Tributo a Eduardo Seabra Fagundes A capa desta FOLHA DO IAB é dedicada a Eduardo Seabra Fagundes, Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (19761978) e do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (1979-1981), agraciado com a Medalha Teixeira de Freitas no último dia 25. Nos momentos mais sombrios do regime militar - que depôs um presidente eleito, cassou mandatos e direitos políticos, implantou a censura e mutilou o Supremo Tribunal Federal — quando brasileiros desapareciam na longa noite que se abateu sobre o país com o golpe de 1964, quando Marias e Clarices choraram a perda de filhos e maridos nos porões da tortura, Eduardo Seabra Fagundes postou-se, com serena firmeza, à frente da luta pela democracia e pelo Estado de Direito. “ A intransigente defesa pelo restabelecimento da ordem democrática o fez alvo do ódio, do terror e da fria sanha da ditadura que, covardemente, lhe enviaram, na manhã de 27 de agosto de 1980, uma carta-bomba que acabou por vitimar a secretária da Ordem dos Advogados do Brasil, dona Lyda Monteiro da Silva. Os autores desse atentado — ocorrido no prédio da OAB Federal, então sediada no Rio A construção de uma de Janeiro — até hoje não foram identificados. sociedade democrática é Passados quase 25 anos, o exemplo de um processo permanente Eduardo Seabra Fagundes ainda nos inspira. Não vivemos mais — felizmente — aqueles tempos de escuridão. Mas a luta pela consolidação da democracia não deve sair da ordem do dia. ” Fiquemos em apenas dois exemplos. O primeiro, a necessidade de resgate da memória histórica do País, com a abertura dos arquivos da repressão política da ditadura militar. Longe de ser inspirada por sentimentos revanchistas, esta demanda tem sentido profundamente democrático. Uma nação que não conhece a sua história está propensa a repetir seus erros. O segundo exemplo é a inaceitável censura imposta pelo Judiciário, há quase três meses, ao jornal Estado de S. Paulo, proibido de noticiar as denúncias envolvendo um filho do presidente do Senado. Fatos como esses mostram o quanto precisamos avançar. Deles extraímos a lição de que a construção de uma sociedade democrática é um processo permanente. Por isso — como no poema de Brecht — figuras como Eduardo Seabra Fagundes foram, são e serão sempre imprescindíveis. Henrique Maués Sessões plenárias do IAB contarão para horas de estágio TV IAB: Luiz Octávio trata da nova Lei de Aluguel Rádio IAB: Ana Amélia fala da certificação digital As sessões plenárias do IAB, que acontecem às quartas-feiras, às 18h, passarão a contar três horas de estágio para estudantes de Direito. Veja na TV IAB entrevista de Luiz Octávio Rocha Miranda da Costa Neves sobre a nova Lei de Aluguel na TV Brasil. Ouça na Rádio IAB entrevista da diretora do Instituto Ana Amélia Menna Barreto de Castro Ferreira sobre certificação digital. Folha do IAB | Novembro/Dezembro 2009 | 2 Instituto dos Advogados do Brasil Av. Marechal Câmara, 210 / 5º andar - Centro Rio de Janeiro - RJ - CEP 20.020-080 - Telefax: (21) 2240-3173 DIRETORIA Presidente: Henrique Cláudio Maués 1º Vice-Presidente: 2º Vice-Presidente: Nelson Paiva Paes Leme 3º Vice-Presidente: Adherbal Augusto Meira Mattos Secretário Geral: Gloria Marcia Percinoto 1º Secretário: Rodrigo Lins e Silva Candido de Oliveira 2º Secretário: Ester Kosovski 3ª Secretário: Kátia Rubinstein Tavares 4º Secretário: Luiz Dilermando de Castello Cruz Diretor Financeiro: Flavia Bivaqua Araujo Diretor Cultural: Maria Teresa de Almeida R. Cárcomo Lobo Diretor Cultural Adjunto: Luiz Octávio R. Miranda da C. Neves Diretor de Biblioteca: Ana Amelia Menna B. de C. Ferreira