REDAÇÃO Para o ENEM Vestibular e Concursos L P Baçan Edição Eletrônica: L P B Edições Agosto de 2014 http://www.acasadomagodasletras.net Direitos exclusivos para língua portuguesa: Copyright © 2014 L P Baçan Todos os direitos reservados. Proibidas a reprodução e a divulgação. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida por forma alguma ou qualquer meio sem a expressa autorização do autor. 2014 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 1a. PARTE – OS PRIMEIROS PASSOS Os Primeiros Passos Os Paradigmas A Prática A Linguagem Classes de Palavras Tipos de Redação Estrutura do Texto Técnicas de Redação Roteiro de Trabalho Polimento do Texto Modelos Correspondência Comercial a 2 . PARTE – PASSO A PASSO Justificativa Novas Tendências do Vestibular O ESTILO Desenvolvendo um Estilo Próprio Qualidades do Estilo Leitura Obrigatória Modelos Temas para Redação A REDAÇÃO Introdução Entendendo os Conceitos Tipos de Redações A CORREÇÃO Roteiro para Correção APÊNDICE Erros mais comuns Novo Acordo Ortográfico Pontuação Figuras e Vícios de Linguagem Erros Graves e Dicas BIBLIOGRAFIA REDAÇÃO PARA O ENEM VESTIBULAR E CONCURSOS APRESENTAÇÃO Este livro é uma proposta definitiva para você aprender e realizar uma redação capaz de dar-lhe a pontuação necessária para atingir sua meta, seja ela no ENEM, em um vestibular ou em um concurso. Você pode nada saber sobre como fazer uma boa redação ou já ter uma boa base para buscar um aprimoramento. Em qualquer destes casos, você deve assumir o compromisso pessoal de acompanhar passo a passo as etapas aqui apresentadas. Se preferir ou não tiver uma boa base, inicie pela primeira parte do livro, PRIMEIROS PASSOS. Se julgar já vencida essa etapa, considerando seus conhecimentos atuais, siga para a segunda parte, PASSO A PASSO, e disponha-se a prosseguir. Este não é um manual adequado a quem precise aprender redação para amanhã. Não há como fazer isso, a não ser buscar as páginas onde são apresentadas as dicas e torcer para que o tema que lhe seja apresentado facilite as coisas para você. Se está se preparando, no entanto, a médio ou a longo prazo para um exame onde a Redação seja exigida, então encontrará aqui todo o material necessário para montar seu plano de trabalho e aprender na prática e dominar o assunto. Não há mágica, oração ou qualquer outra forma de aprender a escrever sem praticar. Imagine-se recebendo seis meses de aulas teóricas sobre a natação e, após isso, ser lançado ao mar. Conseguiria sobreviver? Por quanto tempo? Parede difícil, não? Assim é o estudo da redação e sua preparação. Você tem que começar praticando desde o início, desenvolvendo-se, preparando-se, até atingir o ponto ideal. Para isso precisa de ferramentas e de conhecimento. Parte disso encontrará aqui, na técnica. A prática será por sua conta. As duas unidas lhe darão total segurança diante de qualquer tema. Uma sem a outra resultará em um trabalho fraco, talvez passável, mas certamente não o suficiente para garantir aquela pontuação a mais que fará a diferença entre a aprovação ou não em seu objetivo. Encare este livro, portanto, como um plano de trabalho, uma proposta de ação que vai tirar você da lista dos inseguros e colocá-lo na dos experientes e capazes de encarar qualquer tema e sair-se bem. Lembre-se, ao iniciar, que deve assumir um compromisso consigo mesmo: o de fornecer conteúdo para construir argumentações sobre absolutamente tudo. Isso você conseguira através da LEITURA. Leia tudo ao seu alcance, mesmo assuntos que não goste e, principalmente, não domine. Na Internet vai encontrar livrarias virtuais que disponibilizam milhares de livros sobre praticamente tudo e, o que é melhor, grátis. Assista aos noticiários, leia jornais e revistas semanais, leia os principais colunistas do país e do mundo. Mantenha-se atualizado. Conheça a História atual e antiga. Não ignore a Geografia ou qualquer conteúdo que possa lhe ser útil para embasar uma argumentação. Conheça os princípios da Sociologia, da Psicologia. Estude um pouco de Política. Nada será desperdiçado, tenha certeza disso. Assim, de espírito preparado para um empreendimento a médio e longo prazo, comece e siga em frente sem esmorecer. A vitória será sua, por isso terá que lutar suas próprias batalhas com as armas de que dispuser. Não há outra fórmula mágica. Boa sorte. L P Baçan OS PRIMEIROS PASSOS Você já deve ter observado como os alunos do segundo grau preocupam-se com o vestibular. É compreensível, pois esta é uma etapa que decidirá o futuro de cada um deles. Além das dificuldades naturais com esta ou com aquela matéria, todos parecem ter um problema comum, com raras exceções: a redação. Muitos devem afirmar que não têm imaginação, que lhes faltam a criatividade, que as regras gramaticais são difíceis e complicadas, que não entendem a pontuação, que não sabem como separar um parágrafo e muitas outras reclamações. Talvez você também esteja começando a enfrentar dificuldades. Acha que é muito difícil escrever e que isso é um dom ou uma vocação. Pode, até, ter algum bloqueio para realizar essa atividade. Não se julgue culpado se tem essas percepções. Isso porque nunca lhe mostraram o ato de escrever pelo seu ângulo mais agradável nem lhe provaram que escrever é fácil, gostoso e que você pode escrever o que quiser. Basta aprender como fazer isso e a partir daí não parar jamais. Vamos por etapas. Ou por passos. Os primeiros passos que você deu, quando criança, possivelmente resultaram em algumas quedas. Com o tempo, seus ossos e músculos firmaram-se, você dominou o equilíbrio e hoje caminha com naturalidade e desenvoltura. Aprender a escrever segue o mesmo processo natural. Você precisa desde já aprender a ler e a gostar de ler. Não importa qual é seu gênero de leitura preferido. Dedique-se ao que lhe dá prazer, mas reserve um pouco de seu tempo para começar a ler os grandes escritores, os clássicos que marcaram o mundo. Em pouco tempo você vai se familiarizar com esse tipo de leitura e acabar gostando. Em segundo lugar, comece a escrever agora mesmo. Se alguém lhe disser que você não tem criatividade nem imaginação, desafie-o a provar o contrário, pois você tem um cérebro maravilhoso, cheio de vida e inquietação, capaz de recriar o universo na sua imaginação e na sua fantasia. Você aceita participar de um desafio? Se eu lhe provar que você tem imaginação de sobra para escrever, você continua a leitura até o primeiro capítulo. Se após o primeiro capítulo eu lhe provar que você é capaz de, com apenas uma lição simples, escrever uma redação apresentável e um poema razoável, você assume o compromisso de ler o livro até o fim. Veja bem, o desafio é simples: - se eu não lhe provar que você tem imaginação de sobra, você desiste; - se após a leitura do primeiro capítulo você não se convencer de que fez uma boa redação e um poema interessante, você desiste. Caso contrário, assume consigo mesmo o compromisso de ir até o fim, praticando as outras lições. Aceita o desafio? Ótimo! Então vamos lá! Procure se lembrar da última vez que sonhou ou pense num sonho que teve e do qual se lembre. Reviva-o agora mesmo. Pense nos seus detalhes. Havia uma paisagem? Como era ela. Havia uma construção ou construções? Como era isso. Havia uma pessoa? Como era ela? O que vestia? Quais suas expressões. Como foi o andamento do sonho? Recorda-se? Se você não tivesse absolutamente nenhuma imaginação, você sonharia em branco! Mas isso não acontece. Sua imaginação é capaz de criar pessoas, paisagens, construções, mobílias, diálogos, sequências e ação como num filme. Isso é obra de alguém sem imaginação? Você é capaz de imaginar e de criar. É apenas uma atividade cujas habilidades você precisa desenvolver. Convenceu-se de que tem imaginação suficiente para escrever? O que você precisa é pura e simplesmente aprender a fazer isso, da mesma forma como aprendeu a caminhar, a falar, a ler e a escrever as primeiras letras. É simplesmente dar continuidade num processo natural, desenvolvendo as técnicas necessárias para isso, de forma agradável, sem muita preocupação com outra coisa a não ser explorar seu potencial e pôr no papel suas emoções, sentimentos, observações e criatividade. Antes de ir para o próximo capítulo e cumprir a segunda etapa do desafio, talvez você se pergunte quem sou eu, como e por que estou me dirigindo a você para provar que escrever á fácil. Eu sou um escritor e tenho feito isso nos últimos 35 anos. Já escrevi mais de 120.000 páginas. Se quiser saber mais sobre o meu trabalho ou precisar de algum esclarecimento, visite meus sites e minha página no SCRIBD. http://www.scribd.com/lpbacan http://www.acasadomagodasletras.net OS PARADIGMAS Prepare-se para a segunda etapa do desafio. Antes de passarmos a ela, você precisa aprender alguns segredos que simplificarão sua maneira de ver as coisas. O ato de escrever é um processo que requer alguns ingredientes: imaginação, domínio da língua e dos aspectos gramaticais e prática. Não é um dom ou uma vocação simplesmente porque ninguém nasce sabendo fazer uma redação. Você tem que aprender isso a duras penas, precisa escrever páginas e mais páginas até adquirir a fluência e a naturalidade. Na realidade, costumo dizer em minhas palestras que escrever é 90% de transpiração e 10% de inspiração. Voltemos aos ingredientes do processo. Inicialmente, a imaginação. Esta você desenvolve quase que naturalmente, observando as coisas, vendo as pessoas, seus atos, participando da paisagem e das cenas no seu dia-a-dia. Você pode e deve aprimorá-la com a leitura de bons autores, de jornais (principalmente das colunas fixas), de revistas e ouvindo noticiários de rádio e de televisão, principalmente aqueles que comentam as notícias. Uma sugestão que sempre dou é a de ler a Bíblia, sem qualquer conotação religiosa, apenas porque ela é uma das maiores fontes de informações, descrição de caracteres e cenas, apresentando figuras humanas e passagens exemplares que você poderá usar, futuramente, em suas redações como argumentos. O segundo ingrediente é o domínio da língua e dos aspectos gramaticais. Significa ter vocabulário e saber como usá-lo. Lendo e ouvindo você aumenta seu vocabulário, principalmente se você se habituar a ter sempre ao seu alcance um dicionário para conferir o significado de uma nova palavra, procurando usá-la em suas redações. O conhecimento gramatical certamente você terá assistindo com atenção às aulas de língua portuguesa e tirando suas dúvidas com os professores. Há, porém, um método mais fácil de escrever corretamente, habituando-se a usar paradigmas. Se você não sabe o que significa paradigma, pegue seu dicionário agora mesmo. Com certeza você vai descobrir que significa modelo ou padrão. Traduzindo então o que eu disse acima, usar paradigmas nada mais é que usar modelos ou padrões. E você sabe por que fazer isso? Porque a estrutura de uma oração obedece a um paradigma básico, que é este e que você deve conhecer de suas aulas de língua portuguesa: SUJEITO - PREDICADO - COMPLEMENTO A partir desse paradigma básico, você pode criar variações, incluindo outros elementos ou reduzindo os elementos acima ao essencial. Como fazer isso? Construindo uma oração apenas com o predicado, ou o verbo. Quer um exemplo para entender melhor: Os livros - carregam sonhos. Sonhemos - a vida! Sonhemos! Os livros - carregam (contém) - sonhos - para os sonhadores. Entendeu o que eu quis dizer? Vamos, então, para a segunda etapa do nosso desafio. É simples. Leia devagar e com calma o texto a seguir: Brincando com o barro Um dia, Jesus estava na beira do rio com outras crianças. Haviam cavado pequenas valas para fazer escorrer a água, formando assim pequenas poças. Jesus havia feito doze passarinhos de barro e os havia colocado ao redor da água, três de cada lado. Era um dia de sabá e o filho de Hanon, o judeu, veio e vendo-os assim entretidos, disselhes: — Como podeis, em um dia de sabá, fazer figuras com lama? — Não seja por isso — disse Jesus, estendendo as mãos sobre os pássaros que havia moldado. Imediatamente eles saíram voando e cantando. (L P Baçan, adaptado de uma antiga lenda) Antes de prosseguirmos, há uma palavra na história que você talvez não conheça. É sabá e significa: "descanso religioso que, conforme a legislação mosaica (leis do tempo de Moisés), devem os judeus observar no sábado, consagrado a Deus." Isso explica porque o filho de Hanon admoestou Jesus. Agora que você sabe desse detalhe, leia mais uma vez a história, desta vez prestando atenção às palavras em vermelho: Brincando com o barro Um dia, Jesus estava na beira do rio com outras crianças. Haviam cavado pequenas valas para fazer escorrer a água, formando assim pequenas poças. Jesus havia feito doze passarinhos de barro e os havia colocado ao redor da água, três de cada lado. Era um dia de sabá e o filho de Hanon, o judeu, veio e vendo-os assim entretidos, disselhes: — Como podeis, em um dia de sabá, fazer figuras com lama? — Não seja por isso — disse Jesus, estendendo as mãos sobre os pássaros que havia moldado. Imediatamente eles saíram voando e cantando. Você vai agora reescrever a história, trocando as palavras em vermelho por outras palavras, de forma que o conteúdo da história seja alterado, mas seu modelo, padrão ou paradigma mantenha-se o mesmo. Entendeu a tarefa? Mãos à obra! Se quiser, veja como eu fiz! Brincando com o fogo Um dia, Mário estava no bosque com seus amigos. Haviam juntado pequenas varas secas para atear fogo, formando assim uma fogueira. Mário havia feito pequenos montes de terra e os havia colocado ao redor da fogueira, três de cada lado. Era um dia de vento e a mãe do menino veio e vendo-os assim entretidos, disse-lhes: — Como podeis, em um dia de vento, fazer fogueira perto do bosque? — Não seja por isso — disse Mário, estendendo as mãos e empurrando os montes de terra sobre a fogueira. Imediatamente a fogueira se apagou. E agora, o que me diz? Seguindo um paradigma, não é mais fácil escrever? Pratique bastante, reescrevendo a história com os seguintes títulos: Brincando com a terra Brincando com a água Brincando com as flores Brincando com fogo Brincando com o perigo Brincando de gente grande Vamos falar de poesia agora. Veja a estrofe abaixo, a primeira de um poema chamado Gondoleiro do Amor, de Castro Alves, famoso poeta romântico brasileiro. Gondoleiro do Amor Teus olhos são negros, negros, como as noites sem luar, são ardentes, são profundos, como o negrume do mar. Há alguma palavra desconhecida para você? Por via das dúvidas, vejamos o significado das seguintes palavras: Gondoleiro: "tripulante de gôndola, uma embarcação comprida, de pequena boca, com as extremidades um tanto levantadas, movida por um remo na popa, característica dos canais de Veneza". Ardentes: "apaixonados." Negrume: "escuridão." Além disso, é importante que você saiba ou relembre que estrofe é o conjunto de versos e o verso, simplificadamente, é cada linha do poema. No exemplo acima, temos, portanto, quatro versos. Ao ler o poema em voz alta, você sente que ele possui um ritmo, uma cadência marcada por sílabas mais fortes. Experimente ler a estrofe acima em voz alta e entenderá melhor isso. Para completar, os poemas podem ter rimas, formadas pela coincidência de sons no final de cada verso. No exemplo acima, mar rima com luar porque ambas as palavras terminam em ar. Entendeu? Agora que você já sabe o significado das palavras da estrofe e alguns conceitos de poética, leia de novo, prestando atenção às palavras em vermelho. Gondoleiro do Amor Teus olhos são negros, negros, como as noites sem luar, são ardentes, são profundos, como o negrume do mar. Reescreva a estrofe, mudando as palavras em vermelho a seu critério, mas dando sentido ao seu poema. Não se esqueça de que, ao substituir uma palavra de três sílabas, por exemplo, você deve usar outra de três sílabas. Pode, também, duas palavras, sendo a primeira de uma sílaba e a segunda, de duas. Isso é feito para manter o ritmo do verso. Use o seu caderno de rascunho para praticar, depois veja como eu fiz: Meu poema de Amor Teus olhos são lindos, lindos, como as plantas do jardim, são brilhantes, são alegres, como as flores do jasmim. E então, conseguiu? No princípio você pode enfrentar dificuldades. Isso é natural, mas pouco a pouco você ganhará fluência e tudo ficará mais fácil. E quanto ao nosso desafio? Você aceita meu convite para continuar a leitura do livro? Para reforçar o que afirmo, suponhamos que você tenha que escrever agora um requerimento, pedindo ao diretor de sua escola um atestado de matrícula. Como você faria isso? Usando um paradigma, tudo isso fica mais fácil. Veja como! Note que o mesmo modelo pode ser usado para você requerer uma bolsa de estudos, bastando modificar o objetivo. Se precisar fazer um requerimento a um órgão público, acrescente na sua identificação o seu endereço, o número de sua carteira de identidade e o do seu Cadastro de Contribuinte no Ministério da Fazenda (CIC). Se não tiver um, você deverá constar o de seu pai ou responsável. (Requerimento) Exmo. Sr. Diretor do Colégio... (deixar espaço de 10 linhas) (seu nome) brasileiro(a), solteiro(a), estudante regularmente matriculado(a) na quinta série ( ou naturalidade, estado civil, profissão, RG, CIC, endereço completo), vem, respeitosamente, requerer ( a expedição de Atestado de Matrícula para fins particulares ou outro objetivo específico). Nestes termos Pede deferimento. (sua cidade), (dia, mês em letra minúscula e ano). ____________________ (sua assinatura) E se você tivesse vendido a sua bicicleta e precisasse passar um recibo, como faria? É simples! Basta usar o seguinte paradigma! (Recibo) RECIBO: R$ 50,00 Recebi de (nome da pessoa a quem vendeu e que lhe pagou) a importância supra de R$ 50,00 (cinquentas reais), para pagamento de (uma bicicleta marca C. Mago, de minha propriedade). Por ser verdade, firmo o presente recibo. (Cidade), (dia, mês e ano). _________________________ (nome e assinatura) Acho que você já percebeu a facilidade de usar os paradigmas e as vantagens e necessidade de trabalhar intimamente ligado ao seu dicionário. Aumentando seu vocabulário aos poucos, em breve você terá um repertório adequado para elaborar qualquer tipo de texto. Lendo, você irá aumentando seu estoque de paradigmas. Em breve poderá escrever sobre qualquer assunto, de modo correto e criativo, sem se preocupar com a gramática. Quando estudá-la, em suas aulas regulares, verá como será mais fácil entender pontuação, concordância, regência e outros aspectos que são fundamentais na comunicação escrita. E então, vale a pena continuar? Claro que sim! Passemos, então, ao Capítulo 3. Não se esqueça de que em qualquer momento, quando encontrar alguma dificuldade, volte ao início e releia atentamente. E se você gostou da história que contei sobre a infância de Cristo, conheça outra e aproveite para praticar, seguindo os passos já ensinados. O Menino Doente Aconteceu depois, nas vizinhanças de José, que um menino que vivia doente veio a falecer. Sua mãe chorava inconsolavelmente. Jesus, ao tomar conhecimento da dor daquela mãe e do tumulto que se formava, acudiu rapidamente. Encontrando o menino já morto, tocou-lhe o peito e disse: — Pequenino, falo contigo! Não morras, mas vive feliz e fica com tua mãe! No mesmo instante, o menino abriu os olhos e sorriu. Então disse Jesus à mulher: — Anda, pega-o, dá-lhe leite e lembra-te de mim! Ao presenciar o acontecido, os circunstantes encheramse de admiração e exclamaram: — Na verdade, este menino ou é um Deus ou um anjo de Deus, pois tudo o que sai da sua boca torna-se um fato consumado. Jesus saiu dali e pôs-se a brincar com os outros jovens. (L P Baçan, adaptado de uma antiga lenda) A PRÁTICA O terceiro ingrediente do aprendizado mencionado no capítulo anterior é a prática. Quanto mais você praticar, mais fácil ficará escrever. Isso explica o meu ponto de vista: 90% de transpiração e 10% de inspiração. Tenha isso em mente. Você pode ter o dom, pode ter vocação para escrever, mas se você não se sentar diante de uma folha de papel em branco e escrever, nada nem ninguém o fará por você. Para resumirmos agora o que já foi ensinado, podemos concluir que, para escrever, é preciso ter conteúdo (o que dizer) e conhecer paradigmas (saber como). Dominando esses dois aspectos, você poderá escrever sobre absolutamente tudo. Dominar os paradigmas não significa que você terá que memorizar uma porção de modelos que serão usados no momento oportuno. Não, de forma alguma, pois isso poderia acabar limitando sua criatividade. É importante você habituar-se a usar os paradigmas, pois ao fazê-lo com frequência você vai incorporá-los automaticamente, sem perceber e eles surgirão automaticamente, no momento em que precisar deles. Quer testar isso? Observe o trecho a seguir, que poderia ter sido tirado de uma página esportiva de um jornal qualquer. Para começar, se você usar um paradigma assim, será porque leu o jornal e esse é um passo importante para formar conteúdo, isto é, ter o que dizer. Vamos à notícia: Coritiba embarca "A delegação do Coritiba embarca hoje às 7 horas da manhã no aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, rumo ao Ceará, onde fará sua estreia na Copa do Brasil diante da equipe do Fortaleza, amanhã, dia 3, às 20h 30, no Estádio Presidente Vargas, na capital cearense." (Gazeta do Povo, Caderno Esportes, página 3, 2/3/99) Suponhamos agora que você vá fazer uma notícia para o jornal do colégio, informando a partida de um colega, o Mário Souto, que viaja para a cidade de Miami, nos Estados Unidos, onde fará um curso de inglês de um mês, na Universidade de Miami. Como ficaria a notícia, se você usasse o paradigma acima? Vamos por partes! Na notícia que recortamos do jornal, temos algumas respostas a algumas perguntas importantes: quem faz (fez/fará) o quê, quando, a que horas, de onde, para onde, para quê, contra quem, quando, a que horas, onde. Vamos responder as perguntas que sejam possíveis no caso da viagem do seu amigo. Quem? Mário Souto Faz o quê? embarca Quando? amanhã A que horas? às 8 horas da noite De onde? no aeroporto de Cumbica Para onde? para Miami, na Flórida Para quê? fazer um curso de inglês de 30 dias Contra quem? (não usaremos) Quando? (não usaremos) A que horas? (não usaremos) Onde? na Universidade de Miami Vamos dar forma à notícia, juntando as respostas na sequência em que foram apresentadas? Mário Souto embarca para Miami "Mário Souto embarca amanhã às 8 horas da noite no Aeroporto de Cumbica rumo a Miami na Flórida para fazer um curso de inglês de 30 dias na Universidade de Miami" Deixei propositadamente sem pontuação a notícia acima, para que você, observando o paradigma inicial, coloque agora a pontuação. O ponto final não oferece problema, é claro. Você pode ter alguma dúvida no que se refere à vírgula. Vejamos como a Enciclopédia Barsa define a vírgula: "sinal de pontuação usado para isolar (...) indicações de tempo e lugar. Assinala breve pausa rítmica, sem quebrar a continuidade do discurso. ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.". Observação: o sinal de reticências entre parênteses na citação acima indica que um trecho foi suprimido. Isso foi feito para destacar apenas o que nos interessa no momento. Ficou claro? As perguntas onde, quando, a que horas, para onde e outras assemelhadas têm como respostas advérbios ou orações adverbiais de tempo e de lugar e podem ser isoladas através de vírgulas. Como você pontuaria o texto agora? Eu faria assim: Mário Souto embarca para Miami Mário Souto embarca amanhã, às 8 horas da noite, no Aeroporto de Cumbica, rumo a Miami, na Flórida, para fazer um curso de inglês de 30 dias, na Universidade de Miami. Tudo isso está claro para você? É importante que você dê seus primeiros passos como escritor de forma segura e sem hesitação. Continuando com o mesmo paradigma, faça os seguintes exercícios em seu caderno de rascunho: Loja de roupas inaugura novas instalações Governador visita cidade Papa viaja à África Eu vou viajar Brasil enfrenta Argentina Estou mudando de casa Convite para uma festa A vovó vai chegar A inauguração do cinema Concurso de beleza Nasceu um bebê O fim do mundo Vamos agora observar os paradigmas sob um aspecto mais ampliado. Observe o exemplo a seguir: Carta a meu amigo distante Início (aqui você justifica sua carta ou apresenta o motivo por que escreveu) Meu amigo, que saudade de você! Como sinto sua falta e como me fazem falta aqueles momentos que passamos juntos, vivendo nossa juventude com alegria e despreocupação. Éramos crianças. Não nos preocupávamos com a vida nem com o futuro e o futuro chegou. Confesso que estou com medo agora. Meio (aqui você desenvolve o assunto que levou você a escrever a carta) Lembra-se de nossas brincadeiras no colégio? De como nós nos sentávamos no fundo da classe e ríamos de tudo, principalmente de nosso professor de redação, aquele velhinho que falava das maravilhas ocultas nos livros, à espera de nossas descobertas? Ele nos contava histórias assustadoras de alunos que haviam encalhado no vestibular, porque não sabiam escrever. E nós nem ligávamos! Fim (aqui você arremata a sua carta) Agora eu percebo o quanto ele estava certo. Em breve enfrentarei o vestibular e confesso que estou preparado para tudo, menos para a redação. Sabe o que fiz? Vasculhei meus armários e encontrei os cadernos do nosso curso de redação. A resposta estava lá: ler e praticar. Era o que ele nos dizia. Por que não acreditamos nele? Um abraço e, quando tiver tempo, ligue para mim! Não se preocupe quanto ao conteúdo da carta. É importante que você grave agora um dos paradigmas mais importantes para todo escritor: saber como começar, desenvolver e encerrar um texto. Em tudo que escrever, dentro de uma sequência lógica, deverá haver um início, um meio e um fim. Isso não significa que o assunto deverá ter um início, um meio e um fim e veremos isso mais à frente. O que importa agora é que você grave essa sequência natural em todo texto: início, meio e fim. Para transpirar um pouco e praticar, use o paradigma acima para escrever uma carta a um amigo, informando que sente saudades dos tempos em que estudavam juntos e, ao mesmo tempo, comunicando que você vai viajar para algum lugar, num determinado dia, para fazer algo importante. Solte a sua imaginação e transpire um pouco. Quando terminar, leia seu texto em voz alta umas duas ou três vezes. Se você sentir que algumas palavras não soam bem em relação ao conjunto, mude-as. Como? Ora, consulte seu aliado: o dicionário. Após ter feito isso e corrigido seu texto, peça para que dois ou três amigos leiam e comentem o que você escreveu. Quando eles fizerem isso, leia atentamente o que eles escreveram. Se não entender, peça esclarecimentos, mas não rebata, retruque ou tente explicar. O que eles observarem é o que o seu texto está transmitindo. Não tente convencê-los do que você quis dizer, pois o que importa é o que você disse efetivamente. Após isso, leia, releia e medite em tudo o que foi feito. Depois disso, reescreva com calma o texto, leia-o em voz alta e, se estiver satisfeito(a), guarde-o por uns dois meses. Após esse tempo, leia-o novamente e, se ficar satisfeito com ele, guarde-o. Caso contrário, volte ao início do processo. Quanto mais você investir em você mesmo, criando alternativas para desenvolver seu estilo e suas habilidades na escrita, mais rápidos serão os resultados. Você pode contribuir com esse processo e praticar, reunindo alguns amigos e fundando um Clube Literário, que deverá se reunir semanal, quinzenal ou mensalmente, a critério de seus membros. O objetivo do clube é que todos escrevam e submetam seu trabalho à apreciação dos amigos, trocando ideias, críticas construtivas, novidades e técnicas. Uma das regras básicas deve ser esta: - Após a leitura de um texto, ninguém poderá dizer: não gostei! Se houver alguma crítica a ser apresentada, ela deverá ser precedida de um elogio ao texto ou a um dos aspectos que se ressaltaram. É preciso estimular os amigos sempre. - Ler e praticar deverá ser o lema de seu Clube Literário. A LINGUAGEM Uma das dificuldades mais visíveis na maioria de nossos estudantes é a de diferenciar a linguagem falada da linguagem escrita. Muitos acabam escrevendo da mesma maneira como falam e isso compromete todas as suas redações. Isso não significa, absolutamente, que você deve abolir a linguagem falada dos seus textos. Haverá momentos em que ela poderá ser necessária e seu uso terá sentido e nexo. Isso vai ocorrer numa narração, quando estiver contanto uma história e precisar reproduzir a linguagem falada, como no seguinte exemplo: Brincadeira — É, ué! Cê nunca brincou? — Não. — Por quê? — Por quê? Porque sim. — Sua mãe não deixa, né? — É. — O pai falou que cês são entojados. — Que é entojado? — É pessoa que não liga pros pobre... Que tem o rei na barriga. — Rei na barriga? — É, rei na barriga. Cê não sabe o que é ter o rei na barriga? — Não. Como é que é, conta pra mim? — virando-se para o outro, cheio de curiosidade. O sol do meio-dia enlanguescia a sombra do abacateiro e nem chegava a ressecar o chão, ainda úmido. Pelo ar corria o crem-crem cadenciado, mas não havia vestígios ainda de uma queimada, longínqua que fosse. — Ter rei na barriga, continuou o outro, é pensar que é o cancã da vila, sabe, né? É pensar assim, sem ligar pros outros. — E nós é isso que cê falou? — Meu pai que falou. O menino tornou a encostar-se à cerca. Seus olhos acompanharam uma abelha, revolutearam com alguns urubus lá em cima, na reta dos aviões, e depois baixaram para o cordão dos sapatos. Um graveto estalou em suas mãos. De repente virou-se e encarou o outro, perguntando sério: — Cê quer ser meu amigo? — Ué! Mas eu não sou seu amigo? — Não, mas não amigo assim de vizinho. Amigo assim de verdade, pra ajudar a gente, ficar perto da gente, amigo de verdade mesmo, ara! — Por quê? — Porque... ué! Porque sim! — soube somente responder. Para que, realmente, queria um amigo? — Cê que sabe, né. — Mas tem de que ser amigo de verdade. — Ah, mas não vai dar certo. — Por quê? — Porque cê não sai pra brincar com a gente... — Mas amigo não é só pra brincar. — Então pra quê? — Pra quê? Ué, pra que sim — (para que realmente queria um amigo?). — Mas amigo só de nome... — Não, não só de nome. Amigo pra ficar junto, conversar... — Como, ué? Cê não sai da barra da saia da sua mãe. Parece mariquinha... — Não é verdade, viu? — interrompeu. Na sua mão pesava uma pedra. Para quê? — Não? — Não, se eu sair ela me bate. — Não falei? Sua mãe é enjoada, não quer ver cê brincando que nem a gente. — Não é verdade, viu? Recostou-se de novo, amuado, à cerca. A inutilidade da pedra em sua mão exasperou-o. Com raiva, arremessou-a na direção de um frangote que passava por perto. A ave, com pulos e bater de asas, safou-se do perigo. O outro riu e comentou: — Que pontaria ruim que cê tem! (Agosto, L P Baçan) Ao fazer uma dissertação para a sua professora, seguramente você terá de empregar uma linguagem formal, mais escolhida, diferente daquela que usaria para mandar um bilhete para um amigo. Quando falamos em escrever e escrever bem, estamos sempre nos referindo a essa linguagem formal, onde os aspectos gramaticais e o vocabulário são mais exigidos e empregados com correção. Isso ocorre porque ao empregar essa linguagem, fatalmente você está passando por um processo de avaliação, que tanto pode ser um teste de conhecimentos em seu curso como uma prova eliminatória num concurso público ou no vestibular. É por isso que frisamos sempre que toda leitura que fizer deverá ser acompanhada de um dicionário, de forma que você possa constantemente enriquecer seu vocabulário, ao mesmo tempo em que vai memorizando novos paradigmas. E por falar em paradigmas, vamos recortar um trecho do texto que apresentamos anteriormente. — O pai falou que cês são entojados. — Que é entojado? — É pessoa que não liga pros pobre... que tem o rei na barriga. — Rei na barriga? — É, rei na barriga. Cê não sabe o que é ter o rei na barriga? — Não. Como é que é, conta pra mim? — virando-se para o outro, cheio de curiosidade. O sol do meio-dia enlanguescia a sombra do abacateiro e nem chegava a ressecar o chão, ainda úmido. Pelo ar corria o crem-crem cadenciado, mas não havia vestígios ainda de uma queimada, longínqua que fosse. — Ter rei na barriga, continuou o outro, é pensar que é o cancã da vila, sabe, né? É pensar assim, sem ligar pros outros. — E nós é isso que cê falou? — Meu pai que falou. O menino tornou a encostar-se à cerca. Seus olhos acompanharam uma abelha, revolutearam com alguns urubus lá em cima, na reta dos aviões, e depois baixaram para o cordão dos sapatos. Um graveto estalou em suas mãos. Aplicando o que já conhecemos sobre a utilização de paradigmas, reescreva o texto acima, mudando as palavras em vermelho e criando uma nova cena. Após ter feito isso, pare e reflita por instantes. Você recriou uma cena, usando um paradigma ou modelo. Ao fazer isso, no entanto, teve de usar elementos de seu conhecimento. Elementos que podem ter sido assimilados ou incorporados devido a uma observação sua ou em decorrência de alguma coisa que tenha lido. Preste atenção no seguinte trecho, retirado do texto. O sol do meio-dia enlanguescia a sombra do abacateiro e nem chegava a ressecar o chão, ainda úmido. Pelo ar corria o crem-crem cadenciado, mas não havia vestígios ainda de uma queimada, longínqua que fosse. Para reescrevê-lo, você terá de imaginar como fica a natureza com o sol do meio-dia e, ao mesmo tempo, imaginar a cena completa, como a presença de algum detalhe interessante no ar. Vamos supor que você more na cidade e que sua realidade seja diferente daquela narrada na história. Seu texto poderia ficar mais ou menos assim: O sol do meio-dia aparecia timidamente sobre a rua e nem chegava a secar as poças de água, após o temporal. Pelo ar corria o cheiro de cimento molhado, mas não havia vestígios ainda de estiagem, por mais breve que fosse. Se você morasse a beira-mar, numa aldeiazinha de pescadores, talvez sua versão fosse esta: O sol do meio-dia anunciava a chegada dos barcos e nem chegava a incomodar os olhos, sempre alertas no mar. Pelo ar corria um sentimento crescente de impaciência, mas não havia vestígios ainda de uma vela desfraldada, por mais distante que fosse. Na realidade, se você mesmo fosse reescrever algumas vezes o mesmo paradigma, fazendo as alterações, com certeza escreveria cenas diferentes todas as vezes. Para isso, estaria usando a sua imaginação, empregando cenas e coisas que já viu em sua vida ou que leu em outro texto. Se para escrever você precisa conhecer a técnica e ter conteúdo, podemos resumir que conhecendo vários paradigmas e tendo conteúdo, você poderá escrever sobre qualquer assunto. O que você não aprender pela observação, aprenderá pela leitura, sendo que, nesta em particular, você conta com uma vantagem adicional: conhecer novos paradigmas ou modelos. Observar e ler, isto é essencial para você ser um bom escritor. Quer ver o que um especialista no assunto disse? Leia os dois artigos a seguir. São curtos, mas muito elucidativos. A LEITURA A leitura pode ser considerada como a própria fonte de todos os processos de assimilação do estilo; engendra-os e resume-os. A leitura forma as nossas faculdades, faz que as descubramos, desperta as ideias, alenta a inspiração. É pela leitura que nascemos para a vida intelectual. É após a leitura que nos tornamos escritores. Ensina-nos a arte de escrever como nos ensinam a gramática e a ortografia. A leitura é a mais nobre das paixões. Nutre a alma como o pão nutre o nosso corpo. Dizia Napoleão I, referindo-se a Hudson Lowe, que o coibia dos seus passeios: — Este homem devia compreender que o exercício é tão necessário aos meus membros, como a leitura ao meu espírito. Alphonse Karr chamou à leitura "uma ausência agradável de nós próprios". Os grandes escritores passaram a metade da sua vida a ler. Dizia Montesquieu: — Um quarto de hora de leitura consola-me de qualquer desgosto. Um livro é um amigo com que se pode contar sempre. Alphonse Daudet aconselhava a um confrade, vergando à dor de um grande luto: — Leia muito! (A Formação do Estilo, Antoine Albalat) DEVEMOS ESCREVER? "Uma pergunta nos ocorre desde já: devemos escrever? Não será mau serviço favorecer as tendências para se cobrir de letras o papel? Não haverá já bastante escritores? Será preciso avisarmos o que escrevem mal? Estamos inundados de livros. Que será a literatura, quando toda a gente a praticar? Ensinar a escrever não será impelir o próximo a publicar tolices? Não será baixar a arte o pô-la ao alcance de todos, e não a amesquinharemos, tornando-a mais acessível? Eu própria protestei, numa obra especial, contra essa doença de escrever, que nos invade e que faz desanimar o público. Há nisso evidentemente um perigo, mas o abuso de uma coisa não prova que ela seja má. Todos falam, mas nem todos são oradores. Vulgarizam-se a pintura, mas nem todos são pintores. Nem todos os músicos, compõem óperas. É excelente ensinar-se a escrever, tanto pior para aqueles que degradem o mister. De mais, aqueles que quiserem seguir nosso conselho deverão aplicar-se a escrever bem, e aqueles que se aplicarem, serão obrigados a escrever pouco. Além disso, podemos escrever, não só para o público, mas para nós próprios, para satisfação pessoal. Aprender a escrever bem é aprender a julgar os bons escritores. Primeiramente, haverá a vantagem da leitura. A literatura é um atrativo, como a pintura e a música, uma distração nobre e permitida, um meio de tornar agradável as horas da vida e os enfados da solidão." (Arte de Escrever, Antoine Albalat) Como se vê, aprender a ler é o primeiro caminho para aprender a escrever. Observar as coisas ao seu redor o tempo todo, com olhos críticos e sensíveis ao mesmo tempo, vai lhe dar elementos para empregar em suas futuras redações. Quando mencionamos a leitura e a observação, assistir aos noticiários na televisão, principalmente dos apresentadores que comentam a notícia, dará elementos para compreender o mundo que o cerca, formar opinião a respeito dos mais diferentes assuntos e fornecerá, por fim, constantes e renovados paradigmas para serem usados. Por exemplo: o que você diria se fosse levado a um programa de auditório, na televisão, e um microfone fosse colocado diante de seu rosto. Para tornar isso mais divertido, assinale uma das opções abaixo: ( ) - Perderia a fala e ficaria com tremedeira. ( ) - Chamaria a mamãe. ( ) - Sairia correndo. ( ) - Procuraria me acalmar e pensar num paradigma qualquer. Se você escolheu a quarta alternativa, teria dito algo mais ou menos parecido com isto: "Bom dia (boa tarde ou boa noite) telespectadores deste maravilhoso programa. É uma prazer enorme estar aqui com vocês e com este (esta) apresentador(a) sensacional, que diariamente nos enche de alegria com suas brincadeiras e com sua presença encantadora." E se fosse um programa de rádio? Fácil também! "Bom dia (boa tarde ou boa-noite) ouvintes deste maravilhoso programa. É uma prazer enorme estar aqui com vocês e com este (esta) locutor(a) sensacional, que diariamente nos enche de alegria com suas brincadeiras e com sua presença encantadora." E se você fosse convidado a saudar os participantes de uma gincana de sua escola? Igualmente fácil! "Bom dia (boa tarde ou boa noite) participantes desta maravilhosa gincana. É um prazer enorme estar aqui com vocês e com esta turma sensacional, que sempre nos enche de alegria com suas brincadeiras e com sua presença encantadora." Percebeu as vantagens de se conhecer mais e mais paradigmas e poder empregá-los em qualquer situação com correção e estilo, transmitindo sua mensagem ou realizando sua tarefa de forma simples e objetiva? Para isso, é preciso ler e observar! E diferenciar a linguagem escrita formal ou literária da linguagem oral, usada no seu dia-a-dia. Nesta o compromisso maior é traduzir necessidades naturais e imediatas, de forma prática, sem preocupações maiores com a língua e com os aspectos estéticos ou literários. Na linguagem oral ou informal você usa construções típicas de seu grupo, como as gírias, ou de sua região, como o linguajar do gaúcho, do paulista, do carioca ou do nordestino. Ela é reforçada afetiva e emocionalmente com construções, como o uso do diminutivo ou de expressões como aquelas empregadas em relação a uma criança e até de expressões técnicas, conhecidas apenas por profissionais de uma determinada área. Todos esses aspectos podem e devem ser registrados, mas dificilmente serão conhecidos e entendidos em outras regiões de um mesmo país, que dirá de países diferentes. Ao aprender a escrever, é preciso que você aprenda a escrever usando a língua nacional, entendida em qualquer canto do país e até por estrangeiros que aprendem a nossa língua. Gírias, regionalismos e linguagem técnica podem ser um grande empecilho ao completo entendimento de seu texto. Quando você escrever, esforce-se para ser entendido por todos ou pela grande maioria. Vocabulário rebuscado nunca foi sinônimo de cultura e erudição. Se o fosse, o autor do texto abaixo teria recebido um Prêmio Nobel de Literatura. Leia e aprecie: Depoimento de um homem numa delegacia de polícia "Preclaro bacharel: um larápio, numatizando-se na caliginosidade da noite transacta, insuflou-se sorrateiramente em meu tugúrio e surrupiou, de sob o meu catre, o meu bispote doirado, instrumento com o qual degluto contumazmente a minha infusão de drupas elipsoides ou globosas, vermelhas, com escassa polpa adocicada e duas grandes sementes, torradas e moídas, como soem deglutir os de minha estirpe." Entendeu? Consulte seu dicionário para entender o que foi dito. Deixando agora de lado os exageros do texto anterior, é preciso que você jamais se esqueça de que sempre haverá uma palavra exata para transmitir seu pensamento da maneira mais simples e eficaz. Pode ser difícil encontrá-la, pois a tendência de todo aquele que começa a escrever é buscar as palavras difíceis, comprometendo o sentido. Mais tarde, fará inevitavelmente o caminho de volta, buscando a linguagem simples, despojada, mas exata e correta para a sua comunicação. Façamos outro teste agora. Escreva 30 linhas, contando as atividades de um velho, do momento em que ele se levanta da cama até ir se sentar num banco, na praça de sua cidade, onde ficará olhando o prédio da igreja. Inclua um pequeno diálogo, de forma a criar um pequeno conto. Se já fez o exercício, veja como eu o fiz. Observe que a linguagem é simples, sem rebuscamento, facilmente entendível: O Velho "A carapinha desbotada emergiu vagarosamente do travesseiro. Sentou-se, pés à caça dos chinelos. A cada dia ficava mais difícil encontrá-los. Vestido, arrastou-se até a cozinha. — Dia, Cido! Dia, Zefa! Pouco falavam. Quarenta anos de casamento ensinaram o significado das coisas: cada gesto, cada olhar, cada mover de músculos. À porta, cumprimentou o dia e espreguiçou-se dolorosamente. Foi até a bacia, no tanque. Lavou o rosto. Depois foi à privada. Quando voltou, sentou-se à porta. Ela estendeu a caneca de café. Ele olhou o céu cinzento, anunciando a estação das águas. Ela olhou na mesma direção: o que você vai fazer hoje? Ele deu de ombros: zanzar por aí. Desinteressada: e o dinheiro da aposentadoria? Alheio: já tirei. Terminou o café ralo. Deixou a caneca. Caminhou perdido pela casa. Apanhou o chapéu. Saiu. O vento fresco agitou a camisa contra o peito magro. Parou, como sempre, na praça da matriz. Sentou-se num dos bancos. Ficou olhando a construção. (Sassarico, L P Baçan) Em menos de 30 linhas foi feita a tarefa. Essa lição é importante para você se lembrar de que, quando soltar a imaginação para descrever, narrar ou dissertar sobre alguma coisa, você terá de usar seu poder de síntese ou selecionar quais aspectos serão ou deverão ser ressaltados. Nem tudo que o velho fez após acordar é interessante, mas nessas linhas, além de descrevê-lo como um velho (carapinha desbotada), foram acrescentados outros aspectos, como o corpo dolorido (espreguiçou-se dolorosamente), sua aposentadoria, sua falta de ação ou atividade (caminhou perdido pela casa) e que era pobre (terminou o café ralo) e magro (o vento fresco agitou a camisa contra o peito magro). É interessante notar que o texto apresentou o essencial da história, mas você pode interpretá-la ou desenvolvê-la através de inúmeros comentários e observações. Veja, por exemplo, o momento do diálogo dele com a esposa. Imagine a cena. Imagine duas pessoas que convivem juntas há mais de quarenta anos. É praticamente uma vida. O entendimento já dispensa as palavras. Basta um olhar para o outro para perceber alterações, problemas, mudanças de humor, saúde e tudo o mais. Vá um pouco mais longe. Imagine um velho, aposentado e pobre, sem nada para fazer na vida a não ser apenas sobreviver com os magros recursos de sua aposentadoria. Imagine o tédio e, ao mesmo tempo, as pequenas coisas que faz para passar o tempo. Como se sente uma pessoa assim? Quais são seus projetos de vida? O que espera do futuro? O que lhe dá satisfação? O que lhe traz algum prazer na vida? Para cada uma dessas respostas, você tem uma história e é isso que torna o ato de escrever importante. Chamar a nossa atenção ou a atenção dos outros para esses pequenos, mas importantes, aspectos da vida e da condição do ser humano. Essas características do texto você pode levar para uma dissertação facilmente e isso só é possível quando você tem conteúdo ou conhecimento para transmitir, fruto de suas observações ou de suas leituras. Quer saber como? Vejamos como exemplo um trecho de um texto já apresentado anteriormente: "A leitura é a mais nobre das paixões. Nutre a alma como o pão nutre o nosso corpo." Dizia Napoleão I, referindo-se a Hudson Lowe, que o coibia dos seus passeios: — Este homem devia compreender que o exercício é tão necessário aos meus membros, como a leitura ao meu espírito. Alphonse Karr chamou à leitura "uma ausência agradável de nós próprios". Os grandes escritores passaram a metade da sua vida a ler. Dizia Montesquieu: — Um quarto de hora de leitura consola-me de qualquer desgosto." Lembra-se desse texto, não? Observe como o autor faz uma afirmação (A leitura é a mais nobre das paixões. Nutre a alma como o pão nutre o nosso corpo.), depois apresenta rapidamente alguns argumentos para comprovar sua afirmação. Para isso, cita um exemplo histórico (Napoleão I), um exemplo literário (Alphonse Karr chamou à leitura "uma ausência agradável de nós próprios."), refere-se aos grandes escritores e transcreve uma citação de Montesquieu. Com esses aspectos, confirma sua afirmação de que a leitura faz bem para o corpo (tão importante quanto o exercício físico para Napoleão I) e para a alma (consola de qualquer desgosto, segundo Montesquieu). Obviamente, para fazer essas citações e buscar esses exemplos, o autor teve de ler a respeito. Veja como isso é importante, pois agora você já conhece essas citações e esses personagens. Pode usá-los futuramente em uma redação em que sejam aplicados. Percebeu a vantagem da leitura? Sem contar que você tem mais alguns paradigmas para usar. Quer ir além? Descubra inicialmente quem foram esses personagens: Antoine Albalat, Napoleão I, Alphonse Karr e Montesquieu. Depois, procure descobrir mais algumas citações a respeito da importância da leitura, anotando-as, bem como o nome do seu autor e obra de onde foram retiradas. Poderão ser úteis, quando tiver de falar a respeito do assunto. Esse exemplo a respeito da leitura pode ser estendido a todo e qualquer outro tipo de assunto. Organizar fichários com citações, além de ser muito divertido, pode enriquecer seu vocabulário e seus paradigmas. Você pode trocá-las com seus amigos do Clube Literário ou com seus colegas de escola. Se tiver um computador, organize um arquivo por ordem alfabética de assunto. Se não tiver, use um fichário comum, um caderno com divisões em ordem alfabética. Vamos fazer mais um exercício? Apenas praticando você atingirá a perfeição. Usaremos o mesmo trecho acima, novamente marcando em vermelho as palavras que devem ser alteradas. "A leitura é a mais nobre das paixões. Nutre a alma como o pão nutre o nosso corpo". Dizia Napoleão I, referindo-se a Hudson Lowe, que o coibia dos seus passeios: — Este homem devia compreender que o exercício é tão necessário aos meus membros, como a leitura ao meu espírito. Alphonse Karr chamou à leitura "uma ausência agradável de nós próprios". Os grandes escritores passaram a metade da sua vida a ler. Dizia Montesquieu: — Um quarto de hora de leitura consola-me de qualquer desgosto. Substitua a leitura por qualquer outro assunto, reescrevendo o texto de forma coerente. Para isso, terá de encontrar três citações: a primeira para substituir a de Napoleão I, a segunda para a de Alphonse Karr e a última para a de Montesquieu. Você pode falar sobre a mentira, a vaidade, a violência, a ignorância, a caridade, o vício, a preguiça, o medo ou qualquer outro tema. E já que o assunto é leitura, vamos um pouco mais longe com isso. Você já deve ter ouvido falar sobre livros cuja leitura é necessária para enfrentar o vestibular. Você já deve ter lido alguns deles ou com certeza irá lê-los no futuro. Talvez porque goste de leitura, talvez porque isso será preciso. Não importa a sua motivação para isso, mas o que importa é que, ao ler cada um desses livros ou simplesmente ao ler qualquer livro, você deve organizar uma espécie de arquivo, com as informações básicas a respeito dele, de forma a poder lembrar-se dessa leitura, a qualquer tempo, com uma consulta a essas anotações. A melhor forma de fazer isso é usando uma ficha de leitura. Há diversos modelos para isso e, para que você inicie de forma correta e completa o seu arquivo, vou fornecer-lhe dois modelos e você pode escolher um ou adaptá-lo conforme sua conveniência. Preenchendo-o você terá as informações mais importantes a respeito de uma determinada leitura, livro, autor ou personagens. Nesse caso, as fichas de leitura também podem ser trocadas em seu Clube Literário, numa atividade complementada por pequenas palestras dadas por quem fez a ficha. É uma forma de repartir conhecimentos e aumentar seu repertório. Ao ouvir falar do livro, com certeza vai acontecer o seguinte: você desejará ler o livro também e isso será muito bom. Vejamos os modelos de fichas, então! Roteiro para Análise de Obra Literária Autor Obra Personagens Principais e secundários. Enredo Resumo geral e por capítulos. Caracterização das personagens Perfil físico e psicológico de cada personagem do livro. Temas Principal e secundários. Tempo Quando ocorre a história? Estilo Estrutura - conto, novela ou romance. Técnicas da narração - o que chama a atenção na forma em que o texto é narrado? Linguagem Empregada Ressalte aspectos interessantes do vocabulário e das expressões usadas pelo autor e anote citações que possam ser usadas futuramente em suas próprias redações. Opinião Pessoal Conclusões Pessoais Outra sugestão é esta ficha de leitura igualmente útil. Roteiro para Leitura de Textos Primeira leitura Compreensão do conjunto Segunda leitura Divisão em partes Retirada dos termos acessórios Copiar o texto, excluindo os termos supérfluos, deixando apenas aqueles essenciais à compreensão Terceira leitura Resumo das ideias principais Resumo das ideias secundárias Estrutura utilizada Gênero, forma, aspectos gramaticais e outros Enredo Forma de apresentação e desenvolvimento do enredo Encaminhamento do desfecho ou da conclusão Aspectos relevantes Conclusão pessoal CLASSES DE PALAVRAS Para escrever bem, você precisa ter um bom vocabulário, ler e observar para ter conteúdo e conhecer e aplicar as estruturas da língua adequadamente, seja utilizando paradigmas, seja dominando os aspectos principais da gramática. Estudar gramática pode ser um tormento ou uma aventura fascinante. Muito mais do que um desfilar de regras e exceções, esse estudo proporciona um arsenal invejável a quem gosta, deseja ou precisa aprender a escrever. Sabe por quê? Porque ao invés de ficar copiando e imitando paradigmas alheios, você poderá criar seus próprios paradigmas. Não seria realmente sensacional? Quer uma amostra? Para escrever, você precisa dominar o uso de duas classes de palavras: substantivos e verbos. Por quê? Simplesmente porque os substantivos são utilizados para formar o sujeito e os complementos e o verbo é utilizado para forma o predicado. Sujeito, predicado e complementos formam as orações. Orações formam períodos. Períodos formam parágrafos. Parágrafos formam capítulos e vai por aí a fora. Voltemos, porém, ao básico: substantivo e verbo. Vamos começar por aí. Vamos ver o que o nosso Dicionário Aurélio Eletrônico diz a respeito dessas palavras: "Substantivo - Gramática: Palavra com que se nomeia um ser ou um objeto (substantivo concreto), uma ação, qualidade, estado (substantivo abstrato), considerados separados dos seres ou objetos a que pertencem." Substantivo comum: denota os seres de uma espécie em sua totalidade. Substantivo próprio: denota um ser específico entre todos os de uma espécie. "Verbo - Gramática: Palavra que designa ação, estado, qualidade ou existência de pessoa, animal ou coisa." Vamos entender bem alguns conceitos. Para isso, responda rápido? O que todo mundo tem e até o nada tem? Resposta: um nome. E toda palavra usada para dar nome a um ser, objeto, ação, qualidade ou estado é um substantivo. Conhecendo essas classes de palavras, podemos formar uma série infinita de paradigmas. Quer ver como? substantivo (sujeito) Gatos Crianças Pedro verbo (predicado) odeiam fazem ama substantivo (complemento) ratos. bagunça. Maria. Usando esses paradigmas simples, com apenas duas classes de palavras, você pode criar um texto. Logicamente será um texto limitado, mas você poderá dar seu recado ou contar sua história tranquilamente. Não teremos uma obra prima literária digna de elogios, porque resultará em algo mais ou menos parecido com isto: Pedro e Maria Pedro ama Maria. Maria gosta de Pedro. Pedro mandou flores. Maria recebeu flores. Maria aprecia flores. Ao escrever dessa forma, você percebe que uma das primeiras coisas que incomodam e limitam a elaboração do texto é necessidade de ficar repetindo nomes. Pedro aparece três vezes. Maria aparece quatro vezes. Flores aparece três vezes. Tudo isso num trecho muito curto. Como lidar com isso? É simples! Basta usar outra classe de palavras, os pronomes, cuja função principal é justamente a de substituir os nomes. Vamos consultar nosso dicionário para saber um pouco mais sobre o assunto! Pronome - Gramática: palavra que substitui o substantivo, ou que o acompanha para tornar-lhe claro o significado. Essas classes de palavras são matéria do primeiro grau e com certeza você deve já deve tê-las estudado ou ainda vai estudar. Quando isso acontecer, fique atento às explicações de seu professor de gramática, pois o conhecimento desse assunto é muito importante para o desenvolvimento de sua redação. Isso nos leva a outra providência que será sempre muito útil para você, ao elaborar suas redações. Tanto quanto ter sempre consigo um dicionário, é da máxima importância que você tenha também uma gramática ou reúna seus livros escolares que tratam do assunto, para poder consultá-los sempre que necessário. Com o passar do tempo e a evolução dos seus estudos, você verá que conhecer a gramática não é tão difícil assim. Empregá-la corretamente desde o princípio do seu aprendizado vai tornar suas redações futuras uma tarefa cada vez mais fácil. Sabendo agora que o pronome substitui o nome, podemos usá-los para melhorar o nosso texto inicial. Vamos ver como fica? Pedro e Maria Pedro ama Maria. Ela gosta dele. Pedro mandou flores. Ela as recebeu. Maria aprecia flores. As repetições diminuíram, mas ainda surgem no texto. Essas repetições indicam um estilo pobre e um vocabulário limitado. Como você já tem um vocabulário razoável e quer enriquecer seu estilo, você pode substituir nomes por pronomes, mas pode substituir as palavras por sinônimos ou que levem ao mesmo significado. Entendeu isso? Pedro pode ser um jovem, um homem, um rapaz, um garoto, um aluno, um professor ou outro nome que você queira atribuir a ele. Com Maria acontece a mesma coisa. Ela pode ser uma jovem, uma moça, uma mulher, uma namorada, uma noiva, uma esposa ou outra coisa. As flores podem ser margaridas, rosas, cravos, violetas ou qualquer outra. Com isso em mente, vamos enriquecer nosso texto? Pedro e Maria Pedro ama Maria. A jovem gosta dele. O rapaz mandou rosas. A garota recebeu-as. Ela aprecia flores. Leia o trecho da forma como foi escrita inicialmente. Agora releia o texto acima. Percebeu a diferença entre os dois? O segundo é muito mais rico e agradável, sem repetições que o tornam mecânico e sem beleza. Mas... O que é mais importante! Os dois dizem a mesma coisa! Um de um modo rudimentar, outro com certo estilo. Assim, nossos paradigmas iniciais podem ser ampliados. Poderemos ter: Sujeito Substantivo/pronome Sinônimo Predicado Verbo Sinônimo Complemento Substantivo/pronome Sinônimo A língua portuguesa é muito rica e tem outras classes de palavras que podem vir se juntar aos nossos paradigmas, tornando-os ainda mais expressivos. Quando você pensa numa flor, automaticamente vem a sua mente algumas qualidades ou atributos comuns a todas as flores, como o colorido, o perfume, a beleza e coisas assim. Quando você fala de uma pessoa, lembra-se de suas qualidades e defeitos. Como fazemos para destacar esses aspectos? Fácil! Acho que você já deve ter se lembrado de uma classe de palavra capaz de proporcionar isso, não é? São os adjetivos! Vamos ver o que sobre isso encontramos no dicionário Aurélio Eletrônico! Adjetivo - Gramática: palavra que caracteriza os seres ou os objetos nomeados pelo substantivo, indicando-lhes uma qualidade, caráter, modo de ser ou estado; p. ex.: pessoa caridosa, mulher honesta, boa casa, céu nublado. Lembra-se dos adjetivos? Que tal usar alguns deles para enriquecer nosso texto e treinarmos um pouco? Nossa redação poderia ficar assim, por exemplo: Pedro e Maria Pedro ama Maria. A linda jovem gosta dele. O simpático rapaz mandou rosas sem espinho. A adorável garota recebeu-as. Ela aprecia flores perfumadas. O que achou agora? Não ficou um texto mais rico e significativo? Estamos acrescentando detalhes que permitem ao leitor formar as imagens contidas nessa pequena história. Você se lembra do texto sobre o velho, no capítulo anterior? Detalhes importantes foram acrescentados sobre ele com simples adjetivos, uma classe de palavras muito útil, mas muito perigosa também, principalmente quando o autor se deixa levar pela empolgação e chega ao exagero. Esse é um risco que você não deve correr, procurando desde o princípio policiar-se e apenas utilizar aqueles adjetivos que são realmente importantes e necessários para transmitir as imagens que você deseja. Se não fizer isso, pode acabar escrevendo alguma coisa parecida com isto: Pedro e Maria O belo e maravilhoso Pedro ama a simpática e atraente Maria. A linda e delicada jovem gosta dele. O imprevisível e galanteador rapaz mandou rubras rosas perfumadas. A estupefata e maravilhada garota recebeu-as. Ela aprecia flores delicadas e odorosas. Nosso texto não ficou parecido com aquele do "preclaro bacharel"? Ficou rebuscado e piegas? Antes de concordar, consulte o dicionário para saber o que significa exatamente a palavra piegas. Este é um hábito que você deve manter sempre em ação. Você percebeu que seu texto pode ser enriquecido com o uso adequado dos adjetivos, que embelezam os substantivos. E quanto aos verbos? E se quisermos ressaltar uma ação ou uma qualidade, o que podemos fazer? Há algum tipo de adjetivo para ser usado com o verbo? Bem, certamente temos uma classe de palavras capaz de fazer isso. Você já sabe qual é? Falou advérbio? Acertou! É uma classe de palavras muito poderosa, pois não se limita a modificar apenas um verbo. Ela vai além disso. Para descobrir até onde, vamos ver o que diz o nosso dicionário Aurélio. Advérbio - Gramática: palavra invariável que modifica um verbo, um adjetivo ou outro advérbio, exprimindo circunstância de tempo, lugar, modo, dúvida, etc. Antes de continuarmos, preste atenção a um segredo simples que vai livrar você de muitos problemas no futuro. Na definição de advérbio vemos uma expressão interessante: palavra invariável. Sabe o que isso significa? Exatamente! Trata-se de uma palavra que não varia, não tem feminino nem masculino, singular nem plural. Você não diz: elas são muitas bonitas, ou eles são muitos bonitos. Diz apenas elas são muito bonitas ou eles são muito bonitos. Ao acrescentarmos advérbios ao nosso texto, não apenas modificando os verbos, mas também os adjetivos, poderemos enriquecer ainda mais o nosso texto, ampliando o alcance de nossa história. Quer ver como isso pode acontecer? Pedro e Maria Pedro ama muito Maria. A linda jovem gosta demais dele. O simpático rapaz mandou ontem rosas sem espinho. A adorável garota recebeu-as alegremente. Ela sempre aprecia flores perfumadas. O que achou? Não ficou melhor, muito mais rico, mais cheio de detalhes, permitindo que as imagens sugeridas sejam mais completas? Isso significa que o estilo empregado no texto evoluiu, agregando novos conhecimentos. O paradigma ou modelo é o mesmo do início. Todos eles dizem a mesma coisa, mas a forma como isso é feita é que faz diferença. O nosso texto experimental, como você pode observar, é todo construído com períodos simples. Há até um nome para esse tipo de oração. Ela é chamada de oração absoluta. Você pode escrever um texto inteiro com orações absolutas. Mas... se quiser enriquecer seu estilo, poderá uni-las. O que não é difícil. Elas podem se manter independentes, sendo chamadas de assindéticas. Nesses casos, é fácil reconhecêlas: são separadas por vírgula, como no exemplo a seguir, baseado no texto com que estamos trabalhando: Pedro e Maria Pedro ama muito Maria, a linda jovem gosta demais dele. O simpático rapaz mandou ontem rosas sem espinho, a surpresa garota recebeu-as alegremente, ela sempre aprecia flores perfumadas. O texto continua legível. Dá para entender o sentido, mas ficou um tanto estranho, você não achou? Nós podemos melhorar, usando agora orações unidas ou coordenadas entre si. Esse tipo de oração é chamado de coordenada sindética. Coordenada é uma palavra derivada do verbo coordenar. Para entender melhor esse processo, vamos ver no dicionário o que significa coordenar? Coordenar - Verbo: 1. Dispor segundo certa ordem e método; organizar; arranjar. 2. Ligar, ajuntar por coordenação. Um detalhe importante no sentido do verbo coordenar é o de exigir certa ordem ou método. Assim, ao coordenar orações, é preciso que você faça isso seguindo uma determinada ordem para que o sentido não seja prejudicado. Ao unir orações coordenadas, você pode ordená-las conforme o sentido delas. Pode somar ideias semelhantes, pode juntar ideias opostas, pode alternar ideias, pode apresentar uma conclusão ou pode usar uma oração para explicar a outra. Cada um desses tipos de orações recebe um nome. Se você ainda não estudou isso nas aulas de língua portuguesa, logo o fará. Caso já o tenha feito, consulte sua gramática para reavivar a memória. De qualquer forma, essas orações coordenadas são chamadas de: Aditiva: Como o próprio nome já diz, essa oração acrescenta uma ideia semelhante à oração anterior. Por exemplo: Pedro ama muito Maria e a linda jovem gosta demais dele. Outro exemplo: Não brigam nem discutem jamais. Adversativa: Aqui o sentido é diferente. A ideia é adversária, contrária ou oposta à da oração anterior. Por exemplo: Pedro ama muito Maria, mas a linda jovem não gosta mais dele. Ou: Não brigam, mas discutem sempre. Alternativa: Este tipo de oração revela uma alternativa em relação à oração anterior. Exemplo: Brigam ou discutem o tempo todo. Outro exemplo: Ora ele manda flores, ora manda presentes. Conclusiva: A segunda oração apresenta uma conclusão em relação à primeira. Exemplificando: Pedro está infeliz, pois sofre. Ou: Maria é mulher, logo é mais sensível. Explicativa: Finalmente, como o próprio nome já diz, a segunda oração é uma explicação da primeira. Quer um exemplo? Não fale mal de Maria, porque Pedro gosta muito dela. Ou então: Pedro mandou flores, porque está apaixonado. Você percebeu que, do início do capítulo até agora, já reuniu elementos capazes de transformar um texto rústico numa peça literária significativa? Vamos ver o que poderemos fazer, acrescentando os conhecimentos agora adquiridos sobre as orações coordenadas. Como ficaria nosso texto agora? Eu faria algo assim! Pedro e Maria Pedro ama muito Maria e a linda jovem gosta demais dele. O simpático rapaz ora manda rosas sem espinho, ora remete presentes. A surpresa garota recebe-as alegremente, pois aprecia flores perfumadas e surpresas. Isso é muito diferente do texto original, não concorda? Já que estamos nesse terreno, vamos avançar só um pouquinho mais. Você se lembra como os substantivos são importantes para formar as orações? Percebeu como os adjetivos e os advérbios acrescentam riqueza e significado ao texto? Ao usar um substantivo, um adjetivo ou um advérbio, normalmente você usa uma palavra ou uma expressão. Se quiser sofisticar um pouco mais, você pode usar uma oração ao invés de uma palavra. Nesses casos, você estará usando orações subordinadas substantivas, adjetivas ou adverbiais. É fácil de entender, não? Vejamos alguns exemplos: Ao invés de dizer Pedro ama muito Maria e a bela jovem gosta demais dele, você pode dizer Pedro ama muito Maria, que é uma bela jovem. Neste caso, usei uma oração subordinada adjetiva para qualificar Maria. Conhecendo essa matéria — a subordinação — você estará acrescentando elementos novos e importantes ao seu conhecimento e isso seguramente tornará mais fácil seu trabalho na elaboração de redações futuramente. Como esse é um assunto que possivelmente você ainda não tenha estudado, espere o momento oportuno para tirar todas as suas dúvidas com seu professor e explorar ao máximo esse poderoso recurso. Se já o estudou, pegue sua gramática e faça uma revisão do assunto, sempre pensando na aplicação prática dessas preciosas informações. Além disso, procure conhecer ou revisar conhecimentos a respeito das outras classes de palavras e sobre os demais termos da oração. Após este capítulo, você já poderá criar períodos compostos, juntando orações. Com isso, terá novos paradigmas. Digamos agora que tudo isso que você aprendeu são ferramentas que podem ser usadas na construção de um texto. Vamos dar um modelo e você vai elaborar uma redação. O tema é simples: uma rosa. Para construir o texto, preencha os espaços em branco antes e depois das palavras em destaque, usando substantivos e verbos, juntando adjetivos e advérbios para enriquecer o texto. Uma rosa e mas pois logo nem e Como ficou seu texto? Quer saber como eu faria? Eu pensaria em algo mais ou menos assim: Uma rosa Uma rosa é um presente delicado e as mulheres gostam disso. Dê uma rosa ao seu amor, mas faça disso um momento especial. Seja gentil, pois isso conta muito. Agrade, logo será agradado também. Nem você esquecerá esse momento nem a outra pessoa o fará. Dê uma rosa e receberá amor em troca. No começo isso pode parecer difícil. Com a prática, isso vai se tornar cada vez mais fácil. Para ajudar você nessa tarefa, use o modelo acima para escrever sobre os seguintes assuntos: A rua onde moro Uma criança Meus amigos O programa do Ratinho Meu maior medo O mar Procure aplicar todos os conhecimentos já adquiridos e, se for preciso, comece escrevendo o texto da forma rudimentar, como fizemos neste capítulo, depois vá fazendo as alterações até chegar à última etapa. É claro que o exercício visa apenas desenvolver suas habilidades e o produto deles não pode ser considerado uma redação acabada. Isso porque precisamos observar alguns aspectos muito importantes de toda redação. Ao partir de um tema e desenvolver uma dissertação completa, por exemplo, precisamos pensar numa estrutura um pouco mais complexa, mas sem oferecer maiores dificuldades, desde que você a entenda corretamente. Estamos falando da estrutura básica de todas as redações: início, meio e fim, ou apresentação, desenvolvimento e conclusão, ou isso dito em outras palavras. Por fim, vamos considerar como redação a descrição, a narração, a dissertação e a correspondência. Tudo bem para você? Então relaxe! Só vamos falar sobre isso no próximo capítulo. Enquanto isso, leia o conto que apresento em seguida, depois treine, usando-o como paradigma e reescrevendo a história algumas vezes. Gatos Miando na Noite Pai — Por que esses gatos miam toda noite? Filhinho — De certo eles sentem frio ou trazem alimentos para os gatinhos e os estão procurando. Pai — Então por que os gatinhos também miam? Filhinho — Por certo eles sentem saudade de sua mamãe e de seu papai. Talvez eles tenham ido buscar alimentos e só voltem à noite. Pai — Os gatos podem miar de alegria e de tristeza. Filhinho — Alegria quando acham alimento e tristeza quando não encontram? Pai — Acho que sim. Se eles voltam sem alimentos à noite, os gatinhos morrem de fome. Filhinho — Então gato é que nem boia-fria? (L P Baçan, A Cidade dos Braços Mortos) Antes de iniciar seu trabalho, faça uma pesquisa a respeito dos boias-frias. Vamos treinar um pouco com poemas? Faça o mesmo com eles, usando o modelo de cada um para fazer seus próprios poemas. Rendição Sem clamor sem choro sem pirraça Apenas estático no tremor de sua passagem: rosa passageira no meu jardim de brisa. TIPOS DE REDAÇÃO Vamos aprender um pouco mais sobre os tipos de redação, citados no capítulo anterior. A Descrição Como sempre recomendamos, vamos verificar primeiro o significado desta palavra no dicionário Aurélio Eletrônico. Temos: Descrição: 1. Ato ou efeito de descrever. 