OBJETOS DE REFERÊNCIA
O Programa de Linguagem no Centro Rebecca Goodman para crianças surdocegas na
Escola Whitefields contém muitos aspectos. Um dos mais importantes é o uso de “Objetos
de Referência” – quando um objeto é usado para representar uma idéia para uma criança.
Aqui a equipe da Sala Primária 1 delineia seu Programa de Linguagem e descreve seu uso
de “Objetos de Referência”. Agradecimentos a Laura Pease, Sue Rider, John Bolt, Sue
Flint e Cris Hannah.
Nós somos a equipe do Primário 1, uma classe de 7 crianças surdocegas até 8 anos de
idade que são o grupo mais jovem no Centro Rebecca Goodman. Dentro desse grupo há
uma vasta gama de habilidade comunicativa, desde a confiança nos sinais básicos até o
uso dos sinais BBL, mas todas elas necessitam, e continuarão necessitando, de um
incentivo maior para desenvolver sua linguagem e comunicação.
Quais os objetivos desse Programa de Linguagem?
Listamos abaixo as principais habilidades que esperamos desenvolver em cada criança.
Cada habilidade pode ser organizada a um número de diferentes níveis:
Antecipação
Essa é a habilidade de saber o que vai acontecer em seguida. Pode ser relacionada com
curto prazo – “vou sentar nessa mesa esperando pelo jantar”, médio prazo – “vou andar
neste corredor para ir para o refeitório para jantar”, ou longo prazo – “tenho que completar
mais 5 atividades antes do jantar”. A incapacidade de antecipar o que vai acontecer é uma
fonte maior de frustração para a criança surdocega.
Algumas crianças surdocegas resistem a qualquer mudança de atividade porque ela é
ameaçadora para elas. Outras mudaram um passo a frente, mas não conseguem lidar com
mudanças num conjunto de rotina. Se o ônibus verde sempre significou “andar de cavalo”
e de repente as leva às compras, elas provavelmente vão ficar muito confusas e tristes.
A antecipação pode ser muito a grosso modo – em relação
ao evento “chave” apenas – ou mais detalhada, em
relação a uma série de eventos – ônibus verde significa
pegar seu casaco, ir até a porta etc...”
Assim como a segurança emocional oferecida por saber o
que vai acontecer em seguida, a antecipação precisa é
importante no desenvolvimento de relacionamentos
significativos com outras pessoas.
Faria desenhando seu horário.
Sue ajuda na escrita.
“Este projeto é em parte assistido pelo Programa Hilton Perkins da Escola Perkins para cegos, WATERTOWN, MASS.U.S.A. O
Programa Hilton Perkins é subvencionado por uma doação da Fundação Conrad N. Hilton, de RENO, NEVADA-U.S.A.”
Fonte: TalkingSense–Vol. 34 nº 1–Spring 1988–Pág. 6 e 7 – Tradução: Rodnei e Rodnaldo/2005 – Revisão: Shirley R. Maia/2006.
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Se os adultos ao redor de uma criança estão continuamente levando-a a lugares que ela
não espera ou forçando-a a numa série de eventos que ela não entende, elas não serão
provavelmente consideradas entre as pessoas favoritas.
Estrutura
Essa habilidade é ligada a antecipação.
Envolve ver uma atividade no contexto daqueles que a cercam, dentro de um padrão geral
que forma cada dia. Por ex: nossa rotina de cumprimentos matinais, conversar sobre o dia,
hora de beber e de comer dão um padrão confiável para a manhã onde outras atividades
podem ser encaixadas.
Tomada de decisão
A necessidade – achamos que o direito de escolha sobre as atividades emerge bem antes
de a criança saber os sinais para as coisas que ela quer fazer. Uma vez que a criança
desenvolve quaisquer preferências ou opções sobre seu dia, ela deveria receber alguma
medida de autonomia. Se ela se vê como tendo alguma participação na influência do que
acontece para e ao redor dela, ela começará a desenvolver uma autonomia positiva. Ligado
a isso está o direito de expressar uma opinião sobre a atividade.
Nossas crianças podem fazer isso de maneiras inaceitáveis – a linguagem permite que elas
expressem sua opinião aceitavelmente e os adultos ao seu redor devem mostrar que
entenderam.
Recordação
Uma função primordial da linguagem para todos, quer sejam surdocegos ou não, é a
habilidade de recordar eventos passados.
Isso nos permite, entre outras coisas, reviver experiências agradáveis, alterar nosso
comportamento em certas situações e fazer escolhas. Influencia os aspectos da linguagem
já mencionados, por exemplo, fazendo a antecipação mais detalhada.