Orador Oficial: Humberto Jansen Machado Diretores Adjuntos: Fernando Fragoso; Augusto Haddock Lobo; Claudete Silva de Araújo Barata; Sydney Limeira Sanches. MEMBROS VITALÍCIOS DO CONSELHO SUPERIOR Theophilo de Azeredo Santos; Eduardo Seabra Fagundes; Reginaldo L. P. de Souza Aguiar; Otto Eduardo Vizeu Gil; Sérgio Ferraz; Aloysio Tavares Picanço; Carlos Henrique de C. Fróes; Ricardo Cesar Pereira Lira; Benedito Calheiros Bomfim; Hermann Assis Baeta; João Luiz Duboc Pinaud; Marcelo Augusto Diniz Cerqueira; Ivan Alkmim; Celso da Silva Soares; Maria Adélia Campello Rodrigues Pereira. CONSELHO SUPERIOR Adherbal Augusto Meira Mattos; Alberto Venâncio Filho; Alfredo Lamy Fiho; Antônio Carlos Cavalcante Maia; Antônio Cláudio de Lima Vieira; Arnaldo Lopes Süssekind; Célio Salles Barbieri; Celso Augusto Fontenelle; Dora Martins de Carvalho; Ernani de Paiva Simões; Ester Kosovsky; Evaristo de Moraes Filho; Francisco Domingues Lopes; Francisco José Pio B. de Castro; George Francisco Tavares; Hariberto de Miranda Jordão Filho; Hélio Saboya Ribeiro dos Santos; Humberto Jansen Machado; Ivan Paixão França; José Alfredo Ratton; José Cavalcanti Neves; José Danir Siqueira do Nascimento; José Júlio Cavalcante de Carvalho; José Luiz Milhazes; J. M. Othon Sidou; José Ovídio Romeiro Neto; Laudo de Almeida Camargo; Lourdes Maria Celso do Valle; Marcos Halfim; Marcelo Lavenère Machado; Nelson Paiva Paes Leme; Reginaldo Oscar de Castro; Ricardo Lobo Torres; Roberto Paraíso Rocha; Rubens Approbato Machado; Sebastião Rodrigues Lima; Sérgio Francisco de A. Tostes; Silvério Mattos dos Santos; Victor Farjalla; Virgílio Luiz Donnici. FOLHA DO IAB Edição: Cid Benjamin (MTB - RJ 13338 JP) Projeto gráfico e editoração eletrônica: Flávia Marques Tiragem: 3.000 exemplares Impressão: Walprint Tomam posse 11 novos membros efetivos do IAB E m cerimônia realizada no dia 5 de novembro, tomaram posse dez juristas como membros efetivos do Instituto. São eles: Alexandre Mendonça Lima Tolipan, Cláudio Pereira de Souza Neto, Eurico de Jesus Teles Neto, Felipe Dutra Asensi, Frederico Price Grechi, Gilberto Martins de Oliveira, Marcos Vidigal de Freitas Crissiuma, Maria Margarida Pressburger e Paulo Gustavo Loureiro Ouricuri. Além disso, tomou posse também, na qualidade de membro honorário o desembargador Siro Darlan de Oliveira. Os novos consócios receberam as boas-vindas do presidente Henrique Maués e foram saudados pelo orador oficial do IAB, Humberto Jansen Machado. Jansen lembrou a história do Instituto, desde sua criação, em 7 de agosto de 1843, com Francisco Gê Acaiaba de Montezuma como primeiro presidente. Lembrou ainda a resistência de Heráclito Sobral Pinto, que renunciou à presidência do IAB quando este apoiou atos institucionais na ditadura militar: “Sobral marcou a figura do advogado e redimiu a imagem do Instituto”. E homenageou os advogados que sofreram prisões e represálias do regime militar por defenderem presos políticos. Na foto acima, da esquerda para a direita: Marcos Vidigal de Freitas Crissiuma,Cláudio Pereira de Souza Neto, Mauro Abdon Gabriel, Henrique Maués, Margarida Pressburger, Felipe Dutra Asensi, Frederico Price Grechi, Gilberto Martins de Almeida, Alexandre de Mendonça Lima Tolipan. Nas fotos ao lado, em detalhe: Siro Darlan, Eurico de Jesus Teles Neto e Paulo Gustavo Loureiro Ouricuri Aprovadas moções de repúdio Na sessão ordinária realizada no dia 4 de novembro de 2009, foram aprovadas duas moções de repúdio. A primeira, contra a chamada PEC do Calote, “cujo objeto institucionaliza o descumprimento de sentenças judiciais transitadas em julgado, desonerando o pagamento dos