2. Exposição circunstanciada feita pela palavra falada ou escrita. Enumeração, relação. Ficou claro? Descrever é expor ou detalhar, usando as palavras. Podemos fazer isso em relação a uma cena, a um ser, a um objeto, a um cenário, a uma ação ou a qualquer outra circunstância. Mas... Por onde começar? Boa pergunta! A maneira mais fácil de começar é explorar os cinco sentidos — visão, audição, tato, olfato e paladar —, seguindo um determinado paradigma ou modelo. Tendo isso em mente, você será capaz de fazer qualquer tipo de descrição e isso não é uma afirmação gratuita: é um fato. Vamos imaginar o seguinte paradigma para a descrição de uma cena. Imaginemos um campo cheio de flores perfumadas e frutas, com árvores, pássaros e tudo o mais proporcionado pela natureza. Para começar, vamos formular algumas perguntas que poderão ser as mesmas em todas as situações. 1 - Como cheguei a este local ou a este ponto? 2 - O que estou vendo? (à direita, à esquerda, no alto, no centro, embaixo, próximo, afastado, ao longe, no céu, no mar, em primeiro plano, em segundo plano...) 3 - O que estou ouvindo? 4 - Que sensações (tato) teria se tocasse? (a flor, a grama, a fruta...) 5 - Que cheiros ou perfumes estou sentindo? 6 - Que sabores eu posso sentir? 7 - Que impressão geral isso provoca em mim? 8 - Como eu resumiria isso? Ao responder essas perguntas, seja original e criativo, fugindo do lugar comum e do óbvio. Procure fazer uma descrição viva, animada e realista, sem ater-se aos aspectos negativos nem ao vulgar. Vamos fazer um exercício? Imagine a cena do campo, com árvores, flores, pássaros, perfume, ruídos e tudo o mais que puder se lembrar. Depois siga o roteiro, respondendo às perguntas. Para facilitar, coloque cada resposta num novo parágrafo. Mãos à obra! Já está pronto? Leia e releia sua descrição, eliminando as repetições, acrescentando aqui um adjetivo significativo, retirando outro dali, pondo um advérbio para esclarecer ou modificar e... pronto! Você tem uma redação com início, meio e fim. Sabe como? A resposta à questão 1 é a apresentação, introdução, abertura ou início. As respostas às questões de 2 a 7 são o desenvolvimento ou o meio. A resposta à pergunta 8 é o fim, encerramento, fechamento ou conclusão. Simples, não? Quanto mais você praticar, mais fácil vai ficar seu trabalho. Com certeza você vai tirar algumas perguntas e acrescentar outras, formando seus próprios paradigmas, seus modelos pessoais que acabarão se tornando sua marca registrada, identificando seu estilo. Conheça agora outros paradigmas que poderão ser usados com o mesmo fim. A questão será apenas escolher em qual deles você fica mais à vontade para escrever. Para Descrever uma Pessoa 1º Parágrafo - INTRODUÇÃO Conte como conheceu essa pessoa, ou como chegou até ela, ou como ela entrou em sua vida. 2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO Descreva as características físicas dessa pessoa, como sua altura, seu peso, a cor de sua pele, sua idade, como são seus cabelos, como é o rosto dela, sua voz e roupas que veste. Trace seu perfil psicológico, abordando algum aspecto de seu modo de ser, sua personalidade, temperamento, caráter, preferências, inclinações, postura, projetos de vida, objetivos ou até mesmo um fato curioso atribuído a ela. 4º Parágrafo - CONCLUSÃO Finalize descrevendo que impressão essa pessoa provoca em você ou cite um aspecto ou detalhe que a torna única ou que a faz inesquecível. Para Descrever um Objeto 1º Parágrafo - INTRODUÇÃO Comece dizendo o que lhe chamou a atenção nesse objeto. 2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO Detalhe seu formato. Compare-o com figuras geométricas ou com objetos da natureza. Fale de seu tamanho, largura, comprimento e altura. Descreva o material de que é feito, peso, cor, brilho, textura e impressões que provoca à visão e ao tato. 4º Parágrafo - CONCLUSÃO Finalize comentando a utilidade desse objeto ou ressalte algum aspecto que o torna especial para você, para alguém ou para todos, indistintamente. Para Descrever um Ambiente 1º Parágrafo - INTRODUÇÃO Diga como chegou até esse local. 2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO Fale sobre os detalhes da estrutura do ambiente, destacando paredes, janelas, portas, chão, teto, luminosidade, cheiros e outras impressões. Relacione os objetos ali existentes, como móveis, aparelhos elétricos, decoração e outros aspectos relevantes. Comente sobre as pessoas ali presentes, o que fazem, como agem, como são, como estão vestidas. 4º Parágrafo - CONCLUSÃO Finalize descrevendo a atmosfera do ambiente e as sensações que ela provoca em você. Para Descrever uma Paisagem 1º Parágrafo - INTRODUÇÃO Localize essa paisagem ou faça uma referência de caráter geral a respeito dela. 2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO Divida a paisagem e explique o que vê do mais perto para o mais longe ou vice-versa. Se preferir, pode fazê-lo movendo o foco de observação da direita para a esquerda ou ao contrário. Use os cinco sentidos para captar todos os detalhes desse cenário. 4º Parágrafo - CONCLUSÃO Conclua descrevendo a impressão que a paisagem causou em você ou que poderá causar em quem a contemplar. Ficou mais fácil agora fazer uma descrição? Então mãos à obra. Faça um exemplo de cada um dos modelos apresentados, depois releia e corrija até ficar satisfeito com o resultado. Depois disso, vamos passar ao próximo tipo de redação. A Narração. Para não fugir à regra, vamos verificar o significado no dicionário Aurélio Eletrônico: Narração: 1. Ato ou efeito de narrar. 2. Exposição escrita ou oral de um fato; narrativa. Parece que não ficou muito claro, não? Isso acontece. Vamos buscar o sentido de narrar e depois o de narrativa. Narrar: 1. Expor minuciosamente. 2. Expor, contar, relatar; referir, dizer. 3. Pôr em memória; registrar; historiar. Narrativa: 1. A maneira de narrar. 2. Narração. 3. Conto, história. Agora clareou? Para ficar ainda mais claro, narrar é relatar um fato, real ou imaginário, seguindo um tempo cronológico ou um tempo psicológico. Essa narrativa é feita por um narrador, a partir de um determinado ponto de vista: ele pode ser o protagonista da história, um observador neutro, alguém que participou do acontecimento de forma secundária ou ainda um espectador que aparentemente esteve presente em todos os lugares, conhece todos os personagens, suas ideias e sentimentos. Na narração, os personagens podem ser apresentados diretamente, descrevendo-os, ou de forma indireta, por suas ações e comportamentos. Lembra-se do texto do velho que vimos anteriormente? A sua descrição não é feita diretamente, mas por detalhes de suas ações e do seu comportamento. Finalmente, os diálogos ou as falas, muito comuns nos textos narrativos, podem ser apresentados de três formas: 1 - Discurso direto — o narrador transcreve de forma exata a fala do personagem. Exemplo: Mário disse: — Jamais farei isso de novo! 2 - Discurso indireto — o narrador conta o que o personagem disse, usando verbos chamados dicendi ou de elocução, que indicam quem está com a palavra, como: "disse", "perguntou" e "afirmou", "retrucou". Quer um exemplo? Mário disse que jamais faria isso de novo. 3 - Discurso indireto livre — o narrador registra o monólogo interior das personagens. Por exemplo: Mário pensava. Jamais faria isso de novo. Por sua vez, José pensava consigo mesmo. Como ele espera que eu acredite nele? Ou: Como ele espera que eu acredite nele? Jamais fez nada certo e nunca cumpriu uma promessa. É de dar nó em pingo de água e de passar rasteira em minhoca. Além desses, há outros elementos, como a sucessão de acontecimentos, chamada de enredo. Este pode ser linear, seguindo a sucessão cronológica dos fatos, ou não linear, com cortes na sequência dos acontecimentos. Outro detalhe importante numa narração pode ser o cenário, que pode ser um ponto geográfico real ou imaginário. Finalmente, um texto narrativo pode ser dividido em exposição, complicação, clímax e desfecho. Tudo isso, posto junto, deve manter certa unidade, isto é, uma parte é ligada à outra de forma dinâmica. Para conseguir isso, evite incluir longas digressões, pouco interessantes ou estranhas à ação. Evite também alongar-se em descrições nem em reflexões. Restrinja-se ao que for absolutamente necessário para o desenvolvimento do assunto, fazendo com que as ações fluam de modo natural. Para terminar, há tipos diferentes de narrações. Narração Histórica: é uma exposição de fatos tal como aconteceram, verdadeiros e passíveis de comprovação. Conto: é uma pequena narrativa fictícia. Romance: obra de imaginação, em prosa, baseada ou não em fatos reais, podendo reunir gêneros diferentes, como a poesia, o conto, a crítica, a filosofia, a história e a ciência social. Nele o autor relata acontecimentos pouco comuns, mas verossímeis, introduzindo situações particulares, movimentos, ações e emoções. Fábula: narrativa curta, contendo uma lição moral sob o véu da ficção, diferindo do conto, pois seu objetivo é o ensinamento moral e não apenas o desfecho. Novela: Narração mais extensa que o conto e menor que o romance. É bem possível que raramente você seja obrigado a escrever uma narração, da mesma forma que uma descrição. Na maior parte das vezes, seus trabalhos escolares exigirão que você elabore uma dissertação, cuja estrutura e detalhes veremos mais à frente. Mesmo assim, caso você goste de escrever e de contar histórias, será interessante pôr essas histórias no papel. Para isso, pode usar o paradigma a seguir, adaptando-o conforme a sua conveniência ou conforme o seu estilo. Vejamos! Narração 1º Parágrafo - EXPOSIÇÃO Faça uma breve introdução ao assunto. Você pode comentar sobre o que vai ser narrado, determinando tempo e cenário. Pode explicar a causa dos fatos e mesmo apresentar as personagens. 2º e 3º Parágrafos - ENREDO Detalhe como tudo aconteceu. Use diálogos, reproduzindo as falas dos personagens. Procure ser criativo. 4º Parágrafo - DESFECHO Relate como tudo terminou ou quais foram as suas consequências ou como isso pode ser interpretado. Tente criar suspense e surpreender no final. A Dissertação Vamos ao Aurélio Eletrônico: Dissertação: 1. Exposição desenvolvida, escrita ou oral, de matéria doutrinária, científica ou artística. 2. Exposição, escrita ou oral, acerca de um ponto das matérias estudadas, que os estudantes apresentam aos professores. 3. Discurso; conferência; preleção. Entendeu? Dissertação é uma exposição de ideias a respeito de um tema, com base em raciocínios e argumentações, defendendo um argumento, o que exige coerência entre as ideias e a clareza na forma de expressão. Pode ser dividida em: 1 - Introdução ou apresentação do tema. 2 - Desenvolvimento ou exposição dos argumentos e das ideias sobre o assunto, fundamentando-os com fatos, exemplos, testemunhos e provas do que se quer demonstrar. 3 - Conclusão ou desfecho. Considerando que a dissertação será sempre muito exigida, tanto nos seus trabalhos escolares como no vestibular ou nos concursos públicos, vamos nos deter um pouco mais em seus aspectos mais importantes. Introdução Ao iniciar sua dissertação, você deve procurar atrair a atenção e a simpatia do leitor, preparando-o para que compreenda o assunto. Para isso, você deve entender exatamente o que está sendo solicitado no tema de sua dissertação, para não fugir ao assunto. Para isso, seja breve e simples, indo direto ao assunto, evitando ficar dando voltas, naquilo que normalmente chamamos de "enchimento de linguiça". Evite também histórias ou anedotas. O Desenvolvimento Este é o aspecto principal da dissertação, em que você manifesta plenamente a ideia geral ou o fato principal. Para isso, fique atento a três aspectos muito importantes, que são: Unidade: os pensamentos e argumentos expostos devem ter nexo e ligação entre si, sempre voltados para o tema proposto. Não basta amontoar linhas e parágrafos. É preciso que haja coerência entre eles. Jamais pense numa redação como um amontoado de linhas ou uma sequência de parágrafos, sem ligações internas nem compromissos e coerência entre elas. Movimento e progressão: tudo que for incluído em sua dissertação tem que ser relevante e estar ligado ao tema proposto. Deverão ser expostos de uma forma natural, fazendo com que as ideias evoluam até o arremate final. Para isso, dois cuidados principais devem ser tomados. Evite uma evolução muito rápida ou então muito lenta e arrastada. Para evitar a primeira, acrescente pequenas observações, citações (lembra que falamos delas e de sua importância?) relatos, fatos ou informações. Para não cair na armadilha da segunda, fuja das reflexões profundas e das digressões. Interesse: consiste em manter o espírito do leitor em constante expectativa, evitando a monotonia ou tornando o desenvolvimento e a conclusão facilmente presumíveis. Deve ser sempre crescente e estar habilmente distribuído em toda a composição. A conclusão É o final da dissertação e pode conter uma recapitulação do que foi desenvolvido, terminando com uma observação que produza uma última impressão favorável no espírito do leitor. Deve ser breve, persuadir e convencer. Posto dessa forma, podemos elaborar agora um paradigma para as dissertações. Dissertação 1º Parágrafo - INTRODUÇÃO Apresente o tema com dois ou três argumentos significativos em relação a ele. 2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO Desenvolva os argumentos apresentados, usando as informações que tenha sobre o tema, justificando-as ou comprovando-as. 4º Parágrafo - CONCLUSÃO Resuma suas argumentações e apresente conclusão final com base em sua argumentação. uma Lembre-se que suas dissertações podem partir de paradigmas, como nos exemplos que vimos ao longo de todo o livro até aqui. Você pode adotar um modelo de um escritor já consolidado ou criar seu próprio modelo. Se ainda acha isso difícil, tenha calma. Você vai aprender. Correspondência Já vimos, no início, um modelo de correspondência que pode ser usado em seus contatos com amigos e parentes. Quando tiver que se relacionar com autoridades, instituições, empresas e isso exigir uma correspondência mais formal, você terá que usar modelos específicos de correspondência comercial. Já apresentamos um modelo de requerimento e outro de recibo. Novos modelos serão acrescentados num capítulo final, que você poderá consultar e copiar, sempre que precisar. Isso porque a linguagem usada na correspondência comercial é específica, existindo modelos para praticamente todos os casos. No seu emprego, criatividade e originalidade ficam prejudicadas em função da objetividade e da brevidade. Ofícios, requerimentos, pedidos, referências, memorandos e muitos outros exigem de seu redator conhecimento do modelo específico e das fórmulas comumente empregadas para cada caso. Para exemplificar isso e simplificar seu aprendizado, incluiremos um capítulo com modelos. E para não fugir à regra, vamos consultar dicionário Aurélio para entendermos o significado da palavra. Correspondência: 1. Ato ou efeito de corresponder (se). 2. Troca de cartas, bilhetes ou telegramas. 3. Correio. Artigo de jornal em forma de carta aos redatores; carta a um jornal. Vamos praticar? Na sequência vamos apresentar uma série de temas para você desenvolver. Para que as diferenças fiquem bem acentuadas, principalmente em relação à descrição, à narração e à dissertação, para cada um dos temas propostos, desenvolva uma redação específica. Cada tema será, então, desenvolvido na forma de uma descrição, de uma narração e de uma dissertação. Leia e releia os aspectos que diferenciam uma da outra. Se tiver alguma dúvida, você pode saná-la pela Internet, visitando meu endereço. Infelizmente não existe outra forma de aprender a escrever, a não ser escrevendo, da mesma forma que você não pode aprender a andar de bicicleta por correspondência, sem usar a bicicleta. Pratique a partir de agora, pois no futuro (vestibular ou concurso público) isso lhe será exigido. Se praticar agora, sempre usando seu dicionário e sua gramática, no futuro, quando for se preparar para um passo decisivo em sua vida, poderá dedicar uma atenção maior às outras matérias, uma vez que a redação não será um fantasma que virá para assombrar sua vida. Concorda comigo? Então mãos à obra e divirta-se com os temas apresentados. Habitue-se a não escolhê-los, mas escrever sobre o que aparecer. No vestibular isso será muito importante. TEMAS PARA REDAÇÃO Um tipo interessante A criança e seu brinquedo Um homem apressado Amor de mãe A cidade vista do alto Violência Onde estão nossos heróis? Quem paga a conta do progresso? Minha escola é um caminho Como vejo o meu futuro O que significa crescer O que já aprendi com meus pais Onde dorme aquela criança? ESTRUTURA DO TEXTO Vamos fazer uma pausa neste ponto. Quero lhe mostrar uma porção de sugestões e dicas que você poderá aplicar em suas futuras redações. Se quiser, pegue uma das redações do capítulo anterior e use nela as sugestões que forem possíveis. O objetivo é melhorar seu estilo e fornecer novos paradigmas, facilitando seu trabalho. Antes disso, porém, vamos falar um pouco sobre aprendizado. Muita gente ainda acredita que escrever é um dom e que apenas poucos privilegiados o recebem. Nada mais falso do que isso. Todos nascemos com o dom de fazer tudo aquilo que desejarmos fazer. Basta nos empenharmos naquilo que escolhermos e desenvolvermos ao máximo nossas habilidades. Todos nós temos imaginação. Todos nós somos criativos. Se nos disciplinarmos e investirmos em nós mesmos, seguramente alcançaremos todos os nossos objetivos. Isso não é apenas um puro e simples blá-blá-blá, mas resultado das pesquisas científicas que vêm sendo desenvolvidas nos últimos tempos sobre a capacidade do cérebro. Em 350 antes de Cristo, Aristóteles, o célebre filósofo grego, acreditava que o cérebro nada tinha a ver com o pensamento, que viria do coração. De lá para cá, muita coisa foi descoberta sobre o cérebro e seu funcionamento e muita coisa mais ainda precisa ser descoberta. Entre as últimas novidades a respeito do cérebro, sabese hoje que o cérebro melhora seu desempenho ao longo da vida, desde que seja permanentemente treinado e exercitado com atividades intelectuais. Entre elas são recomendadas o xadrez e a leitura. Trata-se de um depósito de informações fantástico, que melhora quanto mais exigido ele for. Um psiquiatra brasileiro, num experimento, ligou eletrodos na cabeça de uma senhora de 52 anos, medindo em seguida o fluxo sanguíneo em seu cérebro. Na sequência do teste, pediu que ela memorizasse três textos, começando com um simples, um médio e um mais complexo. No primeiro, o fluxo sanguíneo aumentou um pouco, no segundo a mudança já foi mais visível e no terceiro o fluxo foi intenso, aparecendo visivelmente no aparelho medidor. Finalmente, já foi comprovado cientificamente que 30% da nossa capacidade intelectual vem de atributos inatos do cérebro. Isso quer dizer que o dom é comum a todos nós. Já o restante 70% de nossa capacidade intelectual é fruto de aprendizado, treinamento e desenvolvimento. Percebeu o significado disso? Todos temos dom para tudo. Nossas preferências pessoais, frutos de nossas observações, experiências e educação, acabam nos direcionando para esta ou aquela atividade em particular. Mesmo que tenhamos o dom para esta ou aquela atividade, vamos ter que aprendê-la e desenvolver nossas habilidades para nos tornamos cada vez melhores nela. É por isso que eu sempre digo e repito: você pode aprender a escrever. Se quiser! Se não quiser, não existe fórmula milagrosa que o faça aprender. E você só aprenderá a escrever, escrevendo. Entendido? Então vamos ao que interessa. Aqui temos uma série de dicas e sugestões para você usar em suas redações. Vamos começar isso falando a respeito de estruturas do texto, para você entender ainda melhor o assunto. Vamos lá! ESTRUTURA DO TEXTO 1. Narração Vamos supor que você tenha que escrever uma narração. Se você tiver um planejamento, um paradigma, uma estrutura já feita para esse texto, tudo será mais fácil. Experimente fazer o seguinte: A - Descrição do cenário Comece fazendo uma descrição do cenário. Faça isso seguindo uma determinada direção: do céu para o chão, do chão para o céu, da direita para a esquerda ou vice-versa. B - Apresentação do personagem Fale sobre o personagem, descrevendo-o física ou psicologicamente. Faça isso com sutileza. Você não precisa dizer que ele é magro, por exemplo. Diga, sugerindo isso, "sua sombra magra"... C - Ligação do personagem com o cenário Explique o que o personagem faz ali, como chegou, o que busca, para onde vai. Solte a sua imaginação. D - Finalização Temos aqui um momento importante, quando você finaliza uma cena e, ao mesmo tempo, prepara ou sugere outra. É mais ou menos como num filme, dividido em partes. Procure, aqui, criar algum impacto ou um pouco de suspense para manter o leitor atento à sequência ou satisfeito com o que foi apresentado. Observe que cada item significará um novo parágrafo no texto. Quer experimentar? Pode fazer isso sozinho ou precisa de ajuda? Quer um exemplo? Vejamos, então, o que pode ser feito a respeito. Medo da Chuva Um fio de água corria no leito seco do rio. Além da margem pedregosa, o caminho estendia-se em uma linha quase reta. Uma tênue nuvem de poeira pairava acima da estrada. Rápidas lufadas de vento formavam espirais e caracóis transparentes, que se desfaziam com a mesma rapidez com que haviam surgido. Ao longe, os passos miúdos e incertos deixavam marcas suaves na poeira, como se os pés de um anjo houvessem tocado levemente a estrada. Um vulto feminino avançava, como se o leito do rio fosse sua meta final. As mesmas lufadas de vento que agitavam a poeira brincavam com seus cabelos, agitando-os. Os olhos azuis apertavamse, tentando enxergar o caminho à frente. Ela sabia que teria de passar mais uma vez pelo leito do rio. Sempre fazia isso e sempre sentia o mesmo medo. À medida que se aproximava da margem, seu coração ia se apertando e os passos tornavam-se ainda mais miúdos na poeira. Parou junto ao fio de água. Fechou os olhos. Lembrou-se de outro dia. O coração bateu forte. Ela sabia que não chovia nas cabeceiras do rio, mas ficou ali, trêmula e assustada, esperando a tromba d'água arrastá-la de novo rio abaixo. Quando se tem um roteiro a seguir, as coisas ficam mais fáceis. Para seu governo, esse texto foi feito agora, seguindo o modelo. Não vou corrigi-lo nem retocá-lo. Vamos supor agora que você tenha de fazer uma narração, usando dois personagens. Como lidar com isso? Uma das melhores técnicas é usar o conflito de forças. Sabe por quê? Porque as narrativas são movidas a conflitos. Imagine uma cena de uma novela de televisão. A vilã da história está numa sala com o galã. A mocinha vai entrando, mas o galã não a viu. A vilã, muito esperta, abraça o mocinho, beijando-o ardentemente. A mocinha, ao ver aquilo, vira as costas e afasta-se. Para os dois fazerem as pazes vão demorar pelo menos uns dez capítulos. O conflito resultante daquele mal entendido vai manter todos em suspense, esperando o desfecho, o momento em que tudo vai se esclarecer e em que a vilã será punida por seu ato. Agora mude o foco e imagine a cena: Janete entra na sala, vê seu noivo e sua pior inimiga abraçados e beijando-se. Vai calmamente até eles, encarando-os como se nada tivesse acontecido. Ele diz: — Meu bem, essa maluca me abraçou e me beijou sem motivo. Janete responde: — Nem precisava me explicar, amor. Conheço essa jararaca e sei do que ela é capaz. Tenho certeza de que, no mesmo momento, você mudaria de canal, pois não havendo conflito, não há interesse nem suspense. Ao usar o conflito de forças você define quem será o protagonista da história e quem será o antagonista. A partir daí, é só explorar suas diferenças. Como? Quer um exemplo? Está bem! — Vou parti-lo ao meio — gritou Edson, com os punhos cerrados e o rosto crispado de raiva. — E você acha que isso vai adiantar alguma coisa? — respondeu Mário, abrindo os braços e encarando seu oponente com olhos calmos e serenos. Entendeu o que eu quis dizer? Então vejamos agora alguma coisa a respeito de... 2. Descrição Temos aqui um bom esquema para você fazer uma redação, descrevendo um imóvel: casa, escola, hospital ou qualquer outra coisa. Basta seguir o modelo e você fará um bom trabalho. Lembre-se sempre que cada item vai constituir um novo parágrafo. A - A localização do Imóvel Fale sobre a cidade e/ou o bairro e/ou a rua onde ele se localiza. Mencione como se faz para chegar lá, se há aspectos históricos ao redor ou detalhes dignos de nota. O imóvel pode estar localizado ao lado de um bosque, à beira de um rio, próximo de um morro, por exemplo. B - Aspectos Externos Descreva o estilo da construção, como está seu estado de conservação, se há detalhes dignos de nota, como as janelas trabalhadas, o telhado diferente ou algum tipo de grade ou portão. Descreve o jardim, se houver. C - Aspectos Internos Descreva cômodo por cômodo, como se estivesse entrando e passeando pelo interior do imóvel. Fale das paredes, janelas, portas, assoalho, forro e móveis. Informe se o barulho de fora incomoda, se há iluminação ou não. D - As Pessoas Há pessoas no imóvel? O que fazem? Como são? Como se comportam? Como vivem? Qual a ligação delas com o lugar. E - Conclusão Finalize a descrição com uma observação importante ou com uma comparação entre esse imóvel e outro. Faça com que o leitor sinta vontade de conhecer o local ou de jamais ter que entrar nele. Neste ponto ou ao longo da descrição, diga que emoções a visão lhe desperta, que detalhes impressionam, que perfume ou cheiro incomodou. Use os cinco sentidos para ilustrar sua descrição. O que me diz disso? Não fica mais fácil, tendo um roteiro a ser seguido? Então mãos à obra! Descreva uma casa de sua cidade ou de seu bairro. Escolha uma que tenha uma história ou que encerre algum acontecimento importante. Quer algumas dicas sobre a descrição? Tudo bem! Você manda e não pede! Há diversas maneiras de você enfocar uma descrição. Você pode usar uma delas no seu trabalho, alterná-las ou usar todas elas, se isso for necessário. Vejamos, então, que enfoques podemos dar em uma descrição: Enfoques Descritivos A - Enumeração descritiva de detalhes O nome pode parecer um pouco complicado, mas a tarefa é simples: basta enumerar os detalhes do que está descrevendo. Por exemplo: Aquela era uma sala estranha. Havia um aparador ao lado da janela, uma cômoda no centro e um guarda-roupa sem portas no canto direito. Varais cruzavam o aposento e neles estavam dependuradas toalhas, camisas, calças, roupas de criança, fraldas e uma porção de outras peças esquisitas. Nas paredes, alinhavam-se uma série inquietante de quadros, retratando cenas campestres, castelos antigos, motocicletas reluzentes, crianças de diversas idades e outras esquisitices. B - Semelhanças e Diferenças Descreva o que vê, traçando paralelos com coisas semelhanças ou apontando diferenças. Por exemplo: O vaso havia sido posto sobre um móvel isolado, como uma obra de arte em destaque num museu. Ninguém, porém, olharia para ele com prazer ou alegria, pois não se tratava de uma obra de arte nem de um objeto com elaborado senso estético. Na verdade, aquele vaso era uma aberração, uma esquisitice, um erro, possivelmente, de um ceramista descuidado. Tinha, no entanto, o poder de provocar um mórbido fascínio. C - Perguntas e Respostas Pode ser uma boa saída, quando falta imaginação. Cuide para que as respostas sejam coerentes e as perguntas sejam bem formuladas. Por exemplo: O que poderia ser ela, imóvel no centro da praça? Por que as pessoas paravam para olhar aquela estranha figura? E por que ela nada dizia e apenas corria os olhos pela multidão, como se procurasse alguma coisa? No fundo, era apenas uma garotinha assustada, perdida entre aquelas pessoas, à procura de um rosto conhecido. D - Revelando Sentimentos Aqui você pode ser mais subjetivo em sua descrição, sem, no entanto tirar o enfoque necessário no objeto ou coisa a ser descrito. Para descrever uma casa, imagine-se diante dela e descreva seus sentimentos, fazendo a ligação entre eles. Exemplo: Uma sensação perturbadora dominava meu corpo, enquanto eu olhava aquela casa. Suas janelas fechadas pareciam barrar a entrada do ar e da luz e já me sentia sufocado, imaginando aqueles cômodos escuros e abafados... Vejamos, agora, como isso se aplica à... 3. Dissertação Vamos ver um modelo de dissertação que pode ajudar você a caminhar com segurança. Antes de qualquer coisa, concentre-se no tema apresentado, procurando entender o que se pede. Nada pior que iniciar uma redação sem saber exatamente sobre o que se vai escrever. Tendo lido e entendido o tema, siga o seguinte roteiro com calma e tranquilidade: Dissertação A - Posicione-se a respeito do tema B - Apresente argumentos para defender seu ponto de vista C - Estabeleça um paralelo D - Determine consequências E - Conclua com base no que argumentou anteriormente (No esquema acima, o item A é a Introdução, os itens B, C e D constituem o desenvolvimento e o item E é a conclusão.) Vamos fazer um exercício prático? Que tal falar sobre a violência? Vamos ver o que podemos fazer. A Violência A - A violência é, hoje, um dos sintomas mais visíveis da falência de nossas mais valiosas instituições: a família e o Estado. B - A família mostra-se incapaz de educar e controlar seus membros e está se tornando, a cada dia que passa, uma das fontes primárias da violência, destacando-se, vergonhosamente, a violência contra as crianças. O Estado não consegue cumprir seu papel nem proporcionar à sociedade os mais elementares meios de subsistência e proteção. C - A história está cheia de exemplos de momentos em que, acuada, a sociedade reagiu de modo irracional, procurando fazer valer seus direitos. D - A violência parece fora de controle e as famílias assistem impotentes sua escalada, sob os olhares benevolentes dos governantes, que nem atacam as causas, muito menos as consequências desse flagelo. Até quando a sociedade suportará isso? E - Talvez tenha chegado o momento de se levantar, ainda que timidamente, a voz e demonstrar a insatisfação e o medo. Seguramente outras vozes se somarão a essa voz inicial e em breve o coro de vozes insatisfeitas chegará até quem tem o poder de mudar isso. Esse tipo de paradigma ou modelo pode ser desenvolvido por você, criando seus próprios modelos. Quanto mais você praticar, mais fácil ficará utilizar esse sistema. Finalmente, dentro desse nosso capítulo de dicas e sugestões, vamos ver algumas... TÉCNICAS DE REDAÇÃO Admiração e Surpresa A interjeição é uma classe de palavras que pode ser usada para evidenciar emoções e sentimentos. Junto com o ponto de exclamação podem dar mais vida e ênfase a uma narrativa. Não hesite em usá-los no momento oportuno. Aumentativo e Diminutivo O uso do aumentativo ou do diminutivo leva para a linguagem do texto um tom afetivo e espontâneo. Tanto podem servir para demonstrar carinho como para demonstrar desprezo ou reprovação. Exemplos: Carinho Amorzinho, paizinho, queridinha, coisinha fofa, paizão, garotão. Desprezo ou reprovação Sujeitinho, bestinha, morcegão, atrasadão, goiabão, bobão. Características Diferenciais Quando você for descrever pessoas, procure registrar aquelas características que as diferenciam das outras. Todos nós temos pés, cabeça, tronco, pernas, mãos e pés. Fale apenas dos diferenciais, daquilo que torna a pessoa especial. Veja os seguintes exemplos: Exemplo 1 - Características comuns O garoto tinha duas pernas, dois braços e uma cabeça. Seu tronco em nada se diferenciava do tronco dos demais meninos de sua idade. Em cada mão tinha cinco dedos. Em cada dedo havia uma unha... (tudo isso é desnecessário, não acha?) Exemplo 2 - Características diferenciais O garoto tinha uma estranha característica: a qualquer momento do dia, podia-se vê-lo com as mãos cruzadas diante do peito e a cabeça pendendo sobre o ombro direito, como se fosse uma estátua. Ficava imóvel, com as pernas entreabertas, sobre a enorme pedra que havia à margem da estrada. Cenas ou Situações Opostas Quando tiver que escrever sobre cenas, situações e até mesmo personagens opostos, faça-o usando um parágrafo para cada um. Com isso você dará igual destaque a eles. Detalhes da cena Para valorizar a ação de um personagem, mostrando sua concentração ou sua atenção ao que faz, narre a cena com o máximo de detalhes possíveis. Aqui está um exemplo disso: Cuidadosamente ele soltou a linha enrolada no caniço, girando-o entre as palmas das mãos, deixando a chumbada e o anzol pendentes sobre a água. Depois, escolheu uma gorda e ágil minhoca, vestindo com ela o anzol. Examinou a superfície do rio, procurando sinais dos grandes peixes. Suavemente, com um ligeiro movimento de mão, fez a isca balançar para frente, pairar por instantes acima do espelho líquido, depois mergulhar com um ruído característico, logo encoberto pelo grito acusador de um bem-te-vi. Descrição de um conjunto A melhor maneira de descrever um conjunto é localizando-o de alguma forma. Pode ser no tempo ou no espaço. No espaço pode ser seguindo uma determinada direção. No tempo, seguindo certa cronologia. Ou então, combinando as duas formas. Vejamos um exemplo! "Duas horas da tarde. O armazém já estava cheio. Eles vinham de todo canto: os do cafezal, além da ponte da estrada de ferro e na entrada do asfalto; os do mamonal ao redor do campo de aviação que, àquela hora, era uma panela de pipoca, com o calor explodindo as bagas espinhudas; aqueles das hortas à beira do Pirianito; os pescadores do Congonhas; a turma do arrozal, nas várzeas inundadas; os do gado e, principalmente, os do rami, nova riqueza ameaçando as outras culturas como uma febre verde." (L P Baçan, Febre Verde) Dois Pontos Sempre que tiver que enumerar uma série de palavras, use os dois pontos, destacando os termos que serão apresentados. Exemplo: Trazia consigo todos os seus objetos pessoais: uma sela velha, um chicote partido, um par de botas sem brilho, um revólver sem bala, uma trouxa de roupas e a moldura lascada com uma fotografia desbotada. Feira Livre Para dar a impressão, num texto, de que várias pessoas falam ao mesmo tempo, simplesmente registre o que elas dizem numa sequência. Por exemplo: A confusão era total e todos queriam manifestar sua opinião. "Quero meu dinheiro de volta!" "Cadê o gerente!" "Chamem a polícia!" "Alguém me beliscou." "Quero a minha mãe!" Frases nominais Ao descrever uma cena, evite o uso constante dos verbos ser e estar, empregando frases nominais. Para isso, basta retirar o verbo. Ao invés de dizer "o sol estava quente", diga apenas "sol quente". Vamos aplicar isso, mostrando um mesmo texto em duas versões, para você entender bem: Versão 1 A trilha era apenas uma picada no meio da mata. As folhas estavam molhadas ainda pelo orvalho. O calor era insuportável. Versão 2 A trilha, apenas uma picada no meio da mata. As folhas, molhadas ainda pelo orvalho. O calor, insuportável. Ordem Inversa Vimos na apresentação dos paradigmas, que a ordem normal dos termos da oração é Sujeito/Predicado/Complementos. Se você quiser dar maior ênfase a um determinado elemento, coloque-o no início da oração ou deslocado, entre vírgulas. Veja os seguintes exemplos: A - A noite caiu rapidamente sobre a floresta. B - Rapidamente a noite caiu sobre a floresta. C - A noite, sobre a floresta, caiu rapidamente. D - Caiu rapidamente a noite sobre a floresta. Ao usar esse recurso, dê o devido destaque ao elemento que você quer realçar ou enfatizar. Parênteses e Travessão Duplo Para introduzir um comentário no corpo de uma narração ou de uma descrição, use o recurso proporcionado pelos parênteses ou pelo travessão duplo. Exemplos: Haviam escolhido a dedo suas roupas e estavam satisfeitos com a elegância — e que elegância — que exibiam no início da festa. Ou: Subiu até o palco com a maior tranquilidade (havia se preparado para isso), certo de que tudo correria bem. Presente do Indicativo O verbo no presente aproxima o leitor do texto, por que o torna atual, o que não ocorre com o verbo no passado. Avalie você mesmo, observando os seguintes exemplos: Verbo no passado O mal andava à solta pela cidade. Cada esquina escondia um vulto amedrontador. As sombras dos galhos das árvores, projetadas contra as paredes das casas, criavam um cenário tétrico e trágico. Verbo no presente O mal anda à solta pela cidade. Cada esquina esconde um vulto amedrontador. As sombras dos galhos das árvores, projetadas contra as paredes das casas, cria um cenário tétrico e trágico. Sequência de Verbos Para transmitir a impressão de rapidez, agilidade ou mobilidade de um personagem, faça isso com uma sequência de verbos de ação, como no seguinte exemplo: O cavalo empinava, escoiceava, corria, refugava, escavava, relinchava, depois desembestava de um lado a outro do pasto. Suspense Crie suspense para sua narrativa, adiantando, na primeira oração do parágrafo, alguma informação sobre o que virá a seguir. Exemplo: Aquela seria uma experiência da qual jamais nos esqueceríamos. Naquela tarde, como sempre fazíamos, esperamos o anoitecer para ir pescar... Termos Técnicos Numa redação normal, evite empregar termos técnicos ou palavras difíceis, que possam prejudicar ou comprometer o entendimento do texto. Faça isso apenas se o contexto assim o exigir. Ao fazer um relatório para sua aula de ciências, isso é válido. Numa dissertação, pode ser perigoso, principalmente se você não tiver certeza do significado de uma determinada palavra. Zebra Se você pretende seguir uma carreira e tem planos de, no futuro, fazer o vestibular para uma determinada profissão, é bom saber desde já que a redação é obrigatória para todo e qualquer curso. Ela pode ter um peso maior ou menor, conforme o curso, mas é eliminatória para todos eles. Assim, se você não quer que dê uma zebra no seu futuro, comece a se preparar a partir de já, organizando um plano de leitura, que lhe fornecerá os elementos para desenvolver todo e qualquer tema. Este é um plano de leitura mínimo, que recomendo a todos aqueles que desejam encarar com seriedade o aprendizado da redação. Plano de Leitura Procure estabelecer um cronograma de leitura. O conjunto de conhecimentos contido nas obras desses autores será necessário para seu bom desempenho em qualquer prova de redação. Literatura Cristã — Leia a Bíblia, Novo e Velho Testamentos, observando como eram as pessoas naquela época, como agiam, quais eram seus sentimentos, o que as movia, como se relacionavam umas com as outras, que emoções demonstravam e tudo o mais que julgar importante. Literatura Grega — Leia textos de Homero, Heródoto, Platão, Demóstenes, Plutarco e Epicteto. Literatura Latina — Leia Vergílio, Cícero, Sêneca, Tito Lívio, Tácito e Horácio. Literatura Europeia — Não deixe de ler obras de Shakespeare, Milton, Dante, Cervantes, Victor Hugo, Goethe e Schiller. Literatura de Língua Portuguesa — Procure ler Garrett, Herculano, Castilho, José de Alencar, Castelo Branco, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Eça de Queirós, Rui Barbosa e Euclides da Cunha. Literatura Atual — Procure conhecer as obras dos autores que estão em evidência ou que se evidenciaram na literatura mundial nas últimas décadas. Leia pelo menos trechos de suas obras, observando seus estilos. Leia também artigos de colunistas fixos e editoriais de jornais para manter-se sempre atualizado. (Na Internet, você encontrará, grátis, centenas de obras de autores contemporâneos de língua portuguesa. Basta pesquisar. Ao fazer isso, estará investindo em seu aprendizado e aperfeiçoamento.) Como normalmente os textos originais podem ser complexos, conforme sua faixa de idade, domínio da língua, vocabulário e hábito de leitura, procure obras resumidas ou adaptadas desses autores. Sempre que um deles despertar sua atenção ou ganhar sua preferência, procure ler o texto completo. Se você não tem o hábito da leitura, com certeza enfrentará certas dificuldades. Não se deixe intimidar por isso. Ler é uma atividade que requer certo método. Não basta simplesmente passar os olhos pelo papel. Lembre-se que seu cérebro, à medida que for sendo mais exigido, mais apto ficará. Para ajudá-lo nesse processo. Aqui estão algumas regras simples e básicas: 1 - Leia atentamente e devagar. 2 - Faça-se acompanhar de um dicionário e de uma gramática, consultando-os sempre que tiver alguma dúvida. 3 - Tome notas e consulte-as sempre que possível, mantendo viva em sua mente aquela obra As anotações são importantes porque suprem a memória. Se não fizer isso, após algum tempo terá esquecido a maior parte do que leu. Essas anotações são também a garantia da precisão em suas citações, quando usar ou quiser usar uma delas. Ao fazer suas anotações, tenha em mente que elas são para seu uso pessoal, portanto você decide o que elas devem conter e de que forma serão feitas. No entanto, para impor um método, há algumas observações que você pode seguir se julgá-las oportunas: 1 - Se está se preparando para uma prova sobre um determinado livro, leia-o e tome notas de tudo e a propósito de tudo. 2 - Se você tem dificuldades de encontrar formas ou imagens corretas para exprimir suas ideias, ao ler uma obra anote como o autor se referiu a isso ou aquilo, passando a usar esses paradigmas em suas redações. 3 - Monte um banco de dados para seu uso, anotando dados históricos, citações, anedotas, palavras características, observações, meditações pessoais, reflexões e juízos emitidos pelos autores das obras que ler. 4 - Anote também fragmentos das obras para ilustrar ou incluir, no momento oportuno, em suas redações. Não se acanhe e trocar anotações com seus amigos. Ampliará seu campo de visão e certamente contribuirá para a formação de seu estilo. 5 - Veja os modelos de fichas que foram fornecidas, adapte-as a suas necessidades e use-as. O importante é que você anote sempre. O melhor método para você fazer suas anotações é à medida que vai lendo. Registre e classifique suas anotações em fichas ou num arquivo específico do seu computador, caso tenha um. Você pode montar arquivos por nome de autor, conteúdo (Anedotas, Artes, Biografias, Descrições, Ensino, História, Imagens, Literatura, Palavras Célebres, Pedagogia, Filosofia, Psicologia, Retratos, Ciências) ou por outro meio que julgar adequado. . Vamos relaxar um pouco? Então leia o conto a seguir, depois o use como modelo para contar outra história. A INFLUÊNCIA DA LUA L P Baçan O velho Nogueira deu uma olhada nas iscas que estávamos preparando, sorriu com bondade e compreensão, como se fôssemos os maiores ignorantes do mundo. — Essa isca é para peixe de Lua Cheia... Estamos na Minguante. A isca tem que ser outra. Seu tom de voz foi suave, como se temesse nos ofender. Eu olhei para o meu filho, que olhou para mim e ambos nada entendemos daquilo tudo. — O que há de errado com estas iscas? — perguntei. — Servem para pegar peixe de escama e a lua é para peixe de couro — explicou ele, cheio de bondade. — E a lua regula alguma coisa? — indagou meu filho. — Regula tudo, oras. Não sabia? — Bem, eu andei lendo uns livros e... — Já sei, eles falam que lua não "inflói" nada, não é? — Isso mesmo. — Tudo ignorante! — afirmou, convicto. — Para vocês terem uma ideia, em mil novecentos e nada, veio uma turma de pescador de São Paulo aqui, para pescar no Cuiabá. Era lua de peixe de couro e eles queriam pescar dourado e pacu. Eu avisei. Eles deram risada. Fui com eles, de piloteiro... — Quanto tempo faz isso mesmo? — eu quis saber. — Olhe, para falar a verdade, Getúlio ainda estava no poder e ainda tinha muito peixe no Cuiabá, aqui mesmo, dentro da cidade. Mas deixe isso para lá. Fomos para o rio, no meio da noite. Eles soltaram suas colheres — isca própria para fisgar dourado, tendo o formato de uma colher para resvalar na água e dar a impressão de um peixe menor em fuga — e fomos rasgando a água, mas nada de peixe. Paramos na beira do barranco e eles ficaram falando do azar que estavam tendo. Nisso escutamos um barulhão na água, rio acima. "O que foi isso, Nogueira?" perguntou um deles. "É o jaú batendo", respondi logo. "É lua de peixe de couro", ajuntei. Aí eles resolveram experimentar e logo pegaram um jaú de cinquenta quilos... — Cinquenta quilos, seu Nogueira? — surpreendeu-se meu filho, que jamais imaginou haver peixes desse peso. — Dos pequenos — acrescentou o velho. — Já peguei maior, muito maior, no espinhel, na faixa dos seus cem quilos. — Nogueira, como funciona esse negócio de lua? — pedi. — Se olhar para a Lua Cheia, você se lembra logo de um peixe brilhante, com escamas. É na Lua Cheia que você pega o pacu, a pirapitinga e até a piranha, aquela que dá bom caldo. — Sendo assim, na Lua Minguante, escura, deve dar muito peixe de couro — arriscou meu filho. — Isso mesmo. Na Lua Cheia, você pesca melhor os peixes que vivem mais perto da superfície. Na Lua Minguante, os de couro e os do fundo, como os jaús e os pintados grandes. Na Lua Nova, os peixes de barba, como o surubim, o barbado, o bagre e o mandi. Na Lua Crescente, os peixes pequenos e os dourados que vêm atrás deles... Quando fomos dormir, naquela noite, nós nos sentíamos como quem tivesse descoberto o segredo mais bem guardado do universo. Dona Jacira, mulher do velho Nogueira, quando nos viu passar, sorriu e emendou: — Não acredita em nada do que esse velho diz. É mentiroso que só ele! Tudo isso aí que ele fala é conversa de pescador. Havia um acento de maldade e satisfação no seu tom de voz. Coisa de mulher mesmo! E você, não conhece uma boa história de pescadores? Ou uma história de mentirosos? Por que não escreve uma? ROTEIROS DE TRABALHO À medida que você for se exercitando, tudo irá ficando mais fácil. Ao usar paradigmas, você tem o roteiro pronto e o conteúdo é sugerido pelo tema proposto. Vale sempre ressaltar que o bom entendimento do tema é fator crucial para a elaboração de uma boa redação. Isso se justifica porque, caso você fuja do tema, tudo o que fizer será desconsiderado. Todo cuidado é pouco nisso. Fugir do tema é um dos principais problemas dos vestibulandos. Não tendo conteúdo para explorar porque não leram, não se atualizaram ou não observaram com olhos críticos as coisas ao seu redor, acabam enchendo linguiça ou dizendo asneiras. Um vestibulando, ao falar sobre o tema Comunicação de Massas, acabou discorrendo sobre um disque-pizza. Outro, ao falar sobre a televisão, disse que ela informa, forma e deforma. Justificou essa última afirmação com o argumento de que o sofá, de tanto o telespectador ficar sentado, assistindo à televisão, acaba ficando deformado. Pode uma coisa dessas? Fuja disso, lendo, observando, trocando ideias e mantendo-se atualizado(a) e ligado(a) a sua realidade e às coisas que o(a) cercam. Vimos diversas maneiras de você utilizar paradigmas, partindo do que foi escrito por outras pessoas. Alguns você pode montar, seguindo outras fórmulas que, uma vez entendidas, tornarão seu trabalho ainda mais facilitado. Num dos capítulos anteriores, usamos a técnica das perguntas para montar um texto. Essa técnica merece um capítulo à parte, pois é um poderoso instrumento para qualquer redator sair-se bem em suas tarefas. Tudo parte de um planejamento inicial, que pode ser feito mentalmente ou memorizado. Se você sabe a direção para onde tem de caminhar, tudo se torna mais fácil. Essa técnica lhe proporciona isso. Vamos começar com uma narração. Você precisa escrever uma narração sobre um determinado tema. Para elaborar o rascunho inicial do seu trabalho, responda às seguintes perguntas: Roteiro para um Narração Ambiente: Onde se passa a história? Tempo: Quando aconteceu a história? Personagens: Quais são os personagens da história? Conflito: Qual será o conflito entre eles? Final: Como vai acabar a história? Respondendo essas perguntas, você tem o roteiro básico de sua história. Para desenvolvê-la, continua com a técnica das perguntas. Responda às perguntas abaixo, na sequência em que são apresentadas ou invertendo-as, desde que isso não prejudique o andamento da narrativa. Com quem aconteceu? O quê aconteceu? Onde aconteceu? Quando aconteceu? Como aconteceu? Por que aconteceu? Quais foram as consequências ou como acabou? Isso pode ser comparado com algum outro fato? Isso pode ter uma conclusão ou uma moral? Bem, o modelo está aí. Será que podemos fazer alguma coisa com isso? Vamos pensar num tema... Não! Pensando melhor, vou deixar que você faça tudo por si. Se eu fizer, será fácil para mim, pois tenho dezenas de anos de experiência. Vejamos agora um roteiro para fazer uma descrição. O sistema é o mesmo. Basta observar com atenção o que deverá ser descrito ou, caso seja algo sugerido, concentrarse, tentando formar a imagem do tema proposto. Em seguida, responda às perguntas que julgar pertinentes ou aplicáveis ao seu caso: Roteiro para uma Descrição Quem? O quê? Quais são suas características? Em que circunstâncias? Alguma característica especial? Que impressões provoca? (em relação aos cinco sentidos) Que sensações ou emoções provoca? (impressões subjetivas) Com o que pode ser associado ou comparado? A que conclusão se pode chegar? (Você pode incluir outras perguntas que julgar relevantes e possam contribuir para o andamento de seu trabalho. O importante é que elas forneçam respostas pertinentes.) Acho que você já se convenceu das vantagens de se ter um método e de fazer um planejamento de sua redação. Isso torna tudo mais fácil, pois permite que você demonstre possuir técnica, habilidade e conhecimentos, pois tudo que fizer terá um toque de naturalidade perceptível e demonstrará domínio da língua e do assunto sempre que isso for exigido. Falando em planejamento, vamos criar um modelo para ser usado a partir do momento em que você toma contato com uma tarefa. Primeiro passo: analisar o tema proposto para entendê-lo. Segundo passo: usar a memória para rever tudo que se relacionar ao assunto. Terceiro passo: definir um planejamento ou um paradigma a ser seguido. Quarto passo: escrever o rascunho ou a versão inicial. Desses passos, o principal é o primeiro, pois se você não entender corretamente o tema, vai caminhar na direção errada e todo o seu trabalho será perdido. Mantenha a sua calma e concentre-se: 1) Qual é o tema, o que sei a respeito, qual é a sua definição ou o que significa? Faça-se estas perguntas ou use o seu roteiro, previamente elaborado para essas situações. 2) Há pontos de vista divergentes ou convergentes em relação ao tema? 3) Quais seus aspectos principais, como descrevê-lo, quais são as suas palavras-chaves? 4) Quem? O quê? Onde? Como? Por quê? De que forma? Quando? Ou outras perguntas, conforme seu roteiro. 7) Que exemplos, citações, modelos, bibliografia ou informações complementares tenho a respeito do tema? 8) Que comparações posso fazer? 9) Que conclusão se pode tirar de tudo isso? Ao responder essas perguntas, você já terá definido seu roteiro e a sequência de sua tarefa. Agora é só escrever. Duvida? Escolha um tema qualquer e percorra todos os passos recomendados acima. Se tiver dúvidas ou problemas, sabe onde me achar! Como você percebeu, a memória é importante para qualquer bom redator. Vimos no capítulo anterior que, quanto mais você exigir de seu cérebro, mais ele vai corresponder. Sua memória vai guiá-lo na seleção das informações, lembrando tudo que se referir ao tema. Anote, reflita e siga em frente. Esse trabalho vai se tornar mais fácil, quanto mais você estimular sua memória com a leitura de bons autores, boas fontes, atualidades, novidades e tudo que puder ser explorado ou necessário no futuro. Isto porque se você souber aplicar bem um pensamento alheio, terá quase tanto talento como o autor dele. Por outro lado, jamais cite algo que não conheça na íntegra nem cite um autor, se não tiver certeza de que foi ele que disse essa ou aquela expressão. Na descrição de uma paisagem, use a memória para adaptar uma paisagem conhecida àquela exigida na tarefa. Para dar vida a um diálogo, procure se lembrar de palestras, de conversas, de frases ou de citações espirituosas e inteligentes que possa ter anotado ou ouvido. O terceiro e o quarto passos nem precisam ser comentados, concorda? Vamos continuar! Você pode ter preferência pela narração ou pela dissertação, mas se pretende seguir uma carreira, enfrentando um vestibular ou um concurso público, terá, fatalmente, que aprimorar sua dissertação, pois ela será exigida e terá um peso razoável. Se e quando estiver disposto(a) a fazer isso, memorize a seguinte sequência: Roteiro para Dissertação Primeiro passo: siga os passos para o entendimento do tema, apresentados nas páginas anteriores. Segundo passo: montar e responder as perguntas do questionário básico. Para isso, faça-se as seguintes perguntas: quem, com quem, o quê, com quê, por quê, para quê, quais as consequências, quais as circunstâncias, quais analogias ou comparações podem ser feitas, quais os prós e os contras, qual a síntese de tudo isso, qual é a minha opinião pessoal e como posso concluir tudo isso? Terceiro passo: sintetizar, ordenar e ampliar as respostas para cada uma das perguntas do segundo passo. Usar a memória. Quarto passo: rascunho ou versão inicial. Quinto passo: revisão e polimento do rascunho ou versão inicial. Sexto passo: redação definitiva ou versão final. Seguindo esses passos, seu trabalho se tornará cada vez mais fácil, mas isso se você desenvolver suas habilidades, praticando, exercitando e insistindo sempre. Crie seus próprios paradigmas, use modelos já prontos, mas pratique. Só escrevendo é que se aprende a escrever. POLIMENTO DO TEXTO Habitue-se a polir suas redações, eliminando tudo aquilo que não for necessário nem contribuir para chegar ao resultado esperado por você. Isso implica em policiar-se quanto ao excesso de adjetivos, às repetições, aos períodos longos demais, às inversões exageradas da ordem dos termos da oração, ao rebuscamento do vocabulário e outros detalhes importantes. Uma das melhores maneiras de testar se o seu texto está bom é verificar que é fácil de ler e agradável de ser ouvido. Para isso, simplesmente leia-o em voz alta. A formação de um Clube Literário é um poderoso aliado para quem deseja desenvolver seu estilo e tornar fluente, concisa e correta a sua redação. Nos primeiros tempos, sempre que fizer seu rascunho ou versão inicial, faça o polimento do texto, antes de passar a limpo. Isso será não apenas necessário, mas muito útil, fazendo com que você ganhe firmeza e incorpore procedimentos corretos. Quando isso acontecer, você terá definido um estilo e vai se sentir à vontade para escrever sobre qualquer assunto, com um mínimo de erros. Para estabelecer um procedimento, quando for fazer o polimento de um texto que escreveu, verifique inicialmente a introdução, o desenvolvimento e a conclusão, para ver se formam um bloco coerente, se as ideias estão atreladas ao tema, se o texto flui com naturalidade e se há harmonia no conjunto. Observe em seguida outros aspectos que possam estar prejudicando seu trabalho. Para facilitar isso, aqui temos um roteiro. Para testá-lo, pegue uma de suas últimas redações e mãos à obra. Ambiguidade Esta é uma das maiores inimigas de um bom texto, presente nas expressões ou construções com duplo sentido, resultando numa ideia imprecisa. Exemplo: Ele a pegou com a boca na botija, usando seu melhor perfume. Nessa afirmação, de quem era o perfume? Da pessoa de quem se fala ou da pessoa com quem se fala? Ouvi um relincho. Era a égua da minha namorada. Ficou horrível, não? Era a égua (animal) que relinchava ou a namorada? Comparações Empregue, sem abusar e onde for conveniente, comparações que facilitem a compreensão do texto e fixem uma impressão, tornando-o mais claro e sugestivo. Para isso, use "como", "qual", "feito", "que nem". Exemplo. Então gato é que nem boia-fria? Mais um: As águas desciam o rio rugindo como um bando de feras desembestadas. Você pode também empregar metáforas, comparações e linguagem figurada para embelezar seu texto e dar-lhe um colorido especial. Exemplo: O leito do rio parecia uma panela em ebulição. Os troncos arrancados às margens eram como cadáveres boiando sem controle. Dissonâncias, cacofonias Muitas vezes, ao construir uma oração, o resultado pode ser perfeito no papel, mas desastroso quando lido ou pronunciado. Pequenos cuidados podem afastar esse tipo de problema de suas redações, tornando-as elegantes e fáceis de serem lidas e pronunciadas. Não se descarta, porém, o seu uso consciente, quando o contexto assim o exigir. Palavras com a mesma terminação. Exemplo: A mão que segurava o facão bateu no chão, derrubando o pão. Repetição de vogais. Exemplo: A vaia era para a saia da aia. Repetição de consoantes. Exemplo: Fagundes fez fiado para fazer fregueses. Falido, fugiu. Duas ou mais palavras formando uma terceira de sentido ou som desagradável. Exemplo: A boca dela permanecia aberta. Quem poderá me dar uma mão aqui? Humorismo Um pouco de humorismo pode tornar seu estilo mais leve e agradável. Evite, porém, piadas pesadas, imoralidades e até mesmo aquela anedota muito conhecida. Inversões Muito cuidado ao usar inversões na ordem dos termos da oração (sujeito, predicado, complementos). Ao fazê-lo, você pode dar beleza ao seu texto, realçando este ou aquele termo, ou comprometer-lhe o sentido. Exemplo: Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo heroico o brado retumbante. Você sabe qual é o sujeito desta célebre oração? A ordem inversa tem feito muita gente iniciar nosso hino cantando assim: Ouviram do Ipiranga às margens plácidas, de um povo heroico o brado retumbante. Com essa interpretação, colocam a oração na seguinte ordem natural: (sujeito indeterminado) Ouviram o brado retumbante de um povo heroico às margens plácidas do Ipiranga. Ocorre que a ordem natural dessa oração é esta: As margens plácidas do Ipiranga (sujeito simples) ouviram o brado retumbante de um povo heroico. Lugar comum O lugar comum é a expressão já pronta, acessível, fácil de ser usada e, por isso, tentadora. Seu uso, porém, tira toda a elegância e a originalidade de um texto, comprometendo o resultado. Nosso vocabulário é rico e existem alternativas para fugir a essa tentação. Exemplos: Políticos inescrupulosos, grandiosa festividade, perseguidor implacável, exalar o último suspiro, encontra-se engalanado, abriu o coração, tradicional festa, inflação galopante, vitória esmagadora, esmagadora maioria, caixinha de surpresas, caloroso abraço, silêncio sepulcral, nos píncaros da glória e coisas assim. Junte seus amigos do Clube Literário e organizem uma lista desses lugares-comuns. Criem expressões criativas para substituí-los. Opinião pessoal Evitar externar opiniões pessoais sem base ou fazer generalizações. Quando afirmar algo, diga-o com base em elementos que podem ser comprovados. Generalizar é sempre muito perigoso. Se você afirmar, por exemplo, que os políticos são todos corruptos ou que os professores são uns perseguidores, corre o risco de não ter argumentos sólidos para justificar isso. Numa dissertação, você pode pôr todo o seu trabalho a perder, chegando a uma conclusão levado por falsas premissas ou por uma argumentação frágil e sem sustentação. Palavras certas Temos em nossa língua muitas palavras que tem formas diferentes, mas são pronunciadas da mesma forma, como caçar e cassar, conserto e concerto, acento e assento, além de outras cujas grafias são parecidas, como tráfego e tráfico, por exemplo. Quando recomendamos, desde o início do livro, o uso do dicionário, é para que você se habitue não apenas ao significado das palavras, mas a sua grafia também. Uma palavra errada pode comprometer todo o sentido do texto. Períodos longos Evite períodos longos em suas redações. A elegância e a simplicidade dos períodos curtos facilitam seu trabalho, pois são fáceis de serem compostos, escritos, pontuados e entendidos. Pleonasmos viciosos Este é um problema muito comum na linguagem informal falada, que pode ser levado facilmente para a linguagem escrita. Sua presença tira a beleza do texto, prejudica sua concisão e demonstra um vocabulário pobre e pouco exercitado. O melhor remédio para curar-se deles é a leitura e a revisão atenta e constante de tudo que escrever, eliminando adjetivos e advérbios desnecessários. Quer alguns exemplos? Subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro, sair para fora, deferimento favorável, ver com os olhos, comer com a boca, dividir em duas metades, um duo de dois, um par de dois, a mim me parece, a ele nada lhe direi e muitos outros. Quer uma tarefa interessante? Reúna seus amigos do Clube Literário e organizem uma lista de pleonasmos. Depois criem alternativas para corrigi-los. Pontuação Conheça um pouco mais a respeito do assunto e confira para ver se está fazendo corretamente a pontuação. Vírgula — sinal de pontuação que marca uma pausa de curta duração ou separa termos de uma oração ou orações de um período. A ordem normal dos termos numa frase é sujeito, verbo, complementos. Essa ordem é chamada ordem natural ou ordem direta. Quando a frase é escrita em ordem direta, não separamos seus termos imediatos e por isso não pode haver vírgula entre o sujeito e o verbo, nem entre o verbo e o complemento. Esta só é usada na ordem indireta, o que ocorre basicamente em dois casos: ao intercalarmos uma palavra ou expressão entre os termos imediatos, quebrando a sequência natural da frase ou quando algum termo, principalmente o complemento, surgir deslocado de seu lugar natural na frase. Ponto-e-Vírgula — marca uma pausa maior que a vírgula, sendo utilizado para separar orações coordenadas que já apresentem vírgula em seu interior ou que tenham certa extensão. Nunca pode ser usado dentro de uma oração, pois serve justamente para separar uma oração de outra. Dois-Pontos — usa-se antes de uma sequência que explica, identifica, discrimina ou desenvolve uma ideia anterior ou quando se quer dar início a uma fala ou citação. Aspas — utilizadas para isolar citação textual colhida de outrem, palavras ou expressões que não pertençam à língua culta, como gíria, estrangeirismo e neologismo, que é palavra, frase ou expressão nova, ou palavra antiga com sentido novo. Travessão — serve principalmente para indicar que alguém fala de viva voz, no discurso direto e é usado em textos narrativos em que os personagens dialogam. Pode ser usado para substituir a vírgula dupla quando se quer dar ênfase ao termo intercalado. Reticências — marcam uma interrupção da sequência lógica do enunciado, deixando ao leitor a responsabilidade de complementar o pensamento suspenso. Não devem ser usadas nas dissertações objetivas, que exige clareza e objetividade na exposição. (O assunto é tratado com mais profundidade no item Pontuação, do Apêndice deste livro.) Que Esta palavrinha é muito útil, quando corretamente utilizada. Veja alguns cuidados a serem tomados em relação a ela. Orações adjetivas. Ao invés de uma casa que estava cheia de gente, use uma casa cheia de gente. Repetições. Em lugar de o trem que acabou de chegar que trouxe a carga de comida use o trem que chegou trouxe a carga de comida ou mesmo o trem chegou e trouxe a carga de comida. Verbos. Use disse ser impossível em lugar de disse que era impossível. Simplicidade Procure desenvolver um estilo simples, sem rebuscamento. Para isso, observe as seguintes regrinhas: 1. Prefira a descrição simples à elegante: — Ele era forte, com mãos enormes. — Ele era musculoso, com manoplas poderosas. 2. Prefira a palavra familiar à exótica: — Ele ergueu o copo com mãos trêmulas. — Ele ergueu o cálice com mãos trêmulas. 3. Prefira um estilo de escrita direto ao estilo romântico: — Sua voz era grave e assustadora. — Sua voz parecia o trovão ecoando por uma caverna desabitada e provocava frêmitos de pavor em quem a ouvia. 