Ocorrência de Tuberculose registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação para município de Rio Branco – AC. SILVA, Antonia Giselda Santos da1 MARTINS, Dalva Araújo2 Resumo A tuberculose vem merecendo atenção não só por sua capacidade infectocontagiosa, mas também por ser um agravo de saúde pública que afeta a população socialmente vulnerável. Apesar das evoluções tecnológicas do setor saúde e a adoção de políticas publicas de combate, a doença atinge índices alarmantes, principalmente nos países de terceiro mundo, como o Brasil, onde também é a terceira infecção oportunista mais frequente no momento do diagnóstico de casos de AIDS. Assim, o objetivo deste trabalho foi analisar a evolução dos casos de TB registrado no DATASUS pelo SINAN para o município de Rio Branco - Acre, no período e 2001 a 2013. Os dados foram obtidos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação-Tuberculose (SINAN-TB). O levantamento foi na base de dados do SINAN nacional para recuperação dos casos residentes no município. A coleta dos dados foi feita entre junho e julho de 2015. Os resultados mostraram que em Rio Branco a tuberculose é a principal causa de óbitos dentre as doenças infecciosas e parasitarias. Palavras chaves: Tuberculose. Casos de TB em Rio Branco. Co-oinfecção de TB e HIV. Epidemiologia. TB segundo raça/cor. Abstract: Tuberculosis has had the attention not only for its infectious ability but also because it is a public health grievance that affects the socially vulnerable population. Despite the technological developments in the health sector and the adoption of public policies to combat the disease reaches alarming levels, particularly in third world countries, such as Brazil, which is also the third most common opportunistic infection at diagnosis of SIDA cases . The objective of this study was to analyze the evolution of TB cases registered in DATASUS by SINAN for Rio Branco - Acre, and in the period 2001 to 2013. Data were obtained from the Information Resulting System Notification-TB ( SINAN-TB). The survey was in the national SINAN database for recovery of resident cases in the city. Data collection was done between June and July 2015. The results showed that in Rio Branco TB is the leading cause of deaths from infectious and parasitic diseases. Keyword: Tuberculosis. TB cases in Rio Branco. Co-oinfecção of tuberculosis and HIV. Epidemiology. TB by race/color. 1 – Acadêmico do Curso de Ciências Biológicas da Faculdade Meta. 2 – MSc. Ecologia e Manejo de Recursos Naturais, Docente da Faculdade Meta. Introdução A Tuberculose (TB) é uma doença infecciosa crônica que vem afligindo a humanidade há cinco milênios. Seu agente etiológico, o Mycobacterium tuberculosis, ou bacilo de Koch, é o patógeno que mais mortes causou, entre as doenças infecciosas em adultos (RAVIGLIONE; SNIDER; KOCHI, 1995). Ao desenvolver a forma pulmonar ativa da doença, o homem torna-se a principal fonte de infecção pelo bacilo, através da transmissão pessoa a pessoa por meio fala, espirro ou tosse, em que são eliminadas gotículas no meio externo circundante contendo o agente etiológico (SVS, 2009), ou seja, a transmissão é respiratória, com a chance do individuo se infectar relacionada ao ambiente, ao tempo de exposição, continuidade ao vigor da tosse de um individuo bacilifero, a condição de adoecimento, entretanto, é modulada pela imunidade e esta associada à nutrição (BRASIL, 2005a). Podemos entender melhor as individualidades do adoecimento, quando compreendemos que há pessoas que conseguem destruir o bacilo de Koch na porta de entrada, e, os que não conseguem, existem ainda, os indivíduos que permanecem em equilíbrio com o bacilo, mesmo albergando ele atua, passando o hospedeiro a apresentar as manifestações que caracterizam a doença. Baseado nestas informações, afirma-se que as diversas situações de estresse do organismo, a exemplo do que ocorre nos procedimentos invasivos, podem provocar