Segmentação de Clientes do Mercado Aeroportuário: Operação low-cost vs Operação regular e outras Caso de Estudo – Aeroporto de Lisboa (Portela) Miguel de Abreu Faro Nunes Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Júri Presidente: Professor José Antunes Ferreira Orientador: Professora Rosário Macário Vogal: Professor Paulo Teixeira Abril de 2009 Resumo Desde o aparecimento das companhias aéreas low-cost, que têm surgido novos desafios operacionais dentro dos aeroportos. Perceber se existem conflitos, do ponto de vista operacional, entre as companhias regulares e as low-cost, quando operam dentro do mesmo espaço é um dos objectivos desta dissertação. Para avaliar aquilo a que a dissertação se propõe, começou por se estudar a dinâmica do transporte aéreo (desregulamentação do mercado aéreo), bem como as características das companhias low-cost e regulares. As características aeroportuárias foram analisadas do ponto de vista operacional, quer do lado terra como do lado ar, para se melhor perceber a fonte de potenciais conflitos. Esta análise foi complementada pela realização de um caso de estudo no Aeroporto de Lisboa, onde foram efectuados questionários a algumas companhias aéreas. Em paralelo, apresentam-se três segmentações de mercado, que incidem sobre a estratégia das companhias aéreas, sobre a tipologia do passageiro e sobre o mercado das lowcost. Estas segmentações permitem enquadrar melhor algumas das percepções dos diferentes intervenientes no processo operacional, que acabam por dar um importante contributo para as conclusões. Com esta dissertação pretende-se analisar as operações realizadas dentro de um aeroporto desde o momento que o passageiro entra no aeroporto de origem até ao momento em que sai do aeroporto de destino, de forma a obter algumas conclusões ao nível de desempenho e qualidade dos serviços prestados, de forma a melhor se servir os requisitos das companhias low-cost e das regulares. ii Abstract With the arrival of low-cost airline companies, new operational challenges have emerged within the airports. One of the goals of this dissertation is to find out if there are conflicts, in operational terms, between full service carriers and low-cost companies which operate in the same space. In order to evaluate the theme of this dissertation, we begin by studying the dynamics of air transportation (deregulation of the airline market), as well as the characteristics of low-cost companies and full service carriers. The airport characteristics were analyzed from an operational standpoint, both from the land side and the air side, in order to better understand the source of potential conflicts. This analysis was further complemented with the execution of a case study at the Lisbon Airport, where questionnaires were carried out with some airline companies. In parallel, three market segmentations are presented, which focus on the strategy employed by the airline companies, on passenger typology and on the low-cost market. These segmentations allow for an easier understanding of the perceptions of the different players in the operational process, which end up giving an important contribution in reaching the conclusions. In this dissertation we seek to analyse the operations performed in an airport from the moment a passenger sets foot in the airport of origin till the moment he leaves the airport of destination, in order to obtain some conclusions on the level of performance and quality of the services rendered, and what is done to better serve the requirements of low-cost and full service companies. iii Índice Geral 1 Introdução ........................................................................................... 1 2 Metodologia de Avaliação ................................................................. 2 3 Estado de Arte .................................................................................... 4 3.1 Dinâmica do Transporte Aéreo ............................................................ 4 3.1.1 A Desregulamentação no Espaço Europeu ............................................... 4 3.1.2 A Entrada das Low Cost ............................................................................ 6 3.1.3 Factores de Escolha de Aeroportos pelas Companhias Low-cost ............. 9 3.2 Caracterização das Companhias Aéreas ........................................... 12 3.2.1 Caracteríticas das Low Cost .................................................................... 12 3.2.2 Características das Companhias Regulares ............................................ 22 4 Caracterização Aeroportuária ......................................................... 30 4.1 Lado Terra ......................................................................................... 34 4.2 Lado Ar .............................................................................................. 38 5 Segmentação de Mercado das Companhias Aéreas .................... 43 5.1 Segmentação Estratégica .................................................................. 44 5.2 Segmentação por Tipologia de Passageiro ....................................... 45 5.3 Segmentação de companhias Low-cost ............................................ 49 6 Caso de Estudo: Aeroporto de Lisboa (Portela) ........................... 55 6.1 Realização de Entrevistas.................................................................. 55 6.2 Análise de Resultados ....................................................................... 56 7 Conclusões ....................................................................................... 65 iv 8 Bibliografia ....................................................................................... 69 Anexos .................................................................................................... 74 Índice de Figuras Figura 1 - Esquema da Dissertação .............................................................................................. 3 Figura 2 - Diagrama de Fluxos .................................................................................................... 33 Figura 3 - Análise paralela dos procedimentos das low-cost e da regulares ............................. 35 Figura 4 - Análise paralela dos procedimentos operacionais .................................................... 39 Figura 5 - Ilustração do terminal de processamento de bagagens da TAP no Aeroporto da Portela ......................................................................................................................................... 41 Figura 6 - Segmentações de mercado ........................................................................................ 44 Índice de Tabelas Tabela 1 - Factores de escolha de aeroporto pelas low-cost ..................................................... 11 Tabela 2 - Modelo Southwest...................................................................................................... 14 Tabela 3 - Modelo low-cost ......................................................................................................... 18 Tabela 4 - Modelo companhias regulares ................................................................................... 24 Tabela 5 – Características Aeroportuárias .................................................................................. 31 Tabela 6 – Análise da 1ªparte - lado terra................................................................................... 61 Tabela 7 – Análise da 2ªparte - lado ar ....................................................................................... 64 v 1 Introdução Nos últimos anos tem-se verificado grandes alterações no sector aeronáutico, quer seja devido às várias crises do início do século XXI como também face à liberalização do sector. Esta liberalização que se torna benéfica para todos os passageiros do transporte aéreo, por vezes parece traduzir-se em sérias dificuldades para as companhias aéreas conseguirem manter a sua rentabilidade. A entrada de novas companhias aéreas neste sector levou, e continua a levar, a que muitas mudanças ocorram em diversas áreas do sector aeronáutico, resultando em privatizações de negócios que até agora eram sustentadas pelos orçamentos públicos dos próprios países. Estas privatizações em conjunto com as crescentes liberalizações do sector trazem uma maior especialização a todas as indústrias do mesmo, com o intuito de se conseguir alcançar melhores níveis de desempenho e de qualidade. Quando as companhias low-cost entraram no mercado aeronáutico, introduziram um modelo de negócio novo, que veio exigir uma eficiência extremamente grande ao nível das operações aeroportuárias. Desta forma as entidades gestoras de aeroportos depararam-se com novos desafios dentro dos seus aeroportos, aos quais tentam responder com as melhores soluções (Pitt & Brown, 2001, pg 1). Posto isto, surgem dúvidas relativamente à criação de aeroportos especializados para os diferentes tipos de serviços aeronáuticos, pois hoje em dia subsiste a ideia de separar as companhias aéreas regulares e as low-cost, ao nível de espaço aeroportuário. Esta separação pode ser feita quer através de utilização de terminais diferentes dentro de um mesmo aeroporto ou recorrendo mesmo a aeroportos distintos. Esta tese propõe-se fazer uma análise exploratória sobre a necessidade destas infra-estruturas segregadas ou se é possível aos vários tipos de companhias partilharem o mesmo espaço sem a ocorrência de conflitos. Recorrendo a uma análise das características aeroportuárias, a uma análise das operações aeroportuárias e a segmentações do mercado aeronáutico de passageiros, esta tese pretende perceber se existem conflitos num caso de estudo, que é o aeroporto de Lisboa. 1 2 Metodologia de Avaliação Neste capítulo apresenta-se a descrição de todo o processo e método de desenvolvimento desta dissertação, como também a linha de pesquisa que será seguida de forma a serem atingidos os objectivos a que me proponho. Desta forma (seguindo o esquema da figura 1), começa-se por analisar a dinâmica do mercado aéreo e por fazer uma caracterização aeroportuária. Em paralelo apresentam-se algumas segmentações de mercado das companhias aéreas. A esta pesquisa juntam-se umas entrevistas realizadas a algumas companhias aéreas a operarem no aeroporto de Lisboa, que têm o propósito de ajudar nas conclusões desta dissertação. Esta dissertação é composta por 7 capítulos. No primeiro capítulo enquadra-se o tema proposto e definem-se os objectivos da dissertação. No capítulo 2, tal como acima referido, é apresentada a estrutura do trabalho e é descrita a forma como será executado. No capítulo 3 aparece o estado de arte, onde na primeira parte é feita uma apresentação da dinâmica do transporte aéreo, iniciando-se na desregulamentação dos mercados aéreos para depois se passar pela entrada das companhias low-cost e pelos respectivos factores de decisão na escolha dos aeroportos. Na segunda parte deste capítulo são analisadas as características das companhias low-cost e das regulares. Relativamente ao capítulo 4, começa-se por descrever as características aeroportuárias no geral para depois se proceder a uma análise detalhada das diferenças entre as companhias aéreas low-cost e as regulares ao longo das diferentes áreas operacionais do aeroporto. Esta análise é efectuada em dois fluxos de etapas distintos, o lado terra e o lado ar. No capítulo 5 apresenta-se três segmentações de mercado distintas. Uma primeira mais geral, que incide sobre as estratégias das companhias aéreas e as outras duas mais especificas, que se referem aos passageiros e ao mercado das low-cost, respectivamente. Quanto ao capítulo 6, refere-se ao caso de estudo, que nesta dissertação é o aeroporto da Portela. Neste capítulo são efectuados dois questionários, um primeiro à entidade gestora do aeroporto e um segundo dirigido às companhias aéreas a operarem no aeroporto. Depois procede-se à análise dos dados recolhidos de forma a preparar as conclusões. No último capítulo desta tese reporta-se às conclusões da dissertação. 2 Figura 1 - Esquema da Dissertação 3 3 Estado de Arte 3.1 Dinâmica do Transporte Aéreo 3.1.1 A Desregulamentação no Espaço Europeu Nas últimas décadas o mercado aeronáutico sofreu muitas alterações que vieram transformá-lo bastante. Passando de um mercado muito fechado e pouco competitivo para um mercado mais liberal e logo mais concorrencial. Esta mudança deveu-se à desregulamentação gradual deste mercado que começou por permitir uma maior liberdade às companhias aéreas, bem como possibilitou a entrada a novas companhias. O primeiro passo para o início da liberalização deu-se em 1984, quando foi negociado um acordo entre o Reino Unido e a Holanda. Este acordo desregulou os serviços aeronáuticos entre os dois países, nomeadamente ao nível da permissão de entrada de novas companhias aéreas, da autorização de acesso a rotas que ligam a qualquer ponto nos dois países por determinada companhia e do fim das partilhas de receitas por parte de duas companhias a operar na mesma rota. Dois anos mais tarde, em 1987, foi celebrado o primeiro acordo pela comunidade europeia que tinha por objectivo aliviar um pouco as restrições do mercado. Este acordo visava a introdução de um regime de bilhetes mais livre, obrigou ao fim da igual repartição da capacidade em rotas servidas por duas companhias de países diferentes, facilitou a entrada de novas companhias aéreas através da permissão de acesso ao mercado por parte de novas companhias aéreas e por último submeteu o transporte aéreo às regras da concorrência de mercado definidas pelo Tratado de Roma. Em 1990, foi celebrado o segundo acordo (“Second Package”) rumo à liberalização do mercado aeronáutico dentro da União Europeia. Acordo este que aliviou ainda mais as restrições do mercado ao nível do preço, da capacidade de transporte e do acesso ao mercado por parte de novas companhias. Mas a maior vantagem deste segundo acordo foi possibilitar a designação múltipla de companhias em rotas com densidade de tráfico acima de determinado 1 nível, bem como autorizar os direitos do “Third and Fourth Freedom ” na maioria das rotas da Comunidade Europeia. 1 Third Freedom (terceiro Direito) – Direito de transportar passageiros do seu próprio país (A) para o país (B) pertencente ao acordo feito. 4 A desregulamentação do mercado aeronáutico só ocorreu no dia 1 de Janeiro de 1993 juntamente com a passagem a mercado único de bens, serviços e pessoas dentro da Comunidade Europeia. O fim das fronteiras entre os membros da Comunidade permitiu a entrada em vigor do terceiro acordo (“Third Package”), composto por três Decretos de Lei ligados entre si. O primeiro Decreto-Lei (EU Regulation 2408/92) define a existência de mercado de livre acesso, isto é, as companhias aéreas podem operar em qualquer rota dentro da União Europeia sem limitações sobre a capacidade de transporte, mesmo se essas rotas sejam fora do seu próprio país, algo que até aqui era impensável. As únicas restrições possíveis, são ao nível do ambiente, da capacidade das infra-estruturas e dos desenvolvimentos regionais e podem ser impostas pelos Governos, no entanto têm de ser justificadas. O segundo Decreto-Lei (EU Regulation 2409/92) enuncia o fim do controlo dos preços por parte dos Governos, deixando ao critério das companhias aéreas os preçários, ainda assim ficaram salvaguardados alguns direitos de forma a evitar abusos nos preços de mercado. O terceiro Decreto-Lei (EU Regulation 2407/92) veio homogeneizar os requisitos e os certificados para a obtenção de licenças de transporte aéreo dentro da Comunidade Europeia. Porém esta lei exige que a maioria da companhia aérea seja detida e controlada por um dos estados membros ou por empresas pertencentes à Comunidade. Neste decreto é ainda definido que a partir deste momento os regulamentos são aplicados de igual forma para os serviços regulares e para os serviços charters. Apesar de o terceiro acordo na Europa possibilitar a aquisição de uma companhia aérea noutro país que não o de origem do comprador, este factor na realidade tinha o inconveniente de os acordos bilaterais para as rotas fora da Comunidade Europeia não permitirem essa maioria de capital estrangeiro nas companhias a operarem essas rotas. Mesmo assim ocorreram várias aquisições de capital em companhias de outro estado membro dentro da Europa, o que se revelou positivo para a competitividade do mercado europeu e como tal também para os passageiros. A liberalização do mercado aéreo europeu foi acompanhada por uma série de regulamentações de forma a acautelar a formação de monopólios, a analisar com cuidado as fusões e aquisições e a evitar ainda as ajudas financeiras por parte das companhias aéreas detidas pelos estados membros. Posto isto, em muitos acordos entre companhias aéreas, ou até mesmo nas fusões (p.e. Air France – KLM), o Tribunal de Justiça Europeu e a Comissão Fourth Freedom (quarto Direito) – Direito de transportar passageiros do país B de volta para o seu próprio país A. 5 Europeia exigiram uma série de condições, tais como obrigar a parceria a ceder algumas das suas “slots” nos seus hubs de forma a garantir a concorrência no mercado. Durante a década de 80 e o princípio dos anos 90, grande parte das companhias aéreas estatais estavam a ser fortemente subsidiadas pelos os seus governos (Doganis, 2006, pag.223), o que à luz dos artigos 88º até ao 90º do Tratado de Roma não era possível, pois estes artigos proibiam qualquer tipo de ajuda estatal. De forma a ultrapassar esta problemática, a Comissão Europeia na década de 90, autorizou grandes injecções de capital por parte dos governos nas suas companhias aéreas, mas com o intuito de as transformar em empresas rentáveis e funcionando como um primeiro passo para a privatização. Estas ajudas financeiras só podiam ser usadas para a reestruturação financeira e operacional das companhias aéreas, através do pagamento de dívidas, reformas antecipadas dos trabalhadores entre outras medidas. A Comissão Europeia, como suplemento de todas as medidas acima referidas relativas à competitividade do mercado, agindo através do Conselho de Ministros aprovou várias directrizes, regulamentos e códigos de conduta de forma a garantir a concorrência em áreas onde esta era reduzida e para evitar a prática de medidas indevidas. Quer o código de conduta destinado à entrega de “slots” (Council Regulation 95/93), quer a directiva referente ao “handling” terrestre (Council Regulation 96/97), tinham por objectivo garantir melhor concorrência de mercado. Quanto ao código de conduta para os sistemas informáticos de reservas tinha a finalidade de evitar a concorrência desleal (Council Regulation 3089/93 e 323/1999). Além destas medidas, também foram implementadas medidas de segurança que visavam proteger os consumidores. Todas estas directivas comunitárias criadas após a desregulamentação do mercado aeronáutico, podem parecer uma nova regulamentação do mesmo mercado, mas no entanto têm o propósito de permitir um aumento eficiente da concorrência no mercado sem que existam práticas menos correctas ou mesmo abusos por parte de quem detenha posições de mercado dominantes. 3.1.2 A Entrada das Low Cost A desregulamentação do mercado aéreo na Europa conduziu à entrada de um modelo de negócio que já mostrava o seu sucesso nos EUA. Este modelo foi criado e implementado pela Southwest Airlines, companhia aérea de baixo custo que aproveitou a desregulamentação do mercado interno nos EUA para se estabelecer. A ideia de negócio associada a esta empresa veio revolucionar o mercado aéreo no mundo inteiro, espoletando muitos outros seguidores do modelo de negócio, acabando este por proliferar na Europa (Doganis, 2006, pags: 150, 156, 159 e 164; Macário, 2007). 6 A grande maioria das companhias aéreas que entraram no mercado desde a desregulamentação, são companhias de baixo custo. Podem muitas vezes não se afirmar como companhias “Low Cost”, mas pelo menos apresentam custos mais baixos do que as companhias tradicionais. Uma vez que as companhias aéreas regulares que estão estabelecidas há muito, têm encargos de pessoal elevados e uma estrutura de custos avultada, a entrada das companhias aéreas low-cost no mercado foi mais fácil graças a um modelo económico altamente competitivo face aos modelos existentes (Doganis, 2006, pag.171, Table 6.5,”The Airline Business”). Posto isto, as companhias aéreas que se lançaram nos últimos anos na Europa, com um modelo low-cost, conseguiram se impor rapidamente no mercado, tirando também partido da oferta de um novo produto, do impacto criado pela oferta de bilhetes muito mais baixos do que os praticados aquando da entrada das low-cost (Doganis, 2006) e ainda mais recentemente devido a uma mudança nas preferências por parte dos consumidores que começaram a querer consumir cada vez mais e melhor, pagando cada vez menos pelos bens e serviços, face a uma perca de poder de compra. (Gaggi e Narduzzi, 2008) (pag 63) A primeira companhia de baixo custo a aparecer na Europa foi a companhia Irlandesa Ryanair, em 1985. Quando iniciou a sua actividade a Ryanair não era uma companhia low-cost, mas sim uma companhia de tarifas baixas. O alvo da sua entrada foi um nicho de mercado Irlandês, no qual fazia a ligação entre a Irlanda e o Reino Unido com voos praticamente tradicionais. Estes voos tinham duas classes diferentes por voo, mas a um custo muito inferior, o que acabou por estimular um rápido crescimento no número de passageiros nas rotas que operavam. No caso da rota Dublin – Londres, onde por sinal o crescimento do número de passageiros estava estagnado há uma série de anos, o crescimento duplicou obrigando a British Airways e Air Lingus a baixar os preços. No entanto surgia uma complicação neste modelo de negócio, pois a Ryanair não se estava a revelar rentável. Apesar de conseguirem ter custos mais baixos que a concorrência, não eram suficientemente baixos para aplicarem os preços que estavam a empregar. A rendibilidade só foi alcançada quando, em 1991, alteraram a estrutura dos seus voos para uma classe sem qualquer tipo de extra e alteraram a sua base em Londres do aeroporto de Luton para o de Stansted, pois permitia um acesso mais rápido ao centro da cidade. O exemplo da companhia aérea Ryanair estimulou outros investidores na Europa a entrarem no negócio da aviação, mercado que até aqui não parecia ser possível fazer frente às companhias aéreas estabelecidas há muito tempo. A este novo alento junta-se a desregulamentação do mercado dentro da União Europeia, que possibilita um futuro muito mais promissor para todas as potenciais novas companhias ansiosas por explorar o mercado europeu. A partir de 1995 começaram a surgir novas companhias aéreas seguidoras do “modelo Southwest”. No espaço de cinco anos, entre 1995 e 2000, surgem quatro companhias low-cost todas a operarem em Londres. As duas primeiras a Easyjet (1995) e a Debonair (1996), 7 começaram a operar de Luton e foram seguidas, em 1997, pela Virgin Express que começou a operar de Bruxelas. A Virgin Express apesar de operar a partir de Bruxelas, também é uma companhia detida por capital inglês, o que demonstra a importância do empreendedorismo inglês no começo desta revolução do serviço aéreo de passageiros na Europa. As duas segundas companhias a emergirem em Londres foram a Go (1998) e a Buzz (2000). A Go é lançada pela British Airways e opera em Stansted, enquanto que a Buzz é uma subsidiária da KLM e também tem a sua base em Stansted. A grande vaga de novas companhias aéreas que emergiu, originou a uma concorrência sem precedentes, principalmente em Londres, o que acabou por motivar a queda da Debonair em 1999, seguida pela Go e pela Buzz que só duraram cerca de 3 anos e que foram compradas pela Easyjet e Ryanair respectivamente. Foi precisamente a partir da 1999 que o mercado europeu das low-cost começou um grande crescimento e em 2004, a Ryanair e a Easyjet já eram as maiores companhias aéreas de baixo custo da Europa. A melhor prova de como o mercado das low-cost pode ser um mercado rentável, foi demonstrada nesse ano em que cada uma destas companhias encomendou mais de 100 aviões novos. De salientar que nem todas as companhias low-cost que foram lançadas conseguiram sobreviver, sendo que muitas companhias low-cost lançadas já faliram e outras que ainda resistem não atravessam situações económicas muito favoráveis, como é o caso da companhia 2 SkyEurope que apresenta resultados negativos pelo menos desde 2004 . O sucesso obtido pelas companhias low-cost desde o seu aparecimento e a capacidade evidenciada em ultrapassar as diversas crises do mercado aéreo como as provocadas pelo terrorismo e pela gripe das aves, levaram muitas companhias aéreas regulares e as charters a entrarem no mercado com subsidiárias de baixo custo (Vlaar, Vries e Willenborg, 2005) e a repensarem toda a sua estrutura de custos (Doganis, 2006). O impacto das companhias low-cost no mercado europeu foi tão grande, que apesar de no verão de 2002 ainda representarem cerca de 8,5% do mercado aéreo entre os membros da União Europeia (incluindo a Suiça), em Junho de 2007 a sua quota de mercado já ascendia aos 19,5% (dados Eurocontrol, 2007), apresentando um crescimento de cerca de 2,5% comparativamente ao ano de 2006. A zona de Portugal continental mais o aeroporto da Madeira que é denominada por Lisbon FIR, apresenta um aumento de 5,1% dos 12,5% dos primeiros 6 meses de 2006, para os 17,6% nos mesmos meses do ano de 2007. Ainda segundo o mesmo relatório do Eurocontrol, alguns estados membros tiveram crescimentos acima dos 5%, mas na maioria dos países o crescimento manteve-se em linha com o de anos anteriores, isto é, na casa dos 2%. 