Urinálise Sedimentoscopia
Revisão: Mar/2012
Adagmar Andriolo
Professor Livre Docente de Patologia Clínica do Departamento de Medicina - EPM / UNIFESP
A seguir, são apresentadas instruções para a realização de Urinálise Sedimentoscopia na rotina laboratorial.
As siglas apresentadas neste documento são propostas para uso interno do cliente. Não podem ser usadas para
preenchimento dos formulários do Ensaio de Proficiência.
1.
Instruções para uso dos microscópios
Os microscópios da Seção de Urina devem ser todos equipados com condensador de contraste de fase para que a
rotina de microscopia seja feita com a óptica de fase.
Para a realização do exame microscópico, é importante que o operador se sente corretamente, com as costas
apoiadas adequadamente no encosto da cadeira e os pés tocando o chão. Para tanto, as cadeiras devem ser
dotadas de rodízios e com altura regulável. A altura das oculares deve estar adequadamente ajustada à altura dos
olhos. A distância pupilar deve ser ajustada corretamente. Ela varia de acordo com o observador.
O esfregaço do sedimento de urina é preparado para ser lido a fresco, sem lamínula e deve ser fino o suficiente
para comportar apenas um plano focal (vd abaixo).
Para iniciar a operação, ligue o microscópio girando o botão até atingir luminosidade adequada. Trabalhando com
contraste de fase é permitido e desejável operar com o máximo de luminosidade confortável à visão. O
condensador deve estar sempre elevado, próximo da preparação (lâmina). A prática de baixar o condensador,
para aumentar o contraste não se aplica neste tipo de microscopia.
Utilizar as objetivas de pequeno aumento, inicialmente, para localizar e examinar de uma maneira geral a
preparação. Existe um número em cada anel de fase no condensador e em cada objetiva. Os números dos anéis
do condensador e das objetivas devem coincidir (ph 2, ph3, etc).
O esfregaço deve ser fino o suficiente para conter apenas um plano focal durante a observação. Isto, na prática,
corresponde ao fato de, ao movimentarmos o micrométrico, só vermos uma camada de elementos, por exemplo,
células. A observação de elementos em planos superiores ou inferiores indica que o esfregaço está muito
espesso.
A leitura final do esfregaço deve ser feita com objetiva de aumento de 40X. O resultado, no caso de sedimento
qualitativo, é dado em número de elementos por campo microscópico. No caso do sedimento quantitativo, o
resultado é dado em elementos por mL. Neste último caso, não é obrigatória a contagem com objetiva de 40X,
sendo possível a utilização de outras objetivas, com aumento menor, desde que a discriminação dos elementos
não seja prejudicada.
Um erro comum é o de, na contagem do sedimento qualitativo, o observador valorizar e escolher mais os campos
que contêm elementos, passando sem consideração os campos desprovidos ou pobres em elementos.
2.
Sedimento Qualitativo
Deve-se centrifugar um volume previamente padronizado de urina em tubo cônico graduado, por 10 minutos, à 1.500
rpm. Variações de 6 a 10 minutos e de 1500 a 2000 rpm são aceitáveis. Os volumes de 8, 10, 12 e 15 mL são
comumente usados em laboratórios e, segundo o CLSI GP16 A3 (Urinalysis), podem ser usados, desde que o
laboratório defina um volume fixo para uso na rotina. Como no ensaio de proficiência da ControlLab é adotado 10 mL, é
interessante que o laboratório adote este ou um volume menor como padrão, para que a sua participação no programa
corresponda à sua rotina. Quando adotados volumes menores (por exemplos, neonatos e pediátricos) deve-se fazer
uma anotação no laudo.
Obs.: Quando a contagem for realizada em urina não centrifugada, multiplicar o resultado por 50.
Inverter o tubo, após a centrifugação, e utilizar a urina sobrenadante para as eventuais pesquisas e dosagens. No fundo
do tubo permanecem cerca de 0,2 mL de sedimento. Este material deve ser colocado em lâmina, formando o esfregaço
fino.
A contagem dos elementos deve ser feita em vários campos, e o resultado final será a média do número de elementos
observados.
Página 1/6
Urinálise Sedimentoscopia
Revisão: Mar/2012
3.
