Avaliação da pressão arterial sistólica não invasiva e do grau
de proteinúria em gatos domésticos diabéticos*
Mariana Pereira de Moura1+, Katia B. Corgozinho1, Jacqueline Vallim J. Cavalcanti1,
Heloisa Justen M. de Souza2, Maria Cristina N. Castro3 e Ana Maria Reis Ferreira4
ABSTRACT. Moura M.P., Corgozinho K.B., Cavalcanti J.V.J., Souza H.J.M.,
Castro M.C.N. & Ferreira A.M.R. [Systolic blood pressure measurement and
prevalence of proteinuria in diabetic cats.] Avaliação da pressão arterial sistólica não invasiva e do grau de proteinúria em gatos domésticos diabéticos. Revista
Brasileira de Medicina Veterinária 37(4):334-338, 2015. Setor de Clínica e Patologia
Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense, Rua
Vital Brasil, 64, Niterói, RJ 24230-340, Brazil. E-mail: [email protected]
Diabetes mellitus is the second most common endocrinopathy in cats. Hypertension is a common finding in human diabetic patients, but it has not been
properly studied in diabetic animals. It is known that early diagnosis of hypertension in human diabetic patients can provide longer survival time, better disease control and decrease in nephropathy frequency. The objective of this study
was to evaluate systolic blood pressure and proteinuria in diabetic cats, independently of disease control state or treatment. Seventeen diabetic cats without
concurrent disease were studied, regardless of age, breed, sex. Diagnostic tests
included determination of complete blood count, biochemistry profile, serum
total thyroxine and serum fructosamine. Urine samples were collected by cystocentesis from all the cats in the study. The same urine sample was used for the
urinalysis, urine culture and urine protein-creatinine (UPC) ratio. Systolic blood
pressure (SBP) was measured indirectly using Ultrasonic Doppler. The final SBP
values used in this study were the mean of five successive measurements over a
five to ten minutes period. The overweight and obesity were the most frequent
scores in these cats. Proteinuria defined by a UPC > 0.4 was present in five diabetic cats (35.7%). The fructosamine had significant and positive correlation (r =
0.53, p = 0.02) with systolic blood pressure, indicating that higher systolic blood
pressures occur when there is a poor glycemic control. Diabetic patients had
mild (58,4%) to moderate (23,5%) risk of target organ damage development.
Based on these results, it is recommended that systolic blood pressure must be
early assessed in feline diabetic patients, in order to prevent target organ damage such as eyes, heart, brain and kidneys due to proteinuria and hypertension.
KEY WORDS. Diabetes mellitus, feline, blood pressure, proteinuria, hypertension.
RESUMO. A diabetes melito é a segunda endocrinopatia mais comumente diagnosticada em felinos.
A hipertensão é um achado frequente no paciente
humano diabético e pouco estudado na medicina veterinária. Sabe-se que na medicina humana,
quando diagnosticada, o seu tratamento possibi-
* Recebido em 23 de junho de 2013.
Aceito para publicação em 16 de junho de 2015.
1
Clínica e Reprodução Veterinária, Universidade Federal Fluminense (UFF), Rua Vital Brasil Filho, 64, Niterói, RJ 24230-340, Brasil. E-mail:
[email protected]; [email protected]; +Autora para correspondência, E-mail: [email protected]
2
Departamento de Medicina e Cirurgia Veterinária, Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, BR 465, Km 7, Seropédica, RJ 23890-000, Brasil. E-mail: [email protected]
3
Clínica de Pequenos Animais, Departamento de Pós-Graduação em Clínica e Reprodução Animal, Universidade Federal Fluminense, Rua
Vital Brasil Filho, 64, Niterói, RJ 24230-340. E-mail: [email protected]
4
Departamento de Pós-Graduação em Clínica e Reprodução Animal, Universidade Federal Fluminense, Rua Vital Brasil Filho, 64, Niterói, RJ
24230-340. E-mail: [email protected]
334
Rev. Bras. Med. Vet., 37(4):334-338, out/dez 2015
Avaliação da pressão arterial sistólica não invasiva e do grau de proteinúria em gatos domésticos diabéticos
lita ao paciente maior sobrevida, melhor controle
da doença e diminuição na frequência de nefropatias. O objetivo deste estudo foi avaliar a pressão
arterial sistólica (PAS) e o grau de proteinúria em
felinos diabéticos independente do estado de controle da doença e tempo ou tipo de tratamento.
