Volume 20 número 1
março 2002
SOCIEDADE DE OLERICULTURA DO BRASIL
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Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
ISSN 0102-0536
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A revista Horticultura Brasileira é indexada pelo CAB, AGROBASE,
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Programa de apoio a publicações científicas
Horticultura Brasileira, v. 1 nº1, 1983 - Brasília, Sociedade de Olericultura do Brasil, 1983
Trimestral
Títulos
anteriores:
V.
V. 4-18, 1964-1981, Revista de Olericultura.
1-3,
1961-1963,
Olericultura.
Não foram publicados os v. 5, 1965; 7-9, 1967-1969.
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de 1982 a 1998: Semestral
de 1999 a 2001: Quadrimestral
a partir de 2002: Trimestral
1. Horticultura - Periódicos. 2. Olericultura - Periódicos. I. Sociedade de Olericultura do
Brasil.
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2
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Volume 20 número 1
março 2002
ISSN 0102-0536
SUMÁRIO/CONTENT
ARTIGO CONVIDADO / INVITED ARTICLE
Avaliação de procedimentos de comparações múltiplas em trabalhos publicados na revista Horticultura Brasileira de 1.983 a 2.000.
Assessment of multiple-comparison procedures of published articles in the journal Horticultura Brasileira from 1,983 to 2,000.
F. Bezerra Neto; G. H. S. Nunes; M. Z. Negreiros.
5
PESQUISA / RESEARCH
Produção e qualidade de frutos de diferentes cultivares de morangueiro em ensaios conduzidos em Atibaia e Piracicaba.
Production and quality of some cultivars of strawberry fruits in field experiments at Atibaia and Piracicaba, Brazil.
J. H. Conti; K. Minami; F. C. A. Tavares.
Ação de fitorreguladores no crescimento da erva-cidreira-brasileira.
Action of plant growth regulators over the development of Lippia alba.
M. B. Stefanini; S. D. Rodrigues; L. C. Ming.
Acumulação de matéria seca e rendimento de frutos de morangueiro cultivado em substrato com diferentes soluções nutritivas.
Dry matter accumulation and fruit yield of strawberry plants grown on substrate under different nutrient solutions supply.
J. L. Andriolo; J. V. Bonini; M. P. Boemo.
Desenvolvimento vegetativo da pupunheira irrigada por gotejamento em função de níveis de depleção de água no solo.
Effects of soil water depletion levels on the vegetative development of drip irrigated peach palm plants.
A. Ramos; M. L. A Bovi; M. V. Folegatti.
Divergência genética entre linhagens de melão e a heterose de seus híbridos.
Genetic divergence among melon lines and the heterosis in their hybrids.
W. O. Paiva
Calidad postcosecha de tomates almacenados en atmósferas controladas.
Postharvest quality of tomato fruits stored under controlled atmospheres.
P. A. Gómez; A. F. L. Camelo.
Caracterização morfológica de acessos de batata-doce.
Morphologic characterization of sweet potato.
M. Daros; A. T. Amaral Júnior; T. N. S. Pereira; N. R. Leal; S. P. Freitas; T. Sediyama.
Análise da capacidade combinatória em cruzamentos dialélicos de três cultivares de jiloeiro.
Combining ability analysis in diallel crosses among three garden egg cultivars.
A. C. P. P. Carvalho; R. L. D. Ribeiro.
Divergência genética em acessos de quiabeiro com base em marcadores morfológicos.
Genetic divergency of okra accessions based on morphological characteristics.
G. E. Martinello; N. R. Leal; A. T.Amaral Júnior; M. G. Pereira; R. F. Daher.
Estimativas de tamanho de parcela em experimentos com mandioca.
Estimates of plot sizes in experiments with cassava.
A. E. S. Viana; T. Sediyama; P. R. Cecon; S. C. Lopes; M. A. N. Sediyama.
Alterações sensoriais em alface hidropônica cv. Regina minimamente processada e armazenada sob refrigeração.
Sensorial changes of minimally processed hydroponic lettuce cv. Regina stored under refrigeration.
M. Freire Júnior ; R. Deliza; A. B. Chitarra.
Desempenho de sementes peletizadas de alface em função do material cimentante e da temperatura de secagem dos péletes.
Performance of pelleted lettuce seeds in response to glue material and temperature during the drying of the pellets.
J. B. C. Silva; P. E.C. Santos; W. M. Nascimento.
Potencial biótico da mosca-branca Bemisia argentifolii a diferentes plantas hospedeiras.
Biotic potential of Bemisia argentifolii to different host plants.
G. L. Villas Bôas; F. H. França; N. Macedo.
Avaliação de acessos de batata-doce para resistência à broca-da-raiz, crisomelídeos e elaterídeos.
Screening of sweet potato accessions for resistance to the West Indian sweet potato weevil, chrysomelids and elaterids.
F. H. França; P. S. Ritschel.
Resistência genética à mancha-bacteriana em genótipos de pimentão.
Genetic resistance to bacterial leaf spot on sweet pepper genotypes.
R. A. Costa; R. Rodrigues; C. P. Sudré.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
10
18
24
28
34
38
43
48
52
58
63
67
71
79
86
PÁGINA DO HORTICULTOR / GROWER'S PAGE
Absorção de nutrientes pelo tomateiro cultivado sob condições de campo e de ambiente protegido.
Nutrient absorption by tomato plants grown under field and protected conditions.
J. A. Fayad; P. C. R. Fontes; A. A. Cardoso; F. L. Finger; F. A. Ferreira.
Comparação de métodos de enxertia em pepino.
Comparison of grafting methods in cucumber.
K. A. L. Canizares; R. Goto.
Influência do boro no desenvolvimento e na composição mineral do pimentão.
Influence of boron application on sweet pepper development and mineral composition.
S. C. Mello; A. R. Dechen; K. Minami.
Germinação de sementes de alface sob altas temperaturas.
Lettuce seed germination at high temperature.
W. M. Nascimento; D. J. Cantliffe.
Micropropagação do jaborandi
Micropropagation of the jaborandi.
R. T. Sabá; O. A. Lameira; J. M. Q. Luz; A. P. R. Gomes; R. Innecco.
Produção de sementes pré-básicas de batata em sistemas hidropônicos.
Production of potato pre-basic seeds in hydroponic systems.
C. A. B. Medeiros; A. H. Ziemer; J. Daniels; A. S. Pereira.
90
95
99
103
106
110
INSUMOS E CULTIVARES EM TESTE / PESTICIDES AND FERTILIZERS IN TEST
Qualidade do inhame ‘Da Costa’ em função das épocas de colheita e da adubação orgânica.
Da Costa yam quality in relation to harvest time and organic fertilization.
A. P. Oliveira; P. A. Freitas Neto; E. S. Santos.
115
NOVA CULTIVAR / NEW CULTIVAR
Ouro Verde MG 2: nova cultivar de mungo-verde para Minas Gerais.
Ouro Verde MG 2: new mungbean cultivar for Minas Gerais State, Brazil.
R. F. Vieira; V. R. Oliveira; C. Vieira; C. M. F. Pinto.
119
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO / INSTRUCTIONS TO AUTHORS
121
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
artigo convidado
BEZERRA NETO, F.; NUNES, G.H.S.; NEGREIROS, M.Z. Avaliação de procedimentos de comparações múltiplas em trabalhos publicados na revista
Horticultura Brasileira de 1983 a 2000. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, n. 1, p. 05-09, março, 2.002.
Avaliação de procedimentos de comparações múltiplas em trabalhos
publicados na revista Horticultura Brasileira de 1.983 a 2.000.
Francisco Bezerra Neto; Glauber Henrique S. Nunes; Maria Zuleide de Negreiros.
ESAM, Depto. Fitotecnia, Km 47 BR 110, C. Postal 137, 59.625-900, Mossoró-RN; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Vários procedimentos de comparações múltiplas têm sido usados para explicar a resposta de tratamentos testados em experimentos agronômicos. Entre esses, está o uso de testes de comparação de
médias, muitas vezes apropriados a alguns tratamentos e inteiramente inapropriados a outros. Um levantamento e uma avaliação do
uso e mau uso desses testes foi realizado com os trabalhos publicados na revista Horticultura Brasileira no período de 1.983 a 2.000.
Procedimentos alternativos são sugeridos para situações onde os testes de comparação de médias não são apropriados. Dos 294 trabalhos analisados, algum tipo de teste foi utilizado para a comparação
de médias. Em 65,6% dos artigos consultados, os testes como o de
Tukey, Duncan e a DMS de Fisher foram adequadamente aplicados
com relação ao tipo de dados envolvidos. Em 22,8% dos artigos,
esses testes estavam parcialmente corretos e nos 11,6% dos artigos
restantes estavam incorretamente aplicados ao tipo de tratamento
utilizado na pesquisa.
Assessment of multiple-comparison procedures of published
articles in the journal Horticultura Brasileira from 1,983 to 2,000.
Palavras-chave: Tratamentos qualitativos, tratamentos quantitativos, contrastes, procedimentos de comparações múltiplas, técnicas
de regressão.
Keywords: Qualitative treatments, quantitative treatments, contrasts,
multiple comparison tests, regression techniques.
Several procedures of multiple-comparison have been used to
explain the response of treatments applied in experimental units of
agronomic experiments. Among these are the mean comparison tests,
sometimes appropriate for some kinds of treatments and completely
inappropriate for others. The use and misuse of these tests were
surveyed and assessed in the articles published in the journal
Horticultura Brasileira from 1,983 to 2,000. Alternative procedures
are suggested for situations in which mean comparison tests are
inappropriate. We observed that in 294 articles some kind of test
was used for mean comparison. In 65,6% of these articles multiple
comparison tests (as Tukey, Duncan and LSD) were appropriately
used for the type of involved data. In another 22,8% tests were used
in a partially correct form. For the 11,6% remaining articles multiple
comparison tests were inappropriately used for the type of treatments
used in the research.
(Aceito para publicação em 07 de dezembro de 2.001)
E
m experimentos agronômicos, o objetivo da análise estatística dos dados é fornecer tantas informações quanto possíveis a respeito da maneira como
as unidades experimentais respondem
aos tratamentos aplicados. Para isso, é
muito comum submeter os dados a uma
análise de variância (ANOVA) para saber se existem ou não diferenças significativas entre as médias dos tratamentos aplicados. Feita a análise, a tentativa é explicar a resposta desses tratamentos de maneira mais detalhada. Vários
procedimentos podem ser usados com
esse propósito, como o ajustamento de
funções de resposta, usando as técnicas
de regressão (Little, 1981; Dawkins,
1983), os conjuntos de contrastes planejados entre as médias ou grupos de
médias (Gill, 1973; Jones, 1984;
Swallow, 1984; Klockars & Sax, 1990),
os procedimentos de comparações múl-
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
tiplas de médias (Chew, 1976; Carmer
& Walker, 1985) ou o método
aglomerativo, tal como o proposto por
Scott & Knott (1974).
Nenhum desses procedimentos deve
ser usado indiscriminadamente, pois,
alguns deles são apropriados a certos
tipos de tratamentos e inteiramente
inapropriados a outros. Um dos mais
freqüentes e incorretamente utilizados
é o teste de comparação múltipla de
médias (Petersen, 1977; Aflakpui,
1995). O uso inapropriado de um teste
pode conduzir o pesquisador a interpretações equivocadas dos resultados de um
experimento bem como a tirar conclusões erradas.
Os tipos de experimentos para os
quais os procedimentos de comparações
múltiplas de médias são apropriados, são
aqueles cujo objetivo é determinar os
melhores tratamentos dentro de um con-
junto qualitativo de tratamentos. Vários
procedimentos são possíveis. Um deles
é quando os contrastes (que envolvem
grupos de médias) são definidos após
prévia inspeção dos dados, sendo sua
significância verificada usando o teste
de scheffé (Banzatto & Kronka, 1995).
Quando os contrastes são definidos a
posteriori e são ortogonais o procedimento adequado para verificar as suas
significâncias seria o teste F ou equivalente ao teste t (Gill, 1973).
Porém, quando os contrastes não são
ortogonais e que o interesse é comparar
todos os pares de médias entre si, neste
caso deve-se escolher um procedimento de comparação múltipla tal como o
de Tukey (Carmer & Walker, 1985;
Perecin & Malheiros, 1989). Se o número de tratamentos é grande e há o interesse numa separação real de grupos
de médias, sem a ambigüidade de resul5
Bezerra et al.
Tabela 1. Classificação dos trabalhos publicados na revista Horticultura Brasileira no período de 1.983 a 2.000, quanto ao uso de testes de
comparação de médias. Mossoró, ESAM, 2000.
Testes
Usados
Tukey
Duncan
Skott-Knott
DMS
SNK
Dunnett
Não informado
Total
Porcentagem
Adequado
Nº
%
103,
61,3
62,
64,6
10,
100,0
7,
77,8
2,
100,0
2,
100,0
7,
100,0
193,
65,6
tados, o procedimento apropriado seria
o teste de Scott Knott (Ferreira et al.,
1999; Silva et al., 1999; Ramalho et al.,
2000). Se o interesse é comparar a média de qualquer tratamento com a média do tratamento testemunha (controle), o procedimento adequado seria
usando o teste de Dunnett (Lentner &
Bishop, 1986; Christensen, 1996).
Cardelino & Siewerdt (1992), revisando 260 trabalhos publicados na Revista da Sociedade Brasileira de
Zootecnia (SBZ) de 1984 a 1989, constataram que 24,6% dos testes de comparação de médias estavam corretos,
11,2% parcialmente correto e 64,2%
incorretos. Santos et al. (1998), em levantamento realizado em 628 trabalhos
publicados na revista Pesquisa
Agropecuária Brasileira (PAB) de 1980
a 1994, observaram que os testes de
comparação de médias foram adequados em 57,0%, parcialmente adequados
em 11,5% e inadequados em 35,5%.
Este trabalho teve como objetivo
fazer uma avaliação dos procedimentos
de comparações múltiplas de médias
empregados na análise dos trabalhos
publicados na revista Horticultura Brasileira, de 1.983 a 2.000, além de apresentar alternativas adequadas aos procedimentos inapropriadamente usados.
MATERIAL E MÉTODOS
Uma revisão dos procedimentos de
comparações múltiplas de médias foi
realizada nos trabalhos publicados na
revista Horticultura Brasileira (HB) de
6
Uso dos testes de comparação de médias
Parc. adequado
Inadequado
Nº
%
Nº
%
41,
24,4
24,
14,3
25,
26,0
9,
9,4
0,
0,0
0,
0,0
1,
11,1
1,
11,1
0,
0,0
0,
0,0
0,
0,0
0,
0,0
0,
0,0
0,
0,0
67,
34,
22,8
11,6
1983 a 2000, correspondendo aos volumes de 01 a 18. Esses procedimentos
quanto à aplicação de testes foram classificados em “adequado”, “parcialmente adequado” ou “inadequado”. Foi considerado “adequado” quando o teste de
comparação de médias consistia no procedimento mais apropriado aos tratamentos de natureza qualitativa e não
estruturados. Foi considerado “parcialmente adequado” quando o teste de
comparação de médias consistia no procedimento apropriado a tratamentos
estruturados (tratamentos de um conjunto formado pela adição de um ou mais
fatores, muito comuns nas áreas de
fitotecnia e de sementes), a experimentos fatoriais (onde se compara todos os
tratamentos entre si, dois a dois), e a situações onde, após ajustar uma equação
de regressão aos dados, ainda é utilizado um teste de comparação múltipla. Foi
considerado “inadequado” quando o teste de médias foi aplicado a tratamentos
de natureza quantitativa ou, ainda, em
experimentos fatoriais, em médias marginais dos fatores, sem levar em conta
possíveis interações entre os efeitos
principais.
Uma distribuição de freqüência absoluta e percentual foi realizada para as
três categorias dos testes de comparação de médias. Entre os testes levantados estão a DMS de Fisher (teste ‘t’ de
amplitude fixa), o de Tukey, o de
Duncan, o de SNK (Student-NewmanKeuls), o de Scott-Knott e o de Dunnett.
Nos trabalhos em que os autores não
informaram o tipo de comparação múl-
Total
Nº
168,
96,
10,
9,
2,
2,
7,
294,
%
57,1
32,6
3,4
3,1
0,7
0,7
2,4
100,0
tipla empregado, o teste foi classificado como “Não informado”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A distribuição de freqüência absoluta e percentual dos testes de comparação de médias aplicados aos trabalhos
publicados na revista Horticultura Brasileira no período de 1.983 a 2.000 estão apresentados na Tabela 1. Nesses
dezoito anos, 294 trabalhos foram analisados, dos quais 193 (correspondendo
a 65,6%) foram classificados como
“adequados”, com relação à aplicação
dos testes de comparação de médias, 67
(correspondendo a 22,8%) foram considerados como “parcialmente adequados” e 34 (correspondendo a 11,6%)
foram classificados como “inadequados”. Entre os testes utilizados, os mais
freqüentes foram o de Tukey (57,1%) e
o de Duncan (32,6%). Estes resultados
estão em concordância de certa maneira com os obtidos por Cardellino &
Siewerdt (1992) que obtiveram
percentuais em torno de 63% e 25%,
para os teste de Tukey e de Duncan, respectivamente. Por outro lado, os
percentuais encontrados estão mais próximos dos obtidos por Santos et al.
(1998), que encontraram resultados próximos a 59% e 32%, para os respectivos testes.
Observando-se os procedimentos de
forma individual, dentro da categoria
“adequado”, verificou-se que 61,3% dos
testes de Tukey, 64,6% dos testes de
Duncan e 77,8% da DMS de Fisher foHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Avaliação de procedimentos de comparações múltiplas em trabalhos publicados na revista
Tabela 2. Porcentagem de germinação de sementes de Maytenus ilicifolia após tratamentos
de secagem e armazenamento.
T1:
T2:
T3:
T4:
T5:
T6:
Tratamentos
Testemunha
Secagem (22ºC, 15 % UR)
Armazenamento (5ºC)
Armazenamento (-20ºC)
Secagem + Armazenamento (5ºC)
Secagem + Armazenamento (-20ºC)
Médias* (%)
100, a
82, b
93, a b
85, a b
82, b
75, b
* Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
Tabela 3. Efeito do nível de adubação orgânica sobre o rendimento de óleo essencial de
Lipia Alba.
Níveis de adubação orgânica
(kg/m²)
0
1
2
4
8
Rendimento de óleo essencial
(ml/g x 100%)*
0,3395 a
0,3091 a
0,2940 ab
0,2696 bc
0,2642
c
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de
probabilidade.
*
Tabela 4. Efeito do teor de cinza vegetal sobre peso médio da cabeça de alface, cv. Brasil 303.
Níveis de cinza vegetal (t/ha)
0
10
15
20
30
Peso médio (g)*
170,2 b
265,8 a
262,9 a
233,3 a
220,4 a
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Duncan, a 5% de
probabilidade.
*
ram utilizados de forma apropriada. Para
os outros tipos de teste estas percentagens foram 100%. Ainda dentro dessa
categoria, em sete trabalhos de competição de cultivares, usou-se procedimentos de comparações múltiplas apropriados para identificar as melhores cultivares, porém observou-se o descuido
dos pesquisadores em não mencionarem
o tipo de procedimento usado nos ensaios (Tabela 1, “Não informado”), indispensável na elaboração da tomada de
decisão.
O uso mais comum dos procedimentos de comparações múltiplas de médias
é efetuar comparações de cada uma
das médias com cada uma das outras,
com o objetivo de detectar possíveis
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
grupos entre um conjunto de tratamentos não estruturados. Um exemplo que
ilustra esta categoria foi extraído de um
trabalho em que se comparou a produção de nove cultivares de cebola (Allium
cepa L.), através do teste de Tukey, identificando-se quatro grupos. Em outro
exemplo, avaliando a produtividade de
vinte linhagens de abóbora (Curcubita
moschata Duchesne), através do teste
Scott-Knott, os autores identificaram
dois grupos.
Foram incluídos na categoria “parcialmente adequado”, 24,4% dos trabalhos onde se empregou o teste de Tukey,
26% dos trabalhos onde se empregou o
teste de Duncan e 11,1% dos trabalhos
onde se empregou a DMS de Fisher. A
aplicação deste tipo de procedimento é
comum em tratamentos estruturados
(tratamentos formados pela adição de
um ou mais fatores) ou em experimentos fatoriais onde se comparam todos os
tratamentos entre si, dois a dois ou em
situações após ajustar uma equação de
regressão, ainda se utiliza um teste de
comparação de médias.
O exemplo da Tabela 2 ilustra a situação, onde os pesquisadores avaliaram
a porcentagem de germinação de sementes de Maytemus ilicifolia após tratamentos de secagem e armazenamento.
Embora parcialmente correta a aplicação do teste de Tukey, os autores poderiam ter formulado contrastes importantes como: Y 1 = (m 3 + m 4 ) – 2m 1
(armazenamento x testemunha); Y2 = m5
+ m 6 - m 3 - m 4 (secagem e
armazenamento x armazenamento); Y3
= m 5 + m 6 - 2m 2 (secagem e
armazenamento x secagem). Outra situação está ilustrada em um experimento
fatorial 2 x 2 x 3, onde os autores estudaram a influência de duas fontes de
potássio, duas doses de cloreto de sódio
e três doses de potássio sobre o teor de
nitrogênio da matéria seca da parte aérea de tomateiro. Pode-se constatar que,
o emprego do teste de Duncan é parcialmente apropriado, embora o procedimento correto, no caso de nenhuma
interação significativa, fosse comparar
as médias marginais dos fatores principais (caso de natureza qualitativa) ou
ajustar uma equação de regressão a eles
(caso de natureza quantitativa). No caso
de interação significativa, deve-se comparar médias dos níveis de um fator (de
natureza qualitativa) dentro dos níveis
de outro fator. Por exemplo, comparar
as médias dos efeitos das fontes de potássio dentro de cada dose de cloreto de
sódio. O ajustamento de uma equação
de regressão aos teores de nitrogênio em
função das doses de potássio dentro de
cada dose de cloreto de sódio também
seria um procedimento correto, apesar
de apenas três níveis para a estimação
dos parâmetros da equação. Quando este
número de níveis é menor do que quatro pode-se ter problema no processo de
estimação dos parâmetros.
Dentro da categoria “inadequada”,
registrou-se que, nos trabalhos onde foi
empregado o teste de Tukey, 14,3%
7
Bezerra et al.
utilizaram-no de forma inapropriada,
seguido pela DMS de Fisher com
11,1% e pelo teste de Duncan com
9,4% (Tabela 1). Esses testes foram responsáveis pelos 11,6% do uso inadequado dos testes de comparação de
médias nos trabalhos publicados na revista Horticultura Brasileira.
Nas Tabelas 3 e 4 estão ilustrados
exemplos de má aplicação dos testes de
comparações múltiplas a tratamentos
quantitativos (como níveis de adubação
orgânica e níveis de cinza vegetal). O
procedimento estatístico mais correto
para essas situações, seria examinar os
dados das variáveis observadas através
de uma relação funcional com os níveis
dos tratamentos aplicados. As equações
resultantes proporcionam uma descrição
das variações ocorridas nas variáveis
observadas em função dos níveis dos
tratamentos aplicados, permitindo estudar qualquer nível intermediário dos tratamentos, mesmo que eles não estejam
diretamente incluídos no estudo (Figura
1). Por exemplo, na Figura 1 (b), podese identificar o nível de cinza vegetal que
proporciona o maior peso médio (cerca
de 263 g) de cabeça de alface, que é de
aproximadamente 11 t/ha.
As causas prováveis do mau uso
desses testes podem estar associadas ao
desconhecimento de procedimentos alternativos aos testes de comparações
múltiplas de médias, como a técnica de
análise de regressão, bem como a falta
de conhecimento das condições de uso
adequado desses testes aos tipos de dados estudados. Além disso, pode também ser devido à falta de habilidade dos
pesquisadores na interpretação dos resultados, podendo levá-los a fazer
inferências errôneas acerca dos tratamentos investigados. Cardellino &
Siewerdt (1992) e Pearce (1993) advertem que deficiências como estas podem
levar o pesquisador à simplificação do
uso de um teste de comparação múltipla, mesmo quando ele não se constitui
na melhor opção para a análise dos dados experimentais. Por outro lado, Matos (1993) evidencia que a formação
acadêmica da maioria dos pesquisadores tem sido baseada em receitas estatísticas com muita ênfase na parte matemática e pouca ou nenhuma consideração na adequação dos métodos ou na
interpretação dos resultados obtidos.
8
Figura 1. (a) Rendimento de óleo essencial em função de diferentes níveis de adubação
orgânica e (b) Peso médio da cabeça de alface em função de diferentes níveis de cinza
vegetal.
De modo geral, pode-se observar a
verificação pouca cuidadosa da
adequabilidade dos testes de comparações múltiplas aos tipos de tratamentos
considerados na análise. Além disso,
nota-se que o uso inadequado dos testes
é comum, principalmente, nos casos nos
quais estão envolvidos tratamentos de
natureza quantitativa. O uso
indiscriminado desses testes pode resultar em perda de informação e eficiência
reduzida quando procedimentos mais
adequados estão disponíveis. Por fim,
ressalta-se que o pesquisador deve consultar, sempre que possível, um estatístico quando existir dúvidas na escolha
do teste a ser aplicado, de modo que os
dados possam ser explorados de manei-
ra correta e conseqüentemente, os resultados advindos da pesquisa possam auxiliar nas tomadas de decisões.
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9
pesquisa
CONTI, J.H.; MINAMI, K.; TAVARES, F.C.A. Produção e qualidade de frutos de morango em ensaios conduzidos em Atibaia e Piracicaba. Horticultura
Brasileira, Brasília, v. 20,n.1, p. 10-17, março 2.002.
Produção e qualidade de frutos de diferentes cultivares de morangueiro
em ensaios conduzidos em Atibaia e Piracicaba.
José Henrique Conti; Keigo Minami; Flavio C. A. Tavares
ESALQ, C. Postal 83, 13.418-900 Piracicaba-SP; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Foram instalados experimentos em Atibaia (SP), região de clima ameno, e Piracicaba (SP), região de clima quente, no ano de
1996, com delineamento em blocos ao acaso, com quatro repetições
e dezesseis plantas por parcela, com as cultivares Campinas, Dover,
Guarani, Princesa Isabel e AGF 080. Dos frutos avaliou-se a presença de “pescoço”, formato, teor de sólidos solúveis, pH, cor interna e externa, textura e a produção e seus componentes. Atibaia destacou-se pela produção maior de frutos (468,30 g/planta), maior
número de frutos (46,75 frutos/planta) e maior peso médio de fruto
(10,06 g) em relação a Piracicaba. As características do fruto e da
planta do morangueiro foram pouco variáveis ao efeito de locais. As
medidas de cor interna, textura e presença de pescoço possibilitaram
indicar a cultivar Guarani como apto para o uso industrial e Dover
como pouco indicado. Em função das medidas de peso, teor de sólidos solúveis, pH e textura, as cultivares Campinas, AGF 080 e Princesa Isabel são as mais adequadas ao consumo “in natura”, enquanto
que Guarani e Dover são pouco adequadas. Os dados de resistência à
compressão, que estimam a textura dos frutos, comprovam que as
cultivares Guarani, Dover e Princesa Isabel são as mais resistentes ao
transporte e Campinas e AGF 080 as menos resistentes.
Production and quality of some cultivars of strawberry fruits
in field experiments at Atibaia and Piracicaba, Brazil.
Palavras-chave: Fragaria x ananassa Duch., cultivares, clima, tropical, consumo ‘in natura’, rendimento.
Keywords: Fragaria x ananassa Duch., climate, tropical, fresh
market, yield.
Field experiments were carried out in São Paulo State (Brazil), in
Atibaia, Cfb climate and Piracicaba, Cwa climate, in 1996. The
experimental design was of randomized blocks with four replications
and sixteeen plants per plot using the cultivars Campinas, Dover,
Guarani, Princesa Isabel and AGF 080. The presence of neck, shape,
yield, number and average weight, amount of soluble solids, pH,
external and internal color, texture and components of yield and of the
fruits were evaluated. Atibaia experiment resulted in greater production
of fruits (468,30 g/plant), greater number of fruits (46,75 fruits/plant)
and greater fruit mean weight (10,06 g) in relation to Piracicaba.
Characteristics of the strawberry fruit and plant were not influenced
by local effects. The internal color measures, texture and neck presence
indicate the cv. Guarani suitable for industrial purposes. In function of
the weight measures, amount of soluble solids, pH and texture, the
Campinas, Agf 80 and Princesa Isabel cvs. are the most suitable for
the fresh market while Guarani and Dover are inadequate. Guarani,
Dover and Princesa Isabel are the most resistant cvs. to transportation
and Campinas and Agf 80 are the less resistant.
(Aceito para publicação em 14 de fevereiro de 2.002)
U
ma complexa interação entre os fatores temperatura e comprimento
do dia determinam o desempenho produtivo e a qualidade dos frutos em cultivares de morangueiro em uma determinada região produtora (Scott &
Lawrence, 1975). Em vista disso, quando uma cultivar é selecionada para determinada região fisiográfica e plantada em outra, dificilmente apresentará
elevada produção de frutos de qualidade (Dávalos, 1979). Human & Evans
(1989) e Rice Jr. (1990) testaram cultivares do morangueiro na África e confirmaram que estas, quando melhoradas
para regiões temperadas, não mostraram
bom desempenho em áreas tropicais.
As principais regiões brasileiras produtoras de morango localizam-se em
10
áreas de clima tropical de altitude elevada, ameno. Atualmente a cultura está
se expandindo para áreas de clima tropical de altitude média, quente. A produção comercial do morango no Brasil
está baseada em poucas cultivares. A
‘Campinas’, selecionada para consumo
in natura na década de cinqüenta pelo
IAC (Camargo, 1960), ainda hoje é uma
das mais cultivadas. Na década de setenta foi lançada a cultivar Guarani para
uso industrial e, na década de oitenta, a
cultivar Princesa Isabel com frutos mais
duráveis após a colheita (Passos &
Camargo, 1993). Na década de noventa
foi importada dos EUA a cultivar Dover,
selecionada, segundo Howard &
Albregts (1980), para a resistência a
antracnose nas condições da Florida.
A alta incidência de antracnose,
doença conhecida como “flor preta” no
morangueiro, tem levado os agricultores a buscar novas alternativas de produção. Entre elas, a utilização de novas
cultivares supostamente mais resistentes, como a ‘Dover’, estão sendo avaliadas. Por a introdução dela ser recente,
não há dados científicos sobre o seu
desempenho em nossas condições.
Sabe-se que na região produtora de
Atibaia e Jarinu (SP) a mesma tem apresentado suscetibilidade à bacteriose, resistência duvidosa à antracnose e características de frutos inadequadas ao consumo in natura. No entanto, teve grande aceitação pelos agricultores quando
estes, para escapar da antracnose, mudaram o local de plantio para áreas noHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Produção e qualidade de frutos de morango em ensaios conduzidos em Atibaia e Piracicaba.
vas distantes dos mercados consumidores e pela textura muito firme dos frutos, mostrou-se adequada para o transporte a longas distâncias. Também estão sendo avaliadas mudanças no sistema de produção. Com a finalidade de
estudar a introdução da irrigação por
gotejamento, o cultivo protegido e o uso
de cobertura morta de solo orgânica ou
de polietileno, Passos (1997) realizou
trabalho na região produtora de Atibaia
e Jarinu com a cultivar Campinas.
A introdução de germoplasma exótico, vem sendo realizada pelos próprios
produtores sem que estes novos materiais sejam avaliados adequadamente
quanto à adaptabilidade ao cultivo em
condições tropicais e exigências do
mercado consumidor. Estes frutos de
morango sendo oferecidos no mercado
com características de qualidade inadequadas, têm resultado em menor consumo da fruta e, como conseqüência, prejuízos ao agricultor. Assim foi proposto
o presente trabalho, com o objetivo de
avaliar o desempenho de diferentes cultivares de morangueiro quanto à produção e seus componentes e a qualidade
dos frutos em Atibaia e em Piracicaba,
regiões de clima ameno e quente respectivamente.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliadas neste trabalho as
cultivares Campinas, Guarani e Princesa Isabel desenvolvidas pelo IAC (Passos & Camargo, 1993), a cultivar AGF
080 pela empresa Agroflora e a cultivar
Dover selecionada na Flórida (Howard
& Albregts, 1980), cultivadas em duas
regiões distintas, Atibaia e Piracicaba.
Piracicaba está localizada na latitude de 22º 43’, longitude de 47º 37’ e a
uma altitude de 505 m, e Atibaia em latitude de 23º 07’ e longitude de 46º 33’
e o experimento estava a uma altitude
de 811 m. Em Piracicaba, o experimento foi plantado em solo denominado
Terra Roxa Estruturada e clima do tipo
Cwa segundo classificação pelo sistema internacional de Koeppen e em
Atibaia, em Latossolo Vermelho Escuro e clima predominante Cfb.
Os frutos foram coletados em experimentos em 1996, nos municípios de
Atibaia e Piracicaba, respectivamente
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
em campo de produção comercial de
frutos e em área experimental do Departamento de Horticultura da ESALQ.
Os experimentos obedeceram o mesmo
delineamento experimental em blocos
casualizados com quatro repetições de
cinco cultivares e parcelas constituídas
de dezesseis plantas, sem bordadura
como proposto pôr Nagai et al. (1978).
A cobertura de solo foi feita com filme
plástico de polietileno preto e irrigação
por aspersão. Em Atibaia foram plantadas mudas de raiz nua em 25 de março
de 1996 e, após cinco floradas, as plantas foram retiradas no dia 7 de novembro. Em Piracicaba as mudas eram de
torrão, e foram plantadas em 30 de abril
de 1996 e retiradas no dia 28 de novembro, após cinco floradas.
As características do fruto analisadas nas diferentes cultivares foram a
presença de “pescoço” (prolongamento
afunilado na base do fruto); o formato;
a produção e seus componentes; o teor
de sólidos solúveis, o pH, a textura e a
coloração externa e interna. O “pescoço” foi estudado com base no trabalho
de Passos et al. (1994), em cinqüenta
frutos no estágio maduro, na segunda
florada, por parcela.
Para a análise da forma dos frutos
nas cultivares Campinas, Dover, Princesa Isabel e AGF 080, que apresentam
frutos com formato cônico ou cônico
alongado, foi desenvolvido um método
que consiste em cortar os frutos de morango ao meio no sentido do maior comprimento. A face cortada de uma das
metades do fruto foi pressionada em
uma folha de cartolina branca onde deixou uma marca. Em torno da marca foi
traçado um triângulo onde a mesma ficou inscrita. Foram analisados, por este
método, cinqüenta frutos de segunda ou
terceira ordem, no estágio maduro, na
segunda florada por parcela. Em cada
triângulo foram medidas a base e a altura; A razão entre as mesmas foi utilizada na obtenção das médias de cada
cultivar.
O teor de sólidos solúveis e o pH
foram obtidos (100 g de frutos, de terceira florada em cada parcela) triturando os frutos em liqüidificador juntamente com 100 ml de água por três minutos
a alta velocidade, seguindo o descrito
por Passos (1982). No material obtido
foram realizadas três medidas de pH,
com volume de 50 ml, (peagâmetro da
marca Analion) e três medidas de quantidade de sólidos solúveis expressos em
graus Brix (densitômetro marca Anton
Paar, modelo DMA 46).
A textura foi obtida em texturômetro
TA-XT2 nas seguintes condições: os
frutos foram medidos individualmente
nas mesmas condições, determinandose a força de resistência à compressão
na condição de retorno ao início (“return
to start”). A ponta de prova (“probe”)
utilizada foi a haste de base plana de 3
mm de diâmetro. Foram utilizadas as
velocidades de perfuração de 2 mm/s na
fase pré-teste teste, 1 mm/s na fase teste
e 2 mm/s na fase pós-teste. A distância
de perfuração foi padronizada em 10
mm e o resultado expresso pela força
máxima (g). Para cada análise tomaramse cinco frutos maduros ao acaso, de
terceira florada por parcela.
A cor dos frutos de morango foi
quantificada em espectrofotômetro
COMCOR 1500 PLUS e os dados obtidos correspondem aos componentes
analíticos L*, a* e b*, segundo o descrito por Ferreira (1981). Os valores de
L* variam do claro ao escuro, sendo o
valor 100 correspondente à cor branca
e o valor 0 (zero) à cor preta; o componente a* varia entre o vermelho e o verde onde os valores positivos
correspondem ao vermelho, o 0 (zero)
ao cinza e os valores negativos, à cor
verde; o componente b* varia do azul
ao amarelo onde os valores negativos
correspondem ao azul, o 0 (zero) ao cinza e os valores positivos, à cor amarela.
Os valores de a* e b* foram convertidos ao índice c* (croma), obtido da raiz
quadrada de a*2 + b*2. A cor do fruto
inteiro foi determinada com a seguinte
configuração do aparelho: abertura pequena, uv (ultra violeta) excluso, brilho
incluso, ângulo de 100, leitura média de
quatro determinações em cada parcela.
A cor do morango cortado foi determinada na mesma configuração, com a
única diferença que a abertura utilizada
foi a normal. Os frutos foram cortados
longitudinalmente e as metades arranjadas no vidro óptico, contidas pelo anel
de PVC. Foram colocadas três a quatro
camadas de frutos, arranjadas de modo
a não deixar espaços vazios, colocan11
J. H. Conti et al.
do-se na mesma camada metades de frutos diferentes. Também foram realizadas quatro determinações por parcela
dos experimentos com frutos maduros
de terceira ordem.
O estudo da coloração de frutos,
através da análise dos componentes L*
(luminosidade) e de a* e b* que juntos
resultam no valor de c* (croma), é uma
maneira de quantificar a característica
cor. Em morangos, vários trabalhos com
estes componentes da cor foram realizados tanto para a cor externa como interna dos frutos. Miszczak et al. (1995)
e Paraskevopoulou-Paroussi et al.
(1995) estudaram o comportamento dos
componentes L*, a* e b* em morangos
inteiros pós colheita e concluíram que
os valores de L*, a* e b* diminuem conforme avança o tempo de
armazenamento, ou seja, neste período
os frutos amadurecem e tornam-se mais
vermelho-escuros visualmente. Sacks &
Shaw (1993) estudaram a cor interna dos
morangos e concluíram que em sete dias
de armazenamento os frutos se tornaram mais escuros e mais cromáticos, isto
é, apresentaram valores menores de L*
e elevados de croma enquanto que, na
coloração externa, quanto mais amadurecem os frutos, estes apresentam-se
mais escuros e menos cromáticos. Baseados nestas constatações e considerando que as cultivares estudadas apresentam diferenças visuais de cor externas e
internas desde o vermelho claro até o
escuro, foi proposta, no presente trabalho, uma classificação para coloração
em frutos de morango utilizando os valores de L* e c*. Estabeleceu-se uma
faixa intermediária, baseando-se na
média de todas as cultivares e considerando o desvio padrão para mais e para
menos da média, como a amplitude daquelas cultivares que estão nesta faixa.
Assim, considerando o componente L*
como a luminosidade indicativa do grau
de claro e escuro, é viável estabelecer
que para a coloração externa, valores
menores que 29,24 indicam cor escura,
valores de L* entre 29,34 e 34,62 indicam condição intermediária e valores
maiores que 34,62 cor clara. Para a coloração interna, valores menores que
38,35 indicam cor escura, valores entre
38,35 e 51,57 são intermediários e maiores que 51,57 de cor clara. O valor de
12
Figura 1. Frutos das cultivares: forma dos frutos, ocorrência de “pescoço” e cor externa.
Piracicaba, ESALQ, 1996.
c* expressa o grau de croma dos frutos,
onde, pela classificação proposta, frutos mais coloridos externamente apresentam valores menores que 24,92, a
faixa intermediária está entre este valor
e 36,08 e os frutos menos coloridos têm
valores de croma maiores que 36,08. O
valor de c*, na coloração interna dos
frutos, apresentou uma faixa intermediária entre 33,28 e 42,88, assim frutos
menos cromáticos apresentam valores
de c* menores que 33,28 e os mais cromáticos valores maiores que 42,88.
A produção total de frutos, o número de frutos e o peso médio dos frutos
foi obtida da colheita. Esta foi feita em
todas as plantas de cada uma das parcelas, ocorreu quando os frutos estavam
entre os estágios “¾ maduros” e “maduros”, duas vezes por semana, durante
todo o período de produção sendo contados e pesados os frutos
“comerciáveis”, isto é, aqueles apropriados para o consumo (Passos, 1982;
Passos, 1997; Tessarioli Neto, 1982;
Tessarioli Neto, 1993).
Os resultados de formato, pH, teor
de sólidos solúveis, textura, cor interna
e externa, produção, número e peso
médio dos frutos foram submetidos à
análise de variância e as diferenças entre as médias dos tratamentos foram
comparadas por Tukey a 5% de probabilidade. A análise dos dados de presença de “pescoço” considerou a presença
ou ausência de determinada estrutura se
esta estiver presente em 95% da amostra (Queiroz-Voltan et al., 1996).
Os resultados dos experimentos,
embora obtidos separadamente, puderam ser analisados em conjunto, pois a
relação entre os quadrados médios dos
resíduos dos dois experimentos foi menor que sete para todas as características estudadas (Cruz & Regazzi, 1994).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A característica presença de “pescoço” foi útil para caracterizar e também
para ajudar na determinação da finalidade de uso de algumas cultivares. As
cultivares Guarani e Dover foram caracterizadas pela ausência ou presença desta característica, sendo ausência de “pescoço” em ‘Dover’ (100,0% dos frutos
analisados) e presença de “pescoço” em
‘Guarani’ (97,7% dos frutos analisados).
Campinas apresentou 67,2% dos frutos
com “pescoço”, AGF 080 79,0% dos
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Produção e qualidade de frutos de morango em ensaios conduzidos em Atibaia e Piracicaba.
Tabela 1. Razão entre a base e a altura do triângulo circunscrito, teor de sólidos solúveis (graus Brix), pH, textura, cor interna e externa
pelos componentes luminosidade (L*) e croma (c*) em frutos de morangueiro, em análise conjunta dos experimentos de Atibaia e Piracicaba.
Piracicaba, ESALQ, 1996.
Cor
Teor de
Cor
interna
sólidos
interna
pH
textura
Cultivares
solúveis
Luminosi- Croma
(c*)
(graus Brix)
dade (L*)
Campinas 0,942 a
8,37 a
3,77 b
85,75
c 43,66 a
39,17 ab
Dover
0,652 c 7,10 c
3,66 c
123,27 b
49,26 a
32,47 c
Guarani
7,20 c
3,58
d 144,78 a
35,81 b 43,68 a
Princesa
0,838 b 7,77 b
3,84 a
110,26 b
48,77 a
36,63 bc
Isabel
AGF 080
0,944 a
8,52 a
3,77 b
82,75
c 47,33 a
38,42 b
CV%
1,920
4,532
1,051
23,59
14,70
12,60
Razão
Base/
altura
Cor
Cor
externa
externa
Luminosi- Croma
(c*)
dade (L*)
34,15 a
34,29 a
30,10 b 28,66 b
28,27 c 21,23 c
33,01 a
33,96 a
34,12 a
8,42
34,43 a
18,29
*/ Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, 5%.
frutos com “pescoço” e Princesa Isabel
41,7% dos frutos com “pescoço”. Como
as cultivares Campinas, AGF 080 e Princesa Isabel apresentaram menos de 95%
dos frutos com uma mesma característica, não foi possível definir a qual das
duas categorias pertenciam (Figura 1).
Os resultados obtidos com a cultivar
Guarani demonstraram sua característica de produção de morangos para uso
industrial pela facilidade na remoção do
cálice, finalidade para a qual havia sido
selecionada.
A forma do fruto do morangueiro é
de fundamental importância para o sucesso das cultivares devido às exigências do mercado consumidor. Sendo, no
entanto, uma característica de difícil
identificação pela análise comparativa
com formatos padrões estabelecidos de
maneira diferente, por vários autores
(Passos, 1982; Lemaitre & Linden,
1968; Queiroz-Voltan et al., 1996). Diante da dúvida de qual dos sistemas propostos pelos autores acima mencionados utilizar e, aliado ao fato de que quatro das cinco cultivares estudadas apresentarem formato muito semelhante,
tipo cônico ou cônico-alongado, decidiu-se propor um novo sistema para distinguir frutos com formato tipo cônico.
Na análise conjunta dos experimentos, as cultivares Campinas e AGF 080
não apresentaram diferenças significativas entre si mas diferiram da Dover e
da Princesa Isabel. As cultivares Campinas e AGF 080 apresentaram a maior
relação entre a base e a altura do fruto
(0,943), o que caracteriza um formato
de fruto pouco alongado, assemelhanHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
do-se a um “pião”. Com valores menores ficou a cultivar Princesa Isabel e com
os valores mais baixos a cultivar Dover,
o que significa frutos com o formato
mais cônico alongado entre as quatro
cultivares testadas (Tabela 1 e Figura 1).
O teor de sólidos solúveis é característica de interesse para frutos
comercializados in natura pois o mercado consumidor prefere frutos doces.
Os resultados obtidos com o teor de sólidos solúveis estimados em graus Brix
(Tabela 1), evidenciaram, como esperado, grande variação nas cultivares testadas contudo não houve variação significativa para o fator locais. Na análise
conjunta dos experimentos as cultivares Campinas e AGF 080 apresentaram
os maiores valores de graus Brix, em
seguida ficou a cultivar Princesa Isabel
e diferente destes mas semelhantes entre si as cultivares Guarani e Dover.
Passos (1982) em experimento realizado em Jundiaí, 1979, chegou aos
valores de 8,10 graus Brix para a cultivar Campinas e 5,20 para a cultivar
Guarani em frutos “maduros”. No presente trabalho, o teor de sólidos solúveis em Atibaia, onde o clima é semelhante a Jundiaí, foi de 8,45 graus Brix
na cultivar Campinas e 7,10 graus Brix
na cultivar Guarani. Podemos afirmar
que o valor elevado no teor de sólidos
solúveis da cultivar Campinas confirma
a descrição de Camargo & Passos
(1993), que consideram esta cultivar de
sabor adocicado e o sabor da cultivar
Princesa Isabel, menos doce que a cultivar Campinas, como suave-adocicado.
O pH dos frutos apresentou variação significativa entre as cultivares. A
análise conjunta dos experimentos de
Atibaia e Piracicaba apresentou valores
de pH mais elevados para a cultivar
Princesa Isabel. Em seguida, diferentes
dos demais mas semelhantes entre si,
ficaram as cultivares Campinas e AGF
080 seguidas por Dover e Guarani (Tabela 1). A determinação do pH dos frutos é importante na definição da finalidade de uso das cultivares. O pH ácido
é propriedade de morangos para uso industrial (Passos, 1982), e o mercado
consumidor para frutos in natura prefere frutos pouco ácidos. A característica
de pH torna difícil o desenvolvimento
de cultivares de dupla aptidão, já que as
exigências para cultivares de uso industrial e consumo in natura são opostas.
Comparando com os resultados obtidos por Passos (1982) e no presente
trabalho, em Atibaia, notamos que o pH
médio dos frutos foram semelhantes
para a cultivar Campinas e diferentes
para a cultivar Guarani. O fruto de
Guarani, considerado ácido por
Camargo & Passos (1993) também apresentou valores mais baixos de pH neste
trabalho.
As diferenças de textura e cor são de
fundamental importância para o produtor na escolha das cultivares, mas é difícil diferenciar as texturas muito firme da
firme, e esta da pouco firme, e também
as tonalidades da cor vermelha. A caracterização quantitativa de caracteres fornece parâmetros mais exatos quanto às
propriedades de textura e cor dos frutos,
13
J. H. Conti et al.
Tabela 2. Produção total (g/planta), número total/planta e peso médio (g) de frutos de morangueiro em Atibaia e Piracicaba e análise
conjunta dos experimentos. Piracicaba, ESALQ, 1996.
Cultivares
Campinas
Produção total de frutos
(g/planta)
Atib.x
Atibaia Piracicaba
Pirac.
Número total de frutos/planta
Atibaia
Piracicaba
Atib.x
Pirac.
Peso médio de frutos (g)
Atibaia
Piracicaba
Atib.x
Pirac.
494,02 a
321,35 a
407,69 a
49,78 a
38,48 a
44,13 a
9,91 b
8,33 b
9,12 b
Dover
475,57 a
306,34 ab
390,96 a
46,14 ab
34,39 a
40,26 a
10,32 ab
8,90 a
9,61 a
Guarani
496,87 a
263,09 ab
379,98 a
52,66 a
36,11 a
44,38 a
9,41
7,28
Princesa
Isabel
394,18 b
236,63 b
315,40 b
37,03 b
25,66 b
31,34 b
10,64 a
9,22 a
9,93 a
AGF 080
480,90 a
311,62 a
396,26 a
48,12 a
38,11 a
43,12 a
10,00 b
8,12 b
9,06 b
CV %
10,690
11,179
11,165
9,717
9,468
9,494
2,070
2,974
3,113
c
c
8,35
c
*/ Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, 5%.
e também contribui para definir a finalidade de uso das cultivares.
Os dados de resistência à compressão expressos em gramas permitiram
classificar a textura dos frutos, considerando a média geral das cultivares
(109,36 g) mais ou menos o desvio padrão (25,80) para expressar os limites
para frutos de textura firme. Frutos com
resistência à compressão acima do limite
desta amplitude, ou seja 135,16 g, foram considerados muito firmes e aqueles com valores abaixo deste limite, ou
seja 83,55 g, foram considerado pouco
firmes. Esta classificação, mesmo baseada em poucas cultivares, parece representativa da situação real já que os
frutos das cultivares estudadas têm ampla variabilidade quanto à textura pois
pela descrição de Passos & Camargo
(1993) a cultivar Guarani tem frutos
muito firmes, Princesa Isabel tem frutos regularmente firmes e Campinas frutos firmes.
Verificou-se que não houve diferença significativa quanto à textura dos frutos entre locais. Contudo, verificou-se
que as cultivares, de fato, apresentaram
valores de resistência à compressão diferentes, permitindo classificar a cultivar Guarani como de grande resistência
à compressão ou textura muito firme,
com o valor médio de 144,78 g. As cultivares Dover e Princesa Isabel, respectivamente com 123,27 g e 110,26 g, não
apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre si, podendo ser
considerados frutos de textura firme,
enquanto que as cultivares Campinas e
AGF 080 com os valores de 85,75 g e
14
82,75 g, respectivamente, e não diferentes entre si, ficaram situadas no limite
entre as de textura firme e pouco firme
(Tabela 1).
Com estes dados, os valores de textura das cultivares Campinas e AGF 080
indicam que os frutos destas, têm a característica que o consumidor de frutos
in natura aprecia, contudo pode ser
limitante para o transporte de frutos, pois
estes podem sofrer danos mecânicos
com facilidade. Os frutos firmes da cultivar Princesa Isabel apresentaram textura que permite o comércio em mercados mais distantes, diminuindo a perda
de frutos, pois estes, também podem
suportar mais tempo depois de colhidos.
Paraskevopoulou-Paroussi et al. (1995)
demonstraram que frutos mais firmes
mantém melhor a qualidade durante o
período de armazenamento. A cultivar
Dover, apesar da aparente firmeza de
seus frutos, apresentou valores menores que a cultivar Guarani, possivelmente devido à maior firmeza da polpa interna da cultivar Dover.
Passos (1982), em experimento realizado em Jundiaí (SP), estimou a textura através da resistência à ruptura nas
cultivares Campinas e Guarani, e verificou que em frutos maduros a textura
da cultivar Campinas foi de 42,25 lbf/
50g e na cultivar Guarani de 62,50 lbf/
50g. Estes resultados guardam relação
com a textura do fruto, determinada no
presente trabalho, que indicou maior firmeza dos frutos da cultivar Guarani em
relação a Campinas.
Os dados de cor dos frutos do morango inteiro ou a cor externa e os com-
ponentes L* e c*, não mostraram diferenças significativas entre locais. As
cultivares Campinas, AGF 080 e Princesa Isabel não diferiram entre si e a
cultivar Princesa Isabel apresentou valores inferiores de luminosidade e croma
em relação às demais. Dover e Guarani
diferiram significativamente entre si e
das demais cultivares, apresentando ainda, Guarani, os menores valores de L*
e c* em relação às demais (Tabela 1).
Apesar das diferenças significativas encontradas entre as cultivares, pela classificação proposta, as cultivares Campinas, AGF 080, Princesa Isabel e Dover
foram consideradas de coloração e
luminosidade intermediárias e somente
Guarani se destacou por apresentar valores de c* inferiores a 24,92 e de L*
inferiores a 29,24 caracterizando coloração externa escura e mais cromática,
o que concorda com as avaliações
visuais (Figura 1).
Para as cinco cultivares a cor interna dos morangos, expressos pelos componentes L* e c*, não variou entre os
experimentos. Quanto à luminosidade,
as cultivares Dover, Princesa Isabel,
AGF 080 e Campinas não diferiram significativamente entre si, tendo diferido
da Guarani que apresentou valor de L*
de 35,81. Pela classificação proposta,
estas cultivares ficaram no grupo intermediário e Guarani no grupo de coloração escura. Quanto ao croma dos frutos, as cultivares mostraram diferenças,
sendo Campinas, AGF 080 e Princesa
Isabel do grupo intermediário, a cultivar Dover foi considerado pouco cromático e Guarani muito cromático (TaHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Produção e qualidade de frutos de morango em ensaios conduzidos em Atibaia e Piracicaba.
Figura 2. Produção mensal de frutos de morangueiro (g/planta), de cinco cultivares, em
Atibaia e Piracicaba. Piracicaba, ESALQ, 1996.
bela 1). A coloração interna é uma das
mais importantes características do morango para uso industrial. O vermelho
intenso da cultivar Guarani quando observada visualmente, também refletiu
em um valor de croma maior que 42,88
e em um valor de L* menor que 38,35.
Os dados mostraram que Dover não tem
coloração interna vermelho intensa, pois
tem valor de L* de 49,26 e de croma de
32,47, o que deve prejudicar o seu uso
na industrialização.
Passos (1982) estudou os componentes L*, a* e b* utilizando método mais
simples que o deste trabalho, e também
fez a análise subjetiva de cor e verificou que a cultivar Guarani apresentou,
para coloração interna, valores elevados
de a* e baixos de L*, caracterizando vermelho intenso, coincidindo com as avaliações subjetivas. Os resultados deste
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
trabalho, demonstraram que Guarani,
selecionada na década de setenta com fins
específicos para uso industrial (Passos &
Camargo, 1993), mostrou-se a mais recomendada para uso na indústria, ressaltando a importância dos trabalhos de
melhoramento que, mesmo utilizando
métodos mais simples, foram bem sucedidos na seleção desta cultivar.
A produção de frutos do morangueiro apresentou variação significativa entre as cultivares, com comportamento
diferente em Atibaia e Piracicaba. Em
Atibaia a produção total de frutos não
apresentou variação significativa entre
as cultivares testadas, no entanto podemos citar os maiores valores numéricos
observados nas cultivares Guarani
(496,87 g/planta) e Campinas com uma
produção de 494,02 g/planta (Tabela 2).
Em Piracicaba, as cultivares Campinas
e AGF 080 apresentaram as maiores
produções totais de frutos (respectivamente 321,35 e 311,62 g/planta), seguidas de Dover e Guarani com valores de
produção respectivamente de 306,34 e
263,09 g/planta mas as diferenças obtidas entre estas quatro cultivares não foram significativas. A cultivar Princesa
Isabel apresentou a menor produção
(236,63 g/planta), diferindo significativamente de ‘Campinas’ e ‘AGF 080’
mas não diferindo significativamente de
‘Guarani’ e ‘Dover’ (Tabela 2).
Os resultados deste trabalho mostraram que a cultivar Dover atinge níveis
de produção elevados, semelhantes às
cultivares Campinas, AGF 080 e Guarani
que apresentaram produção alta já comprovada em condições experimentais e
em áreas de produção. Os resultados da
análise conjunta destacaram a cultivar
Princesa Isabel com a menor produção
(315,40 g/planta) e significativamente
diferente das demais (Tabela 2).
A produção total de frutos neste trabalho, em Atibaia, pode ser comparada
com outros experimentos com morango sob condições de manejo e clima semelhantes. Passos (1982) obteve em
Jundiaí (SP), respectivamente nos anos
de 1979 e 1980, 434,18 e 424,37 g/planta com a cultivar Campinas e 524,97 e
529,75 g/planta com a cultivar Guarani.
Tessarioli Neto (1982), em São Bento
do Sapucaí (SP) no ano de 1979, obteve
produções de 387,08 g/planta com a
cultivar Campinas e 520,67 g/planta
com Guarani. Tessarioli Neto (1993),
testou diversos tipos de cobertura de
solo em morangueiro na cultivar Campinas em Monte Alegre do Sul (SP) e
atingiu a produção de 494,74 g/planta
com a cobertura de plástico de
polietileno preto aplicado 21 dias após
o transplante das mudas. Os resultados
obtidos por estes autores foram concordantes com os deste trabalho. Passos
(1997), em Atibaia, com a cultivar Campinas, testou diversos sistemas de produção e na área com irrigação por aspersão e cobertura de solo com plástico
de polietileno preto, obteve produções
de 171 g/planta em 1994 e 277 g/planta
em 1995. No entanto, o autor comenta
que no ano de 1994 houve ocorrência
de geada prejudicando a produção precoce, e em 1995 o plantio ocorreu no
15
J. H. Conti et al.
dia 9 de junho, tardio para a região, o
que pode ter prejudicado a produção
total de frutos.
Analisando a produção pelo peso de
frutos produzidos mensalmente, para
todas as cultivares, notamos que em
Atibaia e em Piracicaba o pico na colheita deu-se nos meses de agosto e setembro, respectivamente (Figura 2).
Sendo, ainda, a produção média das cinco cultivares em Atibaia (468,30 g/planta) significativamente maior que em
Piracicaba (287,81 g/planta). Os resultados obtidos concordam com Tessarioli
Neto (1993) que obteve, na cultivar
Campinas, o pico de produção no mês
de setembro com 123,28 g/planta.
A produção precoce de frutos, ou
seja, aqueles produzidos nos meses de
abril, maio e junho é a mais valorizada
no Brasil e por esta razão, segundo Passos (1982), esta característica é muito
importante para a seleção de cultivares
nos trabalhos de melhoramento. De
acordo com os resultados obtidos (Figura 2), as cultivares analisadas foram
semelhantes quanto à produção precoce nos meses de maio, junho e julho, o
que já era esperado pois as cultivares
Campinas, Guarani e Princesa Isabel,
foram selecionadas pelo IAC para possuírem esta característica. A cultivar
Dover mostrou semelhança àqueles selecionados pelo IAC, podendo ter sido
a produção precoce um dos motivos que
o tornou de grande aceitação pelo produtor de morangos.
A cultivar Princesa Isabel foi aquela que apresentou o menor número de
frutos produzidos com valores significativamente inferiores das demais na
análise conjunta e na análise isolada do
experimento de Piracicaba. Em Atibaia,
o número de frutos produzidos pelas
cultivares Dover e Princesa Isabel não
diferiu estatisticamente, produzindo a
menor quantidade de frutos e diferindo
significativamente de Campinas, AGF
080 e Guarani (Tabela 2).
Os resultados obtidos com as cultivares Campinas e Guarani foram inferiores, porém muito próximos àqueles
citados por Tessarioli Neto (1993):
56,52 frutos/planta para a cultivar
Campinas e Tessarioli Neto (1982): 72,32
frutos/planta para Guarani, mas superiores para a cultivar Campinas, aos obtidos
por Tessarioli Neto (1982): 48,96 e por
16
Passos (1997): 23,22 frutos por planta.
O peso do fruto é uma das características de maior importância agronômica na produção comercial do morango
pois está diretamente relacionado ao tamanho do mesmo. Hortynski et al.
(1991) obtiveram uma correlação de
86,4% entre tamanho e peso de frutos.
Frutos grandes tornam o processo de
colheita e embalamento mais rápido
além da sua valorização pelo mercado
consumidor resultando em maiores
ganhos ao produtor.
Os resultados da análise conjunta e
do experimento de Piracicaba destacaram
as cultivares Princesa Isabel e Dover com
o maior peso médio dos frutos. Em seguida, Campinas e AGF 080 apresentaram peso médio dos frutos e a seguir a
cultivar Guarani com o menor peso médio dos frutos. No experimento de Atibaia
houve diferença em relação à cultivar
Dover que apresentou peso médio dos
frutos semelhante também às cultivares
Campinas e AGF 080 (Tabela 2).
Resultados semelhantes aos aqui
encontrados foram obtidos por outros
autores sob condições de manejo e clima parecidos. O peso médio dos frutos
no trabalho de Passos (1982) variou entre 9,34 g e 10,90 g para a cultivar Campinas e entre 7,50 g e 8,80 g para
Guarani, em experimento conduzido em
Jundiaí em 1979 pelo mesmo autor, respectivamente para frutos “3/4 maduros”
e “maduros”. Tessarioli Neto (1993)
chegou ao valor de 8,81 g para a cultivar Campinas e Tessarioli Neto (1982)
obteve o valor de 9,05 g para esta cultivar e 7,80 g para Guarani. Passos (1997)
em experimento realizado em 1994 em
Atibaia com a cultivar Campinas atingiu o valor de 6,12 g. Estes resultados
caracterizaram Dover e Princesa Isabel
como cultivares de frutos grandes, demonstrando que, assim como ‘Campinas’ e ‘AGF 080’ têm esta característica importante para o mercado de frutos
in natura.
Os dados de presença de “pescoço”,
produção, peso, teor de sólidos solúveis,
pH, cor interna expressa pelos componentes L* e c* e textura, expressa pela
força de resistência à compressão de
morangos, deram parâmetros importantes para determinar em cada cultivar,
isoladamente, a aptidão aos consumos
in natura e industrial e também para
analisar o desempenho produtivo e aspectos ligados à comercialização. As
cultivares Campinas e AGF 080, pelas
características do fruto de textura firme
a pouco firme, elevado teor de sólidos
solúveis e tamanho grande, expresso
pelo peso elevado, caracterizaram aptidão ao consumo “in natura”. Estas cultivares também apresentaram elevado
desempenho produtivo, no entanto, pela
textura dos frutos não são adequadas ao
transporte a longas distâncias. A cultivar Guarani, pelas características do fruto de presença de pescoço, pH ácido,
textura muito firme e cor interna vermelho intensa, demonstraram ter aptidão ao uso industrial. A textura muito
firme de seus frutos também a tornam
adequada ao transporte a longas distâncias. Esta cultivar também apresentou
elevado desempenho produtivo. A cultivar Dover apresentou elevada produção de frutos. Tem, também, frutos grandes, interessantes para o consumo in
natura. No entanto, as características de
pH ácido e teor baixo de sólidos solúveis o tornam inadequado ao consumo
in natura. Para uso industrial, esta cultivar apresenta características de interesse como frutos com pH ácido e textura firme, no entanto os frutos não têm
“pescoço” e a cor interna não é vermelho intensa o que o torna pouco apropriado ao uso industrial. Graças às características de textura firme esta cultivar
é adequada para o transporte a longas
distâncias. A cultivar Princesa Isabel,
pelas características de peso elevado de
frutos e pH pouco ácido, demonstrou
aptidão ao consumo in natura. A textura elevada de seus frutos é maior que a
das cultivares Campinas e AGF 080 o
que não prejudica a aceitação pelo consumidor e, por outro lado, é mais resistente ao transporte.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado
graças ao apoio da FAPESP, processo
96/1606-2, do CNPQ, dos Departamentos de Horticultura e Genética da
ESALQ/USP, das pesquisadoras Sonia
Dedeca S. Campos e Vera L. P. Ferreira,
do laboratório FEPISA do ITAL e do
produtor rural Claudemir Rodrigues
Spinassi de Atibaia (SP).
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Produção e qualidade de frutos de morango em ensaios conduzidos em Atibaia e Piracicaba.
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Ação de fitorreguladores no crescimento da erva-cidreira-brasileira.1
Mirian Baptista Stefanini2; Selma Dzimidas Rodrigues2; Lin Chau Ming3
UNESP-Instituto de Biociências – Depto. Botânica, C. Postal 510, 18.618-000, Botucatu-SP; 3UNESP-Faculdade de Ciências
Agronômicas – Depto. Horticultura, C. Postal.237, 18.603-970, Botucatu-SP.
2
RESUMO
ABSTRACT
Lippia alba, espécie brasileira da família Verbenaceae, é plantada e usada em todo o Brasil por suas atividades farmacológicas como
analgésica, antiespasmódica, calmante, sedativa e citostática. Popularmente a Lippia é denominada de alecrim, cidreira falsa ou falsa
melissa. O trabalho visou testar o efeito das aplicações de GA3,
ethephon e CCC sobre o crescimento de Lippia alba (Mill.) N.E.Br.
- Verbenaceae, em diferentes épocas do ano. O experimento foi instalado na Fazenda São Manuel, pertencente à UNESP em Botucatu,
de dezembro/95 a dezembro/96. O mesmo consistiu de sete tratamentos e três repetições em blocos inteiramente casualizados, com
os tratamentos aplicados nas parcelas e as colheitas nas subparcelas.
Os tratamentos incluíram o controle, ácido giberélico (GA3 50 e 100
mg.L-1), ácido 2-cloroetil-fosfônico (ethephon- 100 e 200 mg.L-1) e
cloreto de 2-cloroetil-trimetil amônio (CCC 1000 e 2000 mg.L-1).
Os reguladores vegetais foram aplicados em duas épocas, aos quarenta e cem dias da implantação do experimento no campo e o crescimento das plantas foi avaliado em seis épocas. Após a primeira
aplicação as plantas foram coletadas em intervalos de 14 dias. Os
fitorreguladores GA3, e CCC tenderam a elevar os resultados das
características, matéria seca de caule, folhas, flores e total, porém
sempre permaneceram menores ou iguais ao controle.
Action of plant growth regulators over the development of
Lippia alba.
Palavras-chave: Lippia alba, Verbenaceae , ácido giberélico,
ethephon, CCC, plantas medicinais.
Lippia alba, a Brazilian species, from the Verbenaceae family,
is planted and used throughout Brazil in traditional medicine such
as analgesic, calminative and sedative, using aqueous extract of
leaves. This study investigated the effect of GA3, ethephon and CCC
spray solutions on the growth of L. alba at different times of the
year. The experiment was carried out at São Manuel Experimental
Station from the Universidade Estadual Paulista in Botucatu, Brazil,
from December 1995 to December 1996. The experiment consisted
of 7 treatments with three replications in complete randomized blocks,
and the treatment was applied to the plots and at harvest time, to the
subplots. The treatments included control, giberellic acid (GA3 50
and 100 mg.L-1), 2-cloroetil-fosfonic acid (ethephon 100 and 200
mg.L-1) and 2-cloroetil-trimetil ammonium chloride (CCC- 1000 and
2000 mg.L-1). The vegetable regulators were applied at two different
periods, forty and a hundred days after establishment of the
experiment, and the growth of the plants was evaluated six times.
After the first application, the plants were collected at intervals of
14 days. Plant growth regulators GA3, and CCC tended to elevate
the results of the evaluated parameters (dry matter of stem, leaves,
flowers and total) but the results always stayed smaller or equal to
the control.
Keywords: Lippia alba, gibberellic acid, ethephon, CCC, medicinal
plants.
(Aceito para publicação em 7 de dezembro de 2.002)
L
ippia alba, espécie brasileira da família Verbenaceae, é plantada e usada em todo Brasil por sua propriedade
analgésica, antiespasmódica, calmante,
sedativa e citostática; seus efeitos
terapêuticos já foram comprovados cientificamente (Ming, 1992).
Popularmente a Lippia é denominada também de alecrim, alecrim do mato,
alecrim do campo, camará, capitão do
mato, cidrão, cidreira, cidreira brava,
capim cidreira, cidreira crespa, cidreira
falsa, cidreira melissa, erva cidreira,
erva cidreira do campo, erva-cidreirabrasileira, falsa melissa, salva do Bra-
sil, salva limão, e outras denominações
(Ming, 1992). A planta vegeta em solos
arenosos e nas margens dos rios, açudes, lagos e lagoas, em regiões de clima
tropical, sub-tropical e temperado.
Os esforços na busca de substâncias
ativas, que possam aumentar a produção de óleos essenciais são de grande importância, principalmente quando se considera a dependência da indústria farmacêutica nacional. A importação de matéria-prima nesta área
chega a 80%, o que representa uma
soma considerável de evasão de divisas para o país.
Segundo Scheffer (1992) poucas são
as informações disponíveis relativas ao
aspecto agronômico, havendo a necessidade de estudos que revelem o comportamento das espécies medicinais
quando submetidas às técnicas de produção sem afetar o valor terapêutico da
planta considerando-se o fato que os
princípios ativos podem sofrer alterações conforme as técnicas de cultivo
(Madueño Box, 1973). Em locais de diferentes características edafo-climáticas, possivelmente a produção de biomassa e os
teores de princípio ativo não serão os mesmos. Ter essas informações sistematizadas
1
Parte da Tese de doutorado da 1ª autora - Instituto de Biociências- Departamento de Botânica” - Universidade Estadual Paulista, UNESP, Botucatu - C.
Postal 510, 18.618- 000 Botucatu – SP.
18
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Ação de fitorreguladores no crescimento da erva-cidreira-brasileira.
