ALINE ARANDA - Campo Grande-MS | Outubro de 2008 | Ano XI | Edição 79 RICARDO CAVALHEIRO Entrevista • Página 15 “Brasil será o berço da humanidade” Juiz Dorival Moreira dos Santos BRAZ ANTONIO DE MELO Economia • Página 05 Crescem redes de comércio E m busca do melhor preço, consumidores de Campo Grande passam a contar, cada vez mais, com a concorrência e a “guerra de valores” entre as redes de hipermercados e os comércios de pequeno porte das periferias. Em Aquidauana, a novidade é o Shopping Barrakech. Cana-de-açúcar, apontada como solução econômica, pode gerar problemas como a mão-de-obra barata Etanol a que preço? GISELLE RIBEIRO STF analisa necessidade de diploma para exercer profissão de jornalista PÁGINA 2 WAGNER JEAN RAUSTER CAMPITELI Em meio a dejetos, histórias humanas O lixão de Campo Grande não abriga apenas o lixo que jogamos fora diariamente, mas também é o local onde cerca de 300 pessoas se revezam, constantemente, para conseguir o sustento de suas famílias. A presença humana não se faz apenas como mão-deobra. Nesse espaço, várias histórias de vida se cruzam todos os dias. PÁGINA 13 CIDADES POLÍTICA A mesma praça... A s praças públicas de Camapuã, Sidrolândia e Terenos, ainda guardam o charme da paz do interior, mas, em alguns casos, o número de freqüentadores diminuiu. PÁGINA 4 Bastidores: Doping parece solução, alma das mas pode virar pesadelo campanhas D eleitorais PÁGINA 3 oping, a utilização de qualquer substância ilegal que beneficia o desempenho de atletas profissionais, é o centro de grande polêmica no mundo dos esportes. A longo prazo, o uso dessas substâncias pode acarretar em vários efeitos colaterais para a saúde do esportista. PÁGINA 8 Saraus abrem espaço para liberdade musical A realização dos saraus, em Campo Grande, está bem diversificada quanto aos artistas que se apresentam nesses eventos. Em sua maioria, o público-alvo são os acadêmicos, que buscam, nestes locais, descobrir novos artistas da área musical e demais manifestações artísticas. Porém, não é só a música que tem espaço garantido. Projetos sociais também são desenvolvidos e colocados em prática. PÁGINA 9 EVELYN IBRAHIM Ciência & Tecnologia • Página 10 Computador em promoção é mesmo um bom negócio? Adquirir tecnologias em liquidações nem sempre é sinônimo de uma compra satisfatória para o consumidor 02 Unifolha OPINIÃO CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008 EDITORIAL Diploma em questionamento R ecurso Extraordinário (RE/511961), que está na pauta no Supremo Tribunal Federal (STF) para ser julgado neste semestre, questiona a exigência do diploma de jornalismo como condição essencial para exercer a profissão. Se os ministros concordarem com esta leitura, qualquer pessoa, em tese, mesmo as que têm apenas o ensino fundamental ou até analfabetos, poderão requerer o direito de se tornarem jornalistas. Pesquisa da CNT/Sensus divulgada em setembro, em Brasília, ouvindo 2 mil entrevistados em 136 municípios brasileiros, constatou que 74,3% dos consultados se declaram a favor do diploma e 13,9% contrários, sendo que 11,7% não souberam ou não responderam. Esta consulta pública comprova que a sociedade defende o jornalista formado como o profissional responsável pela mediação das verdades. E essa especificidade não afeta a liberdade de expressão, como muitos querem dar a entender, já que, atualmente, qualquer pessoa pode atuar como colaboradora de um jornal ou mesmo rádio e televisão, contanto que tenha espaço e escreva artigos de opinião. A reportagem, o equilíbrio das verdades, é uma função jornalística que exige formação ética, consolidada pelas universidades. Tudo começou em outubro de 2001, quando a juíza substituta da 16ª Vara Cível da Justiça Federal de São Paulo, Carla Rister, suspendeu obrigatoriedade do diploma universitário. Ela atendeu ação cível pública movida pelo procurador da República André de Carvalho Ramos, gerada por veículos de comunicação ligados ao sindicato patronal de São Paulo. É claro que o diploma universitário de jornalismo não é garantia de que a sociedade está recebendo um profissional ético apenas por ter passado pelos bancos escolares do ensino superior. No entanto, é uma segurança para a população, que terá quem cobrar, já que esta pessoa passou por uma formação. Outra luta é a da criação de um Conselho de Comunicação Social para servir de mediador entre os profissionais da imprensa e o seu público. Sem estas medidas, a sociedade corre o perigo de ver ameaçado o seu direito de ser informada com correção e ética. Desafiando os gigantes LEONARDO MACBETH LETÍCIA WINCLER 4º SEMESTRE A credite se quiser, mas há jornalistas entre nós que são contra a obrigatoriedade do diploma para o exercício da atividade profissional. Assim como tem gente a favor das drogas e do desmatamento, há gosto para tudo. O diploma tem 39 anos de regulamentação, oficializada durante a ditadura militar, pelo Decreto-Lei 972, de 1969. E, pasmem, já naquele época, houve a sensibilidade de perceber o quão importante é o equilíbrio social pelo qual o jornalista é um dos responsáveis. Hoje, instala-se o embate, que se apóia na fantasiosa idéia de que o produto jornalístico pode ser feito por qualquer um. É fácil compreender porque as pessoas normalmente pensam dessa maneira. Vamos por parte: em relação aos patrões, é meio óbvio, pois o jornalista que tem nível superior terá, obrigatoriamente, de ser melhor remunerado. E, aí, existem os patrões, que parecem, em muitos casos, viver na era das cavernas e não compreender a moderna maneira de gerir uma empresa, valorizando o funcionário e proporcionando melhores condições de vida, salários dignos e uma possibilidade de trabalho mais humano. Há, ainda, uma questão corporativista. Alguns donos de grandes veículos de CHARGE comunicação têm, geralmente, um amigo que é escritor de artigos e quer esse companheiro trabalhando na redação. Aliás, o questionamento a respeito do diploma nasceu um pouco disso. Começou na “Folha de São Paulo”, que - defende a não-exigência, inclusive, em editoriais. E ingressaram com a ação civil pública contra o documento. Tudo por causa de um embate entre o jornal paulista e o Sindicato de Jornalistas Profissionais de São Paulo, com relação à proibição de contratação de jornalistas não-formados. Vários profissionais não defendem o diploma, talvez, querendo aparecer, mostrar que estão “antenados” com o pensamento do empresariado. Porém, estes caros colegas não conseguem perceber que estão sendo usados como massa de manobra pelas famílias midiáticas que, sob um argumento também muito inteligente, gritam em alto e bom som: “A profissão jornalística não reclama conhecimento especifico para seu exercício”. É por isso que os cidadãos deste país, jornalistas ou não, devem se unir, resistir a mais este engodo, que pretende destruir a prestação de um serviço público de suma importância para a sociedade. Na resistência e mobilização, em breve, adentraremos às ruas de Brasília, com a vitória no peito e o diploma nas mãos. FERNANDO PACHECO A caminho da liderança GABRIEL NERIS 4º SEMESTRE No momento em que se discute no Supremo Tribunal Federal a manutenção do diploma de jornalista, a profissão se valoriza com grandes investimentos das maiores redes de televisão. Em Mato Grosso do Sul, não é diferente. Na tentativa de se tornar líder de audiência no estado, a Rede MS de Televisão aparece com uma nova alternativa de jornalismo, traçando os planos da Rede Record. O embate entre TV Morena e TV MS, filiais de Globo e Record, respectivamente, começou no lançamento de nomes importantes do jornalismo sul-mato-grossense por parte da retransmissora da televisão de Edir Macedo, como Carmen Cestari, Osmar Bastos e Valéria Leite. Nomes que fizeram da Morena excelência em comunicação. Muito se espera com essas investidas. Criase a expectativa diante de mais uma opção de jornalismo praticado aqui no estado. Outro fator importante: abre-se o mercado, um tanto saturado pela falta de espaço, para os profissionais da área e para aqueles que estão por vir. Porém, ainda estamos de mãos atadas diante da vontade das empresas de comunicação. Ao menos, quando se fala de televisão. Não é fácil manter uma rede com grandes profissionais. Por isso, mesmo jornais impressos, sites e emissoras de rádio ainda servem como área de escape para o profissional da comunicação. Com o poder público instalado em Campo Grande, a política toma parte dos noticiários televisivos. Além da agropecuária, que é a fonte de renda de Mato Grosso do Sul. Ainda é pouco. E não pense que a capital será privilegiada. Nessa toada, o interior do estado também ganha. E muito. São bem-vindas informações de cidades como Corumbá, Dourados e Três Lagoas. Na era da Internet, a notícia se torna inimiga do jornalista se não for bem apurada. É exatamente neste momento que se diz que a pressa é inimiga da perfeição. Na ânsia do furo jornalístico, ou até mesmo na tentativa de uma emissora chegar antes da concorrente na veiculação da notícia, é que se pode prejudicar a qualidade da informação. A pressão faz com que a notícia não tenha uma apuração adequada e perca seu valor. Essa mesma pressão é que coloca em xeque a qualidade do nosso jornalismo. Com o horário parecido, os telejornais entram no ar com o intuito de “furar” seu oponente. Entretanto, com a obrigação de uma cobertura mais ampla do que acontece na cidade. Estratégias à parte, a TV MS confunde a cabeça do telespectador com nomes de capacidade e conhecidos por já terem passado na emissora a ser “batida”. Caberá à TV Morena explorar sua capacidade técnica e estrutural, que lhe é fornecida pela emissora carioca. Diferentemente da TV MS, que pecava, até há pouco tempo, pela falta de estrutura técnica, tanto interna quanto externa. Com o investimento da emissora nacional para mostrar um jornalismo de qualidade, a TV MS promete entrar na briga pela audiência. Tecnologia também atrapalha VICENZZO VICCHIATTI 4º SEMESTRE E m tempos cada vez mais tecnológicos, a inclusão digital, tendo como grande ferramenta a internet avança em Mato Grosso do Sul e em todo o país. Mas, ao mesmo tempo em que a inclusão digital faz com que a população do país fique por dentro dessa nova era, acaba levando alguns meios de comunicação a serem deixados de lado de certa forma, como por exemplo, o jornal impresso. Este vem sendo preterido nas vendas, pelo fato das notícias estarem cada vez mais “frescas” na Internet, e, também, pela preferência dos leitores por certos assuntos. O que acaba sendo uma “faca de dois gumes”, pois, com esse interesse do leitor por um Diretor de Controle Acadêmico: Professor José Luiz Ramirez Coordenador do curso de Jornalismo: Professor Marcos Rezende Morandi DRT/MS 067 Unifolha – Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp) Ano XI - Nº 79- outubro de 2008 - Tiragem 5 mil exemplares. Obs.: As matérias publicadas neste veículo de comunicação foram produzidas pelos acadêmicos do 4ª semestre do curso de Jornalismo da Uniderp (N 40) e não representam, necessariamente, o pensamento da instituição. Reitora: Professora Ana Maria Costa de Sousa Vice-Reitor: Professor Guilherme Marback Neto Pró-Reitor Administrativo: Marcos Lima Verde Guimarães Jr. Pró-Reitora de Graduação: Professora Heloisa Gianotti Pereira Pró-Reitor de Extensão: Professor Ivo Arcângelo V. Busato Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Professor Raimundo Martins Filho Chanceller: Professor Pedro Chaves dos Santos Filho Jornalista responsável: Professor Alexandre Maciel (DRT/MS 162). Editores: Opinião: Vicenzzo Vicchiatti; Política: Anahi Zurutuza; Cidades: Fabiana Faustino; Economia: Thayana Freitas; Educação: Guilherme Teló; Segurança: Luis Coppola; Esporte: Bruno Chaves; Cultura: Will Soares; Ciências & Tecnologia: Evelyn Ibrahim; Saúde: Maria Cecília Barros; Rural: Rosália Prata; Meio Ambiente: Isabela Ferreira; Entrevista: Daniela Damazio; Comportamento: Bruna Nasser Revisão: Professor Mário Márcio Cabreira (DRT/MS 109) Edição de fotos: Professora Elis Regina Nogueira (DRT/MS 090) Projeto Gráfico, Diagramação e Tratamento de Imagens: Professor Carlos Kuntzel DRT/MS 041 Estagiário de Diagramação: Acadêmico Wagner Jean determinado assunto, ele não compra mais o jornal e não fica inteirado de todas as notícias. A compra do jornal impresso “força” o leitor, de certa forma, a ler boa parte do conteúdo diversificado, organizado. Já na Internet, o internauta busca o assunto de sua preferência. Com certeza, a tecnologia auxilia bastante a vida dos jornalistas. Mas, ao mesmo tempo em que ajuda, ela faz com que o profissional acabe levando trabalho para casa e, desta maneira, não tem o seu momento de descanso. Pesquisas apontam que, ao deslocar o seu ambiente de ofício, o jornalista se torna um profissional estressado, o que pode ocasionar-lhe certa desatenção durante a dedicação profissional em casa. Projeto Gráfico 2005: Ana Paula Novaes - Andréa Roselle - Brasleif Adriano - Cândida Piesanti - Edilaine Maira - Élika Gonçalves - Emídio Denardi - Evllyn Rabelo - Flaviane Bueno - Gildo Araújo - Gizelli Xavier - Isabel Rodríguez - Janiel Chaves - Jucyllene da Silva Castilho - Juliano Salles - Laila Carriel - Marco Aurélio Ribeiro - Mariana Conte - Mário Daude - Marithê Cogo - Michelly de Alencar - Natália Souza - Paulo Donato - Pedrina Gomes - Priscila Evaristo Teixeira - Renato Lima - Reneide Casagrande - Rodrigo Gordin - Simone Prieto - Thiago Ferreira - Viviane Cunha - Viviany Gomes - Yvelaine Isabela e professor Carlos Kuntzel Criação da logomarca do caderno Cenário: Élton Tamiozzo, Ducely Reis, Franciele Caldart, Maurício Picarelli Jr, Nirley Peterossi Jr. e José Cabad. (Acadêmicos de Publicidade e Propaganda) Impressão: Gráfica A Crítica Unifolha - Rua Ceará, 333, bairro Miguel Couto, Campo Grande-MS. Cep: 79.003-010 – Tel: (067) 3348-8096. www.unifolha.com.br E-mail: [email protected] Unifolha CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008 POLÍTICA 03 BASTIDORES - CAMPANHA Periodicamente, a cada dois anos, surgem novos profissionais no mercado Produção Cabo eleitoral: a profissão do biênio Muito mais do que “luz, câmera e ação” LUCAS JUNOT Cabos eleitorais caminham pelas ruas de Campo Grande de sol a sol na busca incessante de votos para o candidato para o qual trabalham Anahi Zurutuza Lucas Junot Karla Lyara Charline Prestes Odil Santana 4º Semestre É de dois em dois anos, por cerca de 90 dias, que aparece um novo profissional no mercado de trabalho. Mas, o popular cabo eleitoral desaparece tão repentinamente como surgiu. Alguns são voluntários e trabalham em defesa de sua própria ideologia, que enxergam representada no seu candidato. Outros encaram como uma oportunidade de complementar a renda da família. Maria Auxiliadora, 34 anos, era profissional autônoma e viu na campanha eleitoral a chance de, pela primeira vez, lutar por seus ideais. “Eu gosto do meu candidato. Estou trabalhando, porque quero que ele seja eleito”. Maria conta que não está sendo remunerada e que faz um trabalho de “formiguinha”, conquistando