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O ESTADO DE S. PAULO
DOMINGO, 7 DE SETEMBRO DE 2014
Caderno 2 C13
Dança
Projeto promove diálogo com espaços
A criadora e pesquisadora Vera Sala investe, mais uma vez, na relação corpo-ambiente em novo espetáculo
DIVULGAÇÃO
Helena Katz
ESTUDO
PARA LUGAR
NENHUM
Praça Victor
Civita. Rua
Sumidouro,
580, Pinheiros,
telefone
3031-3689.
Das 13 h
às 18 h.
Entrada grátis.
Último dia.
ESPECIAL PARA O ESTADO
Sombras pálidas que circulam
por ali até não caber mais na sala nos contam que aquilo que
passa é aquilo que dura, como
se aquele lugar soubesse de cor
todos os que andaram por ali. É
essa poesia visual, assinada por
Marcus Bastos, que nos recebe
no Estudo para Lugar Nenhum,
que Vera Sala apresenta hoje
emumdos novosendereçospara as artes da cidade, o prédio
que o incinerador municipal
ocupou em São Paulo, na Rua
Sumidouro, 560, em Pinheiros.
Esta nova produção faz parte
do Projeto Dessincronias. Vera
Sala começou seu percurso artístico em 1987, mas foi em
2002 que fez da relação corpoambiente o seu assunto principal. Desde então, pratica aquilo que Mário Quintana disse
tão bem: “Quando abro cada
manhã a janela do meu quarto/É como se abrisse o mesmo
livro/Numa página nova...”.
Porque é justamente isso que
vem fazendo desde Impermanências (2006), e continuou
em Pequenas Mortes (2007),
Procedimento Dois – Pequenas
Mortes (2008), Pequenos Fragmentos de Mortes Invisíveis
(2009/2010) e Dobras (2011).
Foi chegando a um movimento-coisa, uma matériaprima que rumina o interesse
naquilo que se perde a cada
repetição. O corpo, engolfado
pelo movimento, não consegue escapar da sua manifestação como uma onda que vem
de uma zona escura e de muita
secura e parece estar perguntando: tem que ter por quê?
Obra
aberta.
Reflexão
é parte do
processo
Agora, em Estudo para Lugar Nenhum, o que antecedeu
fica se dizendo nos seus restos. Hideki Matsuda, o arquiteto que compõe as espacialidades capazes de dar vida aos
propósitos de Vera, recupera
pedaços de suas colaborações
anteriores, materializando o
dominó de ecos do desaparecer/aparecer que os tem guia-
do. Hideki sabe como nos fazer entender que o sentir é
muito lento e não se derrama.
Os três – Vera, Hideki e Marcus–esquadrinham comoespaço e tempo podem se justapor
sem papel principal, mas como
terra nua, na qual fazem caber
os ruídos que as paredes absorveramao longo dotempo. Hidekidemonstra que a luztrabalha-
da na superfície dos vidros dá
forma a deslocamentos. Quem
está sentado assistindo, se vê
assistindo ao espetáculo. A luz
transforma tudo em fato, passa
por cima dos hábitos do existir.
E a plateia sai de onde está sem
sair do lugar. Fica replicada lá,
na sua própria frente, atuando
junto de Vera, que sonambula
por aqui e por ali, eletrocutada
pelo movimento que sai em jorros. O movimento dura enquanto durar o corpo: um fica
se mantendo no outro.
Estudo para Lugar Nenhum
convidou Wagner Schwartz,
KeySawaoeSheila Ribeiroatrazer seu olhar e suas perguntas
para o processo de criação; Valeska Figueiredo produziu textos e ocorreram palestras de vi-
deoartistas e de Christine Greiner. O processo começou em 10
de julho, durou quase 2 meses e
nele Vera Sala distendeu o seu
fazernosentidodaeducaçãopela pedra de João Cabral porque,
nessesanos todos, a suapesquisa vem entranhando. Chegou
agora a um ponto de maturidade e adensamento que começa
no aquém e segue para o além.
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