Foram avaliados 17 gatos diabéticos sem doença
concomitante. A seleção dos animais foi realizada
através do diagnóstico prévio de diabetes melito
independente do estágio de tratamento e da idade,
raça ou sexo. Avaliação laboratorial completa foi
realizada, incluindo hemograma, ureia, creatinina,
alanino aminotransferase, fosfatase alcalina, glicemia, frutosamina, potássio e fósforo, como também a avaliação sérica de tiroxina total. Urina foi
coletada por cistocentese para urinálise, cultura e
antibiograma e relação proteína e creatinina (RPC).
A pressão arterial foi mensurada por método indireto e determinada pela média de cinco avaliações
consecutivas com intervalo de cinco a dez minutos.
Os escores de sobrepeso e obesidade foram os escores mais observados em pacientes felinos diabéticos e a proteinúria, considerada quando os valores
de RPC foram maiores que 0,4, foi encontrada em
cinco pacientes. A frutosamina teve correlação positiva e significante (r=0,53, p=0,02) com a PAS, indicando que quanto maior o descontrole glicêmico,
maior a PAS. Os pacientes diabéticos apresentaram
risco leve (58,4%) a moderado (23,5%) de desenvolvimento de lesões em órgãos alvo. Com base nesses
resultados, é recomendada a avaliação da pressão
arterial sistólica em felinos diabéticos para que o
diagnóstico precoce das alterações relacionadas à
proteinúria e hipertensão sejam identificadas antes
do acometimento de órgãos como olhos, coração,
cérebro e rins.
PALAVRAS-CHAVE. Diabetes melito, felinos, pressão
arterial, proteinúria, hipertensão.
INTRODUÇÃO
A diabetes melito (DM) é a segunda doença endócrina mais comumente observada na clínica de
pequenos animais (Norsworthy 2004) e é uma doença metabólica crônica que se manifesta em resposta a falta relativa ou absoluta de insulina, seja
em deficiência de secreção e/ou ação da insulina,
levando a hiperglicemia persistente (Feldman &
Nelson 2004, Jacqueline 2010).
Pelo fato de todas as células necessitarem da
queima de energia, a diabetes melito pode resultar
em alterações na maioria dos sistemas corpóreos,
algumas das quais podem ser fatais se não tratadas
(Feldman & Nelson 2004). A hipertensão arterial é
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uma manifestação comum no diabético humano e
parece ser uma complicação comum em cães diabéticos (Senello et al. 2003). Diabéticos humanos,
principalmente os indivíduos obesos, apresentam
frequentemente hipertensão e nefropatias, sendo a
obesidade um fator de risco, assim como alterações
cardíacas, doenças microvasculares e resistência à
insulina (Faria et al. 2002, Pacheco et al. 2002).
O objetivo deste estudo foi avaliar a pressão arterial sistólica não invasiva e a proteinúria em gatos diabéticos naturalmente adquiridos, sem outra
doença concomitante, possibilitando a observação
das alterações nos sistemas corpóreos.
MATERIAL E MÉTODOS
Fizeram parte deste estudo, 17 gatos, domiciliados,
sem predileção por sexo, raça ou idade, com diagnóstico confirmado de diabetes melito compensada, independente do tempo de diagnóstico e tipo de tratamento,
não sendo portador de qualquer doença concomitante,
no período de agosto de 2009 a dezembro de 2010. Este
projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética
no Uso de Animais (CEUA-UFF), Registro Nº 0085/09.
Todos os animais foram submetidos a uma avaliação
clínica completa e detalhada, registrando o peso corporal e o escore da condição corporal (ECC) utilizando
uma escala previamente descrita de 1 a 5 pontos (Edney
& Smith 1986). Pacientes caquéticos foram categorizados em escore de condição corporal 1, pacientes magros
em escore corporal 2, pacientes com peso ideal em escore corporal 3, pacientes que apresentaram sobrepeso em
escore corporal 4 e pacientes obesos foram classificados
com escore corporal 5.