voto a voto, de seus familiares, vizinhos e amigos. Conforme apontado por Maria, o primeiro compromisso do cabo eleitoral é conquistar o voto da sua própria família. É a partir daí, que ocorre “o milagre da multiplicação”. Funciona, matematicamente, como uma progressão geométrica. Os votos se multiplicam a cada contato, a cada pessoa. Depois de convencer os entes mais próximos, o cabo tem de ir rumo à sua comunidade. “Se você não consegue ganhar o voto do seu marido, que dirá o do desconhecido”. A batalha se tornava mais árdua, a ten- são crescia a cada dia que se aproximava o decisivo 5 de outubro. Já Vânia de Oliveira, dona de casa de 21 anos, teve a indicação de um vizinho para começar a trabalhar no pleito. “Encontrei uma alternativa de ajudar meu marido nas despesas da casa”. A dona de casa revelou que ganhou R$ 50 a cada 15 dias, para trabalhar por quatro horas diárias. Para ela, a quantia foi mais que suficiente. “Esse trabalho não atrapalhou a minha rotina. Pude continuar fazendo o almoço, levando meus filhos na escola e cuidando da minha casa”. CAPILÉ Coordenador de campanha contou, em entrevista ao Unifolha, que, além do tradicional cabo eleitoral, existe, também, na empreitada da busca pelos votos, um outro “prestador de serviços”: o capilé. Uma pessoa contratada 20 dias antes da campanha, que tem a missão de fazer uma reunião entre o candidato e 30 eleitores – com seus respectivos números de títulos e assinaturas – para persuadir sobre o destino de seu voto. “O capilé é um cargo que não chega ao conhecimento da mídia, tampouco da população”, destaca o coordenador. Desde que ocorreram as primeiras eleições diretas do Brasil, em 1989, este é o período, ansiosamente, esperado pelos eleitores e trabalhadores das campanhas. Para realizar sonhos, ou, simplesmente, renovar as esperanças na conquista de um futuro melhor. Anahi Zurutuza Lucas Junot Karla Lyara Charline Prestes Odil Santana 4º Semestre Toda campanha política torna-se famosa por seus programas eleitorais, apresentados na TV e no rádio. No entanto, quem vê o programa sendo exibido, não tem idéia do caminho percorrido e toda a produção que este processo compreende. Em época de eleição, cada candidato contrata uma produtora, com uma equipe de profissionais, que irá trabalhar, incansavelmente, para ganhar o voto do eleitor. “Luz, câmera, ação!”. Ecoa a voz do diretor, analisando cada componente da cena. A missão do cinegrafista é captar as imagens de maneira clara e objetiva, de acordo com o conteúdo proposto pelo diretor. O maquinista é responsável por toda a movimentação existente na imagem, operando, por exemplo, a grua – estrutura metálica que suporta o cinegrafista e o eleva - oferecendo possibilidades de movimento na imagem. O diretor de fotografia escolhe, junto ao diretor de cena, o posicionamento das luzes desejadas para compor cada cena. É responsável por todo efeito de sombras e detalhes. O diretor de cena responde pelo posicionamento e alinhamento dos componentes do quadro com os conceitos da campanha, bem como pela unidade estética e visual. Ao lado do editor de imagens, o de texto seleciona os melhores trechos de uma fala para casar texto e imagem, além de orientar o repórter sobre como conduzir uma matéria ou entrevista. Tudo pronto, é hora de divulgar os programas. No Brasil, a exibição nos meios de comunicação é obrigatória e gratuita, o que não isenta de responsabilidades os profissionais e donos de mídias. Pelo contrário, uma falha na veiculação destes materiais pode gerar multa, suspensão da programação e, até mesmo, prisão dos responsáveis. Em todas as campanhas, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de cada município indica um juiz que nomeia dois assessores técnicos (um que trabalha em rádio e outro em televisão) para dar suporte (fiscalizar) os respectivos meios. Antes que comece a caça ao voto, o TRE faz uma reunião com os candidatos e outra com representantes dos partidos, produtoras, Departamento de Operações Comerciais (OPECs) e gerentes operacionais, para definir algumas regras, como a relação de nomes das pessoas autorizadas a entregar e receber fitas; prazo de entrega; número de inserções; ordem e tempo que cada coligação ou candidato terá diariamente e o horário reservado em determinado período entre às 7 e 23 horas, para se promover. A reunião determina, também, a seqüência, por meio de um sorteio. A distribuição nos intervalos da programação é feita, rigorosamente, pela OPEC de cada emissora. Nesta reunião, ficam acertadas quais serão as “cabeças de rede” (emissoras que transmitem o sinal do horário político para as demais). A cada dois anos, um grande número de profissionais – do cinegrafista ao advogado – é mobilizado para representar essa trama. “Nenhuma campanha é igual à outra”. Essa frase tão falada, retrata talvez o perfil cada vez mais criterioso de quem vota. Diante desta mudança de comportamento, não cabe mais espaço para o puro e simples “vote em mim”. Agora, o eleitor pode assistir aos programas, em vez de desligar o televisor LUCAS JUNOT Qualidade norteia pesquisas Anahi Zurutuza Lucas Junot Karla Lyara Charline Prestes Odil Santana 4º Semestre É a partir dela que os candidatos descobrem o “calcanhar de Aquiles”, tanto seu quanto o dos seus oponentes. Ela faz parte dos bastidores das campanhas eleitorais e é pouco conhecida pelo público. A pesquisa qualitativa é utilizada para obter respostas mais aprofundadas sobre determinado assunto. Como já é possível concluir pelo nome, por meio dela, não se consegue detectar números, apenas opiniões, o que a diferencia da pesquisa quantitativa. Definido o tema a ser pesquisado, tem início a árdua tarefa do recrutamento dos participantes da chamada Discussão de Grupo (DG). O debate é organizado em uma sala onde se encontram apenas os participantes e o condutor da DG. Há, ainda, um psicólogo contratado, com vasta experiência, o qual é responsável pela elaboração das perguntas dirigidas aos entrevistados e análise posterior das respostas concedidas. A gerente de análise de uma empresa que organiza pesquisas qualitativas, Renata Siqueira, explica que a escolha do local da DG é proposital, justamente, para que os participantes não fiquem inibidos ou constrangidos para responderem as perguntas. E o cliente, o contratante da pesquisa, assiste a todo o processo do lado de fora da sala espelho. “Justamente, por uma questão de ética e responsabilidade, os contratantes não têm nenhuma informação pessoal, como nome, telefone, endereço, sobre os componentes da entrevista”, destaca Renata. Ainda, conforme a gerente, os entrevistados não podem ter participado de amostra qualitativa alguma no último ano. “Pois isso pode comprometer o resultado da pesquisa”. Renata também lembra que, normalmente, quando o assunto é política, a faixa etária da DG é divida entre 16 a 24 e 25 a 34 anos. Os grupos de discussão são geralmente compostos de 8 a 12 pessoas. “O perfil dos entrevistados também é pré-estabelecido pelo psicólogo. Para cada temática de pesquisa, existe um tipo de participante”. A pesquisa qualitativa não é barata. Envolve custos como a contratação dos profissionais para elaborá-la e dos chamados recrutadores – profissional contratado para encontrar “na rua” as pessoas com o perfil exigido para participar da DG. Além do pagamento de bonificação e distribuição dos brindes aos participantes, coffe break e aluguel do local “isento” onde será realizada a entrevista. Por isso, é um privilegio de poucos. Não são todas as campanhas que conseguem pagar para ter nas mãos as estratégias que poderão adotar a partir dali. Contudo, a gerente explica que as pesquisas são muito utilizadas por empresas que querem aprimorar suas estratégias de marketing. Programa eleitoral é trabalho minucioso que envolve diversos profissionais 04 Unifolha CIDADES CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008 Camapuã é uma cidade que, apesar de nova, possui várias histórias do período das Rotas das Monções Encontros em praças são mais raros FABIANA FAUSTINO CARINA BAGGIO 4º SEMESTRE “Hoje eu acordei com saudades de você/ beijei aquela foto que você me ofertou/ sentei naquele banco da pracinha só porque/ foi lá que começou o nosso amor”. Esse trecho da música de Carlos Imperial deveria fazer parte das lembranças de muitas pessoas que moram no interior. Afinal, a praça é um dos lugares mais visitados pelos amigos e namorados, certo? Errado. A praça Ernesto Sólon Borges, localizada em Camapuã, deixou de ser ponto de encontro dos moradores, há alguns anos. Recebe esse nome em homenagem ao primeiro prefeito eleito da cidade. Camapuã é um município do interior de Mato Grosso do Sul que fica a 143 quilômetros da capital. Seu nome é de origem indígena, tupiguarani, significando “seios erguidos” e é conhecida como “Princesa do Vale”, já que se localiza entre morros e serras. Bonita, florida, bem arejada, com espaço organizado e muito bem planejado, a praça conta a história do município em quase toda a sua extensão. “Ela é cheia de simbolismo”, afirma a professora e historiadora Vanuza Ribeiro. Declarações As obras que estão esculpidas nas paredes pelos artistas da terra estampam a história da Rota das Monções. “É um ótimo local para aprender um pouco sobre a história do nosso país. Acho que todos deveriam conhecer essa praça”, recomenda o estudante de jornalismo, Flávio Oliver. Um espaço como esse é considerado importante para a população, já que é reservado para o bem-estar e lazer de todos. Amigos, conversas, paqueras e rodas de violão. Atividades que, normalmente, os jovens praticam em praças, não são mais tradicionais em Camapuã. “A praça está longe dos comércios alimentícios, longe das igrejas, e Camapuã não é cidade turística. Os lugares em que são bem movimentadas estão perto de ponto alimentício ou de igrejas, porque as pessoas saem e vão para lá. No nosso caso, não tem nenhum dos dois”, argumenta Vanuza, com certo ar de lamentação. Na maioria das vezes, a praça é freqüentada por babás que levam suas crianças para se divertirem no parque. Ou, raras vezes, por algum grupo de jovens procurando sossego e solidão. “A gente vem aqui quando quer conversar sem ter ninguém por perto, porque, aqui, quase não vem ninguém”, diz Guilherme, um jovem de 15 anos que se encontrava com um pequeno e único grupo em um domingo à tarde. FABIANA FAUSTINO Praça Ernesto Sólon Borges guarda consigo toda história de um município interiorano e raramente recebe a visita dos moradores da cidade Renascimento Por um período, a pracinha ficou quase desativada e, somente, em 2002, houve uma revitalização. “Talvez, quando ela ficou fechada ao público, as pessoas que freqüentavam perderam o hábito e encontraram outro ponto. E, mesmo depois de reformada, não voltaram pra lá”, explica Vanuza. “Por aqui, passa muita gente. Mas só passa para cortar caminho. Quase não para ninguém”, expli- ca o vigia Marcio Pereira, que se encontra estrategicamente em uma esquina. O real motivo pelo qual as pessoas da cidade deixaram de freqüentar a praça é uma pergunta que ainda não tem resposta. E o sen- timento que fica é de tristeza, porque, mesmo que permaneça... “a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim. Tudo é igual, mas estou triste porque não tenho você perto de mim”. TERENOS Diversidade atrai pessoas de todas as idades BRUNO NASCIMENTO Praça municipal é ponto de encontro e diversão para diferentes tipos de atividades nos finais de semana ALINE CIQUEIRA BRUNO NASCIMENTO 4º SEMESTRE Chegamos a Terenos, em uma tarde de sábado, em que fazia muito frio. Clima atípico nessa região, já que, em boa parte do ano, ali, faz muito calor. Ao chegarmos à praça do Demétri, que se localiza no centro de Terenos, observamos que se trata de um local bem aconchegante. Pudemos sentir, na hora, o ambiente interiorano, uma calmaria que quase não se vê nas grandes cidades. A praça é o principal ponto de encontro das pessoas que moram no município, tornando-se um refúgio para quem quer sair da mesmice. O local é de- mocrático, agrega todas as idades, para diversos tipos de atividades. Jovens como Willian Alves, de 15 anos, que vai à praça tomar tereré aos finais de semana e estudar com amigos no meio da semana. Willian ressalta que muitos jovens saem de Campo Grande, de bicicleta, para visitar a praça em Terenos. As crianças tomam conta do lugar. Gabriel Lopes, de 10 anos é visitante assíduo, anda de bicicleta quase todos os dias e diz adorar a praça. Luiz Gonçalves, 55 anos, vai com seu carro e gosta de ligar o som bem alto e dançar com seus amigos. Outro hobby é jogar dominó até altas horas da noite. Em um dos bancos da praça, avistamos um grupo muito animado de jovens tomando chimarrão. Para nossa surpresa, descobrimos que eram gaúchos. Grande parte são universitários que vieram fazer o concurso da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Muitos deles estavam, pela primeira vez, no estado. Em um clima descontraído, tomamos chimarrão ao som da “Bandinha”, estilo de música do tipo sertanejo, ou melhor dizendo, música “gauchesca”, segundo eles. Temos a impressão que o tempo no interior demora a passar, mas a tranqüilidade nos faz lembrar que temos de ir embora. A conclusão que se pode tirar é que as praças vão continuar por muito tempo sendo um centro de convivência a céu aberto, para todos, independentemente do lugar. SIDROLÂNDIA Ponto de encontro mal conservado afasta população ERNANDES BAZZANO 4° SEMESTRE Sidrolândia, situada a 60 quilômetros de Campo Grande, mesmo sendo o município que mais cresceu nos últimos anos, no estado, segundo dados do IBGE, ainda possui o jeitinho de cidade do interior. Os munícipes estão em transição entre a forma carinhosa e aconchegante das pessoas das pequenas cidades, e a rapidez, arrogância e a vida corrida de uma metrópole. Igreja, praça, a estação de trem, flores e árvores por todo lado, jovens e idosos apreciando o famoso te- reré nas tardes quentes de inverno. Profissionais e desempregados se reúnem na praça, para conversar sobre o dia-a-dia. Respeitam etnias e idéias do próximo, pois sabem que, nos dias seguintes, se encontrarão novamente. A praça foi revitalizada entre 1999 e 2000, pelo engenheiro Walmir Pavon. Está situada no centro da cidade e, ao seu redor, existem bancos, livrarias, lojas de roupas, móveis, farmácia e até uma funerária. Logo, tudo que é preciso se encontra nessa região da cidade. Uma lanchonete está, há muitos anos, nos mapas turísticos; fica ao lado da praça. Todos que uti- lizam essa rota se alimentam e deparam com uma beleza sem igual do lugar. Alcênio Henrel possui um ponto de lotação há mais de 20 anos, ao redor da praça. “A grama, os banheiros sanitários e os bancos de assento estão mal cuidados. O que deveria ser os olhos dos turistas acaba se transformando em decepção visual”. Tayná Toniazzo também tem opinião semelhante. “A praça ainda é o ponto de encontro de todos. Mas, se as pessoas que trabalham ali não progredirem em relação à limpeza, o que vemos hoje não será mais contemplado