precatórios requisitórios, desafiando o princípio da segurança jurídica e ferindo de morte o direito adquirido, o ato jurídico perfeito, o princípio da igualdade e da moralidade pública em afronta inequívoca ao Estado Democrático de Direito legitimamente constituído.” A segunda, contra o descumprimento, pela Mesa do Senado Federal da decisão do STF que cassava o mandato do senador Expedito Júnior (PR-RO). “É mais um lamentável símbolo da crise de representatividade política no País”, afirma a moção aprovada. Posteriormente, no dia 5, Expedito anunciou que desistia do recurso que tinha apresentado para manter seu mandato. Acesse os textos as íntegras das moções em http://www.iabnacional.org.br/ article.php3?id_article=336. Folha do IAB | Novembro/Dezembro 2009 | 3 Criada comissão para reforma de Estatutos A Comissão Especial da Reforma do Estatuto terá como presidente Luiz Dilermando de Castelo Cruz. Os demais integrantes serão Adherbal Augusto Meira Mattos, Antônio Luiz Calmon Teixeira da Silva, Luiz Octávio Rocha Miranda Costa Neves e Paulo Roberto de Gouvêa Medina. Ela foi criada em 23 de outubro, pela portaria 104/2009, firmada pelo presidente Henrique Maués. Segundo Maués, o anteprojeto de novo Estatuto deverá estar pronto para ser debatido em, aproximadamente, 60 dias. Luiz Dilermando de Castello Cruz Aldo Jacomo Zucca* Haverá conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável em 2012? E ssa é a questão crucial que vem tável vem se concentrando nesse item. atual Programa Plurianual de Trabapreocupando os ambientalistas Surgiram rumores de que essa demanlho da Comissão de Desenvolvimento de todos os matizes. Em tempo da intensiva causaria muita decepção Sustentável (2004-17). algum lhes passaria pela cabeça a ine fadiga, em função sucessivas reunicrível hipótese de quebra do ciclo Tal perspectiva foi contestavirtuoso das denominadas “Cúpuda pelo Stakeholders forum for susCom o relativo fracasso do primeiro las da Terra”, de 20 em 20 anos, o tainable future” em meados de espaço temporal de uma geração. 2008, mediante a Declaração de período do Protocolo de Quioto (não De fato, considerados os êxitos e Donóstia (San Sebastián – Esparatificado pelos EUA), que se encerra conquistas alcançadas com as cúnha), reafirmada em workshop repulas anteriores (a de Estocolmo alizado pelo citado grupo em Nova em 2012, toda a atenção dos em 1972 e a do Rio de Janeiro em York em novembro de 2008. Enprincipais atores de ações 1992 ), seria pacífico aguardar-se trementes, o Brasil, atendendo a a seguinte, prevista para ocorrer em convite enviado pelo Secretariado internacionais relativas ao 2012. Mormente em face do gida ONU a todos os Estados-memgantesco desafio deste século, rebros, apresentou sua proposta desenvolvimento sócio-ambiental presentado pelas notórias mupara realizar a referida cúpula no sustentável vem se concentrando danças climáticas, em razão do Rio de Janeiro em 2012, medianaquecimento global do planeta, te o Concept Paper encaminhado ao nesse item. Surgiram rumores de que insofismavelmente comprovado secretário geral da instituição em essa demanda intensiva causaria em sucessivos relatórios do Pai11/11/2008. nel Internacional de Mudanças muita decepção e fadiga, em função Climáticas (IPCC), da ONU. A posição brasileira foi em seguida apoiada, dentre outros, pelo sucessivas reuniões internacionais, Todavia, aquilo que a todos G-77, mais a China, e consolidasem resultados palpáveis. parecia tão óbvio e tranquilo vem da, pelo governo brasileiro, em cose configurando duvidoso e amementários adicionais enviados à enaçador. A inegável fonte do referido ões