A avaliação laboratorial incluiu hemograma completo, ureia, dosagem sérica de creatinina, alanino aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina, eletrólitos (potássio
e fósforo), frutosamina e tiroxina total.
As amostras de urina foram coletadas através de cistocentese e foram submetidas à avaliação para urinálise,
relação proteína e creatinina urinária (RPC) e cultura e
antibiograma. A urina dos animais que apresentaram
hematúria, piúria ou infecção urinária não foi submetida ao teste de quantificação de proteína urinária. A RPC
foi interpretada considerando-se o estadiamento proposto pela International Renal Interest Society (www.
iris-kidney.com) que estabelece o valor de RPC<0,2
como ausência de proteinúria, valor de RPC entre 0,2
e 0,4 é considerado limítrofe, e valor de RPC>0,4 indica
proteinúria.
A pressão arterial sistólica (PAS) foi mensurada pelo
método não invasivo, com o auxílio de um Doppler ultrassônico vascular da marca Microem® modelo DV 10,
um esfigmomanômetro Heine® modelo Gamma G5, gel
para condução do som e um manguito neonatal de uma
via, descartável, CE®. A largura do manguito utilizado
para cada animal correspondeu a 30 a 40% da circunferência do membro anterior, medido entre a região do
cotovelo e do carpo. As mensurações da PAS foram rea335
Mariana Pereira de Moura et al.
lizadas em domicílio sendo realizadas duas visitas com
intervalo de no máximo trinta dias entre elas. Foi utilizada a região palmar do MAE obtendo-se cinco medições
na mesma visita. As médias das aferições de cada visita
foram anotadas (PAm1 e PAm2).
Foi adotado o parâmetro de risco em órgão alvo utilizando a pressão arterial descrito por Brown et al. (2007).
Animais com valor de pressão menor que 150mmHg
tem risco mínimo de desenvolver lesão em órgão alvo
(olhos, rins, cérebro e coração), animais com valor de
pressão entre 150-159mmHg apresentam risco leve, animais com valor de pressão entre 160-179mmHg apresentam risco moderado e animais com valor de pressão
superior a 180mmHg apresentam risco grave.
O teste de Mann-Whitney foi utilizado para verificar
a existência de diferença significativa. O nível de significância considerado para todas as análises foi de 5%.
RESULTADOS
A média da idade dos gatos estudados foi de
10,88 ± 2,64 anos. O peso variou de quatro a oito
quilogramas e apresentou média de peso de 5,88 ±
1,36 Kg. Os gatos sem raça definida representaram
70,6% da população estudada. As demais raças observadas foram Siamês (3/17) e Persa (2/17). Dentre
os onze machos (64,7%) e seis fêmeas (35,3%) apenas
um macho não era castrado. Sete felinos (41,17%)
estavam há menos de três meses sob tratamento,
oito (47,05%) estavam sob tratamento há mais de
três meses e menos de um ano e dois (11,76%) estavam sob tratamento há mais de um ano.
As alterações clínicas encontradas incluíram
andar plantígrado (11,8%) e desidratação. Com relação à desidratação, cinco gatos (29,4%) apresentavam 6% de desidratação e quatro (23,5%) apresentavam 8% de desidratação.
Em relação ao escore de peso corporal (ECC) um
gato (5,9%) apresentou escore 2 (magro), um gato
(5,9%) escore 3 (bom), seis gatos (35,3%) eram obesos (escore 5) e nove gatos (52,9%) estavam sobrepeso (escore 4).
A avaliação hematológica não demonstrou anemia nos animais. O volume globular médio foi
37,24 ±5,1% e a proteína plasmática total estava aumentada em 10 animais (58,8%). A glicemia no momento da coleta do sangue variou entre 211 a 580
mg/dL com a média de 348,88 ± 92,92 mg/dL. A
concentração sérica de frutosamina variou entre 2,0
a 5,9 mmol/L (referência 2,19 a 3,47 mmol/L) com
seu valor médio de 3,57 ± 0,71mmol/L. Apesar da
média da frutosamina estar acima dos valores de
normalidade, não houve correlação estatística com
o tempo de tratamento.