4. Use substantivos sem adjetivação e verbos de ação sem advérbios, a menos que sejam absolutamente necessários ao sentido desejado: — Enquanto estuda em seu quarto, José pensa em seu futuro. . — Enquanto estuda arduamente em seu quarto solitário, José pensa constantemente em seu futuro distante. Sinonímia Verifique se há palavras repetidas em seu texto, procurando encontrar um sinônimo à altura. Não faça disso, porém, uma regra rígida, se houver prejuízo para o sentido. MODELOS Com estes modelos não espero nem pretendo bloquear sua criatividade, pois ao longo do livro não temos feito outra coisa a não ser estimulá-la. O uso de paradigmas é a maneira mais prática de você criar e desenvolver um estilo, baseado em modelos consistentes e já utilizados e aprovados. Ao adaptá-los ao seu gosto pessoal, você estará desenvolvendo um poderoso instrumento, capaz de solucionar todos os seus problemas com redação. Vamos ver isso, então. ORAÇÃO Vamos supor que você seja o orador de sua turma, na formatura de sua classe, e tenha que elaborar uma oração. Se você pensar de imediato no velho esquema normal de começo, meio e fim, poderá adaptá-lo a sua necessidade, da seguinte forma: Começo (invocação) Meio (desenvolvimento - oração propriamente dita) Fim (encerramento) Vamos colocar isso num exemplo? ORAÇÃO DE FORMATURA Início: Senhor Deus, Todo Poderoso, diante de vós, estamos hoje reunidos, esperançosos quanto ao futuro e satisfeitos pela etapa vencida. Desenvolvimento: Iluminai nosso caminho para que possamos melhor compreender a missão que o futuro nos reserva e para que nos empenhemos na busca e na construção de um mundo melhor para todos nós. Concedei-nos a força e a coragem para bem realizarmos nossa missão e atingirmos nossos objetivos, praticando fielmente seus ensinamentos. Permiti, Senhor Deus, que encontremos nossa recompensa na graça de servir, no sorriso de gratidão, na lágrima de felicidade e no abraço fraterno daqueles que precisarem de nós. Encerramento: Fazei com que possamos render-vos glória através de nossos atos e de nosso trabalho, dando-nos a chance de servir e louvar Seu santo nome. Amém! DISCURSO O esquema de um discurso é o mesmo de uma redação qualquer, exceto que seu conteúdo é mais abrangente e um pouco mais longo. Ao ser escrito, deve antecipar a presença de autoridades ao evento, pois estas deverão ser mencionadas, sempre do cargo mais alto para o mais inferior ou do maior grau de importância para o menor. Se fosse um discurso de formatura e o prefeito da cidade estivesse presente, a saudação inicial seria para ele, depois para o Diretor do Colégio, para os professores, pais convidados e alunos. Por exemplo. Tirando isso, deverá obedecer a mesma sequência de abertura, desenvolvimento e conclusão. Para simplificar, vamos colocar isso na forma de um esquema: Saudação aos convidados presentes Abertura (citar o motivo do discurso ou do evento) Desenvolvimento (discorrer sobre isso) Conclusão Vamos imaginar que você foi eleito para presidente do grêmio estudantil de sua escola e tenha de fazer um discurso no dia da posse. Poderia ser feito assim: DISCURSO DE POSSE (Saudação) Excelentíssimo senhor prefeito... Ilustríssimo senhor diretor... Caríssimos senhores professores... Queridos e amados pais... Estimados colegas... Caríssimos companheiros de chapa... (Abertura) Estamos aqui hoje reunidos, agradecendo a Deus e aos amigos pelo privilégio, pois acima de qualquer obstáculo, somos jovens de paz e de boa vontade, preocupados com o nosso presente e atentos ao nosso futuro. Nossa natureza inquieta e preocupada não nos deixa sermos meros espectadores de uma realidade que nos desagrada. Não conseguimos ficar imóveis e omissos diante do apelo que nos chama a participar e a colaborar na solução dos problemas de nossa escola. (Desenvolvimento) Pretendemos uma escola melhor, uma comunidade melhor, um mundo melhor e na mesma medida em que trabalhar na solução dos problemas que estiverem ao nosso alcance. Projetaremos nossa visão no futuro. Planejaremos ações para que os próximos estudantes encontrem mais facilidades e vantagens para explorar todo o seu potencial. A diretoria que assume os destinos do nosso grêmio estudantil sabe que tem desafios pela frente, que pretende responder com ações, a partir de metas definidas, sem se desviar jamais dos lemas e ideais que sempre marcaram a atuação dos alunos que nos precederam. As atividades a serem desenvolvidas por nossa diretoria serão intensas e procuraremos nos superar em tudo. As preciosas lições da Diretoria que hoje deixa o cargo serão levadas em conta em todos os momentos, valendo-nos dessa experiência para traçarmos nosso próprio caminho. Nosso diálogo com a direção da escola, professores, pais e alunos será constante, pois acreditamos ser esta a melhor maneira de juntos atingirmos os objetivos comuns. (Conclusão) Agradecemos a presença de todos, numa manifestação de carinho e de participação, que muito nos emociona e que ressalta nesta Diretoria o desejo de corresponder à altura essa confiança. Rogo a Deus que nos ilumine e ajude nessa missão para juntos construirmos o futuro com ação e resultados. A vocês, a minha gratidão. CARTA Já vimos num dos capítulos anteriores um esquema para a elaboração de cartas. Estaremos incluindo também alguns modelos de correspondência comercial, para que você tenha alguns paradigmas para suas necessidades de relacionamento com empresas ou instituições. Vamos comentar inicialmente alguns elementos que são comuns a todas as cartas. O primeiro deles é o cabeçalho, onde constam o local onde a carta foi escrito e a data. Em seguida é feito o vocativo, que numa carta informal pode ser o nome do destinatário e numa carta para uma empresa poderá ser o nome e o endereço dela. Em seguida, numa carta mais formal, será incluído um vocativo como Prezado Senhor, Prezados Senhores, Prezada Senhora, etc. No final da carta, temos a despedida e a assinatura. Poderíamos montar o seguinte esquema. Cabeçalho Local e data (mês com letra minúscula) Destinatário Vocativo Abertura Desenvolvimento Encerramento Despedida Assinatura Vamos aplicar isso? Que tal escrever uma carta a uma amiga, informando de sua candidatura a presidente do grêmio estudantil da escola e alguma coisa sobre suas metas? Eu faria assim! (Cabeçalho) Minha cidade, 1 de abril de 2004. A Márcia Riguetto Rua Nova, 96 Minha Cidade - Meu Estado Prezada Amiga: (Abertura) Desde 1997 estudo nesta Escola, conhecendo suas necessidades e participando de discussões para a solução de seus atuais problemas. (Desenvolvimento) Nenhuma mudança importante acontecerá se não passar pelo campo político, onde as decisões são tomadas. Para provocar essas decisões e essas mudanças, os alunos precisam ter um grêmio estudantil representativo e forte. Com o conhecimento que tenho de nossa escola, estou me candidatando à presidência do nosso grêmio, convidando você não apenas a votar em mim como também a participar de minha campanha com sua preciosa ajuda. (Encerramento) Certo de sua participação e de seu envolvimento nesta tarefa que somente será realizada se todos nos unirmos, manifesto minha gratidão, transmitindo-lhe meu abraço mais afetuoso. Atenciosamente, José Mário (assinatura) CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL Se você está se preparando para o ENEM ou para o Vestibular, talvez este capítulo lhe seja totalmente inútil. Poderá ter utilidade em um concurso mais específico ou até mesmo para se candidatar a uma vaga de trabalho. De qualquer forma, não será um conhecimento inútil, mas você pode pular esta etapa, se assim decidir. Uma Carta Comercial exige concisão, dentro de um padrão comum e conhecido. Para escrever uma Carta Comercial é necessário dominar os principais paradigmas. A partir daí, mudam os destinatários, datas, valores, endereços, mas o paradigma se mantém. Conhecendo isso, você poderá elaborar tranquilamente qualquer carta, com a segurança de um especialista no assunto. Fornecerei alguns modelos básicos e padrões normalmente utilizados na Correspondência Comercial. A partir daí, utilizando os conhecimentos que você desenvolveu ao longo do livro, estou certo de que conseguirá se sair bem em qualquer outra situação. 1 - Pedindo Emprego Minha cidade, 4 de abril de 2004. À CASA DO MAGO DAS LETRAS Rua da Alchimia, 801 Cidade - Estado Prezados Senhores: Estou encaminhando meu currículo com todas as informações sobre minha formação e experiência, em que V. Sas. verificarão que preencho satisfatoriamente as qualificações necessárias para ocupar um cargo nessa empresa. Chamo a atenção em especial ao fato de haver me formado recentemente e já ter feito estágio em algumas empresas do ramo. Minha pretensão salarial é de um fixo não inferior a R$ 350,00, mais acréscimos legais, estando, porém, aberto para discutir outras ofertas. No aguardo de V. Sas., subscrevo-me, Atenciosamente, (assinatura) 2 - Telegrama Um telegrama é escrito num formulário próprio do Correio, sendo que seu texto tem algumas características básicas. Se você precisar escrever um, saiba que ele é cobrado por palavras escritas, por isso simplifique ao máximo a linguagem, cortando acessórios e deixando apenas a mensagem principal. Elementos como vírgula e ponto são escritos abreviadamente. Vamos passar um telegrama para um amigo que não tem telefone, informando-o que vamos visitá-lo: Chego próxima segunda vg prepare acomodações pt Seu nome 3 - Locando um Imóvel Suponhamos que você vá estudar fora e tenha que alugar um apartamento ou um quarto junto a uma imobiliária. Para isso, precisa confirmar seu interesse. Para isso, poderia mandar esta carta: Minha cidade, 18 de abril de 2004. À IMOBILIÁRIA DO MAGO LTDA Rua da Alchimia, 1000 Cidade - Estado A/C: Departamento de Locações Prezados Senhores: Conforme contato telefônico, confirmo meu interesse na locação do apartamento localizado na Rua do Sassarico, 1950. Para tanto, anexamos ficha cadastral preenchida, bem como cópia do recibo do depósito inicial para garantia da locação. Colocamo-nos à disposição para quaisquer outras informações, solicitando, por outro lado, brevidade na confirmação. Atenciosamente, (assinatura) 4 - Declaração Se você precisar de uma declaração para ser usada como referência, pode usar o seguinte modelo. DECLARAÇÃO A quem interessar possa JOSÉ CARLOS DOS SANTOS, brasileiro, casado, comerciante, portador da Carteira de Identidade n.º 453.4567, CIC n.º 123.654.321-00, residente e domiciliado à Rua Alchimia, 1200, nesta cidade, e PEDRO AUGUSTO DE SOUZA, brasileiro, solteiro, bancário, portador da Carteira de Identidade n.º 123.678-9, CIC n.º 789.321.987-11, residente e domiciliado à Rua Sassarico, 2400, nesta cidade, declaram que (Seu Nome), brasileiro(a), solteiro(a), estudante, filho de (Nome de seu Pai) e (Nome de sua Mãe, portador da Carteira de Identidade n.º (Número de sua Identidade) , CIC n.º (Número de seu CIC ou de seu Pai ou Responsável), residente e domiciliado à (Nome da Rua onde Você Mora), nesta cidade, é pessoa de irrepreensível idoneidade moral, nada tendo conhecimento que possa desabonar sua conduta pessoal e profissional. Minha cidade, 22 de abril de 2004. Assinatura 5 - Procuração Sempre que você não puder fazer alguma coisa pessoalmente, você pode nomear um procurador. Não se esqueça de reconhecer sua firma no cartório. INSTRUMENTO PARTICULAR DE PROCURAÇÃO OUTORGANTE: JOSÉ CARLOS DOS SANTOS, brasileiro, casado, comerciário, portador da Carteira de Identidade n.º 989.787-6, CIC n.º 121.232.343-44, residente e domiciliado à Rua Castro Alves, 3600, Minha cidade - PR. OUTORGADO: PEDRO AUGUSTO DE SOUZA, brasileiro, casado, comerciário, portador da Carteira de Identidade n.º 1.02.003-4, CIC n.º 321.987.654-22, residente e domiciliado à Rua da Alchimia, 801, Minha cidade - PR. PODERES: Amplos, gerais e irrestritos para o fim específico de, junto à Secretária do Colégio Estadual Castro Alves requerer certificado de conclusão do segundo grau, podendo, para tal fim, assinar recibos e documentos e praticar todos os atos necessários ao fiel desempenho deste mandato, inclusive substabelecer no todo ou em parte. Minha cidade, 22 de abril de 2004. Assinatura 6 - Atestado ATESTADO Atestamos, para os fins de direito, que o Sr. FULANO DE TAL, brasileiro, casado, estudante, portador da Carteira de Identidade n.º 1.002.003-4, CIC n.º 321.987.654-22, é aluno regularmente matriculado nesta escola, na 8ª série do primeiro grau, com frequência e aproveitamento dentro da normalidade. Cidade, 22 de Abril de 2004. Assinatura 7 - Solicitando Saldo, Talão de Cheques ou Extrato ao seu Banco. Minha cidade, 28 de Abril de 2004. AO BANCO ... S/A Ag. ... NESTA Ac.: Setor de Contas Correntes Ref.: Conta Corrente 003.004005-6 Prezado Gerente: Solicitamos fornecer ao portador desta, devidamente identificado, Sr. MÁRIO PEREIRA, portador da Carteira de Identidade n.º 456.321, o saldo atualizado (talão de cheques/extrato/etc.) de minha conta corrente. Certos da atenção costumeira, firmo-me, Atenciosamente, Assinatura 8 - Autorizando Débito em Conta Corrente A comodidade de deixar seus pagamentos aos cuidados do seu Banco pode exigir uma correspondência como esta: Minha cidade, 18 de abril de 2004. AO BANCO ... S/A Ag. ... NESTA At.: Setor de Débitos Automáticos em Contas Correntes Prezados Senhores: Solicitamos e autorizamos o débito mensal de meu carnê de mensalidades do Cursinho Minhas Letras, conforme documento em anexo, em minha conta corrente n.º 001.004.005-6, na data do seu vencimento, encaminhando-me os comprovantes. Certos da costumeira atenção, firmo-me, Atenciosamente, Assinatura 9 - Sustando o Pagamento de um Cheque Suponhamos que, por algum motivo, você precise sustar um cheque. Sustar é cancelar seu pagamento. Você pode mandar a seguinte carta ao seu Banco. Minha cidade, 18 de abril de 2004. AO BANCO ... S/A Ag. ... NESTA At.: Gerente de Contas Correntes Ref.: Cheque n.º 234.212 - R$ 12.000,00 - Emitido em 15/09/98 Prezados Senhores: Pela presente, vimos solicitar o cancelamento do pagamento do cheque acima, por nós emitido contra a nossa conta corrente n.º 003.004.005.6, nessa Agência, tendo em vista o seu extravio. Agradecendo pelas providências imediatas, firmamonos, Atenciosamente, Assinatura 10. Modelos de Currículo É importante ter seu currículo pronto e atualizado para fornecê-lo, quando solicitado. Eis um modelo simplificado: NOME ENDEREÇO CIDADE, ESTADO, CEP TELEFONE RESIDENCIAL E COMERCIAL OBJETIVO DO CURRÍCULO: Candidatar-se à vaga de... EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL Pegue sua Carteira Profissional e relacione um a um seus empregos anteriores, citando períodos, nomes e endereços das empresas onde trabalhou, cargos que ocupou e outras informações relevantes. ESCOLARIDADE: Relacione cursos, citando períodos, nome das instituições, carga horária e outras informações relevantes de sua escolaridade e dos cursos que frequentou e que tenham relação com o emprego pretendido. REFERÊNCIAS: Relacione pessoas físicas e jurídicas que possam prestar informações relevantes sobre seu desempenho profissional, citando nomes, endereços e telefones. Para facilitar, programas editores de texto como o Word oferecem diversos modelos de currículos, fáceis de serem usados, se você tem acesso a um computador. Não deixe de visitar com frequência meus endereços na Internet http://www.scribd.com/lpbacan http://www.acasadomagodasletras.net JUSTIFICATIVA Por que aprender a escrever? Poder-se-ia enumerar uma série de justificativas para isso, mas creio que a mais importante delas está ligada ao seu futuro. Se você pretende seguir uma carreira, vai passar pelo funil do ENEM, do vestibular ou de um concurso público, nos quais o item redação tem um peso que não pode nem deve ser desprezado. Se você vai ser um professor ou um advogado, saber escrever será sempre exigido de você. Se vai ser um médico, cedo ou tarde terá de fazer uma palestra e terá de pôr em prática seus conhecimentos. O jornal "Gazeta do Povo", em sua edição de 12 de janeiro de 1999, trazia na primeira página a seguinte chamada: Candidatos da PUC fogem do tema da redação Até ontem não houve o registro de nenhuma nota 10 entre os 17,6 mil candidatos na prova de Redação do vestibular da Pontifícia Universidade Católica. Muitos fugiram ao tema proposto: "Comunicação de Massa e Conformismo", sendo logicamente zerados. Escreveram sobre macarrão, a atmosfera e as massas de ar. A banca examinadora encerra a correção das provas hoje. Isso já seria o bastante para demonstrar porque a Redação deve ser encarada com seriedade, considerando seu peso e sua importância nas aprovações do vestibular. O mesmo ocorre em concursos onde ela é exigida, inclusive naqueles que requerem o conhecimento de Correspondência Comercial, que também é uma forma de redação. São altamente esclarecedoras e úteis as reportagens que se seguem a essa chamada, não apenas para dar preciosas informações sobre as avaliações feitas, como também para orientar quanto aos aspectos observados pelos professores encarregados da correção. Vejamos essas reportagens: Notas da Redação na PUC-PR ficam entre 5 e 6 Além de confundirem o tema proposto na prova, os candidatos ainda cometeram erros grotescos de gramática e concordância. Embora o nível das redações escritas pelos candidatos do vestibular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) tenha melhorado em relação ao concurso do ano passado, segundo os professores que as estão corrigindo, a banca examinadora das dissertações — que deve encerrar os trabalhos de correção hoje pela manhã — ainda considera fraco o desempenho dos vestibulandos. Até ontem, nenhuma das 17,6 mil redações tinha tirado nota 10. A maioria dos candidatos ficou com 5 ou 6. Alguns se desviaram completamente do tema proposto — "Comunicação de Massa e Conformismo"—, chegando a escrever sobre macarrão e as massas de ar. Os candidatos que escreveram sobre comida ou sobre a atmosfera devem ter visto a palavra "massa" e nem terminaram de ler sobre o tema proposto para começar a dissertação, imagina Geraldo Mattos, um dos 28 professores da PUC que participam da correção das redações. Além desse tipo de desvio do tema proposto, absurdos ainda maiores ocorrera. Alguns vestibulandos escreveram sobre o Descobrimento do Brasil, sobre a cidade de Curitiba, sobre a Revolução Industrial ou sobre a sua própria vida; uma espécie de autobiografia. De cada 60 redações, cerca de duas fogem ao tema, segundo os professores corretores. Recados "Espero que muito disso tenha ocorrido por brincadeira", diz a professora Marta Costa, outra corretora, que lembra que há candidatos que chegam a deixar recados na redação destinados ao "senhor, corretor da redação" ou "à banca examinadora". Além disso, também há aqueles que explicam a falta de inspiração alegando que "já passaram em outro vestibular" e por isso nem chegam a escrever as 20 linhas mínimas exigidas. Redações completamente brancas também foram entregues pelos vestibulandos. Aqueles que ao menos conseguiram discorrer sobre o tema proposto, na maioria mostram inúmeras deficiências em todas as áreas da língua portuguesa: gramática, pontuação, concordância. Erros crassos foram encontrados pelos professores: imprença (para designar imprensa), vôsse (você), bom bardeio (bombardeio) cirquíuto (circuito), entre outros (veja quadro). Também é muito comum a separação do sujeito do verbo e a falta de concordância verbal, que levam estudantes a escrever, por exemplo, "o homem são importante..."ou "as mulheres é", revela o corretor Basílio Agostini. Fala e escrita O problema, acredita a professora Marta, é que os vestibulandos de um modo geral escrevem do mesmo modo que falam, e as escolas ainda não sabem trabalhar essa relação entre a fala e a escrita formal de um modo adequado. O mais alarmante, aponta o professor Matos, é que a estrutura das frases e ideias, de um modo geral, é completamente aleatória e desconexa. "Isso revela uma dificuldade de raciocinar de modo lógico", ressalta a professora Marta. As conclusões também costumam ser desastrosas, parecendo uma mera lição de moral, diz ela. Ao afirmar que essas notícias eram extremamente valiosas, vamos mostrar como a leitura atenta de um texto, de uma informação e das notícias é importante para o entendimento, fornecendo elementos para uma análise lógica do conteúdo, tirando dele importantes subsídios. Inicialmente, vimos que, de 17,6 mil redações, 586 foram zeradas por fugir do conteúdo. Isso quer dizer que 586 concorrentes foram afastados da competição por esse motivo. Somam-se a esses aqueles que entregam as folhas em branco, aqueles que apresentam erros crassos, que demonstram deficiências em todas as áreas da língua portuguesa e veremos esse universo aumentar consideravelmente. Basta citar que a nota máxima, no caso, foi 6. Quem tirasse acima disso teria preciosos pontos sobre os demais concorrentes, que poderiam ser importantes na classificação final, garantindo a aprovação. Outro aspecto importante é que foram exigidas pelo menos 20 linhas, número que não varia muito de uma Universidade para outra. Além disso, a notícia enumera aspectos que devem ser trabalhados por aquele que deseja destacar-se no vestibular, fazendo uma boa prova de redação. Podemos enumerar, por exemplo: 1 - Jamais se desvie do tema proposto. Leia com atenção o que se pede, até entender exatamente sobre o que deverá escrever. 2 - Não mande "recados" ao corretor da redação. De nada adiantará e somente servirá para fornecer material para os próximos absurdos. 3 - Considere que não existe "inspiração", por isso evite ficar à espera dela. Ao entender o tema, entre em ação. 4 - Atenção redobrada com a gramática, pontuação, concordância, ortografia (se não tiver certeza da grafia da palavra, use um sinônimo) e estrutura da frase. 5 - Aprenda a diferenciar a fala da escrita formal. 6 - Procure impor ordem e nexo a suas ideias, raciocinando de modo lógico. Leia muito, discuta e troque ideias. Habitue-se a observar os diversos ângulos de um mesmo assunto. 7 - Conclua sua dissertação resumindo os argumentos apresentados. 8 - As chances de ser pedida uma dissertação são elevadíssimas. Com uma frequência menor, poderão ser pedidas descrições ou narrações. Esteja preparado para o inesperado. Como vê, todas essas informações foram tiradas da notícia e foram dadas por professores que trabalham na correção de redações. Haverá pessoas mais capacitadas para isso? Se você achou tudo isso importante, faça suas observações tire suas próprias conclusões sobre outra notícia publicada na mesma data e no mesmo jornal. Observe que há importantes informações e orientações sobre como abordar um tema de redação. Análise feita mostra massificação de estudantes Apesar do nível geral das redações ter aumentado, há 10 anos os candidatos eram mais criativos. A avaliação é da professora Marta Costa, uma das que está trabalhando na correção das dissertações do vestibular da PUC. Segundo ela, embora em muitas redações os candidatos condenassem o comodismo frente aos meios de comunicação, paradoxalmente os argumentos que a maioria usou para justificar suas opiniões são muito semelhantes. "Eles mesmos estão massificados", teoriza a professora. As maiores notas nas redações, lembra Marta, foram dadas exatamente para os candidatos que, além da correção gramatical, apresentaram argumentos que fugiram do lugarcomum e trouxeram alguma novidade. Já o professor Basílio Agostini, também corretor das dissertações, acredita que a falta de criatividade apresentada no vestibular, na verdade, é reflexo da democratização do acesso ao vestibular. Há 10 anos, menos pessoas — a maioria preparadas em colégios particulares mais tradicionais — conseguiam fazer o concurso e por isso o resultado parecia melhor. Falta de qualidade Para Agostini, embora os erros das redações possam parecer engraçados, na verdade revelam a falta de qualidade do ensino médio brasileiro. Como os problemas encontrados nas redações são praticamente os mesmos, ele acredita que poderia ser feita uma política educacional para que as maiores dificuldades dos alunos fossem sanadas ainda na escola. "Isso só seria possível com investimento público", defende ele. Por tudo isso, os estudantes estão entrando na universidade com inúmeras deficiências — o que compromete todo o seu aprendizado, já que eles devem ser instruídos em disciplinas nas quais já deveriam ter habilidades, diz a professora Marta. E os problemas não param na universidade, lembra outro professor da PUC, Jayme Bueno. Ele conta que recebeu em casa um folheto de uma agência de ecoturismo no qual havia recomendações a quem fosse participar de um determinado passeio: levar uma capa de chuva (se tiver), levar dois pares de tênis (um para usar, outro para ficar seco). Além disso, lembra ele, os erros se repetem na vida profissional. E então? Não foram preciosas informações estas passadas pela notícia? Tudo porque elas foram redigidas corretamente, de modo lógico, explorando as estruturas da língua, com um objetivo determinado, um começo, um meio e um fim. Informações igualmente importantes poderão ser lidas no capítulo Leituras Obrigatórias, em que importantes personagens da literatura abordam o importante assunto do estilo. Para terminar e relaxar um pouco, quer conhecer um pouco dos erros e absurdos de que falaram os esclarecidos mestres a respeito do tema "Comunicação de Massa e Conformismo"? Então vamos lá! Pérolas do Vestibular A ação de poluentes atmosféricos aquece a floresta. A AIDS é transmitida pelo mosquito AIDES EGIPSIO. A Amazônia é explorada de forma piedosa. A Amazônia está sendo devastada por pessoas que não tem senso de humor. A Amazônia está sofrendo um grande, enorme e profundíssimo desmatamento devastador, intenso e imperdoável. A Amazônia tem valor ambiental ilastimável. A arquitetura gótica se notabilizou por fazer edifícios verticais. A cada hora, muitas árvores são derrubadas por mãos poluídas, sem coração. A camada de ozonel. A capital de Portugal é Luiz Boa. A comunicação é de massa porque precisamos utilizar a massa cinzenta para compreendê-la. A comunicação é importante porque comunica algo entre duas ou mais pessoas que querem se comunicar. A comunicação é moderna porque usa modernidades da atualidade. A comunicação é uma junção da verdade com a falsidade, afinal fofoca é uma coisa feia e é comunicação. A comunicassão social e feita de mim para voçês. A concentização é um fato esperansoso para todo território mundial. A crise por qual o mundo passa aborrece a população em massa. A cultura mudou, os costumes mudaram, até os dentes dos nossos bisavós eram diferentes, temos dentes a menos. A diferença entre o Romantismo e o Realismo é que os românticos escrevem romances e os realistas nos mostram como está a situação do país. A empresa e o público ixterno caminhão juntos, incluindo aí a emprensa. A falta de consideração para com a natureza ocorre devido a falta de maturidade da cabeça e dos pensamentos humanos. A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos. A febre amarela foi trazida da China por Marco Polo. A floresta amazônica não pode ser destruída por pessoas não autorizadas. A floresta está cheia de animais já extintos. Tem que parar de desmatar para que os animais que estão extintos possam se reproduzirem e aumentarem seu número respirando um ar mais limpo. A floresta tá ali paradinha no lugar dela e vem o homem e créu. A Geografia Humana estuda o homem em que vivemos. A harpa é uma rosa que toca. A História se divide em 4: Antiga, Média, Moderna e Momentânea (esta, a dos nossos dias). A ideia de uma pessoa no oriente por exemplo, poderá ser examinada e copiada com todas as vírgulas em vários lugares do ocidente assim tornando essa ideia algo comum, por mais criativa que ela tenha sido. A igreja ultimamente vem perdendo muita clientela. A igreja vem perdendo muita clientela. A informação fornecida pela TV é pacífica de falhas. A insônia consiste em dormir ao contrário. A mudança sempre ocorreu e sempre vai ocorrer. Ela ocorre para os seres vivos, mortos, para o concreto, para o abstrato (ideias). A natureza brasileira tem 500 anos e já esta quase se acabando. A natureza está cobrando uma atitude mais energética dos governantes. A Previdência Social assegura o direito à enfermidade coletiva. A principal função da raiz é se enterrar. A principal vítima do desmatamento é a vida ecológica. A prosopopeia é o começo de uma epopeia. A relação entre a amizade e o interesse econômico são adjacentes. A respiração anaeróbica é a respiração sem ar, que não deve passar de três minutos. A situação tende a piorar: os madereiros da Amazônia destroem a Mata Atlântica da região. A televisão é influenciativa em nossas vidas. Quantas vezes não compramos um tênis porque vemos na TV? A programação da televisão deveria ser mais educante. A televisão é um meio de comunicação, audição e porque não dizer de locomoção'. A televisão leva fatos a trilhares de pessoas. A televisão passa para as pessoas que a vida é um conto de fábulas e com isso fabrica muitas abeças. A televisão pode ser definida como uma faca de trez gumes. Ela tanto pode formar, como informar, como deformar. A Terra é um dos planetas mais conhecidos no mundo. A TV acomoda aos tele inspectadores. A TV deforma a coluna, os músculos e o organismo em geral. A TV deforma não só os sofás por motivo da pessoa ficar bastante tempo intertida como também as vista. A TV é o oxigênio que forma nossas ideias. A TV ezerce poder, levando informações diárias e porque não dizer horárias. A TV no entanto é um consumo que devemos consumir para nossa formação, informação e deformação. A TV possui um grau elevadíssimo de informações que nos enriquece de uma maneira pobre, pois se tornamos uns viciados deste veículo de comunicação' A TV se estiver ligada pode formar uma série de imagens, já desligada não. A unidade de força é o Newton, que significa a força que se tem que realizar em um metro da unidade de tempo, no sentido contrário. A unidade de força é o Newton, que significa a força que se tem que realizar em um metro da unidade de tempo, no sentido contrário. Abto (hábito). Abtolado (bitolado). Ainda não se sabe alcerto qual foi. Aixo (acho). Amigos puxam topete um do outro. Amizade na maioria das vezes é uma conjuntura de atividades realizadas por duas ou mais pessoas, podendo ser real ou fictícia. Anafaquistão, um país que derrubou as torres e que tem como deus um tal de Bilack. Animais ficam sem comida e sem dormida por causa das queimadas. Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto. Antigamente ao bater uma carroça na outra dificilmente alguém morria, hoje após a evolução, milhares morrem em acidentes de carro. Antigamente há uns 30 anos atrás. Ao longo dos tempos, como todos esperávamos, a história mundial vem se modificando. Ao utilizarmos a comunicação nos comunicamos. Após cinco anos de sua introdução à sociedade, havia concluído dois cursos superiores e penetrado na vida política. Arriscarão (arriscaram). As aves têm na boca um dente chamado bico. As constelações servem para esclarecer a noite. As glândulas salivares só trabalham quando a gente têm vontade de cuspir. As mudanças ocorrem devagarosamente. As mulheres é... As múmias tinham um profundo conhecimento de anatomia. As pessoas morrem agonizadamente. As plantas se distinguem dos animais por só respirarem a noite. As principais cidades da América do Norte são Argentina e Estados Unidos. Atualmente para conseguirmos entrarmos no mercado de trabalho, temos que estudarmos muito e deixarmos de lado muitos prazeres. Bom bardeio (bombardeio). Bom censo (bom senso). Bom, vou juntar varias coisas que axei e botar aki, axu q vae ficar grande xP. Bomsenso (bom senso). Caracteres sexuais secundários são as modificações morfológicas sofridas por um indivíduo após manter relações sexuais. Cirquíuto (circuito). Com ser tesa (com certeza). Como diz o ditado: é duro agradar a pobres e troianos. Comunicação de maça (comunicação de massa). Comunicação em massa (comunicação de massa). Concerteza (com certeza). Confessão (confessam). Convivemos com a merchendagem e a politicagem. Desde a priori aos tempos remotos. Desde o seu surgimento o homem galopou pela escala orgânica, tendo seu cérebro como montaria, pois anda a frente das demais espécies, dominando-as a seu favor. Dificilmente vamos encontrar mudanças ou progressos que são positivamente bons para ambas as partes. Docê – doce. E nós estamos nos diluindo a cada dia e não se pode dizer que a TV não tem nada a ver com isso. E o Homo Sapiens continua seu progresso: desmatando, poluindo e usando desinfetantes, só para dar cheirinho no seu banheiro. E o presidente onde está? Certamente em sua cadeira, fumando baseado e conversando com o presidente dos EUA. E por enquanto a decisão está indecisa. É preciso deter o avanço bélico e fronteiriço dos EUA. É preciso melhorar as indiferenças sociais e promover o saneamento de muitas pessoas. É um problema de muita gravidez. Em Esparta as crianças que nasciam mortas eram sacrificadas. Em homenagem a Gutenberg, fizeram na Alemanha uma estátua, tirando uma folha do prelo, com os dizeres: e a luz foi iluminada. Enquanto isso os Zoutros… tudo baixo nive. Então o governo precisou contratar oficiais para fortalecer o exército da marinha. Entre os povos orientais os casamentos eram feitos no escuro e os noivos só se conheciam na hora h. Entres os índios de América, destacam-se os aztecas, os incas, os pirineus, etc. Espero que o desmatamento seja instinto. Esse processo poderá centralizar as pessoas. Estamos no apse do mundo digital. Eu concordo em gênero e número igual. Eu, particularmente, desenvolvi uma cabacidade de raciocínio e argumentação incríveis. Expansivas são as pessoas tangarelas. Explorar sem atingir árvores sedentárias. Expressões de baixo escalão (expressões de baixo calão). Faço comunicação porque acho importante ser comunicadora, mas não acho importante ler jornal (suja a mão), nem ficar em casa vendo TV. Acho melhor me comunicar entre si. Fazendo uma comparação das proezas do coelho que se reproduz em grande quantidade, os humanos já venceram com maior número populacional. FMI, gente que nunca veio aqui e nem sabe o que é sofrer. Hitler, apesar de tudo, era um grande extrativista. Houssa (ouça). Imaginem a bandeira do Brasil. O azul representa o céu , o verde representa as matas, e o amarelo o ouro. O ouro já foi roubado e as matas estão quase se indo. No dia em que roubarem nosso céu, ficaremos sem bandeira. Imprença (imprensa). Isso tudo é devido ao raios ultra-violentos que recebemos todo dia. Já está muito de difíciu de achar os pandas na Amazônia. Lavoisier foi guilhotinado por ter inventado o oxigênio. Lenda é toda narração em prosa de um tema confuso. Marketing em português é mercado, marketing pessoal, portanto é o mercado que frequentamos. Meacabei medando mau. Menos desmatamentos, mais florestas arborizadas. Milhares de pessoas pegaram epidemia de cólera. Na América Central há países como a República do Minicana. Na América do Norte tem mais de 100.000 Km de estradas de ferro cimentadas. Na cama dos deputados foram votadas muitas leis. Na floresta amazônica tem muitos animais: passarinhos, leões, ursos, etc. Na Grécia a democracia funcionava muito bem porque os que não estavam de acordo se envenenavam. Na Grécia Antiga um dos maiores césares foi esfaqueado pelo seu próprio filho adotivo. Na Grécia, a democracia funcionava muito bem, porque os que não estavam de acordo, se envenenavam. Na verdade, nem todo desmatamento é tão ruim. Por exemplo, o do Aeds Egipte seria um bom beneficácio para o Brasil. Não preserve apenas o meio ambiente e sim todo ele. Nesta terra ensi plantando tudo dá. No Brasil e no mundo as pessoas é envolvida por notícias. No começo os índios eram muito atrazados mas com o tempo foram se sifilizando. No passado, não existia absolutamente nada para se comunicar, se informar e com o passar do tempo as coisas foram mudando radicalmente. Quem sabe se na pré-história os indivíduos pertencentes à raça humana já tinham ideia de se comunicar com os outros mesmo a longas distâncias? Ou quem sabe se eles eram até mais evoluídos do que nós? Uma coisa é certa: eles existiram. No tempo colonial o Brasil só dependia do café e de outros produtos extremamente vegetarianos. O Ateísmo é uma religião anônima. O aumento da temperatura na terra está cada vez mais aumentando. O batismo é uma espécie de detergente do pecado original. O bem star (sic) dos abtantes endependente (sic) de roça, religião, sexo e vegetarianos, está preocudan-do-nos. O Brasil é um país abastardo com um futuro promissório. O Brasil é um país muito aguado pela chuva. O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo. O cerumano no mesmo tempo que constrói, também destroi, pois nos temos que nos unir para realizarmos parcerias juntos. O Chile é um país muito alto e magro. O clima de São Paulo é assim: quando faz frio é inverno; quando faz calor é verão; quando tem flores é primavera; quando tem frutas é outono e quando chove é inundação. O comodismo e a falta de criatividade são as piores virtudes do ser humano. O coração é o único órgão que não deixa de funcionar 24 horas por dia. O empréstimo para amigos ou parentes são sempre feitos via oral. O endomarketing é como se fosse o marketing endovenoso. O Euninho já provocou secas e enchentes calamitosas. (sobre o El Niño) O examinador não poderia vir corrigir a prova de pijama porque a resvista Cláudia diz que é errado. O fidibeque é a mesma coisa que a retroinformação, ou seja a informação que vem por trás. O filósofo Nich do início do século já observava que a evolução gerérica teria que ser de forma moderada. O grande excesso de desmatamento exagerado é a causa da devastação. O grande problema do Rio Amazonas é a pesca dos peixes. O hino nacional francês se chama La Mayonèse... O homem progrediu as custas de outros, como Frankstein, que deu vida a uma criatura, adquiriu a evolução mas não teve bom êxito com o monstro criado. Já que este monstro não tinha noção da sua força e deformação. O homem são importante... O homem tem a capacidade infinita de evoluir, mas não sabe utilizá-la de forma segura e promíscua. O macaco é descendente do homem. O maior matrimônio do país é a Educação. O mundo está reagindo as reações que o homem está fazendo. O nervo ótico transmite ideias luminosas ao cérebro. O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas desconhecidas. O petróleo apareceu há muitos séculos, numa época em que os peixes se afogavam dentro água. O povo amazônico está sendo usado como bote expiatório. O povo vive num mundo de comodidade sem fazer esforço para que a crise da contradição seja mais que o comodismo. O Press release tem esse nome porque realiza as coisas com pressa. O problema ainda é maior se tratando da camada Diozanio! O problema da Amazônia tem uma percussão mundial. Várias Ongs já se estalaram na floresta. O problema da comunicação social no Brasil é que ela é dirigida por brasileiros, deveríamos trazer os americanos. O problema fundamental do terceiro mundo é a superabundância de necessidades. O proficional de comunicação tem um mercado bundante a sua disposição, afinal, todos se comunicam na terra. O público mixto é composto por aquelas pessoas que entram e saem da empresa. Ou seja nunca estão totalmente dentro, nem totalmente fora. O que é de interesse coletivo de todos nem sempre interessa a ninguém individualmente. O que vamos deixar para nossos antecedentes? O ruído realmente atrapalha muito a comunicação. Aqui na universidade fico atordoado quando passa o trem, quase não ouço o professor. As salas deveriam ser à prova de som. O ser humano é uma faca de dois gumes e o primeiro é o amor, que é uma pilastra central da sociedade. O serigueiro tira borracha das árvores, mas não nunca derrubam as seringas. O sero mano tem uma missão. O sol nos dá luz, calor e turistas. O terremoto é um pequeno movimento de terras não cultivadas. O uniforme da nova geração está ultrapassado. O vento é uma imensa quantidade de ar. Oceano é onde nasce o Sol; onde ele nasce é o nascente e onde desce decente. Opição (opção). Opnião (opinião). Os aminoácidos foram os primeiros habitantes da terra. Os analfabetos nunca tiveram chance de voltar à escola. Os crustáceos fora d'água respiram como podem. Os desmatadores cortam árvores naturais da natureza. Os dismatamentos é a fonte de inlegalidade e distruição da froresta amazonia. Os egípcios antigos desenvolveram a arte funerária para que os mortos pudessem viver melhor. Os estrangeiros já demonstraram diversas fezes enteresse pela Amazônia. Os estuários e os deltas foram os primitivos habitantes da Mesopotamia. Os fungos realmente são bastante nocivos aos interesses humanos. Fungando, uma pessoa pode estar inalando milhões e milhões de vírus e bactérias do ambiente em que se respira. Mas há também a utilidade. Uma boa fungada pode efetivamente retirar aquele catarro preso na garganta, sendo que quanto maior o som emitido pela fungada maior é a sua eficiência e precisão na retirada daquela substância indesejada. Há quem diga que fungos é porcaria, mas pesquisas científicas revelam que, além de serem métodos eficientes, as fungadas fazem parte do dia-a- dia de pessoas em todo o mundo. É como diz a famosa frase: aquele que nunca deu uma fungada que atire a primeira pedra. Os hermafroditas humanos nascem unidos pelo corpo. Os maias, por exemplo, pouco se sabe sobre essa civilização, muitos acreditam que eles chegaram a tal ponto evolutivo que transcenderam. Ou mesmo as civilizações dos cristais que ocuparam o planeta há muito tempo atrás e que obtinham todos os seus poderes dos cristais. Os plantetas são 9: Mercúrio, Venus,Terra, Marte. Os outros 5 eu sabia mas como esqueci agora e está na hora de entregar a prova, o sr. não vai esperar eu lembrar, vai? (e espero que não vai abaixar a nota por causa disso). Os principais meios utilizados pelas comunicação são: meios orais (que são falados), meios auditivos (que são ouvidos) e mais tácteis (que são sentidos). Os próprios seres humanos somos mudanças ambulantes. Os ruminantes se distinguem dos outros animais porque o que comem, comem por duas vezes. Para subir na vida é preciso fazer caminhos descentes. Paremos e reflitemos. Partil (partiu). Pensão (pensam). Percebece (percebe-se). Péricles foi o principal ditador da democracia grega. Pode até ser por acidente. Tropeçamos no progresso, caimos na mudança e levantamos na evolução. Pode-se notar que o homem só conseguiu ir para diferentes lugares do mundo a partir dos primatas, que desenvolveram a roda, tendo como consequência a possibilidade de conhecer culturas variadas. Por isso é que podemos dizer que esse meio de transporte é capaz de informar e deformar os homens' (sobre a TV). Porém o mundo anda em progresso as grandes maioridades das vezes. Praminha casa (pra minha casa). Precisamos de oxigênio para nossa vida eterna. Precisamos tirar as fendas dos olhos para enxergar com clareza o número de famigerados que almenta. Precisa-se começar uma reciclagem mental dos humanos, fazer uma verdadeira lavagem celebral em relação ao desmatamento, poluição e depredação de si próprio. Provocando assim a desolamento de grandes expecies raras. Quando um animal irracional não tem água para beber, só sobrevive se for empalhado. Quanto à opinião pública, podemos dizer que ela é mutável. Por exemplo: na hora do parto, a mulher pode optar pelo aborto. Resta-nôs (resta nos). Retirada claudestina de árvores. Salvesse quem puder. São formados pelas bacias esferográficas. Se a comunicação é pessoal, envolvendo o emissor e o receptor, como podemos pensar em comunicação empresarial? A empresa se expressa por si só? Se os seus pais nasceram e estão embuídos na sociedade de nível alto, terá facilidade de ter amigos. Segundo Darcy Gonçalves (Darcy Ribeiro) e o juiz Nicolau de Melo Neto (Nicolau dos Santos Neto). Sempre ou quase sempre a TV está mais perto denosco, fazendo com que o telespectador solte o seu lado obscuro. Sobrevivência de um aborto vivo. Somos a própria imagem da evolução refletida no espelho do progresso. Sonhamos com um mundo melhor, visto que o dinossauro cedeu lugar ao cachorro, gato. Supera-rá (superará). Também preoculpa o avanço regesssivo da violência. Tecnologia siginifica dinheiro, e como só um terço do mundo possui esse recurso. Técnológica (tecnológica). Tem certas situações que nem a mãe perdoamos, o que ela deve, é obrigada à pagar. Apenas não cobramos os juros, afinal é a mãe. Tem empresas que contribui para a realização de árvores renováveis. Tem que destruir os destruidores por que o destruimento salva a floresta. Temos que criar leis legais contra isso. Tiradentes, depois de morto, foi decapitulado. Tivemos uma longa conversa de cinco minutos. Todo ser humano é inédito e inaudito. Então, por que mudar isso? Todos os seres evoluem, cada um com a sua evolução, pois somos todos individualistas. Todos os seres humanos (menos algumas exceçoes) habitam esse pequeno e frágil globo chamado planeta terra. Tornamo-nôs (tornamo-nos). Tudo isso colaborou com a estinção do micro-leão dourado. Tudo vem dos seres vivos, até os seres não-vivos. Ultimamente não se fala em outro assunto anonser sobre os araras azuls que ficam sob voando as matas. Uma vez que se paga uma punição xis, se ganha depois vários xises. Vamos deixar de sermos egoistas e pensarmos um pouco mais em nos mesmos. Vamos gritar não à devastação e sim à reflorestação. Vamos mostrar que somos semelhantemente iguais uns aos outros. Vamos nos unir juntos de mãos dadas para salvar planeta. Vivemos em um mundo em que vence o melhor, não importando a maneira do vencimento. Vôsse (você). Após esses exemplos, se você tem um bom grau de leitura e de conhecimentos atualizados, com certeza sairá na frente de uma porção de outros candidatos menos capacitados. É um ponto importante para sua reflexão, pois pode ser um fator tranquilizador, afastando o nervosismo excessivo e a insegurança. Sua aprovação no ENEM, no vestibular ou em um concurso público pode depender, então, de poucos pontos, que você poderá conseguir se souber fazer uma redação correta e coerente. Está disposto a investir nisso? Está disposto a não fornecer material para as colunas de erros e absurdos? Se a resposta é afirmativa, este livro foi escrito para você! NOVAS TENDÊNCIAS DO VESTIBULAR Durante o vestibular de janeiro de 2000, na Universidade Estadual de Londrina, uma das cinco melhores do país, o reitor em exercício informou que o vestibular daquela instituição passará por modificações significativas, conforme divulgado pelo jornal Gazeta do Povo. "Desde o ano passado, nosso processo seletivo vem sofrendo mudanças que se iniciaram com a redução do número de questões nas provas, que agora estão mais dissertativas, acompanhando as mudanças do ensino médio." Essa mudança, que indica uma tendência a ser seguida pelas demais universidades e faculdades, exigirá dos candidatos habilidades para ler, interpretar e argumentar com base no conteúdo apreendido. Para quem tem essa habilidade, o problema inexiste. O que ocorre, no entanto, é que a grande maioria dos alunos terá nisso uma barreira ainda maior a suas pretensões de entrada em um curso superior. Essa constatação fica evidente nos comentários de professores que avaliavam os textos dos vestibulandos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, no vestibular 2000. Em dez mil provas corrigidas. a média das notas situava-se entre quatro e seis. Havia surgido apenas uma nota dez. A PUC-PR tem por tradição utilizar temas relacionados ao momento histórico atual e seu modelo foge dos parâmetros tradicionais de se propor um tema a ser discorrido. Para entender melhor, veja como foi a prova de redação em janeiro de 2000. Sobre o tema escolhido, o candidato deveria escrever de 20 a 25 linhas, incluindo o título, que deveria ser o texto da parte selecionada por ele como tema. ÉTICA E ECONOMIA "Business is business!" (Negócio é negócio!), ou, "amigos, amigos, negócios à parte!" são frases que revelam uma das características centrais de nossas sociedades modernas. Elas mostram a separação que existe entre a amizade (e os valores morais) e a racionalidade econômica. Não somente a separação, mas a subordinação dos valores como a amizade à racionalidade econômica. Quando a amizade entra em conflito com interesse econômico, é esse que prevalece em detrimento do primeiro. (SENG, Jung Mo & SILVA, Josué Cândido da. Conversando sobre ética e sociedade. Petrópolis; Vozes, 1995. p.55) Para efeito de análise, o texto pode ser dividido em três partes: 1ª - a separação que existe entre a amizade e a racionalidade econômica. 2ª - a subordinação dos valores morais à racionalidade econômica. 3ª - quando a amizade entra em conflito com o interesse econômico, é este que prevalece. Dessas três, selecione uma parte para tema de sua redação. Sobre a parte escolhida, explicite aquilo com que você concorda ou aquilo de que discorda. Justifique a sua opinião. Para ter sucesso com qualquer um dos temas escolhidos, o candidato deveria "relacionar as categorias gerais apresentadas com argumentos de prova concreta, como fatos históricos, notícias recentes, etc. Importante também que o texto apresentasse um posicionamento claro de seu enunciador, uma vez que a proposta pede que o candidato "explicite" os pontos de concordância sobre o tema escolhido", conforme comentários dos professores Venícius, Paulo, Wella e Braz, do Colégio Positivo. (Gazeta do Povo, 5/01/2000, pg.24) O objetivo dessa prova foi explicado pelo professor Jayme Ferreira Bueno, coordenador da equipe responsável pela correção das provas de Redação: "Os alunos deveriam dar sua opinião, isto é, continuar a análise iniciada pelo texto por um dos três caminhos propostos." E acrescentou informações sobre a correção: "Avaliamos o candidato pela organização e estruturação do texto, pela sequencia lógica das ideias, pelo uso correto da Língua Portuguesa e por não fugir ao tema proposto." Estas são informações preciosas que completam aquelas já discutidas em nosso capítulo inicial. As observações da equipe encarregada da correção também são importantes: 1ª - 5% dos alunos entregaram suas provas em branco. 2ª - a falta de leitura e o uso de linguagem coloquial prejudicaram muitos candidatos. 3ª - os candidatos usaram muitos "chavões". 4. - alguns candidatos exageraram nos depoimentos pessoais. 5ª - acharam o tema fácil, mas se descuidaram da linguagem, da pontuação e das palavras. 6ª - Em algumas provas houve um festival de erros grotescos nas estruturas de frases e ideias, além de ortografia. Ainda sobre o assunto, a professora Marta Morais da Costa, coordenadora do curso de letras da PUC, declarou: "O grande problema está na pobreza do vocabulário e na falta de coesão no texto. Os alunos, infelizmente, não têm recursos para escrever uma redação por falta de leitura. Como pedimos a opinião do aluno sobre um tema, eles acreditam que podem escrever como se estivessem conversando. Além disso, aparecem na maioria das redações o uso de histórias pessoais e não a opinião embasada em conhecimentos. O que demonstra falta de leitura e de conhecimentos gerais." Em poucas palavras, a ilustre professora resumiu o segredo de uma boa redação: conhecimentos aliados à prática da leitura. E, muito embora o diagnóstico seja correto quanto à falta de recursos do aluno para a leitura, pessoalmente julgamos que obstáculos como esse pode ser superado pela força de vontade e pela criatividade. Uma delas é organizar um clube de leitura, em que amigos adquirem a assinatura e uma revista, pagando pouquíssimo a cada mês. Além disso, jornais, revistas e livros podem ser consultadas nas bibliotecas públicas e escolares. Se a sua biblioteca não está atualizada, que tal promover, com seus amigos, uma campanha para atualizá-la com novos títulos? E os velhos e sempre úteis "sebos"? Você já visitou algum? Com pouco dinheiro você e seus amigos podem adquirir livros importantes para aumentar seus conhecimentos. O importante é agir! Em janeiro de 2000, o vestibular da Universidade Estadual de Londrina teve o seguinte tema em sua prova de redação: "A preguiça é a mãe do progresso; se o homem não tivesse preguiça de caminhar não teria inventado a roda." Um dos candidatos entrevistados ao final do vestibular disse: "Abordei a questão do desenvolvimento do transporte...", enquanto que outro firmou: "Defendi a tese de que os países do primeiro mundo seriam mais desenvolvidos porque lá a preguiça é menor." (Gazeta do Povo, 11/01/2000, p.13) Obviamente as duas abordagens estão corretas, dependendo da maneira como foram desenvolvidas e embasadas, sem fugir do tema proposto. Ambas, no entanto, para serem válidas, precisariam ser embasadas em conhecimentos sólidos. A segunda proposta nos parece a mais temerária, pois precisaria provar a tese de que os países do segundo e terceiro mundos são mais preguiçosos. Na realidade, o tema não foi surpresa. A Universidade Estadual de Londrina tem seguido um modelo ao longo de seus vestibulares, como se pode notar pelos temas exigidos em suas últimas provas de redação: A maneira de trajar reflete os costumes de uma sociedade. A rebeldia sem causa não produz transformação alguma. A oportunidade só chega para quem sabe reconhecê-la. A verdadeira liderança está no saber repartir responsabilidades. Nossas palavras são o que somos? Existe, no mundo atual, alguma guerra tão longínqua que não nos atinja? A adolescência é ao mesmo tempo um fim e um começo. Que se pode esperar de uma sociedade que ignora as crianças e despreza os idosos? Do engajamento da mulher no mercado de trabalho decorrem muitas consequências. As ideias são como as epidemias: alastram-se. O homem cresce cada vez que se dispõe a recomeçar. Conservar hábitos significa reconhecer-lhes o valor? O amanhã começou ontem. A lição dos exemplos vale mais que a dos conselhos. Nada existe de tão fácil, que não se torne difícil, se você o faz de má vontade. O que importa não é alcançar a sociedade ideal, é caminhar para ela. Possíveis causas e consequências da situação do desemprego no país. O grande vencedor é aquele que não se deixa abater pela derrota. Fatos históricos: quem os conta? Quem os sofre? Pagam o preço do progresso aqueles que menos o desfrutam. A Escola é o melhor caminho para o exercício pleno da cidadania. Os homens de fato se comunicam por meio dos computadores ou apenas trocam informações? Não basta saber interpretar o que se lê num texto; é preciso saber interpretar o mundo em que se vive. Num noticiário de TV, tão veloz e tão variado, todas as notícias parecem ter o mesmo peso. Muitos homens, neste final de século, duvidam de que a humanidade possa caminhar para melhor sem a recuperação daquilo que a competição vem insistentemente abafando: a ideia de coletividade. Muitos homens, neste final de século, duvidam de que a humanidade possa caminhar para melhor sem a recuperação daquilo que a competição vem insistentemente abafando: a ideia de coletividade. Num noticiário de TV, tão veloz e tão variado, todas as notícias parecem ter o mesmo peso. Não basta saber interpretar o que se lê num texto, é preciso interpretar o mundo em que se vive. Os homens de fato se comunicam por meio dos computadores ou apenas trocam informações? A Escola é o caminho necessário para o exercício pleno da cidadania. Pagam o preço do progresso aqueles que menos desfrutam dele. Fatos históricos: quem os conta? quem os sofre? O grande vencedor é aquele que não se deixa abater pela derrota. As Novas Tendências Enquanto que os professores são unânimes em afirmar que a redação é um instrumento precioso de avaliação da qualidade dos candidatos a qualquer curso, alunos batem na mesma tecla de que essa prova deveria ser excluída do vestibular. Compare os argumentos: 1º - "Uma das questões pedia a opinião do candidato e acho que é muito difícil alguém conseguir julgar se a minha opinião está certa ou errada." 2º - "Acho que a prova de redação não julga o conhecimento do aluno, principalmente se ele estiver nervoso. Porque aí, ele acaba escrevendo qualquer coisa, mesmo que tenha se preparado." Vejamos o que disse sobre o assunto o professor Braz, do Curso Positivo, em matéria da Gazeta do Povo: "Para se comunicar oralmente, explanar um projeto, é preciso seguir a mesma sequencia lógica de uma redação. É preciso ordenar as ideias no papel; e só consegue fazer isso quem sabe redigir. Para redigir um texto, é preciso ter conhecimento de gramática, hábito de leitura e raciocínio lógico. Por isso, antes de saber escrever, é preciso saber ler." Argumentos como este do professor dão a indicação clara de que a redação não só vai continuar, mas como passará a exigir cada vez mais dos alunos. Afinal, o vestibular é um espécie de funil, por onde apenas os selecionados acabam passando. Quem estiver preparado terá maiores chances de sucesso. O reitor em exercício da Universidade Estadual de Londrina, citado no início do capítulo, informou também naquela ocasião que a UEL está buscando parcerias para a elaboração de suas provas e que uma das possíveis parceiras seria a Universidade Federal do Paraná, que está inovando no modelo de sua prova de redação, tornando-a ainda mais seletiva. Tanto que, embora merecendo elogios da maioria dos professores que acompanharam o vestibular 2000 daquela instituição, todos foram unânimes em reconhecer que se tratava de uma prova inexequível. Preferimos, aqui, classificá-la como altamente seletiva, uma vez que a redução do tempo, de certa forma incoerente em relação ao número e à dificuldade das questões, tornou-a dificílima, como você mesmo poderá verificar: Foram estas as questões: Questão 1 Na Mostra Comemorativa dos 20 anos de anistia no Brasil, foi apresentada uma charge, resumida no quadro abaixo. A partir de sua leitura, escreva um texto, de até 10 linhas, que compare os dois períodos da história recente do Brasil contrapostos na charge, focalizando os contraste explorado pelo humorista. ANISTIA ONTEM HOJE PENDURADO NO PAU-DE-ARARA PENDURADO NO CHEQUE ESPECIAL PELA VOLTA DOS EXILADOS! PELA VOLTA DOS EMPREGADOS! ABAIXO A DITADURA DOS MILITARES! ABAIXO A DITADURA DO DÓLAR Questão 2 Foi publicada na revista ISTO É, em 04/08/99, uma reportagem sobre a previsão de que o mundo acabaria no dia 11 de agosto do mesmo ano. Um trecho da reportagem diz o seguinte: Cristãos fanáticos acreditam que o eclipse é o indício do "fim dos tempos" pregado na Bíblia. Seguidores de Nostradamus vislumbram o sinal que deverá marcar a vinda do Grande Rei do Terror, anunciada nas famosas Centúrias. Dizem que os extraterrestres já estariam preparando os terráqueos para uma "alteração vibracional do planeta". Astrólogos e esotéricos falam em sérias transformações na terra e no surgimento de uma nova consciência no homem. Tudo isso viria com o eclipse, também citado nas escrituras dos povos celtas e no Vishnu Purana, um dos textos sagrados do hinduísmo. Indiferente ao fato de que a contagem do ano 200 só exista para o cristão — no calendário dos islâmicos, chineses e judeus não consta mudança de século nos próximos meses —, essa turma de supersticiosos, catastrofistas, milenaristas e fundamentalistas acendeu o pisca alerta. O astrofísico Carl Segan, em seu livro. O Mundo Assombrado pelos demônios (1995), apresenta o seguinte ponto de vista: "Durante grande parte da nossa historia tínhamos tanto medo do mundo exterior, com seus perigos imprevisíveis, que aceitávamos de bom grado qualquer coisa que prometesse suavizar ou atenuar o terror por meio de explicações. A ciência é uma tentativa, em grande parte bem-sucedida, de compreender o mundo, de controlar as coisas, de ter domínio sobre nós mesmos, de seguir um rumo seguro. A microbiologia e a meteorologia explicam hoje o que há alguns séculos era considerado causa suficiente para queimar mulheres na fogueira. (...)" Minha preocupação é que, especialmente com a proximidade do fim do milênio, a pseudociência e a superstição parecerão mais sedutoras a cada novo ano, o canto de sereia do irracional mais sonoro e atraente. Onde o escutamos antes? Sempre que nossos preconceitos étnicos ou nacionais são despertados, nos tempos de escassez, em meio a desafios à autoestima ou à coragem nacional, quando sofremos com nosso diminuto lugar no Cosmos, ou quando o fanatismo ferve ao nosso redor — então, hábitos de pensamentos conhecidos de eras passadas procuram se apoderar dos controles." Escreva um texto, de até 10 linhas, confrontando a posição dos apocalípticos com o ponto de vista do cientista Carl Segan. Questão 3 Alguns veículos de comunicação, como a revista ISTO É de 25/08/99 e a Folha de S. Paulo de 12/09/99, noticiaram a decisão do comitê de educação estadual do Estado de Kansas, EUA, de excluir de seus exames questões sobre a teoria da evolução de Darwin e o modelo do Big Bang, para desencorajar o ensino dessas teorias nas aulas. Um dos argumentos do comitê foi o fato de que ninguém pode voltar no tempo para observar diretamente como a vida ou o Universo se originaram e, por isso, qualquer teoria sobre essas origens é especulação. Esse movimento é impulsionado pelos criacionistas, que procuram justificar a Bíblia como um texto descrito em ciências naturais, ou seja, que aceitam literalmente as descrições bíblicas das origens do Universo e da vida no Gênese. Alguns leitores da revista ISTO É, diante das críticas que a reportagem apresentou em relação à decisão tomada pelo comitê, se manifestaram a respeito: O autor ignora completamente algumas questões fundamentais. Primeiro: a teoria da evolução ainda é uma mera teoria, porque não pode ser demonstrada. Segundo, que ensinar uma teoria nas escolas públicas, como se fosse já comprovada, é uma imposição grosseira, como as cometidas na Idade Média. Terceiro, crer na teoria evolucionista exige uma dose gigantesca de fé por causa das inúmeras perguntas sem respostas, das incontáveis incoerências internas e das abundantes descobertas cientificas que apoiam a explicação criacionista. (J.M.S. - Goiânia/GO) "É simplesmente absurdo tratar as descobertas de Charles Darwin como teorias. Qualquer biólogo sabe que elas são fatos cientificamente provados e incontestáveis. Situações como esta só provam a ignorância do povo mais rico do planeta." (M.W.S.D. - Brasília/DF) Posicione-se a respeito, escrevendo um texto de até 10 linhas. Qualquer que seja sua opinião, o importante é apresentar argumentos para sustentá-la. Questão 4 É bastante frequente a afirmação de que o inglês é a língua mais falada no mundo. Considerando as informações que aparecem na tabela, redija um texto, de até 10 linhas, comentando essa afirmação. As línguas mais faladas Há mais de 4.000 idiomas, mas um grupo de apenas dez é falado — como primeira ou segunda língua — por mais da metade da população mundial (em milhões de pessoas) Chinês Inglês Hindi Espanhol Russo Árabe Bengali Português Indonésio Alemão Fonte: Sidney Culbert / University of Washington, Seattle (Adaptado de Veja - 19/09/99 - p. 86) Uma prova como esta, como um tempo reduzido para sua realização, exige do candidato rapidez de leitura, facilidade de interpretação, análise e comparação de dados, raciocínio lógico, argumentação e conhecimento da língua. É uma prova difícil, mas não impossível de ser realizada, mas apenas conseguirão superá-la aqueles que estiverem devidamente preparados. Nervosismo e outros fatores não interferem quando se tem a segurança que advém do conhecimento, quando tarefas como essa já estão automatizadas. Isso exige dedicação, esforço, empenho e superação. Se dificuldades existem, devem ser superadas com criatividade, método e disciplina. Vejamos, agora, os temas de dois vestibulares recentes da Universidade de Londrina, que mudam a visão e a abordagem do teste como forma de aferir a capacidade do candidato. Redação 1. Leia o tema dado a seguir e analise as ideias nele contidas. TEMA “A preguiça é a mãe do progresso; se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.” 2. A frase acima é do escritor Mário Quintana. Trata-se apenas de um pensamento bem-humorado ou de uma antiga verdade, que a tecnologia moderna vem confirmando? 3. Faça uma dissertação, na qual você argumentará para esclarecer sua posição diante dessa frase. 