contrair a
doença. Isso explica o fato de Santa Catarina ter o
maior índice de pessoas com
esta enfermidade.
Existem três tipos de câncer de pele. O carcimoma
basocelular é menos grave e
mais freqüente em pessoas
acima dos 40 anos, devido
ao acúmulo da exposição
solar. O carcinoma espinocelular é causado pela exposição sem proteção ao sol, e o
melanoma é o mais perigoso. Neste último, ele aparece
como uma pinta escura que
vai se deformando. Se não
for descoberto no início, já
não há mais cura. Ele mata
100% das pessoas que não o
descobrem precocemente.
Por isso, é importante estar atento a lesões que aparecem de forma repentina
e aumentam rapidamente,
afirma Júlia Menegazzo Moreira, médica formada pela
Uniderp. Ela atende no PSF
Marabá e encaminha ao dermatologista pacientes com
lesões julgadas “suspeitas”.
Quando o câncer é descoberto no início, o tumor é retirado com uma simples incisão cirúrgica. Mas, quando
a pessoa não dá atenção aos
possíveis sinais da doença,
a cirurgia pode ser um pouco mais complexa, explica a
médica.
Luiz Carlos, 28 anos, gerente de compras, relata
que há dois anos surgiu uma
mancha bem estranha, próxima ao nariz. Ele conta que
sabe que pode estar com
câncer, por ter a pele clara e a
mancha ter aumentado. Mas,
ainda não procurou um profissional, por falta de tempo.
Quem já teve a doença sabe que não basta fazer a cirurgia para estar imune. Se
não tomar cuidados básicos,
como o uso do filtro solar e
evitar exposição ao sol em
horários mais críticos, está
vulnerável a contrair o câncer outras vezes.
Elizabeth Volkopf, 46 anos,
comerciante, teve câncer de
pele duas vezes. Ela conta
que não fica muito exposta
ao sol e sempre passa protetor solar. O primeiro câncer
surgiu no pescoço. Era uma
mancha que sangrava, conta
Elizabeth.
Não pensava que poderia
ser câncer, mas, incomodada
com a mancha e, por ser uma
mulher vaidosa, foi procurar
um dermatologista. Ficou
surpresa com o diagnóstico,
pois não esperava que uma
pequena mancha próxima ao
nariz também fosse câncer
de pele.
Elizabeth passou pela cirurgia para a remoção dos tumores no mesmo dia. Ela também
relata que procurou o médico
por razão estética. Não pensava que a consulta resultaria
em cirurgia. Ela afirma que
continua se cuidando e está
sempre atenta aos sinais.
Mas, ninguém precisa se
alarmar e chegar a não sair
mais de casa com medo do
sol. Ele nos propicia muitos
benefícios. Basta aproveitálo com responsabilidade.
Afinal, filtro solar, chapéu e
bom-senso, não fazem mal a
ninguém.
GISLAINE GIRONDE
Câncer de pele pode ser maléfico; porém, a cirurgia é rápida e eficaz
12
Unifolha
RURAL
CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008
CANA-DE-AÇÚCAR - ALTERNATIVAS
MS é promessa para o etanol
LIANA FEITOSA
RAFAELA ALVES
4° SEMESTRE
Como nova alternativa
de combustível menos poluente, não esgotável e que
pode ser opção para países
dependentes do petróleo,
o etanol tem se destacado
no mercado nacional e internacional. Países como a
Suécia, fecharam contrato
com empresas brasileiras
que já exportam o produto.
Para Mato Grosso do Sul,
as expectativas também
são positivas.
Segundo o gerente do
Sindicato da Indústria da
Fabricação do Açúcar e
do Álcool do Estado de
Mato Grosso do Sul (Sindal/MS), Paulo Aurélio, as
expectativas atuais são de
uma colheita que supere a
de 2007. Isso já para a safra 2008/2008, que está em
curso. “Esta safra deve ser
49% superior à passada.
Devemos passar de 15 milhões de toneladas para 22
milhões de cana a ser moída. A produção de açúcar
deve chegar a 800 mil toneladas e o álcool a, aproximadamente, 1,3 bilhões”.
Com tanta produção,
Mato Grosso do Sul ga-
nha com a diversificação
da economia em relação
aos produtos aqui cultivados. Assim, o estado acaba
“saindo do ‘binômio’ gado
e soja, para uma economia
mais diversificada”.
Além disso, já acontece
no estado a ocupação de
pastagens improdutivas
antes utilizadas para pecuária. Como a terra encontra-se degradada, a cultura
da cana é implantada como opção para o produtor,
evitando, até mesmo, a invasão de terras férteis ou
preservadas por lei, para
essa finalidade. As áreas
produtivas utilizadas para
o plantio de cana são, segundo o gerente, apenas
2% do total das terras usadas para todas as formas de
agricultura no Brasil.
DADOS
De acordo com levantamentos da Secretaria do
Estado de Desenvolvimento Agrário, de Produção, da
Indústria, do Comércio e
do Turismo de Mato Grosso do Sul (Seprotur/MS),
há na região, aproximadamente 10 milhões de hectares de pastagem degrada-
da. Porém, a cana-de-açúcar
deve ocupar no futuro, após
sua implantação completa,
cerca de 1 milhão de hectares - o que significa apenas
10% da área total ocupada
com pastagens. Para Paulo
Aurélio, o número é pequeno se comparado a outros
produtos cultivados na região.