Sedimento Quantitativo
Deve-se centrifugar um volume previamente padronizado de urina em tubo cônico graduado, por 10 minutos, 1.500 rpm.
Variações de 6 a 10 minutos e de 1500 a 2000 rpm são aceitáveis. Os volumes de 8, 10, 12 e 15mL são comumente
usados em laboratórios e, segundo o CLSI GP16 A3 (Urinalysis), podem ser usados, desde que o laboratório defina um
volume fixo para uso na rotina. Como no ensaio de proficiência da ControlLab é adotado 10mL, é interessante que o
laboratório adote este ou um volume menor como padrão, para que a sua participação no programa corresponda à sua
rotina. Quando adotados volumes menores (por exemplos, neonatos e pediátricos) deve-se fazer uma anotação no
laudo.
Obs.: Quando a contagem for realizada em urina não centrifugada, multiplicar o resultado por 10.
Sem agitar e sem ressuspender o sedimento, retirar os 9 mL superiores. Agitar o tubo para homogeneizar o material
restante (1mL). Inclinar o tubo e, com o auxílio de um capilar, transferir a amostra homogeneizada para a câmara de
Neubauer, preenchendo cuidadosamente a área de contagem, observando para que não haja transbordamento.
Identificar a câmara com os números das amostras. Lembrar que, em cada câmara, é possível colocar duas amostras
diferentes ao mesmo tempo.
A contagem dos elementos deve ser feita da seguinte maneira:
contar o número de elementos presentes nos quatro quadrados grandes – cada um destes quadrados contém
dezesseis quadrados menores – tirar a média aritmética e multiplicar por mil.
se a urina contiver um número muito grande de elementos, podem ser contados os quatro quadrados pequenos
que se encontram nos vértices do quadrado central mais o quadrado pequeno central, tirar a média aritmética e
multiplicar por 25 mil.
4.
Elementos Visualizados
4.1 Células Epiteliais
Não é feita a contagem das mesmas. Avalia-se a quantidade expressando o resultado da seguinte forma:
RR
Raríssimas
RA
Raras
AL
Algumas
NU
Numerosas
No sedimento qualitativo existe espaço próprio para anotar as células. No sedimento quantitativo elas deverão ser
anotadas no espaço destinado a “Outros elementos”, com a mesma nomenclatura usada para o sedimento qualitativo.
Não há justificativa clínica para se expressar numericamente a quantidade de células epiteliais.
4.2 Leucócitos
Sedimento Qualitativo: Além do número médio encontrado em cada campo, será fornecida a informação quanto ao
estado em que os leucócitos se encontram (isolados, degenerados, agrupados).
A seguir, apresentamos a relação de observações referentes aos leucócitos que pode ser utilizada em casos de
sedimento qualitativo.
Números utilizados:
De 1 a 10 por campo utiliza-se qualquer número.
De 10 a 20 por campo utiliza-se apenas o número 15. Qualquer outro número nesta faixa deverá ser aproximado.
De 20 a 100 por campo utilizam-se números de 10 em 10, (ex: 30 pc, 50 pc, etc).
Acima de 100 por campo não se efetua mais a contagem e o resultado será expresso como mais de 100 pc .
Siglas:
RR
Raríssimos
IFD
Isolados, frequentemente degenerados
RA
Raros
RDA
Raramente degenerados e agrupados
ISO
Isolados
ADA
Algumas vezes degenerados e agrupados
IRD
Isolados, raramente degenerados
IAD
Isolados, algumas vezes degenerados
FDA
Frequentemente
agrupados
Página 2/6
degenerados
e
Urinálise Sedimentoscopia
Revisão: Mar/2012
4.3 Eritrócitos
Sedimento Qualitativo: Procede-se à contagem e, quando o número for igual ou superior a 10 pc deve ser referida a
presença ou não de dismorfismo eritrocitário (Dis E).
Sedimento Quantitativo: Procede-se à contagem e, quando o número for igual ou superior a 10.000/mL refere-se à
presença ou não de dismorfismo eritrocitário (DIS E ).
Se o dismorfismo eritrocitário for positivo, com presença de cilindros hemáticos, considere este item completo.