2 Informação recolhida dos relatórios anuais da companhia disponíveis no site de Internet. 8 Relativamente à distribuição dos movimentos das companhias low-cost pelos diferentes tipos de aeroportos, surge uma ligeira tendência de mudança para os aeroportos principais. Já o número de companhias low-cost que se registavam a operar nesta data, Junho de 2007, era de 49 companhias, com 25 destas a operarem mais de 50 voos por dia. Mesmo assim nos maiores mercados entre diferentes países da Comunidade Europeia, as companhias regulares ainda dominam apesar das quotas de mercado das companhias de baixo custo estarem a aumentar. O Reino Unido continua a ser a região com maior percentagem de voos low-cost, que apesar da elevada quota de 28,6% nos primeiros 6 meses de 2006, consegue ainda um crescimento de quase 4% e passar para os 32,5% nos respectivos meses do ano de 2007 (Eurocontrol, 2007). No entanto salienta-se que o crescimento das companhias low-cost na Europa, como já havia sucedido nos EUA, não se deveu só ao desvio dos passageiros das companhias regulares, mas sim à criação de mais tráfego. Temos por exemplo as duas maiores companhias aéreas low-cost, que recorreram a estratégias bastante diferentes de crescimento e ambas tiveram sucesso. Enquanto a Ryanair apostou em servir mercados que não tinham qualquer serviço aéreo, mas que apresentavam potencial, voando muitas vezes para aeroportos regionais que estavam desesperados por ganhar tráfego internacional e onde conseguem obter os serviços a um custo muito inferior. Por outro lado a Easyjet procurou sempre servir as rotas mais densas, optando por voar dos principais aeroportos (Doganis, 2006, pags: 190 e 263; Graham & Shaw, 2008, pg 3). O modelo de negócio low-cost consegue proliferar de forma mais evidente em mercados que apresentem determinados factores, aos quais Francis, Humphreys, Ison, Aicken (2006) denominaram de catalizadores de crescimento das companhias low-cost: • Desregulamentação dos mercados; • Empreendedores (empresários); • Crescimento da população e o bem-estar económico; • Disponibilidade e capacidade dos aeroportos vendida a um preço baixo e sem congestionamentos, permitindo operações intensivas; • Internet – vendas facilitadas, tarifas mais simples, vendas globais. 3.1.3 Factores de Escolha de Aeroportos pelas Companhias Low-cost A escolha acertada de um aeroporto por parte duma companhia low-cost pode ser um factor crucial no seu sucesso. Os custos com as taxas aeroportuárias representam cerca de 12% da 9 estrutura de custos de uma companhia low-cost (Doganis, 2001), no entanto a decisão de escolha de um aeroporto por parte de uma low-cost reflecte mais do que apenas o custo. Por exemplo para a Ryanair, a pioneira neste tipo de companhia na Europa, entre os factores decisivos encontram-se os baixos custos com taxas aeroportuárias, possibilidade de tempos de rotação rápidos, a existência de terminais simples, zonas de check-in que permitam a rapidez desta operação e ainda boas instalações e acessibilidades aos passageiros (Barret, 2004). Warnock-Smith e Potter (2005) realizaram um estudo sobre os factores de decisão das companhias low-cost na escolha de um aeroporto, que incluiu oito companhias aéreas low-cost Europeias, cinco delas baseadas no Reino Unido e três baseadas nos restantes membros da União Europeia. Este estudo concluiu que os factores de decisão mais importantes são os apresentados na tabela 1. Estes valores estão numerados por ordem de importância para as companhias aéreas que participaram neste estudo. Da observação da tabela podemos constatar que o factor mais determinante é a elevada procura por serviços de companhias aéreas low-cost na área de influência do aeroporto em questão. Este factor revelou-se unanimemente o mais importante pois sete das dez companhias aéreas inquiridas elegeram-no como o mais importante. Outro factor importante e que também está relacionado com a procura, é a existência de previsões positivas relativamente ao potencial da região face a viagens de turismo e de trabalho. Este factor aparece na quinta posição e revela-nos o potencial de criação de novos mercados das companhias low-cost em muitos dos mercados onde estas se instalam. 10 Tabela 1 - Factores de escolha de aeroporto pelas low-cost Posição 1 2 2 4 5 5 7 8 8 10 10 12 13 14 15 Factor de Decisão Elevada procura por serviços de companhias aéreas de baixo custo Instalações aeroportuárias que permitam obter tempos de rotação rápidos e eficazes Acesso a tempos de “slot” convenientes Bons descontos ao nível de taxas e serviços aeroportuários Previsões positivas relativamente a viagens de turismo e de trabalho Gestão aeroportuária consciente da importância dos custos Elevada competição entre aeroportos Boas acessibilidades terrestres ao aeroporto Existência de capacidade de reserva aeroportuária Boas políticas ambientais Planos de expansão ambiciosos Aeroportos privatizados ou desregulamentados Boas receitas com as actividades comerciais Boa experiência com companhias low-cost Elevada competitividade entre companhias aéreas Fonte: Warnock-Smith e Potter (2005) Os factores de decisão que aparecem, com a mesma ordem de importância, na segunda posição são a existência de instalações aeroportuárias capazes de permitir às companhias low-cost efectuarem tempos de rotação rápidos e a disponibilidade do aeroporto face à oferta de tempos de “slot” convenientes, isto é, a horas que sejam do interesse da companhia aérea de forma a estas conseguirem maximizar a utilização das suas frotas. Estes dois factores revelam-se como dois indicadores importantes para o facto de geralmente as companhias aéreas low-cost operarem de aeroportos secundários e regionais. Na quarta posição surgem os descontos ao nível de taxas e serviços aeroportuários, o que demonstra que este não é o factor de maior relevância para as companhias aéreas de baixo custo, apesar de muitos dos gestores aeroportuários terem essa percepção. No entanto, este ponto também se revela bastante importante, com seis das oito companhias a elegerem-no como dos primeiros factores e as duas restantes companhias que não elegeram são companhias low-cost que resultaram de companhias originalmente regulares. No fundo da tabela aparece o argumento menos importante para as companhias aéreas, que é a elevada competitividade entre companhias aéreas num determinado aeroporto. Uma vez que as companhias low-cost têm todo o interesse em preservar a sua existência, entrar em competição com algumas companhias low-cost de maior dimensão pode-se tornar muito perigoso, sendo que é perfeitamente perceptível que as companhias aéreas procurem evitar estes confrontos, procurando novos mercados para operarem. Na mesma lógica da competição, surge o argumento de o aeroporto possuir boa experiência em lidar com operação de companhias de baixo custo, porque entrar num 11 aeroporto que está habituado a trabalhar com companhias low-cost significa que entrar em concorrência directa com outras companhias de baixo custo. Estes dois argumentos sustentam as ideias que existem das vantagens que uma companhia aérea de baixo custo tem em ser a primeira a entrar em determinada rota e em determinados aeroportos. As receitas comerciais que um aeroporto possa fazer não se revelam um factor determinante, algo compreensível, uma vez que o facto de aeroporto conseguir ter boas receitas comerciais, poderia permitir uma diminuição das taxas aeroportuárias. No entanto, as companhias aéreas não estão minimamente preocupadas com os custos das entidades aeroportuárias, mas sim interessados em reduzir os seus próprios custos. Os restantes argumentos revelam-se mais aleatórios e logo menos conclusivos, podendo ter maior ou menor relevância consoante a companhia aérea em questão e consoante as suas estratégias. 3.2 Caracterização das Companhias Aéreas 3.2.1 Caracteríticas das Low Cost Modelo Southwest As companhias aéreas low-cost exibem, em geral, características semelhantes, sendo que todas derivam do mesmo modelo inicial. O modelo original foi iniciado pela companhia aérea americana Southwest, em 1978, e apresenta as características iniciais do modelo que é utilizado hoje em dia. No entanto, foi sofrendo aperfeiçoamentos e alterações de forma a adaptar-se à mudança dos tempos. Na tabela 2 pode-se observar as características iniciais deste modelo e daí se percebe que grande parte das mesmas não se alterou até aos dias de hoje. A tabela tem duas partes, a primeira está relacionada com o produto que a companhia disponibiliza e a segunda com as operações. Em ambas as partes reina a simplicidade face ao que as companhias regulares apresentam e face ao que qualquer outra companhia aérea fazia na época. A Southwest quando iniciou o seu negócio, procurou concentrar a sua estratégia em operar voos curtos ponto a ponto e a preços baixos, com frequências elevadas e com excelente pontualidade. Acabou com as tradicionais refeições a bordo, com os lugares marcados e com os voos de ligação, no entanto introduziu uma estratégia de marketing inovadora. Estratégia esta, que consistia no slogan “flying is fun” (voar é divertido), para o qual os seus trabalhadores foram treinados de forma a garantir que os voos fossem mesmos divertidos. Esta campanha resultou e a companhia além de desviar passageiros de outras companhias conseguiu atrair os passageiros que usualmente faziam curtas distâncias de carro entre as cidades nas quais a Southwest começou a operar. Sempre que a companhia entrava num novo mercado, estimulava de tal forma a procura que não conseguia ter capacidade de resposta, conseguindo desta forma manter sempre as taxas de ocupação elevadas. 12 A Southwest começava por escolher os mercados onde ninguém estivesse a operar, ou que estivessem mal servidos ou ainda que tivessem os preços dos bilhetes elevados. A sua estratégia de preços era posicionar-se a cerca de 1/3 do preço da classe económica das companhias a operarem nesse mercado, de forma a conseguir obter uma posição dominante nesse mercado. Esta estratégia deu os seus frutos e em alguns anos a companhia estava com posições dominantes em cerca de 90 dos seus 100 melhores mercados. Como se pode observar na tabela a companhia oferecia um produto muito simples que tinha como objectivo muito claro, ser muito mais barato do que todos os outros produtos do mercado. A simplificação quer do produto quer de todas as operações da companhia aérea permitem que esse objectivo seja atingido. De realçar que na distribuição a Southwest não conseguiu desde o inicio a vantagem que é possível obter nos dias de hoje com a ajuda da Internet. Naquela altura o único instrumento que a companhia encontrou foi fazer os seus próprios bilhetes sem recorrer aos sistemas de reservas por computador existentes (como o Galileo e o Sabre) e mais tarde introduziu a venda directa (por telefone – call centers - e depois Internet) que permite evitar a comissão do agente de viagens. Outra grande invenção que a Southwest lançou, foi o “Ticketless”, que consiste na venda de um bilhete que não precisa de ser impresso, o que permite reduzir drasticamente os custos. Esta ferramenta tornou-se, nos dias de hoje, indispensável para qualquer companhia low-cost. Uma particularidade da Southwest face às companhias low-cost a operarem na Europa, é que a companhia americana sempre usou agências de viagem. No respeita às características a bordo da aeronave, o modelo Southwest revolucionou o mercado ao introduzir uma classe única, ao retirar os lugares marcados e ao acabar com as refeições abordo. Além da classe única, também foi aumentada a densidade de lugares permitindo ter maior número de passageiros por voo. Retirar os lugares marcados do avião foi uma ideia simples e extremamente eficiente, pois faz com que os passageiros tentem entrar o mais cedo possível na aeronave de forma a conseguirem ocupar o lugar que desejam e desta forma permite à companhia aérea ter um embarque mais rápido, que de um modo simples resulta numa pontualidade eficaz, o que até então era muito difícil de ser alcançado por uma companhia regular. 13 Tabela 2 - Modelo Southwest Tarifas Distribuição A bordo Producto Simples Baixas Simples Ponto a Ponto Sem ligações Agências de viagens e venda directa (call centers) Ticketless (solução de venda que não necessita da impressão do bilhete) Classe única Mais densidade de lugares (menor espaço por lugar) Sem marcação de lugares Sem refeições Só servem snacks e bebidas leves Frequência Elevada Pontualidade Muito boa Operações Simples Aeronaves Sectores Aeroportos Crescimento Um único modelo (Boeing 737) Utilização elevada (cerca de 11 horas/dia) Baixo curso (short haul) Secundários ou pouco congestionados 15 a 20 minutos de tempo de rotação Objectivo de 10% ao ano c/ máximo de 15 % Salários competitivos Recebem prémios consoante os lucros Alta produtividade Modelo original Southwest Airlines - adaptado de The airline business de Rigas Doganis Trabalhadores A frota da Southwest é composta somente por Boeing 737, o que aliado com uma utilização mais intensiva da aeronave (cerca de 11 horas/dia) lhe permite ter uma vantagem competitiva face às outras companhias. O facto de utilizar só um tipo de aeronave, permite reduzir os custos de manutenção e os custos com o treino dos pilotos, ao passo que a utilização mais intensiva dos aviões traduz-se numa melhor rentabilização de custos. A utilização de aeroportos secundários ou pouco congestionados é outro factor importante neste modelo, porque torna possível a obtenção de tempos de rotação na casa dos 20 minutos e ainda concede taxas aeroportuárias mais baixas. Esta concessão deve-se ao sucesso que o modelo tem e que acaba por dar a possibilidade de um aeroporto secundário atrair mais tráfico e como tal, tornar-se mais rentável. 14 Outro factor que se revela importante para a vantagem competitiva, ao nível do preço, do modelo da Southwest é os encargos com os trabalhadores, os quais recebem salários abaixo dos trabalhadores das companhias regulares e sem beneficiarem de tantas regalias como nestas. No entanto, este modelo prevê uma forma diferente de remunerar os trabalhadores, consoante os lucros da empresa e desta forma consegue um nível de produtividade acima da normal, saindo a empresa e os trabalhadores a ganhar. Evolução do Modelo Low-cost Como já foram referidos anteriormente, os princípios chave do modelo de negócio das companhias aéreas low-cost mantiveram-se praticamente inalterados desde o seu começo na década de 70 nos EUA. O seu sucesso a propagou-se por todo o mundo e hoje em dia a companhia Southwest Airlines consegue ser mesmo a companhia aérea que transporta maior número de passageiros no mundo. As novas tecnologias, como p.e. a Internet, revelaram-se altamente benéficas para a proliferação do modelo low-cost, isto obviamente após a desregulamentação dos mercados aeronáuticos, sem os quais não era de todo possível e viável implantar este modelo em mercados pequenos. Como se pode observar na Tabela 3 grande parte das características mantiveram-se desde a década de 70 nos EUA, sendo mesmo no geral apelidadas de “Southwest copycats” (imitadoras do modelo Southwest). • Produto Ao nível do produto, praticamente todas as companhias aéreas apresentam as mesmas características, com uma classe única de passageiros, um esquema simples de bilhetes e com pouca flexibilidade de alteração de bilhetes, que requerem sempre custos extras. Relativamente ao catering a bordo, ao contrário do que a Southwest faz, de oferecer snacks e bebidas leves abordo, as companhias low-cost na Europa no geral não oferecem qualquer tipo de refeição, sendo os snacks e as bebidas vendidas no caso de o passageiro estar interessado. O programa de utilizador frequente, que no geral também não está entre as características das low-cost, está disponível em algumas companhias, como por exemplo na Air Berlin com o nome de “Topbonus” e até mesmo na Southwest com a designação de “Rapid rewards”. Estes programas tal como nas companhias regulares têm regras muito próprias, tendo por conseguinte funcionamentos distintos. Da mesma forma os conceitos de air-lounges e de business lounges também não fazem parte das características das companhias de baixo custo, no entanto tem-se o exemplo da Easyjet que já tem lounges em alguns aeroportos, funcionando estes com um custo adicional variável consoante o tempo que se pretenda usufruir deles e dependendo da hora a que se queira utilizar, podendo ter preços menos acessíveis a horas de pico. Este serviço funciona em “outsourcing” através da empresa Servisair Lounges. 15 • Custos Operacionais Ao nível operacional, a utilização de frotas simples com preferencialmente um único tipo de avião é pratica comum por todas as companhias low-cost, de modo a conseguirem obter custos mais baixos e uma produtividade superior. Para este objectivo dos custos e da produtividade, também contribuem, tal como no modelo original, a elevada utilização das aeronaves e os baixos tempos de rotação. As companhias low-cost apostam na vantagem competitiva de terem menores encargos com os seus trabalhadores face às companhias regulares, que sempre deram muitas regalias aos seus empregados. Para além de salários mais reduzidos, os trabalhadores duma companhia low-cost, também têm que executar mais tarefas do que numa regular, de forma a serem melhor rentabilizados. Como exemplo desta melhor rentabilização temos o caso das hospedeiras que têm também de executar a limpeza da aeronave e muitas vezes ajudar no processamento de embarque de todos os passageiros. No entanto esta estratégia de pagar menos pelo mesmo serviço do que quando este é executado por uma companhia regular, pode causar os seus problemas, pois por muito que as companhias low-cost tentem evitar que os seus trabalhadores se juntem a sindicatos. Temos como exemplo disto mesmo o sucedido com a Ryanair desde o ano 2000 com os sindicatos de pilotos da Irlanda, seguidos do dos pilotos de Inglaterra e mais recentemente com o sindicato dos pilotos de Itália, como relata o artigo do “European Management Journal” cujo titulo é “The european low-cost airline industry: the interplay of business strategy and human resources” de Pate e Beaumont (2006). Neste artigo fazem mesmo referência a alguns trabalhadores que por serem do sindicato e tentarem fazer greve foram despedidos. As divergências com os trabalhadores não se ficam por aqui, pois a Ryanair tem uma atitude extremamente agressiva para com os seus empregados que se associem aos sindicatos e em meados de 2005 chegou mesmo a persuadir os seus trabalhadores a aceitarem um novo treino, que incluía uma cláusula que obrigava os mesmos a pagarem uma indemnização à empresa no caso de saírem da companhia nos 5 anos seguintes ou no caso de a empresa ser forçada a entrar em negociações com algum sindicato. Mais recentemente, após uma decisão favorável aos trabalhadores em Itália, os dirigentes da Ryanair reuniram-se com o sindicato italiano dos transportes e segundo palavras dos sindicalistas os dirigentes da Ryanair apresentaram-se de forma completamente arrogante e bloquearam qualquer tipo de negociação respeitante aos assuntos tratados em tribunal. A Ryanair hoje em dia recorre a empresas de trabalho temporário para contratar novas hospedeiras de forma evitar todos estes problemas e conseguir manter ou até mesmo reduzir os seus encargos. Grande parte das low-cost recorre ao “outsourcing” de pessoal nas áreas que não são directamente relacionadas com o voo, tais como, a manutenção das aeronaves, os serviços de “call center”, o 16 “ground handling” de bagagem e passageiros. Desta forma as companhias acabam por evitar situações como às que foram descritas acima, provenientes dos problemas que os sindicatos possam proporcionar e acabam por conseguir ter melhor eficiência, pois estabelecem contratos com penalizações no caso de não cumprimento de algum dos termos negociados, como por exemplo quando as companhias de “ground handling” não conseguem ser suficientemente rápidas de forma a serem satisfeitos os tempos de rotação. 