é fundamental para uma boa estratégia
de produção.
No tocante a aspectos agronômicos,
de L. alba, muito pouco se tem estudado; não existem pesquisas e literatura
suficientes, havendo pois, necessidade
de se estabelecer técnicas apropriadas
de produção dessa planta a fim de possibilitar a produção de matéria prima
vegetal de boa qualidade, com maior
teor de óleo essencial.
Segundo Correa Júnior et al. (1992)
citado por Ming (1992), fatores de ordem genética ou endógena, são os que
dependem da carga genética de cada
planta, diferente para cada espécie e faz
com que cada espécie tenha uma composição química diferente. Fatores externos como temperatura, pluviosidade,
vento, solo, latitude e altitude também
interferem de forma significativa na elaboração dos metabólitos secundários.
Fatores técnicos, como forma de plantio, adubação, tratos culturais, época de
colheita também têm sua importância,
tanto na produção de biomassa como no
teor de princípios ativos.
Em se tratando de plantas medicinais, a preocupação não deve apenas
estar relacionada com a produção quantitativa de biomassa por hectare, mas
também com a riqueza dos princípios
ativos contidos. Por isso os diversos aspectos devem ser levados em conta para
que se possam produzir plantas medicinais em quantidades suficientes e com
qualidade necessária.
O uso de reguladores vegetais quando empregados no manejo da planta podem modificar seu comportamento, alterando não só a produtividade desta, como
o seu metabolismo secundário, obtendose às vezes um aumento do teor de óleo
essencial (Shukla & Farooqi, 1990).
Os efeitos das giberelinas aparecem
no crescimento (alongamento do caule),
comprimento dos internódios, área foliar
e acúmulo de matéria seca. Retardantes
de crescimento como o chlormequat,
ethrel, phosfon-D, alar, hidrazida maleica
e AMO-1618 estão sendo amplamente
usados para diminuir a altura das plantas, visando uma produção mais compacta com aumento de ramos, folhas verde
escuras e florescimento precoce.
Tratamentos com cycocel (CCC),
normalmente induzem ao nanismo em
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
plantas e esse efeito é maior com o aumento da concentração, pela inibição do
alongamento e divisão celular atuando;
O retardador como antigiberelinas também atua na formação de clorofila e,
portanto, na assimilação, produzindo
flores com raios maiores e resultando
em glândulas de óleo em maior número
ou mais longas.
Magalhães (1986) relata que a análise de crescimento descreve as condições morfofisiológicas da planta, em
diferentes intervalos de tempo, permitindo acompanhar a dinâmica da produtividade, avaliada através de parâmetros
fisiológicos e bioquímicos. Também
indica, que a análise de crescimento é
um método que pode ser utilizado para
investigação do efeito dos fenômenos
ecológicos sobre o crescimento, como
adaptabilidade das espécies em
ecossistemas diversos, efeitos de competição, diferenças genotípicas da capacidade produtiva e influência das práticas agronômicas sobre o crescimento. A
determinação da área foliar é importante, segundo este mesmo autor porque as
folhas são as principais responsáveis pela
captação de energia solar e pela produção de matéria orgânica, através da
fotossíntese. Se a superfície foliar é conhecida e a alteração da massa da planta,
durante certo período de tempo é calculada, torna-se possível avaliar a eficiência das folhas e sua contribuição para o
crescimento da planta como um todo.
Diante da escassez de estudos em
fisiologia de plantas medicinais no Brasil, o presente trabalho visou avaliar a
influência do GA3, ethephon e CCC nas
características biométricos e análise de
crescimento, de Lippia alba, nas diferentes estações do ano.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido na
fazenda experimental de São Manuel da
Faculdade de Ciências Agronômicas,
UNESP em Botucatu (SP)., cujo solo
está classificado como Latossolo Vermelho Amarelo, fase arenosa. A análise química do solo da área experimental, mostrou os seguintes resultados expressos por volume de terra fina seca
ao ar de acordo com Raij & Quaggio
(1983): pH em CaCl2=5,5; P disponível
=49,0mg/cm3; matéria orgânica =1,5%;
Al trocável= 1,7 Meq/dm3; K+=0,22
Meq/dm3; Ca2+=2,6 Meq/dm3; Mg2+=
0,9 Meq/dm3; SB= 3,7 Meq/dm3; CTC=
5,5 Meq/dm3 de terra e V= 47%.
A área foi arada, gradeada e recebeu calagem para se obter V = 67%
(conforme análise de solo), antes da
adubação de instalação de 60 g/m2 da
fórmula 4-14-8. Não foi realizada adubação em cobertura.
O experimento foi instalado no campo, de janeiro/96 a julho/96 e consistiu
de sete tratamentos com três repetições
no delineamento experimental de blocos casualizados com parcelas subdivididas, somando-se cinqüenta e duas
plantas por parcela, considerando-se as
bordaduras externas e as entre as
subparcelas. Das subparcelas doze plantas úteis foram utilizadas, sendo colhidas duas plantas de cada uma das seis
subparcelas, durante as seis coletas. As
bordaduras externas foram descartadas
e as internas (utilizadas para se evitar o
autossombreamento) também. Empregaram-se 21 parcelas de 7,20 x 2,40 m,
com espaçamento de 0,80 m entre linhas
e 0,60 m entre plantas. Entre parcelas o
espaçamento foi de 1,0 m e entre blocos, de 1,5 m. Os tratamentos foram:
GA3 (50 e 100 mg.L-1), ethephon (100 e
200 mg.L-1), CCC (1000 e 2000 mg.L-1)
e controle. Os tratamentos foram aplicados nas parcelas e as coletas foram
realizadas nas subparcelas. A escolha
destes fitoreguladores foi devido ao fato
de serem mais usados pelos produtores
e relativamente baratos, além de existirem vários trabalhos com os mesmos em
diversas plantas medicinais, mas nenhum empregando Lippia alba.
Foram realizadas duas aplicações
dos fitorreguladores, aos 40 (70 dias de
vida em bem estabelecidas, 100% de
pegamento) e aos 100 dias após a implantação do experimento no campo
(130 dias de ciclo de vida das plantas).
Nas duas épocas de aplicação as plantas encontravam-se na fase vegetativa e
de florescimento, respectivamente. Por
se tratar de planta com crescimento
indeterminado não há uma divisão nítida entre os ciclos vegetativo e
reprodutivo.
Trinta dias após a primeira aplicação dos reguladores iniciou-se as cole19
M.B. Stefanini, et al.
Tabela 1. Médias da área foliar (dm2), de duas plantas de Lippia alba (Mill.) N.E.Br. por coleta, submetidas aos tratamentos GA3, ethephon
e CCC em mg.L-1 nas seis épocas de coletas. Botucatu, UNESP-FCA, 1997.
Coletas
pós-plantio
Coleta1-14d.
Coleta2-28d.
Coleta3-42d.
Coleta4-56d.
Coleta5-70d.
Coleta6-84d
C.V. (a) %
GAs 50
23,38 c
29,29 bc
40,61 b
41,46 b
60,82 a
60,53 a
67,3
GA3100
22,96c
35,56c
56,09b
61,32b
81,97 a
83,95 a
Ethep100
22,30 d
38,42 c
59,28 b
48,97 bc
61,97b
98,61a
Tratamentos
Ethep200
CCC 1000
17,58 c
35,04 d
24,87 c
58,22 bc
50,37 b
69,23 b
52,56 b
60,08 b
45,03 bc
94,90 a
98,61 a
86,12 a
C.V. (b)% 28,1
CCC 2000
25,42 d
33,68 d
50,39 c
57,94 bc
74,55 a
70,91 ab
Test.
30,05 d
51,49 c
59,74 bc
69,47 b
65,91 b
118,58 a
*Coletas realizadas de 14 em 14 dias, após 100 dias de plantio
*/Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem significativamente entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.
tas, que foram realizadas de 14 em 14
dias até 42 dias após a última aplicação,
para que houvesse tempo de se completar as quatro estações do ano. Foram
coletadas duas plantas por subparcela de
cada tratamento e levadas ao laboratório, onde procedeu-se a determinação da
área foliar e em seguida as plantas foram separadas em caule, folhas e flores,
acondicionadas em sacos de papel,
etiquetadas pesadas e levadas à estufa
com circulação forçada de ar e temperatura entre 40-50ºC até obtenção da
massa seca constante.
Para a determinação da área foliar
foi utilizado o aparelho digital
Automatic Área Meter - Model AAM 7 - da HAYASHI DENKOH CO. LTD TOKYO JAPAN. Esta medida foi expressa como a média das áreas de todas
as folhas das duas plantas em dm2.
Os resultados obtidos foram submetidas à análise de variância (teste F) e
também análise de variância, aplicando-se o teste de Tukey no nível de 5%
de probabilidade para comparação das
médias. Os tratamentos estatísticos
adotados, seguiram as recomendações
de Banzatto & Kronka (1989).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Área foliar
Houve influência significativa apenas para a época de coleta. Ocorreu aumento constante da área foliar do início
ao final do ciclo, provavelmente devido
ao próprio desenvolvimento fisiológico
da planta (Tabela 1). Durante um período de tempo experimental semelhante
20
ao do presente experimento, Stefanini
(1992), relatou que a aplicação de GA3
foi efetiva na promoção do crescimento
de estévia. Em plantas de manjericão
(Ocimum basilicum L.) El-Sahhar et al.
(1984) obtiveram aumento da área foliar
(51%) e do número de folhas por planta
(90,14%) com a aplicação de GA3 90
ppm. O mesmo ocorreu no trabalho de
Ansari et al. (1988) que reportaram que
GA3 (50 ppm) aumentou o comprimento, largura e peso seco das folhas de
Cymbopogon jwarancusa (Schult), bem
como, a porcentagem de rendimento do
óleo e dos seus constituintes principais.
Os mesmos resultados foram obtidos
por Sharma et al. (1988), porém em concentração de 200 ppm de GA3 Em outro trabalho plantas de manjericão tratadas com GA3 aumentaram o número
total de folhas frescas (68,82%), a área
foliar (84,59%), massa de matéria fresca da planta (85,85%) e a porcentagem
seca (82,84%), sendo que a melhor concentração foi 100 ppm (Shedeed et
al.,1990).
Umesha et al. (1991), em plantas de
Ocimum gratissimum L., também observaram que GA3 influenciou a altura da
planta, comprimento internodal, área
foliar e acúmulo de massa seca quando
comparados com o controle; também o
rendimento foliar foi significativamente influenciado, obtendo valores máximos com GA3 a 50 ppm. Entretanto, em
plantas tratadas com CCC, essas medidas foram reduzidas quando comparadas com o controle.
Em plantas de manjerona (Majorana
hortensis Moench.) Vasundhara et al.
(1992), revelaram que plantas tratadas
com GA3 mostraram aumento no número de ramos, altura e expansão de toda a
planta; no entanto, o cycocel (CCC) teve
efeito negativo sobre todos esses
parâmetros.
Mencionando aumento no número
de folhas em Mentha piperita e Mentha
crispa, sob condições de campo com
aplicação de ethephon, El-Keltawi &
Croteau (1986) relatam ainda uma severa parada no crescimento na concentração de 1000 ppm e redução no tamanho das folhas de 50%. Ainda os mesmos autores, observaram que houve redução no tamanho das folhas de sálvia
(cerca de 60%) também na mesma concentração de 1000 ppm de ethephon,
ambas comparadas com o controle. Porém, o número de folhas foi quase o
dobro nas concentrações de 500 e 1000
ppm, devido ao aumento da ramificação lateral.
Portanto, a partir dos autores referidos, percebe-se que a maioria deles obteve em plantas medicinais aumento no
número e/ou na massa seca de folhas e
de ramos principais como efeito do GA3.
Dessa forma, os resultados obtidos neste trabalho não estão concordes com a
literatura, ou seja, não houve efeitos de
tratamentos nessa medida biométrica.
Ao se considerar o CCC, habitualmente observa-se na literatura, relatos
de extensão na área foliar em plantas
medicinais, talvez devido ao seu efeito
na formação de clorofila e sua influência no número de ramos principais que
aumentam de forma inversamente proporcional à concentração de CCC. Este
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Ação de fitorreguladores no crescimento da erva-cidreira-brasileira.
Tabela 2. Médias da massa seca de caule (g ), de duas plantas de Lippia alba (Mill.) N.E.Br. por coleta, submetidas aos tratamentos GA3,
ethephon e CCC em mg.L-1 nas seis épocas de coletas. Botucatu, UNESP-FCA, 1997.
Coletas
pós-plantio
Coleta1-14d.
Coleta2-28d.
Coleta3-42d.
Coleta4-56d.
Coleta5-70d.
Coleta6-84d
C.V. (a) %
GAs 50
30,12 e
38,32 de
53,83 cd
63,27 bc
91,75 a
85,10 ab
76,5
GA3100
28,58 d
46,98 d
70,63 c
98,92 b
143,40 a
153,78 a
Tratamentos
Ethep100
Ethep200
29,52 c
19,52 d
44,02 c
30,18 d
82,47 b
66,25 c
85,25 b
89,63 b
96,42 ab
65,23 c
114,12 a
135,00 a
C.V. (b)% 31
CCC 1000
49,95 c
63,93 c
100,63 b
111,67 b
144,03 a
136,47 a
CCC 2000
30,60 e
49,48 de
66,18 cd
90,57 ab
98,68 a
73,02 bc
Test.
37,51 d
63,65 c
83,00 c
131,67 ab
105,63 b
140,13 a
*Coletas realizadas de 14 em 14 dias, após 100 dias de plantio .
*/Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem significativamente entre si a 5%
de probabilidade pelo teste de Tukey
Tabela 3. Médias da massa seca de folhas (g), de duas plantas de Lippia alba (Mill.) N.E.Br. por coleta, submetidas aos tratamentos
GA3,Ethephon e CCC em mg.L-1 nas seis épocas de coletas. Botucatu, UNESP-FCA, 1997.
Coletas
pós-plantio
Coleta1-14d.
Coleta2-28d.
Coleta3-42d.
Coleta4-56d.
Coleta5-70d.
Coleta6-84d
C.V. (a) %
GAs 50
15,43 c
19,10 bc
25,03 b
26,22 b
38,70 a
39,15 a
66,7
GA3100
15,48 c
21,12 c
34,52 b
37,89 b
51,80 a
53,27 a
Tratamentos
Ethep100
Ethep200
CCC 1000
15,58 c
10,98 c
26,05 d
21,08 c
16,62 c
31,63 cd
36,43 b
30,17 b
42,68 b
30,89 b
33,21 b
38,05 bc
39,52 b
28,80 b
60,20 a
62,35 a
62,33 a
54,63 a
C.V. (b)% 31,0
CCC 2000
18,35 e
24,73 de
31,52 cd
36,66 bc
47,55 a
45,38 ab
Test.
19,20 d
28,70 c
37,18 bc
43,46 b
41,50 b
74,58 a
*Coletas realizadas de 14 em 14 dias, após 100 dias de plantio.
*/Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem significativamente entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey
fato pode ser devido à supressão da
dominância apical, assim como da ramificação lateral que é induzida por concentrações baixas de CCC. No presente
trabalho, o CCC não influenciou no
aumento da área foliar quando comparado aos outros tratamentos (Tabela 1).
Entretanto, a literatura para outras plantas preconiza que o CCC diminui a
elongação, pois, diminui a produção de
citocinina, diminuindo a divisão celular; impede a síntese de giberelina e aumenta a resistência à seca. Assim, podese inferir que o genótipo influencia enormemente os resultados em plantas de
plasticidade fenotípica tão alta.
Massa seca de caule
Ocorreu um aumento contínuo da
massa seca de caule da primeira à ultima coleta, onde infere-se que se trata
do ganho natural de massa durante o
desenvolvimento fisiológico, e que as
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
concentrações dos reguladores utilizados neste trabalho, não foram eficientes
para que ocorresse algum efeito (Tabela 2), ao contrário do trabalho de Eid &
Abmed (1976) que constataram que o
CCC aumentou e que GA3 diminuiu a
massa seca de plantas de manjericão
(na concentração de GA3 200 ppm); citam alguns autores como, Guilot &
Gattefosse (1961), que observaram aumento em altura de Mentha viridis e
Mentha crispa; Mei-Shuwu et al.(1964)
que verificaram que GA3 aumentou a
altura de Mentha arvensis e Czabajska
& Uranowa (1965), que encontraram ser
GA 3 um promotor da altura de
Matricaria chamomilla.
Os resultados obtidos considerando GA3, CCC e ethephon não foram
satisfatórios, ou seja, não geraram grandes incrementos de massa seca em relação à testemunha. Dessa forma, se o
escopo de um trabalho for obter aumento
de massa seca de caule, a aplicação de
GA3, CCC e ethephon terá efeito dependendo da cultura considerada e das concentrações utilizadas.
Massa seca de folhas
Novamente só ocorreu efeito significativo para as médias das coletas, que
aumentaram da primeira à última, conforme avançou o crescimento vegetativo
da Lippia (Tabela 3). Porém estes resultados não concordam com Haikal &
Badr (1982) que relataram aumento na
altura de plantas de camomila com GA3.
O número de ramos principais aumentou tanto nos tratamentos com GA3 (200;
300; 400 e 500 ppm), exceto no GA3 100
ppm, como nos tratamentos com CCC
(500; 1000; 1500; 2000 e 2500 ppm).
Bhatnagar & Ansari (1988) também relataram que o ácido giberélico aumentou a massa fresca de folhas em
21
M.B. Stefanini, et al.
Tabela 4. Médias da massa seca de flores (g), de duas plantas de Lippia alba (Mill.) N.E.Br. por coleta, submetidas aos tratamentos GA3,
ethephon e CCC em mg.L-1 nas seis épocas de coletas. Botucatu, UNESP-FCA, 1997.
Coletas
pós-plantio
Coleta1-14d.
Coleta2-28d.
Coleta3-42d.
Coleta4-56d.
Coleta5-70d.
Coleta6-84d
C.V. (a) %
GAs 50
1,70 c
2,33 c
3,02 bc
4,60 b
8,45 a
8,67 a
68,3
GA3100
1,90 d
2,90 cd
3,95 c
7,35 b
11,98 a
12,22 a
Tratamentos
Ethep100
Ethep200
CCC 1000
1,62 c
0,87 d
3,87 d
2,85 c
2,17 cd
6,03 c
6,02 b
3,60 bc
6,07 c
5,75 b
6,22 a
7,45 c
7,97 a
4,22 b
11,55 b
8,52 a
7,42 a
13,80 a
C.V. (b)% 30,4
CCC 2000
2,77 d
4,53 bc
3,78 cd
5,72 b
9,35 a
9,83 a
Test.
1,47 d
4,97 c
4,62 c
9,15 b
9,82 b
14,60 a
* Coletas realizadas de 14 em 14 dias, após 100 dias de plantio.
*/Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem significativamente entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.
Cymbopogon citratus e Cymbopogon
jawarancusa (Scult). O mesmo ocorreu
em plantas de Ruta graveolens L., onde
a melhor concentração para esses efeitos foi 100 ppm de GA3. O cycocel aumentou o número de folhas e ramos bem
como a massa fresca e seca de folhas,
nas concentrações de 500 e 1000 ppm
(El-Khateeb et al., 1991).
Em concentrações de 500; 1000 e
2000 ppm de CCC, Ellabban (1978),
relatou que, em plantas de Cymbopogon
citratus, houve diminuição significativa da massa seca de folhas. Entretanto,
El-Keltawi & Croteau (1986b) citam
que, cycocel 250 ppm estimulou o crescimento de hortelã, e aplicações de
cycocel 2000 ppm em sálvia, reduziu
seu peso de matéria fresca a 50%.
Aplicações de ethephon em hortelã
(Mentha piperita), provocaram parada
de crescimento e notável redução no tamanho das folhas (50%) na concentração 125 ppm; no entanto, com 500 ppm
o número de folhas dobrou (El-Keltawi
& Croteau,1986a). Ethephon induziu redução na massa seca de folhas no presente experimento, no entanto, este fato
se deve talvez à dosagem utilizada (100
e 200 mg.L-1), bem abaixo da máxima
utilizada pelo autor acima. Assim, os
resultados obtidos não concordam
com a literatura, pois, CCC, GA3 (dependendo da concentração) e ethephon
podem levar a um certo aumento da
massa seca de folhas, dependendo da
planta considerada.
Massa seca de flores
Como as demais características houve efeito significativo somente entre as
22
épocas de coleta, mais uma vez permitindo concluir que as dosagens utilizadas para esta planta não foram as mais
apropriadas. Ocorreu aumento constante
deste índice da primeira até a ultima
coleta (Tabela 4). Ao contrário do presente trabalho, o número de capítulos
por planta, diâmetro e o peso fresco de
100 capítulos de camomila (Matricaria
chamomilla) aumentaram em todos os
tratamentos com GA3 (100; 200; 300;
400 e 500 ppm) e com CCC (500; 1000;
1500; 2000 e 2500 ppm), relatam Haikal
& Badr (1982). Tais resultados, de acordo com os autores são devidos à natureza das plantas e à concentração específica que induziu ao estímulo da
fotossíntese (especialmente o aumento
de a-amilase), a qual aumentou a concentração de açúcar, elevando a pressão
osmótica e permitindo a entrada de água
dentro da célula, tendendo a estendê-la
e alongá-la. Plantas de manjerona tratadas com CCC floresceram precocemente, enquanto no caso de GA3 floresceram tardiamente. O florescimento tardio observado em GA3 pode ser devido
ao crescimento vegetativo prolongado
causado pelo regulador vegetal
(Vasundhara et al.,1992). No presente
trabalho, novamente não se recomendaria a aplicação dos fitorreguladores nas
dosagens utilizadas em Lippia alba para
produção de flores, baseado nos resultados da análise de variância. Na literatura encontra-se imensa gama de resultados, ou seja, dependendo do gênero
considerado, GA ou CCC podem tornar
precoce ou tardia a floração, mas geralmente levam ao aumento da massa seca
de flores; o etileno retarda a florada mas
aumenta esta medida.
Massa seca total
Também para esta característica
houve efeito somente das coletas, e notase um aumento contínuo da massa seca
total da primeira à ultima coleta, talvez
pelos mesmos motivos já citados para
as outras características avaliadas (Tabela 5). Novamente este resultado discorda da maioria dos trabalhos envolvendo o uso de reguladores, já que o
ácido giberélico (10; 50 e 100 ppm),
permitiu taxa máxima de crescimento
em extensão e acúmulo de peso seco em
Cymbopogon winterianus jowitt (Nandi
& Chatterjee ,1987); o peso das plantas
de Rosmarinus officinalis L., com GA3
(50; 100 e 200 ppm) aumentou de maneira relevante, bem como a altura e o
número de ramos por planta (ElKhateeb, 1989 ) e Kaul & Kapoor
(1966), citados por Shedeed et al.
(1990), apontaram que soluções de GA3
nas concentrações de 10-200 ppm, induziram aumento de 30-50% no rendimento total de plantas de Mentha
arvensis e Shedeed et al. (1990), mostraram que aplicações de GA 3 em
Ocimum basilicum L., aumentou a massa fresca das plantas e a massa seca, sendo 100 ppm a melhor concentração.
Pela literatura percebe-se que o ácido giberélico pode aumentar ou diminuir a massa seca total da planta, embora geralmente a aumente e que o CCC
pode afetar ou não tal medida, embora
usualmente a reduza. Não se pode inferir sobre a ação do etileno, mas como
este hormônio restringe a área foliar, a
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Ação de fitorreguladores no crescimento da erva-cidreira-brasileira.
Tabela 5. Médias da massa seca total (g), de duas plantas de Lippia alba (Mill.) N.E.Br.por coleta, submetidas aos tratamentos GA3,
ethephon e CCC em mg.L1 nas seis épocas de coletas. Botucatu, UNESP-FCA, 1997.
Coletas
pós-plantio
Coleta1-14d.
Coleta2-28d.
Coleta3-42d.
Coleta4-56d.
Coleta5-70d.
Coleta6-84d
C.V. (a) %
GAs 50
47,25 d
59,75 c
82,05 bc
94,09 b
138,90 a
132,92 a
68,3
GA3100
45,97 d
71,00 d
109,26 c
144,15 b
207,18 a
219,27 a
Tratamentos
Ethep100
Ethep200
CCC 1000
46,72 d
31,37 d
79,87 c
67,95 d
48,97 d
101,60 c
124,86 bc
100,02 bc
149,38 b
121,90 bc
129,06 b
157,17 b
143,90 b
92,85 c
215,78 a
184,98 a
204,75 a
204,90 a
C.V. (b)% 30,4
CCC 2000
51,72 d
78,75 cd
101,48 bc
132,94 a
155,31 a
128,23 ab
Test.
55,63 d
97,32 c
121,84 c
184,28 b
182,83 b
229,32 a
*Coletas realizadas de 14 em 14 dias, após 100 dias de plantio.
*/Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem significativamente entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey
massa seca de caules e folhas e aumente o de flores, podendo diminuir seu
número, deduz-se que diminua o valor
dessa característica. Os resultados obtidos neste experimento estão de certa
forma de acordo com a literatura quanto aos efeitos do GA3, porém, discordam com esta quanto aos efeitos do
ethephon e do CCC, pois após a aplicação destes as plantas continuaram crescendo contradizendo a literatura.
Os resultados do presente trabalho
são controversos com a literatura, o que
pode ser explicado pelo fato da planta
utilizada ser bastante rústica e não domesticada. Isto se confirma pelos altos
índices do coeficiente de variação. Crescendo espontaneamente no país todo, a
Lippia é ainda pouco estudada quanto à
sua morfologia, taxonomia, quanto à sua
fisiologia e principalmente no que se
refere a uma padronização genética para
que se desenvolvam no campo plantas
de crescimento e desenvolvimento semelhantes.
Por se tratar de um trabalho inédito
com aplicação de fitorreguladores em
uma planta medicinal de origem brasileira, partiu-se de concentrações utilizadas para outras plantas medicinais,
principalmente de outros países que não
foram as mais adequadas para esta planta. Faz-se necessário, desenvolver outros trabalhos, considerando outras concentrações de fitorreguladores e as influências das condições edafo-climáticas em que a planta se encontra.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
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23
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soluções nutritivas. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, n. 1, p. 24-27, março 2.002.
Acumulação de matéria seca e rendimento de frutos de morangueiro
cultivado em substrato com diferentes soluções nutritivas.
Jerônimo L. Andriolo; Jorge V. Bonini1 ; Moisés P. Boemo2
UFSM-CCR-Depto. de Fitotecnia, 97.105-900, Santa Maria-RS. E-mail: [email protected].
RESUMO
ABSTRACT
O trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de cinco soluções
nutritivas sobre o crescimento da planta e rendimento de frutos do
morangueiro, cv. Dover, cultivado em substrato e com fertirrigação.
Os experimentos foram feitos no Departamento de Fitotecnia da
UFSM, em Santa Maria, RS, nos anos de 1998 e 1999, no interior de
um túnel alto de polietileno. As plantas foram cultivadas em sacolas
plásticas contendo 3,5 L de substrato por planta, na densidade de 6,6
plantas/m2. A dose de referência, em g/planta/semana, foi de 0,235
de KNO3; 0,365 de Ca(NO3)2; 0,167 de MgSO4; 0,087 de superfosfato
simples, complementada por 0,008 mL de ferro quelatizado (5%
Fe) e 0,038 mL de uma solução contendo os demais micronutrientes.
Em 1998, o tratamento inferior (T1) foi igual à dose de referência,
enquanto T2 e T3 corresponderam às quantidades de T1 multiplicadas por dois e três, respectivamente. Em 1999, a dose inferior (T4)
foi igual ao tratamento T3 do ano anterior, enquanto T5 e T6
corresponderam às quantidades de T3 multiplicadas por 1,50 e 2,25,
respectivamente. Cada um dos três tratamentos foi aplicado via da
fertirrigação, em intervalos regulares de uma semana, a uma fileira
distinta com 60 plantas. No período entre a oitava e a vigésima semana após o transplante, foi determinada a acumulação de matéria
seca da parte aérea da planta, em intervalos de 21 dias, e a matéria
fresca acumulada de frutos colhidos maduros, nos dois experimentos. Os resultados indicaram as quantidades, em g/planta, de 1,06 de
KNO3; 1,64 de Ca(NO3)2; 0,75 de MgSO4; 0,40 de superfosfato simples, complementada por 0,036 mL de ferro quelatizado (5% Fe) e
0,17 mL da solução contendo os demais micronutrientes, como a
dose semanal a ser empregada para atingir o rendimento máximo de
frutos do morangueiro cultivado em substrato.
Dry matter accumulation and fruit yield of strawberry plants
grown on substrate under different nutrient solutions supply.
Palavras-chave: Fragaria x ananassa, crescimento, rendimento,
fertirrigação.
The effect of five nutrient solutions was evaluated on growth
and fruit yield of strawberry plants, cv. Dover, grown in a substrate
with fertigation. Experiments were carried out in Santa Maria,
Brazil, during 1988 and 1999, in a polyethylene tunnel. Plants were
cultivated in bags filled with 3.5 L of a commercial substrate
mixture, in a plant density of 6.6 plants/m2. The reference doses
for the different nutrients, in g/plant/week, was 0.235 KNO3; 0.365
Ca(NO3) 2; 0.167 MgSO 4; 0.087 superphosphate (20% P 2O 5),
complemented with 0.008 mL of an iron chelate (5% Fe) and 0.038
mL of a mixture with remaining micronutrients. In 1998, the low
treatment (T1) was the reference dose, and the amount of nutrients
in T2 and T3 were multiplied by a factor of two and three
respectively. In 1999, the low doses (T4) corresponded to the
amount of nutrients used in the T3 treatment in 1998, and the
quantities of nutrients used in T5 and T6 were multiplied by a factor
of 1.50 and 2.25, respectively. Nutrient solutions were supplied by
fertigation at weekly intervals in separated rows, with 60 plants
each. In the period between the 8 th and the 20 th week after
transplanting, the accumulation of plant dry matter in above ground
portion was determined at 21-day intervals. Ripe fruits were
harvested and accumulated fruit fresh weight was recorded.
Maximum fruit yield was obtained with 1.06 g KNO3, 1.64 g
Ca(NO3)2; 0.75 MgSO4; 0.40 superphosphate (20% P2O5), 0.036
mL of iron chelate (5% Fe) and 0.17 mL of the micronutrient
mixture per plant as weekly basis.
Keywords: Fragaria x ananassa, growth, yield, fertigation.
(Aceito para publicação em 12 de novembro de 2001)
O
cultivo do morangueiro (Fragaria
x ananassa) é uma atividade econômica de importância em muitas regiões
do Brasil, destacando-se os Estados de
São Paulo e Rio Grande do Sul como
os maiores produtores nacionais
(Groppo et al., 1997). Um dos problemas atuais de maior gravidade que afeta essa cultura é a alta incidência de mo1
2.
léstias, tanto da parte aérea como do sistema radicular. Aquelas que atacam o
sistema radicular são responsáveis por
elevada mortalidade de plantas nas lavouras, que é agravada pelo cultivo sucessivo durante vários anos na mesma
área, geralmente em pequenas propriedades. A conseqüência final dessa situação é o baixo rendimento de frutos da
cultura, cuja produtividade média no
Estado do Rio Grande do Sul se situa
em torno de 500 gramas/planta, o que
está muito abaixo do potencial de produção, superior a 700 gramas/planta em
um único ciclo de produção (Hennion
& Veschambre, 1997) A elevada incidência de moléstias da parte aérea da
planta exige a aplicação freqüente de
Bolsista de Iniciação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do RS, FAPERGS, no ano de 1998.
Bolsista de Iniciação Científica do Programa PIBIC-CNPq, no ano de 1999.
24
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Acumulação de matéria seca e rendimento de frutos de morangueiro cultivado em substrato com diferentes soluções nutritivas.
fungicidas para o seu controle. A observância dos períodos de carência dos
agrotóxicos é difícil de ser realizada
durante o período de produção de frutos, pois as colheitas são efetuadas em
intervalos
de
poucos
dias.
Consequentemente, o consumo do morango pela população brasileira está
aquém das potencialidades devido à falta de confiança do consumidor em relação aos teores residuais de agrotóxicos
presentes nos frutos.
Uma das alternativas tecnológicas
para evitar as moléstias radiculares e
reduzir a incidência daquelas que atacam a parte aérea da planta é o cultivo
em ambiente protegido e sobre
substratos estéreis. Nesse sistema de
cultivo, o fornecimento de água e
nutrientes pode ser melhor ajustado às
necessidades da planta, reduzindo-se as
perdas por excessos. O potencial de
inóculo das principais moléstias pode
ser diminuído mediante a cobertura total do solo com filme de polietileno
(mulching), combinada com a
desinfestação sistemática dos materiais
estruturais do ambiente protegido antes
de cada ciclo de produção. Outra vantagem do método é a possibilidade de cultivar as plantas sobre estrados, a uma
altura aproximada de um metro acima
do nível do solo, facilitando as operações de manejo e de colheita dos frutos
(FAO, 1990).
No cultivo em substratos, os nutrientes devem ser fornecidos às plantas
através de uma solução nutritiva completa, via fertirrigação, obedecendo a
uma determinada proporção entre os nutrientes que a compõem. Os resultados
sobre a extração de nutrientes pela cultura do morangueiro encontrados na literatura consultada variam entre os autores (Branzanti, 1985; Ulrich et al.,
1992; Castellane, 1993; Hennion &
Veschambre, 1997; Archbold &
Mackown, 1995). Os dados existentes
são valores totais obtidos durante o ciclo de produção de cultivares predeterminadas e relativos aos níveis de produtividade específicos. Resultados sobre a extração máxima de
macronutrientes obtidos por Souza et al.
(1976) e citados por Castellane (1993)
apontam valores da ordem de 1,33; 0,23;
1,36; 0,73; 0,25 e 0,20 g/planta de N, P,
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
K, Ca, Mg e S para a cultivar de morangueiro Monte Alegre e de 1,61; 0,36;
1,87; 0,73; 0,30 e 0,21 g/planta, para a
cultivar Campinas. Para a cultivar
Gariguette, na França, Hennion &
Veschambre (1997) citam valores de
3,0; 0,80; 3,66; 1,25 e 0,54 g/planta para
o N, P, K, Ca e Mg, respectivamente.
Quando o cultivo é realizado fora do solo,
a nutrição mineral deve ser planejada de
forma a ajustar a oferta de nutrientes de
acordo com a demanda da planta no decorrer do seu ciclo de produção, através
de modelos que levem em conta a acumulação de matéria seca pela cultura
(Justes et al., 1995; Le Bot et al., 1998).
O presente trabalho teve por objetivo comparar o efeito de diferentes soluções nutritivas sobre o crescimento e o
rendimento de frutos do morangueiro
cultivado em substrato e inferir sobre a
dosagem semanal a ser empregada para
maximizar o rendimento de frutos dessa cultura.
MATERIAL E MÉTODOS
Dois experimentos foram conduzidos
na Universidade Federal de Santa Maria
–(RS) em 1998 e 1999, no interior de um
túnel semicircular de polietileno (5 m de
largura e 20 m de comprimento), com o
morangueiro Dover. As mudas foram
implantadas em sacolas de polietileno,
contendo 3,5 L do substrato comercial
Plantmax Folhosas, arranjadas no interior
do túnel em dez fileiras, com 60 plantas em cada fileira, em uma distância de
0,50 m entre fileiras e 0,30 m entre as
sacolas.
Os tratamentos consistiram de cinco soluções nutritivas, com base em uma
solução de referência (T1), obtida a partir daquela recomendada para a cultura
do tomateiro por Jeannequin (1987), a
qual foi transformada em quantidades
semanais de nutrientes fornecidos através da fertirrigação (Andriolo et al.,
1997; Andriolo & Poerschke, 1997). As
quantidades previstas para o tomateiro
foram ajustadas para o morangueiro
através de uma relação de
proporcionalidade entre a matéria seca
total das plantas das duas culturas no
estádio adulto As quantidades de fertilizantes aplicadas pela solução de referência foram, em g/planta: 0,235 de
KNO3; 0,365 de Ca(NO3)2; 0,167 de
MgSO4; 0,087 de superfosfato simples,
complementadas por 0,008 mL de ferro
quelatizado (5% Fe) e 0,038 mL de uma
solução contendo os demais
micronutrientes, em mmol/L-1: 0,4 de
(NH4)6Mo7O24.4H2O; 243 de H3BO3; 10
de CuSO4.5H2O; 90 de MnSO4.4H2O e
35 de ZnSO4.7H2O (Jeannequin, 1987).
As outras soluções foram fixadas em
doses múltiplas da solução de referência, mantendo-se inalteradas as proporções entre os nutrientes. No ano de 1998,
as quantidades de nutrientes nos tratamentos T2 e T3 corresponderam às
quantidades de T1 multiplicadas por dois
e três, respectivamente. No ano de 1999,
também foram comparadas três doses,
sendo a menor (T4) igual àquela do tratamento T3 do ano anterior, enquanto
os tratamentos T5 e T6 corresponderam
às quantidades de T3 multiplicadas por
1,50 e 2,25, respectivamente. Para efetuar a aplicação dessas doses, as respectivas quantidades de fertilizantes previstas para cada planta foram dissolvidas
em um volume eqüivalente a um litro
de água por planta. Para fins de arranjo
experimental, nos dois anos foi empregado o delineamento inteiramente
casualizado, com três tratamentos e quatro repetições.
Sobre cada sacola foi instalada uma
mangueira de irrigação por gotejamento,
com apenas um gotejador em cada sacola. O volume de água retido pelo
substrato em cada sacola na capacidade
máxima de retenção foi de 1,98 L, medido antes de iniciar os experimentos.
Essa característica física foi determinada pela diferença entre a massa úmida e
seca de cinco amostras de material com
volume seco igual a um litro. Para determinar a massa úmida, o material foi
previamente hidratado até a saturação e
deixado em drenagem livre por um período de 12 horas, à sombra (Andriolo
& Poerschke, 1997). As mudas foram
transplantadas para as sacolas nos dias
22 e 26 do mês de abril, respectivamente, em 1998 e 1999. Até o final dos experimentos, uma dose de cada uma das
soluções nutritivas foi fornecida às plantas em intervalos regulares de uma semana, pela fertirrigação. As irrigações
foram feitas sempre que necessárias para
repor os volumes perdidos pela
transpiração.
25
J. Andriolo et al.
Quatro plantas competitivas dentro
de cada fileira foram coletadas em intervalos regulares de 21 dias, entre a
oitava e a vigésima semana após o transplante, totalizando cinco coletas. A matéria seca das folhas, dos caules (incluindo pecíolos, pedúnculos e rizomas) e dos
frutos foi determinada após secagem
em estufa de circulação de ar forçado,
na temperatura de 60ºC, até massa constante. Em cada fileira, foram selecionados na oitava semana, quatro grupos de
cinco plantas, empregadas para determinar a produção de matéria fresca de
frutos colhidos maduros duas vezes por
semana ao longo do período experimental. Os resultados referentes à ultima
coleta de matéria seca das plantas e de
produção de matéria fresca de frutos
foram submetidos à análise da variância
e as médias em cada experimento testadas pelo teste de Duncan, até 5% de probabilidade.
Durante o período de duração de
cada um dos experimentos, o manejo do
ambiente do túnel foi efetuado apenas
por ventilação natural, mediante o
soerguimento diário de cada uma das
extremidades laterais do filme de
polietileno em aproximadamente um
metro, entre as 9:00 h e 15:00 h. Foram
feitas aplicações semanais de fungicidas
para o controle preventivo das moléstias
da parte aérea das plantas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A acumulação de matéria seca nas
folhas, caule e frutos no ano de 1998 foi
crescente entre a oitava e a décima sétima após o transplante, para os três compartimentos citados (Figura 1). Da décima semana até o final do período, o
caule mostrou estagnação do crescimento nas duas doses inferiores (Tabela 1).
As quantidades de matéria seca medidas nas plantas que receberam a dose
T3 diferiram significativamente das demais na última coleta efetuada. A maior
resposta aos nutrientes foi observada
nas folhas, com incremento de matéria
seca de 34% quando a dose passou de
T2 para T3. No mesmo período e tratamentos, o incremento observado no caule foi de 22% e nos frutos de 20%. A
dinâmica do crescimento medido no ano
de 1999 foi distinta, com redução do
26
Figura 1. Matéria seca de folhas (A,B), caule (C,D) e frutos (E,F) de plantas de morangueiro, cv. Dover, cultivadas em substrato com diferentes soluções nutritivas, nos anos de 1998
(A, C, E) e 1999 (B, D, F). Santa Maria, UFSM, 1998/99.
crescimento do caule e principalmente
dos frutos, após a décima quarta semana do transplante (Figura 1). As três soluções nutritivas fornecidas nesse ano
não induziram efeito significativo sobre
a acumulação de matéria seca de folhas,
considerando-se a última coleta realizada como sendo a mais representativa das
cinco que foram efetuadas (Tabela 1).
Efeito negativo sobre a acumulação de
matéria seca foi observado no caule, onde
T6 apresentou média significativamente
inferior às demais. Quanto aos frutos,
tanto a matéria seca como fresca não
apresentaram diferenças significativas
entre as médias dos tratamentos T5 e T6.
Em lavouras de morangueiro
conduzidas no solo e ambiente protegi-
do na costa do Mediterrâneo, Hennion
& Veschambre (1997) recomendam doses de N entre aproximadamente 2 e 3
g/planta/semana, obedecendo uma proporção em torno de 1,0; 0,25 e 1,82, para
o N, P e K, respectivamente. Os resultados atuais indicaram doses menores
para uso no cultivo em substrato, entre
0,337 e 0,505 g/planta/semana de nitrogênio. Uma das razões desses baixos
valores pode ser devido ao controle rigoroso da irrigação que foi efetuado na
condução dos experimentos, reduzindo
ao máximo as perdas de nutrientes pela
drenagem. Quando o manejo da irrigação das lavouras for efetuado de forma
empírica, essas doses devem portanto ser
corrigidas de acordo com os volumes
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Acumulação de matéria seca e rendimento de frutos de morangueiro cultivado em substrato com diferentes soluções nutritivas.
Tabela 1. Matéria seca (MS) de folhas, caule e frutos na última coleta efetuada na vigésima semana após o transplante e matéria fresca (MF)
total de frutos do morangueiro, cv. Dover, cultivado em substrato com diferentes soluções nutritivas. Santa Maria, UFSM, 1998/99.
Tratamentos1/
1998
T1
T2
T3
CV%
1999
T4
T5
T6
CV%
Folhas
MS (g/planta)
Caule
Frutos
4,49 c
5,74 b
7,69a
7,50
6,90 b
7,10 b
8,70a
8,50
4,73 c
5,90 b
7,06a
4,00
3,72a
3,42a
2,93 b
6,60
2,81 b
3,54a
3,55a
11,90
4,70a
4,90a
4,30a
12,40
Total
MF de frutos
(g/planta)
16,11 c
18,75 b
23,45a
8,55
427,80 c
549,40 b
589,60a
9,40
11,23a
11,86a
10,78a
10,70
595,50 b
701,90a
674,40a
11,90
Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Duncan, a 5% de probabilidade.
T1 = g/planta: 0,235 de KNO3; 0,365 de Ca(NO3)2; 0,167 de MgSO4; 0,087 de superfosfato simples, 0,008mL de ferro quelatizado (5% Fe)
e 0,038mL de solução de micronutrientes; T2 e T3 = T1 multiplicada por dois e três, respectivamente; T4 = T3; T5 e T6 = T4 multiplicada
por 1,50 e 2,25, respectivamente.
*/
1/
drenados, ou mediante o monitoramento
sistemático da eletrocondutividade da
solução drenada, como preconizado para
a cultura do tomateiro (Andriolo &
Poerschke, 1997).
O aumento porcentual na
acumulaçâo de matéria seca entre as
plantas que receberam as doses T1 e T3
no ano de 1998, foi de aproximadamente
71% para as folhas, 26% para o caule e
49% para os frutos (Tabela 1), indicando que não houve competição entre a
parte vegetativa da planta e os frutos.
Essa observação evidencia um comportamento peculiar do morangueiro, pois
em culturas de hábito de crescimento
indeterminado que produzem frutos, o
crescimento deles exerce efeito inibidor
sobre o crescimento da parte vegetativa
(Marcellis, 1995; Heuvelink, 1996;
Andriolo et al., 1998). No ano de 1999,
a diferença porcentual na quantidade de
matéria seca entre as doses T4 e T6 foi
de aproximadamente -8,5% para as folhas, -21% para o caule e 26% para os
frutos, sugerindo que houve competição
entre os órgãos da parte aérea, em detrimento principalmente do caule. Esse resultado pode estar relacionado com maior incidência da mancha de micosferela
que ocorreu nesse ano, afetando a produção de assimilados pela cultura.
Os resultados obtidos sugerem a solução nutritiva referente ao tratamento
T5 como a dose semanal de nutrientes a
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
ser empregada na fertirrigação do morangueiro cultivado em substrato, com
as seguintes quantidades, em g/planta:
1,06 de KNO3; 1,64 de Ca(NO3)2; 0,75
de MgSO4; 0,40 de superfosfato simples, complementada por 0,036 mL de
ferro quelatizado (5% Fe) e 0,17 mL da
solução contendo os demais
micronutrientes. Deve-se, porém, ressaltar, que o uso dessa fórmula na produção comercial do morangueiro deve passar por pequenos ajustes com base em
características locais, levando em conta
o material vegetal, o substrato empregado, o manejo da irrigação e também a
relação custo/benefício.
LITERATURA CITADA
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RAMOS, A.; BOVI, M.L.A.; FOLEGATTI, M.V. Desenvolvimento vegetativo da pupunheira irrigada por gotejamento em função de diferentes níveis de
depleção de água no solo. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, n. 1, p. 28-33, março 2.002.
Desenvolvimento vegetativo da pupunheira irrigada por gotejamento em
função de níveis de depleção de água no solo.
Adriana Ramos; Marilene L. A Bovi; Marcos Vinícius Folegatti
ESALQ-Departamento de Engenharia Rural, C. Postal 09, 13.418-900 Piracicaba–SP; IAC, C. Postal 28, 13.001-970 Campinas-SP, Email: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se o efeito da irrigação complementar por gotejamento
no desenvolvimento vegetativo de pupunheiras (Bactris gasipaes
Kunth) com três anos de idade. Durante 94 dias (agosto a novembro/
97) foram estabelecidos quatro níveis de irrigação, baseados nas porcentagens de 25% (T1), 50% (T2), 75% (T3) de água disponível
consumida em função da evapotranspiração de referência, medida em
um par de lisímetros de lençol freático constante, e a testemunha (T4),
sem irrigação, com turnos de rega de 2, 4 e 6 dias respectivamente. O
delineamento experimental empregado foi em blocos casualizados com
parcelas subdivididas, com quatro tratamentos, oito repetições e
dezesseis plantas úteis por parcela. A resposta das plantas aos diferentes tratamentos foi avaliada por meio da taxa absoluta de crescimento
das características diâmetro do estipe na região do colo, altura da planta,
comprimento de ráquis, número de perfilhos, número de folhas e emissão de folhas novas. As avaliações tiveram início quatro dias antes da
imposição dos tratamentos e foram repetidas aos 34; 68; 83; 98; 133 e
168 dias. Houve diferenças entre os tratamentos para número de folhas emitidas, diâmetro e altura da planta. O tratamento 1 (25% ) foi
superior aos demais para número de folhas emitidas (p<0,01), enquanto para as características altura e diâmetro, o mesmo só diferiu
significativamente da testemunha (p<0,05). Já os tratamentos 2 (50%)
e 3 (75%) não diferiram estatisticamente entre si. Não houve diferenças entre tratamentos para comprimento da ráquis foliar, número de
perfilhos e de folhas. Ocorreram diferenças significativas entre os
períodos de avaliação, sendo que para todas as características
mensuradas os maiores acréscimos foram obtidos a partir dos 68 dias
após o início das avaliações. Comparando os tratamentos irrigados,
especialmente durante os períodos de déficit hídrico, observou-se que
melhor desenvolvimento, principalmente em diâmetro e número de
folhas novas, foi obtido no menor turno de rega (T1: 2 dias). Essa
informação é de valor fundamental no cultivo da pupunheira para palmito, pois o rendimento em palmito por planta (produção) está direta
e positivamente correlacionado com o diâmetro da planta e o número
de folhas. Uma vez que a seca é um dos principais fatores climáticos
limitantes ao cultivo da pupunheira (Bactris gasipaes Kunth), especialmente quando o objetivo principal é a produção de palmito, a irrigação complementar realizada veio suprir essa deficiência, nos meses
com déficit hídrico.
Effects of soil water depletion levels on the vegetative
development of drip irrigated peach palm plants.
Palavras-chave: Bactris gasipaes, lâminas de irrigação, desenvolvimento vegetativo, turno de rega.
Keywords: Bactris gasipaes, irrigation sheets, vegetative
development, irrigation interval.
The effects of soil water depletion levels on the vegetative
development of drip irrigated three-years-old peach palm plants were
evaluated. Four irrigation levels were established for a 94-day period
(August to November of 1997), based on 25% (T1), 50% (T2) and
75% (T3) of available water consumed in function of the
evapotranspiration of measured reference in a lysimeter of constant
water table, and the control (T4) without irrigation. A split
randomized block design, with four treatments, eight replications
and sixteen inner plants per plot was utilized. Peach palm response
to the different treatments was evaluated throughout the absolute
growth rate of the characteristics: stem diameter at soil level, plant
height, foliar raquis length, offshoot and functional leaf number, as
well as emission of new leaves. The evaluations began four days
before treatment imposition and were repeated at 34; 68; 83; 98;
133 and 168 days. There were differences between treatments
depending on for the number of emitted leaves, plant diameter and
height. Treatment 1 (25%) was superior to the others for emitted
leaves rate, while for the characteristics height and diameter, the
same treatment only differed significantly from the control. There
were no differences between treatments for raquis length, offshoot
and functional leaf number. Significant differences among the
evaluation periods were found for all the measured characteristics,
with the largest increments being obtained after 68 days from the
beginning of the evaluations. When comparing the treatment by
irrigation, especially during the periods of water deficiency, it was
observed that the best development in relation to diameter and number
of new leaves was obtained when irrigation was done at two day
intervals.
(Aceito para publicação em 17 de dezembro de 2.001)
O Brasil é o maior produtor, consumidor e exportador de palmito do mundo (Bovi, 1998). Para atender esta alta
demanda, a exploração predatória já provocou grande devastação das palmeiras
nativas da Mata Atlântica. Para diminuir essa pressão de exploração surge a
28
necessidade de plantio para a exploração permanente de palmito. Dentre as
palmeiras que estão chamando a atenção dos agricultores, a pupunheira
(Bactris gasipaes Kunth) se destaca
principalmente pelas suas características de precocidade e perfilhamento
(Villachica, 1996; Mora-Urpí et al.,
1997; Bovi, 1998). Durante as duas últimas décadas a palmeira pupunha tem
sido objeto de pesquisas intensivas e
desenvolvimento em várias partes da
América tropical (Clement, 1995). Estudos sobre a palmeira pupunha no EsHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Desenvolvimento vegetativo da pupunheira irrigada por gotejamento em função de diferentes níveis de depleção de água no solo.
tado de São Paulo, conduzidos pelo Instituto Agronômico de Campinas, afirmam que esta tem alta adaptabilidade
às condições agroclimatológicas
(Germek et al., 1981) e que entre as palmeiras utilizadas para produção de palmito de boa qualidade, a pupunheira é
precoce e relativamente rústica (Bovi,
1998). No entanto, é uma cultura exigente quanto às características físicas e
químicas do solo, necessita de adubação balanceada para máxima produtividade e correção da acidez do solo a cada
quatro anos (Bovi, 1997). Não foram
encontrados resultados de pesquisa indicando a demanda de água para o cultivo. Não obstante, reconhece-se pela
prática que a exigência de água pela
pupunheira, quando cultivada para palmito, é elevada, sendo necessária irrigação complementar quando o plantio
é feito em áreas com déficit hídrico. No
caso da pupunheira, o déficit hídrico tem
efeitos marcantes, não só pela redução
do crescimento da palmeira, bem como
pela diminuição do rendimento, afetando ainda negativamente a qualidade do
palmito obtido (Bovi et al. 1997; 1998).
A ausência de trabalhos de pesquisa sobre a influência da irrigação em cultivos de pupunheira se deve ao fato de
que a maioria das regiões produtoras de
palmito (Amazonas, Pará, Rondônia,
Acre) possui elevados índices
pluviométricos. Porém, atualmente a
implantação de grandes áreas comerciais
de palmito pupunha no Estado de São
Paulo, cuja distribuição das chuvas é
irregular ao longo do ano, tornam pesquisas relacionadas a esse tema necessárias. Vizquez (1981) estudou o comportamento fenológico da cultura, pela
produção de folhas novas, morte das folhas, crescimento em altura e diâmetro
da estipe em relação à precipitação mensal. O autor observou que os períodos
de máxima precipitação correspondem
ao de maior engrossamento do estipe e
produção de folhas novas, ressaltando a
possibilidade de que a irrigação seja economicamente recomendada para o cultivo de pupunheira em regiões com baixos índices pluviométricos. Embora a
seca seja um dos principais fatores climáticos limitantes ao cultivo da
pupunheira, especialmente quando o
objetivo principal deste cultivo é a produção de palmito, Olitta (1984) afirma
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
que um manejo adequado da irrigação,
envolve determinação da quantidade e
freqüência de aplicação de água, visando sempre maximizar a produtividade e
minimizar os custos e ainda as perdas
de água. Tratando-se de uma cultura de
alto valor econômico, a prática de irrigação complementar justifica-se, uma
vez que permitirá um aumento na produtividade. O presente estudo visou obter respostas sobre os efeitos da irrigação complementar, aplicada em três diferentes níveis de irrigação, durante um
período de 98 dias, no crescimento de
pupunheiras para produção de palmito
com três anos de idade.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi desenvolvido
de agosto/97 a janeiro/98, no campo
experimental da Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiroz”, localizada no município de Piracicaba à altitude de 576 metros (Ometto, 1981). Segundo a classificação climática de
Köppen, o clima é do tipo CWA, com
precipitação média anual de 1247 mm,
temperatura média de 21,1°C, umidade
relativa média de 74% e velocidade do
vento de 2,2 m/s. Durante o período
experimental a temperatura média variou de 19,17 a 25,070C, a umidade relativa de 69,4 a 84,0% e a precipitação
de 17,3 (agosto) a 244,3 mm (novembro). O solo classifica-se como Terra
Roxa Estruturada (Alfisol), série Luiz
de Queiroz. Na área experimental encontrava-se instalado numa área de 12
m x 50 m, um plantio de pupunheiras
com três anos de idade, inermes (procedente de Yurimaguas, Peru), com plantas espaçadas de 2 m x 1 m, num total
de trezentas plantas. O delineamento
experimental empregado foi em blocos
casualizados com parcelas subdivididas
no tempo, quatro tratamentos, oito repetições e dezesseis plantas úteis por
parcela. Para aplicação de água, empregou-se um sistema de irrigação localizada, tipo gotejamento, com seis linhas
laterais espaçadas entre si de 2 m. Os
gotejadores, inseridos na linha lateral,
apresentam uma vazão de 1,7 l/h, com
pressão de serviço de 120 KPa e com
três emissores por planta. A partir da
curva de retenção da água no solo, calculou-se a lâmina inicial de irrigação
pela capacidade máxima de
armazenamento da água no solo, colocando o solo em capacidade de campo
até a profundidade de 80 cm. As irrigações foram realizadas quando 25%, 50%
e 75% da água disponível foi
consumida, definindo os tratamentos 1,
2 e 3, respectivamente, com turnos de
rega correspondentes a 2, 4 e 6 dias aproximadamente, sendo que a quantidade
total de água aplicada foi de 144 mm,
130 mm e 142 mm. O controle da irrigação baseou-se na metodologia recomendada pela FAO (Doorembos &
Kassan, 1979), em que a
evapotranspiração máxima da cultura
(mm/dia) é determinada pelo produto da
evapotranspiração potencial de referência pelo coeficiente de cultivo (Kc).
Utilizou-se o valor médio diário da
evapotranspiração potencial de referência obtida por dois lisímetros de lençol
freático constante. Devido à ausência de
informação sobre o coeficiente de cultivo para a pupunheira, utilizou-se resultado obtido por Rao (1980) (Kc =
0,85) para a cultura do coco (Cocos
nucifera L.). Ressalta-se que antes da
aplicação dos tratamentos, as plantas do
experimento vinham sendo mantidas
irrigadas, porém sem um manejo correto da irrigação. As adubações foram
realizadas em função da recomendação
da análise química do solo (0-20 cm:
pH=4,4; M.O.=2,4%; P=21 ppm; SSO4=4,6 meq/100g; K=0,28 meq/100g;
Ca=0,5 meq/100g; Mg=0,26 meq/100g;
Al=0,3 meq/100g; H+Al=0,58 meq/
100g; soma de bases=7,9 meq/100g;
CTC=13,7 meq/100g e V=58%; 20-40
cm: pH=5,0; M.O.=2,4%; P=15 ppm; SSO4=4,2 meq/100g; K=0,3 meq/100g;
Ca=0,3 meq/100g; Mg=0,1 meq/100g;
Al=0,meq/100g; H+Al=0,47 meq/100g;
soma de bases=4,7 meq/100g; CTC=9,4
meq/100g e V=50%), e determinou-se
a aplicação em cobertura, mensalmente, 28 g/planta da fórmula 20:05:10,
complementando-se ainda com 10 g de
uréia por planta, em cada cobertura. Para
manter a cultura no limpo, evitando a
competição com as ervas daninhas, as
mesmas foram roçadas. A avaliação dos
tratamentos foi realizada pelo
monitoramento do desenvolvimento da
cultura, onde todas as plantas de cada
bloco foram mensuradas, considerandose as seguintes características: a) diâme29
A. Ramos et al.
Tabela 1. Resultado da análise de variância, teste F e coeficiente de variação (CV %) para a taxa de crescimento das variáveis diâmetro da
planta na região do colo, altura e emissão de folhas novas. Piracicaba, ESALQ, 1997.
Quadrado Médio
Coeficiente de
Graus de liberdade
variação
Blocos
7,
Tratamentos
3,
Resíduo (A)
21,
Parcelas
31,
Tempo
3,
Temp x Trat
9,
Resíduo (B)
84,
Total
127,
Coeficiente de variação (%)
Diâmetro colo
Altura
Folhas novas
0,0029
0,0167*
0,0024
0,0184
0,1410*
0,0379
0,0001
0,0011* *
0,0001
0,1467* *
0,0024ns
0,0015
1,9615*
0,0869ns
0,0867
0,0103* *
0,0002* *
0,0001
16,42
22,51
15,86
**significativo pelo teste F a 1% de probabilidade; *significativo pelo teste F a 5% de probabilidade; ns não significativo pelo teste F.
Transformações utilizadas: diâmetro na região do colo:
tro do estipe na região do colo; b) altura
da planta; c) número de folhas e f) emissão de folhas novas. As medidas foram
tomadas como especificado por Bovi e
colaboradores (Bovi et al.,1988; 1992;
1993). Antes de se iniciarem as irrigações (05/08/97), mediu-se todas as plantas (31/07/97), sendo que as avaliações
seguintes foram realizadas aos 34 (04/
09/97), 68 (08/10/97), 83 (23/10/97) e
98 dias (07/11/97) após o início da aplicação dos tratamentos. Ao término dos
98 dias, as irrigações foram suspensas
em função de chuvas intensas que ocorreram no mês de novembro, e foram realizadas mais duas avaliações aos 133
(12/12/97) e aos 168 dias (16/01/98). Os
valores de crescimento das variáveis
medidas foram determinados pelas taxas de acréscimos que ocorreram entre
as avaliações. A taxa de crescimento
absoluto (TCA) é representada pela variação, ou incremento entre duas avaliações consecutivas (Benincasa, 1988).
Assim, foi calculada da seguinte maneira: TCA = A2 - A1/ T2 - T1, em que:
A1 e A2 = valores reais mensurados em
dois diferentes períodos e T1 e T2 =
período (tempo em dias) em que foram
realizadas as avaliações. Os dados foram analisados pelos métodos estatísticos: análises de variância e testes de
significância (teste de Tukey a 1% e 5%
de probabilidade) para os tratamentos
(níveis de irrigação - variáveis dependentes) e tempos de avaliação (variáveis
independentes), para todas as variáveis
30
(Gomes, 1987). As curvas de crescimento para as características diâmetro no
colo, altura e folhas novas emitidas, foram ajustadas através de uma equação
de regressão do tipo exponencial.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A temperatura média mensal do ar
mês de agosto foi de 19°C. Com o aumento da temperatura nos meses seguintes, a freqüência de irrigação aumentou,
em função do aumento da demanda
evaporativa e o fornecimento de água
foi mais intenso, com turnos de rega de
2; 4 e 6 dias aproximadamente, correspondentes aos tratamentos 1; 2 e 3 respectivamente. Na Tabela 1 é apresentada a análise da variância das características avaliadas. Observa-se que após
análise exploratória dos dados, a característica diâmetro na região do colo
necessitou de transformação de dados
(visando restabelecer a homogeneidade
de variância). Por esta tabela, observase que houve diferença significativa entre tratamentos para as características diâmetro no colo (p<0,05), altura (p<0,05)
e emissão de folhas novas (p<0,01), entre tempo para todas as variáveis. Verifica-se também, que houve interação significativa entre períodos de avaliação e
tratamentos (p<0,01), apenas para a variável folhas novas emitidas.
Os coeficientes de determinação (R2)
obtidos pelo ajuste de regressão
exponencial para diâmetro no colo fo-
ram de 0,92; 0,94; 0,90 e 0,96 para os
tratamentos 1; 2; 3 e 4, respectivamente. Para a característica altura, obtevese valores de 0,97; 0,96; 0,94 e 0,91 para
os tratamentos 1; 2; 3 e 4, respectivamente. Já para folhas novas emitidas, as
regressões para o ajuste das curvas não
foram significativas.
Devido à ausência de trabalhos sobre a resposta da cultura a níveis de irrigação, as discussões serão realizadas
basicamente pelos resultados obtidos na
análise estatística do que com base na
literatura citada.
Diâmetro no colo: Pela tabela 2
observa-se que considerando a média de
todos os períodos, o tratamento 1 (25%
de água disponível) de água disponível
não diferiu estatisticamente do tratamento 2 (50% de água disponível). Dessa
forma, as plantas do tratamento 1 que
receberam lâminas com maior freqüência (menor turno de rega), apresentaram
médias de crescimento em diâmetro no
colo semelhantes àquelas do tratamento 2 e superior apenas aos tratamentos 3
e 4. Por sua vez, os tratamentos 2; 3 e 4
não diferiram significativamente. Pela
Tabela 2, que representa a taxa de crescimento média diária, em diâmetro no
colo, para cada período e para o período total de avaliação, verifica-se que as
maiores taxas médias de crescimento
foram obtidas nos tempos 3 e 4 (intervalos de 68-83 e 83-98 dias, após o início da imposição dos tratamentos, respectivamente). Tais resultados estão de
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Desenvolvimento vegetativo da pupunheira irrigada por gotejamento em função de diferentes níveis de depleção de água no solo.
Tabela 2. Médias originais da variável acréscimo em diâmetro no colo (em cm) para o fator tratamento (T1; T2; T3 e T4 = 25%; 50%; 75% de
água disponível e testemunha, respectivamente) dentro do fator tempo. Piracicaba, ESALQ, 1997.
Tratamentos
T1
T2
T3
T4
Médias
Tempo 1
(34 dias)
0,6025 a
0,2663 a
0,1813 a
0,3163 a
0,3245
Médias de tempo
Tempo 2
Tempo 3
(68 dias)
(83 dias)
0,3275 a
0,9163 a
0,2688 a
0,6400 a
0,1900 a
0,4675 a
0,2288 a
0,4138 a
0,2538
0,6094
Tempo 4
(98 dias)
0,8813 a
0,8163 a
0,8188 a
0,5588 a
0,7688
Médias de
tratamentos
0,6819a
0,5478ab
0,4142 b
0,3791 b
0,505
Médias seguidas de letras iguais na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Figura 1. Crescimento médio em diâmetro na região do colo segundo o período de avaliação (T1; T2; T3 e T4 = 25%; 50%; 75% de água disponível e testemunha, respectivamente).
Piracicaba, ESALQ, 1997.
acordo com Vizquez (1981) que, em
estudo sobre aspectos fenológicos da
cultura, afirmou que os períodos de
maior precipitação pluviométrica,
corresponderam aos de maior
engrossamento do estipe.
Embora a quantidade total de água
aplicada por tratamento seja semelhante (144; 130 e 142 mm para os tratamentos 1; 2 e 3, respectivamente), nota-se
que o menor turno de rega (2 dias para
o tratamento 1) favoreceu o crescimento em diâmetro das plantas, durante os
períodos de maior déficit hídrico (tempos 1; 3 e 4). Isso foi mais evidente no
período 3 (68 a 83 dias após o início). A
Figura 1 representa o crescimento durante todo período de avaliação, para a
variável diâmetro no colo. Nesta figura
observa-se que durante as irrigações (34;
68; 83 e 98 dias) o crescimento das planHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
tas foi mais acentuado, para todos os tratamentos, a partir dos 68 dias (08/10),
principalmente aos 83 (23/10) e 98 (7/
11) dias, à medida em que os períodos
de avaliação diminuíram de 34 para 15
dias, sendo que nesses tempos ocorreram as maiores taxas de crescimento,
como pode ser observado na Tabela 2.
Verifica-se na Figura 1, a tendência de
estabilização do crescimento do diâmetro no colo, a partir dos 133 dias, para
os tratamentos 1; 2 e 3, ao longo do tempo, e isto pode ter ocorrido devido ao
elevado índice de precipitação e ao aumento da temperatura do ar e umidade
relativa do ar nos meses de novembro e
dezembro.
Altura: O teste de média indicou
diferenças significativas entre tempo e
tratamento, sendo que o tratamento 1
(25% de água disponível) de água dis-
ponível diferiu estatisticamente apenas
do tratamento 4 (testemunha). Esta diferença entre os tratamentos 1 e 4, ocorreu no tempo 2, aos 68 dias, como verifica-se na Tabela 3. Observa-se também,
que as maiores taxas de crescimento,
para todos os tratamentos, foram obtidas nos tempos 3 (83 dias) e 4 (98 dias).
A Figura 2 representa a curva de
crescimento em altura obtida pelos diferentes tratamentos em função de todos os períodos de avaliação, onde observa-se um maior crescimento em altura nas avaliações realizadas aos 68 (08/
10); 83 (23/10) e 98 (07/11) dias. Mesmo para as avaliações realizadas após o
término das irrigações, aos 133 (12/12/
97) e 168 (16/01/98), a cultura continuou
apresentando o mesmo padrão de crescimento em relação aos períodos irrigados,
isto é, com crescimento acentuado. Tais
resultados são corroborados por Vizquez
(1981), que relata uma relação positiva
entre precipitação e crescimento em altura do estipe, ainda que este crescimento não tenha sido proporcional aos meses de maior precipitação.
Folhas novas emitidas: Para a variável folhas novas emitidas, verificase pela Tabela 4 que o teste de médias
indicou que houve diferença significativa entre os tratamentos (p<0,01), sendo que o tratamento 1 (25% de água disponível) de água disponível foi superior
aos demais tratamentos. Sendo assim,
foi feito o gráfico de crescimento desta
variável, para todo período avaliado (Figura 3), incluindo aos períodos irrigados, os períodos sem irrigação (avaliações realizadas aos 133 e 168 dias).
Nesta figura observa-se que as plantas
do tratamento 1 emitiram um maior número de folhas novas, como resposta às
31
A. Ramos et al.
Tabela 3. Médias originais da variável acréscimo em altura (cm) para o fator tratamento (T1; T2; T3 e T4 = 25%; 50%; 75% de água
disponível e testemunha, respectivamente) dentro do fator tempo. Piracicaba, ESALQ, 1997.
Tratamentos
T1
T2
T3
T4
Médias
Tempo 1
(34 dias)
5,9713 a
7,7663 a
7,9375 a
7,5450 a
7,3050
Médias de tempo
Tempo 2
Tempo 3
(68 dias)
(83 dias)
11,5238 a
10,6400 a
8,0463 a
10,2763a
5,5938 a
8,8438 a
5,4988 a
6,8275 a
7,6657
9,1469
Tempo 4
(98 dias)
10,5475 a
7,7862 a
13,0000 a
8,3288 a
9,9156
Médias de
tratamentos
9,6706
8,8438
8,4688
7,0500
8,5083
a
ab
ab
b
Médias seguidas de letras iguais na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey a de 5% de probabilidade.
Tabela 4. Médias originais da variável folhas novas para o fator tratamento (T1; T2; T3 e T4 = 25%; 50%; 75% de água disponível e
testemunha, respectivamente) dentro do fator tempo. Piracicaba, ESALQ, 1997.