pelos nossos filhos e netos”. ERNANDES BAZZANO Sidrolandenses criticam a falta de limpeza na praça, porém não deixam de frequentar o espaço Unifolha CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008 ECONOMIA 05 OFERTAS - EXPANSÃO BRUNO CASTRO Redes supermercadistas causam impacto social RICARDO CAVALHEIRO 4º SEMESTRE Com a concorrência dos novos hipermercados, consumidor tem mais opções de escolha e qualidade na compra Procura pelo melhor preço é a atitude ideal DIANNA MALVES DIOGO RIBEIRO 4º SEMESTRE Os consumidores de Campo Grande vivem um grande dilema: procurar sempre o menor preço, pesquisando desde o supermercado de bairro, até os hipermercados que começam a chegar à cidade. Com a crise que o Brasil vem sofrendo, e o aumento do valor dos alimentos que constituem a cesta básica, essa ação se tornou uma meta. Dados fornecidos pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômicas e Sociais (Nepes), coordenado pelo professor Celso Correia de Souza, indicam que os alimentos básicos vêm tendo reajustes ao longo do ano de 2008. É o caso do arroz, que, em março, apresentou um aumento de 8,01%. Indagado se a baixa recente do preço de muitos alimentos, como o arroz, o feijão e o óleo de soja, é decorrente da concorrência pro- vocada pela chegada de novas redes de hipermercados na capital, o professor Celso analisa que esses fenômenos não estão relacionados. Houve, sim, em sua opinião, uma redução nos preços no Brasil inteiro, e não porque estão sendo inaugurados novos supermercados na cidade. “A produção é muita, tem que baixar. O Brasil é rico em alimento.” Da mesma forma, para o professor, a inflação dos alimentos não é decorrente da produção do biodiesel, como muitos acreditam. Essa afirmação, na sua visão, seria desculpa, pois o combustível é retirado, principalmente, da cana- de-açúcar. Diferente dos Estados Unidos, que gasta milhões de toneladas de milho para retirar o biodiesel. A globalização, no entanto, seria uma das causas da alta dos alimentos. O crescimento econômico de países como Brasil, Rússia, China e Indonésia, permite que, au- tomaticamente, a população tenha mais poder aquisitivo e, também, gaste mais. O processo gera até mudanças nos hábitos alimentares. “A China já está importando carne bovina nossa e deixando seus pratos culinários de lado, como carne de cachorro e cobra”. O Brasil exporta praticamente todos os seus alimentos, fazendo com que seu preço encareça no mercado interno. Mato Grosso do Sul é um estado bom de viver, em relação aos outros, segundo o professor Celso, já que sofreria menos com a inflação dos alimentos. “O que falta ainda para baixar mais esses números é sermos auto-suficientes no hortifruti. Dependemos muito de São Paulo, mas, com o tempo, não nos preocuparemos mais com os reajustes paulistas”. Por ser um estado rico na produção de alimentos, Mato Grosso do Sul teria condições de torná-los mais baratos. Frente à concorrência com as grandes redes de hipermercados, situadas nas regiões mais centrais das cidades, os supermercados de pequeno porte das periferias estão aderindo às redes de cooperação populares de mercados, tendo em vista uma competitividade maior. Os empresários associados recebem apoio administrativo, de marketing, educacional e financeiro. Com essa padronização, os mercados têm acesso a preços mais baratos, comprando em maior quantidade, pois se faz a aquisição pela rede. Desta forma, é possível vender seus produtos por um valor mais competitivo, melhorando, assim, sua lucratividade. Um bom negócio para o empresário e, também, para o consumidor que tem como vantagem essa maior competição entre os supermercados, pode achar ofertas perto de casa. Não há mais a necessidade de se deslocar até o centro da cidade para fazer as compras do mês. Como afirma o consumidor Josenilto de Miranda, “antes, era difícil para fazer compras, porque tinha que ir longe pra comprar barato”. O mercado perto de casa era em último caso, só o que era mais urgente e em menor quantidade. Ele resalta que, antes, não dava para ir ao centro perto da hora do almoço, só para comprar uma lata de extrato de tomate. “A diferença no preço era grande. Hoje, o mercado aqui perto faz parte de uma rede. Continua o mesmo dono, mas o preço é o mesmo que se fosse no supermercado do centro”. As mudanças que as re- des de supermercados estão trazendo para a sociedade são muitas. É o efeito da globalização da economia. A grande concorrência força as pequenas empresas a buscarem inovações tecnológicas e novos métodos de administração. As redes de cooperação inter-empresariais são uma alternativa para que as pequenas empresas do ramo supermercadista possam cumprir seu papel econômico e social, por meio da redução de custos, e oferecendo serviços e produtos em busca da conquista dos clientes. Esses empreendimentos de pequeno porte, conforme acreditam os especialistas, quebram o isolamento, promovem o associativismo e o desenvolvimento da competividade da empresa, do setor e da economia local e regional. RICARDO CAVALHEIRO Com as redes de supermercados na periferia, consumidores fazem as compras perto de suas casas De barracas de madeira, para um Centro Comercial PRISCILA BARBIÉRI 4º SEMESTRE Distante 130 quilômetros de Campo Grande, uma cidade considerada pacata, Aquidauana, teve, no início do mês de setembro, um grande impacto na sua estrutura, imagem e economia. Em uma das principais ruas, a Estêvão Alves Correa, existiram, por muito tempo, as barraquinhas que comercializam produtos importados. Agora, os 80 comerciantes ali instalados irão receber uma obra propagandeada pela atual prefeitura da cidade como “um marco”. No pátio da Estação Ferroviária, está surgindo o Centro Comercial, ou “Shopping Barrakech”. No espaço, além de instalações adequadas, com água, luz e telefone, os turistas, clientes, bem como os próprios comerciantes poderão contar, ao final da obra, prevista para novembro deste ano, com playground, pista de cooper, praça de alimentação e estacionamento. A comerciante Bianca, proprietária da Banca do Beto, analisa tudo com um ar de esperança. “Olha, com certeza, é um grande salto. Aqui, nossa mercadoria ga- nha novos olhares, valorização e nós ganhamos mais respeito. Os clientes também terão mais conforto, mais segurança”. Marcos Ferreira da Silva, PRISCILA BARBIÉRI Impacto: foi essa a sensação que a população aquidauanense teve ao ver o antigo pátio abandonado sendo tomado por um grande centro comercial popularmente conhecido como “Dom Marquito”, trabalha há 13 anos no ramo, abrindo sua antiga barraca às 4 da manhã e só encerrando expediente às 20 horas. Ele revela um passado difícil e comenta a nova obra, com um brilho no olhar. “Eu acordo de madrugada para trabalhar, desde os 6 anos de idade. Só aqui, em Aquidauana, estou há 13 anos. Quando cheguei, nem tinha o que comer direito. Hoje, tenho meus três filhos estudando na Uniderp, tenho casas, carros, chácara”. Para Marcos Ferreira, a obra vai dar mais valor ao trabalho desenvolvido no local. “Acredito que o movimento até aumentará, quando concluída”. Além dos tradicionais turistas que circulam pelo Shopping Barrakech, os que desembarcarem de trem, que volta a funcionar ano que vem, poderão conferir, na chegada, esta obra que tem potencial de se tornar um ponto turístico. Unifolha CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008 EDUCAÇÃO 06 Profissionalização sem barreiras BRUNO COELHO BRUNO COELHO GUILHERME ALMEIDA 4º SEMESTRE Atualmente, as pessoas que estão no mundo do trabalho, ou pensando em entrar nele, se preocupam com o tempo e com o nível de profissionalismo. Isso se dá pelo fato de o mercado exigir cada vez mais, por estar tão concorrido, e testar, constantemente, a capacidade de cada um. Para as pessoas que vivem em uma época em que “tempo é dinheiro”, diversas instituições de ensino têm disponibilizado os cursos de Gestão. Estes programas, além de visarem áreas mais expecificas que as tradicionais de graduação, podem ser conluídos em apenas dois ou três anos. Alem disso, existe a possibilidade de serem desenvolvidos em casa, sendo necessária a presença, apenas, para fazer as provas. Outra vantagem é que, ao concluir as matérias, a pessoa termina oficialmente o 3º grau, saindo das instituições, com o cargo de tecnólogo. Os cursos de gestão têm gerado muitas dúvidas sobre sua forma de ensino, já que o tecnólogo não teria a mesma capacitação que o graduado, na sociedade. Para nos informar mais sobre este assunto e sobre a preferência em optar por esse tipo de atividade educacional, entrevistamos Hernani José Lins Mendes, que tem 30 anos de idade, é administrador e acadêmico da faculdade de Gestão Tecnológica em Agronegócios, a distância. Ele diz que o principal motivo de ter escolhido um curso de gestão foi pela rapidez que ele proporciona e pelo fato de se formar em apenas dois anos. Ele acrescenta que seu programa era também a distância, o que proporcionava uma comodidade por ele de não poder comparecer às aulas regularmente, devido ao seu corrido ritmo de trabalho. Para Hernani, esse tipo de curso é muito prático, pois proporciona uma oportunidade para aquelas pessoas que querem se formar, porém, não têm tempo para ir à faculdade. Além de que o ensino desenvolvido em periodos mais curtos exige mais dos alunos. O fato de suas aulas serem a distância estimula a força de vontade, já que o seu desenvolvimento e desempenho após a faculdade dependem, unicamente, do acadêmico. Isso por não contar com toda a ajuda dos professores, o que já ocorre nos programas normais. Hernani Mendes escolheu o caminho do curso de gestão por ser mais rápido e por oferecer a praticidade de estudar em qualquer lugar Candidatos mais preparados que se cuidem! GUILHERME TELÓ Promessas de uma carreira tranquila e bem remunerada levam muitas pessoas aos cursos preparatórios GUILHERME TELÓ GUILHERME ALMEIDA 4º SEMESTRE Estabilidade na carreira, emprego bom e remuneração alta. Vantagens que fazem com que não seja por menos que, hoje, tanta gente opte pela carreira pública, na hora de escolher uma. Mas, tantos prós não poderiam deixar de trazer consigo um contra. A concorrência. O que de uns tempos pra cá deu margem a um setor crescente: os cursos para “concurseiros”. E se ouve falar em todo lugar, de grandes escolas com professores especializados, pessoas já concursadas dando aulas sobre o que estudar e como estudar. Trabalhar em instituições como o INSS, a Polícia Federal ou a Controladoria Geral da União exige um mínimo de preparação. E não é a toa que os alunos de- voram livros e listas de exercícios nas cadeiras das escolas preparatórias. Segundo Deodato Neto, administrador da Neon Concursos, “os alunos procuram os cursos porque ninguém consegue ser bom em tudo. Há a necessidade de uma orientação. Existem concursos quem envolvem de 10 a 15 matérias e, além disso, nós estudamos a instituição, seu histórico, e avaliamos as matérias de maior peso”. Uma das discussões que mais divide opiniões acerca do tema é a relação estabilidade financeira/ satisfação profissional. É significativo o número de pessoas que se dedicam aos estudos para passar em concurso, apenas pela estabilidade que a carreira promete, e não pesam se têm aptidões ou ao menos força de vontade para exercer a função de maneira eficaz. “Normalmente, quem passa em concurso não é aquele que pensa: ‘saiu o edital, vou fazer’, faz dois meses de curso e presta. É, geralmente, quem está com a gente há mais tempo, nas turmas de dois anos. Só que é lá dentro que ele vai descobrir se tem esse dom necessário para a carreira, ou não”. Deodato ressalta que o futuro funcionário público terá um salário ótimo, segurança profissional, e uma carga horária relativamente leve. “Então, ele acaba descobrindo que vai ser bom pra ele mesmo. É claro que tem um caso ou outro de pessoas que entraram, não gostaram e prestaram outro concurso.” Os cursos estão em alta, e é interessante que aumente a concorrência, para que, cada vez mais, os cargos públicos sejam preenchidos por gente bem capacitada. O esperado é que essa capacitação se traduza, cada vez mais, em competência... Eficiência em conhecimento LUANA D’ARK YURI CARRELO 4º SEMESTRE Em busca de um melhor posicionamento no mercado de trabalho, jovens com idades entre 14 e 23 anos, buscam, por meio dos cursos profissionalizantes, uma melhor preparação diante daqueles que também iniciam uma longa trajetória para o primeiro emprego, driblando a exclusão social e atrás de sucesso na carreira profissional. Os cursos têm como objetivo moldar o jovem aprendiz por meios teóricos, específicos e práticos, de forma que, ao concluílos, o jovem esteja apto a ingressar naquela área em que se especificou durante o aprendizado. A educadora e responsável pelo curso de Organização Industrial no Mercado de Trabalho, Vânia Maria Batista, informa que os programas profissionalizantes vieram tanto para enriquecer o conhecimento dos jovens, quanto para contribuir em seus currículos. Na sua opinião, a maioria dos que os procuram não tem condições de se manter em um curso superior, principalmente, por questões financeiras. Ela também destaca que os seus alunos, interessados, cobram métodos de ensino atualizados, formas de conhecimento que se relacionam com o que o mercado de trabalho se refere e requer. A opinião da aluna Josana Oliveira, 21 anos, é que o curso está sendo indispensável para o seu conhecimento e sua preparação para a sociedade. De um modo geral, ela e os demais alunos concluíram que este método de ensino lhes fornecerá uma ferramenta a mais na disputa acirrada do mercado de trabalho. Vânia afirma, como educadora e profissional da área há dois anos, que os cursos profissionalizantes são indispensáveis para a estrutura do jovem aprendiz. YURI CARRELO Programas profissionalizantes enriquecem o conhecimento dos jovens e contribuem para as suas carreiras Unifolha CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008 SEGURANÇA 07 PRONTO - ATENDIMENTO Bombeiros e policiais militares dividem o mesmo espaço, visando sempre, proteger todos os cidadãos Centro facilita batalha contra o crime RENAN CAMPOS VINICIUS PEREIRA LUIS COPPOLA 4º SEMESTRE Falar de segurança é fácil. Vários são os casos e várias as críticas apresentadas em relação ao trabalho tanto do Corpo de Bombeiros, quanto das polícias Civil e Militar. Nossa função neste espaço é demonstrar como funciona o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops). É aqui que ficam alojadas as centrais de atendimento de emergência do 190 e 193. Assim que entramos no prédio, o tenente coronel do Corpo de Bombeiros Militar, Joílson, nos recebeu e foi logo apresentando a área. Chegamos direto ao nosso destino: as centrais de atendimento. Quando entramos na sala, já perguntamos como funcionava. “Aqui é onde ficam os atendentes. Eles recebem a ligação, registram a queixa e já encaminham para o outro setor, que é o responsável por acionar as viaturas que estiverem mais próximas do local da ocorrência”. Cada equipe é composta