internacionais, sem resultados paltidade em 26 de maio de 2009. Nestes aquecimento são as emissões de gases páveis. E isso, acrescido das dificulúltimos, salienta, ao final (parágrafo 28), causadores do efeito estufa, sobretudades trazidas pela crise econômica a conveniência de se tomar essa decisão do o CO², geradas pela queima de mundial, talvez justificasse o deslocano decorrer da atual 64º sessão da AG, combustíveis fósseis e pelo mento da próxima Cúpula da Terra a encerrar-se em meados de dezembro desmatamento de florestas. Com o repara 2017, quando se concluiria o deste ano. Todavia, não deixa de ser prelativo fracasso do primeiro período do ocupante o fato de este item não figurar Protocolo de Quioto (não ratificado explicitamente da agenda dessa sessão, pelos EUA), que se encerra em 2012, divulgada na internet. toda a atenção dos principais atores de ações internacionais relativas ao deCaso aconteça o pior, senvolvimento sócio-ambiental susteno que se afigura mais provável, creio que isso seria contrário aos mais sagrados interesses da Humanidade, e representaria uma grande vitória dos reativos lobbies internacionais, dos business as usual. “ ” *Sócio do IAB Folha Folha do do IAB IAB || Novembro/Dezembro Novembro/Dezembro 2009 2009 || 44 Antígona e os limites do poder civil Marcello Cerqueira* E téocles e Polinices, filhos de Édipo, matam-se em duelo pelo governo de Tebas. Creonte assume trono de Tebas e condena Polinices a não ser enterrado, seu corpo serviria de pasto para os cães e as aves de rapina, como exemplo para os que, no futuro, intentassem contra seu governo. Revolta-se Antígona, sua irmã. Quer enterrar o seu morto porque sem os ritos sagrados a alma do irmão vagaria pelo mundo sem descanso. Desafia Creonte e enterra tulo das “relações exteriores”, realmente a abertura dos arquivos vai desvendar ações criminosas conjuntas dos regimes militares do Cone Sul na chamada Operação Condor. Mas não vai surpreender os governos hoje democráticos daqueles países, que já abriram seus arquivos, inclusive revelando aspectos da “colaboração” do regime militar brasileiro com seus congêneres do Cone Sul. A abertura, aqui, vai preencher lacunas e também servir de alerta de que as relações entre países devem se pautar por va“Nesse quadro, parece contraditória a lores que respeitem os dicampanha que o governo federal patrocina de reitos humanos. colher informações sobre mortos e desaparecidos da ditadura. Por um lado, solicita depoimentos de pessoas que tenham conhecimento sobre as vítimas; por outro, não abre os arquivos em seu poder sobre as mesmas vítimas. Parece contraditório, mas não é. São ainda os limites do Poder Civil. A ele é permitido avançar até determinado ponto. O limite é o confronto com o Poder Militar.” o irmão com as próprias mãos. A lei dos homens não podem contrariar as leis divinas. Creonte a manda matar. É assim que Sófocles narra a tragédia de Antígona, representada em 422 ou 421 a .C. O Decreto nº 5.584/05 fixou a data-limite de 31 de dezembro de 2005, para abrir os arquivos do regime militar e que se encontravam, como ainda se encontram, guardados pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Mas a Lei nº 11.111/05, manteve secretos os documentos que ameaçassem “a soberania, a integridade territorial ou as relações exteriores”. A redação da lei nos remete aos textos, tanto imprecisos quanto autoritários, das diversas leis de segurança do regime militar. De logo, não se entende como as revelações possam atentar contra a “a soberania” ou a “integridade nacional”. Já no surrado capí- Reportagem do “Fantástico” (13/12/2004) mostrou que