Tratamentos
T1
T2
T3
T4
Médias
Tempo 1
(34 dias)
0,68 a
0,44 a
0,44 a
0,37 a
0,48
Médias de tempo
Tempo 2
Tempo 3
(68 dias)
(83 dias)
0,94 a
0,94 a
0,68 a
0,68 a
0,68 a
0,68 a
0,65 a
0,65 a
0,74
0,74
Tempo 4
(98 dias)
0,87 a
0,59 a
0,59 a
0,50 a
0,64
Médias de
tratamentos
0,86
0,60
0,60
0,54
0,65
a
b
b
b
Médias seguidas de letras iguais na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Figura 2. Crescimento médio em altura segundo o período de avaliação (T1; T2; T3 e T4 = 25%;
50%; 75% de água disponível e testemunha, respectivamente). Piracicaba, ESALQ, 1997.
irrigações realizadas a menores turnos
de rega (2 dias) quando comparadas às
plantas dos demais tratamentos (4 e 6
dias, e sem irrigação). Essa maior emissão de folhas, associada ao maior desenvolvimento em diâmetro de plantas
(Figura 1) indica que para quantidades
32
semelhantes de água aplicada (144 a 130
mm) o melhor turno de regas é de 2 dias.
Essa informação é de valor fundamental no cultivo da pupunheira para palmito, pois o rendimento em palmito por
planta (produção) está direta e positivamente correlacionado com o diâmetro
da planta e o número de folhas (Bovi et
al., 1992; 1993). Verifica-se na figura 9
que aos 133 dias as plantas de todos os
tratamentos emitiram em média duas
folhas; observa-se ainda que aos 168
dias, ocorreu a emissão de aproximadamente uma folha para as plantas de todos os tratamentos.
Desenvolvimento vegetativo da
pupunha: No início do experimento
(31/07/97) as plantas apresentavam as
dimensões médias: diâmetro na região
do colo 11,42 cm, altura até a inserção
da folha mais nova de 115 cm, com número médio de 8 perfilhos e 5 folhas
funcionais (verdes). Ao final (16/01/98)
das avaliações suas dimensões foram:
14,32 cm de diâmetro no colo, 180,88
cm de altura, número médio de 9
perfilhos e 8 folhas funcionais por planta. Como resultado dos períodos de avaliação, as plantas apresentaram médias
de crescimento em diâmetro no colo, e
altura de 0,5; 8,5 cm respectivamente
(Tabelas 2 e 3), apresentando ainda
acréscimo médio de um perfilho e emissão de uma folha nova a cada período
de avaliação (Tabela 4). Os resultados
aqui apresentados corroboram os reporHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Desenvolvimento vegetativo da pupunheira irrigada por gotejamento em função de diferentes níveis de depleção de água no solo.
Figura 3. Média do número de folhas novas emitidas segundo o período de avaliação (T1;
T2; T3 e T4 = 25%; 50%; 75% de água disponível e testemunha, respectivamente). Piracicaba,
ESALQ, 1997.
tados por Vizquez (1981) em que o autor ressalta a possibilidade de que a irrigação seja economicamente recomendada para o cultivo de pupunheira em
regiões com baixos índices
pluviométricos. Este autor, estudando a
resposta fenológica da cultura em relação à precipitação, por um período de
um ano, afirmou que este tempo de avaliação é muito curto e não permitiu obtenção de respostas de forma repetida
que permita eliminar as dúvidas
surgidas.
De uma forma geral, conclui-se que
houve diferença significativa entre os
tratamentos para as variáveis diâmetro
no colo, altura e folhas novas emitidas,
sendo que para as duas primeiras variáveis, as médias de crescimento do tratamento 1 (25% de água disponível) de
água disponível, foram superiores apenas à do tratamento 4 (Tabelas 2 e 3),
enquanto que para folhas novas emitidas, o tratamento 1 foi superior aos tra-
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
tamentos T2 (50% de água disponível),
T3 (75% de água disponível) e testemunha (Tabela 4). Para todas as variáveis,
os maiores acréscimos ocorreram a partir dos 68 dias após o início da imposição dos tratamentos e avaliações. Comparando os tratamentos irrigados, especialmente durante os períodos de déficit hídrico, nota-se que melhor desenvolvimento, principalmente em diâmetro e número de folhas novas, foi obtido
no menor turno de rega (2 dias).
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33
PAIVA, W.O. Divergência genética entre linhagens de melão e a heterose de seus híbridos. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, n. 1, p. 34-37, março 2.002.
Divergência genética entre linhagens de melão e a heterose de seus híbridos.
Waldelice O. de Paiva
Embrapa Agroindústria Tropical, C. Postal 3761, 60.511-110 Fortaleza-CE, E-mail [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se a divergência genética entre linhagens e híbridos de
melão e a heterose verificada nos híbridos produzidos com o cruzamento destas linhagens. O experimento foi desenvolvido de setembro a novembro/98, no Município de Pacajús (CE). Os tratamentos
corresponderam a nove linhagens pertencentes aos grupos
cantalupensis, inodorus e momordica e os dez híbridos obtidos pelo
cruzamento dos seguintes tipos de linhagens: cantalupensis x
cantalupensis, inodorus x inodorus, cantalupensis x momordica e
inodorus x momordica. As maiores contribuições para a divergência genética entre as linhagens paternais foram observadas para sólidos solúveis totais e para o formato do fruto. Cucumis melo inodorus
e C. melo cantalupensis formaram um único grupo. Nos híbridos, as
distâncias genéticas foram maiores quando se utilizaram linhagem
do grupo momordica como um dos parentais e menores, quando as
duas linhagens eram cantalupensis. A heterose favorável nos híbridos nem sempre ocorreu quando se utilizaram linhagens divergentes, enquanto que cruzamentos entre linhagens com pequena distância genética manifestaram essa característica.
Genetic divergence among melon lines and the heterosis in
their hybrids.
Palavras-chave: Cucumis melo, diversidade genética.
Keywords: Cucumis melo, genetic diversity.
The genetic divergence in melon lines and hybrids was studied,
besides the heterosis manifested in the hybrids produced from lines.
The experiments were conducted from September to November/98,
in Pacajus, Ceará (Brazil). The treatment consisted of nine lines of
cantalupensis, inodorus and momordica groups and ten hybrids
produced between cantalupensis x cantalupensis, inodorus x
inodorus, cantalupensis x momordica, inodorus x momordica lines
types. The best contribution for genetic divergence between lines
was shown in total soluble solids and fruit shape. Cucumis melo
inodorus and C. melo cantalupensis were grouped together. The
highest genetic distance was verified in the hybrids produced with
one parental momordica. The smallest genetic distance was observed
when both parents were cantalupensis. Favorable heterosis in the
hybrids was not always verified when the parents were divergent,
whilst hybrids from lines closely related showed this characteristic.
(Aceito para publicação em 29 de novembro de 2.001)
N
as espécies vegetais em que o produto comercial é utilizado na forma in natura os atributos de qualidade
tornam-se determinantes para a sua aceitação pelos consumidores. No caso do
melão, para não serem modificadas as
características reconhecidamente aceitas no mercado, os híbridos são obtidos
do cruzamento entre linhagens muito
próximas e isso tem limitado a seleção
de linhagens parentais (McCreight,
1993). Por esse motivo, informações
resultantes do uso de genitores divergentes são escassas.
Os estudos da divergência genética
têm sido de grande importância em programas de melhoramento envolvendo
hibridações, pois sem a necessidade de
cruzamentos, identificam progenitores
que em futuros cruzamentos possibilitem maior efeito heterótico (Cruz et al.,
1994). Com isto, é possível avaliar maior número de linhagens para maior número de características. É aplicado para
diversas espécies vegetais como critério de seleção de genitores (Shamsuddin,
1985; Cruz et al.,1994).
34
Quando o objetivo do melhoramento
não é produzir híbridos, o conhecimento
da diversidade alélica ou gênica, constatada pelas estimativas da heterose ou através da distância genética em cruzamentos, pode auxiliar na escolha de métodos
de seleção mais eficientes para explorar
esta variabilidade recombinacional nas
gerações avançadas.
O presente trabalho teve por objetivo avaliar a divergência genética de linhagens de melão e a heterose dos seus
híbridos, em combinações previamente
escolhidas.
MATERIAL E MÉTODOS
Utilizaram-se oito linhagens de melão pertencentes ao programa de melhoramento genético da Embrapa
Agroindústria Tropical, obtidas após
sete gerações de autofecundação, e uma
linhagem considerada homozigota,
introduzida da Universidade de Cornell,
reconhecida como resistente ao vírus do
mosaico do zucchini, vírus do mosaico
da melancia e a afídeos (Pitrat, 1990).
As linhagens da Embrapa Agroindústria
Tropical são IM 03.02; IM 03.04; IM
04.00; IM 05.00; IM 07.00; IM 47.00
(grupo cantalupensis, frutos redondos,
epiderme rendilhada e amarela, polpa e
placenta de cor salmão); IM 50.00 e IM
54.00 (grupo inodorus, frutos ovais,
epiderme enrugada e amarelo-ouro, polpa e placenta de cor creme). A linhagem da Universidade de Cornell (PI
414723) pertencente ao grupo
momordica, apresenta frutos compridos
de epiderme lisa e amarela e polpa e placenta de cor salmão. Merece destaque a
expressão sexual, do tipo monoico, da
linhagem PI 414723, à semelhança da
maioria das cultivares pertencentes ao
grupo momordica (Robinson & DeckerWalters, 1999), enquanto que as demais
linhagens mostram expressão sexual
andromonóica. Foram efetuados os cruzamentos direcionados: linhagens com
características de frutos semelhantes
(cantalupensis x cantalupensis e
inodorus x inodorus) e linhagens com
características diferentes (cantalupensis
x momordica e inodorus x momordica).
Os dez híbridos obtidos foram avaliados juntamente com as nove linhagens
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Divergência genética entre linhagens de melão e a heterose de seus híbridos.
Tabela 1. Média de características agronômicas e de qualidade do fruto avaliadas nas linhagens de melão. Pacajus-CE, Embrapa Agroindústria
Tropical, 1998.
Genótipos
IM 03.02
IM 03.04
IM 04.00
IM 05.00
IM 07.00
IM47.00
IM50.00
IM54.00
PI 414723
NFP 1/
2,09ab 2)
1,07a
1,86ab
1,76a
1,30a
1,86ab
2,08ab
2,75ab
3,05b
PFP
1,63a
0,82a
1,81a
1,30a
1,16a
1,34a
1,10a
2,17a
2,56a
PMF
0,77a
0,77a
0,62a
0,70a
1,12a
0,69a
0,52a
0,81a
0,89a
TCS
5,68d
6,22de
5,12bc
5,75d
6,17de
5,11bc
4,09a
6,45e
4,87b
FF
1,22ab
1,01a
1,12ab
1,06ab
1,29b
1,11ab
1,05ab
1,02a
2,12c
TCC
17,41a
48,08a
40,32a
29,81a
19,55a
31,14a
19,20a
38,01a
40,59a
DF
0,59a
0,79a
0,68a
0,70a
0,70a
0,88a
1,19a
0,63a
0,80a
SST
9,55ab
5,77a
10,66bc
8,99b
10,72bc
8,94b
12,11c
10,08bc
5,33a
NFP=número de frutos/planta; PFP=produção total de frutos/planta; PMF=peso médio de frutos (g); DCS=diâmetro da cavidade da semente (cm); FF=formato do fruto; TCC=taxa de concentração da colheita (%); DF=densidade do fruto; SST=sólidos solúveis totais (ºBrix).
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre sí ao nível de 5% pelo teste de Tukey.
1/
parentais em um experimento instalado
sob delineamento de blocos ao acaso,
com três repetições e dez plantas por parcela. O experimento foi conduzido no
período de setembro a novembro/98, em
campo, na Estação Experimental de
Pacajus (CE), pertencente à Embrapa
Agroindústria Tropical. As distâncias
entre linhas de plantio e entre plantas
dentro da linha foram respectivamente de
2,00 e 0,50 metros. O cultivo foi conduzido sob irrigação por gotejamento e o
manejo seguiu as indicações do sistema
de produção para a cultura (Dusi, 1992).
Foram avaliados o número e peso
total de frutos por planta, taxa de concentração da colheita aos 70 dias póssemeadura em relação à produção total
e peso médio dos frutos. Em nove frutos de cada tratamento foram obtidas as
medidas do formato (relação entre os
diâmetros externo longitudinal e transversal) e da cavidade da semente (diâmetro transversal interno). A densidade
do fruto foi estimada pela relação entre
o volume e o peso, sendo o volume, calculado pela quantidade de água que um
fruto desloca quando colocado dentro de
um vasilhame graduado. O teor de sólidos solúveis totais foi determinado em
uma amostra de suco homogeneizado,
extraído de uma fatia longitudinal, com
uso de um refratrômetro de campo. Antes de se efetuarem as análises estatísticas os parâmetros número de frutos e o
índice do formato, foram transformados
, seguindo a metodologia de
para
Steel & Torrie (1960). Com os dados
obtidos efetuaram-se as análises genéHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
tico-estatísticas utilizando-se o programa computacional Genes (Cruz, 1997).
As heteroses, em relação à média dos
pais (Hmp; mp=100) foram expressas em
porcentagem (acréscimo ou decréscimo)
do valor médio observado para as linhagens parentais. A divergência genética
entre os progenitores foi quantificada
pela distância generalizada de
Mahalanobis (D2), e a delimitação dos
grupos de similaridade foi calculada
seguindo a metodologia proposta por
Tocher (RAO, 1952).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As análises de variância para as oito
características avaliadas, indicam que
existem diferenças estatísticas significativas entre os genótipos para número
de frutos por planta (NFP), peso total
de frutos por planta (PFP), peso médio
de frutos (PMF), diâmetro da cavidade
da semente (DCS), formato do fruto
(FF) e sólidos solúveis totais (SST).
Efetuados os desdobramentos dos efeitos de tratamentos, verificou-se que as
linhagens diferem para NFP, PMF, DCS,
FF e SST, enquanto que os híbridos
mostram diferenças para NFP, PMF,
DCS, FF e SST. Observa-se que ocorreram valores elevados para os coeficientes de variação ambiental de PFP e
taxa de concentração da colheita (TCC)
indicando que a colheita concentrada e
a produção de frutos sofrem com as modificações ambientais. Estes valores estão coerentes com o comportamento do
meloeiro, que é muito afetado pelo am-
biente, mostrando grande variabilidade
ambiental dentro de cultivares (Davis et
al., 1964; Nelson & Burguer, 1996) e
mesmo entre plantas dentro de cultivares.
Os testes de médias das linhagens
(Tabela 1) evidenciaram que a linhagem
do grupo momordica, difere para NFP
e FF, e é semelhante a IM 03.04 no que
se refere aos baixos teores de sólidos
solúveis totais. Estas linhagens já haviam
sido anteriormente avaliadas, confirmando desempenho de PI 414723
para alta produção de frutos e de IM
03.04 em produzir frutos com baixos
teores de açúcares (Paiva et al., 2000).
Constata-se que baixo teor de açúcares
é uma característica inerente desta linhagem, apesar de pertencer ao grupo
cantalupensis, cujos frutos mostram altos valores para SST.
A contribuição relativa dos teores de
sólidos solúveis totais para a divergência genética é muito grande (38,39%),
sendo a característica que contribui mais
fortemente para a divergência, seguida
pelo formato do fruto (31,16%). Juntas,
essas duas características alcançaram
quase 70% da variação total. O fato do
sólidos solúveis totais mostrar alta contribuição para a divergência genética é
indicativo de que linhagens com atributos qualitativos excepcionais, mas com
baixo teor de sólidos solúveis não devem ser descartadas para a obtenção de
híbridos, haja vista que, de acordo com
Moonsoon et al. (1996), ocorre heterose
favorável para essa característica. As
características DCS, NFP, PMF, Den35
W. O. Paiva
Tabela 2. Estimativas da divergência genética entre pares de linhagens de melão, expressas pela distância generalizada de Mahalanobis
(D2), e das heteroses (H%) e médias (X) dos híbridos referentes às características agronômicas e de qualidade do fruto e as respectivas
correlações. Pacajus (CE), Embrapa Agroindústria Tropical, 1998.
Genitores D2
NFP
X1)
H (%)
1x9
107,18 2,5 ab
1x4
5,35
3,9 bc
-2,7
PFP
X
H(%)
PMF
X
H(%)
DCS
X
H(%)
4,12 a 101,1 1,65 b 98,08 6,26 b
102,1 2,15 a 46,81 0,55 a -25,0
-2,37
a
-14,9
1,15 a 0,67
6,32
211,93 1,14 a
7x8
43,84 2,75 ab 10,59 2,46 a 68,51 0,88 a 72,89 5,88 ab 14,17 1,09 a 32,98 20,07a -31,9
0,71 a 5,17
8x9
155,40 2,59 ab 48,17 3,90 a 5,49
0,75 a -22,09 9,55 b
43,84 3,29
1,07 a 32,80 5,53 ab 11,53
0,60 a 69,22 4,77 a
36,07 1,38 a 61,32 1,19 a 17,56 7,75 c
154,2 2,64
a
10,67 1,05
a
-8,64
1,47 a 70,12 6,46 b
227,3 0,78
a
23,87 5,57
ab
-2,38
2,09 c 4,74
1,05 a 4,71
17,32 2,09 c -32,8
6,71
1,09
a
51,31 68,64 0,70 a 3,55
29,12 30,48 24,41 0,63
72,78 1,09 a -33,8
5,74
a
a
-2,06
50,33a -29,9
H(%)
0,85 a 30,32 11,75bc 26,71
7x9
b
1,53
17,42a -26,2
3x6
-8,02
b
X
8,35 ab 12,25
146,14 2,4 ab
1,57 ab -55,58 0,97 a -22,6
40,63 6,51
H(%)
3x9
13,71 2,58 a 50,7
1,41
bc
X
45,19 1,07
41,5
5,93
H(%)
2x5
1,73
a
ab
X
18,56 1,86 c 10,92 33,64a 15,99 0,75 a 7,06
SST
a
-22,9
1,03
4,68 a
H(%)
DF
133,05 5,23
8x7
-16,07 5,38
a
X
TCC
c
2 x9
a
FF
a
0,13
6,73 a
3,04
7,89 ab 2,33
0,74 a -22,18 8,19 ab -12,13
60,24a 32,80 0,81 a -37,76 10,11bc 36,94
39,73a -23,4
26,73a -31,2
0,62 a -33,38 11,94c
-9,39
9,74 bc 23,99
41,98
a
21,92 15,73 0,61 a -11,62 10,05bc 21,20
Corr. Pearson
-0,20
0,63
0,17
0,76
0,06
0,20
-0,29
0,33
Corr. Spencer
-0,37
0,70
0,16
0,71
0,14
0,08
-0,26
0,28
NFP= número de frutos; PFP= produção total (g/planta); PMF = peso médio de frutos (g), DCS= diâmetro da cavidade da semente (cm),
FF= formato do fruto; TCC= taxa de concentração da colheita; DF= densidade do fruto; SST= sólidos solúveis totais (ºBrix))
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre sí ao nível de 5% pelo teste de Tukey.
1/
sidade do fruto (DF), TCC e PFP apresentaram contribuição relativa de 9,15;
7,58; 7,06; 3,58; 2,38 e 0,67%.
As médias de dissimilaridade entre
cada par de genótipos obtidas pela distância generalizada de Mahalanobis
(D2), permitiram a formação de dois grupos de similaridade. O grupo I foi composto pelas oito linhagens da Embrapa
Agroindústria Tropical, embora apresentem diferenças para tipo de fruto e
grupo botânico. É provável que se fossem utilizadas também nesta avaliação
as características de tipo de superfície
de epiderme, coloração da epiderme,
coloração da polpa, que são mais contratantes, o resultado do agrupamento
seria diferente. O outro grupo é formado apenas por PI 414723, que é o mais
divergente.
As distâncias genéticas, calculadas
pelo método de Mahalanobis, foram
maiores quando se utilizava a linhagem
do grupo momordica como um dos
parentais, e menores quando duas linhagens eram do grupo cantalupensis (Tabela 2). O cruzamento mais divergente foi
verificado entre uma linhagem inodorus
e outra momordica (7x9=211,93).
Hierarquizando-se as médias das características, do ponto de vista comercial, verifica-se que esse cruzamento (7x9), ocuparia o 9º lugar para NFP e PFP, o 4º lugar
para PMF, o 10º lugar para DCS, o 8º lugar para FF o 4º lugar para TCC e o primeiro lugar para SST.
36
Os resultados obtidos confirmam
que esse germoplasma não é adequado
para ser utilizado diretamente na produção de híbridos porque resulta em frutos com comprimento acima do desejável, e densidade da polpa muito baixa,
características de frutos com pequena
espessura de polpa. Contudo esses híbridos podem ser recombinados para
sintetizar uma população onde os atributos favoráveis de resistência às doenças, precocidade e concentração de colheita possam ser explorados. Observase, ainda que a heterose para SST nestes cruzamentos foi positiva em duas
ocasiões, quando se cruzou com IM
03.02, uma linhagem cantaloupe
(cantalupensis) e quando se utilizou IM
40.00, uma linhagem amarela
(inodorus). Considerando que sólidos
solúveis totais é uma característica que
tem controle poligênico, com ação genética aditiva e não aditiva e heterose
(McCreiht et al.,1993), existe a possibilidade de que num programa de seleção recorrente esta característica seja
melhorada, com possibilidades de obter altos ganhos na seleção.
Observa-se também na Tabela 2, que
a combinação de progenitores distantes,
considerados divergentes, nem sempre
resulta em heterose expressiva nos híbridos. Valores de heterose abaixo de
10% foram observados nos seguintes
cruzamentos: 1X9, para NFP; 2X9, para
PMF, TCS, DF, e SST; 3X9, para
FF,TCS, e SST. Por outro lado, os maiores valores positivos para a heterose
foram observados nas combinações para
NFP e PFP, no cruzamento entre duas
linhagens do grupo inodorus (8X7), com
valores de heterose de 154,24% e
227,38%; para PMF, no cruzamento
entre uma linhagem cantalupensis e outra momordica (1x9), com heterose de
98,08%; para TCC, no cruzamento entre uma linhagem cantalupensis e outra
momordica (2x9) com heterose de
68,64%; para DF, no cruzamento entre
duas linhagens cantalupensis (1x4), com
heterose de 30,32%; e para SST, no cruzamento entre uma linhagem do grupo
inodorus e outra momordica (8X9), com
heterose de 41,98%.
De acordo com Cruz et al. (1994),
em milho devem ser evitados cruzamentos entre cultivares do mesmo padrão de
similaridade, para maximizar a variabilidade indispensável em qualquer programa de melhoramento. O que se verificou nesse trabalho, é que a heterose se
manifesta mesmo em híbridos produzidos com linhagens cuja distância genética é bastante reduzida, a exemplo do
cruzamento 1X4 ou 3X6, efetuado entre duas linhagens do grupo
cantalupensis. Resultados semelhantes
já foram relatados em quiabo por Parpat
et al., (1980).
Como a heterose é uma medida relativa da geração F1, em comparação à méHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Divergência genética entre linhagens de melão e a heterose de seus híbridos.
dia dos pais Cruz et al., (1994) sugerem
que na escolha dos genitores devem ser
considerados, além da divergência genética, seus próprios desempenhos, concordando com a maneira como até então são
formados os híbridos de melão.
Apesar da correlação entre a divergência genética dos progenitores e o
desempenho médio dos híbridos ter sido
positiva para a maioria dos caracteres,
também foram detectadas correlações
negativas, no caso dos pais e das médias
de híbridos para os caracteres de NFP e
DF. Pelo que se conhece, no que se
refere ao número de frutos por planta, a
ineficiência da predição deste caráter
pode ser atribuída aos efeitos genéticos
não aditivos (McGreicht et al., 1993).
AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq); Programa de Biotecnologia
para a Competitividade Agrícola
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
(BIOEX); Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Fruticultura Irrigada
do Nordeste (PADFIN), e à
VALEFRUTAS-Associação para o Desenvolvimento do Agronegócio do Vale
do Assu pelos recursos fornecidos.
LITERATURA CITADA
CRUZ, C.D. Programa GENES: Aplicativo
Computacional em Genética e Estatística. Viçosa: UFV, 1997. 442 p.
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Calidad postcosecha de tomates almacenados en atmósferas controladas.
Perla A. Gómez; Andrés F.L. Camelo
INTA, Balcarce–Postcosecha y calidad de frutas y hortalizas, CC 276. (7620) Balcarce, Argentina. E-mail: [email protected]
RESUMEN
ABSTRACT
Las atmósferas controladas alargan la vida en estante del tomate,
permitiendo su cosecha en estados de madurez más avanzados y a
su vez afectando su calidad. El objetivo de este experimento fue
estudiar los efectos que atmósferas controladas con bajas
concentraciones de oxígeno y libres de dióxido de carbono y etileno,
producen sobre el color, la firmeza y los principales componentes
del sabor de frutos de tomate cultivar Diva. Durante abril de 1998,
frutos cosechados con grado de color 3 (USDA) en INTA Balcarce
(Argentina) fueron almacenados en frascos herméticos de 3 L a 12°C
durante 36 días. El diseño fue completamente aleatorizado con tres
repeticiones. Cada frasco poseía cuatro frutos, los que constituyeron
la unidad experimental. Los tratamientos fueron cuatro, consistiendo
en un flujo continuo de: a) 1%, b) 3%, c) 5% y d) 21% de O2 (testigo)
completando con N 2 hasta 100%. El color, medido con un
colorímetro, evolucionó más lentamente y la firmeza se retuvo por
más tiempo a medida que se redujo la concentración de oxígeno.
Con 5% de oxígeno el color final no difirió del testigo, con 3% sólo
fue igual al exponerlos luego a 20°C, no alcanzándose una coloración
normal con 1%. Por otra parte, y en todos los tratamientos por igual,
los sólidos solubles y la acidez fueron menores y el pH fue mayor
que al inicio. El color y la firmeza preferidos por los consumidores
(Índice de color »12 y firmeza » 65 KPa) fueron alcanzados a los 7
días de almacenamiento con 21% de O2, a los 12 con 5%, a los 14
con 3% y a los 21 con 1%, correspondiéndose con valores
decrecientes de la relación sólidos solubles/acidez titulable. Esto
indicaría que frutos externamente semejantes poseerían propiedades
organolépticas diferentes. Los efectos observados estarían asociados
no sólo a la menor tensión de oxígeno, sino también a la ausencia de
etileno.
Postharvest quality of tomato fruits stored under controlled
atmospheres.
Palabras-clave: Lycopersicon esculentum, refrigeración, oxígeno,
color, firmeza.
Controlled atmosphere extends tomato shelf life, allowing them
to be harvested them at later maturity stages and, at the same time,
affecting their quality. The effects of controlled atmospheres were
studied (low oxygen concentrations and free of carbon dioxide and
ethylene), on color, firmness and the main components of tomato
fruit taste, cv. Diva. On April 1998, fruits harvested at the turning
stage (USDA) in INTA Balcarce (Argentina) were stored in 3 L
hermetic flasks at 12ºC during 36 days. The experimental design
was completely randomized with three replications. Each flask
containing four fruits was considered as the experimental unit.
Treatments were four, a flow through system of: a) 1%, b) 3%, c)
5% and d) 21% (check) of oxygen balanced with nitrogen to 100%.
Color, measured with a colorimeter, changed more slowly and
firmness remained higher with decreasing oxygen concentrations.
The final color of fruits at 5% O2 was the same as those from check
fruits. Fruits from the treatment 3% reached the optimum color only
when transferred to 20ºC, while those stored at 1% did not reach a
normal color. On the other side, and in all the treatments, soluble
solids and titratable acidity were lower and pH was higher than those
at the beginning. Color and firmness preferred by the consumers
(Color index » 12 and firmness » 65 KPa) were reached after 7-day
storage at 21% O2, 12 days at 5%, 14 days at 3% and 21 days at 1%
according to decreasing values of the soluble solids/titratable acidity
ratio. This would indicate that fruits externally alike could have
different organoleptic properties. Effects observed could be related
to both the low oxygen levels and the absence of ethylene.
Keywords: Lycopersicon esculentum, refrigeration, oxygen, color,
firmness.
(Aceito para publicação em 6 de dezembro de 2.001)
L
a calidad óptima para el consumo
de tomate fresco se obtiene cuando
se permite que los frutos maduren en la
planta, alcanzándose de este modo el
máximo flavor (Kader et al., 1977). Con
el fin de demorar la cosecha lo más
posible, se ha observado un importante
desarrollo de la tecnología de
almacenamiento en atmósferas
modificadas y controladas. En este último
caso, el tomate puede ser cosechado con
un grado de coloración 3 (escala USDA,
1975), el que le conferiría una vida de
postcosecha relativamente larga;
proporcionaría frutos de mejor sabor y
permitiría que los mismos alcancen sin
38
inconvenientes la coloración final (Gong
& Kenneth, 1994).
La contribución relativa del sabor y
el aroma al flavor no ha sido aún
claramente delimitada. Con respecto al
aroma, se ha observado que su principal
componente (el volátil Z-3-hexenal) se
encuentra en una concentración 31%
mayor en tomates madurados en planta
que cuando la cosecha es anticipada con
el fin de lograr un mayor potencial de
almacenamiento (Saltveit, 1999). En
cuanto al sabor son importantes los
azúcares,
que
constituyen
aproximadamente el 60% de los sólidos
solubles (predominan glucosa y
fructosa), los ácidos orgánicos
(mayormente cítrico y en menor medida
málico), aminoácidos, lípidos y
minerales (Peiris et al., 1998).
Mientras algunos investigadores han
sugerido que la relación sólidos
solubles/acidez titulable es importante
para definir las diferencias en el flavor
entre cultivares de tomate, otros indican
que el flavor de los frutos puede ser
mejorado incrementando el contenido
total de azúcares y ácidos (Jones &
Scott, 1984). Generalmente, un
incremento en estos compuestos resulta
en un correspondiente aumento en la
intensidad del flavor, lo que no
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Calidad postcosecha de tomates almacenados en atmósferas controladas.
necesariamente implica una mejora en
la calidad del mismo. A su vez, dado un
nivel de azúcares, habría una
concentración óptima de ácidos por
encima de la cual ocurriría una
disminución en la aceptabilidad
(Malundo et al., 1995). Actualmente, el
flavor del tomate es estimado tanto a
partir de estudios sensoriales como
mediante mediciones de sólidos
solubles, pH, acidez titulable y la
relación sólidos solubles/acidez titulable
(Baldwin et al., 1991; 1998).
Una concentración de oxígeno
menor que la del aire normal conduce a
una
maduración
más
lenta,
observándose que niveles de este gas por
debajo del 21% reducen la velocidad de
reacción en varios procesos fisiológicos
como la producción de etileno y la
actividad de enzimas relacionadas con
el ablandamiento celular (Peppelenbos,
1997; Thompson, 1998). La
concentración de oxígeno debe ser
menor al 10% para afectar la respiración
(Wills et al., 1981). En cambio, la
respuesta al etileno se ve inhibida
significativamente con niveles del orden
del 3% (Silva et al., 1999).
Concentraciones inferiores al 1%
pueden
ocasionar
desórdenes
fisiológicos, ya que si bien se demora la
maduración, cuando los frutos son
transferidos al aire se producen
podredumbres antes de que se complete
la coloración (Thompson, 1998),
consecuencia de una fermentación
anaeróbica durante el almacenamiento
(Li et al., 1973). En general, los
máximos
beneficios
del
almacenamiento en atmósferas
controladas se obtienen cuando la
concentración de O2 oscila entre el 1%
y el 5% y el CO 2 no supera el 5%
(Salunke & Desai, 1984; Kader et al.,
1985), habiéndose comprobado que con
0% de CO2 se obtienen muy buenos
resultados (Yang & Chinan, 1988).
Además, sin excepción, el producto
debe ser mantenido en condiciones
refrigeradas (12º C).
Diversos investigadores han
determinado cómo la menor
concentración de oxígeno afecta la
degradación del almidón y la clorofila
y, al mismo tiempo, la síntesis de
licopeno, b-caroteno y azúcares solubles
(Thompson, 1998). Sin embargo, es
menor el número de trabajos que
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
aborden su incidencia sobre las variables
que en mayor medida determinan la
decisión de compra por parte del
consumidor, esto es, el color, la firmeza
y los principales componentes del sabor.
El objetivo de este trabajo fue
determinar los efectos que atmósferas
controladas con concentraciones de
oxígeno menores a la atmosférica y
libres de dióxido de carbono y etileno,
producen sobre el color, la firmeza y los
principales componentes del sabor de
frutos de tomate Diva, cultivar larga vida
ampliamente difundido.
MATERIAL Y METODOS
Frutos del cultivar Diva producidos
en invernadero, fueron cosechados y
transportados al Laboratorio de Calidad
y Postcosecha de la EEA Balcarce.
Tomates sanos, libres de heridas y de
defectos visibles fueron desinfectados
sumergiéndolos en una solución de 100
ppm de hipoclorito de sodio. Una vez
secos, se clasificaron de acuerdo a su
color externo utilizando la escala de
colores de California Tomato Board
(USDA, 1975), seleccionando aquellos
correspondientes al grado de madurez
3 (entre 10% y 30% de su superficie con
coloración distinta del verde). Se
formaron muestras de 530 ± 30 g,
colocándolas en frascos de vidrio de 3
litros de capacidad y llevándolas a una
cámara refrigerada a 12ºC. El diseño
experimental fue completamente
aleatorizado. Cada tratamiento contó con
tres repeticiones de cuatro frutos cada una,
constituyendo cada frasco una unidad
experimental. Se establecieron cuatro
tratamientos con las siguientes
concentraciones: a) 1% de oxígeno + 99%
de nitrógeno, b) 3% de oxígeno + 97% de
nitrógeno, c) 5% de oxígeno + 95% de
nitrógeno y d) 21% de oxígeno + 79% de
nitrógeno (testigo). Los mismos se
aplicaron mediante un flujo continuo de 4
mL/min en el interior de cada frasco, a fin
de asegurar una composición gaseosa
constante a lo largo de todo el experimento
y evitar la acumulación de dióxido de
carbono y etileno.
Diariamente se midió el contenido
de dióxido de carbono y etileno dentro
de los envases con el fin de verificar que
no se produjera su acumulación. En el
primer caso, muestras de 1 ml fueron
inyectadas en un analizador infrarrojo
de CO2 (Illinois Modelo 3600). Para las
determinaciones de etileno muestras de
igual volumen fueron inyectadas en un
cromatógrafo de gases Varian
Aerograph (Series 1400) con detector de
ionización de llama (FID).
Se determinó la calidad inicial de los
frutos, considerando los mismos
parámetros que posteriormente fueron
evaluados a los 8; 15; 27 y 36 días de
almacenamiento, fechas en las que se
realizaron muestreos de tipo destructivo.
Se analizaron los siguientes aspectos:
Color: determinado con un
colorímetro Minolta (Chroma meter
CR300), utilizando la escala de la CIE
L*a*b*(1976). El valor de estos
parámetros para cada una de las
muestras se obtuvo promediando los
resultados de tres lecturas efectuadas en
la zona ecuatorial y una en el extremo
distal de cada uno de los frutos que
componían la misma. Para expresar el
color se calculó el índice de Yeatman
modificado (López Camelo et al., 1996),
que emplea los parámetros a*, b* y L*
en lugar de a, b y L.
Firmeza: Mediante la determinación
de los diámetros menor y mayor del área
de deformación producida al someter
frutos a un aplanador horizontal (1,4 kg),
aplicando el peso en la zona ecuatorial
(Calbo & Nery, 1995). Cada medición
fue expresada en KPa.
Sólidos solubles: Se determinaron
con refractómetro de mano Baush &
Lomb, utilizando el jugo fresco sin diluir
de las muestras, extraído con juguera, y
centrifugado 20 min. a 6000 rpm. Se los
expresó en ºBrix.
Acidez titulable: 20 g de jugo fresco
se diluyeron con 50 ml de agua destilada
y se titularon con NaOH 0,1 N. La
acidez titulable fue calculada como g%
de ácido cítrico mediante la siguiente
fórmula:
A= acidez en g% de ácido cítrico
V= volumen de NaOH 0,1 N, en cm3
G= cantidad de muestra en g
39
P.A. Gomes & A.F.L. Camelo
Relación sólidos solubles/acidez
titulable: como una medida del sabor
de los frutos, se calculó esta relación
expresándola de la siguiente manera
(multiplicada por 10 para facilitar la
interpretación gráfica de los resultados):
pH: se determinó con un
pehachímetro sobre el jugo sin diluir de
las muestras, extraído y centrifugado.
Para determinar diferencias entre
tratamientos se realizó análisis de
varianza. Para estimar la evolución de
cada parámetro bajo cada tratamiento se
realizaron análisis de regresión en
función del tiempo de almacenamiento,
utilizando el método de los cuadrados
mínimos para seleccionar las
ecuaciones. Para cada fecha de muestreo
se efectuaron tests de comparaciones
múltiples entre los distintos
tratamientos.
RESULTADOS Y DISCUSION
No
fueron
detectadas
concentraciones fisiológicamente
activas de etileno ni significativas de
dióxido de carbono en ninguno de los
envases, lo que indicó que el flujo
establecido en el interior de los frascos
fue lo suficientemente alto como para
evitar la acumulación de los mismos.
El color de los frutos evolucionó
durante el almacenamiento ajustándose a
un modelo de tipo sigmoidal (Figura 1),
coincidiendo con lo hallado por otros
autores para frutos almacenados en
atmósferas normales (Tijskens & Evelo,
1994; López Camelo & Gómez, 1998)
y con coeficientes que variaron en
función del contenido de oxígeno.
Concentraciones de oxígeno menores
que la del aire hicieron que el color se
desarrollara más lentamente, siendo
significativas las diferencias entre el
testigo y los demás tratamientos. Esta
demora se observó principalmente
durante los primeros días de
almacenamiento. Posteriormente, la
coloración final alcanzada por los frutos
almacenados en 5% de oxígeno no
difirió de la observada en el testigo. Con
3% y 1% de oxígeno, el color fue menor,
observándose al finalizar el experimento
40
Figura 1. Evolución del color (ICm) en tomates almacenados a 12ºC
en atmósferas controladas con distintos niveles de oxígeno.
Balcarce, Argentina, INTA, 1998.
que aún no habían alcanzado el valor
máximo. El color de los tomates
provenientes del tratamiento 3%
evolucionó normalmente cuando los
frutos fueron llevados a temperatura
ambiente. En cambio, frutos
almacenados en 1% de oxígeno no
alcanzaron en ninguno de los casos una
coloración óptima.
La firmeza de los frutos disminuyó
durante el almacenamiento, existiendo
un alto grado de ajuste entre la tendencia
observada y las ecuaciones calculadas,
de tipo exponencial negativa (Figura 2).
El ablandamiento fue significativamente
mayor en los frutos almacenados con
21% de oxígeno, seguidos por aquellos
expuestos al 5%. Los tratamientos con
1% y 3% de O2, proporcionaron, luego
de 36 días, los frutos más firmes.
El contenido de sólidos solubles y
la acidez titulable variaron durante el
almacenamiento (Tabla 1). En todos los
casos, los valores observados luego de
36 días fueron menores que los iniciales,
no existiendo diferencias significativas
entre tratamientos. Al analizar el
cociente entre ambos parámetros
(Figura 3) y calcular las ecuaciones
correspondientes, se obtuvo un alto
grado de ajuste. En todos los
tratamientos se constató un aumento
inicial de la relación, debido,
principalmente, a una caída importante
en la acidez y a un leve aumento en el
contenido de sólidos solubles.
Posteriormente, mientras la acidez
tendió a estabilizarse, el contenido de
sólidos solubles disminuyó, determinando
que la relación cayera en forma continua
hasta el final del almacenamiento.
En cuanto al pH, se observó que el
patrón de evolución fue similar para
todos los tratamientos no siendo
significativas las diferencias (Tabla 1).
En todos los casos la tendencia inicial
fue
decreciente
para
luego
incrementarse marcadamente hacia el
final del experimento.
Tanto el desarrollo del color como
la pérdida de firmeza se relacionaron
altamente con el contenido de oxígeno
de las atmósferas, siendo más efectivas
en demorar los cambios aquellas que
poseían las menores concentraciones de
este gas, lo que también ha sido
observado por otros investigadores
(Salunke & Wu, 1973).
La pérdida de la firmeza es la
resultante de la acción de tres enzimas
principales: celulasa, pectinesterasa y
poligalacturonasa (Tucker et al., 1980),
siendo esta última la que mejor se
correlaciona con el ablandamiento, ya
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Calidad postcosecha de tomates almacenados en atmósferas controladas.
Figura 2. Evolución de la firmeza (KPa) en tomates almacenados a 12ºC
en atmósferas controladas con distintos niveles de oxígeno. Balcarce,
Argentina, INTA, 1998.
Figura 3. Evolución de la relación (S.S./A.T.)x10 en tomates almacenados a 12ºC
en atmósferas controladas con distintos niveles de oxígeno. Balcarce, Argentina,
INTA, 1998.
que su concentración se incrementa
durante la maduración. Esta enzima se
sintetiza de novo, proceso que requiere
de la presencia de oxígeno y que a su
vez es estimulado por el etileno (Abeles
et al., 1992).
Los cambios en el color se hallan
controlados por enzimas que son
altamente dependientes del etileno, el
cual participa regulando la síntesis de
licopeno y b-caroteno y la degradación
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
de la clorofila (Hobson & Grierson,
1993). En este experimento los frutos
no se hallaron expuestos al etileno
debido a que el barrido continuo de la
atmósfera impidió su acumulación.
Además, se requiere una concentración
mínima de oxígeno para que el etileno,
aún cuando presente, pueda ejercer su
acción, debido a que su receptor tiene
un grupo metálico en su estructura que
debe estar bajo la forma oxidada (Abeles
et al., 1992). Estudios recientes indican
que la presión parcial de oxígeno a la
cual la respuesta al etileno es inhibida
un 50% (KM) es de aproximadamente
3% (Silva et al., 1999).
El hecho de que los frutos
igualmente se ablanden y cambien su
color, aunque a un ritmo más lento,
indicaría que al menos algunos procesos
relacionados a la modificación de la
pared celular y la síntesis de pigmentos
serían etileno independientes.
Los cambios en el contenido de
sólidos solubles y la acidez titulable
resultaron
marcadamente
independientes de la concentración de
oxígeno, al menos en los niveles
probados en este experimento. Esto
confirmaría lo hallado en trabajos
previos, donde se indicó que no existiría
una relación de dependencia entre las
variaciones en los ácidos orgánicos, los
azúcares reductores y la degradación de
almidón con respecto a los cambios en
el color y el ablandamiento celular
(Jeffery et al., 1984; Baldwin et al.,
1991). Las enzimas relacionadas con el
proceso respiratorio tienen una muy alta
afinidad por el oxígeno, siendo capaces
de saturarse con concentraciones
menores al 1% (Silva et al., 1999). Esto
explicaría la inexistencia de diferencias
entre tratamientos cuando se analizaron
los sólidos solubles y la acidez titulable.
Debido a que la evolución del color
y la pérdida de firmeza se vieron
afectados de manera semejante por la
concentración de oxígeno, el punto de
intersección entre las funciones que los
representan
correspondió
aproximadamente a los mismos valores
de color y firmeza para todos los
tratamientos (IC »12 y Firmeza »65
KPa), niveles que, según trabajos
previos, prefiere el consumidor para
adquirir el producto (Shewfelt &
Prussia, 1993) (Figura 4). El momento
en que esto ocurrió dependió de la
efectividad del tratamiento para demorar
los cambios (a los 7 días en el testigo, 12
días en la atmósfera con 5% de oxígeno,
14 días en la de 3% y 21 días en la de 1%).
Sin embargo, la relación sólidos solubles/
acidez titulable presentó valores diferentes
en cada uno de los casos, ya que su
evolución mostró ser independiente de la
concentración de oxígeno.
41
P.A. Gomes & A.F.L. Camelo
El sabor de los frutos está dado por
los niveles de azúcares y ácidos
orgánicos, aún cuando no exista
coincidencia en cómo estos factores
interactúan. Dado que los cambios en
las variables empleadas para estimar
estos parámetros no dependieron de la
atmósfera, pero el color y la firmeza sí
lo hicieron, se podría inferir que frutos
que por su aspecto externo se
encontrarían en el grado de aceptación
óptimo por parte del consumidor,
poseerían propiedades organolépticas
diferentes.
Atmósferas con niveles de oxígeno
menores al 5% y libres de dióxido de
carbono y etileno alargaron la vida de
postcosecha de frutos de tomate cv. Diva
cosechados con un grado de color 3
(USDA, 1975), siendo la más
conveniente aquella que poseía 3% de
oxígeno. Estas atmósferas ocasionaron
un retraso en el desarrollo del color y el
ablandamiento, pero no afectaron
significativamente los cambios que
normalmente ocurren en las principales
variables responsables del sabor. Los
efectos observados parecen estar
asociados no sólo a la menor tensión de
oxígeno sino también a la ausencia de
etileno, hormona no detectada en
ninguno de los tratamientos.
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42
Figura 4. Evolución estimada del color, la firmeza y la relación (S.S./A.T.)x10
en tomates almacenados a 12ºC en atmósferas controladas con distintos
niveles de oxígeno. Balcarce, Argentina, INTA, 1998.
Tabla 1. Evolución del contenido de sólidos solubles, la acidez titulable y el pH en tomates
almacenados en atmósferas controladas a 12ºC. Balcarce, Argentina, INTA, 1998.
Tratamiento
1% O²
3% O²
5% O²
21% O²
S.S.
A.T.
pH
S.S.
A.T.
pH
S.S.
A.T.
pH
S.S.
A.T.
pH
0
4.23b
0.45c
4.36b
4.23b
0.45c
4.36b
4.23b
0.45b
4.36a
4.23b
0.45b
4.36a
Días a 12 oC
8
15
c
4.53
4.20b
0.46c
0.40b
a
4.06
4.33b
4.33c
4.33c
c
0.45
0.40a
4.06a
4.03a
4.6c
4.00b
b
0.44
0.36a
4.16a
4.3a
c
4.33
4.00a
0.40a
0.39a
4.10a
4.33a
27
4.20b
0.37a
4.63c
4.00a
0.40a
4.60c
3.86a
0.35a
4.63b
4.06a
0.39a
4.70b
36
4.00a
0.42b
4.60c
4.00a
0.43b
4.60c
3.80a
0.38a
4.66b
4.00a
0.41a
4.60b
Valores seguidos por igual letra dentro de cada fila no difieren significativamente entre sí.
Duncan 5%.
S.S.= sólidos solubles; A.T.= acidez titulable.
JEFFERY, D., SMITH, C., GOODENOUGH, P.,
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Caracterização morfológica de acessos de batata-doce1 .
Máskio Daros1/; Antônio T. Amaral Júnior1/; Telma Nair S. Pereira1/; Nilton R. Leal1/; Silvério P. Freitas1/;
Tocio Sediyama2/
UENF-CCTA, Av. Alberto Lamego 2000, Horto, 28.015-620 Campos dos Goytacazes – RJ; 2/UFV, 36.571-000 Viçosa – MG;
E-mail: [email protected]
1/
RESUMO
ABSTRACT
Objetivando caracterizar morfologicamente acessos de batatadoce da Coleção de Germoplasma da UENF e visando otimizar a
utilização de genomas de interesse para o melhoramento, foram instalados dois experimentos, ambos em blocos ao acaso com três repetições. Os plantios foram realizados em novembro e em dezembro de 1997, ambos na cidade de Campos dos Goytacazes (RJ). Para
tanto, quatorze acessos de batata-doce foram avaliados quanto a
descritores da parte aérea e das raízes, num total de vinte características. Constatou-se a ocorrência de variabilidade genética entre os
acessos, proporcionada principalmente pelas características
pubescência do ápice das ramas, pigmentação das nervuras inferiores da folha e formato das raízes. Os acessos ‘Amarelinha’, ‘Roxinha’,
‘WON-B’ e ‘Campina 3’ apresentaram características de interesse
para o mercado consumidor Norte- Fluminense.
Palavras-chave: Ipomoea batatas (L.) Lam., descrição
morfoagronômica, descritores, recursos genéticos.
Morphologic characterization of sweet potato.
To characterize morphologically accesses of sweet potato from
the germplasm collection of the Universidade Estadual do Norte
Fluminense (UENF) Brazil, as a way to optimize the utilization of
important genomes for plant breeding, two experiments were carried
out in field conditions, both in a randomized blocks design with
three replications. The experiments were done in November at UENF
and December in Campos. For such experiment, fourteen sweet
potato accesses were evaluated for different traits related to aerial
parts, and root descriptors, in a total of twenty characteristics. Genetic
variability between accesses was observed, mainly due to
characteristics of pubescence of the stem apex, pigmentation of the
inferior veins of leaves and shape of roots. The accesses, Amarelinha,
Roxinha, WON-B and Campina 3 presented interesting
characteristics for the market of north-fluminense region.
Keywords: Ipomoea batatas (L.) Lam., morphoagronomic
description, descriptors, genetic resources.
(Aceito para publicação em 3 de dezembro de 2.001)
A
espécie Ipomoea batatas é cultivada em todo território nacional,
apresentando uma infinidade de formas,
com grande diversidade fenotípica e
genotípica. Praticamente todos os Estados
brasileiros possuem cultivares peculiares,
1
porém, muito do que se conhece é mera
duplicata, visto ocorrerem diversas cultivares iguais com o mesmo nome e viceversa (Miranda, 1982; Murilo, 1990).
Por conseguinte, a caracterização
morfológica constitui em tarefa de gran-
de importância para a cultura da batatadoce, para evitar o plantio de formas
genômicas semelhantes e o conseqüente estreitamento genético da espécie.
A caracterização morfológica consiste em fornecer uma identidade para
Parte da tese de mestrado defendida pelo primeiro autor em outubro de 1999 na UENF.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
43
M. Daros et al.
cada entrada através do conhecimento
de uma série de dados que permitam
estudar a variabilidade genética de cada
amostra (Ramos & Queiroz, 1999).
Considerando a necessidade de um
estudo sobre a recomendação de cultivares para o Município de Campos dos
Goytacazes RJ., e de se conhecer, valorizar e utilizar os acessos da coleção de
I. batatas, desenvolveu-se este trabalho
com o objetivo de diferenciar os acessos da Coleção de germoplasma da
UENF e, com isso, indicar formas promissoras para o melhoramento genético e para o atendimento ao mercado
consumidor.
MATERIAL E MÉTODOS
A caracterização morfológica foi
realizada na Unidade de Apoio à Pesquisa do Centro de Ciências e
Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense e
na Estação Experimental de Campos da
PESAGRO-RIO, no Município de Campos dos Goytacazes, onde foram instalados experimentos no campo em novembro e dezembro de 1997, respectivamente.
O clima da região é classificado
como tropical chuvoso, clima de bosque (AM), segundo Koeppen, citado por
Ometo (1981), com uma precipitação
média anual de 1023 mm. O primeiro
experimento foi implantado em solo
fúlvico de textura argilosa com 2,2% de
matéria orgânica e o segundo em
latossolo amarelo com a mesma textura
e 0,14% de matéria orgânica.
Utilizaram-se quatorze acessos de I.
batatas, dois dos quais, provenientes de
olericultores do próprio município
(Roxinha e Amarelinha). Dois foram
oriundos de Itaguaí (WON-A e WON-B)
e um de Magé (Rosinha de Verdan), três
do Estado da Paraíba (Paraíba, Mandioca
e Campina 3) e os demais (Acesso 07, Talo
roxo, Linha 5, Rosada, Roxa-roxa e
Mazomba) sem procedência conhecida.
O delineamento experimental utilizado foi blocos casualizados com quatorze
tratamentos e três repetições. Cada bloco foi composto por duas leiras de
quatorze metros de comprimento e 0,50
m de altura, com espaçamento de 0,25 m
entre plantas e 1,5 m entre o topo das
44
leiras. As áreas experimentais foram submetidas a uma aração e uma gradagem,
feitas, respectivamente, a um mês e uma
semana antes do plantio; posteriormente, foram feitas leiras no terreno.
As avaliações da parte vegetativa
foram feitas três meses após o plantio e
as da raiz foram realizadas por ocasião
da colheita (120 dias após o plantio).
As adubações foram feitas com base
na análise de solo. De acordo com os
valores obtidos nesta análise, fez-se as
seguintes adubações: no ambiente 1
(UENF-CCTA) aplicou-se 10 kg/ha de
nitrogênio, 180 kg/ha de P2O5 e 30 kg/
ha de K2O. No ambiente 2 (PESAGRORIO), aplicou-se a mesma quantidade
de nitrogênio, metade da dose de fósforo e o dobro da dose de potássio.
O nitrogênio (sulfato de amônio) foi
aplicado aos quinze dias (dose única),
juntamente com o cloreto de potássio.
O fósforo (superfosfato simples) foi
aplicado por ocasião do plantio.
As irrigações por aspersão compreenderam duas aplicações semanais até três
semanas após o plantio e uma irrigação
semanal desta data até a colheita. O controle de invasoras foi feito de acordo
com a necessidade.
A caracterização morfológica foi
realizada com o material em pleno desenvolvimento vegetativo, segundo proposto por Huamán (1996), exceto para
características referentes às raízes
tuberosas, que seguiram o padrão de
caracterização recomendado pelo
‘’International Board for Plant Genetic
Resources’’ (IBPGR) (1991). Os dados
referentes às características de folhas e
de pecíolos foram obtidos da parte central das ramas (folhas maduras), utilizando-se três folhas por planta e quatro
plantas por parcela dentro de um bloco
em cada experimento. Os dados referentes às raízes foram obtidos de todo material colhido de seis plantas úteis de
cada parcela.
Foram avaliados, conforme preconizado por Huamán (1996) e IBPGR
(1991): a) tamanho da folha (TF) [pequena (<8 cm), média (8–15 cm), grande (16–25 cm) ou muito grande (>25
cm)], com notas 3; 5; 7, ou 9, respectivamente; b) perfil geral da folha (PG)
(arredondada, reniforme, cordada, triangular, lanceolada, lobulada ou quase di-
vidida), com notas 1; 2; 3; 4; 5; 6 ou 7,
respectivamente; c) tipo de lóbulo da
folha (TL) (ausência de lóbulos, lóbulos muito superficiais, lóbulos superficiais, moderados, profundos ou muito
profundos), com notas 0; 1; 3; 5; 7 ou 9,
respectivamente; d) número de lóbulos
da folha (NL), obtido pela contagem dos
lóbulos de cada folha, descartando-se os
basais; e) forma do lóbulo central da
folha (FLC) (ausente, dentada, triangular, semi circular; semi elíptica, elíptica,
lanceolada, oblongolanceolada, linear
ou linear-estreito), com notas o; 1; 2; 3;
4; 5; 6; 7; 8 ou 9, respectivamente; f)
cor da folha madura (FM) (amarelo-verde, verde, verde com bordas roxas, verde cinzento, verde com nervuras roxas
na face, ligeiramente roxa, predominantemente roxa, verde na face superior e
roxo na inferior ou roxo em ambas as
superfícies), com notas 1; 2; 3; 4; 5; 6;
7; 8 ou 9, respectivamente; g) cor da
folha imatura (FI) (amarelo-verde, verde, verde com bordas roxas, verde cinzento, verde com nervuras roxas na face,
ligeiramente roxa, predominantemente
roxa, verde na face superior e roxo na
inferior ou roxo em ambas as superfícies), com notas 1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 8 ou 9,
respectivamente; h) pigmentação do
pecíolo (PIG) (verde, verde com roxo
próximo ao talo, verde com roxo próximo à folha, verde com roxo em ambos
os extremos, verde com manchas roxas
ao longo do pecíolo, verde com bandas
roxas, roxo com verde próximo à folha,
alguns verdes outros roxos ou totalmente roxo), com notas 1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 8
ou 9, respectivamente; i) comprimento
do pecíolo (COM) [muito curto
(<10cm), curto (10–20 cm), intermediário (21–30 cm), longo (31–40 cm) ou
muito longo (>40 cm)], com notas 1; 3;
5; 7 ou 9, respectivamente; j) pigmentação das nervuras inferiores (PNI)
(amarelo, verde, mancha roxa na base
da nervura principal, mancha roxa em
várias nervuras ou nervura principal
parcialmente roxa, nervura principal
predominantemente ou totalmente roxa,
todas nervuras parcialmente roxas, todas as nervuras predominantemente ou
totalmente roxas, toda face inferior ou
nervuras totalmente roxas), com notas
1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 8 ou 9, respectivamente; l) coloração predominante das
ramas (CP) (verde, verde com poucas
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Caracterização morfológica de acessos de batata-doce.
Tabela 1. Caracterização de alguns descritores referentes à parte aérea de quatorze acessos de batata-doce para as condições ambientais do
Município de Campos dos Goytacazes. Campos dos Goytacazes, UENF, 1997.
Ramas
Acesso
Roxinha
Amarelinha
Acesso 7
Talo roxo
Linha 5
WON-A
Paraíba
Mandioca
WON-B
Campina 3
Rosada
Roxa-roxa
R de Verdan
Mazomba
PIG
CP CS
3
0
1
2
9
2
1
0
1
0
1
0
1
2
3
6
1
2
1
2
1
2
1
7
1
3
1
5
Folha madura
PAR
9
5
3
3
3
0
0
3
3
3
5
7
7
7
PG
6
6
6
6
6
6
3
6
6
6
6
6
6
6
Forma
TL
NL
5
5
7
7
3
5
3
5
3
9
3
9
1
1
3
5
3
5
3
5
3
5
1
5
5
5
3
5
PNI
FLC
4
9
4
2
1
1
1
2
4
2
2
2
4
2
Tamanho
9-13 (5)
8-10 (5)
10-14 (5)
11-14 (5)
10-12 (5)
10-15 (5)
8-10 (5)
10-15 (5)
10-12 (5)
11-14 (5)
10-13 (5)
11-15 (5)
10-15 (5)
10-14 (5)
8
4
9
5
7
5
5
7
7
7
2
7
7
2
Cor da
folha
FM
FI
2
2
9
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
3
2
9
3
2
2
3
2
3
2
3
4
3
4/9
Pecíolo
PIG COM
4
3
9
4
4
4
1
3
5
3
1
1
3
1
5
3
5
7
5
7
5
7
7
7
5
5
5
3
PIG = pigmentação da rama; CP = cor predominante da rama (1 = verde, 3 = verde com poucas manchas rosadas, 9 = totalmente roxo
escuro); CS = cor secundária da rama (0 = ausente, 2 = ápice verde, 3 = nós verdes, 5 = ápice rosado, 6 = nós rosados, 7 = outros); PAR =
pubescência do ápice da rama (0 = nenhuma, 3 = rala, 5 = moderada, 7 = densa, 9 = muito densa); PG = perfil geral da folha madura (3 =
cordada, 6 = lobulada); TL = tipo de lóbulo da folha madura (1 = lóbulos muito superficiais, 3 = superficiais, 5 = moderados, 7 = profundos);
NL = número de lóbulos da folha madura; FLC = forma do lóbulo central da folha madura (1 = dentada, 2 = triangular, 4 = semi-elíptica, 9
= linear-estreito); TAM = tamanho da folha (5 = folha mediana); PNI = pigmentação das nervuras inferiores (2 = verde, 4 = manchas roxas
em várias nervuras, 5 = nervura principal parcialmente roxa, 7 = todas as nervuras parcialmente roxas, 8 = totalmente roxas, 9 = toda face
inferior e nervuras totalmente roxas); FM = cor da folha madura (2 = verde, 9 = roxa em ambas superfícies); FI = cor da folha imatura (2 =
verde, 3 = verde com bordo roxo, 4 = verde cinzento, 9 = roxa em ambas superfícies); PIG = pigmentação do pecíolo (1 = verde, 3 = verde
com roxo próximo a folha, 4 = verde com roxo em ambos extremos, 5 = verde com manchas roxas ao longo do pecíolo, 9 = totalmente roxo);
COM = comprimento do pecíolo (1 = muito curto, 3 = curto, 5 = intermediário). *Rosinha de Verdan
manchas rosadas, verde com muitas manchas rosadas, verde com muitas manchas
rosadas escuras, predominantemente rosado, predominantemente rosado escuro, totalmente rosado ou totalmente rosado escuro), com notas 1; 3; 4; 5; 6; 7; 8
ou 9, respectivamente); m) cor secundária das ramas (CS) (ausente, base verde,
ápice verde, nós verdes, base rosada, ápice rosado, nós rosados ou outros), com
notas 0; 1; 2; 3; 4; 5; 6 ou 7, respectivamente; n) pubescência do ápice das ramas (PAR) (ausência de pilosidade,
pilosidade rala, moderada, densa ou muito densa), com notas 0; 3; 5; 7 ou 9, respectivamente; o) formato da raiz (FOR)
[redondo (perfil quase circular com uma
proporção de largura e comprimento de
1:1), redondo elíptico (perfil ligeiramente
circular com bordos agudos e uma proporção de largura e comprimento de 2:1),
elíptico (perfil com a largura máxima
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
igual à distância de ambos os extremos e
uma proporção de largura e comprimento não superior a 3:1), ovado (perfil semelhante a um ovo), obovado (perfil inverso ao ovado), oblongo (perfil quase
retangular com os lados paralelos), largo
oblongo (perfil oblongo com uma proporção de largura e comprimento superior a 3:1), largo elíptico (perfil elíptico
com uma proporção de largura e comprimento superior a 3:1) ou largo irregular ou curvado, com notas 1; 2; 3; 4; 5; 6;
7; 8 ou 9, respectivamente; p) defeitos
na superfície da raiz (DS) (ausente,
periderme com pele de crocodilo, veias
proeminentes, constrições horizontais
superficiais, constrições horizontais profundas, fendas longitudinais superficiais,
fendas longitudinais profundas,
constrições e rachaduras profundas ou
outros), com notas 0; 1; 2; 3; 4; 5; 6; 7 ou
8, respectivamente; q) espessura do
córtex (ESPCORT) [muito fina (1mm ou
menos), fina (1–2 mm), intermediária (2–
3 mm), grossa (3–4 mm), muito grossa
(>4 mm)], com notas 1; 3; 5; 7 ou 9, respectivamente; r) cor predominante da
periderme (CORPRED) (branco, creme,
amarelo, alaranjado, marrom-alaranjado,
rosado, roxo, roxo-avermelhado ou vermelho escuro), com notas 1; 2; 3; 4; 5; 6;
7; 8 ou 9, respectivamente; s) intensidade da cor (INT) (pálida, intermediária ou
escura), com notas 1, 2 ou 3, respectivamente; t) cor secundaria da periderme
(CORSEC) (classifica-se nos mesmos
tons que a cor predominante); u) cor predominante da polpa (CPP) (branca, creme, creme-escuro, amarelo-pálido, amarelo-escuro,
alaranjado-pálido,
alaranjado-intermediário, alaranjado-escuro ou fortemente pigmentado com
antocianinas), com notas 1; 2; 3; 4; 5; 6;
7; 8 ou 9, respectivamente.
45
M. Daros et al.
Tabela 2. Caracterizações de alguns descritores referentes à raiz de quatorze acessos de batata-doce avaliados para as condições do Município de Campos dos Goytacazes. Campos dos Goytacazes, UENF, 1997.
Acesso
Roxinha
Amarelinha
Acesso 7
Talo roxo
Linha 5
WON-A
Paraíba
Mandioca
WON-B
Campina 3
Rosada
Roxa roxa
Rosinha de Verdan
Mazomba
FOR
DS
8/7
8/9
8
5
2/3
9/8
1
3
3/5
7/4
8/9
5/6
7
2/3
2
3
3
8
8
3
2
0
1
5
8
0
2
2
Raíz
Cor da periderme
ESPCORT
CORPRED
INT
COR1SEC
7
6
1
1
3
6
1
1
9
3
2
3
9
4
2
1
7
3
2
1
7
3
2
0
9
6
3
1
9
6
2
0
7
5
1
1
5
4
2
2
7/4
6
2
1
3
9
3
9
9
6
1
1
5
6
1
1
Cor da polpa
CPP
1
1
4
4
2
2
7
2
3
2
2
9
2
2
FOR = formato da raiz [1 = redondo (L/A1:1), 2 = redondo-elíptico (L/A<2:1), 3 = elíptico (L/A<3:1), 4 = ovado, 5 = obovado, 6 = oblongo
(L/A=2:1), 7 = largo oblongo (L/A>3:1), 8 = largo elíptico (L/A>3:1), 9 = largo irregular ou curvado]; DS = defeito da superfície [ 0=
ausente, 1 = pele de crocodilo, 2 = veias proeminentes, 3 = constrições horizontais superficiais, 5 = fendas longitudinais superficiais, 8 =
outros]; ESPCORT = espessura do córtex [3 = fina (1-2mm), 5 = intermediária (2-3mm), 7 = grossa (3-4mm), 9 = muito grossa (>4mm)];
CORPRED = cor predominante da periderme [3 = amarela, 4 = alaranjada, 5 = marrom alaranjada, 6 = rosada, 7 = roxa]; INT = intensidade
da cor da periderme[ 1 = pálida, 2 = intermediária, 3 = escura]; CORSEC = cor secundária da periderme [0 = ausente, 1 = branca, 2 = creme,
3 = amarela, 7 = roxa]; CPP = cor predominante de polpa [ 1= branca, 2 = creme, 3 = creme escuro, 4 = amarelo pálido, 7 = alaranjado
intermediário, 9 = fortemente pigmentado com antocianinas].
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observa-se, que os descritores referentes à parte aérea revelaram elevada
variabilidade genética entre os acessos
inclusos nos experimentos (Tabela 1).
O perfil geral e a cor da folha madura
foram as características que menos proporcionaram variabilidade entre os acessos, o que se opõe à informação dada
por Murilo (1990) onde é citado o formato das folhas como uma das características mais importantes na distinção
genotípica. Por outro lado, a cor secundária das ramas e a pigmentação das
nervuras inferiores da folha foram as que
apresentaram maior variação. A
pubescência do ápice das ramas foi, de
todas as características avaliadas, a única que apresentou todas as classes possíveis para os quatorze acessos avaliados. No que se refere à cor predominante
da rama a maioria dos acessos (80%) se
encontraram dentro da mesma classe.
Quanto à cor secundária, os acessos foram distribuídos de forma mais diferen46
ciada. Portanto, a cor secundária da rama
possibilitou maior discernimento dos
acessos. De forma análoga, a
pubescência do ápice das ramas apresentou-se como um bom descritor para
a caracterização. A característica pigmentação das nervuras inferiores da folha possibilitou boa discriminação dos
acessos, tornando-se uma boa
indicadora da variabilidade presente,
com a vantagem de ser de fácil classificação. Fica evidente, ao se comparar a
cor da folhagem madura com a cor da
folhagem imatura (Tabela 1), que a última se destacou pela maior variação
para os acessos avaliados, revelando-se
de maior utilidade na distinção
genotípica. Quanto ao pecíolo, a pigmentação apresentou maior número de
classes do que o comprimento. Para o
comprimento do pecíolo, das cinco classes formadas, duas (números sete e
nove) não ocorreram na avaliação.
Na Tabela 2 são apresentados alguns
descritores referentes à raiz dos quatorze
acessos de batata-doce avaliados. Per-
cebe-se pelo mesmo, no que se refere
às raízes tuberosas, que o formato foi a
característica mais variável, com grande diversidade entre os acessos, inclusive dentro destas. Esta característica
apresentou todas as classes possíveis de
discriminação concordando com
Vasconcellos (1986), que cita o formato das raízes como característica muito
importante na descrição de cultivares.
Cinco dos acessos avaliados (Roxinha,
Amarelinha, Acesso 7, WON-A e Rosada) apresentaram o formato largoelíptico para raízes, considerado ideal
para o comércio. Com exceção do acesso 7, houve alguma variação, porém
com menor expressão. Com o formato
elíptico, também desejável ao comércio,
cita-se Linha 5, Mandioca, WON-B e
Mazomba ocorrendo também alguma
variação como a característica anterior.
Outra característica de fácil identificação e que permite boa diferenciação
é a presença de defeitos na superfície
da raiz. Apesar de não terem ocorrido
duas das classes, foi possível a diferenHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Caracterização morfológica de acessos de batata-doce.
ciação entre os acessos. Não se levando
em conta a parte aérea, os defeitos na
superfície da raiz diferem um acesso de
outro, mesmo que tenham formato, cor
e produção iguais. Entre estes, as
nervuras proeminentes foram as que
mais se destacaram, ocorrendo em quatro cultivares avaliadas (Roxinha,
Paraíba, Rosinha de Verdan e
Mazomba), seguidas pelas constrições
horizontais superficiais, que ocorreram
nas cultivares Amarelinha, Acesso 7 e
WON-A (Tabela2). De todos os acessos avaliados, apenas Roxa-roxa e Mandioca não apresentaram qualquer tipo de
defeito na superfície da raiz; entretanto
a cultivar Roxa-roxa possui uma coloração arroxeada na periderme e polpa
não aceitável para o comércio local (Tabela 1). Ao contrário da característica
anterior, a espessura do córtex não é de
fácil obtenção, apresentando pequeno
número de classes e podendo estar sujeito a erros de medições. A cor da
periderme é outra característica tida
como uma das mais importantes na diferenciação. Sua importância vai além
do aspecto morfológico, estando mais
relacionada com o aspecto comercial,
onde há uma restrição de matizes preferidas pelo consumidor (creme, marromalaranjado e rosada). Para o trabalho em
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
questão, a coloração rosada, que é aceitável pelo mercado, esteve em 50% dos
acessos (Roxinha, Amarelinha, Paraíba,
Mandioca, Rosada, Rosinha de Verdan
e Mazomba) (Tabela 2). Todavia, não
se deve desconsiderar a cultivar WONB, por apresentar cor marrom-alaranjada
para essa característica, que também é
de boa aceitabilidade pelo comércio. A
cor secundária da periderme não proporcionou boa diferenciação, visto que 9
dos 14 acessos tiveram predominância
do matiz branco. Semelhante ao que
ocorreu com a característica cor secundária da periderme, a cor predominante
de polpa também variou pouco entre os
acessos estudados, com a maioria deles
dentro de uma mesma classe, que é aceitável pelo comércio. Vale ressaltar que
tais características são suficientes para
diferenciação, porém, no presente trabalho houve uma certa sobreposição das
mesmas.