O etanol é, então, uma opção promissora para o estado,
no que diz respeito à produ-
ção de energia, uma vez que o
mercado externo busca, atualmente, alternativas que fujam
da dependência do petróleo.
Paulo Aurélio esclarece
ainda que, ao contrário dos
Estados Unidos, o etanol
LIANA FEITOSA
Gerente-Executivo do Sindal/MS: Cana-de-açúcar migra para áreas que não produzem mais que 0,6 cabeças de gado por hectare
brasileiro, derivado da
cana-de-açúcar, tem um
custo bem menor que o
biocombustível norteamericano, o que gera, inclusive, polêmicas sobre
o combustível. Pesquisadores de organizações
não-governamentais (Ongs) que lutam contra a fome mundial, alertam para
os perigos do crescente
cultivo de novas alternativas energéticas como
ponte para o aumento da
escassez de alimentos no
mundo, gerando mais desequilíbrio social entre os
países. “O que acontece é
que, nos EUA, o álcool é
produzido com milho, e a
um custo absurdo, tendo
que ser subsidiado pelo
governo. Lá, para aumentar a produção de etanol
de milho, é preciso deixar
de plantar alimentos, o
que não acontece aqui”.
Mesmo São Paulo sendo maior produtor de
cana do país, os estados
de Goiás, Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul são
promessas de destaque
na produção do etanol
brasileiro, movimentando
o mercado nacional.
Vantagens e desvantagens do biocombustível
WESLEY ANTÔNIO
Consumo de biocombustíveis é em torno de 10% da demanda mundial, apesar do etanol produzir dez vezes menos CO2 que o combustível convencional
WESLEY ANTÔNIO
4° SEMESTRE
Por possuir melhores condições geográficas, climáticas, culturais, econômicas
e tecnológicas, o Brasil tem
tudo para se destacar e liderar a produção de etanol, conhecido mundialmente como
álcool combustível. Hoje, são
utilizados, no mundo, 600
bilhões de litros de combustível ao ano. O consumo de
biocombustivel é algo em
torno de 60 bilhões de litros,
apenas 10% da demanda
mundial.
Alguns fatores que dificultam a produção de biocombustível são a exigência da
ocupação de grandes áreas
para a plantação de cana, irrigação e o uso de produtos
químicos. Além disso, não
houve um acordo para a padronização do etanol. Enquanto, no Brasil, se produz
etanol de cana; nos Estados
Unidos, se usa o milho.
A grande vantagem que o
biocombustível tem sobre o
petróleo é a menor porcentagem de poluição. O etanol
produz dez vezes menos CO2
que o combustível normal, e
isso se deve ao fato de que o
hidrogênio líquido e a eletricidade produzida pelas baterias não produzem poluentes.
Mas, por sua vez, a produção
de hidrogênio exige gasto de
eletricidade e requer queima
de carvão e petróleo em termelétricas. É este processo
que produz mais CO2.
Graça às boas condições
que o Brasil possui para a
produção de cana, o governo
tem grandes esperanças em
relação ao biocombustível e
afirma, por meio de técnicos
especializados, que isso não
afetará a produção de alimentos, principal medo da população.
Fiscalização nos canaviais sofre dificuldades
ALYNNE ZANCANELLI
ROSÁLIA PRATA
4° SEMESTRE
O setor sucroalcooleiro em
Mato Grosso do Sul é o segundo maior em produção do país.
O estado apresenta um grande
volume de produção, que, futuramente, pode acabar com a
mão-de-obra, devido à mecanização.
Conforme explica o chefe da
Seção de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho
e Emprego (MTE), Antônio
Maria Parron, a mão de obra é,
atualmente, contratada pelas
próprias indústrias, existindo
casos em que as usinas fazem
acordos com empresas, terceirizando o serviço. Trata-se do
famoso “gato”, quando os trabalhadores contratados ficam
sem receber, pois os usineiros
já pagaram pela mão-de-obra,
pela qual a empresa responsável de repassar esse dinheiro
não efetuou o pagamento.
Em sua maioria, os trabalhadores são nordestinos, indíge-
nas e alguns imigrantes que
vivem ilegalmente no estado.
Parron diz que as principais reclamações dos operários são os
preços do corte da cana, pois
não correspondem às espectativas dos trabalhadores. Só
neste ano, três greves foram
realizadas no estado, causando
repercussão, principalmente,
nas regiões em que os trabalhadores são contratados, deixando Mato Grosso do Sul com
pouca mão-de-obra.
No estado, atuam 49 auditores fiscais, mas, de acordo
com Antônio Parron, apenas
seis trabalham na fiscalização
rural. E, somente três são encarregados de fiscalizar essas
plantações. Devido à falta de
auditores, está sendo formado
um grupo móvel, parceria com
Cuiabá-MT, que trará três novos responsáveis para Campo
Grande.
Nas fiscalizações realizadas, são encontradas, principalmente, irregularidades de
indústrias reincidentes. Essas
anormalidades são, geralmen-
BRAZ ANTONIO DE MELO
Cortadores de cana-de-açúcar estão sofrendo com a falta de melhores condições de trabalho e moradia no estado
te, de moradia, local próprio
para o almoço, falta da água
para o banho e consumo próprio, além de deficiência de
transporte e saúde.