uma depressão do sistema imunológico, deixando assim a TB-infecção sujeita a entrar em atividade (SVANE, 1999). O mesmo ocorre na presença de co-infecções ou de idades avançadas (KRITSKI et al., 2000; MORI, 2000; CHAIMOWICZ, 2001; RAJAGOPALAN, 2001). Observa-se ainda, que a desnutrição, assim como a dependência alcoólica, acelera a evolução dessa doença e pode determinar uma maior precocidade do óbito. Dessa forma, percebe-se que as condições e hábitos de vida, gerados pelo desenvolvimento humano, são primordiais à determinação do estado de saúde ou doença. Esta doença vem merecendo atenção não só por sua capacidade infectocontagiosa, mas também por ser um agravo de saúde pública que afeta a população socialmente vulnerável. Apesar das evoluções tecnológicas do setor saúde e a adoção de políticas publicas de combate, a doença atinge índices alarmantes, principalmente nos países de terceiro mundo (TEIXEIRA, 2001). Segundo a Organização Mundial da Saúde - OMS (WHO, 2010), o Brasil, ocupa a 19ª posição entre os 22 países com maior carga da doença no mundo, pois em 2010 foram notificados no país, 70.601 casos novos da doença, com taxas de incidência de 37,9 e mortalidade de 2,5 casos por 100 mil habitantes (BARREIRA, 2011). Para o controle da TB, é fundamental interromper a cadeia de transmissão da doença. Cada doente não diagnosticado tende a infectar de 10 a 15 pessoas em um ano, sendo que uma ou duas adoecem, mantendo a transmissão da endemia.(CASTILHO, 1982). Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2002) a investigação do contato é uma das estratégias mais apropriadas de vigilância para interromper a transmissão e o desenvolvimento subsequente da TB, só perdendo em efetividade para a busca ativa de sintomáticos respiratórios. As principais medidas de controle da tuberculose recomendadas pelo Ministério da Saúde aos estados e municípios brasileiros são ((BRASIL, 2011a; (BRASIL, 2012; BRASIL, 2013): adoção do esquema de tratamento padronizado mundialmente, com a inclusão do etambutol como quarta droga; priorização do tratamento diretamente observado como estratégia de acompanhamento dos casos; investigação dos contatos; cura com comprovação laboratorial; e adoção de estratégias diferenciadas para grupos mais vulneráveis, como triagem diagnóstica na porta de entrada para a população carcerária e atenção oferecida no local onde vive a população de rua e nos serviços especializados de Aids. As metas globais e indicadores para o controle da TB foram desenvolvidos na perspectiva das metas do desenvolvimento do milênio, bem como no STOP TB Partnership e na Assembléia Mundial da Saúde. Foram consideradas metas de impacto reduzir, até o ano de 2015, a incidência para 25,9/100.000 hab e a taxa de prevalência e de mortalidade à metade em relação a 1990. Além disso, espera-se que até 2050 a incidência global de TB ativa seja menor que 1/1.000.000 habitantes por ano (WHO,2009). Embora as estratégias de controle estejam bem definidas, documentadas e descentralizadas, o país ainda está longe de alcançar a meta, estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de eliminar a tuberculose como problema de saúde pública até 2050 (WHO, 2010). A dificuldade em reduzir a incidência ou até mesmo erradicar a doença, relaciona-seao aumento de problemas sociais tais como baixa renda familiar, educação precária, condições insalubres de habitação, desnutrição, alcoolismo e doenças infecciosas associadas (BRASIL, 2005). Para Ruffino-Netto (2002), além destes, outros fatores podem ser apontados como agravantes, o crescimento das populações marginais, à epidemia de HIV/aids, à multirresistência às drogas, ao envelhecimento da opulação e aos movimentos migratórios. Este quadro ainda se agrava, baseado na organização e qualidade do sistema de saúde, que comprometem o acesso aos serviços, a falha na distribuição de drogas antituberculosas e a falta de pessoal treinado para o diagnóstico, notificação