É importante destacar também que
embora as características comerciais
sejam definidas pelo sistema radicular,
a parte aérea revelou maior variabilidade, sendo mais útil na discriminação dos
acessos.
Pode-se concluir que os genótipos
‘Roxinha’ e ‘WON-B’ são promissores
para futuros programas de melhoramento, visto atenderem às exigências do
mercado consumidor.
LITERATURA CITADA
CAMARGO, A.P. Observações preliminares sobre o ciclo vegetativo da batata-doce. Bragantia,
Campinas, v. 5, p. 797-821, 1945.
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de la planta de batata o camote. In: Manual de
manejo de germoplasma de batata o camote
(Ipomoea batatas). Lima: CIP, 1996. p. 01-16.
IBPGR. Descriptores de la batata. Rome, 1991.
134 p.
MIRANDA, J.E.C. Batata-doce. Evolução e melhoramento. Piracicaba: USP/ESALQ, 1982. 139
p. (Monografia graduação).
MURILO, D.V. Cultivares de batata-doce. In:
ENCONTRO DE PROFESSORES, PESQUISADORES E EXTENSIONISTAS DO RIO GRANDE DO NORTE, 4., 1990, Mossoró.
Anais...Mossoró: Escola Superior de Agricultura
de Mossoró – ESAM, 1990. p. 27-29.
OMETTO, J.C. Bioclimatologia tropical. São Paulo: Agronômica Ceres, 1981. p. 390-398
RAMOS, S.R.R. ; QUEIROZ, M.A. Caracterização morfológica: experiência do BAG de
cucurbitáceas da Embrapa Semi - Árido, com acessos de abóbora e moranga. Horticultura brasileira, Brasília, v. 17, suplemento, p. 9 – 12, 1999.
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ALMEIDA, D.L.; CARVALHO, M.P.M. Caracterização de germoplasma de batata-doce
(Ipomoea batatas (Lam.)) da Estação Experimental de Itaguaí. Itaguaí: Pesagro-Rio, 1986, 6 p.
(Comunicado Técnico, 174).
47
CARVALHO, A.C.P.P.; RIBEIRO, R.L.D. Análise da capacidade combinatória em cruzamentos dialélicos de três cultivares de jiloeiro. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, n. 1, p. 48-51, março 2.002.
Análise da capacidade combinatória em cruzamentos dialélicos de três
cultivares de jiloeiro1 .
Ana Cristina P.P. Carvalho2 ; Raul L.D. Ribeiro3
PESAGRO-RIO, 23.851-970 Itaguaí-RJ. E-mail: [email protected] 3UFRRJ-Instituto de Biologia, BR 465, km. 7, 23.836-970,
Seropédica–RJ.
2
RESUMO
ABSTRACT
As cultivares de jiloeiro (Solanum gilo) Tinguá, Comprido Verde Claro e Morro Redondo foram utilizadas em cruzamentos obedecendo a esquema dialélico, com os recíprocos. Os genitores e os
respectivos híbridos F1 foram avaliados no campo, por 14 descritores
fitotécnicos, dos quais sete foram estatisticamente analisados pelo
Modelo de Griffing. Os genótipos demonstraram capacidade geral
de combinação para comprimento, diâmetro e peso médio do fruto,
número de dias até início da colheita e altura da planta. A capacidade específica de combinação, significativa para todas as características analisadas, indica efeitos de dominância e/ou epistáticos envolvidos no seu controle genético. Os híbridos ´Tinguá´ x ´Comprido Verde Claro´ e ´Comprido Verde Claro´ x ´Morro Redondo´ apresentaram resultados promissores para produção de frutos.
Combining ability analysis in diallel crosses among three
garden egg cultivars.
Palavras-chave: Solanum gilo, hibridação, produtividade.
Three garden egg (Solanum gilo) cultivars: Tinguá, Comprido
Verde Claro, and Morro Redondo were crossed in a diallel scheme
including reciprocals. Parental cultivars and F1 hybrids were evaluated
under field conditions in relation to 14 agronomic traits. Seven of
these traits were statistically analysed and significant effects of general
combining ability demonstrated for fruit length, fruit diameter, mean
fruit weight, number of days from planting to initial harvesting, and
plant height. With respect to specific combining ability there was
significance for all characteristics analysed, showing that dominant/
epistatic effects were involved in their genetic control. The hybrids:
‘Tinguá´ x ‘Comprido Verde Claro´ and ‘Comprido Verde Claro´ x
‘Morro Redondo´ showed promising results for fruit yield.
Keywords: Solanum gilo, hybridization, yield.
(Aceito para publicação em 18 de fevereiro de 2.002)
O
jiloeiro, Solanum gilo Raddi, é
uma planta da família das
solanáceas, com frutos de formas variadas, casca fina e coloração verde clara
ou verde escura quando ainda imaturos,
sendo apreciados por seu paladar e por
suas propriedades digestivas (Castro,
1971). É bastante cultivado no Brasil,
principalmente nos Estados do Rio de
Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e
São Paulo (PESAGRO-RIO &
EMATER-RIO, 1989). No Rio de Janeiro encontra condições favoráveis ao seu
cultivo, razão pela qual tem assumido
importância crescente na olericultura
fluminense. Em 1999, comercializaramse 14.305 t de frutos, dos quais 98% provieram do Estado, com destaque para os
municípios de Sumidouro, Nova
Friburgo, Itaocara, Teresópolis e Cachoeiras de Macacu (CEASA-RJ, 2000).
No início dos anos 80, eram poucas
as cultivares de jiloeiro no comércio,
sendo todas de origem nacional
1
(Filgueira, 1982), situação que parece
perdurar até os dias de hoje. O mercado
consumidor do Rio de Janeiro prefere
frutos de coloração verde clara e formato
alongado, enquanto em São Paulo têm
maior aceitação aqueles arredondados
e verde escuros.
O dialelo é um método genético-estatístico que auxilia na seleção de
genitores, com base na capacidade de
combinação relacionada à produtividade e outras características fitotécnicas
em populações segregantes. O uso do
dialelo permite, ainda, conhecer o controle genético dessas características, que
orienta o método de melhoramento a ser
adotado (Ramalho et al., 1993; Cruz &
Regazzi, 1994). Na análise dialélica proposta por Griffing (1956), o desempenho médio de cada genótipo é decomposto em capacidade geral de combinação (efeitos principais) e capacidade
específica de combinação (interações).
A capacidade geral de combinação
(CGC) diz respeito ao comportamento
médio de um genitor numa série de combinações híbridas e está associada aos
efeitos aditivos dos alelos e às ações
epistáticas do tipo aditiva (Cruz &
Vencovsky, 1989). Por sua vez, a capacidade específica de combinação (CEC)
é usada para estimar os desvios do comportamento de um híbrido em relação
ao esperado com base na CGC, estando
associada aos efeitos de dominância e
epistasia (Cruz & Vencovsky, 1989;
Cruz & Regazzi, 1994).
Poucos estudos genéticos têm sido
realizados com o jiloeiro para subsidiar
o melhoramento da espécie. Campos
(1973) estudou o comportamento de oito
variedades e de seus respectivos híbridos F1, em cruzamentos dialélicos; estimou as diversas heteroses e procedeu à
análise em látice, pesquisando correlações entre caracteres vegetativos e de
produção; constatou a existência de alta
CEC entre cruzamentos, recomendan-
Parte de tese de doutorado do primeiro autor, apresentada ao Depto. De Genética da UFRRJ.
48
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Análise da capacidade combinatória em cruzamentos dialélicos de três cultivares de jiloeiro.
Tabela 1. Caracterização de três cultivares de jiloeiro (Solanum gilo), respectivos híbridos F1 e seus recíprocos, segundo sete descritores
fitotécnicos. Seropédica-RJ, PESAGRO-RIO, 1997.
Cultivar/
Híbridoa
Descritorb
CORPOL CORCAL
FORCAL
FORFRU
branca
verde
intermediário
ovalado
branca
verde
intermediário
ovalado
branca
verde
intermediário arredondado
branca
verde
intermediário
ovalado
branca
verde
intermediário arredondado
branca
verde
intermediário
ovalado
T
CVC
MR
T x CVC
T x MR
CVC x T
CORFRU
verde-clara
verde-clara
verde-escura
verde-clara
verde-escura
verde-clara
FOREXT
pontudo
pontudo
obtuso
pontudo
pontudo
pontudo
CVC x MR
verde-escura
branca
verde
intermediário
arredondado
pontudo
MR x T
verde-escura
branca
verde
intermediário
arredondado
pontudo
MR x CVC
verde-escura
branca
verde
intermediário
arredondado
pontudo
FORSUP
intermediário
intermediário
intermediário
intermediário
intermediário
intermediário
levemente
lobado
Intermediário
levemente
lobado
T = ‘Tinguá’; CVC = ‘Comprido Verde Claro’ e MR = ‘Morro Redondo’;
(Fonte: Morgado & Dias, 1992); CORFRU = cor do fruto imaturo; CORPOL = cor da polpa; CORCAL = cor do cálice; FORCAL = formato
do cálice; FORFRU = formato do fruto; FOREXT = formato da extremidade apical do fruto; e FORSUP = formato da superfície do fruto.
a
b
do o uso de dialélicos na seleção de híbridos comerciais em jiloeiro.
O objetivo do presente trabalho foi
estimar a CGC e a CEC em três cultivares de jiloeiro, selecionadas dentre as
mais importantes atualmente no Brasil,
utilizando a metodologia de cruzamentos dialélicos, com os recíprocos.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas plantas provenientes de sementes de jiloeiro cedidas pela
Topseed Sementes Ltda., representando
as cultivares Tinguá, Comprido Verde
Claro e Morro Redondo. Os híbridos,
obtidos através de polinização manual,
obedeceram o esquema dialélico 3x3,
com os recíprocos. Os cruzamentos foram efetuados em casa-de-vegetação na
Estação Experimental de Itaguaí (EEI),
da PESAGRO-RIO, sediada em
Seropédica-RJ, no período de agosto a
novembro de 1996. Foram usadas 10
plantas envasadas de cada cultivar, sendo que todas elas serviram como
genitores femininos e masculinos. O
pólen foi colhido de flores recém-abertas, previamente colocadas em placas de
Petri por 24 horas para desidratar. Botões florais, no estádio anterior à antese,
foram emasculados pela manhã e imediatamente polinizados.
Os seis híbridos F1 e as três cultivares genitoras foram avaliados na área
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
experimental da EEI, no período de junho a dezembro de 1997. As parcelas
foram constituídas de 10 plantas, dispostas no espaçamento de 1,5 x 0,8 m
entre linhas e entre plantas na mesma
linha, respectivamente. Procederam-se
os tratos culturais rotineiros, incluindo
capinas, amontoa, irrigação por aspersão e pulverizações com pesticidas
(quando necessário). Os frutos foram
colhidos quando próprios para
comercialização e logo colocados em
sacos plásticos no refrigerador até que
as avaliações fossem efetuadas. Essas
avaliações basearam-se em alguns
descritores para Capsicum (IBPGR,
1983) e berinjela (IBPGR, 1988), segundo Morgado & Dias (1992). Foram avaliados a cor do fruto imaturo; cor da
polpa; cor e formato marginal do cálice; formato do fruto; formato da extremidade do fruto; formato do fruto em
corte transversal; número total e peso
total de frutos; comprimento, diâmetro
e peso médio do fruto; número de dias
até início da colheita; e altura da planta.
Nas análises de capacidade
combinatória foram incluídos os
genitores e os híbridos F1, com os recíprocos, perfazendo o total de p 2
genótipos; considerou-se o Modelo 1
(Griffing, 1956), supondo-se as cultivares como de efeito fixo e apenas o erro
experimental como de efeito aleatório
(Ramalho et al., 1993).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados de cor do fruto (casca), da
polpa e do cálice, de formatos do fruto
intacto e em corte transversal, e de formatos marginal do cálice e da extremidade do fruto são apresentados na Tabela 1. Os três genitores e os respectivos híbridos F1 apresentaram polpa do
fruto de cor branca, cálice verde e de
formato marginal intermediário.
Quanto à cor do fruto (casca), observou-se dominância do verde escuro,
que caracterizou todos os híbridos derivados da cultivar Morro Redondo. Campos (1973) constatou, também, que cultivares de jiloeiro de frutos verde-escuros transmitiam esta característica aos
seus híbridos; além disso, verificou que
os híbridos F1 entre cultivares de frutos
claros e escuros, apresentavam, de modo
geral, listras mais claras entremeadas à
cor escura da casca, o que foi confirmado no presente estudo.
Determinou-se, ainda, dominância
da forma arredondada dos frutos, apresentada por todos os híbridos envolvendo ‘Morro Redondo’.
Em relação ao formato da extremidade do fruto, detectou-se dominância
da presença de “bico” apical (formato
pontudo). Assim, os híbridos que tiveram como genitora a cultivar Morro
Redondo, que produz frutos sem “bico”,
apresentaram-se pontudos.
49
A.C.P.P. Carvalho & R.L.D. Ribeiro
Quanto ao contorno superficial do
fruto, todos os híbridos mostraram-se
intermediários em relação aos genitores.
Entretanto, os frutos dos híbridos derivados das cultivares Comprido Verde
Claro e Morro Redondo exibiram perfil
levemente lobado em corte transversal.
Embora trabalhando com cultivares
diferentes, os resultados relativos a características de fruto assemelham-se também
àqueles encontrados por Campos (1973),
que não considerou, entretanto, alguns dos
descritores presentemente estudados, tais
como comprimento e diâmetro do fruto,
cor da polpa, cor e formato do cálice.
Houve diferenças significativas entre
os genótipos avaliados, permitindo a decomposição dos efeitos em CGC e CEC.
Quanto à CGC, registraram-se diferenças para peso, comprimento e diâmetro do fruto, número de dias até início da
colheita, e altura da planta. Não foram
detectadas diferenças para número e peso
total de frutos (Tabela 2). Campos (1973)
já havia constatado significância de quadrados médios referentes à CGC para a
maioria das características por ele estudadas, indicando que as variedades de
jiloeiro na ocasião utilizadas não constituíam, da mesma forma, um grupo geneticamente homogêneo.
Significância para CGC indica que
efeitos gênicos aditivos estão envolvidos na herança de determinada característica. Esses efeitos gênicos aditivos são
fixados ao longo de sucessivas gerações,
sendo sobretudo importantes para espécies autógamas como o jiloeiro. A existência de efeitos gênicos aditivos para
todos os descritores aqui avaliados abre
a possibilidade de obtenção de novas
cultivares a partir de cruzamentos com
os genitores testados.
Altos valores de gi (positivos ou negativos) indicam divergências genéticas
muito expressivas entre genitores. Assim,
aqueles apresentando CGC elevada seriam
potencialmente superiores quanto à sua
contribuição em programas de melhoramento (Ramalho et al., 1993).
Pelos valores de gi referentes à produtividade (número e peso total de frutos), ‘Tinguá’ pode ser indicada como
melhor genitora (Tabela 2).
Em termos de comprimento do fruto, a cultivar Morro Redondo apresentou
valores negativos de CGC, contribuindo
50
Tabela 2. Efeitos (gi) da capacidade geral de combinação (CGC) com referência a sete
descritores fitotécnicos, a partir de cruzamentos entre três cultivares de jiloeiro (Solanum
gilo). Seropédica-RJ, PESAGRO-RIO, 1997.
Descritor
COMFRU
DIFRU
NTF
PTF
PMF
NIC
ALT
b
Ta
0,04
- 0,07
3,94
129,50
0,47
- 4,01
- 0,01
(CGC - gi)
CVC
0,22* *
- 0,08* *
- 0,71
- 78,83
- 0,97* *
2,77* *
- 0,03* *
**
**
**
**
**
MR
- 0,26 * *
0,15 * *
- 3,24
50,67
- 0,50 * *
1,25 * *
0,04 * *
** Significativo ao nível de 1% pelo teste de Tukey;
T = ‘Tinguá’; CVC = ‘Comprido Verde Claro’; MR = ‘Morro Redondo’;
b
COMFRU = comprimento do fruto; DIAFRU = diâmetro do fruto; NTF = número total de
frutos; PTF = peso total de frutos; PMF = peso médio do fruto; NIC = número de dias até
início da colheita; ALT = altura da planta.
a
Tabela 3. Efeitos (sij) da capacidade específica de combinação (CEC) com referência a sete
descritores fitotécnicos, a partir de cruzamentos entre três cultivares de jiloeiro (Solanum
gilo). Seropédica-RJ, PESAGRO-RIO, 1997.
Descritor
COMFRUb
DIFRU
NTF
PTF
PMF
NIC
ALT
T x CVC
0,27 * *
- 0,16 * *
14,67 * *
362,33 * *
- 0,92 * *
- 2,48 * *
0,08 * *
a
( CEC - s ij)
T x MR
- 0,25 * *
0,06 * *
- 5,29 * *
- 97,33 * *
0,82 * *
1,98 * *
- 0,03 * *
CVC x MR
0,33 * *
- 0,07 * *
12,21 * *
429,00 **
1,06 * *
- 7,45 * *
0,06 * *
** Significativo ao nível de 1% pelo teste de Tukey;
a
T = ‘Tinguá’; CVC = ‘Comprido Verde Claro’; MR = ‘Morro Redondo’;
b
COMFRU = comprimento do fruto; DIFRU = diâmetro do fruto; NTF = número total de
frutos; PTF = peso total de frutos; PMF = peso médio do fruto; NIC = número de dias até
início da colheita; ALT = altura da planta.
para reduzir esse comprimento nos híbridos de que participou. ‘Comprido Verde Claro’ e ‘Tinguá’, por sua vez, contribuíram para aumentar o comprimento do
fruto, destacando-se a primeira cultivar
com os valores mais altos.
‘Comprido Verde Claro’ e ‘Tinguá’,
ambas produzindo frutos ovalados, induziram valores negativos de gi, demonstrando seu potencial de reduzir o
diâmetro do fruto nos cruzamentos em
que estiverem envolvidas. Ao contrário,
‘Morro Redondo’, que produz frutos do
tipo arredondado, contribuiu no sentido
de aumentar o diâmetro.
Com relação ao ciclo, ‘Tinguá’, enquanto genitor, influenciou na diminui-
ção do número de dias até início da colheita, enquanto ‘Comprido Verde Claro’ e ‘Morro Redondo’ revelaram efeito oposto.
Finalmente, no que concerne à altura (porte) da planta, somente a cultivar
Morro Redondo apresentou valores positivos de gi,, sendo a única, desse modo,
a contribuir para aumentá-la.
Os efeitos relacionados à CEC (sij)
foram significativos para todos os
descritores avaliados (Tabela 3). Valores de baixa magnitude indicam que os
híbridos F1 entre as cultivares parentais
apresentaram comportamento esperado,
com base na CGC. Por outro lado, altos
valores de sij indicam que o desempeHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Análise da capacidade combinatória em cruzamentos dialélicos de três cultivares de jiloeiro.
nho de um dado híbrido tenderá a ser
melhor ou pior, em relação ao esperado
por conta da CGC dos genitores.
Valores de s ij negativos foram
registrados no cruzamento ‘Tinguá’ x
‘Morro Redondo’ para produtividade
(número e peso total de frutos). As demais hibridações caracterizaram-se por
valores positivos de sij, com os F1’s
‘Tinguá’ x ‘Comprido Verde Claro’ e
‘Comprido Verde Claro x ‘Morro Redondo’ destacando-se quanto a número
e peso total de frutos, respectivamente.
No conjunto das características estudadas, o cruzamento ‘Comprido Verde
Claro’ x ‘Tinguá’ revelou 65% de heterose
em relação à média dos pais e 32% em
relação à do genitor mais produtivo, para
número total de frutos; 63% de heterose
em relação à média dos pais e 30% em
relação à do genitor mais produtivo, quanto ao peso total de frutos (Tabela 3).
Quanto ao diâmetro do fruto, apesar
do F 1 ‘Comprido Verde Claro’ x
‘Tinguá’ ter apresentado heterose negativa, a característica é desejável para
atender à preferência dos consumidores
cariocas por frutos mais compridos.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Esse mesmo híbrido produziu frutos de padrão adequado à
comercialização no Estado do Rio de
Janeiro, isto é, de coloração verde clara, formato ovalado e “bico” apical,
além de revelar maior precocidade do
que seus genitores.
AGRADECIMENTOS
Ao pesquisador Marco Antonio de
Almeida Leal (PESAGRO-RIO/EEI)
pelas sugestões e apoio nas análises estatísticas, e à Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
(FAPERJ) pelo auxílio financeiro.
LITERATURA CITADA
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51
MARTINELLO, G.E.; LEAL, N.R.; AMARAL JÚNIOR, A.T.; PEREIRA, M.G.; DAHER, R.F. Divergência genética em acessos de quiabeiro com base em
marcadores morfológicos. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, n. 1, p. 52–58, março 2001.
Divergência genética em acessos de quiabeiro com base em marcadores
morfológicos.
Gilmar Efrem Martinello; Nilton R. Leal; Antônio T.A. Júnior; Messias G. Pereira; Rogério F. Daher
UENF–CCTA, Av. Alberto Lamego, 2000 – Horto, 28.015-620, Campos dos Goytacazes-RJ; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Vinte e sete caracteres morfoagronômicos, 13 quantitativos e 14
qualitativos, foram utilizados para a avaliação da diversidade genética em 39 acessos do gênero Abelmoschus, por meio das análises de
agrupamento hierárquico do vizinho mais próximo e de componentes principais, utilizando-se a distância Euclidiana média padronizada como medida de dissimilaridade. As plantas foram cultivadas
em condições de campo na Universidade Estadual do Norte
Fluminense, em Campos dos Goytacazes, utilizando-se o delineamento experimental em blocos ao acaso com quatro repetições. A
formação dos grupos de acessos, com base no método hierárquico
do vizinho mais próximo, revelou resultados semelhantes aos obtidos pela análise em componentes principais, já que ambos os métodos reuniram os acessos de A. esculentus e A. caillei. O método
hierárquico agrupou os genótipos de forma idêntica tanto para os 27
descritores quantitativos e qualitativos quanto para os 13 descritores
quantitativos separadamente, demonstrando que os descritores qualitativos tiveram pouca influência na discriminação genotípica. Por
outro lado, os descritores qualitativos foram capazes de classificar
corretamente as espécies, porém mascararam a variabilidade genética no germoplasma, não possibilitando um rastreamento mais
abrangente dos genomas. Os descritores que menos contribuíram
para a discriminação dos acessos foram, largura do epicálice, peso
de 100 sementes, número de segmentos do estigma, altura da planta,
comprimento da folha, largura da folha, nó do primeiro florescimento
e comprimento do fruto.
Genetic divergency of okra accessions based on
morphological characteristics.
Palavras-chave: Abelmoschus spp., diversidade genética, análise
multivariada, distância genética, descritores morfológicos.
Keywords: Abelmoschus spp., genetic diversity, multivariate
analysis, genetic distance, morphological descriptors.
Twenty-seven morphological characteristics (13 quantitative and
14 qualitative) were used to evaluate the genetic diversity of 39
Abelmoschus accessions by hierarchic method of single linkage and
principal component analysis for the grouping of the genotypes.
Standardized average Euclidean distance was used as dissimilarity
measure. Plants were grown in field conditions at the Universidade
Estadual do Norte Fluminense, in Campos dos Goytacazes, Brazil,
using randomized complete blocks design with four replications.
The accessions groups formation based on the hierarchic method of
single linkage showed similar results to those obtained by principal
components analysis since both methods grouped A. esculentus and
A. caillei accessions. The hierarchic method has grouped the
genotypes in the same way as for the 27 descriptors (quantitative
and qualitative) as for the 13 quantitative descriptors, demonstrating
that qualitative descriptors had a little influence on the genotypic
discrimination. Qualitative descriptors were able to correctly classify
species, although they masked the genetic variability at the
germplasm, not allowing a comprehensive survey of the genomes.
The characters that less contributed for the genotypes discriminations
were the epicalyx length, 100 seeds weight, number of stigma
segments, plant height, leaf width, first flowering node and fruit
length.
(Aceito para publicação em 14 de novembro de 2.001)
O
manejo eficiente de germoplasma
vegetal é de vital importância para
o pesquisador, pois este precisa de
germoplasma geneticamente puro e bem
caracterizado, para utilizá-lo em suas
pesquisas e para o melhoramento. Neste contexto, os marcadores genéticos
têm uma aplicação muito importante na
administração de recursos genéticos,
além de proporcionarem dados básicos
que são necessários ao melhoramento de
plantas ou para o mapeamento de genes.
Os marcadores mais antigos e amplamente difundidos, são os que têm como
base características morfológicas. Estes
ainda continuam sendo aplicados com
eficiência para certos tipos de
germoplasma. Suas principais vantagens
52
residem no fato de serem simples, rápidos e com baixo custo de análise
(Bretting & Widrlechener, 1995). Um
dos empregos mais importantes dos
marcadores genéticos é a determinação
das relações citogenéticas que, por sua
vez, é o ponto crítico para a organização da diversidade/divergência genética (Crawford, 1990).
A falta de entendimento das relações
sistemáticas põe em risco a proteção in
situ do germoplasma. Os marcadores
genéticos também podem auxiliar na
identificação correta de acessos do
germoplasma (Bohac et al., 1993), pois
o realinhamento taxonômico servirá
para saber como se proceder na administração e uso deste germoplasma no
futuro. Os marcadores genéticos podem
revelar, ainda, os perfis genéticos
populacionais de germoplasma recém
adquiridos, como um prelúdio para uma
administração ex situ, per se (Brown &
Clegg, 1983). Para tanto, é necessário a
avaliação e interpretação simultânea de
um conjunto de caracteres para a determinação daqueles que efetivamente
contribuem na discriminação genotípica
(Cruz, 1990).
Bisht et al. (1997) utilizaram dados
de 49 acessos de Abelmoschus
tuberculatus para estudar a diversidade
genética de características mofológicas
quantitativas e qualitativas, por meio de
técnicas de análises estatísticas
multivariadas. Ariyo (1993) utilizou a
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Divergência genética em acessos de quiabeiro com base em marcadores morfológicos.
análise de componentes principais e
canônica, para estudar a variabilidade
em 30 acessos de A. caillei. A partir destes resultados, ficou esclarecido que a
pigmentação e características do fruto
foram os descritores mais importantes
na variação entre os acessos. A análise
canônica, entretanto, forneceu uma visão diferente da importância relativa das
várias características. Nesta, as características número de frutos por planta e
peso dos frutos foram as que mais contribuíram para a variação total.
Hamon & van Sloten (1989) relataram que uma única lista de descritores,
proposta inicialmente para todo o gênero Abelmoschus, não considera o
polimorfismo morfo-fenológico das formas africanas. A. esculentus e A. caillei
são duas espécies cultivadas que coexistem com vários ciclos e estruturas
diferentes e que isso revela as limitações de uma única lista de descritores
na caracterização de diversas formas de
espécies cultivadas, a qual é menos válida ainda, quando se considera as formas silvestres.
As técnicas de estatística
multivariadada que permitem a
quantificação da dissimilaridade pela
distância genética, assim como análises
de agrupamentos, constituem-se em instrumentos adequados para a avaliação
de acessos em bancos de germoplasma,
onde o número de genótipos é elevado
e vários descritores são utilizados (Pereira, 1989; Cruz, 1990).
Este trabalho teve por objetivo estimar a diversidade genética, bem como
discriminar
os
caracteres
morfoagronômicos de maior importância na caracterização da variabilidade de
acessos do gênero Abelmoschus. Para
tanto, utilizou-se técnicas de análise estatística multivariada, quais sejam, as
análises de agrupamento hierárquico do
vizinho mais próximo e componentes
principais, com base na distância
Euclidiana média padronizada.
MATERIAL E MÉTODOS
Para o estudo da divergência genética com base em marcadores
morfológicos, utilizaram-se 39 acessos
do gênero Abelmoschus, sendo quinze
pertencentes à espécie A. esculentus,
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
quinze A. caillei, sete A. moschatus, um
A. ficulneus e um A. tetraphyllus. Estes
acessos foram cedidos pela Estação
Regional da Geórgia do Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos
(USDA), os quais foram solicitados com
a intervenção da Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia, seguindo-se
a legislação para importação de
germoplasma. Atualmente, os acessos
estão sendo mantidos pelo Banco de
Germoplasma da UENF. Os genótipos
incluem espécies cultivadas e silvestres
de diversas origens (Tabela 1).
As plantas foram cultivadas na Unidade de Apoio a Pesquisa da UENF, em
Campos dos Goytacazes, no periodo de
agosto de 1998 a janeiro de 1999. O
espaçamento utilizado foi 1,0 m entre
fileiras e 0,5 m entre plantas. Utilizouse o delineamento experimental em blocos ao acaso, com 4 repetições e 5 plantas por parcela. Na caracterização do
germoplasma utilizou-se 13 descritores
quantitativos: número de segmentos do
epicálice, comprimento do epicálice
(mm), largura do epicálice (mm), comprimento do pedúnculo (cm), peso de
100 sementes (g), número de segmentos do estigma, altura de planta (cm),
número de internós, comprimento da
folha (cm), largura da folha (cm), nó do
primeiro florescimento, nós produzindo frutos na haste principal, comprimento do fruto (cm) e 14 descritores qualitativos: tipo de fruto (1:quinado, 2:intermediário, 3:roliço); hábito de crescimento (1:ereto, 2:intermediário, 3:prostrado); presença de ramificação (1:baixa, 2:abundante); pubescência do caule
(1:altamente piloso, 2:medianamente
piloso, 3:notável); cor do caule (1:verde, 2:verde com manchas vermelhas,
3:vermelho); cor da folha (1:verde,
2:verde com nervuras vermelhas, 3:vermelha) forma do epicálice (1:linear,
2:lanceolado, 3:triangular); persistência
dos segmentos do epicálice [1:não persistente até sete dias do florescimento,
2:parcialmente persistente (após sete
dias), 3:persistente]; cor da pétala
(1:amarela, 2:branca); coloração vermelha na base da pétala (1:apenas internamente, 2:ambos os lados); posição do
fruto na haste principal (1:ereto, 2:horizontal, 3:pendular); cor do fruto imaturo (1:verde, 2:verde-escuro, 3:verde
com manchas vermelhas, 4:vermelho,
5:vermelho-escuro); pubescência do fruto (1:pelos macios, 2:ásperos, 3:espinhosos); tipo do estigma (1:aberto, 2:semiaberto, 3:fechado).
A caracterização foi efetuada de
acordo com a lista de descritores do
“International Plant Genetic Resources
Institute” (IPGRI) elaborada por
Charrier (1984). A análise estatística foi
efetuada com base na distância
Euclidiana média padronizada e componentes principais, utilizando-se os
recursos computacionais do Programa
Genes I (Cruz, 1997).
A Distância Euclidiana Média Padronizada é expressa por:
n
dii’ = í[ ∑ (Xij - Xi’ j)2 ]/ný½ ,
j=1
onde n = número de variáveis avaliadas; e Xij = a observação no acesso i em
referência à característica j.
Para a padronização utilizou-se a
relação:
Xij = Xij ,
S (Xj)
em que S (Xj) é o desvio-padrão dos
dados do j-ésimo caráter (Cruz &
Regazzi, 1994).
Na obtenção dos componentes principais, as seguintes propriedades foram
consideradas:
a) Se Yij é um componente principal, então:
Yij = a1 xi1 + a2x12 + ... apxip
b) Se yij’ é outro componente principal, então:
yij’’ = b1xi1 + b2 xi2 + ... bpxip
P
P
e, ∑ aj2 = å bj2 = 1
j=1 j=1
P
∑ ajbj = 0,
j=1
ou seja, os componentes são não
correlacionados.
c) Entre os componentes principais,
yi1 apresenta a maior variância, yi2 o segundo maior e, assim, sucessivamente.
53
G.E. Martinello et al.
Tabela 1. Lista dos acessos de Abelmoschus spp caracterizados e suas procedências. Campos dos Goytacazes, UENF, 1999.
Item
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
Acesso*
1367
1368
1369
1370
1371
1291
1304
1307
1310
1311
1312
1313
1314
1315
1321
1372
1284
1288
1290
1301
1306
1309
1373
1293
1294
1295
1297
1300
1323
1324
1296
1302
1303
1316
1317
1318
1320
1374
1375
Identificação da espécie
A. esculentus cv. Piranema
A. esculentus cv. Santa Cruz 47
A. esculentus cv. Pusa Sawani
A. esculentus var. Itaocara I
A. esculentus var. Itaocara II
A. esculentus
A. esculentus
A. esculentus
A. esculentus
A. esculentus
A. esculentus
A. esculentus
A. esculentus
A. esculentus
A. esculentus cv. Parbhani Kranti
A. caillei
A. caillei
A. caillei
A. caillei
A. caillei
A. caillei
A. caillei
A. manihot
A. caillei
A. caillei
A. caillei
A. manihot
A. caillei
A. caillei
A. caillei
A. moschatus
A. moschatus
A. moschatus
A. moschatus
A. moschatus
A. moschatus
A. moschatus
A. tetraphyllus
A. ficulneus
Procedência
Itaguaí-RJ.
Itaguaí-RJ.
Índia
Itaocara-RJ.
Itaocara-RJ
Síria
Paquistão
Nigéria
Burkina Faso
Algéria
Síria
Zambia
Camarões
Sudão
Índia
Índia
Costa do Marfim
Costa do Marfim
Costa do Marfim
Costa do Marfim
Costa do Marfim
Costa do Marfim
Índia
Togo
Guiné
Togo
Japão
Burkina Faso
Benin
Guiné
Benin
Benin
Togo
Benin
Costa do Marfim
Benin
Benin
Índia
Índia
*Número dos acessos registrados no Banco de Germoplasma da UENF.
As estimativas desses parâmetros
são obtidas pela solução do sistema de
equação:
(R - λjI) aj = 0, em que λj são as raízes
características ou autovalores da matriz
54
de correlações entre as variáveis originais ou de covariâncias entre variáveis
padronizadas. Existem p autovalores correspondentes às variâncias de cada um
dos p componentes principais; αj = vetor
característico ou também chamado
autovetor, representa o conjunto de transformações ortogonais nas quais as variáveis originais padronizadas devem ser
multiplicadas, para produzir as variáveis
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Divergência genética em acessos de quiabeiro com base em marcadores morfológicos.
transformadas; I é a matriz identidade
de dimensão p x p; e R é matriz de correlações fenotípicas entre pares de variáveis originais.
A importância relativa de cada componente (Irj) foi avaliada pela porcentagem da variância total que ele explica,
ou seja:
IRj =
V (yij)
————
Traço de R
=
lj
————
∑lj
,
sendo: V(Yi1) + V(Yi2) + .... + V(Yip)
= Traço de R.
Adotou-se o critério de descartar a
variável de maior coeficiente em cada
componente, com autovalor acumulado
maior que 0,70, de acordo com as proposições de Jolliffer (1973) e Pereira (1989).
Posteriormente, adotou-se o método
hierárquico do vizinho mais próximo
para o agrupamento. No procedimento
analítico, partindo-se da matriz de distâncias genéticas, procedeu-se a sucessivas identificações dos genótipos mais
próximos, a partir do par mais semelhante, até que se estabeleceu um diagrama
de árvore. A distância entre um acesso k
e um grupo formado pelos acessos i e j, é
dada por: D2(ij)k = min (D2ik; D2jk), em que
D2(ij)k é a distância entre o grupo ij e o
acesso k, e min (D2ik; D2jk) é a menor distância entre os grupos de acessos ik e jk
(Cruz & Regazzi, 1994).
Ae=A. esculentus; Ac=A. caillei; Am=A. manihot; Amo=A. moschatus; At=A. tetraphyllus e
Af=A. ficulneus.
Figura 1. Dendrograma de dissimilaridade genética de 39 acessos de quiabeiro, estabelecido pelo método do vizinho mais próximo, utilizando-se a distância Euclidiana média padronizada com base em 27 caracteres morfológicos. Campos dos Goytacazes, UENF, 1999.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com base nas médias dos dados
morfológicos obtidas a partir dos acessos, obtiveram-se três matrizes de distâncias Euclidianas, que foram analisadas
pelo método hierárquico do vizinho mais
próximo e de componentes principais.
Com base na matriz de distâncias
Euclidianas médias, geraram-se três
dendrogramas (Figuras 1, 2, e 3). Fazendo-se um corte vertical a uma distância
de ligação de 17,5 no agrupamento hierárquico dos acessos com base nas características avaliadas (Figura 1), observa-se
que houve a formação de seis grupos. O
grupo 1 reúne os acessos de A. esculentus
e A. caillei. O segundo grupo reúne 5 dos
7 acessos de A. moschatus estudados. O
grupo 3 reúne os acessos 1317 e 1320 de
A. moschatus e os representantes de A.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Ae=A. esculentus; Ac=A. caillei; Am=A. manihot; Amo=A. moschatus; At=A. tetraphyllus e Af=A.
ficulneus.
Figura 2. Dendrograma de dissimilaridade genética de 39 acessos de quiabeiro, estabelecido pelo método do vizinho mais próximo, utilizando-se a distância Euclidiana média, obtido
a partir de 13 descritores quantitativos. Campos dos Goytacazes, UENF,1999.
tetraphyllus e A. ficulneus. Os grupos 4, 5
e 6 foram compostos pelos acessos 1324
(A. caillei), 1297 (A. manihot) e 1373 (A.
manihot), respectivamente.
O método hierárquico agrupou os
acessos de forma idêntica tanto para os
27 descritores (Figura 1) quanto para os
13 descritores quantitativos (Figura 2).
Isto indica que os descritores qualitativos não afetaram o perfil da distribuição dos acessos no dendrograma, não
interferindo, de forma determinante, no
estudo da variabilidade entre genótipos
de quiabeiro, com base em dados
morfológicos. Os descritores quantitativos foram eficientes na discriminação
dos acessos, porém, não foram capazes
de classificar corretamente as espécies.
Um dos motivos para isso, pode ser o
fato de que estas características são controladas por muitos genes, sendo muito
afetadas por fatores ambientais.
55
G.E. Martinello et al.
Tabela 2. Estimativa das variâncias (autovalores, l), associados aos componentes principais (CP), e respectivos coeficientes de ponderação
(autovetores) de 13 descritores morfológicos quantitativos avaliados em 39 acessos de quiabeiro. Campos dos Goytacazes, UENF, 1999.
Compo-nentes
principais
j
Variância
acumula-
Descritores*
da
(%)
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
CP 1
4,6567 35,8208
-0,1074 0,3938 -0,2480 0,4398 -0,0666 0,3805 0,1150 0,0389 0,0233 -0,4763 0,0631 -0,4237 0,0607
CP 2
2,9571 58,5676
0,2336 -0,3314 0,3441 0,1511 0,0813 0,2074 -0,2836 -0,3342 0,2482 -0,5359 0,1437 0,2854 0,0420
CP 3
2,3569 76,6975
0,1395 -0,4230 0,3242 -0,2344 -0,0207 -0,1011 0,1679 0,2924 -0,2900 -0,2470 0,1840 -0,5767 -0,0751
CP 4
1,2783 86,5313
-0,3288 -0,0542 0,2425 0,4071 0,1738 -0,3250 0,5513 0,1297 0,0175 -0,0900 0,2224 0,3291 -0,2063
CP 5
0,5414 90,6955
0,4098 0,1048 -0,1643 -0,0148 -0,1033 -0,0218 -0,086 0,5912 0,4155 0,0508 0,4761 0,1459 -0,0508
CP 6
0,3576 93,4464
0,2984 -0,2915 -0,0499 0,3582 -0,1941 0,4916 0,1885 -0,0951 -0,3720 0,4235 0,1666 0,1134 -0,1132
CP 7
0,2394 95,2882
-0,0588 0,3372 0,3399 -0,1646 -0,7779 -0,0310 -0,0048 -0,0008 -0,2238 -0,1583 0,0548 0,2318 -0,0461
CP 8
0,1978 96,8099
-0,1987 0,2483 0,4834 -0,0114 0,0874 0,1472 -0,0743 -0,2633 0,2969 0,4176 0,4270 -0,3365 0,0522
CP 9
0,1416 97,8993
0,3756 0,1435 0,2860 0,1941 -0,0053 -0,1226 -0,0358 0,0082 0,2127 0,1172 -0,4912 -0,1508 -0,6160
CP 10
0,1368 98,9514
CP 11
0,0845 99,6013
CP 12
0,0352 99,8717
0,1443 0,3353 0,2581 -0,3908 0,4310 0,4774 0,2954 0,1972 -0,1462 -0,0884 -0,1323 0,2452 0,0278
CP 13
0,0167 100,0000
0,3008 0,3604 -0,0464 0,0979 0,3144 -0,3507 -0,2942 0,1919 -,05377 -0,0581 0,3402 0,0288 -0,1167
0,3687 0,13 11 0,2355 0,3380 -0,0339 -0,2088 0,1783 0,0669 0,0129 0,0569 -0,2347 -0,0888 0,7278
-0,3436 -0,0522 0,2671 0,3052 0,1064 0,1486 -0,5647 0,5257 -0,2196 0,0855 -0,1505 0,0729
0,505
*01 = número de segmentos do epicálice; 02 = comprimento do epicálice; 03 = largura do epicálice; 04 = comprimento do pedúnculo; 05 =
Peso de 100 sementes; 06 = Número de segmentos; 07 = Altura da planta; 08 = Número de internós; 09 = Comprimento da folha; 10 =
largura da folha; 11 =Nó do primeiro florescimento; 12 = Nós produzindo frutos na haste principal; e 13 = Comprimento do fruto.
Ae=A. esculentus; Ac=A. caillei; Am=A. manihot; Amo=A. moschatus; At=A. tetraphyllus e Af=A.
ficulneus.
Figura 3. Dendrograma de dissimilaridade genética de 39 acessos de quiabeiro, estabelecido pelo método do vizinho mais próximo, utilizando-se a distância Euclidiana média, obtido
a partir de 14 descritores qualitativos. Campos dos Goytacazes, UENF, 1999.
O agrupamento hierárquico, com
base em características morfológicas
qualitativas, reuniu os acessos conforme a espécie botânica, quando fez-se um
corte vertical a uma distância de 2,5 (Figura 3). Isto ocorreu, provavelmente,
pelo fato destas características serem
controladas por poucos genes e, portanto, serem pouco afetadas pelo ambiente. Outrossim, é que a taxonomia clás56
sica normalmente utiliza destas características para classificar as espécies. O
dendrograma mostrou um baixo potencial em diferenciar os acessos dentro dos
vários grupos formados, denotando uma
reduzida variabilidade genética no
germoplasma. Isto pode ser explicado
pelo fato de que estas características,
sendo controladas por poucos genes, não
possibilitam um rastreamento muito
abrangente dos genomas. Observou-se
ainda, que não houve uma associação
entre a diversidade genética e
ecogeográfica entre os acessos.
O resultado da análise de componentes principais, obtido a partir de 13
caracteres morfológicos quantitativos
(Tabela 2), mostra que foram necessários
quatro componentes, para que a
variância por eles explicada atingisse
um mínimo de 80%. Isso indica uma
dispersão, de forma mais equitativa, da
variância total, nos caracteres avaliados.
A técnica de análise multivariada de
componentes principais tem a vantagem
em relação aos métodos de análise
univariada de avaliar a importância de
cada característica estudada sobre a variação total disponível entre os acessos
avaliados, possibilitando o descarte dos
caracteres menos discriminantes, por já
estarem correlacionados com outras variáveis redundantes ou pela sua
invariância.
Com base nos resultados deste trabalho, foram descartados os caracteres: largura do epicálice, peso de 100 sementes,
número de segmentos do estigma, altura
da planta, comprimento da folha, largura da folha, nó do primeiro florescimento
e comprimento do fruto. Porém o procedimento de descarte de variáveis pela técnica de componentes principais, pela
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Divergência genética em acessos de quiabeiro com base em marcadores morfológicos.
Genótipos: 1=A. esculentus; 2=A. caillei; 3= A. manihot; 4= A. moschatus; 5= A. tetraphyllus e 6=
A. ficulneus.
Figura 4. Dispersão de 39 acessos de Abelmoschus spp. em três componentes principais,
com base nas distâncias Euclidianas médias, estimadas a partir de 13 descritores morfológicos
quantitativos. Campos dos Goytacazes, UENF, 1999.
possibilidade de eliminar variáveis que
possuem pesos consideráveis nos primeiros componentes, principalmente quando estes acumulam grande fração da
variância total (Morais, 1992).
A análise de componentes principais
reduziu os treze descritores em três componentes principais, que explicaram
76,7% da variância total (Tabela 2). O
componente 1, que explicou 35,8% da
variância total, está associado a um contraste entre dois grupos de variáveis.
Dentre as variáveis de maior peso neste
componente pode-se citar: comprimento do epicálice, comprimento do
pedúnculo, número de segmentos do
estigma, largura da folha e nós produzindo frutos na haste principal. O componente 2, que explicou 22,7% está associado aos seguintes descritores: comprimento do epicálice, largura do
epicálice, altura da planta, números de
internós, largura da folha e nós produzindo frutos na haste principal. No componente 3, que sozinho explicou 18,1%
da variância total, os descritores de
maior peso foram: comprimento do
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
epicálice, largura do epicálice, número
de internós, comprimento da folha e nós
produzindo frutos na haste principal.
A representação gráfica dos escores
dos três primeiros componentes principais demonstra que houve a formação
de quatro grupos (Figura 4). O primeiro
e o maior deles é composto pelos acessos de A. esculentus e A. caillei, confirmando, desta forma, a aglomeração produzida pelos métodos já analisados. O
segundo grupo é formado apenas pelos
acessos de A. moschatus. O terceiro,
reune três acessos de A. esculentus e
apenas um de A. manihot. Por fim, o
grupo quatro é composto pelos acessos
de A. tetraphyllus e A. ficulneus, além de
um acesso de A. manihot. Verifica-se,
ainda, que ocorreu uma separação dos
acessos de A. manihot. Estes acessos diferem, basicamente, pela variável altura
da planta. Este fato não concorda com o
método de agrupamento hierárquico com
base nos descritores qualitativos, que revelaram os dois acessos de A. manihot
como pertencentes ao mesmo grupo.
Porém, está de acordo com os agrupa-
mentos hierárquicos (Figuras 1 e 2).
Pode-se considerar que, de um modo
geral, os dois métodos de aglomeração
fundamentados em dados morfológicos,
foram coerentes na formação dos grupos entre acessos de quiabeiro.
Martinello et al. (1996), numa análise
por componentes principais aplicada a
características morfológicas em quiabeiro, verificaram que A. caillei foi a única
das espécies silvestres que fez parte do
grupo em que todos os outros acessos
eram A. esculentus. Estes autores verificaram ainda que hibridações
interespecíficas entre A. caillei (2n=
185-189) e A. esculentus (2n= 72-144),
foram eficientes e que, os híbridos F1 se
mostraram férteis e produziram grandes
quantidades de sementes viáveis, apesar da diferença do número de
cromossomos entre os parentais. Isto
indica uma grande afinidade entre os
genomas, que podem fazer parte de um
mesmo complexo gênico. Estas
constatações denotam que, no processo
de evolução, estas espécies divergiram
ou bifurcaram mais recentemente. Outra hipótese, proposta por Baum &
Gupta (1996), sugere que A. caillei tenha se diferenciado a partir de A.
esculentus, ou vice-versa, por um processo evolucionário reticulado, isto é,
anfiploidização, poliploidização,
hibridação ou outro sistema genético.
Convém salientar que este tipo de situação envolvendo evolução reticulada
para as plantas superiores, ainda é pouco estudada. Siemonsma (1982)
hipotetizou que A. caillei é um
anfiplóide natural de A. esculentus (2n=
130-140) e A. manihot (2n= 60-68), concordando com os resultados obtidos por
esta pesquisa. Porém, para se entender
plenamente como estas espécies evoluíram, deve-se recorrer às técnicas de
citogenética molecular como, por exemplo, hibridização genômica in situ, uma
vez que se trata de alopoliplóides.
Verificou-se ainda, que as técnicas
estatísticas empregadas neste trabalho
foram capazes de estabelecer padrões e
classificações da diversidade genética,
identificando claramente os grupos. As
informações resultantes são úteis no entendimento da diversidade dentro da coleção e como está estruturada. As características morfométricas delineiam estes
57
G.E. Martinello et al.
grupos auxiliando na pesquisa de novas
cultivares e busca de espécies silvestres
requeridas como base genética para programas de melhoramento da cultura.
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Estimativas de tamanho de parcela em experimentos com mandioca.
Anselmo Eloy S. Viana1; Tocio Sediyama2; Paulo Roberto Cecon2; Sandro C. Lopes1; Maria Aparecida N.
Sediyama3
UESB, C. Postal 95, 45.100-000, Vitória da Conquista-BA; 2UFV, 36.571-000 Viçosa-MG 3EPAMIG, C. Postal 216, 36.571-000
Viçosa-MG, E-mail: [email protected].
1
RESUMO
ABSTRACT
Com o objetivo de estimar o tamanho da parcela em experimentos com mandioca, foi realizado um ensaio, no Campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, em Vitória da Conquista. As
estimativas de tamanho da parcela foram obtidas em ensaio de uniformidade, usando-se a cultivar Cramuquém. Foram empregados os
métodos da máxima curvatura, da máxima curvatura modificado e da
comparação de variâncias. A estimativa do tamanho da parcela variou com a metodologia empregada e com a característica analisada.
O método da máxima curvatura modificado foi aquele que permitiu a
obtenção de estimativas mais adequadas. Por esse método, e considerando-se que a parcela ideal deve possibilitar a avaliação eficiente de
todas as características analisadas neste experimento, o tamanho adequado de parcela encontrado foi de 26,59 m2 (44 plantas).
Estimates of plot sizes in experiments with cassava.
To estimate the plot size in experiments with cassava, an
experiment, using the cultivar “Cramuquém” was conducted at the
Campus of the “Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia” in
Vitória da Conquista, Brazil. The maximum curvature method, the
modified method for maximum curvature, the method for comparison
among variances were used. The estimate of the plot size changed
with the applied methodology and the analyzed characteristic. The
modified method for maximum curvature was the one which allowed
for the obtainment of more adequate estimates. By applying this
methodology and considering that the ideal plot would make possible
an efficient evaluation of all analyzed characteristics, the adequate
size of the plot was found to be 26.59 m2 (44 plants).
Palavras-chave: Manihot esculenta Crantz, coeficiente de variação, método da máxima curvatura, experimentação.
Keywords: Manihot esculenta Crantz, coefficient of variation,
method for maximum curvature, experimentation.
(Aceito para publicação em 5 de dezembro de 2.001)
A
mandioca (Manihot esculenta
Crantz), planta pertencente à família Euphorbiaceae, é originária da América tropical, provavelmente do Nordes58
te do Brasil (Dominguez et al., 1982).
É cultivada em países da África, Ásia,
Oceania e América Latina, onde suas
raízes representam importante fonte ali-
mentícia, rica em calorias e
carboidratos, para aproximadamente
600 milhões de pessoas (Roca et al.,
1991).
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Estimativas de tamanho de parcela em experimentos com mandioca.
Tabela 1. Área de cada parcela, número de parcelas, número de unidades básicas (ub) e número de plantas, no ensaio de uniformidade com
mandioca, variedade Cramuquém, Vitória da Conquista, UESB, 1998.
Tamanho de
parcela*
Área (m²)
No de parcelas
Nº de ub
Nº de plantas
518,4
172,8
57,6
28,8
14,4
4,8
3,
9,
27,
54,
108,
324,
108,
36,
12,
6,
3,
1,
864,
288,
96,
48,
24,
8,
R
Bl
P
SP
SSP
SSSP
* Tamanho de parcela: R = repetições; Bl = blocos; P = parcelas; SP = subparcelas;
SSP = subsubparcelas e, SSSP = subsubsubparcelas.
No Brasil, segundo maior produtor de
mandioca do mundo (FAO, 2000), trabalhos de pesquisa em campo com essa
cultura são feitos em várias localidades,
abrangendo ambientes bastante diversos.
Muitas vezes a heterogeneidade das condições locais tem levado à obtenção de
erros experimentais de grandes magnitudes, o que dificulta a comprovação estatística de diferenças entre os tratamentos avaliados.
Além das condições ambientais, é
importante observar, para a cultura da
mandioca, a variação existente no material de plantio, o que leva, segundo
Lozano et al. (1977), à desigualdade de
vigor e de produção por planta, entre
plantas provenientes de uma mesma variedade. Essa desigualdade pode ser maior
em regiões de baixa pluviosidade e em
solos que apresentam limitações quanto
à fertilidade, já que, nessas condições, as
plantas de mandioca seriam, inicialmente, mais dependentes das reservas existentes no material de plantio.
A adoção de um tamanho de parcela adequado é uma das maneiras de reduzir o erro experimental. Esse tamanho ótimo da parcela é muitas vezes recomendado por meio de estudos
empíricos feitos para uma região ou cultura específica. Porém, do ponto de vista estatístico, essa prática não é a melhor, já que o tamanho ótimo da parcela
depende da heterogeneidade do local
experimental (Lin et al., 1996).
O tamanho e a forma das parcelas não
podem ser generalizados, pois variam com
o solo e com a cultura. A determinação
dos mesmos deve ser feita para cada cultura e cada local em que ocorram condições climáticas e de solo diferentes das
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
que já tenham sido determinadas (Oliveira & Estefanel, 1995). O tamanho da parcela influencia diretamente a precisão e o
valor dos dados experimentais obtidos.
Além da precisão estatística, vários outros aspectos são importantes para determinar o tamanho ideal da parcela, como
presença ou ausência de bordadura, tipo
de cultura, número de tratamentos, nível
de tecnologia empregada no cultivo e disponibilidade de área e de recursos financeiros (Bueno & Gomes, 1983).
O objetivo deste trabalho foi estimar
o tamanho adequado da parcela, para
experimentos com mandioca.
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi conduzido na Área Experimental do Campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, em
Vitória da Conquista. As médias das
temperaturas máxima e mínima do ar
são, respectivamente, de 25,3oC e de
16,1oC. A precipitação média anual é de
733,9 mm, sendo o maior nível encontrado de novembro a março. O solo da
área experimental foi classificado como
Latossolo Amarelo Álico A moderado,
relevo plano. A análise química do solo
revelou pH em água: 4,6; P: 1,0 mg/dm3;
K+: 0,2 cmolc/dm3; Al3: 0,4 cmolc/dm3;
Ca2: 1,3 cmolc/dm3; Mg2: 0,8 cmolc/dm3;
H+ + Al3+ 3,4 cmolc/dm3; S.B. cmolc/dm3:
2,3; m: 15,0%; V: 40,0%; C.T.C. Total:
5,7 cmolc/dm3.
Utilizou-se a cultivar de mandioca
conhecida regionalmente como
Cramuquém, cujas plantas apresentam
hastes marrom-claras, sem ramificação,
com broto terminal verde e pecíolo vermelho. As raízes tuberosas apresentam
película suberosa de cor marrom-escura, rugoso, com córtex creme e polpa
branca, com presença de pedúnculo e
ausência de cintas. Essa cultivar é utilizada regionalmente, tanto para produção de farinha e extração de amido,
como para consumo das raízes na alimentação humana.
O solo foi arado e gradeado e os sulcos, espaçados de um metro, foram abertos com trator. As manivas utilizadas no
plantio foram obtidas de plantas sadias,
com idade aproximada de 18 meses e
plantadas logo após a coleta, distribuídas a cada 60 cm dentro de cada sulco.
Foram utilizadas manivas padronizadas,
provenientes do terço médio da planta,
com 20 cm de comprimento e aproximadamente dois centímetros de diâmetro e
com cinco a sete nós. O corte da maniva
foi reto, em ambas as extremidades, sem
usar apoio nesse procedimento.
O experimento foi plantado, sem
calagem e adubação, em dezembro de
1995, formado de 27 fileiras, espaçadas
de 1 m, com 96 plantas em cada, numa
área total de 1.555,2 m2, com replantio
aos trinta dias após a brotação. Os tratos culturais foram restritos às capinas
e ao controle de formigas.
Na colheita, feita em outubro de
1997, as plantas foram agrupadas em
conjuntos com oito unidades denominados unidades básicas (ub), de cuja combinação foram formados os diferentes
tamanhos de parcela analisados, todos
com forma retangular, denominados repetições (R) blocos (Bl), parcelas (P),
subparcelas (SP), subsubparcelas (SSP)
e subsubsubparcelas (SSSP) (Tabela 1).
Foram avaliados a porcentagem de
matéria seca e amido em raízes tuberosas,
59
A.E.S. Viana et al.
Tabela 2. Estimativas de coeficientes de variação (%), em função do tamanho de parcela em unidades básicas (nub), para as características
rendimento de raízes tuberosas (R), peso da parte aérea (PPA), índice de colheita (IC), porcentagem de matéria seca (MS), porcentagem de
amido (A) e altura da planta de mandioca (AP), Vitória da Conquista, UESB, 1998.
nub 1/
108,
36,
12,
6,
3,
1,
1/
R
0,98
1,55
3,50
5,89
10,68
27,14
PPA
0,91
1,60
3,68
6,25
12,79
31,47
IC
0,82
1,30
2,68
4,11
6,98
16,99
MS
0,08
0,17
0,40
0,78
1,43
3,93
A
0,09
0,20
0,47
0,92
1,68
4,63
AP
0,16
0,42
0,89
1,70
4,48
12,38
nub = 8 plantas.
Tabela 3. Estimativas das variâncias reduzidas, em unidades básicas (ub), para índice de colheita (IC), porcentagem de matéria seca (MS),
peso da parte aérea (PPA), produção de raízes tuberosas (R) e altura de plantas de mandioca (AP), nos diferentes tamanhos de parcela,
Vitória da Conquista, UESB, 1998.
nub
108,
36,
12,
6,
3,
1,
IC
0,0015
0,0013
0,0018
0,0021
0,0030
0,0060
b
b
b
b
b
a
MS
0,0603
0,0989
0,1832
0,3467
0,5805
1,4628
c
c
c
c
b
a
PPA
0,6271
0,6463
1,1392
1,6406
3,4397
6,9430
c
c
c
c
b
a
R
0,4886
0,4094
0,6969
0,9848
1,6185
3,4852
c
c
c
c
b
a
AP
0,0009
0,0020
0,0030
0,0055
0,0190
0,0485
c
c
c
c
b
a
Numa mesma coluna, valores seguidos de mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Bartlett, a 5% de probabilidade.
conforme metodologia proposta por
Grossmann & Freitas (1950); altura de
plantas, peso da parte aérea; peso de
raízes tuberosas e índice de colheita.
A análise estatística foi feita de acordo com o critério de classificação hierárquica, simulando um experimento em
parcelas subsubsubdivididas (Vallejo &
Mendoza, 1992) (Tabela 3) e as
variâncias para cada tamanho de parcela, foram reduzidas em relação a uma
subsubsubparcela (Hatheway &
Williams, 1958), em ordem hierárquica. Para determinação do tamanho ótimo de parcela, foram utilizados o método da máxima curvatura, o método da
máxima curvatura modificado e o método da comparação de variâncias.
Pelo método da máxima curvatura,
um experimento de uniformidade ou
determinada área é colhido, em unidades básicas, as quais são combinadas
para formar parcelas experimentais de
vários tamanhos. Obtidos os coeficientes de variação, para cada tamanho de
parcela, esses são representados graficamente contra o tamanho de cada parcela avaliada. O tamanho ótimo da parcela é determinado visualmente,
60
correspondendo ao ponto de máxima
curvatura (Federer, 1955). Entretanto,
neste trabalho, optou-se por utilização
de programa de computador (Microsoft
Excel), na elaboração dos gráficos, unindo-se os pontos com segmento de reta,
conforme procedimento adotado por
Ortiz (1995). O aperfeiçoamento do
método da máxima curvatura, chamado
de Método da Máxima Curvatura Modificado, foi desenvolvido por Lessman
& Atkins (1963), que estabeleceram
uma função do tipo Y= a/xb, para explicar a relação entre coeficiente de variação (CV) e tamanho da parcela, permitindo que o ponto que corresponde ao
tamanho ótimo da parcela fosse determinado algebricamente, dando maior
precisão aos resultados obtidos.
Neste trabalho, usou-se a função
em que o valor da abcissa, no
ponto de curvatura máxima, é dado pela
seguinte fórmula (Chaves,1985), deduzida
a partir de Meier & Lessman (1971):
sendo: XMC = valor da abcissa correspondente ao ponto de máxima curvatura; a = constante da regressão; e, b =
coeficiente de regressão.
Outro procedimento utilizado na
determinação do tamanho ótimo de parcelas experimentais é a comparação de
variâncias. Nesse método (Vallejo &
Mendonza, 1992; Ortiz, 1995), inicialmente as variâncias são reduzidas para
uma unidade básica, dividindo-se a
variância de cada parcela pelo número
de unidades básicas correspondentes.
Em seguida, são aplicados consecutivos
testes de Bartllet, para homogeneidade
de variâncias (Steel & Torrie, 1980), excluindo-se, em cada teste, a parcela de
menor tamanho que apresente variância
estatisticamente diferente. Quando um
grupo de variâncias homogêneas é obtido, escolhe-se o menor tamanho de parcela, dentro desse grupo, como sendo o
tamanho ótimo de parcela.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os coeficientes de variação apresentaram valores entre 0,08% e 31,47%,
que, além de inversamente proporcioHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Estimativas de tamanho de parcela em experimentos com mandioca.
As setas indicam o ponto de máxima curvatura
Figura 1. Relação entre coeficiente de variação e tamanho de parcela, para as características: rendimento de raízes tuberosas (R), peso da parte aérea (PPA), índice de colheita (IC),
porcentagem de matéria seca (MS), porcentagem de amido (A) e altura da planta de mandioca (AP), Vitória da Conquista, UESB,1998.
Figura 2. Relação entre coeficiente de variação (CV) e tamanho da parcela, e valor da
abcissa no ponto de máxima curvatura (XMC) para as características produção de raízes (A),
peso da parte aérea (B), índice de colheita (C), altura de plantas de mandioca (D), porcentagem de matéria seca (E) e porcentagem de amido (F), Vitória da Conquista, UESB, 1998.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
nais ao tamanho da parcela, mostraram
comportamento diferenciado de acordo
com a característica, sendo maiores para
o peso da parte aérea e menores para a
porcentagem de matéria seca em raízes
tuberosas (Tabela 2).
Pelo método da máxima curvatura,
o melhor tamanho de parcela, para rendimento de raízes tuberosas e peso da
parte aérea, foi 48 plantas ou 28,8 m2
(seis unidades básicas); e para altura de
plantas, índice de colheita, porcentagem
de matéria seca e porcentagem de amido,
em raízes tuberosas, o tamanho adequado
de parcela foi 24 plantas ou 14,4 m2 (três
unidades básicas) (Figura 1). Embora de
fácil aplicação, este método não considera a dependência do ponto de máxima
curvatura da escala usada na construção
do gráfico e do tamanho da menor unidade básica adotada (Federer, 1955).
Foi observada neste trabalho a dependência da escala na determinação do
ponto de máxima curvatura. Na tentativa de minimizar esse problema, na Figura 1, onde o tamanho de parcela foi
determinado, usou-se uma menor escala e representou-se apenas a região de
curvatura mais acentuada, compreendida entre 1 e 12 unidades básicas. Outra
consideração que pode ser feita, sobre
essa metodologia de determinação de
tamanho de parcela, diz respeito à maneira como a curva é traçada. De acordo com a descrição de Federer (1955),
após os pontos serem plotados em gráfico, uma curva, feita à mão livre, é
traçada e o ponto de máxima curvatura
é determinado visualmente. Esse procedimento foi adotado por Vallejo &
Mendoza (1992), que inclusive, encontraram o tamanho ótimo de parcela, no
intervalo entre dois pontos. Entretanto,
Ortiz (1995) optou por ligar os pontos
com segmentos de reta, determinando
como melhor tamanho de parcela a unidade básica correspondente à curvatura
máxima. Este último procedimento foi
adotado no presente trabalho.
Pelo método da máxima curvatura
modificado (Figura 2) encontrou-se
como tamanho ótimo de parcela: 5,03
unidades básicas (40 plantas ou 24 m2)
para produção de raízes tuberosas; 5,54
unidades básicas (44 plantas ou 26,59
m2) para peso da parte aérea; 3,75 unidades básicas (30 plantas ou 18 m2) para
61
A.E.S. Viana et al.
índice de colheita; 3,31 unidades básicas (26 plantas ou 15,9 m2) para altura
de plantas; 1,81 unidades básicas (14
plantas ou 8,69 m2) para porcentagem
de matéria seca e 1,98 unidades básicas
(16 plantas ou 9,5 m2) para avaliação da
porcentagem de amido. O método da
máxima curvatura modificado, embora
utilize o mesmo princípio do método da
máxima curvatura, fornece resultados
mais precisos do que esse, por estabelecer uma equação de regressão para explicar a relação existente entre os coeficientes de variação e os respectivos tamanhos de parcela. O uso da equação de
regressão permitiu, ainda, que fossem
feitas estimativas de tamanho de parcela, nos intervalos entre as unidades básicas predeterminadas, nesse caso com elevada precisão, uma vez que os valores
de r2 obtidos variaram de 0,98 a 0,99.
Pelo teste de Bartllet (Tabela 3), observa-se que as variâncias reduzidas foram maiores em parcelas com uma unidade básica. Para índice de colheita, os
demais tamanhos de parcela apresentaram variâncias iguais, considerando-se a
parcela formada por três unidades básicas (24 plantas ou 14,4 m2) como a mais
indicada, já que o uso de parcelas maiores não reduzirá a variância. Para as demais características avaliadas, as parcelas formadas por 6; 12; 36 e 144 unidades básicas, apresentaram variâncias inferiores às das parcelas com uma e três
unidades básicas e iguais entre si.
Os métodos utilizados neste trabalho para determinação do tamanho ótimo de parcelas experimentais têm a desvantagem de não levar em consideração
os custos. Entretanto, pode-se considerar que, em experimentação, dentro de
certos limites, os custos, a não ser que
sejam muito elevados, podem ser desprezados, com o objetivo de aumentar a
precisão. No caso de experimentos com
a cultura da mandioca, pelo menos com
o nível tecnológico adotado na região,
a utilização de parcelas com maior tamanho, dentro de certos limites, não levaria a grande aumento nos custos com
a experimentação em campo. Tal afirmativa pode não ser verdadeira para
outros tipos de experimentos.
Dentre os métodos utilizados neste
trabalho, o método da máxima curvatura e comparação de variâncias estimam
62
Tabela 4. Estimativas de tamanho da parcela de mandioca (m2) obtidas pelos métodos da
máxima curvatura (MMC), máxima curvatura modificado (MMCM) e comparação de
variâncias (MCV), Vitória da Conquista, UESB, 1998.
Características
Produção de raízes tuberosas
Peso da parte aérea
Índice de colheita
Porcentagem de matéria seca
Porcentagem de amido
Altura da planta
MMC
28,80
28,80
14,40
14,40
14,40
14,40
MMCM
24,14
26,59
18,00
8,69
9,50
15,89
MCV
28,80
28,80
14,40
28,80
28,80
28,80
parcelas que coincidem com o tamanho
das unidades básicas predeterminadas,
isto é, não admitem encontrar valores
intermediários entre as unidades básicas, a não ser que, no caso do primeiro
método, o ponto de máxima curvatura
seja determinado numa curva livre, com
pouca precisão, e não por segmentos de
reta, como adotou-se neste trabalho. Pela
Tabela 5, observa-se que esses dois métodos estimaram parcelas com dimensões
que variaram de 14,40 m2 a 28,80 m2,
para as diversas características avaliadas,
enquanto o método da máxima curvatura modificado estimou parcelas que variaram de 8,69 m2 a 26,59 m2.
Deste modo, o método da máxima
curvatura modificado, tem a vantagem
de estabelecer uma equação de regressão que normalmente apresenta altos
valores de coeficiente de determinação,
para encontrar o tamanho adequado de
parcela, aumentando a confiabilidade
das estimativas e permitindo encontrar
valores intermediários entre os tamanhos de parcela pré-determinados no
experimento, sendo por isto considerado o mais adequado.
Em experimentos com mandioca,
geralmente as características aqui consideradas são analisadas, sendo portanto necessário escolher uma parcela que
permita a adequada avaliação de todas
elas. Assim, o tamanho adequado de
parcela deve ser de 26,59 m2, com aproximadamente 44 plantas úteis, tomando-se como base a avaliação de peso da
parte aérea, que exigiu parcelas de maior
tamanho.