por, aproximadamente, sete atendentes, variando nos horários de pico. Neste caso, a equipe é reforçada. São cinco grupos diários que se revezam em três turnos. O tenente coronel Joílson informou que são atendidas, em média, 3,5 mil ligações diariamente, sendo 400 para polícia Civil/ Militar, 60 para o Corpo de Bombeiros. Mas, infelizmente, destas, mil são trotes. TROTES O tenente coronel explica com mais detalhes como são classificados esses telefonemas. “Existem dois tipos de trotes: o tentado e o consumado. No primeiro, os atendentes identificam rapidamente a farsa pelos equívocos cometidos pela pessoa que faz a denúncia. Já no segundo, a viatura chega a averiguar a denúncia feita. Isso atrapalha muito nosso trabalho”. Além dos trotes, outro fator que atrapalha o cotidiano dos atendentes é a falta de informação por parte dos VINICIUS PEREIRA Trotes impedem que a ação da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros seja mais rápida, prejudicando, assim, o bom funcionamento do Ciops cidadãos. “Os telefones 190 e 193 são utilizados somente em casos de emergência e, não, para informações. Temos o telefone próprio para estes casos, para que não congestione o sistema.” O telefone para informações sobre o CIOPS é: (67) 3318-4500. Logística Depois de sairmos da área dos atendentes, fomos à sala ao lado. Nessa, fica o pessoal responsável por encaminhar as viaturas ao local do ocorrido. Todos possuem computadores, com dois monitores. Um, para receber a ocorrência. No outro, eles buscam a localidade da viatura e do ocorrido em um mapa. Além da preocupação com os acidentes do cotidiano, há o cuidado com a saúde dos funcionários. Eles praticam diariamente a ginástica elaboral, ou seja, um alongamento de aproximadamente 15 minutos, para evitar doenças ocupacionais. Além deste exercício físico, há uma reciclagem com os funcionários. Anualmente, eles recebem um novo treinamento para se aperfeiçoar no manuseio do sistema. Uma de nossas dúvidas, e que deve ser o questionamento de muitas pessoas, foi esclarecida por Joílson. Se os atendentes ficam no mesmo local, como saber se a ligação é para a policia ou bombeiro? “Cada funcionário, seja ele do Corpo de Bombeiros ou de uma das polícias, tem sua própria senha. Ou seja, quando ele põe sua identificação na máquina, o sistema automaticamente direciona suas ligações para o atendente ou do 190 ou 193”. Honra e mérito: bombeiro salva vida! VINICIUS PEREIRA Quando acionados, a ação dos Bombeiros tem que ser rápida, uma vez que, a vida de muitas pessoas depende deles RENAN CAMPOS VINÍCIUS PEREIRA LUÍS COPPOLA 4º SEMESTRE Além de conhecer a rotina dos atendentes, ficamos cientes de um caso que nos chamou atenção. O soldado bombeiro militar Tonezi é que nos conta a história. “Era um sábado. A noite estava tranqüila, nenhuma ocorrência grave. Mas, por volta de 2 horas da madrugada, recebi uma ligação de uma moça. Ela contava que estavam em um churrasco, e que um amigo estava engasgado com um pedaço de carne”. Tonezi se lembra que, ime- diatamente, acionou uma viatura para o local e tentou conversar com a solicitante, buscando acalmá-la e passando instruções para evitar danos à vítima. “O nervosismo dela era grande. Em alguns momentos, ela queria fazer coisas que eu não havia dito. Depois de alguns instantes, a moça conseguiu ouvir as instruções corretamente e virou a vítima para que ela não engasgasse”. O caso foi resolvido graças à eficiência de Tonezi. O tenente-coronel bombeiro militar, Joílson, nos explica que, em alguns casos, eles certificam no quadro de avisos o trabalho realizado com sucesso por seus funcionários. Ao lado, pudemos conferir a homenagem feita ao soldado Tonezi. “Para alguns, a gente não fez mais do que a nossa obrigação. Porém, só nós sabemos as dificuldades de como é lidar com casos delicados. Por isso, gostamos de homenagear quem faz bem o seu papel”, ressalta, Joílson, com um sorriso no rosto. Segundo o soldado Tonezi, isto é uma forma de alavancar o moral dos funcionários. Há casos de atendentes que já chagaram até a conduzir um parto por telefone. Tumulto e calmaria em uma central da PRF PEDRO ZIMMERMAN RAFAEL GORDO 4º SEMESTRE Na vivência realizada na Central da Polícia Rodoviária Federal pudemos presenciar toda a rotina de uma tarde cheia de trabalho de um atendente da Central da PRF. Os policiais Débora e Mariano foram quem nos receberam e nos passaram todas as informações necessárias para realização da matéria. Os atendentes se revezam em dois turnos: dia e noite. Por turno, estão presentes dois atendentes. A Central funciona 24 horas por dia. Lá, eles ficam em uma sala referentes ao 191, mas existem três telefones da própria Central, quatro rádios, um Voip para se comunicarem com outros policiais, além de dois computadores, que é por onde eles conseguem fazer um levantamento de tudo que está acontecendo nas rodovias estaduais e, inclusive, federais. Todos eles possuem senhas para acessarem a tecnologia da PRF. Os três principais sistemas são: de Apreensões, Auxiliar de Captura (SAC) e o de Informações de Acidentes. Por meio destes, eles catalogam todos os acidentes, têm informações so- ís, possuem dados precisos sobre os automóveis, além de estatísticas sobre ocorrências. Assim que entramos na sala, por volta das 14h30, o policial Mariano recebeu uma ligação sobre um acidente ocorrido próximo à Miranda, que deixou duas pessoas presas às ferragens. Nesse momento, Débora já passava a localização deles para o Corpo de Bombeiros. Um trabalho que requer muita atenção e que, dependendo do dia, pode ser também muito cansativo. Eles nos contaram que já chegaram a receber cerca de 20 cha- Enquanto em outros, não receberam contato algum. A média é de cinco chamadas diárias. A Central é responsável por todas as rodovias estaduais, auxiliando em casos de furtos, contrabandos, estupro e acidentes. Eles mantêm contato com 21 postos e 10 delegacias espalhados por todo o estado de Mato Grosso do Sul e possuem, também, viaturas ao longo de todo o trecho. Mariano e Débora revelaram que, com a implantação da Lei Seca, o índice de acidentes diminui. Mas a maior diferença percebida por ambos foi o do trânsito indo parar atrás das grades. Débora e Mariano trabalham neste setor há 11 e dois anos, respectivamente, e nos contam que uma das situações mais engraçadas já vividas juntos foi ao receberem trotes de um cidadão chamado Renato. Débora revela que ele já liga pra Central há uns cinco anos e que, de certa forma, acabou emocionando os profissionais de lá, pois, descobriram que ele tem problema mental e é uma pessoa muito sozinha. E que, por isso, começou a ligar para a Central. Ele quem conversar. Além do caso de Renato, Mariano se diverte ao contar histórias sobre trotes passados por crianças. Frases recheadas de palavrões saídas de bocas supostamente inocentes despertam gargalhadas. Já no fim da tarde, Mariano colabora com a pesquisa, revelando dados sobre os acidentes ocorridos nas principais rodovias do país. Na liderança do ranking das rodovias mais perigosas do estado se encontra a BR-163, com 970 acidentes registrados até a tarde do dia 30 08 Unifolha ESPORTE CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008 QUÍMICA - ATLETAS Principais facetas do doping DAIANE LÍBERO SABRINA LEAL 4º SEMESTRE Muito se divulga na mídia especializada em esportes a respeito do termo “doping”. Mas o que é verdadeiramente a inserção de componentes artificiais na preparação de um atleta? “A questão do doping é uma condição artificial de rendimento biológico. E, quando a gente entra em termos de competição, entramos numa questão ética, porque devemos competir em nível de igualdade ambiental, circunstancial, física”, explica o médico cardiologista Luís Ovando, especializado em saúde do atleta. Ele compara que o uso de doping por um atleta é como colocar um indivíduo de 100 quilos pra lutar com um de 50, sendo que o de menor peso vai, invariavelmente, levar desvantagem. Segundo artigos especializados, existem vários tipos de substâncias consideradas doping. Luís Ovando cita quais são as mais utilizadas: psicotrópicos, hormônios e estimulantes. “Psicotrópicos aumentam consideravelmente a capacidade mental e, por conseguinte, a capacidade física. A pessoa perde o senso do cansaço. Isso leva a uma série de alterações, como pressão alta, arritmia, estímulo exagerado do coraDAIANE LIBERO Suplementos alimentares, na maioria das vezes, são confundidos com substâncias consideradas dopantes ção, ou seja, a pessoa perde a noção.” Os hormônios androgênicos, ou anabolizantes, mais conhecidos como “bomba”, também causam alterações perigosas. “Drogas androgênicas mexem com o equilíbrio orgânico. O uso de anabolizantes, em longo prazo, leva o indivíduo a ter chances de desenvolver câncer nos testículos/ovários/fígado, porque sobrecarrega o organismo. Há, também, chances do fígado entrar em falência, quando se usa hormônios em quantidade exagerada”. Ainda existem os estimulantes, como adrenalina, que aumentam muito a capacidade do metabolismo. Luís explica que há casos de doping disfarçado, como o que acontece com atletas de corrida, que costumam tirar uma quantidade de sangue antes de ir treinar em grandes altitudes. Nesses locais, a pouca quantidade de oxigênio faz com que o corpo aumen- te a produção de sangue. Quando volta para o nível do mar, injeta o sangue. “Isso vai carrear muito oxigênio. Essa oferta aumenta o rendimento, e isso você não tem como comprovar. É uma forma de doping, mas em termos éticos, é menos agressivo do que os outros. Mas pode entupir as artérias do cérebro ou do coração”. O que leva um atleta a se sujeitar a isso, mesmo sabendo dos riscos? A conclusão a que se chega é que a pressão emocional sofrida pelos esportistas tem grande parcela de culpa nesse processo. “Tem um aspecto emotivo, que o leva a se submeter a isso. Eu tenho que ganhar. É um objetivo maior pelo que o atleta vive, a meta final”. Outro ponto que o médico levanta é que muitos esportistas são induzidos a tomar certas substâncias, sem o devido esclarecimento. “A busca por resultados artificiais é uma das formas de destruir o corpo”. Satisfação imediata, dor-de-cabeça no futuro BRUNO CHAVES RAUSTER CAMPITELI 4º SEMESTRE Doping é a utilização de qualquer substância ilícita que favorece o desempenho de atletas profissionais. Em curto prazo, traz benefícios satisfatórios, pois, em 90% dos casos, o atleta que não usa tipo algum de substância não obtém bons resultados. Mas, em longo prazo, malefícios são causados à saúde, em função dos efeitos colaterais. Há 18 anos, no meio esportivo, o técnico e atleta de natação, Cássio Castro, 26, medalhista nos Jogos Abertos Brasileiros e nos Campeonatos Sul-Brasileiro e Centro-Oeste, afirma que “a maioria dos atletas pratica o doping na tentativa de ser o melhor, ganhando mais dinheiro e patrocínio”. Alguns treinadores incentivam o doping por causa dos resultados rápidos. Porém, a satisfação dura pouco, os danos ocasionados ao corpo e à mente do atleta fazem com que ele se afaste do esporte, caindo na infelicidade de ser descoberto no exame antidoping, perdendo todo o prestígio conquistado de uma vez só. As modalidades esportivas que mais se destacam na questão da prática do uso de substâncias proibidas são as individuais, como atletismo, natação e ciclismo, já que exigem maior desempenho do esportista. Na natação, por exemplo, “a disciplina rigorosa é a característica principal do treinamento”, explica Cássio. Força de vontade e determinação são alguns dos quesitos que fazem a diferença aos que desejam alcançar um patamar elevado no atletismo, sem utilizar meios desonestos. Os desportistas que fazem uso de métodos ilícitos conhecem as características das substâncias e, com isso, podem burlar facilmente os testes antidoping. Sabendo o tempo que as substâncias dopantes agem no organismo, fazem uso moderado para estarem “limpos” durante a realização dos exames. Nas classes das substâncias mais utilizadas pelos atletas, os agentes anabolizantes ou esteróides anabólicos, compostos derivados do hormônio masculino testoterona, são os preferidos em esportes que exigem maior força física. Quando administrados, esses compostos entram em contato com o tecido muscular, aumentando sua capacidade de expansão. Os anabolizantes são utilizados por aqueles que ambicionam um corpo mais musculoso. Cássio conclui que “não se pode pensar a curto prazo, não se deve fazer nada que possa prejudicar seu futuro”. RAUSTER CAMPITELI Cássio Castro, nadador e técnico, acredita que responsabilidade e otimismo são essenciais para qualquer atleta Substâncias se tornam atalho para sucesso BRUNO CHAVES EMANUEL CAIRES 4º SEMESTRE Os atletas profissionais procuram substâncias que aumentem o seu desempenho em busca de dinheiro e fama. Em muitos destes casos, os treinadores também se beneficiam do uso do doping. “Houve um tempo, há dez anos, que era comum. Hoje, somos avessos a isso. Tiramos isso da cabeça dos atletas”, afirma o técnico de musculação, Fábio Marques Deak, sobre o uso de substâncias dopantes. Para atingir o físico desejado, o atleta, em vez de treinar dois anos, consegue o resultado em apenas dois meses, usando anabolizantes, por exemplo. Entretanto, esta solução não costuma durar muito tempo, e a utilização em longo prazo pode trazer problemas para a saúde. Geralmente, é o atleta quem procura orientação do treinador para utilizar algum produto que melhore seu desempenho. Muitas vezes, estes produtos contêm EMANUEL CAIRES Técnico de musculação, Fábio Marques diz que doping é até comum, mas que procura desestimular os alunos a utilizar substâncias proibidas o uso dos esportistas. Segundo Deak, existe um forte preconceito contra as pessoas que são musculosas, como os fisiculturistas. E é modalidade esportiva com maior índice de atletas “pegos” no exame antidoping. Mas, como eles não chamam tanto a atenção por causa de acha que eles não se dopam. A maioria das substâncias dopantes é usada para o tratamento médico, sendo facilmente encontradas venda se dá somente com receita médica, e a vigilância sanitária fiscaliza seu comércio. Por não serem vendi- “controle de qualidade” sobre estas substâncias. As pessoas as compram em meios alternativos, no mercado negro, na internet, por exemplo. Por isso, existe muita falsificação. “O cara nem sabe o que está tomando”, alerta Fábio. Os treinadores, na maioria das vezes, sabem quando os atletas fazem uso de substâncias dopantes, e, algumas vezes, até influenciam, pois o atleta “subindo” na carreira, ele “sobe” junto. Com isso, vem dinheiro, fama e contratos publicitários. Mas, Fábio, quando percebe um aluno usando, tenta desestimulá-lo, alertando sobre possíveis malefícios à saúde. No entanto, nem sempre é ouvido. O esporte perde sua razão quando o atleta usa mais do que sua natureza lhe proporcionou para ganhar uma prova. “Eu acho ruim o que vemos hoje em Olimpíadas. Nem sabemos se é real, verdadeiro. Não temos como saber, fica algo meio falso”, Mais informação, muito mais entretenimento CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008 FABIANO PASCHOALOTTO ALINE ARANDA SAÚDE CAROLINE QUEIROZ ENTREVISTA COMPORTAMENTO O HPV, os cânceres de pele e de próstata têm tratamento, mas precisam de um diagnóstico precoce para obter a cura. O Juiz Dorival Moreira dos Santos conta como o Direito pode ser mais humano e cumprir o seu papel social. Crianças não se intimidam com os avanços do mundo virtual e mostram que desde cedo dominam esses recursos. Página 11 Página 15 Página 16 Amigos na noite MÁRI GARCIA WILL SOARES 4º SEMESTRE Sarau: festa literária noturna, especialmente, em casas particulares. “Tudo começou na rua 13 de Maio, quando eu morava perto da Ordem dos Músicos. Era procurado por muitas pessoas para falar sobre a Ordem”. O nome Sarau do Zé Geral surgiu quando a quarta-feira foi escolhida como dia para o encontro de músicos, artistas plásticos e de cinema, sendo que o primeiro aconteceu no dia 29 de janeiro de 1997. José Geraldo Ferreira, conhecido, popularmente, por Zé Geral, é o responsável pela organização do sarau, que, oficialmente, existe há 11 anos. A música entrou na sua vida, ouvindo sua mãe cantar, enquanto lavava roupas. “A vida do músico e do sarau é cheia de altos e baixos. No começo, comprava cerveja no mercado, e não ia ninguém, os músicos bebiam tudo. Bastou uma denúncia de vizinhos para começarem os problemas”. O Sarau do Zé Geral mudou de local várias vezes. “Eu não quero ficar mudando, são ocasiões. Quando era na Ferroviária, pessoas usavam drogas ao redor, O sarau ficou mal falado e o aluguel também era muito caro”. Zé relata que, às vezes, a conta de energia e o aluguel ficam atrasados, mas não reclama. “Prefiro ganhar pouco cantando, do que fazer outra coisa. Não abri para ganhar dinheiro. Surgiu naturalmente. Quando quero levantar meu ego, penso que sou importante para a cultura do estado”. Cultura à comunidade WAGNER JEAN Quando Zé Pretim pega sua guitarra, é explícito o domínio que o músico tem sobre o público WAGNER JEAN Bibi do Cavaco deixa composições “fluírem” Espaço reservado para eventos culturais ALINE LEQUE WAGNER JEAN 4º SEMESTRE Reunir um grupo de amigos é motivo suficiente para se criar um evento cultural. E, dessa forma, no início desse ano, começou a ser realizado o Sarau dos Amigos, que acontece na última quinta-feira de cada mês, no bairro Universitário. O sarau ocorre nos fundos de uma casa, o que possibilita uma maior confraternização entre os participantes. Porém, o Sarau dos Amigos tem por característica não só reunir companheiros para apreciar diversas manifestações culturais, mas, também, desenvolver projetos que ajudem de alguma forma o melhoramento das condições de vida da região do bairro Universitário e da sociedade, de um modo geral. Para isso, alguns projetos já foram lançados no sarau, tais como, o Passos, uma campanha de conscientização, que consistiu em pintar pegadas no chão com frases que compõem a carta da Organização das Nações Unidas (ONU), Desde a primeira quarta-feira do sarau, Zé dedica a noite para alguma personalidade. “Durante as Olimpíadas de Pequim, dediquei um dia para os atletas brasileiros”. Questionado sobre o registro da patente “sarau”, ele nos diz que não oficializou a marca, pois o sarau é de domínio público. “Tenho muito orgulho de ter sido o primeiro a fazer o sarau aqui, em Campo Grande. Hoje, já existem vários”. Lugar simples e singelo, com algumas cadeiras organizadas em roda, com pouca iluminação. O palco para a apresentação dos músicos fica localizado no fundo de um enorme corredor com telas de pinturas nas paredes e no chão, as quais foram doadas por artistas que fazem suas exposições no local. O endereço atual, com oito maneiras de mudar o mundo. A entrada para o sarau é um quilo de alimento não-perecível, que é doado para as obras sociais dos Vicentinos, um grupo da Igreja Católica que acompanha a realidade de várias famílias de baixa renda. Além de proporcionar à população do bairro um movimento cultural alternativo, o sarau doa alimentos a quem precisa. Segundo os organizadores, cerca de 900 quilos já foram doados. As apresentações ficam por conta de quem aparece por lá. “Normalmente, as atrações procuram os produtores. Já está divulgado o telefone na imprensa, e eles ligam para agendar participação. Mas, também, deixamos espaço reservado para atrações que chegam no horário do sarau, sem avisar”, explica Elânio Rodrigues, um dos produtores. Em uma mesma edição, o evento já reuniu por volta de 270 pessoas. Mais que um encontro de amigos, a idéia é aproximar artistas de depois de dez mudanças, é a rua Pedro Celestino, 853, no centro da capital. O local é mais freqüentado por universitários, mas tem um público eclético, com idades variadas, de quem conhece e gosta da música “além de terem acompanhado a nossa trajetória”. O maior público reunido no sarau foi no verão do ano de 2000, com a marca de 1015 pessoas, quando era realizado na rua 13 de Maio. Hoje, os equipamentos são próprios. Antigamente, era tudo alugado. “Tinha noite que não fazíamos nem para pagar o som”. Zé Geral almeja um sonho, uma perspectiva e um projeto de vida que não pode revelar. “Tenho orgulho do meu trabalho. A música sul-mato-grossense contribuiu muito para a minha formação”. todos os gêneros, promover essa “mistura artística” para os moradores da região. Além das apresentações musicais, várias exposições já foram montadas no sarau, e entre as mais curiosas, estão as de facas artesanais e as de máquinas de datilografia e telégrafos. Estas coleções pertencem a moradores do bairro. Despertar talentos da co munidade e apreciar artistas consagrados, é sem dúvida, o maior objetivo do sarau, que pode surpreender até mesmo os organizadores. “Me emocionei muito quando o músico Zé Pretim apareceu no Sarau dos Amigos. Ele mora na região, e eu nem sabia. Foi ao encontro e, agora, vai sempre”, relembra Elânio. Em suas apresentações, Zé Pretim sempre mostrou pleno domínio sobre o público. “Quando ele pega a guitarra, é nítido o respeito e a atenção que a platéia tem com ele”. E, assim, segue o sarau, reunindo e descobrindo novos talentos. Música sertaneja cria novo estilo de sarau VANESSA MENEZES 4º SEMESTRE “Clube da Luluzinha”. Esta foi a forma dos amigos batizarem as reuniões das quais muitos não podiam participar. Daí, surgiu a idéia de criar um sarau, com uma diferença, porém: enfocar o rústico, o caipira da música sertaneja que encanta pelas melodias, sempre presentes em suas letras. O Sarau Sertanejo da “Patrícia e Adriana” reúne famosos reconhecidos pelo público, anônimos que buscam um chance e pessoas que apreciam a música. Segundo a empresária da dupla Patrícia e Adriana, Renata Nogueira, entre os objetivos do sarau está o de “relembrar a época da ‘4.000’, um bar de voz e violão, onde diversas pessoas podiam mostrar o seu trabalho”. A entrada cobrada é qua- se simbólica, serve somente para cobrir a despesa com funcionários. “Ninguém ganha nada por se apresentar. No sarau, não existe concorrência, nem um é melhor que o outro. Somos todos iguais”, considera Patrícia. Buscam provar, mais uma vez, que o sertanejo é uma grande família. Quem freqüenta o local pode ter oportunidade de estar bem próximo de seu ídolo. O protético José Aparecido Ferreira de Souza, que acompanha a dupla há 10 anos, prestigia o sarau desde o início. Para ele “é um local bem familiar e sossegado, onde o artista atende a cada um. Completamente diferente da agitação de um show”. Em apenas oito meses de apresentações, o sarau já conseguiu reunir um público de 500 pessoas em uma única noite. Renata afir- PRISCILA BARBIÉRI Paixão pela música e o desejo do reconhecimento cada vez maior são o que movem a dupla ma, ainda, que, se fosse divulgado pela mídia, o evento não perderia o significado de reunião de amigos. “Pelo contrário, seria uma forma de fazer com que cada vez mais pessoas prestigiassem os artistas regionais”. As atrações vão surgindo. É só chegar e dizer que veio cantar. Tudo acontece na mesma noite, não existe agenda, ou qualquer outra burocracia. O projeto, que parou no mês de setembro para reforma, retorna ainda este ano. É uma boa opção para quem busca música sertaneja antiga e atual, de qualidade, na voz de quem canta com a alma e carrega, além de seus instrumentos, o sonho do reconhecimento. 10 Unifolha CIÊNCIAS & TECNOLOGIA CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008 INFORMÁTICA – CONSUMO Mesmo produzidas por um único fabricante, peças, como os processadores, podem ter categorias diferentes Especialista alerta sobre configurações ROBERTO BELINI 4º SEMESTRE Quem tem computador em casa, necessita de orientação especializada. O Unifolha foi até uma empresa de manutenção de Campo Grande. No estabelecimento, são recebidos, por dia, cerca de dez computadores. O chefe do laboratório é Agilson Reis. Há cinco anos, ele trabalha como técnico em informática. Os usuários de computadores domésticos representam, aproximadamente, 30% dos clientes da loja. Para Reis, os computadores à venda, hoje, vão atender às necessidades de quem precisa do equipamento só para fazer trabalhos escolares, acessar a internet ou trocar mensagens. Mas, essas máquinas não vêm com placa de vídeo offboard, que é um dispositivo para deixar as operações, como jogos “pesados”, mais rápidas. É aí que o serviço de um técnico é fundamental. ROBERTO BELINI O cliente pode encomendar uma configuração que seja adequada ao seu desejo. CARACTERÍSTICAS Um dos componentes que dão velocidade para o equipamento é o processador. “Existem muitos computadores que trabalham com a segunda linha de processador”. Reis revela que uma mesma marca fabrica duas qualidades desse produto. Por isso, deve-se verificar não apenas o nome do fabricante, mas a categoria da peça. De acordo com o técnico, muitos dos clientes têm problemas com vírus. “Independentemente do anti-vírus, o risco você corre.” Ele informa que o ideal é instalar o sistema operacional tradicional e um programa anti-vírus free, que é grátis. O especialista também faz afirmações a respeito de promoções que são, aparentemente, vantajosas. “No caso do usuário doméstico, que é leigo, ele Comprar computadores em lojas especializadas em montagem, pode fazer com que a máquina fique personalizada se sente, sim, enganado. Às vezes, ele quer voltar na loja para trocar por outro.” DIFERENCIAIS Os notebooks, que são os computadores portáteis, também estão mais baratos. Conforme Reis, a mobilidade é uma vantagem do laptop. Mas o preço de manutenção dele é consideravelmente maior do que a de um computador de mesa desktop. Para quem tem computador em casa, há uma configuração ideal apresentada pelo especialista. Uma memória com capacidade de 1 Giga, HD de 120 Giga e o processador convencional. O sistema operacional utilizado por 90% dos usuários não é mais fornecido. “Os que vendem na loja dificilmente vão atender o que o usuário doméstico precisa. Ele, talvez, não ficará com o sistema operacional que veio no computador”. Mas o consumidor pode instalá-lo em uma assistência qualificada. ROBERTO BELINI MANUTENÇÃO “Falsos” técnicos vivem de mentiras BRUNA GALINA KLÍCIA MAGALHÃES 4º SEMESTRE A tecnologia tem nos ajudado muito ao longo dos anos. Na Medicina, no trabalho, em todos os tipos de estudos, ela tem sido uma forte aliada. O problema é que pode nos trazer alguns transtornos, se não entendermos muito bem do assunto. Como no caso de G.M., um rapaz de 22 anos que foi enganado por um técnico de computadores, durante um bom tempo. A fonte não quis se identificar por questões pessoais, mas nos contou como foi lesado e aprendeu a lidar com esse tipo de golpe. Quando seu computador estragava, G.M. sempre chamava o mesmo técnico que, se aproveitando de sua inexperiência, dizia, toda vez, que uma peça estava queimada, e que ele precisaria comprar uma outra. Mas, na verdade, o computador precisava apenas ser configurado. Como G.M. não sabia que estava sendo ludibriado, comprava a peça que o golpista havia pedido e deixava a antiga, que não tinha problema algum, com o espertinho. Este, além de ficar com a peça boa para revender, lhe cobrava a mão de obra, sem nunca entregar uma nota fiscal. Isso aconteceu algumas vezes, até que o tio de G.M., que já havia trabalhado como técnico há algum tempo, comentou que esse tipo de golpe estava ocorrendo com freqüência, e deu-lhe alguns toques. Ao descobrir a farsa, ele ficou decepcionado, mas não tinha o que fazer, já que não havia provas contra o falso técnico. Porém, agora, ele segue algumas recomendações, para que isso não se repita, como pedir nota fiscal para todo serviço que lhe é prestado. Ao notar que sua máquina está com algum defeito, G.M. pede opinião de pessoas mais experientes que entendam do assunto, e não aceita mais o primeiro diagnóstico que lhe passam. Embora a tecnologia tenha ficado cada vez mais avançada, é muito importante que saibamos lidar com ela, seja para nosso próprio desenvolvimento ou para não sermos passados para trás. ROBERTO BELINI “Falsos” técnicos substituem peças novas por usadas em manutenções, além de cobrar pelo serviço Consumidores saem a procura de computadores em liquidação, sem analisar as configurações básicas Até onde vale a pena aproveitar as promoções? EVELYN IBRAHIM THALITA NOGUEIRA 4º SEMESTRE Que as condições oferecidas pelo mercado estão favoráveis, não há dúvida. Notebooks em promoção, parcelas de até 12 vezes, sem juros, são as propostas tentadoras que o consumidor pode encontrar. Mas, de acordo com um levantamento informal do Unifolha, os preços variam de R$ 800 até R$ 3,5 mil. Aos que não possuírem o dinheiro à vista, pode-se parcelar de três a 12 vezes o preço. Segundo a chamada Lei do Bem, de 2005, que barateou em 9,24% o preço do personal computer (PC), os consumidores terão as mesmas condições oferecidas para os desktops computers, que seria o computador convencional, de mesa, porém com mais benefícios e facilidade de pagamento. Várias lojas da capital oferecem semanas repletas de promoções, e o que o consumidor mais leva, segundo vendedores, são os notebooks. Marco Antônio Cabral, 24 anos, é proprietário comprado em uma promoção em empresa de grande nível no mercado consumidor. Ele diz que já virou necessidade ter de usar um, tanto como ferramenta de trabalho quanto para o uso pessoal. “É imprescindível o acesso às informações em qualquer lugar”. Apesar deste ter sido adquirido na pressa e na correria, Marco destaca que não se arrepende de sua compra, pois possui conhecimentos de informática e, em questão de minutos, pesquisou e se informou sobre a marca e a qualidade do produto. Marco Antônio alega que comprou o produto só porque estava com um ótimo preço e pelas diversas opções de pagamento que lhe foram propostas. No entanto, assim que efetuou a compra, teve de enviar a um técnico para que o notebook fosse formatado e trocado, pois o sistema que estava instalado na máquina original, o Linux não era o que é normalmente usado e encontrado em todos os outros, o Windows. Mesmo sabendo de