Ruy Castro
Jornalista e escritor
Jornalista, ensaísta, escritor, biógrafo... graças aos seus múltiplos talentos
com a pena, Rui Castro analisa há quarenta anos os pequenos e grandes
feitos da sociedade brasileira. Seu humor, sua acuidade e sua abordagem
histórica do relato fazem as delicias do grande público, que se identifica
com as crônicas do cotidiano, como nas biografias das estrelas do panteão
brasileiro (Garrincha, Nelson Rodrigues ou Carmen Miranda) e com seus
ensaios sobre música popular*. A impertinência e a ausência de papas
na língua são também recebidas como um antídoto feliz do politicamente
correto, ainda que ele próprio se defina mais como um despretensioso
inspirado do que como polemista ou provocador. Encontro no Rio, à procura
do "homo brasiliensis".
*Notadamente "A história e as histórias da bossa nova"
Para ver no vídeo (em francês) :
- Brasileiro / Carioca
- A imprensa e a sociedade
- As músicas populares
Mirian Ferreira da Rocha
Professora
Mirian Ferreira da Rocha é o entusiasmo em pessoa. Francófila de corpo e
alma, seus errinhos de francês são facilmente desculpáveis. É bom dizer
que há de se ter obstinação e vocação para ensinar francês na escola
municipal de ensino fundamental (EMEF) Isabel Vieira Ferreira, em Santo
Amaro, na periferia sul de São Paulo. Pois no estado de São Paulo não se
ensina francês na escola pública. Para tanto é preciso estudar numa
escola particular, ou no Rio, por exemplo. Aqui, são as iniciativas
individuais que contam, como o projeto pedagógico de um professor que
estuda a viabilidade de se reservar horários vagos e conseguir o quórum
mínimo (os alunos devem aceitar 3 horas semanais de francês, como
matéria extracurricular). Validado pela secretaria de educação do Município,
o projeto linguístico poderá ser desenvolvido ao longo do ano, diante de
uma remuneração complementar para o professor. Cerca de trinta alunos
entre dez e quatorze anos (faixa de idade correspondente aos diferentes
níveis do ensino fundamental) terão então o privilegio de sonhar com Paris,
as francesas, a tour Eiffel...
Já Mirian, ela preferirá sempre os prazeres da língua.
Para ver no vídeo (em francês) :
- O francês na escola
- Uma aula em Interlagos
Billy Blanco
Pai da Bossa Nova
Atenção, um mito! Assim como Antonio Carlos Jobim, João Gilberto, ou
Vinicius de Moraes, Billy Blanco é uma lenda da bossa nova. Uma lenda
ainda viva aos oitenta e quatro anos. A idade pode ter modificado um
pouco o timbre da voz, mas não emperrou a criatividade ou diminuiu o
prazer de tocar. Cantor, músico, compositor (tanto de música popular
como de música erudita: compôs "Sinfonia do Rio de Janeiro" em 1956),
Billy Blanco continua em plena atividade. Com o filho Billy Junior, músico
e produtor, ele está aberto às influências e novos encontros (ele
colaborou, entre outros, com Tom Jobim e Baden Powell). Billy Blanco,
que nunca deixou o Brasil, deseja ser convidado para se apresentar na
França, "enquanto ainda estou vivo". Encontro com uma figura fora do
comum, em seu apartamento de Ipanema, no Rio.
Para ver e escutar no vídeo (em francês):
- O canto da liberdade
- Com Jobim
- Sinfonia do Rio de Janeiro
- As influências
Sheila Aquino
Dançarina
"Ainda nem andava, mas nos braços do meu tio eu sacudia as pernocas
quando a gente ouvia música em família. Todo mundo dançava o forró. Mais
tarde, na escola, fui escolhida para dançar, representando o primeiro ciclo.
Aos onze, comecei a sair com minha madrinha. Ela me levou aos clubes
do Rio e foi lá que descobri a dança de salão. Isso rolava entre as quatro e
dez da noite. Às vezes, era nas grandes feijoadas. Eu achava então que a
dança de salão era coisa de velho, mas mudei de ideia quando, num clube
do subúrbio, vi um monte de jovens dançando."