As informações sobre tamanho adequado de parcela em experimentos com
mandioca são escassas e variáveis, principalmente considerando-se trabalhos
realizados no Brasil e, ou, em regiões
semi-áridas. As estimativas do tamanho
das parcelas aqui obtidas (Tabela 4) estão próximas dos valores encontrados na
literatura: 5 a 80 m2 (Monzón et al.,1977,
citados por Tineo & Villasmil ,1988),
50 m2 (Sinthuprama et al., 1973) e 9,6
m2 (Bueno & Gomes, 1983).
Pode-se concluir que as estimativas
do tamanho da parcela variaram com os
métodos empregados e com a característica analisada. O método da máxima
curvatura e o método da comparação de
variâncias estimaram parcelas com dimensões às vezes semelhantes, para as
diversas características avaliadas, geralmente apresentando maior tamanho do
que as parcelas estimadas pelo método
da máxima curvatura modificado.
O método da máxima curvatura
modificado permitiu a obtenção de estimativas mais adequadas, cujas dimensões mínimas variaram de 8,69 m2, para
avaliação de porcentagem de matéria
seca de raízes tuberosas, e cujas dimensões máximas foram de 26,59 m2, para
avaliação de peso da parte aérea.
Para a eficiente avaliação de todas
as características analisadas neste experimento, parcelas de 26,59 m2 (44 plantas) estimadas pelo método da máxima
curvatura modificado, foram as mais
adequadas.
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Alterações sensoriais em alface hidropônica cv. Regina minimamente
processada e armazenada sob refrigeração.
Murillo Freire Júnior1 ; Rosires Deliza1; Adimilson Bosco Chitarra2
Embrapa Agroindústria de Alimentos, Av. das Américas, 29501, Guaratiba, 23.020-470 Rio de Janeiro-RJ. E-mail:
[email protected]; 2UFLA, Caixa Postal 37, CEP 37.200-000 Lavras-MG
1
RESUMO
ABSTRACT
Com o aumento da demanda por frutas e hortaliças minimamente processadas, a manutenção da qualidade destes produtos é um
fator fundamental. O consumidor exige um produto fresco, de aspecto saudável, com boas características de cor, bem como outros
atributos desejáveis na sua aparência. Foram avaliadas algumas alterações sensoriais em alface hidropônica, cv. Regina, minimamente processada, acondicionada em sacos plásticos termosoldados e
armazenadas a 2 oC e 10oC. Independente da temperatura de
armazenamento, até o terceiro dia, nenhum comprometimento do
produto houve para qualquer dos aspectos de qualidade analisados:
cor, frescor, escurecimento da nervura central, escurecimento de
bordas, aspecto de podre e sabor de cozido. No armazenamento a
2oC a alface apresentou uma vida de prateleira de sete dias, sem
comprometimento das suas principais características de aparência,
ou seja, não houve escurecimento e a cor e o frescor se mantiveram
inalterados. Para o produto armazenado a 10oC, as alterações ocorridas tornaram o produto indesejável após o terceiro dia.
Sensorial changes of minimally processed hydroponic lettuce
cv. Regina stored under refrigeration.
Palavras-chave: Lactuca sativa, pré-cortados, conservação.
The maintenance of the sensorial quality of minimally processed
fruits and vegetables is becoming a fundamental factor due to the
increasing demand for these products. The consumer looks for a
fresh product with healthy appearance and good color characteristics,
as well as other desirable attributes in its appearance. Some sensorial
characteristics were evaluated in minimally processed hydroponic
lettuce, cv. Regina conditioned in thermally sealed plastic bags and
stored at 2ºC and 10ºC. For both storage temperatures, there was no
significant product modification regarding the analyzed quality
aspects like color, freshness, browning, rotten aspect and cooked
flavor up to the third day of the experiment. At 2oC the lettuce
presented a shelf life of 7 days without compromising its main
sensorial characteristics as color, freshness and browning. For the
product stored at 10oC the shelf life was up to 3 days.
Keywords: Lactuca sativa, fresh-cut, shelf life.
(Aceito para publicação em 03 de dezembro de 2.001)
O
consumidor vem apresentando
cada vez maior consciência na escolha de sua alimentação, porém com
menor tempo disponível para preparar
refeições saudáveis. Como resultado, o
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
mercado e a demanda por frutas e vegetais minimamente processados têm aumentado rapidamente, proporcionando
o surgimento de produtos convenientes,
ou seja, produtos frescos que podem ser
preparados e consumidos em pouco
tempo (Burns, 1995). Seguindo uma tendência mundial, muitos consumidores
brasileiros resolveram utilizar pratos
semi-prontos e vegetais pré-cortados. Os
63
M. Freire Junior et al.
Tabela 1. Média das notas atribuídas para a alface hidropônica cv. Regina minimamente processada, embalada em saco plástico termosoldado,
durante armazenamento a 2oC e 10oC. Rio de Janeiro, Embrapa Agroindústria de Alimentos, 2000.
Atributo
0
Tempo de armazenamento (dias)
7
10
3
2o C
10oC
2o C
10oC
2 oC
14
10oC
2o C
10oC
Cor
8,93±0,16
8,95±0,14
8,61±0,91
8,44±0,79
7,75±0,87
8,57±0,84
6,53±1,97
8,22±0,68
1,01±0,03
Frescor
8,73±0,37
8,65±0,43
8,04±0,79
7,68±1,06
5,85±1,49
7,47±1,60
2,33±1,59
5,20±2,22
1,00±0,00
ENC
EB
0,00±0,00
0,02±0,00
0,14±0,16
0,07±0,10
0,79±0,94
0,91±1,01
0,94±1,15
0,38±0,38
1,32±1,33
2,49±1,78
1,15±0,91
0,78±0,76
5,12±1,99
5,11±2,65
3,04±1,92
2,40±1,40
8,73±0,63
7,92±2,20
COZ
0,74±0,84
0,58±0,77
1,07±0,79
1,26±1,37
1,81±1,45
1,16±1,01
4,39±2,26
3,03±2,34
8,10±2,41
PO
0,00±0,00
0,01±0,03
0,08±0,20
0,01±0,04
2,11±1,47
0,00±0,00
5,85±2,20
0,23±0,35
9,00±0,00
IGA
8,49±0,46
8,55±0,39
7,52±0,71
7,46±1,09
4,81±1,56
7,42±1,21
2,50±1,38
5,03±1,70
1,00±0,00
ENC: Escurecimento da nervura central; EB: Escurecimento das bordas; COZ: Aspecto cozido; PO: Aspecto podre; IGA: Impressão global
da aparência
supermercados estão ampliando cada
vez mais as seções deste tipo de produto. Segundo dados da consultoria
Nielsen, no Brasil este nicho de mercado começou a ser explorado em 1994 e,
em apenas um ano cresceu 68,9% em
volume consumido no varejo e. em 1996
movimentou cerca de R$ 400 milhões
em vendas (Jornal do Brasil, 21/6/1997).
A alface é considerada uma hortaliça
folhosa importante na alimentação do brasileiro, o que assegura à cultura expressiva importância econômica. É uma das
culturas mais produzidas em hidroponia,
o que permite seu cultivo durante o ano
todo, com grande produtividade, com qualidade e sem o risco de contaminação por
microrganismos veiculados pelo solo.
Este trabalho teve por objetivo avaliar as alterações das principais características sensoriais da alface hidropônica
minimamente processada, cv. Regina,
para obter informações que permitam
preservar sua qualidade, por uma maior
período de armazenamento.
MATERIAL E MÉTODOS
As 90 plantas inteiras de alface (cv.
Regina) cultivadas em sistema de
hidroponia, foram procedentes da região
serrana de Miguel Pereira, Rio de Janeiro. As amostras foram colhidas, ao
acaso, pela manhã, e selecionadas por
sua uniformidade, com peso médio unitário de 450 gramas, sendo pré-resfriadas em água gelada (5oC) e levadas para
a planta-piloto para seu processamento.
Em seguida, foram cortadas as raízes e
retiradas as folhas externas.
64
As folhas restantes, lavadas individualmente em água potável, foram cortadas com facas de aço inoxidável, com
um único movimento e sentido transversal ao longo da nervura central, de maneira a se obter tiras com 20±2mm de
largura, seguindo a metodologia proposta por Hurst (1995). As folhas cortadas
foram novamente lavadas, por imersão
em água fria (5-8oC) com 100 ppm de
cloro livre, ajustado em pH 7,0 por 15
minutos, e centrifugadas por 1 minuto
em centrifuga marca Fanem modelo
204-NR, a 1500 rpm.
O produto foi acondicionado manualmente, em sacos plásticos de BOPP/
PEBD (Polipropileno bi-orientado/
Polietileno de baixa densidade) em porções de 100 g e, armazenado em câmaras BOD, às temperaturas de 2oC±1oC e
10±1oC, que representam, respectivamente, as condições ótimas recomendadas e as encontradas nos pontos de venda a varejo.
A avaliação da aparência da alface
foi realizada aos 0; 3; 7; 10 e 14 dias,
utilizando equipe de sete provadores
selecionados pela aptidão superior em
discriminar cor. Amostras do produto
em diferentes estádios de conservação,
variando de fresco a bastante senescente,
foram apresentadas à equipe durante a
fase de treinamento, a fim de estimular
e enriquecer a discussão, possibilitando
o levantamento e a definição dos atributos sensoriais: cor (verde-claro característico da alface, tom homogêneo, uniforme, sem manchas ou áreas descoloradas ou amarelecidas); frescor (aspecto viçoso, vivo e brilhante);
escurecimento da nervura central (áreas
avermelhadas, escuras e/ou marrons,
localizadas nas margens laterais da
nervura central); escurecimento das bordas (áreas avermelhadas, escuras e/ou
marrons, localizadas nas margens laterais do tecido cortado e do limbo foliar);
cozido (aspecto ressecado, quebradiço,
murcho, amolecido, sem rigidez; sem
turgor celular); podre (aspecto deteriorado, enegrecido, melado, com
exsudação e odor desagradável acentuados); impressão global da aparência
(aspecto global, incluindo todos os atributos juntos, conferindo qualidade ao
produto). Os atributos de cor, frescor,
escurecimento da nervura central,
escurecimento das bordas, cozido e podre foram avaliados em escalas não
estruturadas de nove pontos ancoradas
nos extremos correspondendo a 1 e 9
(onde: 1 = não característica, pouco,
nenhum, nenhum, ausente, ausente; 9 =
característica, e muito para os demais
atributos). A impressão global de aparência seguiu escala que variou de 1 =
muito ruim a 9 = muito boa.
Cada amostra foi composta por três
sacos contendo 100 gramas de alface
cortada, codificada com número de três
dígitos e apresentada aos provadores em
bandejas de aço inoxidável forradas com
papel branco. Os testes foram realizados em cabines individuais de prova sob
iluminação branca, imitando a luz do
dia. A ordem de apresentação das amostras seguiu delineamento de blocos completos balanceados (MacFie et al., 1989)
e os produtos foram avaliados em duplicata. As notas conferidas pelos
provadores foram tabuladas, e as médias
submetidas à análise de variância e
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Alterações sensoriais em alface hidropônica cv. Regina minimamente processada e armazenada sob refrigeração.
comparadas pelo teste de Tukey a nível
de 5%, através do programa estatístico
Sanest (Machado & Zonta, 1991). Através do programa estatístico SANEST,
foi determinada a correlação linear (correlações de Pearson) entre os atributos
sensoriais, para cada temperatura de
armazenamento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados mostraram que a temperatura, o tempo de armazenamento e
a interação tempo-temperatura afetaram
significativamente todos os atributos
sensoriais estudados relacionados com
a aparência da alface cortada.
As médias das notas atribuídas pelos provadores estão apresentadas na
Tabela 1.
Observou-se que até o terceiro dia não
houve alteração perceptível da cor da alface minimamente processada, em nenhuma das temperaturas de
armazenamento. Após o sétimo dia, as
diferenças na cor em ambas as temperaturas foram perceptíveis, sendo muito
menos acentuadas a 2oC. À temperatura
de 10oC, após o sétimo dia, houve perda
na cor característica da alface, evidenciando comprometimento da qualidade. A
alteração da cor pode ser atribuída à degradação da clorofila e à formação de
compostos secundários, o que reduz sensivelmente a qualidade do produto.
Os padrões respiratórios para hortaliças em resposta às temperaturas mais
baixas são variáveis. No caso específico
da alface, como existe tolerância a temperaturas próximas a 2oC, verificou-se
que o frescor nesta temperatura foi mantido praticamente inalterado até o sétimo dia. A temperatura mais baixa propiciou um taxa respiratória adequada para
assegurar o equilíbrio com a glicólise,
mantendo um metabolismo normal, conforme constatado por Lyons (1973) em
hortaliças tolerantes ao chilling. Este fato
não ocorreu à temperatura de 10oC, pois
no sétimo dia de armazenamento a média seis atribuída pelos provadores foi
interpretada como perda de frescor e
consequentemente de valor comercial.
Apesar dos ferimentos ou cortes induzirem o escurecimento e serem fatores limitantes para a conservação de
hortaliças minimamente processadas, a
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
temperatura de 2oC foi eficiente para
evitar, até o décimo dia, o escurecimento
da nervura central, o que não ocorreu à
temperatura de 10oC.
Não se observaram diferenças no
escurecimento das bordas do produto, até
o terceiro dia, para as duas temperaturas
de armazenamento. No produto armazenado a 2oC, observou-se escurecimento
mais lento e gradual, sendo que até o
décimo dia, o produto manteve-se com
boa qualidade. No produto armazenado
a 10oC ocorreu aumento constante e mais
acentuado no escurecimento, sendo que
após o terceiro dia, esta alteração ficou
bem evidenciada, comprometendo a qualidade do produto.
Segundo López-Gálvez et al. (1996),
dentre os diferentes componentes que
interferem na aparência da alface précortada, o escurecimento da superfície
da folha e o das bordas são os maiores
defeitos que levam à diminuição da qualidade das saladas produzidas com esta
hortaliça pré-cortada, na ausência da
desordem denominada russet spotting.
No armazenamento a 10oC, após o sétimo dia, a diferença no escurecimento
foi significativa, quando comparado ao
produto armazenado a 2oC.
Observou-se que até o sétimo dia,
não houve diferença significativa no
atributo cozido, entre as duas temperaturas de armazenamento. No produto
armazenado a 2oC, não ocorreu diferença significativa até o décimo dia enquanto que a 10oC, esta diferença foi mais
acentuada após sete dias.
Observou-se também que o material
de embalagem utilizado evitou a perda
de umidade, via evaporação, retardando o murchamento ou perda do
turgor do produto, ajudando a manter a
sua qualidade. É possível que o principal fator de alteração do atributo cozido
tenha sido a elevação do teor de CO2 à
temperatura de 10oC, conforme constatado por López-Galvez et al. (1996) e
por Siriphanic & Kader (1985).
No produto conservado a 2oC não
ocorreu diferença significativa no atributo podre até o décimo quarto dia, enquanto durante o armazenamento a
10oC, houve diferença acentuada após
o terceiro dia.
Até o terceiro dia, não houve diferença significativa no atributo Impres-
são global da aparência, para as duas
temperaturas de armazenamento. A partir do terceiro dia observou-se diferença na impressão global da aparência do
produto armazenado nas duas temperaturas. Durante o armazenamento a 2oC,
o produto permaneceu em boas condições até por 10 dias, com uma queda
gradual e mais lenta na qualidade. Para
o produto armazenado a 10oC, após o
sétimo dia notou-se grande e acentuada
diminuição na qualidade.
Tais resultados estão em concordância com Bolin et al. (1977), que reportam que o armazenamento à baixa temperatura é método importante de preservação para produtos minimamente
processadas como a alface cortada da
cultivar Iceberg. McDonald et al.
(1990), estudaram a alface crespa cortada cv. Salinas, utilizando diferentes
filmes plásticos, armazenadas a 1oC e
5oC por 14 dias, e comentaram que a
aparência e o sabor foram mais afetados pela temperatura do que pelo tempo do armazenamento, em três dos quatro tipos de filme utilizados.
Com relação à correlação linear,
observou-se que para ambas temperaturas de armazenamento, houve correlação significativa entre os atributos (r1
= 2oC; r2 = 10oC). A cor apresentou alta
associação positiva com frescor (r1=
0,9304; r2 =0,8653) e a impressão global da aparência (r 1 = 0,9326; r 2
=0,8582), e uma alta associação negativa com escurecimento da nervura central (r 1 = -0,9283; r 2 =-0,9574),
escurecimento das bordas (r1= -0,8542;
r2 =-0,9397) e com os atributos cozido
(r1= -0,8976; r2 =-0,9796) e podre (r1= 0,7362, r2 =-0,9348). Da mesma maneira, o frescor do produto apresentou alta
associação positiva com a cor (r 1=
0,9304; r2 =0,8653) e a impressão global da aparência (r 1 = 0,9982; r 2
=0,9920), e alta associação negativa
com escurecimento da nervura central
-0,9999;
r 2 =-0,9572),
(r 1 =
escurecimento das bordas (r1= -0,9849;
r2 =-0,9835) e com os atributos cozido
(r1= -0,9825; r2 =-0,9388) e podre (r1= 0,9065, r2 =-0,9834). O escurecimento
da nervura central apresentou alta correlação positiva com o escurecimento
das bordas (r1= 0,9853; r2 =0,9869), com
os atributos aspectos cozido (r1= 0,9799;
65
M. Freire Junior et al.
r 2 =0,9953) e podre (r 1= 0,9045; r 2
=0,9889) e apresentaram altas correlações negativas em relação à cor (r1= 0,9283; r2 =-0,9574), ao frescor (r1= 0,9999; r2 =-0,9572) e impressão global
da aparência (r1= -0,9971; r2 =-0,9347).
As médias das notas mostraram que
no armazenamento a 2oC os primeiros
sinais de deterioração na qualidade iniciam-se pelo atributo cozido, seguido
pelo escurecimento da nervura central,
escurecimento de bordas e do aspecto
podre, enquanto que a 10oC o atributo
cozido foi o sinal mais evidente somente até o terceiro dia. Após este período,
o escurecimento da nervura central, o
escurecimento de bordas e o aspecto
podre aparecem praticamente juntos.
O escurecimento da nervura central
foi mais intenso que o escurecimento
das bordas, alcançando médias superiores nos mesmos períodos, em ambas as
temperaturas. Estas médias também
mostraram que a 10oC, após o sétimo
dia, quando a concentração de CO2 atingiu valores próximos de 6%, o
escurecimento da nervura central e o
escurecimento das bordas cresceu acentuadamente. Contudo, a 2oC somente
após o décimo dia observou-se aumento no escurecimento da nervura central
66
e do escurecimento de bordas, sendo
bem menor que o do produto armazenado a 10oC.
Através dos resultados obtidos nas
condições experimentais do presente trabalho, conclui-se que para ambas temperaturas de armazenamento (2 oC e
10oC), não houve nenhum comprometimento do produto com qualquer um dos
aspectos de qualidade sensorial analisados, até o terceiro dia: a alface
hidropônica, cv. Regina, minimamente
processada, armazenada a 2oC, apresentou tempo de prateleira de 7 dias, sem
comprometer suas principais características sensoriais; já para o produto armazenado a 10oC, a vida de prateleira foi
no máximo, de 3 dias, devido principalmente à alteração na cor e ao
escurecimento acentuado da nervura
central e escurecimento das bordas.
AGRADECIMENTOS
À CAPES, pelo auxílio financeiro.
LITERATURA CITADA
BOLIN, H.R.; STAFFORD, A.E.; KING JR.,
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Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
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de secagem dos péletes. Horticultura brasileira, Brasília, v. 20 n. 1, p. 67-70, março 2.002.
Desempenho de sementes peletizadas de alface em função do material
cimentante e da temperatura de secagem dos péletes.
João Bosco C. Silva1; Paulo E.C. Santos2; Warley Marcos Nascimento1.
1
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70.359-970 Brasília - DF, E-mail: [email protected] 2Graduando de agronomia, UnB.
RESUMO
ABSTRACT
Sementes de alface da cultivar Grand Rapids Nacional foram
peletizadas, utilizando-se como material de enchimento, a mistura de
microcelulose e areia fina em volumes iguais e, como material
cimentante, diferentes volumes de suspensão aquosa de bentonita e de
acetato de polivinila, em cinco porporções (%): 100+0; 75+25; 50+50;
25+75; e 0+100. Os cimentantes foram aplicados em separado, sendo a
bentonita aplicada na primeira camada de recobrimento das sementes.
Após a peletização, as sementes foram submetidas à secagem sob temperaturas de 15 e 36°C, e avaliadas quanto à germinação e emergência
das plântulas. As combinações de cimentantes utilizadas na peletização
e a temperatura de secagem não afetaram significativamente a porcentagem final de germinação das sementes em gerbox. Na avaliação da
emergência de plântulas em bandejas, apenas duas formulações de péletes
apresentaram menor taxa em relação ao tratamento com desempenho
máximo, indicando que as diferenças obtidas não foram devidas às diferenças na formulação do recobrimento e nem à temperatura de secagem. Independentemente da temperatura de secagem, todas as formulações utilizadas na peletização causaram redução na velocidade de germinação. Entretanto, quando semeadas em substrato orgânico e cultivadas em casa de vegetação, as sementes revestidas com várias formulações apresentaram índices de velocidade de emergência semelhantes
aos das sementes não peletizadas. Neste ambiente, as plântulas oriundas de sementes peletizadas apresentaram crescimento normal, sem diferenças significativas com a testemunha, em relação à produção de
matéria seca da parte aérea e das raízes, avaliadas aos 20 dias após a
semeadura.
Performance of pelleted lettuce seeds in response to glue
material and temperature during the drying of the pellets.
Palavras-chave: Lactuca sativa L., peletização, estabelecimento de
plântulas, vigor.
Keywords: Lactuca sativa L., pelleting, coat, seedling establishment,
vigor.
Seeds of lettuce cv. Grand Rapids Nacional were pelleted using
as a filler, a mixture of sand and microcellulose in equal volume
parts, and as a glue, different volumes of water suspension of
bentonite and polyvinyl acetate at five proportions (%): 100+0;
75+25; 50+50; 25+75; and 0+100 applied apart, betonite being
applied in the first coat layer. After pelleting, seeds were dried at 15
or 36°C and evaluated for germination and seedling emergence. Seed
pelleting compound and drying temperature did not affect total
germination. Only two pellet formulations showed reduced rate of
seedling emergence indicating that differences were not due to the
coat formulation and drying process. Independently of seed pellet
formulation and dry temperature, the germination of pelleted seed
delayed in relation to raw seeds. When sowed in organic substrate
and placed under greenhouse conditions, pelleted seeds showed
similar germination rate to raw seeds. In this environment, seedlings
from pelleted seeds showed normal growth. The fresh and dry matter
were similar to those from raw seeds at 20 days after sowing.
(Aceito para publicação em 09 de janeiro de 2.002)
A
peletização consiste no revestimento de sementes com sucessivas
camadas de material seco e inerte, dando a elas o formato arredondado, maior
massa e acabamento liso, o que facilita
a distribuição e o manuseio das sementes, especialmente aquelas muito pequenas, pilosas, rugosas ou deformadas. As
sementes de alface (Lactuca sativa, L.)
caracterizam-se pelo pequeno tamanho,
pouco peso e formato irregular, o que
dificulta a sua individualização e distribuição, tanto no processo manual quanto mecânico de semeadura. A utilização
de sementes peletizadas reduz os custos de produção de mudas por diminuir
o consumo de sementes, diminui o ser-
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
viço de distribuição manual de sementes, facilita a mecanização da semeadura e pode eliminar a prática do desbaste
de plantas excedentes. Soma-se a isto, a
possibilidade de incorporação de
nutrientes, reguladores de crescimento
e outros agroquímicos durante o processo
de peletização, podendo constituir
melhorias na sanidade das sementes e
no estabelecimento das plântulas. Para
algumas espécies, o menor consumo de
sementes pode viabilizar a utilização de
semente de melhor qualidade genética,
especialmente as sementes híbridas.
Embora a técnica de peletização tenha sido desenvolvida há vários anos,
as informações referentes à composição
dos materiais empregados e à confecção dos péletes são pouco difundidas,
uma vez que esta técnica permanece inacessível junto às empresas de sementes
e as companhias processadoras dos
péletes.
O processo consiste basicamente em
aplicar camadas sucessivas de um material sólido inerte sobre as sementes em
constante movimento dentro de uma betoneira, alternando a aplicação do material de enchimento com a pulverização
de um cimentante solúvel em água (Silva, 1997; Silva & Nakagawa, 1998a).
Para escolha de material a ser utilizado na peletização, incluindo os de enchimento, os adesivos e os de acabamen67
J.B.C. Silva et al.
to, deve-se levar em conta a sua influencia, dentre outros aspectos, na rigidez do
pélete, na absorção de água e na troca
gasosa entre a semente e o ambiente externo ao pélete. Todos estes aspectos afetam diretamente a germinação das sementes, causando geralmente, redução na
velocidade de germinação e do crescimento das plântulas (Sachs et al., 1981;
Sachs et al., 1982; Silva & Márton, 1992;
Silva et al., 1992).
Silva, (1997) e Silva & Nakagawa,
(1998a; 1998b; 1998c; 1998d), propuseram diferentes métodos para avaliação de materiais e verificaram diferenças marcantes quanto ao tempo de dissolução e a resistência física dos péletes,
fatores estes que influenciam a absorção de água e a troca gasosa, afetando
assim a germinação das sementes.
Em avaliações preliminares para seleção de material (dados não publicados), definiu-se a areia fina,
microcelulose, bentonita e acetato de
polivinila como as melhores opções de
ingredientes para formulação da camada de peletização. A areia e a
microcelulose são utilizadas como material para enchimento. A bentonita e a
cola à base de acetato de polivinila (cola
PVA) são utilizadas como cimentante,
tendo a bentonita a função de formar o
núcleo dos péletes, por ser uma argila
que agrega levemente as partículas utilizadas como enchimento. A cola PVA
é utilizada para cimentar a camada de
acabamento, por ter maior capacidade
de agregação das partículas, dando a rigidez necessária aos péletes. No entanto, os adesivos formam uma solução de
alta viscosidade, o que dificulta a troca
gasosa entre a semente e o ambiente
externo ao pélete, sendo portanto interessante minimizar o uso de cola PVA.
O processo de peletização implica na
aplicação de um volume relativamente
grande de água, utilizada como veículo
para pulverização da suspensão de
cimentantes. Após o processamento, a
umidade contida na camada de peletização
deve ser retirada imediatamente, evitando assim a absorção de água pela semente. Porém o uso de calor durante essa secagem pode causar dormência secundária às sementes (Popinigis, 1985).
O objetivo do trabalho foi avaliar a
viabilidade e o desenvolvimento de
68
plântulas de alface em resposta a diferentes proporções de bentonita e cola
PVA utilizadas na peletização, bem
como avaliar o efeito da temperatura de
secagem após o processamento.
MATERIAL E MÉTODOS
Peletização
Sementes de alface do tipo crespa,
da cultivar Grand Rapids Nacional, foram peletizadas em uma betoneira adaptada e instalada na Embrapa Hortaliças,
seguindo metodologia descrita por Silva & Nakagawa (1998a). Utilizou-se,
como material para enchimento, uma
mistura de areia fina e microcelulose,
em volumes iguais, peneirada aos poucos e aplicada alternadamente com a
pulverização de cimentante. Como material cimentante, variou-se a proporção
dos volumes de solução aquosa
bentonita (BT), na diluição de 80 g/L e
de cola à base de acetato de polivinila
(PVA), diluída a 25% (v/v), nas seguintes proporções (%) de BT + PVA:
100+0; 75+25; 50+50; 25+75; 0+100.
Cada ingrediente cimentante foi aplicado separadamente por pulverização
dirigida à massa circulante dentro da
betoneira, sendo o PVA aplicado na fase
de acabamento. Ou seja, os núcleos dos
péletes foram construídos com
cimentante bentonita e a camada externa com PVA.
Após a peletização, as sementes foram divididas em duas amostras e secadas
em estufas sob temperaturas constantes
de 15 e de 36ºC, por 24 horas, constituindo um fatorial 5x2, mais uma testemunha constituída das sementes nuas.
Germinação
Quatro repetições de 50 péletes ou
sementes nuas foram distribuídas sobre
duas folhas de papel de germinação,
umedecidas com água destilada, e incubadas em caixas gerbox, mantidas em
germinadores a 20ºC, sob luz. Foram
realizadas contagens diárias das sementes que emitiram raízes primárias. A
contagem final de germinação foi realizada aos sete dias, conforme as prescrições estabelecidas pelas Regras de Análise de Sementes (Brasil, 1992). Utilizando os dados de contagem diária de
germinação calculou-se o índice de velocidade de germinação por meio da
fórmula proposta por Maguirre (1962).
Emergência de plântulas e produção de mudas
Três repetições de 128 sementes foram semeadas em bandejas de
poliestireno de 128 células, contendo
substrato orgânico comercial da marca
Plantmax (Eucatex) e mantidas em casa
de vegetação. Foi realizada a contagem
diária da emergência das plântulas e, aos
20 dias, efetuou-se a colheita das mudas para determinação das massas de
matéria fresca e seca, tanto da parte aérea como das raízes. Para a determinação da massa de matéria seca utilizouse uma estufa de circulação forçada, a
60ºC por 24 horas.
Rapidez e eficiência de plantio
Determinou-se o tempo médio gasto por operários treinados para semeadura manual em bandejas de 128 células, comparando sementes nuas e
peletizadas. Outra avaliação foi realizada com uma semeadora mecânica, dotada de mecanismo de sucção das sementes por agulhas, determinando-se a
porcentagem de células sem sementes
bem como a porcentagem de células
com mais de uma semente.
A análise dos dados foi realizada inicialmente no modelo de fatorial excluindo-se o tratamento testemunha, visando
analisar os efeitos interativos. Não havendo interação significativa, fez-se a
análise com todos os tratamentos, discriminando-os por meio do teste de Dunnet.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Germinação
A porcentagem de germinação obtida em laboratório não foi afetada pelas
diversas composições de cimentantes
utilizados na peletização das sementes
(Tabela 1), não se observando também
diferenças na germinação quanto à temperatura de secagem dos péletes. Entretanto, as sementes nuas emitiram raízes
primárias mais rapidamente que todos
os tipos de sementes peletizadas, sendo
que entre as composições de péletes e
entre as temperaturas de secagem não
houve diferenças significativas. Este
atraso na germinação é comum em sementes peletizadas conforme resultados
de diversos estudos (Silva, 1997; Sachs
et al., 1981; Roos & Moore III, 1981 e
trabalhos citados por Tonkin, 1984).
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Desempenho de sementes peletizadas de alface em função do material cimentante e da temperatura de secagem dos péletes.
Emergência de plântulas
Todos os péletes apresentaram porcentagem de emergência semelhantes à
obtida com sementes nuas; apenas dois
tipos de péletes apresentaram menor
taxa de emergência de plântulas em relação ao tratamento com desempenho
máximo (100% BT/360C), sendo um dos
tipos confeccionado com a formulação
de 50% de cola à base de PVA e secagem a 15ºC e outro com 25% de cola
PVA e secagem a 36ºC (Tabela 2). Estes resultados sugerem que as diferenças na emergência de plantulas não podem ser relacionadas com a formulação
da camada de recobrimento e nem com
a temperatura de secagem.
Quanto à velocidade de emergência
das plântulas, o comportamento das sementes peletizadas foi mais aproximado das sementes não cobertas, quando
se comparam estes dados com os obtidos na avaliação da velocidade de germinação, avaliada em laboratório.
O retardamento observado na emergência das plântulas obtidas com sementes peletizadas, não afetou significativamente, a qualidade das mudas de alface produzidas em bandejas sob condições de casa de vegetação (Tabela 2).
Aos 20 dias após a semeadura, as
Tabela 1. Germinação de sementes nuas e de diversos tipos de péletes de semente de alface
‘Grand Rapids Nacional’ incubadas sob luz, a 20°C. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1999.
Composição de
cimentante
100% BT
75% BT + 25% PVA
50% BT + 50% PVA
25% BT + 75% PVA
100% PVA
100% BT
75% BT + 25% PVA
50% BT + 50% PVA
25% BT + 75% PVA
100% PVA
Sementes nuas (controle)
CV (%)
DMS
Temperatura
Germinação
de secagem
(%)
(°C)
36
96,5 a
36
96,0 a
36
96,0 a
36
95,0 a
36
96,0 a
15
98,0 a
15
94,0 a
15
91,5 a
15
95,5 a
15
93,5 a
97,5 a
3,3
7,73
Índice de
velocidade
21,3 b
20,5 b
19,7 b
19,3 b
21,3 b
22,0 b
20,2 b
19,3 b
19,9 b
19,8 b
25,4 a
5,7
2,87
Valores seguidos pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey na comparação
entre péletes e pelo teste Dunnett, na comparação com a testemunha.
BT = Bentonita; PVA = Cola à base de acetato de polivinila
plântulas não apresentaram diferenças
significativas de massa de matéria fresca e seca, tanto da parte aérea quanto
das raízes, quando se comparam as
plântulas originadas de sementes nuas
com as originadas dos demais tratamen-
tos, inclusive para as temperaturas de
secagem e diferentes tipos de péletes.
Entretanto, percebe-se pelo alto coeficiente de variação, que houve
desuniformidade no crescimento das
plântulas.
Tabela 2. Emergência e desenvolvimento de plântulas oriundas de diversos tipos de péletes de sementes de alface ‘Grand Rapids Nacional’,
em casa de vegetação. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1999.
Composição dos péletes
Temperatura de
Emergência (%)
secagem (°C)
100% BT
75% BT + 25% PVA
50% BT + 50% PVA
25% BT + 75% PVA
100% PVA
100% BT
75% BT + 25% PVA
50% BT + 50% PVA
25% BT + 75% PVA
100% PVA
Sementes nuas (controle)
CV
DMS
36
36
36
36
36
15
15
15
15
15
-
96,6 a
90,1 b
91,4 ab
94,5 ab
92,2 ab
94,5 ab
94,0 ab
90,1 b
91,7 ab
91,4 ab
95,6 ab
2,3
6,17
Índice de
velocidade
34,7 abc
33,0
c
33,4 bc
33,8 abc
34,5 abc
36,4 ab
35,1 abc
32,5
c
34,0 abc
34,4 abc
36,6 a
3,2
3,18
Matéria seca (mg)*
Parte aérea
Raízes
260 a
160 a
371 a
130 a
352 a
108 a
367 a
108 a
378 a
160 a
363 a
147 a
395 a
143 a
312 a
118 a
303 a
178 a
491 a
182 a
404 a
135 a
17,8
36,3
190
105
*Média de 20 plântulas.
Valores seguidos pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey na comparação entre péletes e pelo teste Dunnett, na comparação
com a testemunha.
BT = Bentonita; PVA = Cola à base de acetato de polivinila
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
69
J.B.C. Silva et al.
Rapidez e eficiência de plantio
Quanto à avaliação da facilidade de
semeio, verificou-se que para semear
manualmente as sementes peletizadas,
os operários gastaram o tempo médio
de 2:12 minutos para semear uma bandeja de 128 células, e gastaram 3:42
minutos para semear sementes nuas, o
que corresponde a um gasto a mais de
68% de mão-de-obra. Observou-se ainda, naquelas bandejas semeadas com
sementes nuas, que algumas células continham mais de uma semente, o que é
um aspecto negativo à produção de
mudas, pois além de um maior gasto de
sementes, há a necessidade de se realizar, posteriormente, o desbaste naquelas células com mais de uma plântula.
As sementes peletizadas foram facilmente semeadas em semeadora mecânica, e não se observou nenhum tipo
de dano ou quebra dos péletes, causado
pela semeadora.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Horti-mudas – Xavier & Baliza Ltda., por ter ce-
70
dido operários e equipamentos para realização das avaliações de rapidez e eficiência de plantio das sementes.
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Brasileira, Brasília, v. 20, n. 1, p. 71-79, março 2.002.
Potencial biótico da mosca-branca Bemisia argentifolii a diferentes plantas hospedeiras1 .
Geni L. Villas Bôas1; Félix Humberto França1; Newton Macedo2
Embrapa Hortaliças, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Brasília-DF. E-mail: [email protected]; 2UFSCar, C. Postal 153, 13.6000000 Araras-SP
1
RESUMO
ABSTRACT
A mosca-branca Bemisia argentifolii Bellows & Perring, 1994
causa danos em diversas culturas de importância econômica no Brasil. Este trabalho teve o objetivo de avaliar o potencial biótico do
inseto nas plantas de abobrinha, feijão, mandioca, milho, poinsétia,
repolho e tomate. Os experimentos foram conduzidos na Embrapa
Hortaliças, em Brasília-DF, em câmaras climatizadas, à temperatura
de 28 ± 2ºC e casa de vegetação, à temperatura ambiente (25 ± 8ºC),
partindo-se de uma população de B. argentifolii, criada em poinsétia
desde 1995. Repolho e feijão foram as plantas hospedeiras que apresentaram períodos pré-imaginais mais curtos, respectivamente 20,5
e 21,9 dias. As maiores porcentagens de mortalidade nesses períodos foram observadas em mandioca (97,9%) e milho (94,2%). A
razão sexual em geral foi favorável às fêmeas. O inseto apresentou
valores muito próximos de rm (capacidade intrínseca de crescimento
da população), variando de 0,18 em feijão a 0,13 em repolho, mostrando estar igualmente adaptado a estes hospedeiros. Resultados
diversos foram observados em milho e mandioca, onde as fêmeas
apresentaram alta mortalidade (> 90%), o que sugere baixa capacidade de utilização destes hospedeiros pela mosca-branca.
Biotic potential of Bemisia argentifolii to different host plants.
The whitefly Bemisia argentifolii Bellows & Perring, 1994 has
been causing damage in several economically important crops in
Brazil. The purpose of this research was to determine the biotic
potential of the insect in zucchini, dry bean, cassava, corn, poinsettia,
cabbage and tomato. The experiments were carried out at the
Experimental Station of Embrapa Hortaliças, located in Brasilia, in
BOD chamber (28°C ± 2°C) and greenhouse (25°C ± 8°C), with a
whitefly population continuously reared on poinsettia plants since
1995. Cabbage and dry bean were the host plants with shorter preimaginal periods, 20.5 and 21.9 days respectively. The highest
mortality in this periods was observed in cassava (97.9%) and corn
(94.2%). Sexual ratio (female:male) favored females. The insect
presented a small range for the intrinsic rate of increase (rm), 0.18
for dry bean and 0.13 for cabbage, reflecting the similar adaptability
to both hosts. Lower intrinsic rates of increase were observed in
corn and cassava, with high female mortality (> 90%), suggesting
that these two species were less suitable hosts for this whitefly
population.
Palavras-chave: Bemisia tabaci biótipo B, biologia, tabela de vida,
abobrinha, feijão, mandioca, milho, poinsétia, repolho, tomate.
Keywords: Bemisia tabaci B biotype, biology, life table, zucchini,
dry bean, cassava, corn, poinsettia, cabbage, tomato.
(Aceito para publicação em 07 de janeiro de 2.002)
A
mosca-branca Bemisia argentifolii
Bellows & Perring, 1994
(Homoptera: Aleyrodidae) (Bellows
Junior et al., 1994) foi introduzida no
Brasil, provavelmente através da planta
ornamental poinsétia (Euphorbia
pulcherrima), tendo sido registrada em
São Paulo em 1990 (Melo, 1992;
Lourenção & Nagai, 1994) e no Distrito
Federal em 1993 (França et al., 1996).
Esta espécie foi encontrada em 1986 na
Flórida, em altas populações em estufas
de criação de poinsétia e inicialmente
considerada um novo biótipo de B.
tabaci, denominado biótipo B ou mosca-branca da folha prateada (Bethke et
al., 1991; Perring et al., 1993).
B. argentifolii pode causar danos
diretos às culturas ao se alimentar da
seiva, provocando alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da
planta. A excreção de substâncias açucaradas que cobrem as folhas e servem
de substrato para fungos, resultando na
formação da fumagina, reduz o processo de fotossíntese e o valor comercial
das culturas. Em tomate ocorre também
o amadurecimento irregular dos frutos,
o que dificulta o reconhecimento do
ponto de colheita, reduz a produção e a
qualidade da pasta, após o
processamento (Villas Bôas et al.,
1997). O dano mais sério causado por
mosca-branca, no entanto, é o chamado
dano indireto, onde o inseto é vetor de
vários geminivírus, sendo considerado
o mais importante vetor de patógenos
virais do mundo.
Conforme Gerling & Mayer (1996)
é difícil saber quais trabalhos sobre a
biologia do inseto foram realizados com
B. tabaci ou B. argentifolii. A biologia
de B. tabaci foi estudada em diversos
hospedeiros e em várias regiões do mundo, conforme revisões de Byrne &
Bellows Junior (1991) e Fishpool &
Burban (1994), sendo que estes últimos
autores comentam a variação existente
nos diferentes resultados encontrados,
em função das condições climáticas e
diferentes plantas hospedeiras.
O estudo da biologia de insetos é
importante, principalmente em espécies
recém-introduzidas em uma região,
por oferecer conhecimentos básicos ao
estabelecimento de medidas adequadas
de controle. O objetivo deste trabalho
1 Parte da tese de doutoramento do primeiro autor, apresentado ao PPG-ERN da UFSCar, São Carlos, SP.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
71
G.L. Vilas Boas et al.
foi avaliar o potencial biótico de B.
argentifolii em algumas plantas hospedeiras como abobrinha, feijão, mandioca,
milho, poinsétia, repolho e tomate, determinando-se os parâmetros biológicos mais
adequados para estimar a adaptação da
espécie ao interagir com estas plantas.
MATERIAL E MÉTODOS
População base
Os insetos utilizados em todos os
experimentos descritos neste trabalho
foram obtidos a partir de uma população criada em plantas de poinsétia, que
vem sendo mantida em casa de vegetação, na Embrapa Hortaliças, Brasília
(DF), desde 1995. Esta população de
mosca-branca foi previamente
identificada como B. argentifolii, através da técnica molecular de
polimorfismo de DNA amplificado ao
acaso (RAPD) (G.L. Villas Bôas, dados
não publicados).
Hospedeiros avaliados
O potencial biótico da mosca-branca
foi determinado sobre plantas de abobrinha italiana ‘Caserta’ (Cucurbita pepo),
feijão ‘Carioquinha’ (Phaseolus
vulgaris), mandioca (Manihot esculenta),
milho ‘Br 201’ (Zea mays), poinsétia
(Euphorbia pulcherrima), repolho
‘Kenzan’ (Brassica oleracea var.
capitata) e tomate ‘Nemadoro’
(Lycopersicon esculentum). A idade das
plantas foi padronizada em sete dias após
a semeadura para abobrinha e milho,
quinze dias para feijão, 20 dias após o
transplante para repolho, tomate, mandioca e três meses para poinsétia, por
apresentarem nestes estágios fenológicos
número de folhas e vigor compatíveis
com as exigências dos trabalhos.
Condições experimentais
Os experimentos foram conduzidos
no laboratório de Entomologia da
Embrapa Hortaliças, de setembro de
1998 a setembro de 1999. Estes estudos
foram realizados em câmaras
climatizadas (BOD) a 28 ± 2ºC, 70 ±
10% de umidade relativa (UR) e
fotofase de 14 h com observações diárias, nos hospedeiros repolho, feijão, mandioca e abobrinha. Além destes, para
reduzir o efeito causado pelo manuseio
das folhas a cada 24 h, foram realizados
estudos das bionomias da mosca-bran72
ca em BOD com observações a cada três
dias, em média, nos hospedeiros tomate, milho e poinsétia. Adicionalmente,
para atenuar o efeito da eventual perda
de qualidade das plantas, que permaneceram sob a luz da BOD, bem como o
manuseio diário, foram realizados estudos das biologias da mosca-branca, em
casa de vegetação (temperatura ambiente de 25 ± 8ºC e 60 ± 10% UR).
Definição do número de casais
Foi efetuado um ensaio preliminar
com repolho ‘Kenzan’ de quinze dias
após transplante. Os tratamentos foram:
um, dois, quatro, oito e 16 casais por vaso,
com quatro repetições. Os casais, de diferentes idades, foram colocados em gaiolas (tubo de PVC de 13 cm de diâmetro e
20 cm de altura, coberto com tela na parte superior) com vasos de repolho de 0,5
L e 12 cm de diâmetro, por 24 h.
Estudos biológicos em BOD
Casais de mosca-branca foram
coletados na face abaxial da folha de
poinsétia. Como os adultos ficam sempre pareados, com as cabeças voltadas
para lados opostos, estes eram aspirados e liberados nas gaiolas de PVC que
continham os vasos com as plantas hospedeiras, geralmente com pelo menos
duas folhas totalmente expandidas, onde
permaneciam por 24 h. Foram utilizados dez casais por vaso. Após 24 h, determinou-se o número de ovos sobre
cada folha. Tanto no experimento onde
as observações eram diárias, como naquele cujas observações eram feitas a
cada três dias, as plantas foram
verificadas sempre no mesmo horário,
com auxílio de microscópio
estereoscópio, e anotada a presença de
cada fase do inseto e a mortalidade ocorrida, até a emergência dos adultos. Para
as observações a cada três dias, o tempo de duração de cada estádio de crescimento foi estabelecido e registrado quando pelo menos 50% dos indivíduos haviam mudado para o estádio seguinte àquele da observação anterior. A transição
entre as diferentes fases foi observada
através da mudança na cor e tamanho das
ninfas ou pela presença da exúvia. As
seguintes variáveis foram avaliadas: número inicial de indivíduos por folíolo,
número de ovos por fêmea por dia (24 h),
porcentagem de eclosão, número de estádios, tempo de desenvolvimento de cada
estádio (dias), duração total de ovo a adulto (dias), mortalidade em cada fase (%)
e mortalidade total (%).
Estudos biológicos em casa de vegetação
Até a obtenção das posturas, o procedimento foi o mesmo anteriormente
descrito para os estudos da bionomia em
BOD. Os vasos foram mantidos em casa
de vegetação e observados a cada três
dias, em média. Avaliou-se o número
inicial de indivíduos por folíolo, número de ovos por fêmea por dia (24 h),
porcentagem de eclosão de ninfas, período médio em dias, de ovo a adulto e
porcentagem total de mortalidade.
Razão sexual
Os adultos obtidos a partir dos estudos de biologia anteriormente descritos,
foram capturados e sexados. A sexagem
foi feita com auxílio de microscópio
estereoscópio, sendo o reconhecimento
dos machos e fêmeas feito através das
diferenças anatômicas do abdômen do
inseto, que na fêmea se apresenta arredondado e no macho se apresenta em
formato de pinça em sua porção final.
Longevidade e fertilidade das fêmeas
Avaliou-se a longevidade e
fecundidade das fêmeas e o número de
ovos por fêmea por dia (24 h). Os casais provenientes da população base foram colocados em recipientes de plástico, cobertos com tela, que continham
uma folha da planta hospedeira, com o
pecíolo colocado em um pequeno vidro
com água, e mantidos em BOD. Cada
folha era trocada em intervalos de três
dias, em média, quando determinava-se
o número de posturas efetuadas neste
intervalo de tempo. Os machos que
morriam durante o experimento eram
substituídos por outros machos provenientes da população base. A observação era considerada concluída com a
morte da fêmea. As fêmeas mortas ou
desaparecidas sem efetuar postura, no
primeiro intervalo de observação, foram
eliminadas das análises.
Associação inseto hospedeiro em
várias gerações
Colocaram-se inicialmente 100 casais da população base, criada em
poinsétia, em dez vasos de repolho, em
gaiolas (61 x 64 x 80 cm) em telado, à
temperatura ambiente. Após três geraHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Potencial biótico da mosca-branca Bemisia argentifolii a diferentes plantas hospedeiras.
Tabela 1. Número de ovos por casais e número de ovos por fêmea (média e erro padrão da
média) em 24 h, da mosca-branca Bemisia argentifolii, em repolho. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1998.
Tratamentos
01 casal
02 casais
04 casais
08 casais
16 casais
Nºovos/casais/24h
X1 ± EPM²
2,8 ± 0,9 a3
5,8 ± 1,8 ab
8,0 ± 3,8 ab
18,5 ± 3,9 b
34,5 ± 9,1 c
Nºovos/fêmea/24h
X ± EPM
2,8 ± 0,9
2,9 ± 0,9
2,0 ± 0,9
2,3 ± 0,5
2,2 ± 0,6
X = Médias
EPM = Erro padrão da média
3
Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste DMS (Diferença
mínima significativa) a 5%.
1
2
ções, casais foram coletados e liberados
nas gaiolas com a planta hospedeira repolho. Foram estudados, em casa de
vegetação, a longevidade das fêmeas,
número de ovos por fêmea e o número
de ovos por fêmea por dia.
Tabela de vida de fertilidade
Foram calculados os valores de Ro
= ∑ mx.lx (taxa líquida de reprodução
ou o número de fêmeas geradas por uma
fêmea em uma geração); T = ∑ mx.lx.x/
∑ mx.lx (duração média de uma geração); rm = lnRo/T (estimativa da capacidade intrínseca de crescimento da população) e l = erm (razão finita de aumento, que representa o número de indivíduos adicionados à população/unidade tempo) (Silveira Neto et al., 1976;
Price, 1984).
Delineamento experimental e análises estatísticas
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado. A
análise dos dados foi feita com o auxílio do software Statview, determinandose parâmetros estatísticos descritivos
como média, erro padrão da média e
amplitude. Foi feita a análise da
variância, utilizando-se como teste de
separação de médias o DMS (Diferença Mínima Significativa) (P ≤ 0,05).
Nestes casos, os dados foram transformados para √ x + 0,5.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Definição do número de casais
Verificaram-se diferenças significativas entre os tratamentos para número
total de ovos, sendo que nos tratamentos
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
oito e 16 casais, a média de ovos foi de
18,5 e 34,5, respectivamente (Tabela 1).
As fêmeas ovipositaram de 2,0 a 3,0
ovos por dia, não havendo diferença estatística entre os tratamentos (Tabela 1).
A metodologia com gaiolas de PVC e
período de 24 h mostrou-se adequada
para obtenção de posturas para se iniciar
experimentos com mosca-branca.
Baseado nos resultados obtidos, tomouse a decisão de trabalhar com oito a dez
casais por vaso, conforme a disponibilidade de adultos.
Estudos biológicos em BOD e casa
de vegetação
Ciclos de vida mais curtos foram
verificados em repolho (20,5 ± 0,3 dias)
e feijão (21,9 ± 0,7 dias), enquanto em
poinsétia (26,6 ± 0,5 dias) e mandioca
(25,0 ± 1,3 dias) o período de desenvolvimento foi mais longo (Tabelas 2 e 3).
Em estudos bionômicos de B. tabaci e
B. argentifolii, na mesma planta hospedeira, vários pesquisadores chegaram a
resultados similares, sendo que as diferenças observadas foram devidas às diferentes condições ambientais dos experimentos, principalmente temperatura e umidade. Mizuno & Villas Bôas
(1997) verificaram em repolho um ciclo maior (25,6 ± 1,1 dias), à temperatura de 25 ± 2ºC e semelhante ao que
foi obtido para repolho (Tabela 4) em
casa de vegetação (26,7 ± 0,2 dias). Para
feijão, tanto Coudriet et al. (1985) como
Tsai & Wang (1996) verificaram tempo
de desenvolvimento similar aos obtidos
nestes experimentos em BOD, enquanto Eichelkraut & Cardona (1989) citam
duração total de 25,3 dias a 26,5ºC, com-
patível com os dados obtidos em feijão
em casa de vegetação (25,7 dias) (Tabela 4). Na planta hospedeira poinsétia,
Bethke et al. (1991) observaram um
tempo de desenvolvimento total de 23,2
± 0,7 dias, à temperatura de 25,4ºC, enquanto Enkegaard (1993) encontrou
26,1 dias (26,7ºC), similares aos resultados deste trabalho (Tabela 3). Salas &
Mendoza (1995) e Mizuno & Villas
Bôas (1997) trabalhando com tomate,
obtiveram dados semelhantes aos apresentados neste trabalho, sob as mesmas
condições de temperatura, enquanto Tsai
& Wang (1996) registraram um ciclo
menor (18,0 dias) a 25 ± 1ºC. Coudriet
et al. (1985) verificaram um período
mais longo (27,3 dias) a 26,7ºC, valor
muito próximo ao que foi verificado
(27,5 dias) em casa de vegetação (Tabela 4). Em abobrinha, Yee & Toscano
(1996) registraram um ciclo de 23 dias,
sob temperatura de 27 ± 2ºC.
As maiores porcentagens de mortalidade total na fase pré-imaginal foram
registradas em mandioca (97,9 ± 1,3%)
e milho (94,2 ± 2,8%), nos estudos de
bionomia realizados em BOD (Tabelas
2 e 3). Em casa de vegetação (Tabela
4), a maior porcentagem de mortalidade total foi observada em feijão (74,7 ±
5,3%). As maiores porcentagens de
mortalidade ocorreram em ninfas do terceiro estádio, quando os insetos estavam
associados com as plantas hospedeiras
repolho (15%), feijão (39%), mandioca
(63%) e tomate (5%), e em ninfas do
quarto estádio em milho (76%) e
poinsétia (17%) (Tabelas 2 e 3). Em estudos realizados na casa de vegetação,
as maiores porcentagens de mortalidade ocorreram em ninfas do quarto estádio para feijão (55%), abobrinha (42%)
e repolho (32%). Em tomate, observouse uma elevada porcentagem de mortalidade na fase de ovo (30%) (Tabela 4).
Os dados referentes à mortalidade,
encontrados na literatura, são extremamente variáveis, sendo que, além dos
fatores abióticos, outros fatores interferem nas taxas de mortalidade observadas nas diferentes espécies de plantas
hospedeiras, como idade, vigor, cultivar
e substâncias metabólicas secundárias.
O intenso manuseio das folhas durante
as amostragens também contribui para
o aumento da mortalidade ninfal
73
G.L. Vilas Boas et al.
Tabela 2. Número inicial de indivíduos por folíolo, duração e porcentagem de mortalidade em cada fase e total (média, erro padrão da média
e amplitude) de Bemisia argentifolii, respectivamente nas plantas hospedeiras repolho, feijão, mandioca e abobrinha, realizado em câmara
climatizada, regulada a 28±2ºC, 70±10% UR e fotofase de 14 h, observados diariamente. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1998-1999.
Nº de indivíduos/folíolo
X1 ± EPM2
Amplitude3
Repolho (n4 = 100)
Ovo
14,2 ± 2,1
2 - 41
1º estádio
12,9 ± 1,9
2 - 37
2º estádio
11,9 ± 1,9
2 - 34
3º estádio
11,3 ± 1,9
1 - 32
4o estádio
9,1 ± 1,4
1 - 23
Adultos
8,0 ± 1,3
1 - 18
Ovo-adulto
Feijão (n = 100)
Ovo
23,3 ± 2,7
5 - 46
1º estádio
19,9 ± 2,4
5 - 41
2º estádio
13,7 ± 1,9
3 - 32
3º estádio
10,8 ± 1,5
3 - 26
4o estádio
6,9 ± 0,9
1 - 16
Adultos
4,3 ± 0,7
1 - 11
Ovo-adulto
Mandioca (n = 100)
Ovo
13,6 ± 2,0
3 - 38
1º estádio
8,3 ± 1,0
1 - 16
2º estádio
3,5 ± 0,7
0 - 12
3º estádio
1,8 ± 0,4
0-6
4o estádio
0,9 ± 0,3
0-4
Adultos
1,6 ± 0,6
1-4
Ovo-adulto
Abobrinha (n = 110)
Ovo
20,9 ± 5,1
0 - 74
1º estádio
27,9 ± 5,4
2 - 57
2º estádio
11,0 ± 3,1
2 - 21
3º estádio
5,0 ± 4,0
1-9
4o estádio5
Adultos
Ovo-adulto
Fases
Duração (dias)
X ± EPM
Amplitude
Mortalidade (%)
X ± EPM
Amplitude
6,4 ± 0,1
3,2 ± 0,1
2,8 ± 0,1
3,9 ± 0,3
4,3 ± 0,2
20,5 ± 0,3
6,0 - 6,9
2,9 - 3,8
2,0 - 3,2
2,6 - 6,6
3,0 - 5,6
18,9 - 23,5
8,7 ± 2,2
5,3 ± 1,5
7,6 ± 3,5
15,0 ± 3,7
10,8 ± 3,7
36,9 ± 5,1
0 - 27,8
0 - 16,7
0 - 50,0
0 - 50,0
0 - 50,0
0 - 69,2
6,1 ± 0,1
4,4 ± 0,2
2,9 ± 0,1
5,4 ± 0,4
4,9 ± 0,4
21,9 ± 0,7
5,3 - 7,2
3,5 - 5,3
2,1 - 4,0
3,2 - 8,9
3,0 - 10,0
17,0 - 26,8
14,9 ± 3,3
30,3 ± 4,0
17,9 ± 3,6
39,2 ± 6,1
36,7 ± 4,4
79,2 ± 4,1
0 - 50,0
0 - 60,0
0 - 57,1
0 - 100
0 - 66,7
20 - 100
4,6 ± 0,1
4,5 ± 0,2
4,2 ± 0,3
4,8 ± 0,4
6,9 ± 0,7
25,0 ± 1,3
3,5 - 5,0
3,5 - 7,0
3,0 - 6,5
3,5 - 7,0
5,0 - 9,3
22 - 29
37,4 ± 4,1
53,6 ± 7,5
61,0 ± 7,4
62,5 ± 11,1
35,7 ± 18,0
97,9 ± 1,3
11,1 - 80
0 - 100
0 - 100
0 - 100
0 - 100
76,5 - 100
6,1 ± 0,2
2,9 ± 0,2
1,7 ± 0,7
4,0 ± -
5,0 - 8,0
2,0 - 4,0
1,0 - 2,3
4,0 - 4,0
-
18,3 ± 4,7
49,8 ± 7,8
55,9 ± 14,4
88,9 ± -
0 - 61,4
8,7 - 73,0
0 - 75,0
88,9 - 88,9
-
X = Médias
EPM = Erro padrão da média
3
Amplitude = Valores máximo e mínimo
4
n = Número inicial de casais
5
= a planta morreu
1
2
(Enkegaard, 1993). Para poinsétia, as
porcentagens de mortalidade total, de
ovo a adulto variaram de 6% a 28ºC
(Enkegaard, 1993) a 39% a 27ºC (Costa & Brown, 1991). Tsai & Wang (1996)
verificaram porcentagem de mortalidade total de 60% em tomate e de 46% em
74
feijão, enquanto Mizuno & Villas Bôas
(1997) mencionam 53% em tomate,
ocorrendo uma maior mortalidade em
ninfas do quarto estádio (24%) e 46,8%
em repolho, com maior mortalidade em
ninfas do primeiro estádio (19%). Costa et al. (1991) trabalhando a 27ºC, ci-
tam mortalidade pré-imaginal de 83%
em tomate e 17% em abobrinha.
Coudriet et al. (1985) observaram mortalidade acima de 90% em cana-de-açúcar para as ninfas do primeiro estádio,
com as sobreviventes morrendo no segundo estádio.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Potencial biótico da mosca-branca Bemisia argentifolii a diferentes plantas hospedeiras.
Tabela 3. Número inicial de indivíduos por folíolo, duração e porcentagem de mortalidade em cada fase e total (média, erro padrão da média
e amplitude) de Bemisia argentifolii, respectivamente nas plantas hospedeiras tomate, milho e poinsétia, realizado em câmara climatizada,
regulada a 28±2ºC, 70±10% UR e fotofase de 14 h, observados a cada três dias. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1999.
Fases
Nº de indivíduos/folíolo
X1 ± EPM2
Amplitude3
Tomate (n 4 = 60)
Ovo
29,4 ± 5,5
1º estádio
29,3 ± 5,5
2º estádio
28,8 ± 5,5
3º estádio
28,7 ± 5,5
4o estádio
27,6 ± 5,4
Adultos
27,0 ± 5,3
Ovo-adulto
Milho (n = 120)
Ovo
9,3 ± 1,6
1º estádio
6,3 ± 0,7
2º estádio
5,1 ± 0,7
3º estádio
3,9 ± 0,7
4o estádio
3,8 ± 0,6
Adultos
1,3 ± 0,4
Ovo-adulto
Poinsétia (n = 105)
Ovo
34,7 ± 4,3
1º estádio
32,0 ± 3,9
2º estádio
31,7 ± 3,9
3º estádio
28,4 ± 3,5
4o estádio
26,2 ± 3,3
Adultos
21,0 ± 2,2
Ovo-adulto
-
Duração (dias)
X ± EPM
Amplitude
Mortalidade (%)
X ± EPM
Amplitude
7 - 59
7 - 59
7 - 57
7 - 57
6 - 57
6 - 57
-
6,8 ± 0,1
3,3 ± 0,3
2,5 ± 0,2
3,1 ± 0,1
7,6 ± 0,5
22,4 ± 0,4
6,3 - 7,0
2,0 - 5,1
2,0 - 4,0
2,5 - 4,1
6,0 - 10,5
18,9 - 24,0
0,7 ± 0,7
1,5 ± 1,2
0,9 ± 0,9
4,6 ± 2,3
2,0 ± 0,8
9,3 ± 2,9
0 - 8,3
0 - 14,3
0 - 11,1
0 - 25,0
0 - 9,1
0 - 32,1
0 - 30
2 - 12
0 - 11
0-9
1-7
0-3
-
6,5 ± 0,1
2,8 ± 0,4
2,2 ± 0,2
3,5 ± 0,2
9,2 ± 1,2
23,8 ± 0,7
6,0 - 7,4
1,1 - 6,0
1,0 - 3,7
2,5 - 4,0
5,8 - 13,5
22 - 26
37,8 ± 7,0
24,7 ± 7,9
32,2 ± 7,4
20,5 ± 7,6
75,5 ± 7,8
94,2 ± 2,8
0 - 80
0 - 100
0 - 100
0 - 100
33,3 - 100
70 - 100
14 - 100
12 - 88
12 - 88
11 - 79
11 - 77
6 - 42
-
7,2 ± 0,0
2,9 ± 0,0
3,7 ± 0,2
4,2 ± 0,2
7,5 ± 0,3
26,6 ± 0,5
7,0 - 7,6
2,5 - 3,2
2,8 - 7,2
2,6 - 6,1
5,4 - 10,4
24,2 - 31,9
7,5 ± 1,7
1,1 ± 0,5
9,4 ± 2,6
7,4 ± 2,0
17,2 ± 4,3
35,7 ± 4,7
0 - 23,8
0 - 7,3
0 - 39,5
0 - 31,1
0 - 58,3
0 - 74,4
X = Médias
EPM = Erro padrão da média
3
Amplitude = Valores máximo e mínimo
4
n = Número inicial de casais
1
2
Dentre os hospedeiros, verificou-se
que a abobrinha foi muito sensível ao
manuseio direto e ao ambiente interno
da BOD, sendo que em geral, as plantas
secaram e morreram antes que os insetos completassem o ciclo de desenvolvimento (Tabela 2).
Razão sexual
A razão sexual foi sempre favorável
às fêmeas, com exceção daquela observada em mandioca, onde se obteve uma
razão sexual de 0,5 fêmeas:1,0 macho.
As maiores variações foram observadas
em milho (3:1) e tomate (2:1). Já em
poinsétia e repolho a razão fêmea:macho
observada foi de 1,3:1. A razão sexual
encontrada em tomate foi de 2,7:1,0 (SaHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
las & Mendoza, 1995; Mizuno & Villas
Bôas, 1997), de 3,7:1,0 em repolho
(Mizuno & Villas Bôas, 1997) e de 1:1
em feijão (Eichelkraut & Cardona,
1989).
Longevidade e fertilidade das fêmeas
A longevidade variou, em média, de
21,3 ± 9,0 dias em fêmeas de terceira
geração em repolho a 5,5 ± 2,5 dias em
milho, sendo que em feijão o valor máximo observado foi de 40 dias (Tabela
5). Observou-se que em mandioca as
fêmeas morreram nos primeiros três
dias, sem efetuar postura. Esta observação corrobora os dados de Costa &
Russel (1975), que ao realizar experi-
mentos em insetário, verificaram que os
insetos efetuaram poucas posturas e as
ninfas morreram antes de atingir a fase
adulta, concluindo que B. tabaci não
coloniza mandioca no Brasil, uma vez
que nos experimentos em confinamento
os adultos morriam após três dias.
A longevidade de fêmeas criadas em
poinsétia foi de 17 dias (Bethke et al.,
1991) à temperatura de 25,4ºC e de 16
dias (Enkegaard, 1993) a 28ºC, maiores
que a obtida neste estudo (13,2 ± 1,9
dias). Em tomate foi de 19 dias (Salas
& Mendoza, 1995) e em feijão de 14
dias (Eichelkraut & Cardona, 1989).
Os resultados obtidos permitem verificar que as maiores relações de ovos
75
G.L. Vilas Boas et al.
Tabela 4. Número inicial de indivíduos por folíolo, duração e porcentagem de mortalidade total (média, erro padrão da média e amplitude)
de Bemisia argentifolii, respectivamente nas plantas hospedeiras feijão, abobrinha, repolho e tomate, realizado em casa de vegetação, à
temperatura ambiente (25 ± 8ºC, 60 ± 10% UR). Brasília, Embrapa Hortaliças, 1999.
Fases
Nº de indivíduos/folíolo
X1 ± EPM2
Amplitude3
Feijão (n 4=60)
Ovo
26,4 ± 4,5
1º estádio
27,4 ± 4,5
2º estádio
26,0 ± 4,2
3º estádio
23,3 ± 3,7
4o estádio
14,1 ± 2,1
Adultos
5,9 ± 1,1
Ovo-adulto
Abobrinha (n=90)
Ovo
18,8 ± 5,3
1º estádio
18,2 ± 5,0
2º estádio
20,7 ± 5,3
3º estádio
20,3 ± 5,2
4o estádio
18,3 ± 5,3
Adultos
11,3 ± 3,0
Ovo-adulto
Repolho (n=110)
Ovo
22,5 ± 3,5
1º estádio
18,2 ± 2,1
2º estádio
15,7 ± 2,0
3º estádio
15,2 ± 2,0
4o estádio
15,1± 2,0
Adultos
10,3 ± 1,5
Ovo-adulto
Tomate (n=60)
Ovo
16,8 ± 2,4
1º estádio
2º estádio
3º estádio
4o estádio
12,2 ± 2,2
Adultos
10,0 ± 2,1
Ovo-adulto
-
Duração (dias)
X ± EPM
Amplitude
Mortalidade (%)
X ± EPM
Amplitude
0 - 54
5 - 54
5 - 54
5 - 48
5 - 29
3 - 14
-
25,7 ± 0,8
20,6 - 28,9
6,2 ± 4,2
3,9 ± 2,6
8,8 ± 2,2
35,2 ± 5,5
54,9 ± 6,3
74,7 ± 5,3
0 - 36,4
0 - 21,4
0 - 16,7
0 - 58,3
30 - 86,2
40 - 90,9
0 - 70
0 - 56
1 - 56
1 - 56
1 - 56
0 - 35
-
26,1 ± 0,4
25 - 28,3
14,0 ± 8,0
0
0,6 ± 0,6
2,8 ± 2,8
42,1 ± 6,5
51,5 ± 7,4
0 - 100
0
0 - 8,9
0 - 41,5
0 - 100
0 - 100
0 - 60
3 - 36
3 - 36
3 - 36
3 - 36
2 - 28
-
26,7 ±0,2
25,2 - 29,0
14,2 ± 4,7
10,7 ± 4,7
4,0 ± 1,7
1,5 ± 0,9
31,9 ±-3,7
51,9 ± 4,3
0 - 62,1
0 - 72,0
0 - 28,0
0 - 14,3
0 - 71,4
6,7 - 84,6
7 - 29
2 - 25
1 - 20
-
27,5 ± 0,7
23,0 - 31,5
30,1 ± 7,0
21,0 ± 7,3
45,5 ± 7,9
0 - 75,0
0 - 85,7
0 - 85,7
X = Médias
EPM = Erro padrão da média
3
Amplitude = Valores máximo e mínimo
4
n = Número inicial de casais
1
2
por fêmea foram encontradas em repolho de terceira geração (172,3 ± 70,0),
os valores totais máximos de até 301
ovos por fêmea em repolho e 299 ovos
por fêmea em poinsétia (Tabela 5). Em
milho, as fêmeas geralmente efetuaram
poucas posturas, apresentando, em mé76
dia, 5,0 ± 1,0 ovos. A maior média de
número de ovos por fêmea por dia (7,9
± 1,1) foi observada em adultos de terceira geração em repolho, não havendo
diferença significativa para oviposição
de fêmeas de primeira geração (6,3 ±
1,1) naquela planta hospedeira, poinsétia
(5,4 ± 0,4) e abobrinha (4,9 ± 0,6). Nestes casos os valores máximos e mínimos variaram de 0 a 11,6 ovos.
Com relação ao total do número de
ovos por fêmea em poinsétia, Enkegaard
(1993) obteve 263 ovos, com um número médio de ovos de 96,3 e Bethke et al.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Potencial biótico da mosca-branca Bemisia argentifolii a diferentes plantas hospedeiras.