17 Tabela 3 - Modelo low-cost Características Principais Produto Simples Características em Detalhe •Classe de passageiros única •Utilização de um esquema simples de bilhetes •Serviços sem extras, como catering, lounges e programa de utilizador frequente •Bilhetes sem reembolso e sem possibilidade de remarcação •Utilização de um único tipo de avião, reduzindo os custos de manutenção e de treino com pessoal •Encargos com pessoal mais baixos com oferta de prémios consoante o desempenho e os trabalhadores a terem que exercer múltiplas funções •Muitos trabalhos operacionais feitos com recurso ao outsourcing (ground handling, manutenção aeronave, call centers,…) •Em geral recorrem a aeroportos secundários com excelentes slots, baixas taxas aeroportuárias e pouco congestionados Baixos custos operacionais aliados de alta produtividade Estratégia de mercado •Simplificação de rotas recorrendo a ligações ponto-a-ponto (enaltecendo mais importância à utilização mais intensiva dos aviões e evitando os problemas da transferência de passageiros e bagagens) •Elevada densidade de lugares •Em geral qualidade de serviço básica •Elevada utilização das aeronaves, alcançada com voos de curta duração e com tempos de rotação rápidos •Baixos tempos de rotação (cerca de 20 minutos) •Sem marcação de lugares, forçando os passageiros a embarcarem mais cedo e mais rápido •Recurso à venda directa (internet) evitando as comissões de agências de viagem e dos sistemas de reservas por computador •Limitações ao nível da quantidade de bagagem •Não transportam carga •Recurso a campanhas de marketing agressivas •Procurando atingir os sectores de mercado dos passageiros de tempo livre e os passageiros de negócio que se preocupam com o dinheiro •Carácter empreendedor •Minimização de custos/liderança ao nível de custo •Recurso a programas de "fuel hedging" Fontes: Graham and Vowles (2006); CESUR (2007); Alderighi et al. (2004) Tal como foi referido anteriormente, a Internet foi uma das peças chave para o sucesso e para a grande propagação de todo este modelo de negócio. A Internet veio facilitar todo o processo de venda directa ao consumidor, permitindo saltar todos os intermediários do processo de marcação de uma viagem, tais como as agências de viagem e os sistemas de reservas por computador que tantas comissões davam às empresas que os detinham. Desta forma a Internet veio beneficiar as low-cost e o consumidor, acabando por prejudicar largamente as companhias regulares, não só pelo desvio de passageiros que provocou como também pelas comissões dos sistemas de reservas por computador, 18 dos quais algumas companhias regulares eram proprietários. A venda directa, permite mais uma vez, a redução de custos e facilita todo o processo operacional de venda de bilhetes. Este tipo de venda também pode ser efectuado por telefone, sendo no entanto dada preferência às reservas por Internet, muitas vezes beneficiando quem utilizar este último meio. Da mesma forma que já acontecia no modelo Southwest, as companhias aéreas low-cost hoje em dia continuam a recorrer a aeroportos secundários ou a aeroportos menos congestionados de forma a obterem taxas mais baixas e a conseguirem manter toda a sua eficiência operacional. Mas na Europa existem dois exemplos muito distintos que são os casos das companhias aéreas Easyjet e Ryanair, por sinal são as duas maiores companhias low-cost a operar no mercado Europeu. As estratégias destas duas empresas, apesar de serem as duas de baixo custo, divergem bastante. Enquanto a Ryanair procura obter a todo custo os menores encargos em todas as rotas que serve, na Easyjet esta filosofia não atinge o extremo da Ryanair. Isto é, a Ryanair procura sempre aeroportos secundários e daí tirar o máximo proveito em benefícios da parte das entidades gestoras dos mesmos, quer sejam públicas, regionais ou privadas. Ou seja a companhia Ryanair procura negociar sempre muito bem todas as vantagens da sua entrada em determinado mercado. Uma vez que a favorecimento de taxas mais baixas face à concorrência nem sempre é permitido, a companhia de Michael O’Leary procura ganhos com publicidade em troca de trazer para aquele aeroporto determinada quantidade de passageiros. Já a companhia Easyjet opta por uma estratégia que é estar presente em muitos dos grandes aeroportos Europeus, além da utilização de aeroportos secundários. Esta opção apesar de à partida parecer fora do modelo de negócio, revela-se positiva dado o sucesso que a companhia tem tido. A Easyjet desta forma consegue ir buscar uma clientela diferente da que a Ryanair tem e consegue roubar clientes às companhias regulares, principalmente o tipo de cliente em negócios que liga à questão do preço do bilhete. (Doganis, 2006, p.163) Outra medida comum a todas as low-cost é limitar o peso e o número das bagagens que os passageiros podem despachar e também impor limites na bagagem de mão. Com estas regras, que geralmente são cumpridas à letra, as companhias de baixo custo conseguem uma boa fonte de receitas no caso de existirem excessos, pois os quilos excedentes são pagos a preço de “ouro”. Esta medida em conjunto com o facto de grande parte das low-cost não transportarem carga, permite-lhes ter aeronaves mais leves e logo reduzirem os consumos de combustível. Um outro factor que ainda ajuda mais nesta matéria é muitas destas companhias possuirem frotas constituídas por aviões novos e portanto mais eficientes ao nível de consumos. O transporte de carga é outro dos pontos em que a Southwest difere das low-cost mais recentes, pois esta apresenta na mesma uma divisão de carga. De qualquer forma à que realçar que a Southwest Airlines Cargo conseguiu receber o prémio “2008 Quest for Quality Awards”. Este prémio é atribuído por uma revista chamada “Logistics Management” que baseia num inquérito anual, onde cerca de 19 3 2000 transportadores classificam os seus fornecedores em vários critérios de performance . A Southwest já ganhou este prémio 14 vezes, sendo que 12 delas foram em anos consecutivos. Este mercado também já apareceu na Europa, através duma companhia alemã chamada Leisure Cargo, que é especializada na venda de carga aérea recorrendo a companhias de baixo custo e a companhias de voos Charter. Ou seja trata de serviços de carga utilizando os aviões dessas outras companhias. Entre estas companhias estão a Air Berlin e Sky Europe. As companhias low-cost criam várias parcerias com empresas de aluguer de veículos, com hotéis, com empresas de transportes de passageiros de e até aos aeroportos, com companhias de seguros, entre outras, onde conseguem reter comissões desses serviços e aumentar assim as suas receitas. Outra forma de estas companhias aumentarem as suas receitas é através de disponibilização de vários tipos de comunicações abordo, como telefone e Internet, ou então recorrendo ao entretenimento dos passageiros através de jogos de casino abordo. O site da companhia Ryanair já tem mesmo um casino online que lhes dá uma nova fonte de receitas. Relativamente ao recurso às ligações ponto-a-ponto, à elevada utilização das aeronaves, à elevada densidade de lugares, as companhias low-cost actualmente continuam a seguir as directrizes do modelo Southwest, que tanto sucesso continua a alcançar. • Estratégia de Mercado Em geral, todas as companhias aéreas denominadas de low-cost são caracterizadas por estratégias de mercado com conceitos semelhantes, apostando minimização de custos e na disponibilização das tarifas mais reduzidas. O carácter empreendedor também está presente, principalmente nas primeiras companhias que entraram no mercado como a Ryanair e a Easyjet na Europa e a Southwest nos EUA. No entanto existem algumas companhias que surgiram da necessidade das companhias aéreas regulares fazerem frente a este novo mercado e ao facto de estas companhias começarem a retirar quota de mercado às companhias regulares nas suas tarifas mais económicas, que são as companhias subsidiárias das regulares, tais como a Clickair da Ibéria, a Bmibaby da British Midland Airways, entre outras. Algumas companhias regulares lançaram subsidiárias de baixo custo e que acabaram por não se aguentar muito tempo, revelando-se a aposta incompatível com a estrutura base das companhias regulares, tal como ocorreu com a Buzz da KLM e com a GO da British Airways. Mesmo assim ainda há alguns casos de sucesso, como a Germanwings, que pertence à Lufthansa. 3 Critérios de performance: on-time performance, value, information technology, customer service, and equipment & operations. 20 Outra estratégia que também ocorreu com o surgimento das low-cost é as companhias de Charter que criaram as suas subsidiárias de baixo custo, como a TUIfly que pertence à companhia TUI Airlines. Esta companhia de baixo custo vende grande parte dos seus bilhetes através de venda directa, mas tem também uma parte reservada para os pacotes de viagens do grupo TUI e uma parte para outras agências de viagem. As companhias low-cost, geralmente procuram atingir os sectores de mercado de tempo livre e os passageiros negócio que se preocupam com o dinheiro. Dentro do grupo de passageiros de tempo livre, encontram-se muitos passageiros que caso estes bilhetes de avião não fossem tão acessíveis, acabariam por não efectuar a viagem ou recorreriam a um método alternativo mais barato. Enquanto que o denominado passageiro de negócios sensível ao preço, recorre a este tipo de serviço, para além do factor preço, devido à sua pontualidade e elevada frequência. A companhia Easyjet é conhecida por conseguir atrair muito bem este último tipo de cliente, isto por se encontrar presente nos principais aeroportos e também por apresentar alguns serviços extra do agrado deste tipo de cliente (Mason, 2001, pgs: 1 e 3). As estratégias de marketing utilizadas pelas companhias low-cost são conhecidas por se apresentarem muitas vezes de forma extremamente agressiva, com promoções de bilhetes por exemplo 0€ mais taxas aeroportuárias ou com promoções de oferta de bilhetes em sorteios. A companhia Ryanair é conhecida por ter campanhas de marketing muito agressivas que já custaram algumas batalhas judiciais, que apesar de muitas vezes as perder, a companhia as encara como vitórias, pois acaba por conseguir publicidade grátis e muitas das vezes nem sequer ter que pagar qualquer tipo de indemnização. Este tipo de campanhas foram feitas quando a Ryanair entrou no mercado belga e começou com uma campanha extremamente agressiva contra a companhia aérea Sabena que na altura dominava o mercado e ainda contra a companhia inglesa British Airways que também detinha uma boa quota. O recurso a programas de “fuel hedging” permite a muitas companhias aéreas controlar os seus custos operacionais com combustíveis, através de uma cobertura de risco sobre o preço do petróleo, Uma vez que o aumento do preço deste recurso natural tem-se agravado bastante nos últimos anos, e como tal este custo passou a representar uma percentagem muito significativa na estrutura de custos de qualquer companhia aérea. As companhias aéreas de baixo custo têm investido mais neste tipo de estratégia do que as regulares, saindo como tal beneficiadas sempre que o preço do petróleo dispara. Estes programas, não são mais do que investimentos em opções ou futuros, que permitem a uma companhia aérea “trancar” a um determinado preço o combustível que vai comprar nos próximos tempos, meses ou anos, e desta forma quando o preço do combustível sobe a companhia aérea não sofre tanto com isso, pois tem uma percentagem do combustível que consome ao preço acordado. Consoante essa percentagem de combustível seja maior ou menor, permite às companhias ganharem maior ou menor vantagem sobre uma companhia que não recorreu a este tipo de instrumentos financeiros. As companhias aéreas low-cost tem investido em maiores percentagens neste tipo de opções e como tal têm conseguido tirar partido dessa vantagem para mais uma vez 21 conseguirem praticar preços de mercado mais baixos que a concorrência. Um excelente exemplo de recurso a este instrumento financeiro é a companhia aérea Southwest, que segundo Cobbs e Wolf (2004), no ano de 2003 recorreu esta ferramenta financeira para segurar cerca de 80% dos seus consumos de combustível do ano de 2004 ao preço de Dezembro de 2003. Para se ter uma ideia de como pode ser útil esta estratégia, entre os anos de 2001 a 2003, a Southwest conseguiu reduzir os seus custos anuais de combustível em cerca de 171 milhões de dólares, 45 milhões de dólares e 80 4 milhões de dólares, respectivamente, segunda a mesma fonte . 3.2.2 Características das Companhias Regulares As companhias regulares ou tradicionais, são todas as companhias que seguem a base do modelo de companhia aérea existente antes da operação de desregulamentação do mercado aéreo. Não quer isto dizer que estas sejam iguais desde sempre, como em tudo, tem vindo a sofrer alterações e tem vindo a inovar os seus conceitos de forma a conseguirem sobreviver num mundo cada vez mais global e com uma competitividade crescente. A desregulamentação do mercado além de permitir o aparecimento das companhias low-cost, acabou por obrigar as companhias regulares a evoluírem muito de forma a conseguirem, não só fazer frente à concorrência das low-cost, como principalmente responder à concorrência das regulares. Esta concorrência só começou a existir quando foram abolidos todos os acordos bilaterais que existiam, até então, e que não permitiam a existência de qualquer tipo de disputa de mercados. Posto isto, a desregulamentação dos mercados aeronáuticos e a proibição de ajudas dos governos às companhias de bandeira só veio permitir que as companhias aéreas sofressem alterações muito grandes de forma a se tornarem viáveis, coisa que até a essa altura não acontecia. Devido à falta de competição de mercado, grande parte das companhias de bandeira que são detidas pelos governos dos seus países, apresentam características que não favorecem de forma alguma o seu futuro. As sérias dificuldades financeiras que muitas destas companhias apresentam, mais o elevado poder dos sindicatos dos seus trabalhadores, com um número elevado de trabalhadores excedentários e ainda juntamente com o excesso de poder politico que sobre elas é exercido torna estas companhias aéreas muito pouco eficientes num mercado de competição cada vez mais agressiva. Todos estes factores aliados de uma estratégia não muito clara, de uma estrutura muito burocrática e muito centralizada, contribuem para que estas companhias aéreas se endividem cada vez mais, se não ocorrerem mudanças que lhes possibilitem voltar a ser competitivas. A privatização sempre foi vista como a solução para este tipo de companhias aéreas, pois em tempos difíceis as 4 De salientar que esta ferramenta também pode ser falível, como por exemplo o ano de 2008 em que houve uma queda significativa no preço do petróleo no final do ano, mesmo assim para algumas companhias acabou por compensar (Easyjet annual reports and accounts 2008). 22 companhias tradicionais que eram detidas por capital privado conseguiram ultrapassar melhor as dificuldades do que as estatais, no entanto os motivos anteriormente referidos e as várias crises do mercado aeronáutico levaram a que muitas destas privatizações fossem consequentemente adiadas (Doganis, 2006, p. 227). Tem-se o exemplo bem próximo da companhia aérea portuguesa TAP, que tem tido as tentativas de privatização adiadas. Mesmo assim, nos dias de hoje, grande parte das companhias tradicionais apresentam estruturas de custos muito pesadas, mais ainda quando comparadas com as eficientes low-cost. De qualquer forma, tudo isto não significa que todas as companhias regulares devem tentar reduzir os seus custos de uma forma exagerada, e ser transformadas em companhias de baixo custo. Longe disso, pois existe muito mercado por explorar e existem muitos passageiros que não abdicam de todos os serviços oferecidos pelas companhias regulares e ainda muitos passageiros que estão muito longe de conseguir afastar o preconceito de que as low-cost significam pouca segurança. Portanto as companhias regulares devem apostar na inovação, quer a nível tecnológico, quer a nível de melhorar os serviços prestados e ainda inovar no sentido de perceber quais os potenciais novos serviços que os seus clientes estão dispostos a pagar. Na tabela 4 apresenta-se as características principais do modelo utilizado pelas companhias regulares, para de seguida se proceder à sua descrição de uma forma mais detalhada. • Produto As companhias aéreas regulares apresentam um produto mais variado do que as companhias lowcost. Como tal a sua definição é sempre mais vaga derivado desse maior número de diferentes opções que este tipo de companhias apresenta. O conceito de companhia regular existe desde muito antes do conceito de low-cost aparecer e estava quase sempre ligado ao serviço público de um determinado país, sendo que a maioria das companhias aéreas eram detidas pelos próprios países, daí resultando a designação de companhia de bandeira. 23 Tabela 4 - Modelo companhias regulares Características Principais Produto Modelo Operacional Características em Detalhe •Diversos serviços a bordo •Ligações "Hub-and-Spoke" •Regularidade e flexibilidade de ligações •Várias classes de passageiros •Frotas compostas por vários tipos de avião •Utilização de aeroportos principais •Mistura de rotas curtas/médias/longas •Oferta de lugares mais espaçosos e marcados •Recurso à venda directa e às agências de viagem para venda de bilhetes •Utilização de economias de escala •Complicado sistema de reserva de bilhetes, devido às várias ligações entre voos •Estrutura operacional apresenta outros serviços como a manutenção de aeronaves e o transporte de carga •Elevados tempos de rotação devido a passageiros em transferência e a maior quantidade de serviços prestados •Diferenciação por qualidade de serviço com elevada imagem de marca Estratégia •Recurso a "codeshare" e alianças globais para aumentar a oferta •Inovação •Criação de imagem de marca •Serviço completo que dá mais confiança aos passageiros Fontes: O'Connell e Williams (2005); Alderighi et al. (2004) Este modelo de negócio aposta essencialmente na regularidade e na flexibilidade de ligações através do sistema de “hub-and-spoke”. Este sistema não é mais do que uma rede onde existem voos de curto, médio e longo curso, em que os voos curtos e médios são efectuados por aviões mais pequenos, que criam fluxos de passageiros na base (“hub”), para dessa base arrancarem os voos de longo curso, que são efectuados com aeronaves de maior porte, de forma a darem seguimento aos fluxos de passageiros resultantes dos voos mais curtos. Desta forma, praticamente toda a rede funciona a partir da base, que em geral, se localiza numa grande cidade do país da respectiva companhia. O facto de as companhias regulares apresentarem ligações mais complexas, em vez das ligações ponto a ponto das companhias low-cost, permite-lhes fornecer aos seus clientes uma flexibilidade de deslocações que não é possível nas companhias de baixo custo. Para além desta flexibilidade, 24 existem outros factores que acabam por dissuadir os passageiros de efectuarem viagens com ligações nas companhias de baixo custo, tais como, terem de efectuar recolha da bagagem e proceder de novo ao check-in no aeroporto de ligação e ainda correrem o risco, por algum motivo, de perderem o segundo voo e não terem qualquer hipótese de reembolso ou de recolocação num novo voo. Estes últimos procedimentos são efectuados por qualquer companhia regular e dão uma maior confiança a qualquer passageiro que tenha que efectuar voos com escalas. Portanto, a flexibilidade aliada da regularidade com que as companhias aéreas tradicionais efectuam os seus voos, acaba por dar um maior conforto a todos os passageiros que tenham que efectuar viagens com escalas. As cabines das aeronaves de companhias regulares encontram-se, no geral, divididas em pelo menos duas classes. O método tradicional é uma classe económica e uma classe executiva. Existindo algumas variações a este formato consoante a companhia e o tipo de voo (curto, médio ou longo curso). O que se sucedeu por muito tempo e ainda ocorre em algumas companhias foi a existência destas duas classes, em que a classe económica tem direito a refeições a bordo, a bilhetes flexíveis e a outros serviços que variavam de companhia para companhia, como por exemplo na TAP o fornecimento gratuito de revistas e jornais. Já a classe executiva dá direito a lugares dentro do avião mais espaçosos, a refeições com direito de opção, à permissão de frequentar os “lounges” da companhia aérea e outros serviços extras também variáveis consoante a companhia. No entanto, estas companhias apostam na inovação para manterem a sua supremacia face a uma concorrência feroz, que emerge à medida que o mercado se vai torna mais livre. Posto isto, existem companhias aéreas com mais classes de passageiros dentro do mesmo voo. Exemplo disto é a companhia aérea portuguesa com o lançamento recente de novos produtos, que passam por segmentar as suas ofertas em cinco tarifas diferentes, denominadas de discount, basic, classic, plus e executive. Os produtos começam no mais simples discount e acabam no mais exclusivo executive. As diferenças entre os vários prendem-se com a inclusão de um maior número de serviços e com o aumento da flexibilidade do bilhete à medida que se adquire um produto mais exclusivo. Os produtos mais simples como o discount e o basic, apresentam algumas semelhanças com os produtos de baixo custo, tais como a não marcação de lugar e o não reembolso, mas mesmo assim todas estas tarifas incluem refeições a bordo. A companhia aérea Brussels Airlines, que resulta da fusão de uma companhia regular com uma lowcost, apresenta um esquema de produto diferente que acaba por misturar um pouco dos vários tipos de segmentos que se conhecem. Esta companhia oferece dois tipos de produto denominados de “Bflex” e de “B-light”. O primeiro destina-se a um passageiro executivo e apresenta algumas das regalias deste tipo de bilhete. Já o segundo é um bilhete mais ao estilo de uma companhia low-cost que deriva da herança da antiga companhia Virgin Express. O facto curioso desta estratégia é que ambas as tarifas apresentam o mesmo tipo de lugares e são comuns ao nível de espaço dentro do avião, sendo a diferença entre os passageiros marcada pela cor do encosto de cabeça. Uma forma económica e prática de fazer a separação dos dois tipos de bilhetes a bordo. 