Pr. Robson T. Fernandes
A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ
Autor: Pr. Robson T. Fernandes
A disputa e distorção acerca da Doutrina da Justificação pela Fé não é algo
novo. Não é algo iniciado e propagado pelo Movimento da Fé e suas igrejas
neopentecostais. Na verdade, essa doutrina tem sido atacada e distorcida ao
longo dos anos, e esse ataque não é, em essência, uma agressão contra
personagens evangélicos que defendem tal doutrina. Antes, é um ataque direto
contra o coração do próprio Evangelho de Cristo. E é exatamente isso que
Charles Haddon Spurgeon, conhecido como o príncipe dos pregadores, em seu
sermão de número 1239, afirma ao fazer uma defesa da doutrina apresentada
por Moody e por Sankey, com a seguinte afirmação:
Por favor, notem que esta não é uma disputa destes senhores contra
os nossos amigos senhores Moody e Sankey sozinhos! É uma disputa
entre esses opositores e todos nós que pregamos o Evangelho! [1]
Alderi Souza de Matos fez a seguinte declaração, sobre essa doutrina:
Em nossos dias, a verdade bíblica da justificação pela fé é
desconhecida ou mal-compreendida por muitos evangélicos. No
entanto, ela foi a questão central levantada pela Reforma Protestante
do século 16. Assim como o “sola Scriptura” foi denominado o
“princípio formal” da Reforma, porque a Bíblia é a fonte de onde
procedem todas as autênticas doutrinas cristãs, a justificação
mediante a fé é o seu “princípio material”, porque envolve a própria
substância ou essência do que se deve crer para a salvação. [2]
Com isso, podemos afirmar que o correto entendimento e aplicação dessa
doutrina é fundamental para a correta compreensão sobre a salvação. Muito
embora vivamos em um país que se orgulha pelo fato da comunidade
evangélica estar crescendo, ao mesmo tempo, boa parte dessa mesma
comunidade nunca ouviu falar sobre essa doutrina e outro tanto tem um
entendimento distorcido ou inadequado da mesma.
John Piper, sobre essa doutrina, afirmou que “este é o centro do
cristianismo”.
Isso é diferente de todo islam, todo xintoísmo, todo budismo, todo
hinduísmo, todo secularismo, todo animismo, ninguém, nenhuma
religião tem isso: um filho de Deus e algo chamado justificação pela fé
somente. Aqui estamos, então, nesse tribunal, culpados, pecadores,
todos nós, e o juiz dá o veredicto: JUSTO! [3]
A justificação pela fé é uma das principais doutrinas existentes na Sagrada
Escritura, se não for a mais importante. Nessa doutrina encontramos várias
outras interligadas. A sua importância é tal, que importantes homens de Deus
na história se referiram a ela da seguinte maneira:
o tema principal do qual fluem todas as outras doutrinas
Martinho Lutero
o principal ponto de apoio sobre o qual se articula a religião [...]
Interpretamos a justificação simplesmente como a aceitação pela qual
Deus nos recebe em seu favor como homens justos, e dizemos que
ela consiste na remissão dos pecados e na imputação da justiça de
Cristo
João Calvino (Institutas 3.11.1)
a forte rocha e o fundamento da religião cristã
Thomas Cranmer
um ato de Deus pelo qual ele declara os pecadores justos somente
pela graça, somente por meio da fé, somente por causa de Cristo
James Montgomery Boyce
o articulus stantis et cadentis ecclesiae
o artigo pelo qual a igreja se sustenta ou cai
Reformadores Protestantes
A Reforma Protestante ficou conhecida pelos cinco “solas” (Sola Scriptura:
Somente a Escritura; Sola Gratia: Somente a Graça; Sola Fide: Somente a Fé;
Solus Christus: Somente Cristo; Soli Deo Gloria: Somente Glória a Deus).
Desses cinco “solas”, que são considerados os princípios da Reforma
Protestante, três estão diretamente relacionados com a Doutrina da Justificação
pela Fé. Vejamos:
SOLA GRATIA. A Graça é fonte da justificação de Deus.