"Eu não frequentava a academia, era autodidata, e aos 15 anos fui
convidada para dar aulas. Conheci o Marcelo Moragas que foi o primeiro a
me ensinar a dançar de um jeito racional, a misturar minhas raízes com a
técnica. Os encontros com os parceiros de qualidade como Álvaro Reis,
Jaime de Oliveira, Carlinhos de Jesus e Marcelo Chocolate me fizeram
progredir. Eu danço com o Marcelo há treze anos."
"Faço o que gosto e é maravilhoso poder encontrar pessoas de todos os
tipos. A dança me levou a viajar para o exterior, Paris, Broadway, às vezes
até no âmbito de shows dedicados a outros estilos, como o tango argentino.
A partir de um certo nível, a dança de salão consegue atravessar a fronteira
dos gêneros, muito além do samba, que, aliás, continua a me fazer
vibrar no dia a dia. Nunca pensei em fazer outra coisa."
"A dança de salão democratizou-se nos últimos anos. Tem até cursos
para crianças a partir dos cinco anos, como o da Raquel Mesquita.
Atualmente, os espetáculos musicais integram a dança coreográfica em
que se vê tanto o samba quanto o swing ou o rock: aquilo atrai os jovens."
"Há diversos tipos de samba, mas o samba de gafieira é o mais
autêntico*. O que você vê aqui, no meu curso, é uma abordagem mais
coreografada integrando acrobacias. Foi o Chocolate que me deu força
nesse sentido, ele adora isso. E requer muito treino e confiança. No samba
de gafieira, o homem sempre guia a mulher. Improvisamos mais sobre
uma base de movimentos que foram repetidos inúmeras vezes. Quando a
gente dança, o objetivo é encontrar um lance criativo fazendo um
encadeamento de improviso."
"A competição estimula, mas a dança tem que ser antes de tudo um prazer. É
preciso evitar cair na rotina quando se dança com a mesma pessoa. Mas
quando se é profissional, a gente tem que tomar cuidado com a relação
amorosa, que acaba pintando quase sempre. Eu acho que é preferível ter
seu parceiro amoroso fora da dança. Fui casada com o Chocolate por
quatro anos e são raros os casais, que como nós, continuam a trabalhar
juntos numa boa".
"Tenho medo do tempo que passa. A dança dá muito prazer, mas é uma
disciplina ingrata. Há jovens que chegam e aprendem rápido. Tenho 36
anos e acho que vou poder fazer acrobacias durante mais uns dez anos.
Mas eu também gostaria de ter um filho e aí eu sei que vai ser difícil
recuperar o corpo e a forma que eu tenho hoje."
*A dança de salão, muito praticada no início do século XX, foi abandonada
nos anos 40 e voltou nos anos 80 )
Para ver no vídeo :
- Sheila et Chocolate
- Clube Renascença e Samba do Trabalhador
Renato Janine Ribeiro
Professor de filosofia política
Professor de ética e filosofia política da Universidade de São Paulo. Um
título que soa como uma vitoria dos intelectuais sobre os políticos: a
sociedade civil muniu-se de meios para analisar e julgar os males da
governança, a corrupção, a imperícia e a tolerância! Contudo, Renato, pessoa
próxima ao presidente que não poupa elogios à ação do governo durante os
dois mandatos, julga ter, em trinta anos, contemplado suficientemente a
evolução do país para se permitir enunciar algumas certezas, sejam elas
boas de escutar ou não. Lula, de esquerda? Só os ingênuos acreditaram...
O Brasil, uma democracia racial? Só os idealistas pensam assim, mas... A
relação Brasil- França? Cultural, acima de tudo... se a França priorizar a busca
da qualidade...