25 • Modelo operacional O modelo operacional das companhias tradicionais é composto por frotas de aeronaves diversificadas, pois existe uma necessidade de responder da melhor forma ao facto de terem rotas variadas, desde curtas a longas. Posto isto, convém referir que esta estrutura implica, logo à partida, custos superiores quer com manutenção como também com a formação de técnicos, pilotos e hospedeiras. A estrutura de custos mais complexa é agravada com o processamento de passageiros, bagagens e carga nas bases (“hubs”) de cada companhia, onde é necessário implementar uma logística conjunta de forma conseguir fazer tudo funcionar. No entanto nem sempre é fácil conseguir que nada falhe, pois os passageiros em transferência podem atrasar os segundos voos de várias formas, como por exemplo basta um atraso no primeiro voo para que tudo já não consiga ser processado dentro da normalidade. O processamento de cargas também não ajuda na tentativa de simplificação de todos os processos operacionais. No entanto, esta simplificação de processos das companhias regulares torna-se cada vez mais essencial nos dias de hoje, uma vez que grande parte das companhias aéreas estão a passar por diversos problemas económicos e como tal a redução de custos aparece quase como que uma obrigação de forma a conseguirem enfrentar a concorrência. Um exemplo desta simplificação de operações, ocorre neste momento com a companhia aérea TAP, que recorre a uma plataforma logística, numa determinada zona do aeroporto de Lisboa, na qual coloca todos os seus aviões e executa todo o processamento de bagagens e carga, em ligação, nessa zona sem estas terem de ir ao terminal de bagagens do aeroporto. E como se sabe que esta zona de bagagens não funciona muito bem, a TAP conseguiu desta forma contornar a situação e simplificar toda a sua estrutura. O aumento dos custos com os combustíveis agravou toda esta situação e já representa uma percentagem bem pesada dos encargos de qualquer companhia aérea. As companhias regulares recorrem à utilização de aeroportos principais, pois são estes que apresentam os serviços que este tipo de companhias pretende. Mas esta escolha por vezes prejudica o funcionamento de toda a logística de uma companhia, porque muitos desses aeroportos apresentam-se congestionados e por vezes atrasam os voos. Ao contrário das companhias low-cost, as regulares utilizam lugares marcados, com excepção para os novos tipos de tarifas que algumas companhias implementam como as já referidas da companhia portuguesa TAP. Face às low-cost e às companhias de voos charter, as regulares ainda fornecem lugares mais espaçosos e logo mais confortáveis. 26 O método de venda de bilhetes das companhias regulares é feito com recurso aos canais de venda directa, como por exemplo a Internet, call centers e balcões nos aeroportos, e também através de agências de viagem. O tempo de rotação das companhias aéreas tradicionais não consegue igualar o de uma companhia low-cost, ficando-se muitas vezes em mais do dobro do tempo. O maior número de serviços e a complexidade da estrutura não permite mesmo que estas rotações sejam executadas de forma tão rápida e eficaz como acontece com as companhias de baixo custo. Isto sucede-se tanto no aeroporto base da companhia aérea como nos outros aeroportos. No aeroporto base é natural que as rotações se processem de forma mais lenta, pois é aí que ocorrem as ligações dos vários passageiros e ainda onde estão os centros de manutenção destas companhias. As economias de escala na maioria das indústrias permitem uma redução dos custos. No entanto no caso do mercado aeronáutico isso só se verifica se as companhias aéreas utilizarem uma frota composta por aeronaves de um único tipo, o que não é o caso das companhias regulares, mas mais o que se verifica com as companhias low-cost de maiores dimensões. Nas companhias regulares o facto de utilizarem vários tipos de aeronaves acaba por não se verificar esta potencial vantagem. • Estratégia As apostas estratégicas das companhias aéreas regulares têm passado pela diferenciação ao nível da qualidade dos serviços prestados e pela imagem de marca que criaram ao longo de muitos anos. Esta imagem de marca fideliza muitos clientes e dá uma maior noção de segurança e de credibilidade aos passageiros, levando muitas vezes a que alguns passageiros só voem com este tipo de companhias. As companhias regulares também recorrem a maior número de destinos e de ligações para satisfazer os seus clientes. Estas ligações são possíveis devido a acordos entre companhias e através de alianças globais, que englobam companhias de várias partes do mundo permitindo desta forma oferecer uma rede muito mais alargada de destinos, sem aumentar os custos, o que doutra forma não seria possível devido às regulamentações que ainda vigoram em muitos mercados do mundo. Estas alianças e estes acordos que se denominam de “codeshare”, fazem com que em voos onde existam este tipo de parcerias, e apesar de ser uma única companhia aérea a operá-los, os voos apareçam com a designação da outra ou outras companhias envolvidas. As alianças entre companhias aéreas regulares aparecem devido a quatro factores essenciais: • aos benefícios do marketing de grande escala e de rede; 27 • à necessidade de as companhias aéreas reduzirem custos; • à vantagem de redução da competição, sempre que possível, à medida que o mercado se vai liberalizando; • à impossibilidade de aquisição de companhias de outro país devido às restrições impostas em alguns mercados. Este tipo de alianças internacionais permite às companhias regulares obter duas vantagens de marketing significativas, que é o permitir a expansão nos seus mercados através do fluxo extra de passageiros que surge da cooperação com os seus parceiros da aliança, isto com custos extra bastante baixos. E ainda confere-lhes a possibilidade de entrarem em mercados à partida inacessíveis. Ao nível da redução de custo, esta é alcançada através das sinergias que são possíveis de criar entre os vários membros das alianças. Em que frequentemente os parceiros recorrem à partilha de balcões de vendas de bilhetes, de instalações aeroportuárias como os lounges ou até a partilha de hospedeiros de terra. Outra redução importante de custos dá-se com a coordenação de voos entre os vários membros da aliança, que permite às companhias a redução das suas frotas. (Doganis, 2006, p. 91) Existe uma outra situação que dá mais confiança aos clientes, tal como a imagem de marca, que é o facto de as companhias regulares apresentarem um serviço completo, o que aliado à superior flexibilidade e à maior proximidade com cliente, através dos balcões de venda e das agências de viagem, proporciona um nível de serviço que ainda concede à grande maioria dos passageiros a ideia de serem companhias aéreas muito mais fidedignas. Este tipo de companhias tem a necessidade de manter e melhorar a imagem de marca e a confiança que os passageiros nelas depositam, sendo que como tal tendem a fazer grandes apostas na inovação e qualidade de serviços, de forma a terem mais argumentos para marcar a diferença face à concorrência e face às companhias de baixo custo, nos mercados em que estas últimas se apresentam como concorrentes. Esta inovação deve ser feita ao nível da conforto dentro do avião, da qualidade e da novidade dos serviços prestados a bordo, da oferta de entretenimento a bordo e ainda de todos os serviços prestados em terra. A Singapore Airlines já disponibiliza vários serviços a partir de um telefone via SMS, como por exemplo um serviço que avisa os seus clientes de eventuais alterações ou atrasos no seu voo ou até mesmo a possibilidade de check-in via SMS. A Air France em parceria com a Atos Worldline a desenvolver um serviço que permitirá aos seus passageiros fazerem a reserva pelo seu telemóvel, através de um site desenvolvido especificamente para esse tipo de serviço, onde o cartão de embarque do passageiro é o telemóvel, medida que no futuro poderá permitir à companhia aérea reduzir alguns custos. No entanto a inovação acaba por ser uma aposta comum a todos os tipos de companhias em mercados competitivos, A Southwest recentemente reuniu alguns dos seus trabalhadores de diferentes áreas operacionais, desde pessoal de bordo até a pessoal da manutenção, que durante 28 seis meses estes trabalhadores juntavam-se cerca de 10 horas por semana e faziam sessões de troca de ideias com intuito de tentarem encontrar quais as maiores alterações às operações aeronáuticas que conseguissem, isto é, as alterações com o maior impacto. No final dos seis meses chegaram a 109 propostas de alteração das quais uma já vai começar a ser implementada e permitirá reduzir o impacto da substituição de uma aeronave em caso de avaria. Este tipo de ideias inovadoras pode permitir às companhias aéreas, como também em outras indústrias, encontrar através dos seus próprios recursos, formas de reduzir custos e de inovarem num mercado cada vez mais competitivo, para o qual a inovação pode ser uma ferramenta essencial para o futuro de algumas companhias aéreas. 29 4 Caracterização Aeroportuária Neste capítulo pretende-se descrever as características aeroportuárias de um aeroporto, bem como fazer o enquadramento das várias características dentro do funcionamento do aeroporto e tentar demonstrar a potencial importância que cada uma pode ter na estratégia do mesmo. Em primeiro lugar começa-se uma análise dessas características no geral, para depois nos sub-capítulos se aprofundar a análise correspondente. Os aeroportos são constituídos por duas áreas distintas: • - A infra-estrutura “airside” (Lado Ar) que está relacionado com as parte das pistas e dos corredores de aproximação às pistas; • - A infra-estrutura “landside” (Lado Terra) que corresponde aos edifícios onde são realizadas todas as operações de handling de passageiros e bagagem e de logística terrestre. As actividades realizadas num aeroporto dividem-se em dois grandes grupos: actividades aeronáuticas e actividades não aeronáuticas. Existe uma grande diferença entre os dois tipos actividades, é que enquanto as aeronáuticas são regulamentadas quanto às taxas aplicadas e à qualidade do serviço que é prestado, as não aeronáuticas ou comerciais não apresentam regulação específica. A regulamentação vigente nas actividades aeronáuticas resulta do monopólio natural que estas actividades representam. Hoje em dia as actividades não aeronáuticas de um aeroporto têm um papel decisivo para a rentabilidade do mesmo, pois para se apresentarem como aeroportos competitivos para as companhias aéreas acabam por reduzir as taxas aplicadas aos serviços operacionais e ir compensar receitas à potencial rentabilidade das actividades aeronáuticas. As actividades aeronáuticas podem ainda ser subdivididas em dois grupos, que em conjunto com a designação das actividades não aeronáuticas em actividades comerciais, resultam nos três grupos seguintes: 1. Actividades e serviços operacionais; 2. Actividades e serviços de handling aeroportuário; 3. Actividades comerciais. Segundo Lopes (2005) a classificação das actividades e serviços pode ser agrupada como consta da tabela seguinte: 30 Tabela 5 – Características Aeroportuárias Actividades Operacionais Handling 1. Controle de tráfego aéreo 1. 2. Serviços meteoreológicos 3. Telecomunicações 4. Segurança contra incêndios e cuidados médicos Limpeza de aeronaves Comerciais 1. Lojas duty-free Abastecimento de 2. combustível e energia 2. Outras lojas de retalho 3. Carga e descarga de carga e bagagens 3. Bares e restaurantes 4. Processamento de passageiros e bagagens 4. Estacionamentos e aluguer de viaturas 5. Polícia e segurança 5. Hotéis 6. Manutenção da infra-estrutura 6. Bancos 7. Serviços de Lazer 8. Imobiliário Actividades aeronáuticas Actividades não aeronáuticas De forma a ser mais perceptível optou-se por analisar as características aeronáuticas em dois fluxos contínuos, o lado ar e o lado terra. O lado ar engloba todas a etapas pelas quais um avião passa desde a aterragem até à descolagem. Enquanto o lado terra engloba todas as etapas pelas quais o passageiro passa, desde que entra no aeroporto de origem até sair do aeroporto de destino. E dentro destes dois fluxos vão surgindo os vários tipos de serviços e actividades referidas do quadro acima. Numa primeira abordagem começa-se por uma análise dos dois fluxos em paralelo e numa visão mais geral das actividades e serviços que se prestam, bem como a operacionalidade envolvida. De forma a melhor ilustrar todos estes procedimentos procedeu-se à elaboração de um diagrama, através do qual se pode melhor compreender todos os passos correspondentes a cada fluxo. Este diagrama apesar de não estar com coordenação cronológica sincronizada ao pormenor, apresenta-se com uma cronologia mais geral mas também mais intuitiva. Observando o diagrama, consegue-se ter a percepção de como se vão desenrolando todas as operações efectuadas por uma transportadora aérea no geral, quer ao nível do passageiro como ao nível do avião. E portanto perceber a complexidade e os meios que necessitam de estar envolvidos para que tudo corra como planeado e dentro do tempo previsto. As operações do lado terra necessitam de ser executadas em simultâneo com as do lado ar, de modo a que tudo se processe de forma adequada para o passageiro, sem demorar tempo excessivo e sem ocorrer qualquer tipo de inconveniente que prejudique o negócio. Pois todo o tipo de ocasiões que possam surgir e não ser de maneira alguma benéficas para as transportadoras aéreas, estão sempre bem presentes e a tentar ser evitadas. 31 Do lado terra observa-se um fluxo que se inicia com entrada do passageiro no aeroporto e se dirige ao balcão de forma a proceder ao check-in, onde o passageiro tem de entregar a bagagem e efectuar o seu registo no avião. Este processo por vezes é algo demorado e como tal as companhias tendem a encontrar soluções de forma a permitir uma maior eficiência em todo este processo, por exemplo através de check-in electrónico ou check-in via Internet. O check-in electrónico corresponde ao passageiro dirigir-se uma máquina, introduzir o código da sua reserva e retirar o seu bilhete, procedendo depois a um balcão onde só tem de entregar as bagagens. Após o check-in o passageiro segue para a zona de controlo de segurança de forma a conseguir entrar para as zonas comerciais e de lazer. Este controlo de segurança tem-se tornado cada vez mais rigoroso devido a todas as ameaças terroristas que têm ocorrido, o que resulta muitas vezes num processo demorado. Ultrapassado este processo, o passageiro entra na zona comercial onde pode aceder às zonas de restauração, lojas e ainda aos lounges. De seguida o passageiro deve dirigir-se ao terminal de embarque para se iniciar o embarque e posteriormente a descolagem. 32 Figura 2 – Diagrama de Fluxos 33 Em simultâneo no lado ar, o avião aterra e dirige-se ao lugar de estacionamento (manga ou não) onde inicia várias operações em paralelo, uma no seu interior e outra no exterior. No interior procedese ao desembarque dos passageiros seguido pela limpeza da aeronave e abastecimento de catering, enquanto no exterior se procede ao abastecimento de combustível, à manutenção de linha e ao desembarque das bagagens e carga. Estas operações podem variar de companhia aérea para companhia como se poderá constatar mais a frente neste capítulo. Concluídas estas operações, inicia-se o embarque de novas bagagens e passageiros para depois se proceder à descolagem. Como se pode observar do diagrama, após a descolagem ocorre o voo da aeronave e em seguida inicia-se uma nova fase do diagrama de fluxos, onde surge a aterragem e se iniciam novamente dois fluxos paralelos correspondentes mais uma vez ao lado ar e ao lado terra. Principiando outra vez pelo fluxo do lado terra, desta feita o fluxo começa pela aterragem do avião seguida pelo desembarque dos passageiros, o qual pode ser efectuado ou por manga ou por autocarro tal como no embarque. O passageiro em seguida dependendo da proveniência do voo poderá seguir ou não para um controlo de passaportes. A operação que se segue é a recolha de bagagens que por vezes também se revela uma das operações mais demoradas, prejudicando a rapidez da viagem para o passageiro. No caso de estudo, o aeroporto da Portela, esta operação revela-se uma das mais crítica se não mesmo a mais crítica. No que respeita ao lado ar, após a aterragem o avião procede ao estacionamento onde se repete o mesmo processo que foi descrito anteriormente. 4.1 Lado Terra Neste sub capítulo procede-se a uma análise das diferenças de operacionalidade entre as companhias low-cost e as companhias regulares no lado terra. Para tal mais uma vez, recorre-se a um diagrama para que toda a análise se torne mais perceptível e intuitiva. Este diagrama desenvolvese com as etapas operacionais das low-cost e das regulares a ocorrerem em paralelo. 34 Figura 3 – Análise paralela dos procedimentos das low-cost e da regulares 35 O diagrama começa com a entrada do passageiro no aeroporto e a dirigir-se para o tipo da companhia que escolheu voar, ou Low Cost ou Regular. Depois passa-se ao check-in onde se encontra a primeira diferença entre os dois tipos de companhias, pois nos balcões das companhias low-cost só existe um tipo de serviço, ao invés as companhias regulares distinguem os balcões consoante o tipo de bilhete. Aqui começa-se a demarcar as diferenças na prestação de serviços ao cliente, pois as companhias regulares apresentam mais serviços e mais flexibilidade que as companhias de baixo custo. De realçar ainda uma diferença que se pode revelar bastante importante para o passageiro no caso de ocorrer algum inconveniente, tal como o cancelamento dum voo, o seu atraso ou qualquer outro tipo de problema que atrapalhe o normal funcionamento do voo, é que as companhias low-cost, em geral, não apresentam nenhum balcão de apoio ao cliente no aeroporto. Este factor pode-se revelar prejudicial para o passageiro de uma low-cost, porque este serviço é prestado pela companhia de handling e como tal pode ser prestado um mau serviço, pois não são defendidos os interesses e a imagem da companhia aérea. As reclamações no caso de ocorrer uma má prestação de serviço também se revelam mais complicadas de ser efectuadas e com mais probabilidades de não serem realmente atendidas. Estas reclamações, em alguns casos, levam as companhias aéreas a optarem por ter um balcão de apoio ao cliente e a deixarem tudo o resto a cargo da empresa de handling e isto ocorre quer com companhias low-cost, quer com companhias regulares. No caso de estudo tem-se o exemplo da Brussels Airlines (regular) e da Air Berlim (lowcost). A etapa que se segue é o controlo de segurança. Aqui também pode surgir uma diferença entre as companhias aéreas, pois começa-se a prestar um serviço extra nas companhias regulares que reside na criação de um corredor de raio-x específico para determinados passageiros, em geral na classe executiva, que permite uma passagem muito mais rápida pelos cada vez mais apertados e exigentes controlos de segurança. Este serviço designa-se normalmente por “fast track lane” e não deve demorar mais do que dois minutos. No caso da Portela este serviço já se encontra disponível. De salientar ainda no caso da Portela que o controlo de segurança já se encontra com um funcionamento muito mais eficiente do que à uns anos, quando existiam dois controlos de segurança um antes da zona comercial e outro depois. Este segundo controlo acabava por atrasar os voos, pois os passageiros preferiam ficar nas zonas comerciais até à hora do voo e quando se dirigiam à porta de embarque ainda tinham que passar por mais um controlo de segurança, o que muitas vezes resultava em atrasos no embarque e posteriormente na descolagem. Para resolver esta situação foi criado o controlo de segurança centralizado que permitiu concentrar todo o procedimento numa única zona que se localiza imediatamente antes de se entrar na zona comercial, possibilitando ao passageiro estar na zona comercial mesmo até à hora de embarcar. De seguida o passageiro entra na zona de espaços comerciais onde tem ao seu dispor uma variedade grande de serviços, que vão desde espaços de restauração até todo o tipo de lojas e zonas de lazer. Relativamente a este espaço, aparecem aqui várias diferenças entre as companhias lowcost e as regulares, pois as primeiras só necessitam de serviços do tipo essenciais como 36 restaurantes e lojas de conveniência, isto para que as taxas aeroportuárias lhes sejam favoráveis. No entanto, este factor não impede que estas companhias exijam que esses serviços essenciais sejam prestados com qualidade. Já as companhias regulares pretendem espaços que disponibilizem mais tipos de serviços para os seus passageiros, tais como zonas de lojas e de lazer. Mas a grande diferença reside no facto de as companhias regulares apresentarem “business lounges” e “air lounges” a alguns dos seus passageiros. Os “business lounges” são peças fundamentais para as companhias regulares, porque alguns dos seus passageiros que fazem viagens a trabalho requerem, para além da flexibilidade de alteração dos bilhetes, um espaço no aeroporto para estarem a trabalhar enquanto aguardam pelo embarque. Quanto aos “air lounges”, aparecem como uma resposta aos passageiros que viajam nas classes superiores e que pretendem ter um espaço reservado (exclusivo), onde podem usufruir de várias mordomias que a companhia aérea lhes oferece. Apesar de as companhias low-cost abdicarem de muitos dos serviços das companhias regulares, o que pode acontecer é as companhias low-cost operarem em espaços que foram concebidos e desenhados para as exigências das companhias regulares, apresentando como tal todos os serviços que uma companhia regular pretende, como acontece no aeroporto de Lisboa. Este factor torna-se muitas vezes dissuasor da entrada de uma companhia low-cost em determinado aeroporto, pois as taxas aeroportuárias não se apresentam nada favoráveis. O passo seguinte é o passageiro encaminhar-se para o terminal de embarque, para que se inicie este processo. Nesta fase também surgem algumas disparidades entre a forma de processamento do embarque pelas as low-cost e as regulares, sendo que as companhias low-cost se diferenciam por apresentarem sempre uma enorme eficiência face às regulares. As low-cost através dum sistema muito simples conseguem persuadir o passageiro a querer entrar no avião o mais cedo possível através da não definição dos lugares dentro do avião, ficando esta escolha para o passageiro. Como o passageiro pretende se sentar no lugar pretendido vai antecipar não só o seu check-in como também a sua entrada no avião. Regra geral as companhias low-cost definem vários grupos por ordem de check-in e vão chamando as pessoas na porta de embarque recorrendo a essa ordem dos grupos e desta forma conseguem que todo o processo de embarque seja feito com uma rapidez muito melhor que a das companhias regulares. Este procedimento é muito eficiente, mas não pode ser aplicado numa companhia regular onde o passageiro exige um tratamento diferente e gosta de ter o seu lugar marcado e definido quando faz o check-in. As companhias regulares, ao oferecerem vários tipos de bilhetes aos seus passageiros, exibem também diferenças no embarque dos mesmos e portanto os passageiros das classes superiores muitas vezes têm embarques separados, logo torna-se complicado serem tão eficientes como as companhias de baixo custo. Relativamente ao tipo de embarque: mangas, autocarro ou a pé; não é possível estabelecer diferenças conclusivas, isto porque as companhias aéreas low-cost utilizam sempre o meio disponível que lhes permita cumprir os baixos tempos de rotação, quer seja através do autocarro, como a pé (utilizado regularmente pela Ryanair) ou ainda recorrendo às mangas, mesmo contando com o aumento de custos que estas implicam. As mangas representam sempre um custo extra e como tal 37 as companhias aéreas low-cost tendem a evitá-las, excepto nos casos em que de forma a conseguirem cumprir os tempos de rotação de cerca de 25 minutos, têm de as utilizar, este exemplo ocorre no aeroporto de Lisboa com as companhias como a Easyjet e SkyEurope a recorrerem praticamente em todos os voos às mangas. No que respeita às companhias regulares, recorrem quer às mangas como também aos autocarros, mas muitas vezes não conseguem mangas pois ou não há mangas disponíveis ou por incompatibilidade das mesmas com determinados tipos de avião. As mangas do aeroporto de Lisboa sofrem deste problema, sendo somente compatíveis com aviões pequenos. Em Lisboa temos o exemplo da companhia aérea TAP que neste momento, por questões operacionais, praticamente não recorre a mangas, fazendo portanto os seus embarques através dos autocarros. De realçar ainda, que do ponto de vista do passageiro as mangas são a forma mais confortável de realizar o embarque. No voo também emergem diferenças entre estes dois tipos de companhias, sendo estas provavelmente as mais conhecidas e mais características de uma companhia de baixo custo. Numa companhia aérea low-cost não existe o serviço de “catering” convencional das companhias regulares e todos os serviços a bordo são pagos no momento da compra, enquanto que nas companhias regulares o serviço de “catering” é oferecido, bem como alguns serviços de entretenimento. No entanto, numa tentativa comum de reduzirem os custos face à concorrência feroz, as companhias regulares tendem a reduzir o serviço de “catering” muitas vezes ao indispensável, principalmente nos voos mais curtos. Após a aterragem da aeronave os passageiros procedem ao desembarque, este processo pode ocorrer, tal como o embarque, através duma manga, dum autocarro ou até a pé. De seguida os passageiros encaminham-se para a zona de recolha de bagagens onde o procedimento é igual tanto para uma companhia low-cost como para uma regular, com a excepção de passageiros das classes mais exclusivas (“business” ou primeira) que poderão ter um serviço especial de recolha de bagagens, que pode ser mais rápido ou separado dos restantes. Concluída esta fase os passageiros passam pelo corredor do controlo de bagagem, controlo este que é efectuado aleatoriamente. 