4. A dissertação deve ter a extensão mínima de 20 linhas e máxima de 30, considerando-se letra de tamanho regular. Redação 1. Leia o tema dado a seguir e analise as ideias nele contidas. TEMA O espaço que o homem habita diz muito de seu modo de ser. 2. Considerando essa afirmação, leia atentamente o texto publicitário abaixo. Apartamento pronto para morar Zona nobre - 1 dormitório, 2 vagas em garagem privativa coberta Central de vendas: Rua Guapuruvu, 503 - Fone: 1052-5616 3. Faça uma dissertação em que você, tendo refletido sobre a relação entre os dois textos, exponha o que pensa a respeito do tema. 4. A dissertação deve ter a extensão mínima de 20 linhas e máxima de 30, considerando-se letra de tamanho regular. Assim, se você tem dificuldades com a Redação, não espere facilidades nos próximos vestibulares. A tendência será exigir conhecimentos abrangentes não apenas na habilidade de redigir, mas também nas de interpretar textos e de usar informações. Em muitos casos, a redação trará temas abstratos, polêmicos e atuais que podem ser que qualquer natureza, desde filosóficos e sociológicos a temas sobre a essência humana, modernidade, redes sociais, trabalho, amizade, bulling, internet, linguagem telefônica (comparada aos antigos telegramas), crises nacionais e mundiais de toda ordem e meio ambiente. Para não ser pego de surpresa, você precisa estar preparado e esta parede ser uma tarefa impossível. Antes de qualquer coisa, afaste de sua mente todo e qualquer pensamento negativo, pois nem tudo estará perdido, se você tiver força de vontade e estiver disposto a aprender Redação Passo a Passo. PARTE 1 ESTILO Capítulo 1 DESENVOLVENDO UM ESTILO PRÓPRIO Estilo, primitivamente, era o nome de um instrumento em forma de agulha, usado para escrever sobre tábuas untadas de cera. Modernamente, significa a maneira de cada escritor ou pessoa ao exprimir seus pensamentos, sentimentos ou fatos, seja pela escrita ou através da fala, exigindo de cada um a aplicação de todas as suas faculdades: inteligência para dar solidez e encadeamento, a imaginação para dar brilho, vontade para a força e o ouvido e a língua para exercitar. Sendo algo tão pessoal, pode-se afirmar que existem, tantos estilos quantos são os escritores, pois cada um é único em sua formação, conhecimentos, criatividade, temperamento, vontade e talento. Para se afirmar que um escritor tem um bom estilo, acima de tudo, é preciso que, ao escrever, toda palavra tenha origem na ideia e toda frase encerre um pensamento. Adaptando isso ao nosso objetivo específico que é a redação para o vestibular ou para concursos, podemos afirmar que toda palavra deve ter sua origem no tema proposto e toda frase deve encerrar um pensamento vinculado a este objetivo. A importância do estilo reside no fato de permitir que possamos dizer alguma coisa de uma forma diferente de uma outra pessoa. Muitas vezes, não é o que escrevemos, mas a forma como escrevemos que impressiona mais. Todos temos mais ou menos as mesmas ideias e pensamos as mesmas coisas. O que nos diferencia está na forma como expressamos isso de maneira individual. Uma ideia transmitida por uma pessoa pode parecer uma coisa trivial e sem importância, enquanto que a mesma ideia, transmitida por uma outra pessoa, pode ganhar uma importância fora do comum. Sendo algo tão pessoal, não se pode, porém, afirmar que cada um nasce com um estilo próprio. Ele é formado, juntamente com o gosto que, como diz o célebre ditado, "não se discute", pois é próprio de cada um. Para ser um bom escritor, é preciso aprimorar-se e isso exige transpiração. Não há dom que consiga passar para sua cabeça toda a beleza literária de uma poema ou o conteúdo de um livro de história, sem que você tenha que se debruçar sobre ele e lê-lo do princípio ao fim. Para se desenvolver um estilo próprio e adequado, suficiente para fazê-lo enfrentar sem temor qualquer prova ou concurso em que a redação seja exigida, você pode seguir alguns passos importantes. Lembre-se sempre que nada nem ninguém conseguirá fazê-lo se tornar um bom escritor, exceto a minha fórmula mágica do CHA que pode ser reduzida nos seguintes componentes básicos: Inspiração 10%, Transpiração 90%. COMO DESENVOLVER UM ESTILO PRÓPRIO É preciso aprender a gostar de escrever e isso só se consegue através da formação do gosto pessoal. É preciso provar de tudo e gostar de tudo, independente de preferências. A educação do gosto pode ser feita pela leitura, pelos exercícios de análise e de crítica literária, pela participação em debates ou pela simples troca de ideias com pessoas que apreciem as letras de modo geral. Buscando uma forma prática de fazer isso, podemos desenvolver nosso próprio estilo através de três passos básicos: a observação, a leitura e a imitação. A Observação Inicialmente, para você escrever, a condição inicial é que você tenha alguma coisa para dizer. Quando se impõe um tema, é preciso que você tenha conhecimento desse tema para poder escrever sobre ele. A observação é o primeiro meio de adquirir conhecimentos e isso pode ser usado em literatura. Como devemos fazer isso com um certo método, não basta observar. É preciso aprender a observar. A observação é tão essencial em redação como na própria vida. A todo momento somos vitimas dos mesmos erros que muito bem poderiam ter evitado, se estivéssemos atentos? Por que erramos constantemente no uso da pontuação, quando podemos apanhar a gramática e tirar as dúvidas de uma vez por todas? Ou recorrer ao professor definitivamente? Assim, linha após linha, redação após redação vamos cometendo os mesmos erros. E o que é pior: temos ao nosso alcance, nas prateleiras das bibliotecas, exemplos de especialistas nessa arte e não aprendemos a procurá-los, conhecê-los e imitá-los. Quantos erros podemos evitar, se aprendermos a observar? Quantos se julgam incapazes de escrever e não percebem que lhes falta o hábito de observar. Veem as coisas, mas não as observam, sempre à procura de fórmulas mágicas que possam transformá-los em bons redatores da noite para o dia. Infelizmente não existe isso. Didaticamente, podemos dividir a observação em material e moral. Na material, aprenda a observar a natureza, os pormenores de sua obra, os contornos, as cores e os sons. Seja curioso e procure ver tudo com novos olhos. Aquela árvore velha próxima de sua casa, por onde tantas vezes você passou, pode ganhar uma nova dimensão se você olhá-la com novos olhos, atentando para as diferenças de cores entre o tronco, os galhos, as folhas e os frutos. Veja como o vento a movimenta. Acompanhe uma folha que cai. Note os pássaros movimentando-se por entre os ramos. Você só vai conseguir descrever com naturalidade uma árvore, se um dia parar para observar uma com cuidado. Aprenda a fazer isso com as casas e ruas de sua cidade, com as pessoas que conhece, enquadrando-as em tipos semelhantes. Quando viajar, use isso para alargar seu campo de observação, fazendo comparações entre o que conhece e o que está conhecendo, incorporando novas imagens e experimentando sensações desconhecidas. Não é algo difícil de ser feito. Apenas olhe as coisas como se tivesse que descrevê-las e, se quiser ir mais fundo nesse aprendizado, mentalmente faça uma rápida descrição do que vê ou sente. Se lhe faltar palavras ou expressões, assim que possível busque-as num dicionário ou peça sugestões a um amigo ou ao seu professor. Além da observação material, é importante também a observação moral. O ser humano revela-se através de seus atos. Aprenda a reconhecê-los. Saiba o que traduz a cólera ou alegria. Observe como as pessoas reagem às emoções. Uma franze a testa, denotando enfado. Outra torce o nariz, demonstrando contrariedade. Outra pisca fecha os olhos por algum tempo, para demonstrar prazer. Vá além. Veja como as pessoas podem ser intransigentes. Como se recusam a aceitar opiniões contrárias por pura teimosia. Comece a descrever o perfil moral das pessoas que conhece ou que vir a conhecer, sempre as observando e comparando as informações assim obtidas. Para isso, nada melhor que conversar com as pessoas, trocar informações com elas, descobrir seus gostos e preferências, estimulá-las a falar do que apreciam e desafiando-as a encarar o que não gostam. Sonde suas reações. Compare isso com as reações de outras pessoas na mesma situação. Você só conseguirá descrever uma pessoa irada, se observar uma atentamente. Fora disso, tudo será intuitivo, empírico, desprovido de originalidade, naturalidade e com tremendo sabor de coisa falsificada ou arrancada a fórceps da imaginação. Finalmente, não limite sua observação exclusivamente aos que o cercam. Analise-se para se conhecer melhor. Observe como pensa, como reage diante de determinadas situações, como ama, como fala, como se comporta e age. Quando observar uma cena, analise a impressão que ela lhe causa, se o deixou admirado, satisfeito, triste. Se aprova ou desaprova, descubra o motivo. Tenha em mente que a observação é indispensável, pois vai lhe dar elementos para ter o que dizer, quando for redigir, mas não deve ser ela o único elemento de formação de seu gosto e de seu estilo. Uma forma indireta de observação, a leitura, certamente vai tornar isso mais fácil, pois poderá suprir a observação direta das coisas, dos homens e de nós mesmos. A Leitura Experimente fazer um simples exercício, na próxima vez em que estiver fazendo uma redação e sentir que lhe escasseiam as ideias e que as imagens não lhe ocorrem. Deixe o trabalho de lado e apanhe um livro qualquer. Leia-o durante algum tempo e sentirá as ideias brotando, a imaginação voando solta e a sensibilidade aflorando espontaneamente. Após essa experiência, você certamente entenderá porque os grandes mestres recomendam a leitura para aqueles que desejam aprender a arte de escrever. Pela leitura você ganha experiências, você observa como um escritor tratou habilmente uma situação difícil, como usou as palavras e as expressões, como descreveu, como gerou expectativa, como arrancou emoções. Leia e aprenda. Leia observando, como quem observa a natureza. A leitura deve ser variada e certamente você gostaria de fazer isso com um certo método e pode estar esperando por uma lista do que ler. Não há problema. Isso não é difícil de ser elaborado. O difícil será você segui-la e isso será feito na medida exata de sua preocupação com o futuro ou na importância que dá a seu aprendizado. Comece lendo bons autores modernos, no gênero que você mais aprecia. Se gosta de histórias em quadrinhos, comece com elas. Leia os cronistas de jornal, os comentários e editoriais, que são pequenos e rápidos. Observe sempre como eles estruturam o texto, como usam as palavras e como constroem as imagens. Sempre que for ler, faça do seu dicionário o companheiro constante. Jamais deixe passar a oportunidade de conhecer o significado de uma palavra nova e de incorporá-la ao seu vocabulário. Leia depois um livro de contos ou de crônicas. Quem sabe um romance com capítulos curtos, que motivam a leitura. Vá ampliando gradativamente, antes de iniciar um plano de leitura para valer mesmo. Plano de Leitura Procure segui-lo, estabelecendo um cronograma de leitura. Esse conjunto de conhecimentos será o básico necessário para seu bom desempenho em qualquer prova de redação. Literatura Cristã — Leia a Bíblia, Novo e Velho Testamentos, observando como eram as pessoas naquela época, como agiam, quais eram seus sentimentos, o que as movia, como se relacionavam umas com as outras, que emoções demonstram e tudo o mais que julgar importante. Literatura Grega — Procure na biblioteca textos dos seguintes autores: Homero, Heródoto, Platão, Demóstenes, Plutarco e Epicteto. Leia e pratique suas observações. Literatura Latina — Leia Vergílio, Cícero, Sêneca, Tito Lívio, Tácito e Horácio, pondo em prática seus dotes de observador. Literatura Europeia — Não deixe de ler obras de Shakespeare e Milton, de Dante, Cervantes, Victor Hugo, Goethe e Schiller. Literatura de Língua Portuguesa — Procure ler Garrett, Herculano, Castilho, Rebelo da Silva, Latino Coelho, José de Alencar, Castelo Branco, Machado de Assis, Oliveira Martins, Eça de Queirós, Rui Barbosa e Euclides da Cunha. Literatura Atual — Procure conhecer as obras dos autores que estão em evidência ou que se evidenciaram na literatura mundial nas últimas décadas. Leia pelo menos trechos de suas obras, observando seus estilos. Se você não tem o hábito da leitura, com certeza enfrentará certas dificuldades para se iniciar. Não se deixe intimidar por isso. O que basta nesse estágio é sua ATITUDE, sua vontade de aprender. Para ajudá-lo nesse processo. Aqui estão algumas regras básicas, mas simples para você praticar a leitura: 1 - Leia atentamente e devagar, pois a leitura exige, para ser proveitosa, reflexão nos pensamentos e sentimentos do autor para que possamos assimilá-los. Assim, não lhe escaparão a beleza dos sentimentos, a justeza dos pensamentos, a arte da composição e a perfeição do estilo a obra. Deve vez em quando, pare e pergunte-se: "Vi isso antes? Compreendi bem? Como eu teria dito isso?" 2 - Pratique ao máximo suas observação, procurando achar no obra que lê os elementos da composição literária e as ideias apresentadas e os argumentos utilizados para validá-las. Acompanhe as definições, analise os raciocínios, verifique as descrições e as narrativas, entenda e compare as personagens, descubra o plano da obra, examine as expressões e os diálogos, sempre acompanhado de seu dicionário para não deixar passar nada. Para isso, são excelentes os exercícios incluídos nos livros escolares. Quer ir além? Vá a um sebo e compre uma porção de livros didáticos que contenham textos com exercícios de interpretação. São ótimos para você se desenvolver e, ao mesmo tempo, ampliar seus conhecimentos e experiência. 3 - Tome notas e consulte-as sempre que possível, mantendo viva em sua mente aquela obra. Isso é particularmente importante para as provas de Literatura, onde são fornecidas listas de livros para serem lidos. 4 - Se você tiver alguns amigos com os mesmos interesses, objetivos ou necessidades, fundem o Clube de Leitura, onde farão em conjunto todas as atividades de leitura, anotações, troca de ideias, experiências e observações e poderão elaborar suas redações e submetê-las ao julgamento. Além de ser estimulante e altamente motivador, seguramente apressará seu desenvolvimento, sua formação e seu aprendizado. Ao fazer anotações, tenha em mente que, são importantes porque suprem a memória. Se não fizer isso, após algum tempo terá esquecido a maior parte do que leu, a menos que tenha uma memória fotográfica. Além disso, essas anotações são a garantia da precisão em suas citações, quando se reportar a um texto, um livro ou uma página, dando valor e autoridade aos seus escritos, economizando tempo quando necessitar fazer isso. Ao fazer suas anotações, marque o que julgar importante e interessante para você, conforme seu gosto e seu temperamento. Lembre-se que as anotações são para seu uso pessoal, portanto você decide o que elas devem conter e de que forma serão feitas. No entanto, para impor um certo método, há algumas observações que você pode seguir, se julgá-las oportunas: 1 - Se está se preparando para o vestibular e lê uma obra que faz parte da relação de livros obrigatórios, tome notas sobre tudo e a propósito de tudo. 2 - Se ao escrever você tem dificuldades de encontrar a imagem adequada ou exprimir uma emoção corretamente, anote como aquele autor tratou esses aspectos, qual a ideia usada, que metáfora foi selecionada por ele, que sentimento ele fez aflorar e de que forma. 3 - Se pretende formar um banco de dados para uso futuro em suas redações, anote ditos históricos, citações, anedotas, palavras características, observações, meditações pessoais, reflexões e juízos emitidos pelo autor naquela obra. 4 - Finalmente, em qualquer um dos casos, anote bons fragmentos daquela obra, decorando-os para ilustrar ou incluir, no momento oportuno, como argumento em suas redações. Não se acanhe e trocar anotações com seus amigos. Ampliará seu campo de visão e certamente contribuirá para a formação de seu estilo. 5 - Para facilitar seu trabalho, veja o capítulo Modelos, onde são apresentadas algumas fichas que poderão ser utilizadas ou adaptadas segundo sua conveniência. O importante é que você anote sempre. O melhor método para você fazer suas anotações é à medida que vai lendo, marcando a lápis, desde que o livro seja seu, as passagens ou aspectos dignas de serem anotadas, transcritas ou admiradas, classificando-as segundo o autor ou a ideia, em fichas ou num arquivo específico do seu computador, caso tenha um. Exemplo: a) Por autor: Antônio Vieira, Castelo Branco, Manuel de Melo, Rui Barbosa. b) Por ideia: Anedotas, Artes, Biografias, Descrições, Ensino, História, Imagens, Literatura, Palavras Célebres, Pedagogia, Filosofia, Psicologia, Retratos, Ciências. Se você não dispõe de um computador ou de fichas apropriadas, pode fazer isso num caderno com índice alfabético ou em folhas soltas, que arquivará na ordem mais prática para suas futuras consultas. Praticando a leitura dessa forma você tornará mais fácil a formação de seu estilo pela imitação. A Imitação Imitar é adaptar ao seu estilo as imagens, as ideias ou as expressões de um estilo alheio, explorando-as conforme as suas qualidades pessoais e o seu modo de ver. É uma prática quase que necessária ao aprendizado e não se um grande escritor que não tenha praticado a imitação e nenhum se envergonha de o confessar. Os mestres do estilo recomendam a imitação, sendo a paráfrase seu exercício mais eficiente. Quando se fala de imitação, não se recomenda a reprodução pura e simples, mas a assimilação das ideias e das imagens usadas por um autor. Pode-se imitar o plano de uma obra, parte dele ou numa simples passagem. É sabido, inclusive, que para compor a Eneida, Vergílio imitou da Ilíada, de Homero, duas obras que devem ser lidas por qualquer aprendiz de escritor. Pode-se também imitar uma ideia alheia e, para isso, é preciso assimilá-la e desenvolvê-la de um modo pessoal. Da mesma forma, pode-se imitar uma imagem, expressão, pensamentos, sentimentos, mas frisá-los e modificá-los até se lhes dar outra feição. Um exercício prático que você pode fazer e que em muito o ajudará é pegar um poema e transformá-lo em prosa ou selecionar um trecho em prosa e transcrevê-lo na forma de um poema. Você pode também reescrever uma anedota, dando-lhe uma nova versão ou mudando as personagens, adaptando-as a sua realidade. Conclusão Longe de ser um processo instintivo, um dom que se recebe ao nascer, o estilo e a arte de escrever é um processo que deve ser desenvolvido com certo método, exigindo esforço e dedicação pessoal. Considerando a importância da redação no vestibular e nos concursos públicos, nada mais lógico e inteligente, para quem deseja alcançar a aprovação, que impor certa disciplina ao seu aprendizado, esquecendo antigos conceitos e práticas erradas. A formação e o desenvolvimento de um estilo próprio é fundamental nesse processo, garantindo originalidade, conteúdo e correção a seus escritos, exigências básicas para a uma boa nota. Entender o processo de formação e desenvolvimento do estilo é um dos passos mais importantes e isso passa pelo conhecimento e entendimento das qualidades do estilo. Para completá-lo, não deixe de ler os textos do capítulo Leitura Obrigatória, que certamente acrescentarão importantes conhecimentos ao seu repertório. Capítulo 2 QUALIDADES DO ESTILO A Originalidade Um estilo original surpreende e impressiona por suas imagens e seu colorido. A originalidade está na maneira própria de exprimir suas ideias e de fazer valer os pensamentos. Sem ela não há grande escritor. Para ser alcançada você deve, inicialmente, escrever com naturalidade, estabelecendo uma perfeita relação entre pensamentos e sentimentos, imagens e palavras com a realidade. Originalidade implica num compromisso com reprodução exata e fácil da verdade, sem aparatos e requinte. Isso leva automaticamente à simplicidade, que é a ausência de exageros e inutilidades, caracterizando-se por uma construção de frase simples, fluente, elegante, correta, clara e concisa, com o uso das palavras que, embora conhecidas, devem ser escolhidas e apropriadas. Escrever com originalidade é dizer o que os outros ainda não disseram, empregando uma linguagem inesperada e viva, de forma variada e atraente, prendendo a atenção pela vibração da ideia e pela vida das palavras, fugindo das armadilhas que caracterizam a afetação, a ênfase e a perífrase. A afetação é o uso excessivo de termos inesperados ou de construções complicadas, dando a impressão de muita cultura ou erudição, exigindo que o leitor recorra permanentemente a um dicionário para entender o que lê. Quem escreve assim fatalmente não é lido. A ênfase é o exagero desnecessário ou a eloquência sem nexo ou propósito, como no exemplo abaixo: Era um grande homem, capaz de atingir o mais ferrenho espírito, o mais cruento coração. Seu talento galgava os píncaros da imaginação e ele se apoderava da força do trovão e da pureza das nuvens para transmitir suas ideias. Quando iniciava seu trabalho, tinha o fôlego dos mergulhadores que descem aos pélagos marinhos mais profundos para apanhar as mais alvas pérolas do saber. Era um gênio na acepção maior, mais pura e completa desse termo! Finalmente, a última das grandes armadilhas é a perífrase ou toda explicação extensa de algo que pode ser expresso em poucas palavras ou até mesmo numa só. Um exemplo disso é dizer "o cantor das madrugadas" ao invés de simplesmente usar a palavra "galo". Ao usar a perífrase, mesmo quando ela pode parecer útil, lembre-se que suas referências e sua experiências podem ser diferentes daquelas do corretor de sua redação. Ao citar, por exemplo, "o pedreiro da floresta", ao invés de "joão-de-barro", fazendo uma referência à celebre música sertaneja, você precisaria ter certeza absoluta de que o leitor desse texto conhece a música. Caso contrário, a clareza do que foi escrito estará irremediavelmente prejudicada, pois dicionário algum explicará o significado dessa expressão e clareza e concisão são também atributos essenciais de todo estilo. A Clareza Clareza significa lucidez na exposição dos pensamentos e dos sentimentos, que devem ser compreendidos sem esforço e, para isso, duas condições são indispensáveis, a pureza da língua e a propriedade das palavras. A pureza da língua consiste no emprego de construções e de palavras aprovadas pela sintaxe e consagradas pelo uso. Seus principais obstáculos são as construções estranhas, caracterizadas pelo emprego de estrangeirismos. Isso pode ser visto facilmente nas fachadas de lojas, que anunciam o "Peter's Bar", o "Grill Lanches", o Aparecido's Hamburguers e outros ainda piores. Seus reflexos mais contundentes aparecem nas construções em que falta uma unidade e campeia a incoerência. Seus exemplos mais clássicos são as construções em que as palavras não têm sequencia lógica, levando a ambiguidades às vezes até cômicas. Aparece também nas construções em que se misturam, no mesmo período, a voz ativa e a passiva, com erros de acentuação, de pontuação e ortografia e não se obedece ao mesmo tratamento, começando pela segunda pessoa e terminando pela terceira do singular. Aliás, esse detalhe está muito presente em várias letras de música, que usam o pronome de tratamento "você" em determinados momentos e "tu" em outras, com os verbos flexionando ora de uma ora de outra maneira. O que se deve ter em mente é que a escrita deve ser simples, sem construções intrincadas, mais condizentes com a linguagem poética, em que o exemplo mais interessante é o do nosso hino nacional. Você sabe exatamente qual é o sujeito da primeira oração da primeira estrofe dele? Fugir ao uso de estrangeirismos não significa, porém, cair no outro extremo, o purismo, caracterizado pelo amor exagerado à pureza da linguagem, não aceitando como vernáculas senão as construções e palavras consagradas pelos mestres de determinada época literária, distante de nós há dois ou mais séculos. Afinal, as línguas evoluem, progridem e renovam-se continua e gradualmente com os povos que as falam. Não falamos hoje como falava Camões, nem o Padre Vieira, nem Tomás Antônio Gonzaga. Muito menos como Fagundes Varela, Castro Alves ou até mesmo Machado de Assis. Novas construções surgiram, assim como novos vocábulos foram formados ou incorporados ao nosso vocabulário. Temos de aceitar isso e fugir daquilo que é antiquado e ultrapassado. A propriedade das palavras refere-se à perfeita relação entre a palavra e o pensamento. Quem não escolhe bem as palavras, expõe-se a usar as palavras impróprias, que são os estrangeirismo, já que temos um rico vocabulário em nossa língua a nossa disposição. Nesse particular, o estudo dos sinônimos é de suma importância para quem deseja escrever com acerto, objetivamente, expressando com clareza e exatidão as concepções do seu espírito. Que isso seja feito com cautela, pois boa parte dos sinônimos, que parecem exprimir uma mesma ideia, não o fazem, se examinados com atenção e rigor. Nesse particular, o uso do dicionário é a melhor medida a ser adotada. É preciso que você tenha em mente definitivamente que escrever não é um dom, mas uma arte que exige o desenvolvimento de habilidades e técnicas específicas, da mesma forma como o exigem a pintura, a escultura, a dança, a música e todas as outras artes. A Concisão A concisão consiste em encerrar um pensamento no menor número de palavras possível e dois graves defeitos podem afetá-la. Um é a repetição e ocorre quando se julga incompleta ou inexata uma frase escrita e alinha-se uma outra na sequencia para reforçar o pensamento. A melhor maneira de fugir disso é, quando for fazer o polimento de sua redação, eliminar tudo que for repetido ou que nada acrescentar ao que já foi dito. Lembre-se que dissertar é um ato progressivo. Novas ideias vão se somando às anteriores para formar um todo harmônico e convincente. Fuja do palavreado inútil e redundante e terá um estilo agradável e eficiente, adequado a seus propósitos. Tudo que estiver repetido, como determinados verbos, expressões ou palavras, substitua por sinônimos, use uma outra construção ou simplesmente evite usar. Quer entender isso? Veja este exemplo, tirado de Eusébio Macário, obra de Camilo Castelo Branco "Moscas zumbiam com asas lampejantes em giros idiotas; gatos agachados como velhos sicários pinchavam com muitas perfídias à caça dos pássaros nas densas verduras, desbotadas, dos arvoredos; carros chiavam nas terras baixas, barrentas, com grandes gretas das calcinações do grande sol; os lentos bois nostálgicos vergastavam, com as caudas ásperas, os moscardos que os atacavam dentre os tapumes com grandes sedes impetuosas de frescores de sangue. Havia moleza e estonteamento abafadiços no recheio de sensualidades mordentes." É sempre bom lembrar, porém, que todo excesso é prejudicial, assim como todo extremismo. A concisão exagerada levará seu texto à secura e ao laconismo, podendo sua imaginação ou negando a magia das palavras. Conciliando originalidade, clareza e concisão você conseguira o que existe de mais importante para quem escreve: a harmonia, qualidade indispensável a todo estilo. Pratique o que foi aprendido até agora, antes de partir para a próxima etapa do seu aprendizado, que será a de conhecer os aspectos mais específicos do tema Redação. Vá com calma! Estabeleça seu plano de estudos e não fuja dele. O importante é que você assimile todas as etapas do processo de aprendizagem. Afinal, você está fazendo tudo isso porque tem que aprender e precisa aprender, pois será avaliado por isso e todo o seu futuro depende dessa avaliação. Reflita: se você não investir em seu futuro, quem o fará? Para terminar, você deve conhecer a principais figuras de estilo, isto é, processos de expressão destinados a dar mais graça e força ao pensamento e ao sentimento, devendo ser encarados como parte do estilo. A maneira como você vai usá-las caracterizará seu estilo. Vejamos quais são as mais importantes e significativas: Figuras de Estilo Alusão: desperta no espírito a ideia de um fato, de uma pessoa ou de uma história, sem referir-se a ela diretamente. Para usá-la é preciso que você tenha sólidos conhecimentos e que o seu leitor saiba a que você se refere. Um exemplo foi o caso já citado do "pedreiro da floresta". Numa redação você poderia criar uma frase assim: "Tenho trabalhado incansavelmente, como o "pedreiro da floresta", mas sintome feliz em fazê-lo." A alusão pode ser tirada da historia, da mitologia, das lendas, das obras literárias ou dos usos e costumes. Antítese: consiste em tirar de um pensamento o seu oposto, engendrando contrastes e de oposições. Para ser bem empregada e surtir efeito, deve resultar do embate das ideias e não do mero jogo das palavras. Um autor famoso por suas antíteses é o Padre Vieira. Procure ler alguma coisa dele. Um exemplo: "Amor é espinho que fere e me faz rir." Apóstrofe: esta figura caracteriza-se quando o escritor interpela a si mesmo, alguma pessoa e até objetos inanimados. Exemplo: "Por que sofres, coração?" Correção: esta figura surge quando o autor corrige, modifica ou explica um pensamento, como neste exemplo: "A maior dor de todas as dores, isto é, das dores espirituais, é o vazio da saudade." Exclamação: é pura e simplesmente a expressão de todo sentimento vivo e súbito, manifestado livremente através das palavras. Por exemplo: "Que bom é amar! Que deliciosa e livre prisão ela representa!" Eufemismo: consiste em abrandar ideias tristes e desagradáveis, como neste exemplo, ao abrandar-se a ideia da provocada pela palavra "cemitério": "Nesta mesma tarde, seu corpo foi levado ao campo santo." É preciso muito cuidado e critério no uso dessa figura, pois seu excesso ou uso inadequado pode dar a impressão de um estilo frouxo, sem naturalidade, prejudicando até a clareza, se o eufemismo não for bem construído. Hipérbole: é um pensamento exagerado com o objetivo de produzir uma forte impressão no espírito do leitor. Exemplo: "Sofri mil dores num só momento e mil espinhos cravaram-se em meu coração. Ela partia. A solidão pesoume com a força de mil noites escuras." Interrogação: utiliza-se perguntas com o fim de dar força ao argumento ou ao discurso. Deve ser empregado com critério, pois pode dar a impressão de insegurança ou de "enchimento de linguiça". Por exemplo: "Quem vai sofrer com sua partida? Eu, apenas eu. Quem vai chorar a sua ausência? Eu e mais ninguém." Ironia: este pode ser um poderoso recurso, se utilizado com sabedoria. Consiste em exprimir o contrário daquilo que as palavras dizem no sentido natural. Percebe-se isso pelo modo de falar da pessoa que a emprega e pelo caráter daquela a quem se dirige. Exemplo: "Acredite na palavra dele! Está se esforçando e fazendo o máximo. Preocupa-se com o desemprego e trabalha de sol a sol para reverter o quadro atual. Vamos confiar nele. Com certeza tudo vai melhorar, como vem melhorando. Basta olhar ao redor!" Litotes: consiste em dizer menos, para dar a entender mais, como neste exemplo: "Vamos lá, a coisa não está tão feia quanto parece!" Metáfora: trata-se de uma expressão de sentido, por meio da qual se aplica a uma palavra o significado de outra, em virtude de uma comparação implícita e subentendida. Não deve ser confundida com uma simples comparação. Quando dizemos que "a juventude é a primavera da vida", temos uma metáfora. Se dissermos "a juventude é como a primavera da vida", temos uma simples comparação. É preciso muito critério e cautela no uso das metáforas que são, sem dúvida, um dos mais frequentes recursos utilizados por quem escreve. Devem ser claras para serem entendidas, justas e verdadeiras, baseadas numa semelhança real e próxima, evitando-se a afetação e a incoerência. Chamar o espelho de "conselheiro da beleza", por exemplo, resulta numa metáfora que exigiria um contexto à altura para ser expressiva. Seu uso indiscriminado pode levar facilmente ao chavão e às frases feitas, enquanto seu uso com criatividade e originalidade embeleza e dá força expressiva a um texto. Para usar esse recurso com acerto, valha-se da observação indireta, através da leitura de bons escritores, registrando-as em suas anotações para uso futuro. Preterição: nesta figura, o autor supostamente finge que não quer falar de determinado assunto, mas o faz. Exemplo: "Não vou falar das qualidades dela, de sua beleza, de sua bondade e de sua ternura, presentes mesmo nos momentos mais incertos." Reticência: faz-se presente quando o autor suspende o pensamento e deixa-o incompleto. Exemplo: "Vendo-a vestida daquela forma, pensei até que fosse uma..." Suspensão: interrompe inesperadamente a frase, provocando curiosidade ou destacando um pensamento, como neste exemplo: "Quando olhei, você não sabe o que vi." O conhecimento e o uso criterioso dessas figuras com certeza dará força de expressão ao seu estilo. Nunca é demais lembrar, no entanto, que você seja exigente consigo mesmo no que se refere à qualidade das figuras, fugindo ao preciosismo e ao mau gosto. Capítulo 3 LEITURA OBRIGATÓRIA DISCURSO SOBRE ESTILO (Pronunciado por Buffon no dia 25 de Agosto de 1753, por ocasião de sua posse na Academia Francesa, na vaga do Arcebispo do Sena) Senhores: Vós me cumulastes de honra, elegendo-me como um dos vossos; mas a glória não é um bem senão quando somos dignos dela e não creio que alguns ensaios, escritos sem arte e sem outro ornamento que o da natureza, sejam títulos suficientes para ousar ocupar um lugar entre os mestres da arte, entre os homens eminentes que representam aqui o esplendor literário da França e cujos nomes, celebrados hoje pelo consenso das nações, repercutirão ainda com brilho na boca do último de nossos descendentes. Tivestes, senhores, outros motivos, lembrando-vos de mim; quisestes dar à ilustre Companhia a que tenho a honra de pertencer há muito tempo, nova demonstração de respeito; meu reconhecimento, ainda que partilhado, nem por isso, será menos vivo. Mas como satisfazer o dever que ele me impõe no dia de hoje? Não tenho, senhores, para oferecer-vos, senão o que já é vosso; algumas ideias sobre o estilo, hauridas em vossas obras; foi lendo-vos, foi admirando-vos que elas foram concebidas; e é submetendo-as a vossas luzes que produzirão alguns resultados. Houve, em toda as épocas, homens que souberam dirigir os outros pelo poder da palavra. Mas só nos séculos brilhantes, foi que se falou e escreveu bem. A verdadeira eloquência pressupõe o exercício do gênio e a cultura do espírito. Ela é muito diferente dessa facilidade natural de expressão que é um simples talento, uma qualidade cedida a todos aqueles cujas paixões são fortes, os órgãos flexíveis e a imaginação viva. Esses homens sentem vivamente, sensibilizam-se da mesma maneira e revelam-no fortemente; e, por uma impressão puramente mecânica, transmitem, para os outros, seu entusiasmo e sentimentos. É o corpo que fala ao corpo; todos os movimentos e todos os sinais igualmente cooperam e servem. Que é necessário para comover a multidão e arrebatá-la? Que é necessário para abalar a maior parte dos demais homens e persuadi-los? Um tom veemente e patético, gestos expressivos e frequentes, palavras rápidas e sonoras. Mas, para a minoria daqueles cuja cabeça é equilibrada, o gosto delicado e os sentidos apurados, e que, como vós, senhores tem, em pouca valia, o tom, o gesto e a sonoridade verbal, são necessários fatos, pensamentos, razões; é preciso saber apresentá-los, matizá-los, ordená-los; não é necessário agradar ao ouvido ou ocupar os olhos; é preciso atingir a alma e comover o coração falando ao espírito. O estilo nada mais é do que a ordem e o movimento que se põe nos pensamentos. Se eles se encadeiam estreitamente e são concisos, torna-se firme, nervoso e conciso o estilo; se sucedem lentamente — e seu único laço é a torrente de palavras — por mais elegantes que elas sejam, — o estilo difuso, frouxo e arrastado. Mas, antes de procurar a ordem em que se apresentarão os pensamentos, é necessário precedê-los de outro mais geral e estável, em que só devem entrar as primeiras vistas e as principais ideias: é assinalando seu lugar sobre este primeiro plano que um assunto será circunscrito e que se lhe conhecerá a extensão; é relembrando incessantemente seus primeiros delineamentos que se determinarão os justos intervalos que separam as ideias principais e que nascerão as ideias acessórias e secundárias que servirão para preenchêlos. Pela força do gênio, serão representadas todas as ideias gerais e particulares sob seu verdadeiro ponto de vista; por grande finura de discernimento, distinguir-se-ão os pensamentos estéreis das ideias fecundas; pela sagacidade que o grande hábito de escrever proporciona, sentir-se-á, com antecedência, qual será o produto de todas essas operações de espírito. Por menos vasto e complexo que seja o assunto, é raro que se possa abarcá-lo dum golpe de vista ou penetrá-lo inteiro com um único e simples esforço de gênio; e é raro ainda que após bastante reflexões, se apreendam todas as suas relações. Não podemos, pois, ocupar-nos muito disso; é mesmo o único meio de afirmar, de generalizar e elevar os pensamentos; quanto mais lhes dermos de substância e de força pela meditação, mais fácil será de os realizar pela expressão. Este plano não é ainda o estilo, mas é sua base; ele a sustenta, dirige, regula-lhe os movimentos e o submete a leis; sem isso, o melhor escritor se extravia, sua pena marcha sem diretriz e cria, aqui e ali, traços irregulares e figuras discordantes. Por mais brilhante que sejam as cores que ele empregue e as belezas que semeia nos detalhes, como o conjunto chocará ou não se fará sentir bastante, não se construirá a obra; e, admirando o espírito do autor, poderemos supor que lhe falta gênio. É por esse motivo que aqueles que escrevem como falam, embora falem bem, escrevem mal; que aqueles que abandonam ao primeiro ímpeto da imaginação, revelam uma tonalidade que não conseguem sustentar; que os que temem perder pensamentos isolados, fugitivos e que escrevem, em diferentes horas trechos isolados, jamais conseguem reuni-los sem transições forçadas; em uma palavra, que há tantas obras feitas de fragmentos de relatos e tão poucas fundidas num só jato. Entretanto todo o assunto é uno; e, por mais vasto que pareça, pode ser encerrado num único discurso. As interrupções, os repousos, as divisões, não devem existir senão quando grandiosas, escabrosas e dispares, a marcha do gênio é interrompida pela multiplicidade dos obstáculos e constrangida, pela necessidade das circunstâncias; doutro modo, o grande número de divisões, longe de tornar mais sólida à obra, destrói-lhe o conjunto; o livro parece mais claro aos olhos, mas torna-se obscuro, o objetivo do autor; não consegue impressionar o espírito do leitor; não pode mesmo fazer-se sentir senão pela continuidade da trama, pela dependência harmônica das ideias, por um desenvolvimento sucessivo, uma gradação continuada, um movimento uniforme que qualquer interrupção destrói ou diminui. Porque são tão perfeitas as obras da natureza? É que cada obra constitui um todo, e ela trabalha sob um plano eterno do qual jamais se afasta; prepara em silêncio o germe de suas produções; esboça por um simples ato, a forma primitiva de qualquer ser vivo; desenvolve-a, aperfeiçoa-o por um movimento contínuo e num tempo prescrito. Encanta-nos a obra, mas é o vestígio divino cujos traços ela revela o que nos desperta a atenção. Nada pode criar o espírito humano; não produzirá senão após ter sido fecundado pela experiência e pela meditação; seus conhecimentos são os germes de suas produções; mas se ele imita a natureza, em sua marcha e trabalho, se ele se eleva pela contemplação das verdades mais sublimes, se os reúne, se as encadeia, se delas forma um todo, um sistema, pela reflexão, criará, sobre alicerces indestrutíveis, monumentos imortais. É por falta de plano, é por haver refletido suficientemente sobre seu assunto que um homem de espírito se embaraça ou não sabe por onde começar a escrever. Acode-lhe, a um tempo, grande número de ideias; e como ele não as comparou, nem as subordinou, nada há que o induza a preferir umas ou outras; permanecerá na perplexidade; mas, quando se fez um plano, se houver posto em ordem e reunido todos os pensamentos essenciais ao assunto, sabe-se, facilmente, o momento em que se deve pegar da pena; sente-se o ponto de madureza da produção do espírito; é-se obrigado a dar-lhe vida; só se sente prazer ao escrever; suceder-se-ão facilmente as ideias, e o estilo será natural e fácil; o entusiasmo nascerá desse prazer, espalhar-se-á toda a parte e dará vida a cada expressão; tudo se animará cada vez mais; elevar-se-á o tom, os objetos tomarão cor e o sentimento, juntando-se à luz, aumentá-la-á, levá-la-á mais longe, fá-la-á transmitir-se do que dissemos para o que vamos dizer, e o estilo tornar-se-á interessante e luminoso. Nada se opõe mais ao entusiasmo que o desejo de pôr, em toda a parte, traços salientes; nada se opõe mais à luz que qualquer corpo deve fazer e que deve espalhar uniformemente por todo o escrito, que essas centelhas produzidas à força, fazendo-se chocar as palavras umas contra as outras e que não nos deslumbram, senão durante breves instantes, para nos deixar em seguida nas trevas. São pensamentos que não brilham senão pelo contraste; apresentam apenas uma faceta do objeto; põem na treva todas as outras faces; e, o mais das vezes, essa faceta que escolhemos é uma ponta, um ângulo sobre o qual se faz convergir o espírito com tanto mais facilidade quanto se afasta ele das grandes faces sob as quais o bom senso tem o costume de considerar as coisas. Nada mais contrário à verdadeira eloquência que o uso desses pensamentos finos, e a luta por essas ideias superficiais, desligadas, sem consistência e que, como a folha de um metal batido, não tomam brilham senão perdendo a solidez. Assim, quanto mais se usar desse espírito superficial e brilhante numa produção, menos nervo, luz, calor e estilo ela terá; a menos que esse espírito não seja ele mesmo o fundo do assunto e que o escritor não tenha outros objetivo senão divertir. Nesse caso a arte de dizer pequenas coisas se torna, talvez mais difícil, que a de dizer grandes coisas. Nada mais contrário ou belo natural que o trabalho em exprimir coisas simples ou comuns de maneiras singular ou pomposa. Nada degrada mais o escritor. Longe de admirálo, lamentamo-lo de haver gasto tanto tempo a fazer novas combinações e silabas, para só dizer o que todo o mundo diz; Esta a falta dos espíritos cultivados mas estéreis; têm palavras em abundância, e não ideias; trabalham, pois, sobre palavras e julgam haver combinado ideias apenas porque agruparam frases e ter apurado a língua quando a corromperam, adulterando as acepções. Tais escritores não têm estilo ou — se o quiserem — só sombra dele. O estilo deve gravar o pensamento e eles só sabem traçar palavras. Para bem escrever, é preciso pois dominar completamente o assunto; é preciso refletir nele para poder ver claramente a ordem de seus pensamentos e formar com eles uma sequencia, uma cadeia ininterrupto em que cada ponto representa uma ideia; e, quando se toma da pena, é preciso conduzi-la sucessivamente sobre o primeiro traço, sem permitir que ela se afaste, sem a apoiar desigualmente, sem lhe dar outro movimento que o determinado pelo espaço que deve percorrer. É isso que consiste a severidade do estilo; é também o que faz sua unidade e lhe regulará a rapidez; e só isso será suficiente para torná-lo preciso e simples, igual e claro vivo e unitário. A esta primeira regra, ditada pelo gênio, se acrescentarmos delicadeza e gosto, o escrúpulo na escolha das expressões, o cuidado de só dar às coisas os nomes mais genéricos, o estilo terá nobreza. Se acrescentarmos a desconfiança ao primeiro impulso, o desprezo por tudo quanto só é brilhante, e a repugnância constante ao equivoco e à brincadeira, o estilo terá gravidade terá mesmo majestade. Enfim, se escrevermos como pensamos, se estamos convencidos do que queremos persuadir, está boa fé para consigo mesmo, que constitui decência para com os outros e a verdade do estilo, far-lhe-á produzir todo seu efeito, enquanto esta persuasão interior não se assinale por um entusiasmo muito forte, por haver nela mais candura que confiança mais razão que calor. É assim, senhores, que me parece, lendo-vos, que vós me falais, que me instruis. Minha alma, que recolheu com avidez esses oráculos da sabedoria, quis alçar e elevar-se até vós: Vãos esforços! As regras — vós dizeis — não podem substituir o gênio; falando ele, elas se tornarão inúteis. Bem escrever é, ao mesmo tempo, bem pensar, bem sentir e bem reproduzir; e ter, a um tempo, espírito, alma e gosto. O estilo supõe a reunião e o exercício de todas as faculdades intelectuais: somente as ideias formam a base do estilo; a harmonia das palavras não é senão o acessório e só depende da sensibilidade dos órgãos. Basta ter um pouco de ouvido para evitar dissonâncias. E basta praticar, aperfeiçoar com a leitura dos poetas e dos oradores para que, mecanicamente, se seja levado à imitação da cadência poética e dos torneios oratórios. Ora, jamais a imitação criou algo. A harmonia das palavras também não constitui nem o fundo, nem o tom do estilo, e é encontrada frequentemente em composições vazias de ideias. O tom nada mais é que a adaptação do estilo à natureza do assunto. Jamais deve ser forçado; nascerá forçosamente do próprio fundo das coisas e dependerá muito da generalização dos pensamentos. Se nos elevarmos às ideias gerais, e se o assunto, em si mesmo, for grandioso, o tom parecerá elevar-se à mesma altura; e se, mantendo-o nessa elevação, consegue o gênio dar, a cada objeto, luz forte, se consegue juntar à beleza do colorido a energia do desenho, se consegue representar cada ideia por uma imagem viva e bem concebida, e tomar de cada série de ideias um quadro harmonioso e movimentado, o tom será não somente elevado, mas sublime. Aqui, senhores, a adaptação fará mais do que a regra; os exemplos instruirão melhor que os preceitos. Como, porém, não me é permitido citar trechos sublimes que, lendo vossas obras, tantas vezes me arrebataram, sou forçado a limitar-me a reflexões. Somente as obras bem escritas passarão à posteridade. A quantidade dos conhecimentos, a singularidade dos fatos, a própria novidade das descobertas, não são garantias seguras da imortalidade. Se as obras que as contêm, não versam senão sobre pequeninos assuntos, se são escritas sem gosto, sem nobreza, sem gênio, perecerão, pois os conhecimentos, os fatos, as descobertas são arrebatados facilmente, transportam-se e conseguem ser escritos por mãos mais hábeis. Tais coisas estão fora do homem e o estilo é o próprio homem. O estilo não pode, pois, nem elevar-se, nem transportar-se, nem alterar-se; se ele for elevado, nobre e sublime, o autor será igualmente admirado em todos os tempos. Pois só a verdade é duradoira, e mesmo eterna. Ora, um estilo só é efetivamente belo pelo número infinito de verdades que apresentar. Todas as belezas intelectuais que nele se achem, todos os laços de que se compõe, não só são verdades, como úteis, e talvez mais preciosas para o espírito humano, que os que podem constituir o fundamento do assunto. O sublime só pode ser encontrado nos grandes assuntos. A poesia, a história e a filosofia têm todas o mesmo objeto, e um grande objeto, o homem e a natureza. A filosofia descreve e pinta a natureza; a poesia descreve e pinta; pinta também os homens engrandece-os e exagera-os; cria ela o herói e os deuses. A historia pinta o homem e pinta tal qual é. Assim, o tom da historia não se tornará sublime senão quando pintar os grandes homens, quando expuser as grandes ações, os maiores movimentos, as maiores revoluções e, sempre atem disso, bastará que seja majestosa e grave. O tom do filósofo poderá tornar-se sublime todas as vezes que falar das leis da natureza dos seres em geral, do espaço, da matéria, do movimento e do tempo, da alma, do espírito humano, dos sentimentos das paixões; no resto, deverá ser nobre e elevado. Mas o tom do orador e do poeta, desde que o assunto seja grandioso, deve sempre ser sublime porque eles são os mestres de aliar à grandeza de seu assunto, tanta cor, tanto movimento, tanta ilusão quanta lhes apraz; e que, devendo sempre pintar e sempre engrandecer os objetos, devem também e sempre empregar toda a força e exibir toda a amplidão do gênio. PERORAÇÃO Aos senhores da Academia Francesa Que de grandes assuntos, senhores, me ferem aqui os olhos! E que estilo, e que tom é preciso empregar para pintá-los e representar dignamente! A escol dos homens está reunida, a sabedoria à frente. A glória, sentada no meio deles, espalha seus raios sobre cada um e os cobre a todos com um brilho sempre igual e sempre novo. Raios de uma luz mais viva ainda, partem de sua coroa imortal, e vão convergir sobre a fronte augusta do mais poderoso e melhor dos reis. Não vejo este herói, este príncipe adorável, este senhor tão querido. Que nobreza em todos os seus traços! Que majestade em toda sua pessoa! Que de alma, que de doçura natural em seus olhares! Ele os dirige para vós, senhores, e vós brilhais com novo brilho; um ardor mais vivo voz abrasa. Ouço, os vossos divinos acentos e os acordes de vossas vozes. Vós os reuníeis para celebrar suas virtudes, para lhe contar as vitórias, para aplaudir a nossa felicidade. Vós os reunis para fazer brilhar vosso zelo, exprimir vosso amor, transmitir à posteridade os sentimentos dignos desse grande príncipe e de seus descendentes. Que concertos! Penetram eles meu coração. Serão imortais como o nome de Luiz. Ao longe, que outra cena de grandes assuntos! O gênio da França que fala a Richelieu e lhe dita, a um tempo, a arte de iluminar os homens e de fazer reinar os reis. A justiça e a ciência que conduzem Seguier e, de concerto, o elevam ao primeiro lugar de seus tribunais. A vitória que se aproxima a grandes passos e precede o carro triunfal de nossos reis, onde Luiz, o Grande, sentado sobre troféus, com uma mão cede às nações vencidas e com a outra reúne neste palácio as musas dispersas. E, perto de mim, senhores, que outro assunto interessante! A Religião em lágrimas, que vem pedir emprestado o órgão da eloquência para exprimir sua dor e parece acusar-me de interromper, durante tanto tempo, vossos lamentos por uma perda que todos devemos chorar com ela. (Traduzido de "Discours sur le Style" — Paris — Librairie de la Bibliothéque Nationale — 1893) OPINIÃO DE UM TORTURADO DA FORMA (Da Correspondência de Fradique Mendes e Eça de Queiroz) — Não! Não tenho sobre a África, nem sobre coisa alguma neste mundo, conclusões que, por alterarem o curso do pensar contemporâneo valesse a pena registrar... Só podia apresentar uma série de impressões, de paisagens. E então pior! Porque o verbo humano, tal como o falamos é ainda impotente para encarnar a menor impressão intelectual ou reproduzir a simples forma d’um arbusto... Eu não sei escrever! Ninguém sabe escrever! Protestei, rindo, contra aquela generalização tão inteiriça, que tudo varria, desapiedadamente. E lembrei que a bem curtas jardas da chaminé que me aquecia naquele velho bairro de Paris, onde se erguia a Sorbonne, o Instituto de França, a Escola Normal, muitos homens houvera, havia ainda que possuíam do modo mais perfeito a "bela arte de dizer". — Quem? — exclamou Fradique. Comecei por Bossuet. Fradique escolheu os ombros, com uma irreverência violenta que me emudeceu. E declarou logo, num resumo cortante, que nos dois melhores séculos da literatura francesa, desde o meu Bossuet até Beaumarchais, nenhum prosador para ele tinha relevo, cor, intensidade, vida... E nos modernos nenhum também o contentava. A distensão retumbante de Hugo era tão intolerável como a flacidez oleosa de Lamartine. A Michelet faltava gravidade e equilíbrio; a Renan solides e nervo; a Taine fluidez e transparência; a Flaubert vibração e calor. O pobre Balzac, esse, era de uma exuberância desordenada e barbárica. E o preciosismo dos Goncourt e do seu mundo parecia perfeitamente indecente... Aturdido, rindo, perguntei àquele "feroz insatisfeito" que prosa pois concebia ele, ideal e miraculosa, que merecesse ser escrita. E Fradique, emocionado — porque estas questões de forma desmanchavam a sua serenidade — balbuciou que queria em prosa "alguma coisa de cristalino, de aveludado, de ondeante, de marmóreo, que só por si, plasticamente, realizasse uma absoluta beleza — e que expressionalmente, como verbo, tudo pudesse traduzir desde os mais fugidos tons de luz até os mais sutis estados d'alma..." — Enfim — exclamei — uma prosa como não pode haver! — Não! — gritou Fradique, uma prosa como ainda não há. Depois, ajuntou concluindo: — E como ainda a não há, é uma inutilidade escrever. Só se podem produzir formas sem beleza; e, dentro dessas mesmas só cabe metade do que se queria exprimir, porque a outra metade não é redutível ao verbo. UMA CARTA DE EÇA DE QUEIROZ Bristol, 8 de Abril de 1888. Meu caro Pina Recebi a ILUSTRAÇÃO de 5 de Abril, e com ela, e nela, a curta, mas pavorosa demolição que V. faz da minha pobre pessoa! Famosa sova, na verdade! É desse gênero o que nós chamamos em Lisboa — dizer as últimas. Porque enfim até agora, os críticos mais hostis concediam-me ao menos uma certa arte de escrever; — enquanto V. nega desde logo, terminantemente, que eu possua sequer os rudimentos dessa arte — a gramática e a sintaxe. As páginas dos meus livros, diz V. com ferocidade, estão cheios de erros de gramática e de erros de sintaxe! E isso é realmente dizer as últimas. Há longos anos que um crítico não pronuncia palavras tão violetas. Em primeiro lugar, porque a doçura e a palidez crescente dos costumes impede de romper nesses excessos. E em segundo lugar porque um escritor que não tem gramática e que não tem sintaxe não é de fato um escritor — e portanto os críticos não têm ocasião de se ocupar dele, nem em bem, nem em mal. em todo o caso, se essa é a sua opinião, caro Pina — que não tenho nem gramática, nem sintaxe — fez V. admiravelmente em a dizer. O primeiro dever de quem tem uma pena é escrever aquilo que julga a verdade. O que eu não compreendo muito bem é quando V. diz que os meus livros, cheios de erros de gramática e de erros de sintaxe, prendem e dominam o público! Aqui, perdoe-me V., caro amigo, mas creio que há trapalhada! V. de certo não liga a estes termos gramática e sintaxe a ideia que lhes ligam as Mestres-Régias de Trás-os-Montes. Sem penetrar mesmo muito nos requintes da Filosofia da Linguagem. V. conhece tão bem como eu, ou melhor talvez, o que hoje se entende por estes termos gramática e sintaxe; e sabe bem que, sem aquilo que hoje se chama gramática não há clareza de linguagem e sem aquilo que hoje se chama sintaxe não há coordenação de pensamento. Ora como é que um livro, sem gramática e sem sintaxe — isso é um livro composto de pensamentos desconexos expressos numa linguagem obscura, pode jamais prender e dominar o público? Parece-me, pois, — pedindo outra vez perdão do termo — que houve aí trapalhada. Toda essa passagem é confusa — e o que ainda a complica mais é V. dizer que "os gramáticos são os verdadeiros cultores da língua, os verdadeiros escritores retoricamente falando." Que diabo quis V. dizer com tudo isso? É perfeitamente incompreensível, a não recairmos na suposição de que V. liga os termos Gramática e Sintaxe a mesma ideia que lhe ligam as Mestras-Régias, se é que, com a difusão dos conhecimentos, elas mesmas não têm, já hoje, uma noção mais elevada dessas coisas. Quero dizer — que não se pode compreender o que V. diz — a não supor que V. entende por Gramática e Sintaxe um conjunto de regras fixas e inalteráveis deduzidas da maneira especial dos primeiros escritores que apuraram e fixaram uma língua; definição essa de Gramática e Sintaxe que me levaria a concluir que Renan, o primeiro escritor da França moderna, é um trapalhão, sem gramática e sem sintaxe, porque escreve com uma construção inteiramente diferente da desse outro grande escritor que se chama Montaigne, e que viveu, se não me engano, no tempo de Luiz XIII. Sendo assim, se V. liga, com efeito, essa ideia à gramática e sintaxe — então toda a passagem da sua crônica se torna clara e lógica; e com efeito então os meus são cheios de erros de gramática e de erros de sintaxe — porque não são realmente construídos com a sintaxe e a gramática de Sá de Miranda e de Bernardim Ribeiro. E aí está porque, como V. diz, eles comovem o público. Quer que lhe diga o que penso, caro Pina? É que V. escreveu esse começo da sua crônica à noite, muito tarde, derreado de cansaço, e a cair de sono! E se a for agora reler fica furioso consigo. Não o fique comigo, por causa dessa maçada, dê-me notícias suas e creia-me sempre. muito dedicado, EÇA DE QUEIROZ. ESTILO José Engenieros Há estilo em toda a forma que expressa com lealdade um pensamento — As artes são combinações de gestos que se destinam a objetivar adequadamente os modos de pensar ou de sentir; quando a forma exprime o que deve e nada mais do que isso, revela estilo. Não basta, em qualquer arte, possuir concepções originais; é necessário procurar a estrutura formal que fielmente as interprete. Qualquer ritmo de pensamento humano que alcança expressão adequada, cria um estilo. Cada característica intelectual, de um povo ou de uma época, é sentida com maior intensidade por homens originais que lhe dão forma, renovando a técnica de expressão; em torno deles os imitadores se multiplicam e formam escolas, até que a sociedade sente a sua influência, adapta a ela o gosto e surge a moda. Seguir uma escola é a maneira infalível de não se ter estilo pessoal; entregar-se a uma moda é o método mais eficaz para se carecer de originalidade. Em qualquer arte, só pode adquirir estilo próprio aquele que repudia escolas e desdenha modas, pois uma e outras tendem a colocar marcas emprestados às inclinações naturais. Não se adquire estilo glosando a forma alheia para exprimir as ideias próprias, nem torcendo a expressão própria para adular os sentimentos alheios. Estilo é afirmação de personalidade; aquele que combina palavras, cores, sons ou linhas para exprimir o que não sente ou aquilo em que não crê, carece de estilo, não pode tê-lo. Quando o pensamento não é íntimo e sincero, a expressão é fria e amaneirada, ruminam-se formas já conhecidas, retorcem-se, alambicam-se, procurando em vão suprir a ausência da virilidade criadora com estéreis artifícios. A arte de escrever, particularmente, carece de excelência quando visa acariciar o ouvido ou enganar a razão com sofisticas dissimulações. Uma máxima de Epíteto, despida, sem advérbios pomposos, nem adjetivos sibilinos, tem estilo e deixa uma impressão de serena beleza, jamais igualada pelos retorcidos discursos que abundam nas épocas de mau gosto; sobra, na simples sentença, a acomodação inequívoca da forma ao sentido, conseguindo uma harmonia jamais alcançada pela prosa torturada para dissimular a vacuidade. O mais nobre estilo é aquele de que transparecem ideais profundamente notados, expressados em forma contagiosa, capaz de transmitir a outros o próprio entusiasmo por aquilo que embeleza a vida humana: saúde moral, firmeza de querer, serenidade otimista. A CORREÇÃO PRECEPTIVA É A NEGAÇÃO DO ESTILO ORIGINAL Em todas as artes, a tempo acumula regras técnicas que constituem a sua gramática e permitem evitar as mais frequentes incorreções de expressão; qualquer pessoa de inteligência mediano pode aprendê-las e aplicá-las, sem contudo, adquirir a capacidade de exprimir seu pensamento de maneira adequada. A ninguém dão estilo as estéticas, nem as retóricas que regulamentam a expressão, tornando-a tanto mais impessoal quanto mais perfeita for. Os modelos, os cânones só ensinam a exprimir-se corretamente, sem que a correção seja estilo. As academias são sementes de mediocridade diversas e opõem fortes obstáculos ao florescer dos temperamentos inovadores. A aquisição do estilo pessoal só e começar quando se violam cânone convencionais do pensamento e da expressão. Em cada arte ou gênero existem normas de correção, porém não há arquétipos se estilo, pois qualquer novo pensar requer nova expressão; as normas que o tempo consagrou as de épocas, foram, em sua origem, rebeldias contra as de épocas precedentes. Falar de estilo, em si, é abstrair, de todos os estilos individuais seu caráter comum de criação, omitindo as diferenças que caracterizam a cada um e sem as quais nenhum existiria. O estilo é o individual, o que não se aprender de outros, ou o que permite reconhecer o autor na obra, sem necessidade de a ter firmado. Por isso, tanto há estilo na expressão de um artista, como caráter em sua personalidade; e sendo a síntese de toda a sua mente que vibra na expressão inteira, não pode ser forma sem ser, antes, pensamento. A técnica perfeita é uma qualidade que aformoseia a obra como a ornamentação o monumento, sem que, por isso, tenha valor próprio fora da mesma obra. A correção é anônima, não eleva, embora impeça de descer; raramente requer verdadeiro talento. Um exercício suficiente permite escrever, delinear ou construir com perfeição; é um adestramento físico, e, para isso, não se requer maior engenho do que o de atingir o centro dez vezes seguidas atirando ao alvo. Muitos professores exímios conhecem as intimidades da preceptiva e possuem a técnica corretas de sua arte; sem embargo são banais prosadores, pintores ou músicos, sem personalidade e sem estilo, por falta de ideia e de sentimentos originais. Ao contrário sem correção técnica, costumam resultar admiráveis as formas de dizer de um Dante ou de um Pascal, porque o seu estilo exprime uma nova orientação de ideias ou de sentimentos, impossível de arremedar com mosaicos de palavras. Capítulo 4 MODELOS Elementos para uma Ficha de Leitura Interpretação Cenário (ambiente, local) Personagens (retrato físico e psicológico) Enredo (resumo geral - resumo por capítulos) Final (desfecho) Tempo (real e/ou psicológico) Sentimentos envolvidos Ideias principais Vocabulário Estudo do significado das palavras novas (dicionário) Análise das expressões significativas usadas pelo autor. A Obra Autor Época Período Características do período literário Características do período literário presentes nas obra Referências e Comentários sobre a obra Roteiro para Leitura de Textos Curtos Primeira leitura Compreensão do conjunto Segunda leitura Divisão em partes Retirada dos termos acessórios Copiar o texto, excluindo os termos supérfluos, deixando apenas aqueles essenciais à compreensão Terceira leitura Resumo das ideias principais Resumo das ideias secundárias Estrutura utilizada Gênero, forma, aspectos gramaticais e outros Enredo Forma de apresentação e desenvolvimento do enredo Encaminhamento do desfecho ou da conclusão Aspectos relevantes Conclusão pessoal Roteiro de Leitura Leitura atenta do texto Releitura e levantamento Dados da obra Gênero literário Vocabulário (denotativo e/ou conotativo) Assunto ou enredo Resumo (o que o autor diz e como sentimos o texto e o recriamos) Divisão do texto em partes e resumo de cada uma delas Desenvolvimento Como o autor desenvolve o texto Tema Ideia básica Ideias secundárias Aspectos relevantes Ressaltar aspectos sociais, políticos, religiosos e econômicos e outros que auxiliem no entendimento do tema sob o ponto de vista do autor Mensagem do Autor Problemas apresentados e suas soluções Atividades Assinalar o que considerar importante Roteiro para Leitura e Análise de um Texto Narrativo Cenário Personagens Descrição física e psicológica Tempo Enredo (intriga) Desfecho Vocabulário Denotativo e conotativo Resumo Geral e por partes Ideia principal Desenvolvimento das ideias Ideia secundárias Aspectos sociais, políticos, econômicos e outros Mensagens Crítica Conteúdo e forma Estilo Opinião pessoal Expressões e imagens significativas Conclusão Roteiro para Análise de uma Obra Literária Autor Obra Personagens Principais e secundárias Enredo Resumo geral e por capítulos Caracterização das personagens Ação Diálogo Descrição direta do autor Descrição por uma das personagens Confissões pessoais das personagens Apresentação simbólica Temas Principal e secundários Tempo Tempo cronológico Tempo psicológico Tempo imaginário Estilo Estrutura - conto, novela ou romance Técnicas da narração: ação diálogo entre o autor e o leitor discurso direto, indireto ou livre ponto de vista narrativo Linguagem Empregada aspectos normativos a ressaltar vocabulário denotativo e conotativo linguagem figurada e figuras de estilo tom da obra (triste, trágico ou outro) simbolismo presente na obra Características do Período Literário gerais presentes na obra Crítica Pessoal Conclusões Roteiro para Análise de uma Obra Poética Informações Gerais Autor e Obra Gênero Prefaciador e Tradutor (se for o caso) Edição, editora e data Estrutura Síntese ou Resumo (geral e por partes) Tema ou ideia central Desenvolvimento do tema Ideias paralelas Desenvolvimento das ideias paralelas Psicologia do autor Aspectos políticos, sociais, religiosos etc., presentes na obra Mensagem do autor Forma Som, ritmo, rima e métrica Figuras de estilo Estudo das estrofes ou divisões Forma e intenção Expressão Vocabulário Palavras e expressões significativas Simbolismo das palavras e expressões Conotação e denotação Linguagem figurada Recursos expressivos Tom Período Literário Características gerais Características presentes na obra Identificação do período literário através do texto Opinião Crítica Sobre a obra e sobre o autor Opinião Pessoal Conclusão Capítulo 5 TEMAS PARA REDAÇÃO Utilize essas sugestões para facilitar seu aprendizado e seu treinamento. Lembre-se que é bom estar preparado para qualquer tipo de tema. Na fase de preparação para o vestibular ou para um concurso, procure abordar todos os temas aqui propostos, até e principalmente aqueles com os quais não tiver afinidade alguma. Escolha o tema e, se nada souber a respeito dele, pesquise, leia e observe para incorporar preciosas informações ao seu conhecimento. Pode ser que sejam aquelas que farão toda a diferença, quando você precisar de sua memória. 