Se o dismorfismo for positivo, mas não houve observação de cilindros hemáticos, centrifugar nova amostra e observar
qualitativamente (em lâmina) a presença de cilindros. A centrifugação de novo tubo também será necessária quando
houver dúvida no resultado do dismorfismo. Neste caso, anotar no item “Outros” a seguinte observação: No exame
qualitativo do sedimento foram observados raríssimos (ou raros) cilindros_(descrever o tipo de cilindro encontrado e que
não tenha sido referido no exame quantitativo). O próprio técnico que leu o sedimento quantitativo se encarrega de
observar isto.
Obs.: Os eritrócitos poderão ser contados em urina pura em casos em que o número de leucócitos for tão alto a ponto
de dificultar a observação dos eritrócitos. Nestes casos, o resultado no sedimento qualitativo deverá ser multiplicado por
50 e no sedimento quantitativo por 10.
4.4 Dismorfismo Eritrocitário (Dis E )
Deve ser referido sempre que o número de eritrócitos for igual ou superior a 10 pc ou 10.000/mL.
O resultado será expresso pelo técnico em cruzes e no laudo deverá ter a seguinte interpretação:
Dis E+ - discreto dismorfismo eritrocitário
Dis E++ - moderado dismorfismo eritrocitário
Dis E+++ - evidente dismorfismo eritrocitário
Dis E 0 - ausência de dismorfismo
A análise do dismorfismo eritrocitário, relacionada com presença de cilindro hemático é de extrema utilidade no
diagnóstico da origem de uma hematúria.
Devido ao seu grau de importância, só poderá ser avaliado por técnicos bem treinados e todo dismorfismo positivo
deverá ser revisto por outro técnico.
4.5 Cilindros
Para facilitar a evidenciação dos cilindros, observa-se primeiramente a presença deles em aumento menor (100 vezes)
e identifica-se qual o tipo em aumento maior (400X).
Sedimento Qualitativo: Os cilindros não são contados, mas descritos em relação ao tipo e avaliados através das
seguintes denominações:
RR
Raríssimos
RA
Raros
AL
Alguns
NU
Numerosos
Sedimento Quantitativo: Conta-se o número de cilindros isoladamente, dependendo do tipo, expressando o resultado
por mL.
Tipos de Cilindros:
HIAL
Hialinos
FINGRAN
Finamente granulosos
GRAN
Granulosos
CEL
Celulares
CER
Céreos
LIF
Lipoídicos só são pesquisados e referidos em casos nos quais proteína for igual ou superior a 1 g/L.
HEM
Hemáticos só são pesquisados e referidos em casos em que o número de eritrócitos for igual ou
superior a 10 pc ou 10.000/mL
Página 3/6
Urinálise Sedimentoscopia
Revisão: Mar/2012
4.6 Filamentos de Muco
São anotados em “Outros elementos” e referidos da mesma maneira, tanto no sedimento qualitativo como no
quantitativo. O resultado sairá da seguinte maneira:
PQMUC
pequena quantidade de muco
REMUC
regular quantidade de muco
APMUC
apreciável quantidade de muco
4.7 Bactérias
São referidas no espaço destinado a “Outros elementos”. A maneira de anotar a presença de bactérias será igual tanto
para sedimento qualitativo como para quantitativo.
RABAC raras bactérias
ALBAC algumas bactérias
NUBAC numerosas bactérias
Obs.: É importante que esta referência seja feita apenas quando o observador tiver absoluta certeza de que se trata
realmente de bactérias e a flora for “homogênea”.
4.8 Cristais
Os cristais são referidos na parte do exame destinada a “Outros elementos” e de acordo com a quantidade serão
referidos como:
RR
Raríssimos
RA
Raros
AL
Alguns
NU
Numerosos
Como a presença de alguns cristais depende do pH urinário, deve ser observado se há compatibilidade. Além da
morfologia, há alguns procedimentos que auxiliam a identificação dos diferentes tipos de cristais.
Tipos de Cristais:
Ácido úrico
Urato amorfo
Oxalato de Cálcio
Fosfato amorfo
Fosfato amoníaco- magnesiano
Fosfato de Cálcio
Página 4/6
Frequentemente encontrados em urinas ácidas;
Solúveis em NaOH ou em Tampão Borato;
Com o uso do filtro para luz polarizada, evidencia-se uma grande variedade de
cores, possibilitando a sua diferenciação de outros cristais.
