14 Segunda-feira 19 de janeiro de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre Economia AVIAÇÃO Marina Schmidt [email protected] Nem ampliação de pista no Salgado Filho nem aeroporto 20 de Setembro. O ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Eliseu Padilha, alegou que, no momento, o Estado não movimenta carga suficiente para justificar as duas demandas. Na sexta-feira, após reunião com o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, Padilha assegurou a continuidade das obras previstas para o aeroporto internacional, que, segundo estudos da Infraero comporta o atual volume de operações de carga e passageiros até 2030. “Vamos investir em torno de R$ 600 milhões no terminal de passageiros, no terminal de cargas, no pátio para aeronaves de passageiros e no pátio para aeronaves de carga”, garantiu. As intervenções elencadas são as que já estavam previstas para o aeroporto internacional, sustentou o ministro. “Nunca foi dito que a pista estava licitada. Não mudou o projeto, e no devido momento, se necessário for, a gente amplia a pista.” Padilha trouxe dados da Infraero para justificar a posição defendida. “Operamos apenas com 54% da capacidade”, alegou sobre o movimento no aeroporto. Sobre o volume de carga, destacou que o Estado movimenta, há cinco anos consecutivos, 35 mil toneladas, destas, 7,8 mil toneladas são exportadas, 8,5 mil toneladas são importadas e 18,7 mil são transportadas internamente no País. “A grande verdade é que o Rio Grande do Sul ainda não tem produção com alto valor agregado para que possamos ter um grande avião saindo daqui lotado, porque essas companhias para fazer voos transcontinentais têm que ter o avião lotado.” O ministério da Aviação tem o Salgado Filho como um dos aeroportos a serem concedidos à iniciativa privada. A concessão do aeroporto não inviabilizará as atuais obras, argumentou o ministro. “Pelo contrário, no contrato estará redigido exatamente este compromisso: de que as obras do Salgado Filho têm que ser concluídas como está projetado hoje.” ve o lançamento. Temos obras que são indispensáveis para o Salgado Filho – temos que aumentar o nosso terminal de passageiros embora ele hoje ainda esteja folgado, pois não atingiu a plena capacidade de absorção, mas já vamos construir para nós termos um outro igual a esse em janeiro de 2017. Vamos fazer um pátio de estacionamento em tempo menor e vamos construir um terminal de cargas, até para estimular o aumento das cargas no Salgado Filho, porque nós temos ainda pouca carga no Salgado Filho: 35 mil toneladas por ano é muito pouco e apenas 7,8 mil toneladas são dirigidas ao exterior. Então, nós temos que ter ainda um tratamento bastante intensivo na nossa indústria para agregar valor, porque o transporte aéreo não é tão competitivo em termos de preço. JC – Uma das críticas que surgiram no decorrer da semana passada foi a de que enquanto não se constrói o novo aeroporto o Salgado Filho pode ficar obsoleto. Qual é a previsão de que o Estado tenha um novo aeroporto? Padilha – Eu acho que o Salgado Filho é um aeroporto moderno. Aliás, moderníssimo. O novo terminal obedecerá esse padrão. Será um aeroporto moderno pelo menos até 2030, essa é a projeção. A necessidade ou não da construção de um outro aeroporto está muito vinculada a nós termos cargas, porque ele traria como argumento as chamadas cargas transcontinentais. Hoje, Jornal do Comércio – Essa decisão sobre a não ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho já foi discutida com as entidades empresariais gaúchas? Eliseu Padilha – Eu sou ministro há 14 dias, sob o ponto de vista formal, e, de fato, a partir do dia 16. Por óbvio, estas obras todas estão amparadas em estudos, debates, reuniões, oitivas de empresários, oitivas da sociedade civil, oitiva das autoridades ambientais e audiências públicas que vêm acontecendo nos últimos três anos. Portanto, todos os segmentos da sociedade foram ouvidos. Eu tomei a liberdade ainda de levar o assunto ao governador e ao