Tudo isso num francês crítico digno da Sorbonne
www.renatojanine.pro.br
Para ver no vídeo (em francês):
- A relação França-Brasil
- São Paulo, cidade complexa
- Brasil, a democracia confirmada
- O diálogo das raças
Jair Oliveira
Músico e cantor
Nascido no meio, filho de Jair Rodrigues, uma das referências da musica
popular brasileira, Jair Oliveira, trinta e cinco anos, contabiliza 30 anos de
carreira. Descoberto num show de televisão e lançado para o sucesso,
precisou de bons dez anos para voltar aos fundamentos da formação
musical, para evoluir. Formado em jazz e composição na Berklee School of
Music, de Boston, ele tem hoje uma paleta de meios que paradoxalmente
o fizeram voltar-se para uma forma depurada da expressão e da
performance cênica. Ele que lançou sucessos atrás de sucessos,
concentra-se atualmente em seu trabalho, aparentemente sem se
preocupar com o reconhecimento imediato e demonstrando maturidade
("Simples" cd de 2006). Paulista de corpo e alma, ele se diz diretamente
influenciado pela energia da cidade, mesmo que a fleuma e a dicção
arrastada, tão particular, o façam lembrar um carioca ou um baiano. Um
belo encontro no estúdio, em clima de simpatia.
Para ver no vídeo (em francês) :
- Entrevista ao longo da música
- Jair Oliveira ao vivo (DVD "Simples")
Miguel Rio Branco
Fotógrafo e artista plástico
Luzes vacilantes na noite, um homem em trapos completamente estendido
no chão, um velho cachorro arisco e pele e osso, uma prostituta sob a luz
de uma lâmpada pálida, o mundo de Miguel Rio Branco é acre e sombrio.
A miséria e o comércio do corpo, a degradação das cidades, os rituais, a
luta pela sobrevivência e a indigência são as temáticas de uma obra
úmida como um vento de monção. Filho de um diplomata brasileiro, Miguel
Rio Branco, que mora atualmente nos arredores do Rio, passou a infância
nos quatro cantos do mundo. Daí, sem dúvida, sua capacidade de captar a
fluidez das cidades e as aspirações dos mais desprovidos. Correspondente
da agência Magnum desde 1978, este fotografo brasileiro observa a
condição humana sem concessão, mas não sem certo lirismo. Artista
completo, ele utiliza o vídeo, o diaporama, a música e a pintura.
Propositadamente caóticos, os projetos são esteticamente inclassificáveis.
A exigência de um artista que explode o quadro da fotografia humanista.
Para ver no vídeo (em francês):
- Fotografar na rua
- Descrição e testemunho
- Para além da fotografia
Santos do Candomblé
Clea e Claudio, mãe e filho de santos
Metrô Colégio, subúrbio do norte do Rio. Longe do centro, quase no final
da linha Pavuna. Gamo, que participa do ofício como percussionista, nos
recebe para uma cerimônia de candomblé, religião afro-brasileira do
sincretismo, herdada dos escravos, que mistura santos católicos às
divindades africanas. Um outro mundo, onde convivem lado a lado o
profano e o sagrado, o material e o espiritual, o desassossego e o
apaziguamento.
A casa modesta, animada uma vez por semana por fiéis, que participam
de sua manutenção, pertence a Cléa Figueiredo, mãe de santo que cumpre
a função de sacerdotisa. Ela é devota de Oxumaré, um dos inúmeros
orixás do culto. Mas é Oxun (equivalente a São Jorge) que protege a
casa. Ela é responsável por seus "filhos".
Claudio é um filho de santo. Ele ainda não é pai de santo, mas sua função
é indispensável. Os orixás encarnam-se nele para transmitir aos fieis
votos de prosperidade ou, às vezes, preveni-los, como quando se trata de
Exu.
Uma liturgia complexa que permite se transcender às dificuldades de um
mundo em crise. Mas numa cidade grande e materialista como o Rio, a
ajuda mútua e a solidariedade serão sempre os melhores remédios para
a alma, é o próprio Oxalá, o deus supremo, que o diz.
Paz e união: é essa a mensagem.
Para ver no vídeo :
- Uma cerimônia
Bob Nadkarni
A alma da favela Tavares Bastos
"Gringo, tu vai morrer".