Descrição
Selecionar para comentar aspectos particulares da experiência na qual uma criança esteja
envolvida. No começo pode ser nada mais que identificar a atividade, mais tarde é mais
verdadeiramente seletivo, talvez comentando sobre os materiais envolvidos.
Iniciação
É a habilidade de requisitar uma atividade ou objeto. É diferente da tomada de decisão
onde esta será estruturada por um adulto. Por exemplo, o adulto pode perguntar “Você
quer leite ou suco?”, permitindo a criança, assim, tomar uma decisão. Eventualmente a
criança, percebendo que o leite e o suco são guardados no guarda-louça, inicie a hora de
beber pedindo isso – ou, evidentemente, se servindo!
Através de todas essas funções de linguagem e das outras que provavelmente omitimos,
corre a necessidade de construir e desenvolver relacionamento com os adultos e crianças
ao redor dela.
“Este projeto é em parte assistido pelo Programa Hilton Perkins da Escola Perkins para cegos, WATERTOWN, MASS.U.S.A. O
Programa Hilton Perkins é subvencionado por uma doação da Fundação Conrad N. Hilton, de RENO, NEVADA-U.S.A.”
Fonte: TalkingSense–Vol. 34 nº 1–Spring 1988–Pág. 6 e 7 – Tradução: Rodnei e Rodnaldo/2005 – Revisão: Shirley R. Maia/2006.
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Para crianças que vêem e escutam a linguagem formal se desenvolve ao longo de outras
habilidades de comunicação para dar acesso às necessidades acima ao serem necessárias.
Quando essas crianças tiverem “necessidade” de fazer uma escolha ou recordar eventos
passados, elas têm a linguagem para se esforçar e, tomara, familiares adultos que sejam
capazes de interpretar e corrigir seus esforços. A criança surdocega, entretanto, é menos
favorecida. Para a maioria das crianças surdocegas, o processo de aprendizado da
sinalização formal é prolongado. Se nos concentrarmos apenas nos sinais como meio de
comunicação, então, até que sejam capazes de sinalizar, as crianças não terão acesso às
habilidades de linguagem que delineamos. O risco nessa situação é que quando elas
estiverem dominando os primeiros sinais, elas estarão acostumadas a um estado passivo
ou frustrante e não mais desejarão usar os sinais para comunicação “verdadeira”. A
sinalização se tornará uma trapaça sem comunicações reais por trás dela.
É esperto bater seu cotovelo toda vez que lhe mostram um biscoito – mas sem significado
a menos que você tenha um conceito de “nomear” as coisas ou de escolha. Objetos de
referência permitem acesso à habilidade de linguagem; o processo de aprendizagem de
sinais continua. Eles também fornecem uma “rede de segurança” para a criança que não
consegue aprender sinalizar.
Usando objetos de referência
O processo de utilização de objetos de referência pode ser dividido em três estágios:
objetos, desenhos e palavras. Descreveremos cada estágio que utilizamos na escola. Será
óbvio para qualquer um que conhece o trabalho em St. Michelsgestel na Holanda que
tentamos seguir sua idéia.
Objetos
Um objeto “chave” é escolhido que sinalize cada atividade. No começo será um objeto
realmente utilizado dentro da atividade e desempenhando uma parte importante – como
uma xícara para hora de beber, uma colher para o jantar. A criança recebe esse objeto logo
antes da atividade começar, permanece com ela durante toda a atividade e é colocado de
lado para sinalizar que a atividade terminou. Ele assim se torna uma maneira de dizer a
criança o que está acontecendo e com o tempo a criança se dirigirá para o lugar
apropriado quando lhe for dado o objeto de referência. Algumas crianças começam fazer
isso em questão de semanas, outras levam bem mais tempo.
Também depende, obviamente, da atividade em questão – não é desconhecido para a rota
complexa para a piscina ser antecipada mais prontamente do que a rota simples para a
mesa de “trabalho”.
Pode ser útil listar os objetos utilizados com uma criança. Shari tem: um cesto para
compras (onde ela leva pra casa o fornecimento semanal de iogurte), uma bandeja para
brincadeiras de tato, sua colher e xícara para hora de jantar e de beber, papel para o
banheiro, um centro de atividade para o trabalho, sinos de tinir para treinamento auditório.
Cada objeto é o realmente utilizado dentro da tarefa.
O próximo passo é utilizar um objeto que simboliza o evento, mas não será realmente
utilizado dentro dele: ex. Annie tem uma jarra do jogo de chá da boneca para mostrar a
hora de beber e uma colher da boneca para mostrar o jantar.