2011: Ano Internacional das florestas A atualidade de Dumas: Um por todos, todos por um A Bíblia tinha razão? A Comissão da Verdade no vestibular A conquista do espaço A construção da Usina de Belo Monte A contemporaneidade do Panis et Cirsenses A criança de rua e a qualidade do ensino A ditadura no Brasil. Por que os crimes ainda não foram punidos? A escola como educadora e formadora de caráter A escola moderna A expansão da cultura da individualidade A favela que eu conheço A flor que mais aprecio A fragmentação do homem pós-moderno A ilusão perversa A incivilidade dos gentílicos sem utopia A indústria cultural e a massificação dos gostos A justiça social, a solidariedade e o cristianismo A língua portuguesa na atualidade A liquidez contemporânea A manipulação nos meios de comunicação A natureza nos fez altruístas A necessidade do altruísmo A pedofilia e o poder A pedofilia e os meios de comunicação A pedofilia na Igreja A pedofilia na sociedade atual A pessoa mais importante em minha vida A pracinha da cidade A saída para o futuro A sociedade primordial contemporânea A solidariedade do mundo efêmero A Teologia da Prosperidade A vida social na idade da pedra A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo A violência urbana. Abnegação solapada Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: quais as mudanças? Acredite se quiser... ou se puder Ajude-me a viver Além da superfície: a essência das relações humanas Altruísmo e pensamento a longo prazo como obrigação Altruísmo individual Altruísmo na essência humana Altruísmo nos tempos de cólera América Latina: uma vocação para a ditadura América Latina: caminhos do MERCOSUL Amizades virtuais Amizades, por que cultivá-las? Analfabetismo, você acredita nele? Antigamente tudo era mais fácil Aquela foi a coisa mais bonita que já vi Arco-íris As aventuras de um ladrão moderno As catástrofes do mundo atual As drogas e a infância perdida As maravilhas do mundo moderno As perspectivas para o próximo milênio As superbactérias e a infecção hospitalar As superbactérias em questões do vestibular As Torcidas Organizadas e a violência. As tragédias naturais. Ascensão da mulher na sociedade Autodestruição Autorretrato Barack Obama no poder: o que mudou na política internacional? Bioética Brasil da copa e Brasil na copa do mundo. Bulling: um ato de violência e preconceito Bulling: um sinal de fraqueza ou um pedido de ajuda Chove no jardim Cidadania e participação social Cidadania: eleições municipais Código Florestal Brasileiro Coisas que não sei explicar Comissão da Verdade Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos? Como preservar a floresta Amazônica Conferência das Nações Unidas realizada no Rio de Janeiro Confesso minha incapacidade Consequências da crise econômica mundial Contemporaneidade: Fragmentação social, individualismo e reconhecimento do outro Controle de natalidade e religião Coragem além do dever Crack no Brasil Crack, droga cinco vezes mais potente que a cocaína: o vilão que assola a juventude brasileira Crise econômica mundial Cultivar para crescer Da fluidez da solidariedade Desemprego e entreguismo Desemprego Desenvolvimento e justiça social Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar os interesses em conflito? Desmatamento na Amazônia Destinos compartilhados Diálogo de mendigos Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional Direitos humanos: criminoso x vítima Ditadura militar no Brasil: Onde está a verdade? Ditadura pessoal Diversidade e igualdade E quando acabarem-se os cemitérios? É uma vergonha! Educação: a base para a justiça social Educação: em que mundo vivemos? Educação: princípio para a igualdade social Ela Ele Em que mundo você quer viver? Energia Nuclear e Vulcões Energia: acidente nuclear no Japão Eram os deuses astronautas? Erotismo e comércio, qual é a novidade? Estatização de empresas de petróleo Eu tenho a solução para... Falar línguas estranhas, fato científico ou mistificação? Fatos e boatos, como lidar com eles? Ficha limpa Filho, um dia isso tudo será seu Finalmente, é tempo de praia Foi quando eu me senti importante Fome, miséria e doença Fontes limpas de energia. Como? Frágil, superficial e efêmero Futuro do planeta Geopolítica: 30 anos da Guerra das Malvinas Geopolítica: papel do Brasil no cenário internacional Gostaria de ser um bicho Gostaria de ter vivido em outra época Grampos, telefones, sigilo e política Há coisas realmente difíceis na vida Há uma outra pessoa dentro de mim Haverá uma imprensa livre no Brasil Homofobia e os direitos humanos Homofobia: violência contra os direitos humanos. Igreja e comércio, onde se separam? Igualdade de gênero Imagem: o mundo por imagens (Ter x Ser) Imprensa x democracia. Inclusão digital: um direito de todo brasileiro Inclusão social Individualismo predominante Individualismo x solidariedade Indivíduo e imediato: imperativos do status quo Instabilidade econômica Internet e solidão Jamais esqueço... Juventude e responsabilidade social: é assim que se faz um Brasil para todos Juventude: tempo de mudanças e tempo de mudar Legalização da maconha: este é o caminho? Liquefação social Livros eletrônicos: uma revolução digital e tecnológica Maquiavel, Bauman e Machado Maravilhas da ciência Marte, por que ir até lá? Meio ambiente: catástrofes naturais Meio ambiente: Código Florestal, derramamento de petróleo e Rio+20 Meios de comunicação e compromisso com a verdade Meninos trabalhadores Meu ídolo Meu primeiro amigo Milagres ao vivo na TV Minha cidade é especial Minha sogra é um anjo Minhas pequenas coisas Movimento sem terra Naquela noite, os sinos não bateram Necessidade de mudança Noites de lua cheia Nós Novas necessidades: altruísmo e visão coletiva O assunto do momento O caminho da caixa maldita O coletivo em detrimento do individualismo O desafio de se conviver com as diferenças O despejo O dia em que tremi de verdade O direito de votar O Evangelho na era eletrônica O fabuloso destino O fim das relações humanas O futebol e a desigualdade salarial O homem não é uma ilha O impossível às vezes acontece O indivíduo frente à ética nacional O jovem e a democracia O mundo lá do alto O novo altruísmo O paradoxo entre a imagem externa do Brasil e os problemas sociais enfrentados em nível interno O poder de transformação da leitura O que foi, afinal, o Mensalão? O recém-nascido e a floresta O respeito ao ser humano O ser político e ser político O sonho impossível O trabalho escravo no Brasil: uma realidade intrigante O trabalho infantil na sociedade brasileira O trabalho na construção da dignidade humana O troféu O vaso de cristal e a flor murcha O voto: exercício de cidadania Obstáculos que terei se superar Olimpíadas e Copa do Mundo no Brasil Oriente Médio: o princípio de uma nova era Oriente Médio: origens do desentendimento Oriente Médio: qual a saída? Os benefícios da prática esportiva para o indivíduo e para a sociedade Os desastres naturais no Brasil: acidentes ou resposta da natureza? Os filhos esquecidos Os heróis anônimos Palmeira ou Narciso? Papel do Brasil (diversas áreas) Para depois, por que fazer agora? Para que exista o amanhã, é preciso que o nós triunfe Parece que foi ontem Participação Política: um ato de cidadania Passatempos e manias Pensar no amanhã: prática de hoje Pequeno catador de papel Perspectivas Perspectivas da nossa economia Plantar e não colher Poderia ter sido fácil e agradável... Política e responsabilidade social Por que cantar no chuveiro? Por que me atiram pedras? Por um império fênix Porque acredito no Coelhinho da Páscoa Porque não acredito em Papai Noel Precisamos encarar isso de uma vez por todas Preocupação e organização Pré-sal x sustentabilidade. Preservação ambiental Problemas na camada de ozônio Problemas que atrapalham o homem Professores e qualidade de ensino Profissionais em ação Prostituição infantil e subnutrição Protesto dos estudantes no México Quais as perspectivas políticas e sociais da juventude nacional? Quando eu era inocente Quando olho pela janela... Que coisa mais esquisita! Que esperar da vida? Que pena! Que sorte! Quero viver Recontando a nossa História Redes sociais Bulling: um ato de violência e preconceito Redescobrindo a premente arte de ver com o coração Religião e futebol Renascimento tardio Respeito à diversidade: fim da homofobia Reunião de mentirosos RIO + 20: qual o legado, afinal? Rodovias e ferrovias no Brasil Se eu fosse presidente Segredos devem ser guardados Sexo por computador Sobre equívocos, Narcisos e imediatismos Sobre percorrer o caminho inverso Sobrevivendo as crises Sociedade fragilizada pelos efeitos da crise Sonhos de uma noite de verão Sustentabilidade conjunta Tecnologia: internet x livros eletrônicos Tenho um vizinho intragável Trabalho escravo Trabalho infantil Transição econômica Travessuras de criança Tudo começou naquele dia Um casal de... Um dia em minha vida Um dia interminável Um fato lamentável Um presente de grego Uma caçada impossível Uma fábula do meu tempo Uma história bem maluca Uma história de arrepiar Uma lenda local Uma paisagem inesquecível Uma parábola atual Uma perspectiva positiva para o ECA Vantagem a longo prazo Viagem ao país da impunidade Viagem ao país da justiça Viagem ao redor de um sonho Viver e aprender Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado Você acredita em orações? Voto adolescente: exercício de cidadania ou exploração política? Vulcões e caos aéreo PARTE 2 REDAÇÃO INTRODUÇÃO Depois de ter sido professor de língua portuguesa, língua inglesa, literatura brasileira, portuguesa, inglesa, norte-americana e de teoria da literatura, após ter escrito mais de 900 livros de bolso, ao longo de 35 anos de carreira, fui desafiado a provar que era possível ensinar alguém a escrever. Pois bem. A grande dificuldade de se ensinar alguma coisa para alguém é saber se essa pessoa quer aprender. Se ela quiser, tudo se torna mais fácil. Há pessoas, porém, que não querem e não gostam, mas precisam aprender. O grande desafio é ensinar também a essas pessoas e esse pode ser o seu caso. Você não gosta de ler, não gosta de escrever, mas precisa aprender a fazer uma redação para garantir o mínimo necessário para o vestibular ou para um concurso público. Se você quer aprender o mínimo, isso é possível. Escrever uma composição é como fazer uma construção. Você precisa de alicerce, de cimento, de tijolos e de cobertura. Você pode não contar com recursos ilimitados para garantir um bom acabamento, mas é possível se fazer uma boa construção, apresentável, com tijolos à vista e pouco material de acabamento. Tudo depende do habilidade do construtor. Quando você faz uma redação, o processo é o mesmo. Os substantivos são os tijolos da construção. Os verbos são argamassa que os une. Os complementos são o acabamento e a cobertura. O conhecimento do vocabulário e da gramática são os alicerces. Em minhas palestras, quando ensino que é possível para qualquer um escrever bem, usando 10% de inspiração e 90% de transpiração, as pessoas pedem alguma coisa mais fácil, mais imediata, mais milagrosa. Eu recomendo, então, meu chá especial, uma fórmula mágica que desenvolvi para conseguir escrever aproximadamente 70.000 páginas ao longo de minha carreira. Obviamente, todos querem a receita desse poderoso chá, capaz de transformá-los em escritores da noite para o dia. Por isso afirmo que você pode ser um escritor da noite para o noite e, com um pouco de treinamento, tornar-se um bom escritor, desde que use criteriosamente essa minha receita. Quer conhecer a fórmula? É simples e leva apenas 3 ingredientes. C - c de conhecimento, necessário para alicerçar seu trabalho. H - h de habilidade, que você desenvolve praticando. A - a de atitude, sem o que você nada fará. O conhecimento você adquire com seu esforço pessoal. Se está no segundo grau, com certeza tem conhecimentos suficientes de gramática e de vocabulário para fazer uma boa redação. Se não costuma escrever, sua habilidade está atrofiada e quanto mais você treiná-la, mais hábil ficará. O importante é saber que conhecimento você adquire, habilidade você desenvolve, mas se não tiver a atitude de se empenhar e usar seus recursos, isso de nada lhe adiantará. Você pode aprender nos livros e com os professores. Mas somente vai conseguir fazer uma boa redação, quando quiser realmente fazê-la. Este livro vai tornar as coisas mais fáceis para você. Não estamos preocupados em apresentar grandes lances de gramática nem altos exemplos literários. Queremos apenas fornecer-lhe o necessário para você entender o processo, situar-se nele e caminhar com certa naturalidade no assunto. A partir daí, desenvolver seu talento será uma decisão pessoal. Não pense que escrever é um dom. Escrever é um trabalho que exige horas e horas de dedicação diante do papel, preenchendo-o, polindo o texto, criticando o resultado e buscando sempre melhorar. Por maior que seja o dom, se é que ele existe, você pode ficar sentado diante de uma folha de papel, de uma máquina de escrever ou de um computador, mas se seus dedos não se moverem e você não se concentrar no que faz, nada fará com que o texto seja criado. O trabalho pode ser mais fácil para uns do que para outros, cujas habilidades estejam mais desenvolvidas ou cujos conhecimentos sejam maiores. O trabalho, porém, é o mesmo. Qualquer um dos dois que tenha de escrever uma redação de 30 linhas, terá que escrever as 30 linhas por si mesmo. Nada fará surgir no papel um trabalho pronto. Frequentemente perguntam-me como eu consigo escrever um livro de 100 páginas em alguns dias. Após tantos anos de prática, desenvolvi minhas habilidades ao máximo. Tendo sido professor, assimilei os conhecimentos gramaticais necessários. Como sempre li muito, tenho um vocabulário razoável. Minha imaginação trabalha solta, aprendi a fazer isso com o tempo. Não preciso de inspiração e, sim, da transpiração. Finalmente, quando escrevo um livro, faço porque quero fazê-lo ou porque preciso fazê-lo. Em qualquer das duas hipóteses tenho a motivação necessária. Quando querem saber por onde eu começo, sempre respondo: "pela primeira letra da primeira palavra da primeira oração do primeiro período do primeiro parágrafo da primeira folha." Eu afirmo que você pode escrever, que é capaz de produzir uma redação para o vestibular que, mesmo não sendo brilhante, em nada vai comprometer seu desempenho e seguramente contribuirá com o resultado final. Para isso, só preciso que você queira fazer isso. Vou tornar todo o processo o mais suave e acessível possível. Se acredita nisso, prossiga. Caso contrário, feche este livro e vá fazer o que mais gosta. Informações úteis Se você está se preparando para o vestibular, preocupado com sua redação, é interessante que tenha algumas informações iniciais, para começar a interiorizá-las a partir de agora. Uma delas, da máxima importância, é saber o que ocorre com sua redação, a partir do momento em que ela é entregue, após sua conclusão. Dependendo do curso a que esteja concorrendo, sua redação terá peso ou nota diferente, mas certamente em todas as hipóteses, acrescentará pontos importantes para sua aprovação. Após a realização da prova, seu trabalho é encaminhado a um professor que corrigirá sua redação, baseando-se em três princípios básicos: conteúdo, forma e correção. Vejamos cada um desses itens isoladamente. O conteúdo Pesarão neste aspecto o seu enfoque pessoal ou a maneira como abordou o assunto, a lógica e a coerência das ideias apresentadas, sua relação com o tema, sua atualidade e sua argumentação. Para se sair bem nessa etapa, você precisa refletir sobre o tema, relacionar e encadear informações atuais sobre ele, desenvolver a composição coerentemente, sem se afastar de seu propósito inicial. Para isso você precisará de um esquema de trabalho e esta é uma das coisas que aprenderá fazer no decorrer da leitura. Lembra-se das notícias do início? A forma Você deve desenvolver seu trabalho com concisão e clareza, tendo em mente que concisão é a exposição das ideias em poucas palavras e clareza é a qualidade do que é claro ou inteligível. O domínio das formas da língua e a fluência na construção das frases, orações e períodos são decisivos, assim como um bom domínio e riqueza de vocabulário. Finalmente, um toque de criatividade para temperar tudo isso, não se esquecendo jamais de que o professor que fará a leitura e pontuará seu trabalho certamente gostará de entender tudo facilmente, razão pela qual, ao passar a limpo seu trabalho, faça-o com caligrafia legível e caprichada, sob pena de pôr em risco todo o resultado. A correção Seu trabalho deve ser o mais correto possível. Isso significa que deverá estar isento de erros gramaticais e ortográficos, corrigido com atenção, elegante e adequado ao seu propósito. Os aspectos que mais saltam à vista, nesse momento, são a acentuação gráfica, a ortografia, pontuação, concordâncias verbal e nominal, regência e colocação pronominal. Quanto mais harmoniosas forem essas etapas de sua redação, mais chance de sucesso, e de boa nota, você terá. Para chegar a isso, não se esqueça de que terá de fazer uso de muito CHA. A questão, agora, é perguntar: você está disposto(a) a seguir em frente? Está disposto(a) a adquirir conhecimentos e desenvolver suas habilidades? Se a resposta for positiva, você está pronto(a) para continuar. Capítulo 1 ENTENDENDO OS CONCEITOS Sempre insisti que o ato de escrever é uma atividade que exige ação, um processo que deve ser estruturado e obedecer a um método. A partir do momento em que você pratica, você vai internalizando paradigmas ou modelos que serão utilizados automaticamente em seus trabalhos. Saber como isso ocorre é importante, pois pode permitir que você assuma o controle de algo que, por falsas informações ou conceitos errados, julgue ser um ato instintivo, inato, um "dom" que privilegia poucos e penaliza muitos. Se tiver um pouco de paciência, garanto-lhe que tudo o que conhecer e aprender quanto aos aspectos teóricos da redação tornarão sua tarefa mais fácil e mais produtiva. Aceitando essa premissa, tenha em mente que escrever é argumentar e para fazer isso, alguns requisitos básicos são necessários. Vejamos quais são! Pensamentos A justeza do espírito é uma qualidade indispensável em qualquer pessoa que pretenda fazer uma argumentação. Da mesma forma, pode-se afirmar que não existe obra literária sem sentimento. Por mais impessoal que tente ser, fatalmente essas qualidades ou a ausência delas vão se refletir em seu trabalho. Assim, é importante que você entenda isso, uma vez que pode afetar diretamente o seu estilo e sua obra. Pensamento é toda concepção do espírito. Deve ser verdadeiro, isto é, conforme com a realidade, já que um pensamento falso pode fazê-lo enveredar por uma argumentação totalmente equivocada. Exige-se que seja claro para ser compreendido sem esforço. Por isso, todos os bons manuais de redação recomendam que se busque a simplicidade na comunicação, fugindo a tudo que possa comprometer sua clareza. Devem ser ainda naturais, espontâneos, ajustados ao assunto e ao caráter das pessoas que os expressam. Numa redação objetiva, como a do vestibular e a de um concurso público, recomenda-se evitar os pensamentos por demais profundos, que não podem ser concebidos senão por espíritos superiores e cuja exatidão só será medida por séria e profunda reflexão. Os professores que corrigirão seu trabalho podem não dispor de tempo para tais mergulhos. Da mesma forma, deve-se evitar todos que vulgares e triviais, evocando coisas ou aspectos grosseiros ou comum demais. Sentimento O sentimento pode ser religioso, quando tem Deus ou as coisas santas por objeto, natural, se nasce da contemplação do mundo exterior e sentimento propriamente dito, como amor, ódio, amizade, gratidão, alegria, tristeza, admiração, ternura, compaixão, esperança, inveja. A primeira qualidade do sentimento é a naturalidade, devendo estar adequado ao assunto e corresponder aos estados de alma dos autores ou das personagens envolvidas. À naturalidade opõe-se a exageração, quando o autor se deixa seduzir pela sonoridade das palavras e pela ousadia das expressões que substituem a justeza e a sinceridade do sentimento. Os sentimentos são também nobres e sublimes, quando próprios a realçar as melhores tendências da alma, as suas heroicas resoluções e elevadas aspirações para a verdade, o bem e o belo. Ao redigir uma redação, deixe aflorar aqueles sentimentos que possam contribuir para o seu sucesso, evitando a todo custo deixar-se contagiar pela ira, pela ironia, pela revolta, que seguramente o levarão a pensamentos obscuros, falsos, confusos ou totalmente desviados da realidade. Linguagem Oral e Linguagem Escrita A linguagem escrita tem identidade própria e seu caráter formal distancia-se da linguagem oral. Ao redigir, usa-se o significado das palavras para transmitir conteúdos. Assim, a redação é a expressão de ideias, por escrito. Para atingir seus objetivos, precisa ser feita de forma clara, organizada e coerente. Simplificadamente, redigir bem é utilizar conhecimentos de gramática e de vocabulário para discorrer sobre um tema. Para se discorrer sobre um tema, é preciso entendê-lo, refletir sobre ele, associar ideias, usar a memória e a imaginação. Em seguida, ainda que mentalmente, é preciso estabelecer um roteiro para essa redação, obedecendo aos seguintes passos: 1 - Seleção da forma a ser utilizada (dissertação, descrição, narração ou correspondência comercial). 2 - Reflexão sobre o tema, organizando e associando ideias. 3 - Escolha de palavras significativas e atreladas ao tema para expor as ideias de forma concatenada, conforme as regras do idioma e seguindo seu próprio estilo. Num vestibular ou num concurso público, a seleção da forma será automática, como exigência da prova. Refletir sobre o tema, no segundo passo, implica em usar a memória, lembrando-se de leituras ou de informações recebidas de outras fontes. Ao fazer isso, faça uma análise cuidadosa o assunto a ser tratado, sob todos os aspectos, sejam eles concretos, emocionais ou filosóficos. Após isso, faça o rascunho inicial, ponto de partida para seu trabalho. Um dos aspectos mais importantes, tendo em vista que a originalidade é um dos pontos cruciais de toda redação, é o de criar e desenvolver um estilo próprio. A capacidade de observar, analisar, compilar e apresentar dados de forma própria e individual determinará seu grau de criatividade. Para isso, não há como fugir da leitura de jornais, revistas e, principalmente, dos grandes nomes da língua portuguesa em todos os tempos. Lembre-se que quanto maior for o seu vocabulário, mais fácil será a tarefa. Nesse aspecto, algumas regras são básicas: evitar arcaísmos e neologismos, dando preferência a um vocabulário atualizado, fugindo das cacofonias, do uso repetitivo de palavras e expressões. Afinal, uma frase gramaticalmente incorreta, sintaticamente mal estruturada e grafada com erros não atinge o seu objetivo. Para desenvolver sua habilidade, crie o hábito de escrever diariamente, revisando e corrigindo o texto em seguida é passo imprescindível para automatizar o processo e desenvolver a habilidade, pois essa familiaridade com o ato de escrever torna fácil a capacidade de expressar-se de forma clara, coerente e correta. Para que sua redação consiga atingir o objetivo proposto, que é o de discorrer eficazmente sobre o tema, é preciso que você esteja atento ao fato de que ela será lida por alguém com características específicas, conforme pode ver no capítulo inicial, quando falamos das notícias e apresentamos as opiniões de professores que trabalham na correção de redações de vestibular. Lembra-se? Tenha em mente que são pessoas altamente cultas e, por isso, você deve empregar um vocabulário à altura, respeitando o limite de linhas exigidos, com um bom nível de complexidade nas informações, uso correto da língua e de suas estruturas. Uma boa forma de treinar é automatizar os paradigmas da língua, através da elaboração de paráfrases. Para isso, comece copiando uma trecho de um livro e depois o reproduza, mudando o sentido, sem mudar as estruturas das frases, como no exemplo a seguir: "O corpo se agitou no colchão de palha: ruído de ventania arrastando folhas." (L P Baçan, Sassarico) Paráfrase: "O carro se agitou no lamaçal: barulho de animal brincando na água." Comece com frases simples e vá aumentando, até conseguir trabalhar textos entre 20 e 30 linhas. Use tudo que tiver a sua disposição, desde trechos de escritores famosos até reportagens de revistas ou de jornais. Verá que, com o tempo, torna-se mais fácil fazer isso. Quando eu disse que para aprender a escrever usava-se 10% de inspiração e 90% de transpiração, estava me referindo a isso: trabalho constante, sistemático e organizado. É importante que você jamais se esqueça de que uma redação é um texto objetivo, um instrumento para você transmitir informações, devendo fazê-lo da forma mais clara possível. Como é um texto com um número limitado de linhas, um esforço extra poderá ser exigido para concentrar essas informações no corpo da redação, evitando alongar-se desnecessariamente, o que implicaria em riscos de cometer mais erros, desviar-se do assunto ou perder-se nele. Por isso recomenda-se um pequeno roteiro da redação, que pode ser feito no rascunho. O esquema mais simples é: 1 - Início (relacione palavras-chaves para introduzir o assunto) 2 - Meio ou desenvolvimento (relacione ideias a serem desenvolvidas, lembrando-se sempre de analisar a questão por prismas diferentes, buscando enfoques originais). 3 - Conclusão (fuja à tentação de transformar sua conclusão numa lição de moral ou em apresentar simplesmente a "moral da história". À luz dos argumentos, escolha sua opção). Tudo isso, porém, deve ser parte de um processo natural. Se você está lendo este livro é porque não tem familiaridade com o assunto e precisa aprender tudo desde o princípio. Assim, nada como procurar criar dentro de si um método de trabalho. Analisando o Tema De fato, a primeira regra para uma boa redação é a análise do tema. Para isso, são necessárias algumas etapas que devem ser automatizadas e praticadas com frequência, buscando o desenvolvimento e aprimoramento dessa habilidade. Pode, aparentemente, parecer uma coisa difícil de ser feita, mas, na verdade, não envolve nenhum grande segredo. Antes de tudo, é importante manter a calma. Muitos estudantes acabam ficando nervosos e perdendo a concentração ao se deparar com um tema inesperado e isso compromete todo o seu desempenho posterior. Fique calmo. Leia o tema como algo impessoal, como um degrau a ser vencido ou um obstáculo a mais a ser superado. Siga os seguintes passos, respondendo às seguintes perguntas: 1) Qual é o tema, o que é, qual é a sua definição, o que visa ou busca, onde quer chegar e qual é a sua abrangência? Faça a si mesmo perguntas desse tipo e vá ordenando as respostas. Pode fazer um pequeno rascunho com essas respostas, apenas para orientar-se. Se aprender a fazer isso logo no início, com o tempo fará todas essas questões e associará todas as respostas mentalmente, usando suas habilidades. 2) De que se compõe, pode ser enumerado, há pontos de vista divergentes ou convergentes? 3) Quais seus aspectos principais, como descrevê-lo, quais são as suas palavras-chaves? 4) Quem? O quê? Onde? Como? Por quê? De que forma? Quando? 5) Quais são as suas causas e efeitos. 6) Que fatos, notícias, relatos ou informações tenho na memória a respeito? 7) Que exemplos, modelos, bibliografia ou informações complementares posso usar? 8) Que compara comparações posso fazer? 9) Há teses, antíteses e alusões possíveis? 10) Que hipóteses podem ser formuladas sobre o tema? Ao fazer isso, respondendo a essa série de questões, possivelmente você terá entendido o tema, seu objetivo, seu conteúdo e esboçado a forma como vai abordá-lo, desenvolvê-lo e concluí-lo. Quer testar? Peça a alguém próximo de você que lhe dê um tema, por mais imprevisível que possa ser e percorra todos os passos recomendados acima. A Memória A memória é um de seus maios preciosos aliados quando se trata de redigir. Ela pode guiá-lo na seleção das informações, lembrando-se instintivamente tudo que se referir tema. A reflexão fará o resto. Não espere que sua memória encontre sozinha as informações de que necessita. Você precisa municiá-la com a leitura de bons autores, boas fontes, atualidades, novidades e tudo que puder ser explorado ou necessário no futuro. Isto porque se você souber aplicar bem um pensamento alheio, terá quase tanto talento como o autor dele. Apesar disso, apenas faça citações se as souber desde que sejam exatas. Evite expressões como "se não me falha a memória", "li algures", "no dizer de célebre critico, de conhecido historiador, do filósofo, do famoso poeta", que muitas vezes podem ser expedientes para tentar reforçar afirmações de sua própria autoria. Lembre-se de que quem corrigirá seu texto possui um certo grau de cultura e conhecimento, dificilmente engolindo esse tipo de artifício. Na descrição de uma paisagem, recorra à memória para adaptar a essa paisagem as particularidades pitorescas de outra semelhante, da natureza real. Para dar vida a um dialogo, recorda-se de palestras espirituosas e de réplicas inteligentes que possa ter ouvido recentemente. A Disposição Dá-se o nome disposição, na composição literária, à distribuição ordenada de seu conteúdo. Pode ser interior e exterior. A primeira resulta da ligação real das ideias e tem como partes principais o principio ou introdução, o meio ou desenvolvimento e o fim ou conclusão. A segunda consiste nas divisões visuais feitas para tornar a leitura possível, como partes, seções, livros, capítulos, artigos, parágrafos e pontuação. Isso porque não basta expor à inteligência muitas ideias, mas também é preciso apresentá-las com ordem, uma das exigências básicas de um trabalho bem feito. A primeira qualidade que se observa numa redação e sua unidade, isto é, se é coerente com o tema proposto, mantendo-se ligada a ele pela pertinência. Um pensamento mal colocado é uma tolice, mas pode ser, noutro lugar, um pensamento elevado e original. A disposição ou plano varia segundo o gênero de composição, o fim desejado, o autor e a condição das pessoas a quem ele se destina, mas existem regras básicas aplicáveis a todos os gêneros. Inicialmente, o plano deve nascer do tema e ligar-se a ele, evitando a inclusão de ideias estranhas. Suponhamos que você esteja dissertando sobre os meios de comunicação e introduza uma brilhante mais inoportuna apreciação sobre a competição entre as empresas de ônibus e as de aviação. Após refletir sobre o tema, reunindo informações, escolha as ideias principais e de cada uma delas faça o centro em torno do qual se agrupam uma série de ideias menos essenciais e mais particulares, esmiuçando seu entendimento. Faça divisões entre essas ideias, de modo a formar parágrafos, esgotando cada uma delas neles e evitando que uma ideia se misture ou se confunda com outra. Numa segunda etapa, veja quais dessas ideias são realmente importantes e interessam ao tema proposto, excluindo aquelas que não se prestarem a isso. Não inclua nada que não conheça satisfatoriamente, que não possa desenvolver ou provar. Altere a ordem das ideias apresentadas, de forma que sua disposição resulte num todo coerente, progressivo e elucidativo. Jamais peça crédito ao corretor da redação, incluindo afirmações semelhantes a "como pretendo provar" ou "como já esclareci anteriormente". A lei essencial de toda argumentação é o movimento progressivo, que pode ser ascendente ou descendente. Indivíduo, família, pátria, humanidade estão colocados numa gradação ascendente. Descendente seria o inverso. Não se veja nessa gradação, porém, graus de importância. É apenas uma forma de apresentar suas ideias, indo do menor para o maior, do particular para o geral ou vice-versa. O resultado final de um trabalho assim planejado será a manutenção da unidade na variedade, o equilíbrio dos elementos da composição e a originalidade e clareza do conjunto. Tipos de planos Podemos diferenciar os seguintes tipos de planos de composição: o simétrico, o cronológico e geográfico, o retrospectivo e o artístico ou orgânico. O plano simétrico estabelece um equilíbrio entre as partes da composição, criando entre elas uma correspondência. Pode ser subdividido em plano simétrico por antítese, por paralelo e por progressão ascendente ou descendente. O plano por antítese, ou ideias contrárias, produz, em geral, um bom efeito. No plano por paralelo procura-se analisar as semelhanças e as diferenças entre duas personagens, duas épocas ou dois aspectos relevantes de um tema. Pode compor-se a paralelo em quadros separados que se correspondem, como dois medalhões. O plano cronológico reúne os fatos conforme sua sucessão no tempo e na ordem em que se realizaram. O plano geográfico descreve o tema de acordo com sua posição ou situação em diversos países ou na superfície do globo. Já o plano retrospectivo opõe-se ao cronológico e consiste em lançar o leitor no meio de acontecimentos ou no centro de uma argumentação, explicando, depois, os fatos anteriores. O plano artístico ou orgânico torna mais intima a unidade da composição, movendo-a em volta de certos sentimentos, de um pensamento ou de um concerto de pensamentos que lhe unem todas as partes e é conveniente ao teatro e ao romance. Cada um desses planos exige o desenvolvimento de habilidades específicas e o uso de conhecimentos direcionados. Você pode treiná-los, criando modelos que poderão ser utilizados posteriormente, depois de passados por todas as fases do polimento. Ao elaborar um plano, é como se você montasse o esqueleto de sua redação e isso vai se mostrar extremamente útil no futuro, pois um mesmo esqueleto pode servir de modelo para qualquer tema. Capítulo 2 TIPOS DE REDAÇÃO A DESCRIÇÃO Descrever é representar um objeto (cena, animal, pessoa, lugar, coisa, etc.) por meio de palavras, procurando explorar os cinco sentidos humanos — visão, audição, tato, olfato e paladar —, através dos quais mantemos contato com o mundo. Assim como em qualquer redação, é importante elaborar um roteiro a ser seguido e a melhor maneira de fazer isso é selecionando perguntas específicas e pertinentes sobre o tema. Apesar de raramente ser exigida num vestibular, sugiro que você a pratique para estar preparado para qualquer eventualidade. Um bom elenco de perguntas a ser utilizado é o seguinte: 1 - O que a sua visão assimila do tema proposto? 2 - O que o sua audição recolhe desse tema? 3 - O que o seu tato sente desse tema? 4 - O que o seu olfato capta desse tema? 5 - O que o seu paladar percebe desse tema? Como a originalidade é um aspecto importante de toda reação, principalmente daquelas utilizadas como avaliação, seja no vestibular ou num concurso público, experimente fazer o seguinte exercício, após ter feito o rascunho inicial de sua redação. 1 - Anote os adjetivos e expressões que usou ao descrever cada um dos sentidos. Quais foram os utilizados para a visão, para a audição e assim por diante. 2 - Veja o que pode ser excluído, por estar implícito no sentido abordado. Exemplo: Vi com os olhos. 3 - O que foi repetido e pode ser trocado por um sinônimo. Ao fazer esse trabalho, você estará polindo seu texto, disciplinando-se quanto ao uso excessivo de adjetivos e de expressões repetidas e desnecessárias. Se gostou desta sugestão, haverá muitas ainda, todas muito úteis para você se tornar um bom escritor. Quer um exemplo prático? Imagine um homem caído num poço, à noite. Coloque-se no lugar dele. Pense no frio, na água, na noite, na sufocação, cansaço, nas horas, no som da voz, no eco, no tempo, no silêncio, na vista lá de baixo, nos gritos de desespero, no abandono das forças, na extenuação lenta, nos movimentos inúteis do homem, que se conserva à tona da água e que mergulha, quando se agita, no medo da morte e outras sensações. Vá anotando as sensações e percepções possíveis. Uma certa ordem pode ser imposta à descrição, como parte do plano, como forma de facilitar ou antes sistematizar sua tarefa. Se você for descrever uma paisagem, terra, mar e céu poderão estabelecer três divisões. Se a sua paisagem não tiver mar, você pode dividir em próximo, afastado e distante, ou planície, montanhas e céu. Pode utilizar o mesmo critério dos pintores, dividindo em primeiro plano, segundo plano e fundo. Essa divisão permitirá que você dê ao seu trabalho uma certa progressão. Uma boa descrição é viva, animada, realista, sem aterse aos aspectos negativos ou ao vulgar. Os detalhes devem ser empolgantes e escolhidos, dispensando-se de comentar o óbvio. Ninguém dirá, na discrição de um cavalo, que se trata de um animal com quatro patas, uma cabeça e um rabo, a menos que isso seja absolutamente necessário no contexto da descrição. Para descrever de forma natural e realista, você usa a observação direta e a indireta. A primeira, anotando tudo o que vê e sente, as coisas, as cores, os sons e os movimentos, impressão provocada por tudo isso, suas reações, dando a isso uma certa ordem, a partir de um plano definido de trabalho. Na observação direta você usa a sua memória ou as informações obtidas através de outros meios, como a leitura, por exemplo. Para simplificar e facilitar seu trabalho, memorize os modelos abaixo para usá-los quando preciso ou adapte-os ao seu estilo. Muito embora o esquema recomende dois parágrafos para o desenvolvimento, nada impede que, sendo necessário, você use mais um ou dois. Descrição de Pessoas 1º Parágrafo - INTRODUÇÃO Dê suas primeira impressão ou aborde algum aspecto de ordem geral. 2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO Dê suas características físicas, como altura, peso, cor da pele, idade, cabelos, traços do rosto, voz e roupas, depois trace seu perfil psicológico, abordando personalidade, temperamento, caráter, preferências, inclinações, postura e objetivos. 4º Parágrafo - CONCLUSÃO Finalize ressaltando uma dessas características ou algum aspecto de ordem geral que a torna única. Descrição de objetos 1º Parágrafo - INTRODUÇÃO Comente a procedência ou a localização do objeto a ser descrito. 2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO Detalhe o formato, comparando-o com figuras geométricas e com objetos semelhantes. Cite suas dimensões, tais como largura, comprimento e altura. Descreva o material de que é feito, peso, cor, brilho, textura e impressões que provoca à visão e ao tato. 4º Parágrafo - CONCLUSÃO Faça observações quanto à utilidade ou sobre o objeto como um todo. Descrição de ambientes 1º Parágrafo - INTRODUÇÃO Comentário de caráter geral. 2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO Dê todos os detalhes da estrutura do ambiente, destacando paredes, janelas, portas, chão, teto, luminosidade, cheiros e outras impressões. Relacione os objetos ali existentes, como móveis, aparelhos elétricos, decoração e outros aspectos relevantes. 4º Parágrafo - CONCLUSÃO Teça considerações sobre a atmosfera que paira no ambiente ou as sensações que ele provoca. Descrição de paisagens 1º Parágrafo - INTRODUÇÃO Faça comentário sobre a localização ou qualquer outra referência de caráter geral a respeito da paisagem. 2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO Divida a paisagem e explique o que vê do mais perto para o mais longe ou vice-versa. Se preferir, pode fazê-lo movendo o foco de observação da direita para a esquerda ou ao contrário. 4º Parágrafo - CONCLUSÃO Conclua comentando a impressão que a paisagem causou em você ou causará em quem a contemplar. A DISSERTAÇÃO A dissertação é uma exposição de ideias a respeito de um tema, com base em raciocínios e argumentações, discutindo um tema e defendendo uma posição a respeito dele, o que exige coerência entre as ideias e a clareza na forma de expressão. Pode ser dividida em: 1 - Introdução, quando se apresenta o tema. 2 - Desenvolvimento, quando se expõem os argumentos e ideias sobre o assunto, fundamentando-se com fatos, exemplos, testemunhos e provas o que se quer demonstrar. 3 - Conclusão, que é o desfecho. Vamos ver isso detalhadamente. O Princípio O principio é a introdução ao tema, quando você procura dispor favoravelmente o leitor, atraindo sua simpatia, conciliando-lhe a atenção e preparando-o para que compreenda o assunto. Todo principio deve ser breve e simples, fugindo a ricochetes, que se apegam a uma ideia estranha ao tema, rumando para ele através de um mirabolante jogo de palavras ou de ideias. Deve-se evitar também as chamadas cascatas, que se iniciam numa ideia muito geral e vai se afunilando, até chegar, finalmente, ao tema. Deve-se evitar, também, iniciar o trabalho com longas histórias ou anedotas O título ou enunciado do trabalho não deve fazer parte do assunto nem considerar-se como uma primeira . Procure ser modesto e, por isso, nada de fazer apologia ao tema nem anunciar suas pretensas maravilhas. Para terminar, o princípio jamais deve deixar transparecer a conclusão, antecipando-a. O Desenvolvimento O desenvolvimento é o corpo da redação, em que se manifesta plenamente a ideia geral ou o fato principal, estando sujeito a três leis: unidade, movimento e progressão, interesse. Unidade é o vinculo que torna afins e enlaça as várias partes, para formarem um todo completo, já que a qualidade de uma redação não deve estar somente na excelência em cada um dos pensamentos, como também no estreito nexo que os liga e torna coerentes em torno do tema proposto. Jamais pense numa redação como um amontoado de linhas ou uma sequencia de parágrafos, sem ligações internas nem compromissos e coerência entre elas. Movimento e progressão Tudo que for incluído numa redação deve ser pertinente, importante e acrescentar movimento a ela, num processo natural de evolução das ideias para um arremate que sintetize os argumentos apresentados. É importante que o leitor, a cada instante, sinta que as ideias caminham para a conclusão. Sem esse andamento, facilmente se percebe o famoso e problemático "enchimento da linguiça", que a nada conduz e jamais chega a um ponto final. Dois excessos devem ser evitados: o movimento rapidíssimo e o movimento arrastado. Para evitar o primeiro, acrescente ligeiras mas pertinentes observações, relatos, fatos ou informações. Para escapar do segundo, fuja das reflexões profundas, das adições inúteis e das digressões que, ainda que brilhantes, enveredam por trilhas longas e traiçoeiras. O ritmo correto implica em fazer da sua composição uma ideia em marcha, de forma que, à medida que for ganhando terreno, venham unir-se novas ideias relacionadas intimamente com ela. Lei do interesse O interesse consiste em manter o espírito do leitor em constante expectativa, evitando a monotonia ou tornando o desenvolvimento ou a conclusão facilmente presumíveis. O interesse pode ser natural e artificial. Natural quando nasce da importância ou pertinência dos fatos. Artificial quando intimamente ligado ao talento do escritor que sabe explorar engenhosamente o assunto, por meio de diversos recursos. O interesse deve ser sempre crescente e estar habilmente distribuído em toda a composição. A conclusão A conclusão é o final da composição, em que se recapitula a essência do que se desenvolveu e produz-se uma derradeira impressão favorável no espírito do leitor. A conclusão deve ser breve, ainda que se faça a recapitulação das principais ideias. Escolha, para finalizar, dentre os pensamentos e sentimentos que o tema inspirou, os mais apropriados para persuadir e convencer. Necessidade das correções Tenha sempre em mente que aprender é exercitar-se e que isso implica em 90% de transpiração e 10% de inspiração. Sem trabalho constante não se alcança o pleno desenvolvimento das habilidades. Tudo isso para lembrar a necessidade das correções, condição básica para o sucesso de todo trabalho escrito. Fialho de Almeida revela um importante segredo. "O meu primeiro trabalho é o de tornar a prosa elegante de maneira que não tropece em quês, evitar que as palavras se repitam ou que haja palavras rimadas. Então emendo muito, chego a desesperar. Depois, passo a outro papel e tantas vezes quantas eu entender que fica bem e me der por satisfeito. Então leio em voz alta e retoco até que o artigo está de pronto para a tipografia" (Serões). Isso passa a ser, também, parte de um trabalho planejado de desenvolvimento das habilidades, que enfrentará algumas etapas. São elas: Primeira versão Pegue seu dicionário, escolha um tema no capítulo Sugestões de Temas e Atividades e comece escrevendo com cautela, a partir do plano elaborado. Você pode ir escrevendo, lendo e corrigindo ou escrevendo tudo e depois corrigindo. Tente as duas opções e veja em qual você se sente mais à vontade, adotando-a como método de trabalho. O importante é que, uma vez terminada a primeira versão, você faça a primeira correção. Para isso, use o Roteiro para Correção, nos capítulos finais. Terminada essa primeira etapa, passe a limpo e guarde a redação e só volte a ela após ter escrito duas ou três outras. Isso é importante para que você se desvincule de ideias, modos e construções utilizadas, tendo uma visão mais imparcial do que escreveu Segunda versão Retome a redação, juntamente com seu dicionário, e analise-a, observando aspectos mais sutis. Inicialmente, revise cada período, cada frase e até cada palavra, retocando e substituindo onde julgar apropriado. Observe os períodos muito extensos, dividindo-os, depois junte aqueles muito curtos. Busque novas associações para fortalecer o pensamento. Amenize sentimentos muito fortes, arrisque combinações novas, com palavras mais expressivas. Examine os verbos que utilizou. Veja se são expressivos o bastante ou se há alternativas de substituição, que deem força aos argumentos e beleza ao texto. Veja se as expressões e palavras empregadas são claras e se fácil e rápido entendimento, não deixando margem a duplas interpretações. Evite a linguagem conotativa. Após isso, passe novamente a limpo e guarde. Terceira versão Duas ou três redações após esta, retome-a e, desta vez, sempre com seu dicionário à mão, submeta-a ao Roteiro para Correção, depois novamente aos conselhos da segunda versão. Concentre seus esforços no sentido de dar naturalidade, leveza, fluência e harmonia ao conjunto. Leia e releia e resultado, depois passe a limpo. Feito isso, peça a alguém capacitado para lê-la, apontando imperfeições e fazendo comentários. Ouça com atenção tudo que lhe for dito, procurando entender o objetivo de cada conselho dado. Isso não significa que deva correr e mudar toda a sua redação, conforme a opinião recebida, mas experimente fazê-lo para ver se o resultado é melhor. Se for, incorpore esses conselhos. Se não for, ignore-os. Terminando esse trabalho, passe a limpo sua redação e guarde-a para reler no futuro. Não queira buscar, com ela, uma perfeição inatingível. O que você precisa é desenvolver ao máximo suas habilidades para enfrentar um vestibular ou um concurso e isso só será atingido com o constante trabalho de redigir e corrigir, até que esses procedimentos sejam incorporados e você passe a utilizá-los automaticamente, como quem anda de bicicleta ou aprende a nadar. O processo é mais ou menos o mesmo. Este processo se presta a qualquer tipo de composição, seja uma dissertação, uma descrição ou uma narração. Quer um modelo simplificado para a dissertação? Que tal este? 1º Parágrafo - INTRODUÇÃO Comente o tema e apresente dois ou três argumentos significativos em relação a ele. 2º e 3º Parágrafos - DESENVOLVIMENTO Desenvolva os argumentos apresentados na introdução. Se for conveniente, pode usar mais um ou dois parágrafos. No vestibular ou numa prova de concurso, tenha sempre em mente que "quanto mais se faz, mais se erra". 4º Parágrafo - CONCLUSÃO Síntese das argumentações e observação conclusão final. A NARRAÇÃO Narrar é relatar um fato, real ou imaginário, seguindo um tempo cronológico ou um tempo psicológico. O narrador, ou ponto de vista, pode ser o protagonista da história, um observador neutro, alguém que participou do acontecimento de forma secundária ou ainda um espectador onisciente, que aparentemente esteve presente em todos os lugares, conhece todos os personagens, suas ideias e sentimentos. A apresentação dos personagens pode ser feita diretamente, descrevendo-os, ou de forma indireta, por suas ações e comportamentos deste, quando é dita indireta. Os diálogos ou as falas podem ser apresentadas de três formas: 1 - Discurso direto — o narrador transcreve de forma exata a fala do personagem. 2 - Discurso indireto — o narrador conta o que o personagem disse, usando verbos chamados dicendi ou de elocução, que indicam quem está com a palavra. Exemplo: "disse", "perguntou" e "afirmou", "retrucou". 3 - Discurso indireto livre — o narrador usa os dois tipos anteriores. O conjunto dos acontecimentos chama-se enredo e pode ser linear, seguindo a sucessão cronológica dos fatos, ou não linear, com cortes na sequencia dos acontecimentos. Normalmente pode ser dividido em exposição, complicação, clímax e desfecho. Tendo em vista que uma das melhores maneiras de desenvolver seu estilo é lendo de forma ordenada e metódica, tomando notas e analisando o que está sendo lido, é importante que você conheça todos os detalhes a respeito da narração. Esse conhecimento será de suma importância quando você fizer suas leituras suas anotações. Conhecendo e familiarizando-se com os elementos principais da narrativa, você compreenderá melhor o texto e estará atento a detalhes que até então não eram percebidos. Inicialmente, é preciso entender que a condição essencial de toda narração é a unidade. Ao narrar um fato, faça-o sem incluir nisso digressões ou longas ou pouco interessantes ou estranhas à ação, não se alongando em descrições nem em reflexões. Deixe apenas o que for absolutamente necessárias ao desenvolvimento do assunto, fazendo-as fluir de modo natural. Elementos da Narração Para traçar o plano de uma narração, não pense em termos de introdução, desenvolvimento e conclusão, mas de exposição, enredo e desfecho, pondo isso num cenário com algumas personagens. Segundo Olavo Bilac, "a exposição dá a conhecer o local e o momento da ação, apresenta as personagens e fornece todos os antecedentes que prepararam o enredo e podem influir sobre o desfecho". A exposição deve ser curta e rápida, indo preferivelmente direto ao assunto e pode ser iniciada por uma ação já em andamento. De preferência não deverá dar a entender qual será o desfecho, a menos que isso seja parte do plano da obra, pois há aquelas que se iniciam com o desfecho dos acontecimentos e em seguida narram todos os acontecimentos que o antecederam. Ainda segundo Bilac, "o enredo é a própria ação, o seu desenvolvimento. Começa no momento em que as personagens entram em cena e se encontram, em que tudo se põe em movimento e em que o interesse aumenta e se complica". Pode ser simples ou complicado, conforme a quantidade de cenas, mas deverá ser cheio de movimento. Cada parte evoluirá dentro de uma progressão ordenada, rumo ao desfecho, que é a última parte da narrativa, quando se resolve enredo da ação. Deve ser breve e surpreender. Se for deduzido antecipadamente pelo leitor, tirará deste o interesse pela leitura. Se você acha interessante, aqui vai um esquema muito simples e fácil de ser memorizado para usar se tiver que fazer uma narração. 1º Parágrafo - EXPOSIÇÃO Comente o que vai ser narrado e determine tempo e cenário. Explique a causa dos fatos e apresente as personagens. 2º e 3º Parágrafos - ENREDO Detalhe como tudo aconteceu. 4º Parágrafo - DESFECHO Relate como tudo terminou ou quais foram as suas consequências. O cenário A ação contida em uma narração deverá estar localizada em algum ponto geográfico real ou imaginário. Se for uma narração baseada na história, será importante que guarde estreita relação com os fatos históricos, sem distorcê-los ou mudá-los, a menos que isso seja intencional e parte do plano da obra. É importante conhecer os usos e costumes das personagens, conforme o país ou o local onde se passa a ação, para dar-lhes cor local. Falar sobre ciganos sem conhecer seus usos e costumes seguramente será uma temeridade e soará falso e forçado. Personagens Podem ser introduzidas da história diretamente, através de uma descrição completa de suas características ou de uma forma indireta, quando essas características ficarão evidenciadas através de suas ações e atitudes. Na forma direta usa-se traçar p retrato físico, indicando roupas e outros detalhes pessoais. Na indireta, realça-se o seu caráter, seu valor moral e suas ações mais significativas, deixando para o leitor o trabalho de imaginar essa personagem conforme suas próprias referências. Espécies de Narrações Ao escrever uma narração, você poderá optar entre as diversas espécies existentes, escolhendo aquela que melhor atinge os objetivos pretendidos. Você poderá usar: Narração Histórica: exposição de fatos tal como aconteceram, verdadeiros e passíveis de comprovação. Ao fazê-lo, procure ser imparcial e evitar comentários críticos, pois essa crítica caberá ao leitor, após a leitura. Conto: trata-se de uma pequena narrativa fictícia, cuja característica mais acentuada será a da verossimilhança, ou fidelidade ao real. Você não escreverá um conto em que os navios da esquadra de Cabral eram aparelhados com metralhadoras, entre outros absurdos. Romance: uma obra de imaginação em prosa, baseada ou não em fatos reais, contendo aventuras fantásticas ou acontecimentos capazes de interessar o leitor. Nele podem estar reunidos gêneros diferentes, como a poesia, o conto, a critica, a filosofia, a história e a ciência social. Ao escrevê-lo, deve o autor relatar acontecimentos pouco comuns, mas verossímeis, introduzindo situações particulares, movimentos, ação e emoções. A ação preferivelmente deverá fluir com rapidez, revelando um vivo, variado e animado. Fábula: é uma curta narrativa, contendo uma lição moral sob o véu da ficção, diferindo do conto, pois seu objetivo é o ensinamento moral e não apenas o desfecho. Suas personagens são, via de regra, animais, vegetais ou seres alegóricos, em que cada um é representado por suas características mais marcantes: o leão poderá simbolizar a coragem e a força. A raposa será a encarnação da astúcia. O cão representará a fidelidade e assim por diante. Novela: é uma narração mais extensa que o conto e menor que o romance e não deve ser confundida com as novelas de televisão, que é coisa completamente diferente. Deve ser trágica, inspirando emoções fortes, podendo utilizar a inverosimilhança para atingir seus objetivos, desde que coerente com o contexto. Correspondência Comercial A linguagem usada em redação comercial é específica, existindo modelos para os mais diferentes momentos das relações comerciais. Nesse aspecto, criatividade e originalidade ficam prejudicadas em função da objetividade e da brevidade desse tipo de redação. Ofícios, requerimentos, pedidos, referências, memorandos e muitos outros exigem de seu redator conhecimento do modelo específico e das fórmulas comumente empregadas em seu conteúdo. Para simplificar seu aprendizado, há neste livro um capítulo específico sobre Correspondência Comercial, com modelos para serem parafraseados como forma de exercitarse, principalmente se o seu objetivo é prestar um concurso público ou candidatar-se a um emprego. Em resumo, esse tipo de redação caracteriza-se pela objetividade, coerência e clareza, com predominância da linguagem denotativa. Finalizando Como pôde ver, o objetivo deste trabalho é ser prático, fornecendo-lhe elementos para uma rápida assimilação dos princípios básicos de uma boa redação, capacitando-o a superar bloqueios e a preparar-se adequadamente para enfrentar os desafios de um vestibular ou de um concurso público. É importante salientar que, quanto mais cedo você começar e quanto mais você transpirar, melhores serão os resultados. Não fique esperando pela "inspiração" nem pelo "dom". Comece fazendo paráfrases, que independem de qualquer estímulo sobrenatural. Automatize estruturas, leia bastante, ouça os noticiários, principalmente aqueles em que as notícias são comentadas, troque ideias, mostre suas redações para os amigos e professores, peça avaliações e sugestões. Se tiver mais dúvidas, não hesite em pedir ajuda online, através do meu endereço eletrônico. Boa sorte e sucesso em todos os seus projetos! PARTE 3 ROTEIRO PARA CORREÇÃO Após ter escrito sua redação, passe a correção. Verifique se os aspectos de introdução, desenvolvimento e conclusão foram observados. Se as ideias estão coerentes, se o texto flui com naturalidade e se há harmonia no conjunto. Passe, depois, a observar os seguintes aspectos, obedecendo aos conselhos fornecidos: Ambiguidade Esta é uma das maiores inimigas de um bom texto, presente nas expressões ou construções com duplo sentido, resultando numa ideia imprecisa. Exemplo: "O policial apanhou o bandido com o produto do roubo que ele havia cometido". Nessa construção, pergunta-se: quem cometeu o roubo, o policial ou o bandido? Ou, ainda: "Ouvi um latido. Era a cachorrinha da minha namorada." Antecipação Você pode, no primeiro período do parágrafo, adiantar o que dirá a seguir. Isso ajuda a não perder de vista o tema proposto na redação ou estabelecido no seu esquema de trabalho. Exemplo: "Aquela seria uma noite de pesadelos e sustos para todos os moradores da fazenda. Tudo começou quando o sol começou a se esconder atrás das montanhas assombradas..." Cenas estáticas Para descrever uma cena estática ou um conjunto de cenas, empregue adjuntos adverbiais de lugar. Exemplo: "À direita viam-se os bandos de sacis, perseguindo os animais em fuga, montando cavalos com as crinas eriçadas de pavor. À direita, na direção do pomar, os cachorros eram acuados por quatro ou cinco lobisomens, que rosnavam ameaçadoramente. Ao longe, ouvia-se o tropel das mulassem-cabeça. Nas bandas do rio, Iara, a mãe d'água, cantava sua canção predileta de encantamento e fatalidade..." Começo, meio e fim Essa sequencia recomendada para todos os textos pode parecer simples, mas encerra dificuldades intransponíveis para quem não está preparado para desenvolver suas ideias ou não tenha percebido a simplicidade do esquema. Comece indo direto ao assunto, dentro do que planejou escrever. Rodeios e floreios apenas retardam o verdadeiro trabalho, aborrecem e irritam quem o lê ou terá que ler para avaliar. Para desenvolver um assunto, é necessário que você tenha refletido sobre ele e usado os recursos que aprendeu ao longo deste livro. Se estiver devidamente preparado, vai encontrar as ideias exatas e usá-las com acerto e correção. Um dos maiores problemas no desenvolvimento de qualquer composição é a falta de assunto, que leva ao excesso de rodeios e artifícios. Ao encerrar, procure algo original, de impacto, que resuma todo o conteúdo e seja expressivo. Não saber terminar uma redação e tão ruim quanto não saber começála. Uma boa maneira de trabalhar é esquematizando as etapas a serem percorridas até o produção final. Tente memorizar o seguinte roteiro, que se inicia no momento em que você toma conhecimento do tema da redação. Procure entender tema, lendo com calma a proposta da redação. Mantenha-se alerta, pois há temas tendenciosos, que encerram armadilhas. Quando o tema é objetivo, faça uma rápida tempestade cerebral, buscando lembrar-se de ideias e informações a respeito, antes de iniciar. Se o tema for subjetivo, faça relações e associações com assuntos de seu conhecimento e domínio. Assim que reunir o material que usará para trabalhar a sua redação, faça um esboço inicial do seu texto, depois dê o polimento, observando detalhes como estes, enumerados ao longo deste capítulo. Como na prova de redação do vestibular conta muito a concatenação de ideias, tenha em mente que a melhor maneira de alcançar um bom resultado está em selecionar os aspectos ou detalhes a serem enfocados na sua composição. Estruture a redação por parágrafos, sem perder de vista a coerência e mantendo o conteúdo estreitamente ligado ao tema proposto. Tudo o que não for importante ou nada acrescentar ao desenvolvimento do tema deve ser polido ou retirado. Uma boa técnica é contrapor ideias no texto, buscando relacionar aspectos favoráveis e desfavoráveis, argumentando sobre eles. Isso se você tem conhecimento e segurança a respeito do assunto abordado. Caso contrário, fique no terreno que lhe é conhecido e favorável. Finalmente, nada como uma leitura crítica, enquanto faz uma revisão gramatical apurada. Habitue-se a fazer isso, observando se todos os elementos ali presentes contribuem no desenvolvimento do tema. Corte todo que julgar inútil. Passe a limpo com uma caligrafia legível e, antes de entregar, faça uma última leitura do trabalho terminado. Comentários Quando quiser um comentário à parte dentro de um texto, empregue parênteses ou travessão, realçando a citação fora do contexto. Exemplo: "Uivavam na noite as assombrações — e como isso é assustador— atrás dos incautos." Ou: "Nas casas (eu também faria o mesmo), todos mantinham as cabeças cobertas e tremiam." Comparações Empregue, sem abusar e quando for conveniente, comparações que facilitem a compreensão do texto e fixem uma impressão, tornando-o mais claro e sugestivo. Para isso, use "como", "qual", "feito", "que nem". Exemplo. "As assombrações chegavam feito o tropel de mil cavalos." "Eram que nem pedras rolando pelas encostas, onde os pés de café secavam após a geada." Você pode também empregar metáforas, comparações e linguagem figurada para embelezar seu texto e dar-lhe um colorido especial. Exemplos: "A noite era um manto negro e trêmulo. A fazenda parecia um caldeirão fervente, prestes a explodir em preces desesperadas." Descrição de um cenário Ao descrever um cenário, alterne cenas estáticas com cenas dinâmicas, usando traços breves, mas precisos, sem adjetivação ou advérbios ou alongar-se em considerações desnecessárias. Exemplo: "Animais imóveis no pasto, sombras por entre as árvores do pomar, um cheiro de medo no ar. Uma criança chora numa das casas, as folhas farfalham lá fora, o pesadelo vai começar. A noite das assombrações havia chegado." Destacar um momento Se quiser dar destaque e um determinado momento de sua descrição, experimente pormenorizar a cena. Exemplo: "No alto da árvore, a brisa sopra e um frágil caule estala. A pequena folha seca oscila de um lado para outro, resvala nos galhos, toca outras folhas e, leve como uma pluma, desliza mansamente no ar até pousar na grama orvalhada para ser esmagada repentinamente pelos cascos de fogo da mula-sem-cabeça." Dissonâncias, cacofonias Muitas vezes, ao construir-se uma oração, o resultado pode ser perfeito no papel, mas desastroso quando lido ou pronunciado. Pequenos cuidados podem afastar esse tipo de problema de suas redações, tornando-as elegantes e fáceis de serem lidas e pronunciadas. Não se descartam, porém, o seu uso consciente, quando o contexto assim o exigir. Palavras com a mesma terminação. Exemplo: "O pão escorregou de minha mão e caiu no chão, junto ao balcão." Repetição de vogais. Exemplo: "Vai sair a aia da aula." Repetição de consoantes. Exemplo: "O pai pediu pão ao padeiro." Duas ou mais palavras formando uma terceira de sentido ou som desagradável. Exemplo: "Alguém poderia fechar a boca dela?" Ou: "O custo de uma mão é alto demais para ser avaliado." Frases nominais Para descrever de forma elegante, experimente usar frases nominais, sem um verbo que indica ação. Exemplo: "A noite, um tempo assustador. A floresta, um mundo de ruídos impressionantes. O rio, um marulhar constante e perturbador." Harmonia Na construção de um período é importante observar a ordem natural dos pensamentos e as regras gramáticas. Seguramente você jamais irá escrever "assustavam os fantasmas com suas presenças constantes, nossas noites", pondo o complemento tão distante do verbo. Melhor seria "os fantasmas assustavam nossas noites com suas presenças constantes". A isso chamamos harmonia e sua presença força, naturalidade e expressividade e um texto. Uma boa maneira de verificar se o texto é harmônio é lendo-o em voz alta. Humorismo Um estilo leve e com uma pitada de humorismo pode ser de grande efeito, desde que se evite a imoralidade e as expressões pesadas ou chulas e se possa apresentar algo que seja inédito. Incluir num texto uma piada "batida" ou muito conhecida vai comprometê-lo. Inversões "Aos vencedores, pelos organizadores do evento grandes recompensas prometidas foram." Esta afirmação está construída usando o recurso da ordem indireta, que é a inversão violenta ou forçada dos termos da oração. Trata-se de um recurso arriscado e de gosto duvidoso, nem sempre surtindo o resultado esperado. Ao invés disso, é preferível a boa e tradicional ordem direta, que, no exemplo acima, resultaria numa afirmação menos pomposa, porém mais elegante. "Grandes recompensas foram prometidas aos vencedores pelos organizadores do evento." Lugar comum O lugar comum é o tempero do recheio da linguiça, a expressão já pronta, acessível, fácil de ser usada e, por isso, tentadora. Seu uso tira toda a elegância e a originalidade de um texto, comprometendo o resultado. Nosso vocabulário é rico e existem alternativas para fugir ao lugar comum, bastando estar atento e fugir à tentação de usá-los. Para verificar isso, releia suas redações anteriores, procurando frases feitas e expressões estereotipadas, como "políticos inescrupulosos", "grandiosa festividade", "perseguidor implacável". Procure também situações como "exalar o último suspiro", "encontra-se engalanado", "abriu o coração", "tomar a resolução", "envolto num ar de puro romantismo", "tradicional festa de fim de ano" e coisas semelhante. Se você padece desse mal, corrija-o fazendo duas coisas: retire dessas expressões todos os adjetivos e expressões adjetivas e terá um texto mais leve, elegante, sem prejuízo algum do entendimento e da ideia inicial; substitua expressões por um verbo. Ao invés de "abriu o coração", por exemplo, confessou. Em lugar de "exalar o último suspiro", use "morrer", "falecer" ou "finar". Para completar o aprendizado deste item, fale com seus amigos e iniciem uma disputa para ver quem consegue anotar o maior número possível de lugares comuns. Feito isso, apliquem as duas regras acima e transformem tudo isso em pura originalidade. Quer mais alguns exemplos? inflação galopante vitória esmagadora esmagadora maioria caixinha de surpresas caloroso abraço silêncio sepulcral nos píncaros da glória Opinião pessoal Fuja à tentação de rechear seus textos com opiniões pessoais, procurando expor suas ideias sem fazer comentários, limitando-se a registrar os fatos. Se o texto exigir uma opinião, faça-a fundamentada e jamais baseada na emoção ou no "ouvi dizer". No vestibular, você será avaliado pela capacidade de usar a língua e expor suas ideias, jamais pelo brilhantismo de suas opiniões pessoais. Verifique em suas últimas redações se não escreveu algo parecido com "os políticos são todos desonestos" ou "o governo não se importa com o povo", que refletem emoção, mas carecem de uma fundamentação sólida para ser validada. Nesse mesmo tema, evite generalizações. No exemplo acima, afirmar que "todos os políticos são desonestos" é, no mínimo, falso, pois certamente haverá pelo menos um que é honesto. Opiniões contrárias Se pretende apresentar opiniões ou ideias contrárias, trate-as em parágrafos separados. Comente a primeira, depois inicie o segundo parágrafo usando uma conjunção adversativa. Exemplo: "Lá fora, tudo era liberdade e as assombrações corriam soltas pelos pastos, por entre os cafezais ressequidos e no velho pomar. Mas, dentro das casas, tudo era silêncio e opressão..." Ordem inversa A ordem natural dos termos da oração é sujeito, verbo, complemento e adjuntos adverbiais. Observar isso é produzir um texto elegante sem comprometê-lo. Em determinadas ocasiões, porém, pode ser necessário valorizar um elemento e, nesses casos, uma das formas de fazê-lo e tirando-o da ordem natural e colocando-o no início da oração. Veja como isso funciona, nos exemplos a seguir: "A mãe calou-o com um severo movimento da mão que segurava o chinelo." Comparado a: "Com um severo movimento da mão que segurava o chinelo, a mãe calou-o." Palavras certas Muita gente acaba se confundindo ao escrever, pois tenta utilizar um vocabulário que desconhece, recheando sua composição com palavras difíceis, tornando-a ininteligível. Um segredo simples para evitar isso é jamais utilizar num texto uma palavra que não tenha coragem de usar numa conversa informal. Além disso, jamais hesite em consultar o dicionário, onde estão as respostas definitivas para todas as suas dúvidas. Ao confundir "tráfego" com "tráfico", "conserto" com "concerto" ou "acento" com "assento" você pode prejudicar toda o entendimento de uma ideia. Evite sempre demonstrações de erudição, arcaísmos ou o uso de expressões e nomes científicos, a menos que sejam absolutamente necessários. Já frases ou expressões em língua estrangeira, neologismos e citações em latim, somente com autorização do bispo. Se estiver falando do "sol", diga "sol" mesmo, "estrela" ou qualquer outro termo adequado, fugindo à tentação de usar apelidos, como "astro-rei". Períodos longos É bem possível que você já tenha deixado de ler um livro simplesmente porque ele lhe parecia muito complicado. Há livros que, em verdade, parecem exigir uma "tradução" para serem entendidos. Isso acaba afastando o leitor e desestimulando a leitura. Se você se lembra de alguns livros assim, com certeza eles têm uma característica em comum: os períodos muito longos, tornando o entendimento difícil e provocando confusão. Fuja desse erro comum. A elegância e a simplicidade dos períodos curtos facilitam seu trabalho, pois são fáceis de serem compostos, escritos, pontuados e entendidos. Confirme isso pesquisando e comparando, numa biblioteca, livros diferentes, observando este detalhe com atenção, tirando suas próprias conclusões. Quando escrever, fique atento para fugir à tentação de usar advérbios e conjunções. Revise seus textos, retirando todos os "ora, logo, entretanto, contudo, efetivamente, por outro lado, de fato, certamente, assim, pois" e outros semelhantes. Personificação Ao descrever a natureza, procure dar vida às coisas, personificando-as. Isso acrescenta vigor e vivacidade a sua descrição. Exemplo: "A noite chorava o lamento dos desesperados. A terra se encolhia de medo e as árvores emudeciam no pomar." Pessoas falando ao mesmo tempo Para dar a impressão de várias pessoas falando ao mesmo tempo, empregue uma sequencia de frases acumuladas. Exemplo: "Quando tudo começou, ninguém mais se entendia e todos falavam ao mesmo tempo: Alguém ponha um fim nisso. É o fim do mundo. Quem poderá nos ajudar? Onde estão as velas bentas? Onde está meu rosário? Alguém viu a minha bíblia?" Pleonasmos Este é um problema muito sério, porque decorre de um vício de linguagem muito comum. Seu uso, além de tirar toda a beleza de um texto, prejudica a concisão e tem sua origem num vocabulário pobre e pouco exercitado. O melhor remédio para curar-se deles é a leitura e a revisão atenta e constante de tudo que escrever, automatizando o sentido das palavras. Eliminar adjetivos e advérbios desnecessários é também uma boa medida. Os exemplos são muitos. Quer alguns: "subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro, sair para fora, deferimento favorável, ver com os olhos, comer com a boca, dividir em duas metades, um duo de dois, um par de dois, a mim me parece, a ele nada lhe direi" e muitos outros. Quer se divertir? Reúna-se com seus amigos de vestibular e organizem uma lista de pleonasmos. Depois, para encerrar, criem alternativas para corrigi-los. Pontuação Este é um ingrediente importante em qualquer composição, pois seu mau uso pode comprometer o sentido. Há muitos exemplos disso, mas este é um dos mais eloquentes. No período a seguir, a posição da vírgula pode determinar o destino do prisioneiro: "Matem o prisioneiro, não tenham piedade" significa a morte. "Matem o prisioneiro não, tenham piedade" significa a vida. Numa redação, principalmente no vestibular, tenha em mente que, para ser elegante, conciso, claro e objetivo você só precisa conhecer mais profundamente a utilização da vírgula. Ponto final, pontos de exclamação e de interrogação, reticências, travessão e outros são de uso automático. Alguns deles podem e devem mesmo ser evitados, pois nada acrescentam ao desenvolvimento da composição, como o ponto de exclamação e as reticências. Este é um assunto que você pode estudar mais detalhadamente e consultar sempre que necessário para tirar suas dúvidas no Apêndice deste livro, à página 192. Apenas para adiantar, podemos dizer o seguinte a respeito dos principais sinais de pontuação: Vírgula — sinal de pontuação que marca uma pausa de curta duração ou separa termos de uma oração ou orações de um período. A ordem normal dos termos numa frase é sujeito, verbo, complementos. Essa ordem é chamada ordem natural ou ordem direta. Quando a frase é escrita em ordem direta, não separamos seus termos imediatos e por isso pode haver vírgula entre o sujeito e o verbo, nem entre o verbo e complemento. Esta só é usada quando usamos a ordem indireta, o que ocorre basicamente em dois casos: ao intercalarmos uma palavra ou expressão entre os termos imediatos, quebrando a sequencia natural da frase ou quando algum termo, principalmente o complemento, surgir deslocado de seu lugar natural na frase. Ponto-e-Vírgula — marca uma pausa maior que a vírgula, sendo utilizado para separar orações coordenadas que já apresentem vírgula em seu interior ou que tenham certa extensão. Nunca pode ser usado dentro de uma oração, pois serve justamente para separar uma oração de outra. Dois-Pontos — usa-se quando se vai iniciar uma sequencia que explica, identifica, discrimina ou desenvolve uma ideia anterior ou quando se quer dar início a uma fala ou citação. Aspas — utilizadas para isolar citação textual colhida de outrem, palavras ou expressões que não pertençam à língua culta, como gírias, estrangeirismos e neologismos. Travessão — serve principalmente para indicar que alguém fala de viva voz, no discurso direto e é usado em textos narrativos em que os personagens dialogam. Pode ser usado para substituir a vírgula dupla quando se quer dar ênfase ao termo intercalado. Reticências — marcam uma interrupção da sequencia lógica do enunciado, deixando ao leitor a responsabilidade de complementar o pensamento suspenso. Não devem ser usadas nas dissertações objetivas, que exige clareza e objetividade na exposição. Pormenores A representação de um texto que considero das melhores ainda é o de uma construção. Você tem que ter um alicerce sólido, boa argamassa unido os tijolos e uma cobertura condizente, para que o conjunto seja perfeito e útil. Num texto, tudo o que não for importante e indispensável deve ser evitado. O detalhamento de uma situação ou de uma descrição apenas servirá para alongar a composição e pouco reflexo terá no resultado final. Para exemplificar isso, nada melhor que fazer um exercício de memória agora e lembrar-se daquele amigo ou daquela amiga que, quando conta alguma coisa, retorna no tempo, no princípio de tudo e vai narrando todos os detalhes, até chegar ao fato em si. Além disso, você deve conhecer alguém que seja tido como um "desmancha-rodinhas", pois quando entra na conversa, todos se afastam, porque sabem que sua paciência será testada ao limite. Preocupação com a forma Uma das maiores fontes de bloqueio para quem escreve é, sem dúvida, a preocupação com a forma que, muitas vezes, acaba comprometendo todo o resultado do trabalho, pois limita o pensamento e prejudica o desenvolvimento das ideias. Ao escrever, concentre-se inicialmente em expor seu pensamento da forma mais clara, simples, concisa e elegante. Depois de pronto o texto, dê o acabamento, atendo-se aos aspectos formais, como pontuação, ortografia, regência, concordância e outros, indo ao dicionário e à gramática tantas vezes quantas forem necessárias. Com a prática, verá que os aspectos formais são automaticamente incorporados e a cada vez você precisa consultar menos a sua gramática e o seu dicionário. Projeto de Redação Faça um projeto de redação, criando uma sequencia, como no seguinte exemplo de uma descrição, em que cada uma das partes sugeridas ocupará um parágrafo. Descrição da natureza Introdução de uma personagem Relação da personagem com a natureza Descrição da personagem Conclusão Que Esta palavrinha pequena e muito útil, quando corretamente utilizada, pode vir a ser um transtorno, comprometendo sua redação. Cuide-se, procurando substituir seu emprego por alternativas mais elegantes e significativas. Vejamos alguns exemplos disso: Orações adjetivas. Ao invés de "uma roupa que estava cheia de buracos", use "uma roupa cheia de buracos." Repetições. Em lugar de "a mulher que chegou e que trouxe a novidade", use "a mulher que chegou e trouxe a novidade." Verbos. Use "gritou ser urgente" em lugar de "gritou que era urgente." Rapidez Para dar rapidez a uma descrição, utilize verbos sem repetir o sujeito e em sequencia. Exemplo: "E a hora das assombrações. Vêm, correm, atravessam o rio, batem as porteiras, assobiam nos telhados, estalam a madeira seca das paredes e arrancam orações apressadas de cabeças cobertas na escuridão." Esta mesma técnica pode ser usada para transmitir a ideia de variedade de ações ou multiplicidade. Exemplo: "Ouvia-se todo tipo de barulho, o tropel dos cascos que arrancavam fagulhas das pedras, os urros longos dos lobisomens, o coro de gritos dos sacis, o ranger das paredes, o assobiar das frestas..." Sequência de fatos A repetição de conjunções, em frases curtas e coordenadas, pode ser usada para transmitir uma noção de uma sequencia de fatos rápidos. Exemplo: "E gritam, e uivam, e arrastam correntes, e quebram galhos, e pisam folhas secas..." Você pode usar também os pronomes "um", "outro", "algum", "nenhum" para estabelecer uma ordem ou uma sequência. Exemplo: "Um rezava o Pai Nosso, outro puxava uma ladainha e alguns até desencavavam velhas orações contra encosto. Nenhum, porém, deixava de se apegar ao seu santo como última e única proteção." Síndrome geográfico-atmosférica Há textos em que as condições climáticas e geográficas recebem um grande destaque, um destaque tão grande que ocupam todo o espaço, não deixando muito para o desenvolvimento do assunto. É mais um componente do "enchimento de linguiça" que deve ser evitado. "Era manhã. O orvalho primaveril ainda umedecia as graciosas pétalas das flores, rebrilhando aos primeiros raios do som nascente. Pássaros cantavam nas árvores frondosas e, ao longe, nas colinas pontiagudas, graciosas nuvens bailavam, saudando a chegada de um novo dia." Tudo isso poderia ser resumido em algo mais ou menos parecido com "Amanhecia", que é o que realmente interessa. Sinonímia Com certeza vai acontecer de, num determinado momento de sua composição, você necessitar repetir uma palavra. Faça-o com naturalidade, sem tentar buscar sinônimos e sem violentar o pensamento que tenta transmitir. Se um sinônimo for adequado, use-o sem receio, mas não faça disso uma preocupação. Transições Transições são passagens de ligação — frases ou locuções, — que guiam o espírito do leitor de um pensamento ou de um desenvolvimento a outro, dando nexo à composição. Quando os pensamentos têm uma ligação necessária, são fáceis as transições, porque os primeiros são fontes dos segundos e este o desenvolvimento daqueles. Mas, numa longa composição, são mais difíceis, porquanto as relações entre as ideias são mais longínquas e abrem-se intervalos na ordem dos pensamentos. Isto, por si só, é uma recomendação para que se evite redações longas. Quando estas relações se tornam de tal modo remotas que há nelas incoerência e disparate, nada poderá ligar tais ideias. Quaisquer transições, são, neste caso, esquisitas e ridículas. Por isso, algumas regras devem ser seguidas: 1- Não substituir as transições, no encadeamento dos parágrafos, por divisões ou subdivisões como 1, 2, 3, A, B, C ou a), b), c). 