"É, eu sei, mas eu também sei que vai ser depois de vocês dois"
A profecia de Bob Nadkarni, dirigindo-se a traficantes que vinham ameaçálo, virou realidade alguns meses depois. É bom que se diga que o
personagem é ao mesmo tempo duro e hábil.
Já se passaram trinta anos desde que o inglês se instalou na favela
Tavares Bastos. Quando chegou, depois de viver no "asfalto", o
correspondente da BBC só encontrou um pedacinho de favela. Ele resolve
construir ali um lugar onde poderá voltar a dedicar-se às primeiras paixões,
a pintura e a musica. A favela cresce e vira, no inicio dos anos 90, o
esconderijo de traficantes. Uma verdadeira guerra acontece entre
traficantes e a polícia. A convivência entre o ator social e cultural em que
se tornara (quando podia, dava trabalho para os moradores) e o meio que
contesta sua influência é difícil. Bob tem então a ideia de encorajar na
favela a implantação do BOPE (Batalhão das Operações Especiais da Polícia).
Um método truculento, tão discutível quanto eficaz, que erradica a
violência. Em 1997, Bob abre a pousada "Maze" (labirinto) aos artistas,
músicos, cineastas e a partir de 2004 também aos turistas, que gozam de
uma vista do Pão de Açúcar de tirar o fôlego. Um segundo casamento e dois
filhos depois, um alegre sexagenário pode ainda tocar seu trompete sem
ter medo da noite.
http://www.cariocadesign.com/themaze/
Para escutar (em francês) :
- A pousada "Maze"
- Uma verdadeira guerra
- Um exemplo
Milton Hatoum
Escritor
Amazonense, brasileiro, libanês... mas paulistano, por força
das
circunstancias. Para Milton Hatoum, escritor nascido em Manaus, a
identidade é uma escolha individual que não depende da geografia. Ela
seria até determinada, acima de tudo, pela língua. Milton entrou para a
literatura por admiração a Flaubert. Francófono, nunca se decidiu, por
respeito ou perfeccionismo, a escrever diretamente em francês.
Aglutinador de culturas, fez um paralelo entre uma humanidade das
origens (os primitivos, a Amazônia) e a origem da humanidade (o Oriente
Médio), transcendendo os mitos fundadores através do conto (Relato de
um certo Oriente, 1989 e Dois irmãos, 2000). Pouco falante, ele se dedica
exclusivamente a escrever, sentindo-se como um órfão da floresta, perdido
numa selva de concreto.
Para ver no vídeo (em francês):
- A ilusão das origens
- Escritor na cidade
- Língua e identidade
Sururu na Roda
Músicos populares
Eles são jovens, bonitos e talentosos. Nilze Carvalho (canto, bandolim e
cavaquinho, Camila Costa (canto e violão), Fabiano Salek (canto e
percussões) e Silvio Carvalho (canto, cavaquinho e percussões) são os
quatro mosqueteiros da tradição. O fato de terem recebido uma sólida
formação musical – todos eles tocam, cantam e compõem – permite que
alternem arranjos, ritmos e harmonias para produzir uma musica
surpreendentemente variada, com um efetivo reduzido.
Originário da Lapa, no Rio, o grupo constituiu um repertório inicial de
chorinhos, e progressivamente enriqueceu-o com sambas, xotes (e outros
ritmos do Nordeste) e de marchinhas de Carnaval.
Recentemente, Sururu na Roda compõe suas próprias músicas: uma forma
de evoluir o estilo, enquanto a vida cotidiana é abordada nas letras.
Enérgica e calorosa, a música do Sururu na Roda não podia encontrar
uma complementação melhor do que a dança e a comunhão com o público.
Foi este o caso desta noite de junho, no Centro Cultural Carioca.
Para ver no vídeo (em francês) :
- Ao vivo
Jô Soares
Humorista e apresentador de televisão (em francês)
O homem faz-tudo e que faz tudo bem. Jô Soares está há meio século
nas mídias, principalmente na televisão, a telinha mágica que no Brasil,
mais do que em muitos países, capta a atenção das massas e até vicia.