Essas fiscalizações são realizadas a partir de um planejamento, que vem de Brasília,
ou seja, nem sempre surgindo
no ritmo das denúncias. Os
fiscais devem ser muito cautelosos na hora de diagnosticar
as condições “consideradas
degradantes”, para que não
sejam forjadas, alerta Antônio
Parron. Houve casos de greves
em que trabalhadores forjaram
a situação de moradia, pois
não estavam satisfeitos com a
remuneração.
Após detectado o problema, a MTE vai com a Polícia
Federal e verifica se todos os
trabalhadores estão devidamente contratados. Em caso de
irregularidade, a usina é forçada a dar a recisão indireta aos
funcionários, fazer o acerto e,
ainda, pagar os seis meses de
seguro-desemprego.
Unifolha
CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008
MEIO AMBIENTE
13
POLUIÇÃO - MODERNIDADE
Em meio a condições desumanas, coletores trabalham noite e dia para garantir o sustento da família
Lixão: fonte de renda e problemas ambientais
ISABELA FERREIRA
THARY DURIGON
4º SEMESTRE
Você sabe qual é o destino do seu lixo? Além de ir
para o lixão, tudo o que não
é aproveitado na sua casa
pode ter valor para outras
pessoas. Em meio às montanhas de dejetos que caracterizam o lixão, cerca de 300
pessoas se revezam noite e
dia como coletores. Ali, eles
garantem sua renda mensal, recolhendo e vendendo
plástico, papel, latinha, entre outros utensílios. Muitas
vezes, encontram objetos
que servem para o seu próprio uso.
Segundo o engenheiro
ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (Semades), Antônio Car-
ISABELA FERREIRA
Cerca de 300 pessoas sobrevivem por intermédio dos resíduos domiciliares
los Silva Sampaio, o lixão
da capital ocupa uma área
de 15 a 20 hectares. Cerca
de 95% do lixo produzido
pelos campo-grandenses é
recolhido por uma empresa
terceirizada, contratada pela
prefeitura.
O engenheiro também fala sobre o lixo hospitalar.
Ele afirma que este tipo de
resíduo é depositado sepa-
radamente dos detritos domésticos, porque possui microorganismos patogênicos
que podem trazer riscos à
saúde de quem trabalha no
local. Alguns hospitais ainda não separam o seu lixo,
e isso dificulta o trabalho da
coleta. De todas as instituições de saúde da capital, 15
a 20% precisam colaborar e
separar o material utilizado.
O ideal seria que houvesse
a coleta seletiva na capital,
porém, ainda, não há tantos
investimentos nesse setor
devido ao custo. Esse tipo
de coleta requer mais gastos
e, segundo Antônio Carlos,
o lixo separado “gera grande
volume com pouca massa”.
Por outro lado, a coleta seletiva faria com que a renda
dos catadores autônomos
aumentasse, uma vez que
o lixo separado apresenta
maior valor comercial. Estudos já estão sendo feitos para que se comece a estimular
a coleta seletiva, pelo menos
uma vez por semana.
Para quem passa no anel
rodoviário no trecho entre
as saídas de São Paulo e Sidrolândia, onde se situa o lixão, é impossível não sentir
o mau cheiro que se espalha
pelo local. Mas este não é o
único problema ambiental
causado pelas toneladas de
lixo. Poluição visual, emissão de gás metano e a poluição do lençol freático pelo
chorume são também outras
conseqüências. Por isso, está
sendo construído um aterro
sanitário, onde o lixo receberá um tratamento adequado,
e esta ação tem condições de
diminuir, em grande parte,
os problemas ambientais citados.
Conseqüências ambientais
• Contaminação do lençol freático e do solo por meio
do chorume (líquido proveniente da decomposição do lixo).
• Irradiação do gás metano por conta da
decomposição do lixo. Este gás polui 20 vezes mais
que o gás carbônico. É um dos responsáveis pelo
efeito estufa.
• Poluição do ar (local malcheiroso)
• Poluição visual
• Queimadas
HUGO CRIPPA
MUDANÇA
ISABELA FERREIRA
Coletor “Mineirinho” emociona com suas histórias e seus desabafos
Aterro terá estrutura moderna e ecologicamente correta, com fundo impermeabilizado e drenos que captarão o gás metano proveniente do lixo
Sobrevivência
Renovação: novo aterro além da vida
sanitário substitui lixão
GISELLE RIBEIRO
HUGO CRIPPA
4º SEMESTRE
DOUGLAS QUEIROZ
ISABELA FERREIRA
4º SEMESTRE
Apenas 10% do lixo gerado no Brasil têm uma
destinação adequada, o
aterro sanitário. Campo
Grande ainda não pode se
incluir nesta estatística,
pois todo o resíduo que
produzimos, cerca de 550
a 660 toneladas por dia, é
despejado diariamente, no
lixão, local que não possui
uma estrutura apropriada
DOUGLAS QUEIROZ
A partir do ano que vem, este lixo pode ter um destino mais adequado
para atender tal demanda,
sem prejudicar o meio ambiente sob vários aspectos.
As informações são do engenheiro ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável (Semades), Antônio Carlos Silva Sampaio.