e o acompanhamento do paciente com TB (ALVES et al, 2000). Em 1995 cerca de 1/3 dos 15 milhões de indivíduos infectados pelo HIV no mundo estavam co-infectados pelo M. tuberculosis. Setenta por cento dos indivíduos co-infectados viviam na África, 20% na Ásia e 8% na América Latina. A infecção pelo HIV aumenta a suscetibilidade à infecção pelo M. tuberculosis. Em um indivíduo infectado pelo M. tuberculosis, o HIV passa a ser um importante co-fator na progressão da tuberculose infecção para doença. A notificação de casos de tuberculose tem aumentado em populações onde a co-infecção HIV e M. tuberculosis é frequente ( MELO; SOARES; ANDRADE, 1999). No Brasil, a tuberculose é a terceira infecção oportunista mais freqüente no momento do diagnóstico de casos de AIDS. Em 1984, esta associação correspondia a 13,3% dos casos de AIDS, em julho de 1993, a associação elevou-se para 18,9%. Havia uma projeção do Ministério da Saúde de que no período de 1993 a 1995, apareceriam 87.000 casos novos de AIDS, dos quais 20 a 40% poderiam desenvolver tuberculose (KUSANO,1996). A tuberculose é uma doença de notificação compulsória no país e a responsabilidade é do setor público. O Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil tem como principais pilares a universalização do acesso, a descentralização das ações e a equidade no tratamento (BRASIL,1990a; BRASIL,1990b). O atendimento do SUS, vai desde a disponibilização de medicamentos até a assistência, realizada prioritariamente pela rede de atenção básica de serviços de saúde (BRASIL, 2011a; BRASIL, 2011b; BRASIL, 2006). O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) é a principal fonte de dados da TB, constituindo a base para o cálculo de indicadores epidemiológicos e operacionais do país (DVE, 2007). Outros sistemas, como o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informações Hospitalares (SIH) e Sistema de Informação Laboratorial (SILTB), registram dados sobre diversas fases de ocorrência da doença e devem ser considerados para a vigilância da TB. Além dos sistemas informatizados, os programas de controle da TB em nível municipal ou no das unidades de saúde dispõem de outros instrumentos de registro. O Livro de Registro e Acompanhamento de Tratamento dos Casos de Tuberculose (LPATB) e o Livro de Registro Laboratorial (LRLAB) têm o objetivo de facilitar o monitoramento local dos casos diagnosticados. Garantir a qualidade das fontes de registro que auxiliam a vigilância da TB é tarefa importante para o controle do agravo. O relacionamento entre bases de dados é uma estratégia utilizada para avaliar a sensibilidade do sistema de vigilância. Possibilita encontrar casos que foram identificados por outros sistemas, mas não foram captados pela vigilância da doença, sinalizando para possíveis entraves no fluxo de informação, barreiras de acesso aos serviços de saúde para o diagnóstico e tratamento adequado e em tempo oportuno (FRENK,1985; MILLMAN, 1993). É possível, também, identificar casos que foram diagnosticados por meio de exame laboratorial e que não iniciaram tratamento e contribuem para a manutenção da cadeia de transmissão, especialmente os casos bacilíferos (DVE, 2015). Pacientes com resultado positivo na baciloscopia de escarro e que não iniciam tratamento configuram situação extrema na vigilância da TB, uma vez que se trata de um caso identificado pelos serviços de saúde. A subnotificação de casos no SINAN impossibilita o real conhecimento da situação epidemiológica da TB e prejudica o planejamento das ações voltadas para seu controle. Embora ainda não se saiba o número de casos que são perdidos no SINAN, a recuperação rotineira de dados de diferentes fontes de informação utilizadas pelos Programas de Controle da Tuberculose poderia minimizar a ocorrência do problema. Assim, o objetivo deste trabalho foi analisar a evolução dos casos de TB registrado no DATASUS pelo SINAN para o município de Rio Branco Acre, no período e 