documentos dos órgãos de informação do Exército, da Aeronáutica, da Marinha e de outras instituições ligadas à repressão foram incinerados na Base Aérea de Salvador. O programa exibiu 78 fragmentos de fichas, prontuários e relatórios de posse da Aeronáutica. Os documentos registram fatos que vão de 1964, início da ditadura, até 1994, ocasião em que o país já estava redemocratizado. Foi aberto então um “competente” IPM, que nada apurou. Esses acontecimentos (fantásticos) estão a demonstrar que a sociedade não está apenas impedida por lei de ter acesso aos arquivos, mas ser válido o temor de que outros já tenham sido incinerados. Ou venham a ser. É princípio fundamental da República brasileira o respeito (absoluto) “à dignidade da pessoa humana”. “A dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos do Estado de Direito Democrático, ilumina a interpretação da lei ordinária” (STJ, DJU 26.03.01, p. 473). A interpretação da legislação infraconstitucional deve tomar por base esse princípio, iluminar-se nele. Assim, qualquer dispositivo da malsinada Lei nº Folha do IAB | Novembro/Dezembro 2009 | 5 11.111/05 que atravanque esse caminho deve ser eliminado por via de argüição de inconstitucionalidade ou mesmo por mandado de segurança, pois legitimados estão os parentes dos desaparecidos. Nesse quadro, parece contraditória a campanha que o governo federal patrocina de colher informações sobre mortos e desaparecidos da ditadura. Por um lado, solicita depoimentos de pessoas que tenham conhecimento sobre as vítimas; por outro, não abre os arquivos em seu poder sobre as mesmas vítimas. Parece contraditório, mas não é. São ainda os limites do Poder Civil. A ele é permitido avançar até determinado ponto. O limite é o confronto com o Poder Militar. Antigo advogado de presos políticos, sei que não são movidas por sentimentos de revanche as famílias dos mortos e desaparecidos. E nem pretendem elas comparar as Forças Armadas de hoje com a pequena parte desta que protagonizou os bárbaros crimes do regime a que serviam. Aqui, apura-se uma verdadeira contradição. Como nenhum chefe militar ou oficial da ativa das Forças Armadas, além da quase totalidade dos reformados, tem contas a ajustar com a Justiça sobre crimes perpetrados à sombra de uma Instituição permanente e fundamental para o país, por que essa aparente “defesa” de crimes que não cometeram? Sei perguntar. Não sei responder. Sei, entretanto, como a Antígona de Sófocles, que a recusa à abertura dos arquivos da ditadura, se antes, na tragédia grega, era um direito divino, hoje é também norma constitucional que deve ser respeitada: a dignidade da pessoa humana, que não desaparece com a vida. Os familiares de mortos e desaparecidos políticos têm o Direito e o Dever de enterrar os seus mortos. *Advogado Siro Darlan* Os desafios para a implantação da nova Lei de Adoção biológicos e adotivos já havia sido assegurado na Constituição Federal. Também foram estabelecidos, com base na legislação pátria e os tratados intercultura de institucionalização de saram a ser concebidos como sujeitos nacionais, com destaque para a Concrianças e adolescentes das clasde direito, em peculiar condição de devenção das Nações Unidas sobre os Dises populares remonta do início senvolvimento. O encaminhamento para reitos da Criança, alguns princípios que da colonização brasileira. Estudo lapiserviço de acolhimento passou a ser condevem nortear esse direito fundamental: dar da professora Ester Arantes, da cebido como medida protetiva, de caPUC do Rio de Janeiro, descreve que, ráter excepcional e provisório (artigos 92 I – preservação dos vínculos famia