Porém, daqui a alguns
meses, essa realidade irá
mudar. Isto porque, está
sendo construído um aterro sanitário ao lado do atual lixão, que fica no anel
rodoviário, entre as saídas
de São Paulo e Sidrolândia. Antônio Carlos informa que o investimento
está em torno de R$ 11 a
R$ 12 milhões, sendo que
a obra deve ocupar uma
área com cerca de 20 hectares.
O aterro sanitário, diferente do atual lixão, que é
caracterizado por montanhas de detritos, possuirá
uma estrutura moderna e
ecologicamente correta.
Para se ter uma idéia, o
fundo do aterro será impermeabilizado, o que não
deixará que o chorume, líquido escuro proveniente
da decomposição do lixo,
polua o solo e o lençol
freático. Este líquido será
captado por um sistema de
drenagem que o transpor-
tará para uma estação de
tratamento.
O local também contará com outros drenos que
captarão o gás metano proveniente da decomposição
do lixo. Este gás polui mais
que o carbônico e é um
dos maiores responsáveis
pelo aquecimento global.
Apesar da grande expectativa e dos benefícios que
a população pode vir a ter
com esta obra, fica uma
dúvida no ar: como os cerca de 300 coletores que
atualmente trabalham no
lixão sobreviverão? Eles
poderão continuar coletando lixo no novo local?
Não, não será mais permitido este tipo de trabalho.
Contudo, Antônio Carlos
afirma que está prevista, no
aterro sanitário, a criação
de uma esteira, uma usina
de triagem, de separação
de lixo, em que somente
alguns trabalhadores serão priorizados. “Alguns
coletores estão lá fazendo
daquilo um meio de vida.
Provavelmente, estes que
estão lá constantemente
deverão ser aproveitados”,
relata. Ele ainda acrescenta
que os demais trabalhadores receberão apoio da prefeitura, por meio de cursos
profissionalizantes.
Um lugar que realmente
nos fez pensar no que vimos
e sentimos é o lixão da cidade. O mau cheiro ficou por
horas impregnado em nossas roupas. A autorização
para entrar no lixão era quase impossível. Mas, a procura de vivências, experiências
e histórias eram maiores, e,
por isso, conseguimos entrar. O cheiro lembrava o
esgoto. Algumas pessoas
até nos cumprimentavam,
outros encaravam como se
estivéssemos invadindo seu
território.
Além dos detritos comuns,
como pneus, garrafas pet,
papéis e entulhos, encontramos materiais escolares,
CDs, aparelhos eletrônicos,
tudo que se possa imaginar.
Afinal, tudo vai para o lixo.
Rejeitos que, para os catadores, representam fonte de
renda e vida. Quem nos contou mais foi um senhor. Ele
levava em seu olhar triste o
sofrimento de conseguir se
manter vivo.
Seu nome, João, mais conhecido como Mineirinho.
Usava um chapéu preto, calça, camisa e botas rasgadas.
“Vocês são limpinho, e eu sô
sujo. Vocês são estudado, eu
sô analfabeto”. Foi assim que
começamos uma conversa.
Um senhor de 57 anos, que
há 14 trabalha no lixão e comia o seu único alimento do
dia, uma maçã. Tinha muita vergonha de seus poucos
dentes. Mineirinho explicou
sobre o lixão, os preços e o
que é mais valorizado. Ele
separa os melhores entulhos
e vende.
Mostrou as três notas de
dez reais que conseguiu naquele dia. Perguntamos de
onde vinha o seu chapéu.
“Achei aqui. Ih... já achei
tanta coisa, até colar de ouro. Meu cachorro, encontrei
aqui.” Prefere ir trabalhar à
noite. Mesmo sem iluminação e no meio de imensas
montanhas de lixo, consegue encontrar o que precisa. “Enxergo com os olhos
de Deus”. O mau cheiro,
sempre presente. Observamos em seus olhos as
lágrimas de uma triste realidade.
Estávamos envolvidos a
ponto de nos emocionar.
João começou a chorar,
contar de como tinha saudades do tempo em que
trabalhava na fazenda e
tinha comida e uma “vida
boa”. Segurou a mão de
um de nós, colocou em seu
peito, apertou forte e disse “Eu sou uma pessoa do
bem”. Abraçou um de nós
e mesmo com o mau cheiro, retribuímos o abraço
a quem transmitiu muito, por horas. “Posso ser
analfabeto, não ser doutor,
advogado e viver no lixão.
Não importa. ELE tá acima
de tudo…”.
14
Unifolha
UNIVERSIDADE
CAMPO GRANDE - MS - OUTUBRO - 2008
Instituição oferece novos cursos: três de engenharia e quatro superiores em tecnologia
Uniderp abre inscrições para vestibular
ASCOM - UNIDERP
A Universidade para o
Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal
(Uniderp), que integra a
Anhanguera Educacional,
está com inscrições abertas
para o Concurso Vestibular 2009. Para essa edição
do vestibular, a novidade
é o oferecimento de novos
cursos. São três na área de
engenharia: Engenharia de
Produção, Engenharia Mecânica e Engenharia Mecatrônica; e quatro novos Cursos Superiores de Tecnologia: Estética e Cosmética,
Gestão Ambiental, Gestão
de Turismo e Secretariado.
