Segue em Silêncio - Capítulo 23
O Espírito e a Mente
Sabemos que temos corpo e mente. Algumas pessoas vão além, falam em consciência.
Mas, julgam-na como algo à parte, como privilégio de alguns, na grande massa. Ouvimos
dizer, com freqüência, “ele não tem consciência”, atribuindo a esta uma qualidade ao alcance,
apenas, daqueles de boa índole: os que a têm com ela nascem, de berço.
Isso não é correto.
A razão, ou seja, a consciência, é nata, inerente à criatura, pois é o espírito (o ser, a
própria criatura em sua essência). Precisa somente ser despertada, ao passo que a mente
precisa ser trabalhada, preparada por meio da instrução, pelo conhecimento de outros e de
sua experiência.
A mente, pelo pensamento, é, em geral, a máquina divergente, em cada um. Varia de
acordo com o conhecimento, através do intelecto, do estudo, por meio da inteligência, tudo o
que torna culto. Cultura não é o mesmo que saber. A sabedoria é intuitiva à nossa consciência;
sem esforço mental, “capta-se”. Não faz parte do ensinar ou do aprender, de práticas ou de
ações. Isso concerne à mente, que precisa de preparo e de instrução. A mente é capacidade. O
espírito é uma faculdade.
O espírito (nós) recebe, capta do Espírito Eterno.
O Eterno cria o espírito. E a mente é produzida no cérebro.
A mente “confunde” sua capacidade (força) com o Poder, que é o Eterno, o Criador.
Por querer igualar-se ao Eterno, a mente se torna adversária do Eterno, sendo, por esse
motivo, diabo, “satan”, expressão que quer dizer “contrário, adversário, opositor”.
A inteligência quer ser sábia (e o saber é só do Eterno). Por isso, ela é também
chamada de serpente, e foi lançada fora do Éden.
Realmente, temos corpo (matéria), mente (inteligência, intelecto), e somos espírito.
Nesta composição de matéria e mente, formamos a nossa personalidade; e como
espírito, somos individualidade.
Quando se fala que “uma pessoa deve ser ela mesma, certa ou errada, porém, ela
mesma”, está-se falando, não de individualidade, e sim de personalidade. Demonstrar a sua
própria personalidade é não se deixar influenciar por outras personalidades, no pensar, falar,
agir ou vestir.
A individualidade vem, por sua vez, de in-diviso, ou Indivisível – Uno, Eterno. A
individualidade em nós é criada – espírito – pelo Espírito Eterno.
Devemos vivenciar a faculdade de despertar o espírito. Já o intelecto depende de
nossa capacidade de nos instruirmos. Na mente, formamos o pensamento e o inteligimos. No
espírito, recebemos a intuição. A mente é dirigida, a intuição é captada.
Quando uma pessoa é inteligente, cognominamo-la de sábia, o que não é certo. O
inteligente, o cientista, o douto, não são sábios, são, apenas, instruídos, cultos. Na instrução,
explora-se a capacidade de inteligir, isto é, de entender, de aprender, de assimilar, pelo
conhecimento, mentalmente, por meio do intelecto, utilizando a inteligência, através do
estudo.
Na faixa da inteligência, do estudo, o conhecer é relativo, finito, limitado, deixa
sempre algo por descobrir. Quanto mais nos instruímos, mais temos a aprender. O sábio, não.
Ele intui, capta, sem esforço, sem estudo – no espírito – o que flui do Espírito Eterno, Fonte
Criadora Universal. Sem ler, sem aprender, o espírito capta aquilo que desconhece, na
proporção em que ele se liga à Fonte Eterna.
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A inteligência é clara. A razão, porém, é lógica, vem de logos-razão-luz. “(...) vós sois
a luz do mundo (...)”, disse Iaurrushua ben David Vivo, nos ensinando que somos espíritos, à
semelhança do Espírito Eterno.
A mente é negativa; no cérebro, ela se (pre)ocupa com o que não pode superar. O
cérebro, cheio, bloqueado, não dá acesso à tranquilidade (faculdade do espírito).
A mente é insatisfeita, negativa, aflita, e não dá lugar à calma (faculdade do espírito).
Necessita sempre de algo. Por ser vazia, são trevas, e o espírito é luz.
A mente entende, o espírito compreende, percebe; enquanto uma intelige, o outro
intui, raciocina, discerne. E o que se intelige, nem sempre é com justiça, ao passo que o que
se intui não erra, porque vem do Eterno. Aquela é facciosa, e este, criterioso. Uma é finita, e o
outro, eterno (nós).
A mente conjectura a respeito de algo ou alguém, e tira as suas próprias conclusões,
que podem ser falhas; julga, e assim, ela ofende e calunia.
O espírito difere o certo do errado e define-se pelo correto, pela justiça.
O espírito não depende da inteligência, nem de cultura; “ouvimo-lo” no silêncio, para
intuirmos. Origina-se da Fonte Eterna. É verdade, real, ilimitado, infalível, sábio.
O homo sapiens é o homem-razão; é bom, suas palavras e pensamentos formam uma
atitude, atitude essa regida pelo espírito que ele é, vinda da Fonte para ele mesmo, como um
canal desobstruído, por onde a Fonte jorra alimento para o espírito.