O "Programa do Jô", famoso talk-show da TV Globo estrelado por ele,
recebe três convidados por noite. Como aguentar esse ritmo quando
também se faz cinema, rádio, textos e até se toca numa orquestra?
Será devido a um biorritmo diferente, dias de 48 horas... ou então a certo
diletantismo que condena à superficialidade? Pouco importa, se o
diletantismo é genial, como é o caso do Jô. Mas sob esta bulimia de
produzir para continuar a existir, é preciso enxergar também um homem
curioso, culto e de muito humor (como confirmam seus romances "O
homem que matou Getulio Vargas", ou "O xangô de Baker Street") e
apaixonado pela vida. De seu luxuoso apartamento de Higienópolis em São
Paulo, como um perfeito cavalheiro, o sedutor poliglota nos recebe para
algumas confidencias...
Para ver no vídeo (em francês) :
- O jogo e a paixão
- Natureza humana e estereótipos
- O rei do talk-show
- A herança das línguas
Lucia Murat
Cineasta
Uma mulher diretora de cinema, eterna resistência. Uma mulher que
batalha numa indústria dominada pelos homens, para vestir o cinema de
realidade, fazer dele o portador de uma mensagem. Uma mulher que luta
para que a experiência da dor sirva para as gerações futuras e para que a
justiça tenha chance.
Da tortura que sofreu sob a ditadura, ela não dirá muita coisa, a não ser
para passar que todo traumatismo precisa de um exorcista. Para ela foi o
cinema. Devem-se a ela filmes engajados como "Quase dois irmãos" de
2004, que conta os percursos divergentes de dois amigos ao longo de
trinta anos, no Brasil contemporâneo, e mais recentemente, "Maré – nossa
história de amor", uma adaptação musical de Romeu e Julieta nas favelas do
Rio. Nos dois filmes, o drama é consubstancial com a pulsão da vida, e no
Brasil é assim, seria a mensagem. E dá pra entender. Lucia Murat é uma
cineasta densa que precisa da verdade para reencontrar o otimismo.
Para ver no vídeo (em francês) :
- O cinema como sobrevivência
- Filmar nas favelas
- Memória, documentário e ficção
- Cinema e clichês
Ciro Pirondi
Arquiteto e professor
Para Ciro Pirondi, arquiteto e diretor da Escola da Cidade, uma associação
que forma estudantes de urbanismo, a arquitetura só tem sentido quando é
totalmente voltada para o projeto social. Diretamente envolvido com a
questão do desenvolvimento tentacular de São Paulo, a "Nova York dos
trópicos", notadamente em direção a uma periferia sempre maior, ele reflete
sobre os modelos de integração do habitat individual nos espaços coletivos
onde as tensões são cada vez mais acirradas, como é o caso das favelas.
Ele trata de formular uma nova definição do território urbano, recolocando
sempre o homem no centro da cidade.
www.escoladacidade.edu.br
Para ver no vídeo (em francês) :
- A violência e a cidade : São Paulo e Rio
- O desenvolvimento de São Paulo
Julio Bandeira
Historiador e escritor
Monóculos, lenço de seda e um francês polido. Julio Bandeira é a
quintessência do carioca culto, como se tivesse saído diretamente de um
século XIX francófilo, em que era tão importante conhecer Montaigne
quanto Machado de Assis. Uma erudição a serviço da história do Brasil, e em
particular à história do encontro entre os índios e os europeus no século XVI*.
Julio Bandeira é a memória dos índios Tupinambá, o companheiro de
Villegagnon, o confidente de D. João VI, além de discípulo de BlaiseCendrars. Especialista em França Antártica**, o homem é também
apaixonado por história da arte*** e da arquitetura. Nessa condição, ele é
sem dúvida uma pessoa chave para evocar o Rio que não existe mais.