futu- alega que jamais conseguiria comprar um equipamento desta qualidade com o mesmo preço e com as opções que um sistema diferente proporcionaria. Neste caso, a diferença poderia chegar até a mil reais. O consumidor, quando for escolher o modelo, deve ficar atento e não se deixar levar apenas pela aparência, observando, também, a duração de bateria, peso, e a qualidade do produto. Deve, ainda, se policiar com as mudanças de tecnologia que estão ocorrendo durante o ano. E, também, ao adquirir produtos em promoção, procurar aqueles oferecidos por empresas fixas e sólidas no mercado, que disponibilizem uma boa garantia nas peças e assistência técnica. Tudo para que não haja futuros gastos com manutenções. É fato que o notebook, no futuro, funcionará como um celular. Todos terão a oportunidade de andar com um, pelas ruas. Porém, como diria um velho ditado, de Publilius Syrus, em I a.C. “as coisas valem o que o cliente Unifolha CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008 SAÚDE 11 MARIA CECÍLIA DE BARROS HPV: altos índices de transmissão e de desconhecimento MARIA CECÍLIA DE BARROS FABIANO PASCHOALOTTO 4º SEMESTRE O HPV já lidera o ranking das doenças sexualmente transmissíveis. Mas, mesmo assim, continua sendo uma infecção desconhecida de muitos. Trata-se de um vírus que pode se manifestar tanto em homens quanto em mulheres, que vive na pele e nas mucosas genitais (vagina, ânus e pênis). Pode se apresentar de duas formas: como verrugas ou microscópica, tornando impossível diagnosticar a doença, sem exame específico. No caso das mulheres, o “papanicolau” é o exame regularmente aplicado pelos ginecologistas. Na maioria dos casos, o HPV se cura, mesmo antes do paciente ser medicado. Nos homens, isso ocorre com mais freqüência. Por isso, muitas vezes, a mulher é diagnosticada, mas seu parceiro já não apresenta o vírus. Para a médica ginecologista Maria Eugênia Faria, é importante recomendar a consulta regular das mulheres. “O HPV atinge, em sua maioria, mulheres entre 14 e 26 anos. Nesta idade, muitas vezes, o corpo não apresenta sintoma algum, e a mulher deixa de fazer um check up”, alerta. Acaba, desta forma, desenvolvendo o vírus que está oculto. “Nos casos de lesão interna da vagina, é quando temos grandes chances de desencadear um câncer de colo de útero”, explica Maria Eugênia. Hoje, já esta disponível a Na Unidade Básica de Saúde Albino Coimbra Filho, as quintas-feiras são reservadas para o diagnótico das pacientes vacina que previne a mulher contra quatro tipos do HPV: 16, 18, 6 e 11. Os dois primeiros (estão relacionados ao câncer de colo de útero) são responsáveis por 94% dos casos. Porém, a vacina é cara. Em Campo Grande o valor, em média, é de R$ 443 a dose, sendo que o tratamento requer três. Quando diagnosticado prontamente, o HPV não causa conseqüências mais graves. Seu tratamento é basicamente a retirada da par- te lesada, operação que pode ser feita a laser, cauterização, entre outros tratamentos. O cuidado com o corpo e a visita regular ao médico são as melhores receitas, tanto para a prevenção quanto para um diagnóstico pronto. A importância de um toque sem preconceito MARIANA BIANCHI Alvino soube a hora certa de procurar ajuda médica e, hoje, vive com tranquilidade, apesar do tratamento MARIANA BIANCHI 4º SEMESTRE Saber exatamente quando um câncer vai acometer um ente querido (ou mesmo você), já não é tão impossível assim. Existem técnicas de mapeamento genético que podem prever se e quando teríamos uma doença. Mato Grosso do Sul tem um dos maiores índices de câncer de próstata do Brasil, 60,88 homens para cada 100 mil. Fabrício Colacino, 28 anos, oncologista-cirurgião, explica o que é a próstata. “É um pequeno órgão genital entre o reto e a bexiga com função hormonal. Quer dizer, ela controla o ciclo hormonal masculino”. Segundo ele, o câncer ocorre pelos intensos bombardeios hormonais que a próstata sofre ao longo da vida. Lá, fica uma ferida que o próprio organismo não consegue curar. Daí, o câncer. O médico frisa a grande importância dos exames feitos previamente, como o toque. Há muitas piadas sobre ele, e sua imagem está um pouco denegrida. Contudo, ele ainda é o principal responsável por detectar a doença. Como tratamento, existem a hormonioterapia, radioterapia e cirurgia. A hormonioterapia tira de circulação do organismo os hormônios que estão causando o tumor. A radioterapia utiliza-se de radiação para bloquear a próstata, e a cirurgia é a retirada do órgão genital. Uma grande polêmica que gira em torno da cirurgia da próstata é a provável impotência. Há 40% de chance de que isso aconteça. Porém, existem alternativas, como a prótese peniana e medicamentos. Mas, mesmo assim, a palavra “câncer” causa tanto espanto que, às vezes, o que mata não é a doença, mas o medo. Bem, isso não se aplica a todos. Com três filhos, 83 anos e uma energia de dar inveja a qualquer jovem, Alvino Accetturi dá um show de bom humor e força. Esse mineiro mora em Campo Grande, há 38 anos. Foi bancário por 35 e manteve uma imobiliária por mais 31 anos. Em meio a lembranças, piadas e aulas de Matemática para uma jornalista (como fazer o “nove vezes fora”), seu Alvino conta de um câncer que tra- ta com hormonioterapia há três anos, combinado com a radioterapia. Tudo de graça, pelo Hospital do Câncer de Campo Grande. Aos 80 anos, foi fazer o check up, e lá estava o tumor. “Os homens têm vergonha de fazer o exame do toque, mas isso é pura ignorância”, destaca Alvino. O exame foi feito e foi de fundamental importância. O PSA é um ingrediente do sêmen, que, se detectado em valor maior que o normal, pode ser um sinal de câncer na próstata. Esse exame é feito pelo sangue, e Alvino também o fez. Aliás, ele fez tudo que os médicos pediram e colaborou prontamente. Espírita, acredita que, daqui, nada se leva: nem dinheiro, casa, carro, muito menos o corpo. Sua esposa, Ginete, também já teve câncer e, hoje, trata de uma insuficiência cardiovascular. Até hoje, faz a quimioterapia uma vez ao mês, e seu PSA que, quando detectado o câncer, estava em oito, está hoje a 0,24. Uma vitória, com certeza, para esse homem que sabe o que quer, mas não sabe o que o aguarda do outro lado. Pele: antes previnir do que operar GISLAINE GIRONDE PAULA REIS 4º SEMESTRE Campo Grande é conhecida como capital Morena e, ultimamente, pelo sol forte, bom para deixar o bronzeado impecável. Aí está o perigo. Muita gente se esquece de usar o filtro solar... Isso pode trazer sérias conseqüências, como o câncer de pele. Luciano Kivel, coordenador de vendas, conta que percebeu uma mancha em seu braço, mas achava que era um machucado. Com o passar dos dias, notou que nunca sarava. Foi aí que procurou um dermatologista. O especialista examinou a pele como um todo e detectou o câncer em uma minúscula região do seu braço. Kível passará por uma cirurgia, que será uma espécie de raspagem, para remover o câncer. Ele conta que por ter a pele clara, ficava mais vulnerável à doença. Na maioria dos casos, o câncer de pele atinge pesso- as de cor alva. Aliás, quanto mais clara a tez, mais riscos a pessoa tem de contrair a doença. Isso explica o fato de Santa Catarina ter o maior índice de pessoas com esta enfermidade. Existem três tipos de câncer de pele. O carcimoma basocelular é menos grave e mais freqüente em pessoas acima dos 40 anos, devido ao acúmulo da exposição solar. O carcinoma espinocelular é causado pela exposição sem proteção ao sol, e o melanoma é o mais perigoso. Neste último, ele aparece como uma pinta escura que vai se deformando. Se não for descoberto no início, já não há mais cura. Ele mata 100% das pessoas que não o descobrem precocemente. Por isso, é importante estar atento a lesões que aparecem de forma repentina e aumentam rapidamente, afirma Júlia Menegazzo Moreira, médica formada pela Uniderp. Ela atende no PSF Marabá e encaminha ao dermatologista pacientes com lesões julgadas “suspeitas”. Quando o câncer é descoberto no início, o tumor é retirado com uma simples incisão cirúrgica. Mas, quando a pessoa não dá atenção aos possíveis sinais da doença, a cirurgia pode ser um pouco mais complexa, explica a médica. Luiz Carlos, 28 anos, gerente de compras, relata que há dois anos surgiu uma mancha bem estranha, próxima ao nariz. Ele conta que sabe que pode estar com câncer, por ter a pele clara e a mancha ter aumentado. Mas, ainda não procurou um profissional, por falta de tempo. Quem já teve a doença sabe que não basta fazer a cirurgia para estar imune. Se não tomar cuidados básicos, como o uso do filtro solar e evitar exposição ao sol em horários mais críticos, está vulnerável a contrair o câncer outras vezes. Elizabeth Volkopf, 46 anos, comerciante, teve câncer de pele duas vezes. Ela conta que não fica muito exposta ao sol e sempre passa protetor solar. O primeiro câncer surgiu no pescoço. Era uma mancha que sangrava, conta Elizabeth. Não pensava que poderia ser câncer, mas, incomodada com a mancha e, por ser uma mulher vaidosa, foi procurar um dermatologista. Ficou surpresa com o diagnóstico, pois não esperava que uma pequena mancha próxima ao nariz também fosse câncer de pele. Elizabeth passou pela cirurgia para a remoção dos tumores no mesmo dia. Ela também relata que procurou o médico por razão estética. Não pensava que a consulta resultaria em cirurgia. Ela afirma que continua se cuidando e está sempre atenta aos sinais. Mas, ninguém precisa se alarmar e chegar a não sair mais de casa com medo do sol. Ele nos propicia muitos benefícios. Basta aproveitálo com responsabilidade. Afinal, filtro solar, chapéu e bom-senso, não fazem mal a ninguém. GISLAINE GIRONDE Câncer de pele pode ser maléfico; porém, a cirurgia é rápida e eficaz 12 Unifolha RURAL CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008 CANA-DE-AÇÚCAR - ALTERNATIVAS MS é promessa para o etanol LIANA FEITOSA RAFAELA ALVES 4° SEMESTRE Como nova alternativa de combustível menos poluente, não esgotável e que pode ser opção para países dependentes do petróleo, o etanol tem se destacado no mercado nacional e internacional. Países como a Suécia, fecharam contrato com empresas brasileiras que já exportam o produto. Para Mato Grosso do Sul, as expectativas também são positivas. Segundo o gerente do Sindicato da Indústria da Fabricação do Açúcar e do Álcool do Estado de Mato Grosso do Sul (Sindal/MS), Paulo Aurélio, as expectativas atuais são de uma colheita que supere a de 2007. Isso já para a safra 2008/2008, que está em curso. “Esta safra deve ser 49% superior à passada. Devemos passar de 15 milhões de toneladas para 22 milhões de cana a ser moída. A produção de açúcar deve chegar a 800 mil toneladas e o álcool a, aproximadamente, 1,3 bilhões”. Com tanta produção, Mato Grosso do Sul ga- nha com a diversificação da economia em relação aos produtos aqui cultivados. Assim, o estado acaba “saindo do ‘binômio’ gado e soja, para uma economia mais diversificada”. Além disso, já acontece no estado a ocupação de pastagens improdutivas antes utilizadas para pecuária. Como a terra encontra-se degradada, a cultura da cana é implantada como opção para o produtor, evitando, até mesmo, a invasão de terras férteis ou preservadas por lei, para essa finalidade. As áreas produtivas utilizadas para o plantio de cana são, segundo o gerente, apenas 2% do total das terras usadas para todas as formas de agricultura no Brasil. DADOS De acordo com levantamentos da Secretaria do Estado de Desenvolvimento Agrário, de Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo de Mato Grosso do Sul (Seprotur/MS), há na região, aproximadamente 10 milhões de hectares de pastagem degrada- da. Porém, a cana-de-açúcar deve ocupar no futuro, após sua implantação completa, cerca de 1 milhão de hectares - o que significa apenas 10% da área total ocupada com pastagens. Para Paulo Aurélio, o número é pequeno se comparado a outros produtos cultivados na região. O etanol é, então, uma opção promissora para o estado, no que diz respeito à produ- ção de energia, uma vez que o mercado externo busca, atualmente, alternativas que fujam da dependência do petróleo. Paulo Aurélio esclarece ainda que, ao contrário dos Estados Unidos, o etanol LIANA FEITOSA Gerente-Executivo do Sindal/MS: Cana-de-açúcar migra para áreas que não produzem mais que 0,6 cabeças de gado por hectare brasileiro, derivado da cana-de-açúcar, tem um custo bem menor que o biocombustível norteamericano, o que gera, inclusive, polêmicas sobre o combustível. Pesquisadores de organizações não-governamentais (Ongs) que lutam contra a fome mundial, alertam para os perigos do crescente cultivo de novas alternativas energéticas como ponte para o aumento da escassez de alimentos no mundo, gerando mais desequilíbrio social entre os países. “O que acontece é que, nos EUA, o álcool é produzido com milho, e a um custo absurdo, tendo que ser subsidiado pelo governo. Lá, para aumentar a produção de etanol de milho, é preciso deixar de plantar alimentos, o que não acontece aqui”. Mesmo São Paulo sendo maior produtor de cana do país, os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são promessas de destaque na produção do etanol brasileiro, movimentando o mercado nacional. Vantagens e desvantagens do biocombustível WESLEY ANTÔNIO Consumo de biocombustíveis é em torno de 10% da demanda mundial, apesar do etanol produzir dez vezes menos CO2 que o combustível convencional WESLEY ANTÔNIO 4° SEMESTRE Por possuir melhores condições geográficas, climáticas, culturais, econômicas e tecnológicas, o Brasil tem tudo para se destacar e liderar a produção de etanol, conhecido mundialmente como álcool combustível. Hoje, são utilizados, no mundo, 600 bilhões de litros de combustível ao ano. O consumo de biocombustivel é algo em torno de 60 bilhões de litros, apenas 10% da demanda mundial. Alguns fatores que dificultam a produção de biocombustível são a exigência da ocupação de grandes áreas para a plantação de cana, irrigação e o uso de produtos químicos. Além disso, não houve um acordo para a padronização do etanol. Enquanto, no Brasil, se produz etanol de cana; nos Estados Unidos, se usa o milho. A grande vantagem que o biocombustível tem sobre o petróleo é a menor porcentagem de poluição. O etanol produz dez vezes menos CO2 que o combustível normal, e isso se deve ao fato de que o hidrogênio líquido e a eletricidade produzida pelas baterias não produzem poluentes. Mas, por sua vez, a produção de hidrogênio exige gasto de eletricidade e requer queima de carvão e petróleo em termelétricas. É este processo que produz mais CO2. Graça às boas condições que o Brasil possui para a produção de cana, o governo tem grandes esperanças em relação ao biocombustível e afirma, por meio de técnicos especializados, que isso não afetará a produção de alimentos, principal medo da população. Fiscalização nos canaviais sofre dificuldades ALYNNE ZANCANELLI ROSÁLIA PRATA 4° SEMESTRE O setor sucroalcooleiro em Mato Grosso do Sul é o segundo maior em produção do país. O estado apresenta um grande volume de produção, que, futuramente, pode