Tabela 5. Longevidade de fêmeas de Bemisia argentifolii, número total de ovos por fêmea e número de ovos por fêmea por dia (média, erro
padrão da média e amplitude), em diferentes plantas hospedeiras, realizada em BOD à temperatura de 28 ± 2ºC, 70 ± 10% UR e fotofase de
14 h. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1999.
Número
Número de
inicial de
fêmeas que
casais1
ovipositaram
X² ± EPM³
Amplitude4
Poinsétia
65
26
13,2 ± 1,9ab5
3 - 34
Tomate
61
22
Planta hospedeira
Longevidade da fêmea
6,3 ± 1,3
c
2 - 28
N.º de ovos/fêmea
X ± EPM
Amplitude
83,4 ± 15,8ab
28,2 ± 7,7
c
6 - 299
N.º de ovos/fêmea por dia
X ± EPM
Amplitude
5,4 ± 0,4ab
1,2 - 8,8
2 - 137
3,6 ± 0,6
cd
0,7 - 11,4
0,2 - 11,6
Feijão
53
20
11,3 ± 2,3ab
3 - 40
54,5 ± 12,3 bc
1 - 168
4,1 ± 0,6 bcd
Abobrinha
45
19
8,6 ± 1,5 bc
2 - 28
50,4 ± 11,7 bc
2 - 188
4,9 ± 0,6abc
0,7 - 9,2
Repolho 1ª geração
29
10
12,9 ± 3,9abc
3 - 29
108,7 ± 39,4ab
1 - 301
6,3 ± 1,1ab
0,3 - 11,6
Repolho 3ª geração
11
3
21,3 ± 9,0abc
5 - 36
172,3 ± 70,0a
33 - 253
7,9 ± 1,1a
6,6 - 10,0
5,0 ± 1,0
Milho
3
2
5,5 ± 2,5abc
3-8
Mandioca
20
0
-
-
bc
-
4-6
-
1,3 ± 0,7
-
d
0,5 - 2,0
-
Fêmeas que morreram ou fugiram sem efetuar posturas não foram consideradas para as análises.
2
X = Médias
3
EPM = Erro padrão da média
4
Amplitude = Valores mínimo e máximo
5
Dados originais, para análise estatística foram transformados em √ x + 0,5. Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre
si pelo teste DMS (Diferença mínima significativa) a 5%.
1
(1991) verificaram um número médio
de (85,0 ± 19,4), muito similar ao que
foi apresentado de 83,4 ± 15,8 ovos por
fêmea (Tabela 5). Salas & Mendoza
(1995) observaram valores para o número total de ovos por fêmea e média
de ovos por fêmea, respectivamente
194,9 ± 59,1 e 11,7 ± 3,6, bem mais elevados que os obtidos neste trabalho para
tomate, 28,2 ± 7,7 (número de ovos/fêmea) e 3,6 ± 0,6 (número de ovos/fêmea/dia) (Tabela 5). Costa & Brown
(1991) registraram, na temperatura de
27ºC, 48 ovos em abobrinha e
Eichelkraut & Cardona (1989) obtiveram 75 ovos por fêmea, em feijão. Costa et al. (1991) verificaram que as maiores posturas foram realizadas em 48 h
em abobrinha (128 ovos), sendo que em
tomate foram obtidos 64 ovos.
Tsai & Wang (1996) demonstraram
que plantas hospedeiras têm efeito significativo na longevidade e oviposição
de fêmeas de B. argentifolii e os resultados obtidos nos experimentos aqui discutidos estão de acordo com os apresentados por outros pesquisadores. Por
exemplo, os resultados de Costa et al.
(1991) demonstraram que B. tabaci,
quando confinada a determinadas plantas hospedeiras, não deposita número
igual de ovos em todas as espécies. Embora a taxa de sobrevivência dependa da
planta hospedeira, estes autores não observaram correlação direta entre o número de posturas e a taxa de sobrevivência.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Isso sugere que, antes da postura, as fêmeas de B. tabaci não são capazes de
avaliar o potencial qualitativo da planta
hospedeira com respeito a taxa de sobrevivência da progênie (Costa et al., 1991).
Byrne & Bellows Junior (1991) comentam que espécies polífagas apresentam uma taxa de adaptação diferenciada em diferentes hospedeiros. Segundo
Coudriet et al. (1985) mesmo culturas
consideradas de menor preferência podem servir como culturas de sobrevivência no inverno ou na entressafra. Bethke
et al. (1991) sugerem que o inseto não
só apresenta amplo número de hospedeiros, como se adapta facilmente a novos hospedeiros, em novos ambientes.
Associação inseto hospedeiro em
várias gerações
A mosca-branca, inicialmente criada em poinsétia, foi mantida em repolho até a terceira geração, tendo sido
avaliada a duração do ciclo total, de ovo
a adulto, verificando-se maior ciclo de
vida no repolho da terceira geração de
21,1 ± 0,6 dias, comparado com o ciclo
observado na primeira geração, que foi
de 20,5 ± 0,3 dias. Foi também observada maior porcentagem de mortalidade em repolho da terceira geração
(79,1%).
Tabela de vida de fertilidade
Os maiores valores de Ro (número
de fêmeas geradas por fêmea em cada
geração) foram obtidos para poinsétia
(237,1) e abobrinha (107,1), e o menor
para milho (3,0) (Tabela 6). Verifica-se
que B. argentifolii apresentou valores
muito próximos de rm (estimativa da
capacidade intrínseca de crescimento da
população) e l (razão finita de aumento). Os valores de rm variaram de 0,18 a
0,13 e os valores de l de 1,20 a 1,14,
respectivamente em feijão e repolho na
terceira geração, mostrando estar igualmente adaptada a estes hospedeiros.
Para a planta hospedeira milho o valor
de rm (0,06) e l (1,06) foram inferiores,
e estes resultados sugerem que a mosca-branca, quando comparada a outras
espécies de plantas, não se encontra
adaptada a esta planta. A mortalidade
elevada observada na fase pré-imaginal
e também das fêmeas, impossibilitou a
determinação de tabela de vida de fertilidade para mandioca.
A duração média de uma geração (T)
foi maior em poinsétia (36,19 dias) e
menor em tomate (28,47 dias). Para este
hospedeiro, verifica-se que um menor
valor de Ro é acompanhado de um menor tempo de geração, fazendo com que
o rm e o l sejam bastante semelhantes às
demais plantas hospedeiras (Tabela 6).
Os valores de Ro observados para
poinsétia, por Enkegaard (1993) e Calvitti
& Remotti (1998) foram, respectivamente, 42,8 e 37,9, menores que o obtido neste trabalho, que foi de 237,1. Em geral
estas variações podem ser explicadas pelas diferenças nas espécies estudadas,
77
G.L. Vilas Boas et al.
Tabela 6. Taxa líquida de reprodução (Ro), duração média de uma geração (T), capacidade intrínseca de crescimento da população (rm) e
razão finita de aumento (l) de Bemisia argentifolii em diferentes plantas hospedeiras. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1998-1999.
Planta hospedeira
Feijão
Poinsétia
Tomate
Abobrinha
Repolho 1ª geração
Repolho 3ª geração
Milho
Ro1
114,32
237,09
58,92
107,06
90,79
49,13
3,00
T²
30,14
36,19
28,47
33,99
33,65
34,74
28,52
rm³
0,1802
0,1703
0,1675
0,1579
0,1546
0,1321
0,0628
l4
1,1975
1,1857
1,1823
1,1710
1,1672
1,1412
1,0648
Ro = Taxa líquida de reprodução, que expressa o número de fêmeas geradas por fêmea em cada geração
T = Duração média de uma geração, expressa em dias
3
rm = Capacidade intrínseca de crescimento da população
4
λ = Razão finita de aumento, que expressa o número de fêmeas originadas de uma fêmea, a cada três dias
1
2
constituições genéticas das populações de
mosca-branca e de cultivares de plantas,
bem como da interação genótipo/ambiente
das plantas hospedeiras.
Os valores de Ro encontrados no
presente estudo para tomate (58,9) estão similares aos observados por Tsai &
Wang (1996). Os valores de rm aqui demonstrados, são semelhantes aos verificados na literatura, quando consideradas as mesmas espécies de plantas hospedeiras. Tsai & Wang (1996) obtiveram os seguintes valores de rm, 0,19;
0,15; 0,12; respectivamente para berinjela, tomate e feijão. Calvitti & Remotti
(1998), estudando plantas daninhas, arbitrariamente agruparam as plantas hospedeiras, considerando rm maior que
0,09 as espécies mais preferidas. Os
autores sugerem que, quanto mais preferida é a planta, maior a taxa de crescimento dessa população, nesse hospedeiro. De acordo com a afirmação daqueles autores, baseada em valores de rm
menores, considera-se que, nas condições
do presente trabalho, com exceção do
milho e mandioca, as plantas hospedeiras abobrinha, feijão, poinsétia, repolho
e tomate são igualmente preferidas pelo
inseto, por apresentar um elevado potencial biótico nestas hospedeiras, quando
cultivadas em condições naturais.
Para auxiliar o manejo integrado
desta praga, e de acordo com os resultados aqui apresentados, recomenda-se
adotar a rotação com milho, na
entressafra, entre as culturas de maior
preferência do inseto, como tomate, repolho, abobrinha e feijão. Gravena et al.
(1984) utilizaram sorgo granífero como
barreira circundante em experimentos
78
com tomate estaqueado, verificando a
redução da população de B. tabaci. Na
América Central é recomendada a utilização de barreiras vegetais, com sorgo
forrageiro e milho (Salguero, 1993). A
técnica do pousio não é indicada neste
caso, pois a mosca-branca se utiliza de
várias espécies de plantas daninhas,
como hospedeiro alternativo, que se
constituiriam em fonte de futuras
infestações. Assim, em áreas de intenso desequilíbrio, é recomendável interromper o ciclo das espécies preferidas,
utilizando-se de milho ou outra
gramínea como sorgo ou cana de açúcar, ou mesmo mandioca.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem às pesquisadoras Maria Alice de Medeiros e Marina
Castelo Branco pelas valiosas sugestões
e revisão do manuscrito. Ao auxiliar de
laboratório Hozanan Pires Chaves e ao
técnico agrícola, Adiel Lopes dos Santos, do Laboratório de Entomologia da
Embrapa Hortaliças, pelo dedicado auxílio na condução dos experimentos.
Agradecem ainda as pertinentes sugestões dos professores da UFSCar, Dra.
Angélica Maria P. Martins Dias, Dra.
Maria Inês Salgueiro Lima e Dr. Carlos
Roberto Sousa e Silva.
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Avaliação de acessos de batata-doce para resistência à broca-da-raiz,
crisomelídeos e elaterídeos.
Félix Humberto França; Patrícia Silva Ritschel
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70.359-970 Brasília-DF. E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Foram avaliados para resistência a danos causados por insetos nas
folhas e raízes, no campo, 366 acessos do Banco Ativo de Germoplasma
de batata-doce da Embrapa Hortaliças. Os insetos de interesse foram
Diabrotica spp., Conoderus sp., Epitrix sp., e a broca-da-raiz da batatadoce, Euscepes postfasciatus. Considerando o estrato raízes, aproximadamente 21% dos acessos avaliados mostraram-se resistentes a
crisomelídeos e elaterídeos, tendo sido identificados pelo menos sete
clones melhores que a referência padrão de resistência àqueles insetos,
a cultivar Brazlândia Roxa. Sete acessos, entre esses o CNPH 005, CNPH
026 e CNPH 258 mostraram-se bastante homogêneos e consistentes
em três avaliações. Esses mesmos clones, além dos clones CNPH 088,
CNPH 295, CNPH 314 e CNPH 318 mostraram-se entre os mais resistentes à broca-da-raiz, porque tiveram 7% ou menos das suas raízes
tuberosas danificadas por Euscepes postfasciatus enquanto as cultivares Brazlândia Branca e Princesa obtiveram, respectivamente, 23,3% e
53,3% de danos. Outros nove acessos foram classificados como mais
suscetíveis que essas cultivares. A aplicação desses resultados no manejo integrado de pragas em batata-doce é discutido.
Screening of sweet potato accessions for resistance to the West
Indian sweet potato weevil, chrysomelids and elaterids.
Palavras-chave: Ipomoea batatas, Chrysomelidae, Elateridae,
Diabrotica spp., Conoderus sp., Epitrix sp., Euscepes postfasciatus,
resistência de plantas a insetos, insetos de solo, manejo integrado de
pragas.
Three hundred sixty six sweet potato plant accessions of the Sweet
potato Germplasm Bank of Embrapa Hortaliças (Brazil) were evaluated
in the field for resistance to the Wireworm-Diabrotica-Systena (WDS)
pest complex: Diabrotica spp., Conoderus sp., Epitrix sp., and West
Indian sweet potato weevil, Euscepes postfaciatus. About 21% of all
plant accessions showed high resistance to chrysomelids and elaterids.
Seven clones, among them CNPH 005, CNPH 026 and CNPH 258
were more resistant than the standard resistant commercial cultivar
Brazlândia Roxa. These sweet potato accessions and CNPH 088,
CNPH 295, CNPH 314 and CNPH 318, were the most promising
sources of resistance against the West Indian sweet potato weevil
because they had 7% or less, of their roots damaged by Euscepes
postfasciatus, compared to commercial cultivars Brazlândia Branca
(23.3%) and Princesa (53.3%). The application of these results in an
integrated control of sweet potato pests approach is discussed.
Keywords: Ipomoea batatas, Chrysomelidae, Elateridae, Diabrotica
spp, Conoderus sp, Epitrix sp, Euscepes postfasciatus, sweet potato,
West Indian sweet potato weevil, host plant resistance, soil insects,
integrated pest management.
(Aceito para publicação em 07 de dezembro de 2.001).
A
diversidade de espécies de insetos associados à batata-doce e parentes silvestres próximos nas AmériHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
cas é atribuída por Raman & Alleyne
(1991), ao fato de que o centro de origem de várias espécies do gênero
Ipomoea é localizado nas Américas do
Sul e Central. São exemplos de insetos
chave da cultura os adultos e as larvas
79
F.H. França & P.S. Ritschel
de várias espécies de crisomelídeos,
elaterídeos e da broca-da-raiz E.
postfasciatus. Essa é a principal praga
da cultura em vários países das Américas do Sul e Central, Caribe e Pacífico
Sul. Enquanto extensa pesquisa realizada resultou em táticas úteis de manejo
integrado visando o controle de
crisomelídeos, poucos trabalhos foram
realizados procurando apresentar soluções para os danos e as perdas causadas
pela broca-da-raiz.
O controle químico das pragas da
batata-doce em anos recentes no Brasil
tem se mostrado inviável pelo alto custo dos agrotóxicos e inexistência de produtos registrados para a cultura. Algumas práticas agronômicas têm provado
serem eficientes ao longo dos últimos
50 anos no controle de pragas da cultura como a utilização de ramas sadias;
boa preparação do solo evitando-se o
torroamento excessivo; irrigação adequada visando manter o solo úmido,
evitando-se assim a formação de rachaduras que facilitem a entrada de insetos
para oviposição e alimentação; rotação
de culturas e amontoa alta (Bondar,
1930; Bondar, 1931). A essas medidas
associou-se a utilização de variedades
resistentes como importante componente do manejo integrado de pragas da
batata-doce (Miranda et al.,1984).
Cultivares de batata-doce resistentes a insetos de solo das famílias
Chrysomelidae e Elateridae foram
lançadas em 1975 nos EUA (Jones et
al.,1975), e desde então, a metodologia
de seleção de germoplasma tem sido
aperfeiçoada (Rolston et al., 1979;
Mullen et al., 1980; Barlow & Rolston,
1981; Jones et al., 1981) resultando na
liberação de novas cultivares (Mullen et
al., 1980; Jones et al., 1983). A resistência da batata-doce a insetos de solo
como a larva-alfinete (Diabrotica spp.),
larva-arame (Conoderus spp.) e pulgado-fumo (Epitrix spp.) é presumida estar localizada na pele das raízes, mas o
fator que a determina ainda não foi identificado (Cuthbert & Davis, 1971). O
desconhecimento deste fato, porém, não
impediu o desenvolvimento de cultivares resistentes (Jones et al., 1981).
Um acervo extremamente consistente de informações sobre a biologia,
interações tróficas e resistência genéti80
ca a Megastes spp. e Euscepes
postfaciatus (Fairmaire) foi produzido
através das teses orientadas pelo Prof.
Dr. Antonio F. de Souza Leão Veiga, na
Universidade Federal Rural de
Pernambuco, sendo que alguns destes
trabalhos discriminaram claramente os
níveis de resistência encontrados
(Martinez, 1985; Novo, 1983; Garcia,
1989; Braga, 1993). Publicações sobre
a resistência de batata-doce à broca-daraiz são relativamente recentes na literatura internacional e parte destas refere-se a avaliações realizadas em campo
ou a trabalhos conduzidos em laboratório. Sabe-se que os poucos materiais
selecionados tiveram baixa qualidade
agronômica (Raman & Alleyne, 1991).
A partir de 1979 na Embrapa Hortaliças, foi realizado um trabalho de desenvolvimento metodológico (França et
al., 1983a), avaliação (França et al.,
1983b) e seleção de germoplasma de
batata-doce para resistência a
crisomelídeos (Miranda & França,
1988; França, 1989; Silveira & Maluf,
1994) que culminou com a liberação em
1984 da cultivar resistente Brazlândia
Roxa. Variabilidade genética em batata-doce para resistência a ácaros foi demonstrada por Maluf et al. (1987). Mais
recentemente, significativo sucesso foi
obtido na busca por germoplasma resistente a crisomelídeos resultando no lançamento das cultivares ‘Palmas’ e
‘Caruanã’, no Estado de Tocantins, mais
resistentes àqueles insetos que o padrão
conhecido até então (M. A. da Silveira,
informação pessoal).
Este trabalho tem por objetivo apresentar os resultados da caracterização do
Banco Ativo de Germoplasma (BAG)
de batata-doce da Embrapa-Hortaliças
(Ritschel et al., 1999) para resistência a
artrópodes de folhas, ramas e raízes,
com ênfase à broca-da-raiz da batatadoce, E. postfaciatus, crisomelídeos e
elaterídeos e a importância destes resultados no manejo de pragas da cultura.
MATERIAL E MÉTODOS
Avaliação preliminar
Trezentos e sessenta e seis acessos do
BAG de batata-doce da Embrapa Hortaliças foram plantados em dezembro de
1995 e avaliados em fins de maio de
1996, correspondendo aproximadamente ao ciclo vegetativo de 180 dias. Uma
amostra de oitenta acessos plantada em
experimento independente do anterior,
mas em área adjacente a ele, foi avaliada
em setembro de 1996, correspondendo
aproximadamente a um ciclo vegetativo
de 270 dias, visando verificar se a manutenção de raízes no solo por mais tempo
implicaria no aumento ou não dos danos
causados por insetos.
As ramas utilizadas nos experimentos foram obtidas a partir de viveiro
constituído para este fim. Estas contavam com aproximadamente 60 dias de
idade, e mediam entre 30 e 40 cm de
comprimento, contendo de 6 a 10
entrenós. Metade destes foram enterrados no solo, preparados em camalhões
de 25 cm de altura. O espaçamento utilizado foi 0,80 m entre linhas e 0,30 m
entre covas. O solo foi arado uma vez e
gradeado utilizando-se grade niveladora
para bom destorroamento da área. Foram realizadas duas amontoas ou recuperação dos camalhões até 60 dias após
o plantio das ramas.
No plantio foram aplicados, por hectare, 30 Kg N, 150 Kg de P2O5 e 150 Kg
de K2O. Trinta dias após o plantio foram aplicados 30 Kg de N em cobertura. Os demais tratos culturais foram
aqueles recomendados para a cultura
(Miranda et al., 1984). Foram utilizadas até 10 plantas/cova por acesso para
avaliação quantitativa dos danos nas
raízes. Não foram usados agrotóxicos no
solo ou em pulverização na área dos
experimentos. Os genótipos foram submetidos à ação de populações naturais
dos insetos de interesse.
Os acessos foram avaliados para
danos causados por crisomelídeos dos
gêneros Diabrotica spp., Epitrix sp., e
elaterídeos do gênero Conoderus sp.,
nas folhas e nas raízes, através da determinação do número de furos em amostras de folhas coletadas em cinco plantas (1 folha/planta = 5 folhas) e de quinze raízes tuberosas por acesso. Atribuiuse ainda nota de dano considerando-se
o aspecto geral das folhas de todas as
plantas ou das raízes tuberosas colhidas
de cada parcela. Foi utilizada uma escala de notas, onde a nota um
correspondia a folhas ou raízes pouco
danificadas; parcelas com folhas e raízes
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Avaliação de acessos de batata-doce para resistência à broca-da-raiz, crisomelídeos e elaterídeos.
Tabela 1. Distribuição de frequência das notas de dano em folhas de 366 acessos de batatadoce e número médio de furos nas folhas. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1996.
Avaliação preliminar I
Notas de dano 2
Frequência
1
36,
2
170,
3
146,
4
14,
366,
Média geral de furos/folha
1
2
Média ± EPM 1
(nº de furos)
2,8 ± 0,5
8,3 ± 0,6
13,7 ± 1,1
22,7 ± 6,1
10,5 ± 0,3
Erro padrão da média
Notas de dano: 1 = folha pouco danificada; .......; 5 = folha muito danificada
muito danificadas receberam nota cinco (França et al., 1983a). A cultivar
Brazlândia Roxa foi considerada padrão
resistente a crisomelídeos, e as cultivares Brazlândia Branca, Brazlândia Rosada e Coquinho os padrões suscetíveis.
As raízes tuberosas de batata-doce
foram avaliadas para danos da broca-daraiz, tendo sido determinada a porcentagem de raízes sadias e danificadas em
cada acesso. Foi obtida a estatística descritiva dos dados (média, desvio padrão,
erro padrão da média, amplitude, etc),
de modo a permitir que os genótipos
fossem agrupados nas classes de dano:
altamente suscetíveis (81-100% de
dano), suscetíveis (61-80%), moderadamente resistentes (41-60%), resistentes
(21-40%) e altamente resistentes (020%). Não se conhecendo entre os acessos de batata-doce disponíveis no BAG
algum resistente à broca-da-raiz, estabeleceu-se antes da avaliação dos
genótipos, que a resistência seria caracterizada pela presença de danos em até
40% das raízes tuberosas de cada acesso. A suscetibilidade seria atribuída aos
acessos com mais de 61% de raízes
tuberosas danificadas. Essas, após colhidas, foram deixadas secar ao relento
durante à noite, no próprio local da colheita, antes de serem armazenadas.
Ensaio para confirmação de resistência e suscetibilidade em raízes tuberosas
Considerando-se as avaliações dos
dois experimentos anteriores, o total de
28 acessos classificados como resistentes e suscetíveis, além das cultivares
lançadas pela Embrapa Hortaliças,
Brazlândia Branca, Rosada, Roxa e
Princesa, foram avaliados para resistênHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
cia a crisomelídeos e broca-da-raiz (Tabela 4). Um ensaio, onde foram utilizadas
10 plantas/cova por acesso para avaliação
quantitativa dos danos nas raízes, delineado em blocos casualizados com três repetições, foi conduzido no período de janeiro a junho de 1997, na mesma área em
que foi plantada a avaliação preliminar,
visando garantir a presença de insetos causadores de danos. A obtenção de ramas e
demais procedimentos acerca da instalação (espaçamento, adubação), condução
e avaliação do ensaio foram realizados
como descrito anteriormente. Procedeuse à análise de variância, sendo as médias
separadas pelo teste estatístico da Diferença Mínima Significativa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Avaliação preliminar
Há variabilidade genética em batata-doce para danos causados por insetos nas folhas (Tabela 1), ainda que nesta
avaliação tenhamos verificado que aproximadamente 95% dos genótipos do
BAG de batata-doce da Embrapa Hortaliças são tolerantes a danos causados por
insetos nas folhas. Os danos foliares foram na sua maioria causados por
coleópteros das famílias Chrysomelidae
(Diabrotica spp., e Epitrix sp.), Elateridae
e em menor instância por Curculionidae.
Observou-se também, consideráveis populações de afídeos e cigarrinhas, estas
últimas, provavelmente do gênero
Empoasca spp., às quais podem ser atribuídos os sintomas de viroses observados na maioria dos acessos.
Mesmo que inseticidas não tenham
sido pulverizados, o número médio de
furos por folha, 10,5 + 0,3, pode ser considerado baixo (Tabela 1). Como resistentes foram consideradas as parcelas
que obtiveram nota média equivalente
a dois e nenhum acesso obteve nota cinco (Tabela 1). Provavelmente a alimentação de coleópteros, que causa grande
impacto visual ao agricultor devido às
lesões grandes ou pequenas, que podem
coalescer ou não, raramente causam o
desfolhamento das plantas. Ainda que
os danos foliares possam acontecer na
fase inicial da cultura eles são melhor
percebidos quando a planta e a cultura
estão bem estabelecidas. Ainda assim,
estes danos não interferem na quantidade ou qualidade da produção, provavelmente devido ao grande número de folhas nas plantas de batata-doce e até
porque é possível haver, como em outras culturas, compensação entre plantas do mesmo genótipo.
Os danos causados por insetos nas
folhas são menos importantes que aqueles causados nas raízes, uma vez que
estas são objetos da comercialização. Os
danos nas raízes depreciam-nas comercialmente, ainda que os danos causados
por crisomelídeos e elaterídeos sejam
superficiais e uma vez removida a
epiderme não são percebidos na polpa
da batata-doce. O mesmo não acontece
com a broca-da-raiz cujos danos ocorrem tanto na superfície da raiz quanto
na polpa. Além de causar péssima impressão visual a quem adquire o produto, as qualidades organolépticas das
raízes são alteradas de tal forma, que a
produção não pode ser utilizada nem
para consumo animal (Miranda et al.,
1984).
Avaliação para resistência a
crisomelídeos e elaterídeos em raízes
tuberosas
Neste experimento, considerando-se
o número de acessos e cultivares avaliados, 32, empregou-se metodologia
(França et al., 1983a) que possibilita
avaliação de grande número de
genótipos a qual tem sido utilizada com
sucesso em outros programas de melhoramento genético de batata-doce para
seleção de materiais visando a resistência a crisomelídeos e elaterídeos
(Silveira & Maluf, 1994). Os genótipos
definidos nesta avaliação como resistentes são consistentes com aqueles relata81
F.H. França & P.S. Ritschel
dos por Silveira & Maluf (1994). Os
materiais mais resistentes, aos quais se
atribuiu nota 1, apresentaram em média
4,0 ± 0,4 furos por raíz enquanto que os
suscetíveis situaram-se no extremo
oposto e receberam nota 4 (23,7 ± 0,9
furos/raiz) e nota 5 (36,2 ± 2,0 furos/
raiz) (Tabela 2).
A frequência de acessos resistentes
a crisomelídeos e elaterídeos no BAG
de batata-doce da Embrapa Hortaliças
é elevada. Isto sugere que programas de
melhoramento que visem incorporar resistência a esses grupos de insetos utilizando esses acessos tem boa probabilidade de sucesso. Das raízes tuberosas,
avaliadas 180 dias após o plantio das
ramas (DAP), aproximadamente 50%
dos acessos do BAG foram classificados como resistentes (notas 1 e 2) e 21%
receberam as mesmas notas quando a
avaliação das raízes tuberosas foi feita
270 DAP (Tabela 3). Os danos nas raízes
aumentam à medida que as mesmas permanecem mais tempo no solo e esta informação tem implicações tanto em programas de melhoramento genético visando resistência a insetos como para
recomendações sobre manejo integrado
Tabela 2. Número de furos observados em raízes tuberosas de batata-doce às quais foram
atribuídas notas de dano. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1996.
Nota 2
1
2
3
4
5
Número de furos/raiz tuberosa (n = 15)
Média ± EPM 3
Amplitude4
4,0 ± 0,4
(2 - 7)
11,1 ± 0,9
(7 - 16)
17,2 ± 0,8
(12 - 23)
23,7 ± 0,9
(19 - 32)
36,2 ± 2,0
(27 - 55)
1
n = nº de raízes escolhidas ao acaso para determinação do número de furos
Notas de dano: 1 = raiz pouco danificada; ......; 5 = raiz muito danificada
3
Erro padrão da média
4
Número mínimo e máximo de furos determinado para raízes escolhidas em determinada
nota de dano
1
2
de pragas da batata-doce.
Assim, melhoristas devem priorizar
a seleção de genótipos precoces que associem produção e qualidade agronômica em detrimento aos tardios. Porém,
quanto mais tarde for feita a avaliação e
a seleção de genótipos, mais confiança o
avaliador poderá ter no seu procedimento uma vez que o risco de eventuais escapes serão reduzidos. Se as populações
naturais de crisomelídeos e elaterídeos
propiciam boas oportunidades para sele-
ção de acessos resistentes pela quantidade de insetos ao longo do ano, esta condição é uma ameaça à produção comercial de batata-doce. Como consequência,
quanto ao manejo de pragas da cultura,
os agricultores e extensionistas devem ser
orientados a colher sua produção tão logo
as raízes maturem, de modo a evitar riscos na comercialização e prejuízos econômicos.
Os resultados apresentados não diferem daqueles encontrados por França
Tabela 3. Distribuições de frequências das notas de dano relativas aos furos causados por larvas de crisomelídeos e elaterídeos e da
porcentagem de raízes tuberosas danificadas pela broca-da-raiz avaliados em acessos do BAG de batata-doce da Embrapa Hortaliças.
Brasília, Embrapa Hortaliças, 1996.
Danos nas raízes 180 D.A.P.
Crisomelídeos e elaterídeos
Euscepes postfasciatus
1
Frequência
Classes de dano (%)
Frequência
Notas de dano
1,
37,
0 -20
266,,
2,
125,,
21-40
35,,
3,
96,
41-60
21,,
4,
48,
61-80
2,,
5,
20,,
81-100
6,,
Total
326,,
Total
330,,
Danos nas raízes 270 D.A.P.
Crisomelídeos e elaterídeos
Euscepes postfasciatus.
1
Notas de dano
Frequência
Classes de dano (%)
Frequência
1,
4,,
0-20
37,,
2,
13,,
21- 40
18,,
3,
21,,
41-60
10,,
4,
29,,
61-80
6,,
5,
13,,
81-100
9,,
Total
80,,
Total
80,,
1
Notas de dano: 1 = raiz pouco danificada; ......; 5 = raiz muito danificada
82
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Avaliação de acessos de batata-doce para resistência à broca-da-raiz, crisomelídeos e elaterídeos.
Tabela 4. Média e erro padrão da média (EPM) da porcentagem de raízes danificadas pela
broca-da-raiz e nota de dano relativa ao número de furos causados por larvas de crisomelídeos
e elaterídeos avaliados em raízes tuberosas de acessos e cultivares do BAG de batata-doce
da Embrapa Hortaliças. Brasília, Embrapa Hortaliças, 1997.
Acessos
CNPH 005
CNPH 026
CNPH 295
CNPH 258
CNPH 318
CNPH 088
CNPH 314
Brazlândia Rosada
CNPH 117
CNPH 200
CNPH 630
CNPH 524
CNPH 360
CNPH 403
CNPH 342
Brazlândia Roxa
CNPH 076
CNPH 367
CNPH 070
CNPH 646
CNPH 690
CNPH 411
Brazlândia Branca
CNPH 377
CNPH 292
CNPH 293
CNPH 402
CNPH 060
CNPH 046
CNPH 480
CNPH 676
Princesa
DMS (5 %)
1
2
Crisomelídeos e
elaterídeos
(Nota de dano) 1
Média ± EPM2
1,0 ± 0,0
1,0 ± 0,0
1,3 ± 0,3
1,0 ± 0,0
2,0 ± 0,6
1,3 ± 0,3
1,3 ± 0,3
3,3 ± 0,7
3,3 ± 0,7
3,3 ± 0,7
3,0 ± 1,0
3,3 ± 0,3
2,3 ± 0,3
2,3 ± 0,9
2,7 ± 0,3
1,7 ± 0,3
4,3 ± 0,3
3,0 ± 0,0
2,0 ± 0,0
2,3 ± 0,3
2,7 ± 0,3
3,7 ± 0,3
2,7 ± 0,7
2,0 ± 0,0
2,0 ±0 ,0
3,3 ± 0,7
3,7 ± 0,3
1,3 ± 0,3
4,3 ± 0,7
3,0 ± 1,2
2,7 ± 0,3
3,3 ± 0,3
1,4
Broca-da-raiz (%)
Média ± EPM2
0,0 ± 0,0
0,0 ± 0,0
0,0 ± 0,0
3,3 ± 3,3
3,3 ± 3,3
4,7 ± 4,7
6,7 ± 3,3
10,0 ± 5,8
10,0 ± 5,8
10,0 ± 5,8
10,0 ± 5,8
10,0 ± 10,0
13,3 ± 8,8
13,3 ± 8,8
14,0 ± 7,0
16,7 ± 3,3
16,7 ± 6,7
16,7 ± 8,8
20,0 ± 0,0
20,0 ± 10,0
20,0 ± 11,5
20,0 ± 5,8
23,3 ± 12,0
23,3 ± 14,5
23,3 ± 18,6
23,3 ± 3,3
23,3 ± 8,8
26,7 ± 3,3
33,3 ± 8,8
44,0 ± 22,6
52,5 ± 24,3
53,3 ± 13,3
27,6
Notas de dano: 1 = raiz pouco danificada; ......; 5 = raiz muito danificada
Erro padrão da média.
et al. (1983a) e reforçam a conclusão
alcançada por Silveira & Maluf (1994),
confirmada por Peixoto et al. (1999), de
que o método de avaliação através de
escala de notas é eficiente na medida que
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
permite a seleção de genótipos suscetíveis e resistentes com confiança, rapidez e segurança. A cultivar de batatadoce Brazlândia Roxa, recomendada
pela Embrapa Hortaliças como resisten-
te a crisomelídeos (Miranda et al.,
1984), obteve nota mais baixa (nota 1,7)
que as cultivares comerciais Brazlândia
Branca (nota 2,7) e Princesa (nota 3,3)
(Tabela 4), as quais podem ser classificadas como moderadamente suscetíveis.
A mesma classificação foi atribuída à
Brazlândia Branca por Silveira & Maluf
(1994). Estes resultados também são
semelhantes àqueles obtidos por Peixoto et al. (1999). Foram identificados ainda sete genótipos com nota inferior à
alcançada por Brazlândia Roxa. Alguns
destes acessos (CNPH 005, CNPH 026
e CNPH 258), foram homogêneos e consistentes nas três avaliações obtendo a
nota 1,0. Os mesmos são promissores e
podem ser explorados no futuro, ainda
que os ganhos em resistência não venham a ser tão elevados (Tabela 3). Informações sobre acessos mantidos no
BAG/batata-doce da Embrapa Hortaliças foram apresentadas por Ritschel et
al. (1999).
Avaliação para resistência à broca-da-raiz
Foi identificada variabilidade genética para resistência à broca-da-raiz entre os acessos avaliados, mas esta
metodologia deve ser refinada de modo
a melhor separar os genótipos resistentes dos suscetíveis. Os intervalos de classes de danos, que na avaliação inicial
foi estimado em 20%, são úteis quando
grande quantidade de clones precisa ser
selecionada (Tabela 3). Contudo, há necessidade de considerarem-se novos intervalos, por exemplo, 5% ou 10% (Tabela 4), para melhor resolução dos resultados nas fases mais avançadas de
programas de melhoramento genético
visando resistência à broca-da-raiz. Costa (1961), não trabalhou com percentagem de raízes danificadas, mas utilizou
uma escala de notas de 0 (nenhum dano/
nenhuma larva e/ou pupa) a 5 (muito
dano; presença de larvas e/ou pupas),
para avaliar o impacto de inseticidas no
controle da broca-da-raiz. Esta
metodologia precisa ser melhor definida em estudos de resistência a insetos,
considerando os resultados obtidos por
Garcia (1989) que utilizou critério de notas 0 a 5 apropriando estas, à variação
percentual de dano (0–100%), que se aproxima parcialmente do critério de avaliação utilizado nos experimentos cujos resultados são descritos neste trabalho.
83
F.H. França & P.S. Ritschel
Avaliando 44 clones e cultivares de
batata-doce do Banco de Germplasma
do IPA e da UFRPE, Garcia (1989) em
critério denominado “estabilidade da
resistência em relação ao ecossistema”
(desempenho dos genótipos nos três
ecossistemas testados), não classificou
nenhuma das cultivares testadas como
resistente. O autor destacou apenas duas
cultivares como “menos suscetíveis”:
Rama Curta Roxa e Caboatã. As demais,
entre as quais se incluíam as cultivares
Centenial e Dahomey, foram todas consideradas altamente suscetíveis. Nos
experimentos conduzidos na Embrapa
Hortaliças, os clones CNPH 005, CNPH
026, CNPH 295, CNPH 258, CNPH
318, CNPH 088 e CNPH 314 tiveram
7% ou menos das raízes danificadas por
E. postfasciatus enquanto as cultivares
Brazlândia Branca, com 23,3% e Princesa, com 53,3%, além de nove acessos
estiveram entre os mais suscetíveis (Tabela 4). Informações sobre a origem e
caraterísticas desses acessos são apresentadas por Ritschel et al. (1999).
Infestações naturais da broca-da-raiz
também são problemáticas nas avaliações em grande escala e isto provavelmente se deve às características da relação da espécie que é onívora e cujo ciclo pré-imaginal é longo (Raman &
Alleyne, 1991). Garcia (1989) valeu-se
de infestações naturais da broca-da-raiz,
que no Estado de Pernambuco é
endêmica, mostrando ser mais prudente, como garantia, instalar os ensaios de
campo em áreas onde previamente batata-doce foi cultivada com a presença
do inseto a se tentar infestações em laboratório ou trazidas de outro campo de
produção. A não ser que se infeste a área
com muitos insetos, não haverá tempo
suficiente para que populações
introduzidas colonizem a área causando
os danos que possibilitem a separação dos
clones resistentes dos suscetíveis. No
caso dos crisomelídeos e elaterídeos, seleções tardias dos clones aos 270 DAP
são mais proveitosas e consistentes que
aquelas realizadas até 180 DAP (Tabela
3). Contudo, deve se alertar para o risco
de que neste processo poderão ser descartados clones com resistência moderada, os quais poderiam ser úteis se utilizados junto com outras táticas de controle (Brett et al., 1961; Cuthbert & Jones
1978; Jones et al., 1981).
84
A prolongação do ciclo vegetativo
da batata-doce ou a colheita tardia das
raízes é uma prática muito comum adotada por agricultores como estratégia
para reduzir oferta de produto ao mercado e manter bons preços para sua produção. Não se conhece nenhum estudo
onde tenha sido comprovada a eficácia
desta estratégia, até porque são poucos
os produtores que mantêm registro das
partes da produção descartadas por danos causados por insetos. Os resultados
obtidos através desses experimentos
sugerem que os danos causados por insetos de solo, sejam eles crisomelídeos,
elaterídos ou a broca-da-raiz aumentam
de uma forma tal, que em 90 dias, reduziu em 50% o número de acessos resistentes e aumentou de oito a dez vezes
em termos percentuais a frequência de
acessos suscetíveis.
Se o comportamento e biologia da
broca-da-raíz trazem dificuldades para
os melhoristas, estas características da
espécie podem e devem ser utilizadas
para melhorar a eficiência de controle
nas áreas de produção comercial. Assim, a rotação de culturas evitando-se o
plantio sucessivo, além do plantio de
genótipos precoces, colheita de toda a
área cultivada na época apropriada e a
remoção e destruição de restos culturais
são práticas culturais eficientes para se
obter produções livres do inseto.
Não foi observada correlação entre
danos causados por crisomelídeos e
elaterídeos e aqueles causados pela broca-da-raiz. Aparentemente, os fatores
condicionando a resistência a E.
postfasciatus são diferentes daqueles
que definem a resistência a Diabrotica
spp e Conoderus spp.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Conselho
Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Processo nº 520304/
97.7) pela bolsa individual de pesquisa
concedida. A Ornélio Guedes da Silva,
Hozanan Pires Chaves, José Gomes
Teixeira e Ronildo Costa Gonçalves
pelo apoio técnico na condução deste
trabalho. À Maria Fátima Bezerra
Ferreira Lima e Paulo Fraga Jr. pelo
apoio bibliográfico e à Marina Castelo
Branco e Maria Alice de Medeiros e a
dois anônimos revisores da Horticultura
Brasileira pelas boas sugestões, que foram incorporadas a este manuscrito.
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Resistência genética à mancha-bacteriana em genótipos de pimentão.1
Roberto Alexandre Costa; Rosana Rodrigues; Cláudia Pombo Sudré
UENF – CCTA – Lab. Melhoramento Genético Vegetal, Av. Alberto Lamego, 2000, 28.015-620 Campos dos Goytacazes-RJ. E-mail:
[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
A mancha-bacteriana, principal doença bacteriana do pimentão
causa desfolha intensa quando em condições favoráveis, deixando
os frutos expostos ao sol, depreciando-os e diminuindo a produção.
Para estimar, nas condições de Campos dos Goytacazes, os efeitos
genéticos da reação do hospedeiro ao patógeno, tanto em folhas como
em frutos, foram obtidos híbridos F1, sem recíprocos, a partir de
cruzamentos dialélicos entre cinco genótipos de pimentão, sendo
três suscetíveis (‘UENF 1420’, ‘UENF 1421’ e ‘UENF 1422’) e
dois resistentes (‘UENF 1381’ e ‘UENF 1382’). A inoculação com
Xanthomonas campestris pv. vesicatoria constou de infiltração no
mesófilo foliar, utilizando-se a concentração de 103 células/ml, ajustada com auxílio de espectrofotômetro. Os efeitos de variedade e de
heterose média foram significativos para resistência em folhas, indicando que efeitos aditivos e de dominância estão envolvidos no
controle genético deste caráter. Para resistência em frutos, apenas os
efeitos de variedade foram significativos, indicando a presença de
efeitos aditivos no controle desta característica. A partir das análises puderam ser selecionados os parentais para RMB em folhas:
‘UENF 1381’ e ‘UENF 1382’. Para RMB em frutos ‘UENF 1381’ e
‘UENF 1421’ foram os melhores parentais. Os melhores híbridos
para RMB em folhas foram: ‘UENF 1420’ x ‘UENF 1421’, ‘UENF
1382’ x ‘UENF 1420’, ‘UENF 1381’ x ‘UENF 1420’, ‘UENF 1381’
x ‘UENF 1421’, ‘UENF 1381’ x ‘UENF 1422’ e ‘UENF 1381’ x
‘UENF 1382’.
Genetic resistance to bacterial leaf spot on sweet pepper
genotypes.
Bacterial leaf spot (BLS) is the most important bacterial disease
in sweet pepper, causing intense defoliation under favorable
conditions, leaving the exposed fruits to sunburn and decreasing the
yield. To estimate genetic effects of the reaction to BLS on leaves
and fruits, under the conditions of Campos dos Goytacazes (Brazil),
hybrids F1, without reciprocals, were obtained from diallel crosses
among five pepper genotypes, three susceptible (‘UENF 1420 ‘,
‘UENF 1421 ‘ and ‘UENF 1422 ‘) and two resistant (‘UENF 1381 ‘
and ‘UENF 1382 ‘). Leaves were inoculated by infiltrating the
mesophyll with 103 cells/ml, adjusted with spectrophotometer. Variety
and mean heterosis were significant for resistance on leaves,
indicating that additive and dominant effects are involved in the
genetic control of this character. For resistance in fruits, only variety
effects were significant, indicating the presence of additive effects
in the control of this characteristic. Based on these analyses, the
genotypes ‘UENF 1381 ‘ and ‘UENF 1382 ‘ were selected for
resistance to BLS on leaves. For resistance to BLS on fruits, ‘UENF
1381’ and ‘UENF 1421’ were the best genotypes. The best hybrids
for resistance to BLS on leaves were: ‘UENF 1420’ x ‘UENF 1421’,
‘UENF 1382’ x ‘UENF 1420’, ‘UENF 1381’ x ‘UENF 1420’, ‘UENF
1381’ x ‘UENF 1421’, ‘UENF 1381’ x ‘UENF 1422’ and ‘UENF
1381’ x ‘UENF 1382’.
Palavras-chave: Capsicum annuum L., Xanthomonas campestris
pv. vesicatoria, dialelo, resistência a doenças, heterose, híbridos.
Keywords: Capsicum annuum L., Xanthomonas campestris pv.
vesicatoria, diallel analysis, disease resistance, heterosis, hybrids.
(Aceito para publicação em 6 de fevereiro de 2.002)
A
mancha-bacteriana, causada pela
bactéria Xanthomonas campestris
pv. vesicatoria (nova classificação proposta: X. axonopodis pv. Vesicatoria Xav, Vauterin et al., 1995), é considerada a principal doença bacteriana da cultura do pimentão, atacando a parte aérea. Essa doença pode causar danos
foliares sob altas temperatura e umidade, acarretando perda de produção e
qualidade dos frutos (Kimura, 1984;
Santos, 1995; Kousik & Ritchie, 1996;
Sahin & Miller, 1996; Lopes &
Quezado-Soares, 1997). A bactéria afeta
a planta em qualquer fase de desenvolvimento, sendo os ataques mais severos
na fase de mudas, canteiros e sementei-
1
ras (Salgado & Tokeshi, 1980).
A infecção se da através de aberturas naturais tais como: estômatos,
hidatódios e lenticelas. Pequenas lesões
causadas pelo vento, chuvas ou insetos
também podem servir de porta de entrada para o patógeno (Kimura, 1984). A
disseminação do patógeno se dá de planta para planta através da água das chuvas
ou de irrigação (Carmo et al., 1996).
Entre os métodos de controle recomendados, a resistência genética é considerado o mais econômico e tecnicamente
mais prático, principalmente quando se
observam os custos, o risco potencial de
resíduos químicos nos frutos e a resistência do patógeno aos produtos químicos
utilizados. Deste modo, há um crescente
interesse em desenvolver cultivares de
pimentão com resistência à manchabacteriana (Sahin & Miller, 1998).
Três genes de resistência (Bs1, Bs2
e Bs3) foram identificados nos seguintes acessos, respectivamente: PI 163192
(Capsicum annuum), PI 260435 (C.
chacoense) e PI 271322 (C. annuum).
Neste último acesso, foram detectados
também componentes de resistência
quantitativa e o gene Bs1. Estudos baseados nesses acessos mostraram que as
interações envolvendo estes genes seguem a hipótese gene-a-gene. O gene
Bs2 confere resistência às raças 0; 1; 2
e 3, comumente encontradas, mas não
Parte da tese apresentada pelo primeiro autor para obtenção do título de Mestre. Pesquisa financiada pela FENORTE
86
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Resistência genética à mancha-bacteriana em genótipos de pimentão.
Tabela 1. Valores médios para notas obtidas pelos parentais e seus respectivos híbridos F1 para reação à mancha-bacteriana em folhas.
Campos dos Goytacazes, UENF, 2000.
Parentais
'UENF1420'
'UENF1421'
'UENF1422'
'UENF1382'
'UENF1381'
'UENF1420'
3,00 cd
-
'UENF1421'
3,00 cd
3,00 cd
-
'UENF1422'
3,67abc
4,17a
3,83ab
-
'UENF1382'
2,83 de
3,17bcd
3,00cd
2,33 e
-
'UENF1381'
3,00cd
2,17 e
3,00 cd
3,00 cd
1,00 f
DMS= 0,6943
As médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
às raças 4; 5 e 6 (Reifschneider &
Lopes, 1997). Resistência à raça 6 foi
descrita em Capsicum pubescens (PI
235047), e com base na reação deste
acesso foi proposta uma nova classificação das raças em P0, P1, P3, P4 e P6
(incompatíveis com PI235047), e P2,
P5, P7 e P8 (compatíveis com PI
235047) (Sahin e Miller, 1998).
A determinação dos componentes de
capacidade combinatória é muito importante em programas de melhoramento
para escolha de parentais geneticamente
divergentes que foram utilizados em esquemas de cruzamento, principalmente
quando se objetiva identificar híbridos
promissores e/ou o desenvolvimento de
linhagens superiores a partir destes híbridos (Allard, 1971). O dialelo é um
método genético-estatístico que permite
estimar a magnitude relativa dos componentes da variância genética relativas
às características de interesse do melhoramento (Blank, 1997). O método de
análise dialélica proposto por Gardner &
Eberhart (1966) fornece informações
importantes sobre o potencial dos progenitores e da heterose manifestada em
seus híbridos (Cruz & Vencovsky, 1989).
O objetivo deste trabalho foi estimar
os efeitos genéticos da reação à mancha-bacteriana (RMB), em folhas e frutos, utilizando o método de análise
dialélica proposta por Gardner &
Eberhart (1966).
MATERIAL E MÉTODOS
Para estudar o controle genético da
resistência à mancha-bacteriana do pimentão em folhas e frutos, foram avaliados os parentais e a geração F1 de um
dialelo completo, sem recíprocos. As
avaliações foram conduzidas em CamHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
pos dos Goytacazes (RJ), em área do
Convênio UENF/PESAGRO-RIO.
Cinco genótipos de C. annuum L. foram utilizadas, sendo três deles suscetíveis à mancha-bacteriana (‘UENF 1420’,
‘UENF 1421’ e ‘UENF 1422’) e dois resistentes (‘UENF 1381’ e ‘UENF 1382’).
Estes progenitores foram escolhidos com
base no seu comportamento em relação à
mancha-bacteriana, descritas em literatura (Santos, 1995) e nas características
morfoagronômicas divergentes.
Para obtenção dos híbridos foram
realizadas todas as combinações possíveis entre os cinco parentais (sem os
recíprocos). Os cruzamentos foram realizados em condições de casa de vegetação. Os botões florais foram
emasculados e polinizados em seguida.
Os frutos dos cruzamentos foram colhidos maduros separadamente e as sementes retiradas manualmente.
Os híbridos e os parentais, num total
de 15 genótipos (tratamentos), foram
cultivados em casa de vegetação, em vasos de plástico com capacidade para 5 L,
em substrato tratado com brometo de
metila. O delineamento experimental foi
de blocos ao acaso, com seis repetições
para RMB em folhas e oito para RMB
em frutos, sendo que cada parcela foi representada por uma planta por vaso.
Para inoculação foi utilizado o isolado de X. c. pv. vesicatoria ENA 4135,
cedido pelo depto. de fitopatologia da
UFLA, cuja virulência foi constatada em
ensaios preliminares. O isolado foi cultivado em meio líquido DYGS
(Rodrigues Neto et al., 1986; Carmo et
al., 1996), por cerca de 30 h. Em seguida, com auxílio de alça de platina, a suspensão bacteriana foi transferida para
placas de Petri contendo meio DYGS.
Após período de 36 a 48 h de cresci-
mento, a 28 ± 20C (Carmo et al., 1996),
as células bacterianas foram suspensas
em água esterilizada e a concentração
de células ajustada para 108 células/ml,
em espectrofotômetro, utilizando-se 600
nm de comprimento de onda, e densidade ótica equivalente a 0,5 (adaptado
de Bongiolo Neto et al., 1986). Em seguida, as suspensões originais foram
submetidas à diluição em série, também
em água esterilizada, para obtenção de
103 células/ml.
A inoculação foi feita aproximadamente aos 40 dias de idade, na 3a folha
verdadeira. Para inoculação foliar foi
utilizado o método de infiltração de suspensão bacteriana no mesófilo
(Bongiolo Neto et al., 1986; Santos,
1995). A infiltração do inóculo foi feita
até se observar o encharcamento da folha. Nos frutos, a inoculação foi efetuada em dois frutos por planta com auxílio de agulhas hipodérmicas, previamente colocadas em contato com células
bacterianas em placas de Petri.
Em folhas, as avaliações foram realizadas três semanas após a inoculação
contando-se o número de pústulas (x)
numa área de 1,0 cm2, atribuindo notas
de 1 a 6 (nota 1 = 0 < x < 5, nota 2 = 6 <
x < 15, nota 3 = 16 < x < 30, nota 4 = 31
< x < 40, nota 5 = 41 < x < 50 e nota 6 =
x > 50), sendo a nota 1 correspondente
à resistência e a nota 6 correspondendo
à suscetibilidade. Em frutos, as avaliações foram conduzidas sete dias após a
inoculação. As lesões foram medidas em
seu maior comprimento (y), com auxílio de paquímetro digital, e sendo utilizada a seguinte escala de notas, adaptada de trabalhos com o patossistema feijão-Xanthomonas axonopodis pv.
phaseoli (Arnaud-Santana et al, 1994;
Rodrigues, 1997): resistente = 0 < y < 1
mm; moderadamente resistente = 1 < y
87
R. A. Costa et al.
Tabela 2. Valores médios para notas obtidas pelos parentais e seus respectivos híbridos F1 para reação à mancha-bacteriana em frutos.
Campos dos Goytacazes, UENF, 2000.
Parentais
'UENF1420'
'UENF1421'
'UENF1422'
'UENF1382'
'UENF1381'
'UENF1420'
3,75ab
-
'UENF1421'
2,71 cde
2,13 ef
-
'UENF1422'
3,88a
2,57 de
3,25 bc
-
'UENF1382'
3,43ab
2,71 c
3,57ab
2,75 cd
-
'UENF1381'
1,75 fg
1,75 fg
1,88 f
2,50 de
1,25 g
DMS= 0,5891
As médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
< 2 mm; moderadamente suscetível = 2
< y < 3 mm; suscetível = 3 < y < 4 mm;
altamente suscetível = y > 4 mm.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os quadrados médios foram significativos pelo teste F ( a < 0,01), para todas as características avaliadas, o que
evidencia a existência de variabilidade
genética entre os genótipos utilizados.
A precisão do experimento, baseada no
coeficiente de variação, foi 12,8% e
18,0%, para RMB em folhas e em frutos, respectivamente.
Estabelecendo-se que valores para
RMB em folhas acima de 2,0 devem ser
descartados por não apresentarem nível
de resistência satisfatório, foram selecionados os seguintes genótipos: ‘UENF
1382’, ‘UENF 1381’, ‘UENF 1420’ x
‘UENF 1421’, ‘UENF 1382’ x ‘UENF
1420’, ‘UENF 1381’ x ‘UENF 1420’,
‘UENF 1381’ x ‘UENF 1421’, ‘UENF
1381’ x ‘UENF 1422’ e ‘UENF 1381’
x ‘UENF 1382’ (Tabela 1).
Para RMB em frutos, considerandose o valor correspondente à metade da
escala adotada para a característica, podem ser selecionados os seguintes
genótipos: ‘UENF 1421’, ‘UENF 1382’,
‘UENF 1381’, ‘UENF 1421’ x ‘UENF
1422’, ‘UENF 1421’ x ‘UENF 1382’,
‘UENF 1420’ x ‘UENF 1381’, ‘UENF
1421’ x ‘UENF 1381’, ‘UENF 1422’ x
‘UENF 1381’ e ‘UENF 1382’ x ‘UENF
1381’ (Tabela 2).
Todos os híbridos obtidos a partir do
genótipo ‘UENF 1381’ foram selecionados por apresentarem níveis
satisfatórios de resistência, indicando
que esse acesso é uma boa fonte de resistência em folhas e frutos. No entanto, os genótipos ‘UENF 1420’ x ‘UENF
1421’, ‘UENF 1420’ x ‘UENF 1382’ e
88
Tabela 3. Estimativas dos parâmetros média e efeitos de variedade (Vi) e seus desviospadrão (DP) para reação à mancha-bacteriana (RMB) em folhas e frutos avaliados em cinco
genótipos de Capsicum annuum L. e seus híbridos F1’s de acordo com o método de GARDNER
& EBERHART (1966). Campos dos Goytacazes, UENF, 2000.
Variedades (Vi)
1. 'UENF 1420'
2. 'UENF 1421'
3. 'UENF 1422'
4. 'UENF 1382'
5. 'UENF 1381'
Média das variedades
DP (Média Varied.)
DP(Vij)
DP(Vi - Vj)
RMB
Folhas
0,0653
0,0524
0,2872
-0,0476
-0,3571
1,8753
0,0456
0,0690
0,1091
‘UENF 1382’, que foram selecionados
para RMB em folhas, não o foram para
frutos, enquanto que os genótipos
‘UENF 1421’ e ‘UENF 1421’ x ‘UENF
1422’, que não foram selecionados para
RMB em folhas, foram selecionados
para RMB em frutos. Já os genótipos
‘UENF 1420’, ‘UENF 1422’, ‘UENF
1420’ x ‘UENF 1422’, ‘UENF 1421’ x
‘UENF 1382’ e ‘UENF 1422’ x ‘UENF
1382’ não foram selecionados em nenhuma das avaliações.
Do ponto de vista epidemiológico,
o ataque de Xav em folhas é de maior
importância, uma vez que uma maior
superfície da planta está sujeita ao ataque do patógeno, facilitando a sua disseminação e o progresso da doença no
campo, devido a maior fonte de inóculo
secundário. O patógeno quando infecta
as folhas, além de causar desfolha, impedindo que a planta produza
fotoassimilados importantes para o seu
desenvolvimento, expõe os frutos ao sol,
depreciando-o para a comercialização.
Frutos
0,2615
-0,1246
0,1704
0,1322
-0,4396
1,8844
0,0310
0,0813
0,1285
Uma vez observada diferenças significativas entre tratamentos, foi possível por meio do método de análise proposta por Gardner & Eberhart (1966),
decompor o quadrado médio de
genótipos em efeitos de variedades e
heterose, sendo esta decomposta em
heterose média, varietal, e específica.
Os quadrados médios para efeitos de
variedade foram altamente significativos ( a < 0,01), tanto para RMB em folhas quanto em frutos, sendo que o efeito de heterose média só foi significativo para RMB em folhas. Isto indica que
efeitos aditivos são mais importantes no
controle da RMB, ou seja, há possibilidade de fixação destas características em
gerações futuras e obtenção de linhagens
superiores. Para o caso da RMB em folhas, a significância da heterose média
indica que a média dos híbridos diferiu
da média dos parentais. Isto sugere que
os melhores híbridos poderão ser selecionados para esta característica, e que
efeitos de dominância e/ou epistasia esHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Resistência genética à mancha-bacteriana em genótipos de pimentão.
tão presentes no controle deste caráter.
Souza (1998), avaliando o
patossistema mancha-bacteriana x pimenta, observou que além dos efeitos
de variedade e heterose média, a
heterose específica foi altamente significativa, o que não foi observado no presente trabalho.
As estimativas de média e efeitos de
variedades (Vi) mostram que os parentais
´UENF 1381’, ‘UENF 1382’, ‘UENF
1421’ e ‘UENF1381’, apresentaram valores de Vi negativos para RMB em folhas e em frutos, respectivamente (Tabela 3). Isto significa que estes parentais
contribuíram para reduzir os valores apresentados por seus híbridos nesta característica (Cruz & Regazzi, 1994), ou seja,
aumentaram a resistência nas combinações híbridas, uma vez que a escala de
notas utilizada é decrescente.
As avaliações permitiram selecionar
não só parentais superiores para serem
utilizados em programas de melhoramento, mas também destacaram híbridos promissores que após estudos de
adaptabilidade e estabilidade poderão
ser indicados para as condições em que
este trabalho foi conduzido.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à pesquisadora Dr a Maria do Carmo de Araújo
Fernandes da PESAGRO-RIO/Estação
Experimental de Itaguaí pela doação das
sementes dos genótipos ‘UENF 1381’
e ‘UENF 1382’. Ao Prof. Ricardo
Magela de Souza, da UFLA, pela ces-
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
são do isolado bacteriano. À Engenheira
Agrônoma Ana Cristina Pinto Juhász,
pelo auxílio na revisão do manuscrito,
e ao Técnico Agrícola José Manoel de
Miranda pelo apoio na condução do experimento.
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89
página do horticultor
FAYAD, J.A.; FONTES, P.C.R.; CARDOSO, A.A.; FINGER, F.L.; FERREIRA, F.A. Absorção de nutrientes pelo tomateiro cultivado sob condições de
campo e de ambiente protegido. Horticultura brasileira, Brasília, v. 20, n. 1, p. 90-94, março 2.002.
Absorção de nutrientes pelo tomateiro cultivado sob condições de campo
e de ambiente protegido.
Jamil Abdalla Fayad1; Paulo Cezar Rezende Fontes2; Antônio Américo Cardoso2; Fernando Luiz Finger2;
Francisco Affonso Ferreira2
EPAGRI-Estação experimental de Caçador, C. Postal 591, 89.500-000 Caçador-SC; 2UFV-Departamento de Fitotecnia, 36.571-000
Viçosa- MG. E-mail: [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
Foram realizados dois experimentos, na Universidade Federal
de Viçosa, objetivando caracterizar a absorção de nutrientes pelo
tomateiro cultivado sob condições de campo e de ambiente protegido. O primeiro, com a cultivar Santa Clara, cultivada a campo, no
sistema de cerca cruzada e sete cachos. O segundo, em estufa plástica, com o híbrido EF-50, conduzidas verticalmente, mantendo-se
oito cachos em cada uma. Ambos experimentos foram delineados
em blocos ao acaso, com quatro repetições. O primeiro constituído
por oito e o segundo por nove tratamentos. Em ambos experimentos, o padrão de absorção de nutrientes seguiu o acúmulo de matéria
seca pelas plantas. No experimento de campo, a ordem decrescente
de acúmulo de nutrientes na parte aérea foi: K, N, Ca, S, P, Mg, Cu,
Mn, Fe e Zn, alcançando os valores máximos de 360; 206; 202; 49;
32; 29 kg.ha-1; 3.415; 2.173; 1.967 e 500 g.ha-1, respectivamente.
Em ambiente protegido, o acúmulo de nutrientes na parte aérea do
tomateiro decresceu na seguinte ordem: K, N, Ca, S, Mg, P, Mn, Fe;
Cu e Zn, alcançando os valores de 264; 211; 195; 49; 40; 30 kg.ha-1;
3.200; 2.100; 1.600 e 700 g.ha-1, respectivamente. As taxas de absorção diária dos nutrientes são apresentadas bem como as porcentagens de absorção do N e de K em determinados períodos do crescimento do tomateiro, visando auxiliar na programação das épocas
de aplicação destes nutrientes em cobertura.
Nutrient absorption by tomato plants grown under field and
protected conditions.
Two experiments were conducted at Universidade Federal de
Viçosa to evaluate nutrient absortion by tomato plants grown under
field and protected conditions. In the first experiment, tomato cv.
Santa Clara was grown in the field with seven clusters/plant. In the
second one tomato hybrid EF-50 was grown in plastic greenhouse
and pruned to eight clusters. Both experiments were designed as
randomized blocks, with four replicates. The first and second
experiments were performed with eight and nine treatments,
respectively. In both experiments, the nutrient absorption patterns
followed the plant dry matter accumulation. In the field experiment,
the amounts of nutrient uptaken by the plants decreased following
the order K, N, Ca, S, P, Mg, Cu, Mn, Fe and Zn reaching their
maximal values of 360; 206; 202; 49; 32; 29 kg ha-1; and 3415; 2173;
1967 and 500 g ha-1, respectively. In the greenhouse experiment, the
order was K, N, Ca, S, Mg, P, Mn, Fe, Cu, and Zn reaching their
maximal values of 264; 211; 195; 49; 40; 30 kg ha-1; and 3227; 2121;
1639 and 651 g ha-1, respectively. Nutrient daily absorption rates are
presented as well as the percentages of N and K uptaken at determined
tomato plant growth period, which can be helpful to program the
time of sidedressing of those nutrients.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum Mill, plasticultura, marcha de absorção de nutrientes, nutrição mineral.
Keywords: Lycopersicon esculentum Mill, plasticulture, nutrient
absortion march, mineral nutrition.
(Aceito para publicação em 30 de novembro de 2001)
O
s teores e os conteúdos de nutrientes no tomateiro variam com o desenvolvimento da cultura, sendo que o
seu conhecimento é importante para decisões sobre a aplicação racional de fertilizantes (HAAG et al., 1978). A quantidade de nutrientes absorvidos pela
planta de tomate, durante o ciclo, depende de fatores bióticos e abióticos,
como temperatura do ar e solo,
luminosidade e umidade relativa
(PAPADOPOULOS, 1991), época de
plantio (HEUVELINK, 1995), genótipo
e concentração de nutrientes no solo
(FONTES & WILCOX, 1984). Esses e
outros fatores, como a fertirrigação, con90
dução vertical das plantas e cobertura
plástica, presentes de forma diferenciada nos sistemas de cultivo do tomateiro
conduzido em condições de campo e em
ambiente protegido influem na sua absorção de nutrientes.
No Brasil, um dos primeiros trabalhos visando o conhecimento da marcha de absorção dos nutrientes pelo tomateiro foi realizado por Gargantini &
Blanco (1963), utilizando a cultivar Santa Cruz-1639 e conduzido em ambiente
protegido, onde conclui-se que o nutriente mais absorvido foi o K seguidos
pelo N, Ca, S, P e Mg. As absorções de
N, K, Mg e S alcançaram valores máxi-
mos no período de 100 a 120 dias após
a germinação, enquanto que o Ca e o P
foram absorvidos durante todo o ciclo
da cultura.
Para a maioria das cultivares de tomate, até a iniciação floral, a planta
absorveu menos de 10% do total de nutrientes acumulados ao longo do ciclo
(Ward, 1967; Fernandes et al., 1975;
Haag et al, 1978). Durante o
florescimento e a frutificação, que normalmente ocorrem no período dos 55
aos 120 dias, o tomateiro absorve elevadas quantidades de nutrientes
(Gargantini & Blanco, 1963; Fernandes
et al., 1975). Nesse período, as concenHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Absorção de nutrientes pelo tomateiro cultivado sob condições de campo e de ambiente protegido.
trações de N, P, K (Halbrooks & Wilcox,
1980) e de Cu (Fernandes et al., 1975)
são maiores nos frutos e as de Ca, Mg
(Halbrooks & Wilcox, 1980), S, B e Mn,
nas folhas (Fernandes et al., 1975). Porém, os trabalhos citados foram conduzidos em condições diferentes uns dos
outros, o que proporcionou diferenças
significativas nas quantidades de nutrientes absorvidos e sua alocação nos diversos órgãos.
Nesses trabalhos revisados foram
constatadas diferenças nas quantidades
de nutrientes absorvidos, possivelmente ocasionadas pelas condições diferenciadas de cultivo. Sendo desconhecidos
trabalhos sobre a absorção de nutrientes pela cultivar Santa Clara cultivada
sob condições de campo e pelo híbrido
EF-50 em ambiente protegido, o presente trabalho teve por objetivo determinar
a dinâmica de absorção de nutrientes
pelo tomateiro, cv. Santa Clara, sob condições de campo, e do híbrido EF-50,
em ambiente protegido.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram instalados dois experimentos
na Horta do Fundão, da Universidade
Federal de Viçosa. O primeiro foi realizado sob condições de campo, no período de 20 de março a 18 de julho de 1997,
período de baixa incidência de chuvas e
final de produção de tomate na região.
Utilizou-se a cultivar Santa Clara,
conduzida no espaçamento de 1,0 m
entre linhas e 0,5 m entre plantas, com
uma muda por cova. As plantas foram
conduzidas com duas hastes e tutoradas
com bambu, no sistema de cerca cruzada, e podadas após a terceira folha acima do quarto cacho floral, na haste principal, e do terceiro cacho floral, na haste secundária. O método de irrigação foi
por sulco. No sulco de plantio efetuouse uma adubação com 10 t ha-1 de cama
de aviário e 1,1 kg ha-1 de boro, 20 kg
ha-1 de magnésio, 80 kg ha-1 de N, 180
kg ha-1 de P2O5 e 50 kg ha-1 de K2O (Comissão..., 1989), respectivamente, na
forma de bórax, sulfato de magnésio,
uréia, superfosfato simples e cloreto de
potássio. As adubações de cobertura
foram realizadas aos 15; 30 e 50 dias
após o transplantio das mudas, manualmente, ao longo das linhas de plantio.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Na primeira adubação de cobertura utilizou-se 80 kg ha-1 de N, 180 kg ha-1 de
P2O5 e 50 kg ha-1 de K2O, e na segunda
e terceira, 80 kg ha-1 de N e 50 kg ha-1
de K2O.
O segundo experimento foi desenvolvido em estufa com cobertura plástica (0,1 mm de espessura), modelo arco,
com 9 m de largura, 40 m de comprimento, pé direito de 3,2 m de altura e
laterais abertas (sem tela e plástico), no
período de 24 de abril a 10 de setembro
de 1997. Nesse experimento foi cultivado o híbrido EF-50, com hábito de
crescimento determinado, em fileiras
duplas distanciadas em 1,0 m, com 0,5
m entre fileiras simples. O espaçamento
entre plantas foi de 0,6 m, com uma
muda por cova. Em cada planta foram
mantidos oito cachos florais e tutoradas
na vertical. A irrigação foi por
gotejamento. A necessidade de água foi
calculada pelo método do tanque classe
A, considerando-se o coeficiente do tanque de 0,75 e coeficientes de cultura
variáveis, dependendo do estádio de
desenvolvimento da planta (Carrijo et
al., 1996). Na adubação no sulco de
plantio aplicaram-se 360 kg ha-1 de P2O5,
na forma de superfosfato simples (Comissão..., 1989), e 20 kg ha -1 de
magnésio, na forma de sulfato de
magnésio. As adubações de cobertura
foram efetuadas junto com a água de
irrigação em 24 aplicações, utilizandose 255 kg ha-1 de N, na forma de uréia,
240 kg ha-1 de K2O, na forma de cloreto
de potássio, 10 kg ha-1 de bórax, 10 kg
ha-1 de sulfato de zinco e 200 g ha-1 de
molibdato de sódio (Comissão..., 1989;
Sampaio, 1996). A concentração de nutrientes na água de irrigação sempre foi
menor que 700 mg L-1 (Pizarro, 1987),
para garantir uniformidade de distribuição dos nutrientes. Os fertilizantes
bórax, sulfato de zinco e molibdato de
sódio foram aplicadas na água de irrigação, parcelados em cinco aplicações.