No espírito, somos todos iguais, e, na mente, desiguais: Iguais, porque, em nosso
íntimo, somos criados espírito, ser, vindos do Criador, o Espírito (Pai) Eterno; e desiguais,
pela mente, em decorrência da nossa condição mental, e em conformidade com cada núcleo
social a que pertencemos, condizentemente com diversas categorias, que são desdobramento
da mente – dinheiro, profissão, projeção, enfim, a capacidade de esforço adquirida por cada
um. De acordo com a evolução ou involução dessas categorias, podemos subir ou descer, no
conceito social. Assim, pela mente, apresentamo-nos como povo, população, habitantes; mas,
no espírito, somos filhos do Eterno.
Não importa qual seja a nossa condição social, ou a nossa profissão. Estas são
provenientes do meio, ou seja, se brancos ou pretos, produtos genéticos.
A diversidade de profissão é necessária para a nossa utilidade e manutenção: o padeiro
precisa do açougueiro, este do farmacêutico, e assim sucessivamente. E, todos, de um
dirigente, que, com sua equipe, equilibra e coordena o contexto social. O importante é que
cada qual, no seu mister, desempenhe bem sua função, sua participação no grande todo, e seja
respeitado, considerado, pois, do maior ao menor, todos têm a sua importância para a nossa
sobrevivência, distribuídos em responsabilidades diversas para o equilíbrio material,
proporcionalmente às variadas funções, dentro de um organismo coletivo.
É impossível querermos igualar o trabalho intelectual ao físico. Isto não significa que
devamos desprezar ou desamparar este último, que tem indispensável parcela material no
desenvolvimento da Humanidade. E é absurdo compararmos estes dois ao valor real
individual, que é o espírito, seja o que for que se faça profissionalmente. Cada qual no seu
lugar: ordem indispensável para o bem-estar de todos.
No eu (espírito), todos somos iguais, porque oriundos de uma só Fonte de Vida; somos
espíritos, vida.
A chave para a compreensão é o amor, e para a paz, o espírito em cada um. Fazer paz
é trégua, enquanto as mentes o quiserem. Ser paz é duradouro, verdadeiro, definitivo,
permanente, o que todos os espíritos são, por serem oriundos do mesmo Espírito Eterno. É a
paz por que todos aspiram, mas só haverá se cada um viver no espírito. O mundo revela
como estamos ou quem somos; se de fora, ou de dentro, do interior, de nosso íntimo.
A inteligência limitada arquitetou, na mente humana, mil formas de representar o
Eterno, e neste símbolo ínfimo, o imagina, no “espiritual”, distante de nós, com formas
diversas: Ele lá, ao longe, e nós aqui, sujeitos à própria sorte, o que nos impulsiona à procura
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disto ou daquilo, algo para nos apegarmos e chamarmos de “deus”. Há uma imensidade de
ídolos, de coisas a pessoas. Isto é incoerência em relação ao amor e à perfeição do Eterno, o
que prova a limitada capacidade mental, que quer representar o Eterno. O espírito (nós) dita,
pela intuição, a vivência no Eterno. Nessa vivência, o espírito saboreia (saber) a verdadeira
união com o Eterno. Nela, ele convive em sintonia com a Fonte, em suas virtudes, desfrutando
a Paz.
A Terra é criada pelo Eterno. Somos, portanto, com o Eterno, no Seu mundo. Assim
como desejamos tudo de bom para os nossos filhos, como concebermos o Pai? Só poderá
envolver-nos nessa faixa de benignidade que Ele é. Se acontece o contrário, nós é que saímos
dessa faixa.
Nascemos, existimos e deixamos de existir para submeter nossa mente ao espírito que
somos: mente submissa ao espírito. Dominemos nossa mente e inteligência (o “satan”, em
nós), submetendo-as ao espírito que somos, oriundo do Eterno. Esta é a tão propalada “cruz”,
pois a mente, sobremodo independente, é rebelde, e interfere com muitos obstáculos.
A mente é a serpente, o lúcifer. Por meio da inteligência, escolhe trevas. Pela mente,
tornamo-nos escravos, e no espírito, somos livres.
“Sabereis a verdade e a verdade vos libertará (...)”. A Verdade é o Espírito Eterno – o
Espírito Santo. Fora dele, não há outro, e por Ele nos libertamos.
Não busquemos o Caminho fora, e sim dentro de nós. “O Reino do Eterno é dentro de
vós (...)”. Por meio do espírito que somos, vivemos no Reino do Eterno.
A mente (alma) é distinta do espírito. A mente (alma), altamente desenvolvida e
independente do espírito, sataniza-se, torna-se adversária, contrária, separa-se do Criador. Não
passa de trevas.
Concluindo: Nascemos, existimos e deixamos de existir, para vivermos – dominarmos
a mente, subemtê-la ao espírito que somos (a vida, nós).
Mente a serviço do espírito é luta para a mente, que não quer submeter-se à vontade do
espírito. Esta é a “Porta Estreita”! Essa luta é a tentação do deserto travando-se dentro de cada
um, que terá de vencer e definir-se, submetendo sua mente à Voz do Espírito Eterno.
Não permita que a mente, pelo conhecimento, a seu modo diversificado, o dirija fora
da Filiação Paterna!
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Consciência e Mente