prefeito de Porto Alegre para que nós tenhamos os três níveis de autoridade sintonizados – federal, estadual e municipal. JC – Há um consenso, então? Padilha – Nós estamos no mesmo consenso desde que hou- MARCELO G. RIBEIRO/JC Salgado Filho não precisa de novas pistas, afirma Padilha Terminal opera com apenas 54% da sua capacidade, diz Eliseu Padilha nós carregamos um pouco de um avião cargueiro em Porto Alegre e vamos completar em São Paulo para de lá ele ir para o exterior. O sonho é que tendo uma pista bastante larga os grandes cargueiros façam, se for o caso, parte da carga em São Paulo, no Rio de Janeiro ou em Minas Gerais e completasse aqui no Rio Grande do Sul para sair para a viagem transcontinental, pensando na Ásia, por exemplo. Então, há uma pretensão do Estado. Agora, é claro que ela tem que se sustentar em fatos e o fato, neste caso, é nós termos carga ou passageiros que se justifiquem. JC – Então, assim como a pista, não há perspectiva algu- ma para um novo aeroporto por enquanto? Padilha – Por enquanto nós estamos estudando a conveniência de termos um segundo aeroporto. Vamos ter que aprofundar mais a busca de elementos e projeções de cargas, porque as cargas que constatamos em operação hoje – a Infraero tem registro diário das cargas – são pequenas para termos a pretensão de uma grande pista de cargas. Por exemplo, colocarmos aqui uma pista de 4 quilômetros que poderá operar a partir daqui com aviões já integralmente carregados. Isso hoje não existe. Esses grandes aviões têm capacidade para carga que nós ainda não produzimos. MARCELO G. RIBEIRO/JC Fortunati está satisfeito com as justificativas Prefeito e ministro divergiram quanto às intervenções no aeroporto Previsão de entrega das obras do Salgado Filho Ampliação dos pátios – 10 de março de 2015 Terminal de passageiros – 18 de janeiro de 2017 Novo terminal de cargas – janeiro de 2017 (obras começam em 15 de março de 2015 e devem durar 22 meses) FONTE: MINISTRO DA SECRETARIA DE AVIAÇÃO CIVIL (SAC), ELISEU PADILHA O encontro entre o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, e o ministro da Aviação, Eliseu Padilha, na sexta-feira, encerrou uma semana de divergências entre os dois quanto às intervenções no Salgado Filho. “As primeiras notícias que nós recebemos eram as de que as obras do Aeroporto Salgado Filho seriam paralisadas. O que o ministro diz é que não. Todas as obras previstas e pactuadas sobre o aeroporto continuarão acontecendo”, esclareceu o prefeito. “Estou feliz, porque tenho a garantia de que o aeroporto Salgado Filho não está sendo esquecido. Ao contrário, continuará sendo modernizado e ampliado nas suas instalações.” Sobre a ampliação da pista do aeroporto, refutada neste momento pelo ministro Padilha, Fortunati afirmou que “os números falam por si só”, e que não há necessidade de que o Salgado Filho receba aviões maiores, por operar com 54% da capacidade e por não movimentar carga suficiente para justificar uma intervenção. O prefeito assegurou que assim que a necessidade de ampliação for comprovada tecnicamente irá pleitear o obra. “Não podemos aguardar 2030 para que a pista seja ampliada. Se há esgotamento em 2030, a partir dos próximos anos assim que as novas instalações do aeroporto estejam concluídas, nós deveremos iniciar a luta para que a pista seja ampliada.” No entanto, Fortunati frisou que a área para expansão está disponível para obras. “Nós liberamos tanto a Vila Dique como uma parte da Vila Nazaré e toda a área está cercada para que a ampliação da pista, se necessária, pudesse começar no dia de hoje. O que existe são moradias outras que caso a pista seja ampliada poderão afetar a operação”, declarou. O prefeito argumentou que a construção de moradias para remoção da Vila Dique está em fase final, e já foi iniciada a construção de loteamentos para a Vila Nazaré. “Então, não existe nenhum problema. Se a Infraero quiser ampliar a pista agora, concluindo em um ano, nós teremos toda a área do aeroporto completamente livre.”