2 - Não iniciar os parágrafos e os períodos pela mesma palavra, expressão, locução ou conjunção, a menos que isso tenha um bem planejado objetivo. 3 - Não antecipar, na transição, o que vai ser dito à frente ou o que se pretende fazer ou aonde se quer chegar. 4 - Evitar marcar a transição ou o novo parágrafo com expressões ou palavras sem necessidade, como: Ainda mais... Não só... Mas também... Mas... Com efeito... Entretanto... Na verdade... Falemos agora... Continuai a ouvir-me... e outras. À medida que se acompanha a evolução das ideias numa composição, é importante que esse progresso seja marcado visualmente e este é o objetivo do uso dos parágrafos ou das alíneas. Aliás, a palavra alínea é derivada do latim a + línea, que significa passe a outra linha. Cada alínea ou parágrafo encerra um pensamento que pode ser expresso por uma oração, por um período ou por muitas orações e por vários períodos. Emprega, portanto, o parágrafo cada vez que se passa de uma ideia importante para outra. Isso ocorre notadamente no corpo ou no desenvolvimento da redação, uma vez que a introdução e a conclusão, por não encerrarem ideias muito distantes e por serem de pequena extensão, não exigem nenhuma alínea. 10 Regras Simples Para Uma Boa Redação O trabalho a seguir foi elaborado por D. Roberts, um escritor americano e é muito útil para compararmos quais são as preocupações de um americano ao escrever, em relação às nossas e fazem parte de seu seminário "10 REGRAS PARA UMA BOA REDAÇÃO". Segundo ele, uma boa redação depende de um entendimento sólido de gramáticas e das regras para composição que são as seguintes. 1. Prefira a descrição simples à elegante: — Ela era bochechuda, com mãos pequenas e pálidas. — Ela era como um anjo barroco, com mãos diminutas e incolores. 2. Prefira a palavra familiar ao exótico: — Ele segurou o frasco de vinho negligentemente. — Ele segurou a ampola negligentemente. 3. Prefira um estilo de escrita direto ao estilo romântico: — O beijo dele era terno. — Os lábios dele, fazendo beicinho, roçaram com suavidade a boca da jovem. Observação: A menos que você esteja escrevendo um romance, use descrições curtas. 4. Prefira substantivos e verbos a adjetivos e advérbios: — Ao pendurar o quadro acima da escrivaninha, ela pensa em Walter. — Enquanto pendura a pintura pitoresca no alto, acima da escrivaninha vermelha envernizada, ela sente seu coração transbordar apaixonado, pensando em Walter. 5. Use substantivos sem adjetivação e verbos de ação: — Era um dia de verão, mas debaixo do guarda-chuva Jonathan Adams podia se resguardar do calor. — Aquele agosto estava particularmente quente, mas debaixo do guarda-chuva listado de azul e branco que cobria Jonathan Adams, o calor se tornou menos intolerável. 6. Nunca use uma palavra longa quando um pequeno fará como bem: — "Era uma missiva para mim, Watson". — "Era uma carta para mim, Watson". 7. Busque a originalidade na metáfora simples: — Ele era duro como um ano na prisão. — O fim era liso como madeira flutuante. 8. Prefira o período simples ao período composto: — A produção de comida do mundo pode ser aumentada com o uso de substâncias químicas comuns. — A forma de aumentar a produção de comida do mundo, nas mesmas áreas medida em acres utilizadas atualmente, é com a aplicação de substâncias químicas relativamente baratas, mas que podem ser maciçamente produzidas nas fábricas. 9. Divida um período em orações menores. — O Presidente chamou o conselheiro dele. Discutiram as opções para a crise estrangeira. Eram todas difíceis e arriscadas. — O Presidente chamou o conselheiro dele para discutir as opções que tinham para solucionar a crise estrangeira, mas todas elas eram muito difíceis e arriscadas. 10. Use a voz ativa. — O Congresso fixou os limites orçamentários. — Os limites orçamentários foram fixados pelo Congresso. Como complemento, leia no Apêndice, à página 294, sobre Vícios de Linguagem. APÊNDICE ERROS MAIS COMUNS Erros gramaticais e ortográficos devem, por princípio, ser evitados. Alguns, no entanto, como ocorrem com maior frequência, merecem atenção redobrada. Veja os mais comuns e use esta relação como um roteiro para fugir deles. "Aluga-se" casas. O verbo concorda com o sujeito: Alugam-se casas. / Fazem-se consertos. / É assim que se evitam acidentes. / Compram-se terrenos. / Procuram-se empregados. "Ao meu ver". Não existe artigo nessas expressões: A meu ver, a seu ver, a nosso ver. "Causou-me" estranheza as palavras. Use o certo: Causaram-me estranheza as palavras. Cuidado, pois é comum o erro de concordância quando o verbo está antes do sujeito. Veja outro exemplo: Foram iniciadas esta noite as obras (e não "foi iniciado" esta noite as obras). "Cerca de 18" pessoas o saudaram. Cerca de indica arredondamento e não pode aparecer com números exatos: Cerca de 20 pessoas o saudaram. "Dado" os índices das pesquisas... A concordância é normal: Dados os índices das pesquisas... / Dado o resultado... / Dadas as suas ideias... "Entrar dentro". O certo: entrar em. Veja outras redundâncias: Sair fora ou para fora, elo de ligação, monopólio exclusivo, já não há mais, ganhar grátis, viúva do falecido. "Existe" muitas esperanças. Existir, bastar, faltar, restar e sobrar admitem normalmente o plural: Existem muitas esperanças. / Bastariam dois dias. / Faltavam poucas peças. / Restaram alguns objetos. / Sobravam ideias. "Fazem" cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é impessoal: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15 dias. "Fica" você comigo. Fica é imperativo do pronome tu. Para a 3.ª pessoa, o certo é fique: Fique você comigo. / Venha pra Caixa você também. / Chegue aqui. "Há" dez anos "atrás". Há e atrás indicam passado na frase. Use apenas há dez anos ou dez anos atrás. "Haja visto" seu empenho... A expressão é haja vista e não varia: Haja vista seu empenho. / Haja vista seus esforços. / Haja vista suas críticas. "Houveram" muitos acidentes. Haver, como existir, também é invariável: Houve muitos acidentes. / Havia muitas pessoas. / Deve haver muitos casos iguais. "Inflingiu" o regulamento. Infringir é que significa transgredir: Infringiu o regulamento. Infligir (e não "inflingir") significa impor: Infligiu séria punição ao réu. "Mal cheiro", "mau-humorado". Mal se opõe a bem e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), malhumorado (bem-humorado). Igualmente: mau humor, malintencionado, mau jeito, mal-estar. "Obrigado", disse a moça. Obrigado concorda com a pessoa: "Obrigada", disse a moça. / Obrigado pela atenção. / Muito obrigados por tudo. "Porisso". Duas palavras, por isso, como de repente e a partir de. "Porque" você foi? Sempre que estiver clara ou implícita a palavra razão, use por que separado: Por que (razão) você foi? / Não sei por que (razão) ele faltou. / Explique por que razão você se atrasou. Porque é usado nas respostas: Ele se atrasou porque o trânsito estava congestionado. "Todos" amigos o elogiavam. No plural, todos exige os: Todos os amigos o elogiavam. / Era difícil apontar todas as contradições do texto. "Tratam-se" de. O verbo seguido de preposição não varia nesses casos: Trata-se dos melhores profissionais. / Precisa-se de empregados. / Apela-se para todos. / Conta-se com os amigos. "Venda à prazo". Não existe crase antes de palavra masculina, a menos que esteja subentendida a palavra moda: Salto à (moda de) Luís XV. Nos demais casos: A salvo, a bordo, a pé, a esmo, a cavalo, a caráter. A artista "deu à luz a" gêmeos. A expressão é dar à luz, apenas: A artista deu à luz quíntuplos. Também é errado dizer: Deu "a luz a" gêmeos. A corrida custa 5 "real". A moeda tem plural, e regular: A corrida custa 5 reais. A feira "inicia" amanhã. Alguma coisa se inicia, se inaugura: A feira inicia-se (inaugura-se) amanhã. A festa começa às 8 "hrs." As abreviaturas do sistema métrico decimal não têm plural nem ponto. Assim: 8 h, 2 km (e não "kms."), 5 m, 10 kg. À medida "em" que a epidemia se espalhava... O certo é: À medida que a epidemia se espalhava... Existe ainda na medida em que (tendo em vista que): É preciso cumprir as leis, na medida em que elas existem. A moça "que ele gosta". Como se gosta de, o certo é: A moça de que ele gosta. Igualmente: O dinheiro de que dispõe, o filme a que assistiu (e não que assistiu), a prova de que participou, o amigo a que se referiu, etc. A moça estava ali "há" muito tempo. Haver concorda com estava. Portanto: A moça estava ali havia (fazia) muito tempo. / Ele doara sangue ao filho havia (fazia) poucos meses. / Estava sem dormir havia (fazia) três meses. (O havia se impõe quando o verbo está no imperfeito e no mais-que-perfeito do indicativo.) A modelo "pousou" o dia todo. Modelo posa (de pose). Quem pousa é ave, avião, viajante, etc. Não confunda também iminente (prestes a acontecer) com eminente (ilustre). Nem tráfico (contrabando) com tráfego (trânsito). A promoção veio "de encontro aos" seus desejos. Ao encontro de é que expressa uma situação favorável: A promoção veio ao encontro dos seus desejos. De encontro a significa condição contrária: A queda do nível dos salários foi de encontro às (foi contra) expectativas da categoria. A questão não tem nada "haver" com você. A questão, na verdade, não tem nada a ver ou nada que ver. Da mesma forma: Tem tudo a ver com você. A realidade das pessoas "podem" mudar. Cuidado: palavra próxima ao verbo não deve influir na concordância. Por isso: A realidade das pessoas pode mudar. / A troca de agressões entre os funcionários foi punida (e não "foram punidas"). A temperatura chegou a 0 "graus". Zero indica singular sempre: Zero grau, zero quilômetro, zero hora. A tese "onde"... Onde só pode ser usado para lugar: A casa onde ele mora. / Veja o jardim onde as crianças brincam. Nos demais casos, use em que: A tese em que ele defende essa ideia. / O livro em que... / A faixa em que ele canta... / Na entrevista em que... A última "seção" de cinema. Seção significa divisão, repartição, e sessão equivale a tempo de uma reunião, função: Seção Eleitoral, Seção de Esportes, seção de brinquedos; sessão de cinema, sessão de pancadas, sessão do Congresso. Acordos "políticos-partidários". Nos adjetivos compostos, só o último elemento varia: acordos político- partidários. Outros exemplos: Bandeiras verde-amarelas, medidas econômico-financeiras, partidos social-democratas. Andou por "todo" país. Todo o (ou a) é que significa inteiro: Andou por todo o país (pelo país inteiro). / Toda a tripulação (a tripulação inteira) foi demitida. Sem o, todo quer dizer cada, qualquer: Todo homem (cada homem) é mortal. / Toda nação (qualquer nação) tem inimigos. As pessoas "esperavam-o". Quando o verbo termina em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os e as tomam a forma no, na, nos e nas: As pessoas esperavam-no. / Dão-nos, convidam-na, põe-nos, impõem-nos. Atraso implicará "em" punição. Implicar é direto no sentido de acarretar, pressupor: Atraso implicará punição. / Promoção implica responsabilidade. Blusa "em" seda. Usa-se de, e não em, para definir o material de que alguma coisa é feita: Blusa de seda, casa de alvenaria, medalha de prata, estátua de madeira. Chamei-o e "o mesmo" não atendeu. Não se pode empregar o mesmo no lugar de pronome ou substantivo: Chamei-o e ele não atendeu. / Os funcionários públicos reuniram-se hoje: amanhã o país conhecerá a decisão dos servidores (e não "dos mesmos"). Chegou "a" duas horas e partirá daqui "há" cinco minutos. Há indica passado e equivale a faz, enquanto a exprime distância ou tempo futuro (não pode ser substituído por faz): Chegou há (faz) duas horas e partirá daqui a (tempo futuro) cinco minutos. / O atirador estava a (distância) pouco menos de 12 metros. / Ele partiu há (faz) pouco menos de dez dias. Chegou "em" São Paulo. Verbos de movimento exigem a, e não em: Chegou a São Paulo. / Vai amanhã ao cinema. / Levou os filhos ao circo. Comeu frango "ao invés de" peixe. Em vez de indica substituição: Comeu frango em vez de peixe. Ao invés de significa apenas ao contrário: Ao invés de entrar, saiu. Comprei "ele" para você. Eu, tu, ele, nós, vós e eles não podem ser objeto direto. Assim: Comprei-o para você. Também: Deixe-os sair, mandou-nos entrar, viu-a, mandoume. Comprou uma TV "a cores". Veja o correto: Comprou uma TV em cores (não se diz TV "a" preto e branco). Da mesma forma: Transmissão em cores, desenho em cores. Disse o que "quiz". Não existe z, mas apenas s, nas pessoas de querer e pôr: Quis, quisesse, quiseram, quiséssemos; pôs, pus, pusesse, puseram, puséssemos. É hora "dele" chegar. Não se deve fazer a contração da preposição com artigo ou pronome, nos casos seguidos de infinitivo: É hora de ele chegar. / Apesar de o amigo tê-lo convidado... / Depois de esses fatos terem ocorrido... Ela "mesmo" arrumou a sala. Mesmo, quanto equivale a próprio, é variável: Ela mesma (própria) arrumou a sala. / As vítimas mesmas recorreram à polícia. Ela era "meia" louca. Meio, advérbio, não varia: meio louca, meio esperta, meio amiga. Ele "intermedia" a negociação. Mediar e intermediar conjugam-se como odiar: Ele intermedeia (ou medeia) a negociação. Remediar, ansiar e incendiar também seguem essa norma: Remedeiam, que eles anseiem, incendeio. Ele foi um dos que "chegou" antes. Um dos que faz a concordância no plural: Ele foi um dos que chegaram antes (dos que chegaram antes, ele foi um). / Era um dos que sempre vibravam com a vitória. Eles "tem" razão. No plural, têm é assim, com acento. Tem é a forma do singular. O mesmo ocorre com vem e vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; ele põe, eles põem. Entre "eu" e você. Depois de preposição, usa-se mim ou ti: Entre mim e você. / Entre eles e ti. Espero que "viagem" hoje. Viagem, com g, é o substantivo: Minha viagem. A forma verbal é viajem (de viajar): Espero que viajem hoje. Evite também "comprimentar" alguém: de cumprimento (saudação), só pode resultar cumprimentar. Comprimento é extensão. Igualmente: Comprido (extenso) e cumprido (concretizado). Estávamos "em" quatro à mesa. O em não existe: Estávamos quatro à mesa. / Éramos seis. / Ficamos cinco na sala. Evite que a bomba "expluda". Explodir só tem as pessoas em que depois do d vêm e e i: Explode, explodiram, etc. Portanto, não escreva nem fale "exploda" ou "expluda", substituindo essas formas por rebente, por exemplo. Precaver-se também não se conjuga em todas as pessoas. Assim, não existem as formas "precavejo", "precavês", "precavém", "precavenho", "precavenha", "precaveja", etc. Favoreceu "ao" time da casa. Favorecer, nesse sentido, rejeita a: Favoreceu o time da casa. / A decisão favoreceu os jogadores. Ficou "sobre" a mira do assaltante. Sob é que significa debaixo de: Ficou sob a mira do assaltante. / Escondeu-se sob a cama. Sobre equivale a em cima de ou a respeito de: Estava sobre o telhado. / Falou sobre a inflação. E lembre-se: O animal ou o piano têm cauda e o doce, calda. Da mesma forma, alguém traz alguma coisa e alguém vai para trás. Ficou contente "por causa que" ninguém se feriu. Embora popular, a locução não existe. Use porque: Ficou contente porque ninguém se feriu. Foi "taxado" de ladrão. Tachar é que significa acusar: Foi tachado de ladrão. / Foi tachado de leviano. Governo "reavê" confiança. Equivalente: Governo recupera confiança. Reaver segue haver, mas apenas nos casos em que este tem a letra v: Reavemos, reouve, reaverá, reouvesse. Por isso, não existem "reavejo", "reavê", etc. Já "é" 8 horas. Horas e as demais palavras que definem tempo variam: Já são 8 horas. / Já é (e não "são") 1 hora, já é meio-dia, já é meia-noite. Já "foi comunicado" da decisão. Uma decisão é comunicada, mas ninguém "é comunicado" de alguma coisa. Assim: Já foi informado (cientificado, avisado) da decisão. Outra forma errada: A diretoria "comunicou" os empregados da decisão. Opções corretas: A diretoria comunicou a decisão aos empregados. / A decisão foi comunicada aos empregados. Lute pelo "meio-ambiente". Meio ambiente não tem hífen, nem hora extra, ponto de vista, mala direta, pronta entrega, etc. O sinal aparece, porém, em mão-de-obra, matéria-prima, infra-estrutura, primeira-dama, vale-refeição, meio-de-campo, etc. Ministro nega que "é" negligente. Negar que introduz subjuntivo, assim como embora e talvez: Ministro nega que seja negligente. / O jogador negou que tivesse cometido a falta. / Ele talvez o convide para a festa. / Embora tente negar, vai deixar a empresa. Não "se o" diz. É errado juntar o se com os pronomes o, a, os e as. Assim, nunca use: Fazendo-se-os, não se o diz (não se diz isso), vê-se-a, etc. Não há regra sem "excessão". O certo é exceção. Veja outras grafias erradas e, entre parênteses, a forma correta: "paralizar" (paralisar), "beneficiente" (beneficente), "xuxu" (chuchu), "previlégio" (privilégio), "vultuoso" (vultoso), "cincoenta" (cinqüenta), "zuar" (zoar), "frustado" (frustrado), "calcáreo" (calcário), "advinhar" (adivinhar), "benvindo" (bem-vindo), "ascenção" (ascensão), "pixar" (pichar), "impecilho" (empecilho), "envólucro" (invólucro). Não queria que "receiassem" a sua companhia. O i não existe: Não queria que receassem a sua companhia. Da mesma forma: passeemos, enfearam, ceaste, receeis (só existe i quando o acento cai no e que precede a terminação ear: receiem, passeias, enfeiam). Não sabiam "aonde" ele estava. O certo: Não sabiam onde ele estava. Aonde se usa com verbos de movimento, apenas: Não sei aonde ele quer chegar. / Aonde vamos? Não viu "qualquer" risco. É nenhum, e não "qualquer", que se emprega depois de negativas: Não viu nenhum risco. / Ninguém lhe fez nenhum reparo. / Nunca promoveu nenhuma confusão. Ninguém se "adequa". Não existem as formas "adequa", "adeque", etc., mas apenas aquelas em que o acento cai no a ou o: adequaram, adequou, adequasse, etc. Nunca "lhe" vi. Lhe substitui a ele, a eles, a você e a vocês e por isso não pode ser usado com objeto direto: Nunca o vi. / Não o convidei. / A mulher o deixou. / Ela o ama. O fato passou "desapercebido". Na verdade, o fato passou despercebido, não foi notado. Desapercebido significa desprevenido. O governo "interviu". Intervir conjuga-se como vir. Assim: O governo interveio. Da mesma forma: intervinha, intervim, interviemos, intervieram. Outros verbos derivados: entretinha, mantivesse, reteve, pressupusesse, predisse, conviesse, perfizera, entrevimos, condisser, etc. O homem "possue" muitos bens. O certo: O homem possui muitos bens. Verbos em uir só têm a terminação ui: Inclui, atribui, polui. Verbos em uar é que admitem ue: Continue, recue, atue, atenue. O ingresso é "gratuíto". A pronúncia correta é gratúito, assim como circúito, intúito e fortúito (o acento não existe e só indica a letra tônica). Da mesma forma: flúido, condôr, recórde, aváro, ibéro, pólipo. O pai "sequer" foi avisado. Sequer deve ser usado com negativa: O pai nem sequer foi avisado. / Não disse sequer o que pretendia. / Partiu sem sequer nos avisar. O peixe tem muito "espinho". Peixe tem espinha. Veja outras confusões desse tipo: O "fuzil" (fusível) queimou. / Casa "germinada" (geminada), "ciclo" (círculo) vicioso, "cabeçario" (cabeçalho). O processo deu entrada "junto ao" STF. Processo dá entrada no STF. Igualmente: O jogador foi contratado do (e não "junto ao") Guarani. / Cresceu muito o prestígio do jornal entre os (e não "junto aos") leitores. / Era grande a sua dívida com o (e não "junto ao") banco. / A reclamação foi apresentada ao (e não "junto ao") PROCON. O resultado do jogo, não o abateu. Não se separa com vírgula o sujeito do predicado. Assim: O resultado do jogo não o abateu. Outro erro: O prefeito prometeu, novas denúncias. Não existe o sinal entre o predicado e o complemento: O prefeito prometeu novas denúncias. O time empatou "em" 2 a 2. A preposição é por: O time empatou por 2 a 2. Repare que ele ganha por e perde por. Da mesma forma: empate por. Para "mim" fazer. Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim: Para eu fazer, para eu dizer, para eu trazer. Preferia ir "do que" ficar. Prefere-se sempre uma coisa a outra: Preferia ir a ficar. É preferível segue a mesma norma: É preferível lutar a morrer sem glória. Quebrou "o" óculos. Concordância no plural: os óculos, meus óculos. Da mesma forma: Meus parabéns, meus pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias. Queria namorar "com" a colega. O com não existe: Queria namorar a colega. Se eu "ver" você por aí... O certo é: Se eu vir, revir, previr. Da mesma forma: Se eu vier (de vir), convier; se eu tiver (de ter), mantiver; se ele puser (de pôr), impuser; se ele fizer (de fazer), desfizer; se nós dissermos (de dizer), predissermos. Sentou "na" mesa para comer. Sentar-se (ou sentar) em é sentar-se em cima de. Veja o certo: Sentou-se à mesa para comer. / Sentou ao piano, à máquina, ao computador. Soube que os homens "feriram-se". O que atrai o pronome: Soube que os homens se feriram. / A festa que se realizou... O mesmo ocorre com as negativas, as conjunções subordinativas e os advérbios: Não lhe diga nada. / Nenhum dos presentes se pronunciou. / Quando se falava no assunto... / Como as pessoas lhe haviam dito... / Aqui se faz, aqui se paga. / Depois o procuro. Tinha "chego" atrasado. "Chego" não existe. O certo: Tinha chegado atrasado. Todos somos "cidadões". O plural de cidadão é cidadãos. Veja outros: caracteres (de caráter), juniores, seniores, escrivães, tabeliães, gângsteres. Tons "pastéis" predominam. Nome de cor, quando expresso por substantivo, não varia: Tons pastel, blusas rosa, gravatas cinza, camisas creme. No caso de adjetivo, o plural é o normal: Ternos azuis, canetas pretas, fitas amarelas. Vai assistir "o" jogo hoje. Assistir como presenciar exige a: Vai assistir ao jogo, à missa, à sessão. Outros verbos com a: A medida não agradou (desagradou) à população. / Eles obedeceram (desobedeceram) aos avisos. / Aspirava ao cargo de diretor. / Pagou ao amigo. / Respondeu à carta. / Sucedeu ao pai. / Visava aos estudantes. Vendeu "uma" grama de ouro. Grama, peso, é palavra masculina: um grama de ouro, vitamina C de dois gramas. Femininas, por exemplo, são a agravante, a atenuante, a alface, a cal, etc. Venha "por" a roupa. Pôr, verbo, tem acento diferencial: Venha pôr a roupa. O mesmo ocorre com pôde (passado): Não pôde vir. Vive "às custas" do pai. O certo: Vive à custa do pai. Use também em via de, e não "em vias de": Espécie em via de extinção. / Trabalho em via de conclusão. Vocês "fariam-lhe" um favor? Não se usa pronome átono (me, te, se, lhe, nos, vos, lhes) depois de futuro do presente, futuro do pretérito (antigo condicional) ou particípio. Assim: Vocês lhe fariam (ou far-lhe-iam) um favor? / Ele se imporá pelos conhecimentos (e nunca "imporá-se"). / Os amigos nos darão (e não "darão-nos") um presente. / Tendo-me formado (e nunca tendo "formadome"). Vou "consigo". Consigo só tem valor reflexivo (pensou consigo mesmo) e não pode substituir com você, com o senhor. Portanto: Vou com você, vou com o senhor. Igualmente: Isto é para o senhor (e não "para si"). Vou "emprestar" dele. Emprestar é ceder, e não tomar por empréstimo: Vou pegar o livro emprestado. Ou: Vou emprestar o livro (ceder) ao meu irmão. Repare nesta concordância: Pediu emprestadas duas malas. Vou sair "essa" noite. É este que designa o tempo no qual se está ou objeto próximo: Esta noite, esta semana (a semana em que se está), este dia, este jornal (o jornal que estou lendo), este século (o século 21). Observação: Material disponível na Internet, sem indicação do autor. Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Lisboa, 14, 15 e 16 de dezembro de 1990 Considerando que o projeto de texto de ortografia unificada de língua portuguesa aprovado em Lisboa, em 12 de outubro de 1990, pela Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Letras e delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com a adesão da delegação de observadores da Galiza, constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional, Considerando que o texto do acordo que ora se aprova resulta de um aprofundado debate nos Países Signatários, a República Popular de Angola, a República Federativa do Brasil, a República de Cabo Verde, a República da Guiné-Bissau, a República de Moçambique, a República Portuguesa e a República Democrática de São Tomé e Príncipe, Acordam no seguinte: Artigo 1º – É aprovado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que consta como anexo I ao presente instrumento de aprovação, sob a designação de Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) e vai acompanhado da respectiva nota explicativa, que consta como anexo II ao mesmo instrumento de aprovação, sob a designação de Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990). Artigo 2º – Os Estados signatários tomarão, através das instituições e órgãos competentes, as providências necessárias com vista à elaboração, até 1º de janeiro de 1993, de um vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa, tão completo quanto desejável e tão normalizador quanto possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas. Artigo 3º – O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrará em vigor em 1º de Janeiro de 1994, depois de depositados os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo da República Portuguesa. Artigo 4º – Os Estados signatários adotarão as medidas que entenderem adequadas ao efetivo respeito da data da entrada em vigor estabelecida no artigo 3º. Em fé do que, os abaixo assinados, devidamente credenciados para o efeito, aprovam o presente acordo, redigido em língua portuguesa, em sete exemplares, todos igualmente autênticos. Assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990. PELA REPÚBLICA POPULAR DE ANGOLA, José Mateus de Adelino Peixoto, Secretário de Estado da Cultura. PELA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, Carlos Alberto Gomes Chiarelli, Ministro da Educação. PELA REPÚBLICA DE CABO VERDE, David Hopffer Almada, Ministro da Informação, Cultura e Desportos. PELA REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU, Alexandre Brito Ribeiro Furtado, Secretário de Estado da Cultura. PELA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Luís Bernardo Honwana, Ministro da Cultura. PELA REPÚBLICA PORTUGUESA, Pedro Miguel de Santana Lopes, Secretário de Estado da Cultura. PELA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE, Lígia Silva Graça do Espírito Santo Costa, Ministra da Educação e Cultura. Anexo I Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) Base I Do alfabeto e dos nomes próprios estrangeiros e seus derivados 1º) O alfabeto da língua portuguesa é formado por vinte e seis letras, cada uma delas com uma forma minúscula e outra maiúscula: a A (á) j J (jota) s S (esse) b B (bê) k K (capa ou cá) t T (tê) c C (cê) l L (ele) u U (u) d D (dê) m M (eme) v V (vê) e E (é) n N (ene) w W (dáblio) f F (efe) o O (ó) x X (xis) g G (gê ou guê) p P (pê) y Y (ípsilon) h H (agá) q Q (quê) z Z (zê) i I (i) r R (erre) Obs.: 1. Além destas letras, usam-se o ç (cê cedilhado) e os seguintes dígrafos: rr (erre duplo), ss (esse duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), gu (guê-u) e qu (quê-u). 2. Os nomes das letras acima sugeridos não excluem outras formas de as designar. 2º) As letras k, w e y usam-se nos seguintes casos especiais: a) Em antropônimos/antropônimos originários de outras línguas e seus derivados: Franklin, frankliniano; Kant, kantismo; Darwin, darwinismo; Wagner, wagneriano; Byron, byroniano; Taylor, taylorista; b) Em topônimos/topônimos originários de outras línguas e seus derivados: Kwanza, Kuwait, kuwaitiano; Malawi, malawiano; c) Em siglas, símbolos e mesmo em palavras adotadas como unidades de medida de curso internacional: TWA, KLM; K- potássio (de kalium), W- oeste (West); kgquilograma, km- quilometro, kW- kilowatt, yd- jarda (yard); Watt. 3º) Em congruência com o número anterior, mantêm-se nos vocábulos derivados eruditamente de nomes próprios estrangeiros quaisquer combinações gráficas ou sinais diacríticos não peculiares à nossa escrita que figurem nesses nomes: comtista, de Comte; garrettiano, de Garrett; jeffersonia/jeffersonia, de Jefferson; mülleriano, de Müller; shakesperiano, de Shakespeare. Os vocábulos autorizados registrarão grafias alternativas admissíveis, em casos de divulgação de certas palavras de tal tipo de origem (a exemplo de fúcsia/fúchsia e derivados, bungavília/ bunganvílea/ bougainvíllea). 4º) Os dígrafos finais de origem hebraica ch, ph e th podem conservar-se em formas onomásticas da tradição bíblica, como Baruch, Loth, Moloch, Ziph, ou então simplificar-se: Baruc, Lot, Moloc, Zif. Se qualquer um destes dígrafos, em formas do mesmo tipo, é invariavelmente mudo, elimina-se: José, Nazaré, em vez de Joseph, Nazareth; e se algum deles, por força do uso, permite adaptação, substitui-se, recebendo uma adição vocálica: Judite, em vez de Judith. 5º) As consoantes finais grafadas b, c, d, g e t mantêmse, quer sejam mudas, quer proferidas, nas formas onomásticas em que o uso as consagrou, nomeadamente antropônimos/antropônimos e topônimos/topônimos da tradição bíblica; Jacob, Job, Moab, Isaac; David, Gad; Gog, Magog; Bensabat, Josafat. Integram-se também nesta forma: Cid, em que o d é sempre pronunciado; Madrid e Valhadolid, em que o d ora é pronunciado, ora não; e Calecut ou Calicut, em que o t se encontra nas mesmas condições. Nada impede, entretanto, que dos antropônimos/antropônimos em apreço sejam usados sem a consoante final Jó, Davi e Jacó. 6º) Recomenda-se que os topônimos/topônimos de línguas estrangeiras se substituam, tanto quanto possível, por formas vernáculas, quando estas sejam antigas e ainda vivas em português ou quando entrem, ou possam entrar, no uso corrente. Exemplo: Anvers, substituído por Antuérpia; Cherbourg, por Cherburgo; Garonne, por Garona; Genève, por Genebra; Jutland, por Jutlândia; Milano, por Milão; München, por Muniche; Torino, por Turim; Zürich, por Zurique, etc. Base II Do h inicial e final 1º) O h inicial emprega-se: a) Por força da etimologia: haver, hélice, hera, hoje, hora, homem, humor. b) Em virtude da adoção convencional: hã?, hem?, hum!. 2º) O h inicial suprime-se: a) Quando, apesar da etimologia, a sua supressão está inteiramente consagrada pelo uso: erva, em vez de herva; e, portanto, ervaçal, ervanário, ervoso (em contraste com herbáceo, herbanário, herboso, formas de origem erudita); b) Quando, por via de composição, passa a interior e o elemento em que figura se aglutina ao precedente: biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, reabilitar, reaver. 3º) O h inicial mantém-se, no entanto, quando, numa palavra composta, pertence a um elemento que está ligado ao anterior por meio de hífen: anti-higiênico, contra-haste, pré-história, sobre-humano. 4º) O h final emprega-se em interjeições: ah! oh!. Base III Da homofonia de certos grafemas consonânticos Dada a homofonia existente entre certos grafemas consonânticos, torna-se necessário diferençar os seus empregos, que fundamentalmente se regulam pela história das palavras. É certo que a variedade das condições em que se fixam na escrita os grafemas consonânticos homófonos nem sempre permite fácil diferenciação dos casos em que se deve empregar uma letra e daqueles em que, diversamente, se deve empregar outra, ou outras, a representar o mesmo som. Nesta conformidade, importa notar, principalmente, os seguintes casos: 1º) Distinção gráfica entre ch e x: achar, archote, bucha, capacho, capucho, chamar, chave, Chico, chiste, chorar, colchão, colchete, endecha, estrebucha, facho, ficha, flecha, frincha, gancho, inchar, macho, mancha, murchar, nicho, pachorra, pecha, pechincha, penacho, rachar, sachar, tacho; ameixa, anexim, baixel, baixo, bexiga, bruxa, coaxar, coxia, debuxo, deixar, eixo, elixir, enxofre, faixa, feixe, madeixa, mexer, oxalá, praxe, puxar, rouxinol, vexar, xadrez, xarope, xenofobia, xerife, xícara. 2º) Distinção gráfica entre g, com valor de fricativa palatal, e j: adágio, alfageme, Álgebra, algema, algeroz, Algés, algibebe, algibeira, álgido, almarge, Alvorge, Argel, estrangeiro, falange, ferrugem, frigir, gelosia, gengiva, gergelim, geringonça. Gibraltar, ginete, ginja, girafa, gíria, herege, relógio, sege, Tânger, virgem; adjetivo, ajeitar, ajeru (nome de planta indiana e de uma espécie de papagaio), canjerê, canjica, enjeitar, granjear, hoje, intrujice, jecoral, jejum, jeira, jeito, Jeová, jenipapo, jequiri, jequitibá, Jeremias, Jericó, jerimum, Jerónimo, Jesus, jibóia, jiquipanga, jiquiró, jiquitaia, jirau, jiriti, jitirana, laranjeira, lojista, majestade, majestoso, manjerico, manjerona, mucujê, pajé, pegajento, rejeitar, sujeito, trejeito. 3º) Distinção gráfica entre as letras s, ss, c, ç e x, que representam sibilantes surdas: ânsia, ascensão, aspersão, cansar, conversão, esconso, farsa, ganso, imenso, mansão, mansarda, manso, pretensão, remanso, seara, seda, Seia, Sertã, Sernancelhe, serralheiro, Singapura, Sintra, sisa, tarso, terso, valsa; abadessa, acossar, amassar, arremessar, Asseiceira, asseio, atravessar, benesse, Cassilda, codesso (identicamente Codessal ou Codassal, Codesseda, Codessoso, etc.), crasso, devassar, dossel, egresso, endossar, escasso, fosso, gesso, molosso, mossa, obsessão, pêssego, possesso, remessa, sossegar, acém, acervo, alicerce, cebola, cereal, Cernache, cetim, Cinfães, Escócia, Macedo, obcecar, percevejo; açafate, açorda, açúcar, almaço, atenção, berço, Buçaco, caçanje, caçula, caraça, dançar, Eça, enguiço, Gonçalves, inserção, linguiça, maçada, Mação, maçar, Moçambique, Monção, muçulmano, murça, negaça, pança, peça, quiçaba, quiçaça, quiçama, quiçamba, Seiça (grafia que pretere as erróneas/errôneas Ceiça e Ceissa), Seiçal, Suíça, terço; auxílio, Maximiliano, Maximino, máximo, próximo, sintaxe. 4º) Distinção gráfica entre s de fim de sílaba (inicial ou interior) e x e z com idêntico valor fónico/fônico: adestrar, Calisto, escusar, esdrúxulo, esgotar, esplanada, esplêndido, espontâneo, espremer, esquisito, estender, Estremadura, Estremoz, inesgotável; extensão, explicar, extraordinário, inextricável, inexperto, sextante, têxtil; capazmente, infelizmente, velozmente. De acordo com esta distinção convém notar dois casos: a) Em final de sílaba que não seja final de palavra, o x = s muda para s sempre que está precedido de i ou u: justapor, justalinear, misto, sistino (cf. Capela Sistina), Sisto, em vez de juxtapor, juxtalinear, mixto, sixtina, Sixto. b) Só nos advérbios em -mente se admite z, com valor idêntico ao de s, em final de sílaba seguida de outra consoante (cf. capazmente, etc.); de contrário, o s toma sempre o lugar do z: Biscaia, e não Bizcaia. 5º) Distinção gráfica entre s final de palavra e x e z com idêntico valor fónico/fônico: aguarrás, aliás, anis, após, atrás, através, Avis, Brás, Dinis, Garcês, gás, Gerês, Inês, íris, Jesus, jus, lápis, Luís, país, português, Queirós, quis, retrós, revés, Tomás, Valdês; cálix, Félix, Fênix, flux; assaz, arroz, avestruz, dez, diz, fez (substantivo e forma do verbo fazer), fi z, Forjaz, Galaaz, giz, jaez, matiz, petiz, Queluz, Romariz, [Arcos de] Valdevez, Vaz. A propósito, deve observar-se que é inadmissível z final equivalente a s em palavra não oxítona: Cádis, e não Cádiz. 6º) Distinção gráfica entre as letras interiores s, x e z, que representam sibilantes sonoras: aceso, analisar, anestesia, artesão, asa, asilo, Baltasar, besouro, besuntar, blusa, brasa, brasão, Brasil, brisa, [Marco de] Canaveses, coliseu, defesa, duquesa, Elisa, empresa, Ermesinde, Esposende, frenesi ou frenesim, frisar, guisa, improviso, jusante, liso, lousa, Lousã, Luso (nome de lugar, homónimo/homônimo de Luso, nome mitológico), Matosinhos, Meneses, narciso, Nisa, obséquio, ousar, pesquisa, portuguesa, presa, raso, represa, Resende, sacerdotisa, Sesimbra, Sousa, surpresa, tisana, transe, trânsito, vaso; exalar, exemplo, exibir, exorbitar, exuberante, inexato, inexorável; abalizado, alfazema, Arcozelo, autorizar, azar, azedo, azo, azorrague, baliza, bazar, beleza, buzina, búzio, comezinho, deslizar, deslize, Ezequiel, fuzileiro, Galiza, guizo, helenizar, lambuzar, lezíria, Mouzinho, proeza, sazão, urze, vazar, Veneza, Vizela, Vouzela. Base IV Das sequências consonânticas 1º) O c, com valor de oclusiva velar, das sequências interiores cc (segundo c com valor de sibilante), cç e ct, e o p das sequências interiores pc (c com valor de sibilante), pç e pt, ora se conservam, ora se eliminam. Assim: a) Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua: compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto, pictural; adepto, apto, díptico, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto. b) Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua: ação, acionar, afetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo, direção, diretor, exato, objeção; adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo. c) Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e carateres, dicção e dição; facto e fato, sector e setor, ceptro e cetro, concepção e conceção, corrupto e corruto, recepção e receção. d) Quando, nas sequências interiores mpc, mpç e mpt se eliminar o p de acordo com o determinado nos parágrafos precedentes, o m passa a n, escrevendo-se, respetivamente, nc, nç e nt: assumpcionista e assuncionista; assumpção e assunção; assumptível e assuntível; peremptório e perentório, sumptuoso e suntuoso, sumptuosidade e suntuosidade. 2º) Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: o b da sequência bd, em súbdito; o b da sequência bt, em subtil e seus derivados; o g da sequência gd, em amígdala, amigdalácea, amigdalar, amigdalato, amigdalite, amigdalóide, amigdalopatia, amigdalotomia; o m da sequência mn, em amnistia, amnistiar, indemne, indemnidade, indemnizar, omnímodo, omnipotente, omnisciente, etc.; o t da sequência tm, em aritmética e aritmético. Base V Das vogais átonas 1º) O emprego do e e do i, assim como o do o e do u, em sílaba átona, regula-se fundamentalmente pela etimologia e por particularidades da história das palavras. Assim, se estabelecem variadíssimas grafias: a) Com e e i: ameaça, amealhar, antecipar, arrepiar, balnear, boreal, campeão, cardeal (prelado, ave, planta; diferente de cardial = “relativo à cárdia”), Ceará, côdea, enseada, enteado, Floreal, janeanes, lêndea, Leonardo, Leonel, Leonor, Leopoldo, Leote, linear, meão, melhor, nomear, peanha, quase (em vez de quási), real, semear, semelhante, várzea; ameixial, Ameixieira, amial, amieiro, arrieiro, artilharia, capitânia, cordial (adjetivo e substantivo), corriola, crânio, criar, diante, diminuir, Dinis, ferregial, Filinto, Filipe (e identicamente Filipa, Filipinas, etc.), freixial, giesta, Idanha, igual, imiscuir-se, inigualável, lampião, limiar, Lumiar, lumieiro, pátio, pior, tigela, tijolo, Vimieiro, Vimioso. b) Com o e u: abolir, Alpendorada, assolar, borboleta, cobiça, consoada, consoar costume, díscolo, êmbolo, engolir, epístola, esbafonir-se, esboroar, farândola, femoral, Freixoeira, girândola, goela, jocoso, mágoa, névoa, nódoa, óbolo, Páscoa, Pascoal, Pascoela, polir, Rodolfo, távoa, tavoada, távola, tômbola, veio (substantivo e forma do verbo vir); açular, água, aluvião, arcuense, assumir, bulir, camândulas, curtir, curtume, embutir, entupir, fémur/fêmur, fistula, glândula, ínsua, jucundo, légua, Luanda, lucubração, lugar, mangual, Manuel, míngua, Nicarágua, pontual, régua, tábua, tabuada, tabuleta, trégua, vitualha. 2º) Sendo muito variadas as condições etimológicas e histórico-fonéticas em que se fixam graficamente e e i ou o e u em sílaba átona, é evidente que só a consulta dos vocabulários ou dicionários pode indicar, muitas vezes, se deve empregar-se e ou i, se o ou u. Há, todavia, alguns casos em que o uso dessas vogais pode ser facilmente sistematizado. Convém fixar os seguintes: a) Escrevem-se com e, e não com i, antes da sílaba tónica/tônica, os substantivos e adjetivos que procedem de substantivos terminados em -eio e -eia, ou com eles estão em relação direta. Assim se regulam: aldeão, aldeola, aldeota por aldeia; areal, areeiro, areento, Areosa por areia; aveal por aveia; baleal por baleia; cadeado por cadeia; candeeiro por candeia; centeeira e centeeiro por centeio; colmeal e colmeeiro por colmeia; correada e correame por correia. b) Escrevem-se igualmente com e, antes de vogal ou ditongo da sílaba tónica/tônica, os derivados de palavras que terminam em e acentuado (o qual pode representar um antigo hiato: ea, ee): galeão, galeota, galeote, de galé; coreano, de Coreia; daomeano, de Daomé; guineense, de Guiné; poleame e poleeiro, de polé. c) Escrevem-se com i, e não com e, antes da sílaba tónica/tônica, os adjetivos e substantivos derivados em que entram os sufixos mistos de formação vernácula -iano e iense, os quais são o resultado da combinação dos sufixos- ano e -ense com um i de origem analógica (baseado em palavras onde-ano e -ense estão precedidos de i pertencente ao tema: horaciano, italiano, duriense, flaviense, etc.): açoriano, acriano (de Acre), camoniano, goisiano (relativo a Damião de Góis), siniense (de Sines), sofocliano, torniano, torniense (de Torre(s)). d) Uniformizam-se com as terminações -io e -ia (átonas), em vez de -eo e -ea, os substantivos que constituem variações, obtidas por ampliação, de outros substantivos terminados em vogal; cúmio (popular), de cume; hástia, de haste; réstia, do antigo reste, véstia, de veste. e) Os verbos em -ear podem distinguir-se praticamente, grande número de vezes, dos verbos em -iar, quer pela formação, quer pela conjugação e formação ao mesmo tempo. Estão no primeiro caso todos os verbos que se prendem a substantivos em -eio ou -eia (sejam formados em português ou venham já do latim); assim se regulam: aldear, por aldeia; alhear, por alheio; cear por ceia; encadear por cadeia; pear, por peia; etc. Estão no segundo caso todos os verbos que têm normalmente flexões rizotónicas/rizotônicas em -eio, -eias, etc.: clarear, delinear, devanear, falsear, granjear, guerrear, hastear, nomear, semear, etc. Existem, no entanto, verbos em -iar, ligados a substantivos com as terminações átonas -ia ou -io, que admitem variantes na conjugação: negoceio ou negocio (cf. negócio); premeio ou premio (cf. prémio/prêmio); etc. f) Não é lícito o emprego do u final átono em palavras de origem latina. Escreve-se, por isso: moto, em vez de mótu (por exemplo, na expressão de moto próprio); tribo, em vez de tríbu. g) Os verbos em -oar distinguem-se praticamente dos verbos em -uar pela sua conjugação nas formas rizotónicas/rizotônicas, que têm sempre o na sílaba acentuada: abençoar com o, como abençoo, abençoas, etc.; destoar, com o, como destoo, destoas, etc.; mas acentuar, com u, como acentuo, acentuas, etc. Base VI Das vogais nasais Na representação das vogais nasais devem observar-se os seguintes preceitos: 1º) Quando uma vogal nasal ocorre em fi m de palavra, ou em fi m de elemento seguido de hífen, representa-se a nasalidade pelo til, se essa vogal é de timbre a; por m, se possui qualquer outro timbre e termina a palavra; e por n, se é de timbre diverso de a e está seguida de s: afã, grã, GrãBretanha, lã, órfã, sã-braseiro (forma dialetal; o mesmo que são-brasense = de S. Brás de Alportel); clarim, tom, vacum, flautins, semitons, zunzuns. 2º) Os vocábulos terminados em -ã transmitem esta representação do a nasal aos advérbios em -mente que deles se formem, assim como a derivados em que entrem sufixos iniciados por z: cristãmente, irmãmente, sãmente; lãzudo, maçãzita, manhãzinha, romãzeira. Base VII Dos ditongos 1º) Os ditongos orais, que tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, distribuem-se por dois grupos gráficos principais, conforme o segundo elemento do ditongo é representado por i ou u: ai, ei, éi, ui; au, eu, éu, iu, ou: braçais, caixote, deveis, eirado, farnéis (mas farneizinhos), goivo, goivar, lençóis (mas lençoizinhos), tafuis, uivar, cacau, cacaueiro, deu, endeusar, ilhéu (mas ilheuzito), mediu, passou, regougar. Obs.: Admitem-se, todavia, excecionalmente, à parte destes dois grupos, os ditongos grafados ae (= âi ou ai) e ao (âu ou au): o primeiro, representado nos antropônimos/antropônimos Caetano e Caetana, assim como nos respetivos derivados e compostos (caetaninha, são-caetano, etc.); o segundo, representado nas combinações da preposição a com as formas masculinas do artigo ou pronome demonstrativo o, ou seja, ao e aos. 2º) Cumpre fixar, a propósito dos ditongos orais, os seguintes preceitos particulares: a) É o ditongo grafado ui, e não a sequência vocálica grafada ue, que se emprega nas formas de 2a e 3a pessoas do singular do presente do indicativo e igualmente na da 2a pessoa do singular do imperativo dos verbos em -uir: constituis, influi, retribui. Harmonizam-se, portanto, essas formas com todos os casos de ditongo grafado ui de sílaba final ou fi m de palavra (azuis, fui, Guardafui, Rui, etc.); e ficam assim em paralelo gráfico-fonético com as formas de 2a e 3a pessoas do singular do presente do indicativo e de 2 a pessoa do singular do imperativo dos verbos em -air e em oer: atrais, cai, sai; móis, remói, sói. b) É o ditongo grafado ui que representa sempre, em palavras de origem latina, a união de um u a um i átono seguinte. Não divergem, portanto, formas como fluido de formas como gratuito. E isso não impede que nos derivados de formas daquele tipo as vogais grafadas u e i se separem: fluídico, fluidez (u-i). c) Além dos ditongos orais propriamente ditos, os quais são todos decrescentes, admite-se, como é sabido, a existência de ditongos crescentes. Podem considerar-se no número deles as sequências vocálicas pós-tónicas/póstônicas, tais as que se representam graficamente por ea, eo, ia, ie, io, oa, ua, ue, uo: áurea, áureo, calúnia, espécie, exímio, mágoa, míngua, tênue, tríduo. 3º) Os ditongos nasais, que na sua maioria tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, pertencem graficamente a dois tipos fundamentais: ditongos representados por vogal com til e semivogal; ditongos representados por uma vogal seguida da consoante nasal m. Eis a indicação de uns e outros: a) Os ditongos representados por vogal com til e semivogal são quatro, considerando-se apenas a língua padrão contemporânea: ãe (usado em vocábulos oxítonos e derivados), ãi (usado em vocábulos anoxítonos e derivados), ão e õe. Exemplos: cães, Guimarães, mãe, mãezinha; cãibas, cãibeiro, cãibra, zãibo; mão, mãozinha, não, quão, sótão, sotãozinho, tão; Camões, orações, oraçõezinhas, põe, repões. Ao lado de tais ditongos pode, por exemplo, colocar-se o ditongo ˜ui; mas este, embora se exemplifique numa forma popular como r˜ui = ruim, representa-se sem o til nas formas muito e mui, por obediência à tradição. b) Os ditongos representados por uma vogal seguida da consoante nasal m são dois: am e em. Divergem, porém, nos seus empregos: i) am (sempre átono) só se emprega em flexões verbais: amam, deviam, escreveram, puseram; ii) em (tónico/tônico ou átono) emprega-se em palavras de categorias morfológicas diversas, incluindo flexões verbais, e pode apresentar variantes gráficas determinadas pela posição, pela acentuação ou, simultaneamente, pela posição e pela acentuação: bem, Bembom, Bemposta, cem, devem, nem, quem, sem, tem, virgem; Bencanta, Benfeito, Benfica, benquisto, bens, enfim, enquanto, homenzarrão, homenzinho, nuvenzinha, tens, virgens, amém (variação do ámen), armazém, convém, mantém, ninguém, porém, Santarém, também; convêm, mantêm, têm (3as. pessoas do plural); armazéns, desdéns, convéns, reténs; Belenzada, vintenzinho. Base VIII Da acentuação gráfica das palavras oxítonas 1º) Acentuam-se com acento agudo: a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas abertas grafadas -a,-e ou -o, seguidas ou não de-s: está, estás, já, olá; até, é, és, olé, pontapé(s); avó(s), dominó(s), paletó(s), só(s). Obs.: Em algumas (poucas) palavras oxítonas terminadas em -e tónico/tônico, geralmente provenientes do francês, esta vogal, por ser articulada nas pronúncias cultas ora como aberta ora como fechada, admite tanto o acento agudo como o acento circunflexo: bebé ou bebê, bidé ou bidê, canapé ou canapê, caraté ou caratê, croché ou crochê, guichê ou guichê, matiné ou matinê, nené ou nenê, ponjé ou ponjê, puré ou purê, rapé ou rapê. O mesmo se verifica com formas como cocó e cocô, ró (letra do alfabeto grego) e rô. São igualmente admitidas formas como judô, a par de judo, e metrô, a par de metro. b) As formas verbais oxítonas, quando, conjugadas com os pronomes clíticos lo(s) ou la(s), ficam a terminar na vogal tónica/tônica aberta grafada-a, após a assimilação e perda das consoantes finais grafadas-r,-s ou-z: adorá-lo(s) (de adorar-lo(s)), dá-la(s) (de dar-la(s) ou dá(s)-la(s)), fálo(s) (de faz-lo(s)), fá-lo(s)-às (de far-lo(s)- -ás), habitála(s)-iam (de habitar-la(s)-iam), trá-la(s)-á (de trar-la(s)á). c) As palavras oxítonas com mais de uma sílaba terminadas no ditongo nasal grafado -em (exceto as formas da 3a pessoa do plural do presente do indicativo dos compostos de ter e vir: retêm, sustêm; advêm, provêm, etc.) ou -ens: acém, detém, deténs, entretém, entreténs, harém, haréns, porém, provém, provéns, também. d) As palavras oxítonas com os ditongos abertos grafados -éi, éu ou ói, podendo estes dois últimos ser seguidos ou não de-s: anéis, batéis, fiéis, papéis; céu(s), chapéu(s), ilhéu(s), véu(s); corrói (de corroer), herói(s), remói (de remoer), sóis. 2º) Acentuam-se com acento circunflexo: a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas fechadas que se grafam -e ou -o, seguidas ou não de-s: cortês, dê, dês (de dar), lê, lês (de ler), português, você(s); avô(s), pôs (de pôr), robô(s); b) As formas verbais oxítonas, quando conjugadas com os pronomes clíticos -lo(s) ou -la(s), ficam a terminar nas vogais tónicas/tônicas fechadas que se grafam -e ou -o, após a assimilação e perda das consoantes finais grafadas-r,-s ouz: detê-lo(s) (de deter-lo-(s)), fazê-la(s) (de fazer-la(s)), fêlo(s) (de fez-lo(s)), vê-la(s) (de ver-la(s)), compô-la(s) (de compor-la(s)), repô-la(s) (de repor-la(s)), pô-la(s) (de porla(s) ou pôs-la(s)). 3º) Prescinde-se de acento gráfico para distinguir palavras oxítonas homógrafas, mas heterofónicas/heterofônicas, do tipo de cor (ô), substantivo, e cor (ó), elemento da locução de cor; colher (ê), verbo, e colher (é), substantivo. Excetua-se a forma verbal pôr, para a distinguir da preposição por. Base IX Da acentuação gráfica das palavras paroxítonas 1º) As palavras paroxítonas não são em geral acentuadas graficamente: enjoo, grave, homem, mesa, Tejo, vejo, velho, voo; avanço, floresta; abençoo, angolano, brasileiro; descobrimento, graficamente, moçambicano. 2º) Recebem, no entanto, acento agudo: a) As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em-l,-n,-r,-x e -ps, assim como, salvo raras exceções, as respectivas formas do plural, algumas das quais passam a proparoxítonas: amável (pl. amáveis), Aníbal, dócil (pl. dóceis), dúctil (pl. dúcteis), fóssil (pl. fósseis), réptil (pl. répteis; var. reptil, pl. reptis); cármen (pl. cármenes ou carmens; var. carme, pl. carmes); dólmen (pl. dólmenes ou dolmens), éden (pl. édenes ou edens), líquen (pl. líquenes), lúmen (pl. lúmenes ou lumens); açúcar (pl. açúcares), almíscar (pl. almíscares), cadáver (pl. cadáveres), caráter ou carácter (mas pl. carateres ou caracteres), ímpar (pl. ímpares); Ájax, córtex (pl. córtex; var. córtice, pl. córtices, índex (pl. índex; var. índice, pl. índices), tórax (pl. tórax ou tóraxes; var. torace, pl. toraces); bíceps (pl. bíceps; var. bicípite, pl. bicípites), fórceps (pl. fórceps; var. fórcipe, pl. fórcipes). Obs.: Muito poucas palavras deste tipo, com as vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em fi m de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre nas pronúncias cultas da língua e, por conseguinte, também de acento gráfico (agudo ou circunflexo): sémen e sêmen, xénon e xênon; fêmur e fémur, vómer e vômer; Fénix e Fênix, ónix e ônix. b) As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -ã(s),-ão(s),-ei(s),-i(s),-um,-uns ou -us: órfã (pl. órfãs), acórdão (pl. acórdãos), órfão (pl. órfãos), órgão (pl. órgãos), sótão (pl. sótãos); hóquei, jóquei (pl. jóqueis), amáveis (pl. de amável), fáceis (pl. de fácil), fósseis (pl. de fóssil), amáreis (de amar), amáveis (id.), cantaríeis (de cantar), fizéreis (de fazer), fizésseis (id.); beribéri (pl. beribéris), bílis (sg. e pl.), íris (sg. e pl.), júri (pl. júris), oásis (sg. e pl.); álbum (pl. álbuns), fórum (pl. fóruns); húmus (sg. e pl.), vírus (sg. e pl.). Obs.: Muito poucas paroxítonas deste tipo, com as vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em fi m de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre nas pronúncias cultas da língua, o qual é assinalado com acento agudo, se aberto, ou circunflexo, se fechado: pónei e pônei; gónis e gônis, pénis e pênis, ténis e tênis; bónus e bônus, ónus e ônus, tónus e tônus, Vénus e Vênus. 3º) Não se acentuam graficamente os ditongos representados por ei e oi da sílaba tónica/tônica das palavras paroxítonas, dado que existe oscilação em muitos casos entre o fechamento e a abertura na sua articulação: assembleia, boleia, ideia, tal como aldeia, baleia, cadeia, cheia, meia; coreico, epopeico, onomatopeico, proteico; alcaloide, apoio (do verbo apoiar), tal como apoio (subst.), Azoia, boia, boina, comboio (subst.), tal como comboio, comboias, etc. (do verbo comboiar), dezoito, estroina, heroico, introito, jiboia, moina, paranoico, zoina. 4º) É facultativo assinalar com acento agudo as formas verbais de pretérito perfeito do indicativo, do tipo amámos, louvámos, para as distinguir das correspondentes formas do presente do indicativo (amamos, louvamos), já que o timbre da vogal tónica/tônica é aberto naquele caso em certas variantes do português. 5º) Recebem acento circunflexo: a) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com a grafia a, e, o e que terminam em-l,-n,-r, ou-x, assim como as respetivas formas do plural, algumas das quais se tornam proparoxítonas: cônsul (pl. cônsules), pênsil (pl. pênseis), têxtil (pl. têxteis); cânon, var. cânone (pl. cânones), plâncton (pl. plânctons); Almodôvar, aljôfar (pl. aljôfares), âmbar (pl. âmbares), Câncer, Tânger; bômbax (sg. e pl.), bômbix, var. bômbice (pl. bômbices). b) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com a grafia a, e, o e que terminam em -ão(s),-eis,-i(s) ou -us: bênção(s), côvão(s), Estêvão, zângão(s); devêreis (de dever), escrevêsseis (de escrever), fôreis (de ser e ir), fôsseis (id.), pênseis (pl. de pênsil), têxteis (pl. de têxtil); dândi(s), Mênfi s; ânus. c) As formas verbais têm e vêm, 3as pessoas do plural do presente do indicativo de ter e vir, que são foneticamente paroxítonas (respetivamente /tãjãj/, /vãjãj/ ou /têêj/, /vêêj/ ou ainda /têjêj/, /vêjêj/); cf. as antigas grafias preteridas, têem, vêem, a fi m de se distinguirem de tem e vem, 3as pessoas do singular do presente do indicativo ou 2as pessoas do singular do imperativo; e também as correspondentes formas compostas, tais como: abstêm (cf. abstém), advêm (cf. advém), contêm (cf. contém), convêm (cf. convém), desconvêm (cf. desconvém), detêm (cf. detem), entretêm (cf. entretém), intervêm (cf. intervém), mantêm (cf. mantém), obtêm (cf. obtém), provêm (cf. provém), sobrevêm (cf. sobrevém). Obs.: Também neste caso são preteridas as antigas grafias detêem, intervêem, mantêem, provêem, etc. 6º) Assinalam-se com acento circunflexo: a) Obrigatoriamente, pôde (3a pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo), que se distingue da correspondente forma do presente do indicativo (pode). b) Facultativamente, dêmos (1a pessoa do plural do presente do conjuntivo), para se distinguir da correspondente forma do pretérito perfeito do indicativo (demos); fôrma (substantivo), distinta de forma (substantivo; 3a pessoa do singular do presente do indicativo ou 2a pessoa do singular do imperativo do verbo formar). 7º) Prescinde-se de acento circunflexo nas formas verbais paroxítonas que contêm um e tónico/tônico oral fechado em hiato com a terminação -em da 3a pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo, conforme os casos: creem, deem (conj.), descreem, desdeem (conj.), leem, preveem, redeem (conj.), releem, reveem, tresleem, veem. 8º) Prescinde-se igualmente do acento circunflexo para assinalar a vogal tónica/tônica fechada com a grafia o em palavras paroxítonas como enjoo, substantivo e flexão de enjoar, povoo, flexão de povoar, voo, substantivo e flexão de voar, etc. 9º) Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica/tônica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s); pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (ê), substantivo ou combinação de per e lo(s); polo(s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); etc. 10º) Prescinde-se igualmente de acento gráfico para distinguir paroxítonas homógrafas heterofónicas/heterofônicas do tipo de acerto (ê), substantivo, e acerto (é), flexão de acertar; acordo (ô), substantivo, e acordo (ó), flexão de acordar; cerca (ê), substantivo, advérbio e elemento da locução prepositiva cerca de, e cerca (é), flexão de cercar; coro (ô), substantivo, e coro (ó), flexão de corar; deste (ê), contração da preposição de com o demonstrativo este, e deste (é), flexão de dar; fora (ô), flexão de ser e ir, e fora (ó), advérbio, interjeição e substantivo; piloto (ô), substantivo, e piloto (ó), flexão de pilotar, etc. Base X Da acentuação das vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas 1º) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento agudo quando antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde que não constituam sílaba com a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s: adaís (pl. de adail), aí, atraí (de atrair), baú, caís (de cair), Esaú, jacuí, Luís, país, etc.; alaúde, amiúde, Araújo, Ataíde, atraíam (de atrair), atraísse (id.), baía, balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo, faísca, faúlha, graúdo, influíste (de influir), juízes, Luísa, miúdo, paraíso, raízes, recaída, ruína, saída, sanduíche, etc. 2º) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas não levam acento agudo quando, antecedidas de vogal com que não formam ditongo, constituem sílaba com a consoante seguinte, como é o caso de nh, l, m, n, r e z: bainha, moinho, rainha; adail, paul, Raul; Aboim, Coimbra, ruim; ainda, constituinte, oriundo, ruins, triunfo; atrair, demiurgo, influir, influirmos; juiz, raiz, etc. 3º) Em conformidade com as regras anteriores leva acento agudo a vogal tónica/tônica grafada i das formas oxítonas terminadas em r dos verbos em -air e -uir, quando estas se combinam com as formas pronominais clíticas lo(s),-la(s), que levam à assimilação e perda daquele-r: atraí-lo(s) (de atrair-lo(s)); atraí-lo(s) –ia (de atrair-lo(s)ia); possuí-la(s) (de possuir-la(s)); possuí-la(s)-ia (de possuir-la(s)-ia). 4º) Prescinde-se do acento agudo nas vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras paroxítonas, quando elas estão precedidas de ditongo: baiuca, boiuno, cauila (var. cauira), cheiinho (de cheio), saiinha (de saia). 5º) Levam, porém, acento agudo as vogais tónicas/tônicas grafadas i e u quando, precedidas de ditongo, pertencem a palavras oxítonas e estão em posição final ou seguidas de s: Piauí, teiú, teiús, tuiuiú, tuiuiús. Obs.: Se, neste caso, a consoante final for diferente de s, tais vogais dispensam o acento agudo: cauim. 6º) Prescinde-se do acento agudo nos ditongos tónicos/tônicos grafados iu e ui, quando precedidos de vogal: distraiu, instruiu, pauis (pl. de paul). 7º) Os verbos arguir e redarguir prescindem do acento agudo na vogal tónica/tônica grafada u nas formas rizotónicas/rizotônicas: arguo, arguis, argui, arguem; argua, arguas, argua, arguam. Os verbos do tipo de aguar, apaniguar, apaziguar, apropinquar, averiguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir e afins, por oferecerem dois paradigmas, ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas igualmente acentuadas no u mas sem marca gráfica (a exemplo de averiguo, averiguas, averigua, averiguam; averigue, averigues, averigue, averiguem; enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxague, enxaguem, etc.; delinquo, delinquis, delinqui, delinquem; mas delinquimos, delinquís) ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas acentuadas fónica/fônica e graficamente nas vogais a ou i radicais (a exemplo de averíguo, averíguas, averígua, averíguam; averígue, averígues, averígue, averíguem; enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxágue, enxáguem; delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínqua, delínquam). Obs.: Em conexão com os casos acima referidos, registre-se que os verbos em -ingir (atingir, cingir, constringir, infringir, tingir, etc.) e os verbos em -inguir sem prolação do u (distinguir, extinguir, etc.) têm grafias absolutamente regulares (atinjo, atinja, atinge, atingimos, etc.; distingo, distinga, distingue, distinguimos, etc.). Base XI Da acentuação gráfica das palavras proparoxítonas 1º) Levam acento agudo: a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta: árabe, cáustico, Cleópatra, esquálido, exército, hidráulico, líquido, míope, músico, plástico, prosélito, público, rústico, tétrico, último; b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta, e que terminam por sequências vocálicas póstônicas praticamente consideradas como ditongos crescentes (-ea,-eo,-ia,-ie,-io,-oa,-ua,-uo, etc.): álea, náusea; etéreo, níveo; enciclopédia, glória; barbárie, série; lírio, prélio; mágoa, nódoa; exígua, língua; exíguo, vácuo. 2º) Levam acento circunflexo: a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica vogal fechada ou ditongo com a vogal básica fechada: anacreôntico, brêtema, cânfora, cômputo, devêramos (de dever), dinâmico, êmbolo, excêntrico, fôssemos (de ser e ir), Grândola, hermenêutica, lâmpada, lôstrego, lôbrego, nêspera, plêiade, sôfrego, sonâmbulo, trôpego; b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam vogais fechadas na sílaba tónica/tônica, e terminam por sequências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas praticamente consideradas como ditongos crescentes: amêndoa, argênteo, côdea, Islândia, Mântua, serôdio. 