Anais do 13O Encontro de Iniciação Científica e Pós-Graduação do ITA – XIII ENCITA / 2007 Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, SP, Brasil, Outubro, 01 a 04, 2007. Ensaios de bancada no motor Zenoah 80GT utilizado no VANT do ITA Vitor Gonçalves da Silva Caldeira Loureiro Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA Bolsista PIBIC-CNPq [email protected] Prof. Dra. Cristiane Martins Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA [email protected] Resumo. O objetivo central deste trabalho é a determinação de tração e torque do motor Zenoah 80 GT. Tal motor será utilizado no VANT (Veículo Aéreo Não-Tripulado) do ITA. Os parâmetros do estudo são de fundamental importância para o desenvolvimento dos futuros sistemas de controle automático da aeronave. O trabalho envolveu medição do perfil de velocidade de várias hélices e o desenvolvimento de software em LabVIEW® para aquisição de dados dos bancos de ensaio (tração/torque e perfil de velocidades) bem como controle do experimento. Palavras chave: VANT, motor, ensaio de motor. 1. Introdução Este trabalho teve por finalidade, determinar algumas características do conjunto propulsivo a ser utilizado no avião não-tripulado (UAV) que está sendo desenvolvido pelo ITA. Dentre estas características, estão a tração e o torque proporcionados pelo motor-hélice para cada velocidade de vôo e o perfil de velocidades na região após a hélice. Inicialmente somente o teste estático foi efetuado, ou seja, para velocidade de vôo igual a zero. O motor escolhido para equipar a aeronave foi o Zenoah, modelo GT-80, conforme a Figura 1.1. Este motor é bi-cilindro, ignição por centelha elétrica e movido a gasolina. Figura 1.1 – Motor Zenoah GT 80 Figura 1.2 – Modelo utilizando motor GT 80 Portanto, para realizar tal experimento, dois bancos de ensaio foram montados. Um para medir o perfil de velocidades atrás da hélice, e outro para medir o torque e a tração. Anais do XIII ENCITA 2007, ITA, Outubro, 01-04, 2007 2. Medição do perfil de velocidades Como o escoamento produzido pela hélice possui baixas velocidades ( M < 0,3) , o mesmo pode ser considerado incompressível, e dessa forma, temos pela equação de Bernoulli, que: p + q = p0 Equação 1 A pressão dinâmica, por definição é dada pela relação abaixo: q= 1 ρ ⋅V 2 2 Equação 2 Com essas duas relações, podemos perceber que se soubermos a pressão dinâmica do escoamento, podemos achar a velocidade do mesmo. Com isso, o nosso problema é reduzido a achar a pressão dinâmica do escoamento após a passagem pela hélice. Para tanto, foi escolhido o uso de um tubo de Pitot. Este dispositivo possui uma tomada de pressão estática e outra de pressão total. Retornando a equação de Bernoulli, vemos que a pressão dinâmica pode ser obtida da diferença entre essas duas últimas. Dessa forma, é utilizado um transdutor de pressão, conforme a figura abaixo, cujo d.d.p. de saída é proporcional à diferença entre as pressões total e estática. Cabe ressaltar que o tubo de pitot não é indicado para medir campos de velocidades no qual o vetor velocidade esteja desalinhado com o eixo do pitot. Pequenos ângulos de desalinhamento já são suficientes para causar grandes erros de medição. Entretanto, como, em primeira análise, queremos ter uma idéia qualitativa do experimento, o tubo de pitot foi utilizado. O campo de velocidade a jusante da hélice também foi estudado com um anemômetro, e o resultado desta análise foi condizente com o obtido pelo tubo de pitot. Figura 2.1 – Transdutor de Pressão Com o intuito de automatizar as medições, foi utilizado um sistema de aquisição de dados juntamente com o software LabVIEW. Dessa forma, é possível realizar um grande número de medições para cada posição pré-definida atrás da hélice. Como o objetivo é saber a velocidade atrás da hélice para diversos pontos com diferentes distâncias ao centro da hélice, torna-se necessário um dispositivo que desloque o tubo de Pitot no sentido do raio da hélice, propiciando a medição nesses diversos pontos. Para isso, foi utilizado a carcaça de uma impressora, que possui guias lineares e no lugar do carro que originalmente conduzia os cartuchos de tinta, foi-se adaptado um suporte para o tubo de Pitot, conforme a figura abaixo. Anais do XIII ENCITA 2007, ITA, Outubro, 01-04, 2007 Figura 2.2 – Esquema do suporte Ainda com o objetivo de automatizar a experiência, foi-se utilizado um motor de passo na carcaça da impressora a fim de movimentar o carro que suporta o Pitot. O controle do motor de passo foi implementado no programa em LabVIEW também. 