Com relação aos valores da creatinina sérica, o
valor médio foi de 1,26 mg/dL ± 0,30 mg/dL e a
336
ureia teve seu valor médio de 58,18 ± 13,46 mg/
dL. A ALT foi avaliada em 14 gatos e apresentou
valor médio de 97,81± 67,97 UI/L. Três dos animais
apresentaram lipemia intensa inviabilizando esta
dosagem. A fosfatase alcalina apresentou o valor
médio de 46,25 UI/L ± 20,41 mg/dL. Na análise
dos eletrólitos, o potássio apresentou média de 4,37
mEq/L ± 0,41 e o fósforo 5,02 mg/dL ± 1,2.
Os níveis séricos de tiroxina total foram 15,38
ng/dL ± 5,87, sendo que oito desses animais
(47,1%) apresentaram os níveis abaixo dos valores
de normalidade e nove animais (52,9%) apresentaram os níveis dentro da normalidade.
Nos 17 pacientes, 14 pacientes não apresentaram
indícios de inflamação ou infecção do trato urinário. A média das mensurações da RPC nesses gatos
foi de 0,34 ± 0,20. Quatro (28,6%) felinos apresentaram RPC inferior a 0,2, cinco (35,7%) apresentaram
RPC entre 0,2 e 0,4 e cinco (35,7%) felinos apresentaram RPC maior que 0,4.
A média da pressão arterial sistólica foi de 154,45
mmHg ± 8,75 mmHg, sendo a menor pressão aferida de 130mmHg e a máxima de 182mmHg. Houve
correlação positiva significante com a concentração
sérica de frutosamina (p= 0,02).
Avaliando o risco de lesão em órgãos alvos em
decorrência da pressão arterial sistólica, dois gatos
(11,8%) apresentaram PAS abaixo de 150mmHg
indicando risco mínimo de desenvolver lesões em
órgãos alvo, dez gatos (58,5%) apresentaram pressão entre 150-159mmHg indicando risco leve, quatro gatos (23,5%) apresentaram pressão entre 160179mmHg indicando risco moderado e um gato
(5,9%) apresentou pressão acima de 180mmHg,
indicando risco grave.
DISCUSSÃO
A média de idade da população de gatos diabéticos neste estudo foi de 10,88 ± 2,64 anos sendo
que 96,3% dos pacientes apresentavam mais de sete
anos de idade corroborando com Prahl et al. (2007)
que relataram que o risco de desenvolvimento de
DM aumenta com a idade, sendo mais frequente
em gatos acima de sete anos.
Neste estudo, 70,6% dos pacientes não apresentavam raça definida, provavelmente por representarem a maioria dos felinos atendida nos consultórios em nosso país. Não parece haver predisposição
racial para o desenvolvimento da diabetes melito
(Feldman & Nelson 2004, Rand & Marshaw 2005),
mas a raça Birmanês foi a mais acometida em estudo realizado na Austrália, Nova Zelândia e Reino
Unido (McCan et al. 2007).
Rev. Bras. Med. Vet., 37(4):334-338, out/dez 2015
Avaliação da pressão arterial sistólica não invasiva e do grau de proteinúria em gatos domésticos diabéticos
Os gatos machos apresentaram maior frequência no atual estudo, correspondendo a 64,7% da
população total e parecem ser mais predispostos a
diabetes. Em outro trabalho, foi observado que os
gatos machos têm maior predisposição ao ganho
de peso quando comparados com as fêmeas e que
apresentam maior concentração de insulina basal
com menor sensibilidade à insulina (Appleton et
al. 2001).
No atual estudo, a ocorrência da obesidade mostra ser maior, porém isso pode refletir um estilo de
vida mais sedentário dos gatos, com o aumento do
número de obesos crescendo ao longo dos anos e
a maior susceptibilidade aos riscos de DM, assim
como descrito por outro estudo (Prahl et al 2007).