Foram retiradas amostras dos solos
de ambos os experimentos, na profundidade de 0-20 cm, 60 dias antes do
transplantio das mudas, para análises
química as quais apresentaram as seguintes características: pH H2O= 6,6 e
5,9; P= 110,8 e 30,2 mg dm-3 (Extrator
Mehlich-1); K= 151,0 e 33,0 mg dm-3;
Ca2+ = 5,6 e 4,1 cmolc dm-3; Mg2+= 1,0 e
0,9 cmolc dm-3; Al3+= 0,0 e 0,0 cmolc dme P remanescente= 18,7 e 26,2 mg dm3
para os experimentos de campo e em
ambiente protegido, respectivamente. O
valor do P remanescente na solução de
equilíbrio, pode ser correlacionado com
a capacidade tampão de fosfato no solo
(Alvarez, 1994). O solo das duas áreas
experimentais foi classificado como
textural argiloso.
As mudas, para ambos os experimentos, foram produzidas em copinhos
de jornal de 9 cm de altura e 5,5 cm de
diâmetro, preenchidos com o substrato
formado por 600 kg de terra, 150 kg de
esterco de galinha e 23 kg da fórmula
05-20-10. Foram realizadas as semeaduras, com três sementes por copinho,
à profundidade de 0,5 cm. Quando as
mudas apresentaram a primeira folha
verdadeira, foi realizado o desbaste,
deixando uma muda por copinho.
Ambos os experimentos foram delineados em blocos casualizados com
quatro repetições. O primeiro com oito
e o segundo com nove tratamentos. Cada
tratamento correspondeu a uma época
de amostragem, realizada em intervalos
de quinze dias, a partir do transplantio.
Foram colhidas, aleatoriamente duas
plantas por amostragem. No primeiro
experimento, o bloco foi constituído por
seis fileiras de plantas com 14,5 m de
comprimento e no segundo, por cinco
fileiras de plantas com 17,4 m de comprimento. Em ambos os experimentos,
a terceira e a quarta fileiras do bloco
continham as planta úteis, sendo as demais fileiras mais as duas plantas das
extremidades da terceira e quarta fileiras do bloco consideradas bordaduras.
Em cada experimento, as duas plantas amostradas em cada época (tratamento) e em cada repetição foram cortadas ao nível do solo e divididas em
caule, folha, cacho e fruto. Em seguida,
utilizando os valores médios das duas
plantas, foram determinados os teores e
calculados os conteúdos e as taxas de
absorção diárias de N, P, K, Ca, Mg, S,
Zn, Fe, Cu e Mn em cada órgão da planta. A taxa de absorção diária de cada
nutriente foi obtida com a derivada primeira da equação de melhor ajuste ao
conteúdo de cada nutriente na planta, em
função de dias após o transplantio. A
produção e a classificação de frutos fo3
91
J. A. Fayad et al.
Tabela 1. Quantidade de nutriente acumulado na parte aérea total e nos frutos do tomateiro cultivado no campo, cv. Santa Clara, e o valor da
taxa diária máxima de absorção e alocação. Viçosa, UFV, 1997.
Taxa máxima de
Acúmulo máximo na Acúmulo máximo no
1/
1/
fruto
absorção
da planta 2/
planta
Nutriente
Sta Clara
EF-50
Sta Clara
EF-50
Sta Clara
EF-50
N
10.288 ,
9.582,
5.656 ,
6.709 ,
198,52
142,69
P
1.622 ,
1.377,
869,
959,
32,11
11,60
K
17.994 ,
11.995 ,
10.001,
9.645 ,
310,00
187,37
Ca
10.124 ,
8.845,
494,
386,
151,00
74,00
Mg
1.463 ,
1.829,
307,
372,
23,00
15,00
S
2.437 ,
2.238,
494,
512,
58,99
27,55
Zn
25,
30,
5,
7,
0,39
0,50
Cu
171,
74,
4,
3,
4,44
0,82
Fe
98,36
96,
22,59
61,
0,78
1,87
Mn
108,66
147
3,74
4,
1,78
1,90
Taxa máxima de
alocação no fruto 2/
Sta Clara
EF-50
101,00
80,00
34,44
20,00
309,00
197,00
13,70
8,42
10,12
8,49
10,64
6,50
0,12
0,09
0,17
0,05
1,13
3,95
0,10
0,11
mg.planta-1 para os macro e mg.planta-1 para os micronutrientes
mg.planta-1.dia-1 para os macros e mg.planta-1dia-1 para os micronutrientes
1/
2/
ram determinadas nas colheitas de frutos maduros do último tratamento.
Todas as características determinadas foram submetidas às análises de
variância e de regressão polinomial, utilizado-se o SAEG (Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas- UFV).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Absorção de nutrientes pelo tomateiro cv. Santa Clara cultivado sob
condições de campo
O K foi o nutriente mais absorvido
pela planta, seguido pelo N e Ca, sendo
que o acúmulo máximo destes três nutrientes ocorreu aos 120; 120 e 102 dias
após o transplantio, respectivamente (Tabela 1 e Figura 1A). Seguindo a mesma
ordem decrescente, os outros nutrientes
absorvidos em menor quantidade pelo tomateiro foram S, P e Mg que atingiram o
acúmulo máximo aos 120; 93 e 120 dias
(Tabela 1 e Figura 1A). Os micronutrientes
Cu, Mn, Fe e Zn, foram absorvidos em
menor quantidade que os demais, porém
todos apresentaram comportamento de
acúmulo crescente até o final do ciclo cultural (Tabela 1 e Figura 1B).
Do total desses nutrientes absorvidos pelo tomateiro, os frutos acumularam 55% do N, 54% do P, 56% do K,
5% do Ca, 21% do Mg e 20% do S. Dos
micronutrientes, o Fe foi o que mais
acumulou nos frutos seguido pelo Zn,
Cu, e Mn, totalizando 23%, 20%, 2,3%
92
Figura 1. Conteúdo de macro (A) e de micronutrientes (B) na parte aérea total do tomateiro
cultivado no campo, cv. Santa Clara, em função da idade. Viçosa, UFV, 1997.
e 3,4% do total absorvido pela planta,
respectivamente. Portanto, comparando-se a quantidade de nutriente da parte
vegetativa da planta com a de frutos,
verifica-se maior quantidade de N, P e
K nos frutos e Ca, Mg, S, Zn, Cu, Mn e
Fe na parte vegetativa (Tabela 1).
A taxa diária de absorção dos nutrientes pela planta do tomateiro foi crescente até os 46; 39; 51; 45; 15; 44; 59 e
57 dias para o N, P, K, Ca, S, Zn e Mn,
respectivamente, para depois decrescer
(Tabela 1). De modo geral, a máxima
absorção diária dos nutrientes coincidiu
com o período inicial da frutificação.
Nesse período ocorre o estabelecimento de uma força mobilizadora de nutrientes e assimilados, devido ao aumento
da atividade metabólica, associada à atividade hormonal e à divisão e crescimento celular (Taiz & Zeiger, 1991).
Para o Fe, a taxa diária foi constante em
todo o ciclo cultural e para o Cu foi decrescente do início ao final do ciclo.
Comparando-se a taxa diária de absorção de nutrientes da planta com a dos
frutos, observa-se que em determinada
fase do tomateiro, geralmente antes da
primeira colheita dos frutos, esses absorvem mais N, P, K, S, Zn e Fe do que
a planta, indicando translocação desses
elementos.
Os resultados obtidos para a parte
aérea, quanto ao acúmulo de nutrientes,
estão em concordância parcial com os
resultados de Fernandes et al. (1975) que
trabalharam com tomate para fins industriais, onde o K foi o nutriente de maior
acumulo na planta, seguido pelo N e Ca.
Porém, houve diferença nesta seqüência com o Mg, S e P. Também, neste
mesmo trabalho observa-se semelhança
na dinâmica de alocação nos frutos de
56% do N, 9% do Ca, 55% do K e 21%
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Absorção de nutrientes pelo tomateiro cultivado sob condições de campo e de ambiente protegido.
Tabela 2. Dinâmica de absorção de N e K, na parte aérea total, em função da idade do
tomateiro cultivado no campo, cv. Santa Clara. Viçosa, UFV, 1997.
Idade da planta
(dias após o transplantio)
12,
24,
36,
48,
60,
72,
84,
96,
108,
120,
Nutriente
N
K
%
4,1
9,0
16,6
22,9
21,4
13,9
7,0
3,1
1,3
0,5
2,0
5,5
13,3
23,9
26,3
17,1
7,7
2,9
1,0
0,3
Figura 2. Conteúdo de macro (A) e de micronutrientes (B) na parte aérea total do tomateiro
cultivado em ambiente protegido, híbrido EF-50, em função da idade. Viçosa, UFV, 1997.
do Mg do total absorvido, e diferindo da
dinâmica do P e S. É possível que estas
diferenças sejam devido à cultivar utilizada, das condições edafoclimáticas e/ou
do manejo da planta.
Desta forma, a absorção dos nutrientes, pela cv. Santa Clara, acompanhou o
crescimento da planta. Com o início da
frutificação, intensificou-se a quantidade absorvida de todos os nutrientes. Os
valores máximos dos pesos da matéria
seca total e dos frutos, atingiram 406,3 e
207 g.planta-1 e a produção total de frutos maduros foi 94,8 t.ha-1 sendo que a
produção comercial foi de 88,6 t.ha-1.
As porcentagens de absorções de N
e K, os elementos mais acumulados pela
planta e, usualmente aplicados
parceladamente em cobertura na cultura, são maiores no período entre 36 e 72
dias, quando atingem 74,8% do N e
80,6% do K absorvidos durante o ciclo
cultural (Tabela 2). Essas necessidades
de nutrientes, em função da idade da
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
planta, foram construídas a partir da
equação da taxa diária de absorção (dados não apresentados), e auxiliam na
indicação das quantidades e época de
aplicação dos adubos de cobertura (Tabela 2 e 3). Assim, os resultados da taxa
diária de absorção indicam a necessidade de realizar com maior freqüência as
aplicações de adubos de cobertura.
Absorção de nutrientes pelo tomateiro, híbrido EF-50, produzido em ambiente protegido
O acúmulo dos nutrientes na parte
aérea do tomateiro ocorreu de forma crescente até os 135 dias após o transplantio
das mudas, época considerada como final do experimento por terem sido colhidos todos os frutos (Tabela 1 e Figura
2A e 2B). A única exceção a este padrão
de acúmulo ocorreu com o Fe que teve
seu máximo aos 104 dias para depois
decrescer (Tabela 1 e Figura 2B).
Na parte aérea da planta, o K foi o
nutriente mais absorvido, seguido com
certa proximidade pelo N. Na ordem
decrescente de absorção o Ca, S, Mg e
P foram os macronutrientes menos absorvidos. Dentre os micronutrientes o
Mn foi o mais armazenado seguido pelo
Fe, Cu e Zn (Figura 2A e 2B).
Do total destes elementos absorvidos, os frutos armazenaram 70% do N e
P, 80% do K, 4% do Ca, 20% do Mg e
23% do S. Dos micronutrientes analisados, o Fe foi o que mais acumulou nos
frutos, seguido pelo Zn, Mn e Cu,
totalizando 63%, 25%, 3% e 3,5% do
total absorvido pela planta, respectivamente (Tabela 1 e Figura 2B). Assim,
os frutos tornaram-se as maiores reservas de N, P, K e Fe da planta.
O valor da taxa diária de absorção
foi crescente até os 67; 68; 52; 70 e 64
dias para o N, K, S, Zn e Fe, para depois decrescer até o final do ensaio (Tabela 1). Para o P, Ca e Mg os valores
das taxas foram constantes durante todo
o ensaio. Enquanto o valor da taxa de
absorção do Cu foi crescente durante
todo o experimento, para o Mn foi decrescente.
Os valores dos pesos da matéria seca
total e dos frutos atingiram 397,9 e 269,5
g.planta-1 e a produção total de frutos
maduros foi de 115,4 t.ha-1 sendo que a
produção comercial foi de 109,0 t.ha-1.
Esta dinâmica de acúmulo de nutriente apresentou certa semelhança com
os dados obtidos por Gargantini &
Blanco (1964) que trabalharam com a cv.
Sta Cruz 1639, cultivada em vaso e em
ambiente protegido. Obtiveram que o P
e Ca aumentaram até o final do experimento e para o N, K, Mg e S decresceu
no final. Do total de nutrientes absorvidos, encontraram que 84% do N, 86%
do P, 70% do K, 21% do Ca, 63% do Mg
e 34% do S foram alocados nos frutos.
As taxas de absorção de
macronutrientes obtidas por Huett &
Dettman (1988) variaram ao longo do
ciclo do tomateiro, atingindo os valores
máximos de 521; 119; 884; 290 e 84 mg
planta-1 dia-1, para o N, P, K, Ca e Mg,
respectivamente. Estes valores são bem
maiores que os obtidos no presente trabalho, provavelmente pelo fato de as
plantas terem sido cultivadas em areia,
com solução nutritiva. Pardossi et al.
(1987) obtiveram menores taxas de absorções de N e K, com valores máxi93
J. A. Fayad et al.
Tabela 3. Absorção de nutrientes pela parte aérea total do tomateiro cultivado no campo, cv. Santa Clara e pelo tomateiro cultivado em
ambiente protegido, híbrido EF-50. Viçosa, UFV, 1997.
Cultivar
Sta Clara
EF-50
N
P
K
Ca
206
211
32
30
360
264
202
195
mos de 70 e 79 mg planta-1 dia-1 de N e
de K, respectivamente.
A absorção dos nutrientes acompanhou o crescimento da planta. Com o
início da frutificação, intensificou-se a
quantidade absorvida de todos os
nutrientes.
As porcentagens de absorções de N
e K, os elementos mais acumulados pela
planta e, usualmente aplicados
parceladamente em cobertura na cultura, via água de irrigação, são maiores
no período entre 35 e 91 dias, quando
atingem 73,5% do N e 75,0% do K absorvidos durante o ciclo cultural (Tabela 4). Essas necessidades de nutrientes,
em função da idade da planta, foram
construídas a partir da equação da taxa
diária de absorção (dados não publicados), e auxiliam na indicação das quantidades e época de aplicação dos adubos de cobertura (Tabela 3 e 4). Assim,
os resultados da taxa diária de absorção
indicam a necessidade de realizar com
maior freqüência as aplicações de adubos de cobertura.
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94
Mg
S
kg.ha -1
29
49
40
49
Fe
Mn
Zn
B
2,2
3,2
2,0
2,1
3,4
1,6
0,5
0,7
Tabela 4. Dinâmica de absorção de N e K, na parte aérea total, em função da idade do
tomateiro cultivado em ambiente protegido, híbrido EF-50. Viçosa, UFV, 1997.
Nutriente
Idade da planta
(dias após o transplantio)
N
7,
14,
21,
28,
35,
42,
49,
56,
63,
70,
77,
84,
91,
98,
105,
112,
119,
127,
135,
1,0
1,5
2,1
3,0
4,2
5,7
7,3
8,9
10,0
10,6
10,2
9,1
7,5
5,9
4,4
3,2
2,6
1,7
1,1
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K
(%)
0,8
1,3
1,9
2,8
4,0
5,5
7,3
9,0
10,4
11,0
10,6
9,4
7,7
5,9
4,3
3,0
2,5
1,6
1,0
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Comparação de métodos de enxertia em pepino.
Kathia Alexandra L. Canizares; Rumy Goto
UNESP-FCA, C. Postal 237, 18.603-970 Botucatu – SP, E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Foram comparados três métodos de enxertia sobre o crescimento, floração e produção de pepino (Cucumis sativus L.), híbrido
Hokuho enxertado em abóbora (Cucurbita maxima Duch.), hibrido
Excite Ikky. O ensaio foi instalado em ambiente protegido na
UNESP-FCA em Botucatu. Plantas enxertadas por fenda, encostia e
perfuração apical foram comparadas com plantas não enxertadas.
As características avaliadas foram sobrevivência de mudas, altura
da planta, número de internódios, diâmetro do hipocótilo, número
de dias até a floração, número de flores femininas e masculinas,
número de dias até o inicio da colheita, número de frutos abortados
e comerciáveis/planta em cinco semanas de colheita. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com cinco repetições e dois
vasos por parcela. As plantas não enxertadas apresentaram maior
porcentagem de sobrevivência. A enxertia por qualquer método não
influenciou na altura das plantas, mas o número de internódios foi
superior nas plantas enxertadas por fenda. O diâmetro do hipocótilo
e o número de frutos abortados foi maior nas plantas enxertadas. A
enxertia não modificou a expressão sexual nem a produção de frutos comerciáveis/planta. Foi observada a presença de brilho na casca de todos os frutos colhidos de plantas enxertadas.
Comparison of grafting methods in cucumber.
A trial was carried out under protected cultivation to compare
three grafting methods on growth, flowering and yield of cucumber
(Cucumis sativus L.), hybrid Hokuho grafted on squash (Cucurbita
maxima Duch.), hybrid Excite Ikky, at UNESP in Botucatu, Brazil.
Plants were grafted by cleft, approach and tongue grafting, and
compared with cucumber plants without grafting. Seedling survival,
plant height, node number, hypocotyl diameter, days to flowering,
number of female and male flowers, days to first harvest, number of
aborted fruits, and commercial fruits per plant during five weeks
were evaluated. The trial was carried out in a randomized complete
block design, with five replications and two plants per plot. The
greatest survival rate was obtained from non-grafted plants. Grafting
methods had no influence on plant height, however, node number
was greater in cleft grafted plants. Hypocotyl diameter and number
of fruits which failed to set were greater in grafted plants than in non
grafted ones. Grafting did not affect sex expression and commercial
fruit yield per plant. Fruits harvested from grafted plants were shiny.
Palavras-chave: Cucumis sativus L., Cucurbita maxima, enxertia,
ambiente protegido.
Keywords: Cucumis sativus L., Cucurbita maxima, grafting,
protected cultivation.
(Aceito para publicação em 16 de janeiro de 2.002)
N
o cultivo de cucurbitáceas em ambiente protegido, a enxertia pode
ser considerada atualmente como método alternativo de produção. Com este
método visa-se a menor incidência de
doenças fúngicas do solo, menor
infestação de nematóides e melhoria da
qualidade dos frutos com a retirada da
cera, resultando em maior brilho
(Canizares et al., 1996).
Os patógenos do solo, incluindo
nematóides, são responsáveis por 67,7%
dos replantios necessários em hortaliças
(Oda, 1995). Outros patógenos são responsáveis por 23,7%, pragas por 1,2%,
desordens fisiológicos 5,3%, desbalanço
nutricional do solo 0,3% e causas desconhecidas 1,8%.
Além desse aspecto, algumas combinações enxerto/porta-enxerto têm sido
relacionadas não só com a resistência
do porta-enxerto a fatores adversos, mas
também ao aumento da produção
(Yamakawa, 1982; Kawaide, 1985;
Cañizares, 1997) tendo em vista que
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
determinados porta-enxertos induzem o
aumento do vigor da copa (Janowski &
Skapski, 1985).
O sucesso da enxertia é representado pela união morfológica e fisiológica
das duas partes envolvidas. Miguel
(1997) observou que as superfícies de
contato do enxerto e porta-enxerto devem estar limpas. Mesmo que haja boa
cicatrização na região da enxertia, se
houver pouco contato, esta pode dificultar o movimento da água e dos nutrientes. Dessa forma, os elementos
vasculares não iniciam a atividade do
câmbio vascular e a enxertia tende a fracassar (Deloire & Hébant, 1982 citados
por Rachow-Brandt & Kollmann,
1992b), por interferir na translocação de
assimilados da raiz para a parte aérea
da planta (Andrews & Marquez, s/d;
Rachow-Brandt & Kollmann, 1992a), e
também por alterar a concentração de
alguns elementos nutritivos. Alguns fatores interferem no sucesso da enxertia,
como por exemplo a temperatura na pós-
enxertia influenciando a sobrevivência
das plântulas. É recomendado manter os
enxertos entre 25 e 26oC durante a fase
de união. Temperaturas inferiores a 15
ou superiores a 32oC são prejudiciais
(Miguel, 1997). Stripari et al. (1997)
com 30oC na pós-enxertia, obtiveram
entre 96,5 e 100,0% de sobrevivência
de plântulas enxertadas, aos 25 dias pós
enxertia, em pepino híbrido Summer
Green enxertado em abóbora híbrida
Kirameki usando o método da fenda
cheia. A umidade também interfere e
esta deve ser mantida elevada para evitar a desidratação dos tecidos. Afetam
também a enxertia a diferença entre os
diâmetros do hipocótilo do enxerto e do
porta-enxerto (Stripari et al., 1997). No
Japão, Oda et al. (1993), avaliando a
taxa de sobrevivência e o crescimento
de plantas de pepino, utilizando a
enxertia horizontal em dois porta-enxertos, (Cucurbita moschata e C. maxima),
concluíram que com a menor diferença
entre o diâmetro do hipocótilo do en95
K.A.L. Canizares & R. Goto.
xerto e porta-enxerto, a taxa de crescimento e sobrevivência aumentava.
A sobrevivência da enxertia depende também da remoção ou não das folhas cotiledonares e do ângulo de
sobreposição das folhas cotiledonares.
Oda et al. (1993) concluíram que a taxa
de sobrevivência dos enxertos de pepino sobre abóbora sem cotilédones no
porta-enxerto foi significativamente
menor (75%) que as que continham
cotilédones (maior que 90%). Nos enxertos com 90o de ângulo formado entre os cotilédones de porta-enxerto e
enxerto, a taxa de sobrevivência foi
100%, comparado com 50% em enxertos com 0o de ângulo.
Na prática têm sido utilizadas
enxertias por fenda, encostia e perfuração apical. Os produtores paulistas de
pepino japonês têm muitas dúvidas em
relação às alterações que as plantas enxertadas apresentam, afirmando que o
desenvolvimento da planta enxertada
varia em função do método empregado.
Desse forma esse experimento teve por
objetivo comparar três métodos de
enxertia na sobrevivência das mudas,
crescimento, floração e na produção de
pepino do tipo japonês.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
estruturas de proteção com cobertura
plástica (7,0 x 20,0 m), na área experimental da Fazenda Lageado, do Depto.
de Produção Vegetal da UNESP em
Botucatu, de fevereiro a junho de 1998.
Foram realizados quatro tratamentos,
três métodos de enxertia e o controle
sem enxertia. O delineamento experimental utilizado foi blocos ao acaso,
com 4 tratamentos e 5 repetições com 2
plantas/parcela (1 planta/vaso), exceto
para a sobrevivência das mudas (50
plantas/parcela).
A abóbora foi semeada em 25/02 e
o pepino em 27/02. A enxertia foi feita
em 12/03 (25 enxertos por parcela), seguindo os critérios de Kawaide (1985);
Oda (1995) e Miguel (1997).
Em todos métodos de enxertia o
meristema apical da abóbora foi eliminado, deixando-se apenas as duas folhas
cotiledonares. Em todos métodos, os
cotilédones do pepino foram
96
Fonte: Oda (1995), adaptado por Cañizares & Goto
Figura 1. Enxertia por garfagem de fenda cheia.
Fonte: Oda (1995), adaptado por Cañizares & Goto.
Figura 2. Enxertia por encostia.
Figura 3. Enxertia por perfuração apical.
posicionadas a 90 o em relação aos
cotilédones da abóbora (Figura 1), conforme Oda et al. (1993).
No método de garfagem de fenda
cheia foi feito um corte de mais ou menos 1,0 cm de profundidade entre os
cotilédones da abóbora, até o centro do
hipocótilo (Figura 1). O hipocótilo do
pepino foi cortado em forma de bisel a
1,5 cm abaixo dos cotilédones e inserido na fenda. Enxerto e porta-enxerto
foram presos por um clipe especial.
No método por encostia, foi feito um
corte de cima para baixo, 1,0 cm abaixo
das folhas cotiledonares da abóbora (Figura 2). Nas plântulas de pepino, com o
sistema radicular, o corte foi feito de
baixo para cima. Feita a união, o enxerto foi preso por um clipe especial. Seis
dias após a enxertia promoveu-se o ‘desmame’, que consistiu em cortar o
hipocótilo do pepino logo abaixo do
ponto de enxertia para isolar o sistema
radicular do mesmo.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Comparação de métodos de enxertia em pepino.
Tabela 1. Sobrevivência das plântulas (SP), altura das plantas (AP), número de internódios (NI), diâmetro do hipocótilo (DH) e número de
dias para floração (DF) para plantas de pepino com e sem enxertia, usando os métodos de fenda cheia, encostia e perfuração apical.
Botucatu, UNESP, 1998.
Tratamento
Fenda cheia
Encostia
Perfur. apical
Pé franco
Média
CV (%)
SP**(%)
88,0ab
72,0 b
68,0 c
94,0a
80,5
11,8
AP (cm)
133,0a
128,4a
123,0a
125,0a
127,4
4,2
NI* (n0/pl)
19,6a
18,5ab
18,4 b
18,3 b
18,7
3,14
DH** (cm)
1,5a
1,6a
1,4a
1,1 b
1,4
8,6
DF (dias)
24,2a
23,0a
25,0a
24,8a
24,2
7,1
* e **: significativo a 5 % e 1 %, respectivamente.
1
Valores nas colunas seguidos pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%
Tabela 2. Número de flores femininas (FF) e masculinas (FM), número de dias até o início da colheita (DC), número de frutos abortados/
planta (FA) e número de frutos comerciáveis/planta (FC) em plantas de pepino com e sem enxertia, usando três métodos: fenda cheia,
encostia e perfuração apical. Botucatu, UNESP, 1998.
Tratamento
Fenda cheia
Encostia
Perfur. apical
Pé franco
Média
CV (%)
FF** (flores/pl)
23,6ab
24,0ab
25,0a
22,0 b
23,6
4,6
FM (flores/pl)
9,6a
9,4a
9,2a
9,4a
9,4
15,2
DC** (dias)
34,8 b
35,2 b
35,6 b
39,2a
36,2
1,7
FA* (frutos/pl)
4,0ab
3,8ab
4,4a
3,0 b
3,8
19,1
FC (frutos/pl)
12,8a
13,2a
12,0a
11,0a
12,1
12,4
* e **: significativo a 5 % e 1 %, respectivamente.
1
Valores nas colunas seguidos pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%
No método da perfuração apical utilizou-se arame grosso, de 0,4 cm de diâmetro com a ponta aplainada, e com este foi
feito um orifício no ápice da abóbora entre as folhas cotiledonares, de aproximadamente 0,5 cm de profundidade (Figura
3). No hipocótilo do pepino foi feito um
corte em forma de bisel de aproximadamente 0,5 cm abaixo dos cotilédones e
introduzido no orifício feito entre as folhas cotiledonares da abóbora.
O transplante para vasos de plástico
com capacidade para 10 litros ocorreu
10 dias após a enxertia. O substrato foi
preparado com Latossolo Vermelho
Amarelo, retirado de camada superficial
de 20 cm, corrigido para 80% de saturação de bases com calcário
dolomítico e misturado com adubo orgânico na proporção de 10% do volume
total do solo. Este solo foi adubado com
100 mg.dm-3 de fósforo utilizando-se
superfosfato simples. O potássio foi elevado para 4,0 mmolc.dm-3 utilizando-se
nitrato de potássio.
As plantas foram tutoradas individualmente e conduzidas em fio vertical. A
irrigação foi feita pelo sistema de gotejo
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
na razão de três litros/dia. Foram feitas três
adubações de cobertura aplicando-se 2,5
g/vaso de cloreto de potássio e 1,0 g/vaso
de nitarato de amônio em cada aplicação.
Foram avaliados a sobrevivência de
plântulas de um total de 50 plantas/parcela, altura das plantas (das folhas
cotiledonares até o meristema apical),
número de internódios acima das folhas
cotiledonares, diâmetro no ponto médio
da região da enxertia e no hipocótilo daquelas não enxertadas, número de dias até
o início da floração, número de flores femininas e masculinas e número de dias
até o início da colheita. Em 5 semanas de
colheita contaram-se os números de frutos abortados/planta e comercializáveis/
planta (20 cm de comprimento).
Na análise de variância, a comparação das médias foi feita pelo teste de
Tukey a 5%, para todas as características avaliadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre os métodos, a fenda cheia
resultou em maior taxa de sobrevivên-
cia e plantas enxertadas pelo método da
perfuração apical tiveram menor sobrevivência (Tabela 1). A baixa sobrevivência das mudas enxertadas por perfuração apical, pode ter sido influenciada
pela pouca experiência do enxertador
com esta técnica. Portanto é precipitado afirmar-se que o uso desse método
acarreta grande perda de plântulas enxertadas. De forma geral, a taxa de sobrevivência obtida foi bastante baixa se
comparada com dados obtidos por
Stripari et al. (1997) que obtiveram valores entre 96,5 e 100,0% aos 25 dias
pós enxertia, usando o método de fenda
cheia. Isto pode ter ocorrido, possivelmente pela alta temperatura do interior
da câmara na pós-enxertia, que ultrapassou 40oC no presente ensaio.
A altura das plantas enxertadas não
diferiu daquelas não enxertadas. Porém,
houve diferenças em relação ao número de internódios/planta. Plantas enxertadas por fenda cheia e por encostia não
diferiram entre si quanto ao número de
internódios (Tabela 1). No presente ensaio os diferentes métodos usados não
97
K.A.L. Canizares & R. Goto.
promoveram diferença na altura das
plantas, discordando dos resultados obtidos por Cañizares & Goto (1998) que
relataram que as plantas dos pepinos híbridos Ancor e Nikkey enxertadas sobre
abóbora foram mais altas que as não enxertadas. Nas hortaliças enxertadas, o
vigor da copa pode ser função do portaenxerto utilizado. No presente ensaio o
porta-enxerto Excite Ikky não promoveu
aumento de vigor na copa do híbrido
Hokuho (Janowski & Skapski, 1985).
As plantas enxertadas apresentaram
maior desenvolvimento na região central do enxerto, quando comparadas com
o diâmetro do hipocótilo das plantas não
enxertadas (Tabela 2). A prática da
enxertia independente do método, aumentou o diâmetro na região superior
do hipocotilo entre 0,3 e 0,5 cm. Resultados semelhantes foram obtidos por
Cañizares (1997). O aumento do diâmetro na região da enxertia é conseqüência da formação do calo resultante do
processo de cicatrização normal constituído por células parenquimatosas
(Janick, 1966).
Não houve diferença em relação ao
número de dias até o florescimento. As
plantas floresceram, em média, 24,2 dias
após o transplante (Tabela 1). Em relação à floração, as plantas enxertadas por
perfuração apical produziram 25% a
mais de flores femininas/planta do que
as não enxertadas (Tabela 2). Atingiram
a fase de fruto 54% das flores oriundas
de plantas enxertadas por fenda, 55%
por encostia, 48% por perfuração e 50%
por pé-franco (Figura 4). Estes dados
concordam com os obtidos por
Takahashi et al. (1982) que obtiveram
aumento do número de flores femininas
em plantas de pepino enxertadas sobre
Sicyos angulatus.
Não houve diferença entre os tratamentos para número de flores masculinas/planta, sendo que a média geral para
o caráter avaliado foi de 9,4 flores masculinas/planta, caracterizando as plantas como monóicas (Tabela 2). A expressão sexual da planta não foi modificada
pelos métodos de enxertia, apesar dos
valores para flores femininas apresentarem diferenças significativas entre tratamentos. A enxertia induziu maior número de flores femininas porém não diminuiu o número de flores masculinas.
98
Figura 4. Porcentagem de flores que atingiram o estádio de fruto comercial em plantas de
pepino com e sem enxertia, usando os métodos de fenda cheia, encostia e perfuração apical.
Botucatu, UNESP, 1998.
Portanto, não houve reversão sexual,
discordando de Friedlander et al. (1977)
que relataram modificação da expressão
sexual em pepino monoico enxertado
em porta enxertos ginóicos.
O tempo do plantio até o início da
colheita foi superior em plantas não enxertadas que necessitaram em média
quatro dias a mais para que os frutos
atingissem o ponto comercial de colheita. (Tabela 2). Os resultados obtidos sugerem a existência de efeito positivo da
enxertia sobre a precocidade da produção, independentemente do método utilizado.
O número de frutos abortados foi
superior em plantas enxertadas (Tabela
2). Plantas originadas de pés francos
apresentaram menor abortamento do
que plantas enxertadas por perfuração
apical. É possível que o processo de
enxertia aliado ao método utilizado tenham provocado estresse inicial que se
manifestou na fase de crescimento de
frutos, levando ao aborto dos mesmos.
A
produção
de
frutos
comercializáveis/planta não diferiu entre
tratamentos, em cinco semanas de colheita
(Tabela 3). O estresse provocado pela
enxertia, não gerou aumento ou diminuição da produção. Entretanto, Yamakawa
(1982), Kawaide (1985) e Cañizares
(1997) obtiveram maior produção.
Quanto à qualidade visual, todos os
frutos produzidos pelas plantas enxertadas apresentaram casca brilhante. Nos
frutos de plantas não enxertadas obser-
vou-se a presença de cera na casca, de
acordo a observações feitas por
Yamakawa (1982), Fujieda (1986) e
Cañizares (1998).
Sob condições de manejo do presente experimento, conclui-se que, plantas
obtidas pelo método de garfagem em
fenda cheia apresentaram maior sobrevivência, quando comparado aos outros
métodos testados. Os métodos não influenciaram na altura das plantas, porém o diâmetro do hipocótilo foi maior
nas plantas enxertadas. Os métodos testados não tiveram influência sobre a produção comercial de frutos em cinco semanas de colheita, porém a enxertia,
independente da metodologia utilizada,
antecipou a colheita em 3 dias aproximadamente. Todos os pepinos colhidos
das plantas enxertadas apresentaram
brilho na casca, característica importante do ponto de vista comercial.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (FAPESP).
LITERATURA CITADA
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Influência do boro no desenvolvimento e na composição mineral do
pimentão1 .
Simone C. Mello2; Antonio Roque Dechen3; Keigo Minami3
Rua das Magnólias, 135, Jd. Novo Mundo, 13.211-610 Jundiaí, SP; 3 ESALQ, C. Postal 09, 13.418-900 Piracicaba-SP. E-mail:
[email protected]
2
RESUMO
ABSTRACT
O experimento foi conduzido no município de Piracicaba (SP),
de fevereiro a junho de 1994, em solo classificado como Terra Roxa
Estruturada eutrófica A moderado textura argilosa. Visou-se estudar
a aplicação de boro no desenvolvimento e na composição mineral
de plantas de pimentão cv. Magda. Adotou-se o delineamento em
blocos casualizados com quatro doses de bórax aplicadas nas covas
de plantio (0; 5; 10 e 20 kg ha-1 equivalentes a 0; 0,6; 1,1 e 2,2 kg ha1
de B) e quatro repetições. Avaliou-se a altura das plantas, o número de folhas e de flores, a área foliar, o peso da matéria seca da parte
aérea e os teores de nutrientes nas folhas recém-maduras mais
pecíolos, aos 45 dias após o transplante. Foram avaliados também,
aos 40 dias após o transplante, o peso do material verde dos frutos e
a composição mineral do pericarpo e das sementes dos mesmos. As
doses de bórax não influenciaram as características avaliadas e os
teores de macronutrientes e de B, Cu, Fe, Mn e Zn nas folhas mais
pecíolos. Entre as partes dos frutos, os teores de B foram superiores
nas sementes em relação ao pericarpo, nas quatro doses utilizadas.
Influence of boron application on sweet pepper development
and mineral composition.
An experiment was carried out in Piracicaba (Brazil) from February
to June 1994, to study the effects of boron application on the
development and mineral composition of sweet pepper (Capsicum
annuum L.), cultivar Magda. The experiment was carried out in a
randomized block design with four levels of borax (0; 5; 10 and 20 kg
ha-1 equivalent to 0; 0.6; 1.1 and 2.2 kg ha-1 of B) and four replications.
The plant height, number of leaves and flowers were evaluated, also
the foliar area, dry weight of aerial part and nutrient contents in the
leaves plus petioles at 45 days after transplanting date. In addition,
fruit fresh weight; pericarp and seed mineral composition were
evaluated 40 days after transplanting date. Different concentrations of
borax did not affect the evaluated characteristics nor the macronutrient
and B, Cu, Fe, Mn and Zn levels in the leaves plus petioles and fruits.
For the pericarp and seeds, the concentrations of boron were higher in
the seeds than of in petioles for all levels of applied borax.
Palavras-chave: Capsicum annuum, boro, bórax, nutrição mineral.
Keywords: Capsicum annuum, boron, borax, mineral nutrition.
(Aceito para publicação em 27 de novembro de 2.001)
O
pimentão (Capsicum annuum L.),
apesar de sua reconhecida importância econômica, é pouco estudado no
Brasil, no que diz respeito à adubação
1
com micronutrientes, especialmente o
boro. Além de afetar o desenvolvimento e a produção do pimentão, o boro
pode interferir no equilíbrio nutricional
da cultura. Segundo Correia et al.
(1977), a deficiência de B em plantas
de pimentão reduz o peso do material
seco da parte aérea e das raízes, o nú-
Parte da dissertação de mestrado apresentada pelo primeiro autor à ESALQ/USP.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
99
S.C. Mello et al.
mero de ramos, de folhas e de flores.
Além desses efeitos, o B também reduz
a área foliar e a taxa fotossintética, conforme verificado por Pandev et al.
(1982). Na nutrição mineral de plantas,
o fornecimento desse micronutriente nas
raízes influencia a absorção, o acúmulo
e a utilização de outros elementos essenciais (Salinas et al., 1982). Santos et
al. (1990) obtiveram teores foliares
maiores de Mg e de Cu, em plantas de
pimentão, com a aplicação de 2 mg L-1
de B em solução nutritiva.
A espécie Capsicum annuum é muito sensível à deficiência de B, sendo que
a sua aplicação via solo tem sido uma
prática adequada para aumentar a produtividade da cultura. Horino et al.
(1980) constataram incrementos de 6,7
t ha-1 na produção de pimentão com a
aplicação de 2 kg ha-1 de B. Trani & Raij
(1996) recomendam a adição de 1,0 kg
ha-1 de B no plantio do pimentão, independentemente do teor desse elemento
no solo. Entretanto, essas quantidades,
normalmente empregadas, que variam
de 1 a 2 kg ha-1 de B, podem não ser
adequadas para o desenvolvimento da
cultura, levando-se em consideração o
teor de B no solo, o tipo de solo e a época de cultivo. Navrot & Levin (1976)
observaram em solo turfoso com teor
médio de 0,93 mg dm-3 de B que a adição de 2 kg ha-1 desse elemento diminuiu a produção de pimentão. Na cultura do tomateiro, pertencente à mesma
família do pimentão, Plese et al. (1998)
obtiveram redução no peso médio de
frutos com a aplicação de 1 e 2 g cova-1
de ácido bórico, equivalente a 3,4 e 6,8
kg ha-1 de boro, em solo com 0,56 mg
dm-3 de B (água quente). Gunes et al.
(1999), também em plantas de tomate,
observaram sintomas de toxidez de B
com a adição de 10 e 20 mg kg-1 desse
elemento no solo. Realizou-se, portanto, esse trabalho com o objetivo de verificar os efeitos da aplicação de B no
desenvolvimento e na composição mineral do pimentão, cv. Magda, em solo
com 1,0 mg dm-3 de B.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no
município de Piracicaba (SP), no período de fevereiro a junho de 1994, em solo
100
classificado como Terra Roxa
Estruturada eutrófica A moderado textura argilosa. A área, amostrada à profundidade de 20 cm, apresentou as seguintes características químicas: pH
(CaCl2) 5,2; 40,4 g dm-3 de matéria orgânica; 888 mg dm-3 de P (resina); 9,6,
22,2 e 15,4 mmolc dm-3 de K, Ca e Mg,
respectivamente; acidez potencial 27,7
mmol c dm -3; capacidade de troca de
cátions 75 mmolc dm-3; saturação por
bases 63 %; 1,0 mg dm-3 de boro.
O delineamento experimental foi de
blocos casualizados com quatro repetições, sendo os tratamentos compostos
pelas doses de bórax (11,5 % B) 0; 5;
10 e 20 kg ha-1, que foram equivalentes
a 0; 0,6; 1,1 e 2,2 kg ha-1 de B. As aplicações do bórax foram feitas em covas
de 20 x 20 x 20 cm, misturando-se bem
com o solo a fim de homogeneizar. Com
base nos resultados da análise química
do solo, dispensou-se a adubação básica de plantio. Foram aplicados, aos 10;
25; 40 e 55 dias após o transplante, 2,5
g/planta de N e 1,0 g/planta de K2O (Passos, 1985), empregando-se como fonte
a uréia (45% N) e o cloreto de potássio
(60% K2O).
As mudas produzidas em bandejas
de isopor com 128 células, preenchidas
com substrato composto de casca processada e enriquecida, vermiculita expandida e turfa processada e
enriquecida, foram transplantadas em 24
de fevereiro de 1994, no espaçamento
de 1,0 entre fileiras e 0,5 m entre plantas. Cada parcela experimental foi composta de 20 plantas, com uma densidade de 20.000 plantas/ha.
Para as avaliações da altura de plantas, número de flores, número de folhas,
estimativa da área foliar, peso do material seco da parte aérea e teores de nutrientes nas folhas mais pecíolos, aos 45
dias após o transplante, amostraram-se
três plantas/parcela. Para a determinação da área foliar, utilizou-se o método
de uso de áreas conhecidas descrito por
Benincasa (1988).
A colheita dos frutos iniciou-se em
5 de abril e se estendeu até 14 de junho
de 1994. Os frutos foram pesados, para
a avaliação do peso médio de frutos por
planta. Para a análise química dos mesmos, coletaram-se cinco frutos ao acaso por parcela, aos 40 dias após o trans-
plante, que foram separados em
pericarpo (P) e sementes (S). Empregouse para determinação dos teores de nutrientes a metodologia descrita por
Sarruge & Haag (1974) e Bataglia et al.
(1983): Nitrogênio: método semimicroKjeldahl;
fósforo:
método
colorimétrico; enxofre, potássio, cálcio,
magnésio, cobre, ferro, manganês e zinco: espectrofotometria de absorção atômica; B: colorimetria da azometina H.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Considerando-se o desenvolvimento das plantas no campo, pôde-se observar que aquelas que receberam a aplicação de 20 kg ha-1 de bórax (2,2 kg ha1
de B) apresentaram sintomas iniciais
de toxidez, aos quinze dias após o transplante. Ocorreu amarelecimento das
pontas das folhas seguido por necrose.
Além disso, as plantas tinham crescimento mais lento em comparação com
a testemunha. Contudo, tais sintomas
desapareceram ao longo do desenvolvimento da cultura. Este fato sugere que
quando as plantas estavam no início do
desenvolvimento a dose de boro em
questão foi excessiva, levando-se em
consideração o teor de boro no solo (1,0
mg dm-3), considerado alto segundo Raij
et al. (1996), bem como o modo de aplicação, ou seja, na cova de plantio, que
proporcionou concentração elevada e
localizada desse micronutriente, próximo às raízes, resultando, dessa forma,
em sintomas de toxicidade. Salinas et
al. (1982) também verificaram efeitos
fitotóxicos do B em plantas de pimentão com o aumento das doses em solução nutritiva (0; 0,25; 1; 2; 4; 8 e 16 mg
L-1 de B). Resultados semelhantes foram obtidos por Gunes et al. (1999) em
plantas de tomate, as quais apresentaram sintomas de toxidez com a adição
de 10 e 20 mg kg-1 de boro no solo. Para
a altura de plantas, número de folhas,
número de flores, área foliar e peso do
material seco da parte aérea as análises
de variâncias não acusaram efeitos significativos entre as doses de boro, cujos
valores constam da Tabela 1. O peso do
material verde dos frutos, cujo valor
médio foi de 84 g/fruto, amostrados aos
40 dias após o transplante, também não
foi afetado pelos tratamentos empregados. Tais resultados indicam que o teor
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Influência do boro no desenvolvimento e na composição mineral do pimentão.
Tabela 1. Valores médios de altura de plantas, número de folhas, número de flores, estimativa da área foliar e peso do material seco da parte
aérea, aos 45 dias após o transplante. Piracicaba, ESALQ, 1994.
Doses de bórax
(kg/ha)
Número de
folhas
Altura (cm)
0
5
10
20
C. V. (%)
42,4
42,5
43,6
42,8
7,33
Número de
flores
104,4
100,7
101,8
135,3
14,82
Área foliar
(dm2)
18,9
19,5
16,8
25,8
31,27
18,1
17,4
19,1
20,9
14,20
Peso do
material seco
(g/planta)
13,9
13,1
14,4
14,9
16,13
Tabela 2. Teores de macronutrientes e de micronutrientes no pericarpo (P) e nas sementes (S) de pimentão cv. Magda, aos 40 dias após o
transplante. Piracicaba, ESALQ, 1994.
Doses
de
Partes
bórax do fruto
(kg ha -1)
N
P
K
Ca
Mg
S
B
Cu
g kg -1
Fe
Mn
Zn
mg kg -1
0
P
S
22,3a
29,6a
3,6a
5,2a
28,6a
23,4a
1,4a
1,2a
1,6a
3,2a
1,9a
1,7a
19,7a
30,1 b
11,3a
14,5a
88,0a
92,5a
77,3a
79,3a
33,5a
36,8a
5
P
S
21,7a
28,1a
3,5a
5,2a
31,0a
23,8a
1,9a
1,7a
1,8a
3,2a
1,4a
1,6a
14,9a
48,5 b
8,5a
13,0a
69,5a
87,0a
77,0a
79,3a
28,5a
31,0a
10
P
22,2a
3,8a
31,4a
1,3a
1,9a
1,7a
16,2a
11,5a
83,5a
76,8a
32,0a
S
28,6a
5,7a
21,4a
1,2a
2,9a
1,3a
33,9 b
13,7a
89,7a
78,0a
34,3a
20
P
22,2a
3,7a
32,1a
2,1a
1,8a
1,3a
17,5a
9,0a
64,3a
77,5a
35,0a
Média
S
P
30,3a
22,1a
4,9a
3,7a
23,3a
30,8a
1,3a
1,7a
2,9a
1,8a
1,3a
1,5a
41,9 b
16,9a
13,8a
10,1a
76,8a
76,3a
78,5a
77,1a
31,0a
32,3a
S
29,2 b
5,3 b
23,0 b
1,3a
3,1 b
1,5a
37,7 b
13,8 b
86,5 b
78,8 b
33,3 b
P
7,47
9,83
21,98
42,09
19,65
27,74
24,9
12,0
10,7
1,0
12,2
C. V. (%)
*
/ Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
de B presente no solo foi considerado
adequado para o desenvolvimento da
cultura. Resultados semelhantes foram
obtidos por Santos et al. (1990), os quais
observaram que o número de folhas definitivas e o peso médio dos frutos não
foram afetados pelas doses de B (0,25;
0,50; 1,00 e 2,00 mg L-1). Entretanto
Navrot & Levin (1976) constataram que
a aplicação de 2 kg ha -1de B em solo
turfoso com 0,93 mg dm-3 de B reduziu
a produção da cultura. Cabe ressaltar,
também, que o fato da maior dose de B
não ter reduzido as características avaliadas, confirma a recuperação das plantas, que no início apresentaram sintomas de fitotoxidez, e sugere que o pimentão cv. Magda apresenta tolerância
ao excesso de B. De acordo com
Adriano (1986), o pimentão pode ser
considerado uma espécie semi-tolerante ao excesso desse micronutriente no
substrato.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Para os teores de nutrientes nas folhas mais pecíolos a análise de variância
não acusou efeito significativo entre as
doses de bórax, sendo que os teores
médios de N, P, K, Ca, Mg e S foram de
27,9; 4,3; 50,0; 15,0; 4,2 e 2,1 g kg-1,
respectivamente. Para o B, Cu, Fe, Mn
e Zn, as concentrações médias estiveram em torno de 60,5; 36; 284; 36 e 121
mg kg-1. Resultados semelhantes foram
obtidos por Salinas et al. (1982), que não
encontraram diferenças significativas
entre os teores foliares de N, P, K, Ca,
Mg, Fe, Mn, Cu e Zn, no período do
florescimento, com o aumento da adição de B em solução nutritiva. Entretanto, esses autores obtiveram aumento
na concentração de B nas folhas com o
aumento do conteúdo desse elemento no
substrato, o que também foi verificado
por Santos et al. (1990), discordando,
portanto, dos resultados obtidos nesse
experimento. Com exceção do Cu e do
Zn, os teores dos demais nutrientes apresentados estão dentro das faixas consideradas adequadas, segundo Trani & Raij
(1996). Os teores de Cu e de Zn, por sua
vez, estão acima dos limites máximos,
possivelmente em virtude de pulverizações foliares feitas com fungicidas
cúpricos (oxicloreto de cobre 500 g kg –
1
) e à base de zineb (750 g kg-1).
As doses de B não afetaram a composição mineral dos frutos. Os teores de
nutrientes não diferiram significativamente no pericarpo e nas sementes,
exceto o de B que foi superior nas sementes, nas quatro doses utilizadas (Tabela 2). Resultados concordantes foram
obtidos por Navrot & Levin (1976), que
constataram que a aplicação de 2 kg ha1
de B no solo não alterou os teores de
N, Cu, Zn e Fe nos frutos. Por outro lado,
Santos et al. (1990) verificaram que a
aplicação de 1 mg L-1 de B em solução
nutritiva aumentou os teores de Mg, Cu
101
S.C. Mello et al.
e B nos frutos. Considerando-se os teores médios dos nutrientes nas partes dos
frutos, verificou-se que as concentrações
dos mesmos, exceto de Ca e de S, de
modo geral, foram maiores nas sementes. Os maiores teores de macronutrientes
encontrados nos frutos foram os de K e
os de N, seguidos dos de P e de Mg. Os
teores de Ca e de S foram encontrados
aproximadamente na mesma proporção.
Tais resultados estão parcialmente de
acordo com os obtidos por Miller et al.
(1979), que verificaram que os elementos mais absorvidos foram o K e o N seguido do P, S, Ca e Mg. Quanto aos
micronutrientes, a absorção em ordem
decrescente foi: Fe, Mn, Zn, B e Cu. Oliveira et al. (1971) verificaram, de maneira geral, resultados semelhantes.
Pode-se concluir pelos resultados obtidos, que em solo com 1,0 mg kg-1 de B
a aplicação desse elemento via solo se
mostrou desnecessária, o que sugere a necessidade de maiores estudos envolvendo diferentes tipos de solos e teores do
elemento em questão, para que se possa
recomendar quantidades mais adequadas
de B para a cultura do pimentão.
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Germinação de sementes de alface sob altas temperaturas.
Warley Marcos Nascimento1; Daniel J. Cantliffe2
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70.359-970 Brasília-DF; 2Horticultural Sciences Department, University of Florida, P.O. Box
110690, Gainesville, Fl 32611-0690, USA. Email: [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
Altas temperaturas durante a embebição das sementes de alface
podem inibir a germinação. Vários métodos para reduzir o problema da termoinibição e, ou termodormência têm sido propostos, incluindo a utilização de germoplasmas tolerantes, o ajuste do ambiente de produção de sementes, a utilização de reguladores de crescimento e o condicionamento osmótico das sementes. Nestas
metodologias, o mecanismo de ação parece estar relacionado com o
“enfraquecimento” (“amolecimento”) do endosperma, que possibilitará o crescimento do embrião sob altas temperaturas. O enfraquecimento do endosperma, tem sido associado com a indução da enzima
endo-b-mananase na região da micrópila. O etileno, também pode
estar envolvido no controle desse processo.
Lettuce seed germination at high temperature.
High temperature during imbibition of lettuce seeds can inhibit
germination. Several methods to circumvent thermoinhibition and,
or thermodormancy have been proposed including resistant
germplasm, adjusting the seed production environment, the use of
growth hormones and seed priming. The mechanism of action for
each of these methodologies appears to be related specifically to
endosperm loosening which allows the embryo to grow under high
temperature. Endosperm loosening has been associated with the
induction of endo-b-mannanase at the micropylar end. Ethylene may
also play an important role in controlling this process.
Palavras-chave: Lactuca sativa, endosperma, atividade enzimática,
condicionamento osmótico, estabelecimento de plântulas.
Keywords: Lactuca sativa, endosperm, enzyme activity, seed
priming, stand establishment.
(Aceito para publicação em 17 de janeiro de 2.002)
A
lface (Lactuca sativa L.) é uma importante folhosa cultivada em várias partes do mundo. No Brasil, o cultivo da alface é realizado durante o ano
todo, em diferentes regiões. Em condições de altas temperaturas, a semente
(aquênio) de alface, quando semeada
tanto em estufas (produção de mudas
para o transplantio) quanto no campo
(semeadura direta), poderá ter uma redução na germinação ou uma
desuniformidade na emergência das
plântulas. Estes fatos poderão reduzir a
produtividade e consequentemente o
lucro do produtor.
A temperatura, tem grande influência na germinação de sementes de alface. A temperatura ótima está em torno
de 20°C, e a maioria das cultivares não
germina em temperaturas superiores a
30°C. Quando condições de altas temperaturas ocorrem durante a embebição
das sementes de alface, dois diferentes
fenômenos podem ser observados: a) a
termoinibição, que é um processo reversível, uma vez que a germinação ocorre
quando a temperatura reduz para um
1
nível adequado, e; b) a termodormência,
onde as sementes não germinarão após
a redução da temperatura, também chamada de dormência secundária (Khan,
1980/81). Neste caso, entretanto, a germinação ocorrerá se as sementes forem
tratadas com reguladores de crescimento
ou sumetidas ao condicionamento
osmótico (“seed priming”).
A temperatura máxima e crítica para
a germinação das sementes de alface
depende do genótipo (Harrington &
Thompson, 1952; Gray, 1975;
Thompson et al., 1979; Damania, 1986).
Algumas cultivares de alface podem
germinar em temperaturas variando de
5 a 33°C (Gray, 1975). Em geral, temperaturas acima de 30°C afetam a germinação das sementes, reduzindo a velocidade ou a porcentagem de germinação. Assim, dependendo do local e época de semeadura, a germinação das sementes pode ser errática ou nula, comprometendo o estande no campo e, ou
na casa de vegetação.
Diferentes estratégias para reduzir os
problemas da termoinibição e, ou da
termodormência têm sido utilizadas.
Alguns genótipos termotolerantes têm
sido identificados (Bradford, 1985) ou
desenvolvidos (Guzman et al., 1992).
Entretanto, efeitos ambientais na expressão do caráter de termotolerância têm
sido observados (Nagata, 1997, comunicação pessoal)1 . Além deste fato, ainda não se entende como as sementes
herdam a capacidade para germinarem
em altas temperaturas.
Fatores ambientais durante a
maturação das sementes também influenciam a temperatura limite de germinação. Durante o desenvolvimento das
sementes, a temperatura pode afetar subseqüentemente a germinação (Gray et
al., 1988; Drew & Brocklehurst, 1990;
Steiner & Opoku-Boateng, 1991). Assim, sementes de alface produzidas em
regiões de clima quente germinaram
melhor em altas temperaturas
(Harrington & Thompson, 1952;
Damania, 1986). Sob condições controladas, Gray et al. (1988) verificaram que
as sementes de alface produzidas em
regimes de temperatura de 30/20°C ger-
Nagata, R.T. (Horticultural Sciences Department, University of Florida, P.O. Box 110690, Ginesville, Fl 32611-0690, USA).
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
103
W.M. Nascimento & D.J. Cantiliffe.
minaram melhor a 30°C do que sementes produzidas a 25/15°C ou 20/10°C.
Em outro estudo, Sung et al. (1998a)
verificaram que sementes de alface produzidas a 30/20°C apresentaram uma
maior porcentagem de germinação comparada com aquelas produzidas em condições de baixas temperaturas. Estes
autores concluíram que o caráter de termo-tolerância foi regulado pela
interação genótipo e temperatura durante o desenvolvimento das sementes.
O condicionamento osmótico das
sementes pode diminuir o período entre
a semeadura e o estabelecimento de
plântulas e reduzir o risco das sementes
expostas às condições adversas e fatores
bióticos no campo durante esse período
crítico de germinação. Em alface, esse
tratamento tem sido utilizado, com sucesso, para reduzir o problema de inibição da germinação causado por temperaturas altas (Guedes & Cantliffe, 1980;
Khan, 1980/81; Guedes et al., 1981;
Valdes et al., 1985; Wurr & Felows,
1984; Nascimento & Cantliffe, 1998).
Entretanto, o mecanismo exato do condicionamento osmótico para a germinação das sementes de alface, nessas condições, não é totalmente conhecido.
A aplicação de reguladores de crescimento, como etileno, têm aumentado
significativamente a germinação das
sementes, sob altas temperaturas, em
laboratório. Assim, a aplicação de precursores de etileno ou produtos à base
de etileno têm permitido a germinação
de sementes de alface em altas temperaturas (Saini et al. ,1986; Fu & Yang,
1983; Khan & Prusinski, 1989; Nascimento et al. , 1999c; 1999b; Nascimento, 2000). Neste aspecto, vale salientar
que o uso de etileno não tem sido aplicado comercialmente.
É sabido que alto vigor e elevada
germinação são dois pré-requisitos para
se alcançar um bom estabelecimento de
plântulas. Alto vigor das sementes é uma
condição necessária para tolerar
estresses ambientais (Heydecker, 1972),
incluindo temperaturas. Foi sugerido
recentemente, que o envelhecimento das
sementes de alface reduz a capacidade
para germinar em altas temperaturas
(Nascimento et al., 1999a).
Os processos fisiológicos e
bioquímicos que controlam a dormência
104
de sementes e o possível mecanismo da
germinação das sementes de alface,
principalmente sob condições de altas
temperaturas, não são totalmente bem
entendidos. Nas ultimas décadas, dezenas de publicações têm sido dedicadas
à explicação das razões por que as sementes de alface não germinam em determinadas condições e, ou, quais tratamentos permitem a germinação
(Cantliffe et al., 2000).
Estudos sobre os efeitos de altas temperaturas na germinação de sementes de
alface têm sido reportados há vários
anos (Borthwick & Robbins, 1928), e
têm sido um tópico de grande interesse
para vários pesquisadores (Cantliffe et
al., 2000). Diferentes hipóteses foram
enunciadas como causas da não germinação das sementes de alface: a) redução da permeabilidade do tegumento à
trocas gasosas (Borthwick & Robbins,
1928); b) impermeabilidade do
tegumento à água (Speer, 1974); c) acumulação de produtos metabólicos no
endosperma e embrião (Borthwick &
Robbins, 1928); d) efeitos inibitórios do
ácido abscísico (McWha, 1976); e) mau
funcionamento do fitocromo (Scheibe
& Lang, 1969); f) barreira física do
tegumento e, ou endosperma (Ikuma &
Tilmann, 1963); g) inibição da secreção
de enzimas da parede celular (Ikuma &
Tilmann, 1963; Dutta et al., 1997); e h)
deficiência do potencial de crescimento do embrião (Nabors & Lang, 1971).
Nascimento (1998), em um amplo
estudo, procurou estabelecer uma relação entre a germinação das sementes de
alface em altas temperaturas a diferentes tratamentos, como maturação de sementes, genótipos, vigor das sementes,
condicionamento osmótico, e o uso de
específicos reguladores de crescimento, como etileno. Recentemente, foram
publicados diversos artigos evidenciando a existência de uma estreita relação
entre o enfraquecimento do endosperma,
a atividade da enzima endo-b-mananase,
a produção de etileno, e a germinação
das sementes de alface sob altas temperaturas (Nascimento et al, 1998a; 1999c;
2000b; Nascimento & Cantliffe, 1999;
Nascimento et al, 1999; Nascimento et
al, 2000a; 2001; Cantliffe et al., 2000).
O embrião da semente de alface é
totalmente envolvido pelo endosperma,
o qual é constituído de uma camada de
duas a quatro células. O endosperma
pode atrasar ou prevenir a germinação
das sementes atuando como uma barreira física à emissão da radícula, especialmente sob condições desfavoráveis.
Assim, o “enfraquecimento” (“amolecimento”) do endosperma torna-se um
pré-requisito à emissão da radícula, sob
condições de altas temperaturas (Sung,
1996). Uma vez que as paredes celulares do endosperma são compostas
principalmente de polímeros de
galactomananas, endo-b-mananase poderia ser uma enzima potencialmente
regulatória no enfraquecimento do
endosperma. O hormônio etileno poderia estar também envolvido neste processo, atuando diretamente no enfraquecimento do endosperma da semente através de um desconhecido mecanismo, ou
estar envolvido na regulação de enzimas
responsáveis pela “digestão” da parede
celular do endosperma (por exemplo,
endo-b-mananase), ou a combinação de
ambos. Todos estes processos favoreceriam a emissão da radícula e
consequentemente a germinação das sementes de alface sob altas temperaturas.
Testando diferentes genótipos, observou-se a exigência de uma menor
força, no teste de puntuação, para penetrar o endosperma naquelas sementes
provenientes de genótipos termo-tolerantes comparada com aqueles termosensitivos (Sung et al., 1998b). O mesmo foi observado em sementes
osmoticamente condicionadas, isto é,
um menor requerimento de força para
penetrar o endosperma nessas sementes;
alterações estruturais do endosperma na
região da micrópila foram também observadas antes da emissão da radícula
(Sung et al., 1998b). Isso sugere uma
maior ou menor resistência do
endosperma naquelas sementes que germinam satisfatoriamente ou não, respectivamente, em condições de altas temperaturas. Maior atividade da enzima endob-mananase no endosperma, antes da
emissão da radícula, foi observada nessas situações onde as sementes germinaram adequadamente (Nascimento, 1998).
Em outro estudo, Nascimento et al.
(2000a) verificaram que, em altas temperaturas, genótipos termo-tolerantes
produziram maiores quantidades de
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Germinação de sementes de alface sob altas temperaturas.
etileno, apresentaram maior atividade de
endo-b-mananase, e germinaram melhor
do que aqueles genótipos termo-sensitivos. Em adição, sementes de genótipos
termo-tolerantes embebidas a 35°C no
escuro produziram menos etileno, apresentaram menor atividade enzimática e
menor germinação do que aquelas sementes embebidas sob luz (Nascimento
& Cantliffe, 2000). Um inibidor de ação
de etileno, tiossulfato de prata, inibiu
ambos, etileno e endo-b-mananase, enquanto que o precursor de etileno, 1aminociclopropano-1- ácido carboxílico
(ACC), induziu a atividade da enzima e
permitiu a germinação das sementes do
genótipo termo-sensitivo ‘Dark Green
Boston’ (Nascimento et al., 1999c; Nascimento & Cantliffe, 1999). Nascimento
et al. (1999), avaliando diferentes níveis
de vigor, observaram que sementes
envelhecidas artificialmente, ou seja, de
menor vigor, apresentaram menor produção de etileno e menor atividade
enzimática do que aquelas não
envelhecidas. Assim, o envelhecimento
das sementes pode reduzir a produção de
etileno e a atividade de endo-b-mananase,
e assim, diminuir a germinação das sementes em condições de altas temperaturas. Todos esses resultados sugerem
que o aumento de etileno e da atividade
de endo-b-mananase podem contribuir
para o enfraquecimento do endosperma,
especialmente sob altas temperaturas,
levando a uma condição de germinação.
Esses resultados podem ser utilizados no
estudo de marcadores moleculares para
o desenvolvimento de cultivares tolerantes à germinação sob condições de altas
temperaturas. O uso de alface como modelo neste estudo pode também ser aplicado e, ou estendido à outras espécies que
apresentam problemas similares.
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Renata Tuma Sabá1; Osmar Alves Lameira1; José Magno Queiroz Luz2; Ana Paula do Rosário Gomes1;
Renato Innecco3
Embrapa Amazônia Oriental, Travessa Dr. Enéas Pinheiro SN, 66.095-100 Belém-PA. E-mail:[email protected]; 2UFU-ICIAG, C.
Postal 593, 38.400-902 Uberlândia-MG; 3UFC-Dep. Fitotecnia, C. Postal 12.168, 60.356-001 Fortaleza-CE
1
RESUMO
ABSTRACT
O jaborandi (Pilocarpus microphyllus Stapf) é uma árvore da
família Rutaceae destacando-se por intensivo uso na indústria farmacêutica através de um dos seus princípios ativos, pilocarpina, utilizado no controle do glaucoma. O objetivo do presente trabalho foi
desenvolver um protocolo de micropropagação de jaborandi. Os
ápices e segmentos caulinares utilizados na micropropagação foram
retiradas das plântulas germinadas in vitro cultivadas em meio MS
com diferentes concentrações e combinações de reguladores de crescimento. O tratamento com 3% de NaOCl (hipoclorito de sódio) e
na ausência de AG3 (ácido giberélico) promoveu maior percentagem de germinação e menor índice de contaminação. O segmento
apical foi o mais eficiente na emissão e comprimento médio de brotos de jaborandi sob diferentes concentrações de BAP (6benzilaminopurina) e diferentes combinações de zeatina e cinetina.
Palavras-chave: Pilocarpus microphyllus, Rutaceae, pilocarpina,
reguladores de crescimento, in vitro.
Micropropagation of the jaborandi.
The jaborandi (Pilocarpus microphyllus Stapf.) is a tree
belonging to the Rutaceae family and is well known for its intensive
use in the pharmaceutical industry through one of its most active
principles, the pilocarpine, used to control glaucoma. The purpose
of this research is to develop micropropagation protocols. Shoot tips
and stem segments used in the micropropagation were removed from
the seedlings grown in vitro and cultivated in MS medium with
different concentrations and combinations of growth regulators. A
treatment with 3% of NaOCl and the lack of GA3 caused a higher
percentage of germination and a lower rate of contamination. The
apical segment was the most efficient for shoot emission with best
average length under different concentrations of BAP and different
combinations of zeatin and kinetin.
Keywords: Pilocarpus microphyllus, Rutaceae, pilocarpine, growth
regulators, in vitro.
(Aceito para publicação em 4 de dezembro de 2.001)
A
flora Amazônica é rica em espécies medicinais com grande potencial econômico para a extração de princípios
ativos. Normalmente, as plantas medicinais
desta região são exploradas através do
extrativismo, o que aliado à expansão da
fronteira agrícola na região, em áreas de
populações de ocorrência natural dessas
espécies, vem provocando erosão genética
e colocando-as em risco de extinção.
Muitas espécies de ocorrência natural
da região amazônica são largamente usa106
das na medicina popular. Dentre as espécies medicinais produtoras de princípios
ativos de grande interesse mundial destaca-se o jaborandi, que é utilizado em produtos farmacológicos. Das folhas desta
planta são extraídos sais de pilocarpina,
um alcalóide utilizado na fabricação de
um colírio indicado para o controle do
glaucoma (Santos et al., 1988).
O
jaborandi
(Pilocarpus
microphyllus Stapf) é uma planta
arbustiva e bastante ramificada perten-
cente à família Rutaceae, apresentando
altura média de 2 m, com folhas compostas medindo, em média, 40 cm e
folíolos coriáceos, de forma lanceolada.
As flores são pequenas dispostas em
rácimos (cachos) compactos. Os frutos
são dispostos em cachos brancos contidos em cápsulas de córtex acinzentado e
liso (Marques & Costa, 1994). No Brasil, ocorre principalmente na região Leste da Amazônia e nas regiões do CentroSul e Nordeste (Marques & Costa, 1994).
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Micropropagação do jaborandi.
Esta planta, conhecida por seu intensivo uso na indústria farmacêutica, destaca-se no controle do glaucoma, devido à pilocarpina, alcalóide encontrado
em suas folhas. O preço médio de
comercialização do jaborandi nos Estados maiores produtores, Pará, Maranhão
e Piauí é de R$ 747,63 por tonelada de
matéria seca (IBGE, 1996). Esta substância não tem efeitos colaterais, ao contrário das demais que visam o controle
do glaucoma. A coleta contínua de folhas de jaborandi vem resultando na redução significativa das populações de
ocorrência natural, colocando esta espécie em risco de extinção.
A propagação do jaborandi por sementes é viável e a germinação ocorre
entre 10 e 30 dias., Entretanto, a propagação assexuada ainda não é um método recomendado devido à inadequação
dos métodos convencionais como o
enraizamento de estacas e enxertia
(Marques & Costa, 1994).
A cultura de tecidos vegetal tem
sido considerada ferramenta promissora para a preservação de fontes vegetais, bem como a propagação comercial
de plantas medicinais (Abreu, 1998). A
propagação vegetativa in vitro, também
denominada micropropagação, por causa do tamanho dos propágulos utilizados, é a aplicação mais prática da cultura de tecidos e a de maior impacto
(Grattapaglia & Machado, 1998).