2001 a 2013. Material e método Este estudo foi de caráter seccional dos registros de casos de TB no período de 2001 e 2013, pacientes residentes no município de Rio Branco – Acre. O município de Rio Branco, capital do estado do Acre, possui uma área de 865.800 ha. Segundo o IBGE (2014), o município possui 354.194 habitantes, sendo que 88% desta população encontram-se na área urbana e periurbana e os outros 12% na zona rural ou florestal. Localiza-se no sudeste do estado do Acre, sudoeste da Amazônia Ocidental, entre as coordenadas 67º25` e 69º25` de longitude oeste e 9º30` e 10º30` de latitude sul, inserido na Regional do Alto Acre. Corresponde a 5,4% do território acreano e limita-se com os municípios de Sena Madureira, Bujari, Porto Acre, Senador Guiomard, Capixaba, Xapuri e Brasiléia (Figura 1) (RIO BRANCO, 2009). Figura 1 - Localização do município de Rio Branco - AC Rio Branco destaca-se por ser o maior aglomerado urbano do Estado, concentrando aproximadamente 46% do total da população. O município sofreu um intenso fluxo migratório, característico de êxodo rural, o que promoveu a ocupação desordenada do meio urbano, formando os bairros periféricos da cidade e os bolsões de pobreza, que se reproduzem até os dias atuais. O resultado desse processo se reflete no baixo IDH-Municipal, que embora seja o melhor do Estado (0,754), ainda ocupa a posição 1.744ª em relação a outros municípios do Brasil. Essa condição desfavorável está expressa na proporção de pobres registrada no município, que representa 32,1% da população (medida pela proporção de pessoas com renda domiciliar per capita inferior a R$ 75,50, equivalente à metade do salário mínimo vigente em agosto de 2000); a concentração de riqueza, medida pelo Índice de Gini é de 0,62, onde 20% dos mais pobres detêm 2% da riqueza gerada, enquanto 20% dos mais ricos concentram 66,4% da riqueza total no município; a mortalidade de até 1 ano de idade (por 1.000 nascidos vivos) representou 30% (IBGE, 2000) . Os dados foram obtidos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação-Tuberculose (SINAN-TB). O levantamento foi na base de dados do SINAN nacional para recuperação dos casos residentes no município. A coleta dos dados foi feita entre junho e julho de 2015. A opção por iniciar a análise de dados a partir de 2001 deve-se à disponibilidade dos mesmos a partir desse ano. As taxas de incidência, as quais baseiam-se nos casos notificados no SINANTB, foram calculadas conforme o Guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde (BRASIL, 2005). A análise da incidência e dos percentuais de casos novos de TB foi realizada utilizando-se o programa TabWin (http://www.datasus.gov.br). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na analise dos dados de ocorrência de tuberculose registrado para o município de Rio Branco no período de 2001 a 2013 mostrou que a tuberculose se destaca como uma das principais causas de morte entre as doenças infecciosas e parasitarias. A Figura 2 mostra que o numero de óbitos causados por TB é maior que as demais doenças em onze dos treze anos estudados, já que em 2008 o numero de óbitos causados pela AIDS se iguala ao de TB e apenas em 2004 o numero de óbitos causados pela AIDS é maior que os causados por TB. NÚMERO DE OBITOS POR PRINCIPAIS DOENÇAS INFECCIOSA E PARASITARIA Aids Doença de Chagas Tuberculose Diarréia e gastroenterite de origem infecciosa presumível 18 16 Nº de óbitos 14 12 10 8 6 4 2 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 ANO Figura 2 – Números de óbitos causados pelas principais doenças infecciosas e parasitarias no município de Rio Branco – AC. O principal indicador utilizado para avaliar as ações de controle da tuberculose é o percentual de cura dos novos casos. Uma das metas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é identificar 70% e curar, pelo menos, 85% dos casos, como medida para começar a reverter à situação da tuberculose. Em 2010, o Brasil