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Fonte: TalkingSense–Vol. 34 nº 1–Spring 1988–Pág. 6 e 7 – Tradução: Rodnei e Rodnaldo/2005 – Revisão: Shirley R. Maia/2006.
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Esses objetos tiveram muito sucesso com um número de nossas crianças. Um de nós foi
“convertido” a Ors (Objetos de Referência) noturno quando Andrew começou
consistentemente a se dirigir para o banheiro quando lhe era mostrado um rolo de papel
higiênico.
Uma vez que a criança responde a três ou quatro Objetos de referência, uma “prateleira de
horário” é formada.
Os Objetos de referência para uma seqüência de atividades são exibidos e mostrados a
uma criança em seqüência antes das atividades começarem.
Os sinais de Língua de Sinais Britânicos também são feitos pelo adulto ou manualmente
sobre a criança. Após cada atividade a criança retorna a prateleira, devolve o Objeto de
referência da atividade que terminou e escolhe o próximo, o adulto reforçando isso com
sinais. Assim o dia começa ter um padrão claro. Portanto, o dia de Lucy começa com uma
prateleira mostrando cumprimentos (saudações), massagem, hora de beber. O número de
Objetos de referência utilizados e o número exibido pode ser gradualmente aumentado.
Anne terá seis ou sete objetos cobrindo as atividades matinais – terminando com a colher
para a refeição.
Desenhos
No começo os desenhos utilizados são desenhos de Objetos de referência com os quais a
criança já esteja familiarizada. A ligação entre os dois juntos e pedindo à criança para
combinar os objetos com os desenhos. Alternativamente criança e adulto podem trabalhar
juntos para desenhar e pintar os objetos. O horário é formado como antes e os desenhos
vão com a criança para cada atividade. Até então descobrimos que as crianças estão
normalmente lidando com a atividade de meio período imediatamente e, portanto, discutir
e desenhar ou construir um horário se torna uma atividade principal a qual por si só forma
parte da estrutura do dia. De 9:45 às 10:30 a cada manhã estamos todos envolvidos de
alguma maneira com os horários – cada um de nós trabalha com uma criança ou com duas
crianças se revezando, sempre o mesmo adulto com cada criança. A tarefa traz uma gama
de habilidades tais como combinação de cores, desenvolvimento motor específico,
treinamento visual e construção de atenção.
Razwan contanto a Jan sobre seu dia
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Horários de crianças individuais podem se desenvolver de diferentes maneiras. Os
desenhos de Rob se desenvolveram além dos Objetos de referência que eles
representavam. Seu horário está se tornando um tanto complexo, agora incorporando
diagramas (picturegrams) dos adultos que irão compartilhar as atividades com ele. Ele
também está utilizando um horário de desenho em nossa unidade residencial, Castleton
House, e, em casa, ele agora senta no carro nas manhãs de domingo agarrando fotos da
vovó e da refeição na vovó. Faria consegue copiar, com grande precisão, os desenhos no
seu horário (os fones de ouvido e a seção almofadada do nosso instrutor auditório são
mostrados na forma e cor corretos). Ela também consegue rearranjar os desenhos na
ordem correta se forem misturados.
Nossas crianças tenderam até então a começar a utilizar os sinais para elas mesmas nesse
estágio, copiando os sinais ou sinalizando independentemente os nomes das atividades.
Estaríamos interessados em ouvir se isso é o mesmo para outras crianças.
Se uma criança tiver visão suficiente para desenhos, utilizamos partes de objetos e então
representações de tato nesse ponto. Kelley, no grupo primário mais velho, tem um horário
feito de “desenhos” de tato, incluindo um garfo de folha de prata para refeições e uma
moeda para compras.
Palavras
A palavra pode ser escrita sob os desenhos desde o começo, ou gradualmente introduzida.
As crianças são capazes de copiar – escrever as palavras, como Faria está começando a
fazer, ou de combina-las. Logicamente palavras em Braille ou Moon seriam utilizadas se
necessário. Razwan combina a palavra escrita com o desenho e passará a desenhar seus
próprios desenhos ao receber a palavra escrita sozinha antes de progredir com o horário.
Nesse estágio esperamos que uma criança sinalize os nomes de todas as atividades
envolvidas e as sentenças poderiam então ser incorporadas no horário para apoiar a
linguagem mais complexa.
Esperamos que esteja claro agora que esse processo capacita a criança para antecipar os
eventos e para ver a estrutura de seu dia. É importante o uso dos Objetos de referência,
dos desenhos ou palavras para dar acesso à gama inteira das habilidades de linguagem já
mencionadas.