despeito de diversos estudos terem e 101), voltado ao superior interesse da liares; II – integração em família subsdemonstrado as graves conseqüências criança e do adolescente e aplicada nas tituta, quando esgotados os recursos da institucionalização prolongada para situações previstas no artigo 98. O ECA de manutenção na família de origem; o desenvolvimento psicológico, afetivo assegurou, ainda, o direito de crianças e III – atendimento personalizado e em e cognitivo de crianças e adolescentes, adolescentes à convivência familiar e pequenos grupos; IV – desenvolvimenainda está culturalmente enraizada em comunitária, prioritariamente na famíto de atividades em regime de co-edunosso País a idéia de que a instituciolia de origem e, excepcionalmente, na cação; V – não desmembranalização de longo prazo protegeria essas crianças das más “Foi apenas com a promulgação do Estatuto da mento de grupos de irmãos; VI – evitar, sempre que possível, influências do ambiente em que Criança e do Adolescente (ECA) que crianças e a transferência para outras envivem, além de proteger a soadolescentes passaram a ser concebidos como tidades de crianças e adolesciedade de sua presença incôcentes abrigados; VII – partimoda. Essa “cultura de instisujeitos de direito, em peculiar condição de cipação na vida comunitária lotucionalização” tem impregnadesenvolvimento. O encaminhamento para cal; VIII – preparação gradado, no decorrer do tempo, não tiva para o desligamento; IX – apenas o discurso e a prática serviço de acolhimento passou a ser concebido participação gradativa para o governamentais, mas também desligamento. a sociedade como um todo. como medida protetiva, de caráter excepcional e provisório (artigos 92 e 101), voltado ao Repetem-se as ações higienisO Congresso Nacional, após tas de segregação das crianças superior interesse da criança e do adolescente e amplo debate com os mais die adolescentes empobrecidos, aplicada nas situações previstas no artigo 98.” versos setores interessados na sobretudo nas grandes cidades. implantação do ECA e no Recentemente sob pretexto de aperfeiçoamento dos instrumentos legais família substituta (artigo 19). A promulproteger contra o uso do crack, a Prepara efetivar os direitos da criança e do gação do ECA buscou romper com essa feitura do Rio de Janeiro jogou a rede adolescente festejaram quando, com a cultura da institucionalização ao garantir do recolhimento sob os aplausos de sanção da Presidência da República, a excepcionalidade da medida, estabelegrande parte da sociedade fluminense. passou a vigorar a lei que altera o Estacendo, ainda, que a situação de pobreza tuto da Criança e o Código Civil, estada família não constitui motivo suficiente Essa lógica de atendimento, ainda belecendo critérios e regulamentando as para o afastamento da criança e do adoaceito socialmente, desqualifica os usufases e etapas (colocação em abrigos) lescente do convívio familiar (artigo 23). ários e suas famílias; não respeita a indo processo de adoção de crianças e De modo a fomentar as ações de fiscalidividualidade, as potencialidades ou a adolescentes no Brasil. zação e controle social, o Estatuto pashistória do usuário; não preserva os lasou a exigir a inscrição das entidades que ços familiares e comunitários; revitimiA nova legislação que reúne dezeofertassem “programas de abrigo” no za, ao invés de reparar; viola direitos, nas de dispositivos merece um contíConselho Municipal dos Direitos da Criao invés de proteger. Além de desresnuo e permanente debate, constituinança e do Adolescente (artigo 90) e estapeitar o direito à convivência familiar e do-se como um