Ando com saudades de café com pão.
De namorados dando beijinhos no
portão.
De pedir bênção a pai e mãe.
(Deus te abençoe)
De ver um varal cheio de roupa,
com cheiro apenas de sabão.
De ver alguém sorrindo
enquanto, lava a louça com
bucha vegetal.
De sentir respeito pela polícia.
De cantar o Hino Nacional,
com mão no peito e lágrimas
nos olhos;
De acreditar que o Brasil
ganhou a Copa do Mundo
porque jogou direito.
De saber que o Zezinho, filho
do porteiro, não vai morrer de
dengue.
E que Maria feirante poderá ter um
filho médico.
Saudades de homens que usavam
apenas o assobio
como galanteio.
Fiu-fiu!
Morro de saudades do tempo em que
um presidente de uma nação era o mais
respeitado cidadão do país.
Que cadeia era lugar só de
ladrão.
Acho que andaram
invertendo a situação.
Ando com saudades de
galinha de galinheiro.
De macarrão feito em casa,
com tempero sem
agrotóxico;
De só poder tomar guaraná
em dia de festa.
De homens de gravatas.
De novela com final feliz.
De pipoca doce de
pipoqueiro;
De dar bom-dia à
vizinha;
De ouvir alguém dizer
obrigado
Ao motorista e ele frear
devagarzinho,
preocupado com o
passageiro.
Saudades de gritar que a
porta está aberta para os
que
chegam.
Saudades do tempo em que educação não
era confundida com autenticidade.
Hoje, se fala o que quer em nome de uma
"tal" verdade e pedir perdão virou
raridade.
Ando com saudades de ver no céu pipas
não atingidas pelo efeito estufa.
Saudades das chuvas sem acidez, que não
causavam aridez.
Saudades de poder viajar sem medo
de homem-bomba,
De ser recebida com pompa em outra
nação.
Atualmente, reina a desconfiança no
coração.
Sinto muitas saudades.
Do rubor das faces de minha mãe
quando se falava de sexo.
Totalmente sem nexo.
Hoje, ele é tão banal que
até eu banalizei.
Acho que a maior
saudade que tenho é a
saudade de tudo que
acreditei.
Para meus filhos não
poderei deixar sequer a
esperança.
Hoje, já não se nasce
criança.
Formatado por Luiz G. Silva
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QUE SAUDADES