Todos oferecidos em Campo Grande, MS.
As inscrições podem
ser feitas até o dia 19 de
novembro no site www.
uniderp.br. Para efetivar a
inscrição, o candidato deve efetuar o pagamento da
taxa de R$ 20,00. O comprovante da quitação deve
ser apresentado no dia de
realização das provas (23
de novembro), com o documento de identificação do
candidato.
Na Capital, também serão oferecidas vagas para
os cursos de Administração, Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Ciência
da Computação, Ciências
Biológicas, Ciências Contábeis, Comunicação Social
– Jornalismo, Comunicação
Social – Publicidade e Pro-
WAGNER GUIMARÃES
paganda, Direito, Educação
Física, Enfermagem, Engenharia Civil, Engenharia
da Computação, Engenharia Elétrica/Eletrônica, Far-
mácia, Fisioterapia, Letras
– Português–Inglês e Respectivas Literaturas e/ou
Tradutor e Intérprete, Letras – Português-Espanhol
e Respectivas Literaturas,
Matemática, Medicina,
Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Pedagogia, Psicologia e Serviço
Social. Já no campus de Rio
Verde de Mato Grosso serão
oferecidas vagas para os cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito.
Tecnológicos- Para os
candidatos que desejam
uma rápida inserção no
mercado de trabalho,
além dos cursos novos,
a Universidade oferece,
neste vestibular, vagas para os Cursos Superiores
de Tecnologia em Análise
e Desenvolvimento de Sistemas, Design de Moda,
Gestão de Recursos Humanos, Gestão Hospitalar, Logística, Marketing,
Pr o d u ç ã o M u l t i m í d i a ,
Produção Sucroalcooleira
e Redes de Computadores, em Campo Grande; e
Tecnologia em Análise e
Desenvolvimento de Sistemas, em Rio Verde de
Mato Grosso.
Provas – As provas do
vestibular acontecerão no
dia 23 de novembro no
campus I da Uniderp em
Campo Grande e no campus IV da Uniderp em Rio
Verde de Mato Grosso. Os
candidatos que optarem
pelo curso de Medicina farão as provas somente em
Campo Grande. É importante que os candidatos
confirmem sua inscrição
no site da universidade
no dia 22 de novembro.
Serviço – Outros detalhes sobre os cursos, como
por exemplo, duração e
habilitações, e mais informações sobre o Vestibular
2009/1 podem ser obtidas
pela internet (www.uniderp.br) ou pelo telefone
0800-941-4422.
ENTREVISTA
Unifolha
CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008
15
GUSTAVO DE DEUS
"Eu não me preocupo
em agradar ou
desagradar ninguém.
Eu não quero saber
quem está de um
lado ou do outro. Eu
decido com a minha
consciência e com o que
eu entendo por direito
justo"
"Eu gosto de dizer
que, para contar o
meu tempo de serviço,
é preciso tirar uma
xerox do cabo da
vassoura"
“Eu não tenho a menor dúvida de que
o Brasil será o berço da humanidade”
Dorival Moreira dos Santos - Juiz
E
le poderia ter sido um violonista de grande sucesso, mas preferiu seguir outro caminho, o da
Justiça. Estamos falando do juiz titular da Vara
Aline Aranda
Daniela Damazio
Elza Recaldes
Gustavo de Deus
Vanessa Mendonça
4º Semestre
O senhor tem quase 50
anos de jurisprudência.
Conte um pouco da sua profissão e da sua trajetória até
hoje.
O meu tempo oficial de
vida florense é contado a
partir dos 16 anos, mas, na
verdade, eu comecei com 12.
Eu era um tipo de office-boy
em um cartório. Eu trabalhei
por quatro anos, sem vínculo
algum com o cartório. Então,
quando eu fiz 16 anos, foi oficialmente reconhecida a minha vinculação com o Poder
Judiciário. Além de office-boy,
eu fui datilógrafo, escrevente
e até a limpeza interna do cartório eu fiz. Eu gosto de dizer
que, para contar o meu tempo
de serviço, é preciso tirar uma
xerox do cabo da vassoura. Eu
comecei com o cabo da vassoura e fui subindo até chegar
aqui. Eu nasci em Votuporanga-SP, mas me criei em São José do Rio Preto-SP, onde eu fiz
a minha faculdade de Direito.
Desde que Mato Grosso do
Sul foi criado, eu sentia vontade de vir trabalhar aqui. Então,
em 1981, eu me inscrevi em
um concurso de magistratura
em Campo Grande. Tive a sorte de ser aprovado e eu estou
aqui até hoje.
A Vara que o senhor atua
é bem abrangente. Mas, se
analisarmos as decisões deferidas pelo senhor, percebemos uma forte contribuição
social. Será que podemos dizer que a atuação da Vara é
uma forma de aproximação
entre a Justiça e o cidadão
comum?
Na minha visão pessoal,
esta é a Vara que está mais
próxima das pessoas, do cidadão, do povo mesmo. Porque todas as decisões que
saem daqui, normalmente,
atingem um grande número
de pessoas. Esta Vara foi instalada, simbolicamente, no
final de 2004, mas só começou efetivamente o trabalho
em fevereiro de 2005. Nós
atuamos em ações civis públicas, ações populares, mandados de segurança coletivos
e ações coletivas envolvendo o direito do consumidor.