Alguns exemplos de nossas crianças mostram como isso pode ser feito.
Alguns exemplos
Elizabeth reconheceu o desenho da refeição antes de qualquer um e quando ela não gosta
do desenho que lhe dão, ela seleciona o desenho de refeição e coloca propositadamente na
porta! Assim, ela é capaz de expressar uma opinião apesar de infelizmente, não podermos
conceder seu pedido, especialmente quando feito às 10:30! Rob tem mais sorte desde que
é dado seu desenho de “banheiro”, ele normalmente irá rejeita-lo e escolher o próximo da
fila. O adulto então o coloca numa posição mais adiante no horário e então uma conversa
simples aconteceu, com Rob “dizendo” – não, não preciso do banheiro agora e o adulto
“respondendo”, Ok, mas seria melhor você ir daqui a pouco. Nós estamos estendendo isso
para Rob num sistema de comunicação mais desenvolvido baseado em desenhos. Lucy
mostra seu entendimento sobre a estrutura do dia pegando sua xícara no horário
“Este projeto é em parte assistido pelo Programa Hilton Perkins da Escola Perkins para cegos, WATERTOWN, MASS.U.S.A. O
Programa Hilton Perkins é subvencionado por uma doação da Fundação Conrad N. Hilton, de RENO, NEVADA-U.S.A.”
Fonte: TalkingSense–Vol. 34 nº 1–Spring 1988–Pág. 6 e 7 – Tradução: Rodnei e Rodnaldo/2005 – Revisão: Shirley R. Maia/2006.
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apropriado, sentando à mesa e esperando por nós para nos juntarmos a ela. Enquanto ela
freqüentemente deixa cair seus objetos de referência, como a bola para a hora de brincar,
ela raramente deixou cair sua xícara ou colher. Portanto, ela também pode expressar sua
opinião sobre as atividades que oferecemos. O desafio para nós é descobrir uma maneira
de responder a essa opinião de tal maneira que Lucy saiba que entendemos. Razwan
utilizará seus desenhos para recordar os eventos do dia anterior, arrumando-os em ordem.
Enquanto seu uso de sinal está relativamente avançado, ele ainda não tem a habilidade de
recordar e refletir num conjunto de eventos em sinal sozinho. Seus desenhos permitem que
faça isso e os adultos trabalhando com ele desenvolvem a linguagem formal.
Se uma criança já viu os eventos de um dia em termos de objetos ou desenhos, seus
primeiros sinais formais, extraídos por aqueles Objetos de referência, serão ligados a
conceitos já significativos para ele. Quando Rob sinaliza “Playground de Aventura” em
resposta ao desenho, sabemos do seu contentamento anterior em ver o desenho que os
movimentos de sua mão têm uma gama de associações para ele – eles são linguagem em
seu verdadeiro sentido, não uma resposta automática a algo pendurado com estímulo. Os
Objetos de Referência, obviamente, não são a história toda. Há muitas outras atividades
que contribuem para a formação do relacionamento e do desenvolvimento da linguagem –
tais com a massagem, brincadeira de tato e movimento coativo.
Uma história final confirma em nossas mentes o lugar central que demos para os Objetos
de Referência nesse programa mais amplo. O desenho favorito de Rob é o calção vermelho
que significa natação. Apesar desse desenho somente aparecer oficialmente às quintasfeiras, Rob normalmente, nos outros dias, separa os desenhos armazenados para certificar
que o calção ainda está lá.
Rob carregando seu desenho para a Sala de Artes
Em outras ocasiões ele expressou sua opinião de atividades menos favoritas (como
escovar os dentes) rasgando o desenho.
Então veio o momento terrível quando, de muito mau humor, ele segurou o desenho da
escova de dentes e, distraidamente, rasgou o desenho da natação ao meio. Ele parou,
recuperou os pedaços fitou-o com horror e as entregou ao seu professor para serem
consertados. Isso certamente indica o desenvolvimento da linguagem interna verdadeira.
“Este projeto é em parte assistido pelo Programa Hilton Perkins da Escola Perkins para cegos, WATERTOWN, MASS.U.S.A. O
Programa Hilton Perkins é subvencionado por uma doação da Fundação Conrad N. Hilton, de RENO, NEVADA-U.S.A.”
Fonte: TalkingSense–Vol. 34 nº 1–Spring 1988–Pág. 6 e 7 – Tradução: Rodnei e Rodnaldo/2005 – Revisão: Shirley R. Maia/2006.
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Download

OBJETOS DE REFERÊNCIA