detectou 88% dos casos. No entanto, o alcance do percentual recomendado pela OMS para a cura ainda é um desafio. De 2001 a 2004, o País aumentou o indicador de cura, porém, a partir de 2005, houve uma estabilização, com índices de 73,5%, em 2009, e 70,3%, em 2010 (BRASIL, 2014). Quanto ao percentual de cura dos novos casos para o município de Rio Branco, à figura 3 mostra que ocorre uma variação no percentual de casos bacilíferos curados, pois a menor porcentagem de cura é de 46,44% registrada no ano de 2003 e maior é de 69,23% registrada no ano de 2012. Assim o percentual de cura dos novos casos de TB para o município de Rio Branco ainda é menor que o ultimo percentual (70,3%) registados para o país, de acordo com Ministerio da Saúde (BRASIL, 2014). PERCENTUAL DE CASOS NOVOS Casos bacilÍferos curados (%) Casos de retratamento que realizaram cultura (%) Casos com teste HIV realizado (%) 80 70 Percentual 60 50 69,52 62,58 60,84 58,27 54,16 53,92 60,38 55,88 56,05 46,44 55,68 43,47 40 71,49 67,61 69,23 60,94 56,25 30 26,11 20 10 12,58 10,58 20 11,61 6,55 7,81 1,76 0,66 0,64 0,54 0,52 01,47 0 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 3,97 2,85 2,57 2,26 0,96 0 0 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Ano Figura 3 – Percentual de curas dos novos casos de TB para o município de Rio Branco – AC. A infecção pelo HIV aumenta significativamente o risco de desenvolvimento de tuberculose (TB) ativa: um indivíduo infectado pelo HIV é 25 vezes mais susceptível à TB em relação aos não infectados, e o risco de morte em pacientes coinfectados pelo HIV e pelo bacilo de Koch é duas vezes maior que em paciente soropositivo para o HIV sem TB (RODRIGUES-JÚNIOR et. al., 2006). A sensibilidade dos paciente com HIV a Tuberculose fica mais evidenciada nos resultados demostrados na figura 3, onde observamos um crescimento no percentual de caso de TB associados com teste HIV no município de Rio Branco no período de tempo estudado, uma vez que o percentual em 2001 era igual a 1,47% e em 2013 apresenta-se igual a 71,49%, embora apareça uma tendência de redução deste percentual em 2013 (67,61%). A taxa de detecção da tuberculose em estágios avançados da AIDS é relativamente baixa, uma vez que apenas alguns pacientes irão apresentar elucidação radiológica típica e clínica. Ademais, taxas de positividade do exame são lamentavelmente baixas nesses pacientes, levando ao diagnóstico tardio em um número significativo de pacientes, o que impele a instituição da terapêutica precoce e contribui para a disseminação do bacilo na comunidade (MUNAWWAR E SINGH, 2012). Ainda na esfera clínica, cabe mencionar que a infecção por HIV modifica a apresentação clínica da tuberculose, a duração do tratamento, a tolerância aos tuberculostáticos, a resistência às drogas disponíveis e, possivelmente, a suscetibilidade dos comunicantes envolvidos.( GANDHI NR et. al., 2006; DAFTARY, 2012). Estas mudanças têm favorecido a permanência e o destaque da tuberculose entre as doenças infecciosas mais prevalentes na atualidade (CAMINERO , 2004), sobre tudo na resistência as drogas, o que pode leva ao retratamento e justificaria o aumento do percentual de casos de retratamento de 2009 a 2013 no município de Rio Branco (figura 3), uma vez que coincide com os anos de pico do aumento percentual dos casos de coinfecção HIV e TB . Outras razões de insucesso do tratamento da tuberculose, que leva ao retratamento, salienta-se a interrupção prematura da medicação, decorrente do seu abandono pelo doente. Segundo as normas do Programa Nacional de Controle da Tuberculose - PNCT, "será dada alta por abandono ao doente que deixou de comparecer à unidade por mais de 30 dias consecutivos, após a data aprazada para seu retorno" (BRASIL, 1995). É importante destacar a relevância da variável raça/cor nos sistemas de informações de saúde para o estudo do perfil epidemiológico dos diferentes grupos populacionais, pois as características que