verdadeiro desafio para beleceu princípios para a organização comunitária, prioridade constitucional. a sociedade brasileira. desses serviços (artigo 92). Foi apenas com a promulgação do *Desembargador do Tribunal O direito à convivência familiar e Estatuto da Criança e do Adolescente de Justiça do Rio de Janeiro comunitária e a igualdade entre filhos (ECA) que crianças e adolescentes pas- A Folha do IAB | Novembro/Dezembro 2009 | 6 Ana Amélia Menna Barreto de Castro Ferreira* “Somos a maior biblioteca jurídica da América do Sul” O que representa a Biblioteca do IAB? AA – Ela é, simplesmente, a maior biblioteca jurídica da América do Sul. Temos aproximadamente 36 mil livros de Direito. Entre eles, todos os livros de referência na literatura jurídica. Aliás, recentemente a pesquisadora Thaís Carraro só conseguiu um livro que buscava há tempos A Justiça Administrativa no Brasil - de J. Guilherme de Aragão, na nossa biblioteca. Aliás, a obra foi doada pela família do nosso querido Paulo Saboya. BOTTINO, Thiago O direito ao silêncio na jurisprudencia do STF Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. Doação do consócio e autor Thiago Bottino SIMÕES, Ernani de Paiva O enigma ou processo inteligente? Rio de Janeiro: (o autor), 2009. Doação do consócio e autor Ernani Paiva Simões ESTEFAM, André. Crimes sexuais São Paulo: Saraiva, 2009. Doação da Editora Saraiva O número de livros continua crescendo? AA – Sim. Recebemos uma média de 50 doações por mês. A relação das obras doadas é atualizada a cada semana em nosso site, que passou também a publicar resenhas de algumas delas. E temos parcerias com as editoras Lumen Juris, Juruá, Magister e Saraiva, que sempre nos encaminham livros. Aliás, essas parcerias proporcionam também descontos na compra de livros para os associados ao Instituto. Quais os frequentadores mais habituais? AA – São principalmente advogados, como era de se esperar, mas também recebemos a visita de muitos estudantes de Direito. Aliás, deve ser dito que advogados associados ao Instituto podem solicitar pesquisas gratuitamente. Elas são feitas pelos nossos funcionários, que, aliás, têm recebido elogios pelo atendimento dos freqüentadores da biblioteca pelo bom atendimento. *Diretora da Biblioteca do IAB Revista Magister de Direito de Família e Sucessões Belo Horizonte: IBDFAM, 2007. Doação da Editora Magister PENA, Eduardo Spiller. Pajens da Casa Imperial: jurisconsultores, escravidão e a Lei de 1871. Campinas: Unicamp, 2001 Doação do consócio José Alfredo Ratton Fredie DidierJr e Marcos Ehrhardt Jr. Revisitando a teoria do fato jurídico São Paulo: Saraiva, 2010 Doação da Editora Saraiva NETO, Claudio Pereira de Souza; Daniel Sarmento; Gustavo Binenbojm Vinte anos da Constituição Federal de 1988. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. 868p. Doação do consócio e coordenador Cláudio Pereira de Souza Neto GAIO JUNIOR, Antônio Pereira Direito Processual Civil 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. Doação do consócio e autor Antônio Pereira Gaio Junior Veja a lista completa de livros doados no site www.iabnacional.org.br Folha do IAB | Novembro/Dezembro 2009 | 7 O trabalho escravo no Brasil O coordenador Marcos Montenegro Duarte, Adherbal Meira Mattos (Com. de Direito Ambiental), Fernando Fragoso (Com. Direito Penal) e Edson Ribeiro Ministro Edson Santos, secretário especial de Promoção da Igualdade Racial Meio ambiente em debate Da esquerda para a direita, Luiz Octávio Rocha Miranda Costa Neves, Henrique Maués, Siro Darlan, Luiz Dilermando de Castello Cruz, Maria Teresa Cárcomo Lobo e Sérgio Tostes No dia 22 de outubro o