Existem, também, ações
mais delicadas, como as de
improbidade administrativa,
que envolvem a administra-
dos Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, Dorival Moreira dos Santos. Aos 62 anos,
destes, quase 50 dedicados ao Direito, ele fala, em
ção pública. Logicamente, a
legitimidade para essas ações
está prevista em lei. Eu acho
que vai levar um tempo para
que haja uma consciência do
alcance e da competência da
Vara. Ela tem menos de quatro anos de vida, e já correspondeu à expectativa da sua
criação. Os nossos julgamentos beneficiaram um grande
número de pessoas, porque já
houve sentenças em todas as
áreas, como direito do consumidor, meio ambiente, segurança coletiva e improbidade
administrativa, que teve ampla repercussão na imprensa.
As suas decisões são, geralmente, a favor de cidadãos comuns, contra grandes empresas, ou, até mesmo, contra o Estado. Quais
são as maiores dificuldades
que o senhor encontra?
O que acontece, às vezes, é
que as decisões dos tribunais,
inclusive o nosso, são tomadas
em cima do Código Processual
Civil, que é de 1973, e abrange
apenas o Direito Individual e
Privado. Como nós não temos
uma lei processual específica para os direitos coletivos,
então, se aplica a mesma lei.
Quando você julga direitos coletivos em cima de regras criadas para os direitos individuais
privados, evidentemente, nem
sempre, dá certo. Tem havido
decisões que, ao contrário do
que se possa imaginar, acabam
prejudicando a coletividade.
Nós trabalhamos em cima de
princípios, mas as ações que
são ajuizadas aqui envolvem
direitos expressamente previstos na Constituição Federal. Eu
não me preocupo em agradar
ou desagradar ninguém. Eu
não quero saber quem está de
um lado ou do outro. Eu decido com a minha consciência
e com o que eu entendo por,
direito justo.
Algumas de suas determinações beneficiaram toda a
população, como a proibição da obrigatoriedade de
exame de HIV para participação em concursos e garantia de acessibilidade para cadeirantes em prédios.
Qualquer cidadão pode ter
acesso à Vara? E qual é o caminho que ele deve buscar?
As pessoas podem procurar
o Procon, a Defensoria Pública, as associações de defesa
do consumidor, as Ongs e os
centros de defesa da cidadania e dos direitos humanos.
O Ministério Público tem
uma equipe específica para
cuidar do direito coletivo.
Aliás, o Ministério Público e
o Estadual são os mais atuantes dentro da Vara, os que
mais aceitam nossas ações. A
abrangência da Vara impressiona. Como já disse, temos
decisões em várias áreas. Na
saúde, por exemplo, temos
o direito à internação, cirurgias, medicamentos e direitos a portadores de necessidades especiais. Eu acho que
todas as pessoas deveriam ler
a Constituição Brasileira. Assim, elas teriam uma noção
dos seus direitos e deveres.
Lá, estão todos os princípios
que regem a nossa vida. No
meu ponto de vista, a nossa
Constituição é uma das mais
evoluídas do mundo, quando se trata do direito das pessoas, físicas ou jurídicas. O
Código de Defesa do Consumidor completa 18 anos este
mês. Ele chega à maioridade,
com muita alegria e comemoração. Eu o considero um
monumento político.
O Brasil vive uma crise
moral que atinge todos os
setores públicos e as instituições. Temos, também, uma
grande descrença da população com as autoridades
em geral. Deve ser desconfortável para quem trabalha
sério ser incluído nessa generalização.
O problema do Brasil é a
estrutura eleitoral. A legislação eleitoral e o critério para a escolha dos candidatos
são embasados em lei, mas,
no meu ponto de vista, ela
restringe a participação do
cidadão. Os partidos políticos são formados por pessoas
que defendem uma mesma
ideologia. Outros que não
concordam com essa filosofia formam outros partidos
e assim sucessivamente. Se
alguém de bem quiser fazer parte da administração
pública através do processo
eleitoral, tem que se filiar a
um desses partidos, que nem
sempre estão de acordo com
a sua filosofia, com o seu entendimento de como deve
ser a administração pública. Recentemente, eu passei
pelo Tribunal Eleitoral, e fui
campeão em voto vencido. O
que eu presenciei ali foi algo
que me deixou muito preocupado. Mas eu vi, também,
que existem pessoas preocupadas em sanear o campo
político. Eu tenho uma verdadeira esperança que essas
pessoas idealistas, que lutam
entrevista ao Unifolha, sobre o seu trabalho, como
a Justiça pode ser mais humana e até a respeito de
música.
pela melhoria da sociedade, não
vão desanimar, não vão desistir.
Eu me considero pertencente a
esse grupo. Eu estou nessa carreira porque eu gosto. Eu já tenho
tempo de sobra para aposentar,
mas enquanto eu tiver força, eu,
como juiz, vou lutar para que o
direito justo prevaleça.
É discurso comum nos dias de
hoje que a Justiça só funciona
para os ricos. E pelos exemplos
que nós vemos acontecer todos
os dias, essa afirmação parece
não ser considerada falsa. O senhor acredita que um dia o Brasil será um país mais justo, onde
GUSTAVO DE DEUS
"Eu acho que
todas as pessoas
deveriam ler a
Constituição
Brasileira. Assim
elas teriam uma
noção dos seus
direitos e deveres"
todos terão tratamento igual?