acabar com a mão-de-obra, devido à mecanização. Conforme explica o chefe da Seção de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Antônio Maria Parron, a mão de obra é, atualmente, contratada pelas próprias indústrias, existindo casos em que as usinas fazem acordos com empresas, terceirizando o serviço. Trata-se do famoso “gato”, quando os trabalhadores contratados ficam sem receber, pois os usineiros já pagaram pela mão-de-obra, pela qual a empresa responsável de repassar esse dinheiro não efetuou o pagamento. Em sua maioria, os trabalhadores são nordestinos, indíge- nas e alguns imigrantes que vivem ilegalmente no estado. Parron diz que as principais reclamações dos operários são os preços do corte da cana, pois não correspondem às espectativas dos trabalhadores. Só neste ano, três greves foram realizadas no estado, causando repercussão, principalmente, nas regiões em que os trabalhadores são contratados, deixando Mato Grosso do Sul com pouca mão-de-obra. No estado, atuam 49 auditores fiscais, mas, de acordo com Antônio Parron, apenas seis trabalham na fiscalização rural. E, somente três são encarregados de fiscalizar essas plantações. Devido à falta de auditores, está sendo formado um grupo móvel, parceria com Cuiabá-MT, que trará três novos responsáveis para Campo Grande. Nas fiscalizações realizadas, são encontradas, principalmente, irregularidades de indústrias reincidentes. Essas anormalidades são, geralmen- BRAZ ANTONIO DE MELO Cortadores de cana-de-açúcar estão sofrendo com a falta de melhores condições de trabalho e moradia no estado te, de moradia, local próprio para o almoço, falta da água para o banho e consumo próprio, além de deficiência de transporte e saúde. Essas fiscalizações são realizadas a partir de um planejamento, que vem de Brasília, ou seja, nem sempre surgindo no ritmo das denúncias. Os fiscais devem ser muito cautelosos na hora de diagnosticar as condições “consideradas degradantes”, para que não sejam forjadas, alerta Antônio Parron. Houve casos de greves em que trabalhadores forjaram a situação de moradia, pois não estavam satisfeitos com a remuneração. Após detectado o problema, a MTE vai com a Polícia Federal e verifica se todos os trabalhadores estão devidamente contratados. Em caso de irregularidade, a usina é forçada a dar a recisão indireta aos funcionários, fazer o acerto e, ainda, pagar os seis meses de seguro-desemprego. Unifolha CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008 MEIO AMBIENTE 13 POLUIÇÃO - MODERNIDADE Em meio a condições desumanas, coletores trabalham noite e dia para garantir o sustento da família Lixão: fonte de renda e problemas ambientais ISABELA FERREIRA THARY DURIGON 4º SEMESTRE Você sabe qual é o destino do seu lixo? Além de ir para o lixão, tudo o que não é aproveitado na sua casa pode ter valor para outras pessoas. Em meio às montanhas de dejetos que caracterizam o lixão, cerca de 300 pessoas se revezam noite e dia como coletores. Ali, eles garantem sua renda mensal, recolhendo e vendendo plástico, papel, latinha, entre outros utensílios. Muitas vezes, encontram objetos que servem para o seu próprio uso. Segundo o engenheiro ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semades), Antônio Car- ISABELA FERREIRA Cerca de 300 pessoas sobrevivem por intermédio dos resíduos domiciliares los Silva Sampaio, o lixão da capital ocupa uma área de 15 a 20 hectares. Cerca de 95% do lixo produzido pelos campo-grandenses é recolhido por uma empresa terceirizada, contratada pela prefeitura. O engenheiro também fala sobre o lixo hospitalar. Ele afirma que este tipo de resíduo é depositado sepa- radamente dos detritos domésticos, porque possui microorganismos patogênicos que podem trazer riscos à saúde de quem trabalha no local. Alguns hospitais ainda não separam o seu lixo, e isso dificulta o trabalho da coleta. De todas as instituições de saúde da capital, 15 a 20% precisam colaborar e separar o material utilizado. O ideal seria que houvesse a coleta seletiva na capital, porém, ainda, não há tantos investimentos nesse setor devido ao custo. Esse tipo de coleta requer mais gastos e, segundo Antônio Carlos, o lixo separado “gera grande volume com pouca massa”. Por outro lado, a coleta seletiva faria com que a renda dos catadores autônomos aumentasse, uma vez que o lixo separado apresenta maior valor comercial. Estudos já estão sendo feitos para que se comece a estimular a coleta seletiva, pelo menos uma vez por semana. Para quem passa no anel rodoviário no trecho entre as saídas de São Paulo e Sidrolândia, onde se situa o lixão, é impossível não sentir o mau cheiro que se espalha pelo local. Mas este não é o único problema ambiental causado pelas toneladas de lixo. Poluição visual, emissão de gás metano e a poluição do lençol freático pelo chorume são também outras conseqüências. Por isso, está sendo construído um aterro sanitário, onde o lixo receberá um tratamento adequado, e esta ação tem condições de diminuir, em grande parte, os problemas ambientais citados. Conseqüências ambientais • Contaminação do lençol freático e do solo por meio do chorume (líquido proveniente da decomposição do lixo). • Irradiação do gás metano por conta da decomposição do lixo. Este gás polui 20 vezes mais que o gás carbônico. É um dos responsáveis pelo efeito estufa. • Poluição do ar (local malcheiroso) • Poluição visual • Queimadas HUGO CRIPPA MUDANÇA ISABELA FERREIRA Coletor “Mineirinho” emociona com suas histórias e seus desabafos Aterro terá estrutura moderna e ecologicamente correta, com fundo impermeabilizado e drenos que captarão o gás metano proveniente do lixo Sobrevivência Renovação: novo aterro além da vida sanitário substitui lixão GISELLE RIBEIRO HUGO CRIPPA 4º SEMESTRE DOUGLAS QUEIROZ ISABELA FERREIRA 4º SEMESTRE Apenas 10% do lixo gerado no Brasil têm uma destinação adequada, o aterro sanitário. Campo Grande ainda não pode se incluir nesta estatística, pois todo o resíduo que produzimos, cerca de 550 a 660 toneladas por dia, é despejado diariamente, no lixão, local que não possui uma estrutura apropriada DOUGLAS QUEIROZ A partir do ano que vem, este lixo pode ter um destino mais adequado para atender tal demanda, sem prejudicar o meio ambiente sob vários aspectos. As informações são do engenheiro ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semades), Antônio Carlos Silva Sampaio. Porém, daqui a alguns meses, essa realidade irá mudar. Isto porque, está sendo construído um aterro sanitário ao lado do atual lixão, que fica no anel rodoviário, entre as saídas de São Paulo e Sidrolândia. Antônio Carlos informa que o investimento está em torno de R$ 11 a R$ 12 milhões, sendo que a obra deve ocupar uma área com cerca de 20 hectares. O aterro sanitário, diferente do atual lixão, que é caracterizado por montanhas de detritos, possuirá uma estrutura moderna e ecologicamente correta. Para se ter uma idéia, o fundo do aterro será impermeabilizado, o que não deixará que o chorume, líquido escuro proveniente da decomposição do lixo, polua o solo e o lençol freático. Este líquido será captado por um sistema de drenagem que o transpor- tará para uma estação de tratamento. O local também contará com outros drenos que captarão o gás metano proveniente da decomposição do lixo. Este gás polui mais que o carbônico e é um dos maiores responsáveis pelo aquecimento global. Apesar da grande expectativa e dos benefícios que a população pode vir a ter com esta obra, fica uma dúvida no ar: como os cerca de 300 coletores que atualmente trabalham no lixão sobreviverão? Eles poderão continuar coletando lixo no novo local? Não, não será mais permitido este tipo de trabalho. Contudo, Antônio Carlos afirma que está prevista, no aterro sanitário, a criação de uma esteira, uma usina de triagem, de separação de lixo, em que somente alguns trabalhadores serão priorizados. “Alguns coletores estão lá fazendo daquilo um meio de vida. Provavelmente, estes que estão lá constantemente deverão ser aproveitados”, relata. Ele ainda acrescenta que os demais trabalhadores receberão apoio da prefeitura, por meio de cursos profissionalizantes. Um lugar que realmente nos fez pensar no que vimos e sentimos é o lixão da cidade. O mau cheiro ficou por horas impregnado em nossas roupas. A autorização para entrar no lixão era quase impossível. Mas, a procura de vivências, experiências e histórias eram maiores, e, por isso, conseguimos entrar. O cheiro lembrava o esgoto. Algumas pessoas até nos cumprimentavam, outros encaravam como se estivéssemos invadindo seu território. Além dos detritos comuns, como pneus, garrafas pet, papéis e entulhos, encontramos materiais escolares, CDs, aparelhos eletrônicos, tudo que se possa imaginar. Afinal, tudo vai para o lixo. Rejeitos que, para os catadores, representam fonte de renda e vida. Quem nos contou mais foi um senhor. Ele levava em seu olhar triste o sofrimento de conseguir se manter vivo. Seu nome, João, mais conhecido como Mineirinho. Usava um chapéu preto, calça, camisa e botas rasgadas. “Vocês são limpinho, e eu sô sujo. Vocês são estudado, eu sô analfabeto”. Foi assim que começamos uma conversa. Um senhor de 57 anos, que há 14 trabalha no lixão e comia o seu único alimento do dia, uma maçã. Tinha muita vergonha de seus poucos dentes. Mineirinho explicou sobre o lixão, os preços e o que é mais valorizado. Ele separa os melhores entulhos e vende. Mostrou as três notas de dez reais que conseguiu naquele dia. Perguntamos de onde vinha o seu chapéu. “Achei aqui. Ih... já achei tanta coisa, até colar de ouro. Meu cachorro, encontrei aqui.” Prefere ir trabalhar à noite. Mesmo sem iluminação e no meio de imensas montanhas de lixo, consegue encontrar o que precisa. “Enxergo com os olhos de Deus”. O mau cheiro, sempre presente. Observamos em seus olhos as lágrimas de uma triste realidade. Estávamos envolvidos a ponto de nos emocionar. João começou a chorar, contar de como tinha saudades do tempo em que trabalhava na fazenda e tinha comida e uma “vida boa”. Segurou a mão de um de nós, colocou em seu peito, apertou forte e disse “Eu sou uma pessoa do bem”. Abraçou um de nós e mesmo com o mau cheiro, retribuímos o abraço a quem transmitiu muito, por horas. “Posso ser analfabeto, não ser doutor, advogado e viver no lixão. Não importa. ELE tá acima de tudo…”. 14 Unifolha UNIVERSIDADE CAMPO GRANDE - MS - OUTUBRO - 2008 Instituição oferece novos cursos: três de engenharia e quatro superiores em tecnologia Uniderp abre inscrições para vestibular ASCOM - UNIDERP A Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp), que integra a Anhanguera Educacional, está com inscrições abertas para o Concurso Vestibular 2009. Para essa edição do vestibular, a novidade é o oferecimento de novos cursos. São três na área de engenharia: Engenharia de Produção, Engenharia Mecânica e Engenharia Mecatrônica; e quatro novos Cursos Superiores de Tecnologia: Estética e Cosmética, Gestão Ambiental, Gestão de Turismo e Secretariado. Todos oferecidos em Campo Grande, MS. As inscrições podem ser feitas até o dia 19 de novembro no site www. uniderp.br. Para efetivar a inscrição, o candidato deve efetuar o pagamento da taxa de R$ 20,00. O comprovante da quitação deve ser apresentado no dia de realização das provas (23 de novembro), com o documento de identificação do candidato. Na Capital, também serão oferecidas vagas para os cursos de Administração, Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Ciência da Computação, Ciências Biológicas, Ciências Contábeis, Comunicação Social – Jornalismo, Comunicação Social – Publicidade e Pro- WAGNER GUIMARÃES paganda, Direito, Educação Física, Enfermagem, Engenharia Civil, Engenharia da Computação, Engenharia Elétrica/Eletrônica, Far- mácia, Fisioterapia, Letras – Português–Inglês e Respectivas Literaturas e/ou Tradutor e Intérprete, Letras – Português-Espanhol e Respectivas Literaturas, Matemática, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Pedagogia, Psicologia e Serviço Social. Já no campus de Rio Verde de Mato Grosso serão oferecidas vagas para os cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito. Tecnológicos- Para os candidatos que desejam uma rápida inserção no mercado de trabalho, além dos cursos novos, a Universidade oferece, neste vestibular, vagas para os Cursos Superiores de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Design de Moda, Gestão de Recursos Humanos, Gestão Hospitalar, Logística, Marketing, Pr o d u ç ã o M u l t i m í d i a , Produção Sucroalcooleira e Redes de Computadores, em Campo Grande; e Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, em Rio Verde de Mato Grosso. Provas – As provas do vestibular acontecerão no dia 23 de novembro no campus I da Uniderp em Campo Grande e no campus IV da Uniderp em Rio Verde de Mato Grosso. Os candidatos que optarem pelo curso de Medicina farão as provas somente em Campo Grande. É importante que os candidatos confirmem sua inscrição no site da universidade no dia 22 de novembro. Serviço – Outros detalhes sobre os cursos, como por exemplo, duração e habilitações, e mais informações sobre o Vestibular 2009/1 podem ser obtidas pela internet (www.uniderp.br) ou pelo telefone 0800-941-4422. ENTREVISTA Unifolha CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008 15 GUSTAVO DE DEUS "Eu não me preocupo em agradar ou desagradar ninguém. Eu não quero saber quem está de um lado ou do outro. Eu decido com a minha consciência e com o que eu entendo por direito justo" "Eu gosto de dizer que, para contar o meu tempo de serviço, é preciso tirar uma xerox do cabo da vassoura" “Eu não tenho a menor dúvida de que o Brasil será o berço da humanidade” Dorival Moreira dos Santos - Juiz E le poderia ter sido um violonista de grande sucesso, mas preferiu seguir outro caminho, o da Justiça. Estamos falando do juiz titular da Vara Aline Aranda Daniela Damazio Elza Recaldes Gustavo de Deus Vanessa Mendonça 4º Semestre O senhor tem quase 50 anos de jurisprudência. Conte um pouco da sua profissão e da sua trajetória até hoje. O meu tempo oficial de vida florense é contado a partir dos 16 anos, mas, na verdade, eu comecei com 12. Eu era um tipo de office-boy em um cartório. Eu trabalhei por quatro anos, sem vínculo algum com o cartório. Então, quando eu fiz 16 anos, foi oficialmente reconhecida a minha vinculação com o Poder Judiciário. Além de office-boy, eu fui datilógrafo, escrevente e até a limpeza interna do cartório eu fiz. Eu gosto de dizer que, para contar o meu tempo de serviço, é preciso tirar uma xerox do cabo da vassoura. Eu comecei com o cabo da vassoura e fui subindo até chegar aqui. Eu nasci em Votuporanga-SP, mas me criei em São José do Rio Preto-SP, onde eu fiz a minha faculdade de Direito. Desde que Mato Grosso do Sul foi criado, eu sentia vontade de vir trabalhar aqui. Então, em 1981, eu me inscrevi em um concurso de magistratura em Campo Grande. Tive a sorte de ser aprovado e eu estou aqui até hoje. A Vara que o senhor atua é bem abrangente. Mas, se analisarmos as decisões deferidas pelo