4.2 Lado Ar O sub capítulo que agora se inicia pretende analisar em paralelo os procedimentos das companhias low-cost e das regulares. O diagrama demonstra todas as operações pelas quais uma aeronave de uma companhia low-cost passa (coluna da direita) e de uma aeronave de uma companhia regular (coluna da esquerda). Este diagrama pretende ser bastante intuitivo e para tal apresenta-se com uma cronologia lateral relativa ao tempo de rotação de cada tipo de companhia. 38 Figura 4 – Análise paralela dos procedimentos operacionais 39 As etapas iniciais, aterragem e estacionamento, são iguais em ambas as colunas do diagrama, sendo que as diferenças só surgem assim que o avião estaciona e começam a ser executadas todas as operações. No diagrama aparecem assinaladas com sublinhado as diferenças entre as companhias regulares e as low-cost. Como se pode observar os processos das companhias low-cost são mais simples, daí a sua maior eficiência e a sua capacidade de realizar as rotações de forma tão rápida. A coordenação de todas as operações é crucial para que uma companhia aérea consiga realizar todos os procedimentos no tempo a que se propõe. Esta coordenação numa companhia aérea low-cost tem um papel fundamental, pois conseguir atingir a meta de 20 a 30 minutos de tempo de rotação é uma tarefa que requer um operador de “handling” extremamente eficiente. Todas as operações têm que estar preparadas com antecedência, para que assim que a aeronave estacione se iniciem, em simultâneo, o maior número de procedimentos possíveis. Já numa companhia regular todos estes procedimentos são efectuados de uma forma mais lenta pois não têm necessidade de cumprir tempos de rotação tão baixos. Numa companhia low-cost após o estacionamento, inicia-se imediatamente o desembarque de passageiros e bagagens, em simultâneo com o abastecimento de combustível e a manutenção de linha. Assim que os passageiros desembarcam inicia-se o rápido reabastecimento do carrinho de compras a bordo e uma limpeza rápida do avião, que não necessita de grandes limpezas, pois ao não existir serviço de “catering” a bordo resulta numa aeronave com menos sujidade. Concluída a limpeza procede-se de novo ao embarque das bagagens e dos passageiros. Por fim o avião está pronto a descolar. A companhia low-cost “Ryanair” consegue executar as rotações com elevada eficiência, ocorrendo a situação de estarem os passageiros a desembarcar pela porta da frente da aeronave, e já estão as hospedeiras a fazer uma limpeza rápida atrás do último passageiro que está a desembarcar e na traseira do avião já estão a iniciar o embarque dos passageiros seguintes. De salientar que muitas vezes as low-cost conseguem atingir tempos de rotação tão baixos devido ao facto de só abastecerem com combustível e de só fazerem uma limpeza mais profunda nas suas bases, conseguindo desta forma ainda simplificar mais todo o processo de rotação. Ao se começar a análise das operações de companhias regulares, a primeira coisa que salta à vista é a diferença de duração que estas requerem quando comparadas com as companhias low-cost, pois uma duração entre os 50 a 70 minutos (Autor) é o dobro do que as low-cost necessitam. No entanto pelo menos parte deste tempo tem uma justificação, que se deve à maior complexidade de transporte de carga, do abastecimento de catering e, quando existe, do processamento de passageiros e bagagens em transferência. A limpeza da aeronave também não consegue ser tão rápida, pois ao contrário das low-cost, as companhias regulares apresentam serviço de “catering” a bordo. 40 Os passageiros e bagagens em transferência são sempre muito mais complicados de operar, pois podem afluir de vários voos complicando bastante toda a logística associada a este tipo de operações. Tal como já foi referido no sub capítulo lado terra a companhia aérea TAP praticamente não recorre às mangas e esta opção deve-se em grande parte a estes passageiros e bagagens em transferência. Esta escolha da TAP deve-se ainda ao facto de Lisboa ser o seu “hub”, e como tal desenvolveu um género duma plataforma numa zona de estacionamento do aeroporto na qual tenta estacionar todas as suas aeronaves e no meio dessa plataforma tem mesmo um terminal central de processamento de bagagens, que permite que as bagagens dos voos em transferência nem sequer tenham que se deslocar ao terminal das bagagens do aeroporto. Este procedimento permite uma eficiência muito maior ao nível de processamento de bagagens de todos os passageiros que estão em transferência. Na figura 4, apresenta-se um esquema que demonstra esta plataforma. Figura 5 – Ilustração do terminal de processamento de bagagens da TAP no Aeroporto da Portela As companhias low-cost apesar de se demonstrarem muito mais eficientes nos tempos de rotação e de apresentarem todos os seus processos de forma mais simplificada, revelam uma maior dificuldade em resolver uma situação de avaria numa aeronave ou de atraso por qualquer motivo que seja. Isto 41 porque o facto de terem uma maior taxa de utilização das aeronaves, torna-se crítico lidar com um atraso, pois este vai desencadear um atraso em cadeia que se torna praticamente impossível de recuperar. 42 5 Segmentação de Mercado das Companhias Aéreas Este capítulo vai de encontro a uma necessidade de tentar perceber melhor quais os diferentes tipos de companhias aéreas a operar e qual a sua posição neste mercado em crescente competitividade. No entanto, existe sempre uma grande dificuldade em fazer uma segmentação precisa de qualquer mercado, face às constantes mudanças que as companhias apresentam para responderem de forma eficaz à diversidade de exigências que vão surgindo nos variados mercados onde estão presentes. Esta variedade de mercados complica qualquer tentativa de definir grupos de companhias aéreas, pois uma vez que é um sector que envolve uma dimensão mundial, todas as diferenças culturais e todas as condicionantes associadas às diferentes legislações de cada país, tornam muito pouco credível uma única segmentação de mercado. Desta forma as segmentações de mercado devem ter um propósito específico e ser usadas em função desse mesmo objectivo. Posto tudo isto, neste capítulo vai se começar por analisar uma segmentação mais geral e menos específica, para depois se abordarem duas outras segmentações com propósitos mais definidos. A primeira segmentação, corresponde a uma segmentação estratégica com base nos princípios de Porter, que divide as principais companhias aéreas de acordo com a sua estratégia. A segunda segmentação, analisa os atributos preferidos pelos passageiros dos vários tipos de companhia, quer sejam passageiros em trabalho como em lazer. A última segmentação, consiste na divisão do mercado das low-cost. O esquema da figura 6, permite perceber um pouco melhor a ligação que se pode fazer entre as várias segmentações que estão descritas. Na segmentação estratégica destacam-se a liderança por custo e a diferenciação, pois abrangem grande parte das companhias aéreas desde as low-cost às tradicionais. Já a estratégia de nichos de mercado aparece deslocada, porque varia consoante o mercado onde a especialização incidir. A ligação entre a primeira e a segunda segmentação é feita por intermédio de uma espécie de escala, onde mais à esquerda se posicionam como low-cost e mais à direita como tradicionais. A segunda segmentação também aparece posicionada ao longo da mesma escala, variando entre as low-cost e as tradicionais, consoante os atributos mais relevantes a cada grupo de passageiros. A última segmentação não aparece referenciada no esquema, pois ao ser uma segmentação do mercado das low-cost está implícita na parte esquerda da escala. 43 Figura 6 – Segmentações de mercado 5.1 Segmentação Estratégica O autor Stephen Shaw (2007) recorre aos princípios estratégicos de Michael Porter e aplica-os ao mercado das companhias aéreas de forma a realizar uma segmentação de mercado mais geral, ao nível das estratégias principais das companhias. Os princípios de Porter são a diferenciação, a liderança por custo e aposta em nichos de mercado. Através destes três princípios é possível agrupar grande parte das companhias aéreas existentes no mercado a um destes 3 grupos, podendo ainda surgir um quarto grupo para as companhias que se encontram sem uma estratégia bem delineada, denominado de “lost-in-the-middle”. Esta segmentação só foi possível de realizar após a desregulamentação do mercado, tornando-se desde então numa caracterização bastante boa para se perceber as opções estratégicas das diferentes companhias aéreas. A estratégia de liderança por custo define-se quando uma companhia apresenta uma série de requisitos para que esta estratégia seja bem sucedida. Em primeiro lugar a companhia aérea deve 44 conseguir atingir e depois manter uma estrutura de custos operacionais inferior à da concorrência. Perder esta vantagem pode significar problemas sérios para a companhia. O segundo princípio é perceber bem quais os serviços que os seus clientes estão dispostos a abdicar e quais os que não estão. Neste grupo incluem-se as companhias low-cost. Relativamente à estratégia de diferenciação surge uma dificuldade acrescida de caracterização, pois existem várias formas de as empresas serem bem sucedidas através desta estratégia. Podendo as companhias aéreas definir a estratégia consoante o mercado que pretendam atingir. No entanto os seus principais atributos são o facto de apresentarem uma variedade de produtos específicos pelos quais os clientes estão dispostos a pagar, aproveitando muitas vezes as sinergias que são permitidas alcançar por uma empresa que produza diferentes produtos dentro da mesma estrutura. A este segmento pertencem as companhias tradicionais. Já a estratégia de nicho de mercado, é uma companhia que abdica de todo este potencial das sinergias entre produtos e faz uma aposta clara num mercado específico. Esta estratégia tem como objectivo alcançar um “know how” nessa actividade singular que permita à companhia estar preparada para enfrentar a concorrência nesse mercado. A grande desvantagem desta estratégia é se o mercado em que a empresa se foca acaba, a companhia não tem qualquer hipótese de sobrevivência. Neste grupo inserem-se as companhias de voos charter. O último grupo é o “lost-in-the-middle” (perdidos no meio) e diz respeito às companhias aéreas que não apresentam uma estratégia de mercado bem definida e que são muitas vezes obrigadas a fazer grandes mudanças de forma definirem as suas estratégias, caso contrário correm sérios riscos de ter que encerrar a sua actividade, como já muitas companhias aéreas o tiveram. 5.2 Segmentação por Tipologia de Passageiro Segundo o estudo elaborado por Teichert, Shehu e Wartburg (2008) o transporte aéreo de passageiros pode ser dividido em 5 segmentos distintos. Esta segmentação baseia-se numa análise das preferências de cerca de 5800 passageiros do transporte aéreo e demonstra que a habitual divisão que é feita entre passageiros em trabalho e lazer, não é suficiente para se perceber as preferências dos passageiros e pode mesmo induzir em erro quem apenas através dessa diferenciação tentar compreender as preferências dos consumidores. Neste estudo, os autores propõem uma segmentação alternativa através dos segmentos do comportamento dos passageiros e dos aspectos sociais e demográficos. Desta forma permitem que através das características dos consumidores se encontrem segmentos receptíveis a produtos mais personalizados do que os actualmente existentes. Os segmentos a que os autores deste estudo chegaram são os seguintes: 45 1. Eficiência / Pontualidade (cerca de 19% da amostra); 2. Conforto (cerca de 19% da amostra); 3. Preço (cerca de 9,5% da amostra); 4. Preço / Performance (cerca de 33% da amostra); 5. “Catch All” / Flexibilidade (cerca de 19,5% da amostra). 1. Eficiência /pontualidade O segmento Eficiência/Pontualidade apresenta como características mais importantes a pontualidade, a flexibilidade e a marcação. O facto de este grupo representar cerca de 19% da amostra, demonstra bem a sua importância e o seu potencial no mercado e como tal as companhias que procuram servir estes clientes devem ter em consideração os aspectos externos que podem influenciar muito este segmento, tais como os congestionamentos e os atrasos, e desta forma equacionar a hipótese de ter de atender a estes clientes de aeroportos com menos tráfego. O cliente tipo deste grupo é mais do que um cliente frequente, estes passageiros praticamente vivem nos aviões, pois viajam várias vezes por semana. Como não têm tempo para marcar as viagens, este tipo cliente delega esta tarefa excepto quando a viagem é de lazer, onde passa a ser um cliente de um dos outros segmentos. Devido à impossibilidade de poderem marcar as suas viagens com antecedência, estes passageiros procuram essencialmente flexibilidade e pontualidade sem olharem a custos. Os requisitos a bordo deste tipo de clientes não são muito relevantes, uma vez que essa preocupação lhes consumiria muito tempo, como tal este cliente recorre muito a agências de viagens. Este segmento apresenta muitos passageiros com graus académicos elevados e que exercem posições de chefia. Maioritariamente composto por passageiros do sexo masculino, estes clientes procuram a pontualidade, a flexibilidade, a facilidade de marcação e remarcação caso seja necessário, apresentando baixa sensibilidade aos preços. 2. Conforto Neste segmento os atributos que se revelam mais importantes são os benefícios obtidos com os programas de passageiro frequente, a qualidade do catering e a flexibilidade dos voos. O preço tornase muito pouco importante, sendo que este factor torna este segmento muito atractivo para as companhias aéreas. Uma vez que este grupo constitui cerca de 19% da amostra, apostar nele através da diferenciação pode ser rentável para as companhias aéreas. Esta aposta pode recorrer a serviços personalizados e a algumas regalias, mas mais especificamente o recurso à inovação dos 46 serviços em terra poderá ser uma boa aposta, pois as actuais ofertas não satisfazem este grupo de clientes. A constituição genérica deste grupo é composta por passageiros mais idosos que também apresentam cargos de chefia elevada e que muitas vezes já pertenceram ao grupo eficiência/pontualidade. Estes passageiros, geralmente, viajam algumas vezes por mês e gostam de ter influência sobre as marcações das viagens, quer seja em trabalho como em lazer, apesar de essas marcações serem normalmente efectuadas por agências de viagem. Este segundo segmento também é composto por uma maioria de passageiros do sexo masculino. Estas características do grupo levam a que o preço seja o factor menos relevante. 3. Preço Tal como o nome do segmento indica, estes passageiros são os mais sensíveis ao preço, apesar de a pontualidade também se apresentar como um factor relevante. Isto demonstra uma decisão mais racional, na qual os benefícios pessoais são de relevância menor e são procurados ao acaso. Este tipo de cliente torna-se ainda mais sensível ao preço no caso de não ser servido catering a bordo, exigindo se tal ocorrer, preços mais baixos. Estas características levam o passageiro a transformar a viagem num mero serviço essencial, no qual a companhia aérea só conseguiu que o passageiro voasse consigo devido ao preço oferecido. Desta forma demonstra-se a dificuldade que as companhias low-cost têm em reter/fidelizar os seus passageiros, estando estes meramente interessados na companhia que apresente o preço mais baixo. O tipo de passageiro que pertence a este segmento, normalmente não se encontra em posições de chefia e como tal não têm grande poder de decisão sobre as suas viagens de trabalho. Uma vez que este tipo de passageiro viaja cerca de 2 a 4 vezes ano, permite às empresas planear as viagens com antecedência e desta forma adoptar uma estratégia de minimização de custos. Este segmento apresenta passageiros de muitas idades, mas tem muitas pessoas com mais de 64 anos, que em geral não possuem graus académicos universitários. Os programas de passageiro frequente, o catering e os serviços em terra, não são factores decisivos para este segmento de passageiros. 4. Preço / Performance O quarto segmento é caracterizado por uma mistura de sensibilidade ao preço e à performance e qualidade de serviços prestados pelas companhias aéreas. Este equilíbrio que é feito pelos passageiros deste grupo, permite concluir que estes clientes procuram marcar as suas viagens em função de acharem que o produto vale o que estão a pagar. Para este segmento a regularidade de voos é tão importante como a flexibilidade, enquanto que a pontualidade apresenta ainda mais importância. Neste grupo o preço é importante, mas a eficiência ao nível da pontualidade, flexibilidade 47 e da regularidade de voos aparece como factores ainda mais relevantes do que para o segmento três. Tudo isto aliado do facto de representarem cerca de 33% da amostra, conclui-se que é um segmento bastante interessante e para o qual se pode tentar criar produtos bem à medida das suas necessidades que possibilitem um bom retorno a nível financeiro. Esta procura de uma boa relação preço/desempenho bate certo com o facto de neste grupo estarem incluídos um elevado número de empreendedores, que fruto das suas funções têm que pagar as suas viagens de trabalho com o próprio dinheiro, tornando-se mais sensíveis aos preços das mesmas, do que os passageiros de posições de chefia das grandes empresas. Estes empreendedores têm tendência a deixar a marcação das viagens de trabalho para quem percebe melhor desta relação preço/performance, tal como agências de viagem, enquanto que as viagens de lazer já são deixadas para um empregado seu ou também para as agências de viagens. Além dos empreendedores, este grupo também inclui trabalhadores que não estão em posições de chefia, como no segmento três, mas que dão mais valor a esta relação de preço/ desempenho do que os passageiros do terceiro segmento. Este segmento apresenta os passageiros com menor idade e é representado por mais clientes do sexo feminino. 5. “Catch All” / Flexibilidade Os passageiros pertencentes ao quinto segmento apresentam preferências muito equilibradas pelos vários atributos oferecidos pelas companhias, daí a designação de “Catch All”. Neste segmento estão incluídos passageiros que são bem informados sobre as várias ofertas possíveis e que fazem um balanceamento entre os vários atributos, quer sejam mais virados para a funcionalidade ou quer sejam mais virados para a parte emocional e os seus desejos. Aqui torna-se complicado de se especificar, porque este tipo de passageiros faz escolhas bastante aleatórias e que dificilmente conseguem ser agrupadas. Deve-se portanto pensar se valerá a pena criar um produto específico para este tipo de passageiro, pois poderá implicar um aumento significativo dos custos sem o devido retorno. A maioria dos passageiros englobados neste grupo está em cargos de chefia importantes e voam várias vezes ao mês e delegam a decisão de marcação das suas viagens. Encontram-se na casa do 40 a 49 anos e apresentam preferências específicas. Apesar do equilíbrio de prioridades que apresentam, a regularidade de voos e a flexibilidade são ligeiramente mais importantes, provavelmente devido a viajarem bastantes vezes e ao poder elevado de decisão. A dimensão deste segmento, cerca de 19,5%, revela-se à partida interessante para as companhias aéreas, mas a dificuldade de encontrar um produto específico que conseguisse abranger todos estes requisitos, revelar-se-ia muito dispendioso. A dificuldade em tentar melhorar os serviços prestados a este segmento de clientes torna-se difícil, pois existe uma dificuldade acrescida de comunicação entre o cliente e a companhias aérea, porque este tipo de clientes recorre sempre a agências de viajem para 48 todo o tipo de viagens e desta forma evita o contacto directo com as companhias. No entanto, as companhias aéreas devem tentar encontrar uma forma de se aproximarem deste cliente, de forma a conseguirem perceber qual a melhor forma de eventualmente conseguir a fidelização deste tipo de cliente. 