SOLA FIDE. A Fé é o instrumento, o meio, dessa justificação.
SOLUS CHRISTUS. Jesus Cristo é o fundamento sobre o qual esta
justificação está alicerçada.
Assim sendo, o homem é justificado mediante a Fé, que é derramada pela
Graça de Deus, por meio de Jesus Cristo somente.
Ainda, os outros dois princípios da Reforma estão, indiretamente,
relacionados com esta doutrina. Vejamos:
SOLA SCRIPTURA. Somente a Escritura revela a fonte, o meio, o
fundamento e o objetivo desta Doutrina.
SOLI DEO GLORIA. Somente Deus é glorificado por essa Doutrina.
Talvez pelo fato de considerável parte da igreja estar afastada da Escritura
é que esta doutrina seja atacada, incompreendida e esquecida. E por essa
razão, Deus não tem sido glorificado como deveria na obra da salvação.
Se lembrarmos que a fé é um dom de Deus (Rm 12:3,6) e o conceito de
Graça é de um presente dado sem o merecimento de quem recebe (Ef 2:8,9),
perceberemos que tanto a fé como a graça, essenciais e imprescindíveis à
salvação, são dádivas de Deus e por isso só o Senhor é merecedor de glória
pela salvação humana. Porém, como o homem é orgulhoso por natureza,
sempre busca criar novos meios e fórmulas religiosas para se chegar à
salvação.
O conceito de justificação, apresentado no livro aos Romanos, é diferente
do conceito popular de justificação. Na ideia popular, justificado é alguém que
esteve diante de um tribunal e foi considerado inocente pelo fato de não haver
cometido crime. Então, tal pessoa é inocentada porque é inocente. Todavia, o
conceito de bíblico de justificação traz, em si, a ideia de “ser declarado justo”. E
ser declarado justo é diferente de ser justo. Aqui, encontramos a ideia de uma
declaração, e não de uma mudança interior. A mudança interior é o segundo
passo que o Senhor trata de resolver, e a isto chama-se de santificação
posicional.
Deus, em Sua graça, declara justo o pecador. Então, não é uma mudança do
estado interno, mas uma declaração da parte de Deus.
Em Romanos, podemos utilizar duas passagens para ilustrar o sentido de
justificação. São elas Romanos 4:25 e 5:16,18
Rm 4:25, 5:18 (
- dikaíosin): Justificação, vindicação, absolvição
que traz vida.
A culpa do pecado do homem gerada pela herança de Adão, que lhe
proporcionou uma natureza caída, recai em forma de castigo sobre Jesus (Is
53). A isso chamamos de morte substitutiva (Rm 4:25; Ef 5:2).
Rm 5:16-21 (
- dikaíoma): Justificação, veredito de inocência.
A justificação é declarada por meio da transferência da culpa para Cristo e
pela consumação da justificação realizada pelo próprio Jesus, ao ressuscitar
incorruptível (Rm 3:21-25).
É importante destacar, mais uma vez, que a justificação não ocorre por meio de
boas obras, mas é um dom gratuito de Deus (Efésios 2:8,9). Por isso, afirma-se
que a justiça do salvo é imputada (atribuída a ele) mediante a declaração de
Deus (justificação).
Primeiro o Senhor nos declara justos (justificação) e depois Ele nos torna
justos (santificação).
LEITURA SEMANAL
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Romanos 3:24
Romanos 3:28
Romanos 5:1
Romanos 6:7
Romanos 8:33
________________________
1. Uma defesa da Doutrina da Justificação pela Fé. Disponível em:
<http://www.projetospurgeon.com.br/2012/01/uma-defesa-da-doutrina-da-justificacaopela-fe-moody-sankey/>. Acesso em: 13 nov 2012.
2. Justificação pela fé: o coração do evangelho. Disponível em:
<http://www.mackenzie.br/7136.html>. Acesso em: 13 nov 2012.
3. Justificados Pela Fé Somente. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=DLMwFqu0QaM>. Acesso em: 13 nov 2012.
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O Livro de Romanos - Parte 4