1.1. Implementação da Programação O controle do motor de passo é feito através da porta paralela do computador. O motor possui um circuito elétrico de potência que alimenta o mesmo. Esse circuito possui entradas que quando acionadas energizam as bobinas do motor de passo. Para que o motor entre em funcionamento, essas bobinas devem ser energizadas seqüencialmente. Para tal, devemos enviar para a porta paralela uma seqüência de bits de 1 a 8. Dessa forma o motor irá se movimentar em uma determinada direção. Ao enviar a seqüência contrária, de 8 a 1, o motor irá se movimentar na direção oposta. Pode-se enviar um dado valor para a porta paralela, através da sub-vi abaixo. Figura 2.3 – Sub-vi utilizada para controle da porta paralela Para que o programa envie a seqüência correta (1-2-4-8 e 8-4-2-1), foram implementados dois pequenos contadores que são responsáveis pelo avanço e recuo do carro com o Pitot. Estes contadores simplesmente adquirem um elemento de um vetor previamente estabelecido com a seqüência desejada, e envia esse valor para a sub-vi de escrita na porta paralela, conforme mostra a Figura 2.4. Figura 2.4 – Contador para movimento do servo Para a movimentação do motor de passo no sentido contrário, é usado o mesmo contador acima, entretanto, com a inversão dos valores do vetor acima, ou seja, vetor é definido como (8 4 2 1). O tempo de Anais do XIII ENCITA 2007, ITA, Outubro, 01-04, 2007 espera de 10 milisegundos no contador acima serve para adequar a velocidade de processamento ao tempo de resposta do motor de passo. Os dados referentes à medição do transdutor de pressão, são obtidos com o uso das sub-vi de aquisição de dados. O programa de uma forma geral é feito com várias seqüências. A seqüência principal faz com que as medições sejam efetuadas, juntamente com a incrementação da posição do Pitot, e após isso o Pitot seja retornado a posição inicial, conforme o fluxograma abaixo. Seqüência A 1 – Medições e variação da posição do Motor. Seqüência A 2 – Retorno do Pitot a posição inicial. Fim do Programa. No 1° estágio da seqüência A, existe uma seqüência B, que é responsável pela obtenção dos dados referentes ao primeiro ponto de medição, ponto este que não é necessário o movimento prévio do Pitot. Seqüência B 1 – Medição e gravação dos dados do primeiro ponto. Seqüência B 2 – Avanço do Pitot, e medição dos demais pontos. Estágio 2 da Seqüência A. No estágio 2 da seqüência B, existe uma nova seqüência C, responsável pela parte operacional das medições dos demais pontos e do avanço do Pitot. Seqüência C 1 – Avanço da posição do Pitot. Seqüência C 2 – Desligamento do motor. Aquisição e gravação de arquivo com dados. Estágio 2 da seqüência A O desligamento do motor no estágio 2 da seqüência C é feito com o intuito de cortar o fornecimento de energia para o mesmo, fazendo com que o motor não se aqueça além do seu limite. Na Figura 2.5, tem-se a visão do programa inteiro. Figura 2.5 – Visão geral do programa Na Fig. 2.6 a montagem utilizada na medição de velocidade das hélices. Anais do XIII ENCITA 2007, ITA, Outubro, 01-04, 2007 Figura 2.6 – V isão da montagem utilizada para as medidas de velocidade. As medições foram efetuadas com quatro diferentes hélices acopladas ao motor Zenoah, modelo GT-80, conforme comentado anteriormente. Hélice – modelo Hélice 24 x 10 Hélice 24 x 12 Hélice 22 x 12 Hélice 26 x 8 Tabela 2.1 – Hélices testadas Características madeira, marca Zigner madeira, marca JC madeira, marca JC madeira, marca JC Peso médio (g) 130 175 130 181 A seguir, na Figura 2.7, encontram-se os resultados obtidos para as quatro hélices. Anais do XIII ENCITA 2007, ITA, Outubro, 01-04, 2007 25,0 20,0 V (m/s) 15,0 10,0 24x12 24x10 22x12 26x8 