IAB promoveu um encontro que debateu Convenções Internacionais à Luz da Soberania Nacional, tendo como palestrante Sérgio Tostes e como debatedores comentadores e desembargador do TJ Siro DArlan, o presidente da Comissão de Direito Internacional do IAB, Luiz Dilermando de Castello Cruz, e a diretora do Centro Cultural do IAB, Maria Teresa Cárcomo Lobo. A mediação do debate foi de Luiz Octávio Rocha Miranda Costa Neves, diretor-adjunto do Centro Cultural do IAB. Aspectos jurídicos e sociais das relações homoafetivas A professora Leila Maria Bittencourt da Silva, mestre em Direito e membro do IAB, e o especialista e mestrando em Educação pela UFF, Maximiano Romano, foram os palestrantes no debate sobre Aspectos jurídicos e sociais das relações homoafetivas, no dia 29 de setembro, no IAB. O evento teve a mediação da diretora Cultural do IAB, Maria Teresa Cárcomo Lobo, e foi uma iniciativa da Comissão de Direitos Humanos do Instituto. Leila Bittencourt da Silva Jornada de Direito Agrário - dia 9/11/09 Sessão Solene de entrega da Medalha Santo Ivo, em homenagem póstuma a Paulo Eduardo Saboya - dia 29/10/09 Seminário: Oportunidades de Parcelamento e Inovações decorrentes da Lei nº 11.941/09 - dia 22/10/09 Lançamento da Edição Especial da Revista Digital sobre o Mercosul - dia 07/10/09 IAB sediará evento internacional sobre direito e soberania popular No dia 9 de novembro, das 10h às 12h30, será realizado no IAB um painel internacional sobre o tema Soberania Popular, promovido pela Comissão Permanente de Direito Constitucional do Instituto. Segundo Jorge Folena, presidente da Comissão, o objetivo do evento é conhecer experiências de outros países e estudar mecanismos para o aprimoramento da legislação que regulamenta a soberania popular e sua aplicação no País. Estão confirmadas as presenças do jurista cubano José Manuel Garcia Villanueva, que falará sobre a justiça popular em Cuba, e do jurista venezuelano Edwin Roberto Sambrano Vidal, que tratará da revogação de mandatos de dirigentes políticos. No dia 19 de novembro, o IAB, representado pelo presidente Henrique Maués e por Folena, firmou um acordo de cooperação com a União Nacional de Juristas de Cuba. A entidade equivale à OAB brasileira, mas incorpora também juízes e integrantes do Ministério Público. Este foi o primeiro acordo internacional firmado pelo IAB. As duas entidades passarão a promover eventos conjuntos e intercâmbio, com viagens de membros do IAB a Cuba e de juristas cubanos ao Brasil. Instituto dos Advogados do Brasil Convenções internacionais à luz da soberania nacional Aconteceram, ainda, no IAB: Folha do IAB O ministro Edson Santos, secretário especial de Promoção da Igualdade Racial, o procurador do Trabalho da 1ª Região Marcelo José Fernandes da Silva Marcelo José Fernandes da Silva e o padre Ricardo Rezende, coordenador do grupo e pesquisa de Trabalho Escravo Contemporâneo e professor da Escola de Serviço Social da UFRJ foram os expositores do evento que debateu o trabalho escravo no IAB, no dia 13 de outubro. Av. Marechal Câmara, 150 / 7º andar Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20.020-080 Padre Ricardo Rezende A polêmica imputabilidade da pessoa jurídica em relação aos crimes ambientais; A função sócioambiental da propriedade; Meio ambiente natural, tutela administrativa e penal da biodiversidade e patrimônio genético; e Aspectos processuais dos crimes ambientais foram os temas abordados no seminário sobre o Direito e o meio ambiente, realizado no IAB no dia 24 de novembro. Os palestrantes foram Edson Ribeiro, Sérgio Sant’Anna, Francisco Carrera e Diogo Malan foram os expositores.