3º) Levam acento agudo ou acento circunflexo as palavras proparoxítonas, reais ou aparentes, cujas vogais tônicas/tônicas grafadas e ou o estão em final de sílaba e são seguidas das consoantes nasais grafadas m ou n, conforme o seu timbre é, respetivamente, aberto ou fechado nas pronúncias cultas da língua: académico/acadêmico, anatómico/anatômico, cénico/cênico, cómodo/cômodo, fenómeno/fenômeno, género/gênero, topónimo/topônimo; Amazónia/Amazônia, António/Antônio, blasfémia/blasfêmia, fémea/fêmea, gémeo/gêmeo, génio/gênio, ténue/tênue. Base XII Do emprego do acento grave 1º) Emprega-se o acento grave: a) Na contração da preposição a com as formas femininas do artigo ou pronome demonstrativo o: à (de a+a), às (de a+as); b) Na contração da preposição a com os demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas e aquilo ou ainda da mesma preposição com os compostos aqueloutro e suas flexões: àquele(s), àquela(s), àquilo; àqueloutro(s), àqueloutra(s). Base XIII Da supressão dos acentos em palavras derivadas 1º) Nos advérbios em -mente, derivados de adjetivos com acento agudo ou circunflexo, estes são suprimidos: avidamente (de ávido), debilmente (de débil), facilmente (de fácil), habilmente (de hábil), ingenuamente (de ingênuo), lucidamente (de lúcido), mamente (de má), somente (de só), unicamente (de único), etc.; candidamente (de cândido), cortesmente (de cortês), dinamicamente (de dinâmico), espontaneamente (de espontâneo), portuguesmente (de português), romanticamente (de romântico). 2º) Nas palavras derivadas que contêm sufixos iniciados por z e cujas formas de base apresentam vogal tónica/tônica com acento agudo ou circunflexo, estes são suprimidos: aneizinhos (de anéis), avozinha (de avó), bebezito (de bebé), cafezada (de café), chapeuzinho (de chapéu), chazeiro (de chá), heroizito (de herói), ilheuzito (de ilhéu), mazinha (de má), orfãozinho (de órfão), vintenzito (de vintém), etc.; avozinho (de avô), bençãozinha (de bênção), lampadazita (de lâmpada), pessegozito (de pêssego). Base XIV Do trema O trema, sinal de diérese, é inteiramente suprimido em palavras portuguesas ou aportuguesadas. Nem sequer se emprega na poesia, mesmo que haja separação de duas vogais que normalmente formam ditongo: saudade, e não saüdade, ainda que tetrassílabo; saudar, e não saüdar, ainda que trissílabo; etc. Em virtude desta supressão, abstrai-se de sinal especial, quer para distinguir, em sílaba átona, um i ou um u de uma vogal da sílaba anterior, quer para distinguir, também em sílaba átona, um i ou um u de um ditongo precedente, quer para distinguir, em sílaba tónica/tônica ou átona, o u de gu ou de qu de um e ou i seguintes: arruinar, constituiria, depoimento, esmiuçar, faiscar, faulhar, oleicultura, paraibano, reunião; abaiucado, auiqui, caiuá, cauixi, piauiense; aguentar, anguiforme, arguir, bilíngue (ou bilingue), lingueta, linguista, linguístico; cinquenta, equestre, frequentar, tranquilo, ubiquidade. Obs.: Conserva-se, no entanto, o trema, de acordo com a Base I, 3º, em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: hübneriano, de Hübner, mülleriano, de Müller, etc. Base XV Do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares 1º) Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainhacláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaidemor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norteamericano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro- ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva. Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc. 2º) Emprega-se o hífen nos topónimos/topônimos compostos iniciados pelos adjetivos grã, grão ou por forma verbal ou cujos elementos estejam ligados por artigo: GrãBretanha, Grão-Pará; Abre-Campo; Passa-Quatro, Quebra-Costas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, TrincaFortes; Albergaria-a-Velha, Baía de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os-Montes. Obs.: Os outros topónimos/topônimos compostos escrevem-se com os elementos separados, sem hífen: América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta, etc. O topónimo/topônimo Guiné-Bissau é, contudo, uma exceção consagrada pelo uso. 3º) Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde; benção-de-deus, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-desanto-inácio, bem-me-quer (nome de planta que também se dá à margarida e ao malmequer); andorinha-grande, cobracapelo, formiga-branca; andorinha-do-mar, cobra-d’água, lesma-de-conchinha; bem-te-vi (nome de um pássaro). 4º) Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-aventurado, bem-estar, bemhumorado; mal-afortunado, mal-estar, mal- -humorado; bem-criado (cf. malcriado), bem-ditoso (cf. malditoso), bem-falante (cf. malfalante), bem-mandado (cf. malmandado), bem-nascido (cf. malnascido), bem-soante (cf. malsoante), bem-visto (cf. malvisto). Obs.: Em muitos compostos, o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, etc. 5º) Emprega-se o hífen nos compostos com os elementos além, aquém, recém e sem: além-Atlântico, alémmar, além-fronteiras; aquém-mar, aquém-Pirenéus; recémcasado, recém-nascido; sem-cerimónia, sem-número, sem- vergonha. 6º) Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-derosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa). Sirvam, pois, de exemplo de emprego sem hífen as seguintes locuções: a) Substantivas: cão de guarda, fi m de semana, sala de jantar; b) Adjetivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho; c) Pronominais: cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer que seja; d) Adverbiais: à parte (note-se o substantivo aparte), à vontade, de mais (locução que se contrapõe a de menos; note-se demais, advérbio, conjunção, etc.), depois de amanhã, em cima, por isso; e) Prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, a fi m de, a par de, à parte de, apesar de, aquando de, debaixo de, enquanto a, por baixo de, por cima de, quanto a; f) Conjuncionais: a fi m de que, ao passo que, contanto que, logo que, por conseguinte, visto que. 7º) Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando, não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares (tipo: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte Rio-Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a ligação Angola-Moçambique, e bem assim nas combinações históricas ou ocasionais de topónimos/topônimos (tipo: Áustria-Hungria, Alsácia-Lorena, Angola-Brasil, TóquioRio de Janeiro, etc.). Base XVI Do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação 1º) Nas formações com prefixos (como, por exemplo: ante-, anti-, circum-, co-, contra-, entre-, extra-, hiper-, infra-, intra-, pós-, pré-, pró-, sobre-, sub-, super-, supra-, ultra-, etc.) e em formações por recomposição, isto é, com elementos não autónomos ou falsos prefixos, de origem grega e latina (tais como: aero-, agro-, arqui-, auto-, bio-, eletro-, geo-, hidro-, inter-, macro-, maxi-, micro-, mini-, multi-, neo-, pan-, pluri-, proto-, pseudo-, retro-, semi-, tele, etc.), só se emprega o hífen nos seguintes casos: a) Nas formações em que o segundo elemento começa por h: anti-higiênico, circum-hospitalar, co-herdeiro, contra-harmônico, extra-humano, pré-história, subhepático, super-homem, ultra-hiperbólico; arqui-hipérbole, eletro-higrômetro, geo-história, neo-helênico, panhelenismo, semi-hospitalar. Obs.: Não se usa, no entanto, o hífen em formações que contêm em geral os prefixos des- e in- e nas quais o segundo elemento perdeu o h inicial: desumano, desumidificar, inábil, inumano, etc. b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, infra-axilar, supra-auricular; arqui-irmandade, auto-observação, eletroótica, micro-onda, semi-interno. Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutinase em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc. c) Nas formações com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por vogal, m ou n [além de h, caso já considerado atrás na alínea a]: circum-escolar, circum-murado, circum-navegação; pan-africano, panmágico, pan-negritude; d) Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e super-, quando combinados com elementos iniciados por r: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista. e) Nas formações com os prefixos ex- (com o sentido de estado anterior ou cessamento), sota-, soto-, vice- e vizo-: ex-almirante, ex-diretor, ex-hospedeira, ex-presidente, exprimeiro-ministro, ex-rei; sota-piloto, soto-mestre, vicepresidente, vice-reitor, vizo-rei; f) Nas formações com os prefixos tónicos/tônicos acentuados graficamente pós-, pré- e pró-, quando o segundo elemento tem vida à parte (ao contrário do que acontece com as correspondentes formas átonas que se aglutinam com o elemento seguinte): pós-graduação, póstónico/pós-tônicos (mas pospor); pré-escolar, pré-natal (mas prever); pró-africano, pró-europeu (mas promover). 2º) Não se emprega, pois, o hífen: a) Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se, prática aliás já generalizada em palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico. Assim: antirreligioso, antissemita, contrarregra, contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal como biorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia, microssistema, microrradiografia; b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente, prática esta em geral já adotada também para os termos técnicos e científicos. Assim: antiaéreo, coeducaçao, extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual. 3º) Nas formações por sufixação apenas se emprega o hífen nos vocábulos terminados por sufixos de origem tupiguarani que representam formas adjetivas, como açu, guaçu e mirim, quando o primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia exige a distinção gráfica dos dois elementos: amoré-guaçu, anajámirim, andá-açu, capim-açu, Ceará-Mirim. Base XVII Do hífen na ênclise, na tmese e com o verbo haver 1º) Emprega-se o hífen na ênclise e na tmese: amá-lo, dá-se, deixa-o, partir-lhe; amá-lo-ei, enviar-lhe-emos. 2º) Não se emprega o hífen nas ligações da preposição de às formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver: hei de, hás de, hão de, etc. Obs.: 1. Embora estejam consagradas pelo uso as formas verbais quer e requer, dos verbos querer e requerer, em vez de quere e requere, estas últimas formas conservamse, no entanto, nos casos de ênclise: quere-o(s), requereo(s). Nestes contextos, as formas (legítimas, aliás) qué-lo e requé-lo são pouco usadas. 2. Usa-se também o hífen nas ligações de formas pronominais enclíticas ao advérbio eis (eis-me, ei-lo) e ainda nas combinações de formas pronominais do tipo no-lo, volas, quando em próclise (por ex.: esperamos que no-lo comprem). Base XVIII Do apóstrofo 1º) São os seguintes os casos de emprego do apóstrofo: a) Faz-se uso do apóstrofo para cindir graficamente uma contração ou aglutinação vocabular, quando um elemento ou fração respetiva pertence propriamente a um conjunto vocabular distinto: d’Os Lusíadas, d’Os Sertões; n’Os Lusíadas, n’Os Sertões; pel’Os Lusíadas, pel’Os Sertões. Nada obsta, contudo, a que estas escritas sejam substituídas por empregos de preposições íntegras, se o exigir razão especial de clareza, expressividade ou ênfase: de Os Lusíadas, em Os Lusíadas, por Os Lusíadas, etc. As cisões indicadas são análogas às dissoluções gráficas que se fazem, embora sem emprego do apóstrofo, em combinações da preposição a com palavras pertencentes a conjuntos vocabulares imediatos: a A Relíquia, a Os Lusíadas (exemplos: importância atribuída a A Relíquia; recorro a Os Lusíadas). Em tais casos, como é óbvio, entende-se que a dissolução gráfica nunca impede na leitura a combinação fonética: a A=à, a Os = aos, etc. b) Pode cindir-se por meio do apóstrofo uma contração ou aglutinação vocabular, quando um elemento ou fração respetiva é forma pronominal e se lhe quer dar realce com o uso de maiúscula: d’Ele, n’Ele, d’Aquele, n’Aquele, d’O, n’O, pel’O, m’O, t’O, lh’O, casos em que a segunda parte, forma masculina, é aplicável a Deus, a Jesus, etc.; d’Ela, n’Ela, d’Aquela, n’Aquela, d’A, n’A, pel’A, m’A, t’A, lh’A, casos em que a segunda parte, forma feminina, é aplicável à mãe de Jesus, à Providência, etc. Exemplos frásicos: confiamos n’O que nos salvou; esse milagre revelou-m’O; está n’Ela a nossa esperança; pugnemos pel’A que é nossa padroeira. À semelhança das cisões indicadas, pode dissolver-se graficamente, posto que sem uso do apóstrofo, uma combinação da preposição a com uma forma pronominal realçada pela maiúscula: a O, a Aquele, a Aquela (entendendo-se que a dissolução gráfica nunca impede na leitura a combinação fonética: a O = ao, a Aquela = àquela, etc.). Exemplos frásicos: a O que tudo pode, a Aquela que nos protege. c) Emprega-se o apóstrofo nas ligações das formas santo e santa a nomes do hagiológio, quando importa representar a elisão das vogais finais o e a: Sant’Ana, Sant’Iago, etc. É, pois, correto escrever: Calçada de Sant’Ana, Rua de Sant’Ana; culto de Sant’Iago, Ordem de Sant’Iago. Mas, se as ligações deste gênero, como é o caso destas mesmas Sant’Ana e Sant’Iago, se tornam perfeitas unidades mórficas, aglutinam-se os dois elementos: Fulano de Santana, ilhéu de Santana, Santana de Parnaíba; Fulano de Santiago, ilha de Santiago, Santiago do Cacém. Em paralelo com a grafia Sant’Ana e congéneres/congêneres, emprega-se também o apóstrofo nas ligações de duas formas antroponímicas, quando é necessário indicar que na primeira se elide um o final: Nun’Álvares, Pedr’Eanes. Note-se que nos casos referidos as escritas com apóstrofo, indicativas de elisão, não impedem, de modo algum, as escritas sem apóstrofo: Santa Ana, Nuno Álvares, Pedro Álvares, etc. d) Emprega-se o apóstrofo para assinalar, no interior de certos compostos, a elisão do e da preposição de, em combinação com substantivos: borda-d’água, cobrad’água, copo-d’água, estrela-d’alva, galinha-d’água, mãed’água, pau-d’água, pau-d’alho, pau-d’arco, pau-d’óleo. 2º) São os seguintes os casos em que não se usa o apóstrofo: Não é admissível o uso do apóstrofo nas combinações das preposições de e em com as formas do artigo definido, com formas pronominais diversas e com formas adverbiais (excetuado o que se estabelece nas alíneas 1º a e 1º b). Tais combinações são representadas: a) Por uma só forma vocabular, se constituem, de modo fixo, uniões perfeitas: i) do, da, dos, das; dele, dela, deles, delas; deste, desta, destes, destas, disto; desse, dessa, desses, dessas, disso; daquele, daquela, daqueles, daquelas, daquilo; destoutro, destoutra, destoutros, destoutras; dessoutro, dessoutra, dessoutros, dessoutras; daqueloutro, daqueloutra, daqueloutros, daqueloutras; daqui; daí; dali; dacolá; donde; dantes (= antigamente); ii) no, na, nos, nas; nele, nela, neles, nelas; neste, nesta, nestes, nestas, nisto; nesse, nessa, nesses, nessas, nisso; naquele, naquela, naqueles, naquelas, naquilo; nestoutro, nestoutra, nestoutros, nestoutras; nessoutro, nessoutra, nessoutros, nessoutras; naqueloutro, naqueloutra, naqueloutros, naqueloutras; num, numa, nuns, numas; noutro, noutra, noutros, noutras, noutrem; nalgum, nalguma, nalguns, nalgumas, nalguém. b) Por uma ou duas formas vocabulares, se não constituem, de modo fixo, uniões perfeitas (apesar de serem correntes com esta feição em algumas pronúncias): de um, de uma, de uns, de umas, ou dum, duma, duns, dumas; de algum, de alguma, de alguns, de algumas, de alguém, de algo, de algures, de alhures, ou dalgum, dalguma, dalguns, dalgumas, dalguém, dalgo, dalgures, dalhures; de outro, de outra, de outros, de outras, de outrem, de outrora, ou doutro, doutra, doutros, doutras, doutrem, doutrora; de aquém ou daquém; de além ou dalém; de entre ou dentre. De acordo com os exemplos deste último tipo, tanto se admite o uso da locução adverbial de ora avante como do advérbio que representa a contração dos seus três elementos: doravante. Obs.: Quando a preposição de se combina com as formas articulares ou pronominais o, a, os, as, ou com quaisquer pronomes ou advérbios começados por vogal, mas acontece estarem essas palavras integradas em construções de infinitivo, não se emprega o apóstrofo, nem se funde a preposição com a forma imediata, escrevendo-se estas duas separadamente: a fi m de ele compreender; apesar de o não ter visto; em virtude de os nossos pais serem bondosos; o facto de o conhecer; por causa de aqui estares. Base XIX Das minúsculas e maiúsculas 1º) A letra minúscula inicial é usada: a) Ordinariamente, em todos os vocábulos da língua nos usos correntes. b) Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira; outubro; primavera. c) Nos bibliónimos/bibliônimos (após o primeiro elemento, que é com maiúscula, os demais vocábulos, podem ser escritos com minúscula, salvo nos nomes próprios nele contidos, tudo em grifo): O Senhor do paço de Ninães ou O senhor do paço de Ninães, Menino de engenho ou Menino de Engenho, Árvore e Tambor ou Árvore e tambor. d) Nos usos de fulano, sicrano, beltrano. e) Nos pontos cardeais (mas não nas suas abreviaturas): norte, sul (mas: SW sudoeste). f) Nos axiónimos/axiônimos e hagiónimos/hagiônimos (opcionalmente, neste caso, também com maiúscula): senhor doutor Joaquim da Silva, bacharel Mário Abrantes, o cardeal Bembo; santa Filomena (ou Santa Filomena). g) Nos nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas (opcionalmente, também com maiúscula): português (ou Português), matemática (ou Matemática); línguas e literaturas modernas (ou Línguas e Literaturas Modernas). 2º) A letra maiúscula inicial é usada: a) Nos antropónimos/antropônimos, reais ou fictícios: Pedro Marques; Branca de Neve, D. Quixote. b) Nos topónimos/topônimos, reais ou fictícios: Lisboa, Luanda, Maputo, Rio de Janeiro, Atlântida, Hespéria. c) Nos nomes de seres antropomorfizados ou mitológicos: Adamastor; Neptuno/Netuno. d) Nos nomes que designam instituições: Instituto de Pensões e Aposentadorias da Previdência Social. e) Nos nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Ramadão, Todos os Santos. f) Nos títulos de periódicos, que retêm o itálico: O Primeiro de Janeiro, O Estado de São Paulo (ou S. Paulo). g) Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente: Nordeste, por nordeste do Brasil, Norte, por norte de Portugal, Meio-Dia, pelo sul da França ou de outros países, Ocidente, por ocidente europeu, Oriente, por oriente asiático. h) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais ou nacionalmente reguladas com maiúsculas, iniciais ou mediais ou finais ou o todo em maiúsculas: FAO, NATO, ONU; H2º, Sr., V. Ex.ª. i) Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente, em início de versos, em categorizações de logradouros públicos: (rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha). Obs.: As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologias antropológica, geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras, reconhecidas internacionalmente. Base XX Da divisão silábica A divisão silábica, que em regra se faz pela soletração (a-ba-de, bru-ma, ca-cho, lha-no, ma-lha, ma-nha, má-ximo, ó-xi-do, ro-xo, te-me-se), e na qual, por isso, se não tem de atender aos elementos constitutivos dos vocábulos segundo a etimologia (a-ba-li-e-nar, bi-sa-vó, de-sa-pa-recer, di-sú-ri-co, e-xâ-ni-me, hi-pe-ra-cús-ti-co, i-ná-bil, obo-val, su-bo-cu-lar, su-pe-rá-ci-do), obedece a vários preceitos particulares, que rigorosamente cumpre seguir, quando se tem de fazer em fi m de linha, mediante o emprego do hífen, a partição de uma palavra: 1º) São indivisíveis no interior de palavra, tal como inicialmente, e formam, portanto, sílaba para a frente as sucessões de duas consoantes que constituem perfeitos grupos, ou sejam (com exceção apenas de vários compostos cujos prefixos terminam em b ou d: ab-legação, ad-ligar, sub-lunar, etc., em vez de a-blegação, a-dligar, su-blunar, etc.) aquelas sucessões em que a primeira consoante é uma labial, uma velar, uma dental ou uma labiodental e a segunda um l ou um r: a-blução, celebrar, du-plicação, re-primir; a-clamar, de-creto, deglutição, re-grado; a-tlético, cáte-dra, períme-tro; a-fluir, africano, ne-vrose. 2º) São divisíveis no interior da palavra as sucessões de duas consoantes que não constituem propriamente grupos e igualmente as sucessões de m ou n, com valor de nasalidade, e uma consoante: ab-dicar, Ed-gardo, op-tar, sub-por, absoluto, ad-jetivo, af-ta, bet-samita, íp-silon, ob-viar; descer, dis-ciplina, fl ores-cer, nas-cer, res-cisão; ac-ne, ad- mirável, Daf-ne, diafrag-ma, drac-ma, ét-nico, rit-mo, submeter, am-nésico, interam-nense; bir-reme, cor-roer, prorrogar; as-segurar, bis-secular, sos-segar; bissex-to, contexto, ex-citar, atroz-mente, capaz-mente, infeliz-mente; ambição, desen-ganar, en-xame, man-chu, Mân-lio, etc. 3º) As sucessões de mais de duas consoantes ou de m ou n, com o valor de nasalidade, e duas ou mais consoantes são divisíveis por um de dois meios: se nelas entra um dos grupos que são indivisíveis (de acordo com o preceito 1º), esse grupo forma sílaba para diante, ficando a consoante ou consoantes que o precedem ligadas à sílaba anterior; se nelas não entra nenhum desses grupos, a divisão dá-se sempre antes da última consoante. Exemplos dos dois casos: cam-braia, ec-lipse, em-blema, ex-plicar, in-cluir, inscrição, subs-crever, trans-gredir; abs-tenção, disp-neia, inters-telar, lamb-dacismo, sols-ticial, Terp-sícore, tungsténio. 4º) As vogais consecutivas que não pertencem a ditongos decrescentes (as que pertencem a ditongos deste tipo nunca se separam: ai-roso, cadei-ra, insti-tui, ora-ção, sacris-tães, traves-sões) podem, se a primeira delas não é u precedido de g ou q, e mesmo que sejam iguais, separar-se na escrita: ala-úde, áre-as, ca-apeba, co-ordenar, do-er, fluidez, perdo-as, vo-os. O mesmo se aplica aos casos de contiguidade de ditongos, iguais ou diferentes, ou de ditongos e vogais: cai-ais, cai-eis, ensai-os, flu-iu. 5º) Os digramas gu e qu, em que o u se não pronuncia, nunca se separam da vogal ou ditongo imediato (ne-gue, ne- guei; pe-que, pe-quei), do mesmo modo que as combinações gu e qu em que o u se pronuncia: á-gua, ambí-guo, averigueis; longín-quos, lo-quaz, quais-quer. 6º) Na translineação de uma palavra composta ou de uma combinação de palavras em que há um hífen, ou mais, se a partição coincide com o final de um dos elementos ou membros, deve, por clareza gráfica, repetir –se o hífen no início da linha imediata: ex- -alferes, serená- -los- -emos ou serená- -los- -emos, vice- -almirante. Base XXI Das assinaturas e firmas Para ressalva de direitos, cada qual poderá manter a escrita que, por costume ou registro legal, adote na assinatura do seu nome. Com o mesmo fim, pode manter-se a grafia original de quaisquer firmas comerciais, nomes de sociedades, marcas e títulos que estejam inscritos em registro público. Fonte: Academia Brasileira de Letras A PONTUAÇÃO Na linguagem escrita, o sinal de pontuação é cada um dos sinais utilizados para reconstituir os recursos rítmicos e melódicos da língua falada. Pode ser entendido também como o conjunto dos sinais gráficos ou notações que buscam discriminar os diversos elementos sintáticos da frase, visando a clareza, as pausas e as modulações próprias na leitura. Na língua portuguesa, podemos distinguir, fundamentalmente, três grupos deles. a) aqueles destinados a marcar as pausas, chamados de Notações Objetivas, (a vírgula [,], o ponto [.] e o ponto-evírgula [;]); b) os chamados de Notações Subjetivas, destinados a marcar a melodia, a entoação (os dois-pontos [:], o ponto de interrogação [?], o ponto de exclamação ou ponto de admiração [!] e as reticências [...]); c) outros sinais, as notações distintivas, com fins diversos, como as aspas ["], os parênteses [()]. os colchetes [.], o travessão [—], a chave[{] e o parágrafo. É preciso que se diga que não há uniformidade entre os escritores, no que se refere à teoria da pontuação é vária. Uns exibem um pontuação mais forte e abundante, outros não. Salvo alguns poucos casos, não há regras absolutas. Júlio Ribeiro assim definiu a pontuação: "arte de dividir, por meio de sinais gráficos, as partes do discurso que não têm entre si ligação íntima, e de mostrar do modo mais claro as relações que existem entre essas partes". Para entender bem esse conceito, lembre-se que têm ligação íntima entre si os termos da oração: o sujeito com o verbo e o verbo com o seu complemento. Entre o sujeito e o verbo, assim como entre o verbo e o complemento, não pode haver vírgula. Exemplo: Errado: O rio, descia a serra. (vírgula entre o sujeito e o verbo) Correto: O rio descia a serra. Errado: O fogo devorava, as casas. (entre o verbo e seu complemento) Correto: O fogo devorava as casas. A PONTUAÇÃO EXAGERADA Uma pontuação exagerada, embora correta, deve ser evitada, pois acaba por travar a leitura, que não flui agradavelmente, mas é interrompida de fragmento a fragmento. Talvez nesse aspecto, o melhor crítico seja o ouvido. Embora possa não afetar o estilo, vale lembrar a velha máxima de que todo exagero é prejudicial. As vírgulas, principalmente, não devem separar com rigor os complementos circunstanciais, sem escapar um só. Basta que separem os complementos de maior tamanho, que possam provocar confusão ou obscurecer o sentido da frase. Exemplos: "Não sei quem era, se gente daqui ou não, a pessoa que, naquela noite, sozinha, atreveu-se, arriscando a vida, a atravessar, sem medo, as águas do rio." "A menina veio, como uma avezinha assustada, de cabeça erguida, no entanto, pelas mãos da mãe, para a frente da casa; ali recebeu, com estremecimento, o beijo que, inesperadamente, o pai depositou em sua fronte." De acordo com as regras gramaticais estes dois exemplos estão rigorosamente bem pontuados. Quem os ler, porém, detendo-se a cada vírgula, sentirá que a pontuação exagerada trunca a leitura, tornando a expressão difícil e entrecortada. Os dois trechos não perderiam nada se fossem pontuados desta forma: "Não sei quem era, se gente daqui ou não, a pessoa que naquela noite sozinha atreveu-se, arriscando a vida, a atravessar sem medo as águas do rio." "A menina veio como uma avezinha assustada, de cabeça erguida no entanto, pelas mãos da mãe para a frente da casa; ali recebeu com estremecimento o beijo que inesperadamente o pai depositou em sua fronte." Como todo exagero é prejudicial, a pontuação escassa, com economia de vírgulas e dos demais recursos gráficos pode ser um defeito, principalmente nos períodos longos. Neles, a pontuação deficiente traz sonolência, obscuridade e exigem fôlego para sua leitura. Isso ocorre com frequência com os oradores. Acostumados a manter o sopro por muito tempo, disfarçam com a eloquência seus defeitos de estilo. Ao pontuar suas redações, tenha em mente que elas serão lidas e que a distribuição dos sinais gráficos deve privilegiar os seguintes aspectos: — Assinalar as pausas e as inflexões da voz (a entonação) na leitura; — Separar palavras, expressões e orações que devem ser destacadas; — Esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer ambiguidade. — A IMPORTÂNCIA O uso inadequado dos sinais de pontuação podem levar a uma inversão total no sentido desejado para um pensamento ou expressão. No anedotário popular há diversos exemplos disso. Veja alguns deles: 1) Verão uma andorinha só não faz verão. 2) Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe do fazendeiro era também o pai do bezerro. 3) Enforquem o réu não tenham piedade. 4) Deixo os meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres. Antes de conhecer as respostas, tente encontrar a pontuação correta para cada um dos exemplos. Depois que fizer isso, vamos às respostas: 1) Verão: uma andorinha só não faz verão. 2) Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe; do fazendeiro era também o pai do bezerro. 3) Neste exemplo, a mudança na pontuação determina o sentido. "Enforquem o réu; não tenham piedade" vai condená-lo. "Enforquem o réu não; tenham piedade" vai salvá-lo. 4) Neste exemplo, a mudança na pontuação altera radicalmente o sentido, beneficiando cada um dos citados: Versão do sobrinho: "Deixo os meus bens à minha irmã, não; a meu sobrinho; jamais será paga a conta do alfaiate; nada aos pobres". Versão da irmã: "Deixo os meus bens à minha irmã, não a meu sobrinho; jamais será paga a conta do alfaiate; nada aos pobres". Versão do alfaiate: "Deixo os meus bens à minha irmã, não; a meu sobrinho jamais; será paga a conta do alfaiate; nada aos pobres". Versão dos pobres: "Deixo os meus bens à minha irmã, não; a meu sobrinho, jamais; será paga a conta do alfaiate nada; aos pobres". N0RMAS GERAIS A leitura constante e a observação atenta permitiram que se definissem normas gerais no uso da pontuação. Vejamos as mais importantes e comuns: ETC Abreviatura da expressão latina et cetera (ou caetera), que significa "e outras coisas". A expressão evoluiu do sentido original, referindo-se a coisas, passando também a ser usada para designar pessoas. Assim, não é correto escrever ou dizer "e etc." Antes da abreviatura, deve haver sempre um sinal de pontuação, podendo ser o mesmo usado para separar conjuntos da enumeração ou um outro, dependendo do contexto. Exemplos: Trouxe a espada, a lança, o bacamarte, as adagas, etc. (precedido de vírgula.) Acordar cedo. Vestir a roupa. Lavar o rosto. Tomar café. Etc. (precedido de ponto final.) Lembre-se que a abreviatura etc, isoladamente, não é acompanhada de ponto (etc.), comum a outras abreviaturas. Isso tem levado muita gente ao erro de pontuar assim uma frase onde ela apareça: Tinha comida, bebida, música, alegria, etc.. Isso ocorre porque em fim de frase declarativa, não se usam lado a lado o ponto abreviativo e o ponto-final. A tradição consagrou a simplicidade e o ponto acumula as duas funções. DIÁLOGOS Inexistem regras oficiais, mas Othon M. Garcia, em seu livro Comunicação em Prosa Moderna, assim resumiu a pontuação dos diálogos: "Nas obras mais recentes, ou em muitas reedições atualizadas de antigas, se vêm firmando as seguintes normas, segundo pudemos observar em inúmeros autores: a) travessão inicial em vez de aspas; b) oração do verbo dicendi [Ex.: — Vamos — disse ela] precedida por travessão; c) aspas só para fala isolada dentro de parágrafo em discurso indireto, quando não seguida de réplica; d) o travessão torna prescindível qualquer outro sinal de pontuação, salvo os pontos de interrogação, de exclamação e as reticências; e) novo período de fala no mesmo parágrafo, após a oração do verbo dicendi; deve vir precedido por travessão, para que não se confundam palavras do autor com as da personagem; f) a oração do verbo dicendi, quando intercalada na fala, pode vir também cercada por vírgula, em vez de travessões, desde que o fragmento da fala que a preceda não exija ponto de interrogação ou de exclamação ou reticências; g) Quando a oração do verbo dicendi precede toda a fala, deve vir obrigatoriamente seguida de dois-pontos." (Othon M. Garcia. Comunicação em Prosa Moderna. Rio de Janeiro, Fund. Getúlio Vargas, 1967. p. 137-8.) Trata-se de uma verdadeira aula sobre o uso da pontuação nos diálogos e merece que nos detenhamos um pouco mais para entender todo esse conteúdo. Inicialmente, vamos relembrar o que são os verbos dicendi: "Cada um dos verbos como, p. ex., dizer, afirmar, exclamar, perguntar, responder, redarguir, que antecedem, mediata ou imediatamente, uma declaração, pergunta, etc. O processo mais simples para isso [para o narrador dar a conhecer ao leitor palavras ou pensamentos de outrem] é apresentar-nos o indivíduo e deixá-lo expressar-se, acrescentando-se um verbo dicendi (disse, perguntou, respondeu) para anunciar a entrada do novo falante." (J. Matoso Câmara Jr., Ensaios Machadianos, p. 25.) Vejamos, agora, uma a uma essas regras: a) travessão inicial em vez de aspas. Isso significa que os diálogos devem ser marcados com um travessão e não com aspas, como nos seguintes exemplos: Errado: "Serão os vagalumes?" indagou a menina. "Não, são os olhos do boitatá" respondeu o velho. Correto: — Serão os vagalumes? — indagou a menina. — Não, são os olhos do boitatá — respondeu o velho. b) oração do verbo dicendi (Ex.: — Vamos — disse ela.) precedida por travessão. Nos exemplos corretos acima, observe que antes dos verbos dicendi "indagou" e "respondeu", é usado o travessão. Na verdade, os dois travessões, o inicial e o que precede o verbo dicendi, isolam o registro da fala das personagens. c) aspas só para fala isolada dentro de parágrafo em discurso indireto, quando não seguida de réplica. Vamos relembrar o que é discurso direto e discurso indireto. Discurso direto é reprodução das palavras de alguém nos termos exatos em que foram ditas, como nos exemplos corretos já citados. Discurso indireto é a reprodução das palavras de alguém na terceira pessoa, quer atribuindo-as claramente a outra pessoa em orações subordinadas a um verbo dicendi, quer dizendo-as por sua própria conta em orações independentes. Por exemplo: Ela disse que não iria viajar, mas ele garantiu que ela iria. Na regra definida por Othon M Garcia, aspas seriam utilizadas para marcar uma fala em exemplos como este: Quando perguntada se iria viajar, ela disse categoricamente "eu vou." Já o marido dela foi igualmente firme ao dizer "ela não vai." d) o travessão torna prescindível qualquer outro sinal de pontuação, salvo os pontos de interrogação, de exclamação e as reticências. Esta é uma regra fácil de entender, uma vez que seria exagero colocar dois sinais de pontuação juntos. Não usar: — Eu digo que será menina, — falou a mãe. O correto: — Eu digo que será, menina — falou a mãe. Se a frase comportar Notações Subjetivas (pontos de interrogação, exclamação ou reticências), estas deverão ser registradas antes do travessão. Exemplos: — Venha para dentro, menina! — ordenou a mãe. — Quem será esse sujeito? — indagou o professor. — Talvez eu vá... — murmurou ela, com um sorriso. e) novo período de fala no mesmo parágrafo, após a oração do verbo dicendi; deve vir precedido por travessão, para que não se confundam palavras do autor com as da personagem. Fica fácil de entender essa regra com o seguinte exemplo. — Às vezes eu me pergunto onde vamos parar — começou ele, cofiando a barba. — A cada dia as coisas ficam piores. Após o registro da fala inicial, segue-se um travessão e o verbo dicendi (... começou ele...). Em seguida, a personagem continua falando. Isso é marcado com o uso de um novo travessão. f) a oração do verbo dicendi, quando intercalada na fala, pode vir também cercada por vírgula, em vez de travessões, desde que o fragmento da fala que a preceda não exija ponto de interrogação ou de exclamação ou reticências. Veja nos exemplos a seguir as duas opções possíveis. — Nunca quis isso — disse ele — pois nunca me pareceu correto. — Nunca quis isso, disse ele, pois nunca me pareceu correto. Isso não será possível que o trecho inicial da fala terminar com uma notação subjetiva, como nos exemplos a seguir. — Nunca quis isso? — indagou ele. — Pois nunca me pareceu correto. — Nunca quis isso! — exclamou ele. — Nunca me pareceu correto. — Nunca quis isso... — murmurou ele. — Nunca me pareceu correto. g) Quando a oração do verbo dicendi precede toda a fala, deve vir obrigatoriamente seguida de dois-pontos. Veja nos exemplos: Ela disse energicamente: — Você precisa plantar logo! Após observar todo o horizonte com os olhos semicerrados, ele se voltou para ela e comentou tristemente: — Mais um dia de seca... Mais um dia sem chuva! Plantar como? ASPAS As aspas, também chamadas vírgulas dobradas ou comas, usam-se: 1) No princípio e no fim de uma citação textual (palavra, expressão, frase ou trecho), para distingui-la da parte restante do discurso, como neste exemplo: Conforme o dicionário, canjica é "papa de consistência cremosa, feita com milho verde ralado, a que se acrescenta açúcar, leite de vaca ou de coco, e polvilha com canela. " 2) Põem-se entre aspas palavras e expressões estranhas ao nosso vocabulário, estrangeiras ou termos da gíria, títulos de obras literárias ou artísticas, jornais ou revistas ou qualquer expressão que deseje destacar: Nos anos sessenta, ser "hippie" estava na moda. Erasmo Carlos era conhecido como "Tremendão". "Lusíadas" canta a alma portuguesa. "Veja" é uma das revistas mais lidas do país. O "Estadão" trouxe a notícia na sua edição de hoje. Parece que o tema na ordem do dia é "a miséria do país". 3) Para chamar a atenção do leitor a certas palavras que pretendemos fazer sobressair: "Para bens" não é a mesma coisa que "parabéns". Não confunda "conhaque de alcatrão" com "catraca de canhão". 4) Para caracterizar nomes e apelidos: O "Almirante Tamandaré" ganhou o mar. Viajamos pela "Panair". Era tão corajoso que recebeu o apelido de "João Bravo". 5) Marca expressões, vocábulos, palavras, letras (substantivadas pelo contexto) citadas ou exemplificadas: Para mim, aquilo soou como um "até nunca mais" Palavras escritas com "x" e com "ç" provocam muitas confusões. Vamos estudar hoje as funções do "que". 6) Segundo o Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, "quando a pausa coincide com o final da expressão ou sentença que se acha entre aspas, coloca-se o competente sinal de pontuação depois delas, se encerram apenas uma parte da proposição." Exemplo: Aquele olhar tinha o significado de um "eu te pego depois". Note que primeiro fecham-se as aspas, depois acrescenta-se o ponto final. O mesmo ocorreria se, ao invés do ponto final, tivéssemos um ponto de interrogação, dois pontos, ponto de exclamação, reticências ou qualquer outro sinal de pontuação. "Quando, porém, as aspas abrangem todo o período, sentença, frase ou expressão, a respectiva notação fica abrangida por elas." Diz o ditado popular: "quem tudo quer, tudo perde." Ou: Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela Claridade imortal, que toda a luz resume! "Por que não nasci eu um simples vaga-lume?" (Machado de Assis.) 7) Antenor Nascente, em seu livro "O Idioma Nacional", recomenda: "Se o trecho contiver diversos parágrafos, as aspas de abertura deverão estar antes da primeira palavra de cada parágrafo e as de fechamento depois da última palavra do derradeiro parágrafo:" "Disse D. Antônio de Macedo Costa: "Restaurar moral e religiosamente o Brasil! "Esta é a obra das obras; a obra essencial, a obra fundamental sobre que repousa a estabilidade do trono e o futuro da nossa sociedade. " "Se o trecho contiver por sua vez alguma citação, deverá esta trazer aspas de abertura no começo de cada linha e aspas de fechamento unicamente no fim da derradeira palavra da última linha. "Disse D. Antônio de Macedo Costa: "Um grande escritor protestante, cujo nome não preciso declinar, porque todos o conheceis, confessa em uma de suas obras esta verdade: "Lavra na sociedade "moderna, diz ele, um grave mal que é o desrespeito à autoridade. A Igreja Católica "é a maior e mais santa escola de respeito que há sobre a terra". "A França precisa de catolicismo". Se for preciso recorrer a aspas dentro de um trecho já aspado, usa-se aspas simples: "Quando ele dizia 'agora’ queria dizer 'agora’ mesmo e não admitia demoras." (Memórias Jamais Escritas.) 8) Frequentemente sublinha-se, na escrita, as citações e os dizeres para os quais se quer chamar a atenção, dispensando as aspas. As palavras sublinhadas, ou grifadas, correspondem, nas obras impressas, ao tipo diferente, sendo mais frequentes o uso do negrito ou normando (letras de corpo mais cheio) e do itálico (letras inclinadas). DOIS PONTOS O sinal chamado "dois pontos" (:) indica, na leitura, uma pausa maior que o ponto e vírgula. É empregado nos seguintes casos: a) Anunciar uma citação. Exemplo: Disse Jesus: amai-vos uns aos outros. b) Indicar uma enunciação ou uma enumeração. Nesses casos, os objetos enumerados ou o enunciado pode vir depois do verbo da oração. Exemplo: Há duas formas de se chegar ao amor: a dedicação e a renúncia. O prefeito finalizou, dizendo: o progresso nos espera. Há casos, porém, em que o enunciado ou a enumeração vêm antes do verbo. Trabalho e economia: eis o caminho para a recuperação econômica. E haverá casos em que o verbo poderá estar elíptico ou nem existir: Primeiro passo para a boa saúde: levantar com o sol e dormir com as galinhas. c) Evidenciar uma reflexão ou uma explanação. Exemplos: Fique calmo: a cólera sempre foi uma funesta conselheira. O amor é perigo e prazer: perigoso como o espinho de uma rosa, prazeroso como o perfume dessa mesma rosa. d) Separar, na redação de leis, decretos, portarias, alvarás, sentenças, acórdãos e diplomas sociais, o preâmbulo do corpo do documento, após uma série de considerandos. Exemplo: O Presidente da República, Considerando a atual estado dos municípios brasileiros; Considerando a disponibilidade de caixa: Considerando as necessidades da educação; Decreta: Fica criado o Fundo Nacional para a Educação... O Prefeito Municipal, no uso de suas atribuições legais, faz saber que a Câmara Municipal aprovou e ele sanciona a seguinte lei: Art. 1o. Fica criado o Conselho Municipal de Educação... e) Anunciar a fala dos personagens nas histórias de ficção. Exemplos: Disse o menino: — Se Papai Noel existe, porque nunca passou por aqui? Após examinar todos os presentes, o homem começou: — A todos os que vieram, a minha gratidão; àqueles que se ausentaram, o meu mais profundo rancor. f) Introduzir aposto e orações apositivas. A oração apositiva funciona como um aposto. Para entender isso, é preciso saber o que é aposto. Aposto: "Nome, ou expressão equivalente, que exerce a mesma função sintática de outro elemento a que se refere. Ex.: Joana, irmã de Pedro, sofreu um acidente. Seu objetivo é, via de regra, esclarecer ou ampliar o sentido de um termo ou expressão já citado. Exemplo: Sócrates, o jogador de futebol, pendurou as chuteiras. A expressão "jogador de futebol" é um aposto que amplia o sentido da palavra anterior "Sócrates". Como exemplo do uso de dois pontos para indicar oração apositiva, temos: A causa final da violência é esta: a miséria desumaniza o homem. Tenho uma condição: você será o primeiro. É doloroso esta verdade: o amor um dia acaba. Como exemplos de aposto, temos: Fez por merecer tudo aquilo: a dor e a solidão. É difícil encarar isso: o fim da felicidade. g) Indicar esclarecimento, um resultado ou resumo do que foi dito. Exemplos: Tenho tudo que quero: esposa, filhos, uma boa casa e um carro confortável. Fez tudo por merecer: a riqueza, a felicidade e o amor. Resultado: depois de todo aquele trabalho, veio a chuva e lavou todo o terreno. Em resumo: perdemos tudo. h) Substituir o Ponto e Vírgula no período composto e complexo, evitando a sua repetição em excesso. Exemplo: As crianças corriam pelos corredores, desfazendo as filas formadas no pátio, embrenhandose nas salas pelas portas escancaradas, esbarrandose e tropeçando uns nos outros; avançam para as carteiras, cada qual procurando escolher o melhor lugar; vinham afoitos e quase em desespero: diante do quadro-negro, com ar impassível, o professor apenas observava aquela avalanche de rostos alheios a sua presença. HÍFEN No Apêndice, Novo Acordo Ortográfico, especifica-se o uso do hífen. Lembrando que o tema é complexo, é bom lembrar casos em que não se deve usar o hífen. 1 — Nas locuções, isto é, sequencias unitárias em que as palavras empregadas mantêm a autonomia própria. Exemplos: Locuções substantivas: anjo da guarda, arma de fogo, cão de guarda, comes e bebes, estrada de ferro, via férrea, juiz de direito, navio a vapor, sala de estar, sala de visitas, etc. Locuções adjetivas: cor de café, cor de vinho, de pimenta, etc. Locuções numerais: ambos os dois, vinte e um, vigésimo primeiro, etc. Locuções pronominais: cada um, ele mesmo ou ele próprio, nem um nem outro, nós outros, o qual, quem quer que (seja), seja quem for, um e outro, etc. Locuções verbais: há de vir, havia saído, tenho de viajar, etc. Locuções adverbiais: afinal de contas, a miúdo (amiúde), assim mesmo, a propósito (= a-propósito, s. m.), à toa (= à-toa, adj.), à vontade (= à-vontade, s.m.), de novo, de repente, entre lusco e fusco (= lusco-fusco, s.m.), etc. Locuções prepositivas: a fim de, à exceção de, apesar de, de envolta com, de par com, por mor de, etc. Locuções conjuntivas: a fim de que, a menos que, dês que (desde que), para que (= para-quê, s.m.), por isso que, etc. Locuções interjetivas: ai de mim, com a breca, ora essa, qual o quê, quem me dera, etc. Mas atenção: Há composições hifenizadas semelhantes a locuções, como agora-agora, assim-assim, logo-logo, mal-(e-)mal, sem-número, sem-par, tão-só, tão-somente; etc. Há casos de hífen prévio em um elementos da locução: a (seu) bel-prazer, à beira-mar, ao deus-dará, ao luscofusco, à queima-roupa, voltar à vaca-fria, cheio de novehoras, de mão-cheia, de meia-tigela, etc. Certos elementos de locução acabam aglutinados progressivamente: abaixo de, acerca de, ademais, debalde ou embalde, decerto, defronte, depressa, devagar, destarte, deveras, embaixo, entretanto, malgrado, outrossim, porventura, qualquer, sobremaneira, sobretudo, tampouco. Nos casos em que já não há consciência da composição, por perda de tonicidade própria ou falta de autonomia mórfica: aguardente, aguarrás, alçapão (ou mão-cheia), mandachuva (mas guarda-chuva), passatempo, pontapé, quefazer, rodapé, sanguessuga, sobremesa, vaivém, viravolta, etc. Nas prefixações que não estejam no estrito condicionamento regulado pelas normas oficiais: aeroporto, agroindustrial, agropecuário, audiovisual, bicampeão, tricentinario, tetracampeonato, eletroímã, macrorregião, microrregião, radiouvinte, sobreloja, subsolo, subabitação, subumano, telerrepórter, etc. Alguns prefixos e elementos prefixados nunca seguidos de hífen, segundo o vocabulário oficial acro endo iso aer(o) filo justa anfi fisio labio apico gastr(o) linguo auri ge(o) macro auro hemi maxi bi(s) hepta medio bio hetero mega cata hexa meso cerebr(o) hidr(o) meta cervico hip(o) micr(o) cis homo mini de(s) idio mono di(s) ido moto ego in multi ele(c)tro intro nefro neutro quadri tetra novi quarti trans oct(o) quilo traque(o) oni quinq tras orto radi(o) tres oto re tri para retro turb(o) penta rino uni per sacro uretr(o) peri sesqui vas(o) poli socio vesic(o) pos subter xanto pre sulf(o) xilo pro tele zinco preter termo zoo psic(o) ter Sempre que haja vogal de ligação: alviazul, agropastoril, geociências, natimorto, sociolinguística, setissílabo... Nas elipses de elementos hifenizados que se repetiam numa coordenação: além e aquém-mar; ama-seca ou deleite; bem e mal-educado; laranja-do-céu e da-baía; um ponta-direita ou esquerda; segunda, terça ou quarta-feira. HÍFEN ESTILÍSTICO Para transmitir certos matizes semânticos, com o intuito de tornar uma o texto mais expressivo, escritores empregam o hífen de modo não previsto nas normas oficiais e, não raro, até contrário a ela. Exemplos: Fernando Pessoa — Álvaro de Campos: "o grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências." Carlos Drummond de Andrade: "como a um não-morrer-morrido." Gustavo Corção, Liçòes de Abismos: "um homem-que-sabe-que-vai-morrer" Na poesia, a divisão silábica tem sido usada expressivamente: "E estava até um fumo, que subia, Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado." (Mario Quintana.) "[...] donzelas opulentas que ao piano abemolavam ‘bus-co a cam-pi-na-se-re-na pa-ra-li-vre-sus-pi-rar’" (Carlos Drummond de Andrade.) PARÁGRAFO Parágrafo ou alínea é a "seção de discurso ou de capítulo que forma sentido completo, e que usualmente se inicia com a mudança de linha e entrada." (Parágrafo, do grego: para=perto, grafo=escrevo; alínea, latino: a=de (afastamento), linea=linha.) São as seções de um livro, capítulo ou discurso, podendo conter um ou mais períodos. Normalmente encerra um pensamento ou grupo de pensamentos e indica uma pausa mais forte. Seu conteúdo guarda certa relação entre o parágrafo antecedente e o subsequente. Literariamente, as regras para uso do parágrafo não são arbitrárias, dependendo do critério e do estilo do autor. Por exemplo: "Mas o sino o atraía, naquela manhã cinzenta. Voltou a olhá-lo. Ouvia seu repicar, sentado à porta de seu rancho, lá na Fazenda. A Fazenda... Cafezal do bom! A geada... Que tristeza!" (Sassarico, L. P. Baçan.) Isso não ocorre, porém, em decretos, leis e outros documentos formais, em que os parágrafos são determinados pelo assunto exposto. Nesses casos, é costume assinalar o parágrafo com o símbolo formado por dois ss entrelaçados, inicias das palavras latinas signum sectionis = sinal de secção, de corte. Quando, porém, houver a necessidade de se assinalar a existência de um único parágrafo, o sinal não é utilizado e o parágrafo é assinalado por escrito. Exemplo: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela União indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. (Constituição da República Federativa do Brasil.) Caso sejam relacionados mais de um parágrafo, obrigatoriamente eles serão numerados, como no exemplo abaixo: Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil. § 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter símbolos próprios. (Constituição da República Federativa do Brasil.) PARÊNTESES São sinais "()" usados para isolar palavras ou frases intercaladas num período. Segundo o dicionário, são sinais de pontuação que encerram (isolam) frases intercaladas num período ou períodos intercalados num texto, formando sentido à parte. Exemplo: Todos aguardavam o começo da história (ele tomou um gole de café e acendeu o pito lentamente), cumprindo um ritual conhecido de todos. Podem ser utilizados também, juntamente com as reticências, para indicar a supressão de uma frase ou de um trecho de uma transcrição. Exemplo: Lê-se claramente no livro: "A cidade (...) é o berço e o túmulo do homem." Os parênteses também podem ser utilizados em sua forma angular "[]", sendo chamados de colchetes ou parênteses quadrados. Observe, no exemplo acima, que a vírgula foi colocada após o segundo parêntese e não antes desse, pois a intercalação coincidiu com esse ponto do período. Sem a intercalação, teríamos: Todos aguardavam o começo da história, cumprindo um ritual conhecido de todos. Obviamente, se a intercalação fosse num outro ponto do período, não haveria necessidade de colocação da vírgula, uma vez que o período continua tendo sua pontuação normal e uso dos parênteses não exige tratamento especial nesse sentido. Veja como ficaria o exemplo, com a intercalação em outro ponto do período: Todos aguardavam (ele tomou um gole de café e acendeu o pito lentamente) o começo da história, cumprindo um ritual conhecido de todos. Ou: Todos aguardavam (ele tomou um gole de café) o começo da história, cumprindo um ritual (acendeu o pito lentamente) conhecido de todos. Quando uma frase inteira ou uma unidade autônoma se acha isolada pelos parênteses, deve ser pontuada normalmente. Exemplos: Ela me disse (finalmente!) que me amava. Voltou a gritar o lema (Viva a França!) que o levaria à morte. Isso é muito frequente quando, ao final de uma citação, menciona-se o nome do livro, do autor ou ambos. Exemplos: (Memórias Póstumas de Brás Cubas.) (Gonçalves Dias, "Canção do Exílio".) (Fernando Pessoa, Mensagem.) (Mario Quintana.) Quando isso acontece, não pode haver simultaneamente pontos finais antes e depois dos parênteses. Se houver um ponto final antes, o próximo ponto final antes do segundo parênteses. Exemplo: Começou a tecer os pontos. Trabalho mecânico. Automático. Podia fazê-lo de olhos fechados, entregue aos pensamentos. (Sassarico, L. P. Baçan.) Ou: Começou a tecer os pontos. Trabalho mecânico. Automático. Podia fazê-lo de olhos fechados, entregue aos pensamentos (Sassarico, L. P. Baçan). Jamais: Começou a tecer os pontos. Trabalho mecânico. Automático. Podia fazê-lo de olhos fechados, entregue aos pensamentos. (Sassarico, L. P. Baçan). Ou: Começou a tecer os pontos. Trabalho mecânico. Automático. Podia fazê-lo de olhos fechados, entregue aos pensamentos (Sassarico, L. P. Baçan.). A oração intercalada, quando for completa, encerrando uma consideração ou um pensamento independente será iniciada por letra maiúscula. Exemplo: Quando o lobo mau sentiu o calor do fogo em suas calças (Ele imitou o desespero da personagem.) e ouviu os latidos dos cachorros, tratou de fugir logo. Estilisticamente, parênteses muito longos podem prejudicar a clareza de um período. Recomenda-se critério no seu uso, principalmente nas dissertações. Quando a frase intercalada for curta, pode ser mais conveniente substituir os parênteses por vírgulas ou travessão. Exemplos: Ela me disse, finalmente!, que me amava. Eu não sabia — quem sabe, afinal de contas, depois de ter amado tanto? — o significado do amor. Parênteses também são utilizados com frequência para incluir um número (1) de referência ou de ordem num texto, uma data (8 de janeiro de 1950), uma letra (a) de referência ou de ordem, um asterisco (*) ou qualquer outro sinal fora do contexto. Na indicação dos diversos itens de um texto, é comum iniciar o período usando apenas o segundo semicírculo: a) — b) — c). O asterisco entre parênteses serve para chamar a atenção do leitor para as observações ou notas no final do texto ou da página. Preste atenção a este detalhe: parênteses, plural, indica os dois semicírculos; parênteses, singular, indica o conjunto dos dois semicírculos e de seu conteúdo, parêntese, singular, cada um dos sinais gráficos. Exemplos Entre os parênteses, intercale a oração exclamativa. Abrimos um parênteses para explicar o significado da palavra. Após o último parêntese, coloque a vírgula. Se você estiver lendo um texto em voz alta ou fazendo um discurso onde surja uma oração intercalada por parênteses, lembre-se de que esse trecho deve ser lido ou proferido num tom um pouco mais baixo do que o do contexto. PONTO DE EXCLAMAÇÃO O Ponto de Exclamação ou de Admiração marca as palavras, frases, orações ou expressões que exprimem admiração, espanto ou surpresa. Para melhor entender, vejamos qual é o conceito de exclamação, segundo o dicionário: "Ato de exclamar; voz, grito ou brado de prazer, alegria, raiva, tristeza, dor." Exemplos: Viva, ganhei meu presente! Isto é muito bom! Aquilo me deu um ódio! Deus, como eu sinto a falta do meu amor! O Ponto de Exclamação é empregado também depois das interjeições. Vamos ver o que é uma interjeição: palavra invariável que exprime as manifestações vivas e súbitas da alma, como a dor, a alegria, o medo, o espanto, etc. É uma palavra invariável porque não flexiona em gênero (masculino e feminino), número (singular e plural) ou grau (aumentativo e diminutivo). Podem ser classificadas conforme os sentimentos que exprimem. Por exemplo: a) de alegria: ah! oh! eh! b) de animação: eia! sus! coragem! c) de apelo: ó! olá! psit! psiu! alô! d) de aplauso: bom! Muito bem! bravo! Apoiado! e) de aversão: ih! chi! irra! apre! f) de desejo: oxalá! oh! tomara! g) de dor: ai! ui! h) de silêncio: chitão! caluda! psiu! tá! Há também interjeições imitativas ou onomatopaicas. E você sabe o que é uma onomatopeia? É: "Palavra cuja pronúncia imita o som natural da coisa significada (murmúrio, sussurro, cicio, chiado, mugir, pum, reco-reco, tique-taque.) Exemplo de interjeições onomatopaicas: zás! bam! vupt! Além disso, as interjeições podem ser Simples — ai, oh! — e Compostas ou Locuções interjetivas — aqui-praele! coitado de mim! Estilisticamente, o ponto de exclamação pode vir junto do ponto de interrogação para indicar, ao mesmo tempo, uma indagação e uma admiração ou vice-versa. Exemplos: Se o amor está no coração, por que ter um coração?! Dizem que estamos aprendendo inglês para navegar na Internet!? Quando você escrever, fique atento à diferença entre ó e oh! Ó: "Usado para chamar alguém, para conciliar-lhe atenção, para invocar, e, ainda, para exprimir vários afetos e impressões da alma: "Deus! ó Deus!" É usado junto a um vocativo. (Para recapitular o que é "Vocativo", veja em "Vírgula".) Oh!: "Exprime espanto, surpresa, alegria, tristeza, admiração, lástima, repugnância e outras impressões vivas ou súbitas: Oh! você por aqui?; "Oh! que saudades que tenho." É usado obrigatoriamente no encerramento de uma oração com verbo no imperativo. (Imperativo – modo verbal: forma assumida pelo exprimir uma ordem, imposição, ditame, dever, etc. Exemplos: Ouça-me agora mesmo! Devo esquecê-la! Faça isso! Siga seu coração! PONTO DE INTERROGAÇÃO O sinal chamado Ponto de Interrogação (?) é usado no fim de uma palavra, oração ou frase, indicando uma pergunta direta. Na leitura, deve ser marcada com uma entonação ascendente. Exemplos: Quem foi o culpado? Quer alguma coisa aqui? Observe que o ponto de interrogação não é usado, quando se tratar de uma pergunta indireta. Exemplos: Quero que me digas tudo agora! Vou esperar você me dizer tudo. Nem sempre esse ponto encerra o. Nos diálogos, por exemplo, indica a pergunta, sempre que o período tiver sequencia e a letra que vem depois dele deve ser minúscula, a menos que seja um nome próprio. Nas palavras, frases ou orações intercaladas ocorre o mesmo. Exemplos: — Quem fez isso? — indagou o professor. — Ficamos sem resposta, e quem saberia responder?, diante daquele enigma. A Lei (quem pode desmentir?) é a único instrumento de justiça a ser preservado. Pode surgir combinado com o ponto de exclamação ou com as reticências. Exemplos: — Eu?! Quem me dera! Poderia ser a mesma pessoa que...? Não, jamais! PONTO E VÍRGULA A melhor maneira de entender o uso do Ponto e Vírgula (;) é comparando-o ao ponto (.) e à virgula (,) isoladamente. Inicialmente, em termos de leitura, situa-se num ponto intermediário entre os outros dois. Funcionalmente, a vírgula separa conceitos, ideias e frases; o ponto e vírgula separa juízos e orações; o ponto final indica o término do raciocínio ou do período. É usado nos seguintes casos: a) Para separar orações absolutas de certa extensão, sobretudo se possuem partes já separadas por vírgula. Lembra-se o que é uma oração absoluta? Oração absoluta é a que forma, por si, sentido completo ou independente. Exemplo: A vida é uma caminhada na direção da morte. Vim, vi, venci. Podemos ter duas orações com sentido completo, unidas por uma conjunção coordenativa. Exemplo: O estudo abre a mente e os livros desvendam o mundo. Vim, vi e venci. Exemplos do emprego de ponto e vírgula nesses casos: O estudo abre a mente; os livros desvendam o mundo. De tudo que há no mundo, nada pode ser mais perigoso que uma palavra mal empregada; nada mais terrível, nada mais abominável. Todos descendemos do pecado original; pecadores já no nascimento. b) Para separar as partes principais de uma frase cujas partes complementares estão separadas por vírgulas. Exemplo: A falta era grave, todos sabiam, embora não mencionassem; talvez isso fosse mais grave que a própria falta. Os mais velhos traziam seus rosários, seus livros, suas riquezas; os mais novos, apenas a esperança. c) Para separar considerados no preâmbulo de um decreto, portaria, sentença, acórdão ou documento semelhante. Exemplo: Considerando o que faculta a lei 1234, de 01/02/34; Considerando as necessidades da Escola: Considerando as últimas resoluções aprovadas pelo Grêmio Estudantil: Ficam os alunos da escola liberados do uso de uniformes no período noturno... Note que, após o último considerando, a pontuação correta é com Dois Pontos. PONTO FINAL Acreditamos que, em relação aos sinais de pontuação, este é um dos mais fáceis de ser entendido. O ponto final é empregado para fechar ou finalizar um período gramatical. Exemplos: O navio fez-se ao mar e uma grande apreensão invadiu os habitantes da aldeia. Vim. Vi. Venci. É usado, também, nas abreviaturas. Exemplos: Sr. (senhor), a.C. (antes de Cristo), pág. (página), P.S. (Post scriptum), etc. Quando o período, oração ou frase termina por uma abreviatura, não se coloca o ponto final adiante do ponto abreviativo, que tem, nesses casos, dupla serventia. Exemplos: A erupção do vulcão deu-se em 65 a.C. Os alunos traziam, como sempre, canetas, cadernos, livros, pastas, etc. Eduardo Carlos Pereira, em sua Gramática Expositiva, ministra uma breve e significativa aula a respeito do uso do ponto final na divisão dos período. Vale a pena transcrevêla: Mais comumente os períodos se relacionam entre si para constituírem o discurso. Neste caso devem eles conter um pensamento completo e gramaticalmente independente da série dos pensamentos parciais, cuja totalidade forma o discurso. Não há, nem pode haver, regras fixas para a divisão dos períodos assinalados pelos ponto final. Em nosso clássicos havia a tendência de amplificar o pensamento em longos períodos, recheados de multiplicadas circunstâncias, dificultando a inteligência da frase. A tendência moderna é resolver essas circunstâncias em novos períodos, encurtando-os e multiplicando-os, e tornando, destarte, a expressão do pensamento geral mais analítica e mais clara. Do critério e traquejo literário do escritor depende a boa divisão dos períodos no desenvolvimento de qualquer assunto." Não menos significativa e complementar é a opinião de Napoleão Mendes de Almeida, em sua Gramática Metódica da Língua Portuguesa: "Indica o ponto final a conclusão do período gramatical. São desnecessários, para o caso, exemplos; uma observação, no entanto, devo fazer; tome o aluno um trabalho literário de clássicos nossos, e veja o período: longo, "recheado de múltiplas circunstâncias, de compreensão árdua". Modernamente, o período se resolve, multiplica-se em períodos mais curtos, de acordo com as circunstâncias, tornando-se mais claro, rápido e incisivo. Regra, porém, não há, nem pode haver, para a divisão dos períodos gramaticais. É assunto que depende em grande parte do autor, pertencendo-lhe ao estilo. "Do critério e traquejo literário do escritor depende a boa divisão dos períodos no desenvolvimento de qualquer assunto". Não devemos levar ao exagero a multiplicação dos períodos. Se os longos períodos dos clássicos produzem cansaço, os períodos demasiadamente curtos de certos modernistas causam fastio. Se coisa bela existe em literatura é saber o escritor concatenar subordinadas e coordenadas, dando ao período um todo harmonioso, fluente, natural. Quando, terminado um período, podemos começar o outro na mesma linha, e quando começá-lo na linha seguinte? A sequencia do pensamento é que deve servir de critério. Havendo separação, havendo corte no pensamento, começa-se o período seguinte na outra linha; se o pensamento continua constituindo o período seguinte consequência ou continuação do período anterior, o novo período se inicia na mesma linha." RETICÊNCIAS As reticências (...) indicam uma interrupção no pensamento, a desnecessidade de exprimi-lo ou uma hesitação. São usadas, principalmente para indicar: a) suspensão, interrupção do pensamento ou corte da frase de um personagem pelo interlocutor, nos diálogos. Exemplos: — Por muito tempo eu pensei que ele fosse o culpado... mas estava enganado. Mão me diga que... A saudade dói... b) hesitação ou breve interrupção do pensamento no meio do período.: — Não sei... tudo isso aconteceu de repente. c) sugerir o prolongamento da ideia no fim de um período gramaticamente completo. Exemplos: Estes sonhos todos, juro, não serão em vão... Silêncio... A cidade dorme... A lua derrama-se sobre as ruas vazias... A brisa sopra suavemente... Mal balança os galhos da roseira... d) sugerir movimento ou a continuação de um fato. Exemplos: E os dias se sucedem sempre iguais... As folhas caiam... caiam... caiam... Anunciava-se o inverno. e) substituir o ponto de interrogação para indicar chamamento ou interpelação. Exemplos: — José... — chamou ela. — Maria... Onde estará você? f) assinalar a supressão de palavra(s) numa frase transcrita ou num excerto. Pode vir ou não entre parênteses. Exemplos A vida... foi feita para ser vivida. Ali constava a declaração: "Declaro (...) que sou culpado. É bom lembrar que, nesses casos, as reticências são meramente gráficas e não interferem na entonação, durante a leitura. Além disso, como recurso estilístico, as reticências, tanto quanto o ponto de exclamação, são sinais gráficos que podem ser sugestiva e criativamente explorados, pelos seus matizes, na linguagem afetiva e poética, de modo arbitrário e subordinado ao estado emotivo do autor. Por outro lado, numa dissertação, seu uso pode comprometer o sentido, tornando-o vago e frouxo. O bom senso deve ditar sempre sua utilização, adequando-o ao contexto. TRAVESSÃO Travessão (—) é um traço maior do que o hífen, usado para: a) indicar o início da fala de um personagem ou a mudança de interlocutor num diálogo. Exemplos: — Quem vem lá? — Um solitário que deseja companhia. b) separar expressões ou frases explicativas ou apositivas. Exemplos: Ali estava o símbolo de uma nova vida — a América. Mostrou a casa — sinistra mansão — onde morava. O travessão substitui o parênteses, as vírgulas e os dois pontos num recurso estilístico muito expressivo, isolando palavras ou orações, enfatizando o pensamento ou chamando a atenção do leitor. Exemplos: 1) Chegaram, afinal, ao porto seguro: Rio de Janeiro. Chegaram, afinal, ao porto seguro — Rio de Janeiro. 2) Era um homem severo (muito) aquele porteiro. Era um homem severo — muito — aquele porteiro. 