5,0 0,0 0,12 0,14 0,16 0,18 0,20 0,22 0,24 0,26 0,28 -5,0 Posição (m) Figura 2.7 – Perfil de Velocidades 3. Medição da tração e torque do motor Para a medição da tração e torque, foi necessário a construção de um banco de ensaio, no qual o motor fosse afixado e colocado em funcionamento afim de que tais grandezas fossem obtidas. Para tanto, utilizou-se células de carga dotadas de strain-gages, ou seja, extensômetros elétricos que acusam uma deformação física de um material. Com isso, podemos relacionar a força ou torque aplicado à célula de carga com a tensão propiciada pela mesma. A medição da rotação, neste experimento, também ocorreu de forma automatizada. Com base na análise da freqüência de vibração do banco de ensaios durante o experimento, é possível obter a freqüência de operação do motor, e com isso obter a rotação do mesmo. Para tal análise, ambas as células de carga foram consideradas, e o resultado era obtido quando as duas apresentavam convergência. 0,30 Anais do XIII ENCITA 2007, ITA, Outubro, 01-04, 2007 140 Tração (N) 120 100 80 24 x 12 24 x 10 60 40 1700 22 x 12 26 x 8 1900 2100 2300 2500 Rotação (rpm) 2700 2900 3100 3300 Figura 3.1 – Gráfico da tração para as quatro hélices ensaiadas Cada ponto dos gráficos acima é obtido como uma média de 5000 medições realizadas ao longo de 5 segundos. A tração máxima foi obtida com a hélice 24x10. Entretanto, a diferença para as outras hélices não foi significativa. Conforme a Figura 0.1, a hélice 26x8, que possui um passo menor e um diâmetro maior consegue alcançar rotações menores. E entre hélices de mesmo diâmetro (24x12 e 24x10) a de menor passo consegue-se rotações maiores. A hélice que consegue atingir maior rotação é a de menor diâmetro. A medição da tração ocorreu separadamente da medição de torque, pois quando as duas grandezas eram medidas juntas, a medição da tração não apresentava confiabilidade devido às vibrações introduzidas no banco de ensaio. Tais vibrações são devidas à remoção de um pino que destrava o eixo no qual é efetuada a medição do torque. O torque do motor foi obtido com os mesmos parâmetros de aquisição da tração, ou seja, taxa de aquisição de 1000 amostras por segundo e 5000 amostras. Devido à intensa vibração do banco de ensaio, as incertezas referentes ao torque ficaram maiores, o que prejudicou a avaliação desta grandeza. Anais do XIII ENCITA 2007, ITA, Outubro, 01-04, 2007 3,5 3,0 Torque (N.m) 2,5 2,0 1,5 1,0 24 x 12 24 x 10 22 x 12 0,5 26 x 8 0,0 1700 1900 2100 2300 2500 2700 2900 3100 3300 Rotação (rpm) Figura 3.2 – Gráfico do torque para as quatro hélices ensaiadas Conforme a Figura 3.2, para hélices de mesmo diâmetro, a que possui o maior passo produziu o maior torque. Tal fato deve-se a hélice de maior passo possuir maior ângulo de ataque, o que faz com que cada seção da hélice produza mais arrasto, aumentando assim o torque produzido. Para hélices de mesmo passo, a de maior diâmetro produz maior torque. E novamente vemos uma sensibilidade maior do diâmetro em relação ao passo. 4. Conclusões A tração e o torque produzidos pelo conjunto motor-hélice é crescente com a velocidade. Entretanto, nenhum desses dois parâmetros pode ser avaliado de forma isolada, pois ao aumentarmos a tração, aumentamos o torque, o que faz com que seja necessária maior compensação da aeronave, o que por sua vez aumenta o arrasto provocado pela mesma exigindo maior tração. A intensa vibração do motor causa grandes erros, principalmente na medição do torque, pois o movimento de rotação do motor ao redor do seu eixo é o mais susceptível a essas vibrações. Entretanto, não é de se esperar que os erros possam ser reduzidos tanto quanto se queira, pois o próprio regime de funcionamento do motor a combustão é não permanente, o que induz flutuações nas grandezas a serem medidas. A utilização de softwares de aquisição de dados, como o LabVIEW, tornou o experimento mais rápido, e reduziu os erros experimentais. A utilização da aquisição da rotação do motor ilustra essa situação. 5. Agradecimentos Ao CNPq. Ao engenheiro Carlos Guedes e estágiário Marcelo Guedes do Laboratório Prof Feng pela inestimátivel ajuda.