Encontrados em urinas ácidas e neutras ;
Solúveis em NaOH ou em Tampão Borato.
Encontrados em qualquer pH;
Solúveis em HC1 diluído.
Encontrados em urinas neutras ou alcalinas;
Solúveis em ácido acético ou em tampão acetato.
Encontrado em urinas neutras ou alcalinas;
Solúveis em ácido acético ou em tampão acetato.
Encontrados em urinas ligeiramente ácidas, neutras e alcalinas;
Solúveis em ácido acético ou em tampão acetato.
Urinálise Sedimentoscopia
Revisão: Mar/2012
Carbonato de Cálcio
Urato de amônio
Tirosina
Leucina
Cistina
Encontrados em urinas neutras e alcalinas;
Solúveis em HCl.
Encontrados em urinas alcalinas;
Solúveis em NaOH e em HCl.
Encontrados em urinas ácidas;
Solúveis em NaOH e em HCl.
Encontrados em urinas ácidas;
Solúveis em NaOH.
Encontrados em urinas ácidas;
Solúveis em NaOH e em HCl;
É o único cristal cujo encontro faz diagnóstico de uma patologia específica.
Obs.: Outros cristais podem ser encontrados, como de Colesterol, Bilirrubina, Sulfas ou outros medicamentos, e devem
ser referidos por possuírem relevância clínica.
4.9 Leveduras
Anotadas em “Outros elementos” e referidas de forma igual nos dois tipos de sedimentos.
RRLEV raríssimas leveduras
RALEV raras leveduras
ALLEV algumas leveduras
NULEV Numerosas leveduras
Em casos em que este elemento está presente, convém que se pesquise a presença de filamentos micelianos, que são
os elementos que asseguram mais a existência de infecção micótica.
4.10 Filamentos Micelianos
Anotados em “Outros elementos” e referidos de forma igual nos dois tipos de sedimentos. A referência será feita da
seguinte forma :
RRFMI Raríssimos filamentos micelianos
RAFMI Raros filamentos micelianos
ALFMI Alguns filamentos micelianos
NUFMI Numerosos filamentos micelianos
4.11 Corpúsculos de Lipóides Birrefrigentes
São evidenciados quando utilizado filtro para luz polarizada. Coloca-se o filtro sobre o campo das lentes girando até
que, através da ocular, o campo se mostre escuro. Girar o disco do condensador até a posição D ou J (luz direta, sem
contraste da fase) e pesquisar os corpúsculos de lipóides.
Estes aparecem como uma estrutura luminosa com a forma de uma cruz, comparada classicamente à cruz de Malta.
Podem estar “livres” ou incluídos em células ou cilindros (este aspecto não necessita ser referido).
Este elemento é pesquisado apenas em casos nos quais a proteinúria for igual ou superior a 1,0 g/L.
São referidos em “Outros elementos” da seguinte maneira:
RRCLB
Raríssimo corpúsculos de lipóides birrefringentes
RACLB
Raros corpúsculos de lipóides birrefringentes
ALCLB
Alguns corpúsculos de lipóides birrefringentes
NUCLB
Numerosos corpúsculos de lipóides birrefringentes
Página 5/6
Urinálise Sedimentoscopia
Revisão: Mar/2012
4.12 Tricomonas
São referidos igualmente nos dois tipos de sedimento e anotados em “Outros elementos”, da seguinte maneira:
RATRI Raras tricomonas
ALTRI Algumas tricomonas
NUTRI Numerosas tricomonas
4.13 Outros elementos
Neste item devem ser descritos outros elementos observados e que possam ter algum significado clínico importante.
Referências:
•
Urinalysis; Approved Guideline - Third Edition – GP16-A3, vol. 29, No 4 do CLSI
•
Rins e vias urinárias. Adagmar Andriolo e Zulmira de Fátima Bismarck. In Guias de Medicina Ambulatorial e
Hospitalar da UNIFESP-EPM. Manole, São Paulo. 2008, 2ª edição, pg 243-266.
Página 6/6
Download

Orientações Sobre Urinálise Sedimentoscopia