5.3 Segmentação de companhias Low-cost As companhias de baixo custo vieram revolucionar o mercado aéreo. Esta revolução deu-se um pouco por todo o mundo, no entanto as aproximações aos diferentes mercados não funcionaram sempre da mesma forma e como tal neste capítulo demonstra-se uma segmentação deste mercado das companhias denominadas low-cost. As bases dos modelos de negócio são essencialmente as mesmas mas as condicionantes em que estas são aplicadas é que variam bastante, não havendo uma só definição do que é na realidade o modelo low-cost. Esta segmentação permite perceber melhor a dimensão e a importância deste mercado, através da demonstração de várias alterações que surgiram no mercado por parte de algumas companhias existentes para conseguirem fazer frente a esta nova ameaça, que se tem revelado extremamente competitiva. Esta competitividade ainda se poderá agravar face a uma situação económica mundial nada favorável que não permite muitas vezes que as companhias aéreas consigam manter os preços baixos e aguentar a pressão da concorrência feroz que é exercida, principalmente pelas companhias low-cost de maior dimensão, tais como a Ryanair e a Easyjet na Europa. Através dum estudo encomendado pelo parlamento Europeu (Macário, 2007), que pretendia determinar quais as reais consequências do crescimento deste mercado das companhias aéreas de baixo custo, resultou esta segmentação que divide em cinco grupos grande parte das companhias aéreas low-cost: • Cópias do modelo Southwest; • Subsidiárias; • Redutoras de Custos; • Companhias Charter que alargaram o seu mercado; • Companhias Aéreas subsidiadas pelos governos a competirem pelo preço. Esta segmentação foi realizada por Francis et al. (2006) e consegue fazer uma boa contextualização daquilo a que se pode chamar de companhia aérea de baixo custo. • Cópias do modelo Southwest 49 Muitas das companhias low-cost existentes nasceram com base no modelo de negócio inovador da companhia americana Southwest Airlines que já foi descrito com mais detalhe no capítulo 3. Estas companhias, em geral, são companhias que foram criadas após a liberalização do mercado aéreo e que foram criadas do zero para tentar atingir a maior eficiência ao nível do custos e desta forma entrarem nos mercados com preços muito apetecíveis. Surgem muitas vezes de uma aposta da parte de empreendedores (tais como Richard Branson ou Michael O’Leary), alguns deles conhecidos internacionalmente por gostarem de entrar em mercados onde existam grandes empresas que detém grande parte dos mesmos. Temos como principais exemplos na Europa, a Ryanair e Easyjet, que são as duas maiores companhias de baixo custo a operarem neste mercado e são porventura as mais aptas a sobreviverem a esta difícil situação económica que se avizinha para os próximos tempos. • Subsidiárias Este grupo de companhias aéreas surge da necessidade de resposta a um mercado em clara expansão. As subsidiárias são a resposta das companhias regulares à ameaça que apareceu das várias companhias de low-cost que emergiram e que à medida que foram crescendo foram roubando clientes às companhias regulares que dominavam os mercados como queriam, sem terem que se preocupar com a concorrência. As companhias subsidiárias aparecem com o objectivo de as companhias regulares competirem com as companhias low-cost e tentarem recuperar parte das quotas de mercado que foram perdidas. O objectivo destas companhias é funcionarem de forma independente da companhia “mãe”, mas tentar aproveitar as economias de escala e as sinergias já existentes na companhia regular. No entanto, é aqui que começam as dificuldades em fazer a separação de ambas as companhias e muitas das companhias que foram lançadas desta forma não conseguiram sobreviver e acabaram mesmo por ser extintas, entre elas temos a “Go” que foi lançada pela British Airways, a Snowflake que foi lançada pela SAS Airlines. Existem outros casos que ainda vão conseguindo sobreviver à dificuldade de coabitação dos dois modelos de negocio dentro do mesmo grupo como a por exemplo BmiBaby da British Midland. As incompatibilidades dos dois modelos de negócio estão bem descritas no estudo realizado por Luca Graf (2005), no qual o autor conclui que apesar de existirem motivos para as companhias aéreas regulares tentarem explorar este mercado, através da exploração das economias de escala, da possibilidade de tirar partido de novas oportunidades de mercado e possível crescimento da companhia base ou de conseguirem controlar as dinâmicas do mercado fazendo frente aos competidores, existem outros aspectos negativos que podem acabar por perturbar a companhia base. Entre estes aspectos temos: 50 • a canibalização dos produtos oferecidos, pois ambos podem não ser suficientemente diferentes e estarem a incidir sobre os mesmos segmentos de passageiros; • as confusões geradas ao nível da comunicação, donde podem surgir duvidas por parte dos clientes sobre as duas companhias, pois podem achar que a companhia regular não apresenta argumentos para a diferença de preço e ainda pode acabar por destruir a imagem de marca criada pela companhia base durante anos; • a redução das receitas, porque os clientes ficam desagradados com a mistura de conceitos e acabam por deixar de viajar com ambas as companhias; • dificuldade por parte da companhia base em conseguir manter-se focada nos seus objectivos, acabando por se descuidar na inovação. Por outro lado tem de ter cuidado nos investimentos que faz na unidade de baixo custo; • dificuldade de manter a motivação dos empregados, que estavam habituados a uma determinada cultura empresarial e vêem-se a trabalhar para uma outra companhia com a qual não se identificam; • aumento da complexidade da estrutura da organização, com dificuldade de incorporar os recursos o que pode originar falhas de comunicação entre os dois modelos de negócio; • a estratégia da companhia/organização pode ficar indefinida; • Redutores de custos O grupo dos redutores de custos (“cost-cutters”) é composto por companhias regulares que não estavam a conseguir acompanhar a concorrência e tiveram de começar a cortar custos operacionais. Esta redução tanto é feita ao nível da quantidade de serviços oferecidos como também ao nível da complexa estrutura organizacional, onde são constantemente implementadas soluções com intuito de simplificação da mesma. Algumas companhias adoptaram esta estratégia por uns tempos em determinados mercados, para dificultar a entrada de outras companhias. A redução de custos das companhias aéreas tornou-se essencial para a sobrevivência das mesmas num mercado que se revela cada vez mais competitivo, sendo que praticamente todas as companhias aéreas já tiveram que tentar de alguma forma reduzir os seus custos. No entanto, este segmento refere-se mais às companhias que optaram por reduzir os custos de forma a conseguirem competir directamente com as low-cost criadas de raiz. Uma tarefa que não se revela nada fácil, principalmente em companhias que em tempos já foram altamente financiadas pelos governos dos seus países. A Iberia e a Aer Lingus são bons exemplos de companhias aéreas que pertencem a este 51 segmento. A Iberia já conseguiu uma redução bastante grande de custos e consegue ser das companhias regulares com menores custos, mas mesmo assim não consegue igualar as companhias low-cost, que além de serem mais eficientes apresentam um modelo de negócio mais simples que lhes permite ganhar vantagem. • Companhias Charter que alargaram o seu mercado Neste segmento surgem mais uma vez companhias aéreas que decidem alargar o seu mercado. Mas neste grupo estão representadas companhias de voos charter, que também tiveram o seu mercado afectado pela entrada das low-cost e como forma de conseguirem dar resposta a esta nova concorrência, procederam ao alargamento da sua área de negócio. As companhias aéreas de voos charter, geralmente operam em mercados cujo destino são zonas altamente turísticas e para os quais as agências de viagens costumam comprar todos os lugares dum avião logo à partida, ficando toda a responsabilidade da venda dos respectivos bilhetes a cargo da agência de viagens. No entanto este tipo de viagens vende-se, em geral, num pacote que além da viagem de avião, incluí as reservas de hotel entre outros serviços (aluguer de carros, visitas guiadas,etc.). É aqui que entra a concorrência das low-cost que oferecem simplesmente a venda do bilhete de avião deixando ao critério do passageiro os restantes extras da sua viagem se é que estes existem. Desta forma as companhias low-cost a operarem nos mercados geralmente operados pelas companhias charter, conseguiram encontrar novos mercados, tais como o dos passageiros que viajam para casa de familiares e amigos, que doutra forma não teriam possibilidades de viajar ou o caso das pessoas residentes nessas zonas turísticas que passam a dispor de uma alternativa mais barata e ainda os passageiros que acabam por retirar às companhias charter. Posto tudo isto, as companhias aéreas charter não tiveram alternativa senão entrar na luta por este novos mercados, que já existiam mas que estavam claramente por explorar. Desta forma as companhias charter começaram a vender só uma parte da sua capacidade às agências de viagens, ficando a restante reservada para a venda directa de forma a fazerem frente às companhias de baixo custo. O modelo de negócio das companhias charter apresenta algumas semelhanças com o modelo lowcost, pois ambos oferecem bilhetes a baixo custo e conseguem reduzir os seus custos através da elevada densidade de lugares oferecida e da elevada frequência com que utilizam as suas aeronaves. No entanto o modelo das companhias charter apresenta algumas vantagens face ao lowcost, como por exemplo a utilização de aeronaves maiores e mais económicas que oferecem cerca de 180 a 350 lugares face aos 130 a 160 lugares das low-cost e que ao serem utilizadas por mais horas de voo por dia, permite-lhes obter custos de lugar/km inferiores. As companhias charter apresentam ainda menores custos com publicidade, uma vez que grande parte da sua capacidade é vendida às agências de viagem. 52 Outra das vantagens prende-se com a taxa de ocupação dos voos charter que consegue ser mesmo muito elevada e quase que corresponde à procura. As low-cost já conseguem taxas de ocupação elevadas, entre os 75% e 85%, mas os voos charter conseguem taxas ainda superiores entre os 85% e os 95%. As companhias charter não têm necessidade de oferecer voos nas épocas baixas e a regularidade dos seus voos também não é um factor relevante para os seus clientes. Uma das formas que muita companhias charter criaram para conseguirem obter custos mais baixos foi o facto de as agências de viagens a quem estas vendem os lugares do avião pertencerem ao mesmo grupo financeiro, como acontece com alguns dos maiores operadores charter da Europa, o grupo alemão Tui Group e o grupo inglês Thomas Cook Group. Este tipo de companhias apresenta uns custos adicionais face ao modelo low-cost, que são a oferta de alguns serviços a bordo (refeições e bebidas) e o facto de não conseguirem beneficiar das mesmas condições ao nível das taxas aeroportuárias que as companhias low-cost conseguem negociar. • Companhias aéreas subsidiadas pelos governos a competirem pelo preço O último grupo desta segmentação de mercado inclui um tipo de companhias que não têm um futuro nada garantido, pois são companhias regulares que face à entrada das low-cost no seus mercados começaram a entrar na concorrência de preços através da ajuda dos governos dos seus países, que na grande maioria dos casos são os maiores accionistas das mesmas. A estratégia de ajudar muitas companhias de bandeira através da injecção de dinheiro, por parte dos governos, acabou por ser a salvação para muitas destas companhias. No entanto está longe de ser uma solução com futuro, pois o facto de as companhias utilizarem esses subsídios para conseguirem enfrentar a concorrência, em vez de os aproveitarem para fazer alterações profundas na sua estrutura operacional tem-se revelado desastroso, como o exemplo da Alitalia que apresenta-se neste momento numa situação financeira extremamente complicada. O caso da Alitalia tem ainda uma condicionante que pode agravar ainda mais a sua situação, que são os sindicatos dos seus trabalhadores, como já foi referido noutro capítulo, que têm um impacto muito grande em todas as negociações de possível privatização da companhia aérea. Recentemente a companhia aérea Air France/KLM fez uma proposta de compra da Alitalia, que foi prontamente aceite pelo Governo italiano, mas que acabou por não se concretizar devido a incompatibilidades com os sindicatos dos trabalhadores da Alitalia. Outro exemplo deste tipo de apoio financeiro por parte de um governo é a companhia aérea portuguesa TAP, mas neste caso os apoios acabaram por ser melhor aproveitados e a companhia conseguiu fazer profundas alterações ao nível da sua estrutura operacional, principalmente no seu 53 “hub”, e começar a dar lucros. Recentemente foi referenciada por um analista do BlueOtar Securities, um banco de investimento britânico, como uma das companhias aéreas europeias com mais condições de sobreviver à crise económica e ao aumento do preço dos combustíveis. De referir que este tipo de ajudas financeiras que este tipo de companhias tem beneficiado são altamente controlados pela União Europeia e a única forma de serem permitidos é se estas forem aplicadas de forma a fazer reestruturações internas grandes, com o objectivo de as companhias recuperarem de uma situação económica desfavorável. E mesmo assim esta permissão deve-se ao facto de estas companhias terem acumulado uma estrutura de custos exagerada (com regalias concedidas aos trabalhadores), que resulta dos tempos em que o mercado não era liberalizado e como tal é vista como uma ajuda para colmatar essa desvantagem face às companhias que surgiram mais recentemente. 54 6 Caso de Estudo: Aeroporto de Lisboa (Portela) Neste capítulo procede-se a uma análise da coabitação entre as companhias aéreas regulares e as companhias aéreas low-cost no mesmo terminal do aeroporto de Lisboa. Esta análise será feita com recurso a duas tipos de entrevistas que foram elaboradas. A primeira entrevista foi elaborada para ser realizada à entidade gestora do aeroporto de Lisboa, a ANA – Aeroportos de Portugal, SA. A segunda entrevista foi elaborada para ser realizada às companhias aéreas a operarem no aeroporto da Portela. Ambas as entrevistas incidem sobre as várias etapas operacionais do transporte aéreo no aeroporto que estão detalhadamente descritas no Capítulo 4 desta dissertação. Recorrendo aos diagramas realizados nesse capítulo, as entrevistas foram elaboradas de forma faseada e seguindo as várias etapas dos diagramas, em dois fluxos contínuos denominados lado ar e lado terra. 6.1 Realização de Entrevistas O processo de realização das entrevistas às companhias aéreas a operar no aeroporto de Lisboa iniciou-se com a recolha de uma listagem de todas as companhias aéreas a operarem no aeroporto. De seguida procedeu-se à eliminação de algumas companhias, pois o interesse fica-se pelas companhias a realizarem voos intra-europeus. Já com a listagem concluída, procede-se a uma primeira abordagem telefónica junto das várias companhias. Aqui surgiram algumas dificuldades pois nas linhas de apoio ao cliente remete-se para as linhas de “back office” em Portugal, onde se torna extremamente complexo de marcar qualquer tipo de entrevista. No entanto, após alguma insistência foi possível a realização de quatro entrevistas, dentro de um grupo de cerca de 30 companhias aéreas. Antes de proceder à elaboração das perguntas essenciais para a entrevista, preparou-se uma entrevista com um representante da ANA – Aeroportos de Portugal. Esta entrevista com o “Aviation Marketing Team Coordinator” da ANA, Luís Miguel Taborda, teve o intuito de se começar a perceber melhor quais os pontos cruciais para a elaboração da entrevista com as companhias aéreas. A clareza e a disponibilidade com que muitos dos procedimentos operacionais foram abordados, juntamente com algumas questões fundamentais de relacionamento entre a entidade gestora dos aeroportos nacionais e as companhias aéreas, revelam-se muito importantes para uma melhor leitura de todo o processo que se segue. Posto isto, procede-se à elaboração das perguntas da entrevista a realizar às companhias aéreas. Esta entrevista divide-se em duas partes: lado ar e lado terra. Esta divisão teve como objectivo conferir ao questionário uma forma sequencial pelos vários procedimentos que vão sendo realizados dentro de um aeroporto, quer sejam do lado ar ou do lado terra. A análise sequencial em fluxo contínuo permite que o entrevistado acompanhe todos os processos de uma forma cronológica, pois 55 no lado terra as perguntas seguem a ordem desde a entrada do passageiro no aeroporto até à sua saída no aeroporto de destino. Enquanto que na segunda parte do questionário as questões que se colocam ao entrevistado seguem as várias etapas, também de forma cronológica, pelas quais a aeronave passa desde a aterragem até à descolagem. As estruturas das entrevistas realizadas e a listagem dos inquiridos encontram-se em anexo. 6.2 Análise de Resultados Nesta parte analisa-se as respostas das companhias aéreas às entrevistas realizadas de forma a se perceber quais as situações mais prováveis de surgimento de conflitos entre as companhias aéreas tradicionais e as low-cost. No entanto, devido à enorme dificuldade de conseguir uma entrevista com as companhias de baixo custo, esta análise fica mais virada para o grau de qualidade e eficiência dos serviços prestados no aeroporto de Lisboa. A possibilidade de conseguir a marcação de uma entrevista com as companhias low-cost a operarem em Lisboa, ficava logo à partida mais remetida para um questionário via email, mas nem mesmo assim foi possível ser realizado. As únicas companhias de baixo custo que têm balcão no aeroporto de Lisboa são a AirBerlin e a Brussels Airlines, mas a primeira apresenta-se com trabalhadores do operador de handling e via email demonstraram não ter qualquer interesse neste tipo de questionário. Já Brussels Airlines demonstrouse muito disponível para a entrevista. A análise vai ser processada segundo os fluxos das figuras 1,2 e 3 do capítulo 4 e ainda dividida em duas partes. Entrevista com a ANA – Aeroportos de Portugal Da leitura das respostas à entrevista realizada ao Dr, Luís Taborda da companhia ANA – Aeroportos de Portugal, resumem-se as principais ideias que surgiram em duas partes. A primeira da análise do fluxo “Lado Terra” e a segunda da análise do fluxo “Lado Ar”. 1ª Parte – Lado Terra Ao nível do Check-in o aeroporto de Lisboa ainda não apresenta diferenças para as companhias lowcost e para as tradicionais. No entanto, já foi submetido para aprovação pelo INAC (Instituto Nacional de Aviação Civil) e pelo Governo, as novas taxas aeroportuárias para o aeroporto de Lisboa. Estas novas taxas já vai permitir a separação da actual taxa de Check-in em duas, a taxa de balcão de check-in e taxa de tratamento de bagagem. A ANA apresenta-se flexível para adaptar o check-in à forma mais conveniente para a qualquer companhia aérea, pois tem todo o interesse que o passageiro realize toda esta operação o mais rápido possível de forma a passar mais tempo nas zonas comerciais, melhorando estas receitas. Ainda ao nível do check-in a ANA não tem registado qualquer tipo de conflito entre companhias aéreas, pelo facto de estarem a partilhar o mesmo espaço. 56 Os controlos de segurança e raio X do aeroporto de Lisboa melhoraram bastante com a introdução da centralização do controlo de segurança do Aeroporto. Esta medida veio melhorar os níveis de desempenho de todo o processo e ainda permite, mais uma vez, que o passageiro passe mais tempo nas zonas comerciais. A ANA não tem tido qualquer tipo de reclamação por parte das companhias low-cost, sobre a hipótese de este procedimento atrasar a partida dos seus voos. As únicas reclamações que surgem devem ao aumento de tráfego na época do Verão, devido ao aparecimento de muito voos extra por parte das companhias de voo Charter. Desta forma surgem algumas dificuldades por parte da companhia de segurança do aeroporto de Lisboa (Prosegur) em manter os níveis de serviço estabelecidos e daí resultam as devidas penalizações. Nas zonas de lazer / comerciais, a ANA afirma que existem algumas pressões por parte das companhias low-cost para o aparecimento de uma zona que permita taxas mais baixas, no entanto a entidade gestora do aeroporto de Lisboa afirma não ser garantido que alguma vez essa solução possa surgir. O recente aparecimento do terminal 2 do aeroporto de Lisboa, tem levado ANA a estudar a hipótese de recorrer a este terminal como terminal dedicado às companhias Low-cost. No entanto, neste momento o terminal 2 só processa as partidas dos voos domésticos e ainda não apresenta capacidade para proceder ao processamento de chegadas. Neste momento, ambos os terminais apresentam as mesmas taxas aeroportuárias. Mas a hipótese de separação está a ser estudada e o facto de já existirem algumas infra-estruturas aeroportuárias assim na Europa, permite ter algumas referências antes de se avançar para essa hipótese. Ainda assim a ANA considera perigosa essa separação, pois o facto de se aplicarem taxas mais baixas poderá levar a que companhias tradicionais, que apenas executem voos de ligação ponto a ponto no Aeroporto de Lisboa, se mudem para este terminal. O sistema de processamento de bagagens do Aeroporto de Lisboa é um dos maiores problemas do aeroporto e existem muitas reclamações nesta área. No entanto, a ANA tem consciência deste problema e já está prestes a ser aumentada a capacidade de processamento das bagagens. 