3) — Não sei, disse ele, quem é o responsável. — Não sei — disse ele — quem é o responsável. c) ligar palavras que formam um encadeamento, indicando um itinerário. Exemplos: A fronteira Brasil — Paraguai. Voo São Paulo — Lisboa — São Paulo todo mês. d) evitar a repetição de um termo já mencionado. Exemplos: Xavier (José Joaquim da Silva —). Ser (Sintaxe do verbo —). VÍRGULA Este é, com certeza, o sinal de pontuação que mais dores de cabeça provoca em quem escreve. Há uma história de um escritor que, ao ser indagado por um amigo sobre o que estivera fazendo durante toda uma manhã, respondeu: — Colocando uma vírgula num poema. — E o que fizeste a tarde toda? — indagou o outro — Tirando-a. Exageros à parte, já vimos, no início deste livro, a importância da pontuação no sentido e isso nunca é demais repetir. A vírgula apresenta dificuldades em seu uso? Sim e não. Tudo isso vai depender de seu grau de familiaridade com a língua. Quando mais ler e observar a pontuação empregada pelos mestres, mais natural lhe será o uso dela. É possível sistematizar o estudo da colocação da vírgula? Sim, claro. Para isso, vamos estudá-la segundo sua colocação no interior de uma oração, separando seus termos, ou no período, separando orações. Antes disso, porém, vejamos o que disse Napoleão Mendes de Almeida, na Gramática Metódica da Língua Portuguesa, a respeito da vírgula: "É comum vermos esta doutrina: "A vírgula indica pequena pausa". — De fato, essa indicação tem a vírgula, mas não devemos aceitar como certa a recíproca: "Havendo pausa, há vírgula". Essa recíproca induz a erros; pausas existem que na leitura se fazem meramente por ênfase; vezes há — e isso facilmente poderá comprovar o aluno — que separamos, na leitura ou em um discurso, o sujeito do verbo; outras, em que separamos o verbo do seu complemento, mas erro cometeremos se graficamente representarmos tais pausas por vírgula, por que não se pode pôr vírgula entre sujeito e o verbo nem entre o verbo e o seu complemento, ou seja, não se concebe que se separem termos que mantém entre si relação sintática. Em grande número de casos, as vírgulas exercem papel de parênteses; aberto o parêntese, claro é que o devemos depois fechar: "Pedro (de acordo com as ordens recebidas) partiu". — Se por vírgulas substituirmos os parênteses que entram nesse período, teremos: "Pedro, de acordo com as ordens recebidas, partiu". A supressão de uma das vírgulas constituirá erro, pois virá quebrar a concatenação da oração, por separar o sujeito Pedro do verbo partiu: OU AMBAS AS VÍRGULAS SE COLOCAM, OU AS DUAS SE TIRAM. Essa simples norma engloba várias regrinhas comumente oferecidas em gramáticas. Sem que a pessoa saiba o que venha a ser oração interferente, subordinada adjetiva explicativa, aposto, vocativo, saberá colocar com precisão as vírgulas. Exemplos ofereço em que, para mostrar a sequencia do período, os parênteses aparecem em lugar das vírgulas: "Damão (condenado à morte) impetrou ir primeiro à sua casa" — "Vem ( tu que dúvidas da honra) observar o proceder deste pobre" — Francisco (com dinheiro ganho no negócio) comprou uma linda chácara" — "Diógenes (filósofo cínico) morava dentro de uma cuba"— "Os reinos e as terras (segundo a sentença do Eclesiástico) passam de umas a outras gentes"— "Nem mesmo agora (disse deles o chefe) devemos retroceder" — "O homem (que é mortal) é apenas forasteiro na terra". Uma vez, em todos esses exemplos, excluídas a locução que ficou entre parênteses, aparecerão ligados os termos essenciais da oração ou os que tenham entre si íntima relação sintática: "Damão impetrou ir..." — "Francisco comprou..." "Vem observar... " — "Diógenes morava..."etc." Sem dúvida, para os casos citados, a orientação do Prof. Napoleão pode ajudar muito no caso de uma dúvida. Mas, para que não reste a menor dúvida, vamos analisar o emprego da vírgula segundo a proposta inicial: sua colocação. A Vírgula é usada no interior da oração para: a) separar os elementos de uma enumeração. Exemplos: A família estava completa: pai, mãe, filhos e o cachorrinho. Quero três balões: um azul, um verde e um vermelho. b) Nos casos de polissíndeto ("Espécie de pleonasmo que consiste em repetir uma conjunção maior número de vezes do que o exige a ordem gramatical. Ex.: "E zumbia, e voava, e voava, e zumbia." (Machado de Assis, Poesias Completas, p. 314); "Contra a destruição se aferra à vida, e luta, / e treme, e cresce, e brilha, e afia o ouvido, e escuta / A voz, que na solidão só ele escuta, - só" (Olavo Bilac, Poesias, p. 269.)" Outro exemplo: Ou ele, ou eu, ou alguém, afinal, fará o trabalho. E chove, e troveja, e caem raios, assustando a todos. Observe que, nos exemplos, a presença da conjunção "e" não impediu o uso da vírgula. Nesses casos, a construção é um recurso estilístico empregado pelo autor para enfatizar os acontecimentos. c) Isolar o vocativo. Para isso, é importante que você saiba exatamente o que é o vocativo. Trata-se de um termo independente, usado para chamar por alguém, interpelar ou invocar um ouvinte real ou imaginário. Representa um apelo ou um chamado. Veja o exemplo: Crianças, deixem de bagunça! A palavra "crianças" indica um apelo, um chamado, por isso é um vocativo, que pode vir no começo, no meio ou no fim de uma oração, sem prejuízo do sentido. Exemplos: Crianças, deixem de bagunça! Deixem, crianças, de bagunça! Deixem de bagunça, crianças! O que nos interesse, particularmente, no estudo do vocativo aqui é observar que ele vem sempre acompanhado de vírgula. Além disso, pode também aparecer sozinho ou acompanhado da interjeição "ó": Crianças, deixem de bagunça! Ó crianças, deixem de bagunça! Preste atenção, nesses casos, para a interjeição usada. Não confunda "ó", que aparece nos vocativos, com "oh!", usada nas orações exclamativas. Este indica admiração, não tem acendo e é seguido de "h" e ponto de exclamação. Pode, também, vir acompanhado de um adjunto. Exemplos: Crianças travessas, deixem de bagunça! Crianças da primeira série, deixem de bagunça! Ou pode ser constituído de duas ou mais pessoas, separadas por vírgulas ou pela conjunção aditiva. Exemplos: José, Manuel, façam o trabalho agora! José e Manuel, façam o trabalho agora! d) Isolar o aposto. Aqui também é necessário um parênteses para que o conceito de aposto fique perfeitamente entendido. Aposto é um tipo de adjunto adnominal e pode ser definido como uma palavra ou grupo de palavras que explica um ou vários termos expressos numa oração. Ou , ainda, "é o termo que explica, desenvolve, identifica ou resume um outro termo da oração, independente da função sintática que este exerça", na definição do professor Dilson Catarino. Exemplos: Victor Hugo, escritor, era francês. Curitiba, capital ecológica e turística do Paraná, é muito visitada. No primeiro exemplo, o aposto "escritor" explica quem era a pessoa citada. No segundo, ele acrescenta explicações ao sentido da palavra "Curitiba". Observe, também, que nos dois exemplos, o aposto, vindo após o fundamental, a palavra explicada ou modificada (Victor Hugo e Curitiba), é colocado entre vírgulas. Pode constituído de títulos profissionais ou hierárquicos e, como na regra anterior, sempre que vier depois do fundamental, será separado por vírgulas. Exemplos: Caixa, o duque, foi um grande pacificador. Fernando Henrique, o presidente, estabilizou a moeda. Francisco, o tenente, era o líder da tropa. O aposto pode também ser formado por uma Oração Subordinada Adjetiva Explicativa. Exemplos: Iracema, que é um livro de José de Alencar, conta a história de Ceci e Peri. Todo homem, que é corajoso, também é um pouco de louco em si. e) Isolar palavras e expressões explicativas, resumitivas, continuativas, conclusivas, retificativas, enfáticas e as conjunções intercaladas de um modo geral. Exemplos: Era, sem exagero de minha parte, a coisa mais feia do mundo. A mim, com certeza, ninguém desafiaria. Todos, quero dizer, quase todos são culpados. f) Separar o adjunto adverbial antecipado. Se você não conhece bem o assunto, este é o momento de recapitular. Advérbio é uma palavra invariável cuja função é modificar o adjetivo, o verbo e o próprio advérbio, acrescentando-lhe alguma circunstância. Por exemplo: Bom (adjetivo) Muito bom (advérbio + adjetivo) Sintaticamente, os advérbios podem ser simples (aqui, hoje, talvez, não, etc.) ou conjuntivo, que acumulam a função de conjunção (onde, quando, como, enquanto, entretanto, etc.) Quanto ao sentido, classificam-se em tantas classes quantas as circunstâncias que indicam. Exemplos: 1) de lugar: aqui, ali, acolá, aquém, longe, perto, adiante, dentro, fora, onde, algures, nenhures, alhures, abaixo, acima. 2) de tempo: hoje, ontem, amanhã, cedo, tarde, nunca, sempre, ora, agora, então, antes, depois, ainda, entrementes, presentemente, atualmente. 3) de modo: bem, mal, assim, apenas, acinte, adrede, rente, cerca, ainda, também. Os terminados em "mente" são formados geralmente de adjetivos: normalmente, bondosamente. 4) de qualidade: muito, pouco, bastante, assaz, mais menos, tão, quão, tanto, quanto, que, algo, quase, meio, metade, todo. 5) de ordem: primeiro, primeiramente, secundariamente, antes, depois. 6) de afirmação: sim, deveras, certamente. 7) de dúvida: talvez, quiçá, caso, acaso, porventura. 8) de negação: não, nunca, jamais, nada. 9) de designação: eis, eis-que, eis-aqui, eis-aí, eis-ali. Quanto à forma, classificam-se em Advérbios propriamente ditos e Locuções Adverbiais. Advérbios propriamente ditos são palavras simples ou compostas, como as vistas acima. Locuções adverbiais são duas ou mais palavras que exprimem uma das circunstâncias próprias dos advérbios. Exemplos: Às claras, às cegas, às tontas, às pressas, ao longe, a granel, a súbita, a cavalo, à bala, a esmo, a fio, à sorrelfa, à socapa, a prumo, a olho, ao vivo, a tiro, de primeiro, de força, de longe, de golpe, de roldão, de chofre, de vagar, de indústria, de seguro, de gatinhos, de rojo, de improviso, em barda, sem dúvida, com certeza, pouco a pouco, a pouco e pouco, de mais, nunca jamais, a seu tempo, a tempo, de tempos, de tempos a tempos, de juro, de ato, pelo contrário, ao contrário, em breve, dentro em pouco. Como palavra que altera o sentido de uma outra, o normal é que venha logo após a palavra alterada. Quando o advérbio ou o adjunto adverbial está deslocado de sua posição natural, deve ser isolado por vírgulas. Exemplo: O aluno morava longe (longe altera o sentido de "morava" e sua posição normal é após o verbo). Longe, morava o aluno (a vírgula assinala o deslocamento. A vírgula pode ser dispensada se o adjunto adverbial tiver pouca extensão, constituído de uma só palavra, por exemplo. Mantê-la, nesses casos, só se justifica se for para dar ênfase ao adjunto. Exemplo: Trabalha-se aqui ( ordem normal). Aqui, trabalha-se (adjunto deslocado e isolado por vírgula). Aqui trabalha-se (adjunto deslocado sem vírgula). Depois de "sim" ou "não", colocados no principio da sentença, ;é obrigatório o uso da vírgula. Exemplos: — Sim, é nossa obrigação. — "Não, isso é obrigação do governo. Da mesma forma, depois de "assim", "então", "demais" e de outros advérbios e locuções adverbiais, empregados em princípios de sentenças, com sentido de conjunção. Exemplos: Então, o que vai fazer? Assim, confiamos em você. Afinal, ninguém pediu aquilo. g) Separar termos repetidos. Exemplos: Tudo, tudo justificava uma ação rápida. Ninguém, ninguém mesmo tinha o direito de fazer isso. Tudo se resume a nada, nada, nada. h) Indicar facultativamente a omissão de um termo da oração, subentendido ou citado anteriormente. Essa figura é chamada de zeugma. Exemplo: O carro de Mário era azul e o de Lourenço, vermelho (a vírgula substitui o verbo "era", evitando a repetição). i) Separar nomes de lugares nas datas. Exemplo: Londrina, 1 de outubro de 1999/ Para finalizar o uso da vírgula no interior da oração, é importante lembrar que ela jamais deve ser usada para separar: 1. o sujeito do predicado. Exemplos: Correto: Mário gosta de estudar. Errado: Mário, gosta de estudar. Correto: As alunas e as professoras da escola correram assustadas. Errado: As alunas e as professoras da escola, correram assustadas. 2) o verbo de seu complemento, seja objeto direto, indireto ou um predicativo. Exemplos. Correto: Visitamos a casa grande da colina. Errado: Visitamos, a casa grande da colina. Correto: Todos nós precisamos de dinheiro. Errado: Todos nós precisamos, de dinheiro. Correto: Maria é uma jovem encantadora. Errado: Maria é, uma jovem encantadora. A Vírgula é usada entre orações para: a) Separar Orações Coordenadas Assindéticas, isto é, orações que não são separadas por conjunção. Vamos aproveitar o ensejo para recapitular o assunto? Período é uma ou mais orações com sentido completo. Divide-se em período simples, quando constituído de apenas uma oração, e composto, quando formado por duas ou mais orações. Os períodos compostos, por seu turno, podem ser por coordenação ou por subordinação. Por coordenação: "Modalidade de construção de períodos na qual as orações têm sentido independente e são separadas por vírgula ou ponto e vírgula, ou são relacionadas entre si por conjunções coordenativas. Ex.: Entrou na sala, olhou apressadamente ao redor e saiu." Por subordinação: "Modalidade de construção de períodos na qual uma ou mais orações, ditas subordinadas, dependem de outra(s) ou da principal: Sei que ele sairá; Sei que ele é meu amigo e que não me trairá." Neste último, sem a oração subordinada o período fica incompleto, sem sentido. As orações classificam-se em absolutas, principais, coordenadas e subordinadas. Oração absoluta é a que tem sentido completo ou independente. Exemplos: Todos chegaram à mesma hora. As meninas foram embora cedo e os meninos ficaram. As crianças ficaram na casa, mas os adultos tiveram de enfrentar o sol. Observe que as orações do segundo e do terceiro períodos, muito embora unidas por conjunções, têm seu sentido completo se escritas isoladamente (As meninas foram embora cedo. Os meninos ficaram. As crianças ficaram na casa. Os adultos tiveram de enfrentar o sol.) Oração principal tem o sentido principal no período e embora não dependa de outra oração, é completada por outra ou outras orações, a ela subordinadas. Por exemplo: Convém que você venha. A oração principal "Convém" pode existir por si, mas seu sentido se amplia e fica mais específico, quando acompanhada de uma oração subordinada (que você venha). Oração coordenada é a que se liga a uma outra de igual função por uma conjunção coordenativa. Em determinados casos, pode exercer o duplo papel de oração coordenada e subordinada. Quando separada da anterior por vírgula, temos uma oração coordenada assindética. Quando unida por conjunção coordenativa, temos uma oração coordenada sindética. Exemplos: Todos chegaram e realizaram suas tarefas. Quero que me ouças e que voltes cedo hoje. No primeiro exemplo, "e realizaram suas tarefas" é uma oração coordenada sindética, porque separada pela conjunção aditiva "e". No segundo exemplo, "Quero" é a oração principal; "que me ouças" e "que voltes cedo" são orações a ela subordinadas. Além disso, "que voltes cedo" é uma oração coordenada sindética em relação à anterior, "que me ouças". As orações coordenadas sindéticas podem ser aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas, conforme sua função no período. Oração subordinada completa o sentido da principal, de que depende e a qual é ligada por conjunções subordinativas ou pelas formas nominais do verbo. Dividem-se em Substantivas, Adjetivas e Adverbiais, conforme a função. b) separar Orações Subordinadas Adverbiais, especialmente quando antepostas à principal. Exemplos: Porque fiz minhas tarefas, fui dispensado da aula. Ainda que eu fale a língua dos anjos, jamais seria entendido. Caso todos compareçam, aprovaremos o projeto. Se eu pudesse, teria ido imediatamente. Ao embarcar, sua expressão era de tristeza. Calando-se a multidão, ele começou seu discurso. Entendida a lição, o professor passou os exercícios. c) separar Orações Substantivas, quando antepostas à principal. Exemplos: Quanto pede, todos sabemos que é demais. Aos que começam, apresentamos nossas saudações. Àqueles que chegam com coragem, saudamos. d) Isolar orações intercaladas de qualquer natureza. Exemplos: Admitir o erro, convenhamos, é a melhor coisa a fazer. Ele sorriu, todos sorriem sempre, quando a garota protestou. e) isolar Orações Subordinadas Adjetivas Explicativas. As orações subordinadas adjetivas são classificadas em Explicativa e Restritiva. A Oração Subordinada Explicativa indica uma qualidade inerente ao substantivo a que se referem, sendo uma simples explicação, realçando um detalhe do termo que o precede. São dispensáveis ao sentido da frase: "O homem, que é mortal, acredita na imortalidade." A Oração Subordinada Restritiva, por seu turno, delimita o sentido do termo que a precede, particularizando-o. Se eliminada, causa prejuízo ao sentido da oração principal. Liga-se em sem pausa a um substantivo ou a um pronome)antecedente, não sendo separado por vírgula: "O homem que é justo não se afasta dos princípios da lei e da religião." No primeiro exemplo, "que é mortal", o sentido é amplo, pois todos os homens são mortais. No segundo, esse sentido é restringido, pois nem todos os homens são justos. Exemplos de orações subordinadas adjetivas explicativas: f) Separar os membros paralelos de um provérbio ou ditado. Exemplos: Mão fria, coração quente. Banho e cama, doença chama. Chuva e sol, casamento de espanhol. Sol e chuva, casamento de viúva. Casos especiais de uso da Vírgula: a) Usa-se a vírgula antes da conjunção "e" quando: 1) a conjunção dá início a uma outra oração no período e o sujeito dessa oração é diferente do sujeito da oração anterior. Exemplos: Fomos até lá, e a casa estava fechada. José havia encontrado um trabalho, e seu patrão pediu que iniciasse imediatamente. 2) o "e" tem sentido de conjunção adversativa, equivalendo a "mas". Exemplos: Tivemos o tesouro nas mãos, e o deixamos escapar. Vive prometendo, e não cumpre nada. 3) a conjunção separa complementos de verbos diferentes. Exemplos: Fez muitas obras, e mais obras teria feito se tivesse tempo. Li aqueles livros, e outros livros iria ler ainda em minhas férias. 4) como recurso estilístico, deseja-se enfatizar ou realçar a oração iniciada pela conjunção aditiva. Exemplos: Providências precisam ser tomadas, e tomadas já. Vamos fazer o que for preciso, e fazer logo. 5) a conjunção é precedida por uma frase ou expressão intercalada. Exemplos: O comandante dos exércitos brasileiros, Duque de Caxias, e seus comandados, combateram heroicamente. A escola, sempre agitada, e a lanchonete eram pontos de encontro dos jovens da cidade. 6) precede a expressão "vice-versa". Exemplos: Ao pai cabe amar os filhos, e vice-versa. Devemos confiar em nossos dirigentes, e vice-versa. b) Usa-se a vírgula depois da conjunção "e" quando houver uma intercalação após ela. Exemplo: Chegamos juntos e, ao chegarmos, fomos recebidos pelos donos da casa. Iniciou a apresentação e, um tanto nervoso, trocou os pés pelas mãos. Se houver uma intercalação antes da conjunção, esta ficará isolada por vírgulas. Exemplos: Chegamos juntos, muito casados, e, ao chegarmos, fomos recebidos pelos donos da casa. Iniciou a apresentação, muito breve, e, um tanto nervoso, trocou os pés pelas mãos. c) não se usa a vírgula antes de "etc.", já que esta é uma abreviatura de "et cetera", que significa "e as demais coisas". EXERCÍCIOS DE PONTUAÇÃO Para testar seus conhecimentos e, ao mesmo tempo, desenvolver seu aprendizado e automatizar o uso das regras de pontuação, tornando-as fluentes e naturais, nada melhor que exercitar-se com o auxílio de grandes mestres da literatura brasileira e portuguesa. Nas páginas que se seguem há textos de autores famosos, sem pontuação. Exercite-se, pontuando-os, depois compare seu trabalho com o deles, na segunda parte deste capítulo. Sempre que tiver alguma dúvida, não deixe de recorrer às regras apresentadas no livro ou de consultar sua gramática. Não tente fazer tudo de uma vez só. Vá aos poucos. Meia página por dia; uma página por semana, que seja, mas mantenha uma certa regularidade. Esse contato constante com os textos será sempre benéfico. O CIÚME Bocage Entre as tartareas forjas sempre acesas Jaz aos pés do tremendo estígio nume O carrancudo o rábido Ciúme Ensanguentadas as corruptas presas Traçando o plano de cruéis empresas Fervendo em ondas de sulfúreo lume Vibra das fauces o letal cardume De hórridos males de hórridas tristezas Pelas terríveis Fúrias instigado Lá sai do Inferno e para mim se avança O negro monstro de áspides toucado Olhos em brasa de revés me lança Oh dor Oh raiva Oh morte Ei lo a meu lado Ferrando as garras na vipérea trança AMOR Camões Amor é fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer É um não querer mais que bem querer É solitário andar por entre a gente É nunca contentar se de contente É cuidar que se ganha em se perder É querer estar preso por vontade É servir a quem vence o vencedor É ter com quem nos mata lealdade Mas como pode causar seu favor Nos corações humanos amizade Se tão contrario a si é o mesmo Amor CÍRCULO VICIOSO Machado de Assis Bailando no ar gemia inquieto vaga lume Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela Que arde no eterno azul como uma eterna vela Mas a estrela fitando a lua com ciúme Pudesse eu copiar te o transparente lume Que da grega coluna à gótica janela Contemplou suspirosa a fronte amada e bela Mas a lua fitando o sol com azedume Mísera Tivesse eu aquela enorme aquela Claridade imortal que toda a luz resume Mas o sol inclinando a rútila capela Pesa me esta brilhante auréola de nume Enfara me esta luz e desmedida umbela Por que não nasci eu um simples vaga lume UM APÓLOGO Machado de Assis Era uma vez uma agulha que disse a um novelo de linha Por que está você com esse ar toda cheia de si toda enrolada para fingir que vale alguma cousa neste mundo Deixe me senhora Que a deixe Que a deixe por quê Porque lhe digo que está com um ar insuportável Repito que sim e falarei sempre que me der na cabeça Que cabeça senhora A senhora não é alfinete é agulha Agulha não tem cabeça Que lhe importa o meu ar Cada qual tem o ar que Deus lhe deu Importe se com a sua vida e deixe a dos outros Mas você é orgulhosa Decerto que sou Mas por quê É boa Porque coso Então os vestidos e enfeites de nossa ama quem é que os cose senão eu Você Esta agora é melhor Você é que os cose Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu Você fura o pano nada mais eu é que coso prendo um pedaço ao outro dou feição aos babados Sim mas que vale isso Eu é que furo o pano vou adiante puxando por você que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando Também os batedores vão adiante do imperador Você imperador Não digo isso Mas a verdade é que você faz um papel subalterno indo adiante vai só mostrando o caminho vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo Eu é que prendo ligo ajunto Estavam nisto quando a costureira chegou a casa da baronesa Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa que tinha a modista ao pé de si para não andar atrás dela Chegou a costureira pegou do pano pegou da agulha pegou da linha enfiou a linha na agulha e entrou a coser Uma e outra iam andando orgulhosas pelo pano adiante que era a melhor das sedas entre os dedos da costureira ágeis como os galgos de Diana para dar a isto uma cor poética E dizia a agulha Então senhora linha ainda teima no que dizia há pouco Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo eu é que vou entre os dedos dela unidinha a eles furando abaixo e acima A linha não respondia nada ia andando Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela silenciosa e ativa como quem sabe o que faz e não está para ouvir palavras loucas A agulha vendo que ela não lhe dava resposta calou se também e foi andando E era tudo silêncio na saleta de costura não se ouvia mais que o plic plic plic plic da agulha no pano Caindo o sol a costureira dobrou a costura para o dia seguinte continuou ainda nesse e no outro até que no quarto acabou a obra e ficou esperando o baile Veio a noite do baile e a baronesa vestiu se A costureira que a ajudou a vestir se levava a agulha espetada no corpinho para dar algum ponto necessário E enquanto compunha o vestido da bela dama e puxava a um lado ou outro arregaçava daqui ou dali alisando abotoando acolchetando a linha para mofar da agulha perguntou lhe Ora agora diga me quem é que vai ao baile no corpo da baronesa fazendo parte do vestido e da elegância Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas enquanto você volta para a caixinha da costureira antes de ir para o balaio das mucamas Vamos diga lá Parece que a agulha não disse nada mas um alfinete de cabeça grande e não menor experiência murmurou à pobre agulha Anda aprende tola Cansas te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar a vida enquanto aí ficas na caixinha de costura Faze como eu que não abro caminho para ninguém Onde me espetam fico Contei esta história a um professor de melancolia que me disse abanando a cabeça Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária MISSA DO GALO Machado de Assis Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora há muitos anos Contava eu dezessete ela trinta Era noite de Natal Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo preferi não dormir combinei que eu iria acordá lo à meia noite A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses que fora casado em primeiras núpcias com uma de minhas primas A segunda mulher Conceição e a mãe desta acolheram me bem quando vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro meses antes a estudar preparatórios Vivia tranquilo naquela casa assobradada da Rua do Senado com os meus livros poucas relações alguns passeios A família era pequena o escrivão a mulher a sogra e duas escravas Costumes velhos Às dez horas da noite toda a gente estava nos quartos às dez e meia a casa dormia Nunca tinha ido ao teatro e mais de uma vez ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro pedi lhe que me levasse consigo Nessas ocasiões a sogra fazia uma careta e as escravas riam à socapa ele não respondia vestia se saía e só tornava na manhã seguinte Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação Meneses trazia amores com uma senhora separada do marido e dormia fora de casa uma vez por semana Conceição padecera a princípio com a existência da comborça mas afinal resignara se acostumara se e acabou achando que era muito direito Boa Conceição Chamavam lhe a santa e fazia jus ao título tão facilmente suportava os esquecimentos do marido Em verdade era um temperamento moderado sem extremos nem grandes lágrimas nem grandes risos No capítulo de que trato dava para maometana aceitaria um harém com as aparências salvas Deus me perdoe se a julgo mal Tudo nela era atenuado e passivo O próprio rosto era mediano nem bonito nem feio Era o que chamamos uma pessoa simpática Não dizia mal de ninguém perdoava tudo Não sabia odiar pode ser até que não soubesse amar Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro Era pelos anos de 1861 ou 1862 Eu já devia estar em Mangaratiba em férias mas fiquei até o Natal para ver a missa do galo na Corte A família recolheu se à hora do costume eu meti me na sala da frente vestido e pronto Dali passaria ao corredor da entrada e sairia sem acordar ninguém Tinha três chaves a porta uma estava com o escrivão eu levaria outra a terceira ficava em casa Mas Sr Nogueira que fará você todo esse tempo perguntou me a mãe de Conceição Leio D Inácia Tinha comigo um romance Os Três Mosqueteiros velha tradução creio do Jornal do Comércio Sentei me à mesa que havia no centro da sala e à luz de um candeeiro de querosene enquanto a casa dormia trepei ainda uma vez ao cavalo magro de D Artagnan e fui me às aventuras Dentro em pouco estava completamente ébrio de Dumas Os minutos voavam ao contrário do que costumam fazer quando são de espera ouvi bater onze horas mas quase sem dar por elas Entretanto um pequeno rumor que ouvi dentro veio acordar me da leitura Eram uns passos no corredor que ia da sala de visitas à de jantar levantei a cabeça logo depois vi assomar à porta da sala o vulto de D Conceição Ainda não foi perguntou ela Não fui parece que ainda não é meia noite Que paciência Conceição entrou na sala arrastando as chinelinhas da alcova Vestia um roupão branco mal apanhado na cintura Sendo magra tinha um ar de visão romântica não disparatada com o meu livro de aventuras Fechei o livro ela foi sentar se na cadeira que ficava defronte de mim perto do canapé Como eu lhe perguntasse se a havia acordado sem querer fazendo barulho respondeu com presteza Não Qual Acordei por acordar Fitei a um pouco e duvidei da afirmativa Os olhos não eram de pessoa que acabasse de dormir pareciam não ter ainda pegado no sono Essa observação porém que valeria alguma cousa em outro espírito depressa a botei fora sem advertir que talvez não dormisse justamente por minha causa e mentisse para me não afligir ou aborrecer Já disse que ela era boa muito boa Mas a hora já há de estar próxima disse eu Que paciência a sua de esperar acordado enquanto o vizinho dorme E esperar sozinho Não tem medo de almas do outro mundo Eu cuidei que se assustasse quando me viu Quando ouvi os passos estranhei mas a senhora apareceu logo Que é que estava lendo Não diga já sei é o romance dos Mosqueteiros Justamente é muito bonito Gosta de romances Gosto Já leu A Moreninha Do Dr Macedo Tenho lá em Mangaratiba Eu gosto muito de romances mas leio pouco por falta de tempo Que romances é que você tem lido Comecei a dizer lhe os nomes de alguns Conceição ouvia me com a cabeça reclinada no espaldar enfiando os olhos por entre as pálpebras meio cerradas sem os tirar de mim De vez em quando passava a língua pelos beiços para umedecê los Quando acabei de falar não me disse nada ficamos assim alguns segundos Em seguida vi a endireitar a cabeça cruzar os dedos e sobre eles pousar o queixo tendo os cotovelos nos braços da cadeira tudo sem desviar de mim os grandes olhos espertos Talvez esteja aborrecida pensei eu E logo alto D Conceição creio que vão sendo horas e eu Não não ainda é cedo Vi agora mesmo o relógio são onze e meia Tem tempo Você perdendo a noite é capaz de não dormir de dia Já tenho feito isso Eu não perdendo uma noite no outro dia estou que não posso e meia hora que seja hei de passar pelo sono Mas também estou ficando velha Que velha o que D Conceição Tal foi o calor da minha palavra que a fez sorrir De costume tinha os gestos demorados e as atitudes tranquilas agora porém ergueu se rapidamente passou para o outro lado da sala e deu alguns passos entre a janela da rua e a porta do gabinete do marido Assim com o desalinho honesto que trazia dava me uma impressão singular Magra embora tinha não sei que balanço no andar como quem lhe custa levar o corpo essa feição nunca me pareceu tão distinta como naquela noite Parava algumas vezes examinando um trecho de cortina ou concertando a posição de algum objeto no aparador afinal deteve se ante mim com a mesa de permeio Estreito era o círculo das suas ideias tornou ao espanto de me ver espertar acordado eu repeti lhe o que ela sabia isto é que nunca ouvira missa do galo na Corte e não queria perdê la É a mesma missa da roça todas as missas se parecem Acredito mas aqui há de haver mais luxo e mais gente também Olhe a semana santa na Corte é mais bonita que na roça S João não digo nem Santo Antônio Pouco a pouco tinha se reclinado fincara os cotovelos no mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos espalmadas Não estando abotoadas as mangas caíram naturalmente e eu vi lhe metade dos braços muito claros e menos magros do que se poderia supor A vista não era nova para mim posto também não fosse comum naquele momento porém a impressão que tive foi grande As veias eram tão azuis que apesar da pouca claridade podia contá las do meu lugar A presença de Conceição espertara me ainda mais que o livro Continuei a dizer o que pensava das festas da roça e da cidade e de outras cousas que me iam vindo à boca Falava emendando os assuntos sem saber por que variando deles ou tornando aos primeiros e rindo para fazê la sorrir e ver lhe os dentes que luziam de brancos todos iguaizinhos Os olhos dela não eram bem negros mas escuros o nariz seco e longo um tantinho curvo dava lhe ao rosto um ar interrogativo Quando eu alteava um pouco a voz ele reprimia me Mais baixo Mamãe pode acordar E não saía daquela posição que me enchia de gosto tão perto ficavam as nossas caras Realmente não era preciso falar alto para ser ouvido cochichávamos os dous eu mais que ela porque falava mais ela às vezes ficava séria muito séria com a testa um pouco franzida Afinal cansou trocou de atitude e de lugar Deu volta à mesa e veio sentar se do meu lado no canapé Voltei me e pude ver a furto o bico das chinelas mas foi só o tempo que ela gastou em sentar se o roupão era comprido e cobriu as logo Recordo me que eram pretas Conceição disse baixinho Mamãe está longe mas tem o sono muito leve se acordasse agora coitada tão cedo não pegava no sono Eu também sou assim O quê perguntou ela inclinando o corpo para ouvir melhor Fui sentar me na cadeira que ficava ao lado do canapé e repeti lhe a palavra Riu se da coincidência também ela tinha o sono leve éramos três sonos leves Há ocasiões em que sou como mamãe acordando custa me dormir outra vez rolo na cama à toa levanto me acendo vela passeio torno a deitar me e nada Foi o que lhe aconteceu hoje Não não atalhou ela Não entendi a negativa ela pode ser que também não a entendesse Pegou das pontas do cinto e bateu com elas sobre os joelhos isto é o joelho direito porque acabava de cruzar as pernas Depois referiu uma história de sonhos e afirmou me que só tivera um pesadelo em criança Quis saber se eu os tinha A conversa reatou se assim lentamente longamente sem que eu desse pela hora nem pela missa Quando eu acabava uma narração ou uma explicação ela inventava outra pergunta ou outra matéria e eu pegava novamente na palavra De quando em quando reprimia me Mais baixo mais baixo Havia também umas pausas Duas outras vezes pareceu me que a vi dormir mas os olhos cerrados por um instante abriam se logo sem sono nem fadiga como se ela os houvesse fechado para ver melhor Uma dessas vezes creio que deu por mim embebido na sua pessoa e lembra me que os tornou a fechar não sei se apressada ou vagarosamente Há impressões dessa noite que me parecem truncadas ou confusas Contradigo me atrapalho me Uma das que ainda tenho frescas é que em certa ocasião ela que era apenas simpática ficou linda ficou lindíssima Estava de pé os braços cruzados eu em respeito a ela quis levantar me não consentiu pôs uma das mãos no meu ombro e obrigou me a estar sentado Cuidei que ia dizer alguma cousa mas estremeceu como se tivesse um arrepio de frio voltou as costas e foi sentar se na cadeira onde me achara lendo Dali relanceou a vista pelo espelho que ficava por cima do canapé falou de duas gravuras que pendiam da parede Estes quadros estão ficando velhos Já pedi a Chiquinho para comprar outros Chiquinho era o marido Os quadros falavam do principal negócio deste homem Um representava Cleópatra não me recordo o assunto do outro mas eram mulheres Vulgares ambos naquele tempo não me pareciam feios São bonitos disse eu Bonitos são mas estão manchados E depois francamente eu preferia duas imagens duas santas Estas são mais próprias para sala de rapaz ou de barbeiro De barbeiro A senhora nunca foi a casa de barbeiro Mas imagino que os fregueses enquanto esperam falam de moças e namoros e naturalmente o dono da casa alegra a vista deles com figuras bonitas Em casa de família é que não acho próprio É o que eu penso mas eu penso muita cousa assim esquisita Seja o que for não gosto dos quadros Eu tenho uma Nossa Senhora da Conceição minha madrinha muito bonita mas é de escultura não se pode pôr na parede nem eu quero Está no meu oratório A ideia do oratório trouxe me a da missa lembrou me que podia ser tarde e quis dizê lo Penso que cheguei a abrir a boca mas logo a fechei para ouvir o que ela contava com doçura com graça com tal moleza que trazia preguiça à minha alma e fazia esquecer a missa e a igreja Falava de suas devoções de menina e moça Em seguida referia umas anedotas de baile uns casos de passeio reminiscências de Paquetá tudo de mistura quase sem interrupção Quando cansou do passado falou do presente dos negócios da casa das canseiras de família que lhe diziam ser muitas antes de casar mas não eram nada Não me contou mas eu sabia que casara aos vinte e sete anos Já agora não trocava de lugar como a princípio e quase não saíra da mesma atitude Não tinha os grandes olhos compridos e entrou a olhar à toa para as paredes Precisamos mudar o papel da sala disse daí a pouco como se falasse consigo Concordei para dizer alguma cousa para sair da espécie de sono magnético ou o que quer que era que me tolhia a língua e os sentidos Queria e não queria acabar a conversação fazia esforço para arredar os olhos dela e arredava os por um sentimento de respeito mas a ideia de parecer que era aborrecimento quando não era levava me os olhos outra vez para Conceição A conversa ia morrendo Na rua o silêncio era completo Chegamos a ficar por algum tempo não posso dizer quanto inteiramente calados O rumor único e escasso era um roer de camundongo no gabinete que me acordou daquela espécie de sonolência quis falar dele mas não achei modo Conceição parecia estar devaneando Subitamente ouvi uma pancada na janela do lado de fora e uma voz que bradava Missa do galo Missa do galo Aí está o companheiro disse ela levantando se Tem graça você ficou de ir acordá lo ele é que vem acordar você Vá que hão de ser horas adeus Já serão horas perguntei Naturalmente Missa do galo repetiram de fora batendo Vá vá não se faça esperar A culpa foi minha Adeus até amanhã E com o mesmo balanço do corpo Conceição enfiou pelo corredor dentro pisando mansinho Saí à rua e achei o vizinho que esperava Guiamos dali para a igreja Durante a missa a figura de Conceição interpôs se mais de uma vez entre mim e o padre fique isto à conta dos meus dezessete anos Na manhã seguinte ao almoço falei da missa do galo e da gente que estava na igreja sem excitar a curiosidade de Conceição Durante o dia achei a como sempre natural benigna sem nada que fizesse lembrar a conversação da véspera Pelo Ano Bom fui para Mangaratiba Quando tornei ao Rio de Janeiro em março o escrivão tinha morrido de apoplexia Conceição morava no Engenho Novo mas nem a visitei nem a encontrei Ouvi mais tarde que casara com o escrevente juramentado do marido TEXTOS PONTUADOS O CIÚME Bocage Entre as tartareas forjas, sempre acesas, Jaz aos pés do tremendo, estígio nume, O carrancudo, o rábido Ciúme, Ensanguentadas as corruptas presas. Traçando o plano de cruéis empresas, Fervendo em ondas de sulfúreo lume, Vibra das fauces o letal cardume De hórridos males, de hórridas tristezas. Pelas terríveis Fúrias instigado, Lá sai do Inferno, e para mim se avança O negro monstro, de áspides toucado. Olhos em brasa de revés me lança; Oh dor! Oh raiva! Oh morte!... Ei-lo a meu lado Ferrando as garras na vipérea trança. AMOR Camões Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer; É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade. Mas como pode causar seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrario a si é o mesmo Amor? CÍRCULO VICIOSO Machado de Assis Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume: "Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!" Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme: "Pudesse eu copiar-te o transparente lume, Que, da grega coluna à gótica janela, Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela" Mas a lua, fitando o sol com azedume: "Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela Claridade imortal, que toda a luz resume"! Mas o sol, inclinando a rútila capela: Pesa-me esta brilhante auréola de nume... Enfara-me esta luz e desmedida umbela... Por que não nasci eu um simples vagalume?" UM APÓLOGO Machado de Assis Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: — Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo? — Deixe-me, senhora. — Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça. — Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros. — Mas você é orgulhosa. — Decerto que sou. — Mas por quê? — É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu? — Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu? — Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados... — Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando... — Também os batedores vão adiante do imperador. — Você, imperador? — Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto... Estavam nisto, quando a costureira chegou a casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha: — Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima... A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe? — Ora, agora, diga-me quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá. Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: — Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela, e ela é que vai gozar a vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam fico. Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária! MISSA DO GALO Machado de Assis Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos. Contava eu dezessete, ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite. A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em primeiras núpcias, com uma de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem, quando vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. Vivia tranquilo, naquela casa assobradada da Rua do Senado, com os meus livros, poucas relações, alguns passeios. A família era pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite toda a gente estava nos quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana. Conceição padecera, a princípio, com a existência da comborça; mas, afinal, resignara-se, acostumara-se, e acabou achando que era muito direito. Boa Conceição! Chamavam-lhe "a santa", e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os esquecimentos do marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria um harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe, se a julgo mal. Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era mediano, nem bonito nem feio. Era o que chamamos uma pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo. Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar. Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro. Era pelos anos de 1861 ou 1862. Eu já devia estar em Mangaratiba, em férias, mas fiquei até o Natal para ver "a missa do galo na Corte". A família recolheu-se à hora do costume, eu meti-me na sala da frente, vestido e pronto. Dali passaria ao corredor da entrada e sairia sem acordar ninguém. Tinha três chaves a porta; uma estava com o escrivão, eu levaria outra, a terceira ficava em casa. — Mas, Sr. Nogueira, que fará você todo esse tempo? perguntou-me a mãe de Conceição. — Leio, D. Inácia. Tinha comigo um romance, Os Três Mosqueteiros, velha tradução, creio, do Jornal do Comércio. Sentei-me à mesa que havia no centro da sala, e, à luz de um candeeiro de querosene, enquanto a casa dormia, trepei ainda uma vez ao cavalo magro de D’Artagnan e fui-me às aventuras. Dentro em pouco estava completamente ébrio de Dumas. Os minutos voavam, ao contrário do que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase sem dar por elas. Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro veio acordar-me da leitura. Eram uns passos no corredor que ia da sala de visitas à de jantar; levantei a cabeça; logo depois vi assomar à porta da sala o vulto de D. Conceição. — Ainda não foi? perguntou ela. — Não fui; parece que ainda não é meia-noite. — Que paciência! Conceição entrou na sala, arrastando as chinelinhas da alcova. Vestia um roupão branco, mal apanhado na cintura. Sendo magra, tinha um ar de visão romântica, não disparatada com o meu livro de aventuras. Fechei o livro; ela foi sentar-se na cadeira que ficava defronte de mim, perto do canapé. Como eu lhe perguntasse se a havia acordado, sem querer, fazendo barulho, respondeu com presteza: — Não! Qual! Acordei por acordar. Fitei-a um pouco e duvidei da afirmativa. Os olhos não eram de pessoa que acabasse de dormir; pareciam não ter ainda pegado no sono. Essa observação, porém, que valeria alguma cousa em outro espírito, depressa a botei fora, sem advertir que talvez não dormisse justamente por minha causa, e mentisse para me não afligir ou aborrecer. Já disse que ela era boa, muito boa. — Mas a hora já há de estar próxima, disse eu. — Que paciência a sua de esperar acordado, enquanto o vizinho dorme! E esperar sozinho! Não tem medo de almas do outro mundo? Eu cuidei que se assustasse quando me viu. — Quando ouvi os passos estranhei; mas a senhora apareceu logo. — Que é que estava lendo? Não diga, já sei, é o romance dos Mosqueteiros. — Justamente: é muito bonito. — Gosta de romances? — Gosto. — Já leu A Moreninha? — Do Dr. Macedo? Tenho lá em Mangaratiba. — Eu gosto muito de romances, mas leio pouco, por falta de tempo. Que romances é que você tem lido? Comecei a dizer-lhe os nomes de alguns. Conceição ouvia-me com a cabeça reclinada no espaldar, enfiando os olhos por entre as pálpebras meio cerradas, sem os tirar de mim. De vez em quando passava a língua pelos beiços, para umedecê-los. Quando acabei de falar, não me disse nada; ficamos assim alguns segundos. Em seguida, vi-a endireitar a cabeça, cruzar os dedos e sobre eles pousar o queixo, tendo os cotovelos nos braços da cadeira, tudo sem desviar de mim os grandes olhos espertos. "Talvez esteja aborrecida", pensei eu. E logo alto: — D. Conceição, creio que vão sendo horas, e eu... — Não, não, ainda é cedo. Vi agora mesmo o relógio; são onze e meia. Tem tempo. Você, perdendo a noite, é capaz de não dormir de dia? — Já tenho feito isso. — Eu, não; perdendo uma noite, no outro dia estou que não posso, e, meia hora que seja, hei de passar pelo sono. Mas também estou ficando velha. — Que velha o que, D. Conceição? Tal foi o calor da minha palavra que a fez sorrir. De costume tinha os gestos demorados e as atitudes tranquilas; agora, porém, ergueu-se rapidamente, passou para o outro lado da sala e deu alguns passos, entre a janela da rua e a porta do gabinete do marido. Assim, com o desalinho honesto que trazia, dava-me uma impressão singular. Magra, embora, tinha não sei que balanço no andar, como quem lhe custa levar o corpo; essa feição nunca me pareceu tão distinta como naquela noite. Parava algumas vezes, examinando um trecho de cortina ou concertando a posição de algum objeto no aparador; afinal deteve-se, ante mim, com a mesa de permeio. Estreito era o círculo das suas ideias; tornou ao espanto de me ver espertar acordado; eu repeti-lhe o que ela sabia, isto é, que nunca ouvira missa do galo na Corte, e não queria perdê-la. — É a mesma missa da roça; todas as missas se parecem. — Acredito; mas aqui há de haver mais luxo e mais gente também. Olhe, a semana santa na Corte é mais bonita que na roça. S. João não digo, nem Santo Antônio... Pouco a pouco, tinha-se reclinado; fincara os cotovelos no mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos espalmadas. Não estando abotoadas as mangas, caíram naturalmente, e eu vi-lhe metade dos braços, muito claros, e menos magros do que se poderia supor. A vista não era nova para mim, posto também não fosse comum; naquele momento, porém, a impressão que tive foi grande. As veias eram tão azuis, que apesar da pouca claridade, podia contálas do meu lugar. A presença de Conceição espertara-me ainda mais que o livro. Continuei a dizer o que pensava das festas da roça e da cidade, e de outras cousas que me iam vindo à boca. Falava emendando os assuntos, sem saber por que, variando deles ou tornando aos primeiros, e rindo para fazê-la sorrir e ver-lhe os dentes que luziam de brancos, todos iguaizinhos. Os olhos dela não eram bem negros, mas escuros; o nariz, seco e longo, um tantinho curvo, dava-lhe ao rosto um ar interrogativo. Quando eu alteava um pouco a voz, ele reprimia-me: — Mais baixo! Mamãe pode acordar. E não saía daquela posição, que me enchia de gosto, tão perto ficavam as nossas caras. Realmente, não era preciso falar alto para ser ouvido; cochichávamos os dous, eu mais que ela, porque falava mais; ela, às vezes, ficava séria, muito séria, com a testa um pouco franzida. Afinal, cansou; trocou de atitude e de lugar. Deu volta à mesa e veio sentar-se do meu lado, no canapé. Voltei-me, e pude ver, a furto, o bico das chinelas; mas foi só o tempo que ela gastou em sentar-se, o roupão era comprido e cobriu-as logo. Recordo-me que eram pretas. Conceição disse baixinho: — Mamãe está longe, mas tem o sono muito leve; se acordasse agora, coitada, tão cedo não pegava no sono. — Eu também sou assim. — O quê? perguntou ela inclinando o corpo, para ouvir melhor. Fui sentar-me na cadeira que ficava ao lado do canapé e repeti-lhe a palavra. Riu-se da coincidência; também ela tinha o sono leve; éramos três sonos leves. — Há ocasiões em que sou como mamãe: acordando, custa-me dormir outra vez, rolo na cama, à toa, levanto-me, acendo vela, passeio, torno a deitar-me e nada. — Foi o que lhe aconteceu hoje. — Não, não, atalhou ela. Não entendi a negativa; ela pode ser que também não a entendesse. Pegou das pontas do cinto e bateu com elas sobre os joelhos, isto é, o joelho direito, porque acabava de cruzar as pernas. Depois referiu uma história de sonhos, e afirmou-me que só tivera um pesadelo, em criança. Quis saber se eu os tinha. A conversa reatou-se assim lentamente, longamente, sem que eu desse pela hora nem pela missa. Quando eu acabava uma narração ou uma explicação, ela inventava outra pergunta ou outra matéria, e eu pegava novamente na palavra. De quando em quando, reprimia-me: — Mais baixo, mais baixo... Havia, também, umas pausas. Duas outras vezes, pareceu-me que a vi dormir; mas os olhos, cerrados por um instante, abriam-se logo sem sono nem fadiga, como se ela os houvesse fechado para ver melhor. Uma dessas vezes creio que deu por mim embebido na sua pessoa, e lembrame que os tornou a fechar, não sei se apressada ou vagarosamente. Há impressões dessa noite, que me parecem truncadas ou confusas. Contradigo-me, atrapalho-me. Uma das que ainda tenho frescas é que, em certa ocasião, ela, que era apenas simpática, ficou linda, ficou lindíssima. Estava de pé, os braços cruzados; eu, em respeito a ela, quis levantar-me; não consentiu, pôs uma das mãos no meu ombro, e obrigou-me a estar sentado. Cuidei que ia dizer alguma cousa; mas estremeceu, como se tivesse um arrepio de frio, voltou as costas e foi sentar-se na cadeira, onde me achara lendo. Dali relanceou a vista pelo espelho, que ficava por cima do canapé, falou de duas gravuras que pendiam da parede. — Estes quadros estão ficando velhos. Já pedi a Chiquinho para comprar outros. Chiquinho era o marido. Os quadros falavam do principal negócio deste homem. Um representava "Cleópatra"; não me recordo o assunto do outro, mas eram mulheres. Vulgares ambos; naquele tempo não me pareciam feios. — São bonitos, disse eu. — Bonitos são; mas estão manchados. E depois francamente, eu preferia duas imagens, duas santas. Estas são mais próprias para sala de rapaz ou de barbeiro. — De barbeiro? A senhora nunca foi a casa de barbeiro. — Mas imagino que os fregueses, enquanto esperam, falam de moças e namoros, e naturalmente o dono da casa alegra a vista deles com figuras bonitas. Em casa de família é que não acho próprio. É o que eu penso; mas eu penso muita cousa assim esquisita. Seja o que for, não gosto dos quadros. Eu tenho uma Nossa Senhora da Conceição, minha madrinha, muito bonita; mas é de escultura, não se pode pôr na parede, nem eu quero. Está no meu oratório. A ideia do oratório trouxe-me a da missa, lembrou-me que podia ser tarde e quis dizê-lo. Penso que cheguei a abrir a boca, mas logo a fechei para ouvir o que ela contava, com doçura, com graça, com tal moleza que trazia preguiça à minha alma e fazia esquecer a missa e a igreja. Falava de suas devoções de menina e moça. Em seguida referia umas anedotas de baile, uns casos de passeio, reminiscências de Paquetá, tudo de mistura, quase sem interrupção. Quando cansou do passado, falou do presente, dos negócios da casa, das canseiras de família, que lhe diziam ser muitas, antes de casar, mas não eram nada. Não me contou, mas eu sabia que casara aos vinte e sete anos. Já agora não trocava de lugar, como a princípio, e quase não saíra da mesma atitude. Não tinha os grandes olhos compridos, e entrou a olhar à toa para as paredes. — Precisamos mudar o papel da sala, disse daí a pouco, como se falasse consigo. Concordei, para dizer alguma cousa, para sair da espécie de sono magnético, ou o que quer que era que me tolhia a língua e os sentidos. Queria e não queria acabar a conversação; fazia esforço para arredar os olhos dela, e arredava-os por um sentimento de respeito; mas a ideia de parecer que era aborrecimento, quando não era, levava-me os olhos outra vez para Conceição. A conversa ia morrendo. Na rua, o silêncio era completo. Chegamos a ficar por algum tempo, — não posso dizer quanto, — inteiramente calados. O rumor único e escasso, era um roer de camundongo no gabinete, que me acordou daquela espécie de sonolência; quis falar dele, mas não achei modo. Conceição parecia estar devaneando. Subitamente, ouvi uma pancada na janela, do lado de fora, e uma voz que bradava: "Missa do galo! Missa do galo"! — Aí está o companheiro, disse ela levantando-se. Tem graça; você ficou de ir acordá-lo, ele é que vem acordar você. Vá, que hão de ser horas; adeus. — Já serão horas?, perguntei. — Naturalmente. — Missa do galo! — repetiram de fora, batendo. — Vá, vá, não se faça esperar. A culpa foi minha. Adeus, até amanhã. E com o mesmo balanço do corpo, Conceição enfiou pelo corredor dentro, pisando mansinho. Saí à rua e achei o vizinho que esperava. Guiamos dali para a igreja. Durante a missa, a figura de Conceição interpôs-se, mais de uma vez, entre mim e o padre; fique isto à conta dos meus dezessete anos. Na manhã seguinte, ao almoço, falei da missa do galo e da gente que estava na igreja sem excitar a curiosidade de Conceição. Durante o dia, achei-a como sempre, natural, benigna, sem nada que fizesse lembrar a conversação da véspera. Pelo Ano-Bom fui para Mangaratiba. Quando tornei ao Rio de Janeiro, em março, o escrivão tinha morrido de apoplexia. Conceição morava no Engenho Novo, mas nem a visitei nem a encontrei. Ouvi mais tarde que casara com o escrevente juramentado do marido. FIGURAS E VÍCIOS DE LINGUAGEM O uso consciente das figuras de linguagem pode tornar sua redação mais expressiva, reforçando uma argumentação e demonstrando domínio da língua, aspectos importantes em uma avaliação. O uso indiscriminado e de forma inadequada, no entanto, pode resultar em Vícios de Linguagem que resultarão em uma péssima avaliação do seu trabalho. As figuras de linguagem utilizam as palavras em seu sentido conotativo ou figurado, em oposição ao sentido Figuras Aliteração: repetição ordenada de mesmos sons consonantais. Exemplo: Esperando, parada, pregada na pedra do porto. Anacoluto - interrupção na sequência lógica da oração deixando um termo solto, sem função sintática. Exemplo: Mães, como não louvá-las? Anáfora - repetição de palavras. Exemplo: O João é o bom, o João é o honesto, o João é o abençoado, o João é tudo. Antítese – uso concomitante de ideias, palavras ou expressões de sentidos opostos. Exemplo: Nobre e plebeus conviviam na corte. A doença e a saúde compartilhavam os mesmos corredores. Antonomásia ou perífrase - substituição do nome próprio por qualidade ou característica que o distinga. É o mesmo que apelido, alcunha ou cognome. Exemplo: Todos aplaudiram o Fenômeno. O Baixinho marcou novamente. Apóstrofe ou invocação - invocação ou interpelação de ouvinte ou leitor, seres reais ou imaginários, presentes ou ausentes. Exemplo: Oh, mar, por que não apagas, com a esponja de tuas vagas do teu manto esse borrão? Assíndeto - ausência da conjunção aditiva entre palavras da frase ou orações de um período, justapostas ou separadas por vírgulas. Exemplo: Vim, vi, venci. Era uma confusão de sapatos, meias, camisetas, calças, roupas sujas, bagunça geral. Assonância - repetição ordenada de sons vocálicos idênticos. Exemplo: Sou um mulato nato no sentido lato. Catacrese - metáfora usada pela inexistência de palavras mais apropriadas, surgida pela semelhança da forma ou da função de seres, fatos ou coisas. Exemplo: Céu da boca; bico do bule, cabeça de prego; asa da xícara; dente de alho, pingo de gente. Devido ao uso contínuo, não mais se percebe o sentido figurado. Colisão e hiato – representa um efeito sonoro desagradável produzido pela repetição de fonemas consonantais idênticos. Exemplo: Cansamos de salientar sobre isso na semana passada. Comparação ou símile - aproximação de dois elementos pela sua semelhança, usando-se comparativos: como, feito, tal qual, que nem. Exemplo: Doce que nem mel. Brava como uma abelha. Elipse - omissão de palavras ou orações que ficam subentendidas. Exemplo: Ele ganha tudo e eu, nada. Ele viveu como quis, ela, como deu. Eufemismo - amenização de um fato ou expressão triste, chocante ou desagradável. Exemplo: Ele foi morar no céu. Gradação ou clímax - é a apresentação de ideias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax). Exemplo: “Um coração chagado de desejos. Latejando, batendo, restrugindo. Hipérbole - exagero proposital com objetivo expressivo. Exemplo: Estou morto de fome. Sempre foi um monstro dentro de campo. Inversão - consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase. Exemplo: De tudo ficou um pouco./Do meu medo. Do teu asco. Ironia – ideia contrária com um objetivo irônico é sarcástico ou depreciativo. Exemplo: Que bonito a senhora chegar só agora. Metáfora - comparação sem o uso de um conectivo, em que o segundo termo valoriza o primeiro. Exemplo: Aquele carro é (como) um verdadeiro avião. Metonímia - uso de uma palavra no lugar de sentido aproximado. Ocorre quando se usa: a - o autor pela obra. Exemplo: Estou lendo Dalton Trevisan. b - o continente pelo conteúdo. Exemplo: Comeu o prato inteiro. c - a causa pelo efeito e vice-versa. Exemplo: Come o pão com o suor do seu rosto (trabalho que provoca o suor). d - o lugar pelo produto feito no lugar. Exemplo: O MacDonald é o melhor em minha opinião. e - a parte pelo todo. Exemplo: Foi quando vi aquela cabecinha loura surgir diante de mim. f - a matéria pelo objeto. Exemplo: Passaram os prisioneiros a ferro. g - a marca pelo produto. Exemplo: Veja-me uma Skol gelada. h - concreto pelo abstrato e vice-versa. Exemplo: Ele sempre teve uma boa cabeça para isso. (cabeça por memória) Onomatopeia – uso de palavras imitando sons ou ruídos. Exemplo: O tique-taque daquele relógio enlouquecia qualquer um. Paradoxo ou oxímoro – uso de palavras ou ideias de sentido oposto em apenas uma figura. Exemplo: “’Amor é fogo que arde sem se ver;/ É ferida que dói e não se sente;/ É um contentamento descontente;/ É dor que desatina sem doer; (Camões) Paronomásia: proximidade de palavras de sons parecidos, mas de significados distintos. Exemplo: Eu que passo, penso e peço. Personificação, prosopopeia ou animismo – atribuição de características humanas a seres inanimados, imaginários ou irracionais. Exemplo: O mundo me ensinou a viver. Pleonasmo ou redundância - repetição proposital de uma mesma ideia, podendo ser positiva ou negativa. Exemplo: Vi com meus próprios olhos as maravilhas operadas por Ele. Polissíndeto - repetição de conjunções (síndetos). Exemplo: Ele trabalha muito e corre atrás de uma coisa e se preocupa com outra e, no fim, não faz nada. Silepse - concordância não com o que vem expresso, mas com o que se subentende, com o que está implícito. A silepse pode ser: De gênero. Exemplo: Vossa Excelência está preocupado. De número. Exemplo: Os Lusíadas glorificou nossa literatura. De pessoa. Exemplo: O que me parece inexplicável é que os brasileiros persistamos em comer essa coisinha verde e mole que se derrete na boca. Sinestesia - mistura das sensações em uma única expressão. Exemplo: Ficou-me na boca um gosto amargo e triste. Zeugma: consiste na elipse de um termo que já apareceu antes. Exemplo: Ele prefere cinema; eu, teatro. (omissão de prefiro). Vícios Barbarismo: grafia ou pronúncia de uma palavra em desacordo com a norma culta. Exemplo: bandeija, em vez de bandeja/ gratuíto, em vez de gratuito/ cidadões, em vez de cidadãos/ tráfico de veículos, em vez de tráfego. Solecismo: desvio da norma culta na construção sintática, infringindo as normas de regência, colocação e concordância. De regência – Assistimos o espetáculo, em vez de assistimos ao espetáculo. De concordância – Haviam muitos alunos na sala, em vez de havia, dada a impessoalidade do verbo. De colocação – Falarei-te aos ouvidos, em vez de falarte-ei aos ouvidos. Ambiguidade ou anfibologia: construção da frase de um modo tal que ela apresente mais de um sentido. Exemplo: Maria pediu ao amigo para levar seu mochila. Não fica claramente identificada a propriedade do livro nem que vai levá-lo. Reformulando: Maria pediu ao amigo para levar o livro dela (ou dele, se for o caso). Cacofonia – encontro ou repetição de fonemas que resultam em um desagradável efeito sonoro. Amo a boca dela. Vou-me já, pois já é tarde. Pleonasmo vicioso: repetição desnecessária de uma ideia. Exemplo: descer para baixo, subir para cima, entrar para dentro. Eco – sequência de palavras constituídas pela mesma terminação resultando em um som desagradável. Fiquei como um bobão quando dei o pai ao cão e ele disse não. Estrangeirismo – emprego de palavras de outras línguas. De acordo com a origem recebem a denominação de galicismo, anglicismo, italianismo, germanismo e outros. Por exemplo: pedigree, em vez de raça/ delatar o arquivo/ tuitar/ happy hour, em vez de final de tarde/ démodé, em vez de fora de moda/ site, em vez de sítio/ socialite. Prolixidade – representa um acúmulo de palavras desnecessárias, ou melhor, utilizando uma expressão coloquial bem conhecida, enchendo linguiça sem nada dizer. Por exemplo: Os jovens, pela sua juventude, são mais novos e inexperientes que os mais velhos, estes, sim, mais vividos, porque nasceram há mais tempo, viveram mais e acumularam mais experiências. Isso não quer dizer que o jovem, por ter nascido depois, não tenha também, além da sua juventude natural, alguma experiência, não extensa como a dos mais velhos e mais antigos, mas, mesmo assim, alguma experiência. Outra forma de prolixidade é o abuso de chavões: inflação galopante/ vitória esmagadora/ esmagadora maioria/ caixinha de surpresas/ caloroso abraço/ silêncio sepulcral/ nos píncaros da glória. Plebeísmo – é o uso de gírias, chavões cristalizados pela convivência em sociedade. Por exemplo: tipo assim/ ninguém merece/ a nível de/ ou mesmo palavras de baixo calão. ERROS GRAVES E DICAS A colocação deste item no final do livro foi proposital. Aqui encontrará saídas de emergência quando julgar que pode fracassar. Tenha sempre em mente, no entanto, que se seguiu as etapas propostas em seu plano de trabalho para sua aprendizagem, não há como falhar. Você tem as armas e a disposição de que necessita para triunfar. Erro: Fugir do tema Dica: Leia com calma e atenção o tema proposto. Grife o que for importante e significativo e que sirva de ponto de partida para desenvolver sua tese. Mas, de repente, deu aquele branco. O assunto nada tem a ver com qualquer coisa que tenha estudado. Esta pode ser a sua impressão no momento, por isso calma, respire fundo e relaxe. Você está preparado para qualquer situação e tem como sair disso. Releia o tema. Busque relação com qualquer coisa que seja do seu conhecimento ou de seu domínio. Não tente forçar a relação. Apenas busque ligações. Lembre-se que, ao desenvolver uma tese, precisa defini-la e depois trabalhar na argumentação. O assunto é desconhecido de todo? Impossível. Alguma coisa nele vem de encontro a seus conhecimentos. Só precisa definir o que é. Grifou algumas palavras? Analise-as. Veja a direção em que apontam. Veja a argumentação que pode desenvolver com elas. Tenho certeza que vai encontrar um elo para iniciar sua cadeia de argumentos. Ainda está difícil? Busque nas sequências da Bíblia, na História, na Geografia, na Literatura, na atualidade, em suas experiências pessoais, em seus conhecimentos gerais. Se nada lhe ocorrer, comece assim mesmo. É um velho truque que eu uso quando inicio um livro. Muitas vezes nem sei sobre o que vou escrever, mas começo. Crio um cenário, invento personagens, coloco-os em um situação onde aparentemente não há saída e inicio. Em pouco tempo a história vai se delineando por si só. Sabe por que consigo isso? Porque já fiz isso antes. Você poderá fazer o mesmo. Leia os temas de redação propostos neste livro. Algum lhe parecerá impossível de desenvolver. Tente com esses. Ou peça a alguém que lhe proponha um tema, o mais disparatado possível. E vá praticando. Mais e mais. Algum tema, depois disso, lhe será difícil: Jamais. Você estará preparado para qualquer um que surgir. Erro: usar o gênero de texto inadequado Dica: analise atentamente o que é solicitado. Normalmente não será uma poesia, uma descrição ou uma narração, mas uma dissertação. Nada de diálogos. Use parágrafos. A dissertação exige argumentos na defesa de sua tese. Erro: usar o estilo inapropriado Dica: A dissertação não admite coloquialismo nem bate papo com o examinador. Evite o uso de pronomes pessoais (eu, você). Seja objetivo. Releia o que fez. Retire ou refaça adjetivações desnecessárias ao argumento. Se pretende dizer, por exemplo, que anoiteceu e que este é o fato importante, não escreva: “O sol descera no horizonte. O céu perdia suas cores e a escuridão se aproximava célere, vindo do oriente distante. Os ruídos do dia iam cessando e a natureza se aquietava...” Se você não está escrevendo um romance, mas desenvolvendo uma tese, o importante é dizer: “Anoiteceu.” Pronto e acabou. Todo o resto é secundário. Erro: argumentação fraca e uso de chavões Dica: para uma boa dissertação, exige-se conhecimento sobre o assunto, por isso a leitura é principal ferramenta a ser usada, de forma a garantir argumentos e explicação sólidas e originais, sem banalizações ou generalizações. Todo político é ladrão, toda loura é burra, todo marido é beberrão, todo pai é severo e outras tiradas semelhantes devem ser evitadas. Erro: falha na coesão e na coerência: Dica: Um bom rascunho é essencial para ser lido e relido, observando o encadeamento das ideias, de forma que não pareçam só um amontoado jogado no texto. Evite elementos contraditórios. Assuma uma tese e argumente em sua defesa gradativa e progressivamente, interligando com sentido uma frase à outra. Estude e pratique o uso de conjunções, responsáveis por conectar orações, impedindo que o texto se torne apenas uma sequência de frases soltas. Digamos que o tema seja sobre a Preservação Ambiental. Você tem uma opinião sobre isso. Expresse-a e argumente sobre ela, provando seu ponto de vista, sem floreios, sem devaneios e sem desvios. Simples e objetivamente. Erro: grafia ou concordância das palavras incorretas Dica: Se tiver dúvida na grafia de uma palavra, evite-a. Se uma construção lhe parecer falha ou incorreta, substituaa por outra, buscando sempre a originalidade. Lembre-se sempre de usar as letras maiúsculas quando necessárias. Evite inserir parênteses, chaves ou traços. Cuidado com a repetição da mesma palavra: “que”, por exemplo. Apenas use citações se forem absolutamente necessárias ao desenvolvimento de sua tese. Nesse aspecto, se lê com frequência, seguramente não encontrará dificuldade. Principalmente se, ao ler, tiver a seu lado um dicionário para eventualmente esclarecer algumas dúvidas. José de Alencar, o famoso escritor, deseja conhecer os clássicos da época e a maioria era de autores franceses. O grande autor lia com um dicionário ao lado. Em francês. No original. Você não precisa chegar a tanto. Erro: transferência da responsabilidade Dica: a dissertação exige reflexão e argumentos que não podem nem devem ser transferidas ao leitor/examinador. Reflita e argumente sem transferir essa responsabilidade. O uso de perguntas seguidas de respostas torna o texto prolixo e apenas “enche linguiça”. Lembre-se de que dispõe de 20 a 30 linhas para desenvolver seu trabalho e finalizá-lo dentro de uma estrutura adequada. Erro: uso de diversas pessoas gramaticais Dica: Se começar um texto de forma impessoal, termine-o assim. Não alterne as pessoas presentes no testo, alternando eu, nós, você, eles e assim por diante. Cuidado para não misturar “tu” com “você” se isso couber o seu texto. Erro: coloquialismo, gírias ou clichês Dica: Seu teste deverá seguir a norma culta, por isso não há lugar para termos coloquiais, gírias ou clichês, nem mesmo entre aspas. Erro: letra ilegível Dica: escreva com calma e devagar, sem pressa, caprichando na letra. Lembre-se que se não for entendido, não será avaliado. A rascunho é importante por isso. Se, enfim, errar uma palavra ou uma frase, risque-a e corrija adiante. Riscar, porém, não significa borrar. Faça de forma que fique claro que aquela palavra ou trecho não faz parte de seu texto, apenas isso. Erro: uso de abreviaturas Dica: evite usá-las, até mesmo o “etc.”. BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Napoleão Mendes de — Gramática metódica da língua portuguesa, São Paulo, Saraiva, 1962. ANDERSON, Jean — O estilo a seu alcance. Rio de Janeiro, Aurora. BAÇAN, Lourivaldo Perez — Alchimia. Londrina, Cotação da Construção, 1999. ————. Sassarico. Londrina, Midiograf, 1996. ————. Redação passo a passo. Londrina, Midiograf, 1999. BUENO, Silveira — A arte de escrever. São Paulo, Saraiva, 1968. CEGALLA, Domingos Paschoal — Novíssima gramática da língua portuguesa. São Paulo, Cia Editora Nacional, 1985. CRUZ, José Marques da — Português prático – gramática. São Paulo, Melhoramentos, 1954. CRUZ, Pe. 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