* Canibais no Paraíso: A França Antártica e o imaginário europeu
quinhentista
** O Brasil na rota da navegação francesa
*** Debret o Brasil: obra completa (1816-1831)
Para ver no vídeo (em francês) :
- França . Brasil - 1 : as origens
- França . Brasil - 2 : século XIX
- França . Brasil - 3 : século XX
Nancy Alves
Cantora e professora de francês
Cantora ou professora? Professora, sem dúvida alguma, pelo rigor de sua
análise sobre o intercâmbio musical entre a França e o Brasil. Cantora, com
certeza, quando solta a voz que se junta às palavras e à música do pequeno
recital. Nancy Alves apresenta-se regularmente em São Paulo propondo
um repertório de músicas populares brasileiras inspiradas na França. Muito
foi dito sobre a influência do Brasil na música mundial, mas ficava
faltando um pouco do caminho inverso. Há um século a música
brasileira vem assimilando um pouco do espírito e do verbo francês, sem
se afastar das melodias e dos ritmos das origens. Graças a Nancy Alves, o
exotismo mudou de continente.
Para ver e escutar no vídeo (em francês) :
- Músicas populares brasileiras inspiradas na França
- Canção brasileira
- Ao vivo
- Ao vivo
Alvaro Faleiro
Professor de literatura da USP e curador da exposição “A
língua francesa no Brasil“
Álvaro Faleiro ama a língua francesa. Até o ponto de ter traduzido para o
português o intraduzível, os Caligramas de Apollinaire, que aliam a poesia
das palavras e dos sons à inventividade das formas visuais que os
encarnam. Natural de Brasília, professor de literatura francesa da
Universidade de São Paulo, ele foi escolhido como curador da exposição "A
língua francesa no Brasil", no Museu da Língua Portuguesa de São Paulo.
Dirigido pelo eminente Antonio Carlos de Moraes Sartini, o museu é único
no mundo pelo conceito. As manifestações programadas são muito
apreciadas pelo público jovem, uma prova de que conteúdos mais
eruditos podem ser acessíveis ao um público grande, desde que
apresentados com paixão e imaginação.
Para ver no vídeo (em francês) :
- Lingua francesa / lingua portuguesa
- Os Caligramas
- A exposição "A língua francesa no Brasil" (São Paulo)
Betty Milan
Escritora brasileira residente em Paris
Betty Milan, mulher sensível, inteligente, é capaz de escrever sobre o
carnaval do Rio, o futebol, e também sobre Jacques Lacan, de quem foi
tradutora e assistente. Dividindo a vida entre São Paulo e Paris, a escritora
recentemente aceitou o desafio de escrever diretamente em francês***,
uma audácia – sendo Paris a cidade literária por excelência – mas
também o resultado de um longo processo de maturação. Para Betty Milan,
brasileira para sempre, mas cujos passos ressoam desde a Avenida da
Consolação até a rue des Archives, a língua francesa é uma questão de
razão, capaz de transcender as origens pela exigência de clareza e a
ética do bem dizer.
*Brasil: o país da bola
**O Papagaio e o Doutor
*** Paris não acaba nunca
Para ver no vídeo (em francês) :
- A lingua francesa
- Cidades
- Gastronomie et carnaval
Língua francesa na USP
Professor de literatura e estudantes
Paulo Roberto Massaro é um professor realizado. Na Universidade de São
Paulo, cujo campus verde se perde de vista, ele ensina literatura francesa
a um público de estudantes supermotivados. Paula Nogueira, Carolina
Carnier e Priscila Melãe são, entre outras, a ponta de lança de uma língua
francesa adubada pelas instituições, fato raro num país onde a língua de
Molière é residual, apesar de uma história rica em convergências. Os
francófonos brasileiros, alheios à história da colonização francesa, cercados por
nações hispanófonas num continente americano, não têm outro motivo para
interessar-se pelo francês a não ser um amor real que ultrapassa até as
considerações de perspectivas profissionais. Seja como alternativa à
informação globalizada, como encarnação de uma forma de elitismo, como
garantia de abertura de espírito através de uma literatura de valores
universais, o francês desenvolve hoje no Brasil seus trunfos para amanhã.
Para ver no vídeo (em francês) :
- Paulo roberto Massaro
- Literatura : França / Brasil
- Ano da França no Brasil
- Os estudantes
- Um empresário no Rio
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Ruy Castro - TV5 Monde