2ª Parte – Lado Ar No que respeita ao estacionamento no Aeroporto de Lisboa, em geral não existem diferenças entre os pedidos das low-cost e das regulares, a principal exigência feita a este nível, é feita pela TAP que criou uma plataforma de processamento de bagagens no meio da zona de estacionamento das aeronaves de longo curso, e portanto tenta que todos os seus estacionamentos se realizem o mais próximo da plataforma. A companhia low-cost Ryanair, para entrar no Aeroporto de Lisboa exigia que o estacionamento fosse executado de forma a evitar o movimento de “pushback” (avião estacionado de cauda pronto para sair), apresentava também preferência por embarque a pé e exigia tempos de rotação tão baixos que a o Aeroporto de Lisboa não consegue oferecer. Ao nível das reservas dos lugares de estacionamento, este procedimento é realizado, todos os dias, pelo departamento de planeamento de operações do Aeroporto de Lisboa, que faz a alocação dos estacionamentos 57 consoante as horas de chegada dos voos das várias companhias e consoante os pedidos das companhias aéreas. Esta a alocação é feita por ordem dos pedidos. Relativamente à rotação das aeronaves, a ANA afirma que não se verifica a hipótese de os aeroportos grandes não conseguirem efectuar tempos de rotação rápidos de forma a servirem as companhias low-cost, pois as companhias aéreas low-cost quando contratam as companhias de handling estabelecem níveis de serviço e penalizações associadas ao não cumprimento destes níveis. A ANA apresenta ainda o exemplo da empresa Portway, que é detida em 100% pela ANA, que realiza todas as operações de handling das companhias low-cost a operarem em Lisboa e que conseguiu uma boa adaptação aos níveis de exigência deste tipo de companhias. Na opinião do Dr. Luís Taborda, a comercialização de slots poderá criar barreiras à entrada de novas companhias, pois só as grandes companhias com muito dinheiro conseguirão comprar as melhores slots e desta forma poderá acontecer que poucas companhias aéreas fiquem a dominar determinados aeroportos, sendo isso perigoso para a concorrência. No entanto, esta comercialização poderá prejudicar mais as companhias tradicionais que vão ter mais dificuldades de voar para os grandes Hubs Europeus, enquanto as low-cost são mais flexíveis na escolha de um aeroporto secundário desde que este sirva a cidade pretendida. O congestionamento do aeroporto apresenta-se como um factor dissuasor para as companhias lowcost. Algumas companhias low-cost são mais receptivas ao facto de deslocar as suas chegadas e partidas para as horas menos movimentadas do aeroporto, temos o exemplo da Sky Europe que tem partidas à uma da manhã. Mas por outro lado temos a Easyjet que não aceita qualquer tipo de deslocamento das suas horas de voo. Esta maior flexibilidade deve-se ao facto de as low-cost não apresentarem uma estrutura de Hub que complique tanto a organização das suas frotas. Entrevista às Companhias Aéreas 1ª Parte – Lado Terra Da análise da tabela 6 constata-se que esta se apresenta dividida por grupos de perguntas que pertencem ao mesmo tipo de operação. A ordem das operações, como já foi explicada, é sequencial para que se torne lógica a interpretação das tabelas. Operação de Check-in A 1ª pergunta referia-se ao tipo de exigências que as companhias aéreas requerem na realização da operação de check-in dos seus clientes e qual a sua opinião sobre o serviço actual do aeroporto. Da 58 tabela constata-se que, em geral, todas as companhias têm mais ou menos os mesmos requisitos, 2 a 4 balcões fixos, e que mesmo a companhia de baixo custo apresenta como preferência os balcões fixos. Esta exigência é perceptível pois pretende dar ao cliente a vantagem de saber sempre onde se dirigir assim que chega ao aeroporto sem ter que perder tempo na procura da zona dos balcões da sua companhia aérea. A KLM apresenta-se descontente com a sinalização do aeroporto de Lisboa, na zona de check-in, pois o passageiro entra no aeroporto e as indicações estão mal assinaladas. Relativamente às máquinas de self-check-in, todas as companhias pretendem este tipo de serviço, no entanto, a entidade gestora do aeroporto ainda não disponibiliza este serviço, ficando a colocação das máquinas a cargo da companhia aérea. Daí a razão pela qual a Brussels Airlines, não oferecer este serviço, porque pretendia que as máquinas fossem disponibilizadas pelo aeroporto, mesmo que isso represente um custo extra. Esta questão acaba por responder à 2ª pergunta que se referia ao facto de existir algum outro serviço que as companhias gostavam que fosse fornecido nesta zona do aeroporto. A 3ª pergunta refere-se à qualidade do serviço de check in. À qual as opiniões se dividem com duas companhias satisfeitas e duas nem tanto. A Brussels Airlines afirma que os recentes melhoramentos feitos nesta zona do aeroporto melhoraram a qualidade do serviço. Na KLM aponta-se falhas devido à falta de formação dos trabalhadores, ao passo que a Lufthansa assinala algumas falhas ao nível dos tapetes de transporte da bagagem para o respectivo terminal. A 4ª pergunta trata de saber se existe algum conflito ao nível de espaço no check-in, ou seja, se o facto de terem determinado tipo de companhia aérea a realizar o check-in nos balcões ao lado tem algum impacto negativo, ao qual a resposta foi unanimemente que não existia qualquer tipo de conflito desse género. Balcões de Venda e Apoio a Clientes A 5ª pergunta está directamente relacionada com o tipo de atendimento pretendido pela companhia na eventualidade de uma atraso ou cancelamento de um voo. Todas as companhias entrevistadas apresentam balcões próprios de forma a darem o atendimento pretendido aos passageiros. Apesar de as companhias low-cost, normalmente, não apresentarem balcões, a Brussels Airlines abriu o balcão no aeroporto de Lisboa para que a imagem da companhia não saia prejudicada pelo atendimento que o operador de handling presta neste tipo de situação. A sexta pergunta só se aplicava às companhias low-cost que não tivessem balcão no aeroporto, logo nenhuma das companhias verificava esta condição. Controlo de Segurança / Raio X 59 A pergunta nº 7, coloca a questão dos atrasos nos voos devido aos atrasos dos passageiros que perdem muito tempo nos controlos de segurança. A British Airways e a Lufthansa respondem que acontece mas com pouca frequência, enquanto a Brussels Airlines é bastante mais crítica face a este serviço e diz que ocorrem atrasos muitas vezes devido aos controlos de segurança. O facto de ter que cumprir tempos de rotação mais baixos pode explicar de alguma forma a maior sensibilidade da companhia face aos tempos dispendidos pelos seus passageiros neste controlos. A resposta à oitava pergunta foi negativa, pois este serviço apesar de estar prestes a ser lançado, ainda não se encontra disponível no aeroporto em estudo. Mas todas as companhias se demonstraram bastante interessadas neste serviço de “Fast Lane Track“ (corredores de segurança rápidos). Zonas de Lazer / Comerciais Na pergunta nº 9 procurava-se saber qual a opinião das companhias face aos espaços comerciais existentes e à necessidade dos lounges. A British Airways responde que falta diversidade nas lojas e que os lounges são muito necessários. A Brussels, curiosamente, apresenta uma posição parecida em que diz que poderia existir mais alguns tipos de loja e ainda afirma que o lounge da companhia handling, Portway, é essencial. A KLM também afirma que o lounge da Air France é importante. A pergunta 10 questiona a qualidade destes serviços. Ao qual a British Airways se queixa da falta de espaço e de serviços mais personalizados consoante o tipo de cliente. A KLM e a Brussels Airlines apresentam-se satisfeitas com a qualidade apresentada, sendo que a Brussels só exige que o lounge apresente uma qualidade elevada. A 11ª pergunta apresenta o cenário de possibilidade de o terminal 2 começar a funcionar como um terminal com menos serviços extra, mas com taxas mais baixas, qual seria a possibilidade de a companhia aérea entrevistada se mudar para esse terminal. Ao qual todas as companhias responderam que não mudariam, mesmo a Brussels Airlines diz não abdicar de serviços como o lounge. Já a última questão deste grupo, a 12ª, pretende saber se as companhias acrescentariam algum serviço a esta zona do aeroporto. A British Airways gostaria de ver mais diversidade de lojas na área do check-in e a Lufthansa afirma que deveriam ser feitas muitas alterações. 60 Tabela 6 – Análise da 1ªparte - lado terra Procedimentos operacionais Tipo de Nº da Operação Pergunta 1ª Pergunta Check-In Balcões de Venda e Apoio ao Cliente Controlo de Segurança/Raio X British Airways 4 Posições (1 para classe executiva) c/ baias de separação que contêm a as máquinas de selfcheckin KLM Lufthansa Individualização 4 balcões fixos. Opção de balcões através de baias e de abertura dos balcões bem sinalizados. do lado caso Descontentes necessário. 2 máquinas com a sinaléctica de self-check-in. do aeroporto. Brussels Airlines 2 balcões de preferência fixos (em 2 dos 3 voos diários são fixos) Não Não Não responde Máquinas de self check-in fornecidas pela ANA, os restantes serviços envolvem encargos que a companhia não pretende gastar. 3ª Pergunta Sim Ocorrem problemas ao nível do pessoal, devido à pouca formação que possuem O maior problema verifica-se ao nível dos tapetes que transportam a bagagem do check-in para o terminal de bagagem. Sim, condições de trabalho foram bastante melhoradas. 4ª Pergunta Não Não Não Não 5ª Pergunta Reservar lugar no voo seguinte da BA ou no caso de só haver no dia seguinte alojar o PAX num Hotel Balcão próprio Balcões próprios com funcionários da Lufthansa. Balcão próprio para dar a qualidade pretendida ao cliente, através da comunicação sincera aos passageiros. 6ª Pergunta N/A N/A N/A Não 7ª Pergunta Sim, mas com pouca frequência pois os passageiros são avisados do início do embarque c/ 1hora de antecedência Não Muito raramente. Em caso de existir essa possibilidade acompanham o passageiro até à porta de embarque. Muitas vezes. 8ª Pergunta Não Não Não Não Os lounges são importantes (neste caso o da Air France) Não responde Lounge da Portway é essencial. Sim Não responde O Lounge tem que ser de qualidade elevada. Não Nunca Não, porque não abdicam do Lounge Sem reposta Muita coisa a fazer. Sim. Sem reposta Todas as companhias têm o mesmo tratamento. Sem reposta Está melhor, mas muitas vezes é o empenho do staff que faz a diferença. Mangas, para cumprir os 30 a 35 minutos de rotação. Sim, com a Portway o processamento de bagagens tem corrido bem. Algumas bagagens danificadas. 2ª Pergunta 9ª Pergunta Zonas de Lazer/ Comerciais Análise da 1ª Parte - Lado Terra Companhias Aéreas 10ª Pergunta 11ª Pergunta 12ª Pergunta Embarque 13ª Pergunta Recolha de Bagagens 14ª Pergunta Mais lojas e mais diversificadas. Actuais insuficientes. Os Lounges são muito necessários. Necessita de mais Espaço e de serviços mais personalizados consoante o tipo de passageiro Não Não. Falta diversidade na área comercial do checkin. Duas Mangas seria o ideal mas em Lisboa não é possivel. Funciona mal, voos atrasados devido a atraso nos tapetes de bagagem 61 Embarque A questão relativa ao embarque, a 13ª, tenta perceber qual a preferência das companhias face a este serviço. As mangas apresentam-se como as mais requisitadas, o que no aeroporto de Lisboa é problemático, pois este apresenta alguns condicionantes ao nível da quantidade e limitações ao nível do tipo de aviões a puderem operar nas mangas. Recolha de Bagagens No aeroporto de Lisboa, a recolha de bagagens está longe de funcionar bem e desta forma a pergunta 14, pretende perceber a posição das companhias relativamente a este serviço e se a qualidade está no nível pretendido pelas companhias. Enquanto a Brussels Airlines está contente com o serviço prestado e a Lufthansa diz que este serviço está a funcionar melhor, a British Airways demonstra-se descontente com o serviço e diz que tem alguns voos atrasados devido a este serviço. 2ª Parte – Lado Ar Como já foi referido anteriormente, esta segunda parte da entrevista também tem uma sequência lógica, que está directamente relacionada com o fluxo de etapas que a aeronave vai passando desde a aterragem até à descolagem. Através dos dados da tabela 7 vai ser feita uma análise etapa a etapa. Estacionamento Na pergunta relativa ao estacionamento das aeronaves, pergunta 1, procurava-se perceber se existia alguma preferência ao nível da localização dos aviões dentro do aeroporto. A maioria das companhias tem preferências pelo estacionamento em manga, o que gera conflitos de prioridades dentro do aeroporto. Na prática a situação torna-se um pouco mais simples, devido às limitações que as mangas neste aeroporto apresentam e como tal só os aviões mais pequenos é que podem tirar partido deste serviço. Rotação Os tempos de rotação são uma questão que se apresenta como mais crítica para uma companhia low-cost do que para uma companhia regular. Desta forma a pergunta 2 desta entrevista, tentava encontrar os pontos que provocam maiores atrasos na dinâmica das operações de um avião. A limpeza das aeronaves apresenta-se como a mais demorada no geral, mas muitas vezes nem é por ser uma operação demorada, mas sim por demorar a chegar ao avião. Os atrasos nas bagagens também surgem como causadores de atrasos principalmente para a companhia KLM. Depois aparece um caso mais pontual, que é apontado pela British Airways, que é o processamento de passageiros 62 que necessitem da utilização de cadeiras de rodas onde o serviço prestado é catalogado com uma classificação muito má e por um processo bastante demorado. Na pergunta 3 pretende-se saber se é frequente ocorrerem os atrasos da pergunta anterior. Ao que as respostas se dividem entre o sim das Lufthansa e da British Airways e o não da KLM e da Brussels Airlines. O não da Brussels Airlines acaba por responder à pergunta 4, que é só destinada às companhias de baixo custo, e onde a companhia é explicita em afirmar que a maioria das perturbações que ocorrem surgem de atrasos de passageiros a chegarem à porta de embarque e dos atrasos da limpeza a chegar ao avião, ficando a companhia de handling isenta de responsabilidades. Alocação de Slots A pergunta nº 5 colocava um cenário que poderá surgir no futuro e que diz respeito à alocação de slots, onde se pergunta a perspectiva da companhia aérea perante a comercialização de slots e ainda se perguntava se seria benéfico para a companhia aérea em questão. No entanto, a falta de respostas a esta questão, revela que provavelmente as pessoas que estavam a ser inquiridas não seriam as mais adequadas para se obter uma resposta conclusiva. O facto de ser uma situação que é muito recente e que ainda só ocorreu em aeroportos no Reino Unido, também não permite que se perceba qual o verdadeiro impacto que esta medida poderá ter. Ainda assim, é curiosa a resposta da Brussels Airlines, que afirma que o mais provável seria a companhia não abdicar das slots actuais, devido aos problemas de gestão de rota. Descolagem / Congestionamento A última pergunta desta segunda parte da entrevista, relaciona-se com a descolagem e os potenciais congestionamentos que podem ocorrer e com a possibilidade de isso se reflectir em atrasos nos tempos de rotação ou na dificuldade de acesso a determinadas slots, sendo as companhias obrigadas a voarem a horas menos favoráveis. Perante esta pergunta algumas companhias não reponderam. Já a British Airways sente-se algumas vezes prejudicada quando têm necessidade de fazer o “pushback” da aeronave e na mesma hora está um avião da TAP também a necessitar de o fazer, pois como o equipamento disponibilizado para essa operação pertence à TAP, a British Airways tem que aguardar. A Brussels diz não ser prejudicada com congestionamentos no aeroporto de Lisboa. 63 Tabela 7 – Análise da 2ªparte - lado ar Análise da 2ª Parte - Lado Ar Procedimentos operacionais Companhias Aéreas Tipo de Operação Nº da Pergunta British Airways KLM Lufthansa Brussels Airlines Estacionamento 1ª Pergunta Sim, espaço (largura e comprimento) e segurança Não, mas preferencialmente as mangas Conforme o tipo de aeronave. Preferência de estacionamento de mangas. Bagagens e Limpeza Tudo tem que ser perfeito para a rotação. Limpeza atrasa-se a chegar ao avião. Atraso dos passageiros. Não Às vezes atrasos na bagagem Não 2ª Pergunta Rotação Alocação de Slots Descolagem Congestionamentos 3ª Pergunta Serviço de Handling de passageiros em cadeiras de rodas. Serviço prestado muito mau. Sim, o acima referido. 4ª Pergunta N/A N/A N/A Não 5ª Pergunta Não Não responde Não responde A Brussels dificilmente abdicaria das slots que dispõe. 6ª Pergunta Sim, por vezes a necessidade de Pushback, pois neste serviço é dada prioridade à companhia que o fornece. Não responde Não responde Não 64 7 Conclusões Terminado o estudo proposto sobre as características aeroportuárias dos diferentes tipos de serviços no aeroporto de Lisboa, reúnem-se as principais condições para efectuar as conclusões. Comentamse a existência de conflitos entre as companhias low-cost e as companhias regulares a operarem no mesmo espaço e a viabilidade económica de aeroportos dedicados a companhias de baixo custo. A complexidade deste mercado e de todas as envolventes deste mercado, tornam os seus estudos algo localizados, não sendo aconselhável tirar elações generalistas sobre um ou vários casos sem que sejam devidamente analisadas todas as condicionantes que os envolvem. O objectivo desta dissertação foi obter uma análise exploratória sobre a justificação funcional e económica para a segregaçao da produção de serviços aeroportuários dirigidos a companhias regulares tradicionais e o chamado mercado “low cost”. Após a análise detalhada de todos os procedimentos operacionais que são realizados num aeroporto e da realização de entrevistas a algumas companhias aéreas a operarem no aeroporto em estudo, verifica-se que não existe nenhuma etapa de todo o processo operacional, quer seja do lado ar ou do lado terra, onde surja um potencial conflito entre os dois tipos de companhias. Posto isto, conclui-se que a coabitação entre estes dois tipos de companhias dentro de um aeroporto e dentro de um mesmo terminal parece ser possível, não se tendo identificado prejuízo para nenhum destes tipos de clientes. Salienta-se porém que não se pode generalizar, pois existem outras dimensões a considerar, tais como, a financeira, de mercado, competição, etc. A hipótese de que as companhias aéreas de baixo custo poderem prejudicar as companhias regulares, não se verifica uma vez que as companhias low-cost apresentam uma eficiência operacional bastante superior. Esta eficiência deve-se à sua rede mais simples, de ligação ponto-aponto, e a uma simplificação de todos os processos operacionais de forma a conseguirem ser extremamente rápidos. A hipótese contrária de que poderiam ser as companhias aéreas regulares a prejudicarem o funcionamento das companhias low-cost, acaba por também não se verificar, estando os potenciais factores de entrave aos procedimentos de qualquer tipo de companhia do lado da entidade aeroportuária, quer ao nível dos serviços prestados como também ao nível das instalações aeroportuárias. No aeroporto de Lisboa verifica-se isso mesmo, com as companhias aéreas entrevistadas a apontarem os atrasos com as bagagens, na limpeza e com alguns outros serviços como os principais pontos causadores de perturbações em todo o processo operacional das companhias aéreas. 65 Perante tudo isto, conclui-se que uma possível solução passará por um melhoramento dos níveis de desempenho e de qualidade dos serviços prestados pelas empresas de serviços de handling e pelas empresas encarregues da gestão dos aeroportos.. Uma outra questão que surge quanto à possibilidade de separação das companhias tradicionais das companhias low-cost ao nível de espaço é a viabilidade económica de uma infra-estrutura dedicada exclusivamente às companhias de baixo custo. O contrário já não se põe em dúvida, uma vez que o conceito base de um aeroporto foi desenhado para as companhias regulares, sendo que muitos destes aeroportos são infra-estruturas rentáveis há muitos anos. No entanto, quando se começa a tentar perceber se um aeroporto dedicado às low-cost poderá funcionar, percebe-se que terá que apresentar taxas aeroportuárias muito baixas, logo necessita de ir buscar as receitas à parte comercial ou então conseguir atingir um volume de passageiros muito grande. Mas segundo Francis, Fidato e Humphreys (2003), o aumento do número de passageiros sozinho não garante a viabilidade de um aeroporto, sendo necessário um investimento grande em infra-estruturas comerciais para conseguir gerar maiores receitas. Um exemplo disto é um estudo apresentado por Pitt e Brown (2001) sobre o aeroporto de Dublin, que demonstra que o aparecimento de um segundo aeroporto leva à criação de alguns problemas, entre os quais a duplicação de recursos o que se revela ineficiente ao nível dos custos. Outro dos problemas apresentados é que um novo aeroporto, mesmo que dedicado às companhias de baixo custo, acabaria por ter que oferecer um número significativo de serviços que são oferecidos no aeroporto existente. Outra hipótese ainda ao nível da separação de espaço entre companhias aéreas, passaria pela opção de dois terminais distintos. Esta opção segundo Pitt e Brown (2001), acaba por segmentar o mercado e se não existirem companhias suficientes a quererem mudar de terminal, este novo terminal acaba por não dar resposta competitiva pretendida. No entanto, a criação de um novo terminal necessita de investimentos de larga escala e pode resultar, mais uma vez na duplicação de recursos e de infra-estrutura, o que do ponto de vista de custos voltará a ser altamente ineficaz. O problema surge quando se observa o desenvolvimento das companhias low-cost nos Estados Unidos da América e se vê que um número grande deste tipo de companhias já faliu. A maturação do mercado levou a um excesso de oferta de capacidade, a uma redução das tarifas médias dos bilhetes e a um aumento da dificuldade de manter os baixos custos à medida que as companhias low-cost vão crescendo o seu tamanho. Esta maturação originou uma redução do número de companhias e um aumento da dimensão das que ficam, tirando partido de terem sido os primeiros a entrar no mercado. O mercado na Europa ainda se encontra numa fase de grande crescimento, e neste momento apresenta cerca de 50 companhias low-cost. Portanto antes de se fazer um investimento grande num aeroporto dedicado às low-cost tem que se considerar esta questão, ou seja, que apesar de o modelo low-cost se apresentar como sustentável, não será possível a sobrevivência de muitas companhias de pequena dimensão que hoje operam, sendo que as low-cost de grande dimensão tirarão 66 benefícios das economias de escala, da elevado densidade de rotas e da força da imagem de marca que conseguiram criar (Doganis, 2006) (Pag 188-195). Analisando o exemplo do aeroporto de Lübeck, que fica a 50 km de Hamburgo na Alemanha, pode-se constatar que este aeroporto começou em 2000 a servir a companhia Ryanair, que o denominou de Hamburg-Lübeck. O aeroporto pertencia à cidade de Lübeck e em 2005 registou o pico de tráfego com cerca de 715000 passageiros/ano. Mas nesse ano foi vendido a uma empresa neozelandesa, que por motivos de rentabilidade e de recuperação do investimento, decidiu aumentar as taxas aeroportuárias. Desta forma a Ryanair acabou por reduzir o número de voos e desde então o aeroporto tem vindo a diminuir o número de passageiros. A piorar a situação o aeroporto continua a ter apenas 3 companhias aéreas a operarem, o que se reflecte na rentabilidade do mesmo. Uma solução para um aeroporto deste tipo é aumentar as áreas comerciais, tentando desta forma gerar receitas maiores, no entanto esse investimento é bastante elevado e poderá pôr em dúvida a rentabilidade da infra-estrutura (Cesur e TPR, 2007). O facto de algumas companhias low-cost preferirem voar dos aeroportos principais, como é o caso da Easyjet e da Brussels Airlines também não se revela nada favorável para este tipo de aeroportos. Aliando a todos estes factos o aumento dos custos com os combustíveis, o resultado será o provável abrandamento do crescimento de todo o mercado aeronáutico. Por outro lado, temos o exemplo do aeroporto de Schiphol, em Amesterdão na Holanda, que serve as companhias tradicionais e as low-cost e que se tem demonstrado rentável ao longo destes últimos anos. Schiphol apresentou um volume crescente no número de passageiros, movimentos e carga até ao final de 2007 e, apesar da actual situação económica mundial, conseguiu praticamente manter o número de passageiros (-0,8%) e de movimentos (-1,8%) em 2008 (Schiphol Group, 2008). Perante todos estes cenários, conclui-se que, do ponto de vista operacional, a solução ideal não passa necessariamente pelo investimento em aeroportos dedicados a serviços específicos, mas pode em muitos casos estar em aeroportos mais abrangentes, que consigam explorar toda a potencialidade do mercado aeronáutico através da captação dos vários tipos de companhias aéreas e através da percepção de quais os requisitos em falta para os passageiros, e beneficiando de alguma economia de escala na produção dos serviços comuns. A segmentação de mercado do capítulo 5, demonstra que existe um enorme potencial por explorar no sector dos passageiros que enquadram no segmento preço/performance, pois este tipo de passageiro está disposto a pagar por determinados serviços extra desde que os considere úteis e essenciais. No caso do aeroporto de Lisboa o ideal será reduzir custos e melhorar o desempenho geral do aeroporto. Uma provável solução passará pela desagregação das taxas aeroportuárias, isto é, a entidade gestora do aeroporto separar as taxas existentes em várias, de forma a surgirem produtos mais adaptados a todos os tipos de companhias. Da entrevista realizada com a ANA, foi fornecida a 67 informação de que já foram solicitadas algumas alterações a estas taxas com vista a melhor desagregá-las e a permitir às companhias aéreas só solicitarem os serviços que realmente utilizam. O caso de estudo efectuado poderia ter sido ainda mais conclusivo se as várias companhias aéreas a operarem no aeroporto de Lisboa tivessem colaborado mais neste tipo de entrevistas. Considerando ainda que as companhias low-cost, em geral, se apresentam como distantes, isto é, longe do cliente, ou por não apresentarem balcões ou porque quando estes balcões existem não são operados por trabalhadores pertencentes à companhia, tornando-se mais difícil a obtenção de uma entrevista. Posto isto, o equilíbrio entre as amostras de entrevistas de companhias low-cost e regulares seria sempre mais difícil de obter, daí surge a dificuldade de obtenção de resultados mais satisfatórios. 