Gatos obesos desenvolvem resistência à insulina
predispondo ao DM (Appleton et al. 2001, Rand &
Appleton 2001).
A concentração sérica de frutosamina neste estudo teve correlação positiva e significante com a
pressão arterial sistólica (p=0,02), indicando que
quanto maior o descontrole glicêmico, maior a
PAS. Em humanos está comprovado que o controle
inadequado da diabetes está associado com o aumento da hipertensão e ao aumento da proteinúria
(Salanitro & Roumie 2010).
Avaliando os níveis séricos da tiroxina total,
observou-se que 47,1% dos gatos apresentaram os
níveis abaixo dos valores da normalidade. Gatos
diabéticos podem apresentar um valor baixo dos
níveis de tiroxina sérica, podendo levar a síndrome
do eutireoideo doente. O valor de tiroxina sérica
abaixo da metade ou abaixo dos valores de referência indica um eutireoidismo ou um eutireoidismo
doente respectivamente (Feldman & Nelson 2004,
Blois et al. 2010).
Castro (2008) avaliou a pressão arterial sistólica não invasiva em 105 pacientes da mesma faixa
etária, porém hígidos. A PAS média desses animais foi de 133,68 mmHg ±18,25, sendo estatisticamente diferente da média encontrada para os
gatos diabéticos no presente estudo onde a média
encontrada foi de 154,45 mmHg ± 8,75. Esses valores estão próximos aos encontrados em quatorze
gatos diabéticos em um estudo onde se observou
PAS de 161 mmHg ±17 (Senello et al. 2003). Nesse
mesmo estudo, não foi diagnosticada hipertensão,
pois somente os valores acima de 180mmHg caracterizavam hipertensão. Atualmente, com a determinação do primeiro consenso para a classificação
de risco em lesões em órgãos alvo de acordo com
a pressão arterial (Brown et al. 2007, Jepson 2011)
ficou determinado que valores acima de 150mmHg
Rev. Bras. Med. Vet., 37(4):334-338, out/dez 2015
já indicam um risco leve de lesão em órgãos alvo
como olhos, rins, cérebro e coração e valores acima
de 160mmHg indicam um risco moderado de lesão
nesses órgãos.
A média da RPC urinária foi de 0,34 ± 0,20. É
considerado, atualmente, proteinúria em gatos,
valores acima de 0,4 (Lees et al. 2005, Castro et al.
2009, Syme 2009, Al-Ghzlat et al. 2011). No presente
estudo, cinco pacientes (35,7%) apresentaram valores acima de 0,4 e cinco pacientes (35,7%) apresentaram valores entre 0,2 e 0,4, valores considerados
limítrofes ou ainda proteinúria leve. Al-Ghzlat et
al. (2011) observaram proteinúria em 75% dos gatos diabéticos. Sennello et al. (2003) não detectaram
proteinúria nos gatos diabéticos, porém utilizou o
parâmetro de normalidade de RPC de até 1,0, considerando somente valores acima de 1,0 para proteinúria. Mais estudos são necessários para avaliar
a frequência com que a proteinúria ocorre em gatos
diabéticos utilizando valores da RPC acima de 0,4,
pois o presente estudo mostra que há perda de proteína na urina em 35,7% dos gatos diabéticos, visto
que a nefropatia diabética é uma complicação importante da diabetes humana e está associada a um
aumento da mortalidade devido à perda progressiva da função renal. Diversos fatores de risco têm
sido descritos na medicina humana, para a nefropatia diabética, dentre eles o grau de hiperglicemia
e a duração da diabetes. Marcadores da nefropatia
diabética vêm sendo estudados e dentre eles a proteinúria (Gross 2003).
CONCLUSÕES
Com base nos resultados encontrados, pode-se
sugerir que os gatos com diagnóstico de diabetes
passem a ser controlados no que se refere a PAS
e proteinúria, além do controle glicêmico e exames sanguíneos de rotina, já que alguns animais
podem apresentar proteinúria e pressão arterial
aumentada levando a riscos de lesões em outros
órgãos quando a glicemia não é devidamente controlada.
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