A propagação in vitro de plantas
medicinais tem sido realizada por vários
autores (Pinto et al., 1994; Lameira,
1997) e incrementada nos últimos anos
devido a vários fatores, entre eles, dificuldades na reprodução, baixa taxa de
germinação ou exploração irracional,
resultando na quase extinção de algumas espécies e modificação do meio
ambiente, dificultando a coleta de plantas saudáveis (Kajiki, 1996). Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi
desenvolver um protocolo de
micropropagação a partir de segmento
caulinar de jaborandi.
MATERIAL E MÉTODOS
Experimento 1: Germinação in
vitro de sementes de jaborandi
Sementes de jaborandi provenientes
do banco de germoplasma da Embrapa
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Amazônia Oriental serviram como fonte de explante para a obtenção de
plântulas assépticas in vitro. As mesmas
foram coletadas após a sua maturação
e, em seguida, levadas para o laboratório de biotecnologia da Embrapa Amazônia Oriental, para desinfestação. No
processo de desinfestação do material
foram utilizadas sementes com e sem
casca. Em ambos tratamentos as mesmas foram lavadas com água corrente
por 30 a 60 minutos e logo após mergulhadas em álcool puro (960GL) durante
3 minutos. A seguir foram mergulhadas
em solução de hipoclorito de sódio
(NaOCl) a 2% e 3% por 20 minutos;
sendo 10 minutos sob agitação e 10 minutos em câmara de fluxo laminar em
repouso. Posteriormente foram lavadas
três vezes em água destilada
autoclavada.
Após a assepsia, as sementes de
jaborandi foram inoculadas em tubos de
ensaio contendo 10 ml de meio
Murashige e Skoog (MS) (1962) com
metade das concentrações dos sais (½
MS), solidificado com 0,7% de ágar,
sem suplemento de regulador de crescimento e ½ MS + 0,7% de ágar + 4,33
mM AG3 (ácido giberélico); onde permaneceram até a germinação.
O pH foi ajustado para 5,8, antes da
autoclavagem, e a esterilização foi feita
em autoclave a 1200C durante 15 minutos. Em cada tubo foi inoculada uma
semente, sob câmara de fluxo laminar.
A incubação foi realizada em sala de
crescimento com temperatura de 26 ±
1oC, umidade média em torno de 70% e
fotoperíodo de 16 horas luz branca fria
sob 25 µmol.m-2.s-1 de irradiância.
O delineamento estatístico utilizado
foi inteiramente casualizado com quatro tratamentos e cinco repetições, sendo cada repetição formada por quatro
tubos com uma semente por tubo. Após
30 dias da inoculação, foram avaliadas
as percentagens de germinação e contaminação, e as médias comparadas pelo
teste de Duncan a nível de 5% de
significância.
Experimento 2: Micropropagação
de jaborandi
Os experimentos foram conduzidos
no Laboratório de Biotecnologia da
Embrapa Amazônia Oriental. Os
explantes utilizados nos experimentos
seguintes foram retirados das plântulas
germinadas in vitro, de acordo com o
experimento anterior.
Efeito de 6-benzilaminopurina
(BAP) na regeneração de brotos de
jaborandi a partir de segmento caulinar
Das plantas germinadas in vitro foram excisados os segmentos nodal e
apical com aproximadamente 5 mm de
comprimento e inoculados em meio de
cultura MS solidificado com 0,7% de
ágar e suplementado com diferentes
concentrações de BAP (2,22; 4,44; 6,66;
8,88 e 11,10 mM) e pH de 5,8 antes da
autoclavagem. Em seguida foram levados para sala de crescimento sob as condições do experimento anterior.
O delineamento estatístico utilizado
foi o inteiramente casualizado para dois
explantes (segmentos nodal e apical)
com cinco níveis de BAP para cada um,
com cinco repetições, sendo que cada
repetição foi composta de cinco unidades experimentais. Cada unidade experimental foi constituída de dois frascos
com quatro explantes por frasco. Aos
30 dias após a inoculação, foram avaliados o número e o comprimento de brotos e as médias comparadas pelo teste
de Duncan ao nível de 5% de
significância.
Efeitos da cinetina (KIN) e zeatina
(ZEA) na regeneração de brotos de
jaborandi a partir de segmento
caulinar
Segmentos nodal e apical de
plântulas germinadas in vitro foram
excisados com aproximadamente 5 mm
de comprimento e, em seguida, inoculados em tubos de ensaio com 10 ml de
meio MS líquido, com ponte de papel,
suplementado com diferentes concentrações de KIN (0; 0,46; 2,32 e 9,29 mM)
combinado com 0,45 mM de ZEA. O
pH dos meios de cultura foi ajustado
para 5,8 antes da autoclavagem. Os tubos contendo os explantes foram acondicionados em sala de crescimento sob
as mesmas condições do experimento
anterior.
O delineamento estatístico foi o inteiramente casualizado, em esquema
fatorial 2 (tipos de explantes) x 4 (reguladores de crescimento), com quatro repetições. Cada repetição foi constituída
de quatro unidades experimentais e cada
unidade experimental de um tubo de
107
R.T. Saba et al.
Tabela 1. Percentagem de germinação e de contaminação de sementes de jaborandi germinadas in vitro sob diferentes tratamentos de
NaOCl e na presença ou ausência de AG3. Belém, Embrapa Amazônia Oriental, 2000.
2% NaOCl
3% NaOCl
% de germinação
Ausência AG3
Presença AG3
60,40 bA
65,45aA
93,30aA
60,40aB
% de contaminação
Ausência AG3
Presença AG3
20,61
25,00
6,70
20,61
NaOCl= hipoclorito de sódio AG3 = ácido giberélico
Médias na mesma coluna seguidas pela mesma letra minúscula e na mesma linha pela mesma letra maiúscula não diferiram entre si pelo
teste de Duncan em nível de 5 % de significância.
Tabela 2. Valores médios do número e comprimento (cm) de brotos de jaborandi em função de diferentes tipos de explantes e concentrações
de BAP. Belém, Embrapa Amazônia Oriental, 2000.
Ápice
BAP ( M)
2,22
4,44
6,66
8,88
11,11
Nº médio de brotos
0,6 ± 0,19b
0,7 ± 0,26b
1,8 ± 0,34a
1,1 ± 0,37ab
1,0 ± 0,42ab
Comprimento
médio de brotos
(cm)
2,0 ± 0,45ab
2,5 ± 0,36ab
3,0 ± 0,34a
1,5 ± 0,27b
2,0 ± 0,42ab
Nodal
Nº médio de brotos
1,4 ± 0,26a
1,2 ± 0,41a
0,8 ± 0,43a
0,8 ± 0,54a
0,6 ± 0,29a
Comprimento
médio de brotos
(cm)
1,7 ± 0,21ab
2,0 ± 0,23a
1,5 ± 0,24ab
1,0 ± 0,18b
1,8 ± 0,23ab
BAP = 6-benzilaminopurina
Médias seguidas pela mesma letra não diferiram entre si pelo teste de Duncan em nível de 5% de significância.; ± erro padrão.
ensaio com um explante. Aos 30 dias
após a inoculação, foram avaliados o
número e o comprimento de brotos e as
médias comparadas pelo teste de
Duncan ao nível de 5% de significância.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Germinação in vitro de sementes
de jaborandi
Ocorreu efeito significativo somente
para a percentagem de germinação, na
interação entre o NaClO e AG3. O tratamento com 3% de NaOCl e na ausência
de AG3 promoveu maior percentagem de
germinação quando comparado ao tratamento com 2% de NaOCl na ausência
de AG3 (Tabela 1). Provavelmente, o AG3
não influenciou a germinação das sementes. É possível que o AG3 não apresente
efeito sobre a germinação de jaborandi
devido ao fato de que este processo fisiológico possa ser controlado por mais de
uma substância promotora, além do AG3.
Segundo a teoria de Khan (1971), as
citocininas teriam um papel permissivo
na regeneração da dormência aumentando a sensibilidade das sementes à ação
das giberelinas.
108
Os menores valores do nível de germinação de sementes observados na presença de AG3 também podem ser devidos a um efeito nocivo de altas concentrações de AG3, tendo em vista que algumas sementes já possuem este regulador em níveis endógenos adequados
para o controle fisiológico da germinação. As sementes de jaborandi provavelmente devem apresentar um nível
endógeno de AG3 suficiente para o controle da germinação, dispensando, portanto, tratamentos exógenos com
giberelinas.
Os resultados obtidos no presente
trabalho concordam com os obtidos por
Blank et al. (1997) que não verificaram
diferenças sobre a germinação de sementes ex vitro de Campomanesia rufa
na presença ou ausência de AG3 e por
Vieira et al. (1998) que não observaram
a completa germinação de semente de
braquiarão (Brachiaria brizantha) com
a aplicação do AG3. Entretanto, Subrata
et al. (1997) estudando a regeneração
de plântulas in vitro a partir de sementes de Dendrocalamus strictus, verificaram que concentrações de AG3 de 0,5
a 2,0 mg.L–1 foram mais efetiva no au-
mento da germinação em meio MS líquido ou semisólido.
Efeito de 6-benzilaminopurina
(BAP) na regeneração de brotos de
jaborandi a partir de segmento caulinar
De acordo com a Tabela 2, verificou-se que não houve efeito das concentrações de BAP, apenas para o número de brotos no explante nodal. Para
o segmento apical verificou-se uma
maior emissão de brotos (1,8 brotos/
explante) e comprimento médio de brotos (3,0 cm) sob a concentração de 6,66
mM de BAP, porém só diferiu significativamente das concentrações de 2,22
e 4,44 mM de BAP que promoveram
menor emissão de brotos. A concentração de 8,88 mM de BAP, promoveu o
menor crescimento dos brotos que atingiram apenas 1,5 cm de comprimento.
Lameira et al. (1994) verificaram na
regeneração de brotos de Cephaelis
ipecacuanha que a concentração de 6,66
mM de BAP induziu maior emissão de
brotos (5,4 brotos/explante).
Com relação aos segmentos nodais,
não houve diferença significativa entre
as diferentes concentrações de BAP testadas para a emissão de brotos. EntreHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Micropropagação do jaborandi.
tanto, foram verificados efeitos significativos sobre o crescimento de brotos;
porém as concentrações de BAP pouco
diferiram, sendo o menos eficiente o tratamento contendo 8,88 mM de BAP.
A menor emissão de brotos no segmento nodal pode ser devida a diversos
fatores. Provavelmente, o nível de
auxina endógena presente no segmento
apical inibiu a emissão de brotos axilares a partir do segmento nodal, caracterizando a dominância apical exercida
pelo segmento apical. Outro fator a ser
considerado é a hipótese de que a proliferação de brotos in vitro pode ser
maximizada com o emprego de dois ou
mais reguladores de crescimento (Skoog
& Miller, 1957). Provavelmente a proliferação de brotos de jaborandi necessite da combinação de citocininas com
auxinas.
É interessante ressaltar que os níveis
de reguladores de crescimento adequados
para proporcionar a maior quantidade de
brotos emitidos, variam de acordo com o
genótipo da planta considerada, e que devem ser determinadas para cada caso.
Entretanto, os dados obtidos concordam
com a afirmação de Pierik et al. (1982) de
que é fundamental a utilização de
citocinina no meio de cultura para obter
boas taxas de multiplicação. A escolha de
citocinina e da concentração utilizada dependerá do material utilizado.
Efeitos da cinetina e zeatina na regeneração de brotos de jaborandi a partir de segmento caulinar em meio MS
líquido
Não houve interação entre as concentrações de reguladores de crescimen-
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
to com o tipo de explante, bem como,
não houve diferença significativa entre
as concentrações dos reguladores de
crescimento. Entretanto, houve diferença significativa entre o tipo de explante.
O segmento apical foi o mais eficiente
produzindo em média até 3,0 brotos por
explante, com 7,2 mm de comprimento, enquanto o segmento nodal apresentou 1,0 broto por explante, com tamanho médio de 1,3 mm. Este resultado
discorda de Pinto et al. (1994) que observaram em brotos de Kielmeyera
coriacea que segmentos nodais apresentaram maiores valores quanto à produção média de brotações. Isso demonstra
que o tipo de explante a ser selecionado
dependerá da espécie.
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Produção de sementes pré-básicas de batata em sistemas hidropônicos.
Carlos Alberto B. Medeiros1; Alisson Hofstatter Ziemer2; Julio Daniels1; Arione S. Pereira1
Embrapa Clima Temperado, C. Postal 403, 96.001-970, Pelotas-RS. E-mail: [email protected]; 2 UFLA, C. Postal 37, 37.200000 Lavras-MG.
1
RESUMO
ABSTRACT
Os métodos convencionais de produção de sementes pré-básicas de batata apresentam como característica comum a reduzida eficiência, em razão dos baixos índices de multiplicação de tubérculos.
A introdução de novos métodos de produção que propiciem maiores
taxas de multiplicação podem contribuir para o aumento da disponibilidade de sementes de qualidade, e por conseqüência para a elevação da produtividade da cultura. Nesse trabalho são descritos dois
sistemas hidropônicos, que pelos resultados obtidos, revelam sua
viabilidade para a produção de sementes pré-básicas, com aumentos
significativos nos índices de multiplicação, e que podem representar um importante avanço no processo produtivo de sementes de
batata.
Palavras-chave: Solanum tuberosum L., cultivo sem solo.
Production of potato pre-basic seeds in hydroponic systems.
The reduced tuber multiplication rate determines the low
efficiency in the conventional methods of potato pre-basic seed
production. New methods of seed production, with higher
multiplication rates, may contribute to improve yield by increasing
the availability of good quality seeds. This study describes two
hydroponic systems, suitable for growing potato pre-basic seeds,
which may represent an important step in the production process of
potato seeds.
Keywords: Solanum tuberosum L., soilless culture.
(Aceito para publicação em 07 de fevereiro de 2.002)
A
utilização de material propagativo
de alta qualidade fitossanitária, é
requisito indispensável para a obtenção
de elevadas produtividades na cultura da
batata. Doenças transmissíveis por semente, como viroses e a murcha
bacteriana, constituem-se em fatores
limitantes da produtividade, ocasionando em muitas regiões elevados prejuízos. Levantamento da incidência de viroses em áreas de produção de batatasemente a partir de material pré-básico,
nas principais regiões produtoras dos
Estados de Santa Catarina e do Rio
Grande do Sul, revelam índices de infecção de até 35% das plantas
amostradas, atingindo níveis de 42% no
caso específico de algumas cultivares
(Daniels et al., 2000b). A primeira estratégia para o controle das doenças
transmitidas via semente, tem sido o
plantio de materiais sadios, oriundos de
cultura de tecidos, onde a limpeza clonal
e posterior indexação asseguram a qualidade fitossanitária do material produzido (Fortes et al., 1998). Essa técnica
tem permitido, ganhos significativos de
produtividade no cultivo da batata. O
sucesso dessa estratégia, entretanto, depende, principalmente, de métodos eficientes de produção de material
110
propagativo, ou seja, de técnicas que
propiciem multiplicações rápidas, e com
custos reduzidos. Sob esse aspecto, os
sistemas tradicionais de produção de
sementes pré-básicas até então utilizados no Brasil, apresentam como característica comum, a reduzida eficiência,
em razão dos baixos índices de multiplicação de tubérculos. São produzidos
em média, nesses sistemas de três a cinco tubérculos por planta (Daniels et al.,
2000a), o que contribui para a elevação
dos custos da semente.
Nesse cenário, a introdução de novos métodos de produção de sementes
pré-básicas que propiciem maiores taxas de multiplicação, seguramente representa um avanço na cadeia produtiva da batata, capaz de produzir reflexos
positivos na produtividade, particularmente em regiões onde a qualidade das
sementes utilizadas é fator limitante para
a obtenção de maiores rendimentos.
Dentre os novos métodos para a produção de batata semente, destacam-se as
técnicas hidropônicas.
Diferentes sistemas hidropônicos
vêm sendo empregados em diversos
países, como forma de substituir os
métodos convencionais de produção de
tubérculos semente (Chang et al., 2000;
Romanenko, 1997), mas que nem sempre atingem os índices de multiplicação
desejados (Le Hingrat & Marhic, 1999).
No Brasil, os resultados até então alcançados com a produção de tubérculos em
sistemas hidropônicos (Medeiros et al.,
2001a, 2001b; Pereira et al., 2001) revelam importante avanço no processo
produtivo de sementes de batata, capaz
de contribuir para a eliminação de um
de seus pontos de estrangulamento: a
baixa taxa de multiplicação de tubérculos pré-básicos.
A maior produtividade normalmente obtida nos sistemas hidropônicos,
comparativamente ao cultivo tradicional, deve-se fundamentalmente à ausência de enfermidades radiculares, desde
que utilizado material isento de
patógenos, e ao melhor controle sobre a
nutrição das plantas, através do uso de
solução nutritiva adequada à espécie
(Caldevilla & Lozano, 1993). A solução permite manter junto às raízes a
concentração desejada de nutrientes,
procedendo-se os ajustes sempre que
necessários. Da mesma forma, pode-se
manter os valores de pH da solução em
faixas pré estabelecidas, otimizando a
absorção de nutrientes (Martínez &
Alvarez, 1993).
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Produção de sementes pré-básicas de batata em sistemas hidropônicos.
Tabela 1. Número médio de tubérculos por planta e unidade de área e peso médio de tubérculos de batata cultivada em sistema hidropônico constituído de telhas de fibrocimento, em
três espaçamentos. Pelotas, Embrapa Clima Temperado, 2001.
Espaçamento Tubérculos/planta Tubérculos/m 2
10 cm
15 cm
20 cm
11,5 b*
12,6 ab
14,3 a
513 a
413 b
339 b
Peso médio de
tubérculos (g)
14,6 a
16,3 a
17,5 a
Médias seguidas da mesma letra dentro de cada variável não diferem estatisticamente pelo
teste de Duncan (P<0.05).
Esse trabalho tem como objetivo relatar resultados obtidos e descrever dois
sistemas hidropônicos desenvolvidos na
Embrapa Clima Temperado, para produção de sementes pré-básicas de batata.
DESCRIÇÃO DOS SISTEMAS
Nos sistemas desenvolvidos, a fonte de nutrientes é exclusivamente a solução nutritiva, podendo-se utilizar
como material de multiplicação,
minitubérculos
ou
plântulas
micropropagadas, importantes quando
for necessária a multiplicação de material proveniente da cultura de tecidos.
Sistema em telhas de fibrocimento
Nos primeiros estudos de produção
de batata semente em plataforma de telha de fibrocimento, foram utilizados diferentes substratos (Medeiros & Silva,
1999) em sistema de cultivo sem solo,
que posteriormente evoluiu para o sistema atual, pela maior eficiência e facilidade de manejo. No sistema atualmente
proposto, a colheita é realizada ao final
do ciclo da cultura. Por essa razão, de
forma semelhante às condições de campo, os tubérculos formados apresentam
grande variabilidade de tamanho e peso,
podendo atingir valores superiores a 250
g ou mesmo serem descartados pelo tamanho extremamente reduzido. Predominam entretanto tubérculos grandes
(Classificação tipo I a III) o que indica
esse sistema adequado para produção de
tubérculos destinados a um subsequente
plantio em condições de campo.
O sistema baseia-se em uma plataforma constituída de telhas de cimento
amianto, com canais de 6 cm de altura e
espaçados de 18 cm (distância entre dois
pontos médios), recobertas por um filme de polietileno, assentadas sobre estrutura de madeira, a qual confere ao
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
conjunto a declividade de 4%. O revestimento com polietileno objetiva prevenir qualquer reação indesejável dos nutrientes da solução com o material
constitutivo da telha, além de prevenir
seu encharcamento. Os canais da telha
são preenchidos com uma camada de
granito fragmentado (brita) de tamanho
médio, utilizado como auxiliar na sustentação das plantas. Sobre a brita é colocado outro filme de polietileno, cuja
função é evitar a penetração da luz no
sistema radicular das plantas em desenvolvimento. A incidência da luz sobre
os estolões em formação, provoca seu
esverdeamento, com emissão de folhas,
reduzindo a tuberização. Esse segundo
filme pode ser de polietileno preto ou
preferencialmente de dupla face, para
condições de intensa radiação e temperatura do ar elevada, contribuindo nesse caso, para redução da temperatura na
zona de desenvolvimento das raízes e
tubérculos. O plantio é realizado através de pequenos cortes em forma de cruz
feitos nesse filme, por onde posteriormente, emergem os brotos e desenvolvem-se os caules.
Os estudos sobre espaçamento das
plantas nesse sistema (Tabela 1) revelam seus efeitos diretos sobre o número
de
tubérculos
produzidos.
Espaçamentos menores, como no caso
de 10 cm entre plantas, determinam
maior número de tubérculos por unidade de área, com redução do número por
planta, observando-se tendência de redução no tamanho médio dos tubérculos formados, em comparação àqueles
desenvolvidos em espaçamentos maiores. Deve ser considerado, que o aumento da população de plantas determina
maior percentagem de acamamento.
Quando a multiplicação é feita a
partir de plântulas propagadas “in vitro”,
são utilizados pequenos cubos de esponja fenólica para dar sustentação ao caule da planta até que se complete a
aclimatização. Melhores resultados em
relação à sobrevivência têm sido obtidos com a aclimatização prévia das
plântulas, antes do transplante para a
estrutura hidropônica. Para tanto, as
plântulas, já na esponja, são colocadas
em bandejas com pequeno volume de
solução nutritiva, protegidas contra temperatura e radiação elevadas, até que se
complete a aclimatização, quando então são transferidas para a plataforma.
Sistema de Calhas de PVC articuladas (Figuras 1-4)
Sistema com princípios semelhantes
a este, vêm sendo usado para produção
de batata semente na Rússia
(Romanenko, 1997). A estrutura constitui-se de duas calhas de PVC sobrepostas, sustentadas por suporte de madeira, posicionadas com declividade de
4%. A calha superior, com função de
tutoramento das plantas, é fixa com orifícios de 25mm de diâmetro espaçados
de 15 a 20 cm. A inferior é móvel, podendo ser afastada e dessa forma expor
os tubérculos em formação. Essa característica introduz o grande diferencial
em relação ao sistema anterior, pois possibilita que os tubérculos sejam colhidos tão logo atinjam o tamanho desejado, o que torna o sistema apropriado à
produção de minitubérculos. Na calha
inferior, por onde circula a solução nutritiva e onde raízes e tubérculos se desenvolvem, é feito o plantio. Nessa ocasião, os minitubérculos ou plântulas
micropropagadas são colocados em cubos de esponja fenólica e posicionados
exatamente sob os orifícios existentes
na calha superior. Os brotos ao crescerem passam através desses orifícios e as
hastes de desenvolvem normalmente.
Como no caso anterior, a penetração
da luz no sistema radicular das plantas
deve ser evitada. Nessa estrutura, o ponto crítico de penetração de luz são as
linhas de junção das duas calhas, onde
os estolões tendem a forçar seu desenvolvimento para a parte externa. Uma
fina lâmina de espuma sintética colocada entre as duas calhas, nas linhas de
assentamento, minimiza a entrada de
luz. Como medida complementar, utiliza-se uma cortina de filme de polietileno
111
C.A.B. Medeiros et al.
preto, com cerca de 25-30cm de largura, presa nas bordas da calha superior, e
que estende-se ao longo da linha de junção das calhas. Outra forma de restringir a entrada de luz é fixar um filme de
polietileno preto ao longo da borda interna da calha superior, com ele envolver a calha inferior, prendendo-o na borda externa daquela calha. Quando necessário articular a calha inferior para a
colheita, libera-se a parte fixada na borda externa.
SOLUÇÃO NUTRITIVA
Composição
Diferentes soluções nutritivas têm
sido testadas, objetivando avaliar sua
adequação aos sistemas hidropônicos
desenvolvidos. Entre os resultados até
então obtidos (Tabela 2), destacam-se
aqueles onde utilizou-se a solução descrita por Furlani (1988) constituída de
N 198 (7:1 NO3:NH4); P 39; K 183; Ca
142; Mg 38; S 52; Fe 2,0; Mn 0,40; Cu
0,02; Zn 0,06; B 0,30; Mo 0,06 em mg
L-1; a descrita por Clark (1982) modificada, constituída de N 360 (8:1
NO3:NH4); P 12; K 298; Ca 302; Mg
37,8; S 58,5; Fe 2,76; Mn 0,97; Cu 0,07;
Zn 0,30; B 0,53; Mo 0,15 em mg L-1; e a
solução comercial constituída de 0,8 g
L-1 de Kristalon Laranja® (6;12;36;3 e
8% de N; P2O5; K2O; MgO e S respectivamente); 0,8 g L-1 Nitrato de cálcio
Hydro® (16,5 e 19% de N e Ca respectivamente) e 0,03 g L -1 de Tenso
Cocktail® (2,57; 0,52; 0,13; 0,53; 2,1;
1,74; 2,57 e 0,53% de Ca EDTA; B; Mo;
Cu EDTA; Fe EDTA; Fe DTPA; Mn
EDTA e Zn EDTA respectivamente).
Um aspecto importante para facilitar o manejo da solução nutritiva nos
sistemas é a proporção entre o nitrogênio provido na forma nítrica e
amoniacal. Essa proporção deve ser
estabelecida de forma a não permitir
grandes oscilações nos valores de pH da
solução durante o desenvolvimento da
cultura, o que determinaria a necessidade freqüente de correções, dificultando
o manejo do sistema.
Irrigações
Em ambos sistemas descritos, a solução drenada é recirculada. As irrigações seguem uma programação cíclica,
sendo a solução nutritiva bombeada durante quinze minutos, a cada intervalo
112
Figura 1. Conjunto de calhas com suporte
Figura 2. Calha articulada
Figura 3. Plantas em fase de florescimento no sistema de calhas
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Produção de sementes pré-básicas de batata em sistemas hidropônicos.
de igual duração. Em função da menor
evapotranspiração no período noturno,
esse intervalo pode ser aumentado para
30 minutos, sem que haja redução na
produtividade.
O depósito para a solução nutritiva,
em fibra de vidro ou plástico, deve ter a
capacidade adequada ao número de
plantas do sistema. Em razão da grande
área foliar das plantas de batata, e da
conseqüente alta evapotranspiração sob
condições de radiação e temperatura do
ar elevadas, deve-se considerar como
indicativo do volume do depósito, a necessidade aproximada de dois litros de
solução nutritiva por planta. Volumes
menores dificultam o manejo do sistema, pela necessidade de freqüentes reposições de solução. Para a irrigação
utiliza-se conjunto moto-bomba em que
as partes que entram em contato com a
solução sejam de PVC ou outro material
resistente à oxidação. Nos sistemas
descritos trabalha-se com fluxo de solução da ordem de 1L/min em cada calha ou canal.
PRODUÇÃO
Figura 4. Calha articulada com tubérculos da cv. Baroneza
Tabela 2. Número de tubérculos de duas cultivares de batata produzidos em dois sistemas
hidropônicos, em diferentes soluções nutritivas. Pelotas, Embrapa Clima Temperado, 2000.
Número de tubérculos/planta
Baronesa
Eliza
Sistema hidropônico em calhas de PVC
F
45 a A*
34 b B
K
35 b A
44 a A
Sistema hidropônico em telhas de fibrocimento
C
12**
12
K
11
10
Soluções
F - Furlani (1998); K - Kristalon Laranja®, Nitrato de cálcio Hydro® e Tenso Cocktail®; C
- Clark (1982) modificada;
*Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem
estatisticamente pelo teste de Duncan (P<0.05). (Fonte: Medeiros et al., 2001)
**Diferenças não significativas (P<0.05).
Os resultados obtidos, em relação ao
número de tubérculos (Tabela 3), indicam a maior produtividade dos sistemas
hidropônicos em relação aos métodos
convencionais, onde os índices de multiplicação situam-se entre 3-5 tubérculos por planta (Daniels et al., 2000a). O
melhor controle sobre o aporte de nutrientes, é provavelmente o mais importante
fator a determinar a obtenção de elevadas produtividades (Caldevilla &
Lozano, 1993).
A comparação entre os sistemas evidencia a maior produtividade do sistema de calhas (Tabela 3), onde a colheita dos tubérculos ainda pequenos, estimula a diferenciação e formação de outros. A energia que seria normalmente
utilizada para o aumento do tamanho dos
tubérculos, com a eliminação dessa demanda, é carreada para a formação de
novo material, propiciando a obtenção
de altas taxas de multiplicação. Tal não
ocorre na plataforma de telhas, onde o
pleno desenvolvimento dos tubérculos,
limita a disponibilidade de produtos
Tabela 3. Número médio de tubérculos de batata produzidos por planta em dois sistemas hidropônicos. Pelotas, Embrapa Clima Temperado, 2000.
Cultivar
Sistema
Calha de PVC
Telha de fibrocimento
Baronesa
Tubérculo
49,6 aA*
21,0 bA
Eliza
Material propagativo
Plântula
Tubérculo
32,4 aB
32,9 aA
10,9 bB
13,5 bA
Plântula
23,0 aA
8,6 bA
*Médias seguidas da mesma letra minúscula na vertical e maiúscula na horizontal não diferem entre si pelo teste Duncan (P<0,05). (Fonte
Pereira et al.,2001)
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
113
C.A.B. Medeiros et al.
Tabela 4. Peso médio de tubérculos de batata produzidos em dois sistemas hidropônicos. Pelotas, Embrapa Clima Temperado, 2000.
Cultivar
Sistema
Calha de PVC
Telha de fibrocimento
Baronesa
Tubérculo
3,3 bA*
12,9 aA
Eliza
Material propagativo
Plântula
Tubérculo
3,8 bA
4,5 Ba
14,8 aA
15,4 aA
Plântula
4,9 bA
14,1 aA
*Médias seguidas da mesma letra minúscula na vertical e maiúscula na horizontal não diferem entre si pelo teste Duncan (P<0,01). (Fonte
Pereira et al., 2001)
fotossintéticos para a formação de novo
material. Nesse sistema, com a colheita
realizada ao final do ciclo da cultura, o
peso médio dos tubérculos é sempre
maior, se comparado ao sistema anterior (Tabela 4).
Deve ser salientado, na comparação
de produtividade entre os sistemas, que
as características de manejo das calhas
de PVC, onde para a colheita deve-se
ter acesso a cada calha individualmente, aumenta o espaço necessário para o
sistema, o que faz com que o número de
plantas por unidade de área, seja menor
em comparação à plataforma de telhas
de fibrocimento.
Ambos sistemas podem utilizar
plântulas ou minitubérculos como material propagativo. Observa-se, no entanto, que a taxa de multiplicação é
maior quando são utilizados
minitubérculos (Tabela 3).
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Qualidade do inhame ‘Da Costa’ em função das épocas de colheita e da
adubação orgânica.
Ademar P. de Oliveira1; Pedro A. de Freitas Neto1; Elson S. dos Santos2
1
UFPB - CCA, C. Postal 02, 58.397-000 Areia-PB, E-mail: [email protected]. 2EMEPA-PB
RESUMO
ABSTRACT
Foi desenvolvido um trabalho na EMEPA em João Pessoa, entre
setembro/98 e junho/99, com o objetivo de quantificar o teor de
matéria seca, de amido e de cinzas em rizomas do inhame, cultivar
Da Costa, em função das épocas de colheita e da adubação orgânica,
em solo Podzólico Vermelho-Amarelo, textura arenosa. Estudaramse níveis de esterco bovino (5; 10; 15 e 20 t/ha) e de esterco de
galinha (2,8; 5,6; 8,4 e 11,2 t/ha), duas épocas de colheita (sete e
nove meses após o plantio) e uma testemunha, sem resíduo orgânico. Os tratamentos foram arranjados como fatorial 2x4x2+1, no delineamento de blocos casualizados, com quatro repetições. O teor
de matéria seca nos rizomas aumentou com a maturidade do caráda-costa, passando de 33% em rizomas colhidos aos sete meses,
para 36% em rizoma colhidos aos nove meses. Os teores de matéria
seca nos rizomas colhidos aos sete meses decresceram de 35,80% e
34,71%, respectivamente, na ausência de estercos para 30,03% e
29,25%, respectivamente, com as doses de 20 t/ha de esterco bovino
e de 11,2 t/ha de esterco de galinha. Na colheita realizada aos sete
meses, o teor de amido foi de 26%, elevando-se para 29% na colheita aos noves meses. O teor de amido, na colheita realizada aos nove
meses, aumentou com as doses de esterco de galinha, atingindo o
máximo de 31,6% com a dose de 4,8 t/ha. O teor de cinzas nos
rizomas não foi influenciado pelas épocas de colheita, mas naqueles
colhidos aos nove meses, o teor aumentou com\ as doses de esterco
bovino e de galinha, atingindo o máximo de 0,78 e 0,67%, respectivamente, nas doses de 12,8 e 6,7 t/ha.
Da Costa yam quality in relation to harvest time and organic
fertilization.
Palavras-chave: Dioscorea cayennensis Lam., épocas de colheita,
esterco bovino, esterco de galinha, composição química.
Keywords: Dioscorea cayennensis Lam., harvest time, cattle
manure, chicken manure, chemical composition.
An experiment was carried out in EMEPA, João Pessoa, Brazil
between September 98 and June 99 to quantify the dry matter, starch
and ash content of yam rhizomes, cv. Da Costa, in relation to harvest
time and organic fertilization. The area consisted of a red-yellow
podzolic sandy soil. Four levels of cattle manure (5; 10; 15 and 20 t/
ha), four levels of chicken manure (2.8; 5.6; 8.4 and 11.2 t/ha), and
two harvest times [seven and nine months after planting date (APD))]
plus a treatment without organic residue, were studied, arranged in a
factorial cheme 2x4x2+1 in randomized blocks, with four
replications. Dry matter was of 33% and 36% in rhizomes harvested
seven and nine months APD, respectively. At seven months APD,
dry matter decreased from 35.80% and 34.71%, without cattle or
chicken manure, respectively, to 30.03% and 29.25%, for highest
levels of cattle manure (20 t/ha) and chicken manure (11.2 t/ha).
Starch content increased from 26% at seven months APD to 29% at
nine months APD. Nine months APD, starch content in rhizomes
increased (31.6%) with increasing levels of chicken manure (4.8 t/
ha). Ash content was not affected by harvest dates. However, applying
12.8 t/ha of cattle manure and 6.7 t/ha of chicken manure, rhizomes
presented increase in ash content of 0.78% and 0.67% respectively,
when harvested nine months APD.
(Aceito para publicação em 31 de.janeiro de 2.002)
O
inhame (Dioscorea cayennensis
Lam.), também conhecido por
cará-da-costa, cará-inhame ou inhame
da costa, alcança no Nordeste, especialmente nos Estados maiores produtores (Pernambuco e Paraíba), grande importância socio-econômica, uma vez
que é hortaliça produtora de rizomas alimentícios com alto valor energético e
nutritivo e elevado teor de amido
(Ciacco & D’appolonia, 1978). A colheita pode ser realizada aos sete meses, caracterizada pela “capação”, ou aos
nove meses, quando a planta completa
seu ciclo de vida. A primeira é realizada com os objetivos de se obter rizomas
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
para comercialização no período de
entressafra e proporcionar a produção
futura de rizomas-semente, uma vez que
as plantas, por permanecerem no campo por mais dois meses, completam seu
ciclo e, consequentemente, produzem
rizomas-sementes (Santos, 1996).
O estadio de maturação é um dos
fatores que influenciam decisivamente
as características dos produtos
hortícolas (Arthey, 1975). No inhame,
a máxima massa seca dos rizomas é
alcançada no período próximo à
maturação fisiológica (Martin, 1976), tal
como Brillouet et al. (1981) verificaram
nas espécies Dioscorea dumetorum e
Dioscorea rotundata. Por outro lado, o
teor máximo de proteínas dos rizomas
de Dioscorea cayennensis, Dioscorea
dumetorum e Dioscorea rotundata ocorreu mesmo antes de sua maturação fisiológica (Treche & Guion, 1980). Na espécie Dioscorea rotundata, o maior
acúmulo de amido ocorreu aos seis meses após o plantio, havendo redução no
oitavo mês. Essa redução é atribuída,
parcialmente à diminuição da atividade
fotossintética
causada
pelo
amarelecimento e subseqüente abscisão
das folhas (Ketiku & Oyenuga, 1973).
A adubação orgânica pode proporcionar melhoria na qualidade dos pro115
Qualidade do inhame ‘Da Costa’ em função das épocas de colheita e da adubação orgânica.
Tabela 1. Teores (%) de matéria seca, de amido e de cinzas em rizoma de inhame, em
função de épocas de colheita. João Pessoa, EMEPA, 1999.
Épocas de colheita
Sete meses
Nove meses
C.V(%)
1
Matéria seca1
33,0
36,0
4,1
Amido1
26,0
29,0
2,7
Cinzas
0,66
0,66
2,4
Médias diferiram estatisticamente pelo teste F, a 5% de probabilidade.
dutos colhidos (Ricci et al., 1994); contudo, há poucas informações dos seus
efeitos em hortaliças (Ricci, 1993). Santos (1993) atribui aos vegetais produzidos com adubos orgânicos maior valor
nutricional, traduzido em maior teor de
vitaminas, proteínas, açúcares e matéria seca e teores equilibrados de minerais. Na região Nordeste, é constante a
prática da adubação orgânica pelos produtores de inhame; no entanto, as informações até então, relacionando sua nutrição mineral com a qualidade dos
rizomas, relacionam-se mais ao emprego de NPK do que de resíduos orgânicos. Avaliando os efeitos da adubação
com NPK sobre a produção e o conteúdo químico de rizomas do inhame
(Dioscorea rotundata), Kayode (1985)
observou efeito significativo em relação
ao conteúdo de amido, quando comparou as parcelas não adubadas com as
adubadas. Porém, o estadio de
maturação fisiológica dos rizomas foi
importante fator na concentração do
amido (Lyonga, 1984).
Este trabalho objetivou avaliar a
qualidade do inhame, num solo
Podzólico Vermelho-Amarelo, textura
arenosa, em função de épocas de colheita e adubação orgânica.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na EE
de Mangabeira, pertencente à EMEPA,
em João Pessoa, de setembro/98 a junho/99. O tipo de solo utilizado foi um
Podzólico Vermelho-Amarelo, de textura arenosa, cujas análises química e
física indicaram as seguintes características: pH H2O (1:2,5) = 5,8; P = 10,24
mg/dm3, K = 25,00 mg/dm3; Na = 0,04
cmolc/dm3; H + Al = 3,55 cmolc/dm3;
Al = 0,39 cmolc/dm3; Ca = 0,50 cmolc/
dm3; Mg = 0,20 cmolc/dm3; matéria orgânica = 7,96 g/dm3; CTC = 4,35 cmolc/
dm3; areia = 55,0 dag/kg; silte = 12,9
116
dag/kg e argila = 2,2 dag/kg. Como adubos orgânicos utilizaram-se o esterco
bovino e de galinha com, respectivamente, a seguinte composição: P = 4,3
e 17,18 g/kg; K = 9,75 e 17,25 g/kg; C
= 105,61 e 153,83 g/dm3; N = 9,82 e
22,09 g/dm3; relação C/N = 10,1 e 7/1 e
matéria orgânica = 183 e 265 g/dm3.
Estudaram-se o emprego de níveis
de esterco bovino (5; 10; 15 e 20 t/ha) e
de esterco de galinha (2,8; 5,6; 8,4 e 11,2
t/ha) em duas épocas de colheita (sete e
nove meses após o plantio) e uma testemunha sem resíduo orgânico. Os tratamentos foram arranjados como fatorial
2x4x2+1, no delineamento de blocos
casualizados, com quatro repetições.
O solo foi preparado por meio de
uma aração, duas gradagens e confecções de leirões. A unidade experimental foi composta de 32 plantas, espaçadas de 1,20 m entre fileiras e de 0,60 m
entre elas, sendo consideradas úteis as
doze plantas centrais. A adubação de
plantio constou da aplicação de esterco
bovino e de galinha, nas doses referentes aos tratamentos, de 36 g/planta de
superfosfato triplo e 21 g/planta de
cloreto de potássio, enquanto a adubação de cobertura constou da aplicação
de 7,5 g/planta de sulfato de amônio, aos
120 dias após o plantio.
No plantio, empregaram-se rizomassementes com massa média de 250 g,
da cultivar Da Costa, previamente tratados pela imersão em solução de
Benlate 500 (200 g para 100 litros de
água) e Nemacur (250 g/100 litros de
água ), por 10 minutos. Durante a condução do experimento, foram realizadas
capinas sempre que necessárias, amontoa a cada 60 dias após o plantio e irrigação por aspersão, procurando manter
o nível de disponibilidade de água acima de 80% da capacidade de campo.
Adotou-se
o
sistema
de
espaldeiramento, formado de estacas de
cimento medindo 2,0 m de altura, com
0,50 m enterrados no solo, localizadas
entre duas filas de leirões, sustentando
na sua extremidade superior um fio de
arame galvanizado número 12, para o
qual convergia uma linha de barbante
amarrado ao ramo principal da planta.
Não foi observada ocorrência de pragas
ou doenças, dispensando-se o uso de
defensivos agrícolas.
Para as análises químicas, foram
colhidos em cada tratamento, doze
rizomas aos sete meses (imaturos) e
doze aos nove meses após o plantio
(maduros). Por ocasião das colheitas,
foram tomadas, ao acaso, amostras de
rizomas, para determinação dos teores
de matéria seca e de cinzas, de acordo
com normas analíticas do Instituto
Adolfo Lutz (1985) e de amido seguindo metodologia do Laboratório Nacional de Referência Animal (1981).
Os resultados obtidos para as diferentes características foram submetidos
à análise de variância e observada a
significância até o nível de 5% pelo teste F, procedeu-se à análise de regressão
polinomial.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O maior teor de matéria seca (Tabela 1) verificado nos rizomas colhidos aos
nove meses pode indicar que o teor
máximo de matéria seca no inhame é
alcançado na sua completa maturação,
período esse caracterizado pela presença de ramos e folhas senescentes. Martin
(1976) também observou maior teor de
matéria seca em rizomas de cará-da-costa, colhidos aos nove meses após o plantio, comparado com aqueles colhidos
aos sete meses.
Na colheita aos sete meses, a matéria seca foi influenciada pela adubação
orgânica, enquanto aos nove meses os
rizomas apresentaram média de 35,23 e
35,91% de matéria seca, em função das
doses de esterco bovino e de galinha,
respectivamente. A redução do teor de
matéria seca (Figuras 1 e 2) pode indicar que com o aumento das doses de
esterco bovino e de galinha, houve aumento dos nutrientes prontamente absorvidos e consequentemente o inhame
foi suprido adequadamente, induzindo
à produção de rizomas maiores, pela
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
A. P. Oliveira et al.
elevação no teor de sua umidade. (Huett,
1989) também observou que plantas
subnutridas apresentaram maior teor de
matéria seca Isso porque, o comprimento médio dos rizomas e o seu teor de
umidade aumentaram de 17,55 cm e
63,43% e 17,25 cm e 64,89%, respectivamente, na ausência de esterco para
21,50 cm e 66,32% e 22,02 cm, e
79,06%, respectivamente, com as doses
de 20 t/ha de esterco bovino e de 11,2 t/
ha de esterco de galinha.
O período de sete meses de ciclo já
pode ter sido suficiente para ocorrer a
mineralização das fontes de resíduos
orgânicos, porque a matéria orgânica
fornece o N inorgânico, aumenta a capacidade de troca de íons minerais e
fornece água gradualmente, na medida
em que se processa sua mineralização.
Resultados de pesquisa revelam que a
taxa do N em resíduos de origem animal no solo situa-se entre 13 e 67% após
seis meses (Rodrigues & Casali, 1999).
Pelos resultados de estudos realizados
por Chae & Tabatabai (1986), constatou-se que em resíduos orgânicos, até o
primeiro mês, ocorre pouca
mineralização, que aumenta até aos três
meses e estabiliza a liberação de elementos minerais até aos seis meses.
Ocorreu acréscimo no teor de amido nos rizomas, em função das épocas
de colheita (Tabela 1), sendo que este
maior teor (aos nove meses do plantio)
é alcançado na sua completa maturação.
De acordo com Martin & Thompson
(1972), o teor de amido no inhame é
influenciado pela espécie e pela maturidade dos rizomas. Menores teores de
amido em rizomas imaturos das espécies
de Dioscorea dumetorum e Dioscorea
rotundata foram verificados por
Brillouet et al. (1981), embora Ketiku
& Oyenuga (1973) afirmem que ocorre
redução no teor de amido na espécie
Dioscorea rotundata a partir do oitavo
mês, em função da redução da atividade fotossintética. No presente trabalho,
provavelmente não houve redução do
teor de amido acumulado nos rizomas,
entre o sétimo e o nono mês, por não ter
havido redução da área foliar e como
conseqüência,
da
atividade
fotossintética.
Quanto aos níveis de adubação orgânica, o teor de amido aumentou apeHortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Figura 1. Teor de matéria seca (y1) e de cinzas (y2) em rizomas de inhame colhidos aos sete
meses, em função de doses de esterco bovino. João Pessoa, EMEPA, 1999.
Figura 2. Teor de matéria seca (y1) e de amido (y2) em rizomas de inhame colhidos aos sete
meses, em função de doses de esterco de galinha. João Pessoa, EMEPA, 1999.
nas com as doses de esterco de galinha,
atingindo o máximo de 31,6% com a
dose de 4,8 t/ha, quando então começou a decrescer (Figura 2). A redução
do teor de amido nos rizomas, em função do aumento das doses de K pode ter
sido devido em parte, ao aumento do teor
de água nos rizomas, proporcionado pelo
K do solo, aliado às doses mais elevadas
do esterco de galinha. Em batata, a maior
absorção e acúmulo de K na planta,
acarreta redução do potencial osmótico
e aumento da absorção de água, o que
causa diluição dos teores de amido nos
tubérculos (Reis Júnior, 1995). Em
Dioscorea rotundata, Obigbesan (1974)
observou relação direta do K com o teor
de amido nos rizomas.
Os percentuais encontrados para os
teores de amido, em função da idade das
plantas e da adubação orgânica, encontram-se dentro do intervalo citado para a
espécie por Martin (1972), de 20 a 40%.
O fato de o teor de cinzas nos
rizomas (Tabela 1) não ter sido influenciado pelas épocas de colheita pode indicar que já, aos sete meses, ocorreu
definição na sua composição mineral,
tal como ocorreu em batata-doce, em
que o conteúdo mineral das raízes não
foi alterado pelas épocas de colheita
(Reynolds et al., 1994). Por outro lado,
117
Qualidade do inhame ‘Da Costa’ em função das épocas de colheita e da adubação orgânica.
Figura 3. Teor de cinzas em rizomas colhidos aos nove meses, em função de doses de
esterco de galinha. João Pessoa, EMEPA, 1999.
o teor de cinzas aumentou com as doses
de esterco bovino e de galinha, atingindo o máximo de 0,78 e 0,67%, respectivamente, nas doses de 12,8 e 6,7 t/ha,
quando então começou a decrescer (Figuras 1 e 3). Essas doses são próximas
das recomendadas (12,5 t/ha de esterco
bovino e 6,9 t/ha de esterco de galinha)
para obtenção da máxima produção econômica no inhame (Santos, 1996).
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RODRIGUES, E.T.; CASALI, V.W.D. Rendimento e concentração de nutrientes em alface, em função das adubações orgânica e mineral.
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Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
nova cultivar
VIEIRA, R.F.; OLIVEIRA, V.R.; VIEIRA, C.; PINTO, C.M.F. Ouro Verde MG2: nova cultivar de mungo-verde para Minas Gerais. Horticultura Brasileira,
Brasília, v. 20, n. 1, p. 119-120, março 2.002.
Ouro Verde MG 2: nova cultivar de mungo-verde para Minas Gerais.
Rogério F. Vieira1; Valter R. Oliveira2; Clibas Vieira3; Cleide Maria F. Pinto1
Epamig, Vila Gianetti, 47, 36.571-000 Viçosa-MG; 2Epamig, Rodovia MG 424, km 64, 35.701-970 Sete Lagoas-MG. 3 UFV – Dept. de
Fitotecnia, 36.571-000 Viçosa-MG. Email: E-mail: [email protected]
1
RESUMO
ABSTRACT
Dentre várias linhagens introduzidas do “Asian Vegetable
Research and Development Center” (AVRDC), sobressaiu a linhagem VC 3984-B-2-B-4-1-B, que recebeu o nome de Ouro Verde
MG 2. Suas sementes são verde-brilhantes e o peso de 1000 unidades varia de 43 a 51 g. O início da floração ocorre em torno de 33
dias após a emergência e a primeira vagem madura surge entre 23 e
33 dias. Por se tratar de espécie de maturação desuniforme, podem
ser necessárias duas a quatro colheitas. As plantas podem atingir 95
cm de altura. As vagens são marrom-escuras e concentram-se na
parte superior da planta. É suscetível a duas doenças que geralmente
aparecem no final do ciclo de vida do mungo-verde: míldiopulverulento (Erysiphe polygoni) e mancha-foliar-de-cercospora
(Cercospora canescens). A ‘Ouro Verde MG 2’ é resistente ao
acamamento, e o seu rendimento, em três ensaios instalados em dezembro, janeiro e fevereiro, variou de 1,5 a 2,0 t/ha. Esses rendimentos foram, em média, 12% superior ao da cultivar Ouro Verde.
Ouro Verde MG 2: new mungbean cultivar for Minas Gerais
State, Brazil.
Palavras-chave: Vigna radiata, acamamento, rendimento, peso de
sementes.
Among many accessions introduced from Asian Vegetable
Research and Development Center (AVRDC), the VC 3984-B-2-B4-1-B stood out and was named ‘Ouro Verde MG 2’. The seeds are
bright green and 1000-seed weight ranges from 43 to 51 g. Flowering
starts approximately 33 days after emergence and the first pod ripens
between 23 and 33 days later. As mungbean is a non-uniform
maturation species, two to four harvests could be necessary. The
plant can reach 95 cm high. The pods are dark brown and
concentrated in the upper canopy. This cv. is susceptible to two
diseases which generally appear late in the crop: powdery mildew
(Erysiphe polygoni) and cercospora leaf spot (Cercospora
canescens). ‘Ouro Verde MG 2’ is resistant to lodging. The yield
measured in three experiments carried out in December, January,
and February, ranged from 1.5 to 2.0 t/ha. In average, these yields
were 12% superior than the achieved by the cultivar ‘Ouro Verde’.
Keywords: Vigna radiata, lodging, yield, seed weight.
(Aceito para publicação em 3 de janeiro de 2.002)
O
feijão-mungo-verde ou mungoverde (Vigna radiata) é importante leguminosa de grão cultivada na Ásia,
sendo a Índia o maior produtor mundial,
com 1.374.000 t produzidas em 1995/
96, que representando 47% da produção mundial (Tickoo & Satyanarayana,
1998). No Brasil, a produção de mungoverde é incipiente, mas com tendência
crescente, devido ao aumento da demanda pelo broto de feijão, principal produto produzido com essa espécie. É
planta anual, de porte ereto ou semi-ereto, de florescimento indeterminado, podendo durar algumas semanas
(Nalampang, 1992). Suas sementes são
pequenas, de coloração verde, amarela,
preta ou mosqueada. Para a produção de
broto de feijão (“moyashi”) apenas as
sementes verdes (opacas ou brilhantes)
têm interesse comercial.
A temperatura mínima média para o
desenvolvimento dessa leguminosa parece ser de 20-22°C e a ótima, de 28Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
30°C, talvez um pouco acima se a umidade do solo for adequada (Poehlman,
1978). Portanto, nos locais não muito altos da Zona da Mata de Minas Gerais, o
seu cultivo pode ser feito com sucesso
de agosto até março, desde que água não
seja fator limitante. Para se obter sementes de alta qualidade, o plantio deve ser
planejado de modo que a colheita não
coincida com os meses mais chuvosos.
A maturação das vagens é
desuniforme. A primeira vagem madura pode ser observada entre 46 e 70 dias
após o plantio, dependendo da cultivar
e, principalmente, das condições climáticas. O período entre o aparecimento
da primeira vagem madura e a última
colheita pode chegar a 50 dias, se as
condições de umidade e temperatura
forem adequadas. Neste caso, podem ser
necessárias até quatro colheitas. Em
geral, 70 a 80% da produção total é obtida na primeira e segunda colheitas. Em
ensaios conduzidos em Minas Gerais,
os rendimentos de grãos secos têm variado de 135 a 2.550 kg/ha (Vieira &
Nishihara, 1992; Vieira et al., 1992;
Vieira & Vieira, 1996; Caldas et al.,
1999; Vieira et al., 1999).
Em 1993, foi lançada a primeira cultivar de mungo-verde para Minas Gerais com a denominação ‘Ouro Verde’.
Apesar de produtiva, ela é suscetível ao
acamamento. Essa característica indesejável dificulta a colheita, tanto manual como mecânica. Este último método
já vem sendo utilizado por alguns agricultores. Ademais, as sementes provenientes de vagens que maturam próximo ou em contato com o solo podem
ter a sua qualidade prejudicada.
ORIGEM
A cultivar Ouro Verde MG 2 foi
introduzida do “Asian Vegetable
119
Ouro Verde MG2: nova cultivar de mungo-verde para Minas Gerais.
Tabela 1. Acamamento, rendimento e peso de 1000 sementes da cultivar ‘Ouro Verde’ e da ‘Ouro Verde MG 2’. Viçosa, Prudente de Morais
e Coimbra, EPAMIG, 1997 e 1999.
Local dos ensaios
(data do plantio)
Viçosa
(11-12-97)
Prudente de Morais
(13-1-99)
Coimbra
(24-2-99)
Cultivar
Ouro Verde
Ouro Verde MG 2
Ouro Verde
Ouro Verde MG 2
Ouro Verde
Ouro Verde MG 2
Acamamento1
Rendimento (kg/ha)
5,0
1,7
5,0
1,3
3,2
2,0
1.566
1.741
1.808
2.027
1.277
1.454
Peso de 1000
sementes (g)
51
50
35
43
42
51
1
/ 1 = todas as plantas eretas; 2 = todas as plantas ligeiramente inclinadas ou algumas plantas caídas; 3 = todas as plantas moderadamente
inclinadas (45°) ou 25% a 50% das plantas caídas; 4 = todas as plantas consideravelmente inclinadas ou 50% a 80% das plantas caídas; 5 =
todas as plantas fortemente inclinadas ou 80% a 100% das plantas caídas.
Research and Development Center”
(AVRDC), localizado em Formosa. Ela
foi recebida em 1986 com a denominação VC 3984-B-2-B-4-1-B. Esta linhagem originou-se do cruzamento entre as
linhagens VC 2719A x VC 1000C.
DESCRIÇÃO
A emergência ocorre entre seis e 11
dias após o plantio, sendo mais demorada quando o plantio é feito em época
de temperaturas amenas. Da emergência ao início da floração, a ‘Ouro Verde
MG 2’ leva aproximadamente 33 dias.
Do início da floração ao aparecimento
da primeira vagem madura, a ‘Ouro verde MG 2’ leva de 23 a 33 dias, sendo
essa fase reprodutiva mais curta quando ela coincide com temperaturas altas.
A altura das plantas varia com o clima: em torno de 60 cm, quando as temperaturas são amenas, a 95 cm, quando
são altas e não há limitação de umidade
no solo. As vagens, de coloração marrom escura, geralmente têm em torno
de 7,5 cm de comprimento e entre 5,0 e
5,4 mm de largura, e concentram-se na
120
parte superior da planta. É suscetível ao
míldio-pulverulento
(Erysiphe
polygoni) e à mancha-foliar-decercospora (Cercospora canescens). No
entanto, como essas doenças só são observadas em intensidade leve a moderada no final do ciclo de vida do mungoverde, provavelmente não causam prejuízo no rendimento.
Dentre 25 cultivares testadas em três
municípios de Minas Gerais, a ‘Ouro
Verde MG 2’ foi a única que apresentou alta resistência ao acamamento;
comparada à ‘Ouro Verde’ o contraste é
grande (Tabela 1). Na média dos três
ensaios, a ‘Ouro Verde MG 2’ produziu
12% a mais. Em geral, as sementes desta nova cultivar são mais pesadas que
as da ‘Ouro Verde’ (Tabela 1).
LITERATURA CITADA
CALDAS, M.T.; VIEIRA, R.F.; OLIVEIRA, V.R.
Comportamento de cultivares de feijão-mungoverde em Prudente de Morais, Minas Gerais. IN:
SIMPÓSIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA
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1999. p. 250.
NALAMPANG, A. Grain legumes in the tropics.
Bangkok: Departament of Agriculture, 1992. 98 p.
POEHLMAN, J.M. What we have learned from
the International Mungbean Nurseries. IN:
INTERNATIONAL
MUNGBEAN
SYMPOSIUM, 1., 1977, Los Baños, Philippines.
Proceedings... Taipei, Taiwan: AVRDC, 1978. p.
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TICKOO, J.L.; SATYANARAYANA, A. Progress
in mungbean breeding research with special
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VIEIRA, R.F.; NISHIHARA, M.K. Comportamento de cultivares de mungo-verde (Vigna
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VIEIRA, R.F.; VIEIRA, C.; ARAÚJO, G.A.A.
Comparações agronômicas de feijões dos gêneros Vigna e Phaseolus com o feijão-comum
(Phaseolus vulgaris L.). Pesquisa Agropecuária
Brasileira, Brasília, v. 27, n. 6, p. 841-850, 1992.
VIEIRA, R.F.; VIEIRA, C. Comportamento de
feijões dos gêneros Vigna e Phaseolus no consórcio com milho plantado simultaneamente. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 31, n. 11,
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VIEIRA, R.F.; PINTO, C.M.F.; SILVA, J.I. Comportamento de linhagens de feijão-mungo-verde
em Viçosa, Minas Gerais. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 17, n. 3, p. 334 (Resumo), 1999.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
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Exemplos:
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b) Livro:
ALEXOPOULOS, C.J. Introductory mycology. 3. ed. New
York: John Willey, 1979. 632 p.
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Discussion; 6.Acknowledgements; 7. Cited Literature and
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following format: Esaú & Hoeffert (1970) or (Esaú & Hoeffert,
1970). When there are more than two authors, use a reduced
form, like the following: De Duve et al. (1951) or (De Duve
et al., 1951). References to studies done by the same author
in the same year should be noted in the text and in the list of
the Cited Literature by the letters a, b, c, etc., as follows: 1997a,
1997b.
In the Cited Literature, references from the text should be
listed in alphabetical order by last name, without numbering
them. Papers that have two or more authors should be listed
in chronological order, following all the papers of the first
author, second author and so on. Please refer to a recent issue
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should follow the examples (Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT):
a) Journal:
VAN DER BERG, L.; LENTZ, C.P. Respiratory heat
production of vegetables during refrigerated storage. Journal
of the American Society for Horticultural Science, v. 97, n. 3,
p. 431-432, Mar. 1972.
b) Book:
ALEXOPOULOS, C.J. Introductory mycology. 3. ed. New
York: John Willey, 1979. 632 p.
Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
c) Capítulo de livro:
ULLSTRUP, A.J. Diseases of corn. In: SPRAGUE, G.F. (ed.)
Corn and corn improvement. New York: Academic Press,
1955. p. 465-536.
d) Tese:
SILVA, C. Herança da resistência à murcha de Phytophthora
em pimentão na fase juvenil. Piracicaba: ESALQ, 1992. 72
p. (Tese mestrado.)
e) Trabalhos apresentados em congressos (quando não
incluídos em periódicos):
HIROCE, R.; CARVALHO, A.M.; BATAGLIA, O.C.;
FURLANI, P.R.; FURLANI, A.M.C.; SANTOS, R.R.; GALLO,
J.R. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4., 1977, Salvador. Anais... Salvador: SBF, 1977. p. 357-364.
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Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
c) Chapter:
ULLSTRUP, A.J. Disease of corn. In: SPRAGUE, G.J., (ed.)
Corn and corn improvement. New York: Academic Press,
1955. p. 465-536.
d) Thesis:
SILVA, C. Herança da resistência à murcha de Phytophthora
em pimentão na fase juvenil. Piracicaba: ESALQ, 1992. 72
p. (Tese mestrado.)
e) Articles from Scientific Events (when not published
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J.R. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In:
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Salvador. Anais... Salvador: SBF, 1977. p. 357-364.
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Tel.: (0xx14) 6802 7172 / 6802 7203
Fax: (0xx14) 6802 3438
E-mail: [email protected]
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PROPOSTA DE FILIAÇÃO
Senhor Presidente,
Desejo filiar-me à SOCIEDADE DE OLERICULTURA DO BRASIL e por este motivo envio em
anexo comprovante de depósito, transferência entre bancos ou cheque nominal e cruzado no valor de
R$ 80,00 (oitenta reais), para pessoa física e R$ 160,00 (cento e sessenta reais) para pessoa jurídica,
na conta corrente n0 7440-3, agência 0079-5 (Botucatu - SP), do Banco do Brasil S/A. Favorecido:
Sociedade de Olericultura do Brasil.
Seguem em anexo dados adicionais.
NOME: ___________________________________________________________________________
RG: __________________ - _________
ESTADO: ______________________________________
DATA DE NASCIMENTO: ____/____/____ SEXO: ________________________________________
PROFISSÃO: ______________________________________________________________________
CULTURAS DE INTERESSE: __________________________________________________________
EMPRESA/INSTITUIÇÃO ONDE TRABALHA: ____________________________________________
CARGO/FUNÇÃO: __________________________________________________________________
ENDEREÇO COMERCIAL:
RUA: ___________________________________________________N0 : ______________________
CAIXA POSTAL: ____________ BAIRRO: ________________ CEP: __________________________
CIDADE: ___________________________________ ESTADO: ______________________________
TELEFONE: (
)_________________ FAX: (
) _______________________________________
ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA:
RUA: _________________________________________ N0 _________________________________
CAIXA POSTAL: ______________ BAIRRO: _____________ CEP: ___________________________
CIDADE: __________________________________ ESTADO: _______________________________
TELEFONE: ( ) ____________________ FAX: (
) ____________________________________
E.mail:____________________________________________________________________________
DATA: ____/____/____
ATENCIOSAMENTE
Enviar para:
Sociedade de Olericultura do Brasil
UNESP, FCA, Depto. Prod. Vegetal (Horticultura)
C. Postal 237
18.630-970 Botucatu – SP
[email protected]
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Hortic. bras., v. 20, n. 1, mar. 2002.
Tratamentos de sementes
de hortaliças
O estabelecimento de plântulas no
campo está diretamente relacionado com a qualidade das sementes e as condições que permitem
a máxima germinação em menor
espaço de tempo. O período entre a semeadura e o estabelecimento de plântulas é fase crítica.
A boa qualidade das sementes
depende de atributos genéticos,
físicos, fisiológicos e sanitários.
A qualidade da semente é particularmente crítica quando se utiliza híbridos, onde o alto custo de
sementes exige utilização de técnicas para melhor emergência das
plântulas.
Para se obter sementes de qualidade, as empresas produtoras tomam cuidados, que iniciam no
programa de melhoramento genético. Além da qualidade genética
são observados o tamanho, peso,
forma, coloração, umidade, pureza física e varietal, germinação,
vigor, dormência e presença de
microrganismos.
A época e região mais adequadas
para a produção de sementes poderá afetar significativamente a
sua qualidade fisiológica e sanitária. A utilização das melhores
técnicas de produção, colheita e
beneficiamento são fundamentais
no processo de produção de sementes.
As sementes comercializadas devem atender às exigências impostas pela fiscalização, principalmente com relação à germinação
e pureza, e em alguns casos, alguns limites de tolerância quanto
à incidência de doenças transmi-
tidas pelas sementes. Estas empresas têm oferecido ao produtor
de hortaliças, sementes com maior valor agregado, principalmente na forma de tratamento de sementes. Estes tratamentos permitem segurança no manuseio das
sementes, controle de microrganismos, melhor e mais rápida germinação, emergência mais uniforme, e/ou melhor distribuição das
sementes. Grande parte das empresas de sementes de hortaliças
que atuam no mercado nacional
já oferece alguns destes tratamentos, realizados no Brasil ou no
exterior. Os principais tratamentos aplicados às sementes de hortaliças são o tratamento contra
microrganismos, a peliculização,
a peletização e o condicionamento osmótico.
Tratamentos contra microrganismos visam reduzir ou eliminar
aqueles presentes (interna ou externamente) nas sementes e/ou
controlar causadores de tombamento pré e pós-emergência (Alternaria, Pythium, Phytophythora
e Rhizoctonia). Sementes de hortaliças em geral são tratadas apenas com fungicidas, na maioria
com produtos de contato com
amplo espectro de ação (Captan
ou Thiram). Estes produtos não
controlam todas as espécies de
fungos, principalmente os que
infectam (internamente) as sementes. Ainda, certos vírus ou
bactérias podem também ser
transmitidos pelas sementes, e,
obviamente, este tipo de tratamento torna-se ineficaz. Testes de
sanidade detectam microrganismos associados às sementes, servindo de orientação para o tipo de
tratamento e produto a serem utilizados. Para determinados
patógenos, produtos sistêmicos,
tratamentos térmicos ou sementes
indexadas (livre de vírus, por
exemplo) devem ser empregados.
As condições de armazenamento
e/ou semeadura também devem
ser consideradas na escolha do tratamento. O uso de sementes tratadas reduz o potencial de inóculo
dos patógenos associados às sementes, protegendo sementes e
plântulas de patógenos de solo.
Peliculização consiste na aplicação de filme composto de mistura de polímeros, plásticos e
corantes envolvendo a semente.
Geralmente, fungicidas acompa-
nham este tratamento. A
peliculização reduz desperdício
de fungicida e permite maior eficiência do tratamento. Reduz
também os riscos de contaminação por parte do usuário, por não
ter contato direto com o
fungicida.
Diferente
da
peletização, este tratamento não
modifica a forma ou o tamanho
das sementes. O corantes propicia melhor aspecto visual da semente, além da melhor visibilidade após a semeadura. Algumas
empresas utilizam esta característica para diferenciar cultivares.
Outra vantagem da peliculização
é o maior fluxo durante a semeadura mecanizada, resultado da
menor fricção entre sementes.
Quando realizada de maneira inadequada, a película pode atuar
como barreira física restringindo
a difusão de oxigênio para o interior da semente, e/ou reduzindo a
saída de inibidores.
A maioria das sementes de hortaliças caracteriza-se por pequeno
tamanho e formato irregular; dificultando manuseio e semeadura. A peletização [revestimento da
semente com material seco, inerte, de granulometria fina e material cimentante (adesivo)], permite dar às sementes a forma arredondada, uniforme, de maior tamanho, facilitando sua distribuição, seja ela manual ou mecânica. Em contraste com sementes
nuas, as sementes peletizadas são
distribuídas com maior precisão
e uniformidade. Deste modo, o
gasto de sementes é reduzido, e a
operação de desbaste é
minimizada ou totalmente eliminada. Este tratamento permite
ainda incorporar ao pélete, inseticidas, fungicidas, fertilizantes e/
ou reguladores de crescimento.
Em alguns casos, a semente
peletizada pode apresentar problemas na germinação (principalmente retardamento), pois o
pélete pode atuar como barreira
física para a troca gasosa entre a
semente e o ambiente externo.
Sementes peletizadas em geral
não suportam longo período de
armazenamento.
O condicionamento osmótico
consiste na hidratação controlada, suficiente para promover atividade pré-metabólica, sem permitir emissão da radícula. Em
geral, as sementes são embebidas
em solução osmótica, sob certa
temperatura, por determinado prazo e seguido da secagem para o
grau original de umidade. Este tratamento é vantajoso pois permite
que as sementes sejam
manuseadas e/ou armazenadas. O
condicionamento osmótico tem
sido utilizado para melhorar a velocidade de germinação, a uniformidade das plântulas e algumas
vezes a percentagem de germinação, especialmente em condições
edafo-climáticas adversas. Em alface por exemplo, este tratamento
permite a germinação das sementes sob condições de alta temperatura (acima de 30°C), evitando a
termo-inibição e a termodormência, fatos comumente observados durante o verão. Este tratamento não é padronizado pois
exige metodologia adequada para
cada espécie, cultivar e até para
lotes de sementes. Dependendo
das condições de armazenamento,
as sementes osmoticamente condicionadas também não suportam
longo período de armazenamento
(em geral, alguns meses).
Os tratamentos acima descritos
não são exclusivos, isto é, todos
eles podem ser combinados entre
si, em uma seqüência, obtendo assim efeito aditivo. A agregação de
um ou mais tratamentos ao lote de
sementes permite à empresa produtora de sementes a obtenção de
produto diferenciado, além de fornecer uma semente de melhor qualidade. Soma-se a isto, que a grande maioria dos lotes “escolhidos”
pelas empresas produtoras de sementes para receber tais tratamentos são aqueles de alta qualidade
fisiológica, assim uma vantagem
a mais para o produtor. Embora na
maioria das vezes, o custo da semente “tratada” possa ser mais elevado, mas ainda baixo em relação
ao custo total de produção, a utilização destas sementes poderá trazer benefícios no estabelecimento
da lavoura com conseqüências na
produtividade e qualidade dos produtos. Neste número da
Horticultura Brasileira temos a
oportunidade de publicar dois artigos referentes a tratamentos de
sementes, onde os leitores poderão obter maiores informações.
(Warley Marcos Nascimento, Pesquisador, Embrapa Hortaliças;
E-mail: [email protected])
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nunes maria