distinguem estes grupos podem subsidiar o planejamento de políticas públicas que levem em conta as necessidades específicas dos mesmos (SÃO PAULO, 2011). CASOS DE TUBERCULOSE SEGUNDO RAÇA/COR 120 100 Nº de casos 80 60 40 20 0 Branca 2001 9,09 2002 23,36 2003 28,87 2004 29,85 2005 22,7 Amarela 4,55 Indígena 5,68 Parda Preta 2006 19,15 5,11 0,7 3,73 1,42 1,6 1,46 1,41 0,75 0 2,66 63,64 60,58 57,04 58,21 69,5 69,15 17,05 9,49 11,97 7,46 6,38 7,45 2007 20,71 2008 20,51 2009 8,21 2010 1,7 2011 8,58 2012 15,38 2013 11,43 0 0 0,97 0 0,86 0,45 0,48 0,59 1,92 0,48 0 0,43 0,45 2,38 73,37 70,51 86,47 96,59 84,55 79,64 77,14 5,33 7,05 3,86 1,7 5,58 4,07 8,57 OBITOS DE TUBERCULOSE SEGUNDO RAÇA/COR 100 90 80 Nº de obitos 70 60 50 40 30 20 10 0 2001 2002 2003 Branca 15,38 16,67 7,14 Amarela 0 0 0 Indígena 0 0 0 Parda 76,92 58,33 85,71 Preta 7,69 25 7,14 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 9,09 25 37,5 50 50 14,29 14,29 25 50 7,14 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 8,33 0 0 0 0 0 0 0 0 81,82 41,67 50 50 40 85,71 85,71 75 50 92,86 9,09 25 12,5 0 10 0 0 0 0 0 Figura 4 – A: Ocorrência de casos de tuberculose segundo raça/cor - B: Números de óbitos por tuberculose segundo raça/cor para o município de Rio Branco. A figura 4 mostra que a população de pessoas que se autodeclaram de cor parda ocupa o primeiro lugar na ocorrência casos e óbitos por tuberculose no município de Rio Branco, ao longo do período de tempo estudado. A população de pessoas que se autodeclaram de cor branca aparece em segundo lugar em relação a ocorrência casos e óbitos por tuberculose no município, seguida pela população de pessoas que se autodeclaram de cor preta, e indígena. Já a população de pessoas que se autodeclara de cor amarela é a que detém a menor ocorrência e óbito por tuberculose município de Rio Branco. Em dois estudos, Stead et al. (1990 e 1994) admitiram que os negros americanos poderiam ser mais susceptíveis ao desenvolvimento de tuberculose ativa depois de infectados do que os americanos brancos, demonstrando semelhança ao resultado encontrado por este estudo. Os estudos realizados com foco na análise da situação da tuberculose entre os povos indígenas são, relativamente, poucos, e tendem a se concentrar na região Amazônica. Em geral são estudos de análise transversal ou descritivos com base em registros documentais de anos anteriores. As prevalências encontradas apresentam uma realidade heterogênea, variando desde a ausência de casos até mais de 2.000 casos a cada 100 mil habitantes (Buchillet & Gazin, 1998; Amarante, 2003; Basta et al., 2004; Machado Filho, 2008). CONCLUSÃO Considerando os resultados apresentados neste trabalho concluímos que no município de Rio Branco a tuberculose é a principal causa de óbitos dentre as doenças infecciosas e parasitarias, uma vez que ao longo do período de tempo estudo ela aparece com o maior numero de óbitos em todos os anos. Quanto ao percentual de caso novo, rematamos que a tuberculose ainda não esta sobre controle no município de Rio Branco, haja vista que o numero de casos curados varia entre 46,44% e 69,23%, quando o percentual de casos curado no país já de 70,3%. Um fator que reforça esta conclusão, é o aumento do numero de caso com teste de HIV e de retratamento, ambos podendo estar relacionado, pois o tratamento ministrado para o HIV altera o perfil da doença o gera o aumento do percentual de retratamento. Concluímos ainda, que quanto a cor, o maior numero de casos aparecem na população de pessoas que se autodeclaram de parda, seguida das que se autodeclaram brancas, pretas, indígenas e amarelas. Contudo, em nosso trabalho não abordamos as variáveis sexo e faixa etária. Portanto sugerimos que os estudos futuro abordem estas variáveis, uma vez que elas, bem como outras, permitirão diagnosticar a parcela populacional mais vulnerável a infecção por tuberculose no município de Rio Branco. 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