Eu não tenho a menor dúvida
de que o Brasil será o berço da humanidade. Nós temos tudo aquilo
que os outros países não têm, como riquezas naturais e humanas.
Na verdade, o que aconteceu é
que nós estávamos em um caminho, há décadas passadas, mas, de
repente, houve um desvio. Agora, estamos voltando de novo ao
trilho de onde nunca deveríamos
ter saído. O paternalismo político
deve ser eliminado. Precisamos
dar condições para que as pessoas
humildes busquem seu caminho
com as próprias pernas. Um país só evolui através da educação.
Com a educação, vem a cultura,
vem a solidariedade, que é fundamental. Sem solidariedade, não
chegaremos a lugar algum.
Temos necessidade de uma
educação adequada, para que
as nossas crianças e nossos
adolescentes sejam capazes
de assumir responsabilidades com ética, buscando um
objetivo comum e do bem,
que pensem na coletividade.
Precisamos de pessoas bem
informadas, que tenham certeza do que estão falando e
fazendo.
Nós sabemos que o senhor é um grande apreciador da música, e que entre
um processo e outro dedilha o seu violão. A música
é uma paixão, ou uma válvula de escape para o seu
estressante trabalho? O senhor trocaria os tribunais
pelos palcos?
A música teve uma grande influência na minha vida. Desde garoto, eu convivi
com a música. Meu pai, Antônio dos Santos Filho, foi
um grande acordeonista, era
um músico muito respeitado
na época. Ele aprendeu a tocar acordeom sozinho, porque
não tinha recursos. Como ele
trabalhava com lavoura de café, não tinha condições de estudar música. Meu pai acompanhou orquestras e regionais.
Também, acompanhou cantores e cantoras, como Nélson
Gonçalves, Altemar Dutra,
Ângela Maria e Vicente Celestino. Eu comecei a tocar violão
com 14 anos. Na verdade, eu
queria ser pianista, mas como
o piano era muito caro, meu
pai me deu um violão. Eu toquei por um tempo, cheguei
a estudar com o José Rasteli,
mas, quando eu fui para o
Exército, fui obrigado a parar. Hoje, por falta de tempo,
eu quase não pego no violão.
Mas, eu sou um apaixonado
por música. Quando eu ouço
música, sinto-me feliz, com
ela eu consigo me acalmar.
Eu acho que todos nós devemos ter, aliado ao nosso trabalho do dia-a-dia, algo que nos
complemente, como a música.
Eu vou confessar uma coisa
para vocês. Eu não tenho nada planejado, mas logo que
eu encerrar a minha carreira
jurídica, gostaria muito de fazer uma faculdade de música,
estudar mais profundamente
a música. Eu também tenho
um sonho de gravar um CD
com um fim social, em que a
renda seja revertida às pessoas
necessitadas. Como tudo que
eu sonhei na minha vida eu
atingi, eu pretendo realizar esse também.
"No meu ponto de vista, a nossa Constituição é uma das mais
evoluídas do mundo quando se trata do direito das pessoas,
físicas ou jurídicas."
16
Unifolha
COMPORTAMENTO
CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008
Tecnologia é
DANIELE RAMOS
capaz de
suprir a tradição
DANIELE RAMOS
LUCIENE FRATINI
4º SEMESTRE
Será mesmo que a tecnologia é capaz de fazer com que
as crianças de hoje deixem a
tradição de brincar com bonecas, jogos e futebol? Existem pais que nos mostram
que crianças se interessam
mais, atualmente, por computador, videogames, bichinho virtual, sites, entre outros. Antes, tudo se resolvia
com algumas conversas, ou,
até mesmo, com o famoso
“castigo”. Já, hoje, não. As
providências são tomadas de
outra forma.
Akmi tem apenas 11 anos,
é filha única, mora com a
mãe e padrasto. “Hoje, existe
pouco diálogo devido à tecnologia que nós temos em
mãos”, acredita. Ela leva para a escola seu celular com
câmara digital. Chega em casa e vai para o computador
acessar o Orkut e Messenger.
Quando não está fazendo isso, você a encontra no shopping, na praça de alimentação, comendo algo diferente,
ou, até mesmo, no cinema.
Ir à casa de amigos, para
tomar um tereré, também
é uma opção bem cogitada.
Ela afirma que seus pais não
a proíbem de nada. Ao sair,
sempre dão dinheiro, quando ela quer.
Tudo aos poucos vai se tornando de fácil acesso para os
pais comprarem para seus
filhos: celular de última geração, câmeras com todos os
recursos, laptop, MP3 e mais.
Ana Luíza da Silva Ferreira,
apenas 8 anos de idade, estuda na escola Visconde de
Cairu. Mora com os tios. Não
é tão apegada assim à tecnologia. Abrir mão de sair com
a tia para tomar um suco e
pular na cama elástica? Nem
pensar!
Ana leva sua vida normal,
acorda, assiste a desenhos
animados, vai para escola e,
quando lhe sobra um tempo dos afazeres escolares,
utiliza o computador. Mas,
sem dúvida, ela prefere jogar “queimada” com os tios a
qualquer tecnologia.