68 8 Bibliografia • Alamdari, Fariba and Mason, Keith, 2006, The future of airline distribution, Journal of Air Transport Management 12, 122–134 • Albers, Sascha, Koch, Benjamin and Ruff Christine, 2005, Strategic alliances between airlines and airports—theoretical assessment and practical evidence, Journal of Air Transport Management 11, 49–58 • Alderighia, Marco, Centob, Alessandro, Nijkampc, Peter and Rietveld, Piet, 2005, Network competition—the coexistence of hub-and-spoke and point-to-point systems, Journal of Air Transport Management 11, 328–334 • Barbot, Cristina, 2006, Low-cost airlines, secondary airports, and state aid: An economic assessment of the Ryanair–Charleroi Airport agreement, Journal of Air Transport Management 12, 197–203 • Barrett, Sean D., 2000, Airport competition in the deregulated European aviation market, Journal of Air Transport Management 6, 13-27 • Basso, Leonardo J., 2008, Airport deregulation: Effects on pricing and capacity, International Journal of Industrial Organization 26, 1015-1031 • Burghouwt, Guillaume, 2006, Airline network development in Europe and its implications for airport planning, Ashgate • Castelli, Lorenzo, Pesenti, Raffaele, Schiratti, Simone and Ukovich, Walter, 2001, Final Report of the CARE Innovative Action Project – Study of the impact of innovative route charge schemes considering ATC and airlines new perspectives, DEEI-University of Trieste • CESUR, Instituto Superior Técnico, Technical University of Lisbon, Portugal, and Department of Transport and Regional Economics (TPR), University of Antwerp, Belgium, 2007, The consequences of the growing European low-cost airline sector, European Parliament's Committee on Transport and Tourism • Cidell, Julie, 2003, The conversion of military bases to commercial airports: existing conversions and future possibilities, Journal of Transport Geography 11, 93–102 • Coy, Steven, 2006, A global model for estimating block time of commercial passenger aircraft, Journal of Air Transport Management 12, 300–305 • Creaton, Siobhán, 2005, Ryanair: How a small Irish airline conquered Europe, London: Aurum 69 • De Neufville, Richard and Odoni, Amedeo R., 2003, Airport systems: planning design, and management, New York , McGraw-Hill • Dobruszkes, Frédéric, 2006, An analysis of European low-cost airlines and their networks, Journal of Transport Geography 14, 249–264 • Doganis, Rigas, 2006, The Airline Business, Routledge, London, New York. • Dresner, Martin, 2006, Leisure versus business passengers: Similarities, differences, and implications, Journal of Air Transport Management 12, 28–32 • E-Business e Internacionalização: Trabalho realizado por: André Aroso Dias, Francisca Morêda, João Andrade;Trabalho realizado para a disciplina de Projecto, Licenciatura em Economia • EUROCONTROL, Low-Cost Carrier,Market Update, September 2005 • EUROSTAT , News Release December 2007, Air transport in the EU27 - Air passenger transport up by 5% in 2006 • Forsyth, Peter, 2007, The impacts of emerging aviation trends on airport infrastructure, Journal of Air Transport Management 13, 45–52 • Francis, Graham, Fidato, Alessandro and Humphreys, Ian, 2003, Airport-airline interaction of low-cost carriers on two European Airports, Journal of Air Transport Management 9, 267–273 • Francis, Graham, Humphreys, Ian, Ison, Stephen and Aicken, Michelle, 2006, Where next for low cost airlines? 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Nota – Esta entrevista foi realizado com gravação áudio e portanto as respostas são transcrições das respostas dadas pelo Dr. Luís Taborda (Aviation Marketing Team Coordinator) 1ª Parte Lado Terra - Análise de fluxo continuo (seguindo o esquema do capítulo 4) Check-In 1- Como é sabido existem algumas diferenças ao nível dos balcões de Check-In entre as Low Cost e as Regulares. Vocês como gestores do espaço aeroportuário apresentam flexibilidades a esse nível? Isto é, permitem vários tipos de aluguer para as diferentes companhias? Se sim quais as diferenças? Resposta: 74 Neste momento ainda não é feita diferença, mas já propusemos novas taxas ao INAC (Instituto Nacional de Aviação Civil) que aguardam aprovação do governo. A taxa de Check-in vai ser repartida em duas, isto é, em taxa de balcão de Check-in e taxa de tratamento de bagagem. Temos flexibilidade a esse nível, para que a companhia disponha da forma de check-in que entender, pois quanto mais rápido for executado todo esse processo de checkin, mais tempo o passageiro passa na zona comercial, o que nos permite melhores receitas. Diferenças entre os vários tipos de companhia não temos tido, o que tem sucedido é o pedido de algumas companhias para puderem utilizar as máquinas de self-service check-in. 2- Como é que têm gerido essas diferenças? Têm ocorrido alguns conflitos? Por exemplo, por terem uma companhia Low Cost ao lado de uma Regular? Resposta: Não temos tido qualquer tipo de reclamação desse género. Para nós o facto de as Low-cost serem mais rápidas no processo de check-in até nos favorece, pois acabam por libertar os balcões mais depressa. Segurança 3- Se têm pedidos especiais? Como é que estão a ser executados os corredores dos passageiros com serviço rápido de segurança (Fast track security lanes) (Business Traveler)? Resposta: Os corredores “Fast Track Lane”, são canais dedicados (normalmente a passageiros de executiva) ao processamento do controlo de segurança, onde todo este processo de controlo não pode demorar mais de 2 minutos. Estes corredores apareceram agora no aeroporto de Lisboa e também poderão vir a existir no aeroporto de Faro. 4- Os procedimentos de Raio X e de controlo de passaportes (SEF) podem ser por vezes bastante demorados. Já tiveram reclamações por parte das companhias aéreas? (principalmente da parte das low cost, pois todos os minutos de atraso são sempre mais críticos) Resposta: Em termos de companhias low-cost não temos tido qualquer tipo de reclamação nesse aspecto. No entanto, no verão acaba por se ter a zona do controlo de segurança com filas um pouco maiores, pois ao tráfego normal do aeroporto acresce muito tráfego de voo charter. Desta forma surgem mais dificuldades por parte da companhia de segurança em cumprir os níveis de serviço estabelecido pela ANA, resultando nas devidas penalizações. A centralização do controlo de segurança do aeroporto permitiu melhorar os níveis de desempenho e ainda permitiu que o passageiro consiga estar mais tempo nas zonas comerciais. 75 Zonas de Lazer / Comerciais 5- Uma vez que o aeroporto de Lisboa foi desenhado a pensar nas companhias regulares, ou seja, tem todo tipo de serviços nas zonas comerciais que uma companhia regular deseja, já ocorreu alguma companhia aérea Low Cost propor--vos criarem uma zona distinta para as Low Cost? Ou se alguma vez uma companhia Low Cost tentou negociar as taxas de serviço da zona de lazer argumentando que não necessitava de muitos dos serviços aí presentes? Resposta: Há alguma pressão por parte das low-cost para o aparecimento de uma zona que permita taxas mais baixas, mas não é garantido que essa solução possa vir a surgir. 6- A existência de terminais com diferentes níveis de serviço (e preços), e como tal vocacionados para diferentes segmentos de mercado é um modelo de negócio viável? Ou as companhias regulares poderão migrar para os terminais mais económicos? 7- Se a ANA vê algum interesse em utilizar o terminal 2 para voos Low Cost? Pois todas as companhias a operarem neste terminal são regulares e regionais e se estas ligações estivessem no terminal principal seria mais fácil de coordenar as ligações a outros voos. Resposta (6ª e 7ª): A hipótese de passar o terminal 2 a um terminal dedicado às companhias low-cost está a ser estudada. Neste momento o terminal 2 só processa as partidas dos voos domésticos, sendo todas as chegadas dirigidas para o terminal 1. Outra questão é que por agora ambos os terminais têm as mesmas taxas aeroportuárias. A hipótese de separação está a ser estudada, pois já existem algumas infra-estruturas aeroportuárias assim na Europa. No entanto, o facto de se aplicarem taxas mais baixas no terminal 2 poderá levar a que algumas companhias tradicionais se mudem para este terminal, principalmente as companhias aéreas tradicionais que apenas realizem voos de ligação ponto a ponto no Aeroporto de Lisboa. Embarque 8- No aeroporto de Lisboa só existe duas possibilidades de embarque: Manga e Autocarro. Certo? (caminhar até ao avião – movimento típico das low cost) Existe alguma companhia Low Cost que não utilize as mangas? Resposta: Certo. As companhias low-cost, em Lisboa, fazem mais embarques em Manga do que por autocarro. Recolha de Bagagens 76 9- Os serviços de handling de bagagens têm demonstrado várias vezes graves problemas (principalmente em alturas de pico de tráfego). Qual a posição da ANA face a este problema? As companhias aéreas têm reclamado da qualidade deste serviço? (se sim em que épocas?) Resposta: Sim, muitas. O sistema de processamento de bagagens é um dos maiores problemas do Aeroporto de Lisboa. Neste momento, está prestes a ser aumentado, em termos de capacidade de processamento de bagagens. Aliás o Aeroporto de Lisboa apresenta níveis de qualidade de handling baixos, em contrapartida o Aeroporto do Porto foi muito bem classificado a este nível. 2ª Parte Lado Ar – Análise do diagrama Estacionamento 1- Se existe diferenças de pedidos entre o estacionamento das Low Cost e das Regulares? Resposta: Não, a principal exigência feita a nível de estacionamento é feita pela TAP, pois a TAP criou uma plataforma de processamento de bagagem no meio da zona de estacionamento das suas aeronaves de longo curso e portanto, muita vezes pretende que todos os seus estacionamentos sejam realizados o mais próximo daquela zona de forma a permitir que a plataforma funcione. 2- Se as Low cost pretendem lugares de estacionamento mais próximos do terminal para não prejudicarem os baixos tempos de rotação? (Pagam mais por esse requisito?) Resposta: O único tipo de exigência desse género que tivemos por parte de uma low-cost, foi da Ryanair que exige um estacionamento que evite o “pushback” (avião estacionado de cauda, pronto a sair), tem preferência por embarque a pé e exige tempos de rotação tão baixos que o aeroporto de Lisboa não consegue oferecer. 3- Se as reservas dos lugares de estacionamento funcionam como a reserva das Slots (Grandfather Rights)? Como é que funcionam? Resposta: Todos os dias o departamento de planeamento de operações do aeroporto de Lisboa, faz a distribuição da alocação de estacionamentos consoante as horas dos voos das várias companhias e consoante os pedidos das companhias aéreas. A alocação é feita por ordem de pedidos. 77 Rotação 4- As Low Cost queixam-se que os aeroportos grandes não conseguem efectuar serviços de Rotação rápidos, pois estão habituados a executar serviços para as companhias regulares (serviços com mais extras e sem necessidade de serem tão rápidos). Posto isto, as Low Cost por vezes sentem que os serviços das empresas de handling as “atrapalha”. Como gestores do aeroporto de Lisboa já tiveram casos de queixas por parte das companhias Low Cost? E como prestadores de serviço de handling, através da Empresa Portway? Resposta: Não, esse problema não se coloca, porque a companhia aérea quando contrata a companhia de handling estabelece níveis de serviço com penalizações associadas. Temos o exemplo da Portway, que é uma companhia detida a 100% pela ANA, e que realiza as operações de handling para todas as companhias low-cost a operarem em Lisboa. A Portway conseguiu uma óptima adaptação aos níveis de exigência das low-cost. 5- No caso em que ocorrem falhas por parte das empresas de handling que prejudiquem os tempos de rotação. Existem penalizações que são atribuídas às empresas de handling, certo? Essas penalizações são aplicadas pela ANA? Como é que são atribuídas? Resposta: As penalizações são estabelecidas no contrato entre a companhia de handling e a companhia aérea. A ANA não tem qualquer envolvimento nessas penalizações. Alocação de Slots 6- Na eventualidade de num futuro próximo as slots passarem a ser comercializadas, qual a perspectiva da ANA face a esta realidade? Sairá beneficiada? Se o Dr. achar que é benéfico --- Perguntar--- Mas acha que essa comercialização vai obrigar o aeroporto a ter melhor desempenho? (Caso contrário o valor comercial das Slots desvalorizará) Resposta: Não sei, mas principalmente acho que o facto de se comercializar as slots irá prejudicar as barreiras à entrada de novas companhias, pois só as grandes companhias com muito dinheiro é conseguirão comprar as melhores slots e desta forma poderá ocorrer que poucas companhias aéreas fiquem a dominar determinados aeroportos, sendo isso perigoso para a concorrência. Mas acho que essa comercialização acaba por prejudicar mais as companhias de tradicionais, que ficam com mais dificuldade de voar para os grandes Hubs Europeus, porque as low-cost tanto lhes faz qual o aeroporto secundário que utilizam, desde que a cidade seja servida pelos seus serviços. 78 7- A renegociação de slots entre companhias é uma prática que se sabe que existe. Como é que a ANA vê essa prática? Será que as companhias que o fazem não deveriam perder o direito que detêm sobre a renovação dessas mesmas slots? Resposta: A venda não é possível, no entanto estas slots podem ser trocadas, que é geralmente o que acontece quando as companhias trocam as slot que possuem por outras de uma outra companhia aérea, que possua um melhor enquadramento nos seus objectivos e no planeamento dos seus horários. Descolagem – Congestionamento 8- O nível de congestionamento de um aeroporto é ou não um factor dissuasor da entrada de uma low cost? (afecta tempos de rotação e acesso a slots) E sabendo-se que o aeroporto funciona por picos de actividade, é possível deslocar as Low Cost para tempos mortos? Resposta: Sim, sem dúvida. Algumas low-cost é possível de deslocar, como por exemplo a Sky Europe que voa a uma da manhã. Mas por exemplo a Easyjet não aceita qualquer tipo de deslocamento. Digamos assim, as low-cost são mais fáceis de deslocar, isto é, são mais flexíveis nesse aspecto, do que as Regulares, pois não têm uma estrutura de hub que complique tanto organização das suas rotas. Outras Questões: 1- Gostaria de saber se é possível me fornecer informação estatística dos movimentos das Low Cost nos Aeroportos Portugueses? 2- Quais as perspectivas de crescimento das Low Cost em Portugal? E na Portela? Resposta: As perspectivas de crescimento económico não estão muito famosas e isso reflecte-se neste sector. Tivemos um “boom” de low-cost em Lisboa, com a entrada da Thomson Fly, da Monarch, LTU, que abriram novas rotas, mas que pouco tempo depois acabaram por fechar. Lisboa neste momento está a sofrer mais uma consolidação do tráfego do que um aumento, sendo que apenas a Easyjet já anunciou perspectivas de abrir novas rotas. A nível Europeu acho que as companhias vão começar a concentrar-se e reduzir o número de companhias low-cost. Entrevista Companhias Aéreas 79 Por: Miguel Faro Nunes Aluno de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico Dissertação de Mestrado - 2008 Introdução Esta tese tem por objectivo tentar perceber se existem conflitos de funcionamento entre as companhias regulares e as companhias low-cost a operarem no mesmo espaço (mesmo terminal). A ideia de separação das companhias low-cost das regulares, ao nível de espaço, é defendida por alguns especialistas desta área e portanto eu estou a tentar perceber se realmente essa ideia se justifica. Por favor Preencher os seguintes campos: Nome: Companhia Aérea a que pertence: O seu cargo dentro da empresa: 1ª Parte - Lado Terra Check-In 80 1- Quais as exigências da vossa companhia relativamente ao espaço cedido para check-in? Têm algum tipo de requisito fundamental (sim ou não)? Estão contentes com o serviço actual (se funciona bem ou não) ? 2- Existe algum outro tipo de requisito operacional (no Check-in) que gostariam de ter disponível no aeroporto de Lisboa (p.e. – check-in electrónicos ou outros) ? Se sim quais? 3- Ainda ao nível do Check-In, a vossa companhia está contente com a qualidade do serviço prestado? Se não qual o motivo? 4- E têm algum tipo de conflito ao nível do espaço? Isto é, se o facto de terem determinada companhia (low cost ou regular) ao vosso lado a fazer o check-in vos perturba? (p.e. confusão que geram à frente das vossas portas de embarque?) Balcões de Venda e Apoio Cliente 81 5- Qual o tipo de atendimento pretendido pela vossa companhia na eventualidade de ocorrer um cancelamento ou atraso? Só para as Low Cost 6- No caso de ocorrer alguma falha (Atrasos ou Cancelamentos) o vosso serviço de apoio ao cliente é prestado pela companhia de Handling? (Pois, em geral, não têm balcões) O facto de o operador de Handling prestar um mau serviço não estará a denegrir a imagem da vossa companhia? Têm tido queixas dos passageiros a este nível? Segurança 7- Relativamente aos procedimentos de segurança de raioX. Muitas vezes este processo demora mais que o previsto. Já ocorreu os passageiros ficarem demasiado tempo nestes controlos de segurança ao ponto de atrasarem um voo? Se sim, com que frequência? 8- A vossa companhia apresenta corredores rápidos de segurança? Se sim, a qualidade deste serviço está dentro dos padrões pretendidos pela vossa companhia? 82 Zonas de Lazer / Comerciais 9- Quais os tipos de serviços que a vossa companhia pretende numa zona de comercial? Os serviços actuais são suficientes? Os business lounges e os air lounges são necessários? 10- Qual a qualidade pretendida para esses serviços? A qualidade actual é suficiente? 11- Na eventualidade de o terminal 2 começar a funcionar como um terminal mais “despido” de serviços extra (lounges e determinadas zonas de lazer) e com taxas mais baixas, existiria a possibilidade de a vossa companhia abdicar de determinados tipos de serviços que dispõem actualmente e migrar para esse terminal? 83 12- No aeroporto de Lisboa, a zona de comercial apresenta-se do agrado da vossa companhia? Ou existe algum serviço que acrescentaria ou que retiraria? Embarque 13- Existe algum tipo de embarque (mangas, autocarro ou caminhar) obrigatório ou preferencial para a vossa companhia? Recolha de Bagagens 14- Os serviços de handling de bagagens têm demonstrado várias vezes graves problemas (principalmente em alturas de pico de tráfego). Qual a vossa posição relativamente a este serviço? Estão satisfeitos com a qualidade apresentada? 2ª Parte - Lado Ar Estacionamento 9- Existe algum tipo de requisito específico relativamente ao estacionamento da aeronave? Localização? 84 Rotação 10- Quais os procedimentos que levam a maiores atrasos nos tempos de rotação? (Processamento de passageiros e Bagagens, Catering, Manutenção, Combustível ou limpeza) 11- É frequente ocorrerem falhas por parte das companhias de handling que vos prejudiquem os tempos de rotação? Só para as Low cost 12- A vossa companhia sente alguma dificuldade em cumprir os tempos de rotação devido ao trabalho das empresas de handling? Acham que alguma forma o facto de as companhias de handling estarem habituados a servir companhias regulares, não conseguem ter a rapidez de procedimentos que a vossa companhia pretende? 85 Alocação de Slots 13- Na eventualidade de num futuro próximo as slots passarem a ser comercializadas, qual a perspectiva da vossa companhia? Acha que será benéfico? Descolagem – Congestionamento 14- Relativamente ao congestionamento. A vossa companhia sente-se de alguma forma prejudicada pelos congestionamentos, quer a nível de tempos de rotação e respectivos atrasos, quer a nível de acesso a slots (p.e. - terem que voar a horas que não são as mais favoráveis)? Muito Obrigado pela colaboração Miguel Faro Nunes 86