senhor, percebemos uma forte contribuição social. Será que podemos dizer que a atuação da Vara é uma forma de aproximação entre a Justiça e o cidadão comum? Na minha visão pessoal, esta é a Vara que está mais próxima das pessoas, do cidadão, do povo mesmo. Porque todas as decisões que saem daqui, normalmente, atingem um grande número de pessoas. Esta Vara foi instalada, simbolicamente, no final de 2004, mas só começou efetivamente o trabalho em fevereiro de 2005. Nós atuamos em ações civis públicas, ações populares, mandados de segurança coletivos e ações coletivas envolvendo o direito do consumidor. Existem, também, ações mais delicadas, como as de improbidade administrativa, que envolvem a administra- dos Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, Dorival Moreira dos Santos. Aos 62 anos, destes, quase 50 dedicados ao Direito, ele fala, em ção pública. Logicamente, a legitimidade para essas ações está prevista em lei. Eu acho que vai levar um tempo para que haja uma consciência do alcance e da competência da Vara. Ela tem menos de quatro anos de vida, e já correspondeu à expectativa da sua criação. Os nossos julgamentos beneficiaram um grande número de pessoas, porque já houve sentenças em todas as áreas, como direito do consumidor, meio ambiente, segurança coletiva e improbidade administrativa, que teve ampla repercussão na imprensa. As suas decisões são, geralmente, a favor de cidadãos comuns, contra grandes empresas, ou, até mesmo, contra o Estado. Quais são as maiores dificuldades que o senhor encontra? O que acontece, às vezes, é que as decisões dos tribunais, inclusive o nosso, são tomadas em cima do Código Processual Civil, que é de 1973, e abrange apenas o Direito Individual e Privado. Como nós não temos uma lei processual específica para os direitos coletivos, então, se aplica a mesma lei. Quando você julga direitos coletivos em cima de regras criadas para os direitos individuais privados, evidentemente, nem sempre, dá certo. Tem havido decisões que, ao contrário do que se possa imaginar, acabam prejudicando a coletividade. Nós trabalhamos em cima de princípios, mas as ações que são ajuizadas aqui envolvem direitos expressamente previstos na Constituição Federal. Eu não me preocupo em agradar ou desagradar ninguém. Eu não quero saber quem está de um lado ou do outro. Eu decido com a minha consciência e com o que eu entendo por, direito justo. Algumas de suas determinações beneficiaram toda a população, como a proibição da obrigatoriedade de exame de HIV para participação em concursos e garantia de acessibilidade para cadeirantes em prédios. Qualquer cidadão pode ter acesso à Vara? E qual é o caminho que ele deve buscar? As pessoas podem procurar o Procon, a Defensoria Pública, as associações de defesa do consumidor, as Ongs e os centros de defesa da cidadania e dos direitos humanos. O Ministério Público tem uma equipe específica para cuidar do direito coletivo. Aliás, o Ministério Público e o Estadual são os mais atuantes dentro da Vara, os que mais aceitam nossas ações. A abrangência da Vara impressiona. Como já disse, temos decisões em várias áreas. Na saúde, por exemplo, temos o direito à internação, cirurgias, medicamentos e direitos a portadores de necessidades especiais. Eu acho que todas as pessoas deveriam ler a Constituição Brasileira. Assim, elas teriam uma noção dos seus direitos e deveres. Lá, estão todos os princípios que regem a nossa vida. No meu ponto de vista, a nossa Constituição é uma das mais evoluídas do mundo, quando se trata do direito das pessoas, físicas ou jurídicas. O Código de Defesa do Consumidor completa 18 anos este mês. Ele chega à maioridade, com muita alegria e comemoração. Eu o considero um monumento político. O Brasil vive uma crise moral que atinge todos os setores públicos e as instituições. Temos, também, uma grande descrença da população com as autoridades em geral. Deve ser desconfortável para quem trabalha sério ser incluído nessa generalização. O problema do Brasil é a estrutura eleitoral. A legislação eleitoral e o critério para a escolha dos candidatos são embasados em lei, mas, no meu ponto de vista, ela restringe a participação do cidadão. Os partidos políticos são formados por pessoas que defendem uma mesma ideologia. Outros que não concordam com essa filosofia formam outros partidos e assim sucessivamente. Se alguém de bem quiser fazer parte da administração pública através do processo eleitoral, tem que se filiar a um desses partidos, que nem sempre estão de acordo com a sua filosofia, com o seu entendimento de como deve ser a administração pública. Recentemente, eu passei pelo Tribunal Eleitoral, e fui campeão em voto vencido. O que eu presenciei ali foi algo que me deixou muito preocupado. Mas eu vi, também, que existem pessoas preocupadas em sanear o campo político. Eu tenho uma verdadeira esperança que essas pessoas idealistas, que lutam entrevista ao Unifolha, sobre o seu trabalho, como a Justiça pode ser mais humana e até a respeito de música. pela melhoria da sociedade, não vão desanimar, não vão desistir. Eu me considero pertencente a esse grupo. Eu estou nessa carreira porque eu gosto. Eu já tenho tempo de sobra para aposentar, mas enquanto eu tiver força, eu, como juiz, vou lutar para que o direito justo prevaleça. É discurso comum nos dias de hoje que a Justiça só funciona para os ricos. E pelos exemplos que nós vemos acontecer todos os dias, essa afirmação parece não ser considerada falsa. O senhor acredita que um dia o Brasil será um país mais justo, onde GUSTAVO DE DEUS "Eu acho que todas as pessoas deveriam ler a Constituição Brasileira. Assim elas teriam uma noção dos seus direitos e deveres" todos terão tratamento igual? Eu não tenho a menor dúvida de que o Brasil será o berço da humanidade. Nós temos tudo aquilo que os outros países não têm, como riquezas naturais e humanas. Na verdade, o que aconteceu é que nós estávamos em um caminho, há décadas passadas, mas, de repente, houve um desvio. Agora, estamos voltando de novo ao trilho de onde nunca deveríamos ter saído. O paternalismo político deve ser eliminado. Precisamos dar condições para que as pessoas humildes busquem seu caminho com as próprias pernas. Um país só evolui através da educação. Com a educação, vem a cultura, vem a solidariedade, que é fundamental. Sem solidariedade, não chegaremos a lugar algum. Temos necessidade de uma educação adequada, para que as nossas crianças e nossos adolescentes sejam capazes de assumir responsabilidades com ética, buscando um objetivo comum e do bem, que pensem na coletividade. Precisamos de pessoas bem informadas, que tenham certeza do que estão falando e fazendo. Nós sabemos que o senhor é um grande apreciador da música, e que entre um processo e outro dedilha o seu violão. A música é uma paixão, ou uma válvula de escape para o seu estressante trabalho? O senhor trocaria os tribunais pelos palcos? A música teve uma grande influência na minha vida. Desde garoto, eu convivi com a música. Meu pai, Antônio dos Santos Filho, foi um grande acordeonista, era um músico muito respeitado na época. Ele aprendeu a tocar acordeom sozinho, porque não tinha recursos. Como ele trabalhava com lavoura de café, não tinha condições de estudar música. Meu pai acompanhou orquestras e regionais. Também, acompanhou cantores e cantoras, como Nélson Gonçalves, Altemar Dutra, Ângela Maria e Vicente Celestino. Eu comecei a tocar violão com 14 anos. Na verdade, eu queria ser pianista, mas como o piano era muito caro, meu pai me deu um violão. Eu toquei por um tempo, cheguei a estudar com o José Rasteli, mas, quando eu fui para o Exército, fui obrigado a parar. Hoje, por falta de tempo, eu quase não pego no violão. Mas, eu sou um apaixonado por música. Quando eu ouço música, sinto-me feliz, com ela eu consigo me acalmar. Eu acho que todos nós devemos ter, aliado ao nosso trabalho do dia-a-dia, algo que nos complemente, como a música. Eu vou confessar uma coisa para vocês. Eu não tenho nada planejado, mas logo que eu encerrar a minha carreira jurídica, gostaria muito de fazer uma faculdade de música, estudar mais profundamente a música. Eu também tenho um sonho de gravar um CD com um fim social, em que a renda seja revertida às pessoas necessitadas. Como tudo que eu sonhei na minha vida eu atingi, eu pretendo realizar esse também. "No meu ponto de vista, a nossa Constituição é uma das mais evoluídas do mundo quando se trata do direito das pessoas, físicas ou jurídicas." 16 Unifolha COMPORTAMENTO CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2008 Tecnologia é DANIELE RAMOS capaz de suprir a tradição DANIELE RAMOS LUCIENE FRATINI 4º SEMESTRE Será mesmo que a tecnologia é capaz de fazer com que as crianças de hoje deixem a tradição de brincar com bonecas, jogos e futebol? Existem pais que nos mostram que crianças se interessam mais, atualmente, por computador, videogames, bichinho virtual, sites, entre outros. Antes, tudo se resolvia com algumas conversas, ou, até mesmo, com o famoso “castigo”. Já, hoje, não. As providências são tomadas de outra forma. Akmi tem apenas 11 anos, é filha única, mora com a mãe e padrasto. “Hoje, existe pouco diálogo devido à tecnologia que nós temos em mãos”, acredita. Ela leva para a escola seu celular com câmara digital. Chega em casa e vai para o computador acessar o Orkut e Messenger. Quando não está fazendo isso, você a encontra no shopping, na praça de alimentação, comendo algo diferente, ou, até mesmo, no cinema. Ir à casa de amigos, para tomar um tereré, também é uma opção bem cogitada. Ela afirma que seus pais não a proíbem de nada. Ao sair, sempre dão dinheiro, quando ela quer. Tudo aos poucos vai se tornando de fácil acesso para os pais comprarem para seus filhos: celular de última geração, câmeras com todos os recursos, laptop, MP3 e mais. Ana Luíza da Silva Ferreira, apenas 8 anos de idade, estuda na escola Visconde de Cairu. Mora com os tios. Não é tão apegada assim à tecnologia. Abrir mão de sair com a tia para tomar um suco e pular na cama elástica? Nem pensar! Ana leva sua vida normal, acorda, assiste a desenhos animados, vai para escola e, quando lhe sobra um tempo dos afazeres escolares, utiliza o computador. Mas, sem dúvida, ela prefere jogar “queimada” com os tios a qualquer tecnologia. Nelci, tia de Ana, a deixa bem consciente dos perigos que a internet pode trazer se não for bem assessorada. Quando Ana está navegando, sua tia senta ao seu lado, para verificar que sites a menina costuma acessar e, também, com quem ela conversa no Messenger. “Se eu falo: vamos sair, Ana? Na hora, se ela está no computador, dá um pulo, se maquia e diz que está pronta”, conta Nelci, dando risada. Ana não se faz uma prisioneira do vício da internet. O mais interessante é que, por opção, Ana é uma criança que prefere o “real ao virtual”. Nas diferenças, barreiras transformam-se em riquezas CAROLINE QUEIROZ GEYSA RODRIGUES 4° SEMESTRE Nas escolas, nas praças e nos bairros, as crianças são as mesmas. Mesmo estando em lugares e classes diferentes. Podemos notar que as crianças de hoje em dia preferem e adquirem as tecnologias, em vez das antigas brincadeiras. Visitando lugares populares, encontramos algumas situações, nas quais pudemos entender o gosto que essa “molecada” tem pelo mundo virtual. Analisando o cotidiano dessas crianças, notamos o consumo e o envolvimento de tudo que a tecnologia fornece. As crianças da classe baixa não deixam a desejar, pois sempre procuram estar atualizadas. Em uma escola pública, conversamos com uma turma de 35 alunos, na qual a idade, em média, é de 8 a 10 anos, e todas possuem celular. A menor parte tem celular com câmera, MP3 e computador. Sendo que, algumas dessas crianças gastam, em média, R$ 10 por semana em créditos, para trocar torpedos e comprar música. Em outra visita pelo bairro, no período da tarde, entramos em um determinado cyber, e lá encontramos um garoto de 11 anos, cuidando do estabelecimento. Os clientes eram apenas crianças, e todos navegavam em sites de entretenimento e jogos. O fato interessante é que a maioria dos pais dessas crianças depende de um salário mensal, ou seja, em média, eles gastam em torno de R$ 30 por mês, em cyber. Conversando com uma mãe a respeito da tecnologia, ela nos disse: “Seria melhor eu pagar para os meus filhos irem ao cyber, do que eles passarem a noite inteira no computador”. De fato, as brincadeiras como pular elástico, queimada, jogar bete e outras ficaram no passado, pois estão sendo trocadas pelo mundo da tecnologia. Essa cultura de brincar sempre ajudou no convívio social das crianças. Mas, para elas, o contato com os amigos já basta nas escolas e no ambiente familiar. CAROLINE QUEIROZ Mundo da tecnologia se torna mais atraente para as crianças, deixando de lado algumas brincadeiras Vivências na infância das crianças de hoje são opostas às de antigamente, devido às novas tecnologias TECNOLOGIA Aprecie com moderação BRUNA NASSER 4º SEMESTRE Para as crianças modernas, falar em tecnologia é algo simples e fácil. No entanto, a situação muda, quando analisada pelo ângulo dos adultos. Pais e psicólogos estão enfrentando decisões cada vez mais delicadas quando o assunto é a modernização. Raimundo Patrício de Sousa, empresário e pai de duas filhas, sabe exatamente como é isso: “Minha filha de oito anos me pediu um celular V3. Mas eu não vejo necessidade, porque ela está sempre com a gente”. Quando o assunto é o computador, Patrício criou uma técnica bastante interessante. “Todo dia, dou cinco reais para ela, até que ela mesma consiga juntar o dinheiro para comprá-lo”. Admite que não confia na Internet e, por esse motivo, não contribui para ela ir a cybers. Já, para Nereide da Silva, o problema é outro. “Minha filha de cinco anos me pediu um MP4. Ela é uma criança, mas não tem pensamentos infantis. Ela quer ir além da idade dela, como a maioria, atualmente”. Confessa que a tecnologia pode ajudar na educação, desde que utilizada sem exageros. Quando a situação complica, uma opinião profissional é indispensável. Lucimara Mateus Potric de Souza, psicopedagoga e psicóloga com formação em Terapia Cognitivo-comportamental, nos mostra o outro lado da BRUNA NASSER Lucimara Mateus aponta a relação entre pais e filhos frente à tecnologia evolução tecnológica. “As crianças estão extremamente agitadas, inquietas. Elas, hoje, não conseguem permanecer numa única atividade”, conta. E acrescenta: “A rapidez na informação faz com que elas fiquem com a síndrome do pensamento acelerado, já que tudo tem movimento”. Por outro lado, concorda que a tecnologia é importante, à medida em que traz algo de útil para as crianças. E, se torna maléfica, quando isso passa a ser a essência delas. O uso de aparelhos eletrônicos dentro da sala de aula, por exemplo, diminui a atenção e a percepção para as atividades escolares. Para a maioria, essa dependência tecnológica é uma questão social. Seja como for, o fato é que tudo em exagero é prejudicial. Resta para os pais e educadores colocar os limites necessários.