Nelci, tia de Ana, a deixa
bem consciente dos perigos
que a internet pode trazer
se não for bem assessorada.
Quando Ana está navegando, sua tia senta ao seu lado,
para verificar que sites a menina costuma acessar e, também, com quem ela conversa
no Messenger. “Se eu falo:
vamos sair, Ana? Na hora,
se ela está no computador,
dá um pulo, se maquia e diz
que está pronta”, conta Nelci,
dando risada. Ana não se faz
uma prisioneira do vício da
internet. O mais interessante
é que, por opção, Ana é uma
criança que prefere o “real ao
virtual”.
Nas diferenças, barreiras
transformam-se em riquezas
CAROLINE QUEIROZ
GEYSA RODRIGUES
4° SEMESTRE
Nas escolas, nas praças e
nos bairros, as crianças são
as mesmas. Mesmo estando
em lugares e classes diferentes. Podemos notar que
as crianças de hoje em dia
preferem e adquirem as tecnologias, em vez das antigas
brincadeiras.
Visitando lugares populares, encontramos algumas
situações, nas quais pudemos entender o gosto que
essa “molecada” tem pelo
mundo virtual. Analisando
o cotidiano dessas crianças,
notamos o consumo e o envolvimento de tudo que a
tecnologia fornece. As crianças da classe baixa não deixam a desejar, pois sempre
procuram estar atualizadas.
Em uma escola pública,
conversamos com uma turma de 35 alunos, na qual a
idade, em média, é de 8 a 10
anos, e todas possuem celular. A menor parte tem celular com câmera, MP3 e computador. Sendo que, algumas
dessas crianças gastam, em
média, R$ 10 por semana
em créditos, para trocar torpedos e comprar música.
Em outra visita pelo bairro, no período da tarde, entramos em um determinado cyber, e lá encontramos
um garoto de 11 anos, cuidando do estabelecimento.
Os clientes eram apenas
crianças, e todos navegavam em sites de entretenimento e jogos.
O fato interessante é que
a maioria dos pais dessas
crianças depende de um
salário mensal, ou seja, em
média, eles gastam em torno
de R$ 30 por mês, em cyber.
Conversando com uma mãe
a respeito da tecnologia, ela
nos disse: “Seria melhor eu
pagar para os meus filhos
irem ao cyber, do que eles
passarem a noite inteira no
computador”.
De fato, as brincadeiras como pular elástico, queimada,
jogar bete e outras ficaram
no passado, pois estão sendo trocadas pelo mundo da
tecnologia. Essa cultura de
brincar sempre ajudou no
convívio social das crianças. Mas, para elas, o contato com os amigos já basta
nas escolas e no ambiente
familiar.
CAROLINE QUEIROZ
Mundo da tecnologia se torna mais atraente para as crianças, deixando de lado algumas brincadeiras
Vivências na infância das crianças de hoje são opostas às de antigamente, devido às novas tecnologias
TECNOLOGIA
Aprecie com
moderação
BRUNA NASSER
4º SEMESTRE
Para as crianças modernas, falar em tecnologia
é algo simples e fácil. No
entanto, a situação muda,
quando analisada pelo
ângulo dos adultos. Pais
e psicólogos estão enfrentando decisões cada
vez mais delicadas quando o assunto é a modernização.
Raimundo Patrício de
Sousa, empresário e pai
de duas filhas, sabe exatamente como é isso: “Minha filha de oito anos me
pediu um celular V3. Mas
eu não vejo necessidade,
porque ela está sempre
com a gente”.
Quando o assunto é
o computador, Patrício
criou uma técnica bastante interessante. “Todo dia,
dou cinco reais para ela,
até que ela mesma consiga juntar o dinheiro para
comprá-lo”. Admite que
não confia na Internet e,
por esse motivo, não contribui para ela ir a cybers.
Já, para Nereide da Silva, o problema é outro.
“Minha filha de cinco
anos me pediu um MP4.
Ela é uma criança, mas
não tem pensamentos infantis. Ela quer ir além da
idade dela, como a maioria,
atualmente”. Confessa que
a tecnologia pode ajudar
na educação, desde que
utilizada sem exageros.
Quando a situação complica, uma opinião profissional é indispensável.
Lucimara Mateus Potric
de Souza, psicopedagoga
e psicóloga com formação em Terapia Cognitivo-comportamental, nos
mostra o outro lado da
BRUNA NASSER
Lucimara Mateus aponta a relação entre pais e filhos frente à tecnologia
evolução tecnológica.
“As crianças estão extremamente agitadas, inquietas. Elas, hoje, não conseguem permanecer numa
única atividade”, conta. E
acrescenta: “A rapidez na
informação faz com que
elas fiquem com a síndrome do pensamento acelerado, já que tudo tem movimento”.
Por outro lado, concorda
que a tecnologia é importante, à medida em que traz
algo de útil para as crianças.
E, se torna maléfica, quando isso passa a ser a essência delas. O uso de aparelhos eletrônicos dentro da
sala de aula, por exemplo,
diminui a atenção e a percepção para as atividades
escolares.
Para a maioria, essa dependência tecnológica é
uma questão social. Seja
como for, o fato é que tudo
em exagero é prejudicial.
Resta para os pais